Contribuicao Da Neurociencia

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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 39016 - ISSN: 2448-0959

https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/contribuicao-da-neurociencia

A contribuição da neurociência na prática do


neuropsicopedagogo

ARTIGO ORIGINAL

BORGES, Lenise Freitas [1], COELHO, Maria do Carmo Iroshi [2]

BORGES, Lenise Freitas. COELHO, Maria do Carmo Iroshi. A contribuição da Neurociência na


prática do Neuropsicopedagogo. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04,
Ed. 10, Vol. 04, pp. 107-112. Outubro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/contribuicao-da-neurociencia

RESUMO

Durante muito tempo, o insucesso escolar, frente aos aspectos da aprendizagem foi conduzido de maneira
frustrante e desanimadora tanto para os docentes envolvidos no processo, quanto para os próprios
educandos e familiares. Tendo em vista os avanços da neurociência no campo educacional, hoje, já é
possível trilhar novos caminhos que podem contribuir de maneira contundente na ressignificação da
aprendizagem, mediante à prática investigativa e interventiva do neuropsicopedagogo. Embasado em
referentes teóricos, este artigo irá refletir sobre o campo de estudo da Neuropsicopedagogia, que atrelada
à Neurociência, pode oferecer novas perspectivas para o processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: aprendizagem, educação, neurociências, neuropsicopedagogia.

1. INTRODUÇÃO

Com os avanços da ciência e tecnologia, somos levados a conviver com mudanças e transformações em
várias esferas do conhecimento e da sociedade. Ao falarmos em avanços nos estudos educacionais, é
interessante pensar no estudo da Neurociência, que vem ganhando espaço no contexto escolar, haja vista
que, para o educador, é de fundamental importância compreender o funcionamento da atividade cerebral
do ser aprendente, de modo que esse conhecimento científico possa ser um respaldo para as possíveis
intervenções pedagógicas, frente aos diversos e inimagináveis obstáculos da aprendizagem.

A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, em seu código de ética, define a Neuropsicopedagogia

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como “ciência transdisciplinar fundamentada nos conhecimentos da neurociência aplicada à educação,


com interfaces na Psicologia e Pedagogia, que tem como objeto formal de estudo a relação entre o
funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana” (SBNPP, 2019a).

Valendo-se do conceito da Neuropsicopedagogia, o presente trabalho tem por objetivo apresentar os


estudos da Neurociência aplicados à educação e refletir sobre as suas contribuições para a aprendizagem e
para a abordagem do neuropsicopedagogo em contexto escolar.

2. A NEUROCIÊNCIA EM BENEFÍCIO DA EDUCAÇÃO

A neurociência é um estudo do sistema nervoso, seja em estado normal ou patológico. Esse estudo visa
compreender suas funções, estruturas, processos e alterações que podem ocorrer ao longo do
desenvolvimento humano. Nessa perspectiva, a neurociência percorre não somente o campo fisiológico,
anatômico, como também psicológico e comportamental.

A educação e a neurociência coexistem numa relação de proximidade, uma vez que ambas trabalham com
a atividade cerebral que possibilita o acesso à aprendizagem. Aprender é uma das atividades mais
constantes de nossa vida, desde muito cedo, aprendemos a andar, a falar, a reconhecer rostos, objetos,
cores

e regras. Porém, há vários fatores que podem dificultar o processo de aprendizagem, limitando o acesso
ao conhecimento. Esses fatores podem ser físicos-mentais, emocionais ou mesmo profissionais, no que
diz respeito à atuação docente.

Considerando os avanços dos estudos da neurociência, Tabaquim (2003, p.91) destaca:

O cérebro é o órgão privilegiado da aprendizagem. Conhecer sua estrutura e funcionamento é


fundamental na compreensão das relações dinâmicas e complexas da aprendizagem. Na busca pela
compreensão dos processos de aprendizagem e seus distúrbios, é necessário considerar os aspectos
neuropsicológicos, pois as manifestações são, em sua maioria, reflexo de funções alteradas. As disfunções
podem ocorrer em áreas de input (recepção do estímulo), integração (processamento da informação)
e output (expressão da resposta). O cérebro é o sistema integrador, coordenador e regulador entre o meio
ambiente e o organismo, entre o comportamento e a aprendizagem.

O estudo neurocientífico não propõe uma Pedagogia renovada, no entanto, fornece subsídios para a
reorientação da prática pedagógica atual, abrindo espaço para discussões e reflexões que abordem os
aspectos relacionados ao processo de aprendizagem.

Diferentemente da Psicologia, a neurociência educacional busca explicar a aprendizagem através de


experimentos comportamentais, uso de aparelhos de tomografia e ressonância magnética, a fim de
observar alterações de funcionamento cerebral que podem ser desencadeados em função de fatores
cognitivos ou até mesmo externos.

Para que o processo de aprendizagem aconteça, nosso cérebro faz uso de exemplos, associações
(sinapses) a conhecimentos que já possuímos, de modo a construir um significado. O aprendizado ocorre
por meio de quatro estágios; dessa forma, pode-se dizer que primeiramente aprendemos através das

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experiências concretas, posteriormente, desenvolvemos a observação e reflexão, criamos hipóteses e por


fim, testamos as hipóteses com o objetivo de obtermos uma nova experiência concreta. Ou seja, quando a
informação se reporta à outra informação previamente conhecida, o cérebro reforça essas sinapses e cria o
significado. Em outras palavras, sem referências, não há significado.

A Neurociência tem apresentado diariamente novas descobertas que não era possível saber antes. Hoje,
talvez, a melhor e a mais importante descoberta da ciência que estuda o cérebro seja a questão da
plasticidade cerebral, ou seja, no passado, acreditava-se que quem não aprendia e ponto final. Seu cérebro
não dava conta e nunca poderia dar conta da aprendizagem, e, dessa forma, cabia ao indivíduo
desaparecer dos meios acadêmicos e sociais. Era uma exclusão fundamentada até mesmo pela ciência.
(ALMEIDA,2012, p.44).

A neurociência no campo educacional, amparada por estudiosos de diversas áreas do conhecimento, veio
para refletir os percalços do processo de aprendizagem e encontrar caminhos para atuar e intervir nos
obstáculos desse processo.

2.1. NEUROPSICOPEDAGOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O PROCESSO DE


APRENDIZAGEM

Os estudos da neuropsicopedagogia surgiram da necessidade de se promover a integração educacional,


haja vista a nova demanda social diferenciada do século XXI. Para Hennemann (2012, p.11) a mesma
apresenta-se como “um novo campo de conhecimento que através dos conhecimentos neurocientíficos,
agregados aos conhecimentos da pedagogia e psicologia vem contribuir para os processos de ensino-
aprendizagem de indivíduos que apresentem dificuldades de aprendizagem”.

Para Beauclair (2014, p.23), o termo Neuropsicopedagogia é “um novo campo de especialização
profissional, de pesquisa, ação e intervenção, baseados nos avanços das Neurociências e suas
aplicabilidades no campo da Educação e Psicopedagogia”.

Sabendo que a neurociência significa, “conjunto de ciências fundamentais e clínicas que se ocupam da
anatomia, da fisiologia e da patologia do sistema nervoso (DINIZ; DAHER; SILVA, 2008, p. 154)”, é
fundamental que o neuropsicopedagogo se aproprie das bases da neurociência para intervir e pesquisar
sobre as particularidades cerebrais que podem interferir no processo de aprendizagem.
É preciso ter em mente que o neuropsicopedagogo, em posse dos seus referenciais teóricos, irá atuar de
maneira investigativa, descobrindo os mistérios e os desdobramentos da aprendizagem, os fatores inter-
relacionais e intrapessoais que podem ser chave ou ponto de partida para uma intervenção pedagógica
mais efetiva, para isso, deve-se levar em conta quem é esse sujeito, qual é a sua base familiar e qual o
contexto em que ele está inserido.

O neurosicopedagogo precisa compreender o papel do cérebro na aprendizagem, fazer levantamentos do


histórico de desenvolvimento neuropsicomotor, psíquico e cognitivo do indivíduo, a fim de avaliar
possíveis encaminhamentos a profissionais de outras especialidades ou mesmo intervir no ambiente
educacional com adequação curricular que possibilite a aprendizagem do aluno.

A perspectiva da metacognição surge como uma estratégia que auxilia no processo de aprendizagem,
proporcionando ao discente a motivação tanto pelo objeto de estudo quanto pelo ambiente escolar. A

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estratégia metacognitiva é definida por Kleiman (2008a, p.34) como: “a capacidade de estabelecer
objetivos na leitura [...], isto é uma estratégia de controle e regulamento do próprio conhecimento”.

Os estudos neurocientíficos apontam que para que a aprendizagem aconteça, é necessário criar memória
de longo prazo, direcionando o cérebro a aprender e relacionar o conhecimento, de maneira que as
informações sejam armazenadas plenamente. Desse modo, o neuropsicopedagogo pode contribuir para o
desenvolvimento da motivação pela aprendizagem, ajudando o educando a descobrir quais são as suas
habilidades e potencialidades e de que forma ele pode agregar isso à sua vida, numa atividade de
autoconhecimento e autoconfiança. Deve-se trabalhar com a ideia de que todos são capazes de aprender,
dentro de suas limitações e de seu próprio ritmo de aprendizagem.

O Neuropsicopedagogo em contexto institucional, será capaz de conhecer o espaço escolar, observar os


educandos e professores, traçar estratégias de avaliações e eventualmente, fazer encaminhamentos a
profissionais de outras especialidades, quando julgar necessário, a fim de possibilitar a aprendizagem a
todos os indivíduos envolvidos no processo de escolarização, independentemente de qualquer limitação
cognitiva.

3. CONCLUSÃO

A neuropsicopedagogia abarca três áreas do conhecimento (neurociência, psicologia e pedagogia), que


são de fundamental importância para a educação.

O Neuropsicopedagogo, como um profissional mediador do processo de ensino-aprendizagem, irá


desenvolver um papel fundamental na educação, haja vista que, em posse de seus conhecimentos, é
possível atuar com mais eficácia nas intervenções pedagógicas a fim de ressignificar o conhecimento e
despertar no educando a vontade de aprender, de modo que a capacidade cognitiva do educando se
desenvolva plenamente dentro do ritmo pessoal de cada aluno. Portanto, considerar o trabalho
neuropsicopedagógico no contexto escolar, significa caminhar para o desenvolvimento da escola como
um todo, haja vista que, o respaldo do neuropsicopedagogo contribui não somente para o
desenvolvimento da aprendizagem dos educandos, mas também para o sucesso de toda a equipe escolar,
cujo objetivo é contribuir para uma educação de qualidade e inclusiva.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, G. P. Plasticidade cerebral e aprendizagem. In: RELVAS, M. P.(org.). Que cérebro é esse
que chegou à escola?: as bases neurocientíficas da aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK, 2012.

BEAUCLAIR, J. Neuropsicopedagogia: inserções no presente, utopias e desejos futuros. Rio de Janeiro:


Essence All, 2014.

DINIZ, D.F.; DAHER, J; SILVA, W.G. da. Neurociências: termos técnicos. Goiânia: AB, 2008.

HENNEMANN, Ana L. Neuropsicopedagogia Clínica: Relatório de estágio. Novo Hamburgo:


CENSUPEG, 2012.

KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura.11ed. Campinas: Pontes, 2008.

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SBNPP – Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Código de ética técnico profissional da


Neuropsicopedagogia. Disponível em: <https://sbnpp.org.br/wp-content/uploads/2019/05/Codigo-de-
etica-atualizado-2016.pdf>. Acesso em 06 de outubro de 2019a.

TABAQUIM, Maria L. M. Avaliação Neuropsicológica nos Distúrbios de Aprendizagem. In Distúrbio de


aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. Org. Sylvia Maria Ciasca. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2003.

[1]
Mestranda em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción; Especialista em
Neuropsicopedagogia pela Faculdade São Luís; Especialista em Língua Portuguesa: Redação e Oratória
pela Faculdade São Luís;Licenciada e bacharela em Letras (Português/ Inglês) pelo Centro Universitário
FIEO.

[2]
Mestrado em Pós Graduação em Direito; Especialização em Direito Educacional. Especialização em A
Produção e a Interpretação do Texto Narrativo. Especialização em Estruturas Morfossintáticas.
Especialização em Língua e Literatura Inglesa. Graduação em Bacharel em Direito. Graduação em
Pedagogia Administração e Supervisão Escolar. Graduação em Letras Português/Inglês.

Enviado: Fevereiro, 2019.

Aprovado: Outubro, 2019.

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