Projeto de Estradas Cap. 15 - Curva Vertical

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CAPÍTULO 15

CÁLCULO DOS ELEMENTOS DEFINIDORES DA CURVA


PARABÓLICA DE CONCORDÂNCIA VERTICAL

15.1. INTRODUÇÃO
As curvas clássicas de concordância empregadas em todo o mundo são as
seguintes: parábola de 2o grau, curva circular, elipse e parábola cúbica.

O DNER recomenda o uso de parábolas de 2o grau no cálculo de curvas verticais,


de preferência simétricas em relação ao PIV, ou seja, a projeção horizontal das distâncias
do PIV ao PCV e do PIV ao PTV são iguais a L/2, como mostrado na Figura 15.1.

Fig. 15.1: Parábolas empregadas na concordância vertical

Entre as vantagens da parábola do segundo grau, podem ser citadas:


• A equação da curva é simples;
• A transformada da parábola devido às duas escalas no perfil é também
uma parábola;
• A taxa de variação de declividade da parábola é constante;
• O PCV e o PTV podem ser locados em estaca inteira ou inteira + 10,00 m;
• É desnecessário o uso de tabelas ou gabaritos para desenhar a curva no
projeto.
128

15.2. TIPOS DE CURVAS VERTICAIS


No processo de Concordância Vertical entre greides retos consecutivos,
geralmente têm-se os tipos usuais de curvas verticais apresentados na Figura 15.2.

CURVAS CÔNCAVAS CURVAS CONVEXAS

PIV
TIPO I

i1(-) i2(+)
PCV PTV PTV
TIPO I i2(-)
i1(+) PCV

PIV
i2(+)

PCV PIV PTV


i1(-)
TIPO II

TIPO II

PTV
PIV
i1(+) PCV
i2(-)

i1(-)
PCV

PIV
PTV i2(+)
TIPO III
TIPO III

PTV
PCV
PIV i2(-)
i1(+)

Fig. 15.2: Tipos de Curvas Verticais

Uma etapa importante é caracterizar numericamente os elementos definidores da


curva. Esses elementos poderão ser determinados através das expressões matemáticas que
serão apresentasdas a seguir.

15.3. DIFERENÇA ALGÉBRICA DE RAMPAS (g):


É numericamente igual à diferença algébrica das declividades dos greides retos a
concordar, ou seja:

g = i1 − i 2 (15.1)
129

Quando g>0 significa que a curva vertical parabólica é CONVEXA, enquanto que g<0
indica que a curva é CÔNCAVA.

Podem ser dispensadas curvas verticais quando a diferença algébrica entre rampas
contíguas for inferior a 0,5 %.

15.4. EQUAÇÃO DA PARÁBOLA SIMPLES COM ORIGEM DO


SISTEMA DE EIXOS NO PCV
Consideremos a situação apresentada na Figura 15.3:

PIV

F
f V PTV
P M
y0
y
PCV X
x i2
i1
L/2
L0
L

Fig. 15.3: Parábola com o sistema de eixos cartesianos no PCV

A equação da parábola para esta situação é:

y = ax 2 + bx + c (15.2)

Para a determinação dos coeficientes a, b e c da Equação da Parábola [Equação (15.2)]


procede-se da seguinte maneira:

1) Na origem do sistema de eixos, tem-se:

x = 0
⇒c=0
y = 0
130

2) A derivada da curva no ponto PCV é igual à inclinação da reta tangente à curva:

dy
= i1
dx
(
d ax 2 + bx + c)= i1
dx
2ax + b = i1
b = i1 − 2ax

Quando x = 0 Então
 → b = i1

3) A derivada da curva no ponto PTV é igual à inclinação da reta tangente à curva:

dy
= i2
dx
(
d ax 2 + bx + c )
= i2
dx
2ax + b = i2
2ax = i2 − b
i2 − b
a=
2x
i2 − i1
Mas b = i1 Então
→ a =
2x

i2 − i1
No ponto PTV, x = L Então
→ a =
2L
Mas : g = i1 − i2 ⇒ i2 − i1 = − g

−g
Então : a =
2L

Substituindo os valores dos coeficientes a e b na Equação Geral da Parábola [Equação


(15.2)] chega-se a:

−g 2
y= x + i1 x (15.3)
2L

A Equação (15.3) fornece a ordenada y de qualquer ponto de abscissa x da curva,


permitindo a determinação das coordenadas dos pontos da curva em relação ao PCV.
131

15.5. CÁLCULO DAS FLECHAS PARCIAIS DA PARÁBOLA


15.5.1. PARÁBOLA SIMPLES

a) Para o 1o Ramo:

PIV

F
f
P PTV

PCV X
x i2
i1
L/2 L/2

Fig. 15.4: Flechas parciais no 1o ramo da parábola simples

f +y
i1 = ⇒ f + y = i1 ⋅ x (15.4)
x

Substituindo na Equação (15.4) a Equação da Parábola (15.3):

g 2
f − x + i1 x = i1 x
2L

g
f = ⋅ x2 (15.5)
2L

onde:
f = flecha da parábola no ponto P;
g = diferença algébrica das rampas;
L = comprimento da curva vertical;
x = distância horizontal do ponto de cálculo da flecha ao PCV.

Em particular, no ponto PIV, temos a Flecha Máxima (F), que é a seguinte:


132

2
g L g L2
F= ⋅  = ⋅
2L  2  2⋅ L 4

g⋅L
F= (15.6)
8

b) Para o 2o Ramo:

Y
PIV

F
f
P
y
X PTV

x
PCV
i2
i1
L/2 L/2

Fig. 15.5: Flechas parciais no 2o ramo da parábola simples

De maneira análoga ao 1o ramo chega-se a:

g
f = ⋅ x2 (15.7)
2L

onde, neste caso, x é a distância horizontal do ponto de cálculo da flecha ao PTV.


133

15.5.2. PARÁBOLA COMPOSTA:

PIV

F
f1 f2

PTV

PCV
i1 x1 x2 i2

L1 L2

Fig. 15.6: Flechas parciais e flecha máxima da parábola composta

Flecha Máxima:

L1 ⋅ L 2
F= ⋅g (15.8)
2⋅L

Flechas Parciais:

1o Ramo:

F 2
f1 = ⋅ x1 (15.9)
L21

2o Ramo:

F
f2 = ⋅ x 22 (15.10)
L22

15.6. CÁLCULO DO PONTO DE ORDENADA MÁXIMA OU MÍNIMA


DA PARÁBOLA SIMPLES

Consideremos novamente a parábola apresentada na Figura 15.3 e sua equação


(15.3). Derivando a equação (15.3) em relação a x:
134

dy − 2 ⋅ g ⋅ x
= + i1
dx 2⋅L

dy − g
= ⋅ x + i1 (15.11)
dx L

No ponto de máximo ou de mínimo:

x = L0

dy
=0
dx

Então, substituindo na Equação (15.11):

−g
0= ⋅ L 0 + i1
L

g
⋅ L 0 = i1
L

i1 ⋅ L
L0 = (15.12)
g

Fazendo a substituição na Equação (15.3):

−g 2
y0 = ⋅ L0 + i1 ⋅ L0
2L

− g i12 ⋅ L2 i ⋅L
y0 = ⋅ 2
+ i1 ⋅ 1
2L g g

i12 ⋅ L
y0 = (15.13)
2g

15.7. COTAS E ESTACAS DO PCV E PTV


Para o cálculo das estacas e cotas dos pontos PCV e PTV utilizamos as seguintes
relações:
135

• Para Parábola Simples:

L
EST PCV = EST PIV - (15.14)
2

L
EST PTV = EST PIV + (15.15)
2

L
Cota (PCV) = Cota (PIV) - i1 ⋅ (15.16)
2

L
Cota (PTV) = Cota (PIV) + i 2 ⋅ (15.17)
2

• Para Parábola Composta:

EST PCV = EST PIV - L1 (15.18)

EST PTV = EST PIV + L 2 (15.19)

Cota (PCV) = Cota (PIV) - i1 ⋅ L1 (15.20)

Cota (PTV) = Cota (PIV) + i 2 ⋅ L2 (15.21)

15.8. RAIOS DAS CURVAS PARABÓLICAS VERTICAIS


Os raios mínimos das Parábolas usadas na concordância vertical são determinados
pela seguinte expressão:

L
ρ= (15.22)
g

onde:
L = comprimento da parábola, em metros;
g = módulo da diferença algébrica de rampas;
ρ = raio mínimo da parábola, em metros.

Isolando L na Equação (15.22):

L= ρ⋅ g (15.23)

Muitas vezes é comum trabalhar-se com o valor de “g”em percentagem. Assim. a


Equação (15.23) deverá ser dividida por 100:
136

ρ⋅ g
L= (15.24)
100

Na literatura da área de Projeto de Estradas, o módulo de “g” expresso em % é


ρ
usualmente chamado de A e é chamado de K, o parâmetro da parábola.
100

Assim, podemos escrever a Equação (15.24) na seguinte forma:

L=K⋅A (15.25)

onde:
L = comprimento da parábola, em metros.
A = diferença algébrica de rampas, em %.
K = parâmetro da parábola.

A parábola simples, que é a mais utilizada para curvas verticais, é muito próxima de
uma circunferência. Por isso, é usual na literatura de projeto de estradas, em vez de referir-se
ao raio ρ, referir-se ao valor do raio Rv da curva vertical, que deve ser entendido como o raio
da circunferência equivalente à parábola, isto é, uma circunferência de raio Rv igual ao raio
instantâneo no vértice da parábola.

15.9. COMPRIMENTO A SER ADOTADO PARA AS CURVAS


PARABÓLICAS DE CONCORDÂNCIA VERTICAL

Geometricamente, a concordância vertical de dois trechos retos do greide, que se


interceptam em um PIV, pode ser efetuada com parábolas de quaisquer comprimentos.

No projeto de um greide rodoviário, no entanto, há critérios técnicos que estabelecem


limitações quanto aos comprimentos máximo e/ou mínimo das curvas que podem ser
utilizadas nas concordâncias verticais, os quais devem ser observados quando se procura
escolher o comprimento da curva a ser projetada em cada concordância em particular.

Por questões de ordem prática, os comprimentos de curvas verticais a serem utilizados


nos projetos geométricos de rodovias são preferencialmente arredondados para valores
inteiros, múltiplos de 20,00 m, de forma a que os pontos de concordância resultem em estacas
inteiras, em estacas múltiplas de 10,00 m ou em estacas múltiplas de 5,00 m, dependendo,
naturalmente, dos posicionamentos dos pontos de interseção verticais (PIV).

As normas do DNER estabelecem as limitações de comprimentos de curvas verticais,


para fins de projetos de rodovias, com base em determinados critérios, como será visto na
próxima seção.
137

15.9.1. Critério do Mínimo Valor Absoluto


A prática rodoviária indica que curvas verticais muito curtas, embora
possam atender tecnicamente a outros critérios, resultam em greides com má aparência,
desnecessariamente angulosos.

Para evitar isso, as normas do DNER recomendam que as curvas verticais


tenham comprimentos suficientes para que as variações de declividades entre os trechos retos
do greide sejam experimentadas pelos usuários ao longo de um tempo igual ou maior que 2
segundos.

O comprimento mínimo da curva, de acordo com este critério, será dado


pela distância percorrida por um veículo, que se desloca a uma certa velocidade v, no tempo
de 2 s, o qual poderá ser calculado por:

Lmín = 2 ⋅ v (15.26)

Convertendo a expressão (15.26) para expressar a velocidade em km/h,


resultará:

V
Lmín = 2 ⋅ (15.27)
3,6

Lmín = 0,6 ⋅ V (15.28)

onde:
Lmín = comprimento mínimo da curva vertical (m);
V = velocidade diretriz (km/h)

Por considerações de ordem prática, o valor de Lmín deve ser limitado inferiormente a
20,00 m.

15.9.2. Critério da Distância de Visibilidade

15.9.2.1. Visibilidade nas Curvas Verticais Convexas

O comprimento mínimo das curvas verticais convexas é determinado


em função das condições necessárias de visibilidade nas curvas, de forma a dar ao motorista o
espaço necessário a uma frenagem segura.

O critério que era adotado pelo DNER era o seguinte:

Quando dois veículos, trafegando em direções opostas, se aproximam


do cume de uma elevação, é indispensável que os motoristas se avistem a tempo e a uma
distância suficiente para que possam manobrar com segurança e evitar o choque; essa
distância é chamada Distância Dupla de Visibilidade (D).
138

A Figura Fig. 15.7 apresenta a situação exposta anteriormente.

Fig. 15.7: Distância Dupla de Visibilidade na Concordância Vertical Convexa

Neste caso, é estabelecida a altura da vista do motorista em relação à pista (h), como
sendo 1,20 m.

Fig. 15.8: Altura da vista do motorista em relação à pista

O critério atualmente estabelecido pelas normas do DNER, para a determinação do


comprimento mínimo de uma curva vertical convexa, considera que um motorista, com os
olhos postados a 1,10 m de altura sobre a pista (h1), deva ser capaz de enxergar um obstáculo
de 0,15 m de altura acima da pista (h2), a uma distância de visibilidade pelo menos igual à
distância de visibilidade de parada (Dp), conforme esquematizado na Fig. 15. 9.
Fig. 15. 9: Critério atualmente adotado pelo DNER

Assim, para todas as curvas convexas da estrada deve-se ter:

S ≥ Dp (15.29)
em que:
S = distância de visibilidade do motorista;
Dp = Distância de Visibilidade de Parada
139

Para determinar o menor comprimento da curva vertical, de forma a ser respeitada a


inequação (15.29), fazemos S = Dp, considerando a altura da vista do motorista em relação à
pista (h1 = 1,10 m) e a altura do obstáculo (h2 = 0,15 m).

Observado este critério, há duas situações geometricamente distintas a considerar,


dependendo das posições do motorista e do obstáculo em relação à curva, conforme os casos
apresentados a seguir.

1º Caso: O motorista, dentro da curva, enxerga o obstáculo também postado na curva


(S=Dp≤L), conforme a Figura 15.10.

Fig. 15. 10: Esquema de visibilidade para veículo e obstáculo sobre curva convexa

D p2
Lmín = ⋅A (4.30)
412

onde:
Lmín = comprimento mínimo da curva vertical (m);
Dp = distância de visibilidade de parada (m);
A = diferença algébrica de rampas (%).

2º Caso: O motorista, antes da curva, enxerga o obstáculo situado após a curva


(S=Dp> L), conforme a Figura 15.11.

Fig. 15. 11: Esquema de visibilidade, em curva convexa, para veículo e obstáculo sobre rampas.

412
Lmín = 2 ⋅ D p − (4.31)
A
140

15.9.2.2. Visibilidade nas Curvas Verticais Côncavas


Durante o dia e no caso de pistas iluminadas artificialmente, geralmente não ocorrem
problemas de visibilidade. Para pistas não iluminadas, aplica-se o critério da visibilidade
noturna, ou seja, a pista deve ser iluminada à distância de visibilidade de parada pelo farol do
veículo, por hipótese situado a h3 = 0,61 m acima do plano da pista, supondo que seu facho
luminoso diverge de α =1o do eixo longitudinal do veículo.

Também no caso das curvas verticais côncavas há duas situações a considerar,


dependendo das posições do veículo (de seus faróis) e do ponto mais distante da área
suficientemente iluminada em relação à curva, conforme os casos apresentados a seguir.

1º Caso: Os faróis do veículo e o ponto mais distante iluminado estão dentro da curva
(S=Dp≤L), conforme a Figura 15.12.

Fig. 15.12: Esquema de visibilidade para veículo e obstáculo sobre curva côncava.

D p2
Lmín = ⋅A (4.32)
122 + 3,5 ⋅ D p

2º Caso: Os faróis do veículo, situados antes da curva, iluminam o ponto mais


distante, localizado após a curva (S=Dp≥L), conforme a Figura 15.13.

Fig. 15.13: Esquema de visibilidade, em curva côncava, para veículo e obstáculo sobre rampas.

122 + 3,5 ⋅ D p
Lmín = 2 ⋅ D p − (4.33)
A

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