Análise Da Eficiência Dos Portos Da Região Nordeste Do
Análise Da Eficiência Dos Portos Da Região Nordeste Do
Análise Da Eficiência Dos Portos Da Região Nordeste Do
1
Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestrando em Engenharia de Transportes (PETRAN/UFC)
Fortaleza, CE, Brasil
² Universidade Federal do Ceará (UFC), Professor do Departamento de Engenharia de Transportes
(DET/UFC). Fortaleza, CE, Brasil
³ Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestrado em Logística e Pesquisa Operacional
(GESLOG/UFC). Fortaleza, CE, Brasil
RESUMO
O sistema portuário é elemento chave para o desenvolvimento de determinada região.
Nesse contexto, a avaliação de desempenho torna-se fundamental para o monitoramento e
o aprimoramento das atividades do setor em foco. A Análise Envoltória de Dados (Data
Envelopment Analysis – DEA) é uma técnica, baseada em programação matemática, que
analisa, com base nos recursos e produtos utilizados em um dado processo, a eficiência
relativa de um conjunto de unidades tomadoras de decisão. O presente trabalho teve como
objetivo elaborar um modelo para a medição da eficiência relativa dos portos da região
Nordeste do Brasil, adotando o modelo DEA orientado a inputs. Foram considerados dois
inputs (comprimento dos berços e calado admissível) e um output (movimentação, em
toneladas ou em número de contêineres). Este modelo foi aplicado aos 22 portos da região
supracitada, sendo estes classificados por tipo de carga. Pela análise realizada, foi possível
constatar que a maioria dos portos do Nordeste tem subaproveitamento de sua infra-
estrutura. A obtenção das eficiências dos portos nordestinos permitiu observar que estes
têm capacidade de movimentar maior quantidade de mercadorias com os mesmos inputs
(especialmente a infra-estrutura analisada). A Análise de Envoltória de Dados mostrou-se
como técnica que pode contribuir com os tomadores de decisões para a análise, a gestão e
o planejamento no setor portuário.
Palavras-chave: Planejamento Portuário. Análise de Envoltória de Dados, Avaliação de Desempenho.
1. INTRODUÇÃO
O fenômeno da globalização da economia provocou mudanças no mercado, desde a
produção até o consumo, incorrendo em competitividade acirrada entre as empresas. O
planejamento e o gerenciamento de toda a cadeia dos produtos, mensurando custos,
2. PORTOS
Um porto é um elo da cadeia de transporte que tem a função de promover a
integração entre sociedades que possuem bens diferentes, e, com isso, movimentar a
economia global.
O transporte tem o importante papel de tentar romper barreiras, provocadas pelo
isolamento geográfico, permitindo o escoamento da produção e a comercialização de
produtos.
Segundo Caixeta Filho e Martins (2001), os transportes têm a função básica de
proporcionar elevação na disponibilidade de bens, pois colocam as mercadorias em locais
onde não estariam disponíveis.
UNCTAD (1984) propõe que, em países onde existam vários portos, seja mantida
equipe permanente de técnicos especializados em planejamento em cada terminal, que
apoiaria, quando necessário, outra equipe na realização do plano nacional dos portos.
Em resumo, no que tange o planejamento portuário, é pertinente destacar três
atividades principais:
i. Preparação do plano nacional dos portos: supõe a adoção de diversas decisões
políticas para definir a função de cada porto e assegurar a utilização mais econômica
possível dos recursos nacionais.
ii. Preparação do plano geral de cada porto: estabelece as modalidades do
desenvolvimento em longo prazo do porto, sem determinar em que momento se
iniciará cada uma das etapas desse processo.
iii. Preparação de projetos portuários: tem por finalidade levar a prática cada parte do
plano geral no momento adequado e na forma conveniente.
Uma das principais evoluções na área portuária é a transformação do porto em
plataforma logística. O objetivo de tal modificação é concentrar, otimizar a distribuição e,
conseqüentemente, reduzir custos.
Segundo Boudouin (1996), plataforma logística é o centro de reunião de tudo o que
diz respeito à eficiência logística, acolhe zonas logísticas de empreendimentos e infra-
estruturas de transporte, que são importantes na dinamização da economia.
A UNCTAD classifica os portos por geração, sendo o mais primitivo o porto de 1ª
geração e o mais moderno o porto de 4ª geração.
Os portos de 1ª geração funcionam, principalmente, como ponto de troca de modais,
não ocorrendo planejamento estratégico de suas operações.
Os portos da 2ª e 3ª geração começaram a funcionar conjuntamente com indústrias,
sendo que os portos de 3ª geração vieram a trabalhar de forma integrada, como plataformas
logísticas.
A partir da 2ª geração de terminais portuários, começou-se a ter preocupação com a
redução de custos, visando à diminuição do tempo de operação dos navios e, por
conseguinte, a melhoria da produtividade dos terminais. Nessa geração se iniciou a prática
de agregar atividades industriais dentro do espaço portuário.
Os portos de 3ª geração têm participação forte da gestão com uso de ferramentas
tecnológicas, sendo avaliados e monitorados por sistemas de informação que contribuem
para a sua eficiência.
Finalmente, os portos de 4ª geração passam a se integrar à rede de transportes
mundial, além de buscar complementaridade entre portos, em vez da competição.
3. ANÁLISE DE DESEMPENHO
A obtenção do desempenho de um setor ou serviço é relevante para que se possa
ter bom funcionamento. Uma das maiores referências da administração, Peter Drucker
(1998), disse: “Não se administra o que não se mede”.
O transporte de carga tem a finalidade de garantir o deslocamento de bens dentro de
algumas condições temporais e de forma íntegra. Logo, é essencial a obtenção do
desempenho desses serviços, visto que a entrega do produto fora do prazo ou com
qualidade afetada prejudica toda a cadeia produtiva.
Pode-se definir desempenho como o resultado da combinação das categorias de um
dado sistema, avaliando se cada categoria está desempenhando seu papel
adequadamente, sendo estes representados principalmente pelas qualidades e quantidades
de cada categoria.
Um sistema deve ser entendido como um conjunto de componentes que atuam
juntos na execução de um objetivo global em determinado ambiente. Portanto, deve-se
procurar caracterizar a estrutura e a função de um dado objeto em estudo e sua interação
com o meio no qual está inserido (LIMA JR., 2001).
Como se pode perceber, para analisar um sistema em termos de desempenho, é
necessário representá-lo, descrevendo-o em termos de suas características e do
comportamento previsto de respostas e de resultados. É necessário representar o sistema,
bem como definir as formas de tratamento e análise que serão utilizadas.
Segundo Lima Jr. (2001), existem quatro passos básicos para a criação do processo
de medição de desempenho:
i. Definição de quais atributos ou tipo de fatores, como tempo, custo, nível de serviço,
qualidade, são críticos para que o sistema atinja seus objetivos;
Fixar objetivos da
análise
Selecionar fatores
relevantes
Examinar fatores
(Avaliação)
Examinar fatores
(Correlação)
Examinar fatores
(Prova)
Formalizar modelo
final
Apresentar
resultados iniciais
Fluxo de implementação
Retro-alimentação
MAX z 0 = ∑ v y o y 0 (1)
y =1
Sujeito a:
∑u I
x =1
x x0 =1 (2)
O I
∑ v y o yk − ∑ u x I xk ≤ 0, ∀k
y =1 x =1
(3)
u x , v y ≥ 0, ∀x, y (4)
4. ESTUDO DE CASO
O estudo de caso abrange 22 portos e terminais da região Nordeste, sendo 11 portos
organizados, que são geridos por empresas públicas, e 11 terminais, que são administrados
por empresas privadas. A seguir, na Tabela 2, são apresentados os portos analisados no
presente trabalho.
nUTD
INPUTS + OUTPUTS ≤ (5)
3
A utilização das escolhas desses inputs foi devido ao fato de que o tamanho do
berço e o calado admissível são variáveis que definem as características dos navios que o
porto pode receber. Já o output adotado é pelo fato de que um dos principais produtos
gerados no porto é sua movimentação.
A operação de granéis sólidos e líquidos é realizada, de uma forma mais expressiva,
por 15 portos na região Nordeste. Pelo número de portos, o modelo poderia ter até 5
variáveis para a análise de suas eficiências; contudo, devido às dificuldades de obtenção de
dados, foram utilizadas as mesmas variáveis consideradas no modelo de carga geral.
Os inputs utilizados neste trabalho todos são dados com relação à infra-estrutura do
porto, portanto a eficiência obtida diz respeito à infra-estrutura, se pode ser movimentada
uma maior quantidade de carga com o mesmo nível de berço e de calado ou se é
necessário ampliar a infra-estrutura para ampliar a capacidade. A seguir, na Tabela 3, são
apresentadas as DMU’s consideradas para cada tipo de carga.
Tabela 3 – Tipo de Carga movimentada pelas DMU’s.
Carga Granel Granel
DMU Contêiner
geral sólido líquido
Alumar X X
Aq. Guamaré X
Aq. Natal X
Aratu X X
Areia Branca X
Atalaia X
Cabedelo X X X
CVRD X
Dow Quimica X
Fortaleza X X X X
Ilhéus X
Inácio Barbosa X
Itaqui X X X
Maceió X X X X
Natal X X X
Pecém X X X
Recife X X X
Salvador X X X
Suape X X X X
Temadre X
Trikem X
Usiba X
TOTAL 6 9 15 15
Os portos de Maceió e Fortaleza operam os quatro tipos de carga a serem
analisados, mostrando que esses portos dificilmente possuem equipamentos especializados
para movimentar todos os tipos de cargas, contribuindo para suas baixas produtividade e
eficiência.
Há 11 portos que operam apenas um tipo de carga, mostrando que são terminais
especializados, e possivelmente, apresentam estruturas mais adequadas e níveis de
produtividade e eficiência mais elevados.
A seção seguinte apresenta os resultados das análises feitas no programa SIAD
versão 3.0 (Angulo-Meza et al. 2005), utilizando o modelo CCR orientado a inputs.
1
TEU/m- Quantidade de carga movimentada, em, TEU, por metro de berço.
250000
200000
Quantidade (TEU)
150000
100000
50000
0
2003 2004 2005 2006
120,00%
100,00%
Eficiência (%)
80,00%
60,00%
40,00%
20,00%
0,00%
2003 2004 2005 2006
os demais portos obtiveram eficiência inferior a 40%. A Tabela 8 mostra os inputs e outputs,
assim como a eficiência obtida de todos os portos.
Tabela 8 – Eficiência relativa dos portos que operam granéis sólidos da região Nordeste.
Inputs Output Eficiência
Portos
Berço (m) Calado (m) Quantidade (t) Relativa
Natal 200 10 88.334 1,12%
Suape 386 13,4 206.316 1,36%
Cabedelo 232 9,4 286.428 3,14%
Ilhéus 432 11,5 576.393 3,40%
Salvador 220 10 391.246 4,53%
Fortaleza 690 10,5 1.193.608 4,53%
Itaqui 473,6 11,5 1.178.969 6,33%
Aratu 612 12 1.541.293 6,41%
Inácio Barbosa 350 11,5 965.032 7,02%
Maceió 750 10,5 2.134.375 8,10%
Recife 2.405,1 9,6 2.078.057 8,63%
Usiba 230 11 875.865 9,70%
Areia Branca 199,55 11,5 2.039.267 25,96%
Alumar 320 11 4.684.323 37,27%
CVRD 1.341 21 52.669.404 100,00%
Dos quinze portos analisados, 12 tiveram eficiência menor do que 10%. Essa
discrepância se deve a movimentação muito alta do terminal da CVRD. Nesse caso, talvez
fosse necessária a inclusão de outros parâmetros para se obter uma maior
representatividade do cenário analisado.
Na avaliação dos portos que operam granel sólido, a análise de benchmarking
mostra que o terminal da CVRD, único que apresentou eficiência, é referência para os
demais portos, para que estes também atinjam a eficiência.
Tabela 9 – Eficiência relativa dos portos que operam granéis líquidos da região Nordeste
Inputs Output Eficiência
Portos
Berço (m) Calado (m) Quantidade (t) relativa
Recife 1174,6 9,6 70.617 2,14%
Dow Quimica 180 11 217.654 6,96%
Natal-Duna 190 9 238.807 8,30%
Alumar 320 11 301.709 8,48%
Cabedelo 260 9,6 454.112 14,67%
Pecém 674 12,5 679.787 16,27%
Maceió 307 10,5 1.001.508 29,49%
Trikem 176,8 9 956.334 33,29%
Atalaia 120 15 758.019 36,35%
Fortaleza 180 11 1.322.978 42,30%
Suape 716 15 2.957.503 59,47%
Guamaré 280 14 3.005.881 67,24%
Aratu 220 12 3.822.927 100,00%
Itaqui 1093,6 14,8 5.077.636 100,00%
Temadre* - 11,6
*Falta de dados
O porto de Recife apresentou a menor eficiência 2,14%, mostrando que sua infra-
estrutura está sendo sub-aproveitada, visto que apresenta a maior extensão de berço e
possui calado que possibilita movimentar a maioria dos navios que operam nos demais
portos estudados.
A análise de benchmarking para granéis líquidos, apresentada na Tabela 10, indica
que os portos de referência são Aratu e Itaqui. Os portos de Suape, Pecém, Maceió,
Cabedelo, Alumar, Guamaré, Natal-dunas e Trikem têm estes dois portos como parâmetro
para atingir a eficiência. Os portos de Fortaleza, Dow Química e Atalaia têm apenas o porto
de Aratu como referência, enquanto o porto de Recife tem apenas Itaqui.
Tabela 10 – Benchmarking dos portos que movimentam contêineres da região Nordeste
DMU Aratu Itaqui
Suape 35,00% 31,89%
Pecém 6,09% 8,80%
Fortaleza 34,61% 0,00%
Maceió 20,74% 4,11%
Cabedelo 9,89% 1,50%
Recife 0,00% 1,39%
Alumar 6,27% 1,22%
Guamaré 76,09% 1,91%
Natal-duna 5,91% 0,25%
Trikem 24,38% 0,48%
Dowquimica 5,69% 0,00%
Atalaia 19,83% 0,00%
5. CONCLUSÕES
O presente estudo derivou de uma pesquisa cujo objetivo era medir e analisar a
eficiência relativa das operações dos portos da região Nordeste, separados por tipo de
carga. Para consecução do objetivo estipulado, foi utilizada a técnica Análise Envoltória de
Dados (DEA), mais precisamente um modelo CCR orientado a inputs.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1
Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestrando em Engenharia de Transportes (PETRAN/UFC)
Fortaleza, CE, Brasil
² Universidade Federal do Ceará (UFC), Professor do Departamento de Engenharia de Transportes
(DET/UFC). Fortaleza, CE, Brasil
³ Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestrado em Logística e Pesquisa Operacional
(GESLOG/UFC). Fortaleza, CE, Brasil
ABSTRACT
The port system is a key element to the economic development of a region. In this sense, the
performance evaluation is fundamental to the monitoring and improving the activities of
above mentioned sector. Data Envelopment Analysis – DEA is a method, based on
mathematical programming, which analyses, with agreement to a set of inputs and outputs of
a process, the relative efficiency of a group of decision making units. The objective of this
work was create a model to evaluate the performance of the ports in Northeast of Brazil,
adopting a model oriented to inputs. It was considered two inputs (length of the pier and
admissible depth) and one output (cargo handling, in weight or number of containers). This
model was applied to the 22 ports of the above mentioned region. These ports were
classified for type of cargo. The analysis made possible to observe that the majority of ports
located in the Northeast of Brazil uses inefficiently its infrastructures. The determination of
the relative efficiencies of these ports allows observe that its have capacity to handling a
major quantity of goods with the same inputs. As conclusions, one can observe that DEA is
a feasible and useful technique to the analysis, management and planning in the port sector,
aiding the decision making process.
Keywords: Port Planning. Data Envelopment Analysis. Performance Evaluation.