Monografia Alexandre
Monografia Alexandre
Monografia Alexandre
UniAGES
Centro Universitário
Bacharelado em Medicina Veterinária
Paripiranga
2021
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Paripiranga
2021
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BANCA EXAMINADORA
Dedico este trabalho aos meus pais, Orlando Antônio e Maria José, pelo apoio e incentivo
para eu chegar até esta etapa de minha vida.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por me guiar e renovar minhas forças, quando achava que não possuía mais.
Obrigado, Senhor, por me proteger e, principalmente, por me proporcionar viver toda essa
experiência!
À minha esposa, Tacila Ferreira, por me apoiar e me incentivar sempre na minha longa
caminhada. Aos meus filhos, Arthur Lorenzo e Júlia Ferreira, por compreenderem a minha
ausência, principalmente, durante meu estágio.
Ao Centro Universitário AGES e a todo seu corpo docente, pelos ensinamentos e pelas
experiências compartilhadas. Vocês foram meu alicerce, além da direção e administração que
me proporcionaram as condições necessárias para que eu alcançasse meus objetivos.
À minha professora e orientadora, Dra. Daiane Novaes Eiras, e ao meu Prof. Dr.
Carlos Emanuel Eiras, pelos esforços e cuidados prestados durante todos esses anos.
Ao meu amigo Antônio José, por incentivar e apoiar para que eu fizesse o curso. E aos
meus colegas, principalmente, meu grupo de estudo composto por Bianca, Franklin e
Marcílio, pelo companheirismo, pela ajuda compartilhada e força depositada um no outro para
que esse sonho se tornasse realidade. Hoje, sou uma pessoa realizada, pois não me senti
sozinho nessa longa caminhada. Vocês foram grande companhia.
Enfim, a todos os familiares e amigos que também contribuíram, de alguma maneira,
para a realização desse sonho, fica registrado aqui meu agradecimento.
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Leonardo da Vinci
7
RESUMO
A prática de castração de cães e gatos vem crescendo a cada dia e é uma das cirurgias mais
realizadas na medicina veterinária. A despeito disso, ainda surgem várias dúvidas dos
médicos veterinários quanto à melhor idade para castração desses animais, bem como as
técnicas e os procedimentos anestésicos a serem adotados. A literatura científica ainda é
contraditória em relação aos benefícios e às consequências graves provocadas pela castração.
Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo realizar uma revisão de literatura
integrativa sobre castração em cães e gatos, com ênfase na castração pré-púbere, técnicas
cirúrgicas e anestésicas, destacando os benefícios e os riscos do procedimento.
ABSTRACT
Dogs’ and cats’ castration practice has been growing recently and it is one of the most
performed surgeries in veterinary medicine. Despite this, there are still veterinarians’ several
doubts about the best age for castration of these animals, as well as the anesthetic techniques
and procedures to be adopted. The scientific literature is still contradictory in relation to the
benefits and serious consequences caused by castration. Thus, this work has as objective to do
an integrative literature review about castration in dogs and cats, with emphasis on
prepubertal castration, surgical and anesthetic techniques, highlighting the benefits and risks
of the procedure.
LISTAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
OQ Orquiectomia
OSH Ovariosalpingohisterectomia
SOR Síndrome do ovário remanescente
TIVA Anestesia total intravenosa
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
2 METODOLOGIA 16
2.1 Tipo de Estudo 16
2.2 Descrição do Estudo 16
2.3 Critérios de Inclusão e Exclusão 18
2.4 Análise dos Dados 18
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 20
3.1 Definições 20
3.2 Aspectos Anatômicos 20
3.2.1 Anatomia e fisiologia do sistema reprodutor masculino 20
3.2.2 Anatomia e fisiologia do sistema reprodutor feminino 27
3.3 Orquiectomia 30
3.3.1 Técnicas cirúrgicas da orquiectomia 31
3.3.2 Orquiectomia no cão 31
3.3.3 Orquiectomia no gato 35
3.4 Ovariosalpingohisterectomia (OSH) na Cadela e na Gata 37
3.4.1 Abordagem pela linha média ventral 38
3.4.2 Abordagem lateral direito (flanco) 43
3.5 Abordagem Anestésica 45
3.5.1 Anestesia dissociativa 46
3.5.2 Anestesia inalatória 46
3.5.3 Anestesia intravenosa 47
3.5.4 Anestesia total intravenosa (TIVA) 48
3.6 Castração Convencional e Precoce 50
3.7 Riscos e benefícios da castração (precoce e convencional) 51
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55
REFERÊNCIAS 56
12
1 INTRODUÇÃO
Para tal procedimento, várias técnicas e diversos protocolos anestésicos podem ser
realizados, a depender da espécie, do sexo e do estado de saúde de cada paciente (FONINI,
2010). Entretanto, a necessidade e o período exato para realização dessa cirurgia são
controversos, sobretudo, porque existem várias contestações, quanto aos benefícios e aos
efeitos adversos que podem ser ocasionados após a esterilização do animal (REICHLER,
2009).
A utilização da cirurgia como método de contraceptivo possui diversas vantagens, a
exemplo do tempo da realização do procedimento, que é realizado em uma única vez; causa
imediatamente a perda irreversível da capacidade reprodutiva, além de promover uma
alteração positiva no comportamento dos animais submetidos a tal procedimento,
principalmente, nos machos, os quais sofrem uma perda progressiva de libido, reduzindo,
significativamente, o comportamento de agressividade e territorialidade, diminuindo, desta
forma, ocorrências de brigas, agressões aos humanos, acidentes automobilísticos, bem como a
disseminação de doenças entre as espécies e zoonoses (ZAGO, 2013).
As desvantagens da cirurgia como método contraceptivo podem estar relacionadas a
prováveis complicações cirúrgicas e anestésicas. As complicações com a
ovariosapingohisterectomia (OSH) pode estar relacionada à incontinência urinária responsiva
ao estrógeno; síndrome eunucoide, síndrome do ovário remanescente (SOR); problemas
relacionados à celiotomia; inflamação ou infecção da porção do corpo uterino remanescente
(piometra de coto); obstruções intestinais; formação de tratos fistulosos e granulomas, dentre
outros (SANTOS et al., 2009). Já as complicações na orquiectomia podem estar relacionadas
ao inchaço, às hemorragias e infecções (BOOTHE, 2003).
As técnicas de castração podem ser realizadas de diversas maneiras, a depender,
sobretudo, do sexo do animal. Nas fêmeas, caninos e felinos, a celiotomia pelo flanco e retro-
umbilical são as vias de acesso mais utilizadas para realização de OSH, sendo a mais habitual
a abordagem pela linha média ventral. Contudo, a abordagem pelo flanco pode ser uma opção
em que se provoca um menor trauma cirúrgico, bem como, os riscos de evisceração
relacionada à abordagem pela linha média. Comumente, na prática de pequenos animais, tal
abordagem realiza-se em gatas e cadelas pequenas ou de estreita conformação corporal
(RODRIGUES et al., 2012).
Recentemente, a laparoscopia, abordagem de acesso à cavidade abdominal
minimamente invasiva, está cada vez mais popular, por proporcionar maior segurança e
eficiência, mostrando ser menos invasiva e menos dolorosa, com isso, obtendo maiores
vantagens em relação aos procedimentos cirúrgicos tradicionais. Dentre as modalidades de
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castração minimamente invasiva, podem-se citar a OSH vídeo assistida e por NOTES
(cirurgia endoscópica laparoscópica transluminal por orifícios naturais) pura ou hibrida
(RODRIGUES et al., 2012). Todavia, seja qual for dessas técnicas de eleição, todas são
seguras e eficientes. Porém, como em todo procedimento cirúrgico, precisa-se de um cirurgião
habilitado para efetivá-la. Mesmo assim, podem-se apresentar complicações (ANDRADE;
BITTENCOURT, 2013).
A abordagem e a técnica cirúrgica para realizar a orquiectomia, em partes, dependem
da espécie do animal (canino ou felino) que será submetido à cirurgia, do posicionamento
e/ou da localização dos seus testículos no escroto ou na cavidade, bem como do tamanho do
animal (GRAVES, 2008). Existem basicamente dois tipos de técnicas para a efetivação da
orquiectomia: a orquiectomia fechada, a qual é indicada para pacientes com peso menor que
20 kg; e a orquiectomia aberta, que se recomenda realizar em animais com peso maior que 20
kg. Entretanto, a técnica adotada no momento da cirurgia pode variar de acordo com o
profissional que irá submeter o procedimento e as precisões anatomopatológicas de cada
animal (CRANE, 2014).
A castração é um procedimento cirúrgico de rotina conhecido por ocasionar dor aguda
acentuada em cães e gatos, sobretudo, nas fêmeas. A escolha da técnica anestésica adequada e
que cause o mínimo de efeitos adversos é muito importante (SILVA; SILVA; JÚNIOR,
2018).
A prática anestésica na medicina veterinária concerne à predileção por um protocolo
que ofereça sedação, relaxamento, ansiólise e que promova uma boa qualidade de
recuperação, dessa forma, facilita-se o manejo que possibilite o controle sobre a agitação,
ansiedade e dor (GEVEHR; RIBEIRO, 2018). Nessa perspectiva, para que os riscos sejam
minimizados, devem ser feitas análises criteriosas para realização das intervenções cirúrgicas
(SILVA; SILVA; JÚNIOR, 2018).
A analgesia perioperatória em pacientes cirúrgicos é essencial não apenas para
considerações humanas e éticas, mas, também, porque ajuda a reduzir os efeitos fisiológicos
deletérios associados à dor. Estes efeitos danosos incluem aumento do período pós-operatório,
imunossupressão, elevação da pressão arterial, adiamento na cicatrização de feridas, balanço
proteico negativo, inapetência e desenvolvimento de comportamentos não adaptativos,
incluindo automutilação (MWANGI et al., 2018).
Já a orquiectomia, por sua vez, não provoca dor acentuada como a OSH, mas pode
provocar complicações, tais como: inchaço, infecção e hemorragias. Essas últimas podem ser
graves e proceder em hemorragia na cavidade abdominal (PAULA, 2010).
15
Por oferecer maior segurança, o protocolo anestésico mais indicado para cães e gatos
submetidos à castração cirúrgica é a indução com anestésicos gerais injetáveis e a manutenção
por meio de anestesia inalatória (SILVA et al., 2010). Assim, como existem diferentes
técnicas que podem ser realizadas, é imprescindível o uso de protocolos práticos e que
promovam uma analgesia adequada, tanto no trans, quanto no pós-operatório (OLIVEIRA,
2019).
Nos procedimentos em que são necessários o uso de anestesia geral, é importante
compreender as diferenças, vantagens e desvantagens de cada técnica, a fim de conseguir
resultados satisfatórios. Para a realização da anestesia geral, existem basicamente três
técnicas: anestesia balanceada, anestesia inalatória e anestesia total intravenosa (TIVA), que
consiste na indução e manutenção somente com fármacos venosos (CÉSAR; COMBAT;
LEÃO, 2016).
No Brasil, habitualmente, a esterilização é feita após o animal completar o sexto mês
de vida. Apesar disso, alguns estudos demonstram que o procedimento de castração pode ser
realizado a partir do momento que o animal esteja na sexta semana de idade. Designada de
castração pediátrica ou pré-pubescente, esse tipo de procedimento não se diferencia muito da
convencional, no entanto, gera controvérsias entre os profissionais da área, pelo fato de pouco
conhecimento sobre dados científicos que expliquem essa prática, sobre resultados benéficos
ou maléficos, sobre o protocolo anestésico adequado para paciente pediátrico, bem como a
técnica cirúrgica adotada (GRAVINATTI; CONSTANTINO; BIONDO, 2015).
Ao longo de oito anos, os Estados Unidos realizou diversos estudos, comparando
castração convencional e castração precoce, de cães e gatos, quando se constatou que há a
mesma incidência de complicações físicas e comportamentais, tanto dos animais castrados
precocemente quanto dos animais castrados a tempo convencional (ANDRADE;
BITTENCOURT, 2013).
Reforçando este estudo, foram publicados dois artigos no jornal American Veterinary
Medical Association, em que foi submetido à castração pediátrica um total de 3.442 animais
entre cães e gatos, com o objetivo de avaliar a melhor idade para este procedimento,
chegando-se à conclusão de que, mesmo existindo riscos, os benefícios os superam,
afirmando, então, que os médicos veterinários podem seguramente recomendar os tutores a
castrarem precocemente seus animais (ANDRADE; BITTENCOURT, 2013). Nessa
perspectiva, Macedo (2011) relata que, seja qual for à modalidade de eleição para a castração
de cães ou gatos, elas podem ocasionar vantagens e desvantagens aos animais submetidos a
tal procedimento.
16
2 METODOLOGIA
O presente estudo trata de uma revisão integrativa de literatura científica atual, a qual
se configura como um método que admite analisar a síntese do conhecimento, agrupando e
aplicando os resultados dos estudos sobre um determinado assunto, dessa forma, contribuindo
para o aprimoramento da prática profissional, assim como, produzir esclarecimentos sobre
prováveis brechas e dúvidas no conhecimento científico no campo de estudo almejado
(MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A revisão integrativa de literatura científica teve seu estudo realizado, por meio da
base de dados: SciELO, Google Acadêmico, Revista Científica Eletrônica, Pubvet e Faef,
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), dos anos 1991 a
2019.
Conforme proposto por Souza, Silva e Carvalho (2010), a revisão de literatura
integrativa ocorreu através da apresentação de seis fases, conforme descrito a seguir:
preparação e elaboração da pergunta norteadora, pesquisas realizadas na literatura, coleta de
dados sobre o tema, apreciação crítica dos estudos compreendidos, discussão dos resultados
que foram encontrados e apresentação da revisão bibliográfica integrativa.
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Na busca pelos estudos com o cruzamento dos descritores, foram utilizados um total
de 59 trabalhos, incluindo livros e artigos. Contudo, tendo como base os critérios de inclusão,
que era responder à pergunta norteadora, apenas 08 estudos, dentre livros e artigos, obtiveram
maior ênfase para atender o objetivo da pesquisa.
JERICÓ;
Tratado de medicina interna de cães Rio de
03 ANDRADE; 2015
e gatos. Janeiro
KOGIKA.
KONIG; Porto
04 Anatomia dos animais domésticos. 2016
LIEBICH. Alegre
Castração Precoce em Pequenos
05 MACEDO. 2011 Goiânia
Animais: Prós e Contras.
Protocolo de anestesia total
intravenosa (tiva) por infusão
contínua de propofol, associado ao Cruz das
06 OLIVEIRA. 2019
fentanil, lidocaína e cetamina (flk), Almas
em cirurgia de castração em cão:
Relato de caso.
Prós e contras na Castração precoce
Porto
07 em pequenos animais. ZAGO. 2013
Alegre
BERRY In:
GRIMM;
Anestésicos injetáveis.
LAMONT; São
08 Anestesiologia e Analgesia 2017
TRANQUILLI; Paulo
Veterinária.
GREENE;
ROBERTSON.
Quadro 1: Características dos artigos selecionados para a revisão.
Fonte: Elaborado pelo autor (criado em 2021).
20
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Definições
Figura 1: Órgãos genitais do gato (representação Figura 2: Órgãos genitais do cão (representação
esquemática) esquemática)
Fonte: KONIG; LIEBICH (2016). Fonte: KONIG; LIEBICH (2016).
glândulas vesiculares estão presentes em todos os mamíferos domésticos, exceto nos cães e
gatos (COLVILLE, 2010), porém, têm próstata desenvolvida situada próxima do colo da
bexiga nos gatos e esta sobre a uretra e o colo da vesícula urinária nos cães. Nos caninos
idosos, a próstata pode situar-se em região intra-abdominal (DYCE, 2010).
O pênis é o órgão de copulação masculino, o qual se origina como dois pilares do arco
isquiático e está anatomicamente dividido em raiz, corpo e glande. Os pênis dos cães e gatos
possuem um osso peniano e, desse modo, são firmes, até mesmo, quando não estão em
ereção. O pênis do cão possui uma estrutura exclusiva denominado bulbo peniano, que é
composto por um tecido erétil e, no momento da cópula, ele é preenchido por sangue,
aumentando seu tamanho e prendendo-se na musculatura da vagina, impossibilitando que o
pênis seja retirado até a completa ejaculação (COLVILLE, 2010; KONIG; LIEBICH, 2016).
Nos gatos, o osso peniano mede em torno de 5 a 8 mm e não constitui sulco ventral. É
direcionado na região perineal, sendo menor ao comparar com pênis do cão. Esta localização
é essencial, pois facilita a demarcação territorial. Nos cães, o pênis está projetado entre as
coxas (DYCE, 2010; KONIG; LIEBICH, 2016).
A pele que recobre a extremidade livre do pênis é chamada de prepúcio ou bainha,
correspondendo a uma camada dupla de pele que se incide em uma lâmina externa e outra
interna, as quais são ininterruptas no óstio prepucial. Trata-se de uma proteção de pele que
cobre o pênis, quando o mesmo não se encontra em ereção (COLVILLE, 2010; KONIG;
LIEBICH, 2016).
27
Os órgãos genitais das fêmeas são constituídos de forma comparável aos órgãos
genitais masculinos, os quais se dividem em órgãos que realizam a produção dos gametas e os
órgãos que responsabilizam se por transportar e armazenar os gametas. Os órgãos genitais
femininos compreendem os ovários e as tubas uterinas pares, útero, vagina, vestíbulo da
vagina e vulva (KONIG; LIEBICH, 2016).
Figura 9: Órgãos genitais femininos da cadela e localização das ligaduras para ovário-histerectomia
(representação esquemática).
Fonte: KONIG; LIEBICH (2016).
Os ovários realizam a produção tanto dos gametas femininos quanto dos hormônios.
As tubas uterinas pares fazem a captura dos ovócitos liberados através dos ovários e
transporta para o útero, onde é mantido o ovo fertilizado. A vagina é o órgão copulador e,
juntamente com seu prolongamento, o vestíbulo, como canal de parto e caminho para
excreção da urina. Nas gatas e nas cadelas, os ovários não mudam seu posicionamento desde
seu local de desenvolvimento, onde permanecem dorsalmente ao abdome caudal aos rins
(KONIG; LIEBICH, 2016).
Figura 10: Disposição dos ovários, do útero e dos ligamentos na cadela em decúbito dorsal. A: Vagina. B:
Cérvice. C: Corpo uterino. D: Cornos uterinos. E: Ovário. F: Ligamento suspensório. G: Vasos uterinos. H:
Bolsas ovarianas. I: Mesovários. J: Mesométrio. K: Vasos ovarianos. L: ligamento próprio do ovário.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
geralmente acontece no interior das tubas. A tuba uterina se abre no corno uterino por meio do
óstio uterino que marca o local da união entre o útero e a tuba (KONIG; LIEBICH, 2016).
Figura 11: Ovário, tuba uterina e corno uterino Figura 12: Ovário, tuba uterina e corno uterino de uma gata II.
de uma gata I. Fonte: KONIG; LIEBICH (2016).
Fonte: KONIG; LIEBICH (2016).
Figura 13: Órgãos genitais femininos dos mamíferos domésticos (representação esquemática).
Fonte: KONIG; LIEBICH (2016).
30
3.3 Orquiectomia
antecede a preparação estéril da pele. O campo operatório é preparado com o uso de solução
de polivinilpirrolidina e iodo ou com clorexidina (OLIVEIRA, 2012).
O animal deve ser colocado em uma calha na posição em decúbito dorsal e o campo
cirúrgico é delimitado com o uso de panos de campo. A depender do local de incisão, a
orquiectomia pode ser escrotal ou pré-escrotal. Em ambas a técnica a ser realizada pode ser a
aberta, quando os testículos são removidos, através de uma incisão na túnica vaginal parietal,
indicada para cães de grande porte, e a técnica fechada, quando a túnica é removida com os
testículos, recomendada para cães de médio e pequeno porte (CRANE, 2014; OLIVEIRA,
2012).
Figura 14: Orquiectomia em cão. A: Animal em decúbito dorsal na calha, caracterizando os locais de realização
das orquiectomias escrotal (e) e pré-escrotal (p). B: Campo cirúrgico demarcado com quatro panos (c) in vitro.
C: Campo cirúrgico in vivo. D: Incisão na pele da bolsa escrotal. E: Incisão in vivo. F: Exposição da túnica
dartos e da fáscia espermática, expondo testículo envolto pela túnica vaginal parietal.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
Figura 15: Orquiectomia fechada em cão. A: Localização anatômica do cordão espermático (círculo vermelho).
B: Localização in vivo (círculo preto). C: Colocação de duas pinças caudais ao testículo e ligadura abaixo da
segunda pinça, no sentido ventral em relação ao animal. D: Detalhe da ilustração de C in vivo. E: Início da
confecção da transfixação do cordão espermático. F: Término da confecção da transfixação do cordão
espermático.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
Quando a incisão é realizada na túnica vaginal parietal, a técnica descrita passa a ser
chamada de castração aberta. A túnica vaginal parietal aderida ao epidídimo em sua cauda
deve ser rompida com a utilização de uma tesoura ou, então, através de tração manual. Dessa
forma, somente com os vasos, nervos e ducto deferente, é feita a ligadura, oferecendo maior
confiabilidade no procedimento (CRANE, 2014; MACPHAIL, 2013; OLIVEIRA, 2012).
34
Figura 16: Orquiectomia aberta em cão. A: Incisão na túnica vaginal parietal (setas) in vivo. B: Túnica aderida
na base do epidídimo (seta). C: Túnica aderida na base do epidídimo (seta) in vivo. D: Túnica desprendida do
epidídimo (seta) in vivo.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
Figura 17: Orquiectomia com ablação da bolsa escrotal em cão, in vivo. A: Duas incisões elípticas na base da
bolsa escrotal. B: Dissecação cruenta para remoção do excesso de pele. C: Aspecto final da sutura de pele.
Fonte: OLIVEIRA (2012)
A utilização da técnica pré-escrotal tem como vantagem não deixar a bolsa escrotal
exposta à contaminação e às infecções no pós-cirúrgico. A incisão de pele é realizada
cranialmente à base da bolsa escrotal, na linha média, com, aproximadamente, 4 cm de
extensão. Com uma leve pressão, o testículo é deslocado para o subcutâneo, para a linha de
incisão, e mantido nesta região, pelos dedos do cirurgião. Então, realiza-se uma incisão na
35
túnica dartos e na fáscia espermática, mostrando o testículo, coberto pela túnica vaginal
parietal, que continua mantido pelos dedos do cirurgião (CRANE, 2014; OLIVEIRA, 2012).
Deve-se, ainda, identificar, pinçar e ligar o cordão espermático, para o procedimento
de orquiectomia escrotal. Pode-se, também, efetivar a castração aberta. Em seguida, deve ser
repetido o procedimento com o outro testículo sob a mesma incisão de pele. A síntese incide
na realização de sutura de aproximação no tecido subcutâneo, Padrão X (Sultan) simples ou
contínuo, com fio absorvível. A pele é suturada com fio inabsorvível (nylon) em padrão
simples separado (CRANE, 2014; OLIVEIRA, 2012).
Figura 18: Orquiectomia pré-escrotal em cão. A: Animal em decúbito dorsal na calha, onde a linha tracejada
representa o local de incisão. B: Testículo envolto pela túnica vaginal parietal sendo mantido pelos dedos do
cirurgião. C: Cordão espermático exposto pela incisão pré-escrotal (seta). Notar a túnica vaginal parietal
desprendida e depositada na base do escroto.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
A orquiectomia em gatos é realizada com os mesmos objetivos que nos cães, com fins
eletivos e terapêuticos, sendo a indicação maior de sua efetivação a necessidade de mudanças
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Figura 19: Orquiectomia no gato. A: Localização anatômica da bolsa escrotal. B: Incisões realizadas na bolsa
escrotal. C: Isolamento do ducto deferente. D: Ligadura do cordão espermático em formato de 8, com a
utilização do ducto deferente. E: Início da confecção da ligadura com auxílio de pinça hemostática. F: Ponta
distal do cordão espermático dobrada sobre a pinça. G: Testículo por dentro da parte interna do cordão
espermático. H: Testículo passado mais uma vez por dentro da laçada, secção do cordão espermático e término
do nó.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
Para que se possa realizar a técnica operatória, o animal anestesiado deve ser posto em
decúbito dorsal com os membros pélvicos contidos e sendo tracionados cranialmente. Os
testículos são removidos mediante incisões sagitais promovidas a cada lado da bolsa escrotal.
O tamanho da incisão é essencial e devendo ser realizada desde a região dorsal até a região
ventral do escroto, a fim de permitir ampla drenagem no pós-operatório. A incisão deve se
aprofundar até chegar à túnica dartos e à fáscia espermática. O testículo, então, será
tracionado caudal ou caudoventralmente até uma exposição considerável do cordão
espermático, ainda coberto pela túnica vaginal parietal (OLIVEIRA, 2012).
Logo em seguida, realiza-se a ligadura, com a utilização de duas pinças hemostáticas,
do mesmo modo que é descrito para os cães. Recomenda-se a utilização inabsorvível, como
poliéster ou polipropileno de número 2-0. Pode-se também empregar o uso do fio absorvível,
sendo o mais recomendado aquele com período de maior tempo de absorção, como, por
37
de corpo lúteo funcional, com a elevação nos níveis de progesterona e consequentes riscos de
hiperplasia cística do endométrio; piometra em decorrência de alterações hormonais e
disposição secundária de infecção uterina; secundária a distocias com alterações uterinas
irreversíveis; controle de problemas endócrinos como diabetes e epilepsia; as dermatoses,
como sarna demodécica generalizada; hiperplasia de solo vaginal recorrente e prevenção de
neoplasias mamárias e ovarianas (OLIVEIRA, 2012; QUESSADA et al., 2009).
Oliveira (2012) relata que a realização da OSH é indicada quando o animal estiver fora
do período estral, dessa forma, evitando a vasodilatação gerada pelo estrógeno e o risco de
ocorrência de hemorragias durante o procedimento.
Antes da realização da OSH é importante fazer um exame físico detalhado, tanto para
as cirurgias eletivas como para as terapêuticas, estando o pré-operatório fortemente
relacionado com a recomendação da cirurgia. OSH em cadelas acometidas por piometra
indica-se, de preferência, realizar o procedimento após a estabilização do paciente. Quando a
OSH é realizada em animais concomitantemente à presença de doenças bacterianas, deve ser
instituída a antibioticoterapia de largo espectro. O pré-operatório imediato incide na
realização do protocolo do mesmo modo utilizado na orquiectomia (OLIVEIRA, 2012).
o dedo indicador para aplicar uma tração caudolateral na região do ligamento suspensório,
enquanto é mantida uma tração caudomedial no corno uterino (OLIVEIRA, 2012).
Faz-se uma abertura no mesovário, com ajuda de uma pinça, caudalmente ao
complexo arteriovenoso ovariano. Deve-se permanecer um contato digital com o ovário,
constantemente, ao aplicar as pinças para ter certeza que o ovário será totalmente removido.
Pode-se utilizar também um sistema de três pinças distalmente ao ovário. A ligadura é feita
abaixo da terceira pinça, mais proximal ao abdome, a qual é liberada no momento que o nó é
apertado. A pinça proximal serve como um canal para o nó, a média mantém o pedículo e a
distal previne o refluxo sanguíneo após a transecção, a qual é realizada entre a pinça média e a
distal (OLIVEIRA, 2012).
A ligadura do pedículo ovariano deve ser feita com a utilização de fios absorvíveis
(categute cromado, polidioxanona, ácido poliglicólico, polidioxanona, poligliconato ou a
poliglactina 910), podendo variar do número 2 ao 2.0, a depender do porte do animal.
Posteriormente, retira-se o outro ovário. Então, com o ovário exposto, colocam-se as pinças e
realiza-se o mesmo método descrito para a remoção do primeiro ovário (OLIVEIRA, 2012).
Com auxílio de uma pinça hemostática, faz-se uma janela no ligamento largo, a fim de
separar os ligamentos redondo e largo do corno uterino, adjacente ao corpo uterino e à artéria
e veia uterinas. O ligamento longo e o largo podem ser rompidos com o auxílio das mãos do
cirurgião. Fazem-se ligaduras ao redor do ligamento largo caso o paciente esteja no cio ou
gestante, ou até mesmo na presença de tecido adiposo ou vasos sanguíneos calibrosos
(OLIVEIRA, 2012).
41
Figura 21: Ovariossalpingo-histerectomia. A: Ligamento largo rasgado com o auxílio dos dedos. B: Ligaduras
de vasos sanguíneos presentes no ligamento largo. C: Três pinças aplicadas no corpo do útero próximo à cérvice.
D: Ligadura circundando os vasos uterinos de cada lado.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
Figura 22: Sutura de Parker-Kerr. A: Camada única de Cushing executada sobre uma pinça. Ligadura
independente dos vasos sanguíneos uterinos (setas). B: Sutura tracionada à medida que a pinça é removida
(setas). C e D: Cobertura em uma camada contínua de Lembert. E: Transfixação do corpo uterino. F: Confecção
do nó final da transfixação.
Fonte: OLIVEIRA (2012).
Oliveira (2012) recomenda que a síntese da incisão abdominal possa ser realizada em
padrão simples interrompido utilizando fio absorvível (categute cromado, polidioxanona,
ácido poliglicólico, polidioxanona, poligliconato ou a poliglactina 910) ou com fio não
absorvível (polipropileno ou náilon monofilamentar) com padrão simples contínuo. A síntese
do tecido subcutâneo e da pele incide na sutura de aproximação, utilizando-se padrão simples
contínuo ou X (Sultan), com fio absorvível, de espessura relacionada com o tamanho do
animal e fio inabsorvível, como o nylon, em padrão simples separado, respectivamente. No
período pós-operatório é recomendado proteger a ferida cirúrgica, para evitar o
autotraumatismo, podendo fazer uso do colar elizabetano ou roupa cirúrgica.
Segundo relatado por Correia (2016), a OSH tradicional apresenta riscos de
complicações como hemorragias, ligadura ou trauma acidental dos ureteres, infecção ou
inflamação da porção do corpo uterino remanescente e a síndrome do ovário remanescente
(SOR). As desvantagens desta abordagem se dão por causa de suas possíveis complicações,
como hemorragia excessiva do tecido subcutâneo e da pele, inflamação ou infecção da ferida,
bem como da drenagem do leite pela incisão no caso de gestação ou pseudociese.
Como vantagens da abordagem pela linha média ventral, Correia (2016) cita a fácil
cicatrização, devido à escassez de vascularização que acontece na linha alba, reduzindo o grau
de sangramento, quando comparado à abordagem pelo flanco, melhor visualização das
estruturas, oferecendo melhor manipulação das vísceras abdominais. CORREIA (2016)
ressalva que ao empregar o procedimento no método tradicional, seccionando a linha alba, o
tempo de duração da cirurgia é menor e como resultado, menor gasto de anestésico.
Figura 23: Imagem fotográfica da região ventral do abdômen em cadela mostrando local da incisão
retroumbilical.
Fonte: CORREIA (2016).
43
A abordagem cirúrgica pelo flanco para realização da OSH eletiva é uma alternativa,
na qual os riscos pós-cirúrgicos podem ser minimizados e o trauma cirúrgico é menor em
relação à abordagem pela linha média (CORREIA, 2016).
A técnica é recomendada em fêmeas que têm aumento demasiado das glândulas
mamárias, por hiperplasia ou lactação (CORREIA, 2016). Minguez e Cuesta (2005) afirmam
que a mesma impede possíveis complicações em relação à abordagem ventral pela linha
média, tais como hemorragia excessiva da pele e do tecido subcutâneo, possível inflamação e,
inclusive, infecção da ferida cirúrgica, além de drenagem de leite na região incisionada.
Segundo Correia (2016), caso haja deiscência de pontos, essa técnica impede evisceração dos
órgãos abdominais, devido à força gravitacional exercida na incisão lateral ser menor à da
linha média.
É contraindicada a realização da OSH pelo flanco quando o paciente apresenta
qualquer forma de aumento de volume uterino (gestação ou piometra), assim como obesidade,
visto que a presença de grande quantidade de tecido adiposo que contorna o ovário pode
dificultar a sua localização e exteriorização, tal abordagem considera inapropriado animais
com idade inferior a 12 semanas, pelo fato na diferença na conformação do útero em relação
aos adultos, não se indica nenhuma das abordagens para OSH em pacientes em estro devido à
grande vascularização e a friabilidade dos tecidos, dificultando a hemostasia, caso aconteça a
perda do pedículo ovariano (MINGUEZ, 2005; CORREIA, 2016).
Para realização da técnica, com o paciente em decúbito lateral, é efetivada uma incisão
oblíqua, no sentido craniocaudal, dando início caudalmente ao ponto médio entre a última
costela e a tuberosidade ilíaca (CORREIA, 2016). Minguez (2005) sugere uma incisão
ligeiramente oblíqua em direção ao dorso mediano ventral.
Useche (2006) recomenda a incisão em média de três centímetros ao lado direito do
flanco, pelo fato do ovário direito estar posicionado mais cranialmente, promovendo um
menor tempo cirúrgico e também pela presença do baço e do recobrimento omental da víscera
do lado esquerdo, os quais promovem maior dificuldade em sua localização. Depois de
seccionar a pele, os músculos obliquoabdominal externo, obliquoabdominal interno e
transverso do abdômen são divulsionados individualmente, longitudinalmente ao sentido de
suas fibras, e o peritônio seccionado, assim, tendo acesso à cavidade abdominal.
44
Figura 24: Exposição completa do útero pelo Figura 25: Padrão de sutura Wolf na pele.
flanco para OSH eletiva. Fonte: CORREIA (2016).
Fonte: CORREIA (2016).
45
Figura 26: Zona da incisão de uma cadela Figura 27: Cicatriz da incisão a OSH pelo flanco.
cirúrgica após 45 dias. Fonte: CORREIA (2016).
Fonte: CORREIA (2016).
Em seu estudo, Ferreira (2014) apontou como menor tempo cirúrgico a abordagem
lateral direita, comparando-se à abordagem retroumbilical. Ele explica que o menor tempo
ocorreu pela facilidade de encontrar o útero e também devido ao ovário estar localizado logo
abaixo da linha de incisão na abordagem pelo flanco e também pelo menor tempo de
laparorrafia na técnica lateral.
Demonstrou-se, também, que após três meses da cirurgia constatou-se que não
ocorreram alterações na coloração dos pelos após o seu crescimento no local da incisão
lateral, indo contra outros estudos, que descreveram alteração na coloração dos pelos. Para tal
experimento, não se constatou complicações tanto no trans quanto no pós-operatório em
nenhum dos animais estudados (FERREIRA, 2014).
Por promover uma maior segurança, o protocolo anestésico mais recomendado para
cães e gatos submetidos à castração cirúrgica é a indução com uso de anestésicos gerais
injetáveis e a manutenção por meio de anestesia inalatória (SILVA et al., 2010). Porém,
existem outras técnicas que podem ser utilizadas e, para isto, é imprescindível o uso de
protocolos práticos e que promovam uma analgesia adequada, tanto no trans quanto no pós-
cirúrgico (TAMANHO et al., 2009).
A anestesia dissociativa caracteriza-se por ser induzida por meio de fármacos que
ocasionam a dissociação dos sistemas talamocortical e límbico. Esse tipo de anestesia causa
um estado de catalepsia em que mantêm os olhos abertos e os reflexos da deglutição
continuam intactos. Além do mais, há a persistência de hipertonia da musculatura esquelética,
a menos que se utilize juntamente com um sedativo forte, ou relaxante muscular central
potente (GRIMM et al., 2017). Empregando-se a utilização dos fármacos dissociativos,
incide-se em rigidez muscular dos membros e comumente o animal não responde à
estimulação ou à manipulação. Contudo, ao ser promovida a associação com o propofol, nota-
se o relaxamento muscular (FREITAS et al., 2017).
As anestesias dissociativas são largamente utilizadas na clínica de pequenos animais
em protocolos de castração e, em função disso, é essencial conhecer os limites já
estabelecidos para as associações anestésicas que vêm sendo utilizadas (GEVEHR; RIBEIRO,
2018).
por meio de bolus único, bolus intermitente ou até mesmo por infusão contínua, que pode ser
controlada manualmente ou por infusão alvo-controlada, que é feita através de bombas
especiais, as quais empregam modelos farmacocinéticos específicos por droga, a fim de
efetuar a infusão.
Para realização dessa técnica, é importante fazer a escolha das drogas corretas, através
de análise das características de cada fármaco que possua início de ação rápida, pequena
distribuição por compartimentos periféricos (gordura e músculo), causar mínimos efeitos
cardiovasculares e respiratórios, clearance elevado, amplo intervalo terapêutico, não liberar
histamina, ação antioxidante, antiemética e anti-inflamatória, não causar poluição ao
ambiente, não ter metabolitos ativos, não interagir com outros fármacos anestésicos e ser
titulada facilmente. Embora, atualmente, nenhuma droga disponível no mercado, possuem
todas essas características, mas, alguns fármacos apresentam grande parte delas (OLIVEIRA,
2019).
Dentre os fármacos utilizados na TIVA, destaca-se o propofol, devido às suas
características farmacocinéticas, maior rapidez na indução e na recuperação, fatores estes que
tornam sua utilização na infusão contínua mais benéfica, mesmo em administrações
prolongadas, causa suave despertar (GASPARINI et al., 2009).
Todavia, o propofol provoca efeitos depressores sobre o sistema cardiorrespiratório, os
quais são doses dependentes. Além do mais, o propofol não tem propriedades analgésicas.
Justificando a administração de analgésicos, para conseguir uma melhor analgesia comparada
ao propofol administrado isoladamente. A utilização dos analgésicos pode ser realizada na
medicação pré-anestésica (MPA) e/ou no decorrer na manutenção da anestesia, por meio de
infusão contínua (OLIVEIRA, 2019).
Oliveira (2019) confirma que o acrescimento de um opiáceo a uma técnica de TIVA, a
dose deste é reduzida em aproximadamente 50%, permitindo, assim, uma recuperação mais
rápida após a finalização das infusões de propofol e opioides. Entre os opioides mais
utilizados no transcirúrgico, citam-se a morfina, sulfetanil, fentanil, alfentanil e o
remifentanil, sendo que a associação do propofol com este último causa um despertar mais
rápido quando combinado com os demais. Outro opioide utilizado e que provoque a
diminuição na dose do propofol é a metadona, administrada na medicação pré-anestésica
(MPA).
Além da utilização dos opioides como analgésicos, a utilização de alfa2
adrenoceptores agonistas na MPA, tal como a dexmedetomidina, auxiliam na redução da dose
de propofol na indução e manutenção anestésica (OLIVEIRA, 2019). Segundo Cerejo et al.
50
No Brasil, as castrações são geralmente realizadas aos seis meses de idade, que é
quando se completa a primeira fase da maturidade (SILVA et al., 2015).
Alguns fatores podem influenciar na puberdade dos animais, como por exemplo, a
estação do ano, taxa de crescimento, ambiente, nutrição e a presença de doenças infecciosas.
A puberdade pode acontecer mais precocemente em gatas que coabitam com fêmeas e machos
sexualmente ativos. Frequentemente, as gatas atingem a puberdade com peso corporal de 2,3
a 2,5 kg, a menos que isso aconteça em uma época do ano onde o período de luz está
diminuído e grande parte das gatas está em anestro. Raças como Siamês e Burmês têm maior
probabilidade de entrar na puberdade mais cedo (em média de quatro meses), e as raças de
pelo longo entram na puberdade mais tardiamente (entre 11 a 21 meses) comparando as raças
de pelo curto.
Embora permaneça uma convenção entre os médicos veterinários de que a idade ideal
para a castração é a partir dos seis meses de idade, sabe-se que não há provas científicas na
literatura confirmando tal informação (JERICÓ; ANDRADE; KOGIKA, 2015).
Oliveira (2012) preconiza que gatas e cadelas sejam castradas fora do período estral,
evitando-se a vasodilatação provocada pelo estrógeno e o risco de ocorrência de maior
sangramento durante o procedimento.
A esterilização de fêmeas no estro pode ocasionar em pseudociese imediatamente após
à OSH ou até mesmo de modo recorrente ou crônico. A recomendação de que as cadelas
possam ser castradas três meses após o cio, baseando em sua fisiologia endócrina, nesse
51
período, a fase luteínica terá finalizado e os níveis de prolactina devem ser basais ou mínimos.
Apesar disso, em algumas cadelas, a pseudociese pode não ser percebida antes de 14 semanas
do fim do cio e os sinais podem, então, permanecer em até mais de 5 meses (JERICÓ;
ANDRADE; KOGIKA, 2015).
A gonadectomia, também conhecida de pré-pubescente ou pediátrica, ou a castração
antes da puberdade, já vem sendo empregada nos Estados Unidos há cerca de trinta anos, e
compreende a castração dos animais com 8 a 12 semanas de idade, ou seja, antes do primeiro
cio das gatas e cadelas, ou então, no caso dos machos, antes do sexto mês de vida, com o
intuito de otimizar o controle populacional nos abrigos de animais, sem que tivessem que
conduzi-los à eutanásia (ANDRADE; BITTENCOURT, 2013; JERICÓ; ANDRADE;
KOGIKA, 2015).
Macedo (2011) corrobora que esta prática tem obtidos resultados positivos apresenta
vantagens frente à castração no tempo convencional, pois ele afirma que os animais mais
jovens tendem a obter menor índice de complicações cirúrgicas e pós-cirúrgicas, além do
mais, oferece uma melhor e mais rápida recuperação cirúrgica.
Nessa perspectiva, é importante salientar que os hormônios gonadais agem também no
desenvolvimento de ossos, órgãos reprodutivos e comportamento dos animais, dessa forma,
vários estudos são realizados constantemente, a fim de avaliar os possíveis efeitos colaterais
da prática da gonadectomia (JERICÓ; ANDRADE; KOGIKA, 2015).
Salmeri et al. (1991) comparam, em seus estudos, animais castrados com sete
semanas e sete meses de idade e concluiu-se que a esterilização realizada em ambas as idades
causou os mesmos resultados relacionados ao desenvolvimento esquelético, físico e
comportamental de cães. Nessa perspectiva, Macedo (2011) afirma que seja qual for o método
adotado para realização da castração, ambos podem trazer riscos e benefícios para os animais
submetidos ao procedimento.
Nessa perspectiva, o estudo recomenda que a gonadectomia seja realizada a partir dos três
meses de idade, devido ao alto índice de complicações associadas ao sistema geniturinário
(SPAIN; SCARLETT; HOUPT, 2004).
O período de fechamento do disco epifisário dos ossos longos é, em parte, controlado
pelos hormônios gonadais. A castração precoce retarda o fechamento dessas epífises ósseas,
estendendo o crescimento, sobretudo, radial e ulnar, fazendo com que o animal continue em
fase de crescimento por mais tempo, tornando alguns animais maiores do que seriam, caso
não fossem castrados. Isso se observa muito mais em cães do que em gatos (RAND;
CORINE, 2008). Jericó, Andrade e Kogika (2015) apontam que o alongamento desses ossos
é, estatisticamente, significativo, entretanto, não visível e sem importância clínica relevante.
Cadelas submetidas à castração antes da puberdade podem obter maiores chances de
manutenção de vulva juvenil. Contudo, a vulva juvenil não apresenta importância clínica para
cadelas sadias. Já cadelas com sobrepeso, apresentando vulva juvenil, terão maiores
probabilidades de desenvolver dermatites perivulvares (JERICÓ; ANDRADE; KOGIKA,
2015).
A incontinência urinária é uma complicação que se observa, sobretudo, em cadelas
submetidas à OSH (SANTOS et al., 2019). Mesmo não existindo comprovação de que tal
problema esteja relacionado à castração, constatou-se que a incontinência estrógeno-
dependente é elevada em cadelas castradas (MACEDO, 2011).
Muitos veterinários demonstram preocupação que a obstrução uretral de gatos machos
estaria relacionada à castração pediátrica. Entretanto, estudos realizados com gatos sem
castrar, gatos castrados precocemente e ao tempo convencional, constataram que,
independentemente da idade da castração, não se apresenta diferença no diâmetro da uretra
dos gatos castrados com gatos sem castrar (RAND, 2008).
Macedo (2011) relata em um estudo que as cadelas esterilizadas teriam duas vezes
maior probabilidade em ganhar peso, em relação às não castradas, mesmo consumindo
quantitativos de alimentos iguais. Entretanto, Rand (2008) aponta que o ganho de peso não
está relacionado ao período da castração, porém, está, de fato, associado à redução no
metabolismo dos animais castrados, mas o controle se dá através de uma dieta balanceada e
atividades física.
Macedo (2011) aponta que cães das raças Dachshunds, Poodles e Boston Terriers
possuem maior predisposição ao desenvolvimento de tumores das glândulas adrenais após a
castração. Vale ressaltar que o autor ainda alerta que pode acometer em qualquer raça.
53
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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