Galoa Proceedings Sbpo 2018 84444
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RESUMO
A quantidade e a severidade dos desastres aumentam com o decorrer das décadas, devido,
principalmente, ao crescimento urbano desordenado. Esta tendência mundial chamou a atenção
da Organização das Nações Unidas (ONU) que passou a atuar de forma mais contundente para
minimizar o problema através da criação de vários programas internacionais para redução do
risco. No Brasil, os desastres de 2008 em Santa Catarina e 2011 na região serrana do Rio de
Janeiro levaram a aprovação da lei 12608/12 que instituiu a Política Nacional de Proteção e
Defesa Civil que possui como um dos seus objetivos estimular o desenvolvimento de cidades
resilientes e os processos sustentáveis de urbanização. Este estudo apresenta uma metodologia
baseada no Modelo Fuzzy COPPE-COSENZA para hierarquizar comunidades vulneráveis
expostas a riscos de desastres de modo a orientar e otimizar os investimentos do governo. A
metodologia utiliza variáveis quantitativas e qualitativas para a obtenção de um índice de
resiliência.
ABSTRACT
The amount and severity of disasters are increasing over the course of last decades, mainly due to
urban sprawl. This global trend has caught the attention of the United Nations (UN) that started
to act more decisively to minimize the problem by creating a number of international programs to
reduce the risk. In Brazil, the 2008 disaster in Santa Catarina and 2011 in the mountainous region
of Rio de Janeiro led to the adoption of Law 12608/12 which established the National Policy for
the Protection and Civil Defense which has as one of its goals to stimulate the development of
resilient cities and sustainable urbanization processes. This study presents a methodology based
on Fuzzy Model COPPE-COSENZA to prioritize vulnerable communities exposed to disaster
risks in order to guide and optimize government investments. The methodology used for
quantitative and qualitative variables to obtain a resilience index.
https://proceedings.science/p/85526
1. Introdução
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econômicos e de governança. Devem também contar com abordagens mistas, quantitativas e
qualitativas, reunindo indicadores, índices e métricas de probabilidade com avaliações locais
participativas, em parceria com as comunidades em risco, para capturar toda a complexidade da
vulnerabilidade em suas diferentes dimensões.
O atual protocolo de ação das Nações Unidas para a Redução de Riscos e Desastres
(RRD) foi ratificado pelos representantes de 187 países, reunidos na terceira Conferência
Mundial de Redução de Riscos e Desastres, em Sendai, Japão, em março de 2015 (Sendai
Framework for Action – SFA), e substitui o Hyogo Framework for Action (HFA), que
estabeleceu as diretrizes de RRD para a década 2005-2015. As novas diretrizes, que valem de
2015 a 2030, visam reduzir vulnerabilidades como uma forma de ampliar a resiliência diante da
necessidade de buscar a adaptação diante das mudanças climáticas. Para isso, o documento
destaca como prioridade número um, a necessidade da compreensão do risco de desastre em
todas as suas dimensões de vulnerabilidades, capacidades, características das ameaças e do meio
ambiente [EIRD-ONU 2007].
Nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, o aumento da população aliado
às desigualdades sociais e econômicas, à concentração de riquezas e à especulação imobiliária,
tem levado as pessoas a habitarem regiões de maior risco, como as áreas próximas a rios e
encostas de morros, o que aumentou consideravelmente a possibilidade de ocorrer os desastres
ambientais naturais.
Devido à heterogeneidade interna dos estados brasileiros, tanto no que se refere à
vulnerabilidade quanto à exposição a desastres naturais, estudos com abrangência estadual ainda
estão sujeitos às limitações de escala. Desta forma, a realização de trabalhos em âmbito
microrregional torna-se mais adequada, pois seriam capazes de produzir resultados mais precisos
e identificar padrões de distribuição espacial do risco e da vulnerabilidade internos aos estados da
federação [Braga et al 2006]. Ao longo dos anos, as estratégias de redução de riscos e desastres
vêm se aproximando cada vez mais das comunidades locais, dentro das quais os relatos de boas
práticas vêm mostrando ser esse o melhor caminho para a eficiência das ações de ampliação da
resiliência diante de desastres. Com a disseminação dessas boas práticas, as políticas de redução
de riscos e desastres se voltaram para a redução de vulnerabilidades.
Neste trabalho, será mostrado um modelo ao qual utiliza variáveis quantitativas e
qualitativas de modo a avaliar comparativamente comunidades sujeitas a risco de desastres,
identificando suas vulnerabilidades e estabelecendo um índice de resiliência.
2. O Problema
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Tabela 1: Metodologias
Escala Perigos Dados Participação da
comunidade
DRI nacional inundação, quantitativos NÃO
estiagem, ciclone
tropical
HOTSPOTS subnacional inundação, quantitativos NÃO
estiagem, ciclone
tropical e
deslizamento
Tyndall Centre nacional todos quantitativos NÃO
SoVI subnacional todos quantitativos NÃO
APELL subnacional todos quantitativos e SIM
qualitativos
CEPED-UFSC subnacional inundação e quantitativos e SIM
deslizamento qualitativos
COPPETEC subnacional inundação quantitativos NÃO
Fonte: Souza (2016)
3. Referencial Teórico
Santos et al., 2017 afirmam que um engenheiro é, antes de mais nada, um “resolvedor de
problemas”. Ele tem a capacidade de compreender as condições de contorno de uma situação
problemática e, a partir daí, propor soluções que agreguem valor não só para a organização da
qual faz parte, mas também para a sociedade como um todo.
Morse e Kimball, 1951 destacam que a Pesquisa Operacional (PO) é uma ciência
aplicada que lança mão de todas as técnicas científicas como ferramentas para resolver problemas
específicos, provendo uma base para o tomador de decisão. Como se pode observar, a PO lança
mão da Matemática, mas não é um ramo específico da Matemática. Para Santos et al., 2015, a PO
lança mão de modelos matemáticos e/ou lógicos, a fim de resolver problemas reais, apresentando
um caráter eminentemente multidisciplinar. Daí, buscou-se solucionar o problema apresentado
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nesse trabalho a partir do arcabouço metodológico da Matemática Nebulosa, particularmente com
a aplicação do Método COPPE-COSENZA.
4. Modelo Proposto
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de todos os seus IRP. A partir da definição das comunidades a serem analisadas, o modelo vai
depender de um conjunto de informações dado por especialistas que são: a) definição dos Fatores
de Risco (FR); b) relevância desses fatores; c) determinação dos níveis de risco; e d) classificação
dos Fatores de Risco nas comunidades. O diagrama a seguir ilustra as entradas e saídas do
modelo:
Figura 1: Diagrama de inputs/outputs
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Os FR1 a FR7 são considerados gerais, enquanto os FR8 a FR11 são FR específicos para
o perigo de inundação. A seleção dos FR são dinâmicas, o que faz com que fatores que outrora
não existiam, como por exemplo, uma fábrica recém inaugurada, seja incluída. Em contrapartida,
uma obra de contenção de encosta concluída pode diminuir a relevância ou excluir determinado
fator. Para uma hierarquização mais realista, as comunidades devem, preferencialmente, estar
dentro da mesma região em estudo, de modo a possuírem características sócio-ambientais
semelhantes. Cada região tem particularidades que podem ser levadas em consideração para a
escolha dos FR, como por exemplo, se a comunidade é dominada pelo crime organizado, o que
dificulta o acesso dos órgãos do estado em obras de infraestrutura. Conforme mencionado, a lista
dos FR possui caráter flexível e dinâmico, podendo ser modificada de uma região para outra ou
ainda atualizada de acordo com a avaliação dos especialistas.
Após a seleção dos FR, os especialistas devem atribuir um grau de relevância para cada
FR. Esta classificação vai contribuir para a hierarquização do modelo. Os graus de relevância
foram atribuídos conforme a seguir:
1- Crucial (Cr) – afeta gravemente a comunidade.
2- Condicionante (Co) – produz danos significativos na comunidade.
3- Pouco Condicionante (PC) – produz danos pouco significativos na comunidade.
4- Irrelevante (Ir) – não afeta ou produz danos mínimos na comunidade.
A Matriz de Desastres (A) mostra a relevância dos FR para cada um dos perigos
analisados. Tem-se assim: A= [aij]dxf , onde d = perigos relacionados a região de estudo, f = FR e
aij = grau de relevância (1, 2, 3 e 4).
Tabela 3: Matriz de Desastres
FR f1 f2 f3 … fj
Perigos
d1 a11 a12 a13 … a1j
d2 a21 a22 a23 … a2j
d3 a31 a32 a33 … a3j
: : : : : :
di ai1 ai2 ai3 … aij
Fonte: Souza (2016)
Para cada FR, são estabelecidos parâmetros representados por grandezas numéricas ou
termos lingüísticos indicando qual o NPR da comunidade. Estes requisitos foram estabelecidos
em quatro níveis, levando em consideração a capacidade em se contrapor ao perigo:
Supera – condição ótima de se contrapor ao perigo
Atende – condição boa de se contrapor ao perigo
Insuficiente – condição ruim de se contrapor ao perigo
Inexistente – condição péssima de se contrapor ao perigo
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No exemplo da Tabela 4, os termos lingüísticos foram utilizados nos FR em que não se consegue
estabelecer valores ou intervalos numéricos, sendo a forma mais adequada de classificação. A
simples resposta SIM ou NÃO, de maneira “crisp”, não atenderia, por exemplo, o FR4: “Qual a
percepção do risco da população?”.
A Matriz NPR (B) apresenta os NPR a um determinado perigo aos quais se encontram as
comunidades. Tem-se assim: B = [bjk]fxm, onde f = FR, m = comunidades, e bjk = NPR (Supera,
Atende, Insuficiente e Inexistente).
Tabela 5: Matriz NPR
Comunidades m1 m2 m3 … mk
FR
f1 b11 b12 b13 … b1k
f2 b21 b22 b23 … b2k
f3 b31 b32 b33 … b3k
: : : : : :
fj bj1 bj2 bj3 … bjk
Fonte: Souza (2016)
RELEVÂNCIA
1- Cr 1+4/n 1 1-4/n 0
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Tabela 7: IRP e IRC
FR RELEVÂNCIA NPR IRP
FR1 1 Supera 1
FR2 2 Atende 1
FR3 1 Supera 1,2
FR4 2 Atende 1
FR5 1 Insuficiente 0,8
FR6 2 Insuficiente 0,85
FR7 1 Atende 1
FR8 1 Atende 1
FR9 1 Supera 1,2
FR10 1 Supera 1,2
FR11 1 Supera 1,2
FR12 1 Supera 1,2
FR13 1 Inexistente 0
FR14 1 Insuficiente 0,8
FR15 2 Inexistente 0,04
FR16 2 Atende 1
FR17 1 Supera 1,2
FR18 2 Supera 1,15
FR19 1 Atende 1
FR20 1 Supera 1,2
IRC 19,04
Fonte: Souza (2016)
Quanto maior for cik, a comunidade será mais resiliente e menos vulnerável e quanto
menor for cik a comunidade será menos resiliente e mais vulnerável. O modelo vai identificar as
comunidades menos resilientes para que possam ser investidos recursos em infraestrutura, além
de conscientização e treinamentos dos moradores. Assim, observa-se:
- mink {cik} = ci , indica a comunidade mais vulnerável ao perigo i; e
- mini {cik} = ck , indica o perigo ao qual a comunidade k está mais vulnerável.
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5.0. Análise do Modelo
No exemplo da Tabela 7, podemos observar para quais FR, a comunidade possui NPR
Insuficiente e Inexistente, gerando IRP menores que 1. O objetivo do modelo é identificar quais
os NPR que poderiam ser elevados até pelo menos ao nível “Atende” (IRP =1), de modo a
incrementar o IRC. Note-se que nem todos os IRP menores que 1 poderão ser incrementados,
devido a característica de alguns FR. Por se tratar de uma adaptação do Modelo de Hierarquia
Fuzzy COPPE-COSENZA, o modelo proposto possui a capacidade de hierarquizar as seguintes
questões:
a) Dado um perigo, quais os FR presentes em uma comunidade que deverão ser
prioritariamente mitigados?
b) Dada uma região com várias comunidades, qual destas comunidades é a menos
resiliente a um certo perigo?
c) Dada uma comunidade, quais os perigos em que ela é menos resiliente?
d) Dada uma região, qual a comunidade menos resiliente a todos os perigos
presentes nesta região?
e) Qual a região menos resiliente a um certo perigo?
6. Considerações Finais
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pesquisadores de universidades dentre outros, dependendo da região a ser hierarquizada e dos
principais perigos envolvidos.
Uma possibilidade do avanço deste modelo, diz respeito à situação em que os recursos
financeiros são insuficientes para combater integralmente os Fatores de Risco de uma
comunidade. Neste caso, um problema de otimização poderia ser modelado de forma a
maximizar o IRC, tendo como restrição o limite disponível no orçamento destinado à prevenção/
proteção das comunidades aos desastres e preparação contra emergências. Para tal, seria
necessário um conhecimento detalhado do custo relacionado ao aumento do IRP.
A estruturação do modelo torna desejável a elaboração de um software em que basta os
inputs serem fornecidos para que se extraia o resultado. O software facilitaria em muito a
aplicação do modelo proposto como permitiria simular diversas situações em que as condições
ambientais e estruturais de uma comunidade poderiam ser alteradas, além de mostrar o custo total
e otimizado para que a comunidade aumente seu Índice de Resiliência, o que seria de interesse
para a tomada de decisão dos gestores públicos quanto a alocação de investimentos e definição de
políticas habitacionais. O software disponibilizaria ainda, um pacote de simulação visual a fim de
enfatizar os efeitos de um possível desastre.
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