Texto 05 - Soc Clássissa - Sell - Weber
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CAPÍTULO III
MAX WEBER
I. VIDA E OBRAS
No ano de 1897, Weber foi acometido de uma crise nervosa, que durou até 1902.
Somente neste ano, ele vai retomando, aos poucos, seu trabalho. Em 1903, ajuda a fundar o
“ Arquivo para a ciência social e a ciência política”, que se tornou uma das principais
revistas de ciência sociais. Em 1904, Weber fará uma viagem de estudos para os Estados
Unidos que vai influenciar diretamente sua reflexão sobre o capitalismo. É a partir deste
período que Weber passa a se interessar mais diretamente pela sociologia.
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Em 1907, o pensador alemão recebe uma herança que permite que ele se dedique
apenas às suas atividades de pesquisa. Sua casa torna-se um centro freqüentado por
intelectuais de renome, como Georg Lukács, Georg Simmel e outros. Em 1908, Weber
ajuda a fundar a associação alemã de sociologia. Durante a primeira guerra mundial (1914-
1917), administra alguns hospitais da região de Heidelberg. Em 1918, aceita uma cátedra
na Universidade de Munique. Weber ainda participa da redação da nova Constituição
Germânica que funda a República da Alemanha (chamada de Constituição de Weimar,
cidade onde foi redigida). Seu falecimento ocorreu no ano de 1920, na cidade de Munique.
c) Pensamento social alemão: embora Max Weber seja o maior expoente da teoria
sociológica alemã, ele não era um pensador isolado. Na obra de Weber aparecem,
retomadas, idéias de vários pensadores importantes da época, principalmente
Ferdinand Tönnies (1855-1911), Georg Simmel (1858-1918), Werner Sombardt
(1863-1941) e Ernst Troeltsch.
Max Weber, embora não fosse um político de profissão, mas um cientista, participou
ativamente do debate político da Alemanha de sua época. A situação social da Alemanha
também inspirou pesquisas, textos e reflexões acadêmicas do autor, especialmente em
relação aos fenômenos do capitalismo, da burocracia e do poder político.
2.1. Epistemologia
Nesta citação, percebemos como Weber faz um ataque frontal contra um dos
pressupostos essenciais do positivismo: o pressuposto de que toda a realidade social pode
ser explicada mediante a descoberta de um sistema de “leis” inerentes ao funcionamento da
sociedade. Era esta premissa que justificava a identidade entre as ciências sociais e as
ciências da natureza, promovida pelo positivismo. Por isso, a preocupação básica dos
críticos do positivismo era apontar quais eram os aspectos que diferenciavam as ciências
sociais das ciências da natureza, ao mesmo tempo em que buscavam para elas um novo
método.
De que modo Weber vai justificar a distinção entre estes dois tipos de ciências? Para
elucidar estas diferenças, Weber vai participar dos debates entre os filósofos neo-kantianos,
que há tempo vinham se dedicando a este problema. É no confronto crítico com estes
autores que Weber vai elaborando suas posições teóricas.
sociedade). Tal diferença, por sua vez, implica no fato de que em cada um destes tipos de
ciência, existe uma maneira diferente de relacionar o sujeito com o objeto. Enquanto nas
ciências da natureza, o objeto de estudo é algo exterior ao homem; nas ciências sociais, o
homem é o sujeito e o objeto ao mesmo tempo. Por isso, concluía Dilthey, as ciências
naturais fazem uso do princípio da “ explicação” , enquanto as ciências sociais se articulam
em torno do princípio da “compreensão” . Enquanto a explicação consiste na busca das leis
causais, a compreensão implica em um mergulho empático no espírito dos agentes
históricos em busca do sentido de sua ação. Resumindo, poderíamos esquematizar o
pensamento de Dilthey da seguinte forma:
Também para Rickert, a distinção entre ciências naturais e ciências sociais residia
no método. Acontece que as ciências sociais são ciências onde existe uma “relação com os
valores”, fato que não ocorre nas ciências da natureza. Ou seja, nas ciências da cultura
(como as chama Rickert), os objetos são selecionados conforme os valores culturais e os
interesses pessoais do pesquisador. Esta idéia será retomada diretamente por Weber, que
afirma: “o conhecimento científico cultural tal como o entendemos encontra-se preso,
portanto, a premissas “subjetivas” pelo fato de apenas se ocupar daqueles elementos da
realidade que apresentem alguma relação, por muito indireta que seja, com os
acontecimentos a que conferimos uma significação cultural”(1991, p. 98).
Weber considera que uma ciência não se circunscreve a nenhum tipo de método
exclusivista, antes optando por um método ou outro em função das circunstâncias e
das exigências atuais. Os métodos generalizante e individualizante são tipos úteis
para permitir uma melhor compreensão da forma de abordagem que escolhemos,
mas em caso algum devem ser vistos como categorias rígidas de análise que
espartilham e limitam uma ciência particular e lhe tolhem as possibilidades de
explicar uma determinada gama de fenômenos por recurso ora a um método ora a
outro (1995, p. 95).
Para Weber, o sociólogo deve saber integrar estes dois métodos ( individualizante e
generalizante) nas suas pesquisas. Assim, pelo método individualizante, o cientista social
seleciona os dados da realidade que deseja pesquisar, destacando a singularidade e os
traços que definem seu objeto. Ao estudar o capitalismo, por exemplo, Weber procurou
distinguir os elementos que definem este sistema e o diferenciam de outras formas de
comportamento econômico. Trata-se do uso do método individualizante, que procura dirigir
sua atenção para os caracteres qualitativos e singulares de qualquer fenômeno. Mas, ao
pesquisar a origem do capitalismo, Weber vai utilizar do método generalizante o princípio
da causalidade, que busca estabelecer relações entre os fenômenos. Nas pesquisas sobre o
capitalismo, para voltar ao nosso exemplo, Weber se pergunta de que forma as idéias e o
modo de vida dos protestantes, (ética protestante) podem ser considerados como uma das
causas fundamentais na origem do moderno sistema econômico capitalista.
No entanto, vale lembrar que, embora Max Weber aceite o uso de “leis científicas”
como método válido de pesquisa, esta não deve ser a finalidade das ciências sociais. Para
ele, “as leis (...) são apenas determinadas probabilidades [grifo nosso] típicas,
confirmadas pela observação, de que determinadas situações de fato ocorram de forma
esperada e que certas ações sociais são compreensíveis pelos seus motivos típicos e pelo
sentido típico mencionado pelos sujeitos da ação”. O que Weber quer dizer, portanto, é que
a finalidade do método generalizante nas ciências sociais não é a construção de um sistema
de leis, no sentido de que determinados fenômenos devam ocorrer sempre da mesma
forma, como acontece na física por exemplo (pense no caso da lei da gravidade, que é um
fenômeno que sempre se repete!). Entretanto, trata-se de um método indispensável para a
objetividade da ciência, na medida em que estabelecer a relação entre os fenômenos,
buscando saber “por que” os eventos sociais se desenrolaram desta e não de outra forma, é
uma das tarefas fundamentais da sociologia. Em síntese, o uso do método generalizante
para construir um sistema de leis gerais não é a finalidade da sociologia (erro da sociologia
positivista). Todavia, nem por isso ele deve ser desprezado (erro da filosofia neo-kantiana).
O método generalizante é um procedimento indispensável para a sociologia explicar os
fenômenos sociais e históricos, que são seu objeto de estudo.
Como você pode notar, Weber entrou em um debate bastante complexo, dialogando
com vários autores e analisando diferentes posições teóricas. No confronto com estas
teorias, ele estabeleceu as bases filosóficas que sustentam o edifício das ciências sociais e
os princípios pelos quais elas se distinguem das ciências da natureza. O importante, para
não se perder neste debate, é que os autores analisados por Weber, têm sempre em vista
delimitar a especificidade das ciências sociais e distingui-las das ciências da natureza. Este
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POSITIVISTAS
As ciências da natureza e as ciências sociais possuem o mesmo método
NEO-KANTIANOS
As ciências da natureza e as ciências sociais possuem métodos
diferentes
MAX WEBER
Crítica aos positivistas: a realidade é infinita. Logo, não pode ser
explicada totalmente a partir de leis científicas
Crítica aos neo-kantianos: a sociologia deverá fazer uso dos dois
métodos, dependendo da finalidade da pesquisa
Todavia, nas ciências sociais as “leis” são apenas probabilidades de
ação social. São um meio e não a finalidade da pesquisa.
b) Individualismo Metodológico
Se, para Durkheim, a sociedade é superior ao indivíduo; poderíamos dizer que para
Weber, o indivíduo é o fundamento da sociedade. Esta afirmação vai muito além do fato de
que uma sociedade não existe sem indivíduos. A existência da sociedade somente se
realiza pela ação e interação recíprocas entre as pessoas. Então, quer dizer que a
“sociedade”, ou mesmo estruturas coletivas como a família, o grupo, o Estado, o
capitalismo e outros, não existem? Não se trata exatamente deste argumento. Conforme
explica Cohn, o que Weber quer dizer é que:
o objeto de análise sociológica não pode ser definido como a sociedade, ou o grupo
social, ou mediante qualquer outro conceito de referência coletiva. No entanto, é
claro que a sociologia trata de fenômenos coletivos, cuja existência não ocorreria a
Weber negar. O que ele sustenta é que o ponto de partida da análise sociológica só
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pode ser dado pela ação de indivíduos e que ela é “individualista” quanto ao
método. (1991, p. 26).
2.2. Metodologia
Nestas poucas linhas, Weber não só definiu o que é a sociologia, como também
apontou seu objeto de estudo e ainda seu método de análise (ou seu objeto formal). Tudo
de acordo com os pressupostos que já apontamos acima (o indivíduo como fundamento da
explicação sociológica). Nas páginas que seguem, vamos tratar de esclarecer e aprofundar
cada um destes pontos em detalhe.
b) Ação social: significa uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou
pelos agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em
seu curso.
Porém, de que forma o sociólogo deve empreender a tarefa de explicar as ações dos
indivíduos em suas relações recíprocas? Qual o método de estudo pelo qual a sociologia
aborda as ações sociais? Em outras palavras, qual é o seu objeto formal? Segundo Weber,
a tarefa da pesquisa sociológica consiste em determinar qual o “sentido” ou “significado”
da ação. Mas, quais seriam estes significados aos quais Weber se refere? Conforme
explica Cohn, ”interessa, enfim, aquele sentido que se manifesta em ações concretas e que
envolve um motivo sustentado pelo agente como fundamento de sua ação” (1991, p. 27). O
fundamento para explicar a ação social, portanto, é o seu motivo. Para a sociologia, importa
recuperar a razão e a finalidade que os próprios indivíduos conferem às suas atividades –
bemo como às suas relações com os demais indivíduos e com a sociedade. São estas razões
que explicam o motivo e a própria existência das ações sociais. É por isto que a teoria
sociológica de Weber é chamada de “metodologia compreensiva”: seu objetivo é
compreender o significado da ação social.
No entanto, as ações humanas são infinitas, e é claro que o sociólogo não poderia
fazer um acompanhamento de todos os tipos de comportamento social. Tendo em vista esta
dificuldade, Weber constrói sua conhecida teoria dos tipos de ação. A intenção de Weber
é justamente apontar quais seriam os sentidos ( ou motivos) básicos da ação social:
Quando o sentido da ação social é compartilhado por vários agentes, temos a relação
social. A relação social parte do pressuposto de que é provável que se aja conforme o
sentido compartilhado (que pode ser um uso ou um costume). Estas relações sociais,
segundo Weber, podem ser ainda de caráter comunitário (pessoais) ou societárias
(impessoais).
Finalmente, a relação social deve ser legitimada por uma ordem legítima. A
legitimação da ordem legítima pode se dar através da convenção ou do direito. De acordo
com Weber, as ordens legítimas podem se institucionalizar de diversas formas, tais como:
b) Os tipos ideais
Para Weber, estava muito claro que o sociólogo não pode tratar seus conceitos (e suas
teorias) como se fossem uma reprodução da realidade. Este seria o erro das teorias
positivistas. Adotando a filosofia kantiana, Weber parte do princípio de que o
conhecimento humano não é uma reprodução da essência da realidade. Pelo contrário, o
conhecimento humano só capta as relações entre as coisas existentes, de acordo com a
estrutura da mente humana. Portanto, nunca de forma exaustiva e exata. Da mesma forma,
a sociologia não capta toda essência da realidade: a explicação sociológica só pode captar
determinados elementos da realidade, que são condicionados pela cultura no qual o
sociólogo está inserido.
Como podemos inferir, para Weber, o sujeito tem um papel ativo na construção do
conhecimento sociológico, na medida em que é o sociólogo que determina que traços ou
aspectos da realidade serão analisados e qual relação existe entre eles. É justamente este
aspecto que Weber quer ressaltar com o conceito de tipos ideais, que ele assim define:
Desta forma, fica claro que o conceito (que é um tipo ideal) nunca se acha de forma
“pura” na realidade, pois ele é apenas uma construção teórica elaborada pelo sociólogo. O
tipo-ideal é construído a partir de uma “intensificação” unilateral da realidade, ou seja, uma
“exageração” de alguns de seus elementos característicos, a partir de um determinado
ponto de vista. Podemos esclarecer isto através de um exemplo.
Vimos anteriormente que Max Weber distinguia quatro tipos de ação social: ação
racional com relação a valores, ação racional com relação a fins, ação tradicional e ação
afetiva. Ora, sabemos agora que estes conceitos são “tipos ideais”, logo, eles não se acham
de forma pura na realidade. No comportamento real das pessoas, estas formas de ação
sempre aparecem juntas. O que permite ao sociólogo dizer que se trata desta ou daquela
forma de ação é um recorte da mesma, acentuando um dos aspectos que caracterizam a
ação. É por isso que estes conceitos são chamados por Weber de “tipos ideais”.
Racionalizações têm existido em todas as culturas, nos mais diversos setores e dos
tipos mais diferentes. Para caracterizar sua diferença do ponto de vista da história
da cultura, deve-se ver primeiro em que esfera e direção elas ocorrem. Por isso,
surge novamente o problema de reconhecer a peculiaridade específica do
racionalismo ocidental, e, dentro deste moderno racionalismo ocidental, o de
esclarecer a sua origem (1996, p. 11) .
O que é este “ racionalismo “ ocidental? Qual o seu caráter específico diante dos
povos do Oriente? Qual a sua origem? Qual o seu significado para a vida do homem? Eis os
temas de que trata a sociologia da religião de Max Weber e que o levam a apontar aquela
que é uma das característica mais importantes das sociedades modernas: o racionalismo.
Mas, afinal, o que vem a ser este “ espírito do capitalismo” ao qual Weber tanto se
refere? Para esclarecer esta expressão, Weber nos dá os exemplos de um conjunto de
máximas de Benjamin Franklin, que recomenda:
O que estas máximas nos mostram, é que o espírito do capitalismo é uma ética de
vida, um modo de ver e encarar a existência. Ser capitalista, antes de tudo, não é ser uma
pessoa avara, mas ter uma vida disciplinada, ou ascética, de tal forma que as ações
praticadas sempre revertam em lucro. Trata-se, como diz Weber, de uma ascese no mundo.
Ascese, é bom lembrar, é o comportamento típico dos monges, que levam uma vida
dedicada à oração e à penitência. O bom capitalista também é uma pessoa ascética. Mas a
sua ascese é praticada no trabalho, ao qual ele se dedica com rigor e disciplina. Entretanto,
a grande questão que nos resta esclarecer é: como esse modo capitalista de ver a vida se
generalizou e se propagou pelo Ocidente?
A primeira contribuição para este processo, afirma Weber, foi dada por Martinho
Lutero e sua concepção de “ vocação “ (em alemão, beruf). Para Lutero, a salvação das
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pessoas não vinha do fato delas se retirarem do mundo para rezar, como faziam os monges
católicos. Pelo contrário, quanto mais as pessoas aceitassem suas tarefas profissionais como
um chamado de Deus (vocação) e as cumprissem com disciplina, mais aptas estariam para
serem salvas.
No entanto, é com as seitas protestantes, que este processo iria ainda mais longe. No
quarto capítulo de sua obra, Weber analisa quatro seitas protestantes, que são:
• calvinismo
• pietismo
• metodismo
• seitas batistas.
Dentre estas quatro seitas, diz Weber, é a religião calvinista que melhor nos ajuda a
explicar a relação entre a ética protestante e a origem do capitalismo. De acordo com a
doutrina calvinista, todos os homens são pré-destinados por Deus para a salvação ou para a
condenação. Somente Deus, na sua sabedoria e bondade eterna, sabe e escolhe quem será
salvo ou não ( doutrina da pré-destinação). Nada do que o homem fizer por esforço próprio
faz diferença: tudo depende de Deus!
Naturalmente, uma concepção destas causa grande angústia para as pessoas. Como
saber se eu vou ser salvo? Apesar de só Deus possuir esta resposta, os calvinistas
acreditavam que havia uma forma de obter indícios para esta questão: trata-se do sucesso
no trabalho. O cristão está no mundo para glorificar a Deus, e deve fazê-lo trabalhando.
Ora, acontece que o cristão que estiver reservado para ser salvo, vai levar uma vida
disciplinada e cristã: o resultado, só pode ser um enriquecimento de seus bens materiais.
Mas, como bom cristão, ele não vai esbanjá-los em prazeres e em outras condutas
consideradas desonestas. Pelo contrário, ele vai continuar trabalhando e aplicando seus
recursos para obter mais lucratividade. O resultado é que, com o tempo, esta pessoa
tornar-se-á muito rica; afinal, tudo que ela ganha é gasto somente com o necessário, sendo
o resto aplicado na própria produção.
Para Weber, esta ética do trabalho, embora tivesse motivações religiosas, acabou
dando suporte para um comportamento indispensável para a origem do capitalismo: a
busca do lucro, através do trabalho metódico e racional. Mesmo com o processo de
secularização da vida (ou seja, o declínio da religião na sociedade), a ética do trabalho se
expandiu e se consolidou no Ocidente. Com o tempo, a motivação da busca do lucro se
desligou da religião, e ganhou vida própria:
Na análise das grandes religiões universais, Weber percebeu que elas se diferenciam,
quanto ao seu conteúdo e quanto ao caminho da salvação que elas apresentam. As imagens
de Deus e do mundo é que condicionam a atitude do crente para conseguir a salvação. Ou,
dito de uma forma bem mais simples: a teoria religiosa condiciona a prática de vida das
pessoas. Para entender a influência da religião sobre a economia, é necessário, então,
verificar como as religiões inspiram esta conduta, a partir de dois critérios:
Quanto à imagem de Deus que as religiões desenvolvem, Weber distingue dois tipos
de religião: as religiões teocêntricas e as religiões cosmocêntricas. De acordo com a
explicação de Habermas, Weber identifica principalmente dois tipos de imagem de Deus:
“A primeira, a ocidental, se serve da concepção de um Deus criador, supra-mundano e
pessoal; a outra, muito difundida no oriente, parte da idéia de um cosmos impessoal e não
criado. Weber fala aqui de uma concepção supra-mundana e de uma concepção imanente
de Deus” (1987, p. 269). Logo, temos duas formas culturais diferentes de explicar o que
seria a divindade. Nas religiões ocidentais, deus cria o mundo, estando fora e acima dele
(deus supra-mundano). Deus sempre existiu e um dia resolveu criar o mundo. Já nas
religiões orientais, deus e o mundo são a mesma realidade. Na concepção oriental, deus e
mundo se confundem como um todo; sendo que deus está na beleza da totalidade, além de
ser a força que sustenta as coisas. Resumindo, temos que:
IMAGEM DE DEUS
Religiões ocidentais Deus supra-mundano
Religiões orientais Deus intra-mundano
Analisando as diversas religiões a partir deste elemento, Weber constatou que nas
religiões ocidentais existe apenas uma desvalorização do mundo; enquanto nas religiões
orientais existem algumas que o valorizam (China) e outro grupo que o desvaloriza (Ïndia).
Graficamente, eis um resumo destas idéias:
Depois de estudar cada religião (ocidental e oriental) a partir destes elementos, nós
podemos cruzar estes dois critérios (imagem de Deus e do mundo), obtendo assim o
seguinte esquema:
Entretanto, o que tudo isto tem a ver com a influência das religiões na sociedade,
especialmente se quisermos compreender a ação social e a conduta econômica dos
indivíduos? De acordo com a teoria weberiana, a teoria religiosa inspirou diferentes formas
do indivíduo se comportar. Vejamos como.
• Nas religiões teocêntricas (deus está fora do mundo) existem dois caminhos de
salvação. Se houver uma imagem negativa da realidade mundana, as religiões
apresentam o caminho da dominação ascética do mundo (como é caso da religião
protestante). Quanto a religiões teocêntricas com uma imagem positiva do mundo,
Weber não encontrou nenhuma exemplo real deste tipo de religião. O importante
é perceber que as religiões teocêntricas com uma visão negativa do mundo
favorecem uma atitude “ativa” diante da realidade mundana.
A conclusão que se pode tirar deste complexo esquema de Weber é bastante óbvia.
As religiões orientais levam o crente a uma atitude contemplativa diante do mundo. Já o
caráter específico da religião ocidental consiste em levar o crente a uma atitude de
engajamento diante do mundo. Foi por isso que a ética religiosa do protestantismo
favoreceu a origem do capitalismo, enquanto as religiões orientais não inspiraram nenhum
movimento neste sentido.
neste sentido que ele apresenta o seu diagnóstico da modernidade: a perda de sentido e a
perda de liberdade.
Quanto à primeira tese, a perda de sentido, Weber sabia que a gradual substituição
da religião pela razão, cuja maior expressão é a ciência, traria uma mudança profunda na
cultura.Segundo ele, a religião era uma cosmovisão do mundo que conferia sentido à
realidade. Toda religião procura dar aos homens uma resposta à respeito do “por que “
último da existência. As religiões entendem o mundo como dotado de uma finalidade:
existe uma razão que explica de onde viemos e para onde vamos. Acontece que, para
Weber, a ciência não poderia ocupar o papel da religião: “quem continua ainda a acreditar
– salvo algumas crianças grandes que encontramos justamente entre os especialistas – que
os conhecimentos astronômicos, biológicos, físicos ou químicos podem ensinar-nos algo a
propósito do sentido do mundo ou poderiam ajudar-nos a encontrar os sinais de tal
sentido, se é que ele existe? (1991, p. 35).
Para Weber, não se trata de renunciar à razão e voltar a religião só porque ela dotava
o mundo de sentido. A ciência é um saber instrumental, que sabe apontar os meios para se
atingir do melhor modo possível um objetivo, mas ela não tem como formular um juízo
definitivo de que este objetivo é melhor que aquele, de que este valor supera outro. De
acordo com um exemplo dado pelo próprio Weber, “ ignoro como se poderia encontrar
base para decidir “cientificamente” o problema do valor da cultura francesa face á
cultura alemã; aí também diferentes deuses se combatem e, sem dúvida, por todo o
sempre” (idem, p.42). De fato, era assim que Weber via o problema dos valores no mundo
moderno: uma luta entre os deuses, onde cada um deve escolher o seu.
É este problema que leva Weber a refletir sobre a questão da “objetividade” das
ciências humanas ou sociais. Para resolver este dilema, Weber afirma que a ciência deve
cuidar para distinguir rigorosamente entre os juízos de fato e os juízos de valor.
Isto implicava em afirmar que, se o sociólogo era movido por seus valores na hora de
definir seu objeto; na condução da pesquisa, todas as considerações pessoais do autor (seus
juizos de valor ou axiológicos) deveriam ser colocados de lado. Na pesquisa, o sociólogo só
pode emitir juízos de fato, ou seja, mostrar rigorosamente o desenvolvimento de um
determinado fenômeno, sem procurar julgá-lo, ou, tomar posição sobre o problema. Em
outros termos, tanto em relação a problemas éticos quanto políticos, as ciências sociais
deveriam ser, rigorosamente, ciências neutras.
Com isto, Weber acaba colocando uma enorme distância entre aquilo que nós
poderíamos chamar de “teoria” e de “prática” . Como fica a relação da ciência com os
problemas práticos da vida? Ou seja, que tipo de ligação existe entre a teoria e a prática em
Weber? Segundo o autor, “as ciências, tanto as normativas como as empíricas, podem
prestar apenas um único e inestimável serviço aos políticos e aos partidos concorrentes,
que é informá-los:
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Um bom exemplo para entender esta questão poderia ser formulada da seguinte
forma. Qual o melhor sistema de governo para o Brasil: o sistema parlamentarista ou o
sistema presidencialista? Para Weber, não cabe ao sociólogo dizer qual deles é melhor. O
cientista deve apenas tentar apontar quais as conseqüências da adoção ou não de um ou
outro dos dois sistemas. Fazer a escolha por um dos sistemas de governo é uma tarefa que
cabe à sociedade. Somente a ela cabe saber qual dos “deuses” escolher!
Apesar de não poder tomar partido nas questões políticas do dia-a-dia, a neutralidade
axiológica não significa que a sociologia não possa pesquisar a realidade política da
sociedade. Pelo contrário, neste sentido, Weber deu grandes contribuições para a
sociologia política. Ainda que não possamos dedicar grande espaço para a variedade de
temas abordados por Weber, uma rápida resenha das principais questões pesquisadas pelo
autor, já nos permite compreender o alcance de sua obra.
a) Estado e política
No texto “A política como vocação”, Weber diz que “devemos conceber o Estado
contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado
território – a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado –
reinvindica o monopólio do uso legítimo da violência física (...). Por política entenderemos,
consequentemente, o conjunto dos esforços feitos com vistas a participar do poder ou
influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior do próprio Estado” (1967,
p. 56).
b) Poder e dominação
relação social. O conceito de poder deve ser distingüido do conceito de dominação, que
significa a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato. Para Weber,
o que importa é analisar os fundamentos que tornam legítima a autoridade, ou ainda, as
razões internas que justificam a dominação, que ele distingue segundo três tipos puros:
c) Burocracia e democracia
Para Max Weber, o crescimento do Estado e a complexidade dos problemas que este
têm de resolver, coloca sérios entraves para a democracia, pois distancia o cidadão das
decisões fundamentais. Neste quadro, diz Weber, a democracia funciona apenas como um
método de seleção: o cidadão deve escolher os quadros para o governo do Estado.
A classe diz respeito aos interesses econômicos das pessoas e as diferenças na posse
de bens. O partido se relaciona com a diferente distribuição do poder e; finalmente, o
estamento tem a ver com os estilos de vida das camadas sociais, juntamente com o prestígio
e a honra conferidas a cada uma.
e) Político profissional
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