Um Olhar Gestáltico Sobre A Bulimia

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia


Curso de Pós-Graduação Lato Sensu
Especialização na Abordagem Gestáltica
Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Um Olhar Gestáltico Sobre a Bulimia

Érika Teixeira de Brito

Goiânia
Março, 2011
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Um Olhar Gestáltico sobre a Bulimia1


A Gestalt Look over Bulimia

Érika Teixeira de Brito Costa2


Sandra Albernaz L. M. Sousa3

Resumo: O objetivo deste artigo foi compreender a vivência da pessoa com bulimia sob o prisma da
Gestalt-terapia, que reconhece a pessoa como um ser de contato, singular e repleto de pontecialidades.
Para tanto, fez-se um estudo de caso, bem com o a exploração de alguns conceitos sobre o tema, tais
como: bulimia, contato, retroflexão, doença existencial, confirmação, desconfirmação e
inautenticidade. Observou-se que houve experiências continuadas de desconfirmação e falta de
aceitação na vivência do sujeito que contribuíram para o surgimento de um modo retroflexivo e
inautêntico de ser e estar no mundo. Verificou-se que há possibilidade de haver uma relação entre
bulimia, desconfirmação e inautenticidade. A Gestalt-terapia, embasada no método fenomenológico,
permitiu a compreensão da história de vida do sujeito. Por fim evidenciou-se que os sintomas
apresentados pela pessoa com bulimia são vivenciados de modo singular e vão além dos aspectos
físicos.

Palavras-chave: Gestalt-Terapia, bulimia, adoecer existencialmente, desconfirmação e


inautenticidade.

Abstract: This article is about understanding someone's life as a bulimic under a Gestalt therapy
prism. It considers the person as a singular, touchable and potencial one. In that way, a study case was
based in related concepts over the theme as bulimia, liaison, retroflexion, existential disease,
confirmation, disconfirmation and inauthenticity. Gestalt therapy, based on phenomenological
method, allowed the understanding of the individual's life story. It was noticed that several continued
disconfirmation experiences and lack of acceptance contributed for a new retroflexive and inauthentic
way of being in the world. Finally, it became clear that symptoms showed and lived by the person are
singular and beyond physical aspects.

Key words; Gestalt-therapy; bulimia, existential disease, disconfirmation and inauthenticity.

1
Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Gestalt-
terapia, do Curso de Pós-graduação Lato Sensu do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-
terapia de Goiânia (ITGT), chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).
2
Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, especializanda em Gestalt-
terapia pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT). E-mail:
[email protected]; atendimento psicoterapêutico no Núcleo Morato de Psicologia Sistêmica.
3
Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), especialização
em Gestalt-terapia pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT),
mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atualmente: professor titular do
Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT) e atendimento
psicoterapêutico na Clincorpus: centro de terapias.
3

1 Introdução

No contexto histórico da evolução humana, evidenciam-se mudanças no

modo de ser e estar no mundo em relação à forma de viver e de alimentar das

pessoas. O homem primitivo deslocava-se de um lugar para outro em busca de

alimento. Nessa época, o alimento era escasso e pouco accessível. A necessidade de

garantir o alimento fez o homem primitivo desenvolver técnicas para manipular

espécies de plantas marginais, visando maior produtividade, digestibilidade e

conteúdo nutricional.

Hoje, com técnicas mais precisas, manipulam-se geneticamente frutas,

verduras e grãos. O avanço tecnológico em relação aos alimentos é tão grande que

desenvolveram suplementos nutricionais, capazes de substituir as refeições

convencionais e, com o menor esforço possível, não é preciso picar, cozinhar,

mastigar. A luta pelo alimento não é mais para manter a sobrevivência e a

perpetuação da espécie, como no tempo dos primatas da raça humana, mas para

atender a um padrão de consumo e a falsa ilusão de que se ganha “tempo”.

Consequentemente, as pessoas contemporâneas passaram a ingerir mais alimentos

industrializados, calóricos e pouco saudáveis (Leonard, 1997).

A máxima de que “tempo é dinheiro” contribuiu para que a indústria

atendesse às necessidades do homem moderno, desenvolvendo alimentos prontos,

congelados e instantâneos. Configura-se hoje a era dos fast-foods: basta ligar e o

alimento chega prontinho, em porções generosas, sem esforço para ser consumido.

Outro fator que facilita o acesso à comida, são as lojas de conveniência e os

supermercados, funcionando 24 horas. De modo sutil, a idéia é: não importa a hora

ou o lugar, a comida é accessível para quem quer consumir (Leonard, 1997;

Wansink, 2010).
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Por outro lado, a disponibilidade e o acesso fácil ao alimento industrializado,

preparado e pronto, contribuíram para uma explosão de problemas relacionados à

saúde (coração, diabetes, transtornos alimentares e outros). Transtornos alimentares,

como bulimia, anorexia e obesidade, são crescentes nos últimos dez anos, atingindo

cada vez mais cedo as pessoas que desejam ter um corpo “perfeito” (magro-belo)

(Romaro & Itokazu, 2002).

De um lado, o acesso fácil ao alimento e a publicidade gastronômica; de

outro, o padrão estabelecido de que beleza e sucesso estão associados à magreza. Um

paradoxo que contribui para que, cada vez mais, as pessoas arrisquem os mais

variados tipos de dietas restritivas e práticas esportivas em excesso, consequência de

uma mensagem publicitária estimuladora dessas dietas e exercícios, tidos como

“milagrosos” para se ter o corpo magro e perfeito tão idealizado. Nunca se viram

tantos produtos dietéticos e academias de ginástica. Nunca se realizaram tantas

cirurgias plásticas como meio para atingir a “perfeição” da forma física. Evidencia-

se, assim, que a sociedade privilegia o consumo bem como a imagem da pessoa bela

e magra. Essa aparência de pessoa magra é algo tão desejado, que, associado a outros

fatores, impulsiona para os transtornos alimentares (Nunes & Holanda, 2008).

Os transtornos alimentares são, de certa forma, um processo de adoecer, em

que a pessoa, faminta e desnutrida de afeto, clama por ajuda. Dethlefsen e Dahlke

(1983) consideram doença e saúde conceitos singulares, pois dizem respeito a um

estado das pessoas e não a partes independentes (órgãos, estômago e outras partes do

corpo). Essa visão difere do método cartesiano, que visa generalizar os sintomas e

classificá-los em categorias de tal forma que a pessoa recebe um diagnóstico pelos

sintomas que apresenta, como se fossem a própria totalidade da pessoa: “a bulímica”

e não a “Maria”, a “Joana”.


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De acordo com DSM-IV-TR (Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais. 2000), a bulimia é descrita como transtorno alimentar, cujos sintomas mais

comuns são episódios de hiperfagia e métodos compensatórios inadequados para

evitar ganho de peso. A pessoa faz indução de vômitos após episódio compulsivo

alimentar. Esse método purgativo é empregado por 80% a 90% dos casos. O uso

regular de métodos purgativos (vômitos, uso de laxantes e diuréticos) e não

purgativos (jejuns ou exercícios físicos exagerados) é uma forma compensatória e

inadequada. Pode estar associada a outros transtornos, como sintomas depressivos

(baixa auto-estima), transtorno de humor (distímico e depressão maior), transtorno de

ansiedade e de personalidade (bordeleine).

Segundo Karwowski e Teixeira (2007), pessoas com transtorno alimentar

possuem dificuldades de contato, de perceberem limites claros entre si e o outro, o

que dificulta a satisfação de necessidades.

Pessoas com bulimia, de acordo com Schilings e col. (2007), utilizam-se de

mecanismo de retroflexão (direcionam para si a energia que poderiam direcionar ao

meio) e de introjeção (engolem, sem discriminar, crenças e padrões sociais). Não

entram em contato com seus sentimentos. Podem relatar situações de perda e

processo de luto mal elaborado (rejeição e/ou sentimento de abandono). Para essas

pessoas, o alimento é percebido como ambivalente: primeiro, quando devorado,

serve como aliado; após ingestão, o alimento passa ter outra conotação – a de ameaça

(desencadeia a ideia de que a pessoa vai engordar).

Romaro e Itakazu (2002) postulam que as pessoas com quadro bulímico

valorizam muito a forma e o peso do corpo; possuem uma percepção física distorcida

e têm dificuldadepara identificar emoções. Normalmente apresentam baixa auto-

estima, elevado nível de ansiedade, baixo limiar de frustração no controle dos


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impulsos. Na tentativa de corresponder aos padrões da sociedade, que elege a

magreza como símbolo de sucesso e beleza, as pessoas com bulimia desejam para si

esse padrão que é inatingível, gerando frustrações, culpa pelo fracasso, o que

desencadeia um comportamento compulsório.

Conforme Sato (2007), há conflitos nas relações familiares de pessoas com

bulimia, sendo notória uma relação mãe-filha difícil, cheia de cobranças, desejos e

expectativas. Daí a necessidade de compreender não apenas os sintomas

apresentados pela pessoa, mas também os padrões alimentares e afetivos da pessoa

com bulimia.

A bulimia é uma forma em que a pessoa se autorrregula para se relacionar

com a comida e com o mundo. A pessoa com bulimia não confia em si mesma, em

sua capacidade de realização própria, torna-se passiva. Também se sente ignorada ou

invadida pelas outras pessoas e, assim, acaba se retraindo. Chega a evitar

compromissos, por medo de não conseguir realizá-los, uma vez que generaliza seu

fracasso pela falta de controle nos episódios alimentares (Nunes, Appolinario,

Coutinho, Walmir & col. , 2006; Panazzolo, 2002).

Galvão, Claudino e Borges (2008) afirmam que, em relação ao episódio

bulímico, o consumo exagerado e descontrolado de alimentos não visa apenas saciar

uma fome extrema, mas também pode servir como uma alternativa (que alivia) para

uma série de estados emocionais ou situações estressantes. Outro aspecto relevante é

que algumas pessoas com bulimia consideram que cometeram a compulsão, mesmo

tendo ingerido uma pequena porção de alimento, ou pelo simples fato de esse

alimento ser “proibido” (extremamente calórico). Essas pessoas valorizam tanto a

perda de controle ocorrida naquele momento, quanto o fato de terem ingerido um

alimento que favoreça o aumento de peso.


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Segundo os mesmos autores, é importante compreender os aspectos

subjetivos da pessoa com bulimia, pois vão além dos aspectos orgânicos e sociais. Os

aspectos subjetivos permitem acessar o modo como a pessoa com bulimia se

relaciona com a comida e com a sensação de perda de controle no episódio

compulsivo e com suas dificuldades afetivas.

O método cartesiano geralmente é utilizado pelos profissionais da saúde, que

levantam um diagnóstico meramente objetivo. Esse tipo de diagnóstico revela apenas

uma parte de totalidade da pessoa. Daí a necessidade de se compreenderem não

apenas os aspectos objetivos, mas, em especial, os aspectos subjetivos da pessoa com

transtorno alimentar, pois o sintoma atrai para si a atenção, o interesse e a energia,

torna-se figura, gerando sofrimento profundo, levando a pessoa a interromper o fluxo

natural da sua vida, o que a impede de experimentar outras formas de ser, estar e

alimentar-se no mundo (Schilings, Nunes, Gaspar, Sato, Fukumitsu, Teixeira &

Karwowski, 2007).

Os aspectos subjetivos da pessoa revelam a sua singularidade, “estamos

tratando uma pessoa única e não apenas um tipo de doença”. (Nunes, 2007, p. 68 e

p.74). Por esse prisma, é possível compreender o transtorno alimentar de forma

individual, em que cada pessoa desenvolve seu padrão alimentar, seja pela escolha

do tipo de comida, pela frequência com que se alimenta ou pela quantidade de

alimento.

Portanto, o objetivo desse trabalho foi compreender a pessoa com bulimia

nervosa, com base na Gestalt-Terapia. Trata-se de um transtorno difícil, que debilita

principalmente as mulheres mais jovens e pode estar associado a outros transtornos,

tais como de ansiedade e de humor. Portanto, este estudo torna-se relevante, pois
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aborda o aspecto subjetivo da pessoa com bulimia bem como o seu modo de ser e

adoecer no mundo (Schilings & col., 2007).

Esses aspectos subjetivos do ser humano são valorizados pela Gestalt-

terapia, que percebe o ser humano como uma totalidade, como uma pessoa de

contato, que sente e que se alimenta na tentativa de suprir suas necessidades (Nunes,

2007).

A Gestalt-terapia é uma abordagem que visa à saúde e não à doença;

considera a pessoa humana como um ser de contato, que se relaciona constantemente

consigo mesma, com o outro e com o mundo. Compreende as necessidades

emergentes na pessoa como tentativa de autorregulação organísmica e está atenta à

temporalidade e à espacialidade na qual a pessoa se movimenta e pela qual se revela

na vida (Ribeiro, 2007).

Por meio da Gestalt-Terapia e com um olhar fenomenológico-existencial,

pode-se compreender a doença como um conflito que subsiste em termos de

desordem. A pessoa permanece num comportamento estereotipado, invariante, alheio

às suas possibilidades e do ambiente, reagindo inadequadamente (Tenório, 1994).

Dessa forma, a pessoa permanece presa ao passado, limitando seu modo de ser no

mundo.

Segundo Ribeiro (2007), é sob essa vertente existencialista que a Gestalt-

Terapia aponta para o potencial criativo da pessoa, capaz de se autorregular com

fluidez na sua relação consigo mesma e com o mundo. Saúde é um processo

totalizante para a Gestalt-Terapia, é como se a pessoa estivesse em constante relação

dialética entre parte-todo, figura-fundo, dentro-fora, no qual o organismo acontece

como um todo. Isso implica um ato totalizante (awerness), envolvendo funções


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sensoriais, motoras e cognitivas capazes de provocar mudanças na pessoa e na sua

relação com o mundo.

Nunes (2007) considera possível traçar um paralelo entre a bulimia e os

conceitos de interrupção no processo de contato da Gestalt-Terapia, pois a bulimia

não se refere somente à fome fisiológica, mas a um sofrimento profundo, como a

fome de aceitação, de afeto, de pertencimento, que a pessoa busca em suas relações

com o mundo e, por não encontrar, acaba transferindo para o alimento.

Forghieri (1993) afirma que a pessoa que se encontra doente, relaciona-se

consigo e com o mundo de modo restrito, pois “o adoecimento existencial só

acontece quando as limitações e os conflitos não são reconhecidos e enfrentados

pelas pessoas” (p. 53). Inconscientemente a pessoa permanece com uma necessidade

não satisfeita, reprimida, mantém-se doente, com conflitos e sofrimento. A pessoa

torna-se inautêntica, adoecida, insegura, necessitando constantemente da aprovação

do outro (Miller, 1997).

A reflexão de saúde como um processo possibilita a compreensão do modo

como a pessoa consegue suprir suas necessidades de forma criativa, fluida e,

principalmente, pela possibilidade de confirmação em sua singularidade. A doença,

em contrapartida, seria a interrupção, a inibição desses processos, podendo ainda ser

fruto da desconfirmação (Nunes, 2007; Friedman, 1985).

Hycner (1995) afirma que Buber aponta a “ausência da confirmação como

base de toda psicopatologia em que a pessoa sofre no esforço para se tornar ser

humano aceito, amado pelo outro” (p. 60).

Segundo Hycner e Jacobs (1997), “confirmar o outro significa um esforço ativo

de voltar-se para outra pessoa e afirmar sua existência separada, sua alteridade e sua

singularidade”. Todos os seres humanos necessitam existencialmente de serem


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verdadeiramente confirmados pelas outras pessoas. “É uma necessidade que está

presente, durante toda a vida, mas é proveniente quando houve uma sintonia falha

entre a criança e seus pais” (p. 126). Assim, a confirmação de uma pessoa por outra

pessoa, pelo que ela realmente é, possibilita o desenvolvimento, a totalidade do

outro, o que leva à autenticidade pessoal.

A tendência a aparentar surge, portanto, da necessidade desesperada da

pessoa em ser amada, confirmada. Para ser amada, deve assumir os papéis que lhe

são atribuídos, aceitando a confirmação de um sistema falso de identidade, pois

“necessitamos de amor como o ar” para sobreviver (Miller, 1997, p. 8).

Miller (1997) afirma que a doença surge em resposta à confirmação de um

sistema falso de identidade do ser, em que a pessoa desenvolve uma postura na qual

mostra o que é esperado dela. Desse modo, a pessoa perde a capacidade de

diferenciar sua própria identidade daquela que representa, por que é esperado dela

pelas outras pessoas. Isso leva a uma forma inautêntica de se viver.

Segundo Molina (2008), na existência inautêntica, “... o homem vive uma

abertura que não lhe pertence como algo que ele possa dispor, e nessas condições, o

ser fecha-se em si mesmo, alienando-se totalmente de sua principal missão que seria

se tornar-se si mesmo, ou seja, um ser de possibilidades...”. A existência inautêntica

pode ser percebida nas pessoas com bulimia. Segundo Panazzolo (2002), pessoas

com bulimia geralmente não conseguem discriminar necessidades e emoções

próprias, “engolem” crenças e padrões sociais sem perceber seus sentimentos, sem

atender suas reais necessidades. Portanto, a bulimia é uma forma adoecida, uma

forma de interrupção que a pessoa encontrou de autorregular-se, para estar no

mundo, ou seja, uma forma de relacionar-se com o outro, com ela mesma e com o
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alimento. Essa forma de ser gera muito sofrimento, além de afetar os aspectos

físicos, emocionais e sociais da pessoa com bulimia.

2 Método

Foi utilizado, neste estudo, o método fenomenológico. Forghieri (1993)

afirma que esse método é descritivo e exige que se faça epoché (suspensão de

valores, crenças, necessidades próprias do terapeuta), ou seja, que se utilize da

redução fenomenológica como recurso para chegar ao fenômeno como tal, à sua

essência. De acordo com Yontef (1998), é um método que exige, por parte do

pesquisador, postura atentiva para que a observação seja objetiva, com descrição

clara e detalhada daquilo que é. Em Gestalt-terapia, esse método possibilita ao

cliente nomear e dar sentido a sua própria experiência.

2.1 Participante

 Identificação: Amanda (nome fictício, para preservar a verdadeira identidade

da participante. Esse nome foi escolhido pela própria participante, que relatou

significar “digna de ser amada”). Brasileira, 30 anos de idade, casada, mãe de

dois filhos (um com 8 anos e outro com 6 anos), buscou terapia se intitulando

como bulímica, dizendo ter feito terapia por um ano, quando chegou ao peso

corporal de 48 kg, e depois de ter sido hospitalizada. Pensou ter melhorado,

mas, no momento, teme não conseguir melhorar, pois voltou a vomitar todos

os dias. Amanda administra seu lar (“obrigação”), conciliando seu tempo


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entre os compromissos extraescolares dos filhos e os compromissos sociais e

de trabalho do esposo.

 Breve histórico de vida: Amanda relata ter demorado cinco anos para aceitar

que estava doente, chegando a pesar 48 kg (“pele e osso”, termo usado por

ela). Refere-se a essa fase como estando feliz, pois era notada pelas pessoas,

mas consciente de que estava doente. Considera-se fruto indesejado (não foi

planejada, sua mãe era babá e envolveu-se com o patrão). Queixa-se

constantemente da mãe – “ela nunca olhou para mim”, “nunca me aceitou do

jeito que eu sou” – e do esposo, que nunca tem tempo para ela e que é muito

agressivo com os filhos.

2.2 Local e Materiais: As sessões de psicoterapia foram realizadas em clínica

particular. Foram utilizados termo de consentimento em duas vias (em anexo),

uma via para participante e outra para pesquisadora, computador, gravador MP3,

impressora, papel A4.

2.3 Procedimento

A pesquisadora convidou a cliente para o estudo em questão (“Um Olhar

Gestáltico sobre a Bulimia”). A cliente aceitou prontamente, sentindo-se valorizada

por ampliar conhecimentos sobre o tema bulimia. Amanda relata que os transtornos

alimentares, em especial a bulimia, precisam de mais pesquisas e de ser mais

divulgados, pois ela acredita que existam muitas mulheres na sua situação e que, por

falta de informação, não buscam ajuda para se tratar (problemas físicos e

emocionais). A partir do seu consentimento, as sessões foram devidamente gravadas

e transcritas. Foram realizadas dez sessões no total e selecionadas cinco sessões para

este estudo.
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Etapas:

 A terapeuta manteve uma postura acolhedora e tentou compreender o que levou

a cliente a buscar psicoterapia e tentou clarear e compreender a experiência da

cliente, devolvendo para ela sua fala. Procurou acessar o que era mais importante

(figura) para a cliente naquele momento. A terapeuta tentou e compreender como

a cliente lida com seus conflitos internos.

 O terapeuta manteve-se presente, sem julgamentos, sem apriores de valores, no

sentido de fazer com que a cliente entrasse em contato com sua experiência

presente (figura).

 A terapeuta escutou atentivamente sua cliente, o que possibilitou momento de

inclusão.

 A terapeuta percebeu uma forma de comunicação não verbal por parte da cliente,

e tentou compreender o que estava acontecendo naquele momento. Manteve

postura acolhedora e tentou fazer com que a cliente descrevesse sua experiência.

 O terapeuta investigou a experiência presente a fim de compreender a figura

(necessidade) revelada pela cliente e tentou promover o contato da cliente com

sua experiência e procurou fazer com que a cliente nomeasse sua experiência

para dar sentido a sua singularidade.

 Tentativa de organizar o diálogo e levar a cliente a permanecer em contato com a

experiência presente visando provocar awereness.

 A terapeuta leva a cliente a entrar em contato com um sofrimento profundo e

tentou confirmar a experiência do cliente.

 Leitura das transcrições e seleção dos trechos a serem utilizados e redação do

estudo de caso.

3 Resultado e Discussão
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Na perspectiva Gestáltica, como já comentado, a pessoa é compreendida

como uma totalidade, como um ser de contato (um ser no mundo e com o mundo). O

processo de adoecer não é compreendido como algo isolado, objetivado,

determinista, como no modelo cartesiano. Procura-se, sim, conhecer o modo pelo

qual a pessoa adoece (Ribeiro, 2007; Schilings e col., 2007).

Através do procedimento utilizado, possibilitou acolhimento em relação à

cliente o que contribuiu para que ela pudesse entrar em contato com seu sofrimento,

com seus conflitos e com gestalts inacabadas.

Portanto, a fim de se compreender a vivência da pessoa com bulimia no

processo de psicoterapia em Gestalt-Terapia, serão transcritos fragmentos de sessões:

relatos do terapeuta e da cliente. A participante será identificada com a sigla “C”; a

terapeuta-pesquisadora, com a sigla “T”.


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Primeira sessão:

T: Oi, Amanda, por que você buscou psicoterapia?

Tentativa de a terapeuta compreender o que levou a cliente a buscar psicoterapia.

C: Bom, eu quero fazer um tratamento sério, porque sinto que estou piorando.

T: Piorando como?

A terapeuta ouviu atentamente e tentou compreender o que a cliente estava dizendo.

Segundo Rogers (1997), “ouvir atentamente meu cliente era uma maneira importante

de ajudar”. (p.69)

C: É que, quando nova, tive anorexia e há um tempo desenvolvi bulimia, a ponto de

ser internada na UTI. Fiquei “sem peito” e “sem bunda”, mas eu gostava. É difícil

pra mim, mas eu era feliz assim, mas fiquei muito doente, ninguém entende que eu

gostava de me ver magra, pele e osso. Fiquei muito mal, não mesntruava, vomitava

tudo que comia, meus filhos ficavam assustados. (choro intenso)

T: Você se sentia bem em pele e osso, embora soubessem que estava doente, a ponto

de ser internada na UTI.

A terapeuta tentou clarear e compreender a experiência da cliente, devolvendo para


ela sua fala. “O terapeuta deve sintetizar de maneira clara a fala da cliente, para que
ele possa rever e se reconhecer em sua fala pela percepção do outro” (Ribeiro, 2009,
p. 53).
C: Sim... De lá pra cá, busquei terapia, acompanhamento com nutricionista,

psiquiatra, mas resolvi mudar de médicos, porque não me ajudavam em nada (suspira

fundo). Não resolvia eu marcar na tabela quantas vezes eu vomitava no dia.

T: Como você está hoje?

A terapeuta procurou acessar o que era mais importante (figura) para a cliente

naquele momento. A pessoa convive com o “aqui-e-agora”, ou seja, traz para o


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presente, experiências do passado e expectativas do futuro, numa relação de figura-

fundo, que se alternam. A figura surge, portanto, de um fundo complexo como

tentativa de o organismo satisfazer uma necessidade (Ciornai, 1995; Ribeiro, 2007).

C: Mal. (choro)... Estou vomitando quase todos os dias, às vezes mais de uma vez.

A pessoa com bulimia apresenta dificuldade de entrar em contato com suas emoções,

e normalmente utiliza mecanismo de retroflexão, ou seja, a pessoa dirige para si

mesma a energia que deveria dirigir a outra pessoa (Schilings & col., 2007; Ribeiro,

2009).

T: Quando você vomita, você induz o vômito ou é natural?

Diante do relato, a terapeuta tentou verificar o método purgativo utilizado pela

cliente. A terapeuta poderia ter realizado outra intervenção: Você diz que vomita

todos os dias, o que você não quer engolir?.

C: Só de curvar eu já vomito. Antes eu usava de estratégias, bebia muito líquido,

comia alimentos fáceis e posicionava o dedo de forma que não me machucava, então

eu vomitava até sair bílis, às vezes sangrava.

“No início, ao induzir o vômito, a pessoa com bulimia introduz objetos ou os dedos

na garganta, com o tempo, chegam a eliciá-lo apenas curvando-se” (Nunes & col.,

2006, p. 42).
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Segunda sessão:

T: Do que você quer falar hoje?

O terapeuta intervém, no sentido de fazer a cliente entrar em contato com sua

experiência presente. Ciornai (1995) afirma que o terapeuta deve ser suporte para

ajudar o cliente a trazer para o “aqui-e-agora”, situações antigas e inacabadas, para

que assim, ao liberar o fluxo de energia e awareness, seja capaz de tomar suas

próprias decisões e se responsabilizar por cada uma delas.

C: não sei...

T: Respira um pouquinho, verifica se tem algo que você gostaria de falar.

A terapeuta procurou ajudar a cliente a entrar em contato com o que era figura. A

figura é compreendida como um movimento de tensão interna, em que necessidades,

desejos da pessoa assumem dominâncias, e que se destacam de um fundo complexo

(Ribeiro, 1985).

C: (Choro intenso, seguido de silêncio longo).

T: O que aconteceu neste momento?

A cliente permanece, por um tempo, bastante mobilizada. A terapeuta compartilha a

sua sensação de dor com a cliente. A terapeuta manteve-se presente, tanto

humanamente quanto possível, tentou experienciar e compartilhar o que a cliente está

experienciando. Segundo Ribeiro (2007), “presença é uma entrega à experiência

imediata na aceitação da totalidade do outro, deixando-se acontecer” (p. 54).

C: É que tenho uma relação muito difícil com minha mãe. Quando eu tinha cinco

anos ela se casou novamente, e me disse: “agora você tem que crescer.” Lembro

disso até hoje. Comecei a trabalhar cedo, fazia de tudo para que ela sentisse orgulho

de mim, mas ela nunca me aceitou do jeito que eu era, me achava gorda, então fiquei

“nonhada” com o corpo, só pensava em emagrecer.


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Segundo Sato (2007), é comum observar conflitos nas relações familiares de pessoas

com bulimia, em especial entre mãe e filha, permeados por cobranças, desejos e

expectativas.
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Terceira Sessão:

T: Oi, Amanda.

C: Oi (mexe as pernas, as mãos, respiração ofegante).

T: Percebo que você esta irrequieta.

A terapeuta percebeu uma forma de comunicação não verbal por parte da cliente.

Deve-se estar atento à pessoa como um todo, ao verbal e ao não verbal, pois “tudo no

ser humano é fecundo de significados” (Ribeiro, 2007, p. 111).

C: (Em silêncio)... Tenho que ser honesta aqui (choro). Eu estou cansada de ser o que

não sou, de falar e fazer o que não quero. NÃO AGUENTO MAIS! (muita energia

na fala).

T: Você está cansada de ser uma pessoa que você não é; como é falar disso aqui,

agora?

A cliente faz contato com um modo de ser inautêntico e o verbaliza à terapeuta.

Segundo Miller (1997), a pessoa desenvolve uma postura inautêntica, na qual mostra

apenas o que é esperado dela, se fundindo a essa imagem. Isso impossibilita o ser de

se desenvolver espontaneamente, pois a pessoa diminui abertura às próprias

possibilidades, gerando assim sofrimento e restrições no modo de ser e estar no

mundo (Forghieri, 1993).

C: Um alívio! Lá fora é mais fácil eles acreditarem que eu vomito por não gostar do

meu corpo, do que porque estou sofrendo, afinal, moro num condomínio de luxo,

tenho um carro importado, por que eu deveria sofrer?

A cliente experimenta possibilidade de ser ela mesma. “Acaba conseguindo

recuperar o envolvimento e sintonia com seu sofrimento, atribuindo-lhe significado

em sua existência” (Forghieri, 1993, p. 54).


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T: Diante disso que você falou, parece que é difícil ter que ser diferente do que você

é, tenho a sensação de que você encontrou um jeito para não aceitar, por meio do ato

de vomitar, faz sentido?

(A intervenção da terapeuta poderia ter sido: “Aqui, comigo, você pode ser você

mesma...”).

C: (muito mobilizada, assinala com a cabeça uma postura de afirmação).


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Quarta sessão:

T: Olá, Amanda.

C: Hoje eu vim porque se pudesse EU MATAVA MINHA MÂE! (muita energia na

fala).

T: Percebo que você está com muita raiva.

A terapeuta manteve-se atentiva e presente, o que possibilitou realizar inclusão com a

cliente. Segundo Buber, citado por Hycner e Jacobs (1997), “o terapeuta deve sentir

o outro lado, o lado do paciente na relação, como um toque corporal, para saber

como o paciente sente” (p. 81).

C: Tenho que acompanhar meu marido em um evento fora de Goiânia, meu filho

menor adoeceu. Pedi para ela ficar com os meninos, ela teve a capacidade de cobrar

R$5.000,00, pode? Graças a Deus minha irmã vai ficar com eles. Não gosto de ficar

longe dos meus filhos, mas tenho que acompanhar o Paulo (nome fictício do esposo).

T: Como você está agora ao relatar que não pode contar com sua mãe?

A terapeuta tentou promover o contato da cliente com sua experiência. Segundo

Yontef (1998), “na Gestalt-Terapia, a experiência imediata do paciente é trabalhada

ativamente...” (p.21).

C: Com ódio! (muita energia na fala). Ela nunca faz nada por mim, tudo que faço é

pouco. Não sou boa o suficiente. Estou tão mal que não consigo comer, tenho ânsia

de vômito, se como algo, vomito na hora; então, prefiro não comer.

A cliente, embora tenha demonstrado algum contato com seus sentimentos, manteve

seu padrão de funcionamento: mecanismo de retroflexão, ou seja, converge para si a

energia que seria dirigida para o meio. Segundo Ribeiro (2007; 2009), “é importante

ajudar o cliente a ter uma consciência organísmica em sua realidade (eu-mundo),

prestando atenção ao seu funcionamento...”. A retroflexão é um “processo através do


22

qual desejo ser como os outros desejam que eu seja dirigindo para mim mesmo a

energia que deveria dirigir a outrem” (p. 62, p. 67).


23

Quinta Sessão:

Nesta sessão é possível perceber a forma como a cliente lida com seus conflitos,

demonstrando dificuldades de identificar emoções, de fazer contato e de satisfazer

suas necessidades, utilizando como mecanismo de funcionamento a retroflexão.

T: Percebo que você está com a respiração ofegante, irrequieta com as mãos. O que

está acontecendo?

A terapeuta percebe e verbaliza uma forma de linguagem não verbal. “O cliente deve

ser visto sob todos os seus aspectos, não só através da fala, linguagem verbal, mas

também através de um corpo que fala de “n” formas. Assim, a intervenção não será

apenas em relação à fala do cliente”, conforme comunicação verbal de Luciana

Aguiar, em 09 de outubro de 2010.

C: Estou com vontade de vomitar (a cliente, muito mobilizada, põe a mão na boca

como se estivesse segurando para não vomitar).

T: Você está com vontade de vomitar agora?

Investigação da experiência presente a fim de compreender a figura (necessidade)

revelada pela cliente. Segundo Ciornai (1995), a formação de figuras fracas,

desvitalizadas, mal definidas e confusas se dá porque o organismo não alcançou sua

completude. Isso vai dificultando progressivamente as possibilidades de contatos

criativos com o presente, ou seja, a pessoa não atualiza suas necessidades.

C: (choro intenso, silêncio...).

T: O que está acontecendo que está deixando você com vontade de vomitar?

O terapeuta leva a cliente a entrar em contato com sua experiência presente.

“A terapia consiste, assim, em analisar a estrutura interna da experiência concreta,

qualquer que seja o grau de contato desta; não tanto o que está sendo experenciado,
24

relembrado, dito... mas a maneira como o que está sendo relembrado é relembrado ou

como o que é dito é dito...” (Perls, Hefferline & Goodmam, 1997).

C: Olha que eu acabei de sair da aula de “mortai”, mas não consegui aliviar nada.

(Cliente leva a mão na boca novamente). Eu ia chegar mais cedo para vomitar, mas

aí você já tinha chegado, eu tô segurando.

T: O que está acontecendo?

Tentativa de compreender a experiência da cliente. Segundo Fukumitsu (2002), a

pessoa com bulimia utiliza de mecanismo de retroflexão, demonstra inabilidade para

lidar com problemas cotidianos e conflitos emocionais. “Na retroflexão, a cisão

muitas vezes cria atrito interno e estresse considerável, uma vez que permanece

autocontida e não se move para a ação necessária” (Polster & Polster, 2001, p. 99).

Diante disso, a intervenção também poderia ter sido: Amanda, você disse que não

conseguiu aliviar nada, você percebe o modo como você lida com seus problemas?

C: Pior que eu não sei (choro intenso). Assim, acho que pode ter sido por ontem, foi

a gota d’água, por uma série de coisas que estão acontecendo. Aí acho que dei uma

baqueada.

T: O que aconteceu ontem que a deixou baqueada?

Investigação, tentativa de fazer a cliente descrever sua experiência com o objetivo de

ampliar contato. Segundo Polster e Polster (2001), “contato é crescimento é o meio

para mudar a si mesmo e a experiência que se tem no mundo” (p. 113). Outra

intervenção possível: Amanda, você percebe como fica diante uma série de

acontecimentos... Essa intervenção seria uma tentativa de provocar contato para que

a cliente perceba o modo como ela fica diante dos acontecimentos, ou seja, de como

ela redireciona a energia para si, ao invés de direcionar para o meio (Fukumitsu,

2007).
25

C: (Choro intenso)

T: O que está acontecendo agora?

Tentativa de ampliar o contato visando à awareness. “A awereness é em si, a

integração de um problema” (Yontef, 1998, p. 215).

C: Ontem eu tive um sentimento que eu nunca tinha sentido na minha vida. Senti

muito ruim, ruim com isso, tô falando de sentimento, porque eu não sei explicar, sei

que foi muito ruim. Não sei explicar se senti raiva ou inveja, nunca senti isso. A

gente vai lá trás, eu fico olhando, sei que não pode ser comparado, mas... (respira

fundo) o braço direito do meu marido é meu tio, e a mulher dele engravidou depois

de um tratamento que ela fez... [...] ELA TEVE UMA MENINA (fala com muita

energia). [...] Quando fiquei grávida do Yan (nome fictício, para preservar a

identidade do menino), não dava para ver no ultra-som que era uma menina, mas o

povo da igreja ficava falando que era eu aceitei, tipo assim, comprei umas coisas cor

de rosa, mas não fui tão louca de comprar tudo rosa, fiz o enxoval com cores mais

neutras. Talvez isso fosse bom, porque era o que eu queria ouvir e os ultra-sons não

mostravam nada. [...] eu acreditava e falava é uma menina sim! E quando falavam,

mas, se não for? Eu dizia: mas é! Sinto que é! [...] Com isso, quando veio o Yan,

quando ele nasceu, eu não digo que foi uma frustração, não fiquei frustrada, mas fui

apedrejada, entendeu? As pessoas me jogaram na cara, cadê aquele Deus que você

serve que não te deu uma filha? Foi difícil, mas como eu estava dentro da igreja, eu

superei... (respira fundo). Achei que tinha superado. Aí ontem foi o dia dela ganhar

neném. Não tenho frustração. Eu olho uma menina de vestidinho, não tenho vontade,

quando alguém me pergunta se eu quero uma, digo que não, que a menina lá de casa

sou eu. É uma menina o bebê dela, e o povo aquela coisa, sabe? Todo mundo fica

falando. (fala com muita energia, choro intenso). E aí minha mãe casseta! (choro de
26

soluçar...) Minha mãe me incomodou muito! Quando fiquei grávida, não deu a

mínima, bulhufas, todo mundo, meu marido, que nunca foi presente (choro)...[...] E

meu marido que não deu a mínima atenção, ontem foi ver o bebê. Puxa, eu e meus

filhos somos o quê? (raiva). O Enzo (nome fictício) quase morreu! Fiquei sozinha

com meus filhos (em prantos)... [...] Ele vai ver a criança e deixa faltar as coisas em

casa. Isso me incomodou muito, fui mexer numa ferida que eu achava que estava

cicatrizada. Não vou fazer só porque tá todo mundo dizendo para eu fazer, pagando

sapo. Não adianta, não vou passar por cima de mim.

T: Eu estou escutando, não tenho vontade, vou respeitar isto, mesmo que gere todo

esse sofrimento. Estou ouvindo também que você está chateada, com raiva, porque,

quando foi ganhar neném, não teve apoio de ninguém, nem da mãe, nem do marido.

Veio o segundo filho com toda atribulação de saúde, que foi muito difícil. E agora

você vê outra pessoa tendo um colo que você gostaria de ter tido.

Tentativa de organizar o diálogo visando ao contato. Segundo Hycner (1995), o

terapeuta deve ser o organizador do discurso, como forma de “ensinar o cliente a

ficar dentro de sua experiência, em lugar de se deixar prender por uma imagem ou

pelos ‘deverias’” (p.42).

C: (Em silêncio).

T: Como é reviver tudo isso agora?

Tentativa de levar a cliente a permanecer em contato com a experiência presente e

também de provocar awereness. Segundo Ribeiro (1997), a awereness é um dar-se

conta pleno. É consciência emocionada em que emoção, pensamento e ação,

experienciados juntos, predispõem mudança.

C: Dói tanto! Eu me culpei tanto achando que era inveja, mas eu fui lá trás.

T: Que nome você dá para isso?


27

É importante que o cliente nomeie sua experiência para dar sentido a sua

singularidade, conforme comunicação verbal de Suassuna (2010).

C: (cabeça baixa; em silêncio a cliente balança a cabeça indicando não saber.)

T: Chega para mim uma sensação de abandono.

Nessa intervenção, a terapeuta partilhou sua sensação mediante a relação com a

cliente, pois esteve presente, o que facilitou a inclusão. “Os Gestalt-terapeutas não

estão confinados a uma gama limitada de respostas (...) São livres para estarem

presentes com o cliente... para estarem a serviço da relação dialógica”. (Hycner &

Jacobs, 1997). “A inclusão é um voltar-se a existência inteira para o outro, é uma

tentativa intensa de experienciar a experiência da outra pessoa tanto quanto a sua

própria” (Hycner, 1995, p. 59).

C: A vida toda! (muito emocionada). Aí eu quero pegar essa aparência e rasgar,

entendeu? Para ver se as pessoas me enxergam, para ver se tudo que passei na vida

inteira muda um pouquinho. (Silêncio...)

A cliente entra em contato com um modo inautêntico. Naves (2009) afirma que a

pessoa inautêntica não experimenta sua liberdade, sua consciência, não vivencia suas

capacidades próprias. “Na medida em que o indivíduo vivencia a angústia (deparar-

se com estado de facticidade), é capaz de se libertar do mundo fatigante e alienante

no qual se encontra. Isso pode remetê-lo à vida autêntica, pois se torna sujeito

consciente e responsável, aberto à verdadeira realização” (p. 6).

T: Quando você fala “quero rasgar minha imagem para que eles me vejam...”.

(Silêncio...)

T: O que acontece quando você pensa nessa imagem? O que você quer mostrar?

A terapeuta retoma a experiência com objetivo de investigar o sentido dessa

experiência para a cliente. Ciornai (1995) afirma que, quando a pessoa tem um
28

empobrecimento de seu contato com o mundo, em função de “figuras fracas”, ou

seja, necessidades físicas, emocionais, espirituais, entre outras, que não se

configuram claramente, interferem na qualidade do contato da pessoa com sua

interioridade e com os outros. Silêncio....

T: O que é importante para você?

C: É nessas horas que eu me confundo, minha cabeça dá um nó. Aí parece que nada

tá bom... Fisicamente, entendeu? Quando eu estava doente, as pessoas falavam, nem

que seja para dizer mal, falavam. “OU, você tá magra demais, ta pele e osso”, mas eu

gostava. Parece que enxergava... Eu não sei, parecia que era para chamar a atenção

da pior forma possível. Agora... converso com todo mundo, mas não faz diferença.

A cliente demonstra uma tentativa de ser ela mesma. Segundo Fridman (1985), “A

pessoa dominada pelo estado de ser se dá a outra pessoa espontaneamente...”

Enquanto, na maneira inautêntica, há uma “tentativa a aparentar que se origina na

necessidade de confirmação do homem e em seu desejo de ser falsamente

confirmado, em lugar de não ser confirmado em absoluto” (p. 2).

T: Dessas pessoas, de quem você realmente quer atenção, Amanda? De quem você

realmente sente falta?

A terapeuta leva a cliente a entrar em contato com um sofrimento profundo. Aguiar

(2005) afirma que, “para obter a confirmação do outro, a criança precisa abrir mão da

satisfação de inúmeras de suas necessidades, pois sua plena satisfação é incompatível

com aquilo que o outro espera dela, sua única saída é tentar negar, suprimir,

transformar ou distorcer suas necessidades para que possa manter a possibilidade de

reconhecimento pela família e outros grupos...” (p. 106). Com isso, a criança faz

ajustamentos criativos pouco satisfatórios para satisfazer sua necessidade mais

importante: a de ser confirmada, ainda que de forma negativa. Dessa forma, a pessoa
29

desde a infância vai desenvolvendo uma série de comportamentos cristalizados,

invariáveis, que apontam para um ajustamento criativo não saudável.

C: (Choro intenso)

C: Minha mãe nunca olhou para mim. Nunca, em toda minha vida, ela nunca olhou.

Eu fiz tudo certo, mas ela nunca olhou para mim. Às vezes eu tô com ela e a gente

escuta que o filho do fulano deu trabalho, eu falo, nossa mãe eu nunca te dei este

trabalho. Nunca dei trabalho pra ela, nem na escola nem em nada eu dei trabalho pra

ela. Não dei trabalho mesmo.

T: O que você gostaria de ouvir da sua mãe?

Tentativa de ampliar contato. Segundo Ribeiro (1985), a psicoterapia é um encontro

cuja finalidade é ajudar o cliente a se desdobrar, pedacinho por pedacinho, até que

ele “veja” sua essência consumida, ou seja, até que ele possa identificar e

experienciar o conceito de si próprio, seus desejos e necessidades com sua própria

realidade.

[...]4

T: Quando você fala “não muda, não tem jeito”, parece que você não tem esperança

mais em relação a isso, eu estou errada? ... Ou é nesse momento que você está

sentindo isto?

A terapeuta tentou levar a cliente a ampliar contato com sua experiência. Segundo

Ribeiro (1999) devem ser trazidos para o “aqui-e-agora” as emoções e os

sentimentos vividos pelo cliente, pois em terapia é possível reexperenciar passado e

futuro com energia no momento presente.

4
Alguns trechos da sessão foram suprimidos, em virtude da delimitação física deste artigo. O
fragmento que segue é da finalização da sessão.
30

C: Não. É por isto que dei o primeiro passo, eu preciso me curar. Eu estou cansada,

cansada de correr atrás de um corpo perfeito, desse corpo que “tá na minha cabeça” e

que possa despertar atenção, sem ser do jeito que é. Me incomoda ter este corpo e eu

passar na rua, descer do carro e os homens ficarem mexendo, eu não quero esse

corpo...

T: Parece que não é esse tipo de atenção que você quer...

Tentativa de confirmar a experiência do cliente. A busca é para não ser uma mulher

que chama atenção pela sensualidade, mas de outra forma, de menina que busca

chamar a atenção de sua mãe para que a veja, a valorize a confirme. Segundo

Hycner (1995), confirmar é a possibilidade de o terapeuta aceitar plenamente a

pessoa diante dele, é ainda um esforço de voltar-se para o outro e afirmar sua

existência como única e separada, mesmo que talvez seu comportamento não seja

aceito pelo terapeuta.

C: É por isto que eu luto contra este corpo... (choro seguido de silêncio longo)
31

4 Considerações Finais

Pretendeu-se, com este estudo, apreender o significado da experiência vivida da

pessoa com bulimia, bem como abrir outras vias para compreender o modo como a

pessoa se relaciona consigo mesma, com a comida, com seu corpo e com o mundo.

Neste estudo, o olhar gestáltico fenomenológico-existencial, com o qual a

bulimia foi apreendida, possibilitou a compreensão do modo como a cliente se

autorregulou, na tentativa de buscar nutrição (afeto), em decorrência da fome

(carência) por aquilo que é fundamental (confirmação). A partir dessa perspectiva,

compreendeu-se que a bulimia é experienciada de forma singular, porque diz respeito

a uma pessoa única, capaz de dar sentido ao que se vivencia. O contrário seria

reduzir a totalidade da pessoa em uma parte, a um corpo, matéria orgânica,

fisiológica, comum a todos os seres humanos. O corpo é dotado de significados e o

uso que uma pessoa faz dele é transcendente em relação ao corpo enquanto

simplesmente biológico (Ponty, 1999; Hycner & Jacobs, 1997).

Portanto, buscou-se ir além do sintoma da bulimia para o verdadeiro sentido

que a cliente dá quando, em suas palavras, “luta contra seu corpo”, de mulher

sensual, protótipo de beleza – seios, pernas, glúteos em proporções generosas –, para

ter um corpo desnutrido – também em suas palavras, “sem peito”,“ sem bunda”,

somente “pele e osso”.

As descrições revelaram, entre outros aspectos, sofrimento, necessidades que

não foram supridas (“desejo de ser aceita”, de ser “vista do jeito que é” por pessoas

significativas e, em especial, pela mãe). Foi possível observar, pelo relato da

experiência da cliente, um desenvolvimento marcado pela falta de confirmação e de

aceitação, servindo como campo fértil para um gama de sofrimentos (inclusive a


32

bulimia), gestalts inacabadas, o que contribuiu para um modo de ser inautêntico

(Forghieri, 1993; Hycner & Jacobs, 1997; Ribeiro, 2007).

Esse fato sugere possibilidade de haver uma relação entre bulimia,

desconfirmação e inautenticidade, o que necessita de mais investigações e pesquisas.

Por fim, os sintomas da bulimia já descritos na literatura foram observados no sujeito

deste estudo e sua patologia confirmada. O passo adiante neste estudo foi

compreender o modo como a cliente vivenciou sua bulimia, pelo prisma da Gestalt-

terapia, bem como indicar novos caminhos investigativos sobre o tema.


33

Referências

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p.111.
36

ANEXOS

Anexo 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, de uma pesquisa.
Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, e no caso de aceitar fazer
parte do estudo, assine no final deste documento. Você deverá assinar duas vias, uma
delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de dúvida sobre a
pesquisa, você poderá entrar em contato com a pesquisadora responsável, psicóloga
Érika Teixeira de Brito Costa, telefone 62-99538701.

INFORMAÇÕES IMPORTANTES QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE A


PESQUISA:
 Título: Um olhar Gestáltico sobre Bulimia.
 Pesquisadora: Érika Teixeira de Brito Costa.
 Orientadora: Sandra Abernaz
 Pesquisa para finalização da Pós-graduação em Gestalt-terapia.
Você participará de um estudo de caso clínico, onde serão coletados os dados da
pesquisa durante as sessões de psicoterapia. Serão garantidos sigilo e anonimato
em relação às informações levantadas na coleta de dados, sendo estes utilizados
apenas para fins científicos. Informo que a pesquisadora estará disponível para
tirar qualquer dúvida. A pesquisa será publicada em periódico científico, quando
finalizada. O participante poderá interromper ou desistir do estudo a qualquer
momento, sem nenhum problema para si. Sua participação é muito importante
para que juntos possamos contribuir para mais informações sobre bulimia e sobre
o processo de adoecer da pessoa no mundo.

________________________________
*****************
Psicóloga e Pesquisadora Responsável
----------------------------------------------------------------------------------------------------
37

Anexo 2

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO


SUJEITO DA PESQUISA
Eu,_________________________________________________________________
RG_________________________/ CPF ________________________, concordo em
participar do estudo “Um olhar Gestáltico sobre Bulimia”, sob a responsabilidade da
psicóloga Érika Teixeira de Brito Costa, como sujeito voluntário. Fui devidamente
informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim
como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi me
garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isso
leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/ assistência/
tratamento.

Local e data ______________________________________________________

Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: __________________________

Nome e assinatura do pesquisador responsável:________________________

Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimento sobre a pesquisa e


aceite do sujeito em participar.
Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores):

Nome: _______________________________ Assinatura: _________________

Nome: _______________________________ Assinatura: _________________

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