5641-Texto Do Artigo-18291-3-10-20190222

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

POPULATION’S AGEING AND THE PUBLIC HEALTH POLICIES

Maria José Sanches Marin1


Vanessa Clivelaro Bertassi Panes2
1
Doutora em Enfermagem, Docente do Curso de Enfermagem e do Programa de Mestrado
Profissional Saúde e Envelhecimento da Faculdade de Medicina de Marília; Docente do Programa de
Mestrado Acadêmico e Doutorado em Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu -
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita.
Endereço: Av. Brigadeiro Eduardo Gomes, 1886 - Marília -SP- CEP 17.514-000
Email: [email protected]. Telefone: (14) 3413-8874

2
Doutoranda em Ciências da Saúde pela Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São
Paulo. Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade Anhanguera de Bauru.
Endereço: R. José Freire Sobrinho, 516 – Marília-SP – CEP 17.514-014
Email: [email protected] Telefone: (14) 3301-1984

RESUMO

No Brasil, efetivamente, o idoso surge como prioridade de Políticas Públicas de Saúde apenas
em 2006 no Pacto pela Vida, que trouxe consigo a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSI).
Apenas neste momento, passa-se a incorporar o conceito de Envelhecimento Ativo, lançado em 2002
pela Organização Mundial da Saúde, com a intenção de conquistar uma visão positiva deste
processo, promovendo vida mais longa, que deve ser acompanhada de oportunidades contínuas para
saúde, a participação e segurança do idoso. Possibilita, portanto, que às pessoas percebam o seu
potencial para o bem-estar físico, social e mental durante a vida. Além de permitir ganho de
autonomia, independência e saúde em seu sentido mais amplo, durante todo o processo de
envelhecimento. Na sequência, outras ações vieram, na intenção de colocar em práticas esse
conceito e ainda, para os idosos mais dependentes, envolver a família no cuidado. Muitos desafios
ainda persistem no sentido do preparo e direcionamento dos idosos e seus familiares para um
envelhecimento saudável, com autonomia e qualidade de vida.

Palavras-Chaves: Política de Saúde. Saúde do idoso. Envelhecimento da população.

ABSTRACT

In Brazil, effectively, the elderly arose as a priority for the Public Health Policies only in 2006
in the Pact for Life, which also brought the National Health Policy for the Elderly (Política Nacional de
Saúde da Pessoa Idosa - PNSI). Only at this time, the concept of Active Ageing was incorporated; it
was launched in 2002 by the World Health Organization, with the intention of gaining a positive view
of this process, promoting longer life, which must be accompanied by continuing opportunities for
health, participation and security of the elderly. It makes it possible, therefore, to people realize their
potential for physical, social and mental well-being throughout life. Besides allowing the autonomy
gain, independence and health in its broadest sense, throughout the aging process. Following it,
other actions came in an attempt to put into practice this concept and for the most dependent
elderly to involve the family in care. Many challenges remain towards the preparation and guidance
of the elderly and their families for healthy aging, with autonomy and quality of life.

26
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X - https://doi.org/10.33027/2447-780X.2015.v1.n1.04.p26
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

Keywords: Health Policy. Health of the Elderly. Demographic Aging

1. INTRODUÇÃO seguindo, até a década de 80, em uma


A população idosa vem crescendo trajetória marcada por dificuldades na
acentuadamente nas últimas décadas, expansão da assistência médica, a qual se
resultado da redução nas taxas de desenvolvia na lógica
fertilidade e aumento da expectativa de mercadológica.(FUNASA, 2015)
vida, o que se deve à melhoria do acesso Na década de 80, contou com
aos serviços de saúde, associado às significativos avanços que marcados pela
campanhas de vacinação, avanços abertura democrática e pelas lutas de
tecnológicos da medicina, aumento do movimentos sociais, em especial o
nível de escolaridade, investimento em movimento de Reforma Sanitária, que na
infra-estrutura de saneamento básico, 8.ª Conferência Nacional de Saúde,
dentre outros fatores (BATISTA et al, 2011; efetivou discussões na defesa de saúde
BRASIL, 2010). como um direito de todos e dever do
Hoje, os idosos representam no estado, tendo como base os princípios da
Brasil, cerca de 10% da população. Para integralidade, universalidade, equidade e
2025, a perspectiva é de chegar a 25 descentralização, o que se caracterizou
milhões de pessoas com mais de 60 anos como o movimento da reforma sanitária.
de idade neste país. E para 2050, espera- (CONASS, 2009).
se que sejam quase o dobro da população As proposições desse movimento,
atual, somando 19% da população ocorrido em 1986, foram consideradas na
brasileira (IBGE, 2008). elaboraçâo da Constituição Federal de
O aumento da população idosa em 1988, dando origem ao Sistema Único de
um país como o Brasil, que por muitos Saúde. A partir disso, muitos fatos
anos contou com o predomínio de jovens, ocorreram no sentido de consolidar os
leva a novas necessidades, especialmente compromissos atribuídos ao SUS na
quanto a assistência à saúde. Frente a Constituição, em especial a Lei 8.080 de 19
isso, o presente estudo tem como de setembro de 1990, que dispõe sobre as
finalidade apresentar os principais condições para a promoção, proteção e
movimentos das políticas de saúde em recuperação da saúde, a organização e o
prol do atendimento ao idoso. funcionamento dos serviços
correspondentes. Nesta mesma direção, a
POLÍTICAS DE SAÚDE E O lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990
PROCESSO DE ENVELHECIMENTO dispõe principalmente sobre a
Além disso, ao longo da história, a participação da comunidade na gestão do
saúde pública brasileira não contou com SUS e sobre as transferências
dispositivos com expressividade para intergovernamentais de recursos
acompanhar as transformações sociais, financeiros na área da saúde. Estas duas
sendo esta permeada por grande Leis foram chamadas Lei Orgânica da
precariedade, o que repercute até os dias Saúde – LOS e são consideradas leis
atuais. Do Brasil colônia até 1930 inexistia infraconstitucionais, que disciplinam
uma organização institucional de legalmente o cumprimento do
atendimento a saúde da população,
27
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

mandamento constitucional da proteção e Subsequente, em 1994, o


da defesa da saúde. (CONASS, 2009). Ministério da Saúde lança também a
O Sistema Único de Saúde (SUS) ao Estratégia de Saúde da Família (ESF). Na
considerar um conceito ampliado de tentativa de somar a reversão do modelo
processo saúde e doença, que leva em vigente, onde predomina o atendimento
conta os seus diferentes determinantes e emergencial à doença, em grande parte
condicionantes e estabelecer políticas que nos hospitais. A família passa a ser o
direcionam uma nova forma de agir frente objeto de atenção, no ambiente em que
às necessidades de saúde da população, vive, permitindo uma compreensão
também delimita que a ênfase está na ampliada do processo saúde/doença. O
atenção primária à saúde. A atenção programa inclui ações de promoção da
primária á saúde é definida pelo saúde, prevenção, recuperação,
Ministério da Saúde (MS) como “ações de reabilitação de doenças e agravos mais
caráter individual ou coletivo, frequentes. Destaca-se que, até então,
desenvolvidas no primeiro nível de não houve qualquer propostos em prol da
atenção dos sistemas de serviços, voltadas saúde do idoso.
para a promoção da saúde, prevenção dos Em meio às novas políticas, em
agravos, tratamento e reabilitação” 2003, foi aprovado o Estatuto do Idoso,
(ALMEIDA; MACINKO, 2006). pela Lei nº 10741, que prevê as
A atenção primária oferece a prioridades às normas de proteção aos
entrada no sistema para todas as novas direitos do idoso, que vão desde o
necessidades e problemas, fornece atendimento permanente, o
atenção sobre a pessoa, além de aprimoramento de suas condições de vida
coordenar ou integrar a atenção fornecida até a inviolabilidade física, psíquica e
em algum outro nível de atenção à saúde moral. Em seu artigo 18 determina que “as
(STARFIELD, 2002). Esse nível de atenção instituições de saúde devem atender aos
deve ser pautado na continuidade, na critérios mínimos para o atendimento às
integralidade, na atenção centrada na necessidades do idoso, promovendo o
família, na orientação para a comunidade treinamento e a capacitação dos
e na competência profissional. Desta profissionais, assim como a orientação aos
forma é na atenção primária que se cuidadores e familiares e grupos de auto-
organiza e se proporciona a otimização de ajuda” (BRASIL, 2003).
recursos, tanto básicos, como Esse movimento, embora
especializados e que se mantém o vínculo importante para a transformação das
e a responsabilização pelas necessidades práticas de saúde, não trouxe avanços
de saúde das pessoas, famílias e significativos no que se refere a atenção á
comunidade. saúde do idoso, a qual apresenta
Paralelo a estes aprimoramentos e necessidades específicas e demanda um
tentativas de melhor direcionar a saúde olhar ampliado e interdisciplinar para que
no Brasil, em 1991, o Ministério da Saúde possam ter seus problemas detectados
lança o Programa de Agentes precocemente, além de intervenções
Comunitários de Saúde (PACS). O objetivo pautadas na promoção da saúde.
seria aumentar a acessibilidade ao sistema
de saúde e incrementar as ações de
prevenção e promoção da saúde.
28
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

Na atenção à saúde do idoso, deve- caminhada em prol da implantação dos


se levar em consideração que as doenças dispositivos constitucionais referentes à
crônicas, e suas incapacidades, não são saúde da população, foram observados
consequências inevitáveis do alguns avanços, porém, ainda existiam
envelhecimento, mas sim a falta de um muitos desafios que necessitam de novas
trabalho voltado à prevenção. A abordagens no direcionamento do SUS.
prevenção é efetiva e eficaz em qualquer Em 2006, foi aprovado pelo Conselho
nível, mesmo em fases tardias da vida. Nacional de Saúde, o “Pacto pela Saúde”,
(VERAS, 2009) constituído por um conjunto de
Como ancoradouro para o trabalho compromissos sanitários, provenientes da
de prevenção, encontra-se o documento análise da situação de saúde da população
“Envelhecimento ativo: um marco para e das prioridades definidas pelos governos
elaboração de políticas”, elaborado em federal, estaduais e municipais (BRASIL,
2002 pela Organização Mundial da Saúde 2006).
(OMS). Onde são apresentados os O pacto pela saúde envolve três
principais desafios a serem enfrentados dimensões, sendo o Pacto pela Vida que
pelo mundo, no que se refere a envolve o compromisso com as
envelhecimento populacional, e destaca o prioridades que apresentam impacto
fato de que a saúde só pode ser criada e sobre a situação de saúde da população
administrada com a participação de vários brasileira; o Pacto em defesa do SUS que
setores. Além de ressaltar que as políticas firma o compromisso com a consolidação
de saúde na área envelhecimento devem os fundamentos políticos e princípios
levar em conta os determinantes de saúde constitucionais do SUS e o Pacto de
ao longo do curso da vida, enfatizando as Gestão que estabelece o espaço regional
questões de gênero e desigualdades como lócus privilegiado de construção das
sociais. (OMS, 2002) responsabilidades pactuadas, uma vez que
O conceito de “Envelhecimento é esse espaço que permite a integração de
Ativo” é dado na intenção de conquistar políticas e programas por meio da ação
uma visão positiva deste processo, conjunta das esferas federal, estadual e
promovendo vida mais longa, que deve municipal (BRASIL, 2006).
ser acompanhada de oportunidades O Pacto pela Vida coloca entre as
contínuas para saúde, a participação e suas seis prioridades a atenção à saúde do
segurança do idoso. Possibilita, portanto, idoso, sendo essa a primeira vez que essa
que às pessoas percebam o seu potencial parcela da população aparece entre as
para o bem-estar físico, social e mental prioridades desse setor, embora o
durante a vida. Além de permitir ganho de processo de envelhecimento já estivesse
autonomia, independência e saúde em ocorrendo há algumas décadas, além de
seu sentido mais amplo, durante todo o se contar com projeções que indicam a
processo de envelhecimento. Segundo a necessidade de organização da sociedade
OMS, este deve ser o objetivo das equipes e, em especial dos serviços de saúde, para
multiprofissionais que atuam junto aos lidar com essa nova realidade.
idosos, considerando o empoderamento Quanto as demais prioridades
da população algo imprescindível no propostas pelo Pacto pela Vida
processo saúde-doença. (OMS, 2002) encontram-se o controle do Câncer de
Frente às possibilidades e limites colo uterino, a redução da mortalidade
na atenção à saúde, após duas décadas de infantil e materna, fortalecimento da
29
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

capacidade de resposta às doenças consonância com os princípios do SUS


emergentes e endemias, com ênfase na (BRASIL, 2006)
dengue; hanseníase; tuberculose; malária A Política Nacional do Idoso
e influenza, a promoção da saúde e o (PNSPI), apresenta como pressuposto
fortalecimento da atenção básica, sendo básico a permanência do idoso no seio
que os últimos tópicos também envolvem, familiar, e reforça o papel importante da
de forma indireta, a atenção a saúde do família como determinante nos resultados
idoso (TELLES, 2006). do processo de reabilitação. Colocando
A Política Nacional de Atenção em contraponto a assistência domiciliar à
Básica (PNAB) e a Política Nacional de asilar, na qual a família representa um
Promoção da Saúde (PNPS), também papel importante de assistência e
apareceram neste momento. Ambas proteção, geralmente assumida pelo
voltadas para a configuração de um cuidador familiar. A função de cuidador é
modelo de atenção capaz de responder as assumida por uma única pessoa,
condições crônicas e as condições agudas denominada cuidador principal, seja por
e promover ações de vigilância e instinto, vontade, disponibilidade ou
promoção à saúde, efetivando a Atenção capacidade. Este assume tarefas de
Primária à Saúde (APS) como eixo cuidado atendendo às necessidades do
estruturante da Rede de Atenção à Saúde idoso e responsabilizando-se por elas (DOS
no SUS (BRASIL,2012). SANTOS, 2013).
É importante enfatizar que os Esta Política, tendo como meta
idosos são as pessoas que mais utilizam os final proporcionar uma atenção à saúde
serviços de saúde, pois apresentam adequada e digna para aos idosos,
problemas de saúde complexos e de longa principalmente para aquela parcela da
duração, uma vez que a agregação de população idosa que teve, por uma série
fatores biológicos, emocionais, sociais e de razões, um processo de
econômicos do processo de envelhecimento marcado por doenças e
envelhecimento levam a fragilidades, à agravos que impõem sérias limitações ao
presença de co-morbidades e ao uso de seu bem-estar. No entanto, o Sistema
grande quantidade de medicamentos que Único de Saúde Pública no Brasil não está
demandam assistência pautada na preparado para fornecer o suporte para a
longitudinalidade, no vínculo e na população idosa que adoece, nem à
responsabilização. família que assume seus cuidados (DOS
Neste contexto, marcando a SANTOS, 2013).
sintonia com o Pacto pela Saúde, foi O documento elaborado pela área
aprovada a Portaria Nº 2.528 de 19 de Técnica de Saúde do Idoso do Ministério
outubro de 2006 que dispõe sobre a da Saúde (BRASIL, 2010), propõe o
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa desenvolvimento de ações estratégicas
(PNSI), que tem como meta a atenção à objetivando o envelhecimento ativo e
saúde adequada e digna para os idosos, saudável, a realização de ações de atenção
recuperar, manter e promover a integral e integrada à saúde da pessoa
autonomia e independência dos
indivíduos idosos, direcionando medidas
coletivas e de saúde para esse fim, em

30
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

idosa e de ações intersetoriais de Especialização “Gerencia em


fortalecimento da participação popular e Salud para Personas Mayores”,
de educação permanente, pontuadas da com o objetivo e qualificar
seguinte maneira: profissionais de nível superior
 Caderneta de Saúde da Pessoa que atuam ou tenham
Idosa: cuja distribuição iniciou- interesse em atuar na direção
se em 2007, como uma de serviços e programas
ferramenta de identificação de voltados a este grupo;
situações de riscos potenciais  Oficinas Estaduais de
para a saúde da pessoa idosa a Prevenção de Osteoporose,
fim de planejar e organizar Quedas e Fraturas em Pessoas
ações de prevenção, promoção Idosas: propõe diretrizes a
e recuperação; serem aplicadas nos Estados e
 Caderneta de Atenção Básica Municípios para melhor
“Envelhecimento e Saúde da orientar profissionais e
Pessoa Idosa”: oferece pacientes e relação à
subsídios técnicos específicos osteoporose / quedas para
para facilitar a prática diária alcanças a meta de redução do
dos profissionais que atuam na número de internações por
Atenção Básica. Com uma fratura de fêmur em pessoas
linguagem acessível idosos, proposta pelo Pacto
disponibiliza instrumentos e pela Vida;
discussões atualizados, além de  Ações desenvolvidas ou em
protocolos clínicos; desenvolvimento em parceria
 Cursos de Aperfeiçoamento em com outras áreas: acolhimento
Envelhecimento e Saúde da à pessoa idosa nas unidades de
Pessoa Idosa: o Ministério da saúde, assistência
Saúde – MS, por meio da Área farmacêutica, (por exemplo: a
Técnica de Saúde do Idoso, Farmácia Popular), Atenção
firmou convênio com a Escola Domiciliar, imunização e
Nacional de Saúde Pública Programa Nacional de Doenças
(ENSP/FIOCRUZ), para Sexualmente Transmissíveis –
capacitar, na modalidade à DST/AIDS.
distância (EAD) profissionais
que atuam na rede de saúde Para superar a fragmentação da
SUS; atenção e da gestão nas Regiões de Saúde,
 Curso de Gestão em em 2010, o Ministério da Saúde publicou
Envelhecimento: em parceria portaria que estabeleceu diretrizes para a
com a ENSP/FIOCRUZ, OPAS organização da Rede de Atenção à Saúde
(Organização Pan-Americana (RAS) no âmbito do SUS. Elaborado a
de Saúde), CIEES (Centro Íbero partir das discussões internas das áreas
Americano de Estudos de técnicas do Ministério da Saúde e no
Seguridade Social) OISS Grupo de trabalho de Gestão da Câmara
(Organização Ibero Americana Técnica da Comissão Intergestores
de Seguridade Social), para Tripartite, composto com representantes
adaptar e implantar o Curso de do Conselho Nacional de Secretarias
31
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

Municipais de Saúde (CONASEMS), do prioridades, visto que o próprio Ministério


Conselho Nacional de Secretários de da Saúde colocou em primeiro plano a
Saúde (CONASS) e do Ministério da Saúde Rede Álcool e Drogas, a Rede Cegonha e a
(MS). (MENDES, 2011). Rede Urgência e Emergência.
A fundamentação dessas Os instrumentos legais já citados
orientações partiu do arcabouço trazem, entre seus princípios, a família,
normativo do SUS, com destaque para as nas suas diversas formas e estruturas,
Portarias do Pacto pela Saúde, a Política como unidade fundamental mantenedora
Nacional de Atenção Básica (PNAB), a e protetora dos idosos, mas não exclusiva.
Política Nacional de Promoção da Saúde Visto que, “a família, a sociedade e o
(PNPS), na publicação da Regionalização Estado têm o dever de assegurar ao idoso
Solidária e Cooperativa, além das todos os direitos da cidadania, garantindo
experiências de apoio à organização da sua participação na comunidade,
Rede de Atenção à Saúde promovidas pelo defendendo sua dignidade, bem estar e o
Ministério da Saúde (MS), e Conselho direito a vida” (BRASIL, 1998, p. 11).
Nacional de Secretários de Saúde Cabe destacar ainda que, apesar do
(CONASS) e, em regiões de saúde de empenho e cuidado dispensados pelas
diversos estados (BRASIL, 2010). famílias, o incentivo ao retorno do modelo
Por tanto, para o futuro foram de cuidados domiciliares teve, como
traçadas diretivas que envolvem: o principal finalidade, baratear os altos
fortalecimento da Atenção Primária à custos advindos das internações dessa
Saúde para realizar a coordenação do população e a melhora da qualidade de
cuidado e ordenar a organização da rede vida dos idosos. Entretanto, a dificuldade
de atenção estratégias; o fortalecimento das políticas públicas para acompanhar o
do papel dos CGRs (Colegiados de Gestão rápido crescimento dessa população fez
Regional) no processo de governança da com que gerasse um enfoque distorcido
RAS; o aprimoramento da integração das da responsabilidade sobre as
ações de âmbito coletivo da vigilância em incapacidades ou as doenças crônicas do
saúde com as da assistência (âmbito idoso, que foram assumidas por seus
individual e clínico), gerenciando o familiares como um problema individual
conhecimento necessário à implantação e e/ou familiar, por causa da ausência, ou
acompanhamento da RAS e o precariedade, do suporte do Estado
gerenciamento de risco e de agravos à (BRITO et al, 2014).
saúde; o fortalecimento da política de Cuidar do idoso em domicílio é
gestão do trabalho e da educação na uma tarefa árdua, uma vez que o cuidado,
saúde na RAS; a implementação do geralmente, é destinado a uma pessoa
Sistema de Planejamento da RAS; o que não desempenha apenas essa
desenvolvimento dos Sistemas Logísticos e atividade, e acaba conciliando-a com
de Apoio da RAS e o financiamento do outras tarefas, como o cuidado dos filhos,
Sistema na perspectiva da RAS (MENDES, da casa, atividade profissional, dentre
2011). outras. Este acúmulo acarreta
Nessa direção, a Saúde do idoso esgotamento, podendo levar o cuidador
também não foi tida como umas das familiar ao adoecimento. As tarefas
atribuídas ao cuidador, muitas vezes sem instituições de saúde, a alteração das
a orientação adequada, o suporte das rotinas e o tempo despendido no cuidado,
32
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

têm impactos sobre a qualidade de vida práticos, visto que não são liberados
do cuidador. Nessa perspectiva, recursos para uma construção mais efetiva
adentram-se as estratégias grupais, que se desse cuidado.
propõem a compartilhar saberes e No entanto, não se pode negar a
experiências na construção de um viver importância da legislação, uma vez que ela
mais saudável, buscando formar uma rede deixa um alerta para o enfrentamento da
de suporte social, promover a autonomia situação, propicia reflexões e abertura
de seus integrantes, ampliar a criatividade, para movimentos de mudanças. Espera-se,
melhorar a autoimagem do grupo, assim, que a PNSI seja colocada como
oportunizar a livre expressão dos prioridade nas agendas dos governantes.
participantes sobre suas emoções e seus Ressalta-se, por fim, que
conhecimentos, além de estabelecer autonomia, participação, cuidado, auto-
articulações com outros grupos e satisfação, possibilidade de atuar em
instituições (BRITO et al, 2014). No variados contextos sociais e elaboração de
entanto, na vivência dos autores com novos significados para a vida na idade
idosos dependentes, tem-se a percepção avançada são conceitos-chave para
de que essas ações pouco tem revertido qualquer política destinada aos idosos.
na melhoria das condições de vida do Além disso, não cabe pontualmente a um
idoso e cuidador, visto que muitas das único segmento da sociedade a
necessidades são de ordem estrutural e responsabilidade pelo cuidado para com
financeira. Além disso, tratam-se ações as pessoas idosas e, acima de tudo, é
pontuais, sem uma efetiva incorporação e preciso preparo e respaldo para a função
institucionalização das mesmas pelos de cuidado do idoso, tanto por parte dos
serviços de saúde. familiares como dos profissionais de
Reforça-se, desta forma que as saúde.
políticas públicas de saúde voltadas para o
envelhecimento com dependência e ao REFERÊNCIAS
cuidador familiar são frágeis e
ALMEIDA, Célia; MACINKO, James. Validação de
insuficientes, tornando o sistema público
uma metodologia de avaliação rápida das
ineficaz no exercício de suas funções com características organizacionais e do desempenho
resolutividade e plenitude. (DOS SANTOS, dos serviços de atenção básica do Sistema de
2013). Saúde (SUS) em nível local. Brasília, DF:
Organização Pan-Americana de Saúde, 2006.
2 CONCLUSÃO
ARAÚJO, Larissa Fortunato, et al. Evidências da
No Brasil, as políticas públicas de contribuição dos programas de assistência ao idoso
Saúde do idoso evoluíram lentamente, na promoção do envelhecimento saudável no
embora a mais de quatro décadas já se Brasil. Rev Panam Salud Publica, v.30, n.1, p. 80-
observa crescente aumento dessa parcela 86, 2011.
da população e que os mesmos
BATISTA, Marina Picazzio Perez; DE ALMEIDA,
apresentam problemas específicos que Maria Helena Morgani; LANCMAN, Selma. Políticas
precisam ser considerados com vistas a públicas para a população idosa: uma revisão com
manter a sua qualidade de vida. Além ênfase nas ações de saúde. Revista de Terapia
disso, mesmo que em 2006 o pacto pela Ocupacional da Universidade de São Paulo, São
Paulo, v. 22, n. 3, p. 200-207, 2011.
saúde tenha delineado importante
direcionamento para o cuidado do idoso, BRASIL. Lei Nº 10.741 – Dispõe sobre o Estatuto do
pouco tem se observado de resultados Idoso e dá outras providências. Brasília, DF: 2003.

33
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X
Maria José Sanches Marin
Vanessa Clivelaro Bertassi Panes

Disponível em: FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. Cronologia


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l1 Histórica da Saúde Pública: uma visão histórica da
0.741.htm. Acesso em 2012 ago 23. saúde brasileira. Disponível em:
http://www.funasa.gov.br/site/museu-da-
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde da funasa/cronologia-historica-da-saudepublica/.
pessoa idosa e envelhecimento. Brasília, 2010. 44 Acesso em: 10 de julho de 2015, 14h00min.
p. (Série B. Textos Básicos de Saúde) (Série Pactos
pela Saúde 2006, v. 12). Disponível em INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRRAFIA E
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atenca ESTATÍSTCIA (IBGE). Projeção da população do
o_saude_pessoa_idosa_envelhecimento_v12.pdf. Brasil por sexo e idade – 1980-2050. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 399, de 22 Disponível em:
de fevereiro de 2006.Divulga o Pacto pela Saúde http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populac
2006 – Consolidação do SUS e aprova as diretrizes ao/projecao_da_populacao/2008/projecao.pdf
operacionais do referido pacto. Diário Oficial da
União, Brasília, DF: 23 de fev. 2006; Seção 1:43. MENDES. E. V. As redes de atenção à saúde.
Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte,
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de v. 18, n. 4 supl. p. 3-11, 2008.
Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde,
2012. (Série E. Legislação em Saúde) ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) (2002).
Envelhecimento ativo: uma política de saúde /
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.528, de World Health Organization. (S, Gontijo Trad.),
19 de outubro de 2006: Aprova a Política Nacional Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde.
de Saúde da Pessoa Idosa. Diário Oficial da União, 60p. Disponível em:
2006. http://dtr2001.saude.gov.br/svs/pub/
pdfs/envelhecimento_ativo.pdf
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros STARFIELD, Barbara. Atenção primária: equilíbrio
curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia.
ensino fundamental: introdução aos parâmetros Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002.
curriculares nacionais. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.
TELLES, José Luiz. Perspectivas e desafios para o
BRITO, Maria da Conceição Coelho, et al. Atenção à planejamento das ações do Pacto pela
saúde do idoso e família: evidências da produção Vida/Saúde da População Idosa 2006/2007:
científica. Kairós. Revista da Faculdade de Ciências contribuição para o debate. Brasília:
Humanas e Saúde, v. 17, n.1, p.87-101, março. DAPE/SAS/MS, 2006.
2014
VERAS, Renato. Envelhecimento populacional
CONASS. Conselho Nacional de Secretários de contemporâneo: demandas, desafios e
Saúde. As Conferências Nacionais de Saúde: inovações. Rev Saúde Públic, v. 43, n..3, p. 548-
evolução e perspectivas. Brasília, 2009. 554, 2009.
http://www.conass.org.br/conassdocumenta/cd_1
8.pdf

CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE.


Legislação estruturante do SUS. 20.ed. Brasília:
CONASS, 2007. p. 46-50.

DOS SANTOS, Nayane Formiga, ROSARIO, Maria de


Fátima. As políticas Públicas voltadas ao idoso:
melhoria da qualidade de vida ou reprivatização da
velhice. Revista FSA (Faculdade Santo Agostinho),
v. 10, n.2, p. 358-371, 2013.

34
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015.
ISSN: 2447-780X

Você também pode gostar