Synara de Almeida Pinto - Fundos Solidários No Centro-Oeste
Synara de Almeida Pinto - Fundos Solidários No Centro-Oeste
Synara de Almeida Pinto - Fundos Solidários No Centro-Oeste
Brasília, 2015
Copyright © by Centro de Estudos e Assessoria (CEA), Secretaria Nacional de Economia Solidária, Ministério
do Trabalho e Emprego e Previdencia Social
Todos os direitos reservados – 1a edição
Fotos
CEA
EQUIPE DO PROJETO
FICHA CATALOGRÁFICA
APRESENTAÇÃO 4
1 INTRODUÇÃO 6
2 FINANÇAS SOLIDÁRIAS COMO TECNOLOGIA
ARTICULADORA DO PROCESSO SOCIOECONÔMICO 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS 56
REFERÊNCIAS 60
Apresentação
APRESENTAÇÃO | 5
1 Introdução
“[...] toda manhã se cria num ontem, através de um hoje [...].
Temos de saber o que fomos para saber o que seremos”
(Paulo Freire)
INTRODUÇÃO | 7
Os fundos solidários são um dos tipos de iniciativas coletivas em finanças
solidárias (segmento da economia solidária) espalhadas por todo o Brasil. Essas
iniciativas têm praticado em seu dia a dia os princípios que garantem o desen-
volvimento territorial socioeconômico sustentável, pautado na autogestão, na
cooperação, na democracia, na solidariedade e no respeito ao meio ambiente.
As comunidades que desenvolvem experiências de fundos solidários rea-
lizam um processo de gestão coletiva de recursos (monetários ou não) volta-
dos para a sustentabilidade local e territorial e para a mobilização social. Os
fundos solidários têm sido um potencial transformador da realidade local, pois
são espaços e instrumentos de resistência, protagonismo e organização da
economia comunitária.
O autogerir é a ação chave desta prática. A economia solidária desenvolve
as potencialidades, os fazeres e os saberes das pessoas, reinventa novos pro-
cessos de trabalho e de relações de troca fundadas na diversidade, no associa-
tivismo solidário, no exercício da autogestão e da democracia, no compromisso
com a comunidade local, na participação ativa nos processos de desenvolvi-
mento sustentável territorial, regional e nacional. O trabalho educativo eman-
cipatório é inerente a todos esses elementos.
Apresentamos nesta publicação três principais assuntos. O primeiro traz
mais referências para a reflexão sobre finanças solidárias e fundos solidários;
finanças solidárias como um processo autogerido para que os recursos pos-
sam ser mais bem aproveitados, democratizados e cheguem onde é neces-
sário. Trazemos uma série de perguntas sobre fundos solidários, registradas
com base nas formações do projeto, mas também nas experiências de edu-
cadores da região. O segundo e o terceiro assuntos dizem respeito ao retrato
do Centro-Oeste com base em mapeamentos realizados no território nacional
entre os anos de 2010 e 2013: um deles é o Sistema Nacional de Informações
em Economia Solidária (Sies) e o outro é o mapeamento das experiências de
fundos solidários. Este último visitou 566 fundos solidários no Brasil.
Há uma grande presença de fundos solidários nos espaços rurais e urba-
nos, com iniciativas da agricultura familiar e camponesa e de empreendimen-
tos econômicos solidários. Os fundos atendem principalmente à população
de baixa renda e aos segmentos mais vulneráveis, com expressiva presença
das comunidades quilombolas, assentados da reforma agrária, catadores de
materiais recicláveis, indígenas, mulheres, jovens, ribeirinhos, faxinalenses e
comunidades tradicionais.
INTRODUÇÃO | 9
2 Finanças
solidárias como
instrumento
articulador
do processo
socioeconômico
1) O recurso que vem de fora (por meio de linhas de fomento, crédito ou doa-
ção), muitas vezes via projetos, precisa ser incluído no ciclo e seguir o fluxo
inteiro. Este ciclo de produção, comercialização e consumo também precisa
reservar uma parcela do recurso para a MULTIPLICAÇÃO, sem isso vai faltar
recurso alimentar ao próprio fundo rotativo solidário.
2) Uma comunidade pode até (aparentemente) não ter “muito dinheiro” circu-
lando; mas, observando com mais cuidado, é possível perceber outros tipos
de recursos em ABUNDÂNCIA que, se forem trabalhados coletivamente,
podem ser mobilizados em regime de mutirão.
3) A autogestão coletiva das finanças solidárias exige também clareza nas
ações e transparência como condições básicas. É com essa prática que
os laços de confiança vão sendo tecidos para que o trabalho coletivo seja
sempre voltado ao bem viver e fortaleça a COMUNHÃO entre as pessoas.
4) O propósito da construção de um fundo rotativo solidário é a AUTONOMIA
da comunidade para decidir sobre o desenvolvimento local, sustentável e
solidário.
5) O fundo começa a operar quando algum recurso disponível precisa ser ge-
rido. Mas ele não nasce a partir do dinheiro. O que faz nascer um fundo é a
reunião das pessoas em torno da construção de uma estratégia para gerir
seu próprio trabalho. Reunir investimentos para o fundo é um passo no
caminho da garantia da SUSTENTABILIDADE do ponto de vista econômico.
1
O artigo 17 da Lei no 4.495/1964 diz que instituições financeiras são personalidades jurídicas, pú-
blicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou
aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a
custódia de valores de terceiros.
CAMPO
CAPITAL CUIABÁ GOIÂNIA BRASÍLIA
GRANDE
População (2010) 2.449.024 hab. 3035122 hab. 6.003.788 hab. 2.570.160 hab. 14058098 hab.
1 (dividido em
Municípios 79 141 246 31 regiões 467
administrativas)
Pantanal, Cerrado,
Pantanal
Bioma presente Cerrado e Cerrado Cerrado Pantanal e
Cerrado
Amazônia Amazônia
Fonte: IBGE
UF 2007 2013
DF 386 246
GO 737 843
MT 340 638
MS 747 294
Total 2.210 2.021
Fonte: Sies (2013)
Prestação de serviços
106 (5,2%)
Poupança, crédito ou
finanças solidárias
8 (0,4%) Comercialização
279 (13,8%)
Troca
81 (4%)
Produção
1.239 (61%)
Fonte: Sies 2013 – Cor ou raça predominante dos sócios dos EES
DF GO MT MS Região
Agricultores familiares 34 557 294 71 956
Artesãos 130 44 118 136 428
Artistas 12 18 3 0 33
Assentados da reforma agrária 1 166 111 6 284
Catadores de material reciclável 12 13 5 4 34
Garimpeiros ou mineiros 0 0 3 1 4
Técnicos, profissionais de nível superior 0 10 2 1 13
Outros trabalhadores autônomos / por
12 17 39 29 97
conta própria
Desempregados (desocupados) 1 3 8 10 22
Não se aplica ou não há predominância 44 15 55 36 150
1.200
Quantidade de pessoas com acesso
1.000 Sim
Não
800
600
400
200
100
0
DF GO MT MS Região
1.200
Quantidade de pessoas com acesso
1.000 Sim
Não
800
600
400
200
100
0
DF GO MT MS Região
Conforme o quadro a seguir, a grande maioria dos EES foi criada num
contexto de busca por uma fonte de renda complementar para os associados
(1.282 EES), para obtenção de maiores ganhos em um empreendimento asso-
ciativo (1.126 EES) e em terceiro lugar como alternativa ao desemprego (892
EES). Isso mostra que o contexto socioeconômico da região, no qual predomi-
na o agronegócio, não garante melhores condições de vida para a população
local.
9. Desenvolvimento comunitário de
87 229 195 49 560
capacidades e potencialidades
Abrangência Projetos % R$ %
Nordeste 135 31,00 38.242.988,60 19,00
Sudeste 99 23,00 40.847.739,60 20,00
Sul 73 17,00 23.624.286,70 11,00
Norte 35 8,00 22.383.075,20 11,00
Centro-Oeste 26 6,00 10.898.380,70 5,00
Nacional 67 15,00 70.281.870,61 34,00
Total 435 100,00 206.278.341,41 100,00
Fonte: Pesquisa Senaes – Soltec/UFRJ, 2011
Buscou
Não buscou Buscou
crédito ou
crédito ou e obteve Total EES
financiamento
financiamento crédito
e não obteve
DF 219 13 14 246
MS 251 16 27 294
Região 1.584 120 317 2.021
Fonte: Sies 2013 – Se o EES teve acesso a crédito ou financiamento nos últimos 12 meses
Assistência jurídica
Assessoria em marketing e na
comercialização de produtos e serviços
Assessoria na constituição, na
formalização ou no registro
Elaboração de projetos
Incubação
Fonte: Sies – 2013 – Se o empreendimento teve acesso a algum tipo de apoio, assessoria ou capacitação
ORGANIZAÇÕES DE APOIO
ORGANIZAÇÕES GESTORAS
E FOMENTO AOS FUNDOS SOLIDÁRIOS
DE FUNDOS SOLIDÁRIOS
São aquelas organizações
São aquelas organizações
formalizadas que fornecem subsídios,
(formais ou informais) que
sejam eles financeiros ou técnicos,
operacionalizam o fundo
para que o fundo solidário seja criado
solidário na base.
e mantido.
Fomento
12%
Gestoras
88%
MT
55%
GO
9%
DF
18% MS
18%
MS
0,04%
MT
0,59%
DF
99,37%
GO
36%
MT
32%
DF
16% MS
16%
GO
0%
MS
1,54%
DF
1,49%
MT
96,65%
Número de
Estados com Número de
municípios Número de Recurso
fundos fundos
com fundos participantes repassado (R$)
solidários solidários
solidários
Mato Grosso
26 36 3.911 20.467.550,00
do Sul
Número de
Estados com Número de
municípios Número de Recurso
fundos fundos
com fundos participantes repassado (R$)
solidários solidários
solidários
Distrito
2 1 260.000 35.000.000,00
Federal
Goiás 1 12 0 0,00
Mato Grosso
6 40 22.828 208.152,36
do Sul
rural
59%
urbana
41%
Campanha da Fraternidade;
Campanha de Evangelização;
bazares;
outras doações;
Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN);
Fundação Doen;
Cooperação Internacional – Rondonópolis.
venda de produtos;
doações de pessoas físicas;
cotização entre os membros do grupo/participantes;
apoio de organizações internacionais;
apoio de organizações nacionais.
apoio dos Fundos Diocesanos de Solidariedade (entidades de fomento);
apoio de paróquias;
repasse do poder público;
heranças;
bazares.
em dinheiro;
em produtos: repasse de animais, de sementes (formando os bancos de
sementes).
masculino
23%
feminino
77%
não declarada
5%
parda
55%
amarela
7%
branca
negra 24%
9%
30-59
57%
14-18
15%
19-29
60 - + 19%
9%
ensino fundamental
(completo e incompleto)
47%
ensino superior
10%
Com base na leitura desses dados, podemos afirmar que o perfil do público
participante dos fundos solidários no Centro-Oeste é majoritariamente com-
posto por mulheres, adultas, pardas, com ensino fundamental e médio, e que
algumas destas conhecem e acessam políticas públicas – como os programas
de transferência de renda PAA e PNAE –, o que contribui para a redução da
exclusão e da miséria.
São pessoas que também se relacionam com os movimentos e as pasto-
rais sociais, quer sejam aqueles envolvidos com as lutas por acesso a moradia,
quer seja por reforma agrária, segurança alimentar, alfabetização de jovens e
adultos e economia solidária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS | 57
Os mapeamentos apontam várias áreas que precisam ser estudadas e
mais bem entendidas. Uma delas, por exemplo, é o próprio financiamento dos
empreendimentos econômicos. Uma significativa quantidade de empreendi-
mentos, dentre os mapeados pelo Sies, afirma que nos últimos 12 meses não
buscou financiamento ou crédito (78%), mas também a quantidade que buscou
e não conseguiu (15%) ainda é maior do que os que buscaram e conseguiram.
Setenta e oito por cento dos empreendimentos afirmam necessitar de crédito
e/ou financiamento. O Sies não conseguiu mostrar como as comunidades es-
tão trabalhando suas finanças. Há uma diferença significativa de quantidade
entre os dados do mapeamento dos fundos solidários e os da base do SIES.
Hoje quem assume o papel de fotografar as iniciativas não só de fundos
solidários, mas também da economia solidária, é o Cadastro Nacional de Empre-
endimentos Econômicos Solidários (Cadsol), mas de uma forma mais enxuta.
Sua vantagem é a possibilidade de ser atualizado com mais frequência, mas isso
vai depender também do quão estratégico o próprio movimento de economia
solidária vai entender ser essa ferramenta. Uma ferramenta da política pública
que tem função de também dar visibilidade para iniciativas até então invisíveis.
Os dados apontam que a presença dos fundos solidários na área urbana é
bastante significativa, não se restringindo apenas à zona rural, diferente da re-
alidade de outras regiões do país, cuja concentração é na área rural. Apostamos
nessas experiências como possibilidade de referência entre os próprios fundos e
entre comunidades urbanas que não trabalham ainda com a metodologia.
Não restam dúvidas de que as finanças solidárias, especificamente os
fundos solidários, são ferramentas primordiais que precisam estar integradas
a outros processos. Muitas vezes, com a lógica de projetos que fazem um
recorte da realidade a ser trabalhada, tentamos isolar outros aspectos. Colo-
camos uma lente de aumento em um tema. Entretanto, no trabalho com fun-
dos solidários esse recorte nem sempre dá certo. Sendo atividade meio, não é
isolado de um contexto econômico, social ou mesmo comunitário. Então, não
dá para pensar em fundos solidários sem pensar em formação, educação para
as finanças solidárias, comercialização, produção, consumo – isso só para citar
o âmbito da economia.
Reunimos esses dados para que, olhando para o retrato que foi feito da
região, possamos nos reconhecer ou não. Mas para que também possamos,
ao perceber as necessidades, ir construindo novos retratos, novas pesquisas
que nos ajudem a entender melhor esse universo e, dessa forma, nos ajudem
CONSIDERAÇÕES FINAIS | 59
Referências
Sites:
cirandas.net
cadsol.mte.gov.br
redecerrado.org.br
www.fbes.org.br
www.fundossolidarios.org.br
REFERÊNCIAS | 61
Parcerias
Estaduais
MATO GROSSO
FUNDAÇÃO BOM JESUS DE CUIABÁ
Praça do Seminário, 239, Bairro Dom Aquino, CEP: 78018-140, Cuiabá-MT
Fone: (65) 3617-7909
E-mail: [email protected]
DISTRITO FEDERAL
CÁRITAS ARQUIDIOCESANA DE BRASÍLIA
SGAS, quadra 601, conjunto B, L2 Sul, Brasília-DF
Fone: 61 3225 6834
E-mail: [email protected]
PARCERIAS ESTADUAIS | 63
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