METAIS
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METAIS
Entre as muitas substâncias tóxicas que afectam os ecossistemas aquáticos estão os metais
pesados como a prata (Ag), o cádmio (Cd), o crómio (Cr), o cobalto (Co), o cobre (Cu), o
mercúrio (Hg), o molibdénio (Mo), o níquel (Ni), o chumbo (Pb), o estanho (Sn) e o zinco (Zn),
bem como elementos mais leves e mesmo metalóides como por exemplo o alumínio (Al), o
arsénio (As) e o selénio (Se).
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Todos estes elementos são ubíquos, pelo menos em concentrações traço, e muitos deles são
essenciais para o metabolismo das plantas e/ou animais na forma de micronutrientes. Outros,
contudo, não são necessários à vida das plantas ou animais, embora existam na natureza na
sua forma elementar ou formando complexos.
Do ponto de vista de poluição ambiental os metais podem ser classificados, segundo Wood
(1974), de acordo com o seguinte critério: (1) metais que não são críticos; (2) metais tóxicos
mas muito insolúveis ou muito raros; (3) metais muito tóxicos e relativamente acessíveis. A
tabela 1 apresenta a classificação dos diversos metais segundo o critério descrito.
Os metais são introduzidos nos sistemas aquáticos, pelo desgaste das rochas e dos solos,
como resultado de erupções vulcânicas e através de uma variedade de actividades
antropogénicas (extracção mineira, processamento e utilização de metais e/ou substâncias que
os contenham, utilização de combustíveis fósseis). Sob certas condições ambientais, estes
elementos podem acumular-se. Até mesmo aqueles que funcionam como micronutrientes
essenciais, se podem tornar tóxicos para os organismos aquáticos e para os seres humanos,
desde que o nível de exposição seja suficientemente elevado. Situações há em que, mesmo
sem a intervenção do Homem, alguns metais atingem concentrações suficientemente elevadas
a ponto de causar danos ecológicos. Muitas vezes este fenómeno é provocado pela exposição
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Tabela 2 - Concentração Máxima Permitida pela EPA para Vários Metais em Águas
Naturais para Protecção da Saúde Humana
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atmosférico. Os metais pesados são motivo de grande preocupação porque são tóxicos em
concentrações relativamente baixas.
Como foi referido anteriormente, alguns metais são também micronutrientes essenciais e,
portanto, os seus efeitos tóxicos dependem da concentração a que um organismo é exposto
(fig. 1).
Actividade metabólica
Concentração do elemento
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recipientes de cerâmica que era revestida com Pb. Parte do metal poderia ser lixiviado pela
bebida (de natureza acídica) e, subsequentemente, ingerido. Também Lewis Carroll no seu
livro “Alice no País das Maravilhas”, ao introduzir a figura do chapeleiro maluco, dá-nos conta
de um problema de saúde grave relacionado com a actividade profissional de certos indivíduos.
No século XIX as pessoas que trabalhavam na indústria de chapéus de feltro na Grã-Bertanha
sofriam, frequentemente, de danos neurológicos como resultado da exposição aos compostos
de mercúrio, usados nos acabamentos dos chapéus altos. Um exemplo mais recente de
envenenamento por Hg foram os casos ocorridos na Baía de Minamata e no Iraque, de que se
falará mais adiante.
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Tal organização reflecte apenas uma tendência geral, mas é necessário ter presente que a
formação e estabilidade dos complexos organometálicos é muito afectada pela composição
química e pH da água.
O mercúrio forma associações estáveis com compostos húmicos de elevado peso molecular,
os quais servem como os principais veículos na transferência do Hg do meio terrestre para o
meio aquático e no movimento do metal dentro do corpo de água. A estabilidade destes
complexos, Hg - substâncias húmicas, parece ser independente do pH e da concentração
salina, o que está em contraste, por exemplo, com o comportamento do cobre. Na águas dos
rios a maioria do Cu (99%) está presente em complexos húmicos. Quando estas águas
atingem o mar e, portanto, a salinidade aumenta, a proporção de cobre associado a compostos
húmicos diminui rapidamente. Na água do mar predominam as espécies inorgânicas de cobre,
com especial incidência para o Cu(OH)2. Os complexos Cu - substâncias húmicas somam
apenas 10% do total do cobre presente.
A mobilidade e a disponibilidade dos metais ligados aos sedimentos aumenta devido a quatro
factores:
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Tabela 3 - Concentrações base (ppm = mg / kg, peso seco) de elementos tóxicos em diversos compartimentos ambientais
Rochas
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Basalto Xisto argiloso Calcário Arenito Solo Água do mar Água doce Plantas Mamíferos Peixes
terrestres (músculo) marinhos
Ag 0,1 0,07 0,12 0,25 0,05 0.00004 0,0003 0,01-0,8 0,009-0,28 0,04-0,1
Al 87.600 88.000 9000 43.000 71.000 0,002 0,3 90-530 0,7-28 20
As 1,5 13 1 1 6 0,0037 0,0005 0,2-7 0,007-0,09 0,2-10
Cd 0,13 0,22 0,028 0,05 0,35 0,0001 0,0001 0,1-2,4 0,1-3,2 0,1-3
Co 35 19 0,1 0,3 8 0,00002 0,0002 0,005-1 0,005-1 0,006-0,05
Cr 90 90 11 35 70 0,0003 0,001 0,03-10 <0,002-0,84 0,03-2
Cu 90 39 5,5 30 30 0,0003 0,003 5-15 10 0,7-15
F 510 800 220 180 200 1,3 0,1 0,02-24 0,05 1400
Fe 56.000 48.000 17.000 29.000 40.000 0,002 0,5 70-700 180 9-98
Hg 0,012 0,012 0,18 0,29 0,06 0,0003 0,0001 0,005-0,02 0,02-0,7 0,4
Mn 1500 850 620 460 1000 0,0002 0,008 20-700 0,2-2,3 0,3-4,6
Mo 1 2,6 0,16 0,2 1,2 0,01 0,0005 0,06-3 0,02-0,07 1
Ni 150 68 7 9 50 0,00058 0,0005 1-5 1,2 0,1-4
Pb 3 23 5,7 10 35 0,00003 0,003 1-13 0,2-3,3 0,001-15
Se 0,05 0,5 0,03 0,01 0,4 0,0002 0,0002 0,03 0,4-1,9 0,2
Sn 1 6 0,5 0,5 4 0,000004 0,000009 0,2-2 0,01-2 -
U 0,43 3,7 2,2 0,45 2 0,0032 0,0004 0,005-0,04 0,001-0,003 0,04-0,08
V 250 130 45 20 90 0,0025 0,0005 0,001-0,5 0,002-0,02 0,3
Zn 100 120 20 30 90 0,005 0,015 20-400 240 9-80
Fonte: Adaptado de Freedman, 1989
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Toxicidade
Como na maior parte das situações toxicológicas, a dose recebida pelo organismo alvo não é
apenas função da concentração do produto tóxico no ambiente; também é função do período
de exposição. Portanto, em determinadas situações, uma exposição prolongada a uma baixa
concentração disponível de um elemento tóxico pode causar envenenamento. Muitas vezes
isto acontece devido a uma progressiva bioacumulação do elemento, até que a dose tóxica
seja atingida.
No ambiente aquático a toxicidade dos metais depende de vários factores:
Ião
Ião complexado
Inorgânica Solúvel Ião “sequestrado”
Molécula
Forma do metal
na água
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Em particular, a especiação química do metal é importante, pois nem todas as formas são
igualmente tóxicas. Os complexos do metal com moléculas orgânicas geralmente são mais
tóxicos que os seus equivalentes inorgânicos e são também, de uma maneira geral, absorvidos
mais rapidamente pelos organismos. A especiação dos metais pesados é muito influenciada
pela concentração de ácidos húmicos. Na ausência deste ligando, os metais dissolvidos
formam complexos com ligandos inorgânicos. Alterações do pH, e consequentemente na
alcalinidade, também influenciam a especiação dos metais.
A biomagnificação
Depois de inúmeras vezes se ter observado que as concentrações dos metais nos organismos
aquáticos são mais elevadas que as dos mesmos metais na água, levou a que se pusesse a
hipótese de que estes elementos se poderiam tornar progressivamente mais concentrados em
níveis tróficos elevados nas cadeias alimentares, devido a bioacumulação e biomagnificação.
Contudo, se para alguns metais a magnificação através da cadeia alimentar não parece colocar
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quaisquer dúvidas, para outros metais nem sempre este processo é muito claro e, por vezes
mesmo, aparecem evidências contraditórias. Como foi já referido anteriormente, organismos
diferentes reagem de forma diversa, em presença do mesmo agente agressor. Tal como no
caso dos pesticidas, os efeitos agressores podem ser produzidos por mecanismos diferentes,
nomeadamente pela absorção directa do poluente em solução na água e por diferenças no
equilíbrio do poluente entre a água e o organismo. Será, portanto, difícil dizer até que ponto o
aumento das concentrações em determinados organismos (como no fitoplâncton e no
zooplâncton) reflectem uma magnificação na cadeia alimentar ou apenas diferenças no
equilíbrio das trocas do metal, entre a água e o organismo. Além disso, a concentração dos
metais nos diversos organismos também difere nos órgãos onde o elemento se irá concentrar
(fígado, rins, etc.). Estas diferenças reflectem, em princípio, a tendência que os diversos metais
exibem para se ligarem a vários grupos moleculares existentes nas células, assim como o grau
de exposição do organismo. É, pois, importante estar consciente de que existem diferenças
significativas na toxicidade dos diversos metais e nos mecanismos através dos quais estes são
transferidos na biosfera.
Não seria viável, neste manual, descrever com detalhe os problemas causados por cada metal
nos ecossistemas, pelo que serão apenas analisados os três metais pesados mais tóxicos
(mercúrio, cádmio e chumbo) e um metalóide, para que não se fique com a ideia de que
apenas os primeiros causam problemas ambientais e de saúde. A tabela 4 enumera alguns dos
elementos-traço que com maior frequência estão presentes em ecossistemas aquáticos
naturais, indica as suas fontes mais prováveis e o significado da sua presença.
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