Livro Texto - Unidade I

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Mecânica dos

Solos e Fundações
Autor: Prof. Marcus dos Reis
Colaboradores: Prof. Ricardo Scalão Tinoco
Prof. José Carlos Morilla
Professores conteudistas: Marcus dos Reis / Angela Martins Azevedo

Marcus dos Reis

Professor universitário, pesquisador e engenheiro civil, com mestrado pela Unicamp em Infraestrutura de
Transportes e autor de vários trabalhos técnicos internacionais e nacionais.

Desde 2005 atua como professor universitário e coordenador de cursos de Engenharia Civil. Foi professor da
Uninove, coordenador e professor na Faculdade Mário Schenberg em 2014 e, atualmente, é coordenador e professor da
UNIP, ministrando as disciplinas de Obras de Terra e Fundações, Mecânica dos Solos (teoria e laboratório), Pavimentos
de Estradas e Aeroportos, Topografia e Materiais da Construção Civil (teoria e laboratório).

Angela Martins Azevedo

Angela Martins Azevedo é engenheira civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (2003) e mestre
em Engenharia de Transportes pela mesma instituição (2007). Realizou cursos de especialização de curta duração nas
áreas de Topografia, Pavimentação e Drenagem de Rodovias.

É professora da Universidade Paulista (UNIP) desde 2006 nos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura nas disciplinas
correlatas à área de infraestrutura de transportes: Topografia, Geodésia e Estradas e Aeroportos.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R375m Reis, Marcus dos.

Mecânica dos Solos e Fundações / Marcus dos Reis, Angela


Martins Azevedo. – São Paulo: Editora Sol, 2019.

220 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-037/19, ISSN 1517-9230.

1. Solos. 2. Terrenos. 3. Fundações. I. Azevedo, Angela Martins.


II. Título.

CDU 624.15

W501.42 – 19

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Fabricia Carpinelli
Vitor Andrade
Sumário
Mecânica dos Solos e Fundações

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 GEOLOGIA DE ENGENHARIA: APLICAÇÃO DA MECÂNICA DOS SOLOS E DAS
ROCHAS ÀS OBRAS CIVIS................................................................................................................................. 13
1.1 A crosta terrestre................................................................................................................................... 13
1.2 Minerais..................................................................................................................................................... 14
1.3 Mecânica das rochas: origem e caracterização das rochas................................................. 14
2 ROCHAS............................................................................................................................................................... 15
2.1 Rochas magmáticas ou ígneas........................................................................................................ 15
2.1.1 Classificação das rochas magmáticas............................................................................................. 16
2.1.2 Formas intrusivas mais comuns......................................................................................................... 16
2.1.3 Principais rochas magmáticas............................................................................................................ 17
2.2 Rochas sedimentares........................................................................................................................... 17
2.2.1 Classificação das rochas sedimentares quanto à origem........................................................ 18
2.2.2 Principais rochas sedimentares.......................................................................................................... 18
2.3 Rochas metamórficas.......................................................................................................................... 19
2.3.1 Rocha metamórfica resultante.......................................................................................................... 19
2.3.2 Principais rochas metamórficas......................................................................................................... 19
2.4 Ciclo de transformação das rochas................................................................................................ 20
2.5 Rochas como materiais de construção........................................................................................ 21
2.5.1 Utilização como revestimento............................................................................................................ 21
2.5.2 Agregados................................................................................................................................................... 22
3 MECÂNICA DOS SOLOS.................................................................................................................................. 24
3.1 Intemperismo.......................................................................................................................................... 24
3.2 Origem e natureza dos solos............................................................................................................ 25
3.2.1 Solos residuais........................................................................................................................................... 25
3.2.2 Solos transportados................................................................................................................................ 26
3.2.3 Solos orgânicos......................................................................................................................................... 26
3.3 Ensaios de caracterização.................................................................................................................. 26
3.4 Granulometria........................................................................................................................................ 27
3.5 Plasticidade e estados de consistência......................................................................................... 31
3.5.1 Caracterização........................................................................................................................................... 31
3.5.2 Determinação dos limites de consistência.................................................................................... 33
3.6 Índices físicos.......................................................................................................................................... 38
3.6.1 Definição..................................................................................................................................................... 38
3.6.2 Relações entre índices físicos............................................................................................................. 40
3.6.3 Determinação dos índices físicos em laboratório....................................................................... 42
3.7 Estrutura dos solos e compactação............................................................................................... 45
4 INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS........................................................ 46
4.1 Sistema de classificação textural.................................................................................................... 47
4.2 Sistema unificado de classificação dos solos (Sucs)............................................................... 48
4.2.1 Solos grossos............................................................................................................................................. 51
4.2.2 Solos finos................................................................................................................................................... 52
4.2.3 Solos altamente orgânicos................................................................................................................... 53
4.3 Sistema de classificação TRB, antigo HRB ou AASHTO.......................................................... 57
4.4 Sistema de classificação geotécnica MCT................................................................................... 59
4.5 Sistema de classificação táctil‑visual (ASTM – D2488‑69).................................................. 62

Unidade II
5 RECONHECIMENTO E INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO.......................................................................... 68
5.1 Identificação visual e táctil............................................................................................................... 68
5.2 Métodos de exploração do subsolo. Profundidade, locação e número
de sondagens.................................................................................................................................................. 69
5.2.1 Sondagens de simples reconhecimento......................................................................................... 69
5.2.2 Apresentação dos resultados de sondagem................................................................................. 74
5.2.3 Programação de sondagens quanto à profundidade e número de sondagens............. 76
5.3 Outros métodos de prospecção....................................................................................................... 81
5.3.1 Ensaio de cone CPT................................................................................................................................. 81
5.3.2 Ensaio de palheta (vane test).............................................................................................................. 82
5.3.3 Ensaio pressiométrico............................................................................................................................ 83
5.3.4 Sapatas – capacidade de carga.......................................................................................................... 85
5.4 Amostragem indeformada e ensaios de laboratório.............................................................. 90
5.4.1 Amostragem............................................................................................................................................... 90
5.4.2 Rotina de ensaios de laboratório...................................................................................................... 91
6 ESTIMATIVA DA TENSÃO ADMISSÍVEL DO TERRENO......................................................................... 92
6.1 Determinação das tensões verticais.............................................................................................. 92
6.2 Tensões admissíveis no cálculo de fundações.........................................................................100
6.3 Teoria do adensamento e recalques............................................................................................101
6.4 Tolerância a recalques.......................................................................................................................102
6.4.1 Distorção angular..................................................................................................................................102
6.4.2 Recalques totais limites......................................................................................................................102

Unidade III
7 FUNDAÇÕES.....................................................................................................................................................107
7.1 Fundações superficiais......................................................................................................................108
7.2 Tipos de fundações superficiais.....................................................................................................108
7.2.1 Alicerce.......................................................................................................................................................109
7.2.2 Bloco simples...........................................................................................................................................109
7.2.3 Sapata......................................................................................................................................................... 110
7.2.4 Radier...........................................................................................................................................................111
7.3 Fundações profundas........................................................................................................................112
7.3.1 Estacas........................................................................................................................................................113
7.3.2 Estacas pré‑moldadas..........................................................................................................................114
7.3.3 Estaca moldadas in loco.....................................................................................................................114
7.3.4 Procedimento de instalação e efeito provocado no solo...................................................... 116
7.3.5 Tubulão.......................................................................................................................................................116
7.3.6 Tubulão tipo pocinho ou a céu aberto..........................................................................................117
7.3.7 Tubulão pneumático ou a ar comprimido...................................................................................117
8 DIMENSIONAMENTO DE SAPATAS..........................................................................................................118
8.1 Verificação do edifício como um todo.......................................................................................120
8.1.1 Verificação da ordem de grandeza do carregamento............................................................ 120
8.1.2 Verificação da viabilidade do emprego de fundação direta................................................ 120
8.1.3 Verificação da tendência de adernamento do edifício.......................................................... 122
8.2 Dimensionamento de sapatas para pilares isolados.............................................................122
8.3 Dimensionamento de sapatas para pilares próximos...........................................................136
8.4 Dimensionamento para pilares de divisa...................................................................................144
8.4.1 Dimensionamento de sapata alavancada................................................................................... 144
8.4.2 Dimensionamento de sapata associada...................................................................................... 153
8.5 Dimensionamento para pilares próximos às duas divisas..................................................167
8.6 Dimensionamento para pilares com carga vertical e momento......................................178
8.7 Disposições construtivas..................................................................................................................184
8.8 Fórmulas teóricas para compreensão do fenômeno de ruptura de uma fundação.185
8.8.1 Método didático de Terzaghi........................................................................................................... 186
8.8.2 Fórmula geral de Terzaghi................................................................................................................. 189
APRESENTAÇÃO

Mecânica dos Solos e Fundações é uma disciplina comum a várias engenharias e, no nosso curso, o
conteúdo é voltado para as graduações em engenharia civil e arquitetura. Ela tem grande importância
para aplicações e investigações do subsolo para execução de uma fundação.

De tudo que irá aprender em nosso curso, o principal objetivo é você prever o comportamento do
solo, principalmente quando ele é submetido a esforços, no qual um elemento estrutural, por meio do
seu peso próprio, passa a transferir cargas para o solo.

O comportamento desse solo poderá ser previsto por meio de suas características, determinadas
em laboratório ou campo, tais como compressibilidade e parâmetros de resistências, entre outros que
iremos aprender neste curso.

Em sua vida profissional você sempre vai se deparar com questões voltadas para a resolução de
problemas envolvendo solos. A mecânica dos solos tem diversas aplicações, tais como investigação
geotécnica, fundações, estrutura de contenções, estabilidade de talude, escavação e aterros, escolha
de solos e materiais, perfurações de obras ambientais, rebaixamento dos lenções freáticos, além de
muitas outras.

Temos que ter em mente que o solo é de importância primordial para uma construção, seja ela um
prédio, uma ponte, uma casa, um talude, rodovia, estrada, uma estação de tratamento de esgoto, ou
seja, qualquer tipo de elemento construtivo que você fizer, tem como base o apoio em solos e, para
isso, precisa entender como ele se comporta, bem como saber que o solo pode servir como material de
construção que contribui muito na definição das condições da fundação a ser utilizada.

A investigação do subsolo se dá a partir de ensaios de laboratório e de campo.

O objetivo dos ensaios é caracterizar os solos, determinando os parâmetros de resistência mecânica,


em especial a compressibilidade, e estudando a percolação da água no solo, com a determinação de sua
capacidade de suporte.

Para tanto, vamos estudar teoria e prática, trabalhando com exercícios de laboratório e de campo.
Iremos conhecer os tipos de fundações (rasas e profundas) e finalizaremos com o dimensionamento das
fundações rasas (sapatas isoladas, sapatas de uma divisa, sapatas duas divisas e vigas alavancadas).

INTRODUÇÃO

Olá, aluno!

Bem‑vindo ao espaço de estudo da disciplina Mecânica dos Solos e Fundações!

Trataremos aqui da estrutura da Terra, da porção onde vivemos, que é a crosta terrestre e de seu
elemento formador, que são as rochas.
9
Posteriormente, serão estudados os solos, os quais são formados pela decomposição das rochas.
As obras civis desenvolvem‑se principalmente em solos, mas, algumas vezes, também em rochas, daí a
importância do domínio desses dois meios para o engenheiro civil.

Por fim, veremos as fundações, que são os elementos de interface entre as edificações e o solo.

Essa sequência de estudo tem como objetivo capacitar os futuros engenheiros civis no domínio de
conceitos de mecânica dos solos e fundações, informando e conceituando os processos por meio de
elementos teóricos e práticos básicos de mecânica das rochas e dos solos nas aplicações da engenharia
para o projeto e dimensionamento de obras civis.

Também é propósito deste livro‑texto fornecer conhecimentos necessários sobre a gênese da Terra
e de suas camadas, além de possibilitar a geração de mapas e perfis geológicos através da classificação
dos solos, juntamente com os parâmetros característicos do comportamento físico dos solos.

O plano de ensino da disciplina Mecânica dos Solos e Fundações estabelece os principais tópicos a
serem estudados:

• aplicação da mecânica dos solos e das rochas às obras civis;

• mecânica das rochas: origem e caracterização das rochas;

• mecânica dos solos;

• origem e natureza dos solos;

• classificação e identificação dos solos: forma e tamanho das partículas e distribuição granulométrica;

• o estado do solo: as três fases dos solos – limites de liquidez e plasticidade;

• principais sistemas de classificação dos solos;

• índices físicos;

• reconhecimento e investigação do subsolo;

• identificação visual e táctil;

• métodos de exploração do subsolo: profundidade, locação e número de sondagens;

• estimativa da tensão admissível do terreno;

• teoria do adensamento – recalques;

10
• fundações superficiais;

• tipos de fundações superficiais: sapatas isoladas, sapatas corridas, sapatas de divisa, viga alavanca,
viga baldrame e radier;

• introdução às fundações profundas: estaca moldadas in loco, pré‑moldadas e tubulões;

• dimensionamento e execução de sapatas.

Bom estudo!

11
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Unidade I
1 GEOLOGIA DE ENGENHARIA: APLICAÇÃO DA MECÂNICA DOS SOLOS E DAS
ROCHAS ÀS OBRAS CIVIS

Serão estudados os principais elementos de interesse relativos às rochas e solos voltados à


engenharia civil.

Para isso, é muito importante definir o que é Geologia, que é a ciência que estuda a matéria que
compõe a crosta terrestre, bem como sua origem e alterações até a configuração da sua superfície atual.

Em seguida, definiremos a Geologia de Engenharia, que é um campo das ciências geológicas que
tem como objetivo estudar e solucionar os problemas envolvendo as interfaces com solos e rochas,
voltadas à engenharia em obras civis, a partir da aplicação de conceitos geológicos.

Estudaremos também os solos e seu comportamento através do conhecimento da mecânica


dos solos.

1.1 A crosta terrestre

Realizadas as primeiras definições, vamos passar para o estudo da superfície terrestre, em que se
encontram os solos e as rochas. Iniciamos pela estrutura da própria Terra.

Na figura a seguir, podemos observar, por meio de um esquema, a crosta terrestre e a estrutura
interna da Terra, sendo que o furo mais profundo já feito foi para exploração de petróleo, tendo
aproximadamente 5 quilômetros.

Manto

120 km

2.900 Núcleo
km
3.300
km Crosta terrestre

Cento da Terra

Figura 1 – Ilustração esquemática da crosta terrestre

13
Unidade I

De acordo com a figura anterior, temos:

• Núcleo: parte da Terra onde se concentram os maiores níveis de pressão e temperatura, sendo
a camada mais profunda. Dividida em duas partes, núcleo externo e núcleo interno; o externo
provavelmente é composto de ferro metálico e outros elementos e o interno, de ferro e níquel.

• Manto: é a maior camada da Terra, apresentando maior volume, massa e extensão, composto por
rochas em estado pastoso ou fluido.

• Crosta: é possível considerá‑la como a camada sólida do planeta, que se manifesta externamente
e que é composta por rochas e minerais.

1.2 Minerais

Do estudo de toda a estrutura da Terra, vamos agora para uma escala bem menor. Veremos a estrutura
da rocha, que é constituída por minerais.

Um mineral é um corpo sólido, cristalino, que resulta da interação de diversos processos físico‑químicos
em ambientes geológicos.

Os minerais mais comuns são:

• Anfibólios: extremamente complexos, são constituídos por pelo menos 86 silicatos diversos de
dupla cadeia de SiO4.

• Feldspatos: constituintes de rochas que compõem aproximadamente 60% de toda a crosta terrestre.

• Hematita: é bastante comum na natureza e principal constituinte do minério de ferro, apresentando


cor cinza ou preta.

• Magnetita: é um mineral magnético formado pelo óxido de ferro (II, III), dado pela fórmula Fe3O4.

• Piroxênios: são cristais que se cristalizaram antes ou durante a erupção, ficando embebidos na
rocha derretida resultante do resfriamento do magma.

• Quartzo: formado principalmente por cristais trigonais compostos por tetraedros de sílica (SiO2),
nos quais cada oxigênio fica dividido entre dois tetraedros.

1.3 Mecânica das rochas: origem e caracterização das rochas

A mecânica das rochas estuda a origem e natureza das rochas e aplicações em obras civis por meio
de reconhecimento, investigação e caracterização dos maciços rochosos. Para tanto, serão abordados
conceitos fundamentais de classificação e caracterização das rochas, tanto em relação a sua gênese
quanto a sua estruturação.
14
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Lembrete

Geologia é a ciência que estuda a matéria que compõe a crosta


terrestre, bem como sua origem e suas alterações até a configuração da
sua superfície atual.

Saiba mais

Para conhecer mais sobre mecânica de rochas, consulte a obra a seguir:

FIORI, A. P. Fundamentos de mecânica dos solos e rochas. 3. ed. São


Paulo: Livros Técnicos e Científicos, 2015.

2 ROCHAS

As rochas são agregados naturais de um ou mais minerais e que constituem unidades mais ou menos
definidas, mas distintas entre si na crosta terrestre.

Quanto à quantidade de minerais formantes de uma rocha, temos:

• Rocha simples: formada apenas por um mineral. Por exemplo: quartzito – mineral único: quartzo.

• Rocha composta: formada por mais de uma espécie de mineral. Por exemplo: granito – minerais
presentes: quartzo, feldspato e mica.

Quanto à origem, as rochas podem ser divididas em magmáticas ou ígneas; sedimentares;


e metamórficas.

2.1 Rochas magmáticas ou ígneas

São formadas a partir do resfriamento e consolidação do magma, que é um material de composição


complexa existente no interior da Terra, apresentando‑se em estado líquido ou com comportamento
líquido por conta de sua fusão devido às elevadas pressões e temperaturas.

Os tipos de minerais presentes na rocha ígnea dependem da composição química do magma que lhe
deram origem.

15
Unidade I

2.1.1 Classificação das rochas magmáticas

Quanto à sua gênese, temos a seguinte divisão:

• Extrusivas ou vulcânicas: são rochas que se formam pela consolidação do magma na superfície da
Terra, a partir de derrames de lavas vulcânicas.

• Intrusivas ou plutônicas: são rochas formadas pela consolidação do magma em profundidade, ou


seja, não atingem a superfície durante sua formação, formando‑se em tempos geológicos bem
mais longos que em relação ao tempo de formação das rochas intrusivas.

2.1.2 Formas intrusivas mais comuns

As formas intrusivas mais comuns são:

• Dique: corpo intrusivo discordante da estratificação da rocha que atravessa.

• Sill: corpo intrusivo concordante com a estratificação da rocha que atravessa.

• Batólito: grande massa consolidada internamente, que abrange grandes áreas se exposta
pela erosão.

Na figura a seguir, podemos observar, por meio de uma ilustração esquemática, as formações
encontradas nas rochas magmáticas e ígneas.

Derrame
Derrame
Vulcão

Sill Sill

Dique Dique Dique

Grande massa de magma (Batólito)

Figura 2 – Ilustração esquemática de rochas magmáticas e ígneas

Os diques, se forem mais resistentes que a rocha que atravessam, denominada rocha encaixante,
formam “muros” na topografia após a erosão e a exposição à superfície terrestre. Quando cortados por
rios, provocam o surgimento de corredeiras e cachoeiras.

16
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Na figura a seguir, podemos observar o comportamento descrito quanto aos sedimentos e os diques.

Vista em planta

Legenda
Sedmentos
Diques

Vista em perfil

Figura 3 – Ilustração esquemática quanto aos comportamentos descritos para os sedimentos e os diques

O tamanho dos minerais componentes da rocha, denominado cristais, é determinado pela velocidade
com que o magma se resfria. Em rochas intrusivas, o magma foi resfriado lentamente (portanto, com
lentidão na cristalização) e as partículas minerais têm a oportunidade de atingir tamanho considerável.
Em rochas extrusivas, o magma extravasou como lava e sua salificação progrediu rapidamente, sendo a
rocha resultante de granulação fina.

2.1.3 Principais rochas magmáticas

Dentre inúmeros tipos de rochas, destacam‑se as seguintes:

• Basalto: rocha extrusiva mais abundante da crosta terrestre, originária de extensos derrames de
lava. É de granulação fina e de cor escura. A sua decomposição dá origem às argilas de coloração
vermelha, denominadas terras roxas, presente, por exemplo, nos estados de São Paulo e Paraná.
Os minerais mais comuns são: feldspato, piroxênio e magnetita.

• Diabásio: rocha intrusiva de composição idêntica ao basalto, mas apresentando granulação mais
grossa, visível a olho nu. Ocorre geralmente nas formas de diques e sills.

• Granito: rocha intrusiva, ocorrendo usualmente na forma de batólitos. Apresenta coloração clara e
textura uniforme, granular. Os minerais presentes são: quartzo, feldspato e mica, geralmente biotita.

2.2 Rochas sedimentares

As rochas sedimentares são formadas por materiais resultantes da decomposição e desintegração


de rochas preexistentes, em decorrência da ação do intemperismo. Esses materiais são transportados
por agentes como vento, água, gelo, ou mesmo pela ação da gravidade, sendo levados para regiões de
topografia mais baixa, notadamente bacia e depressões.
17
Unidade I

Posteriormente, sofrem consolidação pelo peso de camadas superiores ou pela ação cimentante de
águas superficiais ou subterrâneas. Ao processo de transformação do sedimento em rocha definitiva
dá‑se o nome de diagênese.

São sempre formadas na superfície da Terra e geralmente se apresentam estratificadas.

Na figura a seguir podemos observar, por meio de uma ilustração esquemática, a formação de
rochas sedimentares a partir da rocha preexistente.
Agentes atmosféricos

Transporte Compactação
dos sedimentos +
Cimentação
Rochas
preexistentes

Figura 4 – Rochas sedimentares e rochas preexistentes

2.2.1 Classificação das rochas sedimentares quanto à origem

As rochas sedimentares são divididas em:

• Mecânicas ou clásticas: são rochas em que o processo de deposição, que se dá geralmente em


meio aquoso, ocorreu pela ação da gravidade, configurando, nesse caso, deposição de suspensões.

• Químicas: rochas cujos materiais foram dissolvidos na água e, quando esta evapora, ocorre a
precipitação química, o que configura a deposição de solutos.

• Orgânicas: muitos organismos marinhos se utilizam do carbonato de cálcio dissolvido na água


para construir suas conchas. Com a morte desses organismos, as partículas calcárias vão se
acumulando no fundo do mar e, quando consolidadas, produzem os calcários.

2.2.2 Principais rochas sedimentares

Nas de origem mecânica encontram‑se os conglomerados, arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos.


Diferenciam‑se pelo tamanho das partículas o pedregulho, formando os denominados conglomerados;
o silte, que dá origem aos siltitos; e a argila, formando os argilitos e os folhelhos. O folhelho se distingue
do argilito por ser estruturado em lâminas finas e paralelas de forma bem acentuada.

As rochas de granulação mais fina sofrem consolidação principalmente pelo peso das camadas
sobrejacentes, pelo mecanismo de compactação. As de granulação mais grossa se consolidam por
cimentação, em um mecanismo químico, já que a compactação é inócua neste caso.

18
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

De origem química, temos o sal‑gema e o calcário oolítico. Na origem orgânica, há diversas variedades
de calcários.

2.3 Rochas metamórficas

As rochas metamórficas são formadas pela ação da temperatura, pressão e também de soluções
químicas, agindo em rochas preexistentes, magmáticas ou sedimentares. Os agentes do metamorfismo
agem necessariamente no estado sólido, portanto, sem que a rocha original sofra fusão.

Durante o metamorfismo, pode‑se verificar a formação de um novo arranjo estrutural, no entanto,


mantida a composição química da rocha original. Esse novo arranjo é resultante da reorientação dos
minerais, em decorrência do aumento da pressão e da recristalização dos materiais, devido ao aumento
da temperatura. Também ocorre uma mudança na composição química, pela formação de novos minerais
não existentes anteriormente. Por exemplo, em um calcário contendo impurezas, a ação da temperatura
e pressão pode provocar reações das impurezas com o carbonato de cálcio, formando novos minerais.

2.3.1 Rocha metamórfica resultante

A rocha metamórfica resultante depende da composição da rocha original e da temperatura e


pressão durante o metamorfismo. Elas podem ser classificadas em dois grandes grupos:

• Por metamorfismo regional: ocorrendo em áreas extensas, gerando mudanças em massas de


rochas de grandes dimensões.

• Por metamorfismo de contato: quando o magma se introduz na crosta e, em decorrência do


calor e das soluções que o acompanham, gera o metamorfismo da rocha encaixante em áreas
adjacentes à intrusão.

Existem dois tipos de metamorfismo de contato: o termal, decorrente do aquecimento da rocha


encaixante; e o hidrotermal, resultante do aquecimento e também das soluções provenientes da rocha
ígnea que reagem com a rocha encaixante.

2.3.2 Principais rochas metamórficas

• Gnaisse: originada do metamorfismo do granito. Difere deste por apresentar os minerais de mica
orientados em uma mesma direção e por ter granulação grossa em faixas. Os minerais de sua
composição são: quartzo, feldspato e mica.

• Quartzito: originado do arenito. Distingue‑se do arenito pelo exame de fratura. No quartzito, ela
passa através dos grânulos, nos arenitos, entre eles. Em geral branco, pode apresentar cores mais
escuras em razão do cimento. O mineral presente é o quartzo.

• Mármore: originado do calcário. Quando puro, é branco e com granulação, que pode variar de
muita fina a grossa. Apresenta efervescência em contato com solução ácida. O mineral é a calcita.
19
Unidade I

• Xisto: originado de rochas ígneas e metamórficas. A variedade mais comum é micaxisto. A mica,
visível, dispõe‑se paralelamente (“xistosidade”). Os minerais são mica e quartzo.

• Filito: semelhante ao xisto, porém de granulação mais fina.

• Ardósia: resultante do folhelho, de granulação muita fina.

Lembrete

A rocha metamórfica resultante depende da composição da rocha


original e da temperatura e pressão durante o metamorfismo.

2.4 Ciclo de transformação das rochas

Na figura a seguir podemos observar, por meio de um fluxograma esquemático, o ciclo de


transformação das rochas.

Resfriamento Magma
consolidado Fusão
Rochas
magmáticas
Rochas
metamórficas

Intemperismo
Metamorfismo

Solos residuais

Rochas
Erosão Solos sedimentarres
transporte sedimentares Consolidação

Figura 5 – O ciclo de transformação das rochas

Saiba mais

Para conhecer mais sobre a estrutura da Terra, consulte a obra:

GUERRA, R. A. T. et al.(Org.). Ciências biológicas: cadernos CB virtual 1.


João Pessoa: Universitária, 2011. Disponível em: <http://portal.virtual.ufpb.
br/biologia/novo_site/Biblioteca/Livro_1/3‑Fundamentos_em_Geologia.
pdf>. Acesso em: 1º out. 2018.

20
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

2.5 Rochas como materiais de construção

A seguir, apresentamos alguns exemplos da utilização de rochas como materiais de construção.

No que diz respeito ao seu uso para produzir ferramentas e utensílios para o desempenho de diversas
atividades como a extração de produtos animais ou vegetais, este precede a própria existência da espécie
humana moderna, uma vez que existem instrumentos de pedra datados de 1,5 milhão de anos.

Com relação à utilização das rochas como materiais de construção, seu uso é bem mais recente, uma
vez que a construção de moradias só surgiu na história da humanidade a partir do momento em que
as sociedades dominaram a agricultura, por volta de 8.000 anos a.C. e assim deixaram de ser nômades,
favorecendo a fixação dessas sociedades em áreas restritas.

De acordo com a matéria‑prima disponível, as necessidades construtivas e a tecnologia dominada


por cada civilização, desde as antigas até as atuais, foram desenvolvidas formas diversas de utilização
dos materiais de construção, em especial as rochas. O uso das rochas podem ser classificado em quatro
grandes grupos, de acordo com o formato apresentado e o grau de processamento ao quais os materiais
tenham sido submetidos:

• agregados: constituídos por brita pedrisco, areia e seixos;

• blocos: maiores que os agregados, usados para a proteção de talude, encostas e de portos
marítimos, na forma de enrocamentos e muros de arrimo;

• placas: de formato tabular, servindo para revestimento de paredes e pisos.

• matéria‑prima: normalmente pulverulentas, originadas de rochas ou solos, empregadas na


confecção de cerâmica, cal e cimento.

Com relação às rochas, as formas clássicas de extração são: blocos, placas e brita. Os sedimentos e
solos são utilizados na forma de materiais de empréstimo, distribuídos nas categorias areia, cascalho,
argila e solo.

Normalmente, as rochas, como materiais de construção, são empregadas como pedras de


revestimento ou rochas ornamentais, ou então usadas de maneira isolada ou misturadas com outro tipo
de matéria‑prima para formar um componente da construção civil.

2.5.1 Utilização como revestimento

As pedras de revestimento são componentes de construção, com formas e geometrias em geral


regulares, normalmente tabulares, que se destinam ao embelezamento das edificações, além de lhes
propiciar funcionalidade. Servem de elemento durável e decorativo de exteriores e interiores, tais como
pisos ou acabamento de paredes e muros de edificações.

21
Unidade I

As rochas ornamentais, diferentemente das pedras de revestimento, recebem tratamento superficial


de polimento, tendo valor agregado, ou seja, preço maior que a pedra de revestimento, que é usada com
sua superfície in natura.

Dentre os diversos tipos de pedras utilizadas para revestimento, destacam‑se as descritas na sequência.

A ardósia apresenta geralmente, além da beleza natural, superfície muito lisa e bastante leveza,
podendo ser utilizada de diversas formas, por exemplo, em pisos, telhas, sanitários, lousas e mesmo
mesas de bilhar.

Os arenitos, quando apresentam certo nível mínimo de dureza, podem ser utilizados para revestimento
e como petit‑pavé.

O basalto é excelente para utilização na forma de agregado ou em petit‑pavé, sendo que sua
caracterização comercial costuma incluir também os diabásios.

Os calcários apresentam bom polimento e brilho natural intenso, além de serem normalmente
macios, o que os tornam bons materiais para uso em revestimento e para esculturas.

As gnaisses costumam ser utilizadas como agregado e como lastro de rodovia; quando apresentam
pouca mica, podem também ser usadas em revestimentos, em locais onde existe escassez de outro tipo
de rocha com boa resistência mecânica.

Os granitos são muito bons para quase todo tipo de utilização. Quando apresentam beleza e
características tecnológicas adequadas, são utilizados para revestimentos e outros similares. Exibem
grande variedade de cores e padrões, além de englobarem, em sua caracterização comercial, outros tipos
de rochas empregadas em revestimentos, tais como os andesitos, dioritos, gabros, riolitos, sienitos, sendo
todos conhecidos sob denominação comercial de granitos.

Os mármores podem mostrar grande variedade de cores e padrões. Seu uso se dá em revestimento
de pisos, paredes, tampos de mesas ou pias, por exemplo, e uso em esculturas.

O quartzito, geralmente, é utilizado na forma de placas para calçamento, pois é antiderrapante.


É bom isolante térmico, de fácil substituição e apresenta grande rendimento.

2.5.2 Agregados

São materiais granulares sem forma e volume definidos, de dimensões e propriedades adequadas
para o emprego como materiais construtivos em obras de engenharia civil.

São denominados naturais aqueles que são extraídos diretamente na forma de fragmentos,
como areia e pedregulho, e artificiais os que passam por processos de fragmentação, como pedra
e areia britadas.

22
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Nas obras de engenharia, os fragmentos de rocha podem ser unidos por ligantes, como no caso dos
concretos (hidráulico e betuminoso), ou sem ligantes, como na construção de lastro de ferrovias, filtros
e enrocamentos.

A seguir exemplificamos a mistura de rocha com outros materiais, gerando produtos utilizados na
construção civil.

O concreto hidráulico é um produto originado de mistura, em proporções convenientes, de agregado,


que pode apresentar granulometria graúda ou miúda, cimento e água. A mistura deve exibir plasticidade
adequada para facilitar o manuseio e seu lançamento em formas, além de adquirir coesão e resistência
mecânica com o tempo de cura.

Concreto asfáltico vem da mistura de agregados e ligante asfáltico, destinado ao uso principalmente
na construção de pavimentos, em que são requeridas coesão, flexibilidade e resistência mecânica, dentre
outros parâmetros técnicos de qualidade que devem ser controlados. Essa mistura é utilizada como
camada de rolamento, denominada capa. O detalhamento completo deste produto, que irá compor a
estrutura de um pavimento, é desenvolvido em disciplinas específicas do curso.

Os agregados com diferentes granulometrias, conhecidos como BGS (brita graduada simples) ou
BGTC (brita graduada tratada com cimento), são normalmente utilizados como camada de base ou
sub‑base na estrutura do pavimento.

Os lastros de ferrovias são formados por fragmentos de rochas de corpo granular, com distribuição
granulométrica convenientemente escolhida, sobre o qual se assentam os dormentes, os quais, por sua
vez, suportam os trilhos.

Os enrocamentos são constituídos por um corpo granular, com distribuição granulométrica


conveniente definida, no qual os agregados exercem as seguintes funções:

• compor o maciço da barragem de núcleo de terra;

• constituir muros de arrimo para estabilização e ou contenção de taludes, ou para muro de


gabião, constituído por pedras possíveis de se carregar manualmente, que são acondicionadas
em gaiolas metálicas.

Saiba mais

Para saber mais sobre revestimentos, rochas ornamentais e agregados,


consulte as publicações do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), em
especial os livros a seguir:

23
Unidade I

VIDAL, F. W. H.; AZEVEDO, H. C. A.; CASTRO, N. F. (Eds.). Tecnologia de


rochas ornamentais: pesquisa, lavra e beneficiamento. Rio de Janeiro:
Cetem/MCTI, 2013. Disponível em: <http://www.cetem.gov.br/livros/
item/download/2049_0ee211a8119d9166a6019c146ce6b64f>. Acesso em:
1º out. 2018.

LUZ, A. B. da; ALMEIDA, S. L. M. de. Manual de agregados para a


construção civil. Rio de Janeiro: Cetem/MCTI, 2012. Disponível em: <http://
www.cetem.gov.br/livros/item/download/2048_77de1bc9760cdf63d75d01
8e227e7192>. Acesso em: 1º out. 2018.

3 MECÂNICA DOS SOLOS

A mecânica dos solos estuda a origem e natureza dos solos e aplicações em obras civis por meio de
reconhecimento, investigação e caracterização do subsolo.

Com o conhecimento das propriedades dos solos, obtido a partir dos ensaios de caracterização
de laboratório e de campo, além de dados alcançados da investigação in situ do subsolo, aliados ao
conhecimento teórico dos solos, dos elementos construtivos e dos tipos de fundações, é possível
dimensionar as fundações mais adequadas para a estrutura projetada.

3.1 Intemperismo

Para o entendimento do comportamento do solo, devemos dominar vários conceitos e sua


relação com o comportamento dos solos, os quais serão apresentados a seguir. O primeiro é o
conceito de intemperismo.

Denomina‑se intemperismo o conjunto de processos que ocasionam a desintegração e decomposição


das rochas, pela ação de agentes atmosféricos e biológicos. Pode-se distinguir dois tipos de intemperismo,
o físico e o químico.

O intemperismo físico (desintegração) é ação de esforços mecânicos sobre a rocha, cujos agentes são:

• Variação da temperatura: expansões e contrações da rocha produzida por variações de temperatura,


repetidas seguidamente e que provocam fraturas, as quais vão se alargando com o passar do
tempo e acabam por desintegrar a rocha.

• Congelamento: a água, ao se congelar, aumenta 10% em volume e, assim, se as fendas


da rocha estiverem preenchidas com água, esta, ao se congelar, exercerá pressão sobre as
paredes da rocha. O processo é tanto mais agressivo à rocha quanto maior o número de ciclos
de congelamento e degelo.

24
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

• Cristalizações de sais: a água que circula pelas fendas da rocha pode conter sais dissolvidos. Com
a evaporação, os sais se precipitam, cristalizando‑se, e podem exercer pressão sobre as paredes
das fendas da rocha, desagregando‑a. Este é um fenômeno comum nas regiões costeiras, onde as
aberturas das rochas são preenchidas pela água do mar, rica em sais.

• Ação física e química dos vegetais: as rochas podem sofrer desagregação, que é causada pelo
crescimento de raízes ao longo de suas fraturas, além da ação química que esses vegetais podem
causar na superfície da rocha, como será visto logo a seguir.

O intemperismo químico (decomposição) é ação química de substâncias presentes na água sobre a


rocha. Os processos de ação são: hidrólise, hidratação, oxidação e carbonatação. Os fatores que influem
na velocidade de ação do intemperismo e na natureza dos solos são:

• Clima (temperatura e pluviosidade): em regiões geladas e desertas, há maior predominância


de intemperismo físico; por outro lado, em regiões quentes e úmidas, predomina o
intemperismo químico.

• Tipo de rochas (resistência e estrutura).

• Topografia.

• Vegetação.

• Condições de drenagem.

3.2 Origem e natureza dos solos

Todo solo tem sua origem imediata ou remota na ação do intemperismo sobre as rochas. Quando o
solo, resultante do processo de intemperismo, permanece no próprio local em que se deu o fenômeno,
ele é chamado residual. Quando é carregado pela água das enxurradas ou rios, vento, ou gravidade, ele
é denominado transportado.

3.2.1 Solos residuais

Para que haja a formação dos solos residuais é necessário que a velocidade de decomposição da
rocha seja maior que a velocidade com que os produtos da decomposição são removidos. São mais
abundantes e profundos em regiões de clima quente e úmido, uma vez que nesse clima o intemperismo
químico da rocha acontece mais facilmente e também ocorre vegetação suficiente para impedir que os
produtos resultantes sejam transportados rapidamente.

Um perfil típico do subsolo conforme a intensidade do intemperismo é apresentado na figura a seguir.

25
Unidade I

Solo residual maduro

Solo de alteração de rocha

Rocha alterada

Rocha sã ou fissurada

Figura 6 – Perfil típico do subsolo contendo a intensidade do intemperismo

3.2.2 Solos transportados

Os solos transportados são classificados de acordo com o agente transportador em aluvião, coluvião
e solos eólicos.

É denominado aluvião quando o agente transportador é a água. Em geral, uma seleção natural
do material, segundo sua granulometria, ocorre ao longo de um curso d’água, encontrando‑se mais
próximo da cabeceira os materiais mais grossos, já os mais finos são transportados a grande distância.
Porém, dependendo do regime do rio, os depósitos podem se apresentar bastante heterogêneos. Os
grãos de areia e de pedregulho tendem a ser arredondados.

Os depósitos de coluvião são os solos cujo agente transportador é, exclusivamente, a ação


da gravidade. São de ocorrência localizada, situando‑se, em geral, em encostas ou pé de elevações.
Apresentam as partículas de areia e pedregulho, tendendo a ser angulares.

O agente transportador dos solos eólicos é o vento. Exemplo mais comum no Brasil são as dunas
litorâneas, como as que se encontram no nordeste do país. Apresentam alto grau de arredondamento
dos grãos, ocorrendo também significativa seleção do material, segundo a sua granulometria.

3.2.3 Solos orgânicos

São solos transportados com a presença acentuada de matéria orgânica (húmus). Quando
constituídos excessivamente de restos de vegetais, são denominados turfa. A condição de má drenagem
é essencial para a formação dos solos orgânicos. Acumulam‑se, sobretudo, em baixadas, lagos, pântanos
e ambientes similares.

3.3 Ensaios de caracterização

São ensaios para a determinação de índices e parâmetros do solo a fim de se identificar, classificar e
prever o comportamento mecânico dos solos.

A primeira característica para a diferenciação dos solos é o tamanho das partículas constituintes. Em
princípio, pode ser notada a presença de partículas identificáveis a olho nu e de outras que necessitam
de instrumentos adequados para a sua visualização, de tão pequenas.
26
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Conforme o prof. Carlos Souza Pinto:

Num solo, geralmente convivem partículas de tamanhos diversos. Não é


fácil identificar o tamanho das partículas pelo simples manuseio do solo,
porque grãos de areia, por exemplo, podem estar envoltos por uma grande
quantidade de partículas argilosas, finíssimas, ficando com o mesmo aspecto
de uma aglomeração formada exclusivamente por uma grande quantidade
dessas partículas. Quando secas, as duas formações são muito semelhantes.
Quando úmidas, entretanto, a aglomeração de partículas argilosas se
transforma em uma pasta fina, quando a partícula arenosa é facilmente
reconhecida pelo tato (PINTO, 2002, p. 9).

Dessa forma, ressalta‑se a importância da realização dos ensaios de caracterização. Os índices físicos
relacionam as porções constituintes do solo, quais sejam: sólida, água e ar. De extrema importância é
a caracterização imediata, mediante o ensaio de caracterização táctil‑visual. Na sequência, ensaios de
granulometria por peneiramento e sedimentação. Para bem caracterizar a fração fina dos solos, deve‑se
também realizar os ensaios para estimativa dos limites de consistência.

3.4 Granulometria

Para o reconhecimento do tamanho dos grãos de um solo realiza‑se a análise granulométrica, em


geral, em duas fases: peneiramento e sedimentação, produzindo‑se a curva granulométrica, como
mostrado na próxima figura.

As quantidades de material, em peso, que passam em cada peneira, referidas ao peso seco total
da amostra, são denominadas como “porcentagens que passam” ou “porcentagens passantes” e são
representadas graficamente em função da abertura de cada peneira, em escala logarítmica. A abertura
nominal da peneira é considerada como o diâmetro das partículas.

A análise por peneiramento tem como limitação a abertura da malha das peneiras, que não pode ser
tão pequena quanto o diâmetro mínimo de interesse. A menor peneira empregada é a de nº 200, que
tem abertura da malha de 0,075 mm.

A granulometria é a medida do tamanho das partículas constituintes do solo, representada pela curva
de distribuição granulométrica, conforme a figura a seguir, que é desenhada em gráfico semilogarítmico.
Nas abscissas, há o logaritmo do tamanho das partículas e nas ordenadas, à esquerda, a porcentagem
retida acumulada, e, à direita, a porcentagem que passa.

De um lado, a porcentagem retida acumulada representa a quantidade relativa de partículas maiores


que determinado diâmetro, e, no outro, a porcentagem passante representa a porcentagem de solo com
partículas menores que determinado diâmetro.

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Unidade I

Peneiras (ASTM) nº 200 100 50 40 30 16 10 4 9.5 19 25 38


100 0

90 10

80 20

70 30
Porcentagem que passa

60 40

Porcentagem retida
50 50

40 60

30 70

20 80

10 90

0 100
0,005 0,001 0,01 0,1 1 10 50

Classificação Argila Silte Areia fina Areia média A. grossa Pedregulho


A.B.N.T
Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 7 – Exemplo de curva granulométrica

Quando há interesse no conhecimento da distribuição granulométrica da porção mais fina dos solos,
emprega‑se a técnica da sedimentação, que se baseia na Lei de Stokes: a velocidade (V) de queda de
partículas esféricas num fluído atinge um valor limite que depende do peso específico do material da
esfera (gs), do peso específico do fluido (gw), da viscosidade do fluido (µ) e do diâmetro da esfera (D),
conforme a expressão:

γs − γw 2
V= ⋅D
18 ⋅ µ

Colocando‑se certa quantidade de solo em suspensão em água, as partículas cairão em velocidades


proporcionais ao quadrado de seus diâmetros.

As dimensões das partículas finas são representadas por um diâmetro equivalente, sendo suas formas
bem diferentes de esferas. Partículas coloidais (D < 0,0002 mm) não sedimentam.

Na natureza, os solos apresentam‑se como uma mistura de partículas de diversos tamanhos e tanto
o ensaio de peneiramento quanto o de sedimentação podem ser realizados para obtenção de uma curva
granulométrica completa do solo.

Nesse ensaio conjunto, primeiramente, obtém‑se a curva referente à porção de partículas grossas
por ensaio de peneiramento; a seguir, complementa‑se com a curva do ensaio de sedimentação, cujo
procedimento está descrito na sequência.

28
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

1. A amostra de solo deve conter cerca de 40 a 70 g e precisa ser passada na peneira de malha
nº 100. A dispersão das partículas finas é realizada com a introdução de um defloculante, que é
algo como um detergente, que pode ser silicato de sódio, hexametafosfato de sódio ou outros. Tal
medida evita a aglutinação das partículas na água.

2. A dispersão ocorre com o peneiramento e a lavagem da mistura solo‑defloculante, recolhendo‑se


o material passante em uma proveta graduada em 1.000 ml.

3. O material retido é seco em estufa e submetido ao ensaio de peneiramento com vibração. É a parte
relativa ao ensaio de peneiramento.

4. O material da proveta é agitado e homogeneizado; em seguida, são realizadas leituras periódicas


das densidades da suspensão por meio de densímetros, sendo correlacionadas com a queda das
partículas (z).

5. Coloca‑se o defloculante na concentração de 45,7 g/l, sendo que no solo equivale a 125 ml, e
deixa‑se em repouso por 24 horas. As partículas devem ser dispersas utilizando‑se um dispersor
por um período de 15 minutos, e as leituras são feitas em ½, 1, 2, 4, 8,15 e 30 minutos e, depois,
em 1, 2, 4, 8 e 24 horas.

6. Os 4 minutos iniciais são feitos sem retirar o densímetro do local; na sequência, deve‑se retirar e
recolocar a cada leitura. Esse procedimento é adotado para evitar imprecisões no início, quando
as partículas depositam‑se mais rapidamente.

7. Com os dados determinados experimentalmente, aplica‑se a Lei de Stokes, apresentada anteriormente.

O intemperismo físico sempre gera partículas com diâmetro maior que as geradas pelo intemperismo
químico. Desse modo, em solos granulares, ou grossos, predomina a ação da gravidade em sua formação
e a forma é tanto mais arredondada quanto maior for a distância do transporte realizada. Em solos
finos, as formas são normalmente lamelares ou circulares, determinadas pelo mineral constituinte e pela
atuação das forças de superfície e da água.

As escalas granulométricas buscam classificar as partículas de acordo com seus diâmetros respectivos, e
as mais comumente utilizadas no Brasil são as da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), cuja representação gráfica pode ser observada na
próxima figura.

Os solos granulares são divididos em pedregulhos e areias, subdivididos em grossos, médios e finos.
Os solos finos são subdivididos em siltes e argilas.

Pedregulhos são acumulações incoerentes de fragmentos de rocha, comuns em margens de rios.

Areia corresponde ao material áspero ao tato, isento de finos, que não se contrai ao secar.

29
Unidade I

Silte é todo material fino de baixa plasticidade, muito parecido com a argila, mas esta possui alta
resistência e plasticidade.
ABNT: Areias
Argilas Siltes Fina Média Grossa Pedregulhos

0,005 0,05 0,42 2 4,8 D (mm)

MIT: Areias
Argilas Siltes Fina Média Grossa Pedregulhos

0,002 0,06 0,2 0,6 2 D (mm)

Figura 8 – Escala granulométrica segundo ABNT NBR 6502/95 e MIT de tamanho de partículas

A curva é representada por dois parâmetros, o diâmetro efetivo (D10 ou De) e o coeficiente de não
uniformidade (Cu ou CNU), de acordo com a ASTM D‑2487 (2006).

O primeiro parâmetro é o diâmetro D10, tal que 10% das partículas do solo, em massa, apresentam
diâmetros menores que ele. Esse parâmetro é importante, pois as partículas finas definem melhor o
comportamento do solo.

O CNU é a medida da inclinação da curva granulométrica.

D60
CNU =
D10

Outro parâmetro importante é o coeficiente de curvatura (CC), que determina o formato da curva
granulométrica, verificando a presença de descontinuidades da curva granulométrica e/ou concentração
de material grosso.

CC =
(D30 )2
D10 ⋅ D60

Um solo mal graduado apresenta CNU tendendo a 1, pois é composto de partículas com mesmo
tamanho. Os solos que apresentam valores de CC menores que 1 apresentam curvas descontínuas e os
solos com CC maiores que 3 apresentam curvas uniformes em sua parte central.

30
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Saiba mais

Para saber mais sobre solos e análise granulométrica também pode‑se


consultar a norma preconizada pelo DNER (atual DNIT):

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. Solos:


análise granulmétrica, 1994. Disponível em: <http://ipr.dnit.gov.br/
normas‑e‑manuais/normas/meetodo‑de‑ensaio‑me/dner‑me051‑94.pdf>.
Acesso em: 1º out. 2018.

3.5 Plasticidade e estados de consistência

3.5.1 Caracterização

Somente os índices físicos ou mesmo a distribuição granulométrica não caracterizam bem


o comportamento dos solos sob o ponto de vista da engenharia. A fração fina dos solos tem uma
importância muito grande neste comportamento.

Quanto menores as partículas, maior a superfície específica (superfície das partículas dividida por
seu peso ou por seu volume). Um cubo com 1 cm de aresta tem 6 cm² de área e volume de 1cm³. Um
conjunto de cubos com 0,05 mm de aresta (siltes) apresenta 125 cm² por cm³ de volume. Certos tipos
de argilas chegam a apresentar 300 m² de área por cm³.

É sabido que solos com maiores superfícies específicas requerem maior quantidade de água para
atingirem a saturação. O comportamento de partículas com superfícies específicas tão distintas perante
a água é muito diferenciado. Dessa forma, para a mesma porcentagem de fração argila, o solo pode ter
comportamento muito diferente dependendo das características dos minerais presentes.

Todos esses fatores interferem no comportamento do solo, mas o estudo dos argilo‑minerais é muito
complexo. À procura de uma forma mais prática para identificar a influência das partículas argilosas,
a engenharia a substituiu por uma análise indireta, baseada no comportamento do solo na presença
de água. Portanto, a caracterização da plasticidade e do estado de consistência dos solos são muito
importantes para a caracterização dos solos.

Definimos plasticidade como a propriedade que um solo possui de apresentar deformações


relativamente rápidas sem que ocorra ruptura ou variação em seu volume. Associa‑se a plasticidade aos
solos finos, sendo dependente do argilo‑mineral e da quantidade de água presentes no solo. A água atua
como lubrificante para que as partículas finas possam deslizar umas sobre as outras, possibilitando que
o solo seja moldado, por exemplo, o barro para cerâmica.

Os estados de consistência são, por sua vez: líquido, plástico, semissólido e sólido. No estado
líquido, o solo apresenta propriedades de suspensão e suas características são as de um fluido
31
Unidade I

viscoso sem resistência ao cisalhamento. Já no plástico o solo apresenta a propriedade de plasticidade.


No semissólido, o solo apresenta‑se como sólido, mas, quando seco, apresenta variação volumétrica. No sólido
não há variação volumétrica na secagem.

Generalizou‑se, então, o emprego de ensaios e índices propostos pelo engenheiro químico Albert
Atterberg, adaptados e padronizados pelo professor de mecânica dos solos, Arthur Casagrande.

Os limites se baseiam na constatação de que um solo argiloso ocorre com aspectos bem distintos
conforme a sua umidade. Quando muito úmido, ele se comporta como um líquido; quando perde parte
da água, fica plástico; e quando mais seco, torna‑se sólido (quebradiço).

Os teores de umidade correspondentes às mudanças de estado são definidos como limites de


liquidez e de plasticidade dos solos. A diferença entre esses dois limites é o índice de plasticidade do
solo (figura a seguir).

• Limite de liquidez (LL): teor de umidade que representa o limite entre o estado líquido e o plástico.

• Limite de plasticidade (LP): teor de umidade que representa o limite entre o estado plástico e o
estado semissólido.

• Limite de contração (LC): teor de umidade que representa o limite entre o estado semissólido e o
estado sólido.

• Índice de plasticidade (IP): representa a quantidade de água necessária que deve ser acrescentada
ao solo para que ele passe do estado plástico para o líquido.

IP = LL - LP

Estado Estado

Líquido Limite de liquidez - LL

Umidade Plástico Índice de plasticidade - IP

Sólido (quebradiço) Limite de plasticidade - LP

Figura 9 – Esquema gráfico dos limites de Atterberg

Normalmente, são apresentados o LL e o IP como índices de consistência dos solos apenas. O LP só


é empregado para a determinação do IP.

32
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Cabe observar que os ensaios para determinação dos limites de plasticidade são executados na
fração de solo que passa na peneira de malha com abertura 0,42 mm, correspondendo às frações silte
e argila.

3.5.2 Determinação dos limites de consistência

Quando se manuseia uma argila, percebe‑se certa consistência, ao contrário das areias, que se
desmancham facilmente. Por essa razão, o estado em que uma argila se encontra costuma ser indicado
pela resistência que ela apresenta.

A consistência das argilas pode ser quantificada por meio de um ensaio de compressão simples, que
consiste na ruptura de um corpo de prova de argila, geralmente cilíndrico.

De acordo com o valor da resistência à compressão simples, a consistência das argilas pode ser
classificada de acordo com a tabela a seguir:

Tabela 1 – Classificação de resistência mecânica de argilas


em ensaio de compressão uniaxial

Classificação Resistência (kPa)


Muito mole <25
Mole 25 – 50
Média 50 – 100
Rija 100 – 200
Muito rija 200 – 400
Dura > 400

Adaptado de: Pinto (2002, p. 28).

Quando uma argila se encontra remoldada, o seu estado pode ser expresso pelo seu índice de vazios.
Porém, como as argilas comumente encontram‑se saturadas, e neste caso o índice de vazios depende
diretamente da umidade, o estado em que a argila se encontra costuma ser expresso pelo teor de
umidade. Mas como o teor de umidade por si só não indica o estado da argila, é necessário analisá‑lo
com relação aos teores de umidade correspondentes a comportamentos semelhantes; esses teores são
os limites de consistência. Quando se manuseia uma argila e se avalia a sua umidade, o que se percebe
não é o teor de umidade, mas sim a umidade relativa.

Considere duas argilas diferentes: uma argila A que tenha LL=80% e LP=30%, e uma argila B que
possua LL=50% e LP=25%, como pode ser visto na figura a seguir. Quando a argila A estiver com
umidade de 80% e a argila B com umidade de 50%, as duas estarão com comportamento semelhante,
com a consistência que corresponde ao limite de liquidez.

33
Unidade I

LP h LL
Argila B
LP h LL
Argila A

0 20 40 60 80 100
Teor de umidade (%)

Figura 10 – Comparação entre duas argilas distintas e respectivos ICs

Assim, pode‑se dizer que ao se manusear duas argilas diferentes, porém ambas com umidade
correspondente ao limite de plasticidade (LP), é provável que se tenha a impressão de que as duas estão
com o mesmo teor de umidade.

Para indicar a posição relativa da umidade aos limites de mudança de estado, o engenheiro austríaco
Karl von Terzaghi, naturalizado americano, considerado o pai da mecânica dos solos, propôs a seguinte
expressão para a determinação do índice de consistência (IC):

LL − w
IC =
LL − LP

De acordo com o valor do IC, a consistência da argila pode ser estimada de acordo com a tabela a seguir:

Tabela 2 – Classificação de resistência mecânica de argilas em relação ao IC

Classificação IC
Mole < 0,5
Média 0,5 – 0,75
Rija 0,75 – 1,0
Dura > 1,0

Adaptado de: Pinto (2002, p. 31).

Como os índices de consistência LL e LP são determinados com a fração do solo que passa na peneira
com malha de abertura 0,42 mm, a expressão do índice de consistência só é aplicável diretamente para
solos que passam integralmente nesta peneira. Havendo grãos retidos, deve‑se considerar que grãos
maiores requerem menos água para o seu recobrimento.

O IC não tem significado quando aplicado a solos não saturados, pois esses solos podem estar
com elevado índice de vazios e baixa resistência e sua umidade ser baixa, o que indicaria um índice de
consistência alto.

A seguir são apresentados procedimentos de ensaio para determinação dos limites de liquidez
e plasticidade.
34
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

3.5.2.1 Ensaio para determinação do limite de liquidez

As normas DNER‑ME 122/94 e ABNT NBR 6459:2016 Versão Corrigida:2017 especificam os


procedimentos de ensaio para a determinação do limite de liquidez.

O ensaio para determinação do limite de liquidez consiste em passar 100 g de solo em peneira
nº 40 e adicionar água até formar uma pasta que é colocada na concha do aparelho de Casagrande,
fazendo‑se uma ranhura com cinzel apropriado.

Gira‑se a manivela (duas voltas por segundo), provocando a queda da concha, e conta‑se o número de
golpes para que a ranhura se feche numa extensão de 12 mm. Ao fechamento da ranhura, determina‑se
a umidade do solo. Repete‑se o ensaio adicionando certa quantidade de água na pasta.

Os valores de teor de umidade e número de golpes são lançados nas ordenadas e abscissas de um
gráfico semilogaritmo. O teor de umidade referente a 25 golpes é o limite de liquidez do solo.

Nas próximas figuras, podemos observar, por meio da vista superior e frontal do aparelho de
Casagrande, os respectivos detalhes do cinzel utilizado em amostras de solos para determinação do
limite de liquidez (LL).

Figura 11 – Vistas gerais do aparelho Casagrande

Figura 12 – Vista superior e vista frontal do aparelho de Casagrande

35
Unidade I

Figura 13 – Detalhe do cinzel

3.5.2.2 Ensaio para determinação do limite de plasticidade

As normas DNER‑ME 082/94 e NBR 7180 especificam os procedimentos de ensaio para a


determinação do limite de plasticidade.

O limite de plasticidade (LP) é o teor de umidade abaixo do qual o solo passa do estado plástico para
o estado semissólido, isto é, ele perde a capacidade de ser moldado e passa a ficar quebradiço.

Cabe ressaltar que esta mudança de estado ocorre nos solos de forma gradativa, por causa da variação
da umidade no solo; portanto, a determinação do limite de plasticidade se verifica neste momento.

O ensaio inicia‑se tomando uma porção de solo passada pela peneira nº 40 e adicionando‑se certa
quantidade de água. Com a palma da mão, rola‑se a pasta sobre uma placa apropriada até formar
cilindros de cerca de 3 mm de diâmetro e apresentar fissuras, determinando‑se o teor de umidade médio
desses cilindros, como pode ser visto na figura a seguir.

Se não ocorrerem fissuras quando os cilindros atingirem os 3 mm, o solo deverá ser remoldado para
eliminar o excesso de água. Caso contrário, se o solo estiver muito seco, deverá ser adicionada água até
que se consiga confeccionar os cilindros especificados.

Figura 14 – (a) Placa esmerilhada, (b) placa esmerilhada com gabarito e


(c) amostra na cápsula de porcelana, estufa e cápsula de alumínio

36
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

3.5.2.3 Ensaio para determinação do limite de contração

Em laboratório, toma‑se uma amostra de solo com respectivo teor de umidade relativo a dez golpes
no aparelho de Casagrande e coloca‑se num recipiente de volume conhecido V.

Seca‑se o solo, inicialmente à sombra, depois em estufa, determinando‑se a massa seca com
mercúrio. O volume do solo seco é definido pelo peso de mercúrio deslocado (o volume do solo equivale
a MHg/13.6). O limite de contração é então obtido pela expressão:

 V − V0 
LC = w −  ⋅γ
 Ms  w

Em que:

w = teor de umidade inicial da amostra;

V = volume do recipiente;

V0 = volume da amostra após secagem;

Ms = massa da ostra seca;

yw = peso específico da água.

Saiba mais

Para saber mais sobre determinação dos limites de liquidez e plasticidade,


recomenda‑se consultar as normas preconizadas pelo DNER (atual DNIT):

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM.


Solos: determinação do limite de liquidez – método de referência
e método expedito, 1994. Disponível em: <http://ipr.dnit.gov.br/
normas‑e‑manuais/normas/meetodo‑de‑ensaio‑me/dner‑me122‑94.
pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. Solos: –


determinação do limite de plasticidade, 1994. Disponível em: <http://
ipr.dnit.gov.br/normas‑e‑manuais/normas/meetodo‑de‑ensaio‑me/
dner‑me082‑94.pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.

37
Unidade I

3.6 Índices físicos

3.6.1 Definição

O solo é constituído de partículas sólidas, mas podem ser encontrados vazios que podem estar
preenchidos por água, ar ou ambos. Compõe‑se, portanto, de três fases, como apresentado na
figura a seguir.

Solo = Sólidos + Vazios = Sólidos + Vazios + Ar

Partículas

Ar

Água

Figura 15 – Vista esquemática ampliada de um solo hipotético

Os índices físicos a seguir referem‑se às relações entre peso e volume das três fases, como mostra a
figura na sequência, servindo para identificar o estado em que os solos se encontram.
Pesos Volumes

Par = 0 Var
AR
Vv

Pa ÁGUA Va Vt
Pt

Ps SÓLIDOS Vs

Figura 16 – As três fases do solo

Relação entre pesos:

Teor de umidade, w, em porcentagem.

Pw
w=
Ps

38
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Relações entre volumes:

Porosidade, n, em porcentagem (pouco usado na prática).

Vv
n=
Vt

0 ≤ n ≤ 100%

Índice de vazios, e

Vv
e=
Vs

Grau de saturação, S, em porcentagem.

Vw
S=
Vv

0 ≤ S ≤ 100%

Relações entre pesos e volumes:

Peso específico natural, γn:

Pt
γn =
Vt

Peso específico aparente seco, γd:

Ps
γd =
Vt

Peso específico dos grãos, γs:

Ps
γs =
Vs

Peso específico da água, γw:

Pw
γw =
Vw

39
Unidade I

kN kN
γw = 9,8 ≅ 10
m3 m3

Peso específico aparente saturado, γsat:

Se S = 100%, γn = γsat

γs + e⋅ γw
γ sat =
1+ e

Ou

Ps + Vv ⋅ γ w
γ sat =
Vt

Observação

No Sistema Internacional de Unidades (SI), os pesos específicos são


apresentados em kN/m³.

No sistema MKS técnico (metro, quilograma, segundo), são apresentados


em kgf/m³ ou gf/cm³.

Neste texto, a aceleração da gravidade sempre será adotada como 10 m/s², a não ser quando
mencionado explicitamente o valor de 9,81 m/s².

γw= 1000 kgf/m³ = 1 gf/m³ = 9,81 kN/m³ ≡ 10 kN/m³.

3.6.2 Relações entre índices físicos

Dos índices físicos anteriormente definidos, três são determinados por ensaios de laboratório:
(W, γn, γs) e um é normalmente adotado (γw).

Os demais são calculados a partir deles a partir de relações indiretas, indicadas a seguir.

1. γd

Pt Ps + Pw w ⋅ Ps
γn = = = γd + = γd (1 + w)
Vt Vt Vt

40
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

γn
γd =
1+ w

2. e

Vv Vt − Vs Vt Vt ⋅ γs γs
e= = = −1= −1= −1
Vs Vs Vs Ps γd

γs
e= −1
γd

3. n

Vv Vv 1 V + Vs 1 1+ e
n= = → = v = 1+ =
Vt Vv + Vs n Vv e e

e
n=
1+ e

4. S

Vw P w ⋅ Ps w⋅ γs
S= = w = =
Vv Vv ⋅ γ w e ⋅ Vs ⋅ γ w e ⋅ γ w

w ⋅ ys
S=
e ⋅ yw

5. γsat

Pw e ⋅P S
γ s + w γ s + e ⋅ Pw ⋅
Ps +
P P +P Vs Vv Vw γ s + S ⋅ e ⋅ γ w
γn = t = s w = = = =
Vt Vs + Vv 1 + Vv 1+ e 1+ e 1+ e
Vs

γs + S⋅e⋅ γw
γn =
1+ e

(relação não necessária, mas conveniente em certos problemas)

41
Unidade I

Outras:

Se S = 1 → γn = γsat

Portanto:

Ps + Ps + Vv ⋅ γ w
Ps + Vv. ⋅ γ w Ps + Vv ⋅ γ w Vs γs + e⋅ γw
γ sat = = = =
Vt Vs + Vv 1+ e 1+ e

γs + e⋅ γw
γ sat =
1+ e

3.6.3 Determinação dos índices físicos em laboratório

3.6.3.1 Umidade

Pesar uma quantidade de solo em seu estado natural (Pt).

Secar o solo em estufa a 105º C até estabilizar o peso.

Pesar novamente (PS).

Pw Pt − Ps
w= =
Ps Ps

3.6.3.2 Peso específico natural

a) Primeiro processo:

• Molda‑se um cilindro de formato mais regular possível; medindo‑se as suas dimensões e calculando
seu volume (Vt).

• Pesa‑se o cilindro (Pt).

Pt
γn =
Vt

b) Segundo processo, da balança hidrostática:

Este processo é mais preciso, pois o volume é determinado através de pesagens. Baseia‑se no
princípio de Arquimedes, que pode ser expresso da seguinte forma: quando um corpo é imerso em
42
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

água, age sobre ele uma força vertical de baixo para cima, de módulo igual ao peso da água deslocada.
Esse princípio pode ser ilustrado conforme a seguir.

• Molda‑se uma “bolinha” de solo que, em seguida, é pesada (P1).

• Cobre‑se totalmente a amostra do solo com parafina aquecida.

• Pesa‑se a amostra de solo mais parafina (P2).

• Pesa‑se a amostra de solo mais parafina imersa em água (P3).

P P = Peso da esfera
Pi
E = Empuxo, peso da água deslocada
Pi = Peso imerso = P - E

Figura 17 – Esquema de forças atuantes em um corpo submerso

A sequência de cálculo para a determinação do peso específico natural é:

Volume do solo: (Volume do solo + Parafina) – (Volume da parafina).

Volume do solo + Parafina: Volume da água deslocada = Peso da água deslocada/γw.

Volume do solo + Parafina: (P2 – P3) / γw.

Volume de parafina: Peso da parafina /yparafina = (P2 – P1)/γparafina.

Então:

Volume do solo:

P2 − P3 P2 − P1
Vt = –
γw γ paraf

Portanto:

Pt P1
γn = =
Vt P2 − P3 − P2 − P1
γw γ paraf

43
Unidade I

Usualmente, adota‑se:

γparafina = 0,916 gf/cm3 = 8,98 kN/m3

γw = 1,0 gf/cm3 = 9,8 kN/m3

3.6.3.2 Peso específico dos grãos

Na expressão γs = Ps/Vs, a dificuldade está na determinação de Vs. No ensaio, utiliza‑se um


picnômetro, o qual é visto na figura a seguir, que é um frasco apropriado, com uma marca de referência
em seu gargalo, correspondente a um volume de 500 ou 1.000 cm³.

Determina‑se o peso do picnômetro cheio de água até a marca de referência, igual a (Pp+w).

Coloca‑se um certo peso seco conhecido do solo (PS) no picnômetro, que é completado com água
até a marca de referência e então pesado (Pp+w+s).

Pp+w+ s − Pp+w=Ps − ∆Pw = Ps − γ w ∆Vw = Ps − γ w .Vs

Então:

Ps + Pp+w − Pp+w+ s
Vs =
γw

Portanto:

Ps Ps
γs = = γw
Vs Ps + Pp+w − Pp+w+ s

Marco de referência

∆Va Vs
∆Va = Vs
∆Pa Pa
Pp + a Pp + a + s

Figura 18 – Esquema de uso de picnômetro

44
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Observação

O peso específico dos grãos varia pouco de solo para solo, situando‑se
em torno de 26,7 kN/m³ (2,67 gf/cm³) para areias e 27 kN/m³ (2,7 gf/cm³)
para argilas. Quando não se dispõe do valor específico para o solo em análise,
adotam‑se esses valores. Entretanto, deve‑se tomar cuidado com certos tipos
de solos. Em solos com altas porcentagens de óxido de ferro, o peso específico
dos grãos pode atingir valores de até 30kN/m3. Solos orgânicos geralmente
apresentam valores baixos de γs, em especial os solos turfosos.

3.7 Estrutura dos solos e compactação

Estrutura é a forma sob a qual as partículas de solos se apresentam. Nela interagem dois tipos de
forças: a gravitacional e a de ligações físico‑química. A primeira depende das dimensões das partículas,
já as demais dependem da natureza da superfície das partículas e do meio onde se encontram.

Nos solos grossos, a estrutura varia entre fofa e compacta. Os grãos tendem ao formato esférico
uniforme e sob processo de sedimentação, a força que prevalece é a gravidade. A compacidade relativa
(Cr), equivalente à densidade relativa (Dr), determina o comportamento dos solos e, de acordo com
MB 3388, é definida como:

emáx − enat
Dr ↔ Cr = ⋅100%
emáx − emín

Em que e é a propriedade denominada índice de vazios, emáx, emín e enat são, respectivamente, os
índices de vazio em seu valor máximo, mínimo e em estado natural apresentados pelo solo. Seu valor máximo
corresponde ao estado fofo, já seu valor mínimo corresponde ao estado compactado. Natural quer dizer como
é encontrado em campo. A classificação relativa de estado de compactação é dada na tabela a seguir.

Tabela 3 – Grau de compactação de solos grossos

Cr (%) Estado Dr (%) Classificação


Cr < 15 Muito fofo < 30 Areia fofa
15 < Cr < 35 Fofo ‑‑ ‑‑
35 < Cr < 65 Medianamente compacto 30 < Dr < 70 Areia medianamente compacta
65 < Cr < 85 Compacto Dr > 70 Areia compacta
> 85 Muito compacto ‑‑ ‑‑

Quanto mais uniforme e mais angulosa uma partícula de um solo, maior o valor de emáx. Por outro
lado, as partículas podem apresentar estados diferentes de compactação, como pode‑se ver na figura
a seguir.

45
Unidade I

Estrutura compacta Estrutura fofa

Figura 19 – Compactação de solo grosso

Nos solos finos, as argilas apresentam partículas de forma lamelar e, portanto, as forças de superfície
são preponderantes, embora tais forças sejam afetadas pela natureza das partículas e do meio.

4 INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS

Considerando a grande variedade de solos existentes na natureza, é necessário um sistema de


classificação que indique as características geotécnicas comuns de um dado grupo de solos a partir dos
resultados de ensaios de identificação simples e rápidos.

Desse modo, a elaboração de um sistema de classificação precisa iniciar com os conhecimentos


qualitativos e quantitativos existentes e, ao longo do tempo, acumular informações e corrigir desvios, até
que consiga agrupar solos com características semelhantes em mesmas categorias. Essas características
podem ser genéticas ou de comportamento similar.

No desenvolvimento de um sistema de classificação, deve‑se buscar a praticidade, a qual pode ser


obtida, dentre outras coisas, por um volume de informações suficientemente baixo para que o usuário
possa memorizar, sem que o sistema seja demasiadamente simplista. Ainda, as informações requeridas
devem ser obtidas por meios relativamente simples, como identificação visual e táctil, que fornece
dados qualitativos, ou mediante ensaios laboratoriais ou de campo de fácil realização, produzindo dados
quantitativos sobre o solo.

Apesar das diversas limitações a que estão sujeitas as diferentes classificações de solos, elas permitem
solucionar alguns problemas simples, tal como a seleção de um dado solo quando se pode escolher
vários materiais a serem utilizados, ou serve também como norteador para estudos mais elaborados,
constituindo‑se em um modo prático para a caracterização e identificação de solos.

Existem diversos sistemas de classificação, podendo ser específicos ou não. Assim, há um sistema com
base na origem dos solos, classificando‑os em solos residuais, transportados/sedimentares e orgânicos;
um sistema de classificação de solos baseado na pedologia, denominando‑os em zonais, intrazonais
e azonais; um sistema com base na textura e tamanho das partículas; um sistema de classificação
táctil‑visual; e sistemas que levam em consideração parâmetros do solo, tal como os geotécnicos –
sistema unificado de classificação dos solos (Sucs), TRB/AASHTO e MCT.

A seguir, serão descritos os sistemas de classificação textural; o unificado de classificação dos


solos (Sucs); o TRB (antigo HRB); o de classificação dos solos tropicais (MCT) e a classificação táctil
e visual (ASTM).

46
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

4.1 Sistema de classificação textural

Vários sistemas de classificação dos solos utilizam a curva granulométrica do solo como dado de
entrada e, a partir dela, classificam a textura e enquadram o solo em categorias preestabelecidas.

A curva granulométrica define graficamente a função de distribuição do tamanho das partículas do


solo, enquanto a escala da classificação define a posição segundo quatro grupos: pedregulhos, areias,
siltes e argilas.

Não há uma escala única, face às divergências de classificação existentes, mas as diferenças entre
elas não alteram sensivelmente o nome dado ao solo.

Para a classificação do solo, segundo a textura a partir de sua curva granulométrica obtida em
laboratório, são determinadas as porcentagens de cada fração do solo, encontrando‑se a fração mais
expressiva, que será adjetivada pela fração imediatamente abaixo, em termos percentuais. Por exemplo: o
solo residual das minas de calcário em Caçapava do Sul, apresentado como exemplo, tem as porcentagens
correspondentes a cada fração, segundo a escala da ABNT, indicadas na tabela na sequência.

Analisando a tabela, a fração predominante é a areia, vindo a seguir a fração silte. Dos valores,
nota‑se que o solo possui ainda pequena quantidade de argila e pedregulhos.

A subdivisão da fração arenosa mostra a predominância da parte fina sobre as demais.

Tendo como base os valores observados e a escala adotada, o solo será classificado como areia fina siltosa.

Tabela 4 – Exemplo de frações granulométricas de solo

Fração Porcentagem (%)


Pedregulho 3,1
Grossa 2,9
Areia Média 54,9 6,2
Fina 45,8
Silte 39,2
Argila 2,8

Se duas frações não predominantes forem equivalentes em termos percentuais, o nome do solo
continua ser o da fração predominante adjetivado pelas duas outras. Assim, no exemplo anterior, se as
frações silte e argila se equivalessem, com leve predominância da fração silte, o solo passaria a receber
o nome de areia fina silto‑argilosa.

A cor do solo quando seco, segundo o Munsell Soil Color Charts, preparado pelo Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos, e a compacidade das areias ou a consistência das argilas, são duas
informações que normalmente acompanham a nomenclatura da classificação textural.

47
Unidade I

4.2 Sistema unificado de classificação dos solos (Sucs)

Este sistema é proveniente do Airfield Classification System, idealizado por Arthur Casagrande, e
inicialmente utilizado para classificação de solos para construção de aeroportos, depois expandido para
outras aplicações e normalizado pela American Society for Testing and Materials (ASTM).

Nesse sistema, os solos são classificados em grossos, finos e altamente orgânicos.

Para a fração grossa, foram mantidas as características granulométricas como parâmetros mais
representativos para a sua classificação; já para fração fina, optou‑se por usar os limites de consistência, por
ser um critério mais importante para descrever o comportamento dos solos que o tamanho das partículas.

Esse sistema define cada tipo de solo por meio de um símbolo e um nome. Os nomes dos grupos são
simbolizados por um par de letras, nas quais o prefixo é uma das subdivisões associadas ao tipo de solo,
e o sufixo, às características granulométricas e de plasticidade.

A nomenclatura utilizada no sistema é apresentada a seguir:

Prefixos:

• G: gravel – pedregulho.

• S: sand – areia.

• C: clay – argilas.

• M: mó – siltes inorgânicos e arenosos muito finos.

• O: organic – solos siltosos e argilosos orgânicos.

Sufixos:

• W: well – solos bem graduados.

• P: poorly – solos mal graduados.

• F: fine – excesso de finos.

• L: low – solos de baixa compressibilidade.

• H: high – solos de alta compressibilidade.

• Pt: peat – turfas.

48
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

O quadro a seguir apresenta uma visão geral do Sucs, mostrando os símbolos utilizados e várias
observações para a realização da classificação pelo sistema.

Quadro 1 – Resumo dos critérios do Sistema Unificado de Classificação de Solos

Classificação dos solos


Critério para determinação dos subgrupos e nomes dos grupos usando ensaios de laboratório
Símbolo do grupo Nome do grupo
Pedregulhos limpos Pp,200
Cu ≥ 4 e 1 ≤ Cc ≤ 3 GW Pedregulho bem graduado 5
< 5%
Pedregulhos com
mais que 50% 3 Cu < 4 e/ou 1> Cc > 3 GP Pedregulho mal graduado 5
da fração grossa
retida na peneira Pedregulhos com finos
Finos ML MH GM Pedregulho siltoso 5, 6, 7
4,8 mm (# 4) Pp,200 > 12
classificados
3 como CL CH GC Pedregulho argiloso 5, 6, 7
Solos Grossos
Pr,200 > 50% Areias limpas Cu ≥ 6 e 1 ≤ Cc ≤ 3 SW Areia bem graduada 8
Pp,200 < 5%
Areias com mais
que 50% da fração 4 Cu < 6 e/ou 1 > Cc > 3 SP Areia mal graduada 8
grossa passa na
peneira 4,8 mm Areias com finos ML MH SM Areia siltosa 6, 7, 8
Finos
(# 4) Pp,200 > 12%
classificados
4 como CL CH SC Areia argilosa 6, 7, 8

IP > 7, pontos sobre ou


acima da linha A
CL Argila pouco plástica 10, 11, 12
9
Inorgânicos
Siltes e argilas LL IP < 4, pontos abaixo da
< 50% linha A
ML Silte 10, 11, 12
9
Solos Finos
Pp,200 ≥ 50% Argila orgânica 10, 11, 12, 13
Orgânicos LLseco < 0,75 LL natural OL
Silte orgânico 10, 11, 12, 14
Pontos sobre ou acima da
CH Argila muito plástica 10, 11, 12
linha A
Inorgânicos
Siltes e argilas LL
≥ 50% Pontos abaixo da linha A MH Silte elástico 10, 11, 12

Argila orgânica 10, 11, 12, 15


Orgânicos LLseco < 0,75 LL natural OH
Silte orgânico 10, 11, 12, 16
Solos altamente orgânicos Principalmente matéria orgânica, cor escura e cheiro PT Turfa

G Gravel Cascalho (pedregulho) M Mo Mó ou limo (areia fina) Observação


S Sand Areia O Organic Matéria organica Cu = D60/D10
C Clay Argila L Low liquid limit LL baixo
W Well graded Bem graduado H High liquid limit LL alto
Cc =
(D30 )2
P Poor graded Mal graduado Pt Peat turfa D60 xD10
F Fines Finos (pás# 200)

Adaptado de: ASTM (2006).

Notas:

1. Válido para material passado na peneira de 75 mm de abertura.


49
Unidade I

2. Se a amostra contém seixos e matacões, acrescentar “com seixos e matacões” ao nome do grupo.
Para Pp,200 entre 5 – 12%, a amostra necessita de símbolo duplo.

3. Pedregulhos

• GW – CH: pedregulho bem graduado com silte.

• GW – GC: pedregulho bem graduado com argila.

• GP – GH: pedregulho mal graduado com silte.

• GP – GC: pedregulho mal graduado com argila.

4. Areias

• SW – SH: areia bem graduada com silte.

• SW – SC: areia bem graduada com argila.

• SP – SH: areia mal graduada com silte.

• SP – SC: areia mal graduada com argila.

5. Se a porcentagem da areia é ≥ 15, acrescentar “com areia”.

6. Se finos, CL – ML, usar símbolo duplo: GC – GH; SC – SH.

7. Se finos são orgânicos, acrescentar, “com finos orgânicos”.

8. Se a porcentagem de pedregulho ≥ 15%, acrescentar “com pedregulhos”.

9. Se pontos estão na área hachurada, é CL – ML (argila‑siltosa).

10. Se Pr,200: 15‑29%, por “com areia” ou “com pedregulho”.

Se Pp,200 ≥ 30%:

11. Porcentagem de pedregulho <15%, acrescentar “arenoso”.

12. Porcentagem de areia <15%, acrescentar “pedregulho”.

13. Para IP> 4% e pontos sobre ou acima da linha “A” da Figura 22.

14. Para IP <4% ou pontos abaixo da linha “A” da Figura 22.


50
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

15. Para pontos sobre ou acima da linha “A” da Figura 22.

16. Para pontos abaixo da linha “A” da Figura 22.

4.2.1 Solos grossos

Neste sistema definem‑se solos grossos ou granulares por possuírem partículas menores que 75 mm
e que tenham mais do que 50% de partículas com tamanhos maiores do que 0,075 mm, ou seja, retidos
na peneira nº 200.

Uma subdivisão separa os solos grossos em pedregulhos quando mais de 50% da fração grossa
têm partículas com tamanho maior que 4,8 mm (ou seja, retido na peneira nº 4), e areias, quando uma
porcentagem maior ou igual dessas partículas tem tamanho menor que 4,8 mm (passa na peneira nº 4).

Sempre que as porcentagens de finos estiverem entre 5% e 12%, o solo deverá ser representado por
um símbolo duplo, sendo o primeiro o do solo grosso – como GW, GP, SW, SP – e o segundo símbolo
dependerá da zona onde se localizar o ponto representativo dos finos desse solo.

Para porcentagens de finos maiores que 12% e que tenham sido classificados como CL‑ML, será
necessário o emprego de um símbolo duplo para o solo grosso, sendo GC‑GM se for pedregulho, ou
SC‑SM se for areia.

As figuras na sequência apresentam os fluxogramas de classificação dos solos grossos usados no Sucs.

% Areia < 15% → Pedregulho bem graduado


Cu ≥ 4; 1 ≤ Cc ≤ 3 GW
% Areia ≥ 15% → Pedregulho bem graduado com areia
Pp.200 < 5
% Areia < 15% → Pedregulho mal graduado
Cu < 4, e/ou 1 > Cc > 3 GP
% Areia ≥ 15% → Pedregulho mal graduado com areia

Finos % Areia < 15% → Pedregulho bem graduado com silte


ML ou MH GW - GH
% Areia ≥ 15% → Pedregulho bem graduado com silte e areia
Cu ≥ 4; 1 ≤ Cc ≤ 3
Finos CL . CH % Areia < 15% → Pedregulho bem graduado com argila (ou argila siltosa)
ou (CL - ML) GW - GC
% Areia ≥ 15% → Pedregulho bem graduado com argila e areia (ou argila siltosa)
Pedregulho
% Ped. > 5 < Pp.200 < 12
% Areia % Areia < 15% → Pedregulho mal graduado com silte
Finos GP - GH
ML ou MH % Areia ≥ 15% → Pedregulho mal graduado com silte e areia
Cu < 4, e/ou 1 > Cc > 3
Finos CL . CH % Areia < 15% → Pedregulho mal graduado com argila (ou argila siltosa)
ou (CL - ML) GP - GC
% Areia ≥ 15% → Pedregulho mal graduado com argila e areia (ou argila siltosa)

Finos % Areia < 15% → Pedregulho siltoso


ML ou MH GH
% Areia ≥ 15% → Pedregulho siltoso com areia

Finos % Areia < 15% → Pedregulho argiloso


Pp.200 > 12 CL ou CH GC
% Areia ≥ 15% → Pedregulho argiloso com areia

Finos % Areia < 15% → Pedregulho argilo-siltoso


CL - ML GC - GH
% Areia ≥ 15% → Pedregulho argilo-siltoso com areia

Figura 20 – Fluxograma para classificação dos pedregulhos no Sucs

51
Unidade I

% Pedregulho < 15% → Areia bem graduada


Cu ≥ 6; 1 ≤ Cc ≤ 3 SW
% Pedregulho ≥ 15% → Areia bem graduada com pedregulho
Pp.200 < 5
% Pedregulho < 15% → Areia mal graduada
Cu < 6, e/ou 1 > Cc > 3 SP
% Pedregulho ≥ 15% → Areia mal graduada com pedregulho

Finos % Pedregulho < 15% → Areia bem graduada com silte


ML ou MH SW - SH
% Pedregulho ≥ 15% → Areia bem graduada com silte e pedregulho
Cu ≥ 6; 1 ≤ Cc ≤ 3
Finos CL . CH % Pedregulho < 15% → Areia bem graduada com argila (ou argila siltosa)
ou (CL - ML) SW - SC
% Pedregulho ≥ 15% → Areia bem graduada com argila e pedregulho (ou argila siltosa)
Areia
% Areia > 5 < Pp.200 < 12
% Ped. % Pedregulho < 15% → Areia mal graduada com silte
Finos SP - SH
ML ou MH % Pedregulho ≥ 15% → Areia mal graduada com silte e pedregulho
Cu < 6, e/ou 1 > Cc > 3
Finos CL . CH % Pedregulho < 15% → Areia mal graduada com argila (ou argila siltosa)
ou (CL - ML) SP - SC
% Pedregulho ≥ 15% → Areia mal graduada com argila e pedregulho (ou argila siltosa)

Finos % Pedregulho < 15% → Areia siltosa


ML ou MH SH
% Pedregulho ≥ 15% → Areia siltosa com pedregulho

Finos % Pedregulho < 15% → Areia argilosa


Pp.200 > 12 CL ou CH SC
% Pedregulho ≥ 15% → Areia argilosa com pedregulho

Finos % Pedregulho < 15% → Areia argilo-siltosa


CL - ML SC - SH
% Pedregulho ≥ 15% → Areia argilo-siltosa com pedregulho

Figura 21 – Fluxograma para classificação das areias no Sucs

4.2.2 Solos finos

Nessa categoria, foram alocados os solos que apresentam porcentagem maior ou igual a 50% de
partículas com tamanho inferior a 0,075 mm, ou seja, passantes na peneira nº 200.

Esses solos, compostos predominantemente de siltes e argilas, são inicialmente separados em função
do limite de liquidez em menor que 50% e maior ou igual a 50%. Essas subcategorias baseiam‑se na
origem inorgânica ou orgânica do solo.

Para a definição de origem orgânica devem ser executados dois ensaios de limite de liquidez: um
com o solo secado em estufa (LLs) e o outro nas condições naturais (LLn). Se verificada a desigualdade
LLs/LLn <0,75, o solo será classificado como orgânico.

No gráfico da figura a seguir, as categorias estão distribuídas em cinco regiões distintas, sendo
que a linha “A” separa os solos argilosos inorgânicos, denominados CL e CH, dos siltosos inorgânicos,
denominados ML e MH. A linha vertical LL = 50% separa os solos de alta plasticidade, denominados MH
e CH, dos de baixa plasticidade, denominados ML e CL.

Os solos orgânicos podem se situar tanto acima quanto abaixo da linha “A” e as argilas orgânicas
serão representadas por pontos localizados sobre ou acima dessa linha, sendo que os siltes orgânicos
serão representados abaixo.

52
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

A quinta região é a hachurada, na qual o solo deverá ter o símbolo duplo, CL‑ML, representando
solos com LL < 50% e 4 ≤ IP ≤ 7. O gráfico de plasticidade deverá ser usado na classificação tanto dos
solos finos quanto da fração fina dos solos grossos.

A linha “U” serve como referência para a avaliação de resultados dos ensaios de limites de consistência,
pois ela representa um limite superior empírico para os solos naturais, ou seja, qualquer ponto que
esteja acima dessa linha deve ter os resultados dos ensaios verificados.

As duas figuras na sequência mostram os fluxogramas para a classificação dos solos finos pelo Sucs
e o próximo quadro apresenta as características relativas às fundações de pavimentos pelo Sucs.
70
Linha “U”

LL = 50
Para classificar
os solos finos e a Vertical para
fração fina dos solos LL = 16 até IP = 7
60 IP = 0,9 (LL - 8)
grossos
CH
Índice de plasticidade - IP%

50
ou
OH Linha “A”
40 Horizontal para
IP = 4 até LL = 25,5
IP = 0,73 (LL - 20)
30
CL MH ou OH
ou
20
OL
10
CL - ML ML ou OL
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Limite de liquidez - LL%

Figura 22 – Gráfico de plasticidade usado no Sucs

4.2.3 Solos altamente orgânicos

São solos que apresentam características muito diferentes dos solos inorgânicos. São compostos de
matéria vegetal em vários estágios de decomposição, geralmente com odor orgânico, cor marrom‑escura
a preta, textura variando de fibrosa a amorfa, aparência esponjosa e saturada. São solos com alto índice
de vazios, muito compressíveis e baixa resistência ao cisalhamento. Em condições normais, não são
utilizados como fundação, nem como material de empréstimo.

Os solos altamente orgânicos são, normalmente, designados por turfosos e simbolizados por Pt.
Em uma primeira distinção, temos os três tipos de solos:

• grossos: quando mais de 50% ficam retidos na peneira nº 200;

• finos: quando mais de 50% passam na peneira nº 200;

• turfas: solos de alta compressibilidade e constituintes de matéria orgânica.

53
Unidade I

Pr.200<15 Argila pouco plástica

Pr.200<30

Ip>7 sobre
ou acima da CLα %Areia>%Ped. Argila pouco plástica com areia
15 ≤ Pr.200≤29 Argila pouco plástica com pedregulho
linha A %Areia<%Ped.

Argila pouco plástica arenosa


%Ped.<15% Argila pouco plástica arenosa cm
%Areia>%Ped. %Ped.≥15% pedregulho
Pr.200≥30
Argila pouco plástica pedregulhosa
%Areia<15% Argila pouco plástica pedregulhosa
%Areia<%Ped. %Areia≥15% com areia

Pr.200<15 Argila siltosa


Inorgânicos

Pr.200<30 %Areia>%Ped. Argila siltosa com areia


15 < Pr.200<29
%Areia<%Ped. Argila siltosa com pedregulho

4<Ip<7 sobre %Ped.<15% Argila silto-arenosa


ou acima da CL-ML %Areia>%Ped.
%Ped.≥15% Argila silto-arenosa com pedregulho
linha A
Pr.200≥30
%Areia<15% Argila silto-pedregulhosa
%Areia<%Ped. Argila silto-pedregulhosa com areia
%Areia≥15%

Pr.200<15 Silte
LL ≥ 50
Pr.200<30
%Areia>%Ped. Silte com areia
15 ≤ Pr.200≤29 %Areia<%Ped. Silte com pedregulho

Ip>4 abaixo ML %Ped.<15% Silte arenoso


da linha A %Areia>%Ped. %Ped.≥15% Silte arenoso com pedregulho

Pr.200≥30

%Areia<%Ped. %Areia<15% Silte pedregulhoso


%Areia≥15% Silte pedregulhoso com areia

Orgânicos
(LL)S/(LL) Pr.200<15 Argila orgânica
n<0,75
Pr.200<30
%Areia>%Ped. Argila orgânica com areia
15 ≤ Pr.200<29 %Areia<%Ped. Argila orgânica com pedregulho
Ip>4 abaixo
da linha A
Argila orgânica arenosa
%Ped.<15% Argila orgânica arenosa com
%Areia>%Ped. %Ped.≥15% pedregulho
CLα Pr.200>30
%Areia<15% Argila orgânica pedregulhosa
%Areia<%Ped. Argila orgânica pedregulhosa com areia
%Areia≥15%

Pr.200<15 Silte orgânico

Pr.200<30
%Areia>%Ped. Silte orgânico com areia
Ip>4 acima 15 ≤ Pr.200<29 %Areia<%Ped. Silte orgânico com pedregulho
ou sobre a
linha A
%Ped.<15% Silte orgânico arenoso
%Areia>%Ped. %Ped.≥15% Silte orgânico arenoso com pedregulho
Pr.200≥30

%Areia<15% Silte orgânico pedregulhoso


%Areia<%Ped. %Areia>15% Silte orgânico pedregulhoso com areia

Figura 23 – Fluxograma para classificação dos solos finos de baixa plasticidade no Sucs

54
LL ≥ 50

Orgânicos Inorgânicos
(LL)s/(LL)n<0,75

OH Abaixo da Acima da
linha A linha A

Abaixo da Acima ou sobre MH OH


linha A a linha A

Pr, 200 ≥ 30 Pr, 200 < 30 Pr, 200 ≥ 30 Pr, 200 < 30 Pr, 200 ≥ 30 Pr, 200 < 30 Pr, 200 ≥ 30 Pr, 200 < 30
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

%Areia < %Areia > 15 ≤ Pr, %Areia < %Areia > 15 ≤ Pr, %Areia < %Areia > 15 ≤ Pr, %Areia < %Areia > 15 ≤ Pr,
Pr, 200 < 15 Pr, 200 < 15 Pr, 200 < 15 Pr, 200 < 15
%pedra %pedra 200 ≤ 29 %pedra %pedra 200 ≤ 29 %pedra %pedra 200 ≤ 29 %pedra %pedra 200 ≤ 29

%Areia ≥ %Pedra ≥ %Areia ≥ %Pedra ≥ %Areia < %Areia ≥ %Pedra ≥ %Areia ≥ %Pedra ≥ %Pedra <
%Areia < %Areia <
15% - silte 15% - silte 15% - argila 15% - argila %Pedra 15% - silte 15% - silte 15% - argila 15% - argila 15% - argila
%Pedra - silte Silte Argila 15% - silte Silte Argila muito
orgânico orgânico orgânica orgânica - argila elástico elástico muito plástica muito plástica muito
orgânico com orgânico orgânica elástico com elástico plástica
pedregulhoso arenoso com pedregulhosa arenosa com orgânica com pedregulhoso arenoso com pedregulhosa arenosa com plástica com
pedregulho pedregulho
com areia pedregulho com areia pedregulho pedregulho com areia pedregulho com areia pedregulho pedregulho

%Areia > %Areia >


%Areia < %Pedra < %Areia > %Areia < %Pedra < %Areia < %Pedra < %Areia > %Areia < %Pedra <
%Pedra %Pedra -
15% - silte 15% - silte %Pedra - silte 15% - argila 15% - argila 15% - silte 15% - silte %Pedra - silte 15% - argila 15% - argila
- argila argila muito
orgânico orgânico orgânico orgânica orgânica elástico elástico elástico muito plástica muito plástica
orgânica plástica
pedregulhoso arenoso com areia pedregulhosa arenosa pedregulhoso arenoso com areia pedregulhosa arenosa
com areia com areia

Figura 24 – Fluxograma para classificação dos solos finos de alta plasticidade no Sucs

55
56
Quadro 2 – Características relativas às fundações de pavimentos segundo o Sucs

Valor como Valor como base Cbr de


fundação quando Ação potencial Compressibilidade Características de Peso Módulo de
Unidade I

Divisões principais Letra Nome diretamente sob a Equipamento de compactação campo


não sujeito à ação do gelo e expansão drenagem específico subleito
superfície em uso (%)
do gelo

Pedregulho ou pedregulho Nenhuma a Trator de esteira, equipamento


GW Excelente Bom Quase inexistente Excelente de rodas de borracha, rolo com 125‑140 60‑80 500 ou mais
arenoso bem graduado muito escassa roda de aço

Pedregulho ou pedregulho Insatisfatório a


GP Bom a excelente ‑ ‑ ‑ ‑ 120‑130 35‑60 300 ou mais
arenoso mal graduado moderado

Pedregulho ou pedregulho
Pedregulhos e solos Trator de esteira, equipamento de
GU arenoso, uniformemente Bom Insatisfatório ‑ ‑ ‑ 115‑125 25‑50 300 ou mais
pedregulhosos rodas de borracha
graduado

Pedregulho siltoso ou Equipamento de rodas de


GM Bom a excelente Moderado a bom Escassa à média Muito escassa Moderado a insatisfatório 130‑145 40‑80 300 ou mais
pedregulho arenoso siltoso borracha

Pedregulho argiloso ou Insatisfatório a Equipamento de rodas de


GC pedregulho arenoso Bom Insatisfatório Escassa à média Escassa 120‑140 20‑40 200‑300
praticamente impermeável borracha, rolo pé de carneiro
argiloso

Areia ou areia Nenhuma a Trator de esteira, equipamento de


SW pedregulhosa bem Bom Insatisfatório Quase inexistente Excelente 110‑130 20‑40 200‑300
muito escassa rodas de borracha
graduada

Solos de granulação grossa


Areia ou areia Insatisfatório a
SP pedregulhosa mal Moderado a bom ‑ ‑ ‑ ‑ 105‑120 15‑25 200‑300
inadequado
graduada

Areia ou areia
Areias e solos arenosos SU pedregulhosa Moderado a bom Inadequado ‑ ‑ ‑ ‑ 100‑115 010‑20 200‑300
uniformemente graduada

Equipamento de rodas de
Areia siltosa ou areia
SM Bom Insatisfatório Escassa à alta Muito escassa Moderado a insatisfatório borracha, rolo pé de carneiro, 120‑135 20‑40 200‑300
pedregulhosa siltosa controle rígido de umidade

Areia argilosa ou areia Insatisfatório a Equipamento de rodas de


SC Moderado a bom Inadequado ‑ Escassa à média 105‑130 010‑20 200‑300
pedregulhosa argilosa praticamente impermeável borracha, rolo pé de carneiro

Siltes, siltes arenosos e Equipamento de rodas de


Moderado a Média a muito
ML pedregulhosos ou solos Inadequado Escassa à média Moderado a insatisfatório borracha, rolo pé de carneiro, 100‑125 005‑15 100‑200
insatisfatório alta
diatomáceos controle rígido de umidade

Baixa compressibiidade ll<50 Argilas magras, argilas Equipamento de rodas de


CL ‑ ‑ Media à alta Média Praticamente impermeável 100‑125 005‑15 100‑200
arenosas ou pedregulhosas borracha, rolo pé de carneiro

Siltes orgânicos ou argilas


OL Insatisfatório ‑ ‑ Média à alta Insatisfatório ‑ 90‑105 004‑8 100‑200
orgânicas magras

Argilas micáceas ou solos Média a muito Equipamento de rodas de


MH Insatisfatório Inadequado Alta Moderado a insatisfatório 80‑110 004‑8 100‑200
diatomáceos alta borracha, rolo pé de carneiro

Solos de granulação fina


Baixa compressibiidade ll>50 Insatisfatório a muito
CH Argilas gordas Inadequado Média Alta Praticamente impermeável ‑ 90‑110 003‑5 50‑100
insatisfatório

OH Argilas orgânicas gordas ‑ ‑ ‑ Alta ‑ ‑ 80‑105 003‑5 50‑100

Turfas e outros solos orgânicos fibrosos PT Turfas, húmus e outros Inadequado Inadequado Escassa Muito alta Moderado a insatisfatório Compactação não é prática ‑ ‑ ‑

Adaptado de: ASTM (2006).


MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

4.3 Sistema de classificação TRB, antigo HRB ou AASHTO

A classificação TRB (Transportation Research Board), antigo HRB (Highway Research Board) ou AASHTO
(American Association State Highway and Transportation Officials) fundamenta‑se na granulometria,
limite de liquidez e índice de plasticidade dos solos, tendo sido proposta para ser utilizada na área de
estradas, sendo chamada também de classificação rodoviária.

Um parâmetro adicional dessa especificação é o índice de grupo (IG), que é um número inteiro
variando de 0 a 20. O índice de grupo define a capacidade de suporte máxima do terreno de fundação
para um pavimento. Os valores extremos do IG representam solos ótimos para IG = 0 e solos péssimos
para IG = 20. Portanto, o índice IG estabelece uma ordenação dos solos dentro de um grupo, conforme
sua capacidade de suporte, sendo pior o solo que apresentar maior valor de IG.

A determinação do índice de grupo baseia‑se nos valores dos limites de Atterberg (LL e IP) do solo
estudado e na porcentagem de material fino, ou seja, que passa na peneira número 200 (0,075 mm),
sendo obtido pela seguinte expressão:

IG = 0,2 . a + 0.005 . a . c + 0,01 . b . d

Em que:

a: porcentagem do solo que passa na peneira nº 200 menos 35%. Se o valor de a for negativo, adota‑se
zero, e se for superior a 40%, adota‑se este valor como limite máximo: a = Pp,200 – 35% (0 – 40)

b: porcentagem do solo que passa na peneira nº 200 menos 15%. Se o valor de b for negativo, adota‑se
zero, e se for superior a 40%, adota‑se este valor como limite máximo: b = Pp,200 – 15% (0 – 40)

c: valor do limite de liquidez menos 40%. Se o valor de c for negativo, adota‑se zero, e se for superior
a 20%, adota‑se este valor como limite máximo: c = LL‑40% (0 – 20)

d: valor do índice de plasticidade menos 10%. Se o valor de d for negativo, adota‑se zero, e se for
superior a 20%, adota‑se este valor como limite máximo: d = IP – 10% (0 – 20)

A tabela a seguir apresenta os requisitos desse sistema de classificação, no qual os solos estão
classificados segundo grupos e subgrupos.

Os solos dividem‑se em dois grandes grupos: solos grossos, quando a porcentagem passante na
peneira nº 200 é inferior a 35%, e em solos finos, quando a porcentagem passante na peneira nº 200 é
superior a 35%.

A definição de um dos sete subgrupos é de acordo com a granulometria, segundo as peneiras de


número 10, 40, 200 e em conformidade com os intervalos de variação dos limites de consistência de
Atterberg e respectivo índice de grupo.

57
58
A classificação é feita da esquerda para a direita na tabela apresentada a seguir.

Tabela 5 – Sistema de classificação TRB


Unidade I

SOLOS GRANULARES SOLOS SILTE – ARGILA


% QUE PASSA NA PENEIRA Nº 200 < 35 % % QUE PASSA NA PENEIRA Nº 200 > 35 %
A1 A2 A7
GRUPO A3 A4 A5 A6
A1a A1b A2‑4 A2‑5 A2‑6 A2‑7 A7‑5 A7‑6
Nº 10 50 máx.
Porcentagem
que passa na Nº 40 30 máx. 50 máx. 51 máx.
peneira
Nº 200 15 máx. 10 máx. 10 máx. 35 máx. 35 máx. 35 máx. 35 máx. 36 mín. 36 mín. 36 mín. 36 mín. 36 mín.
Fração que LL 40 máx. 41 máx. 40 máx. 41 mín. 40 máx. 41 mín. 40 máx. 41 mín. 41 mín.
passa na 6 máx. NP
peneira nº 40 IP 10 máx. 10 máx. 11 mín. 11 mín. 10 máx. 10 máx. 11 mín. (LL‑30) máx. (LL‑30) mín.
IG 0 0 0 4 máx. 4 máx. 8 máx. 12 máx. 16 máx. 20 máx.
Solo constituído de uma Os solos deste grupo contêm
mistura bem graduada de São solos que contêm grande variedade de material semelhante ao
pedra, pedregulho, areia materiais granulares, os quais estão no limite O solo típico deste descrito no grupo A6,
Composição dos solos grossa, média e fina e entre os solos do grupo A1 e A3 e materiais grupo é a argila, tendo, porém, alto LL, que é
um material ligante não Os solos do grupo A4 tendo 75% ou característico do grupo A5,
plástico ou de pequena silte‑argilosos do grupo A4, A5, A6 e A7. têm como material sendo plástico e sofrendo
mais que passa na
plasticidade. típico silte não plástico, peneira 200. Contém grande mudança de volume.
ou moderadamente também mistura
Areia fina de Contém materiais plástico, tendo em
granulares com 35% geral 75% que passam de solo argiloso
praia ou então ou que passam e 61% de areia e
na peneira 200. Podem pedregulho.
de deserto sem na menos, 200 e com conter também uma Tem alta
ligante (argila umapeneira
parte mínima que São semelhantes mistura de silte e 64% variação de volume Contém
ou silte) ou passa na peneira 40, aos solos do grupo de areia e pedregulho. entre o estado materiais
Predomina Predomina então pequena que tem as mesmas A2‑4 e A2‑5, a Os solos do grupo úmido e seco. com alto
pedra e areia quantidade características dos parte que passa na valor de
média com de silte sem peneira 40 contém A5 contêm materiais Contém todos os IP em
pedregulho ou sem materiais do grupo A4 argila plástica, semelhantes aos do relação ao
com ligante plasticidade. e A5. Contém também grupo A4, sendo, materiais com
sem areia ligante, pedregulho com tendo as mesmas IP moderado LL, estando
bem características dos porém, diatomáceos ou em relação ao sujeito a
fina. graduado. porcentagem de silte solos do grupo A6 micáceos, tem elevado grandes
ou IP> que dos solos do LL, sendo, portanto, LL, podendo ser
grupo A1, e areia fina no caso do A2‑6 ou altamente elásticos. altamente elástico variações de
com silte não plástico A7 no caso do A2‑7. e sofrer grandes volume.
com porcentagem variações de volume.
acima do solo do grupo
A3.
Funcionamento como Excelente a bom. Fraco a pobre.
sub‑base.

Adaptado de: DNIT (2006, p. 56).


MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Na tabela anterior, pode‑se verificar que os solos grossos foram divididos em três grupos, denominados
A1, A2 e A3.

• Grupo A1: solos granulares sem finos, constituídos por pedregulho e areia grossa bem graduada,
com pouca ou nenhuma plasticidade.

• Grupo A2: solos granulares com finos, formados por pedregulho e areia grossa bem graduados,
com material cimentante de natureza friável ou plástico.

— A‑2‑4: finos siltosos de baixa compressibilidade.

— A‑2‑5: finos siltosos de alta compressibilidade.

— A‑2‑6: finos argilosos de média plasticidade.

— A‑2‑7: finos argilosos de alta plasticidade.

• Grupo A3 – areias finas.

Os solos finos foram divididos em quatro grupos, denominados A4, A5, A6 e A7.

• Grupo A4: solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e de argila, apresentando
baixa compressibilidade, LL < 40%.

• Grupo A5: solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e argila, rico em mica e
diatomita, apresentando alta compressibilidade, LL > 40%.

• Grupo A6: argilas siltosas, medianamente plásticas, com pouco ou nenhum material grosso,
apresentando baixa compressibilidade;

• Grupo A7: argilas plásticas com presença de matéria orgânica e alta compressibilidade: A7‑5; IP ≤
LL – 30% ou A7‑6; IP > LL – 30%.

Em geral, os solos granulares têm índice de grupo compreendidos entre 0 e 4; os siltosos, com IG
entre 1 e 12; e os argilosos, com IG entre 1 e 20.

4.4 Sistema de classificação geotécnica MCT

Uma vez que os diversos sistemas de classificação foram desenvolvidos em países de clima temperado,
eles não apresentam resultados satisfatórios quando aplicados a projeto de pavimentos para solos
tropicais, uma vez que estes apresentam comportamento diverso do previsto.

Assim, uma classificação mais adequada a solos tropicais, com ênfase em projetos de
estradas, foi proposta por Nogami e Villibor, em 1981, dividindo‑se os solos em dois grupos: um
de comportamento laterítico e outro não laterítico. O resultado dessa classificação foi reunido
no gráfico apresentado na figura a seguir, subdividido em sete regiões, em que os solos de
59
Unidade I

comportamento não laterítico ocupam a parte superior e os de comportamento laterítico estão


situados na parte inferior do gráfico.

Os solos lateríticos são típicos da evolução de solos de clima quente, com regime de chuvas de
moderado a intenso. Apresentam pouca resistência quando não compactados pelo elevado índice de
vazios. A sua coloração é avermelhada devido à presença de hidróxidos de ferro.

A cada uma das diferentes regiões de classificação foi associado um símbolo formado por duas
letras, em que a primeira letra – “N” ou “L” – indica o comportamento não laterítico ou laterítico do
solo, e a segunda – que pode ser “A”, “A’”, “G’” ou “S’” – completa o sistema de classificação. Há também
referência ao tipo de mineral encontrado no solo. No gráfico da figura a seguir, os solos coesivos estão
localizados à direita e os não coesivos na porção esquerda.

O gráfico da figura a seguir foi construído utilizando‑se variáveis extraídas de resultados de diversos ensaios
de Mini‑MCV (Mini Moisture Condition Value), de tal modo que todas as regiões apresentassem mesma área.
A primeira variável usada como abscissa e simbolizada por C’ representa a inclinação do trecho reto da curva
Mini‑MCV para dez golpes e em ordenadas estão colocados os valores de e’, calculados pela equação:

20 Pi
e′ = 3 +
d' 100

Em que d’ é a inclinação do ramo seco da curva de compactação para uma energia correspondente
a 12 golpes, o que é aproximadamente igual à do Proctor Normal de 6 kg/cm3 e Pi é a porcentagem de
perda de material por imersão.

A equação anterior é empírica, tendo sido determinada mediante a imposição de áreas iguais para
as diversas regiões do gráfico.

O procedimento utilizado, com a descrição dos ensaios necessários à classificação dos solos tropicais,
está descrito em Nogami e Villibor (1985).
0,27 0,45
A = Areia
2,0 A’ = Arenoso
NS’ G = Argiloso
1,75 NA S’ = Siltoso

1,5 NG’
Índice e’

1,40 NA’
1,15 LA
1,0
LG’
LA’
0,5
0,70 1,70
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Coeficiente C’

Figura 25 – Gráfico de classificação MCT

60
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

A tabela a seguir apresenta a correlação entre as principais propriedades de cada classe de solos e
sua respectiva classificação.

Tabela 6 – Principais propriedades dos grupos da classificação MCT

Granulometrias típicas
Designações do Mississipi

Argilas arenosas

Argilas arenosas
River Comission,USA

Areias argilosas
Siltes argilosos

Siltes argilosos
Argilas siltosas

Argilas siltosas
Siltes arenosos
Areias siltosas

Areias siltosas
q=Quartzoso

Siltes (k,m)
k=Caulinítico

siltes (q,s)
m=Micáceo

Argilas

Argilas
Areias
s=Sersítico

Comportamento N = Não laterítico L = Laterítico

Grupo MCT NA NA’ NS’ NG’ LA LA’ LG’

Mini Sem imersão M, E E M, E E E E,EE E


CBR (%) Perda por imersão B, M B E E B B B

Expansão B B E M, E B B B

Contração B B, M M M, E B B, M M, E
Propriedades

Coef. permeabilidade M, E B B, M B, M B, M B B

Coef. sorção (S) E B, M E M, E B B B

EE = Muito elevado M = Médio (A)


Corpos de prova compactados na
massa específica aparente seca E = Elevado B = Baixo (A)
máxima da energia normal
Vide campos abaixo para equivalência numérica

EE‑ Muito elevado > 30


E – Elevada > 70
E – Elevado 12 a 30 Perda de suporte M – Média 40 a 70
Mini‑CBR (%) M – Médio 4 a 12 Mini‑CBR – por imersão (%)
B – Baixa < 40
B – Baixo < 4

E – Elevada > 3 E – Elevada > 3


Expansão (%) M – Média 0,5 a 3 Contração (%) M – Média 0,5 a 3
B – Baixa < 0,5 B – Baixa < 0,5

Coeficiente E – Elevada > (‑1) E – Elevada > (‑3)


Coeficiente de
de sorção– S M – Média (‑1) a (‑2) permeabilidade K M – Média (‑3) a (‑6)
log (cm/s)
Log (cm/Vmin) B – Baixa < (‑2) B – Baixa < (‑6)
SP SM SM, CL MH SP SC MH
Correspondência SM SC ML, MH CH SC ML
aproximada com USCE ML CH

Adaptado de: Villibor e Nogami (2009).

61
Unidade I

Saiba mais

Para saber mais sobre solos tropicais e a aplicação da metodologia MCT,


uma sugestão de leitura é o livro:

NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D. F. Pavimentação de baixo custo com solos


lateríticos. São Paulo: Vilibor, 1995.

Para saber mais sobre tecnologia do uso dos solos finos lateríticos,
sugere‑se a obra:

VILLIBOR, D. F.; NOGAMI, J. S. Pavimentos econômicos. São Paulo: Arte


& Ciência, 2009.

4.5 Sistema de classificação táctil‑visual (ASTM – D2488‑69)

Esta classificação foi definida de tal maneira que a maioria dos solos é determinada segundo três
grupos: de granulação grossa; de granulação fina e altamente orgânica; mediante exame visual e alguns
ensaios simples de campo.

Para a fração grossa (pedregulhos e areias), são necessárias as informações quanto à composição
granulométrica; forma das partículas; existência ou não de finos; se estas partículas são ásperas ao tato,
visíveis ao olho nu e se separam quando secas.

Para os solos finos, siltes e argilas, os principais ensaios de identificação no campo são:

a) ensaio de dilatância;

b) ensaio de plasticidade;

c) determinação da resistência seca do solo;

d) observações quanto à cor e cheiro (solos orgânicos).

Os itens a, b e c são realizados com o material passante na peneira nº 40 (0,42 mm). No campo,
muitas vezes, separa‑se o material retido na peneira nº 40, fazendo‑se o possível para retirar o material
entre as peneiras nº 10 e nº 40.

Ensaio de dilatância

Consiste em adicionar água ao material até torná‑lo pegajoso. A massa formada, com um volume de
8 cm3, é colocada na palma de uma das mãos, em posição horizontal, batendo‑se vigorosamente uma
mão de encontro com a outra, várias vezes, e espremendo‑se a massa entre os dedos.

62
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

Segundo as reações ocorridas durante o ensaio de dilatância, os solos podem classificar‑se em:

• solos não plásticos, formados por siltes e areias que apresentam uma reação rápida, ou seja,
exibem água livre quando sacudidos;

• solos altamente plásticos, que resultam em reação nula.

Portanto, dependendo da velocidade que a massa muda de consistência, define‑se que a reação
do teste é rápida, lenta ou nula, sendo que, em solos arenosos, a água aparece rapidamente e provoca
trincas no solo.

Ensaio de plasticidade

Consiste em moldar um cilindro de aproximadamente 3 mm de diâmetro sobre uma superfície lisa


ou entre as palmas da mão.

Conforme o processo vai se desenvolvendo, o solo vai se tornando mais duro pela perda de umidade.
Os solos situados abaixo da linha “A” do gráfico de plasticidade formam cilindros frágeis, com exceção
dos solos orgânicos. Esses solos resultam em cilindros muito moles e pegajosos quando estão próximos
do limite de plasticidade. Quanto mais alta a posição do solo em relação à linha “A”, mais resistentes
apresentam‑se os cilindros ao se aproximarem do limite de plasticidade.

Em resumo, as argilas são bem mais plásticas, ou seja, facilmente moldáveis, ao contrário de
areias e siltes.

Ensaio de resistência seca

Consiste em moldar uma amostra de solo úmido com alguns centímetros de diâmetro médio e deixar
secar em estufa ou ao ar livre. Após a secagem, tenta‑se desagregar a amostra apenas com pressão dos
dedos. De acordo com o esforço aplicado na amostra pode‑se definir:

• solos de pouca resistência seca, que se desagregam imediatamente com pequeno esforço, como
os solos siltosos;

• solos de resistência seca razoável, que se desagregam com certo esforço, tal como os solos
argilosos e orgânicos.

Em resumo, as argilas formam torrões mais resistentes, que não se desagregam com facilidade,
enquanto os siltes não apresentam resistência equivalente às areias puras nem formam torrões.

A análise tátil visual, propriamente dita, refere‑se à sensação ao tato, esfregando‑se uma porção
de solo na mão para sentir a textura das partículas. As areias apresentam‑se ásperas; as argilas
assemelham‑se ao tato de farinha quando secas e como sabão quando estão úmidas.

63
Unidade I

A cor serve para separar os horizontes de um perfil de solo e pode indicar a existência do nível do lençol
freático. Utiliza‑se em amostras de solos úmidos porque pode haver uma mudança razoável de comportamento
com a secagem. Nesse caso, adota‑se a carta de cores da carta do Munsell Soil Color Charts.

Os solos de coloração vermelha indicam a presença de óxidos de ferro e ausência do lençol freático
próximo. Os solos de coloração cinza ou manchados indicam a variação do nível d’água.

Quanto ao cheiro, os solos orgânicos apresentam, em geral, odores característicos, o que pode ajudar
a identificação.

Existem muitos métodos para estimar a porcentagem passante na peneira nº 200, sendo a escolha
do mais apropriado dependente da habilidade do técnico e do tempo e equipamentos disponíveis.
Dentre eles podemos citar:

• Decantação: é a mistura do solo com água em um recipiente, derramando a porção turva de


água e solo, repetindo‑se a operação várias vezes, até conseguir remover praticamente todos os
finos, sem perda significativa da fração grossa. Por comparação do resíduo remanescente com o
material original tem‑se ideia da quantidade de finos.

• Sedimentação: consiste em misturar o solo com água em uma proveta, agitando bastante.
As partículas maiores irão depositar logo, sendo que a areia se deposita em 20 ou 30 segundos.
Comparando‑se os volumes inicial e final, obtém‑se o valor aproximado do volume relativo de
finos. De qualquer modo, o comportamento qualitativo é bastante distinto, pois, ao se agitar o
solo diluído em água, a areia deposita‑se rapidamente enquanto a argila turva a solução.

• Peneiramento: peneira‑se a úmido o material em bateria de peneiramento, comparando‑se a


massa inicial com a massa final sem os finos passantes. A classificação granulométrica do solo
como um todo pode ser feita diretamente, de acordo com o tamanho das partículas constituintes,
dividindo‑o nas três classes: areias, siltes e argilas.

Resumo

Tivemos a oportunidade de conhecer as características das rochas e suas


principais aplicações na construção civil. Pudemos entender o processo de
formação do solo por meio do intemperismo.

A caracterização dos solos foi apresentada por meio da definição e de


ensaios para determinação do tamanho das partículas, do teor de umidade
e respectiva plasticidade, além da determinação do estado do solo através
dos índices físicos.

Os diversos parâmetros, índices físicos que caracterizam os solos,


foram apresentados. Os principais sistemas de classificação de solos foram
64
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

exibidos e discutidos no contexto das principais classificações mundiais e


das especificidades dos solos tropicais.

Os índices físicos e as classificações foram analisados como suporte


teórico para a determinação de melhoria na eficiência de obras geotécnicas.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2005) Os registros dos terremotos em uma rede de estações sismográficas
permitem conhecer as velocidades sísmicas no interior da Terra e estudar a estrutura, a composição e a
evolução atual do nosso planeta. As ondas longitudinais (ondas P) têm maior velocidade de propagação
que as ondas transversais (ondas S – que não se propagam em meio líquido). Em geral, quanto maior a
densidade de uma rocha, maior será a velocidade de propagação das ondas sísmicas.
14
P
12
Velocidade, km/s

10

8
S
6

4
0 2000 4000 6000
Profundidade, km/s

Figura 26

Considerando o texto e o gráfico apresentados, pode‑se afirmar que:

I – O núcleo terrestre é mais denso que o manto terrestre, sendo este mais denso que a crosta;

II – No núcleo externo, a velocidade de propagação das ondas P é bem menor do que a do manto,
por ser o núcleo menos denso;

III – As ondas S e P se propagam na crosta, no manto e no núcleo terrestre.

É(são) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):

A) I.

B) II.

65
Unidade I

C) III.

D) I e II.

E) II e III.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: fundamentando‑se apenas nas informações contidas no enunciado, pode‑se concluir


que a primeira afirmativa é falsa, pois “o núcleo terrestre não seria mais denso que o manto terrestre”,
já que as velocidades de propagação das ondas sísmicas longitudinais no manto são maiores do que no
núcleo, indicando que o núcleo seria menos denso do que o manto. Contudo, teríamos chegado a uma
conclusão errada.

Embora não conste do texto da questão, o núcleo da Terra, constituído basicamente da liga de níquel
e ferro em estado líquido, tem densidade da ordem de 10 g/cm³, enquanto a densidade do manto varia
de 3 a 5 g/cm³. Portanto, a afirmativa I é verdadeira.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: quanto à afirmativa II, “no núcleo externo, a velocidade de propagação das ondas
P é bem menor do que a do manto, por ser o núcleo menos denso”, pode‑se verificar pelo gráfico
fornecido que, realmente, no núcleo as velocidades de propagação das ondas longitudinais P são em
média menores do que no manto, mas não é verdade que a densidade do núcleo seja menor do que a
do manto. Novamente, além de serem necessárias mais informações do que as contidas na questão, o
próprio enunciado, de certa forma, pode induzir a erro.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: para se avaliar a afirmativa III, “as ondas S e P se propagam na crosta, no manto e no
núcleo terrestre”, basta analisar o gráfico e verificar que as ondas transversais S não se propagam no
núcleo. Ou seja, a afirmativa III é falsa.

Questão 2. (Enade 2005) O estudo geológico de uma região indicou que abaixo do nível freático
estão presentes vários tipos litológicos. Ao decidir em que local será realizada a perfuração de um poço
d’água, visando à maior vazão, deve‑se optar pela região em que há:

A) Granitos não fraturados.

B) Folhelhos.
66
MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES

C) Argilitos e siltitos.

D) Gnaisses.

E) Arenitos.

Resolução desta questão na plataforma.

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