Livro A Evolucaodoprinciipiointeligente

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A Evolução do

Princípio Inteligente

Durval Ciamponi
Título Original: A Evolução do Princípio Inteligente
Durval Ciamponi

Registro no ISBN: 85.7366.066-X

5a. Edição – Revista pelo Autor - Ano 2014

Diagramação: Aleks Mijic Estevam

Nota: Primeira edição em 1995, Editora FEESP (SP).

Os direitos autorais desta edição foram cedidos à


Instituição Espiritualista, Casa da Esperança, que
mantém, em Piedade (SP), um abrigo de idosos
específico para a velhice desamparada. É reconhecida
de Utilidade Pública pelos governos Federal, Municipal
da Capital de São Paulo e do Município de Piedade
(SP).
Pessoa Jurídica: CNPJ: - 52.168.713/0001-62.

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo


ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei
9610/98).
Prefácio
Agradecendo a Durval Ciamponi a generosa solicitação
para prefaciar seu interessante livro, passo a analisá-lo
com a maior imparcialidade possível. Globalmente,
considero o livro muito bom e oportuno, pois aborda
assunto complexo e que não tem sido enfocado com
precisão pelos autores espíritas. Kardec, em O Livro
dos Espíritos, fornece conceitos precisos sobre espírito
e períspirito, mas não detalha muito os problemas
relativos à Evolução, seja a dos seres vivos, seja a dos
Espíritos. Deixa mesmo a impressão de que os animais
nunca chegarão à forma humana (LE. 591, 601 e 604).
Quanto à existência do princípio espiritual nos minerais,
Kardec é muito claro, em vários tópicos, negando-a e
Gabriel Delanne é ainda mais enfático, no seu livro A
Evolução Anímica.

Redação – Ciamponi tem redação muito agradável,


simples, sem palavras complicadas ou neologismos.
Suas ideias são fáceis de compreender. Não inventa
conceitos fantasiosos, como acontece com muitos
escritores espíritas. A sequência dos parágrafos é boa,
havendo um encadeamento lógico e fácil para quem lê.

Foi muito feliz nas citações, utilizando curtos trechos de


autores de incontestável competência, como Kardec,
Delanne, Emmanuel e André Luiz. Teve a honestidade
de transcrever também alguns trechos em que os autores
discordam de suas ideias. A sequência dos capítulos é
boa, lógica, partindo dos conceitos primitivos sobre a
origem da vida, até chegar ao mais difícil e discutido,
que trata da Genealogia do Espírito.

Conceitos – Após fazer breve introdução, com os


conceitos de alma, Espírito, princípio inteligente, passa
a citar as alternativas em relação à criação da alma,
desde a unicidade, aceita por católicos e protestantes,
até a reencarnação. No 5º. Capítulo, estuda com muita
exatidão as explicações dos pesquisadores sobre a
origem da vida na Terra. Estuda a geração espontânea e
cita resumidamente, a posição da Igreja e do
Espiritismo.

Achei excelente o 8º. Capítulo (1), quando aborda a


dúvida de o princípio inteligente estagiar também no
reino mineral. Gostei muito, não só pelas excelentes
citações e pelos seus argumentos, como também por
coincidir com o meu ponto de vista; defendido
ardorosamente desde os meus tempos de moço. Sinto
que, no meio espírita, a admissão do estágio do
princípio espiritual no reino mineral é devida à
influência das Doutrinas Orientais e à postura de Edgard
Armond que o aceitava. Como argumento, usam a
célebre frase de Léon Denis, quando diz que o princípio
espiritual passou pelos vários reinos, do mineral ao
Angélico. Todavia, não consegui encontrar onde Léon
Denis disse isso. Ninguém cita a obra e a página.

A explicação sobre a individualização do princípio


espiritual e a transição pelos reinos inferiores podem ser
aceitas sem objeção. O capítulo referente ao elo perdido
é oportuno, pois, nos estudos de Paleontologia,
encontra-s
e um hiato entre os primatas e o homem primitivo.
No capítulo 12 (1), o autor estuda as diferentes ordens
de espíritos e usa um esquema, comparando a evolução
orgânica com a escala espírita.

No capítulo 13 (1), sobre o períspirito, não foge ele ao


estudo de tópicos controversos. Estuda os centros de
força, o duplo astral, o corpo mental e suas divisões.
Esse é um tópico com o qual não concordo, pois não
aceito o corpo mental (2) e muito menos sua divisão em
inferior, médio e superior. Não aceito também o duplo
etéreo, que se desintegraria com a morte. Para mim, esse
conceito pode ser substituído pelo ensino de Kardec
sobre o fluido vital. É mais uma questão de palavras. Os
três corpos mentais e o duplo astral (nomenclatura
teosófica) nada mais são do que zonas ou camadas
vibratórias do períspirito. Nos capítulos finais, o autor
aborda aspectos da gênese orgânica e espiritual e a
genealogia do espírito. Também aqui, saiu-se bem, pois,
sempre cauteloso, não se deixou seduzir pelas
explicações demagógicas ou mirabolantes. Com este
livro, Durval Ciamponi está prestando ótimo serviço aos
estudiosos em geral.
Ary Lex

Ary Lex foi médico cirurgião e também diretor do


Hospital das Clínicas de São Paulo, de 1946 a 1978. Foi
fundador da Associação Médico/Espírita de São Paulo,
onde exerceu o cargo de presidente. Autor dos livros
Pureza Doutrinária, Do Sistema Nervoso à
Mediunidade e 60 Anos de Espiritismo no Estado de
São Paulo, editados pela FEESP. Este saudoso amigo
desencarnou em 29/06/2001, com 85 anos de idade. Era
filho de Fausto Lex, também militante espírita, e Lúcia
Garrido Lex. Foi casado com Acácia Munhoz Lex. Foi
conselheiro da Federação Espírita do Estado de São
Paulo (FEESP), a partir da década de 40, por muitos
anos. Como orador e escritor espírita sempre pautou sua
caminhada espírita nos ensinos codificados por Allan
Kardec, como deixou registrado em seu excelente livro,
Pureza Doutrinária.

_____________________
(1). – Nesta revisão e edição, devido ao reajuste
didático, o capítulo 8 está incluído no 3; o 12, no 10 e o
13 no 11;
(2). – No prefácio do livro Perispírito e Corpo Mental,
do mesmo autor, o Dr. Ary Lex passou a admitir a
existência do corpo mental como algo essencial para se
compreender a natureza íntima do períspirito, e
justificar, inclusive, a troca do corpo espiritual, quando
se muda e um mundo para outro, e a localização da sede
da memória.
Palavras do Autor

André Luiz (Espírito), no livro Entre o Céu e a Terra,


cap. XII, disse que a hereditariedade é dirigida por
princípios de natureza espiritual.

Como isto poderia ocorrer?

A resposta traria a solução do grande problema da


continuidade da vida, associando os processos da
reencarnação com o da evolução do princípio
inteligente.

Nesta linha de raciocínio encontraríamos a ligação entre


a evolução das espécies, no mundo físico, guiada pela
lei da hereditariedade, e a evolução perispiritual, na
esfera extrafísica, guiada pelo espírito.

André Luiz mostra como e onde se dá esta ligação entre


os dois corpos da alma (perispiritual e físico),
conquanto a Ciência acadêmica ainda não tenha
condições de testar esta informação, de maior
importância, para o entendimento do processo evolutivo
do princípio inteligente.

Diz este mesmo autor espiritual, em Evolução em Dois


Mundos, cap. VI, que:
Os cromossomos, estruturados em grânulos
infinitesimais de natureza fisiopsicosomática, partilham
do corpo físico pelo núcleo da célula em que mantêm e
do corpo espiritual pelo citoplasma em que se
implantam.

Pode-se dizer que a alma navega no oceano da vida


comum pé em cada canoa, isto é, comanda sua evolução
no mundo das formas com os remos da genética, sob o
influxo da vontade, mas submete-se às influências das
ondas criadas por ela mesma na rota escolhida.

Foi por isto que André Luiz disse, neste mesmo


capítulo, que os cromossomos permanecem
imorredouros, através dos centros genéticos de todos os
seres, encarnados e desencarnados, plasmando
alicerces preciosos aos estudos filogenéticos do futuro.

Dia virá, quando os homens e Espíritos estiverem


trabalhando juntos, em que a luz do conhecimento da
verdade resplandecerá em todos os níveis da Ciência, da
Filosofia e da Religião.

Conhecer este elo será abrir as cortinas da vida


espiritual e desvendar os segredos da progressão do
princípio inteligente na Terra e em outras moradas da
Casa do Pai. Este livro, sem estar com a pretensão de
estar com a verdade, procura descobrir o que está ignoto
neste processo da evolução anímica.

Durval Ciamponi
Incentivo

Emmanuel, em seu livro Emmanuel, cap. XVII, escreve:

Com o desenvolvimento das ideias espiritualistas no


mundo, torna-se um estudo obrigatório, e para todos os
dias, o grande problema que implica o drama da
evolução anímica.
Teria sido a alma criada no momento da concepção, na
mulher, segundo as teorias antirreencarnacionistas?
Como será a preexistência?
O espírito já foi criado pela potência suprema do
Universo, apto a ingressar nas fileiras humanas?
Sumário
1. Introdução 01
2. O Que é Princípio Inteligente 09
3. Alternativas da Humanidade e a Criação da Alma 15
- Segundo a Unicidade da Existência 16
- Segundo a Pluralidade das Existências 19
- No Reino Hominal 19
- No Reino Animal 21
- No Reino Vegetal 23
- No Protoplasma 24
- No Reino Mineral 25
- Em Reinos Desconhecidos da Terra 31
4. Criação e Evolução do Princípio Inteligente 33
5. A Origem da Vida na Terra 41
- A Geração Espontânea e a Ciência 42
- A Geração Espontânea e a Igreja 45
- A Geração Espontânea na Codificação 47
6. Conceito de Vida Orgânica e de Vida do espírito 49
- Diferença entre Princípio e Fluido Vital 56
7. A Individualização do Princípio Inteligente 63
8. A Grande Transição Pelos Reinos Inferiores 73
9. Do Elo Perdido ao Homem 87
10. O Caminho: Das Cavernas à Família Divina 95
- Diferentes Ordens de Espíritos 97
11. Perispírito e Corpo Espiritual 105
12. Gênese Orgânica e Perispiritual 123
13. Genealogia do Espírito 133
14. Dados Biográficos do Autor 137
Evolução do Princípio Inteligente

1. Introdução
Há muito tempo alguns hebreus passaram a acreditar na
existência de um só Deus no meio de uma humanidade
praticamente politeísta.

Hoje, quatro mil anos depois, noventa por cento dos


homens estão convencidos de que o monoteísmo é uma
verdade absoluta.

Há muito tempo também, entre os descendentes dos


hebreus, um homem, Jesus, disse que não poderia ver o
reino de Deus senão aquele que nascesse de novo,
revelando no Ocidente o que outros já admitiam no
Oriente.

Hoje, dois mil anos depois, sessenta por cento da


população humana, ou mais, aceitam a reencarnação e a
realidade espiritual interferindo na vida dos homens,
como uma lei natural.

Esse convencimento deve-se, cada vez mais, à sua


tomada de consciência do Mundo dos Espíritos e de
suas revelações progressivas aos encarnados.

A estas duas coordenadas associa-se uma terceira que


revela a evolução da alma humana pelos reinos
inferiores da criação. Não faz muito tempo que isto
aconteceu.

1
Evolução do Princípio Inteligente

Conquanto já se tenham passado até agora, em 2014,


147 anos do início do Espiritismo, poucos homens
compreendem como isto é possível.

A aquisição do conhecimento da verdade por toda a


humanidade processa-se morosamente – é insensível,
mas incessante –, principalmente porque há oposição
firmada em preconceitos tidos como verdades e artigos
de fé, superstições e misticismos nascidos da
ignorância.

Os ensinamentos dos Espíritos sempre foram decisivos


para que o homem compreendesse a realidade da vida
depois da morte. Suas revelações foram colocadas
progressivamente e na medida em que o homem
pudesse compreendê-las.

Jesus, por exemplo, sabia que a pluralidade das


existências era uma lei natural, mas não a impôs ao
homem.

Poderia ter falado mais claramente, repetitivamente,


mas não o fez. Qual seria a razão?

O homem não pode ser violentado em suas convicções,


obrigado a crer no mundo espiritual, mas descobri-lo
por sua própria razão. A revelação, por isso, é apenas
um sinal, um indicativo, um farol que o ajudará a
pensar, até que, por si, descubra toda a verdade.

Foi assim na primeira, com o monoteísmo, está sendo


assim na segunda, com a reencarnação, e começa ser

2
Evolução do Princípio Inteligente

assim na terceira, com a evolução do princípio


inteligente através dos reinos da natureza.

Dizem os Espíritos que eles foram criados simples e


ignorantes por Deus, isto é, sem conhecimento. Através
das encarnações são submetidos a provas e missões;
passam pelas expiações para serem esclarecidos e
progressivamente aproximam-se da perfeição, pelo
conhecimento da verdade.

Uns aceitam essas provas com submissão e chegam


mais prontamente ao seu destino; outros não conseguem
sofrê-las sem lamentação ou reclamações, e assim
permanecem, por sua culpa, distanciados da perfeição e
da felicidade prometida (LE. 115).

Esta progressão dos Espíritos certamente não se faz


numa única existência nem também somente no reino
hominal, porquanto ensinam os Espíritos que a alma
humana antes de despontar para a vida, como homem,
viveu uma série de existências num período anterior à
Humanidade (LE. 606 e 607).

Este progresso da alma é a terceira grande coordenada


revelada aos homens, ainda antes de compreenderem
bem a segunda, pois desta é consequência.

Pesquisando, todavia, nossa origem, perguntamos: De


onde viemos? Por quais caminhos passamos? Onde está
o início da história de uma alma?

3
Evolução do Princípio Inteligente

Os Espíritos, na Codificação, revelaram esta verdade,


mas, qual Jesus, não foram incisivos nesta grande
coordenada da evolução do princípio espiritual desde
sua criação.

Kardec, tampouco, seja por sugestão dos Espíritos ou


por seu próprio livre arbítrio, preferiu manter-se à
distância desta análise ou, como disse Herculano Pires
(1): Kardec se esquivou a esse problema, embora os
Espíritos o tenham colocado em algumas passagens.
Também aqui a revelação não é para ser acreditada, mas
para ser analisada, pesquisada e compreendida pelos
homens, para que possam descobrir entre os meandros
de sua caminhada os elos de seu passado.

O espírito humano poderá um dia, daqui a centenas de


milênios, aproximar-se da grandeza de Deus e
assemelhar-se a Ele, depois de atingir e superar o reino
angélico, porque esta é a sua destinação divina.

Aqui nos lembramos de Cardeal Nicolau de Cusa, que


dizia ser a sabedoria divina simbolizada por um círculo
e o conhecimento relativo dos homens por polígonos
inscritos neste mesmo círculo.

O polígono poderá ter milhões de lados, mas nunca


chegará a igualar-se ao círculo, a verdade absoluta.

Esqueçamos, todavia, este futuro tão longínquo, e


coloquemos os pés nos dias atuais. De onde viemos?

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Evolução do Princípio Inteligente

As indicações dos Espíritos são de que permeamos os


reinos inferiores da natureza.

Eles têm uma visão panorâmica do mundo espiritual


bem mais ampla que os homens.

- Sabem e têm plena consciência de que Deus é a


inteligência suprema e causa primária de todas as
coisas;

- sabem e têm plena consciência de que a progressão das


almas se faz dentro da pluralidade dos mundos
habitados;

- sabem, mas não têm plena consciência de onde


vieram, porquanto até eles ainda investigam esta origem
e nos aconselham a não nos perdermos nos seus
labirintos, porquanto nossa inteligência ainda é limitada.

Não queremos nos perder, mas nem por isso deixaremos


de investigar. Um dia, o homem terá de saber sua
origem, por conseguinte é preciso começar a analisar,
ainda que para levantar problemas e não soluções.

Muitas alternativas existem sugerindo este ponto de


partida da alma humana, mas qual a verdadeira?
Alguns dizem que a criação do homem se deu no reino
hominal;

- outros, que a sua origem está no reino animal;

- outros, no reino vegetal;

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Evolução do Princípio Inteligente

- outros, no protoplasma, qual matéria gelatinosa que


envolveu a terra, como consequência do seu
desaquecimento (pressão, temperatura etc.), dando
origem aos primeiros seres vivos;

- outros, no reino mineral, e, por fim, outros que a


origem está em reinos ainda desconhecidos dos homens.
A verdade é uma só, temos a certeza disso, mas quem
está com ela?

Estamos convencidos de que a Ciência acadêmica dos


homens se convencerá primeiro da segunda grande
coordenada ao descobrir a existência dos Espíritos, que
prevejo para os dias entre os anos 20 e 30 deste Século,
tendo em vista os progressos até agora realizados.

Os homens de Ciência não aceitam como verdadeiros os


conhecimentos decorrentes de testemunhos individuais,
mas apenas evidências científicas comprovadas através
de estudos de qualidade metodológica e revisões
sistemáticas.

Por isto, não aceitam a realidade espiritual:

- conhecida com as práticas da mediunidade;

- negam-se a compreendê-las e a aceita-las com as


experiências paranormais;

- negam a existência da alma, nos estudos da vida


depois da morte, nas pesquisas médicas;

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Evolução do Princípio Inteligente

- não aceitam os diferentes casos de reencarnações


comprovados e nem tampouco conferem autenticidade à
regressão de memória que atinge vivências passadas.
Nos dias que correm, uma grande esperança parece está
ligada ao que se denomina de Transcomunicação
Instrumental (TCI).

Muitos livros e pesquisas foram realizados pelas vias do


vidicom ou spiricom, isto é, com gravação de vozes,
ligações por telefone, que exigem doações fluídicas,
embora imperceptível.

Eu estou convencido, como escrevi a pouco que,


brevemente, nos laboratórios das Universidades será
descoberta uma forma de captar diretamente as
mensagens espirituais.

Será através de uma central de captação, qual antena de


televisão, captando as transmissões dos Espíritos aos
homens. Este é o caminho que parece marcar o encontro
entre a Ciência e o Espírito da Verdade, prometido por
Jesus.

É uma simples questão de diferença entre as ondas


vibratórias super-ultra-curtas, que vivem os Espíritos,
das ondas vibratórias longas que vive o homem.

Depois disto, a Ciência aceitará a realidade espiritual,


provavelmente a existência de Deus, abrindo o caminho
para a revisão da doutrina da unicidade da existência e
investigar a gênese espiritual, como já fez com a gênese
orgânica.

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Evolução do Princípio Inteligente

As grandes coordenadas evolutivas foram dadas aos


homens por meio de revelações divinas, mas o homem
somente as compreendeu ou as compreenderá quando
pensar e repensar a respeito delas, descobrir lhes as
relações de causas e efeitos.

Somente assim ele, enquanto homem se libertará da


influência da matéria, de suas paixões e sensações
inferiores, marchando com a Terra, na direção dos
mundos superiores.

_________________
(1). J. Herculano Pires, Introdução à Filosofia Espírita, cap. V, Edições
FEESP, São Paulo (SP), 1993.

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Evolução do Princípio Inteligente

2. O Que é o Princípio Inteligente


Nossa intenção ao escrever alguns comentários a
respeito da evolução anímica é trazer ao público
algumas nuanças pouco conhecidas e, às vezes, mal
interpretadas dos ensinamentos dos Espíritos.

Traz-se à discussão pormenores até agora pouco


esclarecidos pelos amigos espirituais, numa tentativa de
todos reunidos encontrarem o fio da meada deste novelo
complexo que associa a genealogia da alma à gênese
orgânica através dos reinos da natureza.

Antes de iniciar este estudo propriamente dito,


analisaremos alguns conceitos não bem compreendidos
entre os estudantes da Doutrina e algumas vezes mal
empregados.

São exemplos: Espírito, espírito, princípio espiritual,


princípio inteligente e alma.

Que é a alma?

Que diferença há entre Espírito e espírito?

A conceituação dada pelos Espíritos em O Livro dos


Espíritos, questão 134, (simbolicamente como
doravante será indicado LE. 134), foi de que a alma é o
Espírito encarnado.

Este conceito exige explicações.

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Evolução do Princípio Inteligente

Kardec utilizou em sentido genérico, nos seus trabalhos,


as palavras espírito, princípio espiritual, princípio
inteligente e alma como sinônimos para indicar o ser
inteligente, de acordo, aliás, com a resposta que lhe foi
dada pelos Espíritos (LE.23), ao dizerem que o espírito
(letra inicial minúscula) é o princípio inteligente do
Universo.

Ele utilizou a palavra Espírito (com inicial maiúscula)


para designar a alma dos mortos que vive no Além, isto
é, o ser extracorpóreo do mundo espiritual.

Foi uma opção didática para facilitar a compreensão da


linguagem.

Muitos escritores, todavia, não observam esta diferença


anotada por Allan Kardec (LE. 76), ao se referirem aos
conceitos de espírito ou Espírito.

Assim, em sentido amplo, a alma é o ser pensante, o


espírito, o princípio inteligente ou o princípio espiritual
e, em sentido restrito, é o Espírito encarnado, isto é, a
alma do homem, que também é chamada de Espírito,
antes de se ligar ao corpo físico, ao renascer.

Um ou outro escritor refere-se ao princípio inteligente


como inteligência. Todavia, não se pode negar que a
inteligência é um atributo do espírito. É a resultante de
um processo de desenvolvimento progressivo do ser,
através dos milênios. Nestas condições é correto
afirmar-se que um gorila e um homem são princípios
inteligentes, isto é, princípios espirituais em evolução,

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Evolução do Princípio Inteligente

apenas em diferentes graus evolutivos, ou em diferentes


níveis de inteligência, porquanto esta é um atributo
daqueles.

No jornalismo costuma se escrever, muitas vezes, para


uniformidade de linguagem, a palavra Espírito com letra
minúscula, cabendo ao leitor distinguir se se trata da
entidade habitante do mundo espiritual ou não.

No (LE. 139), em seu comentário, Kardec utiliza a


palavra alma em, pelo menos, três significados distintos:

- a) – centelha anímica emanada do Grande Todo;


princípio da vida ou princípio vital do qual cada ser
absorve uma porção e que devolve ao todo após a
morte. É a tese panteísta;

- b) – centelha divina ou ser moral distinto da matéria


que se conserva sua individualidade após a morte;

- c) – alma que corresponde à esta centelha divina que


conserva sua individualidade após a morte. É também
chamada de Espírito, enquanto habitante do mundo
espiritual ou de Espírito encarnado, se vive como
homem.

O emprego de alma, como Espírito encarnado, portanto,


está intimamente associado ao conceito comum
empregado pelos homens, segundo o qual, somos
formados de duas partes, corpo e alma, isto é, alma que
tem origem ou vem do mundo espiritual, criada por

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Evolução do Princípio Inteligente

Deus, e corpo físico formado pelos homens na


concepção.

Outra razão fundamental para empregassem o conceito


de alma, em sentido restrito, como o Espírito encarnado,
foi para deixar claro que o ser espiritual que existe no
homem preexiste ao momento da concepção, vive como
homem e subsiste depois de sua morte, caracterizando a
pluralidade das existências.

Como consequência deste entendimento, os Espíritos


querem dizer que a alma do homem não foi criada no
momento da concepção, mas já preexistia no mundo
espiritual com o nome de Espírito.

Nestas condições, a encarnação ou reencarnação torna-


se uma lei natural para todas as almas, inclusive como
foi para Jesus, e não um mistério sagrado.

Se Jesus era antes de nascer e encarnou; todas as


demais almas também existindo antes, podem seguir a
mesma lei natural.

A seguir mencionamos alguns exemplos, caracterizando


os conceitos:

- a) Quando falamos que a alma dos homens sofre pelas


consequências de suas vidas anteriores, estamos a dizer
que:

1. quem sofre é o ser pensante, o princípio espiritual ou


inteligente existente no homem;

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Evolução do Princípio Inteligente

2. os Espíritos encarnados reajustam-se em função de


um passado delinquente, cumprem tarefas ou missões,
passando pelas provas a que são submetidos;

- b) A frase a seguir, conquanto conceitualmente


correta, parece um tanto inconsequente: Todo Espírito é
um espírito, mas nem todo espírito é um Espírito.

É, todavia, uma questão de significado das palavras.


Dizendo de outra maneira, tudo se esclarece: Todo
Espírito é um princípio inteligente, mas nem todo
princípio inteligente é um Espírito, pois somente o
espírito humano que atingiu a racionalidade, com o
pensamento contínuo, é chamado de Espírito.

Kardec, ainda, utilizou para fins didáticos de outra


diferença, optando por chamar de Espírito, com letra
maiúscula, apenas a alma dos homens, quando estiver
habitando o Além, isto é, desencarnado.

Desta maneira, quando eu falar ou escrever que os


Espíritos vivem, amam e sofrem, o ouvinte ou leitor
deve entender que estou falando das almas dos mortos e
não das almas dos homens que também vivem, amam e
sofrem.

Assim se explica porque Kardec optou por escrever


Espírito, com letra maiúscula, pois quando se fala o
ouvinte não percebe a distinção entre um e outro, pois o
som é o mesmo para espírito ou Espírito.

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Evolução do Princípio Inteligente

A alma ou espírito de um animal que morre também


sobrevive ao corpo, mas não é classificada como
Espírito.

Assim, melhor se compreende porque a alma é o


Espirito encarnado (LE. 134).

Allan Kardec escreveu em O Que é o Espiritismo, cap.


II, item 14, que: Como não se pode conceber o princípio
inteligente sem ligação material, as palavras alma e
Espírito são no uso comum, indiferentemente,
empregadas uma pela outra.

14
Evolução do Princípio Inteligente

3. Alternativas da Humanidade e
a Criação da Alma
A ignorância do homem, em seu estágio atual, não lhe
permite conhecer o momento de sua criação. Não
iremos analisar o pensamento dos materialistas que não
admitem a existência da alma, como ser pensante
extracorpóreo; nem as possíveis concepções de como se
procedeu a origem dos seres vivos em sua diversidade.

Neste capítulo vamos fincar as bases do raciocínio nas


informações dos Espíritos e espíritas da Codificação e
posteriores a ela. De modo geral, analisar-se-ão as
diferentes alternativas do homem em relação à origem
de sua alma, segundo as várias hipóteses quanto a este
momento da sua criação por Deus, tendo em vista as
duas doutrinas que divide o pensamento humano: da
unicidade e da pluralidade das existências.

- Segundo a doutrina esposada pelas religiões


originárias do monoteísmo hebreu (Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo), a criação da alma se dá no
momento da concepção do corpo físico, pelo homem.

- Segundo a doutrina da pluralidade das existências, a


criação da alma se dá em momento anterior, por ser
preexistente à criação do corpo físico. Em princípio é
pacífica a tese de que a alma (princípio inteligente ou
espírito) foi criada no mundo espiritual, já unida ao seu
períspirito, que será a matriz da espécie.

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Evolução do Princípio Inteligente

Neste caso, os pesquisadores admitem diferentes


alternativas para este momento em que ela é ligada ou
se liga ao corpo físico. Alguns admitem que isto se dê:

1. No reino hominal, distinto do animal, em sua fase


primitiva;

2. No reino animal, inferior ao homem, evoluindo


depois;

3. No reino vegetal, passando depois para os reinos


superiores;

4. No protoplasma, seguindo-se para vegetal, depois


adiante;

5. No reino mineral, evoluindo a seguir;

6. Em reinos desconhecidos deste mundo terreno,


Cada grupo posiciona-se, segundo seu grau de
entendimento, lastreando o raciocínio em dados ou
artigos de fé ou numa lógica interpretativa de
informações de dados.

Criação: Segundo a Unicidade das


Existências

É a ideia da criação da alma no momento da concepção


do corpo físico do homem. Esta é a posição adotada
pela Igreja dogmática romana (Católica e todas as
Reformadas). Da mesma forma a admite como verdade,
o Islamismo.

16
Evolução do Princípio Inteligente

Dogmática no sentido de que a decisão foi tomada em


Concílio e é tida como verdade absoluta, pois, sendo
palavra de Deus, não se lhe admite contestação. O
dogma, todavia, não é a vontade de Deus, mas a vontade
dos homens que decidiram sobre um assunto,
interpretando os livros ditos sagrados.

Analisando Genesis, 2, 7, temos: então formou o Senhor


Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas
narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma
vivente; e de parte dele fez a primeira mulher.

No mesmo livro, 1, 28, está escrito: E Deus os


abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos,
enchei a terra e sujeitai-a.

A ideia central do pensamento dogmático, a respeito de


uma única existência vivida pela alma, está nestes
versículos da Bíblia Sagrada.

Primeiro, Deus criou o corpo primitivo do homem,


dando-lhe a alma em seguida. Depois de criada a varoa,
transfere ao casal a faculdade de criar o corpo com a
determinação do sede fecundos e multiplicai-vos, sem
transferir lhes, todavia, a faculdade de criação da alma.
Esta ideia contida na Bíblia permanece até hoje, daí o
convencimento dogmático dos homens de que para cada
criatura, gerada pelo casal humano, Deus cria uma alma.

O primeiro grande problema desta ideia é que põe Deus


na dependência do homem, pois se o homem não criar o
corpo, Deus não tem condições de criar a alma.

17
Evolução do Princípio Inteligente

Outro problema deste dogma é dar origem a outros


dogmas: o da ressurreição dos corpos e o da unicidade
das existências. De fato, se Deus cria uma alma para
cada corpo, no dia do Juízo Final, se ocorresse, cada
uma teria um e somente um corpo para a ressurreição, e,
consequentemente, não há como pensar na pluralidade
das existências. A reencarnação, portanto, é para a
Igreja dogmática um absurdo, pelo menos, por dois
motivos:

a).. se houvesse a reencarnação, Deus não estaria


criando uma alma para cada corpo gerado pelos
homens;

b). No Juízo Final teríamos mais de um corpo de


ressurreição para cada alma. Neste caso, se a Bíblia
tivesse razão, o pensamento conciliar estaria correto.
Foi por esta razão bíblica que o pensamento da
ressurreição dos corpos foi tão forte entre os judeus,
embora a ideia de reencarnação também estivesse
contida em alguns textos sagrados de profetas
posteriores.

Jesus foi claríssimo, conquanto não enfático nas


informações de que João era Elias reencarnado e, no seu
diálogo com Nicodemos, a respeito da necessidade de se
nascer de novo para ver o Reino de Deus. O pensamento
de Jesus é de reencarnação e não de ressurreição dos
corpos, mas nos concílios predominou a ideia dos
Santos padres, baseados em São Paulo e não a de Jesus.
Jesus sempre falou em ressurreição dos mortos e nunca

18
Evolução do Princípio Inteligente

em ressurreição dos mortos, de significado totalmente


diverso,

Criação, Segundo a Pluralidade das


Existências
A reencarnação é um dos postulados fundamentais da
Doutrina Espírita, implicando necessariamente a
preexistência da alma, anteriormente à geração de seu
corpo físico atual e à sua subsistência após a morte,
mantendo sua individualidade e consciência de si
mesma, para seguir com outras encarnações futuras até
sua libertação da influência da matéria.

Nos livros da Codificação, Allan Kardec e os Espíritos


não deixaram, em absoluto, firmados o momento de
criação da alma ou do princípio inteligente. É por isto
que os estudiosos da Doutrina, apoiados na
interpretação dos textos, se posicionam mais restritiva
ou elasticamente em relação ao ponto de origem da
criação da alma humana.

No Reino Hominal
Alguns estudantes, interpretando restritivamente as
questões 115, 591 e 607 do LE, defendem a tese da
criação da alma humana a partir do reino hominal (1).
Dizem os partidários desta corrente que o Espírito é
somente a alma do homem, com consciência do seu
futuro, distinguindo o bem do mal e tendo
responsabilidade por seus atos.

19
Evolução do Princípio Inteligente

Dizem ainda que a resposta da questão 115 deixa claro


que Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes.
Ora sendo Espírito somente a alma do homem, Deus
criou-os no reino hominal e não anteriormente.
Apegam-se ainda para defender sua tese à questão 591,
onde dizem que nos mundos superiores como nos
outros, as plantas são sempre plantas, os animais
sempre animais e os homens sempre homens.

Como Kardec aparentemente não endossou a tese da


criação da alma nos reinos inferiores da natureza, ou
como disse Herculano Pires: Kardec se esquivou a esse
problema, partidários desta corrente dizem estar com
ele, especialmente porque ele expôs a tese sem tomar
partido, consoante seu comentário após a questão 613.

Igual é a posição de Kardec nos comentários de A


Gênese, cap. XI, item 23, onde afirma que este sistema
faz surgir numerosas interrogações, e no item 29,
quando admite, como uma das hipóteses, que os
Espíritos humanos, no início de sua existência na terra,
teriam sido criados em tal momento, pois que antes
deles, apenas havia animais.

Alguns estudantes também há que aceitam a tese da


origem única para todos os seres, conforme dizem os
Espíritos o LE 606, mas que por razões que se
desconhece subdividiram-se e aperfeiçoaram-se nos
diferentes reinos, de acordo com a questão 591.

Desta forma não se lhes será possível a evolução


progressiva de um reino para outro, tanto é que na

20
Evolução do Princípio Inteligente

questão 601, se diz que nos mundos superiores os


animais são, porém, sempre inferiores e submetidos aos
homens, sendo para estes servidores inteligentes.

No Reino Animal
Muitos estudantes, provavelmente pensando em Lucas,
11, 52 (2), por receio de serem tomados como maus
intérpretes da lei, expõem suas teses sem escrever, mas,
em última análise, ao defendê-las muitas vezes tomam a
chave da ciência para si, sem, todavia entrar na posse do
verdadeiro conhecimento, impedindo outros de
entrarem. Percebe-se isso em muitos expositores da
Doutrina Espírita.

Eis a razão deste trabalho, onde não se descobrem


soluções, mas levantam-se problemas para melhor
esclarecimento, sem receio do pecar. Por isso muitas
informações aqui analisadas não estão em livros ou
revistas, mas nos bastidores da divulgação, nas escolas,
nas conversas sobre o Espiritismo ou nas reuniões de
estudo.

Nas questões 606 e 607, os Espíritos ensinam que a


alma do homem e a do animal emana de um princípio
único, mas que a do homem passou por um processo de
elaboração que a eleva acima dos brutos.

Eles, ainda, complementam que esta fase se dá numa


série de existências que precedem o período chamado
humanidade.

21
Evolução do Princípio Inteligente

Nestas questões os Espíritos são claros ao afirmarem


que tudo se encadeia na Natureza e que é nesses seres
inferiores que o princípio inteligente elabora-se,
individualiza-se pouco a pouco, como se fosse um
trabalho de germinação, em seguida ao qual o princípio
inteligente sofre uma transformação e torna-se Espírito.
Esta individualização refere-se à sua tomada de
consciência (conhecimento de si mesmo), e não à sua
criação, pois já era um indivíduo ao ser criado, simples
e ignorante.

Allan Kardec, comentando a questão 613, diz: Segundo


alguns, o Espírito não chega ao período humano senão
depois de ter sido elaborado e individualizado nos
diferentes graus dos seres inferiores da Criação.
Segundo outros, o Espírito do homem teria sempre
pertencido à raça humana, sem passar pela fieira
animal.

Em a Gênese, 11 anos depois, escreve praticamente a


mesma coisa, cap. XI, item 23, ao dizer: Segundo a
opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio
inteligente, distinto do princípio material, se
individualiza, se elabora, passando pelos diversos
graus da animalidade (grifo nosso); é ali que a alma se
ensaia para a vida e desenvolve suas primeiras
faculdades.

A diferença é sutil, mas de profunda consequência para


a análise do estudo da gênese espiritual.
Em a Gênese ficou mais restrita a hipótese do campo
evolutivo da alma, passando de diferentes graus dos

22
Evolução do Princípio Inteligente

seres inferiores, para os diversos graus da


animalidade, ficando excluídos, portanto, os vegetais
da linha evolutiva.
Qual teria sido a razão de Kardec para alterar seu
entendimento?

No Reino Vegetal
Allan Kardec, provavelmente, foi levado a não admitir
a origem da alma humana nos vegetais por duas razões,
criterioso e científico como era tendo em vista:

a). A afirmação dos Espíritos na questão LE 71, onde


dizem que as plantas vivem e não pensam, não tendo
mais do que vida orgânica. Esta mesma afirmação está
escrita na resposta à questão 586, onde informam que as
plantas não pensam, não têm mais do que vida
orgânica,

É nítido o entendimento do conceito de vida orgânica,


claramente definido na questão 63, na qual há somente a
força mecânica físico/química que age na matéria, do
conceito de vida do princípio espiritual, como ser ativo.

A matéria não evolui, a alma sim; logo se a planta não


tem mais que vida orgânica, não se lhe pode atribuir
inteligência.

b). Outra questão para esta posição de Kardec está nos


conhecimentos científicos da época, quando ainda se
admitia a geração espontânea para os seres mais
inferiores , conforme Gênese, cap. X, itens 21 a 23,

23
Evolução do Princípio Inteligente

embora à época Pasteur e Darwin já tivessem exposto


suas teorias.

No Protoplasma
Um dos mais notáveis espiritistas da primeira hora foi o
engenheiro eletricista, François Marie Gabriel Delanne
(21/03/1857 a 15/02/1926), que em sua infância
conviveu com os ensinos do Espiritismo, pois seu pai,
sr. Alexandre Delanne, era amigo íntimo de Allan
Kardec.
Dos muitos livros escritos por Gabriel Delanne, um
publicado em 1895, tornou-se de real importância para o
conhecimento e divulgação da Doutrina Espírita. Foi A
Evolução Anímica.

Em sua introdução escreveu: É mediante uma evolução


ininterrupta, a partir das formas de vida mais
rudimentares, até a condição humana, que o princípio
pensante conquista, lentamente, a sua individualidade.
E, ainda, no cap. I, que: Todo ser vivente possui uma
parcela de inteligência rudimentaríssima, quanto a
possamos imaginar nas formas vitais primitivas, mas
que aumenta e especifica-se, à proporção que galga a
cadeia dos seres para abrolhar na humanidade.

O protoplasma, matéria gelatinosa, torna-se o campo


propício para dar origem à evolução do princípio
espiritual na terra.

Diz Delanne, no cap. VI, que os primeiros habitantes


dos mares laurentinos são, portanto, células

24
Evolução do Princípio Inteligente

albuminoides, microzimas, moneras, amebas, cujas


primeiras associações irão formar essas algas que
tapeçam o fundo dos mares.

Esse pensamento de Delanne praticamente é o mesmo


de Léon Denis, André Luiz (Espírito), Emmanuel
(Espírito) e outros, embora cada intérprete os veja por
ângulos diferentes.

André Luiz, por exemplo, é minucioso em seu relato em


Evolução em Dois Mundos, caps. VII e VIII, quando
estuda Evolução e Hereditariedade e Evolução e
Metabolismo.

No Reino Mineral
Estudiosos há que, interpretando Kardcc, Léon Denis,
André Luiz e outras fontes, principalmente de origem
orientalista, afirmam que o começo da evolução está no
reino mineral (inorgânico). Baseiam-se na questão LE.
540, onde se afirma que o arcanjo começou pelo
átomo ou nas palavras de Léon Denis, segundo o qual a
alma dorme na pedra.

Na antiguidade, a terra era chamada de reino mineral e a


pedra era seu símbolo típico. Por isto foi dito:

- Por Hermes, no Egito Antigo que a pedra se converte


em planta, a planta em animal, o animal em homem e
em espírito e o espírito em Deus;

25
Evolução do Princípio Inteligente

- Na Índia, pelos Hindus que a alma dorme na pedra,


sonha no vegetal, agita-se no animal e se toma
consciência no homem;

- Por Swami Sri Rama-Tys ou Sri Rama-Tys (Ramatis),


na Indochina, Século X: A alma dorme na pedra, sente
no vegetal, agita-se no animal e evolui no homem.

- Um exemplo está na Revista Espírita, maio/l865, onde


se menciona uma mensagem espiritual, falando da
evolução anímica: Mas tudo não para em apenas crer
no progresso incessante do Espírito, embrião na
matéria, desenvolvendo-se ao passar pela peneira do
mineral, do vegetal, do animal, para chegar à
humanimalidade, onde começa a ensaiar-se apenas a
alma que reencarnará orgulhosa de sua tarefa, na
humanidade.

Estas informações, todavia, devem ser examinadas com


cuidado, por causa da mudança de significado da
palavra mineral, que antigamente se lhe era atribuído o
amplo conceito de matéria inorgânica e orgânica.

Conclusão: Em conclusão, justifico porque não aceito


que o princípio inteligente possa estagiar no mineral
(reino inorgânico), como aparentemente indicam as
teses citadas:

Primeira – Assentado na notável frase de Leon Denis,


contida no seu livro, O Problema do Ser do Destino e
da Dor, 1a. parte, item IX, onde ele disse que:

26
Evolução do Princípio Inteligente

Desde a célula verde, desde o embrião errante, boiando


à flor das águas, a cadeia das espécies tem-se
desenrolado através de séries variadas, até nós. Na
planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só
no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se
consciente.
Como se percebe, tendo em vista a afirmação acima,
Léon Denis, em seus outros livros, nunca poderia ter
dito que a alma dorme na pedra, sonha no vegetal,
agita-se no animal e acorda no homem, pois estaria em
contradição consigo mesmo, conquanto, alguns
escritores alegam que esta frase é de sua autoria. São
questões de palavras e interpretação, como sempre;

Segunda – Em conceitos. Para a Ciência, ainda no


tempo de Kardec, a divisão, como se depreende questão
585, ainda era de três reinos: minerais, vegetais e
animais. Hoje, todavia, eles se desdobram em outros
grupos, gerando, mais uma vez, diferentes
interpretações:

- O Mineral, em Inorgânico e Orgânico;

- O Vegetal, em Monera, Protista e Metaphita;

- O Animal, em Irracional e Racional.

Como se observa, o Espírito, na citação da Revista


Espírita, fala de reino mineral no conceito antigo,
quando disse que o embrião passa pela peneira do
mineral.

27
Evolução do Princípio Inteligente

De acordo com a ciência do seu tempo a afirmação está


correta, mas, nos termos atuais da ciência, sua
afirmação merece reparo, não podendo ser tomada ao pé
da letra;

Terceira – No significado das palavras. Na questão 540


de O Livro dos Espíritos, está escrito: Tudo se
encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o
Arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo.

Se assim fosse cada átomo, cada molécula de água, cada


grão de areia do Universo seria um espírito em
evolução, transformando o ensinamento dos Espíritos
numa tese absurda.

Considero que o significado da palavra átomo, na


questão 540 do LE., não se refere à partícula atômica,
mas está aplicado, segundo o conceito original da língua
grega: indivisível.

O átomo, neste sentido e corretamente empregado, faz


referência, portanto, aos seres vivos monocelulares,
indivisíveis onde tudo teve sua origem, como ensina
hoje a ciência.

Quarta – Nos ensinamentos de Gabriel Delanne, de


Emmanuel e de André Luiz que colocam a primeira
vivência do princípio inteligente na matéria orgânica,
isto é, no protoplasma que se formou nas camadas
superiores da terra, há quase dois bilhões de anos. Esta
vivência no protoplasma deu origem à ideia da vivência

28
Evolução do Princípio Inteligente

do princípio inteligente no mineral, no antigo conceito


de matéria orgânica.

O protoplasma é matéria viva e se movimenta, mas


não é um ser vivo. É derivada por geração espontânea
da não-viva, em razão das radiações solares,
temperatura e pressão atmosférica daquela época, muito
diferentes das atuais.

Todos os seres vivos são constituídos de protoplasma,


diz a Biologia.

4.1- Gabriel Delanne diz: Desde o aparecimento do


protoplasma no seio dos mares primitivos, desde que as
primeiras mônadas manifestaram fenômenos vitais, essa
luta jamais teve um hiato... (A Evolução Anímica,
capítulo II);

4.2 - Emmanuel ensina: O protoplasma foi o embrião de


todas as organizações do globo terrestre... Os primeiros
habitantes da Terra, no plano material, são as células
albuminoides, as amebas e todas as organizações
unicelulares isoladas e livres, que se multiplicam
prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos (A
Caminho da Luz, capítulo. II);

4.3 - André Luiz fala: As mônadas celestes exprimem-se


no mundo através da rede filamentosa do protoplasma
de que se lhes derivaria a existência organizada no
Globo constituído. (Evolução em Dois Mundos, cap.
III);

29
Evolução do Princípio Inteligente

Quinta – Assentado, também, nas Palavras de Allan


Kardec:

Na questão 585 os Espíritos disseram que, encarados


sob o aspecto material, não há senão seres orgânicos e
seres inorgânicos. Em seu comentário deste item,
Kardec diz: a matéria inerte, que constitui o reino
mineral, não possui mais que uma força mecânica,
consequentemente não possui em si um princípio
inteligente. Foi por isso que ele escreveu em A Gênese,
capítulo XI:
Deus, em vez de ligar o espírito à pedra rígida, criou,
para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de
receber todos os impulsos de sua vontade e de se
prestar a todos os movimentos.

Na Revista Espírita (junho de 1866) respondendo a


uma pergunta do por que não defendera na Codificação
a tese da geração espontânea, disse:

Pessoalmente é para nós uma convicção e se a


tivéssemos tratado numa obra comum, tê-la-íamos
resolvido pela afirmativa. Se, dentro dessa sua
convicção, estes seres inferiores não tinham mais que
vida orgânica (sem ser um princípio inteligente), nunca
poderia admiti-los, com mais vigor, estagiando nos
minerais.

Assim, estou convencido de que o princípio inteligente


nunca passou pela fieira do reino mineral inorgânico,
pois não precisava, dado que havia o orgânico.

30
Evolução do Princípio Inteligente

Em Reinos Desconhecidos da Terra


Ensinam os Espíritos que qualquer que seja o grau de
evolução em que se encontre, a alma está sempre
revestida de um invólucro ou períspirito cuja natureza se
eteriza, à medida que ela se depura e se eleva na
hierarquia espiritual. Esta concepção contida em O
Livro dos Médiuns, item 55, e na Gênese, cap. XI,
item 17, é repetida por Delanne, Léon Denis, André
Luiz e outros.

Entendemos que este conceito é válido tanto para o


momento da criação, quanto para aquele em que os
Espíritos chegam ao maior grau de pureza, pois o
perispírito faz parte integrante do Espírito.André Luiz e
Emmanuel adotaram o termo mônada para denominar o
ser inteligente criado por Deus, com seu corpo espiritual
primitivo. Ora, como se sabe, o períspirito é o molde do
corpo físico para o homem e o é também para todos os
outros seres vivos, pois é ele o determinante de cada
espécie. É por causa desta lei que o Espiritismo repudia
a tese da metempsicose.

E é também por causa deste significado que se diz que a


criação da alma e sua ligação com seu períspirito se deu
no mundo espiritual, ao se preparar, então, para suas
experiências, em corpos na terra, cada qual na espécie
destinada ou conquistada.

Outro dado importante, a ser analisado, é a estrutura


fluídica do períspirito, formado de duas partes
essenciais: - Uma, seu corpo mental permanente,

31
Evolução do Princípio Inteligente

também chamado de mente do espírito, onde se diz que


está gravada a Lei de Deus, como na semente estão
contidas as leis que regulam a estrutura da árvore e dos
frutos futuros. Não é difícil admitir que, desde sua
criação, em esferas espirituais que desconhecemos, até
sua primeira vivência na terra, nos níveis mais inferiores
dos seres viventes, muitos caminhos possa ter
percorrido a mônada.

– Outra, seu corpo espiritual, que é o modelo de cada


espécie, como instrumento de ação ao ligar o espírito à
matéria. É a este conjunto que se denomina de
períspirito. Pode-se dizer, assim, que a alma criada por
Deus, saiu das esferas espirituais mais puras, passando
por diferentes estágios fluídicos, de menos para mais
densos ao mergulhar na matéria animalizada para
construir seu próprio destino.
É neste sentido que se entende a afirmação de que todos
os espíritos foram criados simples e ignorantes:
Simples, por seu corpo, indivisível qual átomo
primitivo, nas esferas espirituais; e ignorantes, isto é,
sem conhecimento, para que pudessem, por sua própria
conquista, através das leis divinas, chegar de novo,
conscientes de sua individualidade e responsabilidade,
à Casa do Pai, que é o Reino de Deus.

___________________
(1). Na primeira edição de O Livro dos Espíritos, de 18.04.1857, os
Espíritos afirmaram a Kardec, questão 127, que o homem sempre foi
homem e jamais estagiou nos reinos inferiores. Ver análise comparativa
em Perispírito e Corpo Mental, deste autor; editora AGBOOK;
2). Em Lucas, 11, 52, está escrito: Ai de vos, intérpretes da lei, porque
tomastes a chave da ciência, contudo vós mesmos não entrastes e
impedistes os que estavam entrando.

32
Evolução do Princípio Inteligente

4. Criação e Evolução do
Princípio Inteligente
A Doutrina Espírita é criacionista, isto é, define Deus
como a inteligência suprema, causa primária de todas as
coisas (LE. 1).

Como premissa, ainda, coloca que o princípio material e


o espiritual são dois elementos gerais do Universo,
tendo acima de ambos, Deus, o Criador, o pai de todas
as coisas. Essas três coisas são o princípio de tudo o que
existe, a trindade universal (Le. 27).

Como não queremos nos perder em labirintos do


raciocínio que não nos levariam a uma certeza final,
dado o nível de desenvolvimento e capacidade
intelectiva do homem atualmente, optamos, então por
admitir a existência de Deus, como o Criador, mais
como artigo de fé do que como certeza científica.

A certeza é que existimos e, se existimos, tivemos uma


origem e, consequentemente, caminhamos para um
objetivo maior. É nesta caminhada evolutiva eu se
desenvolve esta tese, pois dentro dela devemos
aperfeiçoar-nos integralmente.

Diz André Luiz (1):


Não somos criações milagrosas destinadas ao adorno
de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus e
herdeiros dos séculos, conquistando valores, de
experiência em experiência, de milênio a milênio. Não

33
Evolução do Princípio Inteligente

há favoritismo no Templo Universal do Eterno, e todas


as forças da Criação aperfeiçoam-se no Infinito.

A crisálida de consciência, que reside no cristal a rolar


na corrente do rio, aí se acha em processo liberatório;
as árvores que por vezes se aprumam centenas de anos,
a suportar os golpes do Inverno e acalentadas pelas
carícias da Primavera, estão conquistando a memória;
a fêmea do tigre, lambendo os filhinhos recém-natos,
aprende rudimentos do amor; o símio, guinchando,
organiza a faculdade da palavra...

Somos criação do Autor Divino e devemos aperfeiçoar-


nos INTEGRALMENTE.

Igualmente Emmanuel (2) define-se a favor da tese da


evolução da alma a partir dos seres monocelulares,
oriundos do protoplasma primitivo do planeta.

Diz ele com o desenvolvimento das ideias espiritualistas


no mundo torna-se um estudo obrigatório, e para todos
os dias, o grande problema que implica o drama da
evolução anímica. Teria sido a alma criada no
momento da concepção, na mulher, segundo as teorias
antirreencarnacionistas?

Como será a preexistência? O espírito já é criado pela


potência suprema do Universo apto a ingressar nas
fileiras humanas?

Diz, ainda, falando dos animais, nossos irmãos


inferiores: se bem haja no próprio círculo dos

34
Evolução do Princípio Inteligente

estudiosos dos espaços o grupo dos opositores das


grandes ideias sobre o evolucionismo do principio
espiritual através das espécies, sou dos que estudam,
atenta e carinhosamente.

Conclui Emmanuel: dentro de minhas experiências,


posso afirmar, sem laivos de dogmatismo, que, oriundos
da flora microbiana, em séculos remotíssimos, não
poderemos precisar onde se encontra o acume das
espécies ou da escala dos seres, no pentagrama
universal.

Sinto-me à vontade para declarar que todos nós já nos


debatemos no seu acanhado círculo evolutivo. São eles
os nossos parentes próximos, apesar da teimosia de
quantos persistem em o não reconhecer.

Evolução do Princípio Inteligente


Certa noite, na Faculdade, eu observei no quadro negro
um símbolo muito utilizado nos estudos de Análise de
Matemática, de Cálculo Numérico, Diferencial, Integral.
Era o sinal de integração. Ele me trouxe a
ideia do homem integral, isto é, a ideia do
homem aperfeiçoar-se integralmente, como
disse André Luiz.
Enquanto fiscalizava a prova, mentalmente
confabulava, comigo mesmo, crendo ser ele
representativo do aperfeiçoamento ou evo-
lução do princípio inteligente, desde sua
origem até sua chegada na plenitude divina.
Lembrava-me de Evolução em Dois

35
Evolução do Princípio Inteligente

Mundos, da relação espírito/matéria, da Escala dos


Espíritos, da série Cosmos da televisão, mostrando a
evolução humana, conforme os estudos da origem do
homem no campo científico terreno, desde seu começo
primitivo monocelular até seu estágio atual na
complexidade do corpo humano. Lembrava-me da
caminhada da alma desde a mônada celeste até sua
chegada ao reino angélico dos Espíritos puros.
Assim pensando, traçamos uma linha
unindo as duas extremidades
simbolizando a escalada evolutiva,
marcando os pontos inicial e final, nos
termos da questão do LE, 115, onde se
lê:
Deus criou todos os Espíritos simples e
ignorantes, para iniciar a caminhada.
Simples, em seu corpo e, ignorantes ou
sem conhecimento, no seu saber, para
que cada um, tivesse o mérito de suas obras, segundo
suas conquistas.

Deu a cada um deles uma missão, com o fim de


esclarecê-los e progressivamente conduzir à perfeição
pelo conhecimento da verdade e para os aproximar Dele
(era a caminhada ao longo da estrada até o fim, na
perfeição.

Lembrei-me do que estudara no LE 605: Não há no


homem senão uma dupla natureza: a natureza animal e
a espiritual. Pelo seu corpo, ele participa da natureza
dos animais e dos seus instintos; pela sua alma,
participa da natureza dos Espíritos.

36
Evolução do Princípio Inteligente

Assim completamos o
desenho com a nova figura,
para mostrar a influência
dessa dupla natureza sobre o
princípio inteligente, em
evolução (LE. 605a):

O Espirito, ao purificar - se,


liberta- se pouco a pouco da
influência da matéria. Sob
essa influência, ele
aproxima-se dos brutos;
liberto dessa influência eleva-se ao seu verdadeiro
destino.

A parte escura do desenho simboliza a natureza animal


e a clara a, espiritual.

André Luiz (3) diz que as leis de reprodução animal,


desde o casulo ferruginoso do leptotrix, recapitulam
ainda hoje, na organização de qualquer veículo
humano, na fase embriogênica, a evolução filogenética
de todo o reino animal, demonstrando que além da
ciência que estuda a gênese das formas, há também uma
genealogia do espírito.

Dentro deste arcabouço gráfico, começamos a


representar a evolução do princípio inteligente,
delineando seus pontos básicos dentro deste processo.

Temos como síntese dos pontos fundamentais do


processo evolutivo o seguinte gráfico. Acompanhá-lo

37
Evolução do Princípio Inteligente

com os dados da nota de


rodapé (4), do capítulo, é
preferível.

- Ponto 1: Princípio; criação


do ser inteligente, simples e
ignorante: (LE. 115, 78,
608, 613);

- Ponto 2: Início da
consciência de si mesmo,
pelo pensamento contínuo
e, do Reino Hominal: (LE.
189 e 611);

- Ponto 3: Nível dos Espíritos Neutros. Estão no meio


termo, entre a influência da matéria e a da espiritual
(LE. 105 e 605);

- Ponto 4: O Espírito liberta- se da matéria, ingressando


no reino angélico (LE.112/113 e 226);

- Ponto 5: Os Espíritos atingem a plenitude divina, em


busca da perfeição relativa, que é infinita (LE. 83, 115,
243a e 540).

A exemplificação gráfica na apresentação tem


finalidade didática, agrupando ou compilando
ensinamentos de diversas fontes, de sorte que se possa
ter uma visão panorâmica do todo e uma ideia mais
exata da eternidade que vivemos.

38
Evolução do Princípio Inteligente

Como diz André Luiz, (O Mundo Maior, cap. 9): O


zênite e o nadir da evolução terrestre não entram em
nossa cogitação.

_______________________

(1). André Luiz (Espírito); No Mundo Maior; Psicografia


F.C. Xavier, Editora FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1947;

(2). Emmanuel (Espírito); Emmanuel, Psicografia F.C.


Xavier, Editora FEB, 11a. Ed., Rio de Janeiro (RJ), 1938;

(3). André Luiz (Espírito); Evolução em Dois Mundos;


Psicografia F.C. Xavier, Editora FEB, 5a. Ed., Rio de Janeiro
(RJ), 1979.

(4). Síntese de Informativa de Itens de O Livro dos


Espíritos:

Item 78 – Os espíritos tiveram um princípio. Se não tivessem


princípio seriam iguais a Deus. São submetidos à Sua
vontade.

Item 83 – Os espíritos foram criados, mas não têm fim;

Item 105 – Os Espíritos Neutros não são bastante bons para


fazerem o bem, nem bastante maus para fazer o mal.

Item 112 – Os Espíritos puros não sofrem influência da


matéria.

39
Evolução do Princípio Inteligente

Item 113 – Os Espíritos puros despojaram-se de todas as


impurezas da matéria e não ficam mais sujeitos às
encarnações.

Item 115 – Os espíritos são criados simples e ignorantes e


evoluem pelo conhecimento da verdade, até chegar à
perfeição;

Item 189 – Os espíritos, em sua origem, têm apenas


existência instintiva. Somente pouco a pouco desenvolvem a
inteligência.

Item 226 – Os Espíritos puros não são mais errantes;

Item 243a. – Os Espíritos puros não têm completo


conhecimento do futuro. Só Deus é o único e soberano
Senhor;

Item 540 – Desde os animais do último grau, passando pelos


Espíritos inferiores até os Puros, tudo se encadeia na
Natureza;

Item 608 – Os Espíritos, após a morte, não têm consciência


das existências que precederam para ele ao período de
humanidade.

Item 611 – No momento em que o princípio inteligente


atinge o grau necessário para ser Espírito e entra no período
de humanidade. Não tem mais relação com seu estado
primitivo e não é mais a alma dos animais.

Item 613 – O ponto de partida do Espírito é uma destas


questões que estão nos segredos de Deus. Não é dado ao
homem conhecê-las de maneira absoluta (Comentário de
Kardec).

40
Evolução do Princípio Inteligente

5. A Origem da Vida na Terra


A. I. Oparin, membro efetivo da Academia de Ciência
da antiga União Soviética (1) nos diz que o
materialismo, baseando-se em fatos derivados das
ciências naturais, confirma que a vida, como todo o
resto do mundo, é de natureza material e não necessita,
para se compreendida, de qualquer espécie de origem
espiritual inacessível aos meios experimentais.

Conclui depois que o materialismo dialético considera


a vida como uma forma especial de movimento da
matéria, paulatinamente diferenciada dos objetos do
mundo inorgânico; esta forma de movimento é inerente
apenas aos seres vivos.

Escreveu Oparin (2) que a vida não é mais que uma


forma particular de existência cuja origem e destruição
obedecem a leis determinadas, e que a vida é o produto
do desenvolvimento da matéria, de sua transformação
qualitativa, historicamente preparada pelas
modificações graduais surgidas na natureza durante o
período que antecedeu ao aparecimento da vida.

Cientistas em laboratórios, posteriormente,


demonstraram que a tese de Oparin era válida, como
expôs Moody (3) ao dizer que os organismos que vivem
no presente provavelmente são descendentes remotos de
um tipo de ancestral original que fez a transição do
estado não-vivo para o vivo – ou, no máximo, de um
número muito pequeno de tipos desses ancestrais.

41
Evolução do Princípio Inteligente

S. Miller, (4) em suas experiências, obteve resultados


fundamentais na formação de aminoácidos, simulando
uma possível composição da atmosfera inicial da Terra,
submetendo uma mistura gasosa a descargas elétricas.
As experiências de Miller foram confirmadas por outros
cientistas, oferecendo â Ciência a certeza da geração da
vida orgânica na Terra.

Diz Oparin em seu livro (1), entretanto, em sua


conclusão, que somos incapazes de atribuir um tempo
exato para a origem da vida. Esta diferença entre o
mundo inorgânico e o mundo dos seres vivos, que hoje
facilmente podemos estabelecer, só surgiu em virtude de
todas as formas intermediárias de organização terem
sido eliminadas há muito tempo pela seleção natural.

A Geração Espontânea e a Ciência

No capítulo I, deste mesmo livro, Oparin traz uma breve


história das tentativas para resolver o problema da
origem da vida.

Fala da China, onde se acreditava na geração


espontânea das borboletas e outros insetos por
influência do calor e do estrume; fala do Egito antigo,
onde se admitia que o húmus aquecido pelo sol, podia
dar origem a criaturas vivas: rãs, cobras, ratos.

Relata que Epicuro pensava que os vermes e outros


numerosos animais eram gerados da terra ou do esterco
pela ação da umidade quente do sol e da chuva. Passa
por Platão, (477/347 aC), Aristóteles, (384/322 aC), e

42
Evolução do Princípio Inteligente

Tomás de Aquino (1225/1274, na Idade Média, até


chegar a Harvey, (1578/1657), e a Francis Bacon,
(1561/1626), para dizer que exprimiam suas opiniões
em seus escritos de que diferentes plantas e animais,
como moscas, formigas e rãs, por exemplo, podiam
nascer espontaneamente durante o apodrecimento de
vários materiais.

Em 1858 Henri Pouchet, diretor do Museu de História


Natural de Ruão, enviou à Academia de Ciências de
Paris uma nota em que afirmava a verdade da geração
espontânea, declarando-se pronto a demonstrá-la
experimentalmente (5).

Louis Pasteur, (1822/1895), em 1862, replicando, em


trabalho elaborado para a Academia, provou que a
geração espontânea não era possível. Se a geração
espontânea não existia, como surgiram os seres vivos na
face da Terra?

Os cientistas, não aceitando a tese do criacionismo,


continuaram suas pesquisas. Surge então a hipótese da
panspermia, em suas duas versões. Na primeira, os seres
vivos teriam sido trazidos à Terra por intermédio dos
meteoritos; na segunda, os esporos da vida, juntamente
com partículas da poeira cósmica, poderiam ser
transportados de um corpo celeste para outro pela
pressão da radiação estelar. Por causa da hipótese da
panspermia, surgiram as teses dos Cosmozóis, de W.
Prever, em 1880; do Pansperma, de Svante Arrhenius,
em 1908, e a dos Biogenes, de J. Schultz, em 1929 (6).

43
Evolução do Princípio Inteligente

Em seus trabalhos Lamarck, a partir de 1820,


considerava a gênese da vida a partir do não-vivo como
um processo de desenvolvimento gradual da matéria,
propondo, a ideia da evolução das espécies como um
fato universal.

Charles Darwin, (1809/1882), diz no cap. XI, de A


Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural,
que a teoria da seleção natural baseia-se na opinião de
que cada variedade nova, e, em última análise, cada
espécie nova se forma e se mantém por meio de
algumas vantagens adquiridas sobre as que entram em
concorrência e, finalmente, sobre a extinção das formas
menos favorecidas, que é consequência inevitável.

Mais recentemente se tem no campo científico os


estudos da engenharia genética, a teoria sintética da
evolução, os trabalhos de pesquisa para se obter a
matéria viva a partir da não-viva, após a tese de Oparin,
não restando dúvidas de que a evolução é
universalmente aceita como um fato, e,
consequentemente, a geração espontânea, sem a
necessidade de um criador espiritual ou do impulso
vitalista para dar vida à vida.

Depois de Lamarck e Darwin, com os estudos da


estrutura genética (estudo dos genes), em 1953, foi
descoberto um composto orgânico, o DNA (ácido
desoxirribonucleico), um (polímero), comumente
chamado de genoma, que contém as instruções
genéticas de todos os seres vivos.

44
Evolução do Princípio Inteligente

Este estudo é complexo e está na mesa dos


pesquisadores para deslindar seus segredos. Sabe-se, no
entanto, que este genoma contém a informação genética
que possibilita aos seres vivos nascer, crescer e
reproduzirem-se, mantendo uma estreita relação entre
uma espécie e outra, revelando a cadeia evolutiva.

Outra notável descoberta que coloca o homem mais


perto dos segredos de Deus foi a teoria do bóson de
Peter Higgs, cientista escocês, na década de 1960 e já
comprovada, em 1912, pelo CERN (Laboratório
Europeu de Física de Partículas). Segundo a teoria, este
bóson de Higgs, foi chamado de Partícula de Deus, por
proporcionar ou caracterizar a massa da matéria
atômica, ao unir todas as partículas (quarks) que
compõem prótons e nêutrons do núcleo atômico e os
neutrinos, parentes do elétron, que constituem a
estrutura dos átomos.

A Geração Espontânea e a Igreja

No Cristianismo primitivo os teólogos da Igreja,


associaram os ensinamentos da Bíblia ao pensamento
grego e desenvolveram a base do seu conceito místico a
respeito da origem da vida.

Falou Oparin, que Basílio, o Grande, da Igreja Cristã do


Oriente, no século IV, escreveu em seu livro
Hexaemeron: A par dos seres que são produzidos pela
sucessão de outros seres anteriores, outros podem ser
hoje criados vivos a partir da própria terra, porque não
só ela produz gafanhotos em tempo chuvoso e mil

45
Evolução do Princípio Inteligente

outras espécies de aves do ar, muitas das quais, em


virtude da sua extrema pequenez, não têm nome, mas
também dá origem a ratos e sapos. Em volta de Tebas,
no Egito, quando chove durante o calor forte, toda a
região se enche de ratos do campo. Sabemos que as
enguias se formam apenas do lobo. Não se multiplicam
por ovos e nem por outros meios, mas tiram a sua
origem da terra.

Na Igreja do Ocidente, Santo Agostinho foi a grande


autoridade. Ele aceitou a geração espontânea de coisas
vivas como um fato inegável e nas suas lições procurou
associá-las aos fundamentos cristãos. Escreveu, em
relação às coisas vivas, que Deus pode criá-las a partir
de sementes ou a partir de matéria não-viva, na qual
estão alojada a semente espiritual invisível (occulta
semina). Conclui que o ensinamento da geração
espontânea estava completamente de acordo com o
dogma da Igreja Cristã.

Tomás de Aquino, em sua Summa Teológica, admite o


pensamento de Aristóteles. para quem, na geração
espontânea há uma escala natural ligando a matéria
inanimada à matéria viva, passando pelos seres vivos
inferiores, pelos vegetais e animais superiores,
chegando, finalmente, ao homem. Tomás de Aquino
associa esta de Aristóteles ao conceito da occulta
semina, qual força animadora de Deus, de Santo
Agostinho, de modo que animais, como vermes, rãs,
serpentes, surgiam espontaneamente a partir da
putrefação e do calor do sol.

46
Evolução do Princípio Inteligente

Consequentemente a Igreja aceitou, através dos séculos,


o princípio de que as coisas vivas provêm da matéria
não-viva, animada, entretanto, pela fonte espiritual.

A Geração Espontânea na Codificação


Qual era a posição de Kardec, a respeito da geração
espontânea? Ele disse (7): Em nossa obra, A Gênese,
desenvolvemos a teoria da geração espontânea como
uma hipótese possível. Alguns partidários absolutos
dessa teoria admiraram-se que não tenhamos afirmado
como princípio. A isso respondemos que a questão está
resolvida para uns, não está para todos, e a prova é
que, a respeito, a ciência ainda está dividida. Disse que
a questão da geração espontânea pessoalmente é para
nós uma convicção e se a tivéssemos tratado numa obra
comum, tê-la-íamos resolvido pela afirmativa, mas
numa obra constitutiva da doutrina espírita, as opiniões
individuais não podem fazer lei.

Esta posição de Kardec o leva a dizer em A Gênese,


cap. X, item 21, que o princípio da geração espontânea
não se pode aplicar evidentemente senão aos seres das
ordens mais inferiores do reino vegetal e do reino
animal, aqueles nos quais começa a surgir a vida, e
cujo organismo, extremamente simples, é de alguma
forma rudimentar.

Deste embate entre o pensamento religioso da criação


dos seres vivos a partir de matéria não-viva, animada
por Deus, e o surgimento espontâneo da vida na Terra,
defendido pelos cientistas, liberto dos preconceitos do

47
Evolução do Princípio Inteligente

passado, decorrentes da ignorância dos homens, e


associado aos novos ensinamentos dos Espíritos,
podemos dizer que uma nova porta se abriu para um
entendimento mais amplo, tendo em vista o conceito de
vida da alma, como ser espiritual, associado à vida da
matéria orgânica, para a formação dos primeiros seres
vivos na face da Terra.

________________________

1. A. I. Oparin, Gênese e Evolução Inicial da Vida na


Terra, Edição Livros do Brasil, Lisboa (Portugal), 1968;
2. A. I. Oparin, A Origem da Vida, 1a. Ed., Ed. Escriba,
1924;
3. Paul Amos Moody, Introdução à Evolução, Editora
Universidade de Brasília, Rio de Janeiro (RJ);
4. S. Miller, Trabalho na Revista Science, 117, 528 (1953);
5. Ernest R. Trattner, Arquitetos de Ideias (Pasteur), Editora
Globo, 7aa. Edição, Porto Alegre (RS), 1957;
6. Felix Ruschkam, O Homem e o Universo, cap. III,
Livraria Tavares Martins, Porto (Portugal), 1956;
7. Allan Kardec, Revista Espírita, julho/1868, Editora
Edicel, São Paulo (SP), 1985.

48
Evolução do Princípio Inteligente

6. Conceito de Vida Orgânica e


de Vida do espírito
O conceito de vida é muito elástico e tem variado ao
longo do tempo, seja do ponto de vista filosófico, seja
do científico. Não vamos discutir aqui os verbetes
animismo, vitalismo, nem o conceito que lhe dá a
Biologia e a Genética.

As duas vertentes que se apresentam, em síntese,


reduzem-se à geração espontânea, segundo os cientistas,
e ao criacionismo, segundo religiosos e filósofos, os
quais admitem que a vida tenha sido criada por Deus.

O Espiritismo do tempo de Allan Kardec, com os


esclarecimentos ou acréscimos trazidos pelos autores
espirituais, principalmente, através da psicografia de
Francisco Cândido Xavier, em síntese, considera as
duas vertentes como verdadeiras, pois os espíritas estão
convencidos de que estas duas teses caminham par a
par, integradas uma na outra, por isso devem ser
examinadas sob dois ângulos distintos: o da vida
orgânica e o da vida espiritual.

Os estudiosos da Doutrina Espírita que não são


cientistas, nem religiosos presos a dogmas, sentem
alguma dificuldade para compreender os ensinamentos
dos Espíritos no estudo da formação dos seres vivos,
constante do capítulo III – Criação, de O Livro dos
Espíritos.

49
Evolução do Princípio Inteligente

Alguns termos aí utilizados como germes, princípios


orgânicos e elementos orgânicos, não se apresentam
com conceitos bem definidos, tendo até duplo sentido,
para os dias atuais, dificultando o entendimento.

Neste sentido, optamos, neste estudo, tomar como base


deste capítulo, os acréscimos posteriores que tornaram
nítidas as duas correntes de pensamento, dentro dos
fundamentos espíritas, ao distinguirem o conceito da
vida orgânica, do conceito da vida do espírito. São
como a cara e a coroa em uma moeda, integradas uma
na outra.

Estas questões nem sempre são facilmente


compreendidas, seja pela dificuldade de entendimento
do conceito vida, seja pelos diferentes significados das
palavras. Necessário se faz ao estudante descobrir sua
posição no entrechoque destas duas correntes de
pensamento que procuram deslindar os mistérios da
origem dos seres vivos na Terra.

Emmanuel (Espírito), por exemplo, em seu livro A


Caminho da Luz, cap. II, diz: As forças espirituais que
dirigem os fenômenos terrestres, sob a orientação do
Cristo, estabeleceram, na época da grande
maleabilidade dos elementos materiais, uma linhagem
definitiva para todas as espécies, dentro das quais o
principio espiritual encontraria o processo de seu
acrisolamento, em marcha para a racionalidade.

50
Evolução do Princípio Inteligente

Conceito de Vida Orgânica


As respostas dos Espíritos, no que tange à geração da
vida orgânica, estão de acordo com o pensamento
científico atual.

- Primeiro: No seu início, houve um tempo em que a


Terra não era habitada por seres vivos, pois estava em
fusão (LE. 43);

- Segundo: Somente depois de cessada a força de


dispersão foi que surgiram os princípios orgânicos, isto
é, a matéria orgânica, chamada posteriormente de
matéria viva (LE. 44);

- Terceiro: Os elementos orgânicos surgiram somente


depois de ter sido formada a matéria orgânica, isto é, os
princípios inteligentes, para a formação dos primeiros
seres vivos na Terra (LE. 45).

A matéria orgânica é, pois, uma variação da inorgânica,


pela absorção do que Espíritos chamaram de princípio
vital, conceito não é aceito pelos cientistas.

As condições de seu aparecimento, como matéria viva,


decorrem de circunstâncias físico/químicas e, de acordo
com a lei natural, pode extinguir-se, tornando-se
inorgânica outra vez. Quer dizer, a matéria vive surge e
se desfaz também espontaneamente com o esgotamento
vital, isto é, daquilo que lhe dá a vida ou a mobilidade.

51
Evolução do Princípio Inteligente

É nestas condições que se deve ler e interpretar O Livro


dos Espíritos (LE. 63):
O Codificador quis saber:

- Pergunta 63: O princípio vital é propriedade de um


agente especial ou apenas matéria organizada; numa
palavra, é um efeito ou uma causa?

- Resposta: É uma e outra coisa. A vida é um efeito


produzido pela ação de um agente sobre a matéria.
Esse agente, sem a matéria, não é vida, da mesma
forma que a matéria não pode viver sem ele. É ele que
dá vida a todos os seres que o absorvem e assimilam.

Simbolicamente esta resposta é representada pela


equação:

Vida = Matéria Inerte + Princípio Vital

Em princípio, esta soma, para o surgimento da vida, se


deu face às condições do ambiente, pressão,
temperatura, radiação solar, daquele tempo, como se
subentende pela informação dos Espíritos, quer dizer,
depois de cessada a força de dispersão.

Em última análise a equação está de acordo com a


conceituação dos cientistas atuais, a partir de Oparin,
principalmente, embora eles não reconheçam a
existência do princípio vital, por não ser comprovado.

É uma questão de palavra ou de seu significado, pois,


em verdade, o fato é que a união de um elemento com

52
Evolução do Princípio Inteligente

outro ou outros proporciona a geração da matéria viva,


como as duas teses dizem: a vida é o produto do
desenvolvimento da matéria, de sua transformação
qualitativa, face às condições do ambiente.

No livro Teologia Cosmológica –Temas Ecumênicos


em Debate, cap. 9, deste autor, foi feita uma análise a
respeito do Princípio Vital, e lá foi dito que há duas
diferenças entre estas correntes de pensamento.

A primeira é que os cientistas não consideram provada a


existência do princípio inteligente, por isso o corpo
acadêmico ainda o tem por tabu em suas pesquisas.

A segunda consiste na forma pela qual a matéria


inorgânica se torna orgânica.

A resposta dos Espíritos, na questão 63, do LE, é


praticamente um enigma, pois, é difícil saber como uma
coisa pode ser causa e efeito ao mesmo tempo para dar
origem à outra?

Ao procurar o entendimento, imaginei a seguinte


hipótese como solução do problema.

O que foi dito por eles dá ensejo em se pensar que o


princípio vital não seja um elemento químico, mas uma
combinação de elementos numa fórmula química.

53
Evolução do Princípio Inteligente

Esta combinação dos elementos químicos possibilita o


entendimento, porque eles se tornam causa e efeito ao
mesmo tempo, para a formação da matéria orgânica.

Esta ideia segundo penso, a princípio, é coerente com o


pensamento científico de Oparin, pelo qual a vida não é
mais que uma forma particular de existência da
matéria, forma de existência, cuja origem e destruição
obedecem a leis determinadas, como escreveu em A
Origem da Vida (cap. 1).

O cientista fala da matéria viva e não da vida do


espírito.

Tomei, como exemplo, o hidrocarboneto, em sua


fórmula básica, H12O6C6, tido como matéria orgânica,
isto é, fora do campo inorgânico pela Química
Orgânica. Tanto os subconjuntos H12O6C5, como o
H12O5C6 não seriam hidrocarbonetos e, portanto, não
matéria viva.

Qual a diferença entre as duas fórmulas: somente um C


e um O. Se se associar este C (carbono) ou este O
(oxigênio) aos subconjuntos estará perfeita a fórmula do
hidrocarboneto, tornando-se, pois, estes elementos
químicos causas e efeitos ao mesmo tempo da matéria

54
Evolução do Princípio Inteligente

orgânica, isto é, tornam-se, também as causas e os


efeitos da animação da matéria.

Esta combinação de elementos químicos é que define o


que se denomina de princípio vital ou princípio da vida
orgânica.

Nestas condições o princípio vital não é um elemento


químico em si, mas sim uma lei química que propiciaria
a vida da matéria, decorrente essencialmente de
propriedades da própria matéria, por força da lei de
atração.

É, pois, este princípio ou conjunto dos elementos


combinados que vai dar origem à vida orgânica, a qual
se sustentaria com a absorção e assimilação dos
elementos eventualmente faltantes, para a manutenção
do equilíbrio metabólico.

Assim, no exemplo, Carbono e Oxigênio que


completam a fórmula seriam os elementos vitais, não
por si mesmos, mas por causa de sua combinação com
os outros elementos dentro do conjunto orgânico.

Oparin no seu livro, obra, já citada, Gênese e Evolução


Inicial da Vida na Terra, em seu cap. 6, falando da
evolução dos organismos mais simples, diz que para a
grande maioria dos organismos modernos a principal
fonte de nutrição carbonada e a base do metabolismo
da energia são alguns dos hidratos de carbono que

55
Evolução do Princípio Inteligente

entram no organismo a partir do ambiente ou são


sintetizados por ele. A seguir, Oparin, conclui: pode
considerar-se que o principal ramo da árvore da vida,
monopolizando quase o desenvolvimento durante a
evolução da vida, foi o ramo hidrocarbonato do
metabolismo energético.

Diferença entre Princípio Vital e Fluido Vital

Alguns estudantes da Doutrina dos Espíritos, às vezes,


confundem os conceitos princípio com fluido vital.

O princípio vital como visto acima é a maneira ou


fórmula pela qual a matéria inorgânica se torna
orgânica.

O fluido vital, como está explicado na questão LE 27, é


um componente derivado do fluido cósmico universal,
também designado de energia fundamental.

Allan Kardec perguntou (LE. 27): Haveria, assim, dois


elementos gerais do Universo; a matéria e o espírito?

Resposta: Sim, e acima de ambos, Deus, o Criador, o


pai de todas as coisas.

Essas três coisas são o princípio de tudo o que existe, a


trindade universal. Mas, ao elemento material, é
necessário ajuntar o fluido universal, que exerce o
papel de intermediário entre o espírito e a matéria,

56
Evolução do Princípio Inteligente

propriamente dita, demasiado grosseira para que o


espírito possa exercer alguma ação sobre ela.

Embora, de certo ponto de vista, se pudesse considera-


lo como elemento material, ele se distingue por
propriedades especiais.

A seguir concluem: Ele está colocado entre o espírito e


a matéria; é fluido, como a matéria é matéria;
imperceptível, em suas inumeráveis combinações com
esta, das quais não conheceis mais do que uma ínfima
parte.

O períspirito como corpo espiritual se ajusta a este


conceito de intermediário entre o espírito e a matéria,
pois, por sua natureza fluídica, constitui o molde do
corpo físico e o instrumento pelo qual o princípio
inteligente age sobre a matéria.

Conceito de Vida do espírito


Os seres vivos desde os mais rudimentares, conforme
ensinamentos complementares aos de Kardec, feitos por
Gabriel Delanne, Léon Denis, André Luiz, Emmanuel e
outros, são sempre comandados por um princípio
inteligente ou espírito, através de seu corpo espiritual
fluídico.

Este princípio inteligente não perde sua individualidade,


quando ocorre a dissolução do princípio vital que deu
origem à matéria orgânica de seu corpo físico.

57
Evolução do Princípio Inteligente

O que os cientistas não contam, em seus estudos, é com


a presença desse princípio inteligente no ser vivo,
restringindo-se eles tão somente ao campo de pesquisa
da vida orgânica.

A Ciência não reconhece como científico os


testemunhos individuais decorrentes das revelações
divinas ou quaisquer que sejam os conhecimentos
obtidos através das manifestações mediúnicas. Os
cientistas alegam que Deus não existe nem os Espíritos,
porque não podem ser comprovados.

O homem é matéria, simplesmente matéria, com sua


natureza psíquica, mas sem ter os que os religiosos
chamam de alma. Para eles tudo acaba com a morte,
restando apenas a lembrança de que partiu, na memória
de quem ficou.

O Espiritismo, todavia, mostra do seu ponto de vista que


a vida corresponde à união do espírito à matéria,
qualquer que seja o grau de evolução em que se
encontre.

Em síntese, a união da vida eterna do espírito com a


vida orgânica da matéria define a existência do ser vivo
na Terra.

Em resumo, temos três grandes coordenadas que


definem a vida:

I). O Que Ensina a Igreja Apostólica Romana

58
Evolução do Princípio Inteligente

A Igreja Romana, Católica e Reformadas, admitem a


geração espontânea dos seres vivos a partir da matéria
não-viva, animada pela força espiritual, como ensinava
Santo Agostinho, a occulta semina.

O dicionário da Bíblia Sagrada escreveu no verbete


Criação (2) que:

Deus criou todo o Universo do nada, mas isto não se


opõe à evolução, pois apenas ensina que todas as coisas
foram, em última análise, criadas por Deus sem a
contribuição de algo preexistente, o que não impede
que esse ato criativo de Deus tenha sido um ato pelo
qual Deus tenha dado existência à primeira matéria,
dando-lhe, ao mesmo tempo, o poder de evoluir até as
formas existentes atualmente.

E também, no verbete Evolução escreveu que:

Teoria biológica que ensina que todas as espécies de


plantas e animais, inclusive o homem, se desenvolveram
através de uma longa série de mudanças progressivas,
dos tipos mais simples ou primitivos para outros mais
adiantados e complexos até os atuais.

O ensinamento da revelação (na Bíblia e na tradição)


ensina as seguintes verdades que têm relação com este
assunto:

- 1). Deus é causa primeira de todos os seres, qualquer


que tenha sido o desenvolvimento evolutivo;

59
Evolução do Princípio Inteligente

- 2). A alma de cada homem, incluindo o primeiro


homem e a primeira mulher, é criada por um ato
especial de Deus, é espiritual e não evolução de algo
previamente existente;

- 3). Todo o gênero humano descende de um único


casal, Adão e Eva.

Para a Igreja, portanto, a alma do homem, tem apenas


uma existência na terra, pois é criada no momento da
concepção do corpo físico, e, consequentemente, ela
admite por um de seus dogmas a ressurreição dos
corpos, no dia do Juízo Final.

II). O Que Ensina a Ciência

Admite a geração espontânea dos seres vivos a partir da


matéria não-viva como um processo natural.

Diz G. Ledyard Stebbins (3) que os biólogos modernos


aceitam a evolução como um fato, tão bem demonstrado
como os fatos da história antiga.

Segundo ele, os processos da evolução são cinco:

- 1). Mutação

2). Recombinação genética que são as fontes da


variabilidade;

3). Organização cromossômica e sua variação, que


afeta a ligação genética;

60
Evolução do Princípio Inteligente

- 4). Seleção natural e

- 5). Isolamento reprodutivo.

III). O Que Ensina o Espiritismo

Admite a geração espontânea da matéria viva a partir da


inorgânica, quando esta se liga ao princípio vital. Esta
matéria orgânica é o germe ao qual o princípio
inteligente vai se associar para da origem aos seres
vivos na face da Terra.

Este princípio inteligente ou espírito foi criado por


Deus, teve, portanto, um início e não terá fim, pois o
Espiritismo não é panteísta. Evolui sem cessar, através
de uma pluralidade de existências, até atingir o estágio
de Espírito puro, ao ingressar na Família divina, quando
se liberta da influência da matéria.

A ligação entre o espírito e a matéria é feita através do


corpo espiritual ou envoltório do espírito, designado por
Kardec de períspirito (4).

Como complemento, para estudos, cito a questão 94 do


LE:

- Pergunta: De onde tira o Espírito o seu envoltório


semimaterial?

61
Evolução do Princípio Inteligente

- Resposta: Do fluido universal de cada globo. É por


isso que ele não é o mesmo em todos os mundos;
passando de um mundo para outro, o Espírito muda de
envoltório, como mudais de roupa.

__________________________
(1). Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Edições FESP, São
Paulo (SP);
(2). Bíblia Sagrada (Dicionário Prático), Editora BARSA,
Rio de Janeiro (RJ), 1971;
(3). G. Ledyard Stebbins, Processos de Evolução Orgânica,
Editora Universidade de São Paulo (SP).
(4). Escreveu Kardec, como comentário à questão 93, do LE.:
Como a semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o
Espírito propriamente dito é revestido de um envoltório que,
por comparação, se pode chama de períspirito.

62
Evolução do Princípio Inteligente

7. A Individualização do
Princípio Inteligente

Os defensores da tese de que o principio espiritual inicia


sua vivência no reino mineral (matéria inorgânica),
normalmente afirmam estar com Kardec, porque dizem
que a ideia está na Codificação, anunciada pelos
Espíritos em diferentes questões, principalmente no
item 540, de O Livro dos Espíritos. Herculano Pires,
comentando-o diz: assim, do átomo nasce o minério,
deste o vegetal, deste o animal, deste o homem e deste i
anjo, o Arcanjo e quantas criaturas quisermos
enumerar (1).

Neste seu pensamento, Herculano deixa transparecer


que para ele, em cada átomo existe um princípio
inteligente a lhe comandar a organização, dando a
entender que sua individualização aí se inicia.

De nossa parte, achamos que Kardec não tinha esta


opinião porque sendo partidário da geração espontânea
dos vegetais e animais mais rudimentares, não poderiam
ser eles dotados de princípio inteligente. Comentando o
item 45, do LE, diz que há, portanto, nesses germes um
princípio latente de vitalidade, que só esperava uma
circunstância favorável para desenvolver-se. Diz, ainda,
perguntando: Esta formação dos seres vivos, saindo do
caos pela própria força da Natureza, tira alguma coisa
à grandeza de Deus?

63
Evolução do Princípio Inteligente

É óbvio, por estas palavras, que Kardec entendia existir


nesses germes somente o princípio vital, conforme seu
comentário na questão 585, onde repete que as plantas,
compostas de matéria inerte, são dotadas de vitalidade.

Nestas condições não seriam estes germes dotados de


um princípio inteligente, pois se o fossem teria dito e,
neste caso, não tirariam a grandeza de Deus, nem por
hipótese, porquanto seria uma centelha divina.

Para entender melhor o pensamento de Kardec é


conveniente lembrar que ele tinha convicção de que
espírito e períspirito estavam sempre ligados e que o
períspirito era a chave para a organização do corpo
físico. Assim não poderia, por decorrência, admitindo a
geração espontânea dos seres mais inferiores, admitir
que o princípio inteligente estivesse estagiando nestes
vegetais primitivos, principalmente por causa das
informações do LE 71 e 586, pelas quais as plantas não
têm mais que vida orgânica.

Os dois eventos se excluem mutuamente e, via de


consequência, excluída fica também a tese, para Kardec,
de que a vida do princípio inteligente começasse no
mineral (matéria inorgânica).

Os Espíritos, na Codificação, sugerem não nos


preocuparmos com o assunto, mas cabe ao homem
investigar sem se perder.

Por isto, vamos seguir o conselho de Emmanuel, como


dito anteriormente: com o desenvolvimento das ideias

64
Evolução do Princípio Inteligente

espiritualistas no mundo, torna-se um estudo


obrigatório, e para todos os dias, o grande problema
que implica o drama da evolução anímica.

Há aparentes contradições e os estudiosos se dividem:

- a). Para uns, o princípio inteligente é criado, em sua


unidade existencial, pela vontade de Deus como tal,
desde sua origem, não importando a forma como se
processará sua evolução na busca de sua consciência;

- b). Para outros, a individualidade do princípio


inteligente não é definida, mas é uma massa, como o é o
princípio material. Esta corrente baseia-se
principalmente em alguns itens de O Livro dos
Espíritos, citados a seguir, em conjunto, para análise
posterior.

1). Pergunta 79: Uma vez que há dois elementos gerais


do Universo: o inteligente e o material, nós poderíamos
dizer que os Espíritos são formados do elemento
inteligente, como os corpos inertes são formados do
material?

Reposta: É evidente. Os Espíritos são individualizações


do princípio inteligente, como os corpos são
individualizações do princípio material; a época e a
maneira dessa formação é que desconhecemos.

2). Pergunta 606: De onde tiram os animais o princípio


inteligente que constitui a espécie particular de alma de
que são dotados?

65
Evolução do Princípio Inteligente

Resposta: O elemento inteligente universal.

Allan Kardec, em seu comentário da questão 613 do LE,


escreve que:

O ponto de partida do Espírito é uma dessas questões


que se ligam ao princípio das coisas e estão nos
segredos de Deus. Não é dado ao homem conhecê-las
de maneira absoluta... Os próprios Espíritos estão
longe de tudo conhecer...
É assim que nem todos pensam da mesma maneira a
respeito das relações existentes entre o homem e os
animais.

Segundo alguns, o Espírito não chega ao período


humano senão depois de ter sido elaborado e
individualizado nos diferentes graus dos seres inferiores
da Criação.

Segundo outros, o Espírito do homem teria sempre


pertencido à raça humana, sem passar pela fieira
animal.
O primeiro desses sistemas tem a vantagem de dar uma
finalidade ao futuro dos animais, que constituiriam
assim os primeiros anéis da cadeia dos seres pensantes;
o segundo é mais conforme à dignidade do homem...

Neste mesmo comentário Kardec, falando das diferentes


espécies de animais, disse:
Cada espécie é um tipo absoluto, física e moralmente, e
cada um dos seus indivíduos tira da fonte universal a
quantidade de princípio inteligente que lhe é

66
Evolução do Princípio Inteligente

necessária, segundo a perfeição dos seus órgãos e a


tarefa que deve desempenhar nos fenômenos da
Natureza, devolvendo-a à massa após a morte.

O homem possui, como sua particularidade, a alma ou


Espírito, centelha divina que lhe dá o senso moral e um
alcance intelectual que os animais não possuem; é o ser
principal, preexistente e sobrevivente ao corpo,
conservando a sua individualidade. Qual é a origem do
Espírito? Onde está o seu ponto de partida? Forma-se
ele do princípio inteligente individualizado?

Estas perguntas e dúvidas finais de Kardec são


resquícios da primeira edição e decorrem de fatos que
não estão escritos nesta 2a. edição de O Livro dos
Espíritos, ampliada, revisada e publicada por ele, em
março de 1860.

Na primeira edição de 18.4.1857 constava, por exemplo,


como resposta à questão 127, excluída desta segunda
edição, a seguinte informação dos Espíritos:

Non! Non! Hommes nous sommes nés. Chaque chose


progresse dans son espèce et dans son essence;
l’homme n’a jamais été autre chose qu’un home. Ou,
resposta em português:

Não! não! Homens somos desde natos (criados). Cada


ser vivo só progride na sua espécie e em sua essência. O
homem não foi jamais outro ser senão homo.

67
Evolução do Princípio Inteligente

Assim, o amigo leitor pode compreender a dificuldade


que restou para o Codificador para decidir entre as
informações dos Espíritos, da primeira ou da segunda
edição.

Neste sentido, este autor em seu livro Perispírito e


Corpo Mental, obra já citada, fez uma análise
comparativa, destes grandes problemas de Allan
Kardec, contidos nas duas primeiras edições de O Livro
dos Espíritos, decorrente de respostas recebidas, entre
os anos de 1856 até 1860, diferentes não apenas de
conceitos anteriores, mas também de novas informações
que foram acrescidas na segunda edição.

Cumpre, ainda, analisar as informações dos Espíritos,


nas questões 79 e 606, ao falarem de um estoque do
elemento inteligente universal, como se fosse uma fonte
de inteligência diferente de Deus, de onde os seres
retiram certa quantidade para sobrevivência.

Por causa destas informações, muitos estudiosos não


admitem a individualidade das almas dos animais e
vegetais, alegando que somente no homem há a
individualização do princípio inteligente, quando ele
sofre uma transformação e torna-se Espírito, conforme
está escrito no LE.607a.

A ideia revelada por estas questões é a de que há uma


massa de princípio inteligente e não um ser distinto,
individualizado. Seria realmente isto?

68
Evolução do Princípio Inteligente

Se esse elemento inteligente é massa, não poderia ser


um espírito individualizado, como claramente ficou
revelado na questão 23 de O Livro dos Espíritos:

- Pergunta: Que é o espírito?


- Resposta: O princípio inteligente do Universo.

De nossa parte, preferimos admitir, como deixam


transparecer todo o corpo da Codificação e estudos
posteriores mais claros que alguns destes itens citados,
que o princípio inteligente é sinônimo de princípio
espiritual, alma, espírito, criado por Deus, já
individualizado desde a criação.

O que se pode pensar é que essa criação, embora


individual, tenha ocorrido em grupo, não confundir com
alma grupo, e do grupo vai destacando-se pouco a
pouco até assumir sua individualidade, em separado.
Citamos, para exemplificar, as células do nosso corpo
que são, na linguagem de André Luiz, animálculos
infinitesimais, que se revelam domesticados e ordeiros
na colmeia orgânica, compelidos a disciplina, perante a
ideia orientadora que as associa e governa (2).

Essa individualização que pouco a pouco se realiza não


se refere à ideia de criação do ser espiritual, mas à sua
evolução espiritual em correspondência com a gênese
orgânica ao longo dos milênios, atravessando
lentamente os círculos elementares da Natureza,
tomando consciência de sua própria existência como
princípio inteligente, individualizado que é.

69
Evolução do Princípio Inteligente

Diz Herculano Pires que a individualização do princípio


inteligente é um processo psicocêntrico. Todo o
psiquismo se concentra progressivamente na formação
da consciência, na definição do Ser. O Ser, uma vez
determinado, é um ego, uma unidade psíquica, segundo
vemos no item 92 do LE, comentário de Kardec. Essa
unidade, pela própria necessidade de manter-se
integrada, é egocêntrica e, portanto, egoísta (3).

Esta progressiva formação da consciência esta bem


refletida nas palavras de Emmanuel (4), quando diz:
Cessadas as perturbações geológicas, estabelecido o
repouso em algumas grandes extensões de matéria
resfriada, eis que, entre as forças cósmicas associadas,
aparece o primeiro rudimento de vida organizada o
protoplasma. Eis que os séculos se escoam... eis as
amebas, os zoófitos, os seres monstruosos das
profundidades submarinas... Recapitulemos os milênios
passados e acharemos a nossa própria história; a
individualidade, o nosso ego constitui o nosso triunfo.

Continua Emmanuel, dizendo que chegados à


racionalidade e ao sentimento humano, acima de nós se
encontram os seres superiores da espiritualidade, que
se hierarquizam ao infinito e cuja perfeição nos
compete alcançar.

Nesse assunto, vamos dar asas à imaginação e pensar


em algumas hipóteses para as quais não temos
respostas. Deixamos ao amigo leitor encontrar a devida
solução. Essa ideia da individualização apresenta
dificuldade de entendimento, quando se estudam alguns

70
Evolução do Princípio Inteligente

organismos inferiores que possuem um grande poder de


reprodução. A begônia pode reproduzir-se simplesmente
por meio de partículas de suas folhas, de modo que uma
só folha poderá originar uma centena de plantas.
Igualmente existem muitas outras plantas que se
reproduzem por galhos. Nestes casos, resta a pergunta:
Se o princípio inteligente é indivisível, quem comanda a
partes replantadas, que se tornam plantas completas
também? A hereditariedade e a engenharia genética
explicam a reprodução orgânica das células, mas como
fica o princípio espiritual, não admitido pela Ciência?

A pergunta vale também para reprodução de células por


cissiparidade, mitose etc.. Por exemplo: se numa célula
mãe há um princípio inteligente que a comanda, quando
ocorre a mitose, quem comandará as células filhas? É
muito difícil descobrir a verdade em nosso estágio atual,
mas um dia, provavelmente, saberemos. O que pensa o
amigo leitor (5)?

Se não sabemos como é nos seres mais inferiores,


podemos compreender como se processa nos seres mais
elevados esta individualização ou tomada de
consciência de si mesmo.

Diz o LE 598, que a alma do animal, após a morte,


conserva sua individualidade, mas não a consciência de
si mesma. No homem, entretanto, esta consciência
existe tanto no estado de encarnado quanto no estado de
desencarnado em razão seu pensamento contínuo.
Assim, conquanto todas estas dúvidas, o princípio
inteligente pode ser considerado um ser indivisível,

71
Evolução do Princípio Inteligente

desde criado por Deus, anteriormente ao seu ingresso na


primeira vivência na Terra, até seu retorno ao seio do
Senhor Deus, como Espírito puro, percorrendo todos os
graus da escala, individualizando-se incessante e
insensivelmente, seja pela força das coisas (LE. 602),
seja por sua própria vontade e mérito (LE. 123), até
tornar-se plenamente consciente de si mesmo e poder
agir como ministro de Deus para a manutenção da
harmonia universal (LE. 113) e dizer como Jesus: o Pai
está e mim e eu estou no Pai (Jo 10, 38).

________________________
(1). J. Herculano Pires, Agonia das Religiões; cap. VI, Editora
Paideia Ltda., São Paulo (SP), 1984;
(2). André Luiz (Espírito), Evolução em Dois Mundos, cap. V;
psicografia de F.C. Xavier e Waldo Vieira. Editora FEB, Rio de
Janeiro (RJ), 1979;
(3). J. Herculano Pires, Introdução à Filosofia Espírita, cap. V,
Edições FEESP, São Paulo (SP), 1993;
(4). Emmanuel (Espírito), Emmanuel, cap. XXIV; psicografia de
F.C. Xavier, Editora FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1986;
(5). Opinião do Autor:
Penso, por ora, que na mitose a célula mãe morre e o seu princípio
inteligente liberta-se; na sequência, pode-se dizer, que os Espíritos
encarregados da Natureza, por algum processo que desconhecemos,
providenciam a ligação de outros princípios inteligentes aos corpos
das células filhas.
No caso da begônia ou de plantas que se reproduzem por galhos,
admito que a ligação do novo princípio inteligente seja feita quando
as condições naturais forem propícias, à semelhança do que se dá
com o embrião na barriga da mãe ou de um ovo galado de galinha,
quando chocado, para nascer o pintinho.

72
Evolução do Princípio Inteligente

8. A Grande Transição Pelos


Reinos Inferiores
A evolução humana, ou mais precisamente a do
princípio inteligente, não pode ser vista ou percebida
num curto período de tempo. A análise e a observação
dos fatos devem pautar-se por períodos multimilenares,
de modo a se ter uma visão panorâmica, onde se possa
associar as grandes coordenadas da gênese orgânica e da
evolução espiritual, seja do ponto de vista da Ciência
oficial, seja do Espiritismo.

Ninguém poderá compreender a Doutrina dos Espíritos


pensando somente nesta vida, pensando no momento em
que se vive agora.

Se alguém quiser entender o significado mais amplo dos


fundamentos doutrinários, é bom olhar para ambos os
lados do tempo, para o passado remoto, através dos
milênios vividos, e para o futuro, visualizando os
caminhos a percorrer, porque, realmente, os homens são
herdeiros dos séculos, acumulando valores de
experiência em experiência, arquitetando o próprio
futuro.

Neste tempo ignoto para a compreensão humana, no


estágio atual de sua existência, a construção da alma
atravessou a noite multimilenar do passado para dealbar
agora, na aurora do terceiro milênio, laborando na Terra
seu presente com os Espíritos e sonhando com os Anjos
junto às estrelas.

73
Evolução do Princípio Inteligente

O drama da evolução anímica inicia-se nos bastidores


do espaço, progride nas passarelas da Terra e volve
novamente à ribalta do Senhor.

Foi assim que Adelino de Fontoura Chaves (Espírito)


(1) reviveu o seu sonho:

Fui átomo, vibrando entre as forças do Espaço,


Devorando amplidões, em longa e ansiosa espera...
Partícula, pousei... Encarcerado eu era
Infusório do mar, em montões de sargaço...

Por séculos fui planta em movimento escasso,


Sofri no inverno rude e amei a primavera;
Depois, fui animal, e no instinto da fera
Achei a inteligência e avancei passo a passo...

Guardei por muito tempo a expressão dos gorilas,


Pondo mais fé nas mãos e mais luz nas pupilas,
A lutar e chorar para, então compreendê-las!

Agora, homem que sou pelo Foro Divino,


Vivo de corpo em corpo a forjar o destino
Que me leve a transpor o clarão das estrelas...

A Ciência humana informa que o Universo foi formado


há cerca de 15 bilhões de anos aproximadamente.

Desde sua formação até o surgimento da Terra, 10


bilhões de anos se passaram e dentro dele bilhões
galáxias, de outros sóis e planetas se formaram também.
Estes números são fantasticamente grandes, quando

74
Evolução do Princípio Inteligente

comparados ao recente aparecimento do homem na face


do Planeta Terra. Os Espíritos nada dizem sobre a data
de formação do Universo; tomemos este dado do
homem para fins comparativos ou históricos.

O início da vida na Terra, ou seja, da formação dos


seres vivos, deu-se, segundo os cientistas em torno de
1,5 bilhões de anos, número condizente com a
afirmação de André Luiz, como se verá a seguir. Ainda
convém observar a diferença de tempo entre a formação
dos seres vivos e o aparecimento do homem somente
em torno de 1,5 a 2 milhões de anos

As respostas, segundo os princípios doutrinários


espíritas esclarecem as dúvidas dos cientistas, no que
tange à evolução do princípio inteligente desde sua
criação, como mônada celeste, até seu estágio atual, na
Terra, qual homem, caminhando para o reino angélico.

75
Evolução do Princípio Inteligente

Compreende-se melhor a pergunta de Kardec e a


resposta dos Espíritos (LE. 130):

P – Se a opinião de que há seres criados perfeitos e


superiores a todos os outros é errônea, como se explica
a sua presença na tradição de quase todos os povos?

R – Aprenda que o teu mundo não existe de toda a


eternidade, e que muito antes de existir já havia
Espíritos no grau supremo; os homens, por isso,
acreditaram que eles sempre haviam sido perfeitos.

Um princípio inteligente criado há 10 bilhões de anos


tem, evidentemente, maior probabilidade de ser mais
evoluído que um criado há 3 bilhões. A evolução de
cada um sabe-se, doutrinariamente, falando, depende da
ação individual (Le. 115, 129, 303).

Segundo André Luiz (2): Para alcançar a idade da


razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e
discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos,
na romagem para o reino angélico, despendeu para
chegar aos primórdios da época quaternária, em que a
civilização elementar do sílex denuncia algum primor
de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos.

Neste período, onde a geologia marca suas eras e


respectivos períodos, o embrião do ser humano é
formado paulatinamente na travessia dos reinos
inferiores dos seres vivos.

76
Evolução do Princípio Inteligente

O objetivo deste livro é estudar, dentro da evolução das


espécies, reconhecida pela Ciência, a forma pela qual o
princípio inteligente atravessa os milênios, estagiando
em diferentes corpos ou filtros do transformismo, sendo
experimentado de modos múltiplos no laboratório da
Natureza, constituindo-se lhe, pouco a pouco, a
organização físico- espiritual, na linguagem de André
Luiz (2).

Reinos da Natureza – Divisão Antiga e Atual


Para se ter melhor compreensão desse laboratório da
Natureza, examinaremos algumas considerações sobre
os reinos dos seres vivos.

No LE 585, Kardec pergunta:

- P. Que pensar da divisão da Natureza em três reinos,


ou ainda, em duas classes: os seres orgânicos e os
inorgânicos? Alguns fazem da espécie humana um
quarto reino. Qual dessas divisões é a preferível?

- R. Todas são boas; isto depende do ponto de vista.


Encarado sob o aspecto material, não há senão seres
orgânicos e inorgânicos; do ponto de vista moral, há,
evidentemente, quatro graus.

Kardec comenta: Esses quatro graus têm, como efeito,


caracteres bem definidos, embora pareçam confundir-se
os seus limites. A matéria inerte que constitui o reino
mineral, não possui mais do que uma força mecânica;
as plantas, compostas de matéria inerte, são dotadas de

77
Evolução do Princípio Inteligente

vitalidade; os animais, constituídos de matéria inerte e


dotados de vitalidade, têm ainda uma espécie de
inteligência instintiva, limitada, com a consciência de
sua existência e de sua individualidade; o homem, tem
tudo o que existe nas plantas e nos animais, domina
todas as outras classes por uma inteligência especial,
ilimitada, que lhe dá a consciência do seu futuro, a
percepção das coisas extramateriais e o conhecimento
de Deus.

Para Kardec a matéria inerte que constitui o mineral é


reino inorgânico. A matéria orgânica tem vitalidade e
não é vegetal. Daí o erro de interpretação dos que dizem
ter a vida da alma se iniciado no mineral. Os cientistas
atuais, face aos notáveis descobrimentos permitidos pela
tecnologia, como o microscópio eletrônico, adotaram
uma nova divisão dos reinos da Natureza, relativamente
aos seres vivos.

Sinteticamente pode-se mostrar a divisão atual dos


reinos dos seres vivos, conforme quadro a seguir,
desprezando-se, evidentemente, as subdivisões dos filos
e suas características, por não interessarem a este
trabalho (3).

Anotam os cientistas que os vírus é uma forma


elementar de vida. São seres extremamente simples,
cristais microscópicos, constituídos, basicamente, por
proteínas e por ácido nucleico. São parasitas
obrigatórios e somente se reproduzem no interior de
células vivas. Não são classificados por alguns cientistas

78
Evolução do Princípio Inteligente

como ser vivo nem incluídos no reino Monera. Alguns o


colocam no Gênero Vírus, como um caso especial.

O PPLO (pleuro pneumonia like organismo) é


unicelular e uma forma de vida intermediária entre o
vírus e a bactéria, chegando até a ser menor que o vírus,
mas não é parasita intracelular. Apesar de ser parecido
com a bactéria, no que toca à forma de vida, o PPLO
não é bactéria. É classificada no reino Monera.

79
Evolução do Princípio Inteligente

Período Embrionário do Homem


As questões 606 e 607 de O Livro dos Espíritos devem
ser lidas, pensadas tantas vezes quantas forem
necessárias, para se compreender este período de
germinação da alma humana.

Pergunta Kardec, LE 607a.: Parece, assim, que a alma


teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da
criação?
R – Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e
tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de
conhecer inteiramente que o princípio inteligente se
elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a
vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho
preparatório, como o da germinação, em seguida ao
qual o princípio inteligente sofre uma transformação e
torna-se Espírito.

Pede-se ao amigo leitor para rever o gráfico do capítulo


4, nos limites do Ponto 1, onde se dá a criação do
princípio espiritual, e do Ponto 2,onde ele começa a ter
consciência de si mesmo pelo pensamento contínuo.

Neste período embrionário, a alma dos seres inferiores


da criação vive sob total predomínio da natureza animal
sobre a espiritual. Esse tempo é descrito por André Luiz
(2), o qual deve ser lido acompanhando o gráfico a
seguir que, simbolicamente registra os limites dos
pontos 1 e 2, descritos. Para maior compreensão, ler
também o glossário da nota final.

80
Evolução do Princípio Inteligente

A descrição foi minuciosa e com termos técnicos. Ele


escreveu:
Das cristalizações atômicas e dos minerais, dos vírus e
do protoplasma, das bactérias e das amebas, das algas
e dos vegetais do período pré-câmbrico aos fetos e às
licopodiáceas, aos trilobites e cistídios, aos
cefalópedes, foraminíferos e radiolários dos terrenos
silurianos, o princípio espiritual atingiu os espongiários
e celenterados da era paleozoica, esboçando a estrutura
esquelética.

81
Evolução do Princípio Inteligente

Avançando pelos equinodermos e crustáceos, entre os


quais ensaiou, durante milênios, o sistema vascular e o
sistema nervoso, caminhou na direção dos ganóides e
teleósteos, arquegossauros e labirintodontes, para
culminar nos grandes lacertinos e nas aves estranhas,
descendentes dos pterossauros, no jurássico superior,
chegando à época suprecretácea para entrar na classe
dos primeiros mamíferos, procedentes dos répteis
teromorfos.

Viajando sempre, adquire entre os dromatéreos e


anfitéreos os rudimentos das reações psicológicas
superiores, incorporadas às conquistas do instinto e da
inteligência.

Estagiando nos masurpiais e cetáceos do eoceno médio,


nos rinocerotídeos, cervídeos, antilopídeos,
equídeos,´canídeos, proboscídeos e antropoides
inferiores do mioceno e exteriorizando-se nos
mamíferos mais nobres do plioceno, incorpora
aquisições de importância entre os megatérios e
mamutes, precursores da fauna atual da Terra, e
alcançando os pitecantropóides da era quaternária, que
antecederam as embrionárias civilizações paleolíticas,
a mônada vertida do Plano Espiritual sobre o Plano
Físico atravessou os mais rudes crivos da adaptação e
seleção, assimilando valores múltiplos da organização,
da reprodução, da memória, do instinto, da
sensibilidade, da percepção própria, penetrando, assim,
pelas vias da inteligência mais completa e
laboriosamente adquirida, nas faixas inaugurais da
razão. (Ver Glossário, em Nota Final).

82
Evolução do Princípio Inteligente

Complementa André Luiz em (4) que:

O princípio espiritual, desde o obscuro momento da


criação, caminha sem detença para a frente... Viajou do
simples impulso para a irritabilidade, da irritabilidade
para a sensação, da sensação para o instinto, do
instinto para a razão.

Diz, ainda em (5) que: a crisálida de consciência,


construindo as suas faculdades de organização,
sensibilidade e inteligência, transforma,
gradativamente, toda a atividade nervosa em vida
psíquica.

É aí, nesse período embrionário, que o princípio


espiritual atravessa os círculos elementares da
Natureza, de forma em forma, até configurar-se no
indivíduo humano.

Aí, também nos reinos inferiores da natureza, a


corrente mental restringe-se a impulsos da sustentação
nos seres de constituição primária, a começar dos
minerais, preponderando nos vegetais e avançando pelo
domínio dos animais de formação mais simples, para
evidenciar-se mais complexa nos animais superiores
que já conquistaram bases mais amplas à produção do
pensamento contínuo (6).

Já externamos, no capítulo 3, nossa posição a respeito


da ideia mais ou menos abrangente contida na palavra
mineral, ao longo do tempo, e suas implicações com
esta transição da alma pelos reinos da Natureza, cuja

83
Evolução do Princípio Inteligente

divisão, em síntese, se pode registrar comparativamente


no gráfico seguinte:

André Luiz provavelmente poderá explicar, no futuro, o


que ele quis dizer com mineral. Já foi dito que alguns
estudiosos admitem esta evolução se tenha iniciado a
partir do mineral (matéria inerte), conquanto a maioria
aceita a origem e evolução do princípio inteligente a
partir do protoplasma, isto é, da matéria viva, orgânica.
Diz Gabriel Delanne (7) que já no reino mineral torna-
se possível encontrar os traços de uma futura vida
orgânica. O cristal é quase um ser vivente, visto que
difere completamente da matéria amorfa, tendo
moléculas orientadas por uma ordem geométrica, fixa,
e, portanto, uma tal ou qual individualidade. Nele
existem os primeiros lineamentos da reprodução, visto
como a mínima de suas parcelas, mergulhada num

84
Evolução do Princípio Inteligente

soluto idêntico, permitirá o desenvolvimento regular e


indefinido dessa partícula, constituindo um cristal
semelhante ao primeiro.
Há quem admite ser o cristal, por isso, uma das
primeiras organizações do reino orgânico por sua
capacidade de regeneração. Se assim fosse, não seria
mais do reino mineral inorgânico.

________________________
(1). Adelino Fontoura Chaves (Espírito); Antologia dos
Imortais, Psicogr. F. C. Xavier, Ed. FEB, Rio de Janeiro
(RJ),
(2). André Luiz (Espírito) Evolução em Dois Mundos, cap.
III, Psicogr. F. C. Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB. Rio (RJ),
1979;
(3). Amabis, Martho e Mizuguchi, Biologia, Volume 2 (Os
Seres Vivos); Editora Moderna Ltda., São Paulo (SP), 1982;
(4). André Luiz (Espírito) No Mundo Maior, cap. IV,
Psicografia F. C. Xavier, Ed. FEB. Rio de Janeiro (RJ), 1973;
(5). André Luiz (Espírito) Evolução em Dois Mundos, cap.
IV, Psicogr. F. C. Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB. Rio (RJ),
1979;
(6). André Luiz (Espírito) Mecanismos da Mediunidade,
cap. X, Psicogr. F. C. Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB. Rio
de Janeiro (RJ), 1973;
(7). Gabriel Delanne, A Evolução Anímica, 4a. Ed., cap. V,
Edit. FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1976;

Nota Final: Glossário de Termos utilizados por André Luiz:


Anfitérios: mamíferos fósseis, aplacentários (tipo
masurpiais);

85
Evolução do Princípio Inteligente

Antropóides: mamíferos; macacos sem cauda, chipanzé,


gorila;
Cefalópodes: moluscos marinhos (lula, polvos etc.);
Celenterados: animais marinhos (medusas, corais, pólipos
etc.);
Cistídios: fósseis da era paleozoica, atuais equinodermos;
Dromatérios: répteis carnívoros do período triássico;
Equinodermos: animais marinhos com esqueleto (ouriço);
Espongiários: animais poríferos primitivos (esponjas
marinhas);
Foraminíferos: animais revestidos de carapaça calcária
(corais);
Ganóides: espécie de peixes providos de escamas unidas;
Labirintodonte: réptil anfíbio (fóssil);
Lacertinos: subclasse de répteis: lagartos, camaleões;
Licopodiáceas: plantas de folhas sem lígulas (gramíneas);
Masurpiais: mamíferos; a fêmea tem masúrpio; canguru,
gambá;
Megatérios: mamífero grande, desdentado, do período
terciário;
Pitecantropóides: fóssil de animais entre o macaco e o
homem;
Pterossauros: réptil fóssil, voador, marinho
(cretáceo/triássico);
Proboscídeos: mamífero paquiderme, cabeça grande,
elefantes;
Radiolários: animais protozoários, marinhos, esféricos;
Teleósteos: classe de peixes dotados de esqueleto ósseo;
Trilobites: classe de artrópodes fósseis paleozoicos,
antecessores dos aracnídeos (aranhas, escorpiões etc.).

86
Evolução do Princípio Inteligente

9. Do Elo Perdido ao Homem


Os Espíritos, na Codificação, insistem na ideia de que
tudo se encadeia na Natureza, por liames que o homem
o não percebe, e que as coisas aparentemente mais
disparatadas têm pontos de contato que não podemos
compreender, no estado atual (LE. 604).

Diz o LE. 611, que: No momento em que o princípio


inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e
entra no período de humanidade, não tem mais relação
com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos
animais, como a árvore não é a semente. No homem,
somente existe do animal o corpo, as paixões que
nascem da influência do corpo e o instinto de
conservação inerente à matéria.

Os Espíritos dizem no LE, 607a. que o princípio


inteligente sofre uma transformação e se torna
Espírito. E nas questões 606 e 611, dizem também que a
inteligência do homem e a dos animais emanam de um
princípio único, mas no homem ela passou por uma
elaboração que o eleva sobre a dos brutos.

Que transformação é essa? Ela é realizada pelo próprio


princípio inteligente em razão de suas conquistas ao
longo de vivências multimilenares ou é uma
transformação feita por outrem na sua estrutura
perispiritual em função dos seus próprios direitos
adquiridos?

87
Evolução do Princípio Inteligente

Há de se convir que as respostas estão presas a duas


premissas fundamentais:

- Primeira: O corpo físico é reflexo do corpo espiritual


(Evolução em Dois Mundos, cap. II), e isto é válido
para todos os seres vivos. Quem define a espécie,
portanto, é o corpo espiritual e não a base genética dos
pais, que fornece o corpo físico, segundo a lei de
hereditariedade.

- Segunda: A evolução de cada um é resultante dos


esforços individuais, mas cada um depende de outros
para sua própria evolução. Ninguém evolui sozinho,
portanto o nascer e o renascer dependem de outros,
tanto da esfera física quanto da espiritual (Lei da
Sociedade, LE. 766 a 775).

A Codificação nada esclarece sobre esta transformação:


onde ocorre e como e o que se processa? André Luiz
fala de Intervenções Espirituais, no mecanismo da
palavra, em (1):

É assim que, atingindo os alicerces da Humanidade, o


corpo espiritual do homem infraprimitivo demora-se
longo tempo em regiões espaciais próprias, sob
assistência dos Instrutores do Espírito, recebendo
intervenções sutis nos petrechos da fonação, para que
a palavra articulada pudesse assinalar novo ciclo de
progresso.

Esta transformação do corpo espiritual nas regiões


espaciais se nos afigura como o elo perdido, ainda

88
Evolução do Princípio Inteligente

não descoberto pelo cientista terreno, como que a


justificar o momento em que o macaco desceu da
árvore para se tornar homem.

Emmanuel em (2), escrevendo a respeito da grande


transição para os hominídeos diz que somos compelidos
a esclarecer que não houve propriamente uma descida
da árvore, no início da evolução humana, porquanto
extraordinárias experiências foram realizadas pelos
mensageiros do invisível, imprimindo novas expressões
biológicas ao homem do sílex. Comenta que nas hostes
do invisível operaram uma definitiva transição no
corpo perispíritual preexistente, dos homens primitivos,
nas regiões siderais e em certos intervalos de suas
reencarnações.

Aureo (Espírito), em (3) menciona que existem na


Espiritualidade grandes instituições, extremamente
especializadas, em verdadeiras cidades espirituais,
para onde são encaminhadas as mônadas, ou princípios
espirituais, que, tendo atingido o máximo grau
evolutivo suscetível de ser obtido nos reinos inferiores
da Natureza, fazem jus ao ingresso no reino das
inteligências conscientes. Complementa que se
assemelham a Maternidades Espirituais, onde os
princípios inteligentes são submetidos a tratamentos que
ultrapassam a compreensão dos homens encarnados.

No capitulo 12, relativo à Gênese Orgânica e Gênese


Perispíritual, trataremos desta questão com mais
profundidade. Por ora, pode-se dizer que a nova
estrutura foi realizada na esfera espiritual e esclareceu

89
Evolução do Princípio Inteligente

definitivamente, do que se tratava, de onde e como se


processava aquela transformação que os Espíritos
mencionaram na questão 607a, do LE.

Assim, ficamos sabendo que o corpo espiritual ou


períspirito da espécie anterior, molde do corpo físico e
definidor da espécie dos seres vivos, foi adaptado ao da
espécie humana, ainda não existente na terra, para a sua
primeira encarnação no reino hominal. Isto não quer
dizer que o princípio espiritual ficou mais inteligente
ou deu um salto no seu progresso evolutivo, mas sim
que aquela alma, por seus méritos anteriores, recebeu
melhorias em sua vestimenta perispiritual para poder
laborar e progredir em outra espécie mais evoluída.

Esta primeira encarnação se deu nos primatas mais


evoluídos dentro da espécie dos seres vivos da terra
(dado que a espécie humana não existia neste mundo) e
que a transformação ocorrida no corpo espiritual fez
surgir, como consequência, a mutação do corpo físico
do primata, descoberta pelos homens, dando origem à
nova espécie humana.

Escreveu Kardec em O Céu e o Inferno (IV, 3), que


quanto mais próximo do estado primitivo, mais material
é o homem.

No que concerne à análise dos fósseis descobertos pelos


cientistas e antropólogos, mostrando a evolução desde
os pongídeos até o Homo Sapiens, num período de mais
de 10 milhões de anos, passando pelo Australopithecus,
Homo Habilis, Homo Erectus e outros, evidencia que o

90
Evolução do Princípio Inteligente

elo perdido está fora da Terra. Este anel completa a


cadeia da espécie humana que caminhou
paulatinamente, aprimorando sua linhagem, desde seu
corpo mais material e primitivo até sua organização
mais sutil nos dias de hoje, como resultado de constante
evolução da alma e consequentemente de seu períspirito
estruturando o corpo. Como parte deste estudo,
(surgimento do homem na terra), disseram os Espíritos:

- LE. 607a.: É então que começa para ele o período de


humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a
distinção do bem do mal e a responsabilidade dos seus
atos.

- LE. 607b.: A Terra não é o ponto de partida da


primeira encarnação humana. O período de
humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais
inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e
poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início
humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é
frequente e seria antes uma exceção.

Esta última afirmativa, a meu ver carece de dois


complementos:

- a). Ela quis dizer que não é regra que a alma de um


primata existente na terra passe à condição humana,
diretamente aqui na terra, passando para a espécie
humana, após as necessárias transformações de seu
períspirito para mudar de espécie;

91
Evolução do Princípio Inteligente

- b). Liga-se também ao problema do elo perdido,


decorrente de um intervalo evolutivo, vivido em outros
mundos, justificando as conquistas do princípio
espiritual que vão além das do primata e que estão
aquém das do homem, dentro dessas primeiras
encarnações humanas.

Como complemento, ainda, anotamos o que Kardec já


havia perguntado aos Espíritos, anteriormente, na
questão LE. 172:

- Pergunta: Nossas diferentes existências corpóreas se


passam todas na Terra?
- Resposta: Não, mas nos diferentes mundos. As deste
Globo não são as primeiras nem as últimas, porém as
mais materiais e distantes da perfeição.

Com estas informações melhor se pode visualizar o elo


perdido da cadeia evolutiva, nos estudos do homem
terreno.

Ao ensejo, lembro ao leitor dois outros ensinamentos;

- Primeiro o de Jesus: Ele nos deixou: No dia do


julgamento, será dado a cada um segundo suas
obras, cumprindo-se os desígnios e sabedoria de Deus,
como estão escrito no LE. 123: sem perdão das faltas ou
de milagres que alteram a Lei Divina, mas sempre pelas
próprias conquistas individuais, pois somente assim,
terão o mérito de seu trabalho.

92
Evolução do Princípio Inteligente

- Segundo o de Santo Agostinho (Espírito), que em (4)


disse:

Se alguém pudesse seguir um mundo em suas diversas


fases, desde o instante em que se aglomeraram os
primeiros átomos da sua constituição, o veria percorrer
uma escala incessantemente progressiva, mas em graus
insensíveis para cada geração, e oferecer aos seus
habitantes uma morada mais agradável, à medida que
eles avançam na senda do progresso.

O avanço progressivo dos seres vivos, em diferentes


espécies, não ocorreu por acaso, por simples mutação
genética ou seleção natural, pois, o comando da
evolução das espécies estava na esfera espiritual, sob a
supervisão de Jesus e não à mercê de forças decorrentes
da matéria.

A lei divina foi a marca de cada mudança; os Espíritos


Superiores, arquitetos do grande transição do vírus ao
homem, construíram nossa morada e nossa família,
seguindo as leis imutáveis do Eterno. Esta grande
transição foi feita e supervisionada por estes arquitetos
da Vida Espiritual, através de sucessivas e progressivas
modificações do corpo espiritual de cada espécie.

Este período, em torno de um bilhão e meio de anos,


chamado período embrionário ou de germinação, para o
surgimento do homem na Terra, somente e apenas há
dois milhões de anos, assemelha-se ao período de
gestação em que o feto, passa na barriga da mãe,

93
Evolução do Princípio Inteligente

totalmente dependente, até nascer para a vida, depois de


sofrer uma transformação em seu corpo.

Estas considerações são lógica, racionais e bastantes


para aqueles que aceitam a pluralidade das existências,
mas não são para os dogmáticos da unicidade e, menos
ainda, para os cientistas que não admitem conceitos
espirituais.

Nesta fase, (LE. 189), os homens não gozam da


plenitude de suas faculdades, pois não têm mais do que
uma existência instintiva, possuindo apenas a
consciência de si mesmos e de seus atos. Só pouco a
pouco a inteligência se desenvolve.

É assim que, paulatinamente, surge a influência do


espírito sobre a matéria e começa a crescer o seu
predomínio sobre a natureza animal, como vimos no
capítulo 4.

_____________________________

(1). André Luiz (Espírito), Evolução em Dois Mundos, cap. X,


Psicogr. F. C. Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB. Rio (RJ), 1979;
(2). Emmanuel (Espírito), A Caminho da Luz, cap. II, Psicografia
F.C.Xavier, Edição FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1975;
(3). Aureo (Espírito), Universo e Vida, cap.IV, Psicogr. Hernani
T.Sant’Anna, Edição FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1980;
(4). Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.III,
Editora LAKE, São Paulo (SP), 1981.

94
Evolução do Princípio Inteligente

10. O Caminho: Das Cavernas


à Família Divina
A primeira morada do homem/espírito foi a caverna e a
última morada do Espírito será a Família Divina, como
Filho de Deus.

Estas palavras precisam ser esclarecidas. O espírito é


eterno, teve um princípio ao ser criado, mas não terá
fim. O Espírito encarnado é a alma do homem e o
espírito desencarnado é chamado de Espírito. Foi por
isto que escrevi anteriormente que todo Espírito é um
espírito, mas nem todo espírito é um Espírito. São
simples questões de vivência na estrada da evolução,
ora de um lado, ora do outro lado da vida. Para fins
didáticos, todavia, o espírito, quando ingressa no reino
hominal, é classificado como Espírito, para distingui-lo
da alma dos seres mais inferiores. E, ainda, para melhor
distinção, Kardec optou por chamar de Espírito, tão
somente o Espírito desencarnado. Mas, tanto como
Homem, quanto como Espírito, o espírito caminha sem
detença para frente, desde suas primeiras existências
instintivas, quando começou a ter a consciência de si
mesmo, até atingir, pelas asas do amor e do saber, os
níveis mais elevados da Espiritualidade Superior, como
Espírito é Puro.

Desta forma, o espírito em sua caminhada, seja como


homem, seja como Espírito, age sempre por seu livre
arbítrio e realiza suas conquistas, mas também assume a
responsabilidade por seus atos: Os acertos merecem

95
Evolução do Princípio Inteligente

créditos, favorecendo sua evolução, mas os erros, por


ofensa à Lei divina, como pecados, devem ser
resgatados até o último ceitil, como disse Jesus.

Os Espíritos dizem, e a lição vale para todos os


espíritos:

-a). No LE, 123, que: A sabedoria de Deus se encontra


na liberdade de escolha que concede a cada um, porque
assim cada um tem o mérito de suas obras.

-b). No ESE, cap. VI, item 8 que: A sabedoria humana


reside em duas palavras: o devotamento e a abnegação.
Tomai, pois, por divisa essas duas palavras,
devotamento e abnegação e sereis fortes, porque elas
resumem todos os deveres que a caridade e a humildade
vos impõem. O sentimento do dever cumprido vos dará
a tranquilidade de espírito e a resignação.

Estes dois ensinamentos valem como regra de evolução,


tanto para o espírito que vive como Homem
(encarnado), como para o que vive como Espírito
(desencarnado).

Na questão, LE 115 e 129, está dito que os espíritos


(Espíritos ou Homens) adquirem o conhecimento da
verdade, passando pelas provas que Deus lhes impõe:
Uns aceitam estas provas com submissão e chegam
mais rapidamente ao seu destino, outros não conseguem
sofrê-las sem lamentação e assim permanecem por suas
culpas distanciados da perfeição e da felicidade
prometida.

96
Evolução do Princípio Inteligente

Diferentes Ordens de Espíritos


Kardec perguntou (LE, 96):

- P. Os Espíritos são todos iguais, ou existe entre eles


alguma hierarquia?
- R, São de diferentes ordens, segundo o grau de
perfeição a que tenham chegado.

Para fins didáticos dividiram este graus de perfeição em


três ordens e subdividiram as ordens em diferentes
classes, sem contudo guardarem limites bem definidos,
a não ser pelo conjunto das ordens ou das classes.

Kardec disse que a classificação dos Espíritos funda-se


no seu grau de desenvolvimento, nas qualidades por
eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se
livraram (LE. 100).

Como premissas deste estudo, tomemos alguns pontos:

- a). Os Espíritos afirmam que a Natureza não dá saltos


e que a evolução do princípio inteligente, por sua dupla
natureza, a animal (pelo corpo) e espiritual (pela alma),
é incessante e insensível, não apenas pela dificuldade de
se libertar dos prazeres e paixões da vida material, mas
também pela dificuldade em discernir e compreender,
por causa de sua ignorância, o que é ou onde está a
verdade, isto é, optar pelo caminho certo ou pelo errado;

- b). Jesus disse: Eu sou o caminho da verdade (das Leis


de Deus) e da vida (eterna, onde habitam os Espíritos

97
Evolução do Princípio Inteligente

Puros). Aquele que quiser conquistar esta vida eterna


pratique meus ensinamentos, tome sua cruz e siga-me;

- c) A divisão dos Espíritos em três ordens está


diretamente associada à influência da natureza animal
sobre a espiritual, conforme estudo exposto no capítulo
4 – Criação e Evolução do Princípio Inteligente.

Tendo em vista estas premissas, simbolizei estas ordens


e as classes em que se subdivide, associando-as àquele
gráfico relativo à da evolução integral do espírito.

Ordens e Classes dos Espíritos


- Terceira Ordem: Espíritos Imperfeitos

Caracteres Gerais (LC. 101) – Predominância da


matéria sobre o espírito. Propensão ao mal. Ignorância,
orgulho, egoísmo e todas as más paixões consequentes.
Têm intuição de Deus, mas não o compreendem.
Subdivide em cinco classes:

- 10a. Classe (LE. 102): Espíritos Impuros – Como


desencarnados são inclinados ao mal e o fazem objeto
de suas preocupações. São pérfidos, insuflam a
discórdia e a desconfiança. Alguns povos os
transformaram em divindades malfazejas, outros os
designam como demônios, gênios maus, Espíritos do
mal.

98
Evolução do Princípio Inteligente

Como encarnados, inclinam-se a todos os vícios e


paixões degradantes: sensualidade, crueldade,
hipocrisia, avareza etc.;

- 9a. Classe (LE. 103): Espíritos Levianos – São


ignorantes, malignos, inconsequentes e zombeteiros;

- 8a. Classe (LE. 104): Espíritos Pseudo-Sábios – Seus


conhecimentos são bastante amplos, mas julgam saber
mais do que realmente sabem;

- 7a. Classe (LE. 105): Espíritos Neutros – Nem são


bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus
para fazerem o mal.

- 6a. Classe (LE. 106): Espíritos Batedores ou


Perturbadores

É formada pelo conjunto dos Espíritos que manifestam


sua presença por efeitos físicos, batidas, movimentos de
objetos etc.
Parece que estão mais apegados à matéria do que os
outros.

- Segunda Ordem: Espíritos Bons

Caracteres Gerais (LC. 107) – Predomínio do espírito


sobre a matéria; desejo do bem... Uns possuem a
ciência, outros a sabedoria e a bondade; os mais
adiantados juntam ao seu saber as qualidade morais.
Subdivide em quatro classes:

99
Evolução do Princípio Inteligente

- 5a. Classe (LE. 108) – Espíritos Benévolos –Sua


qualidade dominante é a bondade. Seu progresso
realizou-se mais no sentido moral que no intelectual.

- 4a. Classe (LE. 109) – Espíritos Sábios – O que os


distingue é a amplitude dos conhecimentos. Preocupam-
se menos com as questões morais do que com as
científicas.

- 3a. Classe (LE. 110) – Espíritos Prudentes –


Caracterizam-se por qualidades morais e intelectuais de
ordem mais elevada. Julgam com precisão os homens e
as coisas.

- 2a. Classe (LE. 111) – Espíritos Superiores –


Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Sua
linguagem transpira benevolência; é sempre digna,
elevada e sublime.

- Primeira Ordem: Espíritos Puros

Caracteres Gerais (LC. 112) – Nenhuma influência da


matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, em
relação aos Espíritos das outras ordens. É formada de
apenas uma classe.

1a. Classe (LC. 113) – Formada pelos Espíritos Puros,


isto é, aqueles que despojaram de todas as impurezas da
matéria. Não estando mais sujeitos à reencarnação em
corpos perecíveis, vivem a vida eterna, que desfrutam
no seio de Deus. Pertencem à Família Divina e são
chamados de Filhos de Deus.

100
Evolução do Princípio Inteligente

Progressão dos Espíritos – Gráfico


Representativo
Para efeito de análise, pesquisa e compreensão da
progressão dos espíritos, desde sua criação até sua
chegada à Família Divina, como Espírito Puro,
associou-se esta classificação das três ordens e classes
ao gráfico da evolução integral do princípio inteligente,
vivendo como homem e submetido a sua dupla
natureza, a material e a espiritual, como revela o LE.
605, cujo estudo foi feito no capítulo 4 deste livro. O
gráfico registra as citações do L.E, relativas a cada um
dos principais pontos de conexão entre os dois estudos,
desta vez, porém, sem glossário.

O amigo leitor pode observar que para cada um


daqueles cinco pontos registrados, no gráfico, relativos
à evolução do princípiointeligente, se associam as linhas
mestras da divisão das três ordens adotadas pelos
Espíritos. Revela também a relação direta da influência
da natureza animal sobre o espírito, especialmente da
terceira ordem, e o predomínio do espirito sobre a
matéria na segunda ordem.

101
Evolução do Princípio Inteligente

Peço ao amigo leitor conferir esse gráfico com a


Parábola: A Casa do Pai se assemelha ao cone perfeito e
gráfico respectivo no Cap. III, 2ª Parte do livro: De
quem é a culpa e Diálogos Secretos, desta editora.

102
Evolução do Princípio Inteligente

A primeira ordem, a dos Espíritos Puros, mostra,


nitidamente, sua total libertação da influência da
natureza animal e a sua superioridade sobre todos os
demais princípios espirituais, classificados nos estágios
inferiores da evolução.
A duração da caminhada da alma, desde sua primeira
morada, como homem primitivo das cavernas, até sua
chegada à Família Divina, como Espírito Puro, foi
nitidamente delineada por Allan Kardec, em A Gênese
(1), onde escreveu:

À medida que o Espírito moralmente, ele se


desmaterializa, isto é, subtrai-se à influência da
matéria, purifica-se; sua vida espiritualiza-se, suas
faculdades e sua percepção ampliam-se; sua felicidade
está na razão do progresso realizado. Mas, como ele
age em virtude de seu livre arbítrio, pode por
negligência ou má vontade, retardar seu progresso; por
consequência, prolonga a duração de suas encarnações
materiais, as quais então se tornam para ele uma
punição, pois que, por sua culpa, permanece nas
fileiras inferiores, obrigado a recomeçar a mesma
tarefa. Depende, pois, do Espírito, abreviar a duração
de suas encarnações, mediante seu trabalho de
purificação sobre si mesmo.

André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade, cap. XI


(2), por sua vez, relata a importância da vontade do
espírito para seu aperfeiçoamento, dado que as
modificações da escolha acompanham a ascensão do
conhecimento. Por isso disse que a vontade de prazer e

103
Evolução do Princípio Inteligente

a vontade de domínio no curso de largos séculos,


convertem-se em prazer de aperfeiçoar e servir,
acompanhados de autodomínio.

Por decorrência, diz ele, no início de sua caminhada,


sob o domínio da natureza animal (influência da
matéria), o princípio espiritual encarnado, tem sua vida
adstrita aos círculos augustos do primitivismo; e sua a
vontade, agarrada ao instinto de preservação, o que o
torna um inveterado monomaníaco do prazer inferior.
Em complemento a esta informação, André Luiz, em
Evolução em Dois Mundos, cap. XII (3), falando da
alma e desencarnação, escreve que, por causa de
influência da natureza animal, o princípio inteligente,
não tem outro pensamento senão o de ressurgir na
própria taba e renascer na carne, cujas exalações lhe
magnetizam a alma, constituem aspiração incessante do
selvagem desencarnado. Estabelece-se nele o
monoideísmo, pelo qual os outros desejos se lhe
esmaecem no íntimo.

_________________________
(1). Allan Kardec, A Gênese, os Milagres e as Predições, cap. XI,
item 26; Editora LAKE, 12a. Ed., São Paulo (SP), 1977;

(2). André Luiz (Espírito) Mecanismos da Mediunidade, cap. X,


Psicografia de F. C. Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB. Rio de
Janeiro (RJ), 1973;
(3). André Luiz (Espírito) Evolução em Dois Mundos, cap. IV,
Psicografia de F. C. Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB. Rio (RJ),
1979;

104
Evolução do Princípio Inteligente

11. Perispírito e Corpo


Espiritual

A noção de períspirito tem trazido aos estudiosos da


Doutrina Espírita alguma dificuldade de entendimento,
dadas às diversas informações dos Espíritos e de
algumas aparentes contradições existentes (6) - Nota
Final.

A principal é a de que no períspirito estão gravadas as


informações e memória das vidas passadas, o que
aparentemente, é incompatível com O Livro dos
Espíritos,

No LE. 187 está escrito: Ao passar de um mundo para


outro mundo, o Espírito se reveste de matéria própria
de cada um, com mais rapidez que o relâmpago, e
O LE. 94 afirma que: Passando de um mundo para
outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de
roupa.

O corpo espiritual, de que fala São Paulo, em suas


epístolas, teve na história uma dezena de sinônimos.
Allan Kardec optou por chamá-lo de Perispírito, como o
envoltório do Espírito.

Outros estudiosos, inclusive, André Luiz (Espírito) fala


da existência de um Corpo Mental, como envoltório da
mente do Espírito.

105
Evolução do Princípio Inteligente

Ainda outros dizem que o Espírito tem outro corpo,


chamado de Duplo Etéreo ou Corpo Etéreo.

Como se verifica, os problemas de registro da memória,


da mudança de um mundo para outro, do molde como
espécie ou, ainda, do significado dos diferentes nomes
precisam ser examinados à luz da razão.

Neste capítulo, o objetivo é encontrar as soluções destes


problemas, associando os ensinos dos Espíritos na
Codificação, com os esclarecimentos advindos depois,
especialmente com André Luiz e Emmanuel (Espíritos)
pelas mãos de F.C. Xavier.

Conceito de Perispírito
A conceituação de períspirito é um tanto abrangente e
dá origem a interpretações mais ou menos elásticas,
razão por que o seu conceito, o de corpo espiritual, a
localização dos centros de força e, ainda, a sede da
memória, em si, deixam margem a dúvidas para os
estudantes. Em seu resumo, Kardec escreveu no

LE. 257: O períspirito é o liame que une o Espírito à


matéria do corpo; é tomado do meio ambiente, do fluido
universal; contém ao mesmo tempo eletricidade, fluido
magnético, e até um certo ponto, a própria matéria
inerte. Poderíamos dizer que é a quintessência da
matéria. É o princípio da vida orgânica, mas não a da
vida intelectual, porque esta pertence ao Espírito.
Para entender melhor esta conceituação de períspirito,
precisamos distinguir primeiramente alguns conceitos

106
Evolução do Princípio Inteligente

nela contidos, como espírito, matéria, fluido universal e


fluido vital, conquanto todos eles já tenham sido
mencionados anteriormente.
Examinemos por parte. Na questão LE. 27, Kardec
perguntou:

- Pergunta: Haveria, assim, dois elementos gerais no


Universo; a matéria e o espírito?

- Resposta: Sim, e acima de ambos, Deus, o Criador, o


pai de todas as coisas. Essas três coisas são o princípio
de tudo o que existe, a trindade universal, mas ao
elemento material é necessário ajuntar o fluido
universal, que exerce o papel de intermediário entre o
espírito e a matéria, propriamente dita, demasiado
grosseira para que o espírito possa exercer alguma
ação sobre ela (grifo do autor).

Cientista há que contestam o conceito de fluido,


alegando que melhor termo seria energia; outros
discutem a diferença entre fluido (que é matéria) e
matéria propriamente dita. Daí de entendimento entre os
homens, pois aplicamos à mesma coisa conceitos
diferentes. Há que se distinguir, pois, neste estudo
alguns conceitos específicos, quando se compara a
informação da ciência espírita com a acadêmica. Assim,
o fluido universal ou princípio da matéria refere-se à
energia fundamental e o elemento material dos espíritas
corresponde ao átomo ou às partículas atômicas.

107
Evolução do Princípio Inteligente

A ideia de um fluido que exerce o papel de


intermediário entre o espírito e a matéria pode ser
representada graficamente como se vê a seguir:

Esta representação, baseada no LE 257, modifica-se,


entretanto, quando se lê a resposta sobre o fluido vital:

- a). No LE. 63: A vida é um efeito produzido pela ação


de um agente sobre a matéria. E este agente aqui é o
fluido vital, que transforma a matéria inorgânica em
orgânica;

- b). No LE. 65: Pergunta: O princípio vital reside num


dos corpos que conhecemos? Resposta: Ele tem como

108
Evolução do Princípio Inteligente

fonte o fluido universal... É o intermediário, o liame


entre o espírito e a matéria.
- c). No LE. 70 complementa Kardec, em seu
comentário, que: Os órgãos estão, por assim dizer,
impregnados do fluido vital. E

- d). No LE. 140a., diz ainda que a alma age por meio
dos órgãos, e estes são animados pelo fluido vital que
se reparte entre eles, e com mais abundância nos que
são os centros ou focos de movimentos.

De forma bastante rudimentar, podemos dizer que o


fluido vital é para a matéria animada o que o oxigênio é
para o nosso corpo. Sem absorvê-lo e assimilá-lo,
nossas células não teriam vida. Graficamente teremos
uma nova representação:

109
Evolução do Princípio Inteligente

É com esta ideia de complementação que devemos


considerar o princípio vital como parte integrante do
períspirito, consoante o LE. 257, quando afirma que o
períspirito é o princípio da vida orgânica, mas não o da
intelectual.

À primeira leitura poderiam parecer um tanto


contraditórios estes ensinos, face às afirmações contidas
nas questões:

- LE. 27: O fluido universal, que exerce o papel de


intermediário entre o espírito e a matéria;

- LE. 65: O princípio vital... é o intermediário, o liame


entre o espírito e a matéria;

- LE. 257: O períspirito é o liame que une o espírito e a


matéria do corpo.

São três coisas diferentes com a mesma função. Esta


aparente contradição desaparece se atentarmos para a
ideia de que tanto o princípio vital como o períspirito
são extraídos do fluido universal, isto é, são espécies do
mesmo gênero, tornando esclarecidas as afirmações.

Como complementos do conceito de períspirito, temos,


ainda, algumas perguntas e respostas que precisam ser
examinadas:

- a) LE 93:

110
Evolução do Princípio Inteligente

- Pergunta: O Espírito propriamente dito vive a


descoberto, ou pretendem alguns, é envolvido por
alguma substância?

- Resposta: O Espírito é envolvido por uma substância


que é vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira
para nós, suficientemente vaporosa, entretanto, para
que possa elevar-se na atmosfera, transportar-se para
onde quiser.

- b). LE. 94:

- Pergunta: De onde tira o Espírito o seu envoltório


semimaterial?

- Resposta: Do fluido universal de cada globo.

Escreveu, ainda, Allan Kardec, em a Gênese (1), cap.


XIV (Os Fluidos), item 7, que: O períspirito, ou corpo
fluídico dos Espíritos, é um dos produtos mais
importantes do fluido cósmico; é uma condensação
desse fluido em torno de um foco de inteligência ou
alma.

Desta forma, o principio inteligente ou espírito possui


um perispírito que pode ser representado graficamente,
como segue:

111
Evolução do Princípio Inteligente

Para melhor se compreender o fato de o fluido


perispiritual ser o traço de união entre o espírito e a
matéria, vamos buscar um importante subsídio, em a
Gênese, cap. XI, item 18, onde Kardec escreve:

Quando o Espírito deve encarnar num corpo humano,


em vias de formação, um laço fluídico, que nada mais é
senão uma expansão de seu períspirito, o liga ao
gérmen em cuja direção ele se sente atraído por uma
força irresistível, desde o momento da concepção. À
medida que o gérmen se desenvolve, firma-se o laço,
sob a influência do princípio vital material do gérmen,
o períspirito, que possui certas propriedades da
matéria, se une, molécula à molécula, ao corpo que o
forma, daí se dizer que o Espírito, por intermédio de seu
períspirito, de alguma forma toma raiz no gérmen,
como a planta na terra.

O gráfico, a seguir, é mais um complemento da


vinculação entre o corpo espiritual ou perispírito ao
corpo físico do homem.

112
Evolução do Princípio Inteligente

Na resposta à questão do LE. 141, ao se falarem da alma


do homem, os Espíritos disseram: A alma não está
encerrada no corpo, como o pássaro numa gaiola. Ela
irradia e se manifesta no exterior, como a luz através de
um globo de vidro ou como o som em redor de um
centro sonoro. É por isso que se pode dizer que ela é
externa, mas não como um envoltório (roupa) do corpo.

A alma (Espírito encarnado no homem) tem dois


envoltórios, um, sutil e leve, o primeiro, que chamas
períspirito, o outro, grosseiro, material e pesado, que é

113
Evolução do Princípio Inteligente

o corpo. A alma é o centro desses envoltórios, como a


amêndoa na casca, já o dissemos.
Desta maneira pode-se compreender mais nitidamente
porque Kardec disse no LE. 257, que durante a vida o
corpo recebe as impressões exteriores e as transmite ao
Espírito por intermédio do períspirito, que constitui,
provavelmente, o que se costuma chamar de fluido
nervoso.

Conceito de Duplo Etéro

André Luiz, em (2) nos diz: Com o auxilio do


supervisor, o médium foi convenientemente
exteriorizado. A princípio seu períspirito ou corpo
astral estava com os eflúvios vitais que asseguram o
equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos
aqueles, em seu conjunto, como sendo o duplo etéreo,
formado por emanações neuropsíquicas que pertencem
ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não
conseguem maior afastamento da organização terrestre,
destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao
instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora.

Destas palavras de André Luiz, anotamos:

- 1). Que o períspirito ou corpo astral é distinto do duplo


etéreo ou corpo etéreo e não cabe confundi-los;

- 2). Que o duplo etéreo é formado por emanações


neuropsíquicas do corpo físico, de onde emana o
ectoplasma;

114
Evolução do Princípio Inteligente

- 3). Que esses eflúvios vitais (emanações


neuropsíquicas) asseguram o equilíbrio entre o Espírito
e a matéria (corpo);

- 4). Que o duplo etéreo se desintegra após a morte


do corpo.

Compreende-se, então, que ao redor de nosso corpo


existe uma camada mais densa que o corpo espiritual e
mais sutil que o corpo material, funcionando como elo
entre o períspirito e a matéria. É nesta região pantanosa
que se fincam as raízes do períspirito no corpo físico.

A esta camada dos eflúvios vitais do organismo,


decorrentes da absorção e assimilação do fluído vital
pela matéria e consequentes emanações neuropsíquicas,
dá-se o nome de duplo etéreo, representando uma
região intermediária entre o Espírito e a matéria, o que
esclarece a resposta do LE. 65.

O gráfico a seguir, simboliza todo este conjunto de


informações:

115
Evolução do Princípio Inteligente

Um fato interessante a ser observado está na análise de


Kardec, (Gênese, cap. XI, item 18) ao dizer: A união do
perispírito e da matéria carnal, que se havia realizada
sob a influência do princípio vital do gérmen, quando
esse princípio cessa de agir em resultado da
desorganização do corpo, a união, que era mantida por
uma força atuante, cessa quando essa força cessa de
agir, então o Espírito se solta, molécula a molécula,

116
Evolução do Princípio Inteligente

como um dia se uniu, e o Espírito recupera sua


liberdade.
Este comentário está assentado no LE. 71, onde se diz
que a inteligência e a matéria são independentes, pois
um corpo pode viver (vida orgânica) sem a inteligência,
mas a inteligência (princípio inteligente) só pode
manifestar-se por meio dos órgãos materiais.

Em resumo de tudo o que foi dito até agora, temos:

1). A matéria inorgânica pela ação do princípio vital dá


origem à vida orgânica;

2). Da associação do Espírito ao embrião, temos a


emanação de eflúvios vitais que asseguram equilíbrio
entre a alma e o corpo;

3). A união do períspirito e da matéria carnal realiza-se


sob a influência do princípio vital do gérmen;

4). A camada dos eflúvios vitais decorrentes das


emanações neuropsíquicas do campo fisiológico,
densificando o perispírito na região, denomina-se duplo
etéreo;

5). O homem é formado por três partes essenciais: corpo


físico, alma e períspirito;

6). Durante a vida, o Espírito transmite o movimento


aos órgãos por meio do fluido intermediário
(perispírito);

117
Evolução do Princípio Inteligente

7). O corpo orgânico pode existir sem a alma, mas a


alma somente o abandona (rompendo os liames que a
prendem a ele), quando o princípio vital deixa de animar
o corpo;

8). Não é a partida do Espírito que causa a morte do


corpo, mas a morte do corpo que causa a partida do
Espírito;

9). Após a morte do corpo carnal, a matéria decompõe-


se, retornando ao pó e o fluido vital retorna à massa;

10). Se um corpo pode existir sem alma, uma alma, no


entanto, não pode habitar um corpo sem vida orgânica.

Com esta sequência de informações, podemos


compreender melhor o que é o períspirito e sua
fundamental importância para o entendimento do
conceito de vida na Doutrina Espírita, tanto para os
encarnados como para os desencarnados.

Conceito de Corpo Mental


Não podemos imaginar a criação do princípio
inteligente por Deus sem que, no mesmo instante, não
lhe tenha dado um corpo para agir. Pode-se dizer que
desde a criação, a alma, como princípio espiritual, foi
dotada de um corpo de relação, simples onde estivesse
gravada a Lei do Senhor. Esse corpo primitivo e
primeiro, pode-se afirmar, forma com a alma um ser
uno, simples e ignorante, designado mônada celeste.

118
Evolução do Princípio Inteligente

Em sua trajetória, na escalada da evolução, vai


adaptando-se aos diferentes mundos onde vive, com a
utilização de corpos complementares para sua relação
com os outros seres, seja na esfera espiritual, seja na
física.

A noção de períspirito torna-se mais complexa quando


se lê André Luiz e outros autores espirituais,
justificando os diferentes comportamentos da alma ao
passar de uma esfera vibratória para outra. Assim
temos:

- 1). Em (3), André Luiz fala do corpo mental, como um


envoltório sutil da mente, ainda não definido para nós
encarnados por falta de uma terminologia terrestre
adequada.

Escreve ele: Para definirmos, de alguma sorte, o corpo


espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele
não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o
corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o
corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe
preside a formação.

Ora, se o corpo mental é o envoltório da mente e preside


a formação do corpo espiritual, também é perispírito.

Então, pergunta-se: De quantas partes é formado o


perispírito? Como ele realmente se estrutura para a
relação da alma nos diferentes níveis de sua ação?

119
Evolução do Princípio Inteligente

- 2). Em Nosso Lar, cap. 36, André Luiz, como


Espírito, narra ter sonhado com a sua mãe, dizendo que
se sentia elevado para regiões sublimes e que sabia
perfeitamente que deixou o veículo inferior no
apartamento.

Ora, se deixou o veículo inferior no apartamento, que


veículo seria este? E com que corpo foi levado para
regiões mais elevadas? Evidentemente com um corpo
mais sutil ainda, e este podia ser o corpo mental.

- 3). Em Libertação (4), o mesmo autor nos fala de uma


segunda morte ao referir-se à morte do corpo
espiritual, como morre primeiro o corpo físico na
desencarnação terrena.

Diz, no cap. VI, em diálogo com seu Orientador:

Sabes, assim, que o vaso perispirítico é também


transformável e perecível, embora estruturado em tipo
de matéria mais rarefeita. Vistes companheiros que se
desfizeram dele, rumo a esferas superiores, cuja
grandeza por enquanto não nos é dado sondar, e,
observaste irmãos que se submeteram a operações
redutivas e desintegradoras dos elementos perispiríticos
para renascerem na carne terrestre.

- 4). A mesma ideia de um corpo mental além do corpo


espiritual nos transmite Áureo, em (5), ao dizer: Quando
a revolta se cristaliza no monoideísmo, onde as ideias
fixas funcionam como escoadouros de energias, em
excessivo dispêndio de forças vitais, pode o Espírito

120
Evolução do Princípio Inteligente

chegar facilmente à perda do psicossoma (corpo


espiritual), ovoidiando-se, caso em que se reveste tão só
da túnica energética mental, à maneira da semente em
regime de hibernação.

A respeito destes mesmos ovoides, André Luiz nos fala,


em Libertação, cap. VII: Os impiedosos adversários
prosseguiram na obra deplorável e, ainda mesmo
depois de perderem a organização perispirítica,
aderiram a ela, com os princípios de matéria mental em
que se revestem.

Desta maneira, amigo leitor, até o momento, pode-se


dizer que se conhecem quatro partes que formam o
corpo humano:

a) – corpo físico;

b) – corpo etéreo ou duplo etéreo;

c) – corpo espiritual e

d) – corpo mental ou envoltório sutil da mente.

Posso dizer, segundo estas considerações, que o


princípio inteligente desde sua primeira encarnação
como ser humano, sempre esteve ligado a estes corpos.
Assemelhando-se a uma simples semente que guarda
em si todas as qualificações da árvore, dos frutos e da
própria descendência, o espírito, ligado ao seu corpo
mental, foi assim, criado perfeito e traz gravado em si,
as Leis de Deus, bastando apenas a ele mesmo descobri-

121
Evolução do Princípio Inteligente

las para chegar também à perfeição, como Espírito,


Filho de Deus.

Notas:

(1). Allan Kardec, A Gênese, os Milagres e as


Predições, cap. XI, item 26; Editora LAKE, 12a. Ed.,
São Paulo (SP), 1977;

(2). André Luiz (Espírito) Nos Domínios da


Mediunidade, cap. II, Psicografia F. C. Xavier, Ed.
FEB. Rio de Janeiro (RJ), 1979;

(3). André Luiz (Espírito) Evolução em Dois Mundos,


cap. IV, Psicografia F. C. Xavier e W. Vieira, Ed. FEB.
Rio (RJ), 1979;

(4). André Luiz (Espírito) Libertação, cap. VI,


Psicografia de F. C. Xavier, Ed. FEB. Rio de Janeiro
(RJ), 1992;

(5). Áureo (Espírito), Universo e Vida, cap. V,


Psicografia de Hernani T.Sant’Anna, Edição FEB, Rio
de Janeiro (RJ), 1980;

(6). Nota Final: Em seu livro Perispírito e Corpo


Mental, este autor analisa com profundidade este tema,
argumentando que o conceito de corpo mental está
contido na Codificação, conquanto não claramente.

122
Evolução do Princípio Inteligente

12. Gênese Orgânica e


Perispiritual

Nos capítulos 3,4,5 e 6 já os conceitos ligados à vida da


matéria e da criação do princípio inteligente foram
estudados exaustivamente.

Vimos que os cientistas por meio de tecnologias


avançadas como as existentes no CERN têm realizado
notáveis descobertas. Um exemplo foi a comprovação
do bóson de Higgs, chamado de partícula de Deus, que
caracteriza a massa atômica, na formação da matéria.

Vimos também que os estudos, desde Oparin,


principalmente, e depois com Lamarck e Darwin até as
pesquisas mais adiantadas da genética, vêm explicando
não apenas a origem da matéria viva, mas também a
evolução das espécies dos seres vivos, principalmente
depois da descoberta do genoma (estrutura genética dos
seres vivos).

Gênese Orgânica

Dizem os cientistas que a origem da vida e a evolução


dos seres vivos se deu através de mutações, combinação
e recombinações genéticas, ao acaso, por seleção natural
e decorrentes de fatores constitutivos do meio ambiente
em que vivem.

123
Evolução do Princípio Inteligente

Foi por isto que Oparin escreveu (1) e, depois dele,


muitos outros confirmaram seu pensamento de que a
vida não é mais que uma forma particular de existência
da matéria, forma de existência cuja origem e
destruição obedecem a leis determinadas, ou que o
materialismo, baseando-se em fatos derivados das
ciências naturais, confirma que a vida, como todo o
resto do mundo, é de natureza material e não necessita,
para ser compreendido, de qualquer espécie de origem
espiritual inacessível aos meios experimentais.

Os estudos científicos revelam na gênese do corpo dos


seres vivos o aumento da capacidade craniana, desde os
seres mais primitivos até o homo sapiens.

Os livros e a Internet trazem muitas informações a


respeito desta evolução humana, com estudos
pormenorizados, seja da capacidade craniana, das
dentições e de outros dados.

Repito aqui as anotações das edições anteriores deste


livro, pois a meu ver nada de significativo foi
acrescentado. Relatou, por exemplo, Gabriel Delanne
(2) que nos vertebrados, se tomarmos sempre como base
o desenvolvimento do sistema nervoso e mais
particularmente do cérebro, como criterium da
inteligência, veremos, segundo Leuret, que o encéfalo,
tomado como unidade, está em relação ao peso do
corpo a seguinte proporção:

1. peixes – 1 está para 5.668;


2. répteis – 1 está para 1.321;

124
Evolução do Princípio Inteligente

3. pássaros – 1 está para 212;


4. mamíferos – 1 está para 186.

Esta análise, mais antiga e baseada no peso dos corpos é


significativa, porém não tão científica, segundo os
termos atuais.

No mesmo sentido pode-se examinar o aumento da


capacidade craniana dos mamíferos superiores, a partir
dos pongídeos, (antropoides da família do orangotango,
gorila, chipanzé), aos hominídeos Australopthecus
Africanus, considerado por alguns antropólogos como o
primeiro ser da espécie humana, conquanto outros veem
como tal, o Homo Habilis. Seguem a evolução, o Homo
Erectus, depois o Homo Sapiens.

Muitas outras descobertas ocorreram na busca do elo


perdido.

O quadro seguinte mostra bem esta evolução. Foi


extraído do livro Introdução à Evolução, cap. 12, de
Paul Amos Moody, e Os Estágios da Evolução
Humana, cap. 9 e 12 de C. Loring Brace.

125
Evolução do Princípio Inteligente

Observando-se os dados, vê-se o crescimento da


capacidade craniana, provavelmente como arquivo dos
conhecimentos adquiridos. A partir destas observações,
os antropólogos formularam ilações para conceber
artisticamente os diferentes estágios da evolução
humana, como se observa nos desenhos apresentados na
página seguinte, constantes do livro de Loring Brace.

Não se pode, evidentemente, considerar o estudo do


princípio inteligente e sua evolução orgânica de forma
estanque, como se estivessem em degraus
absolutamente iguais, tanto os reinos vegetal, como
animal ou humano, porquanto, amplos são os níveis de
cada ser na escala evolutiva, embora englobados no
mesmo reino ou espécie.

Estas são as considerações dos homens de ciência, ao


considerarem que a evolução das espécies decorre
unicamente por circunstâncias da seleção natural,
mutações genéticas e obras do acaso. Todavia, outra é a
análise da ciência espírita, apoiada em fatos
experimentais comprovados.

126
Evolução do Princípio Inteligente

127
Evolução do Princípio Inteligente

Gênese Perispíritual

Em última analise, a gênese dos corpos dos seres vivos,


segundo os homens de ciência, é toda ela decorrente do
acaso, por forças da natureza e sem intervenção da alma
ou de qualquer ser espiritual.

Justificam a memoria e a inteligência como faculdades


dos genes cromossômicos como se fossem eles os
verdadeiros princípios inteligentes que sustentam a
dignidade humana. Não aceitam senão fatos
comprovados e dispensam informações de testemunho
individual, como os da existência de Deus, da alma ou
de qualquer ser espiritual.

Cabe a cada estudante das coisas de vida e dos seres


vivos optar entre as três alternativas, como visto no
cap.5. (criação e evolução dos seres vivos, segundo a
ciência, da unicidade ou da pluralidade da existências),
seguindo pela crença, discernimento intuitivo ou
racional o ensinamento que melhor satisfaz os anseios
de sua vida.

Todos aqueles que acreditam na existência de Deus e da


alma, tem outra visão dessa evolução dos seres vivos.

Alguns acreditam que Deus os tenha criado cada um


segundo sua espécie, e assim nascem, crescem, vivem e
morrem, em apenas uma existência, como ensina o
dogma da Igreja Romana, de acordo com as leis naturais
da reprodução e da hereditariedade,

128
Evolução do Princípio Inteligente

Outros, todavia, aceitando os ensinos dos Espíritos


Superiores, codificados por Allan Kardec, aceitam que a
alma evolui através das espécies, associada à evolução
dos corpos.

Desta forma se entrelaçam a gênese dos corpos e


perispiritual. Para isso, necessária se faz a presença de
um novo elemento que as duas corrente anteriores de
pensamento não consideram.

Trata do elo que liga a alma ao corpo físico, o


períspirito, que atua como o molde que estrutura a
geração das espécies, sob o comando dos Espíritos
Superiores e da própria alma, por suas conquistas
individuais.

Intervenções Espirituais

Fala André Luiz (Espírito), em seu livro Evolução em


Dois Mundos (3), a respeito destas intervenções, no
períspirito dos princípios inteligentes, realizadas na
esfera dos Espíritos.

Diz ele em alguns capítulos:

- 1). Cap. III – Elos Desconhecidos da Evolução

O princípio divino... sofre constantes modificações nos


dois planos em que se manifesta, razão pela qual
variados elos da evolução fogem à pesquisa dos
naturalistas, por representarem estágios da consciência
fragmentária fora do campo carnal propriamente dito,

129
Evolução do Princípio Inteligente

nas regiões extrafísicas, em que essa mesma


consciência incompleta prossegue elaborando o seu
veículo sutil, então classificado como protoforma
humana, correspondente ao grau evolutivo em que se
encontra.

- 2). Cap. VII – Principio Inteligente e Hereditariedade

Sabemos que os Arquitetos Espirituais, entrosados à


Supervisão Celeste, gastaram longos séculos
preparando as células que serviriam de base ao reino
vegetal, combinando nucleoproteínas a glúcides e a
outros elementos primordiais, a fim de que se
estabelecesse um nível seguro de forças constantes,
entre a bagagem do núcleo e do citoplasma.

- 3). Cap.X – Intervenções Espirituais

É assim que, atingindo os alicerces da humanidade, o


corpo espiritual do homem infra primitivo demora-se
longo templo em regiões espaciais próprias, sob a
assistência dos Instrutores do Espírito, recebendo
intervenções sutis nos petrechos da fonação para que a
palavra articuladas pudesse assinalar novo ciclo de
progresso.

Complementa, ainda, André Luiz, neste mesmo


capítulo:

A laringe... sofre, nas mãos sábias dos Condutores


Espirituais, à maneira de um órgão precioso entre os

130
Evolução do Princípio Inteligente

dedos de cirurgiões exímios no serviço de plástica,


delicadas operações no curso dos séculos.

Como se observa, o cientista nunca vai encontrar, na


terra, o elo perdido e nem, verdadeiramente, as razões
que justifiquem as mutações registradas, que são efeitos
de intervenções do molde do corpo físico e não
decorrentes de erros genéticos ocorridos ao acaso ou por
influência do meio ambiente.

Em conclusão, pode-se afirmar, com segurança, que o


Espiritismo não se opõe à teoria da evolução das
espécies, mas sim às causas determinantes do
surgimento destas espécies. Enquanto para os cientistas
as mutações são as causas da mudança, para a Doutrina
Espírita a mudança da espécie processa-se no mundo
espiritual. Consequentemente, as mutações do corpo
físico são efeitos de modificações realizadas no corpo
espiritual, na esfera extrafísica, e, como tais, as
verdadeiras causas das variações.

Diversos são os fatores contidos nos ensinamentos dos


Espíritos que justificam esta assertiva:

1). O princípio inteligente é ativo e age sobre a matéria,


que é passiva, como diz o princípio latino: Mens agitat
molem;

2). Os Espíritos não podem ficar subordinados a


condições físicas ocasionais que determinem mudanças
nas espécies, embora seja válida a influência do meio
sobre o organismo;

131
Evolução do Princípio Inteligente

3). Quem determina a mudança para passar de uma


espécie a outra são os Diretores do mundo espiritual, na
medida exata das conquistas realizadas pelos alunos.
Em nenhuma escola é o aluno que se autopromove.

4). Uma eventual alteração genética provocada por


radiação, não poderá afetar a organização do períspirito
do indivíduo, nem sua espécie, senão simples desvios
que provoquem doenças hereditárias decorrentes de
genes alterados.

__________________________
(1). A. I. Oparin, Gênese e Evolução Inicial da Vida na
Terra, Edição Livros do Brasil, Lisboa (Portugal), 1968;
(2). Gabriel Delanne, A Evolução Anímica, 4a. Ed., cap. III,
Edit. FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1976;
(3). André Luiz (Espírito) Evolução em Dois Mundos,
Psicografia F. C. Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB. Rio (RJ),
1979;

132
Evolução do Princípio Inteligente

13. Genealogia do Espírito


Quando Emmanuel (1) disse que o grande problema que
implica o drama da evolução anímica torna-se um
assunto obrigatório, e para todos os dias, por certo
desejava que os estudiosos interessados na gênese dos
corpos dos seres vivos intensificassem as pesquisas a
respeito da genealogia do espírito, porquanto aos
homens cabe descobrir a realidade espiritual, no que
tange à evolução do princípio inteligente, revelada nos
itens da Codificação. Esta genealogia, processando-se
em diferentes mundos, desde o nadir ao zênite, mostra
que, de início, o espírito é um escravo da matéria, com a
qual se envolve nos círculos elementares da Natureza,
mas, à medida que desenvolve seu saber e amor, nos
limites superiores da espiritualidade, domina-a, fazendo
dela um escravo, para tornar-se um emissário de Deus,
na administração do Universo.

Nesta caminhada as mônadas celestes, orientadas pelos


instrutores Divinos, diz André Luiz (2), desde o casulo
ferruginoso do leptótrix, por meio da retração e
expansão da energia nas ocorrências de nascimento e
morte da forma, recapitulam ainda hoje, na
organização de qualquer veículo humano, na fase
embrionária, a evolução filogenética de todo o reino
animal, demonstrando que, além da ciência que estuda
a gênese das formas, há também uma genealogia do
espírito. Compilando dados pesquisados por outros,
admitimos como provável a seguinte relação entre a
realidade do mundo espiritual e a realidade dos
naturalistas do mundo físico, conforme mapa hipotético

133
Evolução do Princípio Inteligente

da evolução do princípio inteligente, a partir de sua


criação. Traçamos a rota de progressão desde a origem
até seu retorno aos mundos superiores, associando,
enquanto na Terra, os pontos de contato do corpo
espiritual com o corpo físico, na linha da evolução das
espécies. O gráfico mostra a caminhada do espírito, um
tempo, na vida espiritual e um tempo na vida corporal.

Assim, recapitulando, para concluir, diremos que Deus


ao criar o princípio espiritual lhe deu um corpo para
manifestação desde o primeiro instante. Este corpo é o
corpo mental (4 – Nota Final). Esta criação ocorre no
mundo espiritual, formando o conjunto que se denomina
de mônada celeste. Esta mônada estagia inicialmente
em mundos fluídicos para desenvolvimento primário de
suas faculdades e para a formação de seu corpo
espiritual ou de relação. Após período que não se pode
dizer qual a duração, a mônada estará em condições de
134
Evolução do Princípio Inteligente

assumir sua primeira vivência no mundo físico,


orgânico, formando a trindade: espirito, períspirito e
corpo físico.

Este conceito é diferente do que dizem os cientistas,


para quem somente existe o corpo físico, e do que
dizem as religiões que adotam a tese a unicidade da
existência, para as quais, o homem é formado de corpo e
alma. Escreveu André Luiz na obra citada que
trabalhadas, no transcurso de milênios, pelos operários
espirituais que lhes magnetizam os valores,
permutando-os entre si, sob a ação do calor interno e
do frio externo, as mônadas celestes exprimem-se no
mundo através da rede filamentosa do protoplasma de
que se lhes derivaria a existência organizada do Globo
constituído. Depois das primeiras etapas de total
inconsciência, paulatinamente o princípio espiritual vai
assumindo o comando da própria vida, conquistando
valores de experiência em experiência, sob a supervisão
dos Assistentes Espirituais, dentro das Leis Divinas; ora
vivendo na esfera extrafísica com seu corpo espiritual,
nos diferentes estágios de sua evolução, segundo as
conquistas adquiridas, ora vivendo nos corpos físicos da
diferentes espécies para o próprio acrisolamento. À
medida, pois, que se liberta das amarras da matéria, a
alma vai assumindo cada vez mais responsabilidade, por
seu amor e sabedoria adquiridos, de modo que seu
trânsito pelas linhas da evolução se faz em igualdade de
condições com as outras, sem privilégios de Deus,
conquanto às vezes subordinadas às forças do acaso, no
campo das mutações físicas, decorrentes de agentes
mutagênicos: temperatura, radiações ionizantes, tais

135
Evolução do Princípio Inteligente

como raios X, raios gama, luz ultravioleta etc., ao


agirem sobre o DNA. Tais mutações, contudo, não
modificam a espécie que é moldada pelo corpo
espiritual, dado que essa a hereditariedade é dirigida
por princípios da natureza espiritual, como disse André
Luiz, em seu livro Entre a Terra e o Céu, cap. XII (3)

Em conclusão, os seres vivos sofrem a ação do meio


ambiente em que vivem, dando origem às diferentes
variedades dentro da espécie, em razão da lei da
hereditariedade, mas o direito de ascender de uma
espécie a outra se prendem às conquistas do princípio
inteligente e às alterações que lhe são feitas no corpo
espiritual pelos Espíritos Arquitetos, cumprindo os
desígnios de Deus.

_______________________
(1). Emmanuel (Espírito), Emmanuel, cap. XVII; psicografia de F.C.
Xavier, Editora FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1986;
(2). André Luiz (Espírito), Evolução em Dois Mundos, cap. V;
psicografia de F.C. Xavier e Waldo Vieira. Editora FEB, Rio de Janeiro
(RJ), 1979;
(3). André Luiz (Espírito), Entre a Terra e o Céu, cap. XII; psicografia de
F.C. Xavier, Editora FEB, Rio de Janeiro (RJ), 1984;
(4). Nota Final:
Neste livro Perispírito e Corpo Mental, o autor justifica a existência do
corpo mental, tomado do fluído universal e integrante da mônada celeste,
de forma permanente desde sua criação, onde estão gravados os centros de
força e ficam registradas, como sede da memória, todas as conquistas do
princípio inteligente em sua evolução. O corpo espiritual, por sua vez, é
tomado do fluido próprio do mundo em que vive momentaneamente o ser.
Exemplo. Quem vive na Terra, tem um corpo espiritual com os elementos
deste mundo. Se, como Espírito tiver que ir para outro, mantém seu corpo
mental, constituído do fluido universal, comum a todos os mundos e
substitui o espiritual pelos elementos daquele mundo. Assim se justifica a
genealogia do espírito, do nadir ao zênite, mantidas todas as conquistas
como patrimônio do espírito.

136
Evolução do Princípio Inteligente

14. Dados Biográficos do Autor


— Durval Ciamponi, nascido em 10/01/1930, em Itobi
(SP), filho de Palmyra Ciamponi e João Ciamponi.
Casado com Maria José Ida Rosa Souza Ciamponi, tem
3 filhos, Celso, Renato e Ana Lídia, quatro netas e dois
netos;

— Bacharel em Direito, na Universidade de São Paulo,


Largo São Francisco e em Administração de Empresas,
da Universidade Mackenzie;

— É funcionário aposentado do Banco do Brasil S.A.


Após sua aposentadoria foi gerente administrativo e
financeiro de outras indústrias;

— Foi Vice-diretor da Faculdade de Filosofia, da


Fundação Santo André, e Professor das disciplinas:
Introdução à Custos e Introdução à Economia.

– Foi Diretor Financeiro e Presidente da FEESP;

— É membro da Academia de Letras dos Funcionários


do Banco do Brasil, cadeira 28;

— É autor de livros de pesquisas no campo doutrinário


e do comportamento religioso, sendo um de poesias.

1) Reflexões Sobre as Bem-Aventuranças, analisando


os ensinamentos de Jesus Cristo em relação a uma só

137
Evolução do Princípio Inteligente

vida ou a uma pluralidade de existências; 1a. edição,


Edições FEESP, São Paulo (SP), em 1991;

2) A Evolução do Princípio Inteligente, associando a


evolução do princípio inteligente à evolução das
espécies; 1a. edição, Edições FEESP, São Paulo (SP),
em 1995;

3) Alternativas da Humanidade, mostrando as


diferentes opções dos homens em relação à vida
espiritual; 1a. edição, Edições FEESP, São Paulo (SP),
em 1996;

4) As Profecias de Jesus, estudando o Sermão


Profético em relação ao mencionado fim do mundo; 1a;
edição, Nova Luz Editora, São Paulo (SP), em 1999;

5) Perispírito e Corpo Mental, onde estuda os centros


de força e a sede da memória; Edições FEESP, la.
Edição, em 1999;

6) Reprodução Assistida à Luz do Espiritismo, 1a.


edição, Edições FEESP, 2001;

7) Introdução à Metapsicologia, onde se examina os


diferentes indícios da vida espiritual, tomando por base
os registros dos livros sagradas dos diferentes povos;
Editora Elevação, São Paulo (SP), em 2002;

8) Corrigindo o Passado, Construindo o Futuro, 1a.


edição, Editora DPL, São Paulo (SP), em 2003;

138
Evolução do Princípio Inteligente

9) Religiosidade Aplicada à Vida Social, (180


exemplares), coleção composta de sete pequenos
volumes, de acordo com a Deliberação do CCE – SP –
16, de 27/07/2001, como estudo de viável aplicação ao
Ensino Religioso do terceiro ao nono ano, do
Fundamental; Edição especial; São Paulo (SP), em
2007;

10) A Igreja Católica É Mais Paulina Do Que Cristã,


1a. Edição, Editora AGBOOK, onde mostra a influência
de São Paulo nos dogmas da Igreja; São Paulo (SP), em
2013.

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