Artigo Original

Violência obstétrica: a abordagem da temática na

formação de enfermeiros obstétricos
Obstetric violence: theme approach in the training of Certified Nurse-Midwives
Violencia obstétrica: el enfoque de la temática en la formación de enfermeros obstétricos
Thalita Monteiro da Silva1 https://orcid.org/0000-0002-6575-5602

Kayo Henrique Jardel Feitosa Sousa2 https://orcid.org/0000-0002-0901-7752

Adélia Dalva da Silva Oliveira1 https://orcid.org/0000-0001-8344-9820

Fernanda Cláudia Miranda Amorim1 https://orcid.org/0000-0002-1648-5298

Camila Aparecida Pinheiro Landim Almeida3 https://orcid.org/0000-0003-4843-4572

Resumo
Como citar: Objetivo: Construir o Discurso do Sujeito Coletivo de Enfermeiros pós-graduandos em Enfermagem Obstétrica
Silva TM, Sousa KH, Oliveira AD, Amorim
FC, Almeida CA. Violência obstétrica: a sobre a violência obstétrica.
abordagem da temática na formação de
enfermeiros obstétricos. Acta Paul Enferm.
Métodos: Estudo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado em um Centro Universitário em Teresina-
2020;33:eAPE20190146. PI. Participaram 20 Enfermeiros, pós-graduandos em Enfermagem Obstétrica. A coleta de dados ocorreu
por meio de entrevistas guiadas a partir de questionário semiestruturado. Os dados foram processados no
DOI software IraMuTeQ, utilizando a Classificação Hierárquica Descendente, e analisados pela Técnica do Discurso
http://dx.doi.org/10.37689/acta- do Sujeito Coletivo.
ape/2020AO01466
Resultados: Mediante a Classificação Hierárquica Descendente, obtiveram-se seis classes das quais emergiram
os discursos. Foi possível ratificar a importância da formação do Enfermeiro diante da violência obstétrica. As
principais expressões-chave identificadas nos discursos foram: formação acadêmica, conhecimento na prática
educativa, assistência de qualidade, descasos científicos, tecnológicos e humanísticos, fortalecimento do
Descritores modelo assistencial, planejamento estratégico no setor saúde, base humanista e olhar clínico do profissional.
Violência; Violência contra a mulher; Mulheres
grávidas; Enfermeiras obstétricas; Estudantes de
Conclusão: Por meio do Discurso do Sujeito Coletivo, foi possível observar, parcialmente, a importância da
enfermagem; Parto humanizado formação dos Enfermeiros, visto que possibilitam a contribuição de cuidado integral, corroborando para um
processo fisiológico, que pode reduzir a violência obstétrica.
Keywords
Violence; Violence against woman; Pregnant
women; Nurse midwives; Students, nursing; Abstract
Humanizing delivery
Objective: To construct the Discourse of the Collective Subject of graduate nurses in obstetric nursing on
Descriptores obstetric violence.
Violencia; Violencia contra la mujer; Mujeres
embarazadas; Enfermeras obstetrices; Estudiantes
Methods: This is a descriptive and qualitative study carried out at a University Center in Teresina, PI. Twenty
de enfermeira; Parto Humanizado nurses participated, graduate students in obstetric nursing. Data collection took place through guided
interviews using a semi-structured questionnaire. The data were processed using the software IraMuTeQ
and the Descending Hierarchical Classification. The data were analyzed using the Discourse of the Collective
Submetido
17 de Junho de 2019 Subject technique.
Aceito Results: Through the Descending Hierarchical Classification, six classes were obtained from which the speeches
25 de Março de 2020 emerged. It was possible to confirm the importance of training nurses in the face of obstetric violence. The
main key expressions identified in the speeches were academic training, knowledge in educational practice,
Autor correspondente quality assistance, scientific, technological and humanistic mismatches, strengthening of the care model,
Kayo Henrique Jardel Feitosa Sousa
strategic planning in the health sector, humanist base and professional clinical view.
E-mail: [email protected]

1
Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brasil.
2
Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Instituto de Ciências da Saúde,Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal. 
Conflitos de interesse: nada a declarar.

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 Violência obstétrica: a abordagem da temática na formação de enfermeiros obstétricos

Conclusion: Through the Discourse of the Collective Subject, it was possible to partially observe the importance of training nurses, since they enable the
contribution of comprehensive care, corroborating a physiological process, which can reduce obstetric violence.

Resumen
Objetivo: Construir el Discurso del Sujeto Colectivo de enfermeros estudiantes de posgrado en Enfermería Obstétrica sobre la violencia obstétrica.
Métodos: Estudio descriptivo, de enfoque cualitativo, realizado en un Centro Universitario en Teresina, estado de Piauí. Participaron 20 enfermeros estudiantes
de posgrado en Enfermería Obstétrica. La recolección de datos se realizó mediante entrevistas guiadas a partir de un cuestionario semiestructurado. Los datos
fueron procesados en el software IraMuTeQ, mediante la clasificación jerárquica descendente, y analizados con la técnica del Discurso del Sujeto Colectivo.
Resultados: Mediante la clasificación jerárquica descendente, se obtuvieron seis clases de las cuales surgieron los discursos. Fue posible ratificar la
importancia de la formación del enfermero con relación a la violencia obstétrica. Las principales expresiones clave identificadas en los discursos fueron:
formación académica, conocimiento en la práctica educativa, atención de calidad, indiferencia científica, tecnológica y humanística, fortalecimiento del
modelo asistencial, planificación estratégica en el sector de la salud, base humanista y mirada clínica del profesional.
Conclusión: A través del Discurso del Sujeto Colectivo, fue posible observar, parcialmente, la importancia de la formación de los enfermeros, ya que permiten
contribuir con el cuidado integral, corroborando un proceso fisiológico que puede reducir la violencia obstétrica.

Introdução mulher e conhecendo suas demandas no serviço de

saúde, reforçando, assim, os princípios preconizado
A violência obstétrica é considerada um fenômeno pelo SUS.(4)
socialmente complexo na área da Saúde da Mulher. Reforçam o exposto os resultados encontrados
Sua prevenção requer mudanças em práticas assis- em uma pesquisa que expressaram que as mulheres,
tenciais durante o ciclo gravídico-puerperal, a fim em alguns casos, acabam não se adaptando ao am-
de reduzir intervenções médicas desnecessárias, que biente no qual irão “dar à luz” e, muitas vezes, para
podem ser prejudiciais à saúde física e emocional se livrar do sofrimento e se retirar desse ambiente,
das mulheres.(1) concordam com intervenções desnecessárias, consi-
O tratamento abusivo durante o trabalho de deradas graves ou prejudiciais à sua saúde física e
parto e o parto viola os direitos humanos, sendo ca- emocional. Por isso, mudanças nas práticas assisten-
paz de influenciar negativamente os desfechos des- ciais vigentes devem ser realizadas, a fim de reduzir
ses processos e desencorajar as mulheres na procura tais intervenções.(5)
por cuidados futuros. Além disso, é visto como uma Nesse sentido, considera-se que a educação em
violência estrutural que as torna vulneráveis ao so- saúde por meio de ações educativas pode ser impor-
frimento e à morte.(2) tante para contribuir com a troca de saberes entre
Pesquisa destaca que a violência obstétrica aco- os profissionais e as mulheres – no esclarecimen-
mete também mulheres que apresentam histórico to de questionamentos, críticas e na promoção da
de aborto. Para a assistência a esse procedimento, saúde –, sendo possível repensar as estratégias de
o cuidado em saúde deve ser respaldado pela recep- atuação frente à temática desse contexto na Atenção
tividade, informação, orientação e suporte emocio- Primária à Saúde (APS), ainda durante a assistência
nal. Contudo, apesar da existência de uma política pré-natal.(6,7)
pública que garante atendimento humanizado à Assim, o debate sobre essa temática na formação
mulher durante o processo de abortamento e que de Enfermeiros se torna de relevância notória no ce-
preconiza um atendimento imparcial, a assistência a nário brasileiro, principalmente por destacar a neces-
essa mulher no Sistema Único de Saúde (SUS) não sidade da abordagem da violência contra a mulher
atende às suas necessidades, algumas vezes.(3) na grade curricular durante a formação acadêmica
Nesse sentido, faz-se importante esclarecer que desses profissionais, seja na graduação, seja na pós-
a relação entre os profissionais de saúde e a partu- -graduação. Desse modo, espera-se que o presente
riente deve ser baseada no cuidado e na segurança, estudo possa contribuir para o fortalecimento da
visando uma adequada realização de práticas hu- Enfermagem na prática assistencial e para a forma-
manizadas. É necessário que o profissional se colo- ção educacional de Enfermeiros, além de suscitar um
que no lugar do outro, ouvindo as necessidades da maior debate dessa prática no cenário Obstétrico.

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 Silva TM, Sousa KH, Oliveira AD, Amorim FC, Almeida CA

Este estudo justifica-se por abordar uma temá- produção dos dados, pelo uso de entrevista semies-
tica atual e relevante, que precisa ser amplamente truturada composta pelas seguintes questões: (1)
divulgada e tratada nos diferentes cenários de edu- “Em geral, como pós-graduando em Enfermagem
cação e saúde. Ele apresenta aspectos importantes, Obstétrica, quais as contribuições da abordagem da
como a educação e promoção da saúde, o empode- temática violência obstétrica durante a formação de
ramento feminino e as questões relacionadas às van- Enfermeiros?”; (2) “Fale sobre os aspectos da sua
tagens econômicas individuais na assistência obsté- formação acadêmica e qualificação profissional que
trica em detrimento do bem-estar maternoinfantil. contribuíram (ou podem contribuir) ou interferi-
O objetivo deste estudo foi construir o Discurso ram (ou podem interferir) na atuação profissional
do Sujeito Coletivo de Enfermeiros pós-graduan- no cuidado à mulher durante o ciclo pré-natal-par-
dos em Enfermagem Obstétrica sobre a violência to-puerpério.”; (3) “Na sua opinião, quais seriam as
obstétrica. estratégias de superação dos aspectos que interferi-
ram na sua formação acadêmica e qualificação pro-
fissional para a sua atuação profissional no cuidado à
Métodos mulher durante o ciclo pré-natal-parto-puerpério?”.
As entrevistas foram realizadas em hora e local
Estudo descritivo com abordagem qualitativa, de- escolhidos pelos participantes, informados previa-
senvolvido em um Centro Universitário de caráter mente sobre o anonimato e o uso de gravador de
privado, situado na cidade de Teresina-PI. Trata-se voz. O tempo médio de duração das entrevistas foi
de uma Instituição de Ensino Superior (IES), cre- de 15 minutos.
denciada pelo Ministério da Educação (MEC), que Para o processamento dos dados, organizou-
atualmente oferece cursos de graduação e de pós- -se um corpus textual com as transcrições de todas
-graduação. Destaca-se o curso de pós-graduação em as entrevistas e utilizou-se o software IRaMuTeQ
Enfermagem Obstétrica, que perfaz uma carga ho- (acrônimo de Interface de R pour les Analyses
rária de 700 horas de disciplinas teóricas e práticas e Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires)
apresenta como público-alvo Enfermeiros com inte- para processamento, a partir da Classificação
resse em aprimorar os conhecimentos na temática. Hierárquica Descendente (CHD) e dendograma.
A amostra foi selecionada por conveniência, Foram identificadas as expressões-chave (frag-
incluindo todos os Enfermeiros matriculados re- mentos dos depoimentos que revelam a essência da
gularmente no curso de pós-graduação Latu Sensu argumentação), ideias centrais (síntese, feita pelo
em Enfermagem Obstétrica da IES selecionada. pesquisador, que revela o sentido dos depoimen-
Excluíram-se aqueles que se encontravam ausentes tos) e ancoragens (enunciado valorativo, crença
no período da coleta de dados, por motivo de afas- ou teoria que é explicitada pelo participante), a
tamento ou licença à saúde. partir das quais construiu-se o Discurso do Sujeito
A população-alvo foi de 40 pós-graduandos em Coletivo (DSC), que consiste na forma qualitativa
Enfermagem Obstétrica. Contudo, a obtenção de de representar o pensamento de uma coletividade,
novos discursos cessou com a participação de 20 agregando, em um discurso-síntese, os conteúdos
Enfermeiros, sendo suficiente para atingir a saturação discursivos de sentido semelhante emitidos por
teórica das informações obtidas na coleta dos dados – pessoas distintas.
ou seja, quando não houve mais necessidade de novos O projeto deste estudo foi aprovado pelo
elementos para balizar ou aprofundar a teorização. Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob o Parecer
Os participantes foram convidados a participar n.º 2.694.389. Todos os participantes foram infor-
do estudo na IES durante o intervalo ou no final das mados sobre o anonimato e a natureza voluntária da
aulas, de acordo com o cronograma do curso dispo- pesquisa. Do mesmo modo, todos leram, concorda-
nibilizado. A coleta de dados ocorreu entre os meses ram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
de agosto e setembro de 2018, e optou-se, para a Esclarecido, atestando sua anuência para a mesma.

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 Violência obstétrica: a abordagem da temática na formação de enfermeiros obstétricos

Resultados Por meio da CHD, foi possível a interpretação

das falas obtidas no corpus da abordagem da temáti-
Dos 20 pós-graduandos em Enfermagem ca violência obstétrica na formação de Enfermeiros
Obstétrica participantes deste estudo, 18 eram do Obstétricos, nomeadas em seus respectivos sentidos
sexo feminino, com média de idade de 24 anos; nas seis classes oriundas do dendograma (Figura 1).
17 eram solteiros; e o tempo médio de formação As seis classes neste estudo elencaram a aborda-
era de 3 anos. gem da temática violência obstétrica na formação
O IRaMuTeQ reconheceu a separação do corpus de Enfermeiros Obstétricos. Conforme pressupos-
em 160 Unidades de Contextos Elementares (UCE) tos do DSC, cada Enfermeiro de pós-graduação em
e seis classes, tendo aproveitamento de 80% do total Enfermagem Obstétrica entrevistado contribuiu
do corpus, valor considerado suficientemente eleva- com sua cota de pensamento para o discurso co-
do para a análise. letivo. Portanto, após a análise da transcrição das
O corpus obteve um eixo, do qual emergiu entrevistas, a partir das expressões-chave (E–CH),
a classe 6, com 23 UCE (17,97%), e outras duas foram identificadas as ideias centrais (IC), enuncia-
subdivisões: de uma subdivisão emergiu a classe 5, das conforme a CHD, e construídos os DSC. Em
com 23 UCE (14,06%), e duas ramificações: a da seguida, efetuou-se a normalização dos discursos,
classe 1, com 16 UCE (12,5%), e a da classe 3, com a fim de se desparticularizar os depoimentos, dar
25 UCE (19,53%); da outra subdivisão, surgiram a coerência e coesão às ideias e evitar repetições. O
classe 4, com 30 UCE (23,44%), e a classe 2, com quadro 1 apresenta as IC, E-CH e discursos-sínteses
16 UCE (12,5%). (DCS).

Violência obstétrica: a abordagem da temática na formação de enfermeiros obstétricos

CLASSE 6 CLASSE 1 CLASSE 3 CLASSE 5 CLASSE 4 CLASSE 2

23 UCE 16 UCE 25 UCE 23 UCE 30 UCE 16 UCE
17.97% 12.5% 19.53% 14.06% 23.44% 12.5%
Importância da temática Atuação do A importância do O perfil do Enfermeiro Aplicabilidade do A violência obstétrica
violência obstétrica na Enfermeiro Obstétrico no Enfermeiro no pré-natal Obstétrico qualificado no conhecimento científico na visão da equipe de
formação acadêmica do cuidado à mulher durante humanizado para redução de atendimento humanizado como estratégia na saúde, no contexto atual
Enfermeiro como prática o pré-natal complicações atenção à saúde da mulher da assistência
educativa no ciclo gravídico pós-parto humanizada

Words χ2 Words χ2 Words χ2 Words χ2 Words χ2 Words χ2

Formação 38.18 Área 36.29 Pré 19.27 Profissional 29.84 Não 23.98 Tanto 25.97
Acadêmica 28.74 Atuação 28.88 Natal 19.01 Deve 22.38 Muito 23.11 Visão 21.68
Minha 24.48 Atenção 21.5 Ela 18.97 Ser 19.39 É 20.38 Isso 19.45
Interferir 23.75 Enfermeiro 21.48 Maior 17.01 Perfil 18.72 Também 17.69 Relação 17.02
Gravídico 18.85 Momento 19.5 Onde 12.69 Ele 16.57 Ver 16.0 Equipe 14.98
Foram 18.85 Das 16.89 Tem 17.41 Humano 9.12 Só 13.79 Obstetrícia 11.75
Estou 18.85 Faz 16.89 Paciente 10.84 Realmente 9.12 Conhecimento 13.68 Violência 9.31
Contribuíram 18.25 Amor 14.75 Quando 8.9 Humanização 9.09 Tipo 13.49 Graduação 8.92
Tive 18.25 Natal 12.73 Humanizado 8.9 Falar 9.09 Científico 13.49 Pós 8.92
Nessa 14.02 Durante 10.45 Parto 8.77 Qualificado 7.03 Partir 13.11 Assistência 8.31
Nada 14.02 Pré 9.96 Risco 8.08 Abordagem 7.03 Mas 10.84 Além 8.24
Saúde 10.92 Com 8.31 Acaba 8.08 Aos 7.03 Mulheres 10.08 Aí 8.24
Foi 9.11 Básica 8.24 Ter 5.97 Respeito 7.03 Podemos 10.04 Atividades 8.24
Professores 9.11 Realização 8.24 Fazer 5.44 Garantir 7.03 Criança 10.04 Ainda 8.09

Figura 1. Estrutura temática da abordagem do tema violência obstétrica na formação de Enfermeiros

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Quadro 1. Discursos do sujeito coletivo elaborados por “futuros” Enfermeiros Obstétricos sobre a violência obstétrica
Elementos-chave Ideias centrais Discursos do sujeito coletivo
Formação acadêmica. Importância da temática violência obstétrica É de grande valia e importância a temática violência obstétrica, caracterizada pela desumanização do
Conhecimento na prática educativa. na formação acadêmica do Enfermeiro como parto e apropriação indevida dos profissionais da saúde no processo reprodutivo da mulher, na formação
Assistência no ciclo gravídico. prática educativa no ciclo gravídico. de Enfermeiros. É primordial a assistência no ciclo gravídico como estratégia preventiva no combate
Importância do Enfermeiro. desse fenômeno, a fim de obter uma relação harmônica, minimizando possíveis erros de intercorrências
obstétricas. É ainda crucial o progresso na valorização dos profissionais, o apoio de rede de políticas
públicas, possibilitando uma melhor condição de trabalho no SUS um melhor rendimento financeiro ou
estrutural, com o intuito de despertar um novo olhar científico sobre a prática educativa, desenvolvendo um
pensamento crítico e evitando esse “desvencilhamento”.
Riscos a partir da falta de cuidado. O perfil do Enfermeiro Obstétrico qualificado O termo “provedor qualificado” ressalta exclusivamente o indivíduo com destreza em atenção profissional
Valorização financeira. no atendimento humanizado. do parto, capaz de acompanhar o cuidado da puérpera, desde seu convívio no ambiente familiar até o
Assistência de qualidade. seu estado mental. Quando questionado sobre o compromisso assistencial, a maioria dos profissionais e
toda a equipe multiprofissional está dando mais valor ao setor econômico, ou seja, está valorizando mais
a moeda do que a própria humanização. Os profissionais devem priorizar um serviço de qualidade com
conforto, responsabilidade e credibilidade. O perfil de um especialista Obstétrico é de um coadjuvante, e a
protagonista é a própria gestante. Isso significa ter ética profissional, empatia com o próximo e dignidade
humana.
Qualidade do cuidado prestado. A atuação do Enfermeiro Obstétrico no O Enfermeiro Obstétrico visa atender a gestante com qualidade, desejando atingir prioritariamente
Descaso científico, tecnológico e cuidado à mulher durante o pré-natal. parcelas mais pobres da sociedade. Observamos um descaso e até mesmo a ausência da integralidade
humanístico. ao aprofundar seus aspectos científicos, tecnológicos e humanísticos nesse contexto. É importante para a
Direitos à parturiente. gestante receber orientações, conhecendo os procedimentos e seus direitos nesse seguimento parturitivo,
principalmente as mães adolescentes, para que elas estejam preparadas para entrar nesse cenário.
Fortalecimento do modelo assistencial. A importância do Enfermeiro no pré-natal O processo de humanização implica mudanças na rotina, com o propósito de tornar o momento do parto o
Riscos no processo parturitivo. humanizado para a redução de complicações menos “medicalizado” possível. Um dos principais objetivos do pré-natal é conhecer o histórico médico do
pós-parto. paciente. É necessário que o Enfermeiro exerça um papel de total fortalecimento no modelo assistencial,
fornecendo uma assistência precoce, pois os riscos evoluem para uma série de problemas que podem
colocar em risco a vida tanto da mãe, quanto do recém-nascido.
A importância do conhecimento Aplicabilidade do conhecimento científico Ao analisar a violência institucional, percebemos que existe, no que diz respeito a aliar a prática ao
científico. como estratégia na atenção de saúde da conhecimento científico, uma alta complexidade na rede de atenção à saúde da mulher, que serve como
O bem-estar materno e neonatal. mulher. porta de entrada no acolhimento e no bem-estar materno e neonatal. O conhecimento é um instrumento
Aprimoramento científico na formação de informações com foco no processo de aprendizado. A atenção primária é de ampla relevância no
acadêmica. desenvolvimento profissional, visto que compreende uma visão detalhada – ou seja, holística – no
Planejamento estratégico no setor de campo de atenção à saúde da mulher, que proporciona condições de promoção de saúde e melhoria no
saúde. controle físico e emocional. Diante do alto grau de demanda dos serviços, é necessário um planejamento
estratégico no setor de saúde que vise a elaboração de ações como reestruturação assistencial.
Base humanista. A violência obstétrica na visão da equipe A humanização seria uma estratégia na produção da saúde, compreendida por uma base humanista,
Intervenções no parto. de saúde, no contexto atual da assistência capaz de transformar a visão do profissional. Para tornar um nascimento satisfatório, é necessário
Olhar clínico do profissional. humanizada. reduzir intervenções e implantar boas práticas obstétricas terapêuticas, que antes eram pautadas no
entendimento de que o parto estava associado à doença, biologicamente. Hoje, torna-se um modelo de
atenção ampliado, que possibilita o desencorajamento de condutas desnecessárias no trabalho de parto e
parto. O profissional deve ter um olhar clínico para que seja possível analisar e interpretar a violência, a fim
de diminuir esses males que causam tanto sofrimento e acometem a saúde da mulher e do neonato.

Básicas de Saúde (UBS). Tal prática favorece a im-

Discussão plementação de ações educativas e a minimização
de intervenções obstétricas desnecessárias.
Apesar do contexto desfavorável com relação ao O presente estudo permitiu, a partir do DSC,
arsenal metodológico às boas práticas, embasadas compreender a importância da temática da violên-
em evidências científicas, da restrição parcial de cia obstétrica na formação educativa do Enfermeiro
Enfermeiros participantes, da não contemplação no ciclo gravídico, em razão da necessidade de um
de pensamentos coletivos e da inserção de pós- Enfermeiro Obstétrico qualificado para o atendi-
-graduandos em Enfermagem Obstétrica de outras mento humanizado. Também foi possível eviden-
Instituições e particularmente de outras regiões do ciar a importância de haver a reestruturação da as-
Brasil, os dados apresentados não anulam a relevân- sistência ao parto em face à formação acadêmica,
cia científica desta investigação, mas apontam a ne- tendo em vista que cabe aos profissionais da saúde
cessidade de qualificação e aperfeiçoamento futuros. a criação e utilização de conhecimentos científicos
Para a comunidade científica, sugere-se o desen- sistematizados e direcionados para a necessidade de
volvimento de projetos de pesquisas com métodos cada mulher.
mais avançados, dada a relevância da temática na Outro dado observado a partir do DSC diz
formação de Enfermeiros e profissionais de saúde respeito à prática educativa e à adesão às ações de
envolvidos na assistência à saúde obstétrica, em be- promoção à saúde, uma forma de sanar as falhas
nefício de melhores práticas dentro das Unidades assistenciais. Para preencher a lacuna existente, é

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 Violência obstétrica: a abordagem da temática na formação de enfermeiros obstétricos

necessário um acolhimento que estimule a troca de Em concordância com este estudo, pesqui-
experiências, gerando vínculo entre paciente e pro- sa(11) aponta que o diálogo perfaz o direito à par-
fissional, com o objetivo de minimizar a ansiedade, turiente. Nesse contexto, deve ser incentivada pelo
o medo, a insegurança, as dúvidas e as queixas asso- Enfermeiro a busca do reconhecimento judicial da
ciadas à gestação. mulher pela escolha do parto, além dos direitos de
Dessa forma, são importantes estratégias como o não ser lesionada por manobras desnecessárias, de
raciocínio crítico e autocrítico e a implementação de estar acompanhada por uma pessoa de sua escolha
grupos terapêuticos que planejem a questão social e e de ter esclarecimento quanto aos procedimentos.
política da categoria Enfermeiro Obstétrico, discu- O reconhecimento judicial é essencial por-
tindo, assim, a problematização em situação geral. que as mulheres lesadas nem sempre sabem como
Esse exercício profissional propõe a prática com qua- procurar reparação, de modo que o diálogo com o
lidade das funções do profissional de enfermagem.(1) Enfermeiro pode permitir medidas de prevenção
No discurso construído com base nas falas dos e informação.(11) Dessa forma, é importante que o
profissionais, é possível identificar os riscos provo- Enfermeiro Obstétrico qualificado efetue um aten-
cados pela falta de cuidados humanizados, capaz dimento humanizado como forma de melhoria do
de ocasionar problemas ao feto durante a gestação. serviço qualificado e humanístico, ambos capazes de
Contudo, ressalta-se que, por vezes, os problemas contribuir para uma reflexão positiva.
ocorrem mediados pela equipe de profissionais, que Este estudo também possibilitou compreender
acumula funções para agregar lucro, além de enfren- o risco do processo de parturição, que traz um im-
tar a alta rotatividade e a precariedade de vínculos pacto negativo para as gestantes. Considera-se que
empregatícios. Cabe enfatizar ainda que esse fato as intervenções podem salvar vidas quando adequa-
pode influenciar na humanização – o que ocasiona a damente implementadas, garantindo o total cuida-
negligência profissional – e na incorporação de valo- do e fornecendo satisfação materna.(12)
res, visto que os profissionais estão mais interessados O fortalecimento do modelo assistencial é rele-
em questões socioeconômicas individuais do que em vante para a formação de profissionais humanizados.
reduzir as taxas de mortalidade maternoinfantil.(8) Há a necessidade de preparar a parturiente efetiva-
Esses profissionais são desafiados constantemente mente e oferecer uma assistência harmônica nesse
na prestação de cuidados. O sistema de saúde é defi- ciclo gravídico-puerperal, que se resume em técnica,
ciente por não possuir um padrão de cuidado integral procedimento e embasamento teórico. Vale salientar
voltado à mobilização pessoal. É de suma importân- que a falta de informação gera maiores riscos de com-
cia um mecanismo tecnológico de troca de informa- plicações no pós-parto para a parturiente.(13)
ções entre os membros da equipe que, quando bem Destaca-se que, para compreender as contribui-
utilizado, possibilite o cuidado contínuo.(9) ções do cuidado humanizado, é necessário que os
Com base nisso, ressalta-se também que, para a especialistas possuam um papel essencial no cuida-
relação profissional de saúde-paciente, é fundamen- do à mulher durante o pré-natal, utilizando práti-
tal que o profissional compartilhe conhecimento cas clínicas pautadas em evidências, na experiência
com a finalidade de minimizar possíveis equívocos cuidativa baseada no respeito e apoio emocional.
do paciente. Por outro lado, é importante mencio- Portanto, torna-se pertinente a identificação de fa-
nar que ainda existem muitas barreiras a serem en- tores socioculturais, fisiológicos e assistenciais para
frentadas, incluindo a ausência da totalidade e da contribuição no processo de renovação da pesquisa
clareza diante das orientações repassadas às gestan- científica. Nesse sentido, justifica-se a reflexão acer-
tes, originando a insegurança da mesma, que inter- ca dos profissionais no serviço do pré-natal, pois são
fere diretamente na qualidade de vida e na banali- os primeiros que precisam ser sensibilizados no âm-
zação dos direitos das mulheres. Assim, propõe-se bito biopsicossocial, garantindo integralidade.(14)
a legitimação de ações efetivas, com a finalidade de Em concordância com este estudo, afirma-se ain-
suprimir e prevenir a violência obstétrica.(10) da que as complicações maternas ocorrem também

6 Acta Paul Enferm. 2020; 33:1-8.

 Silva TM, Sousa KH, Oliveira AD, Amorim FC, Almeida CA

pelo aumento das cesarianas sem indicação clínica. a respeito de seus aspectos éticos, culturais e psíqui-
Pesquisa revelou que as complicações são frequentes cos, gerando a autonomia e o empoderamento da
e afetam a qualidade de vida das mulheres. Para que mulher, que passa a ser a protagonista no processo
sejam feitas as cesarianas é necessário, dessa forma, parturitivo. Para adotar essa prática, é imprescin-
ter indicações claras, coerentes e prudentes, cujos dível que o profissional proporcione informações
benefícios superem os potenciais riscos.(15) consistentes para propagar a diminuição de partos
Foi possível ratificar nos discursos a importância instrumentalizados, uma vez que essa cultura se en-
do Enfermeiro no pré-natal, a fim de reduzir o risco de contra enraizada na sociedade. O interesse da inte-
complicações no parto. Dessa maneira, torna-se impor- pretação da violência no contexto assistencial atual
tante discernir precocemente os problemas que podem propõe a segurança e conforto no atendimento do
surgir e enfrentá-los de maneira correta, de modo a evi- Enfermeiro, o que permite causar benefícios ao bi-
tar danos irreparáveis. Estudo revelou que a assistência nômio mãe-filho.
deve ser embasada na promoção e proteção da saúde – e A realização deste estudo demonstrou a neces-
a gestante deve ser protagonista nesse processo –, priori- sidade de refletir sobre a importância do combate
zando todo o contexto assistencial e emocional na pre- à violência obstétrica na formação do Enfermeiro
venção de intercorrências obstétricas.(16) Obstétrico, enfatizando-a, com o objetivo de pro-
Sobre a quinta ideia central, exposta no Quadro mover condutas que visam a redução de elevados
1, a aplicabilidade do conhecimento científico na índices de mortalidade. Dessa forma, acompanhar
temática da violência obstétrica carece de práticas de o trabalho de parto e parto com eficácia e humani-
educação e saúde – ou seja, de saúde prática obriga- zação e propagar o acolhimento.
tória. A inserção dessas práticas favorece a qualidade Abordar o tema violência obstétrica na formação
de cuidados durante as consultas primárias, que vi- do Enfermeiro constitui um papel estruturante na
sam o acolhimento. Torna-se importante, portanto, assistência ao parto e é importante para o aprimo-
que os profissionais priorizem a realização de ações ramento da qualidade do cuidado às usuárias. Para
educativas como forma de melhorar o relaciona- os futuros especialistas, o ambiente de formação do
mento interpessoal no atendimento individual, vi- profissional traz reflexões e tem a habilidade de con-
sando a preparação e a construção de saberes.(17) ter sistemas desnecessários. O padrão assistencial
O conhecimento possibilita proporcionar aos torna-se algo desafiador, que deve ser reforçado o
profissionais um espaço de reflexão, visando o prin- tempo todo, não só para profissionais da enferma-
cípio da integralidade e o compromisso com a saúde gem, mas para toda a equipe de saúde.(20)
e estendendo essa abordagem à população vulnerá-
vel. Essa questão é necessária para a obtenção de
leis, punições e formas de denúncia que visem evitar Conclusão
o fator agravante da violência e superar os aspectos
emocionais e psíquicos.(18) A formação dos profissionais Enfermeiros na te-
Diante do exposto, destaca-se a existência de mática da violência obstétrica deve ser mais ampla,
métodos estratégicos capazes de reverter essa situa- pois eles são coadjuvantes dessas experiências, e
ção por meio de diretrizes baseadas em evidências, nelas desempenham importante papel ao oferecer
mudanças de atitudes por parte dos especialistas e a qualidade de atendimento de saúde que as mu-
fornecimento de cuidados à saúde. Assim, é possível lheres necessitam e merecem enquanto cidadãs de
minimizar as agressões, evitar o desperdício do uso direito. Vale ressaltar que, quando a mulher é orien-
de materiais, incentivar o desenvolvimento de pes- tada adequadamente, tem menos chance de sofrer
quisas sobre novos indicadores e divulgar resultados violência obstétrica. Assim, o papel do Enfermeiro
para a comunidade científica. em formação é fundamental no que se refere à vio-
Em concordância com o exposto, estudo(19) sa- lência obstétrica, uma vez que esse profissional tem
lientou que a assistência passou por transformações a possibilidade de reduzir os índices desse agravo e

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 Violência obstétrica: a abordagem da temática na formação de enfermeiros obstétricos

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