Libro Sobre Educação e Porbreza
Libro Sobre Educação e Porbreza
Libro Sobre Educação e Porbreza
Palmas – TO
2021
Universidade Federal do Tocantins
Editora da Universidade Federal do Tocantins - EDUFT
Reitor Conselho Editorial
Luis Eduardo Bovolato Presidente
Ruhena Kelber Abrão Ferreira
Vice-reitor
Marcelo Leineker Costa Membros do Conselho por Área
http://www.abecbrasil.org.br http://www.abeu.org.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da Universidade Federal do Tocantins
Campus Universitário de Miracema
T768 Trajetórias, temas e problemas das relações entre educação, pobreza e desigualdades sociais
[Recurso eletrônico] / Organizadores Juciley Silva Evangelista Freire, João Nunes da Silva,
José Carlos da Silveira Freire; autores Audir Valdemar Garcia...[et al]. - Palmas, TO: EDUFT,
2021.
252 p.; il.; color.; dados eletrônicos (pdf); (Coleção EPDS).
Acesso: https://ww2.uft.edu.br/eduft
Co-edição com Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação, Desigualdade Social e Políticas
Públicas – UFT (NEPED).
Inclui bibliografia.
Vários autores.
ISBN: 978-85-60487-89-9 (e-book).
CDD 371.207
Todos os Direitos Reservados – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer
meio deste documento é autorizado desde que citada a fonte. A violação dos direitos do autor (Lei nº
9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do código penal.
APRESENTAÇÃO
A obra Trajetórias, temas e problemas das relações: educação, pobreza
e desigualdades sociais em formato de E-book é fruto do trabalho acadêmico
realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Desigualdades sociais e
Políticas Públicas − NEPED da Universidade Federal do Tocantins – UFT, em âmbito
da segunda fase do projeto da Iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social
(EPDS) − Trajetórias Escolares, com apoio da Secadi/MEC desenvolvida entre os
anos de 2018 e 2019 com os recursos do FNDE. O livro compõe-se de textos que
apresentam reflexões sobre o fenômeno educativo e suas relações com a pobreza e
as desigualdades sociais, predominantes em várias partes e regiões do Brasil e, mais
precisamente, no Estado do Tocantins.
Os três textos propõem ao leitor uma reflexão crítica acerca do modo como
as desigualdades sociais impostas por um modelo econômico e social excludente
materializam-se na flagrante realidade dos estudantes tocantinenses em situação de
pobreza e, também, as vivências desses escolares, de acordo com as consequências
dessas desigualdades sociais. Se a realidade dos estudantes demonstra a gritante
falta de recursos básicos à vida, também demonstram que faltam-lhes as condições
necessárias para uma melhor qualidade de ensino que favoreçam a manutenção do
aluno na escola e, por sua vez, o aprendizado fundamental para garantir a efetivação
do exercício da plena cidadania.
Boas leituras!
Os organizadores.
PARTE II
TEMAS E PROBLEMAS DAS RELAÇÕES: EDUCAÇÃO,
POBREZA E DESIGUALDADES SOCIAIS NA ESCOLA........................................................... 83
PARTE III
DIVERSIDADE, DESIGUALDADES E
SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO .......................................................................................160
AUTORES E AUTORAS......................................................................................................................248
OS ORGANIZADORES.......................................................................................................................252
Introdução
Em pesquisa realizada entre os anos de 2016 e 2018 pelo Núcleo de Estudo
e Pesquisa em Educação, Desigualdade Social e Políticas Públicas – NEPED, da
Universidade Federal do Tocantins (UFT)3, sobre quem são os estudantes em situação
de pobreza e extrema pobreza e como são pensados dentro das políticas educacionais
de alguns municípios do Estado do Tocantins, observou-se que os sujeitos a quem
se direcionam as políticas de combate às desigualdades sociais e educacionais,
considerados pobres ou extremamente pobres, são os: Beneficiários de Programas de
Transferência de Renda, por exemplo: PBF e BPC4; Indígenas; Quilombolas; do Campo;
Itinerantes e Portadores de deficiências.
1 Doutora em Educação. Professora da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Palmas. Líder do Núcleo de Estudos
e Pesquisas em Educação, Desigualdade Social e Políticas Públicas – NEPED/UFT. Pesquisadora do Programa Nacional
Educação, Pobreza e Desigualdade social da UFT 2016-2018 e 2018-2019. E-mail: [email protected]
2 Professor da Universidade Federal do Tocantins/Campus de Palmas. Doutor em educação e pesquisador do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Educação, Desigualdade Social e Políticas Públicas – NEPED/UFT. E-mail: [email protected]
3 Essa pesquisa contou com financiamento do Programa Educação, Pobreza e Desigualdade Social do MEC/Secadi e do
FNDE.
4 O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um programa do governo federal que garante benefício no valor de um
salário mínimo mensal a pessoas com deficiência ou idosos de 65 anos ou mais de baixa renda. (fonte: https://www.inss.
gov.br/beneficios/beneficio-assistencial-ao-idoso-e-a-pessoa-com-deficiencia-bpc/)
Duarte (2011) aponta que alguns estudos revelam-nos uma forte correlação
entre situação de pobreza, distorção idade/série, dificuldades para a permanência
na escola e não acesso aos níveis mais elevados de ensino. Segundo a autora, “os
indicadores de fracasso escolar e baixa escolaridade nos dirigem, quase sempre, aos
mesmos lugares dos indicadores de vulnerabilidade social e pobreza” (p. 1).
Cumpriram
Total de Alunos Alunos acompanhados*
UF condicionalidade**
Beneficiários
Quant. % Quant. %
Brasil 14.043.116 13.172.487 93,80 12.507.566 94,95
Norte 2.261.670 2.097.123 92,72 2.045.014 97,52
Tocantins 140.698 133.545 94,92 130.199 97,49
Fonte: Elaboração dos autores(as) a partir dos dados disponibilizados na página da Secretaria
do Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania (BRASIL, 2019).
Notas:
* Quantidade de alunos que tiveram informações de frequência cadastradas no Sistema
Presença.
** Quantidade de alunos que cumpriram frequência entre os que tiveram informações
cadastradas no Sistema Presença.
5 Segundo Tomaz Tadeu da Silva (1990) o grande tema da “Sociologia da Educação é o dos mecanismos pelos quais a
Educação, ou mais concretamente, a escola, contribui para a produção e a reprodução de uma sociedade de classes.
Este é o tema unificador desta tradição teórica e empírica, o fio de ligação entre estudos que, de resto, podem se mostrar
bastante divergentes. Seria mesmo em torno deste tema que se poderia tentar uma definição da Sociologia da Educação
hoje. Mas o que é mais importante é que os estudos que marcaram e delimitaram o campo da Sociologia da Educação
nos últimos 20 anos centram-se em torno dessa problemática: o Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado de Althusser
(1970), o Schooling in Capitalist America de Bowles e Gintis (1976), a Reprodução de Bourdieu e Passeron (1970), o L´École
Capitaliste en France de Baudelot e Establet (1971), e o Knowledge and Control de Michael Young (1971), muitas vezes
englobados sob o título, impróprio e depreciativo, de reprodutivistas.” (p.4-5)
6 “A sociologia da ordem identificava-se ao estrutural-funcionalismo de Talcott Parsons, seu representante máximo, e a
ela associava-se o funcionalismo de Robert Merton e seus seguidores. Em princípio essa corrente de pensamento teria
uma concepção holística na qual a sociedade seria constituída por partes, cada uma com funções específicas no intuito
de promover a estabilidade do sistema social. Sua contra-cara seria um pensamento voltado para o entendimento dos
conflitos, ou seja, os mecanismos que colocavam em xeque essa mesma estabilidade.” (ORTIZ, 2013, p. 86)
Na realidade, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas
que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores
implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir,
entre outras coisas, as atitudes face ao capital cultural e à instituição
escolar. A herança cultural, que difere sob os dois aspectos, segundo
as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial das crianças
diante da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito.
(BOURDIEU, 1998, p. 41-42)
7 Segundo Ortiz, em Bourdieu “o habitus é um mecanismo que atua de maneira imperceptível, não se trata de um
comportamento no qual o indivíduo escolhe essa ou aquela direção em função da existência de determinados valores”
(2013, p.88)
Esse caráter relacional entre educação e sociedade foi tomado por vários
estudiosos tentando explicar seus fundamentos sócio-históricos e pedagógicos, bem
como, suas características e funções sociais. Saviani (1999) categoriza essas teorias
educacionais em relação às respostas dadas ao problema da “marginalidade”8,
referentes “ao fenômeno da escolarização” (p. 15), classificando-as em três grandes
correntes: a) as teorias não-críticas que postulam a autonomia e neutralidade
da educação escolar frente à sociedade e aos problemas das desigualdades
socioeconômicas, políticas e culturais, bem como, à crença do poder da escola para
corrigir esses problemas; b) as teorias crítico-reprodutivistas que compreendem
a educação em intrínseca articulação com a sociedade, reprodutora das relações
sociais capitalistas e de seus valores, portanto, das desigualdades sociais, econômicas,
políticas e culturais; e c) as teorias críticas que compreendem a dialeticidade
das relações entre educação e sociedade, dentre as quais, a educação tem papel
importante e determinado historicamente, numa formação humana comprometida
com a transformação social.
8 O termo marginalidade advém dos estudos realizados nas décadas de 1960 a 1980 sobre os mecanismos de marginalização
que “produziram excelentes trabalhos de reconstrução histórica e de análise teórica sobre a produção e reprodução da
pobreza” (REGO; PINZANI, 2014, p.21).
9 De acordo com o Inep a opção pelos Microdados deveu-se “tanto por fornecerem informações com o menor nível de
agregação, cuja unidade mínima é o indivíduo, quanto porque essas bases incluem um amplo espectro de escolas públicas
e privadas. Além disso, estão disponíveis para download no site do Inep e tornam os cálculos replicáveis” (2015a, p.5).
10 De acordo a Nota Técnica do Inep sobre o Inse, “em 2015, os testes censitários foram aplicados aos estudantes do 5° e 9°
ano do ensino fundamental regular, das escolas públicas, urbanas e rurais, que tinham 20 ou mais alunos matriculados na
série avaliada” (2015a, p.5).
PRIVADA 9.208 3.257 5.951 21.735 14.047 7.688 3.787 7.914 531
Total Geral 65.186 23.616 41.570 246.183 135.966 110.217 63.384 15.483 17.943
Para uma visão mais precisa desse cenário, buscamos conhecer um pouco
mais sobre o perfil das famílias em situação de pobreza e extrema pobreza no Estado do
Tocantins, que estão inseridas no Cadastro Único para programas sociais12 do governo
federal, realizado em colaboração com os municípios. Utilizaremos essa base de dados
porque é oficialmente o mais completo sistema cadastral de famílias de baixa renda no
Brasil, também, porque contêm dados sobre o perfil socioeconômico dessas famílias,
levando-se em consideração as características de residência, renda, escolaridade, o
11 O grupo 6 de escolas pertencem ao nível VI, o terceiro maior nível da escala do Inse, onde “os alunos, de modo geral,
indicaram que há em sua casa um quantitativo alto de bens elementares, com três ou mais quartos de dormir em suas
casas, três ou mais televisores; bens complementares, como uma máquina de lavar roupas e dois ou mais computadores
(com ou sem internet), um telefone fixo, uma TV por assinatura e, um ou dois carros; bens suplementares, como freezer e
um aspirador de pó; contratam empregada mensalista; a renda familiar mensal é entre 7 e 20 salários mínimos; e seu pai e
sua mãe (ou responsáveis) completaram a faculdade”. Além deste nível, a escala Inse vai até o nível VIII, o maior da escala
em que os alunos indicaram possuir alta quantidade de bens elementares , complementares e suplementares, bem como
renda mensal familiar de mais de 20 salários mínimos e escolaridade superior dos pais. No Estado do Tocantins nenhuma
escola pública está inserida nesses três últimos níveis (VI, VII e VIII) mais altos da escala em termos de posse de bens,
renda, escolaridade e contratação de serviços. (INEP, 2015a, p.9)
12 Segundo o Ministério da Cidadania, “é a partir das informações do Cadastro Único que as famílias são incluídas em
programas e serviços que as ajudam a superar a pobreza e a extrema pobreza”. Dentre os Programas sociais estão: o
Programa Bolsa Família, o Tarifa Social de Energia Elétrica, o Bolsa Verde, o Minha Casa, Minha Vida, e mais 19 outros
programas sociais. Esse Cadastro pode ser utilizado para seleção de beneficiários também por parte dos governos
estaduais e municipais. (BRASIL, 2019a, p.2)
Quadro 1: Quantidade de Famílias de baixa renda, por faixa de renda per capita de
até ½ salário mínimo no Estado do Tocantins, no mês de setembro de 2019.
Faixa de Renda Quantidade
140,000
130,000
120,000
110,000
01/2015
03/2015
05/2015
07/2015
09/2015
11/2015
01/2016
03/2016
05/2016
07/2016
09/2016
11/2016
01/2017
03/2017
05/2017
07/2017
09/2017
11/2017
01/2018
03/2018
05/2018
07/2018
09/2018
11/2018
01/2019
03/2019
05/2019
07/2019
09/2019
Fonte: Extraído de MC/Secretaria Nacional de Renda e Cidadania − SENARC, MDS, Aplicações.
13 Segundo o site do Ministério da Cidadania, Secretaria do Desenvolvimento Social (acessado em 16/10/2019), os efeitos dos
descumprimentos das condicionalidades do PBF são: Advertência: a família é comunicada de que algum integrante deixou
de cumprir condicionalidades, mas não deixa de receber o benefício. Bloqueio: o benefício fica bloqueado por um mês, mas
pode ser sacado no mês seguinte junto com a nova parcela. Suspensão: o benefício fica suspenso por dois meses, e a família
não poderá receber os valores referentes a esse período; Cancelamento: a família deixa de participar do PBF. (disponível
em http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/gestao-do-programa/condicionalidades/condicionalidades#cond3)
Beneficiários do PBF
Fonte: Extraído de MC/Secretaria Nacional de Renda e Cidadania - SENARC, MDS, Aplicações 2019c.
14 As crianças pequenas na faixa etária de 0 a 5 anos não têm acompanhamento Educação e nem registro de sua frequência
à escola. Para elas a condicionalidade é o acompanhamento Saúde, que é realizado pelo Ministério da Saúde, por meio do
recolhimento de informações das crianças abaixo de 7 anos sobre o calendário vacinal, o peso e a altura.
Fonte: Elaboração dos autores(as) a partir dos dados disponibilizados pelo Ministério da Cidadania/
SAGI/CECAD 2.0 (BRASIL, 2019e).
Branca
Preta
Amarela
Parda
Indígena
Não preenchido
Fonte: Elaboração dos autores(as) a partir dos dados disponibilizados pelo Tabulador do Cadastro
Único, SAGI/CECAD/Ministério da Cidadania.
Esse dado, portanto, confirma o que já vem sendo apontado por diversas
pesquisas realizadas sobre desigualdade e cor/raça, ou seja, que é a conclusão de
“que existe uma racialização da pobreza no Brasil”, tendo em vista que a população
negra encontra-se sobrerrepresentada nos estratos sociais mais baixos.
Tabela 5 – Número de pessoas por grau de instrução e faixa de renda familiar per
capita, Tocantins – Agosto de 2019.
Faixa da renda familiar per capita
Grau de
Extrema Baixa Acima de TOTAL
instrução Pobreza
Pobreza Renda 1/2 S.M.
Sem instrução 77.563 29.293 47.309 34.638 188.803
Fundamental
117.560 46.173 82.261 44.739 290.733
incompleto
Fundamental
21.394 9.206 15.166 5.161 50.927
completo
Médio
25.720 11.309 19.161 5.197 61.387
incompleto
Médio
41.108 21.808 56.963 27.188 147.067
completo
Superior
incompleto ou 2.039 1.805 9.188 10.285 23.317
mais
Sem Resposta 41.265 13.726 13.265 2.007 70.263
TOTAL 326.649 133.320 243.313 129.215 832.497
Fonte: Tabulador do Cadastro Único, SAGI/CECAD/Ministério da Cidadania.
Médio completo
12%
Médio
incompleto
8%
Fundamental Fundamental
completo incompleto
6% 36%
Os dados da tabela 5 ainda demonstram que o acesso aos graus mais altos
de escolaridade decai entre as pessoas pobres e extremamente pobres, chegando a: a)
apenas 3.844 pessoas (1%) com o ensino superior incompleto ou mais; b) 62.916 (12%)
com o Ensino Médio completo e c) 37.029 (8%) com Ensino Médio incompleto. Esses
dados confirmam a forte associação entre pobreza e dificuldade de acesso à educação
escolar ou acesso precário ao ensino formal. Quanto menos acesso aos bens básicos,
por exemplo: renda, trabalho, residência, saneamento básico, saúde e educação; mais
pobreza pode-se observar. Trata-se de um ciclo vicioso, pois o não acesso à educação
formal torna menores as chances de obter-se acesso a um trabalho formal com renda
suficiente para o acesso aos outros direitos básicos necessários à vida social. Segundo
Craveiro e Ximenes (2013)
BARTHOLO, Letícia; PASSOS, Luana; FONTOURA, Natália. Bolsa Família, Autonomia Feminina e
Equidade de Gênero: o que indicam as pesquisas nacionais? Texto para discussão/Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, no 2331. Brasília: Rio de Janeiro: Ipea, setembro de 2017.
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de
ensino. Tradução de Reynaldo Bairão. 6a ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2013.
BRASIL. Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Cria o Programa Bolsa Família, altera a Lei nº 10.689,
de 13 de junho de 2003, e dá outras providências. Diário Oficial da União - Seção 1 - 12/1/2004, p.1,
2004.
BRASIL, Ministério da Cidadania. Cadastro Único: o que é/para que serve? Brasília: SEDS/MC, 2015.
Disponível em: http://mds.gov.br/assuntos/cadastro-unico/o-que-e-e-para-que-serve, acesso em 24
out. 2019.
BRASIL, Ministério da Cidadania. Relatório do Bolsa Família e Cadastro Único Estadual – resumido.
Brasília: MCidadania/SAGI/MDS, 2019b. Disponível em https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/
bolsafamilia/relatorio-resumido-estadual.html, acesso em 14 out. 2019.
BRASIL, Ministério da Cidadania. Bolsa Família: visão geral – Tocantins. Brasília: MDS, 2019c. Disponível
em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/bolsafamilia/painel.html#, acesso em 14 de out. 2019.
BRASIL. Ministério da Cidadania. Relatório sobre Bolsa Família e Cadastro Único: Estado do Tocantins.
Brasília: MCidadania/SAGI, 2019d. Disponível em https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/
relatorio_form.php, acesso em 13 out. 2019.
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Brasília: MCidadania/SAGI/CECAD 2.0, 2019e. Disponível em https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/
cecad20/analitico/index.php. Acesso em 13 out. 2019.
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SOUZA, Pedro H. G. Ferreira; OSORIO, Rafael Guerreiro; PAIVA, Luis Henrique; SOARES, Sergei. Os
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anos. Texto para discussão/Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, n. 2499, Brasília: Rio de Janeiro:
Ipea, agosto de 2019.
Introdução
O texto a seguir é um estudo sobre as taxas de rendimentos escolares
no Estado do Tocantins; assim sendo, o artigo apresenta os índices de aprovações,
reprovações e abandonos escolares neste Estado brasileiro, considerando-se o período
entre 2016 e 2018, de acordo com os dados relacionados às distorções idades-séries
e as taxas de aprendizado em Língua Portuguesa e Matemática, nos âmbitos das
escolas públicas e privadas.
16 A aprendizagem significativa defende que o sujeito já carrega consigo uma estrutura cognitiva construída a partir de suas
vivências e realidades. Nessa forma de aprendizagem o aluno dá sentido ao que estuda e aprende; assim sendo, os alunos
são prioridades e o conhecimento não é imposto, como na Pedagogia tradicional. Ausubel (1979), teórico da aprendizagem
significativa, destaca a ideia de conhecimento prévio, interação social e questionamento.
17 Cf https://academia.qedu.org.br/censo-escolar/distorcao-idade-serie
18 https://cmoreira2.jusbrasil.com.br/artigos/111821615/distorcao-idade-serie-na-educacao-basica. Acesso em 12-06-2021.
16,9 9,0 1,6 2,0 8,7 13,0 18,2 6,5 24,7 28,0 27,8 25,7 8,9 33,1 27,8 23,6 48,9
TOCANTINS
Urbana 15,8 8,2 1,2 1,7 8,3 11,8 16,7 24,9 23,2 26,5 26,1 23,8 27,7 32,2 26,5 22,1 31,1
Rural 23,5 13,7 4,2 3,9 11,4 19,4 26,5 38,4 35,0 38,9 40,0 40,6 42,7 43,9 43,0 39,8 65,3
Tabela 13: Percentual dos resultados dos aprendizados dos estudantes da escola
pública do Estado do Tocantins em Língua Portuguesa e Matemática − 2015–2017.
SÉRIE SÉRIE
COMPONENTE RESULTADO RESULTADO
ANO ANOS ANOS
CURRICULAR (%) (%)
INICIAIS FINAIS
Português 46% 22%
2015
Matemática 33% 9%
5º Ano 9º Ano
Português 57% 31%
2017
Matemática 47% 15%
Fonte: QEdu, dados prova Brasil.
Considerações finais
O trabalho apresentou dados e índices relacionados às taxas de rendimento
escolar no Estado do Tocantins, além das taxas de distorção idade-série, considerando-
se o período entre 2016 e 2018. Todas as informações constam das fontes do Inep e,
também, da plataforma QEdu.
Referências
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Brasília. BF: articulação nacional por uma educação básica do campo, 1999.
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al español de Roberto Helier, de la primera edición de Educational psychology: a cognitive view, 1976.
CARRIL et al. Considerações sobre aprendizagem significativa a partir da visão de Freire e Ausubel –
uma reflexão crítica. in: E-Mosaico – Revista Multidisciplinar de ensino, pesquisa, extensão e cultura do
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança – um reencontro com a Pedagogia do oprimido, Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1992.
MARX, K. Terceiro manuscrito. Propriedade privada e trabalho. In: Os pensadores. São Paulo: Nova
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VENDRAMINI, Célia Regina. Qual o futuro das escolas do campo? Educação em Revista [online]. 2015, v.
31, n. 3, pp. 49-69. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-4698126111. Acessado 12 Junho 2021.
Introdução
As disposições gerais constantes da Carta Constitucional de 1988
valorizaram especialmente as conquistas referentes aos direitos civis e políticos que
foram amplamente violados na vigência do Regime Militar no Brasil. E, durante um
período relativamente estável de consolidação das instituições democráticas no país,
pode-se dizer que esses direitos civis e políticos passaram por processos mínimos de
concretização (ABRAÃO, 2011). Contudo, outros direitos, como os sociais, culturais,
econômicos e ambientais, não tiveram a mesma atenção.
22 Professora doutora da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Palmas. Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Educação, Desigualdade Social e Políticas Públicas – NEPED/UFT. E-mail: [email protected]
23 Professora Doutora do curso de Pedagogia da UFT/Campus de Miracema. Membro do Núcleo de Estudo e Pesquisa em
Educação, Desigualdade Social e Políticas Públicas – NEPED/UFT. E-mail: [email protected]
24 Professora da Educação Básica. Coordenadora Estadual do PBF na Educação (SEDUC-TO 2010 - 2020). E-mail:
[email protected]
25 O movimento indígena é um conjunto de organizações sociopolíticas dos povos indígenas criadas por lideranças indígenas,
intelectuais e religiosos, para lutarem por seus direitos e afirmação de suas identidades étnicas e culturais, desde a década
de 1970, objetivando superar “a situação de tutela a que historicamente foram submetidos” (BRASIL, 2012, p, 379).
[...] o território goiano acabou sendo vasculhado. Durante o séc. XVIII, teve
início, efetivamente, sua “ocupação populacional” pela população não
nativa. Os garimpeiros, mineradores, e seus escravos, foram os primeiros
a invadir o território que até então era habitado por índios Karajá, Xavante,
Xerente, Acroá, Xacriabá, entre outros. Esses povos indígenas ainda não
tinham experimentado nenhum contato com esse processo efetivo de
ocupação estrangeira (FARIAS, 1994, p. 26).
26 O termo Reocupação foi utilizado no estudo de Lima (2016) por considerar que o sertão goiano era ocupado por populações
indígenas antes das invasões das Bandeiras e das demais Frentes Pioneiras de Expansão.
29 Isolados na TI Inãwébohona. De acordo com o relatório do Cimi de violência contra os povos indígenas de 2018, estes
podem ser afetados por projetos de desenvolvimento na região, sobretudo pelo projeto de construção da Rodovia TO 242
cortando o Parque Indígena do Araguaia. Sobreposição do Parque Nacional do Araguaia. (Dados do Cimi de 2018).
30 Em 17 de maio de 2016, o senador Ronaldo Caiado (DEM/GO) entregou ao ministro da Justiça do governo interino,
Alexandre de Moraes, um ofício no qual questiona o “mérito duvidoso” da portaria declaratória referente à TI Taego Ãwa e
solicita sua “reanálise”. https://terrasindigenas.org.br/pt-br/noticia/166479.
31 Em estudo: Realização dos estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais, que fundamentam
a identificação da delimitação da terra indígena. http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas.
Importante ressaltar o caput do artigo 231 que garante “aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre
as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens”. Segundo Grupioni (2001, p 13) “com a aprovação
do novo texto constitucional, os índios não apenas deixaram de ser considerados uma
espécie em via de extinção, como passaram a ter assegurado o direito à diferença
cultural, isto é, o direito de serem índios e de permanecerem como tal”.
32 Conforme Mattos; Kamimura; Araújo (2012, p. 59) “O conceito de política indigenista (ISA, 2004) é utilizado como sinônimo
de toda e qualquer ação política governamental ou não, que tenha as populações indígenas como objeto”.
[...] no dia 14 de abril de 1755, foi decretado o primeiro alvará que, entre
outras providências, incentivava o casamento inter-racial e equiparava
os índios aos colonos, em termos de trabalho e direitos. Em 6 de junho
de 1755, foi decretada a liberdade irrestrita do índio, e no dia seguinte
foi totalmente suprimido por lei – Alvará de 7 de junho – o trabalho dos
religiosos junto aos índios, o que vigorou inicialmente no Pará e Maranhão,
e após o Alvará de 8 de maio de 1758 estende-se para todo Brasil. Essa
legislação, ao mesmo tempo que se preocupava com a liberdade e
educação dos índios, bem como em prepara-los para a vida civilizada sem
escraviza-los, proibia o uso da língua geral, o tupi, tornando o português
a língua oficial. As aldeias em que moravam logo foram transformadas
em vilas ou freguesias. Era a primeira tentativa de solucionar o problema
indígena sem o recurso da violência armada, dentro do quadro institucional
da época. (GAGLIARDI,1984 p.28 e 29, grifos nossos)
[...] Antigamente nós íamos pescar todo final de semana, porque a escola
existe desde o tempo que a gente andava nu. Era naquela cabeceira lá
da barragem para cá da ponte, naquelas pedras debaixo da ponte até o
limite do território indígena, hoje não conseguimos passar de pé para lá,
ficou limitado. (Liderança indígena Akwẽ-Xerente, novembro de 2015)
33 Tese de doutorado de Lima (2016) “Os Akwẽ-Xerente no Tocantins: território indígena e as questões socioambientais”
34 Conforme Sousa (2016), até 2016 existiam “vinte e cinco (25) territórios etnoeducacionais pactuados, dos quarenta e
um (41) previstos, distribuídos por doze (12) estados brasileiros. São eles: Baixo Amazonas (AM) Rio Negro (AM); Povos
do Pantanal (MS); Cone Sul (MS); A’uwê Uptabi (MT); Juruá/Purus (AM); Xingu (MT); Yby Yara (BA); Médio Solimões (AM);
Cinta Larga (MT e RO); Pykakwatynhre (PA); Alto Solimões (AM); Vale do Javari (AM); Ixamná (PA); Tupi Mondé (RO); Tupi
Tupari (RO); Tupi Txapakura (RO); Yjhukatu (RO); Vale do Araguaia (MT, TO, GO e PA); Timbira (TO e MA); Tapajós e Arapiuns
(PA); Médio Xingu (PA); Yanomami e Ye’kuana (AM e RR); Potyrõ (CE e PI); Serra Negra Berço Sagrado (PE). Outros três
(03) TEE estão em processo de implantação e treze (13) em fase de consulta e diagnóstico (nos quais se encontram
povos indígenas das regiões Sul e Sudeste)” (p. 110). Ainda segundo a autora, no ano de 2015, “o MEC promoveu, em
parceria com a Universidade Federal do Rio de janeiro e com o Museu Nacional, um curso de aperfeiçoamento em gestão
etnoterritorializada da educação escolar indígena” (SOUSA, 2016, p.109).
Educação Infantil
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Goiatins 13 Educação de Jovens Adultos
KRAHÔ
ARAGUAÍNA Atendimento Educacional
XAMBIOÁ
Especializado
Ensino Fundamental
Formoso do
7 Ensino Médio
Araguaia Educação de Jovens e Adultos
GURUPI JAVAÉ
Ensino Fundamental
Sandolândia 3 Ensino Médio
Educação Infantil
Ensino Fundamental
Ensino Médio
MIRACEMA DO
TOCANTINS
Tocantínia 38 XERENTE Educação de Jovens Adultos
Atendimento Educacional
Especializado
Educação Profissional
Ensino Fundamental
PEDRO AFONSO Itacajá 11 KRAHÕ
Ensino Médio
Maurilândia
1 Ensino Fundamental
do Tocantins
TOCANTINÓPOLIS APINAJÉ Ensino Fundamental
Ensino Médio
Tocantinópolis 10 Atendimento Educacional
Especializado
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados disponibilizados pelo Inepdata/Catálogo de Escolas
(2019) e pela Diretoria de Políticas Educacionais/Gerência de Educação Indígena − Seduc-TO.
Em contato com a sociedade não indígena há mais de 250 anos, o povo akwẽ
já enfrentou as mais diferentes faces e fases do contato. Atualmente a visão
de mundo Xerente tem sido confrontada pelo discurso desenvolvimentista
expresso pelos inúmeros empreendimentos econômicos que cercam o
35 O território indígena Xerente localiza-se na margem direita do rio Tocantins, no município de Tocantínia (TO), a 70 km ao
norte da capital do estado, Palmas.
36 Segundo Ferreira e Morais Neto (2016), os Akwẽ-Xerente têm registro de escola desde 1876, possuindo já em 1877, 50
alunos indígenas. O Ensino Fundamental tem registro em 1940. E, em 1950, registra-se a chegada dos missionários
batistas. As escolas mantidas pelo Estado vão surgir no “final dos anos de 1990 e início dos anos 2000, nas terras indígenas
Xerente e Funil.” (p.55)
MATRÍCULAS INDÍGENAS
ANO REGIÃO GEOGRÁFICA/UF TOTAL
FEMININO MASCULINO
Brasil 106.228 109.858 216.086
2009 Norte 35.908 39.046 74.954
Tocantins 1.731 1.938 3.669
Brasil 157.448 163.727 321.175
2019 Norte 72.762 77.131 149.893
Tocantins 3.654 3.638 7.292
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados disponibilizados pelo Inep/Censo Escolar – Sinopses
Estatísticas da Educação Básica de 2009 e 2019.
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados disponibilizados pelo Inep/Censo Escolar – Sinopses
Estatísticas da Educação Básica de 2009 e 2019.
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados disponibilizados pelo Inep/Censo Escolar – Sinopses
Estatísticas da Educação Básica de 2009 e 2019
Esses dados indicam que o interesse pela escola tem sido marcante entre
os povos indígenas do Estado do Tocantins. E tem iniciado cedo, inclusive com a oferta
de creches às crianças bem pequenas. Esse cenário suscita alguns questionamentos
sobre a qualidade e a concepção da escola oferecida a estes povos: que escola é esta?
Quem a pensa e quem a executa? Qual o conteúdo e a forma do processo de ensino-
aprendizagem e como ele se relaciona com as tradições socioculturais de cada povo?
Qual o sentido dessa escola para cada um dos povos e suas comunidades? A escola
diferenciada, intercultural, bilíngue e comunitária de fato se efetiva nestas unidades
escolares?
Considerações Finais
Na atual conjuntura política brasileira observamos graves retrocessos nas
políticas públicas voltadas às garantias dos direitos sociais, sejam dos mais pobres, dos
povos tradicionais, das minorias étnicas, dos homossexuais ou dos imigrantes. O atual
governo de extrema direita no Brasil (2018-2022) tem desferido violentos ataques
às políticas públicas de inclusão social e de valorização da diversidade étnico-cultural
que os governos democrático-popular de Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2015)
implementaram, ainda que de modo incipiente e focalizado.
37 Segundo matéria da Revista Carta Capital o coordenador nomeado é “Formado em antropologia e ciências sociais” e
“atuou por dez anos na Missão Novas Tribos do Brasil, organização que trabalha na evangelização dos índios da Amazônia
e que já foi expulsa pela Funai das terras do povo Zo’é em 1991, acusada de impor a doutrina cristã e espalhar doenças”
(MAGALHÃES, 2020. p.1).
38 Fonte: Siasi/DGISI/DGESI/Sesai/MS. Acesso em 11/1/2019. Data de referência: 30/9/2018. Dados sujeitos a alterações
por processo de alimentação e qualificação. (CIMI, 2018)
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documento-reune-propostas-para-nortear-a-educacao-indigena, acesso em 18 Mar. 2020.
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T1 NOTÍCIAS. Governo do Estado indica novos membros do Conselho Estadual de Educação Indígena.
Palmas, TO, 17 de Janeiro de 2020.
TOCANTINS. Governo do Estado. Lei nº 1.533, de 29 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Plano de
Cargos, Carreiras e Remuneração –PCCR do Profissional do Magistério da Educação Básica, e adota
outras providências. Diário Oficial nº 1.831. Palmas – TO, 2004.
TOCANTINS. Governo do Estado. Lei nº 2.859, de 30 de abril de 2014. Dispõe sobre o Plano de Cargos,
Carreiras e Remuneração dos Profissionais da Educação Básica Pública, e adota outras providências.
Diário da Oficial nº 4.120. Palmas - TO, 2014.
Introdução
O tema “pobreza e desigualdade social” ganhou destaque no campo
da educação, nos últimos anos, em função da criação, em 2003, do Programa
Bolsa Família (PBF). Este Programa do Governo Federal constituiu-se no principal
instrumento de combate à pobreza por meio da transferência de benefício financeiro,
associada ao acesso aos serviços básicos, por exemplo: saúde, educação, assistência
social e segurança alimentar. No âmbito da educação, o PBF promoveu o ingresso
de milhões de crianças, adolescentes e jovens nas escolas, a partir de determinadas
condicionalidades42. Um conjunto importante de estudos mostra que são mais evidentes
os impactos positivos do PBF sobre os indicadores mais diretamente relacionados a
essas condicionalidades, especialmente no que diz respeito exatamente à frequência
escolar e às taxas de abandono (SANTOS et al, 2017). Contudo, ainda há questões que
carecem de avaliações mais aprofundadas, particularmente, o impacto do PBF sobre
o aproveitamento escolar dos estudantes pertencentes às famílias beneficiárias.
39 Professor Doutor do Departamento de Estudos Especializados em Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina
(EED/UFSC). Coordenador e Professor Pesquisador do Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade social da
UFSC 2015-2017. E-mail: [email protected]
40 Professor Doutor do Departamento de Serviço Social, da Universidade Federal de Santa Catarina (DSS/UFSC). Professor
Pesquisador do Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade social da UFSC 2015-2017. E-mail: jaimehil@
yahoo.com.br
41 Professora Doutora do Departamento de Serviço Social, da Universidade Federal de Santa Catarina (DSS/UFSC).
Professora Pesquisadora do Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade social da UFSC 2015-2017. E-mail:
[email protected]
42 Maiores informações sobre o conjunto de condicionalidades do PBF consultar BRASIL. Ministério da Cidadania. Carta
de Serviços ao Usuário. O que são as condicionalidades? Disponível: <http://mds.gov.br/acesso-a-informacao/mds-pra-
voce/carta-de-servicos/gestor/bolsa-familia/condicionalidades>. Acesso em: 1 out.2019.
43 Este curso, ofertado na modalidade EaD, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no período de 2015-2016,
foi uma das ações do Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social (PNEPDS), derivado da Iniciativa
Dados mais recentes divulgados pelo IBGE (2019), por meio da PNAD
Contínua, mostram que o nível de desigualdade no Brasil aumentou em 2018. Segundo
o Instituto, o Índice de Gini45 do rendimento médio mensal real domiciliar per capita, foi
estimado em 0,545 em 2018, mantendo uma tendência iniciada em 2016, quando o
Educação, Pobreza e Desigualdade Social (IEPDS), criada, em 2014, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão, do Ministério da Educação (SECADI/MEC). O PNEPDS previa três ações: 1) Desenvolvimento de um
Curso de Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social; 2) Desenvolvimento de uma pesquisa na mesma
temática; e 3) Divulgação do conhecimento produzido nos âmbitos da formação e da pesquisa. Na Universidade Federal
de Santa Catarina, o PNEPDS (primeira etapa) foi desenvolvido no período de 2015 a 2017. O PNEPDS foi financiado com
recursos do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE) e SECADI/MEC.
44 Tal fato frustrou as expectativas do Ministério da Educação apresentadas no documento intitulado FUNDEP:
avanços na universalização da educação básica. Brasília: INEP/MEC, 2006. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/
documents/186968/484184/Fundeb+avan%C3%A7os+na+universaliza%C3%A7%C3%A3o+da+educa%C3%A7%C3%A3o+
b%C3%A1sica/9be4477d-88b3-4fe8-a3bc-fc263d878002?version=1.3>. Acesso em: 25 out. 2019.
45 O Índice de Gini varia de zero (igualdade) até um (desigualdade máxima).
46 Se considerarmos que em maio de 2017, o dólar valia R$3,23, teríamos que pobre era quem tinha uma renda mensal de
até R$184,20, tomando por base a linha de pobreza de US$1,90, portanto, R$14,20 abaixo do valor estabelecido pela linha
administrativa adotada para estabelecer os valores do PBF em 2017 (R$170,00). Se considerarmos que em maio de 2018,
quando foi editado o Decreto Nº 9.396, que atualizou os valores dos benefícios, o dólar valia R$3,63, teríamos que pobre
era quem tinha uma renda mensal de até R$207. Neste caso, a linha de pobreza adotada pelo governo federal em maio
de 2018 estava R$29,00 abaixo da linha de US$1,90, piorando muito se a comparação for com a linha de US$5,5.
47 Ver: Desemprego cai, mas renda média diminui e crescem trabalhadores informais. Folha de São Paulo, São Paulo, 31
jul. 2019. Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/07/taxa-de-desemprego-cai-e-fica-em-12-no-
segundo-trimestre-de-2019.shtml?loggedpaywall>. Acesso em: 25 out. 2019.
48 Sobre os sentidos e a validade do conceito de neoliberalismo nas ciências sociais, ver: Andrade (2019). Para colocar luzes
sobre esse mesmo debate, a partir de outra chave analítica, ver: Wood (2014) e Harvey (2008).
49 Garcia, Hillesheim e Krüger (2018), analisando 11 PPPs de escolas de Santa Catarina, mostram que os termos pobre,
pobreza/extrema pobreza e desigualdade social não apareciam na ampla maioria deles. Os autores encontraram o
temo “extrema pobreza” apenas no PPP de uma escola quando feita referência à situação do município, comparando a
condição dos grupos sociais. No de outra escola encontraram menção aos termos “desigualdade” e “desigualdade social”
quando apresentadas as concepções de sociedade e de mundo, bem como quando tratava do papel da escola. Em outro
PPP aparecia uma menção à “desigualdade local” dando a entender que se tratava da desigualdade social existente no
município. Em outros dois encontraram o termo “desigualdades sociais” e/ou “desigualdades”, quando da apresentação da
concepção de homem e da visão de mundo.
50 Esses dados foram coletados em: <https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/vis/data/data-table.php>. Acesso em: 25 set. 2019.
Para acessar os dados por ano é necessário utilizar o gerenciador da tabela.
51 Informação disponível em: <http://mds.gov.br/area-de-imprensa/noticias/2016/junho/apos-dois-anos-bolsa-familia-
tem-aumento-de-12-5>. Acesso em: 25 set. 2019.
[...] ‘numa nação livre, em que escravos não sejam permitidos, a riqueza mais
segura está numa multidão de pobres laboriosos. Além de constituírem
uma inesgotável fonte de homens para a marinha e o exército, sem eles
não haveria qualquer satisfação e nenhum produto de nenhum país seria
valorizável. Para fazer feliz a sociedade’ (que, naturalmente, é formada de
não trabalhadores) ‘e satisfazer ao povo mesmo nas circunstâncias mais
adversas, é necessário que a grande maioria permaneça tão ignorante
quanto pobre. O conhecimento expande e multiplica nossos desejos,
e quanto menos um homem deseja, tanto mais facilmente se podem
satisfazer suas necessidades’ (MARX, 2013, p. 691-692, grifo nosso).
Marx chamava atenção para o fato de que os burgueses à época ainda não
percebiam que
A despeito das questões até aqui suscitadas, por outro lado, o processo
de pesquisa permitiu identificar que no espaço do cotidiano escolar as práticas
pedagógicas também são pensadas com base no entendimento de que as condições
objetivas e subjetivas dos(as) estudantes devem orientar essas práticas:
52 Nos termos indicados por Lukács “[...] está correto que os marxistas entendem por ideologia a superestrutura que
necessariamente surge de uma base econômica, mas, por outro lado, é errôneo compreender o conceito de ideologia
em seu uso pejorativo, que representa uma realidade social indubitavelmente existente, como formação arbitrária do
pensamento de pessoas singulares. Antes de qualquer coisa: enquanto alguma ideia permanecer o produto do pensamento
ou a alienação do pensamento de um indivíduo, por mais que seja dotada de valor ou de desvalor, ela não pode ser
considerada como ideologia. Nem mesmo uma difusão social relativamente mais ampla tem condições de transformar um
complexo de ideias diretamente em ideologia. Para que isso aconteça, é necessária uma função determinada com muita
precisão, a qual Marx descreve de modo a fazer uma diferenciação precisa entre as revoluções materiais das condições
econômicas de produção e ‘as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em suma, ideológicas, nas quais
os homens se conscientizam desse conflito e o enfrentam até solucioná-lo’. [Determinadas ideias] [...] podem se converter
em ideologia só depois que tiverem se transformado em veículo teórico ou prático para enfrentar e resolver conflitos
sociais, sejam estes de maior ou menor amplitude, determinantes dos destinos do mundo ou episódicos” (LUKÀCS, 2013,
p. 464-467).
53 Para além das disciplinas que constam na Tabela 7, outras foram citadas com menor frequência: Artes, Ciências, Biologia,
Sustentabilidade, Matemática, Educação Financeira, Química, Educação Étnico-Racial. Outras respostas não especificaram
a disciplina em si, mas sinalizaram áreas ou estratégias pedagógicas: área de humanas, de forma interdisciplinar, em
todas, diversas, atividades e projetos, atualidades, momentos motivacionais, eixo educacional, rodas de conversa.
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Introdução
Entendido como a não apropriação dos conteúdos de aprendizagem
propostos pelos programas de ensino, o fracasso escolar afeta um número muito
alto de crianças no Brasil deixando-as em situação de marginalização, provocando o
desinteresse e a exclusão em relação à dinâmica escolar. Dados do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas (Inep, 2018) revelam que 11,6% dos alunos matriculados no
Ensino Fundamental são reprovados no final do terceiro ano, quando deveriam estar
completamente alfabetizados, com capacidade de leitura e escrita fluente e domínio
das operações matemáticas básicas.
Nosso olhar sobre essas questões tem avançado para outros fatores que
perpassam os conhecimentos da educação, do desenvolvimento infantil e das políticas
de inclusão escolar. E estes fatores estão arraigados nas representações que se
manifestam através de discursos e práticas discriminatórias contra crianças pobres
e em contexto de vulnerabilidade que já carregam em si a marca da desigualdade.
Crianças nessas condições, por não atenderem aos padrões de aprendizagem exigidos
pela escola estão fadadas ao fracasso e a desistência, e, por isso, carecem de políticas
de assistência.
O que é pior de tudo isso é que pesquisas demonstraram que essas crianças
que fracassam na escola são, na grande maioria, negras e pobres, já que a grande
maioria das classes populares é de negros. Ora, se noventa por cento das crianças
negras estudam em escolas públicas, então o fracasso escolar é excludente, racista e
preconceituoso. Para Arroyo,
Do ponto de vista da escola, é preciso observar que ela não está isolada
do sistema socioeconômico, mas o reflete; por isso, a escola não pode se furtar de
tentar oferecer o melhor que puder para seus alunos. Não quer dizer que uma criança
pobre não tenha o direito e a oportunidade de se apropriar dos recursos materiais e
tecnológicos que a sociedade moderna faz uso. Os aspectos pedagógicos contribuem,
muitas vezes, para o fracasso escolar. São problemas intraescolares que envolvem o
currículo escolar, a má formação dos professores, os recursos materiais, a estrutura
física, a dosagem dos conteúdos de ensino e, principalmente, os critérios de avaliação.
Em 1946 criou-se o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) com
objetivo principal de socorrer as crianças e suas famílias dos países devastados pela
Segunda Guerra Mundial, principalmente na Europa, no Oriente Médio e na China.
Depois da guerra, tornou-se um órgão permanente e redimensionou as suas atividades
para países subdesenvolvidos de várias partes do mundo, inclusive da América Latina.
No Brasil, o Unicef está presente desde 1950.
É preciso conceber as crianças como cidadãs que têm direito e por quem
o estado tem deveres a cumprir, por isso a educação destinada a elas deve ser de
qualidade e com condições de acesso e permanência para todas. Essa possibilidade
de emancipação e respeito às crianças só será possível se os adultos também forem
sujeitos emancipados. Isso implica em uma série de fatores, entre eles, condições de
moradia, empregos e salários dignos.
Por outro lado, numa versão inclusiva e para que o fracasso não seja da
escola, refaz-se sua programação, exigindo dessas crianças atividades de ensino
e instrução menos exigentes, com conteúdos reduzidos e diversas estratégias de
Essa atitude, isto é, da facilitação, ajuda a criança a passar de ano, mas não
contribui para a aquisição de saberes para a vida. A defasagem, nesse sentido, contribui
ainda para vulgarização dos conteúdos disciplinares que de forma fragmentada vão
passando pelas crianças sem deixar nelas fundamentos conceituais que lhes produza
afeitos intelectuais. No entanto é sobre o domínio dos conteúdos que os alunos serão
julgados, reprovados e excluídos do saber social.
Considerações
O direito à educação infantil brasileira está longe de ser efetivada para a
uma grande parte de crianças entre 0 e 06 anos. O reconhecimento de sua necessidade
começou a surgir em nível de discursos, tanto de documentos oficiais como de
pronunciamento e interpretações, bem como de propostas de programas desenvolvidos
por iniciativas estaduais ou municipais e até de ONGs, mas não alcança a todas devido a
alguns fatores, como o número de ofertas de vagas e as condições familiares.
Por isso, conclui-se que cabe ao estado maior, isto é, a nação brasileira, a
implementação de políticas de educação que abarquem todas as parcelas estudantis;
pois, sabe-se que existe um contingente muito grande de crianças fora das escolas ou
em situações precárias de atendimento. Sabe-se, também, que a falta de uma formação
adequada para os profissionais que trabalham na área é um fator determinante para
a exclusão e o fracasso escolar de muitas crianças.
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WEISS, Maria Lúcia L., Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem
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Introdução
Mudanças na configuração das ações das políticas sociais foram adotadas
pelo Estado brasileiro nas últimas décadas, cabendo especial destaque às ações
de enfrentamento da pobreza, sobretudo socioeconômica (privação material). Para
tentar minimizar os problemas relacionados à vulnerabilidade e à desigualdade social,
houve, por parte dos governos anteriores, investimentos em políticas públicas de
transferência de renda que impuseram a condicionalidade da educação (frequência
mínima exigida), evidenciando a premissa de que o maior tempo de escolaridade
poderia garantir maiores possibilidades de superação da pobreza e pobreza extrema.
Assim, este trabalho apresenta o estudo cujo objetivo foi analisar, a partir da
fala dos professores que atuam em escolas com alta concentração de alunos pobres e
extremamente pobres, como as suas concepções sobre a pobreza manifestam-se em
sua prática pedagógica.
55 Professora Doutora do Curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal.
Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Pobreza, Educação e Desempenho Escolar (GPEDE). E-mail: [email protected]
56 Licenciada em Pedagogia, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal. Professora da rede
municipal de Corumbá/MS.
Ainda, o autor defende que a escola poderia sustentar essa ideia, sendo
a porta voz daqueles que, por sua condição de desvantagem em relação à escola,
não conseguem fazê-lo. Assim, ao discorrer sobre “A escola justa” o autor afirma
que “O sistema justo, ou menos injusto, não é o que reduz as desigualdades entre os
melhores e os mais fracos, mas o que garante aquisições e competências vistas como
elementares para os alunos piores e menos favorecidos” (DUBET, 2004, p. 546 -547).
Outro fator é a injustiça que ocorre quando o “fracasso” escolar dos alunos
empobrecidos passa a ser visto como única responsabilidade do estudante e suas
famílias, sob a justificativa do acesso “igualitário” a todos pela escola pública. No entanto,
este discurso amplamente difundido, permite a responsabilização dos “pobres pela sua
57 O Sistema Presença tem o objetivo de agregar informações dos beneficiários do Programa Bolsa Família com a
condicionalidade educação, a partir dos relatórios bimestrais, nos quais são visualizados os motivos da baixa frequência
escolar dos alunos beneficiários.
0
Out 503 98.63% 0.00% 1.37%
7
Escola 1 Municipal 510
Nov 503 98.63% 0 0.00% 7 1.37%
Famílias de baixa renda, mais de 60% dos alunos passam por dificuldades
em casa, falta de dinheiro, alimento e alguns casos até moradia.
Participam de projetos sociais de apadrinhamento do programa criança
feliz, participantes do programa bolsa família, vale renda e outros. (P04)
São socialmente de uma condição que diria de nível baixo, são totalmente
humildes, carentes, os alunos são bem carentes a região onde a escola se
localiza é de um nível bem carente mesmo. (P03)
Nas vivências em sala de aula, alguns veem sem material básico, lápis,
borracha, caderno, quando questionado falam que o pai não tem
dinheiro, emprego. Outros vem sem almoçar, sem banho, com roupas
sujas, rasgadas, sem calçados adequados. (P04)
Considero, considero sim porque, eu se sei que meus alunos são carentes
e eu não vou, por exemplo, fazer uma lista pra pedir para os pais já que o
material porque vai demorar a eles ganharem, e eu não vou pedir uma lista
de materiais gigantes se eu sei que eles não vão ter de onde tirar, se não
ter condições de comprar, muitas atividades que eu faço vou adequado
as atividades. Exemplo: precisa de uma cartolina tem criança que não
te 1 real para comprar uma cartolina, então vamos nos adequando a
trabalhando com o que tem na escola ou eu mesmo compro com meu
dinheiro, mais não tem como exigir dos alunos sabendo que eles não têm
da onde tirar. (P03)
Sim eu tento fazer na medida do possível as atividades que eu faço tem que
estar de acordo com a realidade deles. Por exemplo, uma lembrancinha
para o dia das mães tem que ser algo acessível a eles não posso pedir nada
que até mesmo vai constranger alguns deles, não são todos tem alguns se
você for pedir tem condições de trazer, mais 90% não tem, então temos que
trabalhar com a maioria. Sempre quando trabalho não só essa data, mas
como outras datas e outras atividades eu peço o que está ao alcance deles
procuro trabalhar mais com sucatas e materiais reciclável. (P02)
Pra mim a pobreza, na real pobreza assim pra mim... É acho que é o
abandono da família eu sou de uma família muito pobre, mas na minha
mesa e na minha família, a gente não tinha os melhores alimentos, os
melhores uniformes, a melhor mochila, o melhor lanche pra levar na escola
pobre. Mas minha mãe passou pra gente a dignidade que tínhamos que
estudar sempre pra poder alcançar nossos objetivos então eu acho que a
pobreza pra mim seria o abandono, e eu estou nessa jornada há 21 anos
e de lá pra cá, eu vi que a educação piorou muito e um dos fatores é a
família o abandono da família, não sei se é porque as mães hoje em dia
trabalham mais do que antigamente, elas saem isso eu vejo todos os dias,
de relatos dos meus alunos elas saem pra trabalhar, pergunto por que
não fez a tarefa, o trabalho, porque às vezes a criança vem até com seu
uniforme sujo. É criado às vezes só pela mãe, não tem pai, então eu acho
que essa é a pior pobreza, a ausência de alguém que esteja no cotidiano
cuidando e pra poder orientar eles, eles fazem por si próprios. (P02)
Algumas reflexões
As reflexões expostas permitiram-nos constatar que os professores
possuem concepções diversas em relação ao contexto empobrecido em que trabalham
e que, de formas mais explícitas ou implícitas, são manifestadas diariamente em suas
práticas pedagógicas.
Referências
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58 Professor do Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp/UFRJ). Doutor em educação pelo Programa de Pós- Graduação em
Educação da UFRJ (PPGE/ UFRJ). E-mail: [email protected]
Socialização das
crianças e adolescentes
Segmentação/
segregação das escolas
Acesso e composição
do alunado
59 Define-se área de ponderação como sendo uma unidade geográfica, formada por um agrupamento mutuamente exclusivo
de setores censitários contíguos, para a aplicação dos procedimentos de calibração dos pesos de forma a produzir
estimativas compatíveis com algumas das informações conhecidas para a população como um todo. O tamanho dessas
áreas, em termos de número de domicílios e de população, não pode ser muito reduzido, sob pena de perda de precisão de
suas estimativas. (Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/censo2010/resultados_gerais_amostra_
areas_ponderacao/default.shtm)
Indicador Descrição
60 O IBEU contém cinco dimensões: mobilidade urbana; condições ambientais urbanas; condições habitacionais urbanas;
atendimento de serviços coletivos urbanos; infraestrutura urbana. E cada uma dessas dimensões é constituída por um
conjunto de indicadores, construídos a partir do censo demo gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
de 2010. (RIBEIRO; RIBEIRO, 2013).
61 O indicador de fragilidade de laços com o mercado de trabalho agregou as seguintes situações: (i) desempregado; (ii)
trabalhador por conta própria de baixa qualificação; (iii) trabalhador de baixa qualificação sem carteira assinada com
renda inferior à dois salários mínimos; (iv) trabalhador doméstico sem carteira assinada; (v) trabalhador doméstico
com carteira assinada e com renda inferior à dois salários mínimos; (vi) empregador de baixa qualificação com carteira
assinada e com renda inferior à dois salários mínimos; (vii) trabalhador na produção para o próprio consumo e, aprendiz
ou estagiário sem remuneração.
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da Prova Brasil 2013 e IBGE.
Resultados
Através do Mapa 02 é possível visualizar-se que as regiões do município do
Rio de Janeiro que estão nas faixas inferiores do índice de bem-estar urbano estão
mais localizadas na zona oeste da cidade, em que as condições de bem-estar urbano
são muito ruins ou ruins, enquanto as faixas mais elevadas estão concentradas,
em sua maioria, na zona sul da cidade. Em caráter complementar, no Mapa 03
observamos a distribuição da renda no município, que, de certa maneira, acompanha
a distribuição espacial no território de maneira similar ao IBEU, isto é, percebe-se uma
predominância das faixas 01 e 02 (faixas mais baixas de renda) na zona oeste e as
faixas 04 e 05 (correspondes às rendas mais altas) estão localizadas, também, na
zona sul do município.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Prova Brasil 2013 e dados do Censo Demográfico 2010.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Prova Brasil 2013 e dados do Censo Demográfico 2010.
63 Esta é uma das 4 categorias utilizadas por Soares (2009) ao explicitar o processo de construção do Índice de
desenvolvimento da educação de São Paulo – IDESP. Segundo o autor, abaixo do básico indica que os alunos que estão
neste nível apresentam domínio rudimentar da competência medida.
64 Os índices de clima escolar e de carência de recursos pedagógicos foram obtidos através de um processo estatístico
chamado análise fatorial, que permite agrupar variáveis fortemente associadas entre si em um único fator ou dimensão,
resumindo e explicando esse conjunto de variáveis. O resultado mostrou-se significativo, com o valor de Alpha de Crombach
= 0,775. (Alpha de Crombach é um indicador que mede a consistência interna dos itens, ou seja, os itens devem medir o
mesmo constructo e assim ser altamente inter-relacionados; nas ciências sociais, tem-se que valores acima de 0,70 são
considerados ótimos).
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Prova Brasil 2013 e dados do Censo Demográfico 2010.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Prova Brasil 2013 e dados do Censo Demográfico 2010.
Índice de carência
Médio ou superior
escolaridade dos
abaixo do básico
abaixo do básico
médio em língua
% de alunos cuja
em matemática
Índice de bem-
Índice de clima
Logaritmo da
socioespacial
Desempenho
Desempenho
pais é Ensino
estar urbano
matemática
ocupacional
% de alunos
% de alunos
Expectativa
de recursos
portuguesa
portuguesa
fragilidade
médio em
em língua
escolares
Tipologia
Índice de
docente
escolar
renda
Correlação de
1
Índice de bem- Pearson
estar urbano Sig. (2-tailed)
N 185
Correlação de
,810** 1
Logarítmo da Pearson
renda Sig. (2-tailed) ,000
N 185 185
Correlação de
,745** ,760** 1
Tipologia Pearson
socioespacial Sig. (2-tailed) ,000 ,000
N 185 185 185
Correlação de
Índice de -,778** -,808** -,726** 1
Pearson
fragilidade
Sig. (2-tailed) ,000 ,000 ,000
ocupacional
N 185 185 185 185
Desempenho Correlação de
,453** ,542** ,454** -,495** 1
médio em Pearson
Língua Sig. (2-tailed) ,000 ,000 ,000 ,000
Portuguesa N 185 185 185 185 185
Correlação de
Desempenho ,393** ,503** ,405** -,446** ,952** 1
Pearson
médio em
Sig. (2-tailed) ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Matemática
N 185 185 185 185 185 185
% de alunos Correlação de
-,372** -,446** -,397** ,416** -,892** -,875** 1
abaixo do Pearson
básico em Sig. (2-tailed) ,000 ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Língua
N 185 185 185 185 185 185 185
Portuguesa
% de alunos Correlação de
-,317** -,415** -,339** ,364** -,867** -,909** ,888** 1
abaixo do Pearson
básico em Sig. (2-tailed) ,000 ,000 ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Matemática N 185 185 185 185 185 185 185 185
% de alunos cuja Correlação de
,252** ,143 ,232** -,308** ,487** ,470** -,427** -,412** 1
escolaridade Pearson
dos pais é Sig. (2-tailed) ,001 ,052 ,001 ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Ensino Médio ou
N 185 185 185 185 185 185 185 185 185
superior
Correlação de
,136 ,153* ,097 -,153* ,207** ,169* -,156* -,182* ,166* 1
Expectativa Pearson
docente Sig. (2-tailed) ,064 ,038 ,187 ,037 ,005 ,022 ,034 ,013 ,024
N 185 185 185 185 185 185 185 185 185 185
Correlação de
,089 ,040 ,082 -,011 -,230 **
-,220 **
,289 **
,278** -,154 *
,111 1
Índice de clima Pearson
escolar Sig. (2-tailed) ,226 ,590 ,270 ,887 ,002 ,003 ,000 ,000 ,036 ,132
N 185 185 185 185 185 185 185 185 185 185 185
Índice de Correlação de
-,005 -,002 -,006 ,007 -,028 -,008 -,007 -,081 -,067 -,066 ,037 1
carência de Pearson
recursos Sig. (2-tailed) ,941 ,982 ,935 ,922 ,704 ,910 ,922 ,276 ,368 ,373 ,618
escolares N 185 185 185 185 185 185 185 185 185 185 185 185
**. Correlação significativa ao nível de 0,01 (2-tailed). / *. Correlação significativa ao nível de 0,05 (2-tailed).
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Introdução
Esta proposta de discussão abarca os conceitos de pobreza, desigualdade
social e educação, suscitando um debruçamento sobre o tema por se tratar de questões
de grande relevância no que diz respeito aos aspectos sociais, políticos e econômicos
da sociedade brasileira. Nesse sentido, deu-se enfoque ao Programa Bolsa Família,
política social pública, em cumprimento às ações prescritas na Constituição Federal de
1988 e sua efetividade para abrandar o sofrimento de milhares de famílias brasileiras
extremamente carentes.
65 Doutoranda em Letras, Graduada em Normal Superior e Licenciatura Plena em Letras, dupla habilitação em Língua
Português e Espanhola e suas respectivas literaturas pela Universidade do Tocantins (UNITINS), pós-graduação lato
sensu em Pedagogia Escolar: administração, supervisão e orientação escolar e em Língua Portuguesa e Literatura. Possui
Mestrado Profissional em Letras pela Universidade Federal do Tocantins, concluído em 2016. Professora efetiva da Rede
Estadual de Ensino do Estado do Tocantins. Atualmente, cursa doutorado em Letras na Universidade Federal do Tocantins
(iniciado no 2º semestre de 2018). Email: [email protected]
66 Pós Graduada em Comunicação, Sociedade e Meio Ambiente - Universidade Federal do Tocantins. Coordenadora de
Captação de Recursos da APAE de Porto Nacional. E-mail: [email protected]
67 Mestranda em Letras – Ensino de língua e literatura pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Graduada em
Pedagogia/Letras pela Universidade Federal de Goiás. Agente Especialista na Unidade Socioeducativa de Semiliberdade
Feminina da Secretaria de Cidadania e Justiça do Estado do Tocantins. E-mail: [email protected]
No Brasil, por exemplo, existe uma linha que demarca a pobreza no momento
político atual. A linha de pobreza extrema está firmada na renda per capita mensal
de até R$ 85, e a linha de pobreza, na renda per capita mensal entre R$ 85,01 e R$
170,00. Observa-se, contudo, que essa demarcação, em renda per capita, é incoerente
(PINZANI; REGO, 2014, p. 19).
Essa premissa é contrariada por Paulo Freire (2003, p.118) quando assegura
que “[...] não é a educação que forma a sociedade, de certa maneira, mas a sociedade
que, formando-se de certa maneira, constitui a educação de acordo com os valores
68 As minorias abrangem grupos de pessoas negras, indígenas, pobres, mulheres, homossexuais, dentre outros, sendo todos
diferentes do padrão de cultura dominante.
A presença dos alunos nas aulas, condicionada pelo PBFa, é o fator mais
importante para o êxito do desempenho verificado. O valor do beneficio varia conforme
as distinções especificadas na constituição dos membros familiares, sendo R$ 89,00
por pessoa, da família que vive na linha da extrema pobreza; presença de cada criança/
adolescente na família com até 15 anos de idade – R$ 41,00 (pode-se cadastrar até
05 crianças); presença de jovens na família – R$ 48,00 (permitido o cadastro máximo
de 02 jovens); famílias que contam como membros jovens de até 17 anos de idade –
R$ 96,00; gestante com estado de gravidez identificado até o nono mês – R$ 41,00;
mulheres que amamentam (nutrizes) com criança identificada no CadÚnico até o sexto
mês de vida – R$ 41,00 (site do PBF).
Os valores financeiros que as famílias assistidas pelo PBF recebem não são
expressivos, mas é bastante importante àquelas famílias que convivem em contextos
empobrecidos, porque lhes permite melhorar seu poder aquisitivo, influenciando
diretamente na melhoria da qualidade de vida. O mais importante, certamente, é a
Considerações Finais
A diversidade das questões que envolvem pobreza, desigualdade social e
educação são amplas. A literatura relativa a essas questões possui uma produção
bem extensa e importante para os profissionais da educação básica que estão frente
às situações de vulnerabilidades advindas da pobreza. Quanto mais conhecimento
obtivermos sobre as condições que envolvem essa problemática, mais propriedade
teremos para intervir no acompanhamento escolar dos estudantes que vivenciam
essa realidade em seu cotidiano e que se encontram condicionados pela pobreza.
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SAS-MPAS/Fundap, 1997.
DIVERSIDADE, DESIGUALDADES E
SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO
Introdução
O debate sobre questão social, cidadania e direitos sociais, entre eles, a
educação, tem pautado historicamente a agenda política dos governos, nos diferentes
países, seja no sentido da sua negação ou da sua incorporação na pauta das ações
a serem realizadas pelo Estado por meio de políticas públicas. Partindo desse
entendimento, o texto busca problematizar a relação entre questão social, cidadania e
educação e demonstrar o movimento histórico a esse respeito no âmbito da sociedade
capitalista, especificamente da sociedade brasileira.
69 Doutoranda em Política Social pela Universidade de Brasília (UnB). Assistente Social da UFT. Membro dos grupos de Estudo
e Pesquisa: Práxis Socioeducativa e Cultural (UFT); Democracia, Sociedade Civil e Serviço Social (GEPEDSS - UnB) e Núcleo
de Estudo e Pesquisa em Educação, Desigualdade Social e Políticas Públicas (NEPED – UFT). E-mail: [email protected]
70 Professor Pós-Doutor da Universidade Federal do Tocantins (UFT)/Campus de Palmas e do Programa de Pós-Graduação
Profissional em Educação/UFT. Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa Práxis Socioeducativa e Cultural e membro do Núcleo de
pesquisa em Educação, Desigualdade Social e Políticas Públicas (NEPED) e Rede Universitas/Br. E-mail: [email protected]
71 Embora a pobreza anteceda o surgimento da sociedade capitalista e tenha sido vivenciada em períodos anteriores ao
século X, esse fenômeno foi incapaz de colocar em xeque a ordem social da época em razão da existência de laços de
proximidade de proteção típicos de uma sociabilidade primária. (CASTEL, 1998).
Netto (2001) recorre a Marx para afirmar que a questão social vai além do
pauperismo. Trata-se de um complexo social muito mais amplo que não significa uma
sequela adjetiva ou transitória do regime do capital: sua existência e suas manifestações
são indissociáveis da dinâmica específica do capital tornado potência social dominante.
Sendo assim, a “questão social” é, portanto, constitutiva do desenvolvimento do
capitalismo, de modo que não se suprime a primeira conservando-se o segundo.
A partir do que afirma Marx e os demais autores que, neste texto, partilham
do seu entendimento, é possível dizer que a pobreza é inerente à própria lógica
estrutural do capitalismo, fundado e sustentado na exploração de uma classe sobre
a outra e na apropriação privada da riqueza socialmente produzida. Nesse sentido,
fazem parte das estratégias do desenvolvimento do capitalismo a existência da
pobreza, do desemprego, dentre outras mazelas que afligem a sociedade, pois estas
são imprescindíveis ao capital, que se alimenta e se reproduz por meio da exploração
dos trabalhadores e da manutenção das desigualdades socioeconômicas entre as
classes.
72 Contrária à perspectiva da cidadania liberal marshalliana, comprometida com o aperfeiçoamento e manutenção da ordem
burguesa, defende-se a concepção de cidadania adotada por Coutinho (1997, p.146). Esta diz respeito à “capacidade
conquistada por um (e no caso de uma democracia efetiva) por todos os indivíduos, de se apropriar de bens socialmente
criados, de atualizarem todas as potencialidades de realização humana aberta pela vida social em cada contexto
histórico.” Tal concepção, aponta, nos termos gramscianos, para a “[...] superação da sociedade de classes, na medida em
que supõe, ou mesmo exige, que os subalternos estejam preparados para assumir a posição de governantes, isto é, para
deixar sua condição de subalternos, o que só pode ocorrer plenamente com a abolição do modo de produção capitalista.”
(GRAMSCI, 2006, C 12, § 2, p. 49)
[...] a antecipação dos direitos sociais fazia com que os direitos não fossem
vistos como tais, como independentes da ação do governo, mas como um
favor em troca do qual se deviam gratidão e lealdade. A cidadania que
daí resultava era passiva e receptora, antes que ativa e reivindicadora.
(CARVALHO, 2012, p. 126)
73 Mais recentemente, o transporte foi acrescido como direito social à CF de 1988, por meio da Emenda Constitucional nº 90
de 16/09/2015.
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Introdução
O artigo problematiza a relação Educação e Envelhecimento Humano a
partir do pensamento de Paulo Freire. Trata-se de uma reflexão teórico-conceitual
sobre a exigência ético-política de se pensar a Educação do Idoso na perspectiva da
autonomia e da formação do sujeito crítico. Em geral, o envelhecimento na(da) pessoa
idosa é visto como um problema social que requer elevados investimentos em políticas
governamentais de assistência e previdência social. Ou seja, o idoso é representado
ora como vítima ora como empecilho de um sistema social que não reconhece sua
dignidade como sujeito de direito. Nesse trabalho concebemos o Idoso como ser social,
de cultura que tem dignidade e que por isso precisa de cuidados e de educação.
74 Professor Doutor da UFT/Campus de Palmas. Docente do Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação da UFT. Membro
do Grupo de Pesquisa em Educação, Políticas Púbicas e Desigualdade Social - GEPEDS/NEPED. E-mail: [email protected]
75 Professora Pós-Doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFT na Linha de Pesquisa Estado, Sociedade
e Práticas Educativas. Autora do Programa Universidade da Maturidade na UFT. E-mail: [email protected]
76 Mestre em Educação. Psicóloga e Docente do Centro Universitário de Palmas - Ceulp/Ulbra.
Isto quer dizer que sua condição originária é a de ser um ente natural que
deve satisfazer suas necessidades imediatas. Entretanto, para prover as necessidades
de autopreservação como comer, habitar, vestir-se precisa retirar da natureza seu
sustento. Ao agir de maneira livre e consciente opera uma transformação da natureza
conforme fins que traça no processo de produção de sua vida. Tal processo se realiza
mediante a associação livre de indivíduos que buscam coletivamente garantir sua
existência como seres humanos. Esse é o caráter sociocultural de sua gênese como
ser histórico e social.
77 Em Marx (2004), corpo inorgânico é a natureza exterior ao corpo humano, que se apresenta como condição de sua
existência física e espiritual. A natureza inorgânica, constituída pelas plantas, pelos animais, minerais, pelo ar, pela luz, etc.
formam, teoricamente, uma parte da consciência humana e, praticamente, os elementos da vida e da atividade humana.
Como parte da natureza, a universalidade do homem reside no fato de que este faz da natureza inteira o seu corpo
inorgânico, tanto como um meio de vida imediato quanto um objeto/matéria de sua atividade vital (p. 84).
78 Trata-se de uma forma de socialização que se faz pelo conjunto das interações que se produzem no ambiente da criança,
sem que o adulto tenha consciência da ação educativa que ele está a exercer. (Novóa, 1991, p. 110).
79 Conjunto de transformações sócio-históricas, principalmente de ordem cultural, que caracterizou a sociedade moderna
como uma época própria, cujo início se deu com o Renascimento (século XVI) e apogeu com o Iluminismo do século XVIII.
A questão do estatuto e da legitimidade da idade moderna é motivo de polêmicas e controvérsias. Do nosso ponto de
vista, assumimos que a singularidade do projeto da modernidade define-se em torno do princípio da subjetividade, do
horizonte, a partir de onde tudo é pensável. Portanto, o que legitima a modernidade é a emergência de uma racionalidade
autoassertiva, ou seja, a racionalidade não é mais determinada exteriormente, pelos cosmos ou por entidade divina, mas
pela atividade autônoma de reflexão do sujeito pensante (SOUZA, 2005, p. 118).
80 Paulo Reglus Neves Freire, conhecido por Paulo Freire, foi declarado, pela Lei nº 12.612/2012 como o “Patrono da Educação
Brasileira. ” Nascido em Recife – PE, em 19/09/1921. Paulo Freire notabilizou-se como teórico da educação popular a
partir das experiências e reflexões sobre alfabetização de adultos. Mediante aplicação de seu “Método de Alfabetização”
consegui alfabetizar 300 trabalhadores em 45 dias em Angicos, Rio Grande do Norte, em 1963. Com o apoio do Presidente
Joao Goulart decidiu-se aplicar o método em todo o território nacional. Entretanto e devido o Golpe Militar de 1964 o
plano foi abandona e Paulo Freire foi preso durante 70 dias e depois exilado no Chile entre 1964 e 1969 (Paulo Freire, 1979,
Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire).
81 Conjunto de ideias e propostas alternativas de educação que parte da cultura e se realiza por meio da cultura a fim de
promover a educação do povo. Para Freire, a expressão educação popular designa a educação feita com o povo, com os
oprimidos ou com as classes populares, a partir de uma determinada concepção de educação: a educação Libertadora,
que é, ao mesmo tempo, gnoseológica, política, ética e estética (FREIRE, 1997). Trata-se de uma educação orientada para
a transformação da sociedade, exige que se parta do contexto concreto/vivido para se chegar ao contexto teórico, o que
requer a curiosidade epistemológica, a problematização, a rigorosidade, a criatividade, o diálogo, a vivência das práxis e o
protagonismo dos sujeitos (FREIRE, 1995). (Strek, 2010, pág. 246 a 248).
82 Segundo Scocuglia (1999) uma das principais virtudes de Paulo Freire é submeter-se, em debates e reuniões, a críticas,
encarando-as seriamente, a ponto de modificar conceitos a partir delas. Com isso, a autocrítica permanente faz parte
de seu itinerário intelectual, implicando uma certa seqüência de seus escritos, o que permite rever e alterar categorias e
relações (p. 22).
83 Para Marx (1988): a riqueza aparece para o capital como “imensa coleção de mercadorias” que tem como forma elementar
a mercadoria individual, cuja definição é a de ser “um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz
necessidades humanas de qualquer espécie” (Marx, 1988. pág. 45). Entretanto, é somente sob o capitalismo que a
mercadoria possui duas formas: valor de uso e valor de troca. Na forma de valor de uso ela corresponde ao seu estado
natural, ou seja, em sua dimensão corpórea, física, material, e constituem o conteúdo material da riqueza social, enquanto
valor de uso adquire sua feição de valor de troca, ou seja, se converte numa relação de valor que possibilita a troca
de mercadorias com distintos valores de uso. Isso é possível porque o valor de uso constitui, ao mesmo tempo, suporte
material do valor de troca. A riqueza, ou seja a mercadoria é assim uma relação quantitativa no qual valores de uso de
diferentes espécies se trocam de forma proporcional (MARX, 1998.p. 46).
84 Entendemos como Marx (2008) que trabalho e propriedade privada constitui expressões equivalentes: a primeira refere-
se à atividade, a segunda a realização do produto da atividade. A divisão do trabalho “encerra, portanto a propriedade,
cuja primeira forma, o seu germe, reside na família, onde a mulher e os filhos são escravos do homem” (p.27-28).
85 Aquele que se submete às vontades de uma outra pessoa. Termo derivado de Heteronomia que significa a condição de
um indivíduo ou grupo social que se encontra em situação de opressão, de alienação, de domesticação, aquele que é “ser
para outro” (FREIRE, 1983, p. 38).
86 O significado de pedagogia é mais bem compreendido no contexto do conceito de práxis, no qual Freire tensiona
dialeticamente a ação e a reflexão. A pedagogia se situa no âmbito dessa tensão, em que a prática e a teoria estão em
permanente diálogo. Nesse sentido, pedagogia refere-se a práticas educativas concretas realizadas por educadores e
educadoras, profissionais ou não. Vem a ser o próprio ato de conhecer, no qual o educador e a educadora têm um papel
testemunhal no sentido refazer diante dos educandos e com eles o seu próprio processo de aprender e conhecer (STREK;
REDIN; ZITKOSKI, 2010, p. 538).
87 Consciência é um termo técnico e especializado muito utilizado na Filosofia e na Psicologia. Na filosofia moderna
e contemporânea designa “uma relação da alma consigo mesma, de uma relação intrínseca ao homem, “interior” ou
“espiritual”, pela qual ele pode conhecer-se de modo imediato e privilegiado e por isso julgar-se de forma segura e infalível.
Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral - a possibilidade de autojulgar-se - tem conexões estreitas
com o aspecto teórico, a possibilidade de conhecer-se de modo direto e infalível (ABBAGNANO, 2000, p. 185).
88 Para Vasquez (1977) A proposição de fins constitui uma atividade teleológica, atividade da consciência que traz implícita
uma exigência de realização, pois tende a fazer do fim uma exigência de realização (p. 223)
89 Trata-se da atividade cognoscitiva, ou seja, da atividade da consciência que produz teorias, conceitos e hipóteses como
exigência de efetivação de fins ou propósitos estabelecidos pela atividade teleológica e da prática social do trabalho (idem).
90 Trata-se de um conceito básico que perpassa toda a obra de Paulo Freire. É indissociável do pensamento, da análise e da
compreensão do papel da educação na sua globalidade. Está intimamente ligado aos conceitos de dialogicidade, ação-
reflexão, autonomia, educação libertadora, docência (...) Práxis pode ser compreendida como a estreita relação que se
estabelece entre um modo de interpretar a realidade e a vida e a consequente prática que decorre desta compreensão
levando a uma ação transformadora. Opõe-se às ideias de alienação e domesticação, gerando um processo de atuação
consciente que conduza a um discurso sobre a realidade para modificar esta mesma realidade (ROSSATO, 2010, p. 574 In:
STREK; REDIN; ZITKOSKI, 2010).
91 Na obra Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento de Paulo Freire, é explícita sua
compreensão de que “o utópico não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar e
anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante” (p. 27). A utopia freiriana
está relacionada à concretização dos sonhos possíveis (ver verbete) e decorre de sua compreensão da história como
possibilidade, ou seja, a compreensão acerca de que a realidade não “é”, mas “está sendo” e que, portanto, pode vir a ser
transformada (FREITAS, 2010, p. 720).
92 A palavra autonomia provém do grego autós, que significa “por si mesmo,” e de nómos, que significa “lei, regra, modelo”,
mas também de nomós, que significa uma “região delimitada, denotando a ideia de distrito, comarca, território”. No âmbito
da democracia grega, refere-se às formas de governo autárquicas, isto é, à capacidade das cidades-estados realizarem
suas próprias leis (CURY, 1989).
Segundo Osório (2000, p.25) “o problema não é envelhecer, pois faz parte
do ciclo ou desenvolvimento humano, e sim a ‘condição anciã’, isto é, a situação na qual
a sociedade e o Estado tratam do velho em relação aos seus limites e possibilidades”.
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STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (Orgs.) Dicionário Paulo Freire. 2. Ed. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2010
VÁZQUÉS, Adolfo Sánches. Filosofia das práxis. 2. Ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1977.
WTTMANN, Lauro Carlos. Autonomia da Escola e Democratização de sua Gestão: novas demandas
para o gestor. Em Aberto, Brasília, V. 17. N°. 72. P. 88-96, Fev – Jun. 2000.
Introdução
Este estudo explana os resultados da execução do Projeto de Intervenção,
que foi elaborado e executado para a disciplina de Estágio e Supervisão Acadêmica
III e IV em 2017.1 a 2017.2, do curso de Serviço Social do Câmpus de Miracema da
UFT, envolvendo um processo de investigação, através da aproximação com os(as)
alunos(as) indígenas entrevistados.
93 Graduanda em Serviço Social da Universidade Federal do Tocantins (UFT) – Câmpus de Miracema. Membro do Grupo de
Estudo e Pesquisa sobre Serviço Social, Formação e Exercício Profissional (GEPESSFEP).E-mail: [email protected]
94 Professora Associada II da Universidade Federal do Tocantins (UFT/TO). Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Serviço Social. Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Serviço Social, Formação e Exercício Profissional (GEPESSFEP).
E-mail: [email protected].
95 Professora Adjunta da Universidade Federal do Tocantins (UFT/TO), supervisora de campo, coordenadora do projeto de
extensão: “Análise dobaixo coeficiente acadêmico indígena da UFT”. E-mail: [email protected]
96 Núcleo de Apoio Psicopedagógico Social – NAPS. Composto por Assistente Social, Pedagogo e Psicólogo com as atribuições
de informar e realizar o cadastramento dos acadêmicos para o acesso aos programas de assistência estudantil;
acompanhar o acadêmico, visando evitar a evasão acadêmica; acolher as demandas da comunidade acadêmica;
identificar as dificuldades de aprendizagem dos acadêmicos; realizar oficinas de orientação profissional e de orientação
de carreira; desenvolver atividades específicas para indígenas e quilombolas; entre outras. (NAPS, 2015).
97 Essa terminologia é utilizada pelos Organismos Internacionais, por exemplo, pelo Banco Mundial, sem considerar os
aspectos econômicos, sociais e políticos, culpabilizando os trabalhadores pela precarização da sua vida. Desconsidera as
contradições advindas da relação capital e trabalho no modo de proidução capitalista.
98 Programas e auxílios estudantis oferecidos no âmbito da UFT: I - Programa de Integração dos Discentes Ingressantes -
PIDI; II - Programa Auxílio Alimentação - PAA; III - Programa Moradia Estudantil - PME; IV - Programa Auxílio Transporte
- PTr; V - Programa Auxílio Permanência - PAP; VI - Programa Esportes e Lazer - PROEL; VII - Programa Apoio à
Participação dos Discentes em Eventos - PAPE; VIII - Programa Acompanhamento Acadêmico - PROAC; IX - Programa
Auxílio Saúde - PSaúde; X - Programa Auxílio Creche - PAC; XI - Programa Apoio ao Discente Ingressante -PADI; XII -
Programa Inclusão e Acessibilidade - PAEI; XIII - Programa Bolsa Permanência MEC - PBP; XIV - Programa Institucional
de Bolsa de Extensão - PIBEX; XV - Programa de acesso democrático à Universidade - PADU; XVI - Programa de Acesso
Democrático de Indígenas e Quilombolas PADIQ; XVII - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC;
XVIII - Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica - PIVIC; XIX - Programa de Mobilidade Acadêmica - PMA;
XX - Programa Institucional de Monitoria - PIM; XXI - Programa Institucional de Monitoria Indígena - PIMI; XXII - Programa
de Educação Tutorial - PET; XXIII - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID (UFT, 2017, p. 5-6).
99 Cabe ressaltar que o referido Projeto de Extensão foi cadastrado no SIGPROJ, da Universidade Federal do Tocantins.
100 Todos os entrevistados foram convidados à participarem como voluntários da pesquisa, os mesmos se disponibilizaram e
concordaram com os termos da pesquisa assinando o Terno de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
101 No município de Tocantínia é onde se encontra a etnia Indígena Xerente, onde tem o maior número de indígenas nas
proximidades do Câmpus de Miracema e é de onde os/as alunos/as entrevistados residem. “As aldeias Xerente existentes
em Tocantínia hoje e registradas pelas redes de informação que são 83 aldeias no território do município, sendo algumas
ainda não adicionadas nas listas disponíveis. See more at: http://cidadaniaejustica.to.gov.br/noticia/2015/8/17/povo-
indigena-xerente-apresenta-a-forca-de-sua-cultura-e-tradicao/#sthash.wkvKwhPK.dpuf.” (CURCINO, 2017).
102 Conceituamos como Instrumental Técnico-operativo do Serviço Social “[...] o conjunto articulado de instrumentos e
técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional. Nessa concepção é possível atribuir-se ao instrumento a
natureza de estratégia ou tática, por meio da qual se realiza a ação, e à técnica, fundamentalmente, a habilidade no uso
do instrumental. [...] Decorre também que o instrumental não é nem o instrumento nem a técnicas tomados isoladamente,
mas ambos, organicamente articulados em uma unidade dialética (entrevista, relatório, visita, reunião, observação
participante etc.).” (MARTINELLI; KOUMROUYAN, 1994, p. 137).
Percebemos que não existe, por parte das instituições de ensinos superiores
brasileiras, uma preparação adequada para o recebimento de alunos(as) que portam
especificidades tão distintas e diversas. A universidade deve lançar um olhar sensível
que perceba a inclusão de grupos de diferentes, etnias e culturas, pois não existirá
uma preparação acadêmica adequada sem que o pensamento se volte ao acesso, à
permanência e à conclusão do curso; porque a instituição acaba por excluir esses(as)
alunos(as), provocando ainda maiores discriminações com relação: a) à educação; b)
aos povos; c) à cultura; e tantos outros aspectos. Como Paula (2013, p.798) indica-
nos, deve-se pensar em especificidades como, “[...] que tipo de currículo, calendário,
professor, infraestrutura, material didático a universidade deve oferecer para os alunos
indígenas [...]” para lhes garantir permanência e conclusão do curso de graduação.
“...além destes itens, você acha que tem mais algum que possa influenciar
para seu rendimento acadêmico estar menor que 07 (sete)?”
“A gente tem que ter um preparo físico e psicológico muito grande, porque
a caminhada de lá para cá não é fácil não, principalmente quem estuda
à noite, na vinda é perigoso, mais na volta é muito mais, e a espera da
balsa é muito demorada. Nossa é muito cansativo!!! Quando chego em
casa já está tarde da noite e eu não quero pegar em nenhuma folha para
estudar, quero dormir.” Eu quase não venho aqui na UFT por causa da
distância, venho mais no horário das aulas mesmo.” (Entrevistado B).
“Nossa é muito longe, fico muito cansada, a balsa atrasa muito, a gente
chega atrasados na aula, além de ser muito perigoso.” (Entrevistado F).
a) Discriminação; e
103 “O Programa Institucional de Monitoria Indígena (Pimi) tem como objetivo facilitar a inclusão dos alunos indígenas nas
atividades de ensino, pesquisa e extensão, contribuindo para a sua permanência e sucesso acadêmico.” Disponível em:
<http://ww2.uft.edu.br/ensino/graduacao/programas-institucionais/10679-programa-institucional-de-monitoria-
indigena-pimi>. Acesso em 19. Abr.2018.
“Acho que mais conversa, mais incentivo, tem que arrumar uma forma de
mostrar para os indígenas os benefícios e a importância de participar do
que é oferecido pra nós [...].” (Entrevistado D).
Considerações finais
A execução do projeto contribuiu para a identificação das possíveis causas do
baixo coeficiente dos rendimentos acadêmicos indígenas. Os resultados apresentados
retrataram os desafios e as dificuldades que os estudantes indígenas do Câmpus
de Miracema enfrentam no transcurso de seus estudos, sendo os seus objetivos as
continuidades dos seus estudos, considerando-se, dentre eles, as dificuldades: a)
de domínio da Língua Portuguesa; b) de interação social e c) de enfrentamento do
preconceito.
ALMEIDA, Ney Luiz Teixeira. Apontamentos sobre a política de educação no Brasil hoje e a inserção
dos assistentes sociais. In: CFESS. Subsídios para o Debate sobre Serviço Social na Educação. Brasília,
2011. Disponível em: <http://cfess.org.br/arquivos/subsidios-servico-social-na-educacao.pdf>. Acesso
em: 14.out.2017.
ALVES, Jolinda de Moraes. A assistência estudantil no âmbito da política de educação superior pública.
In: Serviço Social em Revista.V.5, nº1, UEL, 2002. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_
v5n1_Jo.htm>. Acesso em: 18. Set. 2017.
ATHAYDE, Fernando Luiz Oliveira; BRAND, Antônio Jacó. A inserção de indígenas no ensino superior
público: o que dizem esses sujeitos? 2010. Disponível em: <http://flacso.redelivre.org.br/files/2012/07/14.
pdf>. Acesso em: 14. Set. 2017.
BRASIL. Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010: Dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência
Estudantil - PNAES. Brasília, 2010.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação - nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 2015.
BRASIL.Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012:Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais
e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências (Lei de Cotas).
Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.
htm>. Acesso em: 20. Set. 2017.
MARTINELLI, Maria Lúcia; KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a questão dos instrumentais
técnicooperativos em Serviço Social. In: Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XV, n. 45, p. 137141,
1994.
PAULA, Luis Roberto de. O ensino superior indígena como política pública: elementos para a construção
de um modelo metodológico de avaliação e comparação de experiências locais. In: Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos (online). Brasília, v.94, n.238, p. 795-810, 2013.
QUEIROZ, Juliana Ferreira de. Assistência Estudantil: uma avaliação com foco no campus avançado
Pedro Afonso do Instituto Federal do Tocantins. (Dissertação de Mestrado do) Programa de pós-
graduação em Gestão de Políticas Públicas: UFT, 2016.
SILVEIRA, Míriam Moreira da. A Assistência Estudantil no Ensino Superior: uma análise sobre as políticas
de permanência das Universidades Federais Brasileiras. (Dissertação de Mestrado do) Programa de
pós-graduação em Políticas Sociais: UCPEL. Pelotas, 2012.
UFT. Proposta de Implantação do Núcleo de Apoio Psicopedagógico Social (NAPS)- Plano do setor.
Miracema do Tocantins, 2015.
Introdução
Em geral, os povos indígenas são retratados em filmes, revistas, livros e
em outros canais de comunicação como se representassem uma unidade. As suas
diferenças sociais, linguísticas e culturais não são levadas em consideração. Deste
modo, constrói-se uma imagem reduzida, homogênea e fictícia acerca destes povos
tradicionais.
104 Pedagoga, Coordenadora Pedagógica na Escola Indígena Srêmtôwê - Aldeia Porteira Nrõzawi, Reserva Indígena Xerente,
município de Tocantínia, Tocantins - TO. E-mail: [email protected]
105 Professor Doutor no Curso de Psicologia da UFT/Campus de Miracema e colaborador na Iniciativa Educação, Pobreza e
Desigualdade Social (EPDS) da Universidade Federal do Tocantins – UFT. E-mail: [email protected]
Revisão de Literatura
Conforme escrito por Maldonado (2009, p.29):
[...] pouco se ouve falar sobre a história atual dos índios e das consequências
do contato entre eles e os portugueses no passado e eles e os outros
brasileiros no presente. Os índios permanecem, cinco séculos depois do
descobrimento, ignorados, desconhecidos e estrangeiros num país talvez
mais deles do que dos outros brasileiros (LIMA, ALMEIDA, 2010, p. 26).
Método
Com a finalidade de investigar a representação dos povos indígenas no
contexto da formação básica, elegemos um livro didático como objeto de análise. O
material compõe a coleção: História, Sociedade e Cidadania, aprovada no Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD - 2014).
Fonte: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 6° Ano/Alfredo Boulos Júnior. 3a ed.
São Paulo, FTD, 2015.
[...] hoje em dia, muitas pessoas continuam vendo os índios como se fossem
todos iguais. Ocorre, porém, que o “índio” genérico não existe. Existem
os tupiniquins, os caetés, os kaiapós, os yanomamis e muitos outros.
Cada grupo se vê como um todo e diferente de outros grupos. (BOULOS
JÚNIOR, 2015, p. 95).
O autor afirma que a terra é de uso coletivo para todos os povos indígenas;
enquanto, apenas na sociedade capitalista, ela seria definida como uma propriedade.
Vale salientar que não há menção aos intensos conflitos associados às lutas pelas
terras. Pelo contrário, a passagem identificada deixa a impressão de que as culturas
indígenas passariam incólumes em meio aos anseios e às pressões do capitalismo.
Os homens, por sua vez, ficariam incumbidos da realização das tarefas, por
exemplo: preparação da terra para o plantio, construção de armas de guerra, canoas
e moradias; vigilância da aldeia; caça e pesca (BOULOS JÚNIOR, 2015, p. 98).
Fonte: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 6° Ano/Alfredo Boulos Júnior. 3a
ed. São Paulo, FTD, 2015.
Fonte: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 6° Ano/Alfredo Boulos Júnior. 3a
ed. São Paulo, FTD, 2015.
Fonte: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 6° Ano/Alfredo Boulos Júnior. 3a
ed. São Paulo, FTD, 2015.
Fonte: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 6° Ano/Alfredo Boulos Júnior. 3a
ed. São Paulo, FTD, 2015.
Fonte: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 6° Ano/Alfredo Boulos Júnior. 3a
ed. São Paulo, FTD, 2015.
Considerações finais
Reforçamos o nosso compromisso com a produção de pesquisas e de
ações educativas pautadas no respeito às culturas dos povos tradicionais. Por meio
de aproximações e conexões entre universidade e instituições escolares podemos lutar
contra os processos excludentes perpetrados contra as minorias.
Referências
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1994.
BONIN, I. T. Povos indígenas na rede das temáticas escolares: o que isso nos ensina sobre identidades,
diferenças e diversidade. Currículo sem Fronteiras, v. 10, no 1, págs. 73-83, 2010.
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania, 6° Ano, 3a ed. São Paulo: FTD, 2015.
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece
as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
GRUPIONI, L. D. B. (Org.). Índios no Brasil. Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, São Paulo,
1992.
LEMOS, C. M. Os índios invisíveis: o ensino de História sem etnicidade, In: Anais do IV Encontro Nacional
de Pesquisadores do Ensino de História. Ijuí: Editora Unijuí, 1999.
MALDONADO, C.. O turismo comunitário na América Latina: gênesis, características, e políticas. In:
BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. (Orgs). Turismo de base comunitária: diversidade de
olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009.
MOTA, L. T; RODRIGUES, I. C. A questão indígena no livro didático: toda a história. História & Ensino, v. 5,
págs. 41-59, 1999.
NÚCLEO DE ESTUDOS E ASSUNTOS INDÍGENAS – NEAI. Povos Indígenas do Tocantins. Disponível em:
< http://www.uft.edu.br/neai/?page_id=28>. Acesso em 01 de out. de 2019.
SOUSA, J. S. de. A história indígena e sua presença nos livros didáticos. Revista de História (UFBA), v. 6,
n. 1-2, 2017. Disponível em: < file:///C:/Users/Clau%20e%20Lau/Downloads/27855-97235-1-SM.pdf>.
Acesso em: 01 de out. de 2019.
VYGOTSKY, L. S.. A formação social da mente. Trad. José Cipolla Neto. São Paulo, 1991.
Introdução
O estudo em questão visa a contribuir com a discussão acerca de uma
temática que ganhou destaque nas políticas públicas educacionais nos últimos
anos, todavia ainda pouco explorado cientificamente: O fechamento das escolas no
campo. O Brasil vive um processo de fechamento e paralisação das escolas do campo.
Levantamento realizado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) traz a luz
dados preocupantes no tocante as escolas rurais.
106 Professor Efetivo da Rede Municipal de Educação de Canaã dos Carajás, Pedagogo da Universidade Federal do
Sul e Sudeste do Para – UNIFESSPA e Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Tocantins – UFT.
E-mail:[email protected]
107 Professora da Secretaria Municipal de Educação de Canaã dos Carajás e Mestranda em Educação pela Universidade
Federal do Tocantins – UFT. E-mail: [email protected]
Até meados da década de 1990, Canaã dos Carajás era uma vila agrícola
de Parauapebas (CEDERE II) formada basicamente pela população de cristãos
evangélicos que, em agradecimento à terra farta e abençoada “recebida”, decidiram
nomear o lugar de “Canaã” da origem bíblica (Terra prometida).
108 Predominam-se como defensores do ruralismo pedagógico SUDS Minucia, Carneiro Leão e Alberto Torres.
Com o passar dos anos, novas iniciativas por meio de novas políticas
públicas foram despontando com relação à educação rural, todavia, somente a partir
do século XX, por volta dos anos 30, que se começou a pensar em projetos direcionados
para o desenvolvimento da Educação do Campo, com destaque ao aparecimento na
Constituição Federal de 1934 do termo rural, com ensino instrumental primário. De
acordo com Souza (2014, p.115):
UNIDADE/ESCOLAS LOCALIZAÇÃO
EMEF. Adailton Gomes VS 78
EMEF. Américo Ribeiro VP 12
EMEF. Belmonte VS - 77
EMEF. Boa Esperança VP - 20
A localização das escolas foi um fator que facilitou a busca dos documentos
necessários ao subsídio do processo de tombamento das escolas, pois elas funcionavam
na própria casa da professora e, algumas, em outros espaços nas terras dos colonos.
O tombamento das escolas extintas é um trabalho intenso que requer uma busca de
materiais e documentos como, por exemplo, fotos, cartas, diários de classes, rascunho
de professores, os boletins dos alunos, entre outros, que auxiliaram neste processo.
109 “Lapides, retrata a história das pessoas que faleceram e que contribuíram com o fortalecimento do Conselho Municipal
de Educação de Canaã dos Carajás. Cascos de Cavalo descreve o processo das escolas que tiveram seu funcionamento
encerrado e passaram ou passarão pelo processo de tombamento, a fim de regularizar a vida escolar de centenas de
cidadãos que estudaram nessas instituições educacionais. E Trilhos da Estrada de Ferro, apresenta os acontecimentos
educacionais ocorridos na terra prometida, a partir do ano de 2003 com a chegada da mineração.
3. Tecendo considerações
Este estudo objetivou: a) a compreensão do processo de tombamento
das escolas extintas no município de Canaã dos Carajás; b) o conhecimento sobre o
processo de fechamento das escolas; c) a identificação das escolas que foram desativadas
e extintas e d) a verificação das causas e consequências desses tombamentos.
A literatura que versa sobre o fechamento das escolas rurais indica que
os impactos para a comunidade são: a) os grandes distanciamentos da escola e b) a
família mas, principalmente, no que tange à aprendizagem, pois, os alunos passam
muito tempo em rotas de transportes para se deslocarem, possibilitando-lhes uma
desigualdade educacional latente neste processo e acarretando que as escolas e os
governantes não se atentem às especificidades deste público.
Referências
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licenciatura em Educação do Campo. Expressão Popular. Cadernos do Iterra, ano X, nº 15, 2010.
CALDART, Roseli. Por uma Educação do Campo: traços de uma identidade em construção IN: ARROYO,
Miguel Gonzalez; CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Monica Castagna (orgs.). Por uma educação do
campo. 5.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
CANAÃ DOS CARAJÁS, LEI Nº 167/2007. Dispõe sobre a instituição do Sistema Municipal de Educação
e dá outras providências. Disponível: http://canaadoscarajas.pa.gov.br/transparencia/leis-decretos/
Acesso em: 08/03/2020.
CANAÃ DOS CARAJÁS, LEI Nº 168/2007. Dispõe sobre a instituição do Conselho Municipal de Educação
e dá outras providências. Disponível: http://canaadoscarajas.pa.gov.br/transparencia/leis-decretos/
Acesso em: 08/03/2020.
PRADO, A. A. Ruralismo pedagógico no Brasil do Estado Novo. Estudos Sociedade e Agricultura. Rio de
Janeiro, no 4, págs. 5–27, jul. 1995.
ROSA, Luana Carletto da. Fechamento das escolas do campo: análise do município de Nova Laranjeiras.
Universidade Federal da Fronteira Sul, 2015.
SOUZA, Marilsa Miranda de. Imperialismo e educação do campo. Araraquara: São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2014. 328 p. (Temas em Educação Escolar, n.19).
LEITE, S. C. Escola rural: urbanização e políticas educacionais. 2a ed. São Paulo: Cortez, 1999.
TAFFAREL, Celi Zulke e MUNARIM Antonio. Pátria Educadora e Fechamento de Escolas do Campo: O
Crime Continua. Revista Pedagógica, V.17, No35, Maio/Ago. 2015.
Célia Maria Grandini Albiero: Graduada em Serviço Social − Instituição Toledo de Ensino
de Bauru/SP (ITE/SP); Mestra e Doutora em Serviço Social − Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC/SP). Atualmente, é Professora Associada II da Universidade
Federal do Tocantins (UFT/TO), Docente desde 2008 e Coordenadora do Programa
de Pós-Graduação em Serviço Social desde 2018. Líder do Grupo de Estudo e
Pesquisa sobre Serviço Social, Formação e Exercício Profissional (GEPESSFEP) desde
2008. Supervisora acadêmica. E-mail: [email protected]