Livro Completo - Política Social I
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emissão de conceitos.
POLÍTICA SOCIAL I
PROFª MESTRE ANA MARIA B. QUIQUETO
SUMÁRIO
AULA 15 SAÚDE 66
POLÍTICA SOCIAL I
PROFª MESTRE ANA MARIA B. QUIQUETO
INTRODUÇÃO
O termo política social, de certa forma, é usado para designar políticas públicas que
governos adotam para garantir proteção contra riscos sociais e promover o bem-estar dos
cidadãos. Neste sentido, a maioria dos estudiosos das Políticas Sociais compartilha entre
si o pressuposto básico e fundamental de que nas sociedades modernas não há motivos
contundentes para se questionar a existência e necessidade das políticas sociais. Isso se
deve ao fato de o provimento de políticas sociais como um direito de cidadania ter se
tornado um dos maiores fenômenos do século XX. Esse processo é denominado de “a
grande transformação”.
Contudo, considerando um Brasil marcado pela discriminação econômica, social e política
há necessidade de compreender o processo histórico de formação da política pública e social,
a caracterização do Estado, tipos de benefícios sociais e o sistema de proteção voltado às
classes desfavorecidas. O estudo fomenta o debate e alimenta novos ideários de cidadania
e democracia social.
Bons estudos!
AULA 1
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS,
TEÓRICOS E CONCEITUAIS SOBRE
POLÍTICAS SOCIAIS
Parafraseando o autor Vicente de Paula Faleiros quando menciona que “não se pode
fazer omelete sem quebrar os ovos” (FALEIROS, 2017), importa mencionar que não se pode
discutir políticas sociais sem “quebrar”, ou seja, abordar assuntos e temáticas que estão
inter-relacionadas como: a fala das políticas sociais, seus mecanismos, sua relação com a
conjuntura social, com o Estado e a correlação de forças e crises econômicas, e também, com
a atuação do profissional de serviço social inserido nessa trajetória da realidade brasileira.
Neste sentido, abordando a forma mais conceitual é válido pontuar que existe uma ampla
literatura sobre as políticas sociais e sobre o Estado de Bem-Estar, sendo que muitas vezes
tais conceitos são, inclusive, utilizados como sinônimos. De acordo com autor Pedro Demo
(2011), política social é um conceito genérico ao passo que “welfare state” tem uma conotação
mais histórica (pós-guerra) e de política pública (‘institucional’) muito específica.
Frente ao contexto exposto, as políticas sociais são habitualmente definidas como um
conjunto de medidas e programas que tem por objeto garantir o bem-estar social da população,
providos e regulados, em sua grande maioria, pelo poder estatal (DIAS, 2014).
A compreensão do conceito de política social proposta por Pedro Demo (2000) destaca
o papel e ao mesmo tempo a responsabilidade dos sujeitos organizados no provimento das
necessidades básicas.
Esse mesmo autor pressupõe que esses atores são responsáveis pela autogestão dos
direitos sociais, independentemente do poder estatal. Defende ainda, as políticas de inserção
no mercado de trabalho e emprego ao invés dos direitos sociais que resultam em um sistema
parasitário, uma exclusão do mercado, haja vista que fora do mercado não haveria salvação.
O autor Martins (2002), sobre a fundamentação mencionada acima, não propõe nada
de novo, mas apenas a extensão do velho, dos mecanismos de reprodução das relações
sociais. Segundo este autor, a proposta de inserção no mercado de trabalho como única
forma de inclusão social significa a volta da mercantilização das relações sociais, ou seja,
a exploração do trabalhador pelos patrões.
Contribuindo com a discussão, Faleiros (2017) afirma que as políticas sociais são formas
de reprodução das relações de exploração capitalista. O autor, em sua obra define que,
Esse autor não compreende a classe trabalhadora como portadora de direitos sociais
pautados na cidadania, mas sim como meros consumidores que precisam vender sua força
de trabalho para ir ao mercado, cujo resultado é a reprodução das relações de exploração
e dominação no mundo capitalista.
Com base nos fundamentos dos autores mencionados, a análise de Claus Offe (1990)
propõe melhor esclarecimento à questão. Esse autor afirma que
A análise dos desdobramentos sobre a política social sempre traz em sua pauta a correlação
aos direitos sociais. No teor dessa contextualização, conforme o Claus Offe (1990), na citação
retratada de sua obra, os direitos sociais consistem em transferência de dinheiro e serviços,
especialmente aos grupos sociais que conseguem ter acesso a esses serviços e benefícios
via mercado.
Nesse processo, concorda-se também com os estudos propostos por Souza (2017) o qual
direciona o entendimento de que “políticas sociais são medidas de melhoria do bem-estar de
determinados grupos de uma sociedade executadas por decisão política, que podem existir
em uma sociedade de economia capitalista ou não”.
De acordo com esse autor, nota-se a desmistificação da noção de que as políticas sociais
existem apenas nas sociedades capitalistas, pois nas sociedades socialistas elas também
Souza (2017) traz o propósito de repensar o Welfare State, como a mobilização em larga
escala do aparelho do Estado em uma sociedade capitalista a fim de executar medidas
orientadas diretamente ao bem-estar de sua população. O autor entende que o Estado de
Bem-Estar se diferencia das políticas sociais pela mobilização em alta escala das instituições
estatais:
Contudo, observa-se que o Estado de Bem-Estar social pode ser caracterizado pela
mobilização do aparelho do Estado, em uma sociedade capitalista, com o objetivo de realizar
um conjunto de medidas destinadas a promover o bem-estar de sua população, reduzindo
a pobreza e desigualdades sociais.
Importante pontuar que o Estado de Bem-Estar social não se resume apenas a políticas
de geração de emprego, mas a um conjunto de medidas destinadas a promover o bem-estar
de sua população.
Anote isso
AULA 2
ABORDAGENS TEÓRICAS DAS
POLÍTICAS SOCIAIS
A análise que se decorre até aqui é que a Perspectiva do Serviço Social se caracteriza
pelo empirismo, pelo pragmatismo e pelo reformismo. Nota-se que se essa característica se
constitui como prática, porém ingênua e focalizada. Notadamente foi observável na Inglaterra.
Essa abordagem é essencialmente reformista, orientada para a prática e raramente
preocupada com a teorização e a especulação. Surgida inicialmente na Inglaterra e nos
Estados Unidos, o serviço social foi uma reação contra a teoria liberal ortodoxa e extremada
dos meados do século XIX, que propunha deixar à própria sorte todos aqueles que não
conseguissem, sozinhos, vencer o mercado competitivo (ZIMMERMANN; ALMEIDA, 2011).
A Teoria da Cidadania tem sua referência nos escritos de T. H. Marshall (1963), a qual
ocorreu logo depois da Segunda Guerra Mundial. A referida abordagem é dada pela centralidade
que o conceito de cidadania possui em seu interior.
No contexto em questão, o entendimento da política social é inseparável da compreensão
do processo de expansão e de transformação da cidadania no mundo moderno. Para o
autor mencionado, os serviços educacionais e sociais deviam ser vistos em situação de
igualdade com instituições das quais o pensamento moderno com toda razão se orgulhava e
se orgulha: a imprensa livre, o sistema de justiça, os parlamentos de representação universal
(ZIMMERMANN; ALMEIDA, 2011).
No que diz respeito aos estudos de Marshall (1963), os direitos sociais são tudo o que vai
desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar,
por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões
que prevalecem na sociedade.
Contudo, é importante mencionar que a Teoria da Cidadania tal como foi elaborada por
Marshall é criticada por não explicar como se estabelecem concretamente cada um dos
direitos específicos inerentes a ela, pouco nos dizendo sobre os processos de definição e
redefinição daqueles que mais nos interessam, ou seja, os direitos sociais.
Porém, a maior contribuição de Marshall trata da noção de igualdade, inseparável, para
ele, da própria ideia de cidadania. Esta teoria possibilitou um discurso de defesa da política
social e de sua expansão em direção a formatos universalistas. Os argumentos para a
luta pela política social e pela justiça distributiva ganharam uma nova racionalidade e uma
expressão mais profunda, a partir da Teoria da Cidadania (COIMBRA, 1987).
2.1.3 Marxismo
Sobre Marx, importa registrar que o bem-estar é concebido como uma norma relacional
baseada nos valores da solidariedade e da cooperação. Esta norma se manifestaria no
2.1.4 Funcionalismo
Sobre o Funcionalismo cabe destacar que este propunha uma sociedade onde efetivamente
haveria um lugar reservado para as instituições de política social.
Observa-se nítida influência em outros modelos de estudo da política social, principalmente
na perspectiva do Serviço Social. Isso poderia vir através da garantia dos padrões vigentes,
onde a estabilidade e ordem fossem mantidas.
2.1.6 Pluralismo
Segundo Zimmermann e Almeida (2011), no Pluralismo a política é tida como uma arena
de diferentes atores, movida por uma multiplicidade de causas e que se encontram para
transacionar. Nos estudos de Coimbra (1987), percebe-se que o autor designa o pluralismo como
uma perspectiva de estudo da política social que é típica da ciência política contemporânea,
tanto nos Estados Unidos quanto na Europa ou em outras partes do mundo.
Na visão dos pluralistas a política deve ser vista como autônoma, pois nela determinações
de inúmeras origens terminariam por se entrecortar e por anular a exclusividade causal.
Apreende-se dessa teoria, conforme a literatura, que quase nunca trata a política social
como objeto relevante de estudo, estando muito mais preocupada em descrever e explicar
como é que os agentes econômicos tomam suas decisões, com base em que estabelecem
suas preferências e como se comportam em face de outros atores.
AULA 3
TEORIAS SOBRE ORIGEM
E DESENVOLVIMENTO DAS
POLÍTICAS SOCIAIS
Figura 5 – Esquema das Teorias sobre Origem e Desenvolvimento das Políticas Sociais. Fonte: elaborado pela autora
Neste tópico, a discussão tange ao surgimento das políticas sociais por determinantes
de ordem política. Aqui, cabe abordar que as abordagens que enfatizam os nexos causais
das políticas e programas sociais como preponderantemente de ordem política as fazem
conjugando fatores que levam em conta processos de mobilização da classe trabalhadora,
desde sua configuração, dialogando com aspectos do dito compromisso capital/trabalho até
a ocupação dos espaços de poder na estrutura institucional, através das alianças políticas
na democracia contemporânea.
Essa discussão tem base os autores Gough e Esping-Andersen (1991). Neste contexto, é
importante destacar que na argumentação desta perspectiva a política social não é meramente
uma resposta às necessidades de reprodução do sistema capitalista.
Frente ao exposto, salienta-se que o Estado não age de maneira nenhuma como instrumento
passivo de uma classe, no interior deste, há espaço para lutas de classe, representada pelas
lutas sociais.
Conforme Gough e Esping-Andersen (1995), os fatores primordiais do surgimento de
políticas sociais são assim elencados:
Arretche (1995) contribui com a discussão informando que o período histórico específico
do pós-guerra conjugou a capacidade de pressão dos movimentos sociais; crescimento
econômico; escassez de mão de obr que possibilitou uma aliança capital/trabalho, dando
origem à face social ao Estado.
Esping-Andersen (1991), aponta outra característica desta concepção de conjunto de
forças na constituição das políticas sociais, considerando que a defesa das políticas sociais
faz parte do processo de identidade das classes trabalhadoras.
Para o mesmo autor, o poder político da classe trabalhadora é avaliado pela organização
sindical e pela força do segmento de esquerda no parlamento. Também destaca as coalizões
políticas no poder – tais como a verde-vermelha da conjuntura política da Suécia – a fim de
direcionar o processo decisório na ampliação ou redução do Estado Social.
Anote isso
AULA 4
TIPOLOGIAS DO ESTADO DE BEM-
ESTAR SOCIAL
Figura 8 – Bandeiras de diversos Estados com adesão aos modelos tipológicos. Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/16647281437/84b41b0ff2/
AULA 5
POLÍTICAS SOCIAIS, GÊNERO E
TIPOLOGIA
Nesta parte da aula a discussão pretende abordar a relação existente entre o mercado
de trabalho e a categoria gênero recebe atualmente um enfoque crescente.
A literatura feminista argumenta que a divisão sexual do trabalho influencia no acesso
desigual entre homens e mulheres às políticas sociais nos diferentes regimes de Bem-Estar
social.
Além disso, a crítica feminista defende que o trabalho doméstico deveria ser levado em
consideração, pois a esfera doméstica, além do domínio público, também ocupa um espaço
proeminente, com responsabilidades de assistência e prestação de serviços, pois, é indiscutível
a necessidade de políticas concretas que ofereçam a oportunidade e a permanência das
mulheres no mundo do trabalho, favorecendo a participação das mesmas em condições
iguais às dos homens.
De acordo com o exposto, seria necessário “desfamiliarizar” a política social, para, dessa
forma, dividir as responsabilidades da carga familiar e criar oportunidades para que as
mulheres possam ter condições de enfrentar o mercado de trabalho e se manter nele.
Em outro sentido, “desfamilializar a política social significa se engajar para coletivizar o
peso e as responsabilidades da carga familiar, condição prévia para as mulheres que buscam
harmonizar trabalho e maternidade” (MERRIEN, 2002, p. 58).
De acordo com Mesa-Lago (1998), o ponto de início das políticas sociais é importante
para se entender a maturidade dos programas e sistemas de apoio aos cidadãos. Segundo
o estudo deste autor, os países pioneiros seriam os países que iniciaram o desenvolvimento
das políticas sociais por volta dos anos 20.
Os países classificados como pioneiros seriam: Brasil, Cuba, Chile, Argentina e Uruguai.
Os sistemas de proteção social empreendidos por estes países caracterizam-se por proteger
estratificadamente sua população por meio de subsistemas independentes.
Ao contrário dos países pioneiros, os países do grupo intermediário não estruturaram suas
políticas sociais em decorrência do processo de industrialização, acarretando um alto nível
de particularidades nos diferentes sistemas. Os países que compõem este agrupamento
proposto por Mesa-Lago são: Costa Rica, Panamá, México, Peru, Colômbia, Bolívia, Equador,
Paraguai e Venezuela.
O último agrupamento é o chamado grupo Tardio de países que iniciaram a implementação de
suas políticas sociais nos decênios de 1950 e 1960 do século passado. Os países componentes
deste agrupamento são: República Dominicana, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Honduras
e Haiti. As características comuns são o baixo grau de cobertura, sua dinâmica territorial
de atenção restrita a serviços altamente centralizados e geridos nas capitais destes países.
Por sua vez, o estudo desenvolvido pela Comissão Econômica para a América Latina e
o Caribe - CEPAL (1998), caracterizou os diversos modelos de seguridade social presentes
na América Latina e subdividiu os países latinos americanos em três regiões, cujo critério
de divisão foi o nível de gasto dos governos com políticas sociais.
Também há uma proposta tipológica na literatura, medida por Filgueira (1997) que se
divide em grupos de países assim denominados: Universalismo Estratificado; Regimes
Duais; Regimes Excludentes.
O primeiro grupo de países considerados como Universalismo Estratificado seria composto
por Argentina, Uruguai e Chile. São que países possuem políticas sociais estendidas a quase
Anote isso
AULA 6
A MERCANTILIZAÇÃO NO SISTEMA
CAPITALISTA
Inicia-se o conteúdo informando que na idade média, a sociedade era pouco mercantilizada
e a capacidade de sobrevivência de um indivíduo não era decidida através do contrato de
trabalho, mas através do apoio da família, igreja ou senhor feudal.
Porém, isso não significa que não houvesse qualquer forma de mercantilização. O que se
pretende dizer é que a grande maioria das pessoas não era dependente única e exclusivamente
dos salários, mas possuía diversas formas de subsistência.
O desenvolvimento do capitalismo as formas pré-mercantilizadas de proteção social foram
destruídas e as possibilidades de os trabalhadores sobreviverem fora das relações de mercado
foram colocadas em xeque. Essas relações tornaram-se o centro das atenções dos estudos
de Karl Marx (conforme já estudado em aula anterior), especialmente a transformação de
produtores independentes em assalariados sem propriedades.
Conforme Marx, a mercantilização da força de trabalho implica na venda da força de
trabalho, causando a alienação (Entfremdung) e a consequente liberdade atrás dos muros
da prisão. Vale ressaltar que para Esping-Andersen (1990), os trabalhadores não deveriam
ser tratados como simples mercadorias, posto que não podem ser “retirados do mercado”,
visando aumentar os preços, haja vista que não conseguem se ausentar por muito tempo
do mercado, caso não possuam outras formas de sobrevivência.
Conforme aponta Dias (2014), sendo tratados como mercadorias, os trabalhadores estão
expostos a poderes que vão além de suas próprias forças, como ocorre em caso de doenças,
eventos macroeconômicos e ciclos econômicos.
Corrobora Souza (2017) que a mercantilização tornou-se uma questão central nas
discussões da moderna filosofia, ideologia e teoria social, de tal modo que os liberais clássicos
do laissez-faire se opuseram a qualquer alternativa para além do mercado, haja vista que
qualquer intervenção estatal sacrificaria o equilíbrio entre oferta e demanda.
De acordo com contexto explanado, tanto os liberais clássicos assim como muitos
contemporâneos defendem a proposição de que um mínimo de proteção social não erradicaria
a pobreza, ao contrário, contribuiria para sua perpetuação e institucionalização.
Observa-se que correntes teóricas liberais e socialistas divergem frente ao processo de
desmercantilização das políticas sociais. Na história das políticas sociais, os principais
conflitos ocorreram entre o grau de imunidade do mercado, ou seja, a força, os limites e a
qualidade dos direitos sociais.
Anote isso
AULA 7
O SISTEMA CONSERVADOR NO
CONTEXTO DA MERCANTILIZAÇÃO
Souza (2017) suscita o entendimento que não se pode confundir a sociedade pré-capitalista
com a ausência de formas mercantilistas. A agricultura feudal produzia mais-valia e as
cidades medievais estavam fortemente comprometidas na produção e troca de mercadorias.
A economia senhorial ou absolutista cobrava uma tributação, a qual, por sua vez, exigia a
venda de mercadorias.
Decorre desse processo, que os produtores pré-capitalistas, camponeses, diaristas e os
servos não dispunham de muita independência e autonomia em relação ao desempenho de
trabalho, isto é, os indivíduos não podiam fazer muitas reivindicações quanto à subsistência
fora do trabalho. Porém, a forma mercantilizada estava menos presente, haja vista que a
grande maioria das pessoas não estava completamente dependente da renda, proveniente
do salário para garantir a sobrevivência.
No contexto retratado, os domicílios permaneciam frequentemente autossuficientes,
assumindo a servidão feudal certo grau de reciprocidade e ajuda paternalista. O produtor
urbano, geralmente, era sócio compulsório de alguma corporação de ofício e os mais
destituídos de qualquer ajuda ainda podiam contar com o apoio da igreja. Assim, diferente
da lógica mercantil do capitalismo, a maioria das pessoas podia contar com a ajuda de
organizações comunais e familiares para manter ou ter garantida a subsistência.
Em comparação com a ajuda aos pobres do laissez-faire, a assistência pré-capitalista teria
sido muito mais generosa e benigna (SOUZA, 2017).
Anote isso
Conforme Dias (2014), a empresa capitalista ofereceu uma série de benefícios sociais
para além do contrato de trabalho. Além disso, o paternalismo não era uma característica
que parecia especialmente contraditória ao espírito empresarial.
Conclui esse capítulo reforçando que as políticas sociais conservadoras ofereceram as
bases ao chamado moderno Estado de Bem-Estar, inicialmente relacionado às leis de seguro
social de membresia compulsória e de administração própria, típicas do modelo Bismarckiano
(ESPING--ANDERSEN, 1990, p. 41).
AULA 8
O SISTEMA LIBERAL E A
MERCANTILIZAÇÃO
Inicia-se esse estudo com a hipótese central do liberalismo, a qual pressupõe que o
mercado é emancipador, o melhor meio possível para independência e industrialização.
De acordo com essa hipótese, se não houver interferência, o mercado, através do seu
um caráter autorregulador, assegurará empregos a todos aqueles que tiverem vontade de
trabalhar, tornando todos capazes de garantir seu próprio sustento e proteção social.
Os problemas sociais não ocorreriam por falhas no sistema, mas seriam consequência
da falta de precaução e poupança individual.
O autor Polanyi (2000) aponta que o modelo liberal puro de uma “boa sociedade” contém
várias debilidades, as quais são óbvias e bastante conhecidas.
Neste sentido, os liberais ortodoxos partem da premissa de que todos os indivíduos seriam
capazes de participar no mercado, uma tese inconsistente, já que os velhos, as pessoas
com deficiências (física ou mental) são dependentes da ajuda da família.
Porém, essa ajuda, por outro lado, constrange a própria capacidade da família em prover
o sustento dos seus e conseguir trabalho no mercado. Poupar para eventualidades futuras
também não seria uma saída viável, especialmente quando os salários são muito baixos.
Em todos esses casos, os liberais dogmáticos são forçados a buscar apoio nas instituições
pré-capitalistas de assistência social, como é o caso da família, da igreja e comunidade.
Ao agir dessa forma, os liberais se contradizem, porque essas instituições não participam
das regras do livre jogo das relações de mercado e troca de mercadorias. A economia senhorial
ou absolutista cobrava uma tributação, a qual, por sua vez, exigia a venda de mercadorias.
Verifica-se no decorrer desse processo que indivíduos não podiam fazer muitas
reivindicações quanto à subsistência fora do trabalho, porém, a forma mercantilizada estava
menos presente, haja vista que a grande maioria das pessoas não estava completamente
dependente da renda, proveniente do salário para garantir a sobrevivência.
Na descrição mencionada acima, os domicílios permaneciam frequentemente
autossuficientes, assumindo a servidão feudal certo grau de reciprocidade e ajuda paternalista.
Quanto ao produtor urbano, este geralmente, era sócio de alguma corporação de ofício e
os mais destituídos de qualquer ajuda ainda podiam contar com o apoio da igreja. Assim,
diferente da lógica mercantil do capitalismo, a maioria das pessoas podia contar com a
ajuda de organizações comunais e familiares para manter ou ter garantida a subsistência.
Ainda neste contexto, o liberalismo passa a reconhecer a necessidade de um mínimo
de intervenção social, uma vez que a população morreria sem a existência de serviços de
saneamento público. Por isso, as forças das circunstâncias levaram o liberalismo a aceitar
a inevitabilidade de políticas sociais.
1) O princípio da “menor elegibilidade” como elemento característico das antigas “leis dos
pobres”, cuja assistência é prestada via testes de meios, ou seja, comprovação da pobreza.
Evita-se, com isso, a extensão de direitos sociais incondicionais, pois os governos podem
avaliar as condições socioeconômicas, impedindo que os trabalhadores escolham as políticas
de assistência em detrimento do trabalho.
2) O liberalismo nunca contestou a caridade ou a lógica do seguro, de tal modo que a
caridade deve basear-se na lógica do voluntariado e os seguros em arranjos contratuais.
Nestes casos, os direitos e os benefícios sociais têm que refletir a lógica das contribuições
individuais. Neste sentido, o liberalismo tem uma clara preferência pelo seguro privado
organizado através do mercado.
O seguro social, assim como o seguro individual familiar, paga benefícios aos empregados
valorizando o desempenho através do trabalho e das contribuições. O objetivo da lógica do
seguro é fortalecer o incentivo ao trabalho e à produtividade, ao invés da assistência não-
contributiva.
Em resumo a explanação feita a lógica liberal acentua o status mercantilizado da força
de trabalho, cuja proteção deve limitar-se basicamente às contribuições e ao desempenho
individual.
AULA 9
O PROCESSO SOCIALISTA FACE
A DESMERCANTILIZAÇÃO DAS
RELAÇÕES SOCIAIS
O fomento principal da discussão dessa aula consiste em deixar claro aos interessados
que, tanto a teoria como a ideologia e a estratégia política do socialismo teriam surgido,
segundo a literatura, em resposta ao problema da mercantilização do trabalho.
A visão socialista, neste sentido, considera que a mercantilização do trabalho constituiu-
se em elemento integral do processo de alienação e de formação de classes sociais.
A compreensão é de que a mercantilização do trabalho é a condição sob a qual os
trabalhadores têm de abandonar o controle sobre seu trabalho em troca de salários. Também é
a condição sob a qual a dependência do mercado é afirmada, assim como a razão fundamental
da realização de controle dos patrões sobre os trabalhadores.
Pode-se dizer ainda que seria a causa principal da divisão de classe e um grande obstáculo à
unidade coletiva dos trabalhadores. Na lógica da mercantilização está intrínseca a competição
entre os trabalhadores, ou seja, quanto maior for a competição, menor tendem a ser os
salários.
Verifica na literatura das ciências sociais que, tanto revolucionários quanto reformistas
concordam com a possibilidade de se lutar pelo direito a uma renda aquém do trabalho
assalariado. Porém, o que dividiu os reformistas e a ala revolucionária do socialismo teria
sido principalmente a questão da estratégia para alcançar tal fim, ou seja, uma renda além
do mercado. As políticas de desmercantilização dos socialistas tiveram inicialmente um
parentesco com a tradição corporativa e conservadora.
Anote isso
Uma das fraquezas das propostas de políticas sociais desses movimentos eram os modestos
benefícios concedidos e seu limitado alcance, excluindo os membros mais vulneráveis do
proletariado, isto é, justamente os mais desorganizados, o lumpenproletariado, os quais
representavam a maior ameaça à unidade dos trabalhadores.
Importa mencionar na exposição desse contexto, Lacerda (2017), que os socialistas nem
sempre tiveram uma concepção política voltada à defesa da desmercantilização, especialmente
no período anterior à Segunda Guerra Mundial, pois defendiam a tese de que as melhorias
sociais deveriam ter como princípio norteador o grau de carência.
Diante dessa concepção, verifica-se que os socialistas operavam nos moldes amplamente
liberais, utilizando-se dos testes para a comprovação da pobreza. Vale lembrar, no entanto,
que as políticas sociais adotavam como principais critérios para aferimento de benefícios
sociais as condições de vida dos pobres, ao invés de utilizarem os padrões de vida médios
de uma sociedade.
Desse modo, os socialistas viam a assistência social como uma forma de ajudar os
indivíduos que fossem de fato pobres e carentes.
Além disso, até a Segunda Guerra Mundial, os socialistas eram fortemente defensores
dos trabalhadores assalariados, especialmente do proletariado industrial. Isso significou a
defesa exclusiva de determinadas classes sociais.
O que caracterizava os socialistas dessa época era a adoção do princípio da defesa dos
direitos sociais básicos, mínimos, cujos benefícios deveriam ser modestos e destinados
apenas à “classe trabalhadora”. Contudo, onde os socialistas se mobilizaram na defesa de um
público mais amplo, ou seja, “classe popular”, houve uma ampliação dos direitos universais.
A meta dos socialistas era o combate à pobreza, ao invés de lutarem pela emancipação
dos trabalhadores da dependência em relação ao mercado. Zimmermann e Almeida (2011)
argumentam que as políticas sociais de caráter emancipador deveriam incluir duas questões
fundamentais, como a extensão dos direitos para além do terreno estreito da carência absoluta
AULA 10
O ACESSO AOS BENEFÍCIOS
SOCIAIS NO PROCESSO DA
DESMERCANTILIZAÇÃO
A aula inicia-se com a reflexão de Faleiros (2017) a qual nos diz muito a questão dos
direitos sociais no contexto da conjuntura social.
Pode-se considerar que os direitos sociais fazem parte do processo de incondicionalidade,
assim, eles devem ser garantidos pelo simples fato de um cidadão pertencer a uma determinada
localidade. Entretanto, no contexto em que vivemos os direitos sociais não contemplam
globalmente a incondicionalidade.
Segundo Zimmerman e Almeida (2011), o acesso a benefícios, por parte dos indivíduos,
deve constar condições específicas, como situação de doença, velhice, e/ou desemprego. Os
autores também pontuam que, além de vivenciar uma situação- problema, alguns critérios
são exigidos, porém, estes versam consoante aos modelos de proteção social sancionados
por determinada sociedade.
Dessa forma, é preciso calcular o tempo que um indivíduo tem de trabalhar para poder
ter acesso aos referidos benefícios. Quanto maior o tempo trabalhado, menor o grau de
desmercantilização nesse sistema.
3) O terceiro sistema de acesso a benefícios, Social-Democrata ou Socialista, tem origem
a partir do princípio universal de direitos de cidadania. Nesse regime, o acesso não depende
da comprovação da pobreza absoluta ou do desempenho do trabalho do indivíduo. O processo
de elegibilidade resulta somente do fato de ser cidadão ou residir num determinado país,
localidade.
A construção desses programas sociais se dá pelo princípio de distribuição de benefícios,
cujos valores são unitários e não precisam de prévia contribuição. A compreensão desse
contexto é clara, a constituição desse sistema de proteção social tem grande probabilidade
de desmercantilização.
Esse sistema de proteção social universal teve maior incidência nos países escandinavos,
onde há um princípio há muito tempo existente na tradição socialista de política social.
AULA 11
POLÍTICAS SOCIAIS E OS
PROGRAMAS DE RENDA MÍNIMA
Nesta aula, após todos os conhecimentos adquiridos até aqui, será explanado a correlação
das políticas sociais com os programas de renda mínima.
Diante dessa explanação, utiliza-se o autor Demo (2011) para mencionar que as experiências
com programas de renda mínima surgem nos países desenvolvidos no século XX, na medida
em que o Estado de bem-estar vai se consolidando.
O objetivo desse programa consiste na criação de uma rede de proteção social para as
populações mais pobres, através de uma transferência de renda complementar.
O autor também informa que foi a partir da segunda metade do século XX que a seguridade
passou a ser mais reconhecida. Os países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega
e Suécia) foram pioneiros na introdução de programas de renda mínima.
Os países baixos (Holanda) introduziram esse tipo de proteção social logo após 1963 e
a Bélgica em 1974. Na Alemanha, uma lei federal de auxílio social foi introduzida em 1961.
Contudo, foi na França que o debate ganhou maior amplitude.
Os defensores da tese de que os programas de renda mínima teriam sido introduzidos
em virtude das mudanças na ordem econômica mundial seguem literalmente a experiência
e discussão francesa.
Entretanto, a literatura demonstra que muitos países introduziram programas de
renda mínima em épocas de prosperidade econômica, antes da existência das grandes
transformações na economia mundial e dos impactos no mercado de trabalho.
A organização dos programas de renda mínima varia entre os diferentes países, via de
regra, os critérios de elegibilidade são a situação familiar, a renda além da nacionalidade,
residência e idade. Normalmente, a única condicionalidade imposta é a disposição de aceitar
um trabalho mediado por uma agência estatal de intermediação de postos de trabalho.
Na Alemanha, o Estado responsabiliza-se pelo pagamento do seguro de saúde das famílias
beneficiárias, uma vez que não existe um sistema público de saúde como no Brasil ou
Inglaterra. O seguro de saúde tem custo em euros e é pago por pessoa. Ressalte-se que, no
período do inverno, paga-se ainda um auxílio calefação para os beneficiários.
A concessão de tais benefícios existe não somente na Alemanha, mas podem ser
encontrados em boa parte dos países europeus. Pode-se constatar que, ao introduzir programas
de transferência de renda, o Estado brasileiro começa a adotar passos fundamentais, similares
aos moldes dos países desenvolvidos, haja vista que a incorporação de programas de
transferências de renda são fundamentais para o combate à fome e à miséria.
Todavia, ressalte-se a significativa diferença das medidas sociais adotadas pelo Brasil em
comparação com a experiência alemã e a dos demais países europeus. Naqueles países, a
transferência de renda é concebida como um direito, ou seja, acessível a todas as pessoas
e famílias que dela necessitem.
Trata-se de transferências monetárias cobertas pelo Estado, cujo tempo de duração é
ilimitado. O mais importante, em meio a tudo isso, refere-se ao fato de que o valor monetário,
transferido pelos programas europeus, garante o direito à alimentação adequada, moradia,
vestuário, além de cobrir outros custos necessários à sobrevivência física do indivíduo e de
sua família.
Percebe-se, pois, que os estados europeus são bastante justos com a proteção social,
apoiando seus cidadãos contra os mais diversos riscos sociais.
Quanto aos impactos dos programas de renda mínima não se pode ver nesse tipo de
proteção social “fantasias” (DEMO, 2011), cuja função seria tapar a boca do pobre, evitando
a “redistribuição” da renda.
Na literatura acadêmica a explicação da eficácia na redução da desigualdade é explicada
pelo caráter universal dos programas de renda mínima. Além disso, a eficácia ocorre pela
generosidade dos programas de renda mínima, assim como pelo caráter universal dos
benefícios (EUZÉBY, 2004, apud ESPING-ANDERSEN, 1990).
A universalidade do acesso deveria não depender da comprovação da pobreza ou do
desempenho do trabalho. A elegibilidade resultaria assim, apenas do fato de ser cidadão
ou residir num país.
AULA 12
TRÊS HORIZONTES DA POLÍTICA
SOCIAL
Neste capítulo, utilizando os conhecimentos do autor Pedro Demo (2011) para fins de
sistematização, distingue-se no campo da política social pelo menos três horizontes teóricos
e práticos:
• Políticas assistenciais
• Políticas socioeconômicas
• Políticas participativas
A discussão específica das mesmas será exposta abaixo.
No contexto das Políticas assistenciais pode-se defini-las como devidas por direito de
cidadania, as referidas políticas são contempladas pela Constituição Federal de 1988, a qual
garante o direito à assistência, incluindo-a no âmbito da seguridade social que constitui o
tripé: saúde, previdência e assistência.
Sobre essas políticas pode-se considerar:
1. Direito devido a grupos populacionais que não se autossustentam sendo a forma concreta
de realizar o direito à sobrevivência.
2. Direito conjuntural de pessoas vítimas de emergência grave, recompor as condições
normas de sobrevivência;
3. Assistência significa direito à sobrevivência, não se apresentando como estratégia de
enfrentamento das desigualdades sociais;
4. Combater a pobreza é indispensável para outros componentes da política social voltados
a processos emancipatórios.
Esclarecendo a discussão do autor buscar solucionar o problema pela raiz traz grandes
possibilidades de evitá-lo no futuro, como também proporcionar às famílias uma nova forma
de organização e sobrevivência, incentivando a produção de produtos para o uso doméstico,
que a longo prazo, poderá ser utilizado para impulsionar o processo comercialização.
No que tange às políticas participativas, entende-se que essas estão postas ao enfrentamento
da pobreza política da população.
A política social tem nos pobres não o seu alvo, objeto, paciente, mas seu sujeito
propriamente, entrando o Estado, ou qualquer outra instância como instrumentação, apoio
e motivação (DEMO, 2011, p. 37).
Dessa forma, a função do Estado seria a garantia ao atendimento de qualidade aos serviços
públicos, contribuindo para a formação da cidadania e principalmente, segundo Schneider
e Steiger (2016), trabalhando os campos de educação, saúde e assistência.
A política participativa esclarece que as políticas de cunho social não são direcionadas
somente pelo poder público, mas também partem da esfera da sociedade civil, a qual possui
claro objetivo de desempenhar o controle social.
As políticas participativas depreendem:
AULA 13
SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL
AULA 14
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Para realizar os estudos sobre a Previdência Social é importante salientar que durante o
decorrer da história, a política previdenciária tem guardada intrínseca relação com o movimento
estrutural e conjuntural da sociedade brasileira.
Esse movimento está expresso em suas diversas políticas econômicas e na correlação de
forças que se estabelecem. Fazendo parte desse contexto, a política previdenciária apresenta
características básicas constitutivas do paradoxo entre a reprodução da força de trabalho e
a incorporação de direitos sociais, ora tendendo à universalização de cobertura e ampliação
dos benefícios e serviços, ora tendendo a uma restrição dos mesmos com base na Seguridade
ou na concepção restrita do Seguro Social.
Conforme a nossa legislação, a Previdência Social será destinada aos beneficiários que são
as pessoas que recebem ou possam vir a receber as prestações previdenciárias (benefícios
e/ou serviços). Os beneficiários se dividem em segurados e dependentes.
O texto legal da Constituição Federal, especificamente no Art. 201, direciona a saber que
a Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e
de filiação obrigatória.
Assim sendo, somente os segurados que contribuam para a Previdência Social, bem
como seus dependentes, poderão fazer jus às prestações previdenciárias (benefícios e/ou
serviços). Importa mencionar também, que toda pessoa física que exerça alguma atividade
remunerada será, obrigatoriamente, filiada ao Regime Geral de Previdência Social, exceto se
esta atividade gerar filiação obrigatória ao Regime Próprio de Previdência.
Nessa parte da aula, é importante apontar que na conjuntura em que vivemos, surgem
novos desafios frente ao sistema previdenciário brasileiro. Esses desafios situam-se na defesa
de uma política de previdência social universal, solidária e sustentável e rejeição a um Estado
que desmonta os direitos sociais em prol do capital financeiro, conforme já estudado na
aula decorrida sobre o processo de mercantilização da política social.
Nota-se também que o Estado em vigência culpabiliza o indivíduo por sua não integração
à proteção social restrita ao mundo do trabalho e, que identifica a pobreza a partir de uma
concepção reducionista e conservadora que nem “arranha a problemática dessa forma de
refração da questão social, para citar alguns exemplos” (DEMO, 2011, p.46).
Contudo, as reflexões expostas seguem na direção das ideias de Harvey, as quais revelam
que
AULA 15
SAÚDE
Fazendo parte do tripé da Seguridade Social, reforça-se que a saúde é direito de todos e
dever do Estado. Assim sendo, os serviços públicos de saúde no Brasil se destinam a todos,
sejam pobres ou ricos, necessitados ou abastados.
Os serviços públicos de saúde são gratuitos, portanto, não dependem de qualquer
contribuição para a Seguridade Social.
15.1 A Garantia
São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor,
nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução
ser feita:
• diretamente;
• através de terceiros;
• por pessoa física ou jurídica de direito privado.
• atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais;
• participação da comunidade.
15.3 Financiamento
Conforme a nossa legislação, o sistema único de saúde será financiado com recursos
do orçamento:
• da Seguridade Social;
• da União;
• dos Estados;
• do Distrito Federal;
• dos Municípios;
• outras fontes.
15.4 Atribuições
Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
AULA 16
ASSISTÊNCIA SOCIAL
16.1 Objetivos
• da seguridade social;
• de outras fontes.
16.2 Diretrizes
As ações, na área de assistência social, serão organizadas com base nas seguintes
diretrizes:
Cabe informar que a Questão social surgiu no cenário internacional no século XIX, por volta
de 1830, quando o pauperismo crescente na classe trabalhadora tomou grandes dimensões,
Figura 29 – Viatura para atendimento aos usuários da Assistência Social. Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/5940521834/2ea22bbf24/
É nesse contexto que o Serviço Social se desenvolve enquanto profissão, como uma peça
fundamental de controle social da massa trabalhadora. Contudo, a profissão institucionaliza-
se no cenário das relações entre capital x trabalho, a fim de exercer a mediação entre a
relação antagônica das classes sociais, tornando-se uma das engrenagens da execução
das políticas públicas e dos setores empresariais, público que se tornou, posteriormente,
um dos principais empregadores do Assistente Social.
Iamamoto (2007) corrobora que a profissão atingiu seu desenvolvimento no pós-segunda
guerra mundial, quando houve uma grande expansão do capitalismo, a fim de minimizar os
estragos sociais decorrentes das guerras.
Por fim, em virtude de todas as vicissitudes apresentadas, o Serviço Social institucionaliza-
se enquanto profissão, no auge do desenvolvimento do capitalismo monopolista, tendo na
Questão Social a base da sua existência. A emergente população, vulnerabilizada mediante
a exploração por parte do capital, constitui os assistidos da Política de Assistência Social.
Anote isso
CONCLUSÃO
O estudo promoveu o reconhecimento de que as políticas sociais não são formas estáticas
de relação entre Estado e sociedade. O sistema vigente propõe a extinção das medidas
sociais e a volta ao mercado de trabalho, sem proteção do Estado, principalmente num
momento em que os trabalhadores estão mais vulneráveis pela desmobilização decorrente
do desemprego e da procura de emprego.
O entendimento do processo de desmercantilização da política, da saúde e da educação
é fundamental, pois são patrimônios comuns da humanidade, e assim, podemos caminhar
para formas mais abrangentes de direitos, cuja cobertura seja a todos os indivíduos.
A discussão sobre o sistema de Seguridade Social possibilitou a reflexão dos obstáculos
que esse sistema enfrenta, sejam de ordem política e/ou econômica e que dificultam a
promessa integradora proposta.
A situação de fragilidade das políticas sociais levou a discussão do conceito da Questão
Social e a necessidade de o Serviço Social, enquanto profissão, direcionar suas ações
para consolidação da democracia, liberdade, equidade, justiça social e principalmente, a
emancipação e autonomia dos sujeitos.
Por fim, o desafio agora é pensar a política social enquanto projeto de inclusão, participação
e universalização dos direitos para todo o conjunto da população.
A formação em agente transformador é urgente e necessária, vamos lá!
ELEMENTOS COMPLEMENTARES
LIVRO
FILME
Título: Toilet
Ano: 2017
Sinopse: Baseado na história real de Anitta Narre, uma
das mais de 500 milhões de pessoas indianas que não
têm acesso a saneamento básico. Filme forte, pois discute
a “cultura” de um povo versus as questões sanitárias,
além de mais de uma dezena de outras questões sociais
associadas.
WEB
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei nº 8742. Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Brasília, 1993.
EUZÉBY, C. A Inclusão Social: maior desafio para os sistemas de proteção social. In:
SPOSATI, Aldaiza (org.). Proteção Social de Cidadania: inclusão de idosos e pessoas
com deficiência no Brasil, França e Portugal. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2004, p 33-55.
GOUGH, J. W. A Teoria de Locke sobre a propriedade. In: QUIRINO, Célia Galvão Quirino
et. all. (orgs.). op. cit., p. 197-218
NETTO, J. P. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2009.