195 275 PB
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Reitor
Henrique Carivaldo de Mirando Neto
Coordenadora de Extensão
Adriana de Lanna Malta Tredezini
Diretora de Graduação
Mônica Soares de Araújo Guimarães
ISSN 1984-0705
Volume 15, número 1, jan./jun. 2022
Patos de Minas: Crátilo, UNIPAM, v. 15, n. 1, jan./jun. de 2022: 1-175
Editor responsável
Geovane Fernandes Caixeta
Conselho Consultivo
Agenor Gonzaga dos Santos (UNIPAM)
Ana Cristina Santos Peixoto (Universidade Federal do Sul da Bahia)
Bruna Pereira Caixeta (Sagah Soluções)
Carlos Alberto Pasero (Universidad de Buenos Aires)
Eliane Mara Silveira (Universidade Federal de Uberlândia)
Elaine Cristina Cintra (Universidade Federal de Uberlândia)
Erislane Rodrigues Ribeiro (Universidade Federal de Goiás)
Fábio Figueiredo Camargo (Universidade Federal de Uberlândia)
Hélder Sousa Santos (Instituto Federal do Triângulo Mineiro)
Helena Maria Ferreira (Universidade Federal de Lavras)
João Bosco Cabral dos Santos (Universidade Federal de Uberlândia)
José Olímpio de Magalhães (Universidade Federal de Minas Gerais)
Luís André Nepomuceno (Universidade Federal de Viçosa – Rio Paranaíba)
Manuel Ferro (Universidade de Coimbra)
Maria Aparecida Barbosa (Universidade Federal de Santa Catarina)
Maria do Carmo Viegas (Universidade Federal de Minas Gerais)
Maria José Gnatta Dalcuche Foltran (Universidade Federal do Paraná)
Mateus Emerson de Souza Miranda (Universidade Federal de Minas Gerais)
Roberta Guimarães Franco Faria de Assis (Universidade Federal de Lavras)
Silvana Capelari Orsolin (Centro Universitário de Patos de Minas)
Silvana Maria Pessoa de Oliveira (Universidade Federal de Minas Gerais)
Sueli Maria Coelho (Universidade Federal de Minas Gerais)
Susana Ramos Ventura (Universidade Federal de São Paulo/ Campus Guarulhos)
Teresa Cristina Wachowicz (Universidade Federal do Paraná)
Revisão
Geovane Fernandes Caixeta
Gisele Carvalho Araújo Caixeta
Rejane Maria Magalhães Melo
Diagramação e Formatação
Lorrany Lima Silva
Breve revisão da literatura acerca da produção escrita em língua inglesa por alunos da
Educação Básica...................................................................................................................... 165
Mônica Soares de Araújo Guimarães
Resumo: Neste artigo, objetivou-se comprovar a tese de que Machado de Assis, no livro Memórias
póstumas de Brás Cubas, é um manipulador de interjeições. Para isso, buscou-se em Candido (1976),
Rosenfeld (1976) e Brait (1985) a caracterização de personagens literárias e em Caixeta (2005, 2015)
a compreensão do fenômeno interjeição. Foram rastreadas e classificadas as manifestações
interjetivas proferidas por quatro personagens das Memórias: Brás Cubas narrador, Brás Cubas
personagem, Dona Eusébia e Virgília. Percebeu-se que, de fato, Machado de Assis, nas Memórias,
manipula as interjeições, por meio das quais é possível perceber como cada personagem se
comporta emocional e emotivamente, social e psicologicamente. Por fim, detectou-se também,
nas Memórias, a presença de manifestações interjetivas gráficas, algo ainda não documentado.
Palavras-chave: Interjeição. Interjeição gráfica. Machado de Assis.
Abstract: In this article, the objective was to prove the thesis that Machado de Assis, in the book
Memórias Póstumas de Brás Cubas, is a manipulator of interjections. For this, Candido (1976),
Rosenfeld (1976), and Brait (1985) sought the characterization of literary characters, and Caixeta
(2005, 2015) an understanding of the phenomenon of interjection. The interjective manifestations
given by four characters from Memórias were tracked and classified: Brás Cubas narrator, Brás
Cubas character, Dona Eusébia and Virgília. It was noticed that, in fact, Machado de Assis, in the
Memórias, manipulates interjections, through which it is possible to perceive how each character
behaves emotionally and emotionally, socially and psychologically. Finally, the presence of visual
interjective manifestations was also detected, in the Memórias, something not yet documented.
Keywords: Interjection. Graphical interjection. Machado de Assis.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Independentemente de, hoje, ser esse gênio um “autor defunto”, suas Memórias estão
vivas e, notável e provisoriamente, (in)decifráveis. Portanto, as Memórias são um
clássico.
Memórias é um romance que foi – e é – alvo de muitos estudos, os quais focam
a ironia, o fantástico e a liberdade formal, entre outros temas. É uma narrativa não linear,
em que a presença de comentários periféricos, caracterizados por ironias, é não só para
os leitores, mas também para os críticos, o centro de interesse pela dimensão e
contemporaneidade. No romance em questão, Brás Cubas, narrador e protagonista,
decide, após sua morte, contar suas memórias. Como morto, ou como um “defunto
autor”, revela sua ironia e sua causticidade em relação a uma sociedade cujas instituições
se fundam na hipocrisia. O próprio defunto autor, Brás Cubas, disse que escreveu a obra
com a “pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair
desse conúbio” (ASSIS, [1881] 1992, p. 16). Temas como casamento, adultério,
comportamentos individuais e sociais são alvos do parecer rude e mordaz de Machado
de Assis, travestido de Brás Cubas. Desse modo, as personagens são de interesse deste
trabalho.
Há mais de oito décadas, na edição de 18 de junho de 1939 do Diário de Notícias,
do Rio de Janeiro, Astrogildo Pereira assim se expressou em relação à crítica a Machado
de Assis: “[...] nenhum outro escriptor brasileiro, em nenhum tempo, foi tão falado, tão
manuseado, tão esquadrinhado quanto Machado de Assis actualmente.” (PEREIRA,
1939, p. 17). Essa citação sinaliza que sempre há “novas perspectivas” de estudos acerca
de Machado de Assis e de sua obra. Conforme Pereira (1939, p. 17) em outra passagem
de seu texto, “Ha muito mysterio ainda em Machado de Assis. Mysterio fascinante, que
attrahe e enfeitiça deliciosamente os decifradores”.
Considerando a atualidade da “fala” de Astrogildo Pereira, o objetivo deste
artigo é apresentar argumentos favoráveis à tese de que Machado de Assis, no romance
Memórias póstumas de Brás Cubas, é um manipular de interjeições. Para isso, num primeiro
momento, foram abordadas (i) a construção de personagens literárias, e os autores
selecionados foram Candido (1976), Brait (1985) e Rosenfael (1976) e (ii) a semioticidade
das manifestações interjetivas, e os autores selecionados foram Caixeta (2005, 2015) e
Gonçalves (2002). Num segundo momento, foram feitas, subsidiando-se nos dois passos
anteriores, a identificação e a análise das manifestações interjetivas presentes nas
Memórias. A interseção desses momentos forneceu os argumentos para a sustentação da
tese.
Machado de Assis, ao utilizar-se de um narrador irreverente, galhofeiro e
farsola, mostra sua capacidade de lidar com uma infinidade de usos da língua(gem),
principalmente com o fenômeno interjetivo. Nas Memórias, esse fenômeno parece ser
uma ferramenta conduzida pelo escritor para, nas entrelinhas de seu texto, mostrar
quem são as suas personagens do ponto de vista emocional, emotivo, social e
psicológico. O perfil de cada personagem não se reduz a uma descrição física; na
composição de cada perfil, Machado de Assis recorre a uma semioticidade advinda do
uso de interjeições para sinalizar aos leitores como as personagens se comportam,
emocional e emotivamente, social e psicologicamente, com elas mesmas, com seus
interlocutores, com o assunto ou com a situação comunicativa. Machado de Assis não
descreve exaustivamente suas personagens; ele sugere atitudes e comportamentos delas
– as interjeições proferidas por elas são um recurso para a montagem dos perfis
pretendidos ou sugeridos.
Nas Memórias, há uma constelação de personagens, como Brás Cubas (narrador
e protagonista), Sabina (irmã de Brás Cubas), Cotrim (cunhado), Bento (pai), Virgília
(noiva, amante), Quincas Borba (amigo), Marcela (primeiro amor), Lobo Neves (esposo
de Virgília) e Dona Eusébia (amiga da família de Brás Cubas). Neste artigo, em função
das delimitações de espaço, foram analisadas apenas as manifestações interjetivas de
quatro personagens: Brás Cubas narrador, Brás Cubas personagem, Dona Eusébia e
Virgília. Apesar dessa restrição no conjunto de personagens que povoam as Memórias,
deve-se salientar que as demais são de grande importância na narrativa.
Inexistem estudos acerca das manifestações interjetivas nas obras de Machado
de Assis. Como nas Memórias há um imenso uso de interjeições, torna-se pertinente uma
análise delas, considerando-as como estratégias do escritor para contribuir para a
composição emocional, emotiva, social e psicológica de suas personagens. Desse modo,
espera-se que este estudo subsidie pesquisas futuras em que as personagens possam ser
examinadas semioticamente: basta levar em consideração que as interjeições, ao serem
proferidas, reverberam nos/pelos corpos, presentificando, (in)diretamente, um modo
singular de se estar numa situação comunicativa, emocional e emotivamente, social e
psicologicamente.
Machado de Assis “acostumou-se a olhar por trás das máscaras sociais, a fim
de revelar o jogo das relações socais, de compreender a natureza humana, focalizando
personagens com penetrante espírito de análise” (CAMPEDELLI, 1999, p. 188). Para essa
autora, “[...] nos indivíduos existem sempre intenções supostas para objetivos reais. É
disso que resultam os atos, os quais se dirigem sempre para a satisfação pessoal de quem
os pratica” (p. 188). As Memórias são, desse modo, um macrocosmo de personagens.
Para José Candido (1976, p. 54), a personagem de um romance “representa a
possibilidade de adesão afetiva e intelectual do leitor, pelos mecanismos de
identificações, projeção, transferência etc. A personagem vive o enrêdo e as idéias, e os
torna vivos”. José Candido estabelece uma comparação entre personagens e pessoas do
cotidiano. Para o teórico,
2015, 192). Embora sejam da ordem do emotivo, essas interjeições voltam-se para um
destinatário, com valor conativo, de forma que verbos no imperativo geralmente
compõem essas manifestações. Por meio dessas interjeições, o enunciador sinaliza sua
intenção em relação ao interlocutor. Estão circunscritas em um modelo social que
subordina a relação enunciador-destinatário. São também experienciais.
Por fim, as interjeições formulaicas são as que correspondem à manifestação de
um ritual. “O componente que subjaz às interjeições formulaicas é Eu devo seguir algo”
(CAIXETA, 2015, p. 199). Ainda de acordo com o autor, a emissão dessas interjeições
“chama mais atenção por serem fórmulas sociais de interação do que por serem
necessariamente uma reação emotiva particularizante do falante interjetivo” (CAIXETA,
2015, p. 205). Essas fórmulas sociais são gestos, atitudes e comportamentos exigidos em
determinadas situações, como cumprimentar ou despedir-se de alguém numa dada
circunstância social. São, assim, experienciais.
As inúmeras manifestações interjetivas presentes nas Memórias, distribuídas em
conformidade com a classificação proposta por Caixeta (2015), podem sinalizar atributos
não só emocionais repentinos, mas também comportamentais dos personagens.
Manifestações interjetivas como “Jesus!”, “Cruz, diabo!”, “Céus!”, “Coitadinha!”, “Ah,
meu Deus! meu Deus!”, “Valha-me Deus!”, “Ah, brejeiro! ah! brejeiro!”, “Magnífica!”,
“Viva o passado!”, entre várias outras presentes nas Memórias, são indícios de como as
personagens reagem em dadas situações sociocomunicativas.
A proposta de Caixeta (2015) está sintetizada no quadro a seguir.
Eu penso algo.
“– Não se esqueça de Dona Plácida.
Vá vê-la algumas vezes. Coitada! Foi
Eu penso que Dona Plácida é
Cognitiva ontem despedir-se de nós; chorou
uma “coitada”, porque a
muito, disse que eu não a veria
nossa ausência a deixará
mais...” (ASSIS, [1881] 1992, p. 141).
chateada.
Viram-me ir umas nove ou dez Eu (não) quero que você faça
pessoas, entre elas três senhoras, algo.
minha irmã Sabina, casada com
Persuasiva Cotrim, – a filha, um lírio do vale, – Eu quero (ordenho) que os
e... Tenham paciência! daqui a pouco leitores tenham paciência,
lhes direi quem era a terceira porque daqui a pouco direi o
senhora” (ASSIS, [1881] 1992, p. 17). nome da terceira senhora.
Emotiva “O que eu quero dizer não é que
esteja agora mais velho do que
quando comecei a escrever o livro. A Eu (não) quero algo.
morte não envelhece. Quero dizer,
Volitiva sim, que em cada fase da narração da Eu quero que Deus me
minha vida experimento a sensação socorra, porque preciso
correspondente. Valha-me Deus! é explicar tudo para os leitores.
preciso explicar tudo” (ASSIS, [1881]
1992, p. 160).
Eu devo seguir algo.
“– Não quero saber onde mora,
atalhou Quincas Borba. [...]. Agora,
Formulaica Eu devo seguir as
adeus; vejo que está impaciente.
convenções sociais, por isso
– Adeus!” (ASSIS, [1881] 1992, p. 92).
digo “adeus”.
Fonte: elaborado pelos autores, 2021.
personagem), por Dona Eusébia e por Virgília. Ao todo, foram identificadas 167
manifestações interjetivas proferidas por essas quatro personagens. Os enunciados
dúbios, cuja natureza interjetiva é questionável, não foram levados em consideração. Os
tipos proferidos pelos personagens selecionados assim como os percentuais, encontram-
se na tabela a seguir.
Com base nos dados levantados, pode-se perceber que Brás Cubas narrador
profere, em sua maioria, interjeições emocionais e cognitivas – respectivamente 14,29%
e 66,96% do total de interjeições proferidas por ele. A seguir, são apresentadas
manifestações interjetivas proferidas por Brás Cubas narrador, analisadas com base nos
Quadro 1 e 2, apresentados anteriormente.
bem o nome” (ASSIS, [1881] 1992, p. 118). Assim, manifesta-se um sujeito emocional, que
vive a emoção no momento mesmo de proferir a interjeição “Ah!”. Brás Cubas está
envolvido, emocionalmente, com ele mesmo e com a própria mensagem (conteúdo) do
seu dizer. Está implícito, na emissão dessa interjeição, o estado mental contextualizado
<eu estou surpreso por ter me lembrado do nome do Jacó Tavares>.
Já no fragmento (02), Brás Cubas narrador profere uma interjeição cognitiva
tendo em vista a surpresa de uma voz sair-lhe por dois motivos: a ternura que sentia por
Eugênia, ainda que ela tivesse uma deficiência física, e o medo de amá-la e afeiçoar-se a
ela devido à deficiência física dela. Brás Cubas narrador, na manifestação da interjeição
assinalada, revela-se envolvido emotiva e cognitivamente com o conteúdo de seu dizer.
Desse modo, pode-se perceber que Brás Cubas narrador é um sujeito interjetivamente
emocional e cognitivo, na medida em que deixa transparecer, no texto, suas emoções
(sustos, anuências repentinas etc.) e suas opiniões e juízos de valor, ao comentar, de
maneira interjetiva, aquilo que o rodeia. Ao emitir a interjeição cognitiva assinalada no
fragmento (02), Brás Cubas narrador deixa entrever o estado mental contextualizado <eu
penso que uma mulher coxa pode despertar sentimentos dúbios>.
Quando se observa a Tabela 1, nota-se que as manifestações interjetivas de Brás
Cubas personagem são, em sua maioria, cognitivas e persuasivas – respectivamente
37,5% e 33,34% do total de interjeições emitidas por ele. Embora Brás Cubas personagem
e Brás Cubas narrador sejam a mesma pessoa, mas sujeitos distintos, separados pela
morte – o livro inicia-se justamente com o óbito do autor –, as manifestações interjetivas
predominantemente emitidas são distintas. Assim, o narrador não permanece com as
características do personagem. Dentre as manifestações interjetivas emocionais, embora
não sejam maioria, merece destaque esse borbotão interjetivo:
(03) .................
.................
..............!..
..!..............
................!
(ASSIS, [1881] 1992, p. 86).
atmosfera textual de sedução – quem sabe, de “pecado original”. Machado de Assis, por
meio das interjeições gráficas criadas por ele mesmo – não há como Brás Cubas proferir
interjeições gráficas – envolve Brás Cubas num atmosfera emocional. De fato, não há
como apresentar o(s) estado(s) mental(is) para as interjeições gráficas do fragmento (03).
O que se pode afirmar é que há, nesse capítulo, numa perspectiva intertextual, semioses
interjetivas (e literárias) para o “velho diálogo de Adão e Eva”.
Essas interjeições gráficas são uma peculiaridade de Machado de Assis nas
Memórias. Tal recurso parece ser, na literatura brasileira, inovador: primeiro porque
Machado de Assis utiliza-se apenas de sinais gráficos para compor um capítulo do livro;
segundo porque é impensável, numa narrativa escrita, a ausência de palavras no
desenrolar de uma cena. Deve-se salientar que nem todos os turnos do Capítulo LV são
marcados por tom exclamativo; somente os marcados devem ser considerados
interjetivos. Esse capítulo das Memórias indica que Machado de Assis é um escritor de
recursos semióticos sofisticados. Nesse sentido, pode-se dizer que é um metaescritor:
põe em evidência uma “reflexão” sobre o funcionamento da linguagem, o que pode ser
percebido principalmente no uso singular de interjeições gráficas.
Quanto a outras manifestações, destacam-se as seguintes:
(05) – Não percebeste que era mentira, que eu dizia isso para
te não molestar? Vem cá, chiquito, não sejas assim
desconfiado comigo... Amei a outro; que importa, se
acabou? Um dia, quando nos separarmos...
– Não digas isso! bradei eu. (ASSIS, [1881] 1992, p. 43).
que você, Marcela, não me diga o que se passou com você quando se separou de seu
amante anterior>.
Quanto à Dona Eusébia, percebe-se que profere, em sua maioria, manifestações
interjetivas emocionais – 44,45% do total de interjeições emitidas por ela. No fragmento
transcrito a seguir, percebem-se manifestações interjetivas diversas proferidas por Dona
Eusébia.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
velho diálogo de Adão e Eva, no qual Virgília e Brás não proferem nenhuma
palavra, ficando a cargo do leitor preencher as lacunas deixadas por Machado
de Assis. Outro detalhe importante é que essa personagem, amiúde, profere as
mesmas manifestações interjetivas, o que reforça sua conduta social
(forçosamente) retilínea. Virgília, ao proferir interjeições formulaicas (13,64%
das proferidas por ela), revela-se uma personagem que se preocupa com
padrões e comportamentos sociais, diferentemente de Dona Eusébia. O fato de
Virgília ser casada com Lobo Neves, um homem de carreira política e vida
pública, pode fazer com que ela intensifique essa preocupação.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Machado. (1881). Memórias póstumas de Brás Cubas. 18. ed. São Paulo: Ática,
2008.
CAIXETA, Geovane Fernandes. “Que bom, que bom, ai que bom!” Da existência da
relação retórica de interjeição. 2015. 260 p. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos),
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.
Resumo: Estudos recentes apontam, de forma geral, uma recusa, por parte dos jovens estudantes,
dos cânones da literatura. Por que essa rejeição existe? Este trabalho buscou responder a esse
questionamento, problematizando a forma como a Literatura Clássica é normalmente trabalhada
no contexto escolar e buscando alternativas de metodologias diferentes para a leitura dos
clássicos, com vistas a minimizar a rejeição normalmente tida pelo alunado. A pesquisa foi
desenvolvida a partir de leituras de livros, artigos e documentos que discutem o tema, sendo
reafirmada a existência de falhas no modo como a Literatura Clássica é trabalhada no contexto
escolar. A partir disso, pautando-se em buscas de trabalhos já publicados, foram apresentadas
sugestões de metodologias para o trabalho com a Literatura Clássica com o intuito de aproximar
os estudantes da leitura do cânone.
Palavras-chave: Cânone. Ensino. Escola. Literatura.
Abstract: Recent researches point to, generally, refusing the literature canon by students. Why
does the rejection of that type of literature occur? This work tries to answer the question,
problematizing the way Classical Literature is usually presented in the school context and
searching for alternatives of different methodologies for the reading of classics, willing to
minimize the rejection by the young readers. The research was developed by reading books,
articles, and documents that discussed the theme and reaffirmed the presence of flaws in how
Classical Literature is worked on in the school context. From this, and based on research of
already published works, suggestions of methodologies for the approach with Classic Literature
were presented, with the intention of bringing students closer to reading the canon.
Keywords: Canon. Teaching. School. Literature.
1 INTRODUÇÃO
Italo Calvino (2007, p. 9), em seu livro Por que ler os clássicos, propõe quatorze
definições para o que seja o clássico. Uma delas é: “os clássicos são aqueles livros dos
quais, em geral, se ouve dizer: - Estou relendo... - e nunca - Estou lendo... -”. Nota-se que
isso ocorre com mais frequência na considerada idade madura, não sendo muito comum
na juventude, apesar de ser nesse período que ocorre o primeiro contato com essas obras.
2 O QUE É O CLÁSSICO?
“Clássico”, segundo o dicionário online ([s. d.], [s. p.]), pode possuir vários
significados. Suas significâncias encontram espaços nas áreas literárias, artísticas,
populares, esportistas etc. De acordo com as classes gramaticais, a palavra se classifica
como um adjetivo ou como um substantivo masculino. Sua etimologia advém do latim
classicus, “de primeira classe”. Eis aqui alguns significados disponibilizados:
Calvino (2007) pontua que “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer
aquilo que tinha para dizer” (p. 11), portanto, cada leitura trará uma nova descoberta
diferente da anterior; “um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem
de discursos críticos sobre si [...]” (p. 12), dessa forma, ele tem a capacidade de nos
ensinar algo e de formar leitores críticos; “é clássico aquilo que persiste como rumor
mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível” (p. 15), assim, o clássico tem o
poder de perpassar o tempo se mantendo sempre atual; “[...] os clássicos servem para
entender quem somos e aonde chegamos [...]” (p. 16), desse modo, ele é capaz de fazer
com que compreendamos acerca da condição humana ao longo da história,
oportunizando o conhecimento de gerações passadas.
Corroborando as definições de Calvino, Ana Maria Machado (2002, p. 15) relata
que “clássico não é livro antigo e fora de moda. É livro eterno que não sai de moda”. Em
outras palavras, os clássicos são atemporais. Podem sim constituir seu linguajar
ultrapassado, mas o tema constituinte ultrapassa qualquer barreira atemporal
dialogando com questões profundas e universais.
Thomas Eliot (1945, p. 78 apud RODRIGUES, 2016, p. 64) indica que “um
clássico só pode aparecer quando uma civilização estiver madura, quando uma língua e
uma literatura estiverem maduras [...]”. Nesse mesmo viés, Marinês P. Rodrigues (2016,
p. 65) explica que “os clássicos se originam a partir de uma civilização que comprovou
sua maturidade, tanto no aspecto cultural quanto linguístico, no momento em que se
manifestam as condições necessárias para seu surgimento”.
Apesar de tudo que foi exposto, ainda ficam os questionamentos: que obra
possui qualidade e qual não? Quais livros são dignos de leitura? Nessa perspectiva,
Machado de Assis, Shakespeare, Aluísio de Azevedo, Homero, Chaucer e Graciliano
Ramos podem ser considerados clássicos, pois são suas diferenças que fazem com que
se tornem tão especiais.
Muitas obras, dos autores citados, fizeram sucesso na época em que foram
lançadas, mas ainda ganham destaques nos dias atuais, perpassando por diferentes
gerações. Cada um dos autores citados, de diferentes modos, nos fornece dados
históricos e culturais que são essenciais para nossa formação humana e acadêmica.
Machado de Assis, por exemplo, em Dom Casmurro, trabalha, mesmo que
inconscientemente (ou não), o papel da mulher naquela época. Aluísio de Azevedo, em
O Cortiço, retrata a escravidão e problemas sociais vividos na época. Os Contos de
Cantuária, escritos por Geoffrey Chaucer, expõem como as pessoas viviam em suas
diversas camadas sociais.
Desse modo, os poucos elementos aqui apresentados fazem com que esses
autores sejam considerados clássicos, pois as obras desses escritores nos permitem
debater sobre a condição humana e sobre as relações sociais e políticas de um
determinado momento histórico. Assim, para Rodrigues (2016, p. 71), “essas obras
constituem, através das gerações, um arcabouço de textos que servem de referência para
se ensinar literatura, pois pertencem às mais variadas escolas literárias e ainda servem
para que possamos estabelecer um percurso da literatura através dos tempos”. Clássico,
portanto, é uma referência, um modelo a ser seguido, uma inspiração.
Para Brito et al. (2014, p. 48), “a literatura da escola é do gustar (provar) e não a
do gostar (apreciar), pois escolas têm um objetivo específico, o aprendizado”. Mas esse
objetivo de fazer com que o aluno aprenda não impede que os professores façam com
que essa aprendizagem seja um tanto quanto prazerosa. Segundo Calvino (2007), de fato,
as leituras da juventude podem ser pouco proveitosas, seja pela impaciência, seja pela
distração, seja pelas inexperiências. Para o escritor, os clássicos não podem ser lidos por
obrigação, mas sim por amor. Italo Calvino (2007, p. 13) ainda profere que
[...] a escola deve fazer com que você conheça bem ou mal
um certo número de clássicos dentre os quais (ou em
relação aos quais) você poderá depois reconhecer os "seus"
É inegável, também, que exista uma falha no modo como os clássicos são
levados para sala de aula, pelo fato de haver professores que focam apenas
conhecimentos informativos das obras, dos autores e de épocas, não oferecendo um
caminho que oportunize o interesse pela literatura e pela leitura. Antonio Candido (1972,
p. 82) já afirmava que “os estudos modernos de literatura se voltam mais para a estrutura
do que para a função”.
Fica claro que, além dessa necessidade de formação intelectual, existe o dever
de se trabalhar a literatura por ela ser essencial na formação humana. Candido (1995, p.
249) já assegurava que a função fundamental da literatura é a de humanizar o homem:
“a literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna
mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade. O semelhante”. Porém, o
que se percebe é que, no processo de formação, os educadores não foram orientados a
passar o caráter humanizador da literatura adiante. Portanto, segundo Brito et al. (2014,
p. 46), não se deve atribuir a culpa total dessa falha aos professores, pois muitos deles
não tiveram uma formação adequada em relação à forma como trabalhar os clássicos no
contexto escolar.
Um trabalho como esse não deve ficar apenas no contexto de sala de aula,
podendo, então, o professor organizar um momento na escola em que os alunos possam
apresentar o vídeo desenvolvido para toda a comunidade escolar e até para a
comunidade externa. Saber que o trabalho deles poderá extrapolar os muros da escola
serve de motivação.
favorece a participação de todos, não explica, não apresenta nem contextualiza a obra;
depois, o grupo participante escolhe o livro que lerá e define o trecho que será lido
individualmente e em voz alta, no encontro, explicando por que gostou ou não e o que
chamou sua atenção (o professor/moderador determina até onde os alunos lerão para
cada encontro); assim, após a leitura de cada trecho, o moderador cede o turno, também,
para aqueles que gostariam de comentar o trecho lido pelo colega. E assim o ciclo é feito,
primeiro uma pessoa lê o seu trecho, fazendo seus apontamentos, depois, os outros
comentam, abrindo espaço para novas interpretações e reflexões, e, em seguida, outra
pessoa lê e assim por diante. Para finalizar, os participantes voltam à leitura do livro, até
onde o moderador indicar, tendo em mente todos os diálogos e reflexões compartilhadas
na sessão, e se preparam para o próximo encontro.
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRITO, Camila Andrade et al. Literatura clássica: os desafios para incentivar esse tipo
de leitura. Revista Crátilo, Patos de Minas, v. 7 n. 1, p. 44-57, ago. 2014. Disponível em:
https://revistas.unipam.edu.br/index.php/cratilo/issue/view/45/Revista%20Cr%C3%A1
tilo%2C%20vol.%207%2C%20n.%201%2C%20ago.%202014. Acesso em: 24 mar. 2021.
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. 2. ed. São Paulo: Schwahcz, 2007.
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas
Cidades, 1995.
COSTA, Lili Mirian Gums. Leitura literária na escola: uma proposta de aproximação
dos alunos da 2ª série do Ensino Médio com a literatura. In: PARANÁ. Secretaria de
Estado da Educação. Superintendência de Educação. Os desafios da escola pública
paranaense na perspectiva do professor PDE: Produção Didático-pedagógica, 2016.
Curitiba: SEED/PR., 2018, v. 2. (Cadernos PDE). Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde
/2016/2016_pdp_port_unioeste_lilimiriangums.pdf. Acesso em: 26 mar. 2021.
CZERVINSKI, Inês. Literatura viva hoje e sempre: os clássicos. In: PARANÁ. Secretaria
do Estado da Educação. Superintendência de Educação. Os desafios da escola pública
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(Cadernos PDE). Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde
/2013/2013_ufpr_port_artigo_ines_czervinski.pdf. Acesso em: 26 set. 2021. ISBN 978-85-
8015-076-6.
FREITAS, Helen J. M. de. A leitura dos clássicos na sala de aula: uma prática possível.
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Disponível em: https://www.ufjf.br/praticasdelinguagem/files/2016/08/15-23-A-leitura-
dos-cl%c3%a1ssicos-na-sala-de-aula-uma-pr%c3%a1tica-poss%c3%advel.pdf. Acesso
em: 07 set. 2021.
MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2002.
https://periodicos2.unemat.br/index.php/fronteiradigital/article/view/1539/1476.
Acesso em: 13 ago. 2021.
SOUZA, Willian Eduardo Righini. Por que ler os clássicos na escola? Observações a
partir de um clube de leitura para adolescentes. Revista educação e cultura
contemporânea, Rio de Janeiro, v. 17, n. 49, p. 127-150, 2020. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.5935/2238-1279.20200056. Acesso em: 24 mar. 2021.
KLEISSIELY DE CASTRO
Licenciada em Letras Português/Inglês - UFLA
E-mail: [email protected]
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo basilar apresentar recursos e estratégias didáticas que
podem auxiliar professores, nas aulas de Língua Portuguesa, a produzir enunciados de
atividades e tarefas escolares mais sistematizados e condizentes com o objetivo de ensino
pretendido. Nesse sentido, foram realizadas duas propostas de análise de materiais didáticos: a
primeira, foi feita a partir de uma atividade retirada do Plano de Ensino Tutorado (PET), de Minas
Gerais; a segunda foi executada por meio de um fôlder informativo. Para a consecução do objetivo
proposto, foram utilizados, sobretudo, os estudos de Marcuschi (2006), com o intuito de embasar
as discussões sobre as concepções de gênero, linguagem e ensino, e Lino de Araújo (2017), a fim
de problematizar a maneira como os enunciados de atividades e tarefas são elaborados nas aulas
de língua materna. Diante do exposto, espera-se, com este trabalho, fornecer insumos aos
educadores para a construção de atividades escolares mais contextualizadas, baseadas em noções
fundamentadas de língua, linguagem e ensino.
Palavras-chave: Ensino. Materiais didáticos. Enunciados. Língua Portuguesa.
Abstract: This research aims to present resources and didactic strategies to help Portuguese
Language teachers to produce more systematized and consistent statements of activities and
school tasks with the intended teaching objective. In this context, we made two proposals for the
analysis of didactic materials: the first was based on an activity taken from the Tutored Teaching
Plan (PET) in Minas Gerais; the second was executed through an informative folder. To achieve
the proposed objective, we used the studies of Marcuschi (2006) in order to support the
discussions about the conceptions of genre, language, and teaching, and the works of Lino de
Araújo (2017) in order to problematize the mother tongue classes elaborated the activities and
tasks statements. Therefore, this work is expected to provide educators with inputs for the
construction of more contextualized school activities based on grounded notions of language and
teaching.
Keywords: Teaching. Teaching materials. Utterances. Portuguese language.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
não faz parte da formação inicial do docente, mas ele acaba aprendendo esse gênero na
sua prática didática, muitas vezes, de forma errônea e contraditória.
De modo geral, a dificuldade em elaborar enunciados de atividades e tarefas
escolares tem sido suprida pelos professores com a troca de atividades entre os pares e
com a cópia do LDP e das questões de processos seletivos como o ENEM. Mas, como
aponta Marcuschi (2006), nem mesmo os LDPs são fontes confiáveis de exercícios bem
elaborados, coerentes e teoricamente sustentados. Por isso, é importante refletir sobre
como são elaborados os materiais didáticos, especialmente no que diz respeito à
formulação de atividades escolares, e entender como isso impacta o processo de ensino-
aprendizagem.
As discussões tecidas até aqui revelam que ainda há muito o que se refletir
acerca da elaboração de enunciados de atividades e tarefas escolares nas aulas de Língua
Portuguesa, seja na prática pedagógica, seja nos materiais didáticos com os quais os
professores entram em contato. A formulação deles é, sem dúvida, parte imprescindível
do exercício docente, haja vista que a maneira como são construídos influencia
diretamente na qualidade e na eficiência do ensino ofertado aos alunos. Logo, é
importante que os educadores compreendam a relevância desse momento para o
desenvolvimento de propostas metodológicas que, de fato, atendam às demandas de
ensino-aprendizagem dos estudantes.
Lino de Araújo (2017) apresenta uma série de aspectos que precisam ser
considerados para a construção de enunciados de atividades e tarefas1 escolares, bem
como os recursos que podem ser utilizados como apoio para o desenvolvimento desse
processo. Neste estudo, nos ateremos a discutir de forma mais detalhada dois deles – a
1 A limitação deste artigo não nos permite adentrar na diferenciação entre os termos atividade e
tarefa. Em síntese, Lino de Araújo (2017) salienta que o primeiro se refere à uma operação de
ensino-aprendizagem que engloba várias sequências didático-discursivas, enquanto o segundo
diz respeito aos elementos que constituem uma dada atividade e que tem por objetivo,
justamente, completá-la/realizá-la. Para compreender de maneira mais aprofundada,
recomendamos a leitura da obra Enunciado de atividades e tarefas escolares: modos de fazer.
Identificar, nomear,
(RE)CONHECIMENTO: capacidade de
assinalar, citar,
identificação das propriedades fundamentais
relacionar, completar,
dos objetos de conhecimento apreendidos.
observar.
Analisar, examinar,
ANÁLISE: percepção da inter-relação entre o
decompor (sentença),
todo e suas partes.
escandir.
Intermediário
SÍNTESE: reorganização das partes de um
Resumir, generalizar.
todo.
Fonte: elaborado por Lino de Araújo Lino de Araújo (2017, p. 29-30) com base em
Moretto (2008, p. 113-137).
tarefas objetivos interacionais, culturais, sociais etc., para que se atenda, de forma
satisfatória, às necessidades de ensino e de aprendizagem dos discentes.
2Há diferentes tipos de comandos relacionados às atividades e tarefas nas aulas de LP, além de
comandos específicos para atividades de leitura, escrita e análise linguística. Para entender mais
sobre isso, consulte a obra de Lino de Araújo (2017).
eles devem explicar, julgar, resolver etc., conforme a taxonomia de Bloom. É importante,
pois, que haja consonância entre o que se espera e o que se solicita ao aluno.
6 PROPOSTA DE ANÁLISE
Trazendo essas discussões (itens 4 e 5) para uma breve análise, será discutida a
estruturação da atividade da Figura 1, retirada do Plano de Estudos Tutorados (PET)3
destinado ao 6º ano do Ensino Fundamental II.
3Os PETs são os materiais didáticos criados e disponibilizados pela Secretaria do Estado de
Educação de Minas Gerais (SEE-MG) para o período de estudo remoto emergencial durante a
pandemia de covid-19.
4 Ao longo de nossas atividades enquanto bolsistas da RP, fomos levadas a aplicar os estudos
teóricos desenvolvidos, como este sobre elaboração de enunciados de atividades e tarefas
escolares. Entre esses resultados, estão a organização da mesa-redonda sobre o tema, disponível
em: https://youtu.be/JccI8bV8hJ0, e a elaboração de uma Sequência Didática (SD), em que foi
possível elaborar enunciados para as tarefas de fixação e verificação de aprendizagem nelas
presentes, como mostra a Figura 2.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BLOOM, B. S.; ENGLEHART, M.; FURST, E.; HILL, W.; KRATHWOHL, D. Taxonomy
of educational objectives. New York: David Mckay, 1956. 262 p.
Resumo: A leitura é uma prática social indispensável para a aquisição de conhecimento e para a
formação sócio-crítica do indivíduo, pois estimula o desenvolvimento da imaginação, da
criatividade, da reflexão e da comunicação, aumentando, assim, o repertório intelectual do leitor.
Entretanto, apesar de a leitura ser trabalhada em todos os níveis escolares, muitos alunos ainda
concluem o Ensino Médio sem uma boa capacidade interpretativa. Trata-se de um problema
estrutural, desencadeado por uma série de razões, entre as quais se destacam a precariedade do
ensino do país e a falta de incentivos que apoiem o hábito e a importância da leitura. Pensando
nisso, o objetivo geral deste trabalho foi propor possíveis intervenções pedagógicas para a
melhoria do ensino de leitura e da capacidade interpretativa dos alunos do Ensino Médio. A
pesquisa realizada foi de cunho bibliográfico e teve como base a análise da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) do Ensino Médio. Após as leituras teóricas, procedeu-se à elaboração de um
plano de aula com propostas de trabalho para a leitura de três gêneros, charge, infográfico e
notícia. Todo o planejamento foi elaborado levando em consideração o ensino via estratégias de
leitura, o que pode direcionar o processo de interpretação textual por parte do aluno.
Palavras-chave: Estratégias de leitura. Ensino Médio. Interpretação de texto. Língua Portuguesa.
Abstract: Reading is an indispensable social practice for knowledge and the socio-critical
formation of the individual since it stimulates the development of imagination, creativity,
reflection, and communication, thus increasing the intellectual repertoire of the reader. However,
despite practicing reading in all grades, many students still finish high school without good
interpretive skills. This is a structural problem triggered by several reasons, especially the
precariousness of education in the country and the lack of incentives to support the habit and
importance of reading. With this in mind, the objective of this paper was to propose possible
pedagogical interventions to improve the teaching of reading and the interpretive capacity of
high school students. The research was bibliographic and based on the analysis of the Common
National Curricular Base (BNCC) for high school. After the theoretical readings, we proceeded
to the development of a lesson plan with working proposals for the reading of three genres:
charge, infographic, and news. Considering the teaching via reading strategies was elaborated
the planning, which can direct the process of textual interpretation by the student.
Keywords: Strategies for reading. High school. Text interpretation. Portuguese language.
1 INTRODUÇÃO
o Plano Nacional de Educação (PNE) revela que três das vinte metas estabelecidas para
melhorar a qualidade do ensino do país apresentam retrocesso. O relatório de análise foi
feito pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Uma das metas de retrocesso é
a erradicação do analfabetismo: a meta era ter 93,5% dos brasileiros acima de 15 anos
alfabetizados até 2015; erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% o
analfabetismo funcional até 2024. Mas somente em 2020 a meta de 2015 foi atingida. O
quadro de analfabetismo funcional aumentou, quando deveria regredir. Saiu de 27% da
população de 15 a 64 anos com analfabetismo funcional em 2015 para 29% em 2018
(dados mais recentes). A meta era reduzir a 13,5% até 2024”. Nessa mesma pesquisa,
Elida mostrou que a principal meta não cumprida é a de ampliar o investimento público
em educação: “para 2024, o objetivo era investir 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em
educação pública. Entre 2015 e 2017, os gastos estiveram em torno de 5%. Em 2019,
atingiu 7%. Durante a pandemia, o quadro piorou. Segundo o relatório, houve
aceleração na desvalorização da prática docente, o que distancia ainda mais o
cumprimento desta meta”. O estudo feito pela repórter do G1 mostrou que o cenário
educacional no Brasil ainda continua em situação de regresso.
O conceito de analfabetismo vai muito além da ideia de não saber ler e escrever.
É preciso reconhecer e compreender os variados tipos de analfabetismo: o absoluto; o
digital; o político e o funcional. Dando destaque ao analfabetismo funcional, que é o foco
deste trabalho, pode-se dizer que é considerado um analfabeto funcional aquele que está
apto para ler e para escrever e que consegue descodificar os símbolos, mas não
compreende seus significados. Aquele que lê um livro, um artigo ou até mesmo um texto
simples e que não consegue compreender o seu conteúdo e interpretar o que foi lido de
forma satisfatória, pode ser considerado um analfabeto funcional. Esse é um problema
que deve ser levado a sério, pois prejudica o desenvolvimento intelectual, pessoal e
profissional do indivíduo. Por isso, o desenvolvimento de métodos que priorizem o
letramento é imprescindível na educação.
Considerando a escola como ambiente onde os alunos têm mais contato com a
leitura, vê-se nele um caminho para superar essa problemática, sendo importante os
educadores incentivarem essa prática e oferecerem metodologias ativas para que os
alunos reconheçam a função humanizadora das práticas leitoras, mantenham esse hábito
e desenvolvam sua autonomia por meio das habilidades de interpretação, pois, como
revela Freire (2000, p. 46),
Para que o ensino de leitura seja trabalhado de forma eficiente e favorável aos
estudantes, as aulas devem proporcionar uma aprendizagem significativa, a começar
pelo abandono das atividades mecânicas que levam o aluno a compreender a leitura
como uma atividade meramente escolar. O trabalho com a leitura dos textos deve partir
de atividades sociointeracionais que tenham como foco a formação de indivíduos críticos
e autônomos. De acordo com Solé (2018, on-line),
Para que o trabalho com a leitura em sala de aula seja aplicado de forma
estratégica e eficaz no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, o planejamento
das aulas torna-se indispensável para o professor. As práticas pedagógicas e as
metodologias escolhidas pelo docente influenciam significativamente no alcance de seus
objetivos. Desse modo, é preciso repensar sobre as propostas de atividades que são
ofertadas aos alunos.
Ao planejar sua aula, o professor deve fazer os seguintes questionamentos:
“Que objetivos pretendo alcançar com essa aula?”; “Quais atividades devo propor para
que esses objetivos sejam alcançados?”; “Quais habilidades meus alunos podem
desenvolver com essas atividades?”; “Os textos escolhidos são pertinentes?”; “Como
propor um momento interacional com meus alunos?”. Avaliar essas questões é
extremamente importante, pois, assim, o professor consegue se nortear para aplicar a
metodologia mais adequada em sua aula.
Considerando-se as aulas de Língua Portuguesa como um espaço para
aprimoramento da leitura, vê-se a importância do trabalho com os mais diversos gêneros
textuais. Optar pela variedade de textos em sala de aula permite que o aluno reconheça
as diferentes propostas, linguagens e recursos presentes em cada gênero textual; absorva
maior entendimento sobre o tema abordado; compreenda o funcionamento da língua;
desenvolva sua criticidade e, consequentemente, sua autonomia intelectual. Cumpre
destacar que o ensino de Língua Portuguesa pautado em gêneros textuais contribui não
somente para o processo de ensino e aprendizagem da língua materna, mas também
para o incentivo ao hábito da leitura por parte dos estudantes. Cabe ao professor, então,
selecionar textos e gêneros variados para uma proposta mais dinâmica e eficiente em
suas aulas.
É com o objetivo de evidenciar como essas questões podem estar presentes no
ensino de leitura que é proposta a próxima seção, em que é apresentado o planejamento
de aulas para que se possa trabalhar com o ensino da leitura nas perspectivas
evidenciadas neste trabalho.
Texto I: Charge
Fonte: https://medium.com/jornaldois/por-qu%C3%AA-tantos-estudantes-em-fase-pr%
C3%A9-vestibular-sofrem-com-problemas-psicol%C3%B3gicos-c9221d0a85fb. Acesso
em: 25 out. 2021.
Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/17034/como-esta-a-saude-mental-nas-
escolas. Acesso em: 25 out. 2021.
"Muito pouco investimento vem sendo feito por governos para atender a essas
necessidades críticas. Não é dada importância suficiente à relação entre a saúde mental e
as consequências para a vida futura", destaca a diretora-executiva do Unicef.
Fonte: https://www.dw.com/pt-br/onu-alerta-para-impacto-da-pandemia-na-
sa%C3%BAde-mental-de-jovens/a-5941292. Acesso em: 25 out. 2021.
atentando ao conhecimento prévio deles: o que vocês entendem sobre saúde mental?
Depois, a partir do que os alunos forem destacando, o professor vai
ampliando/provocando mais reflexões junto aos alunos, podendo utilizar dos seguintes
questionamentos: “Vocês acreditam que os transtornos psicológicos podem afetar a vida
pessoal, social e profissional dos indivíduos?”; “Vocês acham importante dar atenção às
emoções, por quê?”; “Vocês acreditam que haja uma incidência maior de problemas
psicológicos em que faixa etária?”; “Falar de saúde mental hoje é normal ou vocês ainda
acreditam ser tabu em determinadas situações?”. Todos esses questionamentos
contribuem para a participação da turma e permitem que os alunos compartilhem suas
visões sobre o assunto antes mesmo de terem contato com as leituras propostas pelo
professor.
2º etapa - Propondo uma leitura completa e significativa por meio da aplicação das
estratégias de leitura
4 CONCLUSÃO
meios que auxiliem tanto o professor em formação quanto os que já atuam, a fim de
direcioná-los a práticas eficientes para seu trabalho pedagógico.
Este estudo revela sua importância na preocupação com a melhoria do ensino e
do aprendizado em Língua Portuguesa; na preocupação com o desenvolvimento da
autonomia e da criticidade dos alunos do Ensino Médio; na tentativa de oferecer, aos
futuros e atuais docentes, alternativas para o melhor funcionamento do ensino de Língua
Portuguesa; na tentativa de incentivar o gosto pela leitura aos alunos; na tentativa de
diminuir os índices de analfabetismo funcional no país; na tentativa de formar
indivíduos que leiam e compreendam as entrelinhas de cada texto. Este estudo dá
margens para futuras pesquisas relacionadas ao tema e pode ser recomendado como
uma ferramenta complementar de pesquisa aos que se interessam pela temática e aos
professores de Língua Portuguesa, que, apesar dos desafios diários, encontram, em sua
missão de ensinar, a motivação necessária para persistirem.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo & SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1986.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: teoria e prática. 9. ed. Campinas, SP: Pontes,
2002.
LIMA, A.; CATELLI JR, R. INAF Brasil 2018: resultados preliminares. Ação
Educativa/Instituto Paulo Montenegro, 2018.
OLIVEIRA, Elida. Brasil regride em meta para acabar com o analfabetismo e não
alcança objetivo de investir mais na educação, diz relatório. 2021. Disponível em:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/06/24/brasil-regride-em-meta-para-acabar-
com-o-analfabetismo-e-nao-alcanca-objetivo-de-investir-mais-na-educacao-diz-
relatorio.ghtml.
OLIVEIRA, Tory. Como está a saúde mental nas escolas?: em alta no mundo, casos
ainda são tabu no ambiente escolar e o tema não faz parte da formação da maioria dos
professores. Em alta no mundo, casos ainda são tabu no ambiente escolar e o tema não
faz parte da formação da maioria dos professores. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/17034/como-esta-a-saude-mental-nas-escolas.
ONU alerta para impacto da pandemia na saúde mental de jovens: Relatório do Unicef
aponta que uma em cada 7 pessoas entre 10 e 19 anos no mundo sofre com distúrbios
mentais. Órgão das Nações Unidas diz que restrições do coronavírus geraram efeitos
adicionais a longo prazo. 2021. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/onu-alerta-
para-impacto-da-pandemia-na-sa%C3%BAde-mental-de-jovens/a-59412925.
SOLÉ, Isabel. Para Isabel Solé, a leitura exige motivação, objetivos claros e estratégias.
Nova Escola, março, 2018. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/304/para-isabel-sole-a-leitura-exige-motivacao-
objetivos-claros-e-estrategias.
ZANETTI, Lucas. Por que tantos estudantes em fase pré-vestibular apresentar com
problemas psicológicos?: a lógica da educação como cortesia escancara como
desigualdades de um sistema educacional excludente e que prejudica a saúde mental
dos estudantes, mas que gera bilhões para grupos educacionais. 2018. Disponível em:
https://medium.com/jornaldois/por-qu%C3%AA-tantos-estudantes-em-fase-
pr%C3%A9-vestibular-sofrem-com-problemas-psicol%C3%B3gicos-c9221d0a85fb.
Resumo: Este artigo versa elencar uma sugestão de sequência didática do gênero textual tirinha
por meio das novas tecnologias, a saber: a mídia social Facebook. Para isso, realizando-se uma
pesquisa de caráter bibliográfico, embasou-se em autores que dissertaram a respeito do tema,
como Ramos (2017), Vinhal (2019), Lopes-Rossi (2011), Dolz, Noverraz e Schneuwly (2011),
Bakhtin (1992), Sancho (2007), entre outros. Dentre as etapas abordadas, este trabalho apresentou
conceituações breves a respeito de mediação tecnológica e didática, aspectos composicionais do
gênero tirinha e conceituação de sequência didática. Nesse sentido, concluiu-se que é possível,
por meio de aparato tecnológico, construir atividades que ensejem as tirinhas, e que o Facebook é
um importante e inovador mediador para a circulação das tiras, para interatividade e para a
autonomia do aluno no que se refere à aprendizagem das características do gênero.
Palavras-chave: Tirinha. Sequência didática. Mediação tecnológica. Mediação didática.
Abstract: This article aims to list a suggestion for a didactic sequence of the comic strip textual
genre through new technologies: the social media Facebook. For this, bibliographical research
was conducted, based on authors who have disserted on the subject, such as Ramos (2017), Vinhal
(2019), Lopes-Rossi (2011), Dolz, Noverraz, and Schneuwly (2011), Bakhtin (1992), Sancho (2007),
among others. In the approached steps, this work presented brief concepts about technological
and didactic mediation, compositional aspects of the comic strip genre, and didactic sequence.
The conclusion was that it is possible, using technology, to build activities that involve comic
strips and that Facebook is an innovative and significant mediator for the circulation of the strips,
interactivity, and the student's autonomy when it comes to learning the characteristics of the
genre.
Keywords: Comic strip. Didactic sequence. Technological mediation. Didactic mediation.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
propostas de atividades a serem utilizadas em sala de aula ou como parâmetro para uma
abordagem inovadora.
Cumpre informar que os objetos metodológicos deste artigo são de natureza
bibliográfica, aludindo a arcabouços teóricos de estudiosos que dissertaram sobre o
tema, como Ramos (2017), Sancho (2007), Lopes-Rossi (2011) etc. Ainda cumpre informar
que este trabalho está disposto em 6 seções: 1 Considerações iniciais; 2 Texto na sala de
aula; 3 TICs voltadas ensino-aprendizagem de língua portuguesa; 4 O gênero tira; 5
Estratégias pedagógicas balizadas por mediadores tecnológicos; 6 Considerações Finais.
4 O GÊNERO TIRA
Observa-se, em face do exposto, que, na figura 1, a tira foi criada no seu formato
tradicional, com três quadrinhos de mesmo tamanho. Em comparação, na figura 2, há
uma disparidade no formato dos quadrinhos e na disposição deles: o segundo
quadrinho é maior que o primeiro, e a tira é apresentada na vertical.
Outro aspecto pertinente é o fato de que as tiras na vertical não são comumente
empregadas nos jornais brasileiros; em contrapartida, nos norte-americanos, isso já é
habitual. Pensando nisso, uma vez que o suporte influencia na limitação do formato das
vinhetas, Ramos (2017, p. 16) adverte que “as mídias sociais permitem que o autor crie e
veicule a tira tanto na vertical quanto na horizontal”.
Sempre com vistas à mediação didática do professor, entendemos que ele, como
tutor, possibilita a criação de um espaço de aprendizagem inventivo e significativo para
os educandos, competindo-lhe abordar os diversos gêneros textuais por meio de projetos
didáticos, de modo a sistematizar e a construir o conhecimento do alunado.
4. Produção final é a etapa em que a sequência é finalizada com uma produção, com
vistas à divulgação e à circulação do gênero, o que dá ao aluno a possibilidade
de praticar as noções e os instrumentos elaborados e trabalhados, de forma
separada, nas etapas modulares. Esta etapa permite ao professor realizar uma
avaliação somativa. Nesse sentido, Lopes-Rossi (2011, p. 78) observa que “é de
grande satisfação para todos os envolvidos no projeto. Sentimentos como
emoção e orgulho encerram um processo que, certamente, contribuiu muito
para o desenvolvimento das habilidades comunicativas dos alunos e para a
ampliação de seu conhecimento de mundo”.
1 Segundo Soares (2003, apud Rojo e Moura, 2019, p. 14), letramento “é o estado ou condição que
adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter apropriado da escrita”.
2 Ramos (2017) concebe paratexto como os elementos que ficam no entorno do texto.
3De acordo com Vinhal (2019, p. 40), o termo “emoji é elaborado a partir das palavras japonesas
e (imagem) e moji (personagem)”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos quadros depois, o que nos ensinou essa sequência didática sobre o tão
aceito gênero tirinha balizada pelo Facebook como mediador tecnológico no ensino?
Entendemos que a abordagem do texto, materializado num gênero textual, modificou-
se com o decorrer do tempo, por meio de novas concepções de ensino-aprendizagem.
Com a incorporação dos PCNs, nos anos finais da década de 90, concebeu-se o
texto como objeto de ensino dos eixos do uso da língua materna, quer dizer, passou-se a
considerar as situações de produção e circulação dos textos, bem como os seus aspectos
ideológicos.
Nesse ínterim, inspirados em Bakhtin (1992), entendemos que o gênero
discursivo tira cômica, como prática de linguagem, pode evocar-nos muito sobre
questões de natureza político-social, uma vez que, segundo Ramos (2017), a tira pode
estar ancorada em experiências reais da vida. Assim, concluímos que, além de se valer
do humor em sua construção, a tirinha também configura vários tipos de linguagem, daí
falar-se em texto multimodal ou icônico-verbal. Isso porque usa desenhos, imagens,
gravuras, o que, pensando-se no ensino, pode ser muito atrativo para o aluno.
Com a globalização e a chegada da internet, todas as instâncias do mundo
modificaram-se, em especial, a educacional. Agora, com a implementação das TICs no
ensino-aprendizagem de língua portuguesa, o professor torna-se mediador do processo
de ensino-aprendizagem, e o aluno, por sua vez, o centro. É preciso, portanto, que o
professor assuma uma nova postura para lidar com os alunos, nativos virtuais, na escola,
intermediando o ensino, por meio de uma aprendizagem significativa (fusão da
mediação tecnológica e da mediação didática). Sendo assim, ao professor compete
articular e engendrar estratégias didáticas para a inserção dessas novas tecnologias nas
aulas de língua portuguesa, de forma a colaborar para um ensino inovador e criativo.
Pensando nisso, propusemos uma sequência didática balizada por um
mediador tecnológico, o Facebook, acreditando que essa rede social pode muito contribuir
para a divulgação e circulação das tirinhas, assim como para o acesso rápido a elas, e
para a interatividade, porque trata de uma mídia social em que os alunos estão inseridos.
Além disso, entendemos que, em blogues, páginas de redes sociais, sítios eletrônicos etc.,
há um grande número de tiras publicadas, que se sobressai ao número de tiras
veiculadas em revistas e em jornais, o que facilita mais ainda o acesso a elas.
As novas tecnologias, nessa perspectiva, também afetaram e muito a circulação
do gênero tirinha, contribuindo para mudanças nos elementos paratextuais e
composicionais, como percebemos. Por essa razão, embasando-nos em Dolz, Noverraz
e Schneuwly (2011), a fim de atingir o objetivo desta pesquisa, elencamos uma sugestão
de atividade sequencial, explicitando cada etapa por que o professor tem de passar para
atingir a produção escrita do gênero tira.
Sempre com vistas à produção final das tirinhas, em nossa sequência didática,
propusemos que o professor faça uso de páginas de redes sociais ou de blogues etc., para
apresentar aos alunos o gênero tirinha, expondo-o a eles por meio do aparelho eletrônico
de cada um. Além disso, a produção final envolve a postagem da reprodução do gênero
tirinha na conta pessoal de cada aluno, no Facebook. Pensamos que isso pode facilitar
extremamente o trabalho didático do professor-tutor em sala de aula, já que, senão todos,
a maioria dos alunos dispõe de um celular – sem salientar que, atualmente, nota-se que
os professores lutam contra o aparelho eletrônico dos alunos, tentando chamar-lhes a
atenção. Portanto, por que não unir o útil ao agradável?
Inferimos, por conseguinte, que toda essa nova tecnologia pode acrescentar
muito no trabalho com as tiras, já que, trazendo uma nova ressignificação de uso e de
circulação delas (é preciso pensar, por exemplo, no público-alvo a que a tira se destina
quando é postada na rede social de algum aluno), pode inovar e balizar o ensino-
aprendizagem de língua portuguesa, já que o aluno, após publicar a sua reprodução do
gênero, pode interagir por meio de reações e comentários típicos da referida rede social,
criando, assim, um lugar significativo de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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OLIVEIRA, J. V. dos S.; SILVA, S. B. B. da. Os gêneros textuais digitais como estratégias
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ROJO; Roxane; MOURA, Eduardo. Letramentos. In: ROJO; Roxane; MOURA, Eduardo.
Letramentos, mídias, linguagens. São Paulo: Parábola, 2019. cap. 1, p. 11-25.
Abstract: In this article, we seek to methodologically analyze Brazilian literary works written by
black women that help comprehend racism as a source of social problems. It was necessary to
define what racism is and why it is structural and to put it into historical context since the time
of slavery in Brazil, based on bibliographic and web-based research of an exploratory nature. All
of this made it possible to reaffirm that literature is an excellent medium for identification,
reflection, and combat about the social problems present in society. The work demonstrates that
racism in Brazil is more than hatred for black people. It is an environment created for the genocide
of the black population.
Keywords: Literature. Teaching. Anti-racism. Identity.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
devido ao descuido da patroa de sua mãe, e o de João Pedro, que, também segundo o
jornal G1 (2020), foi encontrado morto pelos familiares 17 horas após ter sido baleado
em uma operação policial e ter sido levado pelos próprios policiais em um helicóptero
para ser socorrido, mostram o descaso e a desvalorização estruturais que se instauraram
na sociedade em relação à vida do negro. Entretanto, apesar de casos de racismo
individual serem recorrentes, não se pode reduzir esse tipo de violência apenas a casos
isolados.
De acordo com Edinaldo César Santos Junior, coordenador executivo do
Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros (ENAJUN) e juiz do Tribunal de Justiça de
Sergipe (TJSE), (apud ANDRADE, 2020), redatora no site do Conselho Nacional de
Justiça (2020, online), aproximadamente 63,7% da população carcerária brasileira é
composta por negros, dado de 2017 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Ainda, segundo pesquisa da ONU/Mapa da Violência (apud DEUTSCHE WELLE, 2017,
online), sete em cada dez pessoas assassinadas no Brasil são negras. Esses e outros dados
denotam o caráter sistêmico do racismo no Brasil.
Tendo em vista o que foi exposto, é necessário articular movimentos de combate
que podem e devem ser preventivos. É papel da sociedade como um todo reparar as
desigualdades sociais existentes para que possamos alcançar oportunidades
semelhantes. Isso significa o contrário de dar oportunidades iguais a todos, o que apenas
ressaltaria os privilégios que alguns grupos já têm. Significa dar oportunidades
proporcionais, a fim de que todos partam de um mesmo lugar. Nesse sentido, os negros,
que foram historicamente prejudicados e impedidos de alcançar certos espaços, devem
ser restituídos das oportunidades perdidas até que alcançem os outros grupos. A partir
daí, todos estarão partindo de um mesmo ponto, como se dessem início a uma corrida
não mais atrás que outros nem mais à frente.
Apesar de haver poucas denúncias de injúria racial, os crimes de racismo são
recorrentes na vida dos negros. As bases do racismo são mais profundas e mais
complexas que apenas casos isolados, por isso se torna cada vez mais importante educar
as pessoas para o antirracismo. Não basta apenas respeitar, é preciso lutar pelo direito
do outro de existir em sociedade, livre das violências e dos homicídios gratuitos. Por
esse motivo, é preciso pensar em maneiras de formar cidadãos conscientes do valor do
negro, que não é nem mais, nem menos importante que um não negro.
Uma das vias de construir essa consciência é por meio da arte em geral e,
especificamente, da literatura negra. Essa seria uma oportunidade de eliminar
estereótipos, como o de que os negros são incapazes de produzir literatura. O trabalho
com a literatura afro-brasileira auxilia no processo identitário dos alunos negros e na
representatividade que muitos alunos negros procuram durante suas leituras, além de
ser uma forma de empoderamento do grupo negro, um incentivo para continuar
frequentando a escola e buscando um futuro melhor.
Os dias 31 de março, Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial,
e 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, apesar de trazerem o foco para o problema
que pessoas negras vêm enfrentando, não têm sido suficientes para debater a infinidade
de assuntos que podem ajudar a solucionar o racismo e a discriminação racial. De acordo
com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), no capítulo que trata das competências
específicas de ciências humanas e sociais aplicadas para o ensino médio, é necessário
2 AS FACES DO RACISMO
Ao longo dos anos, mais e mais oportunidades foram sendo tiradas dos negros
e, mesmo que outros grupos sociais estejam lutando com os negros para combater a
desigualdade racial, a desinformação de certos grupos, o preconceito herdado dos
antepassados e até o medo de abrir mão dos privilégios são fatores que contribuem para
que a situação continue como está. Esse preconceito provoca danos às pessoas de outra
cor, e esses danos podem variar de acordo com o poder e a influência que o racista tem
sobre sua vítima.
Pessoas negras, especificamente, são mortas por motivos como estar segurando
um objeto que pareça uma arma, brincar na porta de casa ou até mesmo estar dentro de
casa jogando videogame. Isso ocorre porque, desde antes da escravidão, negros eram
vistos como uma etnia inferior, sem alma e sem capacidade de pensar racionalmente.
Essa visão acerca dos negros melhorou, mas os preconceitos foram sendo perpetuados
de pai para filho, contribuindo para que até hoje exista uma diferença no tratamento da
pessoa negra. O racismo, segundo Almeida (2019, p. 22), é um sistema de discriminação
baseado na cor da pele de um determinado grupo, que se dá por meio de atitudes
conscientes e inconscientes que privilegiam ou desprivilegiam certos indivíduos,
dependendo do grupo racial a que pertençam.
Para Ruiz (1988 apud MUNANGA, 2005, p. 41), existe uma ligação direta entre
a escravidão a que os negros foram submetidos e a aversão às pessoas de cor negra.
Ainda acrescenta que foi criado um estigma em relação a cor negra que tem sido
reforçado pelos interesses econômicos e sociais que outrora levaram os povos negros à
escravidão.
Para Bento (1988 apud MUNANGA, 2005, p. 60), racismo é a ideia de que existe
uma relação de causa e efeito entre certos traços de sua personalidade, inteligência ou
cultura de uma pessoa e suas características físicas. Ligada a isso, está a visão
segregadora de que algumas etnias são superiores às outras.
Já para Santos (1988 apud MUNANGA, 2005, p. 61), racismo é a suposição de
que existem raças e, em seguida, a atribuição de características biogenéticas a fenômenos
unicamente sociais e culturais. Ele diz que racismo é também uma forma de dominação
ou uma maneira de justificar a dominação. Uma mistura de ignorância e interesses
econômicos.
A autora de Pequeno Manual Antirracista, Djamila Ribeiro (2019, p. 5-6), diz que
falar sobre racismo no Brasil exige um debate estrutural – realizar uma contextualização
histórica, começando pela relação entre escravidão e racismo e mapear as suas possíveis
consequências. É importante entender como esse sistema tem beneficiado
economicamente durante um longo período apenas pessoas brancas, ao passo que
pessoas não brancas, principalmente os negos, não tiveram acesso a direitos básicos e à
distribuição de riquezas.
Apesar de a escola não ser a única responsável pelo combate ao racismo, para
muitos alunos não negros, em alguns casos criados em um ambiente racista, é na escola
que encontrarão informação e educação antirracista e poderão tornar-se pessoas cada
vez mais conscientes. Já para os negros, a inserção de autores negros no currículo escolar
será também fonte de representatividade, empoderamento e identidade.
Nesse ponto é que se pode valer da literatura afro-brasileira como forma de
discussão de conteúdos inerentes ao racismo e como forma de combatê-lo. Autores como
Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra brasileira, são pouco
trabalhados na sala de aula. Algumas vezes são citadas em sala pelos professores,
cogitadas para vestibulares, mas não lidas pelo incentivo à formação do aluno. Quando
se fala em autores negros, nomes mais conhecidos são trazidos à tona e muitas vezes não
ficam na lembrança do aluno como os demais autores. O fato é que autoras como Maria
Firmina podem e devem ser trabalhados em sala de aula. Segundo Soares (2020, p. 11),
o romance Úrsula é considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil. Ademais,
ao contrário do que era comum à literatura do século XIX, pessoas negras e escravizadas
são retratadas de modo positivo.
Além de Maria Firmina dos Reis, diversas autoras e diversos autores negros
têm estado presentes nas escritas, apesar de não terem reconhecimento similar ao de
muitos autores e autoras não negras. Por meio da pesquisa científica, é possível fazê-los
protagonistas. Acreditando nisso é que se propõe, na seção seguinte, a análise de temas
abordados nas obras escolhidas e sugestões de abordagens a serem feitas pelo professor
no trabalho com a literatura afro-brasileira, buscando combater o racismo e a
discriminação racial.
Conforme abordado neste trabalho, é importante que a escola faça sua parte na
luta contra o racismo, sendo a literatura um dos caminhos possíveis de se efetivar tal
luta. Nesse sentido é que se propõe aqui a análise de três obras de autoras negras
brasileiras que abordam formas variadas de apresentação do racismo na sociedade.
A autora Conceição Evaristo apresenta, na obra Becos da Memória, publicada em
2006 e a mais atual dentre as três, inúmeras questões que são pertinentes à temática.
Optou-se por refletir a objetificação e sexualização da mulher negra aliadas à ideia de
que a mulher branca, pura, frágil e virginal é feita para o amor e para o casamento.
Sabe-se que, desde os tempos da escravidão, o corpo negro tem sido objetificado
e sexualizado. Isso ocorre concomitantemente a outras formas de racismo e por esse
motivo é um fato, por vezes, invalidado por pessoas que acreditam que o racismo esteja
ligado apenas à repulsa ou ao rechaçamento explícito da pessoa negra.
Na obra de Evaristo (2017), percebe-se a representação da sexualização do corpo
da mulher negra na personagem de Cidinha-Cidoca, cujo corpo é objeto de desejo dos
homens do morro. É possível perceber no trecho:
uma opção de desejo sexual, seja a constatação da mulher negra de que é constantemente
trocada por outras mulheres brancas ou negras de pele mais clara que a sua, dentre
outros tipos de violência à autoestima e à saúde mental da mulher negra. Seja qual for o
motivo da autoexclusão ou exclusão forçada da mulher de meios sociais e institucionais,
o sentimento de solidão e não pertencimento na mulher negra é mais presente do que o
dos homens negros. Isso ocorre porque a mulher negra é duplamente oprimida: pela sua
cor e por seu gênero. Isso separa, em muitos níveis, a mulher negra do homem negro.
Em um trecho do livro Quarto de Despejo, é possível perceber o fenômeno da solidão da
mulher negra:
Eles não tem ninguém no mundo a não ser eu. Como é pungente a condição de mulher
sozinha sem um homem no lar” (JESUS, 1960, p. 8).
Apesar de não ser o sonho de toda mulher casar e ter filhos, é importante estar
livre para escolher o próprio caminho e saber que, dentre as opções para um possível
relacionamento afetivo, estão pessoas livres de preconceitos.
Em trechos da obra Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, é possível perceber como
se dava a criminilização do corpo negro. O negro era visto como menos que um animal
para as pessoas da época. No trecho a seguir, é possível perceber a dor e o sofrimento
destinados às pessoas do navio de Mãe Susana, a voz ancestral do livro que alerta Túlio
dos perigos de confiar em pessoas brancas, uma vez que estes fizeram pouco para
despertar a confiança das pessoas negras:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Seria interessante a seleção de outros trechos das obras, algo que pode e deve
ser desenvolvido futuramente, inclusive em sala de aula. Durante a busca por formas de
trabalhar literatura negra em sala de aula, foram encontrados aspectos mais superficiais
de como se dá o racismo, problema que limita o estudo.
Apesar disso, foi possível comprovar a importância da leitura e da literatura no
entendimento das questões que circulam em nosso meio social. O trabalho trouxe à tona
a necessidade de mais estudos metodológicos na área, principalmente aqueles voltados
à literatura. Faz-se necessário ampliar os estudos e tornar a pesquisa uma possível fonte
para jovens professores que desejam educar os alunos para o antirracismo.
REFERÊNCIAS
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Letramento, 2019.
ANDRADE, Paula. O encarceramento tem cor, diz especialista. 2020. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/o-encarceramento-tem-cor-diz-especialista/. Acesso em: 12 jun.
2021.
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COELHO, Henrique. Polícia ouve ocupantes de helicóptero que levou João Pedro
após ser baleado em São Gonçalo. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-
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FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime
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JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo:
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https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2020/06/15/caso-miguel-novas-imagens-
mostram-menino-que-caiu-do-9o-andar-sendo-socorrido-em-predio-e-levado-a-
hospital.ghtml. Acesso em: 03 nov. 2021.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula e outras obras. 2. ed. Brasília: Câmara dos Deputados,
Edições Câmara, 2019 (Série Prazer de Ler, n. 11, e-book).
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.
OZANA SACRAMENTO
Professora Doutora - IF Sudeste MG
E-mail: [email protected]
Resumo: Este trabalho propõe investigar a transformação sofrida na cidade na segunda metade
do século XX, tomando a poeta carioca Dora Vasconcellos (1911-1973) como representante desse
período. Para isso, analisaremos o poema “Cidade física”, inserido no livro Surdina do
Contemplado (1958). Nesse poema, a autora tem como aspectos líricos a subjetividade e a
sensibilidade em relação às modificações ocorridas na urbe, sobretudo sobre as formas e as
vivências sociais. Tal poema focaliza a cidade em cenários, personagens e tradições convergentes
num determinado tempo da história no espaço temporalidade. A cidade começou a ganhar
importância por suas transformações, cujo espaço passou a abrigar uma sociedade urbana
dominada pelo mercado, pela tecnologia e pela aceleração da vida cotidiana. Dora Vasconcellos
deu voz a um sujeito lírico que evoca a dificuldade de traduzir a cidade que hoje habita, que
mostra certo tipo de desencantamento e deslinda com estranhamento as mudanças ocorridas em
seu próprio tempo e espaço, versando, assim, sobre as perdas ocasionadas pela modernidade. A
partir de tais constatações, perceberemos como a crítica usada pela poeta descreve o espaço
citadino, pensado e analisado historicamente, e nos oferece imagens, costumes e linguagens
dentro de uma história cultural. Para contribuir à investigação, recorremos a estudos dos teóricos
Canclini (1997) e Collot (2013), entre outros.
Palavras-chaves: Cidade Física. Modernidade. Subjetividade. Sensibilidade.
Abstract: This paper proposes to investigate the city transformation in the second half of the 20th
century, taking the Rio de Janeiro poet Dora Vasconcellos (1911-1973) as a representative of this
period. For this purpose, we will analyze the poem " Cidade física" (Physical City), included in
the book Surdina do Contemplado (1958). In this poem, the author's lyrical aspects are
subjectivity and sensibility concerning the modifications that have occurred in the city, especially
regarding social forms and experiences. The lyric poetry shows the town in scenarios, characters,
and traditions that converge in a particular time of history in the space of temporality. The city
began to gain importance because of its transformations, whose place became home to an urban
society dominated by the market, technology, and the acceleration of daily life. Dora Vasconcellos
has given voice to a lyrical subject that evokes the difficulty of translating the city he inhabits,
that shows a certain kind of disenchantment, and glances with strangeness at the changes that
have occurred in his own time and space, thus dealing with the losses caused by modernity. From
these observations, we will see how the criticism used by the poet describes the city space,
historically thought and analyzed, and offers us images, customs, and languages within a cultural
history. To contribute to the investigation, we draw on studies by theorists Canclini (1997) and
Collot (2013), among others.
Keywords: Physical City. Modernity. Subjectivity. Sensitivity.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
3 A POETA
Cidade física
1Optamos por manter a escrita original, pois a edição utilizada é anterior à reforma ortográfica
de 2009.
multidão das ruas (canais humanos), anônima, não enxerga o outro que se afoga nela
mesma. Essas referências evocam o sentido da audição, uma vez que os ruídos
provocados pelos passantes costumam importunar aqueles que vivem em localidades
com esse tipo de ruas povoadas/movimentadas. A audição aqui é afetada pela ação
humana que podemos acrescer do “sentido” cinético.
Os versos “Já ruiu o abrigo das flôres” e “E já passou a vertiginosa estrela”
(versos 10 e 11) mostram a interferência desses pedestres que modificam o cenário da
natureza ainda existente. A “inútil” e pequena interferência humana no que ainda resta
de beleza natural nos grandes centros é um mergulho do eu lírico na subjetividade
desterritorializada, percebendo visualmente as singularidades que escondem o visível,
ou seja, atentando para o que existe – o belo, e graças a tais intervenções, a cidade fica
um tanto mais dura.
Os versos seguintes – “Levo perdas e danos/E todas as tristezas comuns/Em
mim reunidas” (versos 12, 13 e 14) – mostram um sujeito lírico insatisfeito, atento às
intempéries causadas pela ação humana, que não atenta para a vida natural ao seu redor
e não a contempla, pois, na pressa do ramerrão diário, nem dispõe de tempo para isso.
Tais versos nos possibilitam inferir, também, que o meio ambiente sofreu efeito devido
à urbanização.
Ao discorrer sobre a rua movimentada, povoada por transeuntes apressados, a
poeta descortina um espaço que se revela para além da função de um lugar dinâmico e
social da cidade. A personificação da rua como um espaço reformulado, recriado e que
ainda abriga resquícios da natureza, não tem importância e isso causa uma inquietude,
uma insatisfação ao sujeito lírico. A rua, aqui, parece um ser vivo que legitima a urbe a
qual o cosmopolitismo deu à luz.
Podemos inferir como um espaço urbano é construído e se modifica a partir das
contradições manifestadas pela lógica do sistema capitalista, com constante busca pelo
lucro dentro do desenvolvimento. Observa-se isso na menção à poeira das ruas onde não
há mais ouro, metáfora da busca pela riqueza material. Nessa perspectiva, os indivíduos
estão em uma cidade tecnificada e hostil em que sua imagem mecanicista aparece nos
versos de Vasconcellos com representações visuais das pausas verticais (edifícios) e das
“ruas que se negam aos transeuntes”.
Os termos que aludem à vontade do sujeito lírico – “olhar em visões”, “E beijo
as pedras/Cuidando despertá-las” – na penúltima estrofe, registram uma reflexão e uma
angústia acerca da nova e dura realidade da cidade, símbolo de
modernidade/urbanização. E a voz poética mostra tamanho descontentamento quando
a metrópole se transforma em registro de sua própria história, “na dor física”.
A percepção da cidade pelo sujeito lírico, por meio dos sentidos, registra uma
cidade moderna coalhada de transeuntes, isto indicado pelos léxicos “pisam” e “passos”
que modificam o espaço “acordando” os prédios, sem “recato”, sem espaço entre os
próprios passantes.
Na última estrofe, o leitor pode ler a preocupação da voz lírica com a mudança
de cenário na cidade e isso origina um olhar que traduz transformação que a provoca e
a afeta de alguma forma, cuja “Dor física do amor” e “da cidade imensa”, ainda persiste
e adentra a noite “entre muralhas lisas”. A expressão “idéia crepuscular” remete ao
declínio ou fim de um ciclo, o que ocorre repetidas vezes com as cidades como resultado
das intervenções humanas no espaço urbano.
Nos versos de Cidade física, Vasconcellos descreve um espaço urbano como uma
cidade grande, cujo cotidiano ilustrado em sua poética revela ruas em constante
movimentação e o descaso ao pouco de vida natural (natureza) que ainda habita esse
espaço e a qual está a ruir. O cotidiano faz parte da produção e da reprodução em que a
vida moderna se encontra. A austeridade do dia a dia, do corre-corre, do sufocamento
na cidade é contrastada com um tempo de dor subjetivamente causada no eu poético,
uma experiência que afetou sua vivência. A cidade, presente nessa poesia, aparece como
uma ambientação que vive e atua com o sujeito poético e não como uma simples matéria.
No poema, a poeta soube dar significado à imagem da cidade moderna, pois
suscitou metaforicamente as edificações inseridas nos grandes centros quando diz
“pausas verticais”, aludindo a espaços entre as ruas e a “muralhas lisas”, remetendo a
edifícios monumentais e, de alguma forma, inacessíveis aos passantes, posto que sejam
muralhas, ocasionando, assim, barreiras representando impossibilidades causadas pelos
processos capitalistas, como a industrialização, que privam os seres de direitos
igualitários.
Sobre a partilha entre o sujeito e a paisagem e como se dá esse tipo de interação,
Luiz Otávio Cabral (2000, p. 38-39) diz:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COLLOT, Michel. Poética e filosofia da paisagem. Tad. de Ida Alves. Rio de Janeiro:
Oficina Raquel, 2013.
Abstract: The mutual relationship between language and society is unquestionable. Thus, the
society dynamics reflect on the language dynamics and make discussions about linguistic
variation and change evident. In this context, this paper reflects on neutral language in
Portuguese, which has drawn the attention of several media in recent years. Through
bibliographic and web-based research, it sought to understand the importance of the theme for
linguistic inclusion of people from the LGBTQ+ community and to show evidence that the media
contributes to disseminating new variations and signs of linguistic changes. It was concluded that
because neutral language promotes recent discussions, there is much to debate. Linguists will
play a fundamental role in describing and analyzing future discussions on this issue.
Keywords: Gender-neutral language. Linguistic variation. Non-binary.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Foi por meio das redes sociais que o Manifesto ile para uma comunicação
radicalmente inclusiva foi divulgado. Também por meio delas é que começaram as
discussões acerca da necessidade de uma mudança linguística para a inclusão de parte
da comunidade LGBTQ+, que não se sente acolhida pela atual flexão de gênero existente
na língua portuguesa. Porém, antes de analisar o Manifesto, considera-se importante
trazer a visão da gramática normativa acerca da flexão de gênero no português.
No âmbito gramatical, como explica Bechara (2009, p. 111), todos os nomes são
dotados de gênero, sendo que, no português atual, eles distribuem-se entre o grupo do
masculino e o grupo do feminino. São masculinos aqueles nomes antepostos pelo artigo
“o” (o linho, o sol, o clima, etc) e são femininos aqueles antepostos pelo artigo “a” (a
linha, a lua, a grama, etc). Essa classificação é oriunda da simplificação ou da redução
das flexões de gênero usadas no latim vulgar.
Como foi visto anteriormente, a língua não é estática e passa por constantes
transformações. O português “provém do latim, que se entronca, por sua vez, na grande
Logo, o gênero neutro do latim vulgar era usado somente para classificar
objetos inanimados. Monaretto e Pires (2012, p. 169) apontam que alguns estudiosos de
linguística histórica argumentam que o desaparecimento do gênero neutro se deu “pela
confusão com o gênero masculino dos casos nominativo, vocativo e acusativo que
possuíam terminações idênticas para ambos os gêneros”. Partindo dessa confusão, foi-
se apagando, aos poucos, a única marca distintiva fonética na oralidade da terceira
declinação, o que levou à absorção dessas marcas pelas outras duas desinências
(masculino e feminino), até o seu desaparecimento no português arcaico.
Além da concepção de flexão de gênero colocada por Bechara neste subtópico,
Cunha e Cintra (2017, p. 202) acrescentam que “o masculino é o termo não marcado; o
feminino o termo marcado”. Essa ideia de marcação de gênero vem de Mattoso Câmara
Jr. (1970, p. 89), forte crítico à forma como as gramáticas tradicionais apresentam a flexão
de gênero, conforme se verá adiante.
A Revista Galileu (O QUE É GÊNERO..., 2021, on-line) explica que o termo “não
binário” não é novo, mas que ganhou maior destaque recentemente, graças às
declarações de figuras públicas que não se identificam como homens nem como
mulheres. Um exemplo é Demi Lovato, que, em vídeo recente em sua rede social,
compartilhou ter passado “por um trabalho de cura e reflexão” e, com isso, ter a
revelação de que se identifica como pessoa não binária. “Acredito que isso representa
melhor a fluidez que sinto na minha expressão de gênero” (O QUE É GÊNERO..., 2021,
on-line).
Lançado em 2015, o Manifesto ile para uma comunicação radicalmente inclusiva foi
criado, como dito, por Pri Bertucci e Andrea Zanella. Bertucci, CEO transexual e não
binárie, comanda o Diversity BBox, uma iniciativa que procura dar consultoria
especializada voltada para a diversidade, principalmente sobre questões de gênero e
sexualidade, a empresas. Zanella é psicóloga, doutora em educação, pesquisadora e
docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
O Manifesto busca sugerir o uso de um novo pronome, o pronome “ile”, e do
sufixo “-e” como “uma tentativa de questionar a ‘norma’, a cis-heteronormatividade,
aquele conceito que diz que ‘o certo é homem, macho e masculino e mulher, fêmea e
Outra questão trazida no documento diz respeito ao uso dos símbolos “@” e
“x”. Ao surgirem as primeiras discussões a respeito de linguagem neutra, esses símbolos
eram usados como desinências em palavras para marcar a neutralidade. Retomando o
exemplo da palavra “amigo”, a grafia seria “amig@” ou “amigx”. Porém, os leitores de
palavras em aparelhos digitais (celulares, computadores, etc) usados por deficientes
visuais não conseguiam fazer a leitura das palavras com essas terminações, dificultando
a compreensão de textos para pessoas sem visão. É por esse motivo que os autores optam
pelo uso da desinência “-e”, compreendido sem problemas pelos leitores digitais.
Para concluir o Manifesto ile para uma comunicação radicalmente inclusiva, Bertucci
e Zanella escrevem um poema que, ao final, declara:
2Para mais informações, sugere-se a leitura de Sistema Elu, linguagem neutra em género. Disponível
em: https://dezanove.pt/sistema-elu-linguagem-neutra-em-genero-1317469. Acesso em: 26 set.
2021.
Como Rita von Hunty (2020, on-line) afirma em seu canal Tempero Drag, “as
palavras carregam consigo histórias de transformações sociais”. A drag queen e
professora também explica que vivemos em uma sociedade onde, historicamente,
homens normalmente ocupam espaços de prestígio e que esse fato é refletido na
linguagem, por meio da semântica das palavras. Por exemplo, entende-se o significado
da expressão “forte como um touro” como algo positivo, mas usa-se a palavra “vaca”
como ofensa às mulheres.
Dessa maneira, diversos artigos e manuais foram escritos, por diversos autores
e pesquisadores da língua, na tentativa de propor alternativas para termos e expressões
considerados machistas, racistas ou sexistas. Um deles é o Manual para o uso não sexista
da linguagem, publicado em 2014 pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, criado
com intuito de revisar a linguagem usada na administração interna do Estado.
No capítulo intitulado O uso do neutro e o uso de genéricos do manual, encontram-
se alguns exemplos de palavras genéricas que podem ser usadas para substituir palavras
cujo gênero é explicitamente masculino. Algumas dicas, como substituir “os
professores” por “o corpo docente”, “os coordenadores” por “Coordenação” e “os
homens” por “a humanidade” (RIO GRANDE DO SUL, 2014, p. 56-58), quando esses
termos se referirem a um grupo de pessoas diversas, são apresentadas no documento e
contribuem para o exercício de linguagem mais inclusiva.
Outra recomendação mencionada no capítulo Profissões exercidas por mulheres é
utilizar, quando possível, o gerúndio “para evitar o uso de algumas palavras que
geralmente se identificam com os homens como políticos, diplomatas, médicos ou
gentílicos” (RIO GRANDE DO SUL, 2014. p. 69). Dessa forma, a frase “Se os diplomatas
tivessem mais competência, a gestão seria melhor” poderia ser reescrita como “Tendo-
se mais competência, seria melhorada a gestão diplomática”.
Ainda no mesmo capítulo, aconselha-se “o uso de pronomes, adjetivos,
substantivos e verbos (sem a anteposição de determinantes), que não variam no que se
refere a gênero, permite-nos falar ou escrever sem que ninguém fique invisível ou
oculto” (RIO GRANDE DO SUL, 2014, p. 70). Em lugar de “Eles buscavam melhores
condições”, pode-se fazer uso de “Buscavam-se melhores condições”.
Essas são apenas algumas das alternativas propostas pelo Manual, que dispõe
de vários textos nos modelos usados pela Instituição, presentes no último capítulo, com
os quais o leitor pode exercitar o uso de linguagem inclusiva. Caso seja de interesse, o
leitor do documento pode praticar esses usos também no dia a dia, pois, a partir da
movimentação e da articulação dessas ideias, os usos vão se tornando cada vez mais
naturais nos processos de interação e formação discursiva. Já é possível ver,
principalmente nas mídias, os resultados e repercussões dessas discussões acerca de
linguagem neutra, como se demonstra a seguir.
maior influência do Brasil4, estas são formas importantes de fazer chegar pautas sociais,
políticas e econômicas para aqueles que não têm acesso a essas discussões por meio da
internet.
Outra esfera em que se têm notado passos importantes para o debate referente
à linguagem neutra é a das publicações. Pode ser citado, por exemplo, a Editora
Nacional, que trouxe para o Brasil o livro Felix para sempre, de Kacen Callender. O livro,
que conta com protagonista trans e personagens não bináries, foi traduzido por Vic
Vieira, que optou por traduzir os pronomes em inglês they/them para “elu/delu”.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
linguagens neutra, seja por apoio à causa, seja pela filosofia do “quem lacra, lucra”. Ou,
ainda, por ambos os motivos, como escreveu Martins (2021, on-line).
Entende-se que o uso (ou não) de linguagem neutra não será definido nos
próximos meses, provavelmente nem nos próximos anos. Mudanças linguísticas são
inevitáveis, mas não são imediatas. Dessa maneira, cabe destacar o importante papel de
linguistas e demais pesquisadores da língua, que são e serão os responsáveis por
descrever e analisar essas mudanças (ou o abandono delas), fomentando as discussões
futuras.
Por fim, é importante compreender que não há como prever o que vai acontecer
com o uso da linguagem neutra, mas, como foi apresentado, já é possível considerar que
essa linguagem começou a ultrapassar a bolha onde começou a ser difundida. Pensando
na inclusão linguística da comunidade LGBTQ+, principalmente de pessoas transexuais
e não binárias, as autoras desta pesquisa esperam que o impacto dessas discussões
possibilite a transformação para uma língua portuguesa que inclua todos, todas e todes.
REFERÊNCIAS
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Fronteira, 2009. 574 pp.
“BEM VINDES”: professora de Vitória usa gênero neutro para saudar alunos e
prefeitura é acionada. Tribuna Online, 2021. Disponível em:
https://tribunaonline.com.br/cidades/bem-vindes-professora-de-vitoria-usa-genero-
neutro-para-saudar-alunos-e-prefeitura-e-acionada-90491. Acesso em: 19 out. 2021.
BURGER KING usa linguagem neutra, critica seguidor e diz que não tolera
preconceito. Gazeta do Povo, 2021. Disponível em:
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/breves/burger-king-linguagem-
neutra-critica-internauta-preconceito/. Acesso em: 25 out. 2021.
CAIXETA, Fernando. Bolsonaro critica uso de gênero neutro: “Qual o futuro dessa
nação?”. Metrópoles, 2020. Disponível em:
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/bolsonaro-critica-uso-de-genero-
neutro-qual-o-futuro-dessa-nacao. Acesso em: 19 out. 2021.
CALLENDER, Kacen. Felix para sempre. São Paulo: Editora Nacional, 2021. 339 pp.
CONCURSO para oficial da FAB traz redação sobre linguagem neutra, e juíza se
revolta. Brasil de Fato, 2021. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2021/06/29/concurso-para-oficial-da-fab-traz-redacao-
sobre-linguagem-neutra-e-juiza-se-revolta. Acesso em: 19 out. 2021.
CUNHA, Antônio Sérgio Cavalcante da. A flexão de gênero dos substantivos. Revista
Soletras, São Gonçalo, v. 1, n. 15, p. 26-34, jun. 2008. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/view/4736. Acesso em: 07 set. 2021.
FONSECA, Stêvenis Moacir Moura da; SILVA, Andréa Pereira da; TEIXEIRA FILHO,
José Gilson de Almeida. O impacto do ciberativismo no processo de empoderamento: o
uso de redes sociais e o exercício da cidadania. Desenvolvimento em Questão, Ijuí, v.
15, n. 41, p. 59-84, 21 out. 2017. Disponível em:
https://revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/view/4375.
Acesso em: 16 ago. 2021.
https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2021/10/21/governo-de-rondonia-proibe-uso-
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HUNTY, Rita von. Linguagem neutra @ELLE Brasil. Rio de Janeiro: Tempero Drag,
2020. (15 min.). Disponível em: https://youtu.be/WAzsxxMMlIM. Acesso em: 29 mar.
2021.
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MATEUS, Bruno. Após 70 anos, TV ainda mantém forte influência sobre a sociedade
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MOURA, Rafael Moraes. Pronomes neutros ganham espaço nas ruas, redes sociais e
até em empresas. Estadão, 2019. Disponível em:
https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,pronomes-neutros-ganham-espaco-nas-
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O QUE É GÊNERO não binário e como usar a linguagem neutra no dia a dia. Revista
Galileu, 2021. Disponível em:
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2021/05/o-que-e-
RISQUÉ QUER quebrar preconceitos com uso de cores. PropMark, 2021. Disponível
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RIO GRANDE DO SUL. Governo do Estado do Rio Grande do Sul (org.). Manual para
o uso não sexista da linguagem. Porto Alegre: Secretaria de Comunicação e Inclusão
Digital, 2014. 114 p. Disponível em: http://www.ssexbbox.com/wp-
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USO da internet no Brasil cresce, e chega a 81% da população, diz pesquisa. G1, 2021.
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2021/08/18/uso-da-
internet-no-brasil-cresce-e-chega-a-81percent-da-populacao-diz-pesquisa.ghtml.
Acesso em: 18 ago. 2021.
VALENTE, Pedro. Sistema elu, linguagem neutra em género. 2020. Disponível em:
https://dezanove.pt/sistema-elu-linguagem-neutra-em-genero-1317469. Acesso em: 26
set. 2020.
Resumo: Neste artigo, abordamos a temática do preconceito linguístico. Sendo assim, temos por
objetivo analisar a trajetória da proposta de luta contra o preconceito linguístico instituída por
Bagno (1999) em seu livro Preconceito linguístico – como é, como se faz, obra considerada um marco
na assunção dessa luta. Para isso, partimos da hipótese de que, passados mais de vinte anos de
sua publicação, a proposta de Bagno (1999) mantém-se atual e necessária, tanto pelas reflexões e
estudos que foram agregados a ela a cada edição, quanto pelo fato de que o preconceito linguístico
persiste na sociedade como um todo e, também, na escola. Portanto, a pergunta que norteia o
nosso estudo é: qual foi a trajetória dessa obra nesses 21 anos desde que propôs a luta contra o
preconceito linguístico? A conclusão a que chegamos, tendo em vista as análises das edições, é a
de que, em sua trajetória (edição 1 a 56), a proposta de Bagno de luta contra o preconceito
linguístico passou por um amadurecimento teórico, tendo adquirido mais consistência ao abarcar
contribuições de estudos feitos pelo próprio autor e de outros estudos que trataram do tema nesse
período de tempo.
Palavras-chave: Língua. Sociolinguística. Preconceito linguístico.
Abstract: In this article, we address the issue of linguistic prejudice. Thus, our goal is to analyze
the trajectory of the proposal to fight against linguistic prejudice instituted by Bagno (1999) in his
book Preconceito linguístico - como é, como se faz, a work considered a landmark in the assumption
of this fight. To this end, we start from the hypothesis that Bagno's (1999) proposal remains
current and necessary. Not only because of the reflections and studies added to each edition, but
also of the linguistic prejudice that persists in society and school. Therefore, the question that
guides our study was: What has been the trajectory of this work in 21 years since it proposed the
fight against linguistic prejudice? The conclusion we have reached, in view of the analyses of the
editions, is that in its trajectory (editions 1 to 56) Bagno's proposal to fight against linguistic
prejudice has undergone a theoretical maturation, having acquired more consistency by
encompassing contributions from studies by the author himself and from other studies that have
dealt with the subject during this period.
Keywords: Language. Sociolinguistics. Linguistic prejudice.
1 INTRODUÇÃO
Assim, conforme o referido autor, essa questão de origem das línguas foi
deixada à margem e se começou a pensar na proposição de diferentes famílias
linguísticas e na descrição das “línguas-filhas”, estabelecendo, assim, tipologias
linguísticas. Isso se justifica pelo fato de que as línguas que pertencem a uma mesma
família tendem a apresentar semelhanças entre si, tendo-se em vista que a história de
uma língua é construída em meio a uma combinação harmônica entre continuidade e
mudança.
Faraco (2019) propõe que estudar a história de uma língua é se concentrar nos
movimentos, nas mudanças que vão alterando o sistema. Para ele, a Sociolinguística tem
se mostrado uma das contribuições mais significativas para a história das línguas, já que
considera a heterogeneidade inerente às línguas e postula que a mudança linguística não
acontece apenas de uma sincronia para outra, mas também no interior de uma única
sincronia, ou seja, passou-se a falar numa sincronia da diacronia.
A Sociolinguística, conforme nos mostra o próprio nome, reúne teorias de duas
ciências: a Sociologia e Linguística. Sendo assim, busca, em seus pressupostos básicos, a
integração entre língua e sociedade. Desse modo, os fenômenos linguísticos são
estudados a partir da associação entre fatores de natureza estrutural e social.
Conforme Monteiro (2000, p. 28):
4 O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Os puristas linguísticos como os referidos por Bagno (2010) não levam em conta
que a língua pode apresentar características próprias tanto da pessoa que a usa quanto
do meio em que essa pessoa habita, sendo que tais características não possuem menor
valor e não são erros, mas estão condicionadas por um sistema que licencia a sua
manifestação. Portanto, se a língua é constituída de variação, é porque as comunidades
de fala e as pessoas que nela residem são diferentes e possuem sua identidade
linguística, devendo essa identidade ser respeitada.
Conforme Antunes (2010), a realidade com a qual nos deparamos é uma língua
que muda, que varia, que se mostra receptiva a novos sons, novas entonações, novos
vocábulos, que altera seus significados, que cria associações diferentes, que adota
padrões sintáticos novos, sobretudo porque essa língua é regida por diferentes contextos
efetivos de uso e está submetida a outras influências culturais.
Por fim, de acordo com Calvet (2002), devemos considerar e analisar a língua
como o mundo, que se transforma, sofre constantes mudanças e está intrinsecamente
ligada à vida humana, que é dinâmica e está aberta a novas possibilidades. Nesse
sentido, ser preconceituoso linguisticamente é estar fechado à vida em seu conjunto de
manifestações, pois a língua é uma realidade que passa por mudanças, assim como o
processo de desenvolvimento do homem.
Teixeira (2017) afirma que o seu objetivo em analisar a 56ª edição da obra
Preconceito Linguístico – o que é, como se faz, escrita por Bagno em 1999, é contribuir para
que profissionais de diferentes áreas compreendam que “preconceito, independente de
que natureza for, é uma crença pessoal, uma postura individual diante do outro”
(TEIXEIRA, 2017, p. 228).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola,
2010.
BAGNO, A língua de Eulália: novela sociolinguística. 15. ed. São Paulo: Contexto,
2006.
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. 15. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. 56. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz? São Paulo: Loyola,
1999.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2009.
CASTILHO, Ataliba Teixeira de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo:
Contexto, 2010.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. 2. ed. Campinas / SP:
Mercado de Letras, 2012.
VIANA, Ana. Resenha Preconceito linguístico – o que é, como se faz?. Linguagem &
Ensino, vol. 3, n. 1, 2000. p. 157-179. Disponível em: http://www.leffa.pro.br/tela4/
Textos/Textos/Revista/edicoes/v3n1/I_Resenhas.pdf. Acesso em: 26 set. 2020.
Resumo: O estudo que aqui se apresenta buscou investigar a relação que acadêmicos de
graduação possuem com as leituras e o material proposto ao longo de seus respectivos cursos,
assim como sua percepção acerca deles, seus conhecimentos sobre os gêneros textuais científicos
e as dificuldades enfrentadas por eles na vivência acadêmica. O instrumento de pesquisa foi um
questionário online com 22 perguntas, sendo apenas uma delas de livre resposta. Os resultados
mostraram que muitos estudantes possuem conhecimento mediano de gêneros científicos e,
ainda assim, somente dos mais recorrentes, como o artigo e a resenha. Houve, também, exposição
de dificuldades quanto à compreensão, utilidade e vinculação dos materiais propostos com o
curso de maneira geral. Vê-se, então, a necessidade de trazer a discussão sobre o Letramento
Acadêmico/Científico para patamares mais presentes não somente no meio dos discentes, mas
também no dos docentes.
Palavras-chave: Letramento Científico. Acadêmicos. Leitura. Gêneros Textuais Científicos.
Abstract: The present article sought to investigate the relationship that undergraduate students
have with academic reading and the material proposed throughout their respective courses, as
well as their perception of them, their knowledge about scientific textual genres and the
difficulties they face during the academic experience. The survey instrument was an online
questionnaire with 22 questions, being only one of them open to discursive answers. The results
showed that many of the students have average knowledge of scientific genres and, even so, only
about the most recurring ones, such as article and review. There was also exposure of difficulties
regarding the understanding, usefulness and linking of the materials proposed to the course in
general. It is seen, then, the necessity of bringing the discussion on Academic/Scientific Literacy
to levels more present not only in the student environment, but also among teachers.
Keywords: Scientific Literacy. Academics. Reading. Scientific Textual Genres.
1 INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
de um terreno mal preparado na infância. O incentivo à leitura não deve partir apenas
do professor quando a criança começa a cursar as séries iniciais, mas, sim, dos pais ou
responsáveis, que devem ser o motor impulsionador da leitura antes mesmo do infante
chegar à escola.
No entanto, é compreensível que muitos pais, tanto por fatores
socioeconômicos e culturais quanto por falta de tempo ou desinteresse, não estimulem a
criança a ler e, portanto, a escrever, deixando essa tarefa somente para o professor.
Diante dessas condições, cabe à escola garantir que os alunos tenham acesso aos livros,
por meio de bibliotecas e professores mediadores de leitura capacitados para que essa
tarefa seja cumprida. Muito além da escola, é uma tarefa essencialmente do governo
garantir verbas e políticas públicas para que a leitura possa cumprir seu papel de formar
leitores maduros, críticos e humanizados, capazes de usar suas experiências literárias a
fim de conseguir atuar em diferentes situações da vida.
Paulo Freire (1989) aponta que a leitura de mundo precede a leitura da palavra,
e o livro infantil juvenil permite esse movimento, pois mostra à criança e ao jovem um
recorte do mundo por meio das imagens e das cores em sua completude. É partindo
dessas linguagens que a leitura transmitirá sua mensagem de respeito às pessoas, aos
direitos humanos e à natureza, possibilitando a construção crítica dos jovens acerca dos
valores sociais que beneficiam o bem comum.
2.2 LETRAMENTO
Nessa perspectiva, Santos et al. (2016) afirma que o professor é mediador e a ele
cabe a responsabilidade de fazer com que o aluno, no decorrer do trajeto educativo, crie
vínculos sólidos e prazerosos com a leitura e a escrita, articulando conteúdos
significativos, desprendendo-se de ferramentas obsoletas e funções tradicionais como
apenas um mero transmissor de conteúdo e, consequentemente, repetidor de exercícios
dos livros didáticos. É crucial uma forma de ensino compatível com a realidade e o
contexto social em que o educando está inserido, a fim de que, gradativamente, ele
construa uma relação fundamentada nos conceitos do seu aprendizado e do mundo que
o cerca.
Por fim, o autor afirma que haverá muitos desafios a serem superados pelo
corpo docente, mas, num mundo que está em constante mudança e aperfeiçoamento,
têm-se as condições necessárias para lidar com esses dilemas.
3 METODOLOGIA
4 ANÁLISE DE DADOS
científicos dos quais os acadêmicos julgam serem os mais utilizados pelos professores
em suas disciplinas, o artigo científico, a resenha, a síntese e os livros de teoria foram os
gêneros textuais mais assinalados pelo público. Já o ensaio, a tese, e, menos ainda, a
monografia são os textos científicos menos utilizados nas disciplinas acadêmicas.
O quadro a seguir representa as respostas referentes à questão que investigava
a utilização e a recomendação de textos científicos durante o período do Ensino Médio.
dos sujeitos apontou que é mediano. Portanto, a inclinação dos acadêmicos acerca dos
textos propostos é superficial ou parcial pelos textos ou por alguns deles. Em oposição a
isso, 28,3% dos acadêmicos afirmaram que há muito interesse nos textos propostos pelos
professores. Além disso, uma pequena porcentagem de 1,8% apontou que há pouco ou
nenhum interesse acerca desses textos. Os dados apontam significativamente para uma
inclinação parcial ou superficial pelos textos científicos, um número bastante
preocupante, pois a falta de interesse pode gerar impactos tanto na interpretação e na
absorção do conteúdo lido, quanto na ressignificação dele durante a formação
acadêmica. Esses dados também revelam que a falta de interesse pelos textos científicos
pode ser consequência da má seleção deles. É preciso que o professor volte sua atenção
para a linguagem científica e para o modo como o texto discute as informações. Quando
a linguagem é mais complexa, o texto pode oferecer alguns entraves para o acesso às
informações, ocasionando empecilho para a compreensão da proposta do texto.
Perguntado ao público-alvo sobre a importância das leituras científicas para a
formação de um acadêmico do seu curso, 77% disseram que a leitura, a reflexão e a
discussão de textos científicos são itens indispensáveis. Em oposição, 22,1% acreditam
que algumas leituras sejam dispensáveis e que, portanto, não fomentam a formação do
graduando. Uma inexpressiva porcentagem de 0,9% afirmou que as leituras científicas
são dispensáveis e totalmente triviais. Embora os dados apontem um número muito
significativo de sujeitos que acreditam na importância dos textos científicos para a
formação acadêmica, os 22,1% que consideram esses textos dispensáveis é bastante
preocupante, já que estamos falando da formação de sujeitos que atuarão em diferentes
áreas da sociedade. Os textos científicos de determinada área refletem os avanços dela,
os problemas, as soluções, o que já foi superado e o que ainda precisa de maior atenção.
Negar a importância desses textos na formação profissional é pressupor que a atuação
do acadêmico será baseada nos próprios critérios, pouco se importando com os
progressos da ciência e, consequentemente, com o impacto que suas ações podem gerar
no meio em que está inserido.
Tendo como base as leituras e os materiais com os quais os acadêmicos já
tiveram contato, foi questionado se é perceptível uma coerência entre eles e se é
perceptível o objetivo que possuem para as disciplinas estudadas. Um total de 67,3% dos
acadêmicos afirmou que conseguem perceber a relação entre o conteúdo e as temáticas.
Por outro lado, 32,7% dos sujeitos pesquisados assinalaram que conseguem perceber a
importância de algumas leituras, mas não veem coerência em outras. Isso indica que
pode existir um descuido do docente quanto à seleção do material ou em sua introdução,
tanto em relação à linguagem utilizada pelos autores do texto quanto à abordagem
metodológica da proposta do material.
O próximo quadro indica a constante dos acadêmicos acerca da não
contextualização devida ou insatisfatória do material oferecido pelo docente, podendo
fazê-lo parecer desconexo das demais propostas.
Com base nos dados do quadro 2, pode-se perceber que quase metade dos
respondentes (47,8%) relata que já aconteceu de não conseguirem compreender o
objetivo de um texto proposto ou de terem dificuldades para entender a relação do texto
com outras disciplinas. Cerca de 36,3% dos respondentes mencionam que esse obstáculo
advém esporadicamente, e nas duas opções seguintes, “Sim, acontece frequentemente”
e “Não, nunca aconteceu”, obteve-se um resultado análogo de uma pergunta à outra
(8%).
Por intermédio das respostas, é importante ressaltar a pesquisa de Silva (2019),
que também obteve resultados similares no que diz respeito ao estranhamento quanto
às leituras e à dificuldade acerca da leitura fragmentada, a qual deriva na falta de ligação
e coerência entre os conteúdos acadêmicos. Esta se revela ser a dificuldade maior, tanto
na pesquisa de Silva quanto neste levantamento: conseguir criar conexões reais com
textos para absorver melhor os conteúdos.
Com base nos dados sobre se os acadêmicos acreditam que deve haver iniciativa
do professor quanto à contextualização do material, pode-se notar que 97,3% dos
respondentes optaram pela contextualização indispensável e apenas 2,7% que ela é
desnecessária.
Mais uma vez é imprescindível destacar a dificuldade que os leitores
acadêmicos demonstram em relação a criar vínculos entre um conteúdo e outro e, apesar
das respostas negativas à contextualização, a grande maioria dos entrevistados acredita
que a ligação entre os textos do curso é um alicerce indispensável.
Procurou-se investigar também de que modo as leituras científicas utilizadas
na academia eram passadas aos acadêmicos. Para tal, questionamos se havia alguma
contextualização do texto indicado e, ainda além, qual o nível de contextualização
recorrente. Felizmente, nenhum dos respondentes assinalou a resposta: “Não, não existe
qualquer contextualização”. Contudo, mesmo que 65,5% (74 pessoas) tenha respondido
que existe contextualização das leituras em um nível satisfatório, 34,5% (39 pessoas)
alegaram que existe, sim, uma contextualização, mas que ela é pouca e,
consequentemente, insatisfatória, possivelmente ocasionando a resistência dos
acadêmicos com o conteúdo trazido para dentro da sala de aula ou, ainda, a sua
fragmentação com o restante do plano de ensino.
Quando perguntados se a preparação para os textos científicos deveria começar
desde o Ensino Médio ou ser mais bem trabalhada pelos professores de graduação,
observa-se que 55,8% dos respondentes acreditam que a preparação para a leitura de um
texto científico deva ser um trabalho mútuo, iniciando no Ensino Médio e alcançando o
Ensino Superior. Outros 34,5% responderam que deve haver a contextualização desde o
Ensino Médio e apenas 9,7% acreditam que o professor da graduação é quem deve
preparar os graduandos para as leituras específicas.
A partir disso, é importante salientar que mais da metade dos entrevistados
considera imprescindível que a contextualização ocorra nas duas vias de ensino,
contrastando ainda mais o que foi dito por Tourinho (2011), que é esperado que o
ingressante no ensino superior já tenha um nível de excelência em leitura, o que não
acontece na maioria das vezes, gerando consequências negativas dentro da sala de aula.
Ao serem perguntados se se consideram leitores científicos, constata-se, a partir
dos dados coletados, que 62,8% dos respondentes não se consideram um leitor científico
ainda que tenha capacidade para realizar esse tipo de leitura e discuti-las em turma. O
segundo grupo de respondentes (37,2%) se considera um leitor científico, capaz de
absorver e discutir com o professor e em grupo as leituras propostas. Nenhum dos
entrevistados considerou a opção em que não se sentia capaz de interagir com o material
científico e discuti-lo.
Diante desse fato, podem-se trazer em pauta os dados apresentados na questão
sobre a frequência da utilização de textos científicos, que detém, como a maioria das
respostas, a utilização constante. Nota-se, então, que há proposta de conteúdo, mas que
a pertinência se dá na adaptação e na adequação das estratégias empregadas para formar
leitores acadêmicos.
Com base nas respostas à pergunta de que se os acadêmicos gostariam de ter
maior compreensão e engajamento com os materiais propostos, constata-se que 55,8%
dos respondentes gostariam de entender melhor os textos oferecidos, que 43,4%, apesar
de entenderem parcialmente, gostariam de compreendê-los mais, e que apenas 0,9% não
gostaria de ter qualquer interação com essas leituras.
Com base nisso, pode-se observar que se alcançou um número similar entre
acadêmicos que gostariam de entender os textos em sua totalidade e acadêmicos que,
apesar de entenderem, gostariam de compreendê-los de uma forma melhor. Isso nos
mostra, assim como na pergunta anterior, considerar-se ou não um leitor científico, que
há uma carência desses leitores no percurso acadêmico, ainda que haja esforço da parte
docente e discente e que é preciso muito mais do que a apresentação do conteúdo:
atribuir relevância às estratégias utilizadas a fim de aprimorar esses leitores com base
nas suas vivências e entendimento.
A última questão se referia à experiência do respondente como acadêmico de
graduação. Perguntamos qual seria, segundo eles, a melhor forma de abordar o
“Letramento Científico” no Ensino Superior e qual a maior dificuldade deles com os
textos dessa esfera. Embora essa questão tenha visado respostas de caráter qualitativo,
pode ser interessante apresentar alguns dados de forma quantitativa.
Primeiramente, é preciso reduzir alguns números aqui para que a análise seja
mais fidedigna. Dos 113 respondentes, 7 deles não souberam como responder a essa
pergunta ou não souberam formular uma opinião, diminuindo o número de respostas
para 106. Destas 106 respostas, 39 (36,8%) discursavam sobre como a melhor alternativa
seria que os alunos de graduação tivessem contato prévio desde o Ensino Médio com o
gênero científico, textos desse mesmo gênero e exercícios de produção textual, ainda que
que são “obrigatórios” pelo professor, deixando o exercício de leitura e criticidade ainda
mais pobre e criando uma interrogação de “se não for para discutir, então por que ler?”.
Utilizando as próprias palavras de uma participante da pesquisa, tem-se que a
maior das dificuldades é receber artigos e textos dos professores e, no final, não haver
ligação destes com a realidade cotidiana ou profissional, ou nem mesmo colocá-los sob
escopo de discussão, levando isso a se tornar “apenas uma leitura vaga e sem utilidade,
o que faz com que nós, alunos, abandonemos a leitura e a compreensão”.
Ainda no que tange à linguagem científica, é observável nas respostas dos
pesquisados que muitos não compreendem como se estruturam os diversos gêneros do
universo acadêmico, alegando algumas vezes que deveria haver uma reforma nessa
linguagem ou até mesmo ser utilizado algo mais coloquial; houve ainda quem dissesse
que às vezes a utilização desse tipo de escrita/fala soa como mero complemento estético.
As respostas desse nicho demonstram existência de um conhecimento amplo sobre como
o discurso se estrutura e como a comunicação é plural e possui suas diferenciações
dependendo da esfera em que é utilizada, configurando-se como mais um tópico
possível de ser sanado com um plano de ensino mais rigoroso e coerente no que toca os
gêneros da esfera científica.
Outra evidência presente nas respostas foi o argumento de que muitas vezes os
professores tratam os alunos ingressantes na graduação como indivíduos já capazes de
ler, absorver, refletir e exercer criticidade sobre o texto científico, o que é bastante
errôneo. Nesse aspecto, vê-se a confusão que não somente acadêmicos e o restante das
pessoas, mas professores também fazem com as características correspondentes ao
Letramento. Saber ler, como já é saturado e muito bem-conceituado dentro dos estudos
sobre o Letramento, e também na Teoria da Literatura, vai muito além do decodificar
das palavras, de reconhecer os signos que compõem o alfabeto e se juntam em sílabas,
palavras e frases. Nesse sentido, perdem os acadêmicos por não lhes ser trabalhada a
habilidade necessária para desvendar a estrutura dos textos.
Algo que se vincula com essa discussão, e dessa vez direcionado aos
professores, é de que alguns respondentes alegaram que, por vezes, os próprios docentes
não possuem domínio sobre os gêneros científicos, o que atrapalha o momento das
orientações sobre a escrita de textos desses gêneros. Levando-se esse aspecto em
consideração, já se torna menos impressionante que instituições de ensino superior, estas
que são produtoras de conhecimento científico, não tenham disciplinas ou enfoque na
ministração do texto e da produção do conhecimento científico, ou, quando o tem, é de
maneira não satisfatória, pobre e sem a devida seriedade, acarretando o sucateamento
das produções que muitas vezes são feitas de maneira não ideal, visando apenas à
conclusão do curso ou da disciplina.
Como não poderia deixar de ser abordado, boa parte dos pesquisados também
revelou que não existe interesse deles próprios pelo texto e que necessitariam de força
de vontade e cobrança de si próprios para engajarem com os materiais. Os motivos
apontados para esse fenômeno são vários, além da própria procrastinação mostrada por
eles, bem como a falta de tempo, o excesso de textos, a desconexão e não contextualização
dos materiais (levando até mesmo à frustração dos acadêmicos por não enxergarem
sentido no conteúdo), textos não atuais e que se utilizam de uma forma antiga da língua
ou que são de décadas anteriores, quando os próprios professores exigem fontes recentes
como fonte para trabalhos.
Terminando os aspectos que envolvem a problemática referida pelos
acadêmicos, ainda há o fator “ensino público” bastante presente nas respostas. Dentre
elas, o argumento de que o atual ensino público em território nacional não é nada
satisfatório ao nível exigido na graduação, o que acaba por elitizar o nível superior
devido ao não engajamento de alunos de escolas públicas ao conteúdo presente nos
Projetos Políticos Pedagógicos dos cursos. Críticas referentes à metodologia da forma de
ensino, à não variação nas modalidades de gêneros textuais e ao pouco incentivo a
leituras de natureza científica também foram recorrentes.
Houve respostas que, bastante relevantes, acabaram chamando mais a atenção
por consequência, como foi o caso de dois estudantes que transmitiram igualmente suas
preocupações com os demais cursos, apoiando-se no argumento de que num curso como
Letras e outras licenciaturas, que possuem influência do ensino de gêneros, existe maior
familiaridade com os gêneros discursivos, dentre eles, o científico. Já em cursos de áreas
exatas, as engenharias, como utilizado no exemplo por um deles, em que até o mesmo o
professor pode não ter uma vivência literária e de escrita satisfatória devido ao próprio
caráter da profissão, torna-se um grande desafio o exercício de escrita dos gêneros
textuais aqui discutidos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009.
FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Trad. Bruno Charles Magne: Porto Alegre:
Artes Médicas, 1994.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São
Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.
OLIVEIRA, Katya Luciane de; SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos. Compreensão
em Leitura e Avaliação da Aprendizagem em Universitários. Psicologia: Reflexão e
Crítica, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 118-124, 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722005000100016&script=sci_arttext.
Acesso em: 10 jun. 2020
SANTOS, Ana Claudia Siqueira dos et al. Alfabetização e letramento: dois conceitos,
um processo. [S. l.]. 2016. Disponível em: https://portal.fslf.edu.br/wp-
content/uploads/2016/12/tcc3-6.pdf. Acesso em: 10 jun. 2020.
SILVA, Elizabeth Maria da. O que dizem graduandos em Pedagogia sobre suas
práticas de leitura: o olhar dos letramentos acadêmicos. Revista Leia Escola. Campina
Grande, v. 19, n. 1, p. 200-211, 2019. Disponível em:
http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/Leia/article/view/1292. Acesso em: 12 jun.
2020.
Resumo: O presente trabalho traz um estudo acerca da seguinte temática “breve revisão da
literatura acerca da produção escrita em Língua Inglesa por parte dos alunos da Educação
Básica”, tomando como referência os seguintes autores: Bereiter e Scardamalia (1987); Celce-
Murcia e Olshtain (2000); Costa (2016); Cristovão e Nascimento (2005); Dias (2004), Grabe e
Kaplan (1996), dentre outros. Procurou-se observar, nesses textos, a dificuldade dos professores
de trabalhar, de forma sistematizada, com a habilidade de produção escrita nas aulas de língua
inglesa, por mais adverso que seja o contexto de aprendizagem dos alunos. A metodologia
utilizada foi revisão de literatura, tomando como referência autores em Língua Estrangeira que
se preocupam em estudar e descrever essa habilidade. O resultado mostra uma mudança de foco
por parte dos docentes quanto à produção escrita, considerando-a como um processo, e não mais
como um simples produto.
Palavras-chave: Produção escrita. LínguaInglesa. Ensino e aprendizagem.
Abstract: The present work brings a study about the following theme "brief literature review
about the written production in English by students of Basic Education ", taking as a reference
the following authors: Bereiter e Scardamalia (1987); Celce-Murcia e Olshtain (2000); Costa (2016);
Cristovão e Nascimento (2005); Dias (2004), Grabe e Kaplan (1996), among others. We tried to
observe, in these texts, the difficulty of teachers to work, in a systematic way, with the ability of
written production in English language classes, however adverse the students' learning context
may be. The methodology used was a literature review, taking as reference authors in a foreign
language who are concerned with studying and describing this skill. The result shows a change
of focus on the part of teachers regarding written production, considering it as a process, and no
longer as a simple product.
Keywords: Written production. English language. Teaching and learning.
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
3 A PRODUÇÃO ESCRITA
escrever, reescrever e rever as suas produções até que elas apresentem coesão e
coerência. Uma boa sugestão apresentada pela autora para guardar as produções dos
alunos é através de protfólio, que poderá posteriormente ser utilizado para a avaliação
das produções.
Weigle (2002) apresenta princípios sobre como projetar uma avaliação para
turmas grandes, procurando testar os alunos além do nível individual de sala de aula.
Para a autora, a avaliação consiste em três estágios: estágio da criação, que envolve a
reunião de informações sobre o propósito dos testes, características do público-alvo e a
necessidade de escrita no seu mundo real; estágio da operacionalização, que utiliza a
informação adquirida no estágio anterior para criar as especificações do teste; estágio da
administração, que envolve tanto o pré-teste quanto os testes completos.
correção dos erros feita pelos professores nos textos escritos de seus alunos. Ele afirma
que alguns estudos foram desenvolvidos sobre a correção ou não dos erros de gramática
nos textos, constatando:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção escrita é uma habilidade que precisa ser incorporada como uma
prática constante nas aulas de língua estrangeira. A referência para pesquisas e estudos
acerca dessa habilidade é vasta e extremamente rica, como se pôde verificar neste
trabalho.
Procurou-se fazer aqui uma breve reflexão sobre a construção de textos escritos
em língua inglesa. Verificou-se que o professor desempenha um papel importante na
produção escrita, entretanto ele deixa de ser o único público-alvo para o texto e passa a
ser um orientador, fazendo com que as tarefas sejam cumpridas de forma objetiva e clara.
Os colegas passam a assumir o papel de colaboradores e revisores dos textos uns dos
outros.
Cabe salientar que a escrita, nas teorias apresentadas neste estudo, é vista como
um processo e não mais como um produto final, pronto e acabado. Os docentes precisam
estar cientes de todos os aspectos que envolvem a produção escrita e motivar os seus
alunos na prática dessa habilidade. Os professores devem também oferecer recursos
modernos e informações que facilitem o processo de escrita para seus alunos.
REFERÊNCIAS
FERRIS, D. R. The “Grammar Correction” debate in L2 Writing: where are we, and
where do we go from here? (and what do we do in the meantime…?). Journal of
Second Language Writing, v. 13, p. 49-62, 2004.
GRABE, W.; KAPLAN, R. Towards a theory of writing: theory and practice of writing.
Harlow, Essex: Addison-Wesley, p. 202-236, 1996.
MARCO, M. J. L. Using the Internet to develop writing skills in ESP. The Specialist.
São Paulo: LAEL- PUC/SP, v. 23, n. 1, p. 53-74, 2003.
SEOW, A. The writing process and process writing. In: RICHARDS, J. C. Methodology
in Language Teaching: an anthology of current practice. Cambridge: Cambridge
University Press, p. 315-327, 2003.
WEIGLE, Sara Cushing. Scoring procedures for writing assessment. In: WEIGLE, Sara
Cushing. Assessing writing. Cambridge: Cambridge University Press, p. 108-139, 2002.