História Da Igreja - As Heresias Cristológicas (I) - Cléofas
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O Apolinarismo
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09/05/2022 09:05 História da Igreja: As Heresias Cristológicas ( I ) - Cléofas
Apolinário expôs suas idéias no livro “Encarnação do Verbo de Deus”, que ele apresentou ao Imperador Joviano e que os
seus discípulos difundiram. – Foram condenadas num sínodo de Alexandria em 362;
depois, pelo Papa S. Dâmaso em 377 e 382 e, especialmente, pelo Concílio de
Constantinopla I (381). Verificando a oposição que lhe faziam bons teólogos, Apolinário
limitou-se a negar a presença de mente (nous) humana em Jesus. S. Gregório de Nissa
(? 394) e outros autores lhe responderam mediante belo princípio: “O que não foi
assumido pelo Verbo, não foi redimido” – o que quer dizer: Deus quer santificar e
salvar a natureza humana pelo próprio mistério da Encarnação ou pela união da
Divindade com a humanidade; se pois, a humanidade estava mutilada em Jesus, ela
não foi inteiramente salva.
Grandes Heresias
As piores heresias
O Nestorianismo
Afirmada a existência da natureza humana completa em Jesus, os teólogos puderam estudar mais detidamente o modo
como humanidade e Divindade se relacionaram em Cristo.
Antes, porém, de entrar em particulares, devemos mencionar as duas principais escolas teológicas da antiguidade: a
alexandrina e a antioquena, que muito influíram na elaboração da Cristologia.
A escola alexandrina era herdeira de forte tendência mística; procurava exaltar o divino e o transcendental nos artigos da
fé. Interpretava a S. Escritura em sentido alegórico, tentando desvendar os mistérios divinos contidos nas Sagradas Letras.
Em assuntos cristológicos, portanto, era inclinada a realçar o divino, com detrimento do humano.
Ao contrário, a escola antioquena era mais dada à filosofia e à razão: voltava-se mais para o humano, sem negar o divino.
Interpretava a S. Escritura em sentido literal e tendia a salientar em Jesus os predicados humanos mais do que os atributos
divinos. Era mais racional, ao passo que a de Alexandria era mais mística.
A primeira tentativa de solução foi encabeçada por Nestório, elevado à cátedra episcopal
de Constantinopla em 428. Afirmava que o Lógos habitava na humanidade de Jesus
como um homem se acha num templo ou numa veste; haveria duas pessoas, em Jesus –
uma divina e outra humana – unidas entre si por um vinculo afetivo ou moral. Por
conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (Theotókos), como diziam os antigos, mas
apenas Mãe de Cristo (Christokós); ela teria gerado o homem Jesus, ao qual se uniu a
segunda pessoa da SS. Trindade com a sua Divindade.
Nestório propunha suas idéias em pregações ao povo, nas quais substituía o título “Mãe
de Deus” por “Mãe de Cristo” As suas concepções suscitaram reação não só em
Constantinopla, mas em outras regiões também, especialmente em Alexandria, onde S.
Cirilo era Bispo ardoroso. Este escreveu em 429 aos bispos e aos monges do
Egito, condenando a doutrina de Nestório.
As duas correntes se dirigiram ao Papa Celestino I, que rejeitou a doutrina de Nestório num sínodo de 430. Deu ordem a S.
Cirilo para que intimasse Nestório a retirar suas teorias no prazo de dez dias, sob pena de exílio; Cirilo enviou ao Patriarca
de Constantinopla uma lista de doze anatematismos que condenavam o nestorianismo. Nestório não se quis dobrar, de
mais a mais que podia contar com o apoio do Imperador; além do mais, tinha muitos seguidores na escola antioquena,
entre os quais o próprio Bispo João de Antioquia.
Em 431, o Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para Éfeso o terceiro Concílio Ecumênico a fim de
solucionar a questão discutida. S. Cirilo, como representante do Papa Celestino I, abriu a assembléia diante de 153 Bispos.
Logo na primeira sessão, foram apresentados os argumentos da literatura antiga favoráveis ao título Theotókos, que
acabou sendo solenemente proclamado; daí se seguia que em Jesus havia uma só pessoa (a Divina); Maria se tornara Mãe
de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a natureza humana no seu seio. Quatro dias após esta sessão, isto é, a
26/06/431 chegou a Éfeso o Patriarca Jogo de Antioquia, com 43 Bispos seus seguidores, todos favoráveis a Nestório; não
quiseram unir-se ao Concílio presidido por S. Cirilo, representante do Papa; por isto formaram um conciliábulo, qual
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depôs Cirilo. O Imperador acompanhava tudo de perto e sentia-se indeciso. S. Cirilo então mobilizou todos os
seus recursos, para mover Teodósio II em favor da reta doutrina; nisto foi ajudado por Pulquéria, piedosa e influente irmã
mais velha do Imperador. Este finalmente apoiou a sentença de Cirilo e exilou Nestório. Todavia os antioquenos não se
renderam de imediato; acusavam Cirilo de arianismo a apolinarismo. Após dois anos de litígio, em 433 puseram-se de
acordo sobre uma fórmula de fé que. professava um só Cristo e Maria como Theotókos.
O Nestorianismo, porém, não se extinguiu. Os seus adeptos, expulsos do Império Bizantino, foram procurar refúgio na
Pérsia, onde fundaram a Igreja Nestoriana. Esta teve notável expansão até a China e a Índia Meridional; mas do século XIV
em diante foi definhando por causa das incursões dos mongóis; em grande parte, os nestorianos voltaram à comunhão
da Igreja universal (são hoje os cristãos caldeus e os cristãos de São Tomé).
Em nossos dias muitos estudiosos têm procurado reabilitar a pessoa e a obra de Nestório, que parece ser autor de uma
apologia intitulada “Tratado de Heraclides de Damasco”: pode-se crer que tenha tido reta intenção; mas certamente
sustentou posições errôneas por se ter apegado demasiadamente à Escola Antioquena.
O Monofisismo
A luta contra o Nestorianismo, que admitia em Jesus duas naturezas e duas pessoas,
deu ocasião ao surto do extremo oposto, que é o monofisismo ou monofisitismo (“em
Jesus há uma só natureza e uma só pessoa: a divina”).
Eutiques foi condenado como herege no Sínodo de Constantinopla em 448, sob o Patriarca Flaviano. Todavia não cedeu e
reclamou contra uma pretensa injustiça, pois tencionava combater o Nestorianismo. Conseguiu assim ganhar os favores da
corte.
Solicitado pelo Patriarca Dióscoro de Alexandria, Teodósio II Imperador convocou em 449 novo Concílio Ecumênico para
Éfeso, confiando a presidência do mesmo a Dióscoro, que era partidário de Estiques. Dióscoro, tendo aberto o Concílio
negou a presidência aos legados papais; não permitiu que fosse lida a Carta do Papa S. Leão Magno, que propunha a reta
doutrina: as duas naturezas em Cristo não se misturam nem confundem, mas cada qual exerce a sua atividade própria em
comunhão com a outra; assim Cristo teve realmente fome, sede e cansaço, como homem, e pôde ressuscitar mortos como
Deus. – Esse Concílio de Éfeso proclamou a ortodoxia de Eutiques; depôs Flaviano, Patriarca de Constantinopla, e outros
Bispos contrários à tese monofisita… Todavia os seus decretos foram de curta duração. Os Bispos de diversas regiões o
repudiaram como ilegítimo ou, segundo a expressão do Papa São Leão Magno, como “latrocínio de Éfeso”; pediam novo
Concílio que de fato foi convocado após a morte de Teodósio II pela Imperatriz Pulquéria (irmã de Teodósio) e pelo general
Marcião, que em 450 foi feito Imperador e se casou com Pulquéria.
O novo Concílio, desta vez legítimo, reuniu-se em Caledônia, diante de Constantinopla, em 451; foi o mais concorrido da
antiguidade, pois dele participaram mais de 600 membros, entre os quais três legados papais. A assembléia rejeitou o
“latrocínio de Éfeso”; depôs Dióscoro e aclamou solenemente a Epístola Dogmática do Papa São Leão a Flaviano; esta serviu
de base a uma confissão de fé, que rejeitava os extremos do Nestorianismo e do Monofisismo, propondo em Cristo uma só
pessoa e duas naturezas:
“Ensinamos e professamos um Único e idêntico Cristo… em duas naturezas, não confusas e não transformadas, não
divididas, não separadas, pois a união das naturezas não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou
as suas propriedades e se uniu com a outra numa Única pessoa e numa Única hipóstase”.
Assim terminou a fase principal das disputas cristológicas: em Cristo não há duas naturezas e duas pessoas, pois isto
destruiria a realidade da Encarnação e da obra redentora de Cristo; mas também não há uma só natureza e uma só pessoa,
pois Cristo agiu como verdadeiro homem, sujeito à dor e à morte para transfigurar estas nossas realidades. Havia, pois,
uma só pessoa (um só eu) divina, que, além de dispor da natureza divina desde toda a eternidade, assumiu a natureza
humana no seio de Maria Virgem e viveu na terra agindo ora como Deus, ora como homem, mas sempre e somente com o
seu eu divino.
O encerramento do Concílio de Calcedônia não significou a extinção do monofisismo. Além da atração que esta doutrina
exercia sobre os fiéis (especialmente os monges), propondo-lhes a humanidade divinizada de Cristo como modelo, motivos
políticos explicam essa persistência da heresia; com efeito, na Síria e no Egito certos cristãos viam no Monofisismo a
expressão de suas tendências nacionalistas, opostas ao helenismo e à dominação bizantina. Por isto os monofisitas
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Na Síria e nos países vizinhos, os monofisitas foram chamados jacobitas, nome derivado de um dos seus primeiros chefes:
Jacó Baradai (= o homem da coberta de cavalo, alusão às suas vestes maltrapilhas). Jacó, bispo de Edessa (541-578),
trabalhou com zelo e êxito para consolidar as Comunidades monofisitas, As quais deu por cabeça o Patriarca Sérgio de
Antioquia (544).
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