Ebook Psicopatologia Da Infância e Adolescência

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Psicopatologia da Infância e Adolescência

O curso de Psicopatologia da Infância e da Adolescência oferece ao profissional conhecimento

Sobre Compreensão psicodinâmica, critérios diagnósticos e aspectos clínicos

Em relação ao Autismo, Esquizofrenia Infantil, síndrome de Rett, e retardo mental.

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Psicopatologia da Infância e da Adolescência

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. Autismo e Transtornos Invasivos do Desenvolvimento .................... 2

2. Transtorno de Aprendizagem ............................................................. 6

2.1 Transtornos específicos da aprendizagem..................................... 8

3. Transtornos invasivos do desenvolvimento não artísticos:


Síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e Transtornos
invasivos do desenvolvimento sem outra Especificação ........................... 14

3.1 Situações a serem abordadas ....................................................... 15

1.1 A organização da linha de cuidado A Rede de Cuidados à


Saúde da Pessoa com Deficiência, em fase inicial de construção no
Brasil,..................................................................................................................... 15

1.2 Os transtornos globais do desenvolvimento Os transtornos


invasivos............................................................................................................... 16

1.3 Diagnóstico ........................................................................................ 20

4.1 O que é retardo mental? ................................................................ 24

4.2 Quais são as causas do retardo mental? ..................................... 25

4.3 Quais são os sinais e sintomas do retardo mental? .................... 26

4.4 Como funciona o diagnostico do retardo mental? ................... 26

4.5 Como o médico trata o retardo mental? .................................... 27

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1. Autismo e Transtornos Invasivos do Desenvolvimento

Autismo e transtornos invasivos do desenvolvimento Autismo and


the pervasive developmental desordens O autismo e os transtornos
invasivos do desenvolvimento (TIDs), às vezes denominados transtornos
do espectro do autismo, referem-se a uma família de distúrbios da
socialização com início precoce e curso crônico, que possuem um
impacto variável em áreas múltiplas e nucleares do desenvolvimento,
desde o estabelecimento da subjetividade e das relações pessoais,
passando pela linguagem e comunicação, até o aprendizado e as
capacidades adaptativas. A manifestação paradigmática dos TIDs – o
autismo – é um transtorno de desenvolvimento com um modelo
complexo, no sentido de que qualquer tentativa de compreendê-lo
requer uma análise em muitos níveis diferentes, como do
comportamento à cognição, da neurobiologia à genética, e as
estreitas interações ao longo do tempo. Sessenta anos após as
descrições iniciais do autismo, sabemos que os TIDs são as condições
mais prevalentes e marcadamente genéticas entre todos os transtornos
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de desenvolvimento. O aumento exponencial na identificação dos


indivíduos com autismo na década passada renovou a urgência com
que os pesquisadores em todo o mundo estão se esforçando para
elucidar suas causas e desenvolver tratamentos mais eficazes. Este
suplemento fornece um resumo desse esforço, conduzindo-nos pelas
descrições das características clínicas e das classificações diagnósticas
dos TIDs, passando pelo que conhecemos sobre os mecanismos
neurobiológicos, neurofuncionais e genéticos, até os tratamentos
biomédicos, comportamentais e educacionais mais avançados. Com a
globalização da ciência e o fácil acesso aos parâmetros das melhores
práticas, os indivíduos com autismo devem receber o melhor que as
ciências médicas têm para oferecer onde quer que eles estejam, com
tratamentos validados empiricamente, em substituição às crenças que
não têm comprovação de apresentarem algum benefício às pessoas
com autismo e às suas famílias. Este suplemento reúne cientistas clínicos
do Brasil, dos Estados Unidos, da Holanda e da França. Por meio de suas
múltiplas pesquisas em colaboração, esses pesquisadores clínicos
combinam os estudos sistemáticos com seu comprometimento com
melhores práticas clínicas. Essa sinergia é crítica se queremos evitar vias
sem saída, práticas prejudiciais e discrepâncias ou isolamento
geográficos. O suplemento começa com uma visão geral sobre o
autismo e a síndrome de Asperge, o mais conhecido dos TIDs. Sabemos,
hoje, que essas condições são “primas” próximas nas perspectivas
comportamentais, neurobiológicas e genéticas. E elas apontam para
um vasto grupo heterogêneo de condições, com os indivíduos afetados
variando quanto à inteligência: desde comprometimento profundo à
faixa superdotada; alguns não falam, ao passo que outros são loquazes,
assoberbando os demais com monólogos intermináveis; alguns têm suas
vidas dominadas por maneirismos e rituais motores imutáveis, ao passo
que outros dedicam toda sua energia intelectual à busca exclusiva de
fatos e de informações sobre tópicos incomuns e altamente
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circunscritos. Esse continuo de acometimento não somente deu origem


ao termo transtornos do espectro do autismo, mas também fez com que
os pesquisadores clínicos se conscientizassem de que as Apresentação
S1 Rev Bras Psiquiatr. 2006; 28(Supl I): S1-2 nosologias categoriais têm
limitações e que temos que buscar abordagens dimensionais em nossos
estudos sobre o autismo. Em outros termos, quais são as dimensões que
geram esse espectro de condições? E quais são os fatores que
medeiam à expressão da síndrome e dos desfechos finais? As respostas
a essas perguntas ainda são equívocas, mas sabemos que os mais
prevalentes dos TIDs não são necessariamente os mais conhecidos – o
autismo e a síndrome de Asperge –, mas aqueles com as formas
residuais ou variantes pobremente definidas do autismo, hoje em dia
ainda abrangidas pelo termo transtorno invasivo do desenvolvimento –
sem outra especificação (TID-SOE). O segundo artigo neste suplemento
cobre esse tema, sua importância e as oportunidades em termos de
pesquisa que as manifestações variáveis de comprometimento social e
de comunicação com início precoce abrem para uma melhor ciência
da psicopatologia do desenvolvimento. É importante que saibamos que
os indivíduos com transtornos do espectro do autismo, que preenchem
ou não os critérios das síndromes mais bem definidas, requerem todos
eles serviços de apoio individualizados, intensivos e abrangentes. Além
disso, esse segundo artigo também apresenta o conhecimento atual
sobre as duas categorias restantes dos TIDs: a síndrome de Rett e o
transtorno desintegrativo da infância. Os dois artigos seguintes cobrem
as mais animadoras áreas de pesquisa atual sobre o autismo. Apesar de
que os mecanismos específicos que impactam o crescimento e a
organização cerebral e suas interrupções ainda sejam desconhecidos,
as duas últimas décadas testemunharam uma transformação radical na
área, tendo emergido a partir de centenas de estudos uma estratégia
de pesquisa multifacetada e com grande sinergia. Em primeiro lugar,
sabemos que a morfometria cerebral está alterada, mas que isso ocorre
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tão precocemente na vida que levanta hipóteses sobre interrupções no


crescimento e na conectividade, com eventos de desenvolvimento em
cascata que levam a sistemas cerebrais atípicos, que são os mais
incomuns, se considerados como circuitos e não como estruturas
isoladas.

Em segundo lugar, a pesquisa isolou o substrato neural da


socialização, desde a percepção das faces e vozes, do olhar e do
movimento social, chegando à capacidade de atribuir intenções aos
demais e de ler pensamentos. Todos eles são “endofenótipos”
candidatos, ou fenótipos mediadores que estão potencialmente no
coração dos mecanismos de herdabilidade envolvidos no autismo.
Infelizmente, os modelos de transmissão são ainda desconhecidos. E,
mesmo assim, a pesquisa genética avançou a um ritmo alucinante: a
pesquisa sobre as famílias afetadas definiu o “fenótipo de autismo no
sentido amplo”, abrangendo o autismo além dos indivíduos com um

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diagnóstico de TID; as abordagens genéticas moleculares isolaram as


regiões de suscetibilidade, mesmo que a reprodutibilidade dos achados
ainda seja limitada; e as abordagens citogenéticas isolaram genes
específicos envolvidos em algumas formas de TIDs. Atualmente,
estamos longe de sermos capazes de aconselhar de forma apropriada
as famílias ou de realizar o rastreamento genético mais além do nosso
conhecimento sobre os índices de recorrência. Mais ainda, apesar das
complexidades esperadas em termos de interações gene a gene e
gene ambiente, não podemos senão esperar que sejam revelados
grandes achados na próxima década. Mas é improvável que, mesmo
com a elucidação dos fatores causativos do autismo, surjam daí
tratamentos curativos. Por isso a importância dos últimos dois artigos
nesta edição, que resumem os tratamentos psicofarmacológicos5 e
psicoeducacionais6 para os indivíduos com autismo. Ainda estamos
muito longe de possuirmos os agentes farmacológicos que possam
alterar eficazmente os sintomas nucleares do autismo, tais como os
déficits de interação social e de comunicação. Mas essas abordagens
podem ser extremamente úteis para mitigar as características
comórbidas e permitir que os indivíduos afetados se beneficiem mais da
essência dos tratamentos reconhecidos atuais baseados em evidências,
a saber, as intervenções comportamentais e educacionais.

2. Transtorno de Aprendizagem

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De acordo com o código internacional de doenças (CID 10), os


transtornos de aprendizagem “(...) são transtornos nos quais os padrões
normais de aquisição de habilidades são perturbados desde os estágios
iniciais do desenvolvimento. Eles não são simplesmente uma
consequência de uma falta de oportunidade de aprender nem são
decorrentes de qualquer forma de traumatismo ou de doença cerebral
adquirida. Ao contrário, pensa-se que os transtornos originam-se de
anormalidades no processo cognitivo, que derivam em grande parte de
algum tipo de disfunção biológica” (CID – 10,1992: 236). Para algumas
pessoas, os anos escolares estão naturalmente encadeados em um
desenvolvimento contínuo e crescente de suas habilidades acadêmicas
e seu desempenho reflete esse percurso. Para esses alunos, aprender da
maneira como as escolas ensinam, é natural. Mas não é assim para
todos. A educação de alunos com transtornos específicos de
aprendizagem (TEA), em especial a dislexia e a discalculia, tem trazido
desafios aos métodos pedagógicos e propostas curriculares vigentes em
nosso país. A situação ainda é muito adversa, expondo alunos e
familiares a níveis críticos de risco emocional e financeiro. Em
decorrência da natureza neurobiológica de suas dificuldades, as
crianças e jovens com TEA têm que trabalhar com fragmentos de
informação, na difícil tarefa de tentar atribuir um padrão à informação
que recebem. Esse universo “fragmentado” contribui para reforçar o
senso de frustração construído ao longo de uma vida escolar sofrida,
marcada pelo fracasso. Com os recursos cognitivos ocupados em lidar
com sua dor psíquica, o jovem não pode avançar em seu processo de
aprendizagem e, então, se vê aprisionado no sistema escolar: como
não tem as ferramentas, não consegue aprender pela metodologia
convencional e, como não aprende, não pode ser legitimado como
sujeito que tem interesse em aprender.

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2.1 Transtornos específicos da aprendizagem

 Estima-se que 6 % da população mundial possua algum tipo


de transtorno específico de aprendizagem (TEA). Esses
transtornos persistentes manifestam-se muito cedo na vida e
não decorrem da falta de oportunidade de aprender, de
deficiência intelectual ou sensorial ou de doenças
adquiridas. Quase sempre, resultam em muito sofrimento
para o indivíduo e sua família. Se não houver uma
intervenção personalizada e de longo prazo, a defasagem
de desempenho na escola aumenta com o passar dos
anos, resultando em prejuízos pessoais irreparáveis tais
como: abandono escolar, transtornos psico-afetivos,
inadaptação social e subemprego, para citar alguns.
Estatísticas americanas indicam que 40% dos jovens com
TEA não concluem o ensino médio naquele país. Os TEA são
classificados em subtipos, dependendo da área da
aprendizagem mais afetada: transtorno de leitura,
transtorno de expressão escrita, transtorno de habilidades
matemáticas, transtorno não verbal e transtorno de
linguagem, entre outros. É mais fácil estudá-los e explicá-los
dessa forma, mas, na realidade, um indivíduo com
transtorno específico de aprendizagem nunca será igual a
outro, haverá sempre uma interação entre suas parcelas de
“dificuldades” e de “aptidões” inatas e do meio familiar,
educacional e sociocultural em que ele está inserido,
resultando numa trama única.

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 Apesar de únicos na manifestação de suas dificuldades,


crianças e jovens com TEA compartilham o fardo do mau
desempenho na escola e com frequência são rotulados por
colegas, pais e professores como preguiçosos, pouco
empenhados e incompetentes. Indivíduos com TEA
precisam ser ajudados e, felizmente, existem meios para
que isso aconteça. Não há atalhos, o caminho é longo e
árduo, mas essas crianças e jovens e suas famílias não
precisam empreender a jornada sozinhos. O primeiro passo
é identificar as dificuldades e providenciar uma avaliação
interdisciplinar da aprendizagem. A partir dos achados da
avaliação e do diagnóstico, delineia-se um percurso de
intervenções e orientações para aquela determinada
criança e ou jovem. Compreendidos e outras menos.
Independentemente do nome e do grau de severidade,

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todos afetam negativamente a vida dos indivíduos que os


possuem. O transtorno específico da habilidade de leitura,
também conhecido como dislexia tem sido o mais
estudado. Seguido dele, mas bem menos explorado, vem o
transtorno específico das habilidades matemáticas,
também denominado discalculia. Dislexia A dislexia é um
transtorno de aprendizagem e, como tal, tem origem
neurobiológica e caráter permanente. Caracteriza-se pela
dificuldade com a fluência correta na leitura e pela
dificuldade na habilidade de decodificação e ortografia.
Alunos com dislexia podem apresentar:
 leitura lenta e hesitante, trocas, acréscimos, inversões e
omissões de letras
 falha na compreensão e interpretação do material lido
 fuga de situações que envolvam leitura,
 escrita espelhada e ou lenta com repetição de letras,
sílabas ou palavras.
 escrita rasurada, com trocas visuais, auditivas e espaciais,
além de omissões, inversões e acréscimos. Discalculia A
discalculia é um transtorno de aprendizagem e, como tal,
tem origem neurobiológica e caráter permanente.
Caracteriza-se pela dificuldade para o entendimento e
acesso rápido a conceitos e fatos numéricos básicos. Alunos
com discalculia podem apresentar:
 dificuldade para entender conceitos numéricos simples
(tais como o local/valor e o uso das quatro operações);
falta de conhecimento intuitivo sobre números (valor e
relação entre os números);
 problemas para aprender, evocar e ou usar fatos e
procedimentos numéricos (ex.: tabuada, divisões longas);

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 mesmo que estes alunos produzam uma resposta correta


ou usem um método correto, eles geralmente o fazem de
maneira mecânica e sem confiança. Como lidar com a
situação Os transtornos de aprendizagem (TEA) têm
impacto negativo global na vida das crianças e jovens que
os possuem e de suas famílias. Quanto mais precoce,
intensiva, especializada e interdisciplinar for a intervenção
que receberem, melhores serão os resultados. Não existe
receita de bolo para tratamento dos TEA. Sabemos,
comprovadamente, que alguns fatores contribuem positiva
ansiedade, por exemplo, pode haver necessidade de
medicação. Por isso, o acompanhamento com médico
neuropediatra ou psiquiatra é importante que:
 escola que esteja disposta a realizar as adaptações
acadêmicas de acordo com o grau da dificuldade da
criança ou jovem e a trabalhar em parceria com a equipe
interdisciplinar e com a família;
 frequentar ambientes promotores de resiliência psicológica
e de senso de pertencimento. Pesquisas indicam que alunos
com transtornos de aprendizagem têm mais sucesso no
ensino superior quando desenvolveram sólidas habilidades
de expressar suas vontades e ideias. Dentre as habilidades
de autoconhecimento importantes de serem estimuladas
nos alunos com TEA, poderíamos citar:
 conhecimento da sua forma de aprendizagem habilidade
de articular suas necessidades de aprendizagem.
 habilidade para comunicar essas necessidades aos outros.
O papel dos pais Para poder ajudar um filho (a) com TEA, os
pais precisam procurar entender a natureza das
dificuldades da criança ou jovem, providenciar uma
avaliação e diagnóstico interdisciplinar e realizar uma
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parceria de longo prazo com a escola e com profissionais


especialistas na área da aprendizagem para, juntos,
discutirem e planejarem a melhor abordagem para o
desenvolvimento acadêmico, emocional e social de seu
filho. O TEA é uma condição perseverante e manifesta-se
cedo na vida escolar. A busca de ajuda para a superação
dessas dificuldades tem que vir inicialmente dos pais e,
quanto mais precoce, melhor. O papel da escola Quando
houver suspeita de que um aluno possui algum tipo de TEA,
a escola deve providenciar junto às famílias o
encaminhamento para um diagnóstico interdisciplinar e
incentivar a identificação e o tratamento desse aluno. Deve
promover acompanhamento consistente e afirmativo para
essas crianças e jovens e incentivar os professores a
desenvolver programas que favoreçam a integração social
e o uso de estratégias pedagógicas diferenciadas de
abordagem para cada caso particular. Um plano
individualizado para cada ano letivo deve ser discutido
entre direção, coordenação, professores, pais e, se possível,
o aluno, para garantir que ele tenha acesso às adaptações
logo no início do ano. No ano seguinte, a coordenação e
os professores precisam ter acesso ao plano que está sendo
seguido e a seus resultados. Os tópicos a seguir são algumas
sugestões de estratégias e adaptações para alunos com
TEA; naturalmente, cada caso deve ser analisado em sua
individualidade e a abordagem vai variar em função do
tipo do transtorno e de sua severidade. A existência de um
TEA, seu tipo e sua severidade precisam ser definidos no
relatório da avaliação interdisciplinar da aprendizagem e
serão monitorados no acompanhamento interdisciplinar de
cada caso. Podemos afirmar, sem exagero, que todos os
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alunos com dislexia ou discalculia necessitarão de


adaptações pedagógicas e ou curriculares em algum
momento de suas vidas acadêmicas. Alguns deles
precisarão desse apoio apenas por um período de tempo,
outros até a conclusão do ensino médio ou superior e
alguns durante toda a sua vida profissional. Lembrem-se de
que não podemos penalizar um indivíduo por possuir uma
forma de aprender que não corresponde às expectativas
da escola e ou da sociedade. Em geral, a abordagem
escolar do TEA deve ser: preventiva, individualizada,
multissensorial e sequencial. Seguem algumas sugestões:
 A coordenação deve informar aos professores de todas as
disciplinas sobre o fato do TEA e discutir com cada um deles
quais estratégias serão empregadas.
 Permitir gravação da aula, ou participação de um tutor
para ajudar a tomar notas.
 Oferecer para o aluno com TEA tempo extra para
completar as tarefas e avaliações. Os TEA roubam tempo
das pessoas e as acomodações lhes devolvem esse tempo.
 Evitar sobrecarga da memória de trabalho, designando
tarefas que estejam dentro das habilidades dominadas.
 Ter um “tutor” ou “tradutor” para acompanhar o aluno
individualmente na escola e fora dela.
 Certificar-se de que o aluno entendeu a matéria ensinada,
solicitando-lhe que explique o assunto oralmente para o
professor ou tutor, em situação individual.
 Permitir que o aluno acompanhe seu progresso, que fatos
ele domina e quais conteúdos ainda precisam ser
aprendidos.
 Dar tempo extra para o aluno processar a informação.

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 A família deve ser mantida informada sobre a evolução da


criança e sobre as adaptações aplicadas e seus resultados.
Políticas públicas Embora exista amparo legal constitucional
para as necessidades educacionais específicas dos alunos
portadores de transtornos de aprendizagem, entre eles a
dislexia e a discalculia, na prática, ainda há muitas dúvidas
relacionadas a como ajudá-los dentro e fora da escola. O
debate envolvendo os indivíduos com TEA não pode ficar
circunscrito à academia, é necessária a participação das
famílias, professores e gestores públicos para que se
implementem ações que permitam que essas crianças
possam ir às escolas para, de fato, aprender.

3. Transtornos invasivos do desenvolvimento não artísticos:


Síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e
Transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra
Especificação.

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3.1 Situações a serem abordadas

A organização da linha de cuidado A Rede de Cuidados à Saúde


da Pessoa com Deficiência, em fase inicial de construção no Brasil,
constituirá uma oferta importante de atenção às pessoas com
transtornos globais do desenvolvimento. Os aspectos de saúde mental
serão completados por ações na Rede de Atenção Psicossocial de
forma comunitária e ambulatorial. Trata-se, na Saúde Pública, de uma
construção que ainda está na fase mais inicial, pois tradicionalmente
esta fatia da população não tinha assistência estatal em todo o Brasil.
Por outro lado, o setor de educação precisará, também, se organizar
para dar conta das demandas desta população. A partir da Lei 12.764
de 27 de dezembro de 2012, a pessoa com transtorno do espectro do
autismo (TEA) passa a ser considerada pessoa com deficiência para
todos os efeitos legais.
. O Ministério da Saúde lançou, através da Portaria 324, de 31 de
março de 2016, um Protocolo Clínicas e Diretrizes Terapêuticas do
Comportamento Agressivo no Transtorno do Espectro do Autismo, com
o qual o presente protocolo corente. O protocolo do Estado de São
Paulo, sobre o tema, contém material imprescindível para o profissional
dedicado a trabalhar com o espectro autista no SUS. É muito educativo,
também, o livro organizado por Camargo Jr. e diversos autores,
publicado pelo governo federal, que introduz didaticamente os
principais temas relacionados à clínica do espectro autista, assumindo a
forma de livro-texto. Outro documento brasileiro básico é a cartilha de
orientação para pais, esclarecendo sobre as possiblidades de terapias
adjuvantes e sobre os cuidados à saúde da pessoa com transtorno
autista5. Os serviços de saúde podem divulgar a cartilha e utilizá-la
como instrumento de trabalho com as famílias. O acolhimento, no SUS,
deve ser orientado pelas Diretrizes e pelos princípios da Linha de
Cuidado, acima citados. O trabalho Inter setorial, em rede, implica
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contatos com a escola, numa perspectiva de educação especial


inclusiva. Implica contatos com o serviço social, numa perspectiva de
proteção da vulnerabilidade e da deficiência.

1.2 Os transtornos globais do desenvolvimento Os transtornos


invasivos ou globais do desenvolvimento (TGD) são uma categoria
ampla de condições, dividida didaticamente em dois grupos: (1) os
transtornos do espectro do autismo (TEA), que incluem o autismo infantil
de Kanner, o autismo atípico, a síndrome de Asperge e transtornos com
hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos
estereotipados; (2) outras síndromes, incluindo a síndrome de Rett e os
outros transtornos desintegrativos da infância (incluindo as psicoses
desintegrativas e simbióticas esquizofreniformes, e a síndrome de Heller).
Sobram alguns quadros residuais, ditos não especificados, que não se
encaixam adequadamente em qualquer um dos dois grupos anteriores,
pois eventualmente podem ser considerados, em função de alguns
sintomas, como parte do espectro autista, ou não. Geralmente esta
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categoria – a dos não especificados – é utilizada quando o diagnóstico


ainda não está completo ou não é bem definido6. O espectro autista
representa transtornos do desenvolvimento, envolvendo alterações
qualitativas e quantitativas da comunicação (linguagem verbal e não
verbal), da interação social e do comportamento (estereotipias,
padrões repetitivos e interesses restritos), que geralmente tem início
antes dos 3 anos de idade. Contudo, tais dados podem ser
contestados, em função da metodologia adotada no estudo 8 . Os
transtornos invasivos do desenvolvimento ocorrem com maior
frequência em indivíduos do sexo masculino (3 a 5 homens para 1
mulher). O aumento dos números relativos ao diagnóstico destes
transtornos vem sendo alvo de constantes discussões, visto que tais
dados refletem a possibilidade do real aumento dos casos ou de uma
maior capacidade de identificação a partir da ampliação dos critérios
diagnósticos. Não se pode considerar raros os autismos 9 . O diagnóstico
é eminentemente clínico e deve ser realizado a partir dos critérios da
CID-10, através de anamnese (com os pais ou responsáveis legais e
cuidadores), bem como da observação clínica dos comportamentos. A
utilização de escalas de triagem traduzidas e validadas para a
população brasileira pode favorecer a identificação precoce da
suspeita destas condições, por profissionais da atenção básica, nas
ações de assistência materno-infantil10. A detecção precoce é
fundamental para que as intervenções possam ser realizadas,
principalmente ao considerar-se que a resposta positiva ao tratamento
(em termos de linguagem, desenvolvimento cognitivo e habilidades
sociais) é mais significativa nos casos de intervenção mais imediata11.
Isso se dá em função da plasticidade cerebral, assim como das
experiências precoces nos primeiros anos de vida do bebê,
fundamental para o funcionamento das conexões neuronais e para o
desenvolvimento psicossocial. Desse modo, as intervenções precoces
conferem maior eficácia e maior economia, devendo ser privilegiadas
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pelos profissionais de saúde12. 2. CLASSIFICAÇÃO NA CID 10 F84. 0


Autismo infantil Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por
a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da
idade de três anos, e b) apresentando uma perturbação característica
do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações
sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além
disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras
manifestações inespecíficas, por exemplo, fobias, perturbações de sono
ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto
agressividade). Inclui: autismo infantil, psicose infantil, síndrome de
Kanner, transtorno autístico. Exclui: psicopatia autista (F84. 5) F84.1
Autismo atípico Transtorno global do desenvolvimento, ocorrendo após
a idade de três anos ou que não responde a todos os três grupos de
critérios diagnósticos do autismo infantil. Esta categoria deve ser
utilizada para classificar um desenvolvimento anormal ou alterado,
aparecendo após a idade de três anos, e não apresentando
manifestações patológicas suficientes em um ou dois dos três domínios
psicopatológicos (interações sociais recíprocas, comunicação,
comportamentos limitados, estereotipados ou repetitivos) implicados no
autismo infantil; existem sempre anomalias características em um ou em
vários destes domínios. O autismo atípico ocorre habitualmente em
crianças que apresentam um retardo mental profundo ou um transtorno
específico grave do desenvolvimento de linguagem do tipo receptivo.
Inclui: psicose infantil atípica retarda mental com características
autísticas (usar código adicional (F70-F79), se necessário, para identificar
o retardo mental). F84. Síndrome de Rett Transtorno neuropsiquiátrico
não autístico, caracterizado por um desenvolvimento inicial
aparentemente normal, seguido de perda parcial ou completa da
linguagem, da marcha e do uso das mãos, com retado do
desenvolvimento craneano. Ocorre em meninas, geralmente entre 7 e
24 meses. O interesse social é conservado pela criança, mas não há
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desenvolvimento, nem social nem lúdico. Aos 4 anos inicia-se uma


ataxia do tronco, com apraxia e, eventualmente, movimentos
atetósicos. Geralmente a inteligência fixa-se no nível do retardo grave.
F84. Outro transtorno desintegrativo da infância Também é um
transtorno não autístico, caracterizado por desenvolvimento inicial
aparentemente normal, seguido de perda da habilidades, em poucos
meses, com perda do interesse pelo ambiente e apresentação de
condutas motoras estereotipadas e repetitivas (maneirismos). Muitas
vezes identifica-se uma encefalopatia. Inclui quadros de psicose
desintegrativa e simbiótica esquizofreniforme e de síndrome de Heller
(demência infantil). F84. Transtorno com hipercinesia associada a
retardo mental e a movimentos estereotipados Presente em crianças
com retardo mental grave (de QI abaixo de 50), com retardo geral do
desenvolvimento, e perturbação da psicomotricidade, da atenção e
do comportamento. Tais quadros de hiperatividade não reagem a
estimulantes F84. Síndrome de Asperger Transtorno de validade
nosológica incerta, caracterizado por uma alteração qualitativa das
interações sociais recíprocas, semelhante à observada no autismo, com
um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e
repetitivo. Ele se diferencia do autismo essencialmente pelo fato de que
não se acompanha de um retardo ou de uma deficiência de
linguagem ou do desenvolvimento cognitivo. Os sujeitos que
apresentam este transtorno são em geral muito desajeitados. As
anomalias persistem frequentemente na adolescência e idade adulta.
O transtorno se acompanha por vezes de episódios psicóticos no início
da idade adulta. Inclui: psicopatia autística, transtorno esquizoide da
infância. F84. 8 Outros transtornos globais (invasivos) do desenvolvimento
F84. 9 Transtornos globais (invasivos) não especificados do
desenvolvimento.

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1.3 Diagnóstico

As diretrizes do Ministério da Saúde um documento de leitura


imprescindível para os profissionais que estejam se iniciando nas tarefas
de atendimento de transtornos invasivos do desenvolvimento infantil. A
coleta da história clínica, a anamnese com os pais ou responsáveis
legais e cuidadores, e o exame devem ser coerentes com os critérios da
décima versão da Classificação Internacional de Doenças e de
Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), da Organização Mundial da
Saúde. Também deve-se levar em conta a Classificação Internacional
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)14 que, na área clínica,
auxilia o modelo de atendimento multidisciplinar. Ela foca as
deficiências, incapacidades e desvantagens não apenas como
consequência das condições de saúde e doença. Foca-as como fatos
determinados também pelo contexto do meio ambiente físico e social,
por percepções culturais e atitudes, pela disponibilidade de serviços e
pela legislação15. É um instrumento para medir o estado funcional dos

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indivíduos, permitindo avaliar condições de vida e fornecer subsídios


para políticas de inclusão social. O diagnóstico de transtornos do
espectro do autismo é uma descrição e não uma explicação. Esta
descrição é dimensional também, pois sempre se deve estabelecer o
grau do problema, em um espectro que vai desde o muito discreto e
leve, até condições muito intensas e graves.

IDADE DESENVOLVIMENTO SINAIS DE ALERTA


NORMAL

Criança fixa
2meses o olhar; Reage ao
som; Bebê se
aconchega no
colo dos pais e
troca olhares
(mamadas e trocas
de fralda).

Emite sons;
4meses Mostra interesse em
olhar rosto de
pessoas,
respondendo com
sorriso, vocalização
ou choro; Retribui
sorriso. Não tem
sorrisos e
Sorri muito expressões
ao brincar com alegres
pessoas; Localiza
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6meses sons; Acompanha


objetos com olhar.

Não
Sorri e ri responde às
enquanto olha tentavas de
para as pessoas; interação feita
9meses Interagem com pelos outros
sorrisos, feições quando estes
amorosas e outras sorriem fazem
expressões; Brinca caretas ou sons;
de esconde- Não busca
achou; Duplica interação
sílabas. emitindo sons,
careta.

12meses

Não
balbucia ou se
Imita gestos expressa como
como dar tchau e bebê Não
bater palmas; responde ao seu
Responde ao nome quando
chamado do chamado; Não
nome; Faz sons aponta para
como se fosse coisas no intuito
conversa com ela de compartilhar
mesma. atenção; Não
segue com olhar

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gesto que outros


lhe fazem.
Troca com
as pessoas muitos
sorrisos, sons e Não fala
gestos em uma palavras que não
15meses sequência; seja mama,
Executa gestos a papa nome de
pedido; membros da
Fala uma família ou sorrisos.
palavra

As alterações no desenvolvimento da criança podem ser


percebidas pelos pais antes dos 24 meses. A procura por serviços
especializados diminui os diagnósticos inadequados. Os sintomas e sinais
de risco podem ser identificados precocemente.

Um diagnóstico definitivo de transtorno do espectro do autismo só


pode ser firmado após os três anos de idade. Porém, os indícios e a
identificação de tendência para os TEA aparecem cedo. Há dados
importantes sobre o diagnóstico na publicação sobre a linha de
cuidado em autismo, do Ministério da Saúde18. Os quadros invasivos
não autísticos, como a síndrome de Rett, os transtorno desintegrativos e
alguns dos globais não especificados, são muito raros, mas têm
bastante impacto sobre as famílias.

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4. Retardo Mental

4.1 O que é retardo mental?


Fala-se que um indivíduo tem um retardo mental quando a sua
capacidade intelectual é significativamente inferior àquela tida como
normal, levando a restrições significativas de suas habilidades
adaptativas. O transtorno normalmente está presente desde o
nascimento, manifestando-se antes dos 18 anos de idade. Esta
condição é irreversível, caracterizada pela dificuldade ou
incapacidade de desenvolver uma comunicação normal, uma vida
doméstica autônoma, dificuldades de relacionamentos interpessoais
sociais simples, ausência de autossuficiência mesmo com os cuidados
pessoais, habilidades limitadas para aprender e um mínimo de relação
e sensibilidade comunitária. O quociente de inteligência (QI) fica
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abaixo de 70, podendo ser muito menor, na dependência da


gravidade do problema.

O retardo mental costuma ser classificado segundo o seu nível de


profundidade em:

 Retardo mental leve: QI entre 50 e 69.

 Retardo mental moderado: QI entre 35 e 49.

 Retardo mental severo: QI entre 20 e 40.

 Retardo mental profundo: QI inferior a 20.

Pessoas com um QI entre 70 e 84, embora tenham uma


inteligência baixa, não são consideradas retardadas.

4.2 Quais são as causas do retardo mental?


O retardo mental pode ser congênito ou adquirido. Entre as
condições genéticas, devido a erros cromossomiais, estão a síndrome
de Down e a fenilcetonúria, por exemplo. Várias condições da mãe
durante a gestação, como o uso de certas drogas (lícitas ou ilícitas),
consumo excessivo de álcool, radioterapia, má nutrição e doenças
como a toxoplasmose, a infecção por citomegalovírus, a rubéola,
a sífilis e a AIDS podem contribuir para o retardo mental da criança. Da
mesma forma, o baixo peso ao nascer, as dificuldades durante o
trabalho de parto, traumatismos ou baixa concentração de oxigênio
durante o parto podem lesar o sistema nervoso e causar retardo mental,
que também pode ser causado após o nascimento por enfermidades
ou condições que afetem a integridade do cérebro
(meningites, encefalites, catapora, sarampo, intoxicações, traumas,
etc). A desnutrição e a falta extrema de experiências culturais e
ambientais existentes em ambientes muito primitivos também podem

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causar retardo mental. Em muitas situações, a causa do retardo mental


em um caso específico permanecerá desconhecida.

4.3 Quais são os sinais e sintomas do retardo mental?

Os sinais e sintomas do retardo mental dependem da


profundidade do transtorno e do nível de exigências feito pelo
ambiente sobre o indivíduo. Pessoas com retardos mentais leves podem
levar uma vida relativamente normal, mostrando apenas, desde
crianças, uma maior lentidão em seus aprendizados ou impossibilidade
de adquirir aprendizados de alta complexidade. Chegam a ler e
escrever e compreender textos e são capazes de uma vida autônoma,
embora simplória. As pessoas com retardos mentais profundos não são
capazes de aprender e de se adaptarem às situações e nem mesmo
conseguem ter cuidados corporais mínimos. Dependem, para tudo, de
outra pessoa. Entre esses extremos, existe uma grande variação.

4.4 Como funciona o diagnostico do retardo mental?

O diagnóstico da existência de um retardo mental pode


necessitar de testes cognitivos sofisticados ou ser tão evidente que se
capta à primeira impressão. O teste mais conhecido é o
de QI (quociente de inteligência), que avalia a relação entre o
desempenho intelectual e a idade cronológica da pessoa.
O diagnóstico da natureza do retardo mental deve começar por uma
detalhada história clínica e exame físico. Tanto devem ser reconhecidas
as causas da deficiência, como os déficit e potencialidades da pessoa
em causa. No entanto, mais importante que determinar o valor
numérico do QI (embora isso também deva ser feito) é determinar as
habilidades de comunicação e de relacionamento interpessoal e o

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nível em que é possível levar uma vida doméstica autossuficiente, bem


como as habilidades para o estudo, trabalho e lazer, uma vez que dois
deficientes com o mesmo QI podem ser muito diferentes quanto a esses
tópicos. Por outro lado, o médico deve ter em conta que ao examinar
uma pessoa com retardo mental encontrará vários sinais e sintomas das
enfermidades que a causaram.

4.5 Como o médico trata o retardo mental

O retardo mental em si mesmo é irreversível, no entanto, algumas


medidas devem ser adotadas com relação à pessoa retardada, na
dependência do grau de profundidade do problema, indo desde um
apoio intermitente, reservado só para situações específicas e mais
complexas, até um apoio intensivo e constante, em todas as áreas da
vida da pessoa com retardo mental. É importante não subestimar as
capacidades da pessoa com retardo mental, porque a falta de
estímulos pode fazer as deficiências parecerem maiores do que de fato
são.

O retardo mental profundo se apresenta na maior parte dos casos


na primeira infância, afetando todo o seu desenvolvimento. Necessitam
de supervisão e cuidados contínuos, pois sua linguagem é bastante
limitada e às vezes inexistente, podendo às vezes apenas se comunicar
com gestos ou balbucios. Sua motricidade é gravemente limitada e o
mesmo ocorre consequentemente com a autonomia geral. Seu estado
geralmente é agravado por problemas físicos múltiplos, exigindo
inclusive cuidados médicos constantes.

A validade científica de um diagnóstico de retardo mental


depende do nível de funcionamento intelectual e adaptativo da
criança, assim como dos métodos utilizados para a investigação. O
retardo moderado, grave ou profundo são bastante evidentes e
geralmente não deixam dúvidas. No entanto, o retardo leve pode
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suscitar controvérsias, pois não se tornam evidentes em todos os


contextos e períodos de desenvolvimento, manifestando-se suas
dificuldades geralmente durante os anos de aprendizagem formalizada.

O atraso mental geralmente vem acompanhado de


comorbidades, ou seja, outras dificuldades juntamente com o problema
principal. Em alguns casos podem se manifestar em afecções médicas
ou somáticas, transtornos psicopatológicos e afetivos, comportamentos
automutilantes e estereotipados, bem como dificuldades de linguagem
e comunicação verbal e não verbal. O prognóstico das crianças com
este problema pode variar bastante de acordo com cada caso em
particular e a gravidade dos sintomas. Sua manifestação é crônica e
costuma afetar seu funcionamento geral por toda a sua vida.

Os três casos mais comuns de incidência do retardo mental estão


nas síndromes como a Síndrome de Down, Síndrome de Prader-Willi e a
Síndrome do X Frágil . Fatores etiológicos também podem levar ao
retardo, como as alterações cromossômicas e mutações genéticas,
devendo sempre haver uma investigação minuciosa nas verdadeiras
causas do problema para o melhor manejo terapêutico.

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