Psicologia+Humanista+ +Dilema++Epistemologico
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12 CASTAÑON, G.A.
Castañon, G. A (2007). Psicologia humanista: a história de um dilema epistemológico. Memorandum, 12, 105
124. Retirado em / / , da World Wide Web
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a12/castanon01.htm
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Psicologia Humanista: a história de um dilema
epistemológico
Humanistic Psychology: a history of an epistemological dilemma
Gustavo Arja Castañon
Universidade Estácio de Sá
Universidade Católica de Petrópolis
Brasil
Resumo
A Psicologia Humanista norteamericana surgiu há cerca de cinqüenta anos,
apresentandose como uma terceira força capaz de fazer frente ao que julgava ser
uma desumanização determinista da imagem de ser humano promovida pelo
Behaviorismo e pela Psicanálise. Apresentando sua versão do objeto da Psicologia
como dotado de um nível de liberdade, criatividade e próatividade, os principais
representantes da Psicologia Humanista se recusaram a abandonar o método
experimental, proclamando a sua abordagem como aderida à ciência moderna.
Assim inauguraram um novo dilema, que tem acompanhado a história da
Psicologia Humanista: deveria esta manter sua adesão ao método científico que
não se adequa a seu objeto de pesquisa ou transformar a imagem de ciência que
pratica para adequála à sua imagem de ser humano? Defendese aqui tese de que
a Psicologia Humanista, mesmo com as adesões proclamadas de Maslow e
Rychlak, acabou por abandonar o método experimental para aderir a investigações
finalistas.
Palavraschave: psicologia humanista; ciência moderna; epistemologia da
psicologia.
Abstract
The north american Humanistic Psychology appeared about fifty years ago, coming
up as a third force capable to confront what was judged by them as a determinist
dehumanization of the human being promoted by Behaviorism and Psychoanalysis.
Presenting there version of the object of Psychology as endowed with an amount of
freedom, creativity and proactivity, the authors of Humanistic Psychology refused
to abandon the experimental method, proclaiming there approach as modern
science. Therefore, they inaugurate a new dilemma, that has accompanied the
Humanistic Psychology history: would they be able to maintain their adhesion to
scientific method to what their research object is not adapted or would they have
to transform the image of science to adapt it to there human being image? This
article defends that Humanistic Psychology, even with the proclaimed adhesions of
Maslow and Rychlak, ended for abandoning the experimental method to adhere to
finalists investigations.
Keywords: humanistic psychology; modern science; epistemology of Psychology.
Desde seu surgimento no cenário psicológico como tentativa de constituição de uma
alternativa às abordagens behavioristas e psicanalíticas, a Psicologia Humanista
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A Psicologia Humanista herdou este dilema em um formato particular, que
acompanha a história da abordagem desde o seu surgimento. Tendo se decidido
programaticamente a não aceitar a distorção da imagem de ser humano para
adequálo ao método científico, ela no entanto proclamou igualmente sua adesão ao
projeto da ciência moderna. Assim, a Psicologia Humanista historicamente não
consegue se decidir entre manter sua adesão ao método científico – que não se
adequa a forma como define seu objeto de pesquisa nem a maioria de seus
interesses principais de investigação – ou buscar transformar a imagem de ciência
que pratica para adequála à sua imagem de ser humano.
Este artigo defende a tese de que apesar das sucessivas declarações de princípios
de seus dois principais nomes, Abraham Maslow e Joseph Rychlak, o resultado da
empreitada humanista na psicologia moderna foi de fato o abandono do método
científico. Começará por uma breve definição deste movimento, suas raízes
históricas, abordará suas críticas ao modelo de Psicologia da primeira metade do
século passado e passará por sua definição do objeto de estudo desta disciplina. A
partir de mais cuidadosa descrição do dilema proposto, exporá então o transtorno
epistemológico provocado por este, a tentativa contemporânea de solução de Joseph
Rychlak e finalmente uma avaliação geral de sua consistência com o projeto da
ciência moderna.
História da Psicologia Humanista
Como afirma De Carvalho (1990), a oposição ao Behaviorismo foi a posição que,
pelo caminho da negação, mais contribuiu para o estabelecimento conceitual da
Psicologia Humanista. Os Humanistas caracterizam o Behaviorismo como uma
teoria em que o homem é visto como um ser inanimado, um organismo puramente
reativo, "uma coisa passiva perdida, sem responsabilidade por seu próprio
comportamento" (p. 33). Assim, o Behaviorismo veria o homem como um conjunto
de respostas a estímulos, ou seja, uma coleção de hábitos independentes. Frick
(1973), em sua obra Psicologia Humanística, ainda hoje referência obrigatória para
quem estuda o movimento, acusa o Behaviorismo de haver buscado criar uma visão
limitada do homem. Diz ele:
Os humanistas se rebelam contra o Behaviorismo se opondo a quatro pontos
fundamentais. Primeiro, não concordam com a pesquisa com animais como acesso
a uma compreensão adequada do ser humano. Como disse Bugental (1963), o ser
humano não é um rato branco maior, assim uma Psicologia baseada em dados
animais excluiria aquilo que deveria ser o objeto primeiro da Psicologia: os
processos e experiências distintamente humanos. Segundo, os humanistas exigem
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que os temas de pesquisa da Psicologia não sejam escolhidos por sua adequação ao
método experimental, e sim por sua importância para o ser humano e relevância
para o conhecimento psicológico. Terceiro, opõem à concepção reativa e
mecanicista behaviorista do ser humano uma concepção proativa da natureza
humana: os humanistas argumentam que a motivação humana é intencional e auto
motivada. Por último, estes afirmam que ainda que fosse possível ao Behaviorismo
realizar um catálogo completo dos comportamentos humanos possíveis, isto não
ofereceria uma descrição adequada da natureza humana pois, seguindo a sentença
gestaltista, a pessoa é mais do que a soma de cada comportamento isolado. Para os
humanistas, o homem é um todo único e indivisível, é uma gestalt.
Mas a Psicologia Humanista não se constituiu somente como uma reação ao
Behaviorismo, mas também como uma reação à Psicanálise, que era considerada
por esta determinista, reducionista e dogmática. O foco das críticas dos psicólogos
humanistas era de novo a imagem de Homem, desta vez, a admitida pela
Psicanálise. Segundo eles, a visão da natureza humana em Freud era pessimista,
fatalista e excessivamente centrada no lado negro do ser humano. Como diz De
Carvalho (1990), os humanistas argumentavam que para Freud "nada além de
destruição, incesto e assassinato poderia se seguir se uma natureza básica humana
encontrasse expressão completa" (p. 34). Assim, ainda segundo De Carvalho, para
Freud, a pessoa permaneceria para sempre fixada em emoções originadas de
traumas da infância. O homem não seria nada além de um produto de poderosas
pulsões de fundo biológico, que se manifestariam de acordo com a história do
passado de cada um.
Outra acusação que o humanismo fazia de modo geral à Psicanálise foi formulada
originalmente por aquele que é o nome mais representativo do movimento,
Abraham Maslow. Ele a acusa de estudar somente indivíduos perturbados:
neuróticos e psicóticos. Como disse Maslow (1963), "o estudo de espécimes
aleijados, enfezados, imaturos e patológicos só pode produzir uma Psicologia
mutilada e uma filosofia frustrada" (p. 234). A Psicologia deveria portanto se voltar
para o estudo das qualidades e características positivas do Homem, como a alegria,
o altruísmo, a fruição estética, a satisfação ou o êxtase. Enfim, psicólogos deveriam
estudar o homem sadio, não a psicopatologia. Apesar de conceder à obra freudiana
um valor relativo por proporcionar uma revolucionária visão da motivação humana,
os humanistas como Frick (1973) consideram que a Psicanálise estabeleceu
fundamentos teóricos responsáveis pela disseminação de uma visão pessimista do
ser humano e de suas possibilidades.
Finalmente, não poderia deixar de citar os teóricos da personalidade e suas obras
que, segundo Smith (1990), com sua rejeição às premissas mecanicistas do
Behaviorismo e biológicoreducionistas da Psicanálise clássica, foram a base da qual
emergiu a Psicologia Humanista: Gordon Allport (1937) Personality: A Psychological
Interpretation, Henry Murray (1938) Explorations in Personality e Gardner Murphy
(1947) Personality: A Biosocial Approach to Origins and Structure.
Existem grandes resistências em se apontar um teórico como fundador da Psicologia
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Humanista, tal como foram Watson para o Behaviorismo e Freud para a Psicanálise.
Mas o fato é que não se pode falar do surgimento da autodenominada Terceira
Força em Psicologia sem atribuir o papel principal a Abraham Maslow, autor de
obras clássicas como Motivation and Personality (1963) e Toward a Psychology of
Being (1968).
De Carvalho (1990) nos relata que no fim dos anos 40, Maslow era reconhecido
como um talentoso psicólogo experimental, mas que devido a seus objetos de
pesquisa nãoconvencionais começava a ser marginalizado pela comunidade
acadêmica, tendo por exemplo dificuldades de publicar seus trabalhos no jornal da
American Psychological Association (APA).
Maslow estava acompanhado nessa discriminação por mais algumas pessoas que se
batiam contra o establishment behaviorista. Então começou a compilar uma lista de
correspondência com essas pessoas que em 1954 atingia 125 nomes. O objetivo
dessa rede de correspondência era a troca de trabalhos mimeografados entre eles,
de modo a divulgar entre si seus trabalhos. Maslow (1968) batizou posteriormente
sua própria lista de correspondência de Rede Eupsiquiana. Eis o que ele fala sobre
esta:
No começo dos anos 60, com a ajuda de Anthony Sutich, Maslow vai transformar
essa lista de correspondência na lista dos primeiros assinantes do Journal of
Humanistic Psychology (JHP), e poucos anos depois, na lista dos membros
fundadores da American Association for Humanistic Psychology (AAHP). Formando
um conselho editorial que tinha como membros, além de Abraham Maslow, Kurt
Goldstein, Rollo May, Lewis Mumford, Erich Fromm, Andras Angyal e Clark
Moustakas; com Sutich como editor, o primeiro número do JHP saiu na primavera
de 1961. Logo se concluiu que os assinantes daquele jornal precisavam de uma
associação própria, a AAHP, que com James Bugental como presidente nasceu na
Filadélfia no verão de 1963, num encontro que teve 75 participantes.
O encontro seguinte da AAHP em setembro de 1964 já se realizou com cerca de 200
participantes, até que a emergência da Psicologia Humanista no cenário da ciência
psicológica se concretizou com uma conferência realizada em novembro do mesmo
ano, na cidade de Old Saybrook, Connecticut. Participaram dessa conferência os
nomes mais conhecidos entre os rebeldes contra o establishment: Maslow, Allport,
Bugental, Carl Rogers, May, Moustakas, Murphy e Murray entre outros.
Até essa conferência, a AAHP era pouco mais que um grupo de protesto, dividido
como afirma Bugental (1963) em duas posições distintas. Um queria definir a
Psicologia Humanista somente em termos do que ela não é. Outro reivindicava uma
declaração de princípios com definições programáticas propositivas. A primeira
declaração da AAHP foi uma tentativa de conciliação entre os dois grupos,
adotandose o artigo de Bugental (1963) Humanistic Psychology: A New
Breakthrough como declaração da própria associação. Nele encontramos cinco
postulados: (a) uma pessoa é mais que a soma de suas partes; (b) Nós somos
afetados por nossas relações com outras pessoas; (c) O ser humano é consciente;
(d) O ser humano possui livrearbítrio; (e) O ser humano tem intencionalidade.
Uma questão que não pode deixar de ser abordada neste breve histórico do
surgimento da Psicologia Humanista, é a da sua relação com o Existencialismo. De
Carvalho (1990) aponta para a inadequação de se ver a Psicologia Humanista como
uma importação para os Estados Unidos do Existencialismo europeu. Segundo ele,
os principais proponentes da Psicologia Humanista tomaram contato com o
Existencialismo somente no final dos anos 50, quando seus pensamentos já estavam
formados. Talvez isso possa ser questionado, uma vez que através das obras The
Meaning of Anxiety (1950) e Man's Search for Himself (1953), Rollo May, um dos
principais nomes do movimento, tenha introduzido as idéias de Sören Kierkegaard e
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Mas a crítica principal dos psicólogos humanistas como um todo ao Existencialismo,
se dirige a Sartre e sua proposição de que não existe qualquer essência ou
realidade no conceito de natureza humana, resultado do postulado de que no ser
humano a existência precede a essência. Os psicólogos humanistas acreditam que
há uma essência comum à espécie humana, e em geral também crêem que essa
essência está alicerçada numa base biológica.
Outro aspecto desta questão que merece citação aqui, é o da difusão da Logoterapia
(ou Análise Existencial) de Viktor Frankl no mesmo período do surgimento da
Psicologia Humanista. Em Fundamentos antropológicos da psicoterapia (1978) e Em
busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração (1991) (obra clássica
com muitas diferentes edições a partir de sua publicação logo após o término da
segunda guerra) entre outros trabalhos, Frankl expressa posições muito
semelhantes em termos de imagem de homem e de críticas à Psicanálise e ao
Behaviorismo. Progressivamente, Frankl e os Humanistas se esforçaram por aparar
as arestas de suas posições e se aproximarem teoricamente. Esses esforços
surtiram muitos efeitos, de modo que, no fim de sua vida, década de noventa,
Frankl fazia parte do conselho editorial do órgão mais tradicional do movimento, o
JHP, e se tornou conhecido como um dos principais nomes do que já vinha sendo
generalizadamente denominado psicoterapia existencialhumanista.
O grande problema da Psicologia Humanista ainda hoje permanece sendo sua
aparente vocação para a indefinição em relação à Psicologia científica, além de sua
confusão conceitual. Fazendo piada sobre este último aspecto, o behaviorista
Michael Wertheimer (1978) nos diz que se pedirmos a dois humanistas para definir
o que é a Psicologia Humanista, obteremos pelo menos três definições mutuamente
excludentes. Joseph Rychlak é o maior pesquisador e formulador da Psicologia
Humanista contemporânea. Em Psychology of Rigorous Humanism (1988), ele faz
uma tentativa de trazer a Psicologia Humanista para os moldes da Psicologia
científica acadêmica, atacando a tradição lockeana dentro da Psicologia e
contrapondoa a uma visão kantiana da mesma, onde se reivindica o uso da
teleologia na descrição do comportamento humano. Mas como é possível conciliar
uma investigação teleológica com o método científico experimental?
Pressupostos filosóficos da ciência moderna
A ciência é o único meio que dispomos para enfiar
a verdade goela abaixo dos relutantes. Somente a
ciência pode superar as diferenças
caracteriológicas no ser e no crer. Somente a
ciência pode progredir.(p.18)
Essa ciência que permitiria "enfiar a verdade goela abaixo dos relutantes" é para
ele a que permite ao menos uma aproximação do conhecimento universalmente
válido e empiricamente comprovável. É aquele modo de obtenção de conhecimento
que aspira a formular, mediante linguagens rigorosas e apropriadas (e sempre que
possível matemáticas), leis universais que expliquem, ainda que
probabilisticamente, fenômenos da realidade objetiva. Este ideal de conhecimento
descrito acima pressupõe algumas crenças sobre o objeto do conhecimento e sobre
nossa capacidade de conhecer. Estabelecemse aqui cinco, que para o tipo de busca
delimitado acima, são irredutíveis e necessárias. Antes porém, quero aqui deixar
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claro que o objetivo deste trabalho não é a discussão do conceito de ciência
moderna, mas simplesmente a avaliação do quanto a abordagem humanista da
psicologia adere a esta visão tradicional de ciência, que continua hoje
majoritariamente aceita em disciplinas como a Física ou a Biologia.
Voltando a questão das crenças que estão na base da ciência moderna, comecemos
pela primeira, que é a crença de que o objeto de investigação existe
independentemente da mente do observador. A isto chamaremos Realismo
Ontológico. A segunda destas é a crença na estabilidade, pelo menos em alguns de
seus aspectos, do objeto que se estuda, a isto chamaremos Regularidade do Objeto;
a terceira é a crença de que através do método adequado, podemos vir a conhecer
algo sobre o objeto, a isto chamaremos Otimismo Epistemológico; a quarta é a
assunção das leis básicas da lógica clássica na formulação de argumentos válidos,
os Pressupostos Lógicos, e, por último e tão fundamental quanto, a crença de que
podemos representar adequada e estavelmente o mundo através da linguagem, a
isto chamaremos aqui, Representacionismo.
È preciso destacar aqui o segundo dos pressupostos citados acima, avaliandoo um
pouco mais cuidadosamente. Admitimos que o objeto tem que existir na realidade
objetiva, de forma independente de nossas crenças e vontade, pois caso contrário
qualquer investigação deste seria desprovida de sentido. Mas sua existência não
basta para que ele possa ser estudado pela ciência moderna. Uma vez que
admitamos como explicações científicas formulações de hipóteses causais,
precisamos necessariamente assumir que o objeto que está sendo contemplado com
estas hipóteses, em ao menos algum de seus aspectos, esteja submetido a leis. A
atividade científica se caracteriza, em suma, pela busca racional da descoberta das
leis que governam um objeto particular.
A crença na regularidade do objeto está vinculada por sua vez ao determinismo e
ao naturalismo, que estão na base da ciência moderna desde Galileu Galilei. O
determinismo está usualmente identificado com o determinismo laplaceano, teoria
que defende que nada há no universo que não seja em tese rigorosamente
previsível em termos das leis básicas da Física. No entanto, é necessário ressaltar
que o determinismo laplaceano ou hard determinism (Robinson, 1985a) não é um
pressuposto necessário da atividade científica moderna. O que é necessário
logicamente para a ciência moderna é somente o pressuposto de que no mínimo em
algum de seus aspectos o objeto investigado esteja submetido a leis. Já o
naturalismo é a crença num universo que se reduz à natureza, governado por leis
intemporais, fora do jugo de forças sobrenaturais, da magia, dos deuses, do acaso
ou do caos. É também uma crença profunda de que as formas matemáticas
governam o mundo, de que a natureza é estável e governada por leis matemáticas,
e portanto, passíveis de descoberta. Para o naturalismo, a natureza fala a
linguagem da matemática, e portanto só pode ser conhecida através dessa
linguagem, ou seja, de questões que lhe são corretamente colocadas através do
método da experimentação, a aplicação à experiência das leis da medida e da
interpretação matemática.
Assim, este é o pano de fundo em cima do qual de delineará o dilema que é o
objeto deste artigo. A ciência moderna pressupõe o princípio da regularidade do
objeto, tanto quanto o de sua possível quantificação. Mas, o objeto definido pelos
humanistas como objeto da Psicologia obedece estas características?
A imagem humanista do objeto da Psicologia
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É importante esclarecer que o segundo postulado defende implicitamente que o ser
humano não é um ser absolutamente condicionado pelos fatores biológicos,
psicológicos e sociais que influenciam sua constituição. Já o primeiro, garante um
domínio de investigação no qual em tese poderiam ser estabelecidas leis naturais.
Mas como conciliar num corpo de teorias científicas os efeitos resultantes do
segundo postulado sobre o comportamento com as leis implícitas no primeiro e
terceiro? Como predizer um comportamento autoorientado?
Sob o enfoque humanista, o ser humano aparece não como uma resultante de uma
série de coisas, mas como, fundamentalmente, o iniciante de uma série de coisas.
O Homem só aparece para o humanismo na questão do sentido, não na questão da
causa explicativa. O enfoque explicativo se refere ao Homem como resultado, como
passado. Não se refere ao Homem presente, desafiado por questões de sentido.
Aqui temos a nova formulação de um velho conflito em Psicologia, e este é o
conflito apontado por muitos autores, dentre eles Gordon Allport (1975), entre as
tradições lockeana e leibniziana no pensamento psicológico, ou Joseph Rychlak
(1975), para quem somente o termo leibniziana é substituído pelo termo kantiana.
Como defende Allport (1955/1975), para a tradição lockeana o Homem é
considerado um ser passivo, um receptáculo de impressões sensoriais que irá
constituir seu intelecto. Esta é a teoria da white paper de Locke, que faz seu o
axioma aristotélico nihil est in intelectu quod prius non fuerit in sensu (nada há no
intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos). Assim o Homem seria um
ser passivo atuando e se constituindo de acordo com os estímulos recebidos, sendo
por eles portanto, governado.
Leibniz iria ironicamente, no combate aberto a essa visão de Homem, completar
essa sentença com o acréscimo nisi intellectus ipse (a não ser o próprio intelecto),
ou seja, no mínimo, antes daquilo que passou pelos sentidos, está na mente a
própria capacidade de assimilar e relacionar o material que é fornecido por estes,
capacidade essa que não pode ser dada pelos mesmos. Isto pode parecer óbvio,
mas até hoje é motivo de disputa para muitos psicólogos. Partindo de sua
concepção de mônada, Leibniz qualifica o ser humano como livre, ativo e orientado
propositivamente. O ser humano é um foco de atividade do universo, e não um
mero objeto sofrendo a influência pura e simples das leis físicas.
Assim, o enfoque humanista rompe com a tradição mecanicistanewtoniana e cerra
fileiras ao lado da tradição leibniziana da Psicologia (e de universo) e considera o
ser humano como autoconsciente, autoorientado e criativo, em suma, possuidor de
livrearbítrio. Como afirma De Carvalho (1990), a respeito da visão da Psicologia
Humanista sobre a natureza do ser humano, ela se caracteriza pela visão da pessoa
como beingintheprocessofbecoming, ou seja, como ser em processo de tornar
se. A pessoa em seu pleno funcionamento é proativa, autônoma, orientada por
escolhas, adaptável e mutável, em suma, é um ser num processo de contínua
transformação. O ser humano para os humanistas é um organismo único, com a
habilidade para direcionar, escolher, e alterar os motivos que guiam o projeto de
seu curso de vida.
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O dilema da Psicologia Humanista
Temos aqui o problema central do posicionamento da Psicologia Humanista como
ciência, uma vez que o princípio da regularidade do objeto, de pelo menos algumas
de suas características, é pressuposto fundamental para a ciência moderna. Ou
seja, a atividade científica não pode prescindir daquilo que justamente a
caracteriza: a descoberta de funções na natureza, de relações estáveis de causa e
efeito ou sistemas retroalimentativos estáveis. Uma vez que um ser humano livre
e criativo não permitiria o estabelecimento de tais relações, como fica a Psicologia
em relação à ciência moderna?
Tal é o estatuto ontológico do objeto da Psicologia segundo os humanistas. Partindo
disto, os humanistas propõe que em última análise o sentido da experiência humana
deva ser o verdadeiro objeto de estudo da Psicologia. Eles propõem que o objetivo
final ideal da Psicologia Humanista é uma completa descrição do que significa estar
vivo como ser humano e da variedade de experiências que lhe são possíveis. O
problema é que tal tipo de objeto não só é ilimitado, como pouco claro e também
inquantificável. Mas o que os humanistas argumentam é que as alternativas de
abordagens, tanto do Behaviorismo quanto da Psicanálise, apresentam, como disse
Maslow (1963), uma Psicologia mutilada, inumana e estéril, cujos temas de
pesquisa têm pouco ou nenhum significado para o ser humano.
Os humanistas exigem que os temas de pesquisa da Psicologia não sejam
escolhidos por sua adequação ao método experimental, e sim por sua relevância
para o ser humano e o conhecimento psicológico. Desta forma todos os aspectos da
experiência singularmente humana se tornam temas de pesquisa para o psicólogo
humanista. Entre eles podemos destacar o amor, ódio, medo, angústia, esperança,
felicidade, humor, amizade, altruísmo, sentido da vida, responsabilidade, o morrer,
criatividade, sentimento estético, sonhos, empatia, metas, meditação, experiências
paranormais, experiências místicas, experiências culminantes, valores e sentimento
moral. A maioria destes temas de pesquisa não se encontra de forma alguma nos
compêndios tradicionais de Psicologia, porque não são passíveis de definição
operacional, quantificação precisa e manipulação laboratorial, ou ainda muitas das
vezes, sequer passíveis de reprodução.
Aqui começamos a entrar nas conseqüências epistemológicas da posição ontológica
da Psicologia Humanista. Temos diante de nós duas questões. A primeira é a da
dificuldade de quantificação do objeto da Psicologia. O comportamento humano,
objeto de estudo do Behaviorismo, já apresenta muitas dificuldades de
quantificação. O objeto de estudo da Psicologia Humanista, sendo os processos e
experiências distintamente humanos, apresenta dificuldades maiores ainda. Como já
foi exposto, a ciência moderna, à qual a Psicologia Humanista pretende estar
aderida, depende em alguma medida da quantificação dos fenômenos que estuda.
Mas o objeto da Psicologia Humanista (o significado da experiência humana), não é
passível de quantificação, ele somente possui aspectos qualitativos. Por isso, os
humanistas respondem não à pergunta de se será realmente possível que algum dia
o objeto de estudo da Psicologia vá se prestar à quantificação e matematização.
A segunda dessas questões é acerca da complexidade do objeto de estudo da
Psicologia Humanista. De qualquer ângulo que se analise, o objeto de estudo da
Psicologia é mais complexo que os objetos de outras ciências. Se partirmos de um
ponto de vista materialista, reducionista, chegaríamos à conclusão que é preciso ter
um conhecimento profundo de química para entender a ação dos
neurotransmissores, ação cuja compreensão por sua vez, é necessária para se
compreender o funcionamento neural, o que, por sua vez, é necessário para se
entender o altamente complexo funcionamento cerebral, que por último seria a
razão última do comportamento humano. A maneira pela qual podemos avaliar a
complexidade de uma ciência, é através do número de variáveis intervenientes que
atuam na determinação de alguma conseqüência sobre o objeto de seu estudo. Se
ao pensarmos de uma forma reducionista já podemos ter uma idéia do nível de
complexidade do objeto da Psicologia, que dirá se adotarmos uma perspectiva
humanista, para a qual o ser humano é livre e proativo, experimenta a emergência
de processos criativos e questões de sentido. Tal objeto, parece nos conduzir à
impossibilidade de investigação científica.
Em vista de todas essas características admitidas no objeto de estudo, uma solução
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escolhida por muitos humanistas foi a rejeição ao método experimental. Wertz
(1998) por exemplo, chega a afirmar que a Psicologia Humanista só pode
denominarse científica através do surgimento da Fenomenologia de Husserl, que
procurou reformular o significado do conceito de ciência para a Psicologia. Porém, a
apropriação da filosofia de Husserl pela Psicologia Humanista é na maior parte do
tempo superficial e confusa, e parece indicar que esta abordagem não compreende
o sentido e o lugar da Fenomenologia como teoria do conhecimento fundante, que
antecede a própria Filosofia da Ciência e não tem nada a oferecer diretamente a
uma abordagem empírica do fenômeno psicológico.
No entanto, a declaração transcrita acima de Wertz (1998) sugere mais uma vez o
dilema humanista, uma vez que os principais nomes do movimento como Maslow ou
Rychlak defendem firmemente a manutenção do método experimental como o teste
de hipóteses por excelência da Psicologia. O dilema é: deve a Psicologia Humanista
alterar o significado do termo ciência para adequar o seu objeto a ele, ou limitar o
escopo de suas investigações para adequálas a ciência moderna? Cabe aqui
lembrar a crítica efetuada por um importante representante do humanismo na
Psicologia, Amadeo Giorgi (1978), à Psicologia Moderna representada então pelo
Behaviorismo. Cabe no entanto aqui o esclarecimento de que Giorgi nunca
pertenceu à tradição experimental da Psicologia Humanista norte americana. Em
obra na qual tenta (e não consegue) estabelecer o estatuto epistemológico da
Psicologia como Ciência Humana e que tem como subtítulo, Uma abordagem de
base fenomenológica, Giorgi (1985) considera que o psicológico é irredutível ao
objetivo. A pesquisa objetiva (fundamentos fisiológicos, lógicos e sociais do
psicológico) é necessária mas não suficiente para compreender o psicológico. Este é
“paraobjetivo” (1985, p.55), no entanto, legitima a investigação objetiva de suas
relações com o físico, o lógico e o social. Para Giorgi o psicológico deve ser
entendido em sua relação com o objetivo, não com especificações objetivas, pois é
irredutível. Não é surpresa no entanto que Giorgi não dê indicações epistemológicas
e metodológicas claras de como isto poderia ser feito (de fato, não especifica
sequer sua posição ontológica). Ele pergunta em sua obra, criticando o caráter
dogmático que a Psicologia como ciência positiva assumiu:
Que concepção epistemológica então?
O principal foco da dispersão teórica na Psicologia é o problema da natureza do
objeto de estudo, o modelo antropológico a ser adotado. Essa questão é a da
relativa autonomia ou não do ser humano face aos condicionamentos biológicos,
psicológicos e sociais a que ele está exposto. É, portanto, a já citada questão do
velho conflito apontado por Allport (1975), entre as tradições lockeana e leibniziana,
ou ainda por Rychlak (1988) entre as tradições lockeana e kantiana no pensamento
psicológico. A adoção de uma posição alinhada a uma dessas tradições irá,
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evidentemente, condicionar o modelo de todas as pesquisas feitas por quem a adote
em Psicologia.
De modo geral, o tipo de pesquisa pode então ser concebido de dois modos básicos:
ela pode ser uma pesquisa de caráter nomotético ou de caráter idiográfico. A
pesquisa psicológica nomotética visa à obtenção de teorias e hipóteses de aplicação
geral. Esta pretensão se sustenta na crença ontológica da regularidade do objeto, ou
seja, que existam relações funcionais estáveis entre variáveis antecedentes e
variáveis conseqüentes. Já a pesquisa idiográfica parte da posição ontológica que
assume a relativa autonomia do objeto da Psicologia, o ser humano, frente aos
condicionamentos que lhe são impostos. Esta orientação de pesquisa pretende que o
objetivo da investigação psicológica seja a busca de compreensão do significado da
experiência humana, e não a busca de teorias e hipóteses de aplicação
generalizada.
Em suma, a perspectiva nomotética busca explicar as causas do comportamento,
enquanto a perspectiva idiográfica busca compreender os motivos de sua
expressão. Tratase de uma escolha entre explicar e compreender. Esta distinção de
tipos de pesquisa psicológica foi formulada pela primeira vez por Wilhelm Dilthey
(1945), que julga que as diferenças entre o objeto de pesquisa das ciências
humanas e o das ciências físicas pedem diferentes métodos de investigação e
orientação. Com essas diferenças ele não estava querendo dizer unicamente que o
ser humano é racional e livre e que entidades físicas não são. Ele estava querendo
antes de qualquer coisa expor o fato de que fenômenos físicos são externos à
experiência do investigador e independentes uns dos outros; enquanto os
fenômenos psicológicos são interiores à experiência do cientista e
inextrincavelmente interrelacionados uns aos outros. É antes de tudo por causa
dessa inextrincável interrelação que Dilthey afirma que o fenômeno humano
precisa ser descrito e entendido em suas interconexões plenas de sentido. Assim,
ele parte dessa distinção entre os objetos de pesquisa das ciências físicas e das
ciências humanas para explicar a origem das duas orientações básicas de pesquisa
na Psicologia, as quais ele denomina explicativa e compreensiva.
Assim, explicativa é a abordagem do fenômeno humano pela ciência moderna, com
seus métodos nomotéticos de investigação. Dilthey (1945) considera que é um erro
fundamental adotar essa abordagem primariamente, quando não exclusivamente,
na Psicologia, uma vez que as experiências vividas são dadas em sua unidade,
como um todo significativo. Assim, os métodos através dos quais estudamos a vida
psicológica, a história e a sociedade devem ser diferentes daqueles que usamos
para estudar a natureza. Uma outra dificuldade que o humanista Wertz (1998)
baseandose em Dilthey vê na abordagem explicativa em ciências humanas é que
sempre se podem elaborar diferentes hipóteses para explicar os dados empíricos
colhidos. Além disso, tudo o que se pode estabelecer com eles tem validade
probabilística, e deduzir deles qualquer coisa em relação a uma pessoa real é uma
ação baseada numa indução que não tem sustentação lógica.
Uma última observação necessária é a lembrança de que a estrutura de uma
explicação (dedutivonomológica) leva à predição. Se soubermos as leis da natureza
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e pudermos controlar as condições do experimento, podemos prever (deduzir) com
certeza seu resultado. Logo, se o resultado não sai como o previsto, sabemos que
necessariamente ou alguma das leis consideradas é falsa ou alguma das condições
necessárias não foram controladas. É por isso que esta forma de explicação é o
ideal moderno de explicação científica.
Assim o evento psicológico não poderia ser explicado, somente compreendido, pois
teria um caráter de singularidade e sentido que não é captado por qualquer tipo de
tentativa explicativa nomológicodedutiva. Além de seguir a linha de Brentano
denunciando o caráter excessivamente especulativo do associacionismo, que seria
baseado em um conjunto muito extenso de hipóteses especulativas sem qualquer
suporte empírico ou experimental (Penna, 1991), Dilthey enfatiza sua crítica do
caráter mutilador da abordagem explicativa, que perde o que os fenômenos
humanos têm de específico: seu significado. Dilthey define significado como sendo o
modo peculiar de relação que, dentro da vida, guardam as partes com o todo.
Penna (1991) expõe a diferença entre a abordagem explicativa e a abordagem
compreensiva tal qual Dilthey a vê, através de uma metáfora sobre um quadro.
Explicativamente, podemos abordar o fenômeno de um quadro acumulando dados
sobre o seu peso, dimensões, material de que são feitas a tela e a moldura, tipo de
tintas utilizadas, etc. Nada disso no entanto nos revelará sua verdadeira razão de
ser, seu sentido. Para termos essa revelação, precisamos adotar uma atitude
compreensiva. Todos os fenômenos psicológicos e humanos portanto se
caracterizariam por suas relações de sentido, e não físicocausais, portanto, teriam
que ser abordados por um método diferente.
Portanto, para Dilthey (1945) a hermenêutica deveria ser o método de investigação
das ciências humanas (ciências do espírito). Originalmente um método surgido para
a interpretação de textos canônicos (a Bíblia), a hermenêutica foi sendo adotada em
Filologia, Direito, História até chegar a sua forma contemporânea que surge da obra
do filósofo HansGeorg Gadamer. Ela consiste numa tentativa de transformar a
hermenêutica, palavra que designa qualquer técnica de interpretação, num método
geral de interpretação. Para a hermenêutica o significado de qualquer produção
cultural humana (inclusive suas ações) nunca pode ser entendido sem considerar a
rede de significações relacionadas no seu ambiente cultural.
Para que a abordagem compreensiva, seja hermenêutica ou de qualquer outra
natureza, possa ser considerada científica, teríamos que reformular o significado
deste conceito, abandonando o característico da ciência moderna. Isso se dá
porque, segundo este, a atividade científica se caracteriza pela descoberta de
funções na natureza que revelam poder preditivo, e uma abordagem compreensiva
não tem qualquer semelhança com este ideal de conhecimento, é retrospectiva e
interpretativa.
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entre uma explicação causal, que tradicionalmente nasce de um ponto de vista
exterior à pessoa que é o sujeito do comportamento, e a compreensão
interpretativa, tradicionalmente oriunda de um ponto de vista interno à perspectiva
da pessoa, plena de sentimentos, significados e valores.
Que métodos então?
A influência de Dilthey, presente mesmo nos principais formuladores do movimento,
como Maslow e Rychlak, contrasta com a determinação destes em se proclamarem
aderidos à ciência moderna. Em virtude desta indefinição epistemológica básica
sobre a natureza de suas investigações psicológicas, proliferaram na Psicologia
Humanista em seus vinte primeiros anos de história os mais diversos métodos de
pesquisa. James Barrell, Chris Aanstoos, Anne Richards e Mike Arons (1987) em seu
artigo Human Science Research Methods, que inventaria a pesquisa humanista até a
metade da década de oitenta, consideraram a maioria das pesquisas em Psicologia
Humanista guiada por quarto métodos: o experimental, o fenomenológico, o
hermenêutico e o que denominam psicológico perceptual, oriundo da prática clínica
individual, ou seja, uma variação do método clínico.
Embora sejam métodos de pesquisa muito diferentes, todos na pesquisa humanista
têm três características em comum, que não se encontram nos métodos tradicionais
de pesquisa psicológica. A primeira é que todos, mesmo o método “experimental”,
orientam seus esforços no sentido de uma abordagem compreensiva para a
pesquisa psicológica, focalizandoa na experiência humana plena de significado. A
segunda dessas características, é que o campo onde se efetuam suas pesquisas é o
da vida no contexto real do mundo e sociedade. A terceira, é a busca pelo
esclarecimento dos sentidos e significados vividos pela perspectiva do próprio
sujeito da experiência humana. Estes tipos de utilização foram a resposta
metodológica da Psicologia Humanista a uma ciência psicológica que, segundo ela,
objetificava e desumanizava o homem para poder estudálo.
James Barrell era na década de oitenta uma das maiores autoridades em método
experimental aplicado à Psicologia Humanista. Já havia supostamente o aplicado,
em conjunto com uma série de colaboradores, no estudo de diversos problemas
humanos tais como stress, dor, ciúmes, percepção temporal, ansiedade, motivação
e emoções humanas. Barrell & Price (1980) nos dizem que o objetivo do método
experimental é a clareza das conclusões, e embora comece com a experiência
direta, conclui com uma compreensão dos fatores que formam a estrutura de uma
determinada experiência. A ênfase dessa abordagem humanista sobre o método
experimental seria sobre a autoconsciência. Ainda segundo ele, como expõe em
outro artigo seu (Barrell e outros, 1987, p.427), essa abordagem consiste em quatro
estágios: (1) relatar uma experiência imediata ou revivida, (2) escrevêla em
primeira pessoa em tempo verbal presente, (3) fazer um certo número desses
relatos para um determinado tipo de experiência, e (4) Perguntar para si mesmo o
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que há de comum entre estas descrições.
A meta desta suposta pesquisa experimental é clarificar a estrutura essencial de um
determinado sentimento, para que se descubra como a pessoa cria essa experiência
sem ter consciência desse processo. Uma vez que se entenda como esse tipo de
sentimento é criado, o espectro de escolhas conscientes da pessoa na vida é
expandido, aumentando sua liberdade relativa a tais experiências. Como afirma
Barrell (1987), a abordagem experimental em Psicologia Humanista aponta para a
importância do retorno às nossas próprias experiências diretas e sentidos vividos. A
questão experimental inclui portanto ambos o quê e o como da experiência; tanto o
significado quanto o processo da experiência.
Não é preciso diante destas observações de Barrell continuar com uma descrição
desta estranha utilização do que ele chama de método experimental. Elas são o
suficiente para evidenciar porque este procedimento não corresponde ao que
psicólogos experimentais chamariam de experimento, ou que cientistas externos à
Psicologia chamariam de ciência moderna. A confusão de objetivos é evidente (de
leis para compreensão) e é compartilhada por grande parte das supostas pesquisas
“experimentais” humanistas dos primeiros anos do movimento. Por conta deste tipo
de ingênua distorção do método experimental, assim como da mais coerente (mas
contrária ao espírito original da Psicologia Humanista) multiplicação de métodos
idiográficos de investigação na abordagem, Joseph Rychlak procurou uma
refundação da Psicologia Humanista, iniciada por seu artigo de 1975 Psychological
Science as a Humanist Views It, e levada a termo em suas obras The Psychology of
Rigorous Humanism, de 1988, e Logical Learning Theory, de 1994.
Psicologia Humanista contemporânea: Rychlak e a forma atual do dilema
1) A natureza da Teoria é diferente da natureza do Método. Obter a primeira do
segundo é impossível em princípio. Este princípio se refere à idéia popperiana de
que nenhum método nos proporciona uma teoria, ele apenas a coloca em teste.
3) Existem N explicações possíveis para cada padrão de fatos observados,
experimentalmente ou de qualquer outra forma. Ou seja, mais uma crença
popperiana de que as teorias explicativas possíveis para qualquer lei científica são
sempre infinitas.
4) No campo da teoria explicativa, as causas formais e finais devem ser
readmitidas em seu pleno direito. Ou seja, para a Psicologia Humanista o conceito
de agency, ou do sujeito proativo e orientado a metas, é central e sem ele nenhuma
Psicologia digna do nome pode ser construída.
Assim, como afirma Rychlak (1975) em seu clássico artigo Psychological Science As
a Humanist Views It, o humanismo é uma descrição teórica do comportamento em
termos de causas formais e causas finais, mais do que em termos de causas
materiais e causas eficientes, como no Behaviorismo e na Psicologia Fisiológica.
Quanto ao Cognitivismo, acredita Rychlak (1988) que seu grande mérito foi ter
reintroduzido o campo das causas formais na explicação psicológica científica, mas
que ele falharia como humanismo por não aceitar, da mesma forma como toda a
Psicologia de matriz lockeana não o faz, as causas finais como legítimas fontes de
explicação científica.
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Uma vez que Rychlak (1988) identifica o Cognitivismo com a teoria mediacional que
o antecedeu e com algumas teses da inteligência artificial, sua conclusão é que esta
abordagem adere à mesma matriz conceitual lockeana do Behaviorismo. As teorias
mediacionais falham em oferecer um genuíno resgate da causa final no domínio da
explicação psicológica por três motivos. Primeiro, porque os mediadores (sinais,
codificadores, regras, modelos) são inputs e portanto foram causados
eficientemente no organismo; sendo assim (segundo) uma meta genuinamente
produzida pelo próprio organismo de forma independente da causação ambiental e
genética não tem lugar (a liberdade é um mito); então (terceiro), isto resulta num
meio exclusivamente demonstrativo de descrever o curso dos comportamentos.
Para Rychlak portanto, o Cognitivismo é um Behaviorismo mediacional. Para uma
crítica a esta tese de Rychlak, remeto o leitor a artigo anterior (Castañon, 2007) em
que abordo o problema da adesão do Cognitivismo a teses filosoficamente
humanistas.
Rychlak (1988) acredita que o Cognitivismo afirma equivocadamente ter resolvido o
problema do comportamento humano orientado a metas, ou seja, próativo, e com
isso solucionado a questão teleológica em Psicologia. Está se referindo aqui à
famosa obra de Miller, Galanter e Pribram (1960), um dos marcos fundadores do
Cognitivismo: Plans and the Structure of Behavior. Para estes autores, podemos
definir um plano de maneira rigorosa como um processo hierárquico de seqüências
de operações a serem executadas por um organismo, da mesma forma como um
programa para um computador. Este nós conhecemos hoje como TOTE (test
operatetestexit), um modelo cibernético de autoregulação orientada a metas, ou
feedback. A diferença aqui para Rychlak é que temos um modelo formal para dar
conta do fenômeno da intencionalidade do comportamento, não uma legítima
aceitação da causa final. Temos causas formais e eficientes dando conta de uma
formulação aceitável de parte dos aspectos próativos do comportamento. Para os
autores cognitivistas citados, intenção é uma parte incompleta de um plano cuja
execução já tenha começado. Rychlak questiona esta visão da atividade finalista
humana, pois em sua visão esta deveria dar conta não da hierarquia de um plano
de ação, mas da própria definição dessa hierarquia e desse plano. Caso
remetêssemos a questão a planos e hierarquias maiores, estaríamos sempre
somente transferindo o problema da legítima causalidade final para mais atrás, até
termos que nos deparar com as metas e finalidades irredutíveis (por exemplo, o
plano de ir à faculdade, faz parte de uma meta mais elevada de terminar o
doutorado, que faz parte de um plano mais extenso de formação profissional, que
faz parte de uma meta mais básica de investigar profundamente certos problemas,
que por sua vez precisa ser explicada sempre por uma hierarquia superior de
metas).
Se um organismo está somente executando planos, então em qual sentido podemos
falar de explicação teleológica? Só podemos falar de teleologia quando formulamos
estes planos, comparamos planos diferentes e os escolhemos. A execução, assim
como a execução de um programa, pode ser pensada em termos de feedback e
causação eficiente, mas esta não é a questão para Rychlak (1988). Não teríamos
aqui qualquer revolução em relação à imagem mecanicista de homem herdada do
Behaviorismo. O comportamento continua a ser visto como explicado em termos de
causa eficiente (impulsos neuronais) guiada pela causa formal do padrão do plano
do programa (meta cognitiva). Mas onde está a verdadeira questão da pró
atividade, que é a escolha de planos e a decisão de executar o plano? Na imagem
de homem do Cognitivismo como a vê Rychlak, em nenhum lugar.
Para não continuar nesta que seria segundo ele uma lastimável situação, Rychlak
(1994) propõe para a Psicologia sua própria teoria. Em Logical Learning Theory
(LLT), a mais importante obra da Psicologia Humanista contemporânea, Rychlak
apresenta a forma final de sua LLT e o resultado acumulado de décadas de pesquisa
em seu suporte. Uma das alegações centrais da LLT é que o ser humano raciocina
de duas formas básicas: a demonstrativa, sem questionamento das premissas
assumidas, e a dialética, quando a indefinição entre premissas opostas e
comparação entre elas. Para Rychlak (1994), é o pensamento dialético, que lida
com as premissas que escolheremos para interpretar a realidade e as informações
que receberemos, que é a raiz da liberdade subjetiva humana. É ao raciocinar
dialeticamente que fazemos escolhas primevas sobre planos, metas e pressupostos.
Essa é a interpretação de Rychlak da Psicologia kantiana:
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Portanto, lembrando o conceito kantiano de dialética transcendental, Rychlak (1994)
defende que idéias podem ser formuladas numa esfera transcendente, assim sendo
capazes de rearranjar a realidade, ainda que em detrimento do sujeito por causa
das distorções resultantes. Uma vez que o noumeno é incognoscível, o que
recebemos dos sentidos é informação. Este input que nos vem através das
sensações não é somente ordenado pela formas cognitivas, mas pode
potencialmente ter seu significado alterado por ele.
Para não nos desviarmos do objetivo deste artigo, cabe aqui somente uma breve
conclusão sobre a visão que Rychlak apresenta do Cognitivismo e outra sobre a
forma que o dilema humanista toma em sua obra. Não é legítima a conceituação do
Cognitivismo como uma mera teoria mediacional, para isso, teríamos que identificá
lo totalmente com somente uma de suas correntes, o computacionalismo, que
advoga a tese da IA forte (Castañon, 2007). Quando o Cognitivismo trata metas e
propósitos como causas formais, em sua forma de crenças sobre a ordem
hierárquica de ações a serem efetuadas para a consecução de uma meta, o faz não
negando a ordem de causalidade final, mas negando que tal tipo de causalidade
possa ser abordada de uma forma científica com conseqüências preditivas. De fato,
é nisso que fracassa a LLT. Se é verdade que raciocinamos dialeticamente e
criativamente, também é verdade que neste campo, nenhuma predição
comportamental pode ser feita, e sem predição, não há ciência moderna. Assim, a
obra de Rychlak não oferece solução para este problema, e a nova forma que o
dilema humanista ganha em sua obra é a tentativa de agregar a causalidade
finalista à explicação psicológica, submetendo hipóteses sobre esta a experimentos.
O problema, é que podemos colocar em teste estes planos uma vez construídos,
mas não seu momento de criação e escolha. Assim, podemos investigar a
causalidade final do comportamento humano somente depois que está constituída
enquanto causa formal, enquanto meta e hierarquia de metas. Isto não significa a
negação da existência de uma fonte legítima de causalidade final. Significa a
constatação de que tal tipo de explicação não é compatível com a abordagem
nomotética da ciência moderna, não tendo como ser investigada por esta.
Conclusão
A alternativa oferecida por Rychlak (1994) para a resolução do dilema humanista é
de fato uma nãoalternativa. Ao querer reintroduzir o domínio da legítima
causalidade final na explicação científica, ele está mantendo a imagem humanista
de ser humano mas renunciando à ciência moderna. A explicação científica
nomotética só suporta causas materiais, eficientes e formais, e isto por uma razão
muito simples: só suposições a respeito destes tipos de causas são falsificáveis.
Caso fosse reintroduzida a causa final no domínio da explicação psicológica
científica, estaríamos renunciando a um dos critérios centrais da ciência moderna, a
falsificabilidade. Todos os comportamentos humanos seriam explicáveis em termos
finalistas, quaisquer que fossem, e como disse Popper (1975), aquilo que explica
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qualquer coisa, não prevê coisa nenhuma. Aquilo que não prevê nada não é
falsificável, e portanto não é científico. Como argumentou Popper (1975) sobre as
formas adlerianas e freudianas da Psicanálise, todos os comportamentos humanos
podem ser explicados retrospectivamente em termos de vontade de prazer ou
vontade de poder. Portanto, se qualquer comportamento possível e imaginável pode
ser explicado com base nestes tipos de finalidade, eles não tem finalidade
nenhuma: não prevêem nada e não informam nada sobre o mundo.
A adoção de uma concepção de método científico não deve estar orientada pelo
desejo de enquadrar como científico o método que utilizamos para pesquisar nosso
objeto de estudo. Ela deve estar orientada pela percepção de que esta abordagem
de método seria a mais adequada para embasar nossa busca por conhecimento
universal empiricamente falsificável. O conjunto do conhecimento humano não é só
composto pela ciência experimental, e qualquer uma de suas áreas tem seu valor
intrínseco e características insubstituíveis. Mas o fato é que há uma espécie de
conhecimento que o ser humano se acostumou a denominar ciência, a ciência
moderna, com suas características nomotéticas de universalidade e falsificabilidade.
Atribuir o termo ciência a outras formas de conhecimento humano não irá alterar o
fato de que há um conjunto de conhecimentos, dentro do espectro geral do
conhecimento humano, que possui essas características distintivas, e que continuará
a ser almejado em virtude de suas extremas capacidades preditivas e pragmáticas.
A Psicologia Humanista almejava esta forma de conhecimento, mas fracassou em
manter seu projeto de Psicologia dentro do projeto mais amplo da ciência moderna.
Quando nos submetemos à falsa opção oferecida pelo Positivismo, mesmo que
rejeitando a princípio a degradação da imagem de seu humano como a Psicologia
Humanista, entramos num beco sem saída. Ficar entre destruir a imagem de ser
humano para adaptála a ciência ou destruir a imagem da ciência para adaptála ao
ser humano, é um dilema que não tem solução. No primeiro caso ficamos com uma
imagem degradada da condição humana, e um objeto que não se assemelha ao que
é revelado em nossas próprias experiências subjetivas. No segundo caso, como
afirma o humanista Rychlak (2004), temos outra catástrofe: a Psicologia rejeita o
método científico e assim rejeita seu status científico, como também tudo o que o
método científico tem a oferecer para legislar sobre teorias rivais.
Não se trata aqui também da outra forma que este mesmo dilema ganha de setores
da Psicologia Humanista, que consiste em escolher ou mesmo em dividir a
Psicologia em uma ciência nomotética e uma ciência idiográfica. O sentido não é
questão da ciência, é questão da filosofia. A distinção de Dilthey entre ciências
naturais e humanas (Naturwissenschaften e Geisteswissenschaften), o contraste
metodológico de Max Weber entre explicação e compreensão, entre causas e
razões, separa não o campo entre dois tipos de ciência, mas sim o campo onde a
ciência pode atuar do campo que é domínio exclusivo da Filosofia. Como afirma
Robinson (1985b) a própria idéia de uma ciência do singular é um contrasenso.
Toda ciência só se estabelece com o estabelecimento de leis universais. Toda
ciência é nomotética. A investigação do individual pode se valer de técnicas
surgidas das ciências nomotéticas, mas ainda sim é sempre interpretativa e
filosófica. Diz Robinson (1985b) sobre como a Psicologia deve lidar com seus
aspectos idiográficos:
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Esta tese é em parte considerada pelo próprio Rychlak (1993), que não vê mais
como se pensar uma disciplina psicológica científica isolada da Filosofia. Ele propõe
para o campo a importação do princípio da complementaridade, de Niels Bohr. Para
ele, uma vez que o fenômeno psicológico é multicausado, não existe possibilidade
de reduzilo a uma única esfera de causalidade, a um único nível de explicação
(físico, biológico, lógico ou social):
Assim, creio que a tarefa que se impõe a todos aqueles psicólogos que não estão
dispostos a renunciar ao método científico e muito menos a uma imagem humanista
do ser humano é a criação de uma solução epistemológica para a
complementaridade destes níveis de análise, assim como para a abordagem
científica e a abordagem filosófica dos fenômenos psicológicos. Se há alguma
esperança de unidade futura para a Psicologia, ela está em conseguirmos definir
uma fronteira legítima entre estes dois tipos de investigação. Em um fenômeno
multicausado como o psicológico, sempre haverá disputas de interpretações quanto
ao nível determinante na causação do comportamento, portanto, a unidade da
Psicologia nunca poderá acontecer nas interpretações metafísicas de seus resultados
empíricos. Se a Psicologia um dia se tornar uma disciplina unificada, acredito que
sua unidade estará talvez somente no consenso em relação ao método que devemos
utilizar para investigar uma parte de seus problemas. Se um dia esta utopia se
realizasse, não seria mais necessário falar em uma Psicologia Humanista científica,
somente em uma Psicologia científica única, e uma das interpretações filosóficas
complementares desta: uma Psicologia Humanista filosófica.
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Nota sobre o autor
Gustavo Arja Castañon é graduado em Psicologia pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro – UERJ e em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ. É mestre em Psicologia Social pela UERJ e doutor em Psicologia pela UFRJ.
Atualmente ministra cursos nas graduações em Psicologia das universidades Estácio
de Sá e Católica de Petrópolis, e cursa o Mestrado em Lógica e Metafísica da UFRJ,
tendo se dedicado nos últimos dez anos a investigações de Epistemologia da
Psicologia. Endereço para contato: [email protected].
Data de recebimento: 12/06/2006
Data de aceite: 30/10/2007
Memorandum 12, abril/2007
Belo Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP
ISSN 16761669
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