TCC - Pós Psicopedagogia

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO

Departamento de Psicologia

Geslanny Kessy Andrade Martinez

PODE BRINCAR, TIA? PODE NÃO, DEVE!

OSASCO
2021
Geslanny Kessy Andrade Martinez

PODE BRINCAR, TIA? PODE NÃO, DEVE!

Trabalho apresentado como exigência parcial para


obtenção do certificado de conclusão de curso de Pós
Graduação em Psicopedagogia Institucional e Clínica do
Centro Universitário FIEO.

Orientador: Luan Tremante Espósito Pinheiro

OSASCO
2021

1
DECLARAÇÃO DE ÉTICA E RESPEITO AOS DIREITOS
AUTORAIS

Declaro para os devidos fins, que a pesquisa foi elaborada por mim, e/ ou pelos
integrantes do meu grupo e que não há, nesta monografia, cópias de
publicações de trechos de títulos de outros autores sem a respectiva citação,
nos moldes da NBR 10.520 de ago/2002.

Aluno: Geslanny Kessy Andrade Martinez


Data:

2
Dedico este trabalho
primeiramente a Deus por me
permitir viver essa experiência.
Ao meu esposo Fernando e filho
Pedro que por noites não pude
estar presente, mas me deram
todo apoio para a conclusão
deste curso. Aos meus
professores que contribuíram
para minha especialização.

3
RESUMO

Esta pesquisa tem como abordagem uma análise crítica da composição do


lúdico no momento da aprendizagem de um indivíduo, tanto no campo
científico da psicologia quanto na visão da pedagogia, visto que, estas
comungam com o mesmo viés científico no que tange as estratégias do saber.
Durante séculos de evolução diversos estudiosos de distintos campos do
conhecimento se dedicaram a entender os meios de construção do
conhecimento humano. Estes, iniciaram seus estudos de observação através
da criança percebendo que elas, absorvem, criam, imaginam, compreendem
melhor o mundo por meio de diversas estratégias lúdicas, tais como a contação
de histórias, rodas de conversa, dramatizações, jogos, músicas, desenhos,
brincadeiras, animações, filmes, imagens, podem ser utilizadas para
desenvolver inúmeras habilidades. A escola é vista como um dos principais
lugares para o desenvolvimento da criatividade por meio do brincar, sendo vista
assim no início da infância como um palco e o professor, artista com a cartola
em mãos que desperta os olhares mais atraentes e curiosos de seus
expectadores e atores. Em razão disto, esta dissertação desenvolve a
construção desse processo lúdico enquanto representação fiel da infância,
transposição de barreiras e formulação da identidade da criança no trato da
Psicopedagogia Educacional.

Palavras-Chave: Psicopedagogia Institucional, Lúdico, Aprendizagem.

4
SUMÁRIO

DECLARAÇÃO DE ÉTICA E RESPEITO AOS DIREITOS AUTORAIS 2


DEDICATÓRIA 3
RESUMO 4
INTRODUÇÃO 6
OBJETIVO 8
MÉTODO 9
1. PSICOPEDAGOGIA 10
1.1 Definição e Origem 10
1.2 Áreas de atuação 12
1.3 Psicopedagogia institucional 13
1.4 Psicopedagogia X Problemas de aprendizagem 16
2. LÚDICO 21
2.1 Conceito e historicidade 21
2.2 A importância do Brincar 24
2.3 O lúdico e a escola 28
2.4 A criança e a educação lúdica 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS 34
REFERÊNCIAS 37

5
INTRODUÇÃO

“Quando as crianças brincam


E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.
E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.”
(FERNANDO PESSOA)

Buscamos através deste, enfatizar e embasar a magia presente no


movimento lúdico dentro da atuação psicopedagógica, a criatividade que
emerge do brincar e a importância dos jogos para a criança, mas vale ressaltar
que não é apenas o jogo uma forma de manifestação do lúdico, mas toda e
qualquer atividade prazerosa para o indivíduo. O consultório de um
psicopedagogo pode ser um local de muitas experiências, um espaço propício
para a superação de desafios e crescimento intelectual e social. Este trabalho
se justifica na suma importância da pesquisa e produção do saber profissional
que busca a formação de um sujeito verdadeiramente ativo, criativo, ético e
especialmente crítico, capaz de enfrentar o mundo ao qual estão sendo
forjadas se serem expectadores desse processo.
Muito tem se pensado nas relações que auxiliam no processo ensino
aprendizagem. “As experiências intelectuais, corporais e afetivas são
indissociáveis. A afetividade, então, está relacionada ao intelecto e o
desenvolvimento de um está intimamente relacionado ao outro”. (Bacelar,
2009, p. 42). Sendo muitas as abordagens utilizadas, muitas são também as
vantagens presentes no trabalho com o lúdico.

6
São muitas as vantagens de se educar ludicamente e, dentre elas,
podemos citar: a melhoria da capacidade cognitiva da criança, a
potencialização da sua capacidade psicomotora, bem como, da sua
capacidade de relacionar-se com seus grupos de iguais. Diante disso,
o papel do educador se torna fundamental. (SILVA, 2019, p.8)

Precisamos nos atentar a um fator importante, o fato de que jogos e


brincadeiras não podem ser vistos apenas como recurso, como estratégia, mas
sim como objeto de aprendizagem:

Sob o enfoque da psicomotricidade, a ludicidade é sugerida em


muitas propostas pedagógicas da Educação Infantil como um
instrumento para o ensino de conteúdos. Mas quando os jogos e as
brincadeiras são compreendidos apenas como recursos pedagógicos,
assumem um caráter instrumental porque perdem o sentido da
brincadeira e, muitas vezes, até mesmo a própria ludicidade, servindo
somente para sistematização de conhecimentos, uma vez que são
usados para atingir resultados preestabelecidos pelo educador.
(MARIA et al, 2009, p. 6)

Vamos entender então, como acontece o processo de aprendizagem


através do lúdico, qual a importância disto, e como o trabalho do
psicopedagogo institucional, dentro da instituição escola, pode beneficiar esse
processo se utilizando do lúdico.

7
OBJETIVO

Este estudo se objetiva no entendimento de como o lúdico pode ser


importante no processo ensino-aprendizagem e na demonstração de como o
profissional da psicopedagogia pode se apropriar deste recurso no uso de seu
trabalho cotidiano.
Especificamente, buscamos conceituar o termo, entender a importância
e as vantagens do trabalho com o lúdico, especialmente no contexto escolar,
além de demonstrar como é válida a inserção do psicopedagogo no contexto
educacional.

8
MÉTODO

Este estudo se baseia em uma revisão de literatura, que segundo Bento


(2012), é um “Parte vital do processo de investigação.” Onde se busca
localizar, analisar, resumir e interpretar as investigações que antecedem o
estudo, portanto, é uma análise dos trabalhos já publicados sobre o tema. A
revisão bibliográfica é vista também como indispensável na delimitação do
problema, além de buscar uma projeção do atual estado de conhecimento
elencado sobre o tema. Acontece a análise dos resultados obtidos na pesquisa
e então o novo autor pode confrontar dados e afirmar ou negar sua hipótese.

Cada investigador analisa minuciosamente os trabalhos dos


investigadores que o precederam e, só então, compreendido o
testemunho que lhe foi confiado, parte equipado para a sua própria
aventura (CARDOSO et al, 2010, p.7 apud BENTO, 2012)

Foi realizado um levantamento bibliográfico de produções de autores


da Psicologia, Pedagogia, e da Psicopedagogia em periódicos (Capes) e
plataformas online (Google Acadêmico) de pesquisa científica. O período base
para a busca foi de textos publicados entre 2003 e 2018 e a pesquisa foi feita
sob uso dos termos: “Importância do Lúdico”, “Lúdico na Educação”,
“Psicopedagogia e Lúdico”, Atuação do Psicopedagogo. Foram utilizados
apenas textos em português, e selecionamos apenas artigos, contamos com o
recurso de busca dos próprios bancos de pesquisa. Após reduzir ainda mais a
busca utilizamos o filtro de busca buscar por relevância conforme a
necessidade e intencionalidade do trabalho, já apresentadas no tópico anterior.

A análise dos dados obtidos foi feita de forma qualitativa, onde o


pesquisador interpreta o objeto de estudos, a análise não se resume a dados
estatísticos, mas sim à qualidade de determinada situação, neste caso, nos
embasamos na interpretação que cada autor fez sobre a importância da
brincadeira, e sobre seus benefícios na educação, a posteriori, diante de todos
os dados colhidos, nós enquanto agentes de pesquisa expressamos nossa
visão sobre o olhar de diversos outros autores. (Minayo, 2012)

9
1 PSICOPEDAGOGIA

Para falar sobre a importância do lúdico na aprendizagem, sendo


utilizada como estratégia pelo psicopedagogo, precisamos entender
primeiramente, o que é Psicopedagogia, sua definição e origem, os locais e
formas de atuação de um profissional e configurar a Psicopedagogia
Institucional dentro deste contexto.

1.1 Definição e Origem

Segundo o dicionário Aurélio (2001), Psicologia é “a ciência dos


fenômenos psíquicos e do comportamento”, e segundo o mesmo, Pedagogia é
“teoria e ciência da educação e do ensino”. Portanto, entende-se por
Psicopedagogia a “aplicação da psicologia experimental à pedagogia”.
Rubinstein (1987, apud Marques e Picetti s/d) entende Psicopedagogia
como a forma de compreender o indivíduo em sua posição de aprendiz, um ser
com dúvidas, conflitos, que precisa tomar decisões e escolher os caminhos
para trilhar em sua vida. Psicopedagogia é vista como a área de estudo que
precisa entender o processo de aprendizagem do indivíduo, buscando uma
formação integral, a partir de uma ação também integral de investigação do
contexto total do ser.
A Psicopedagogia tem sua origem no século IX, e sua base se dá na
área da educação, tentando contribuir com crianças que tenham dificuldade de
aprendizagem ou comportamentos inadequados, e na saúde, no trato de
pessoas com deficiência. De início tinha um olhar organicista sobre os
problemas de desenvolvimento e aprendizagem, acreditava-se que esses
problemas estavam relacionados com questões patológicas. Na década de 70,
a Psicopedagogia chegou ao Brasil, justificada pela demanda excessiva de
problemas de aprendizagem, e era voltada para o trato clínico / terapêutico.
Com o passar dos anos, surgiu a necessidade de mais profissionais e de maior
aprofundamento na área, então começaram a surgir os cursos de
especialização e pós graduação.
A denominação “Psicopedagogo” apareceu em substituição de “Médico
Pedagógico”, foi sofrendo diversas influências, tendo no Brasil o surgimento do

10
Serviço de Orientação Psicopedagógica, tendo o objetivo de melhorar a relação
aluno professor.
A psicopedagogia foi uma ação subsidiária da medicina e da
psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e
complementar, possuidora de um objeto de estudo o processo de
aprendizagem e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos
próprios (Visca, 2007, p.23).

Segundo Oliveira (s/d), a psicopedagogia estuda a aprendizagem


humana e suas características, tentando entender como se aprende e como
essa aprendizagem pode variar de acordo com cada indivíduo, além de poder
estar condicionada por outro sujeito ou ainda por problemas situacionais e/ou
físicos, seja no tratamento clínico ou na prevenção. As influências de diversas
áreas e a estruturação da psicopedagogia no Brasil e no Mundo gerou diversas
definições que foram se aprimorando, de início o trabalho psicopedagógico
tinha seu foco na reeducação, havia um processo de avaliação na tentativa de
vencer os problemas que o sujeito trazia em sua não-aprendizagem, em
relação aos demais sujeitos de determinada idade; depois o ter
não-aprendizagem mudou para não-aprender, e o fundamento base da
psicopedagogia ai era a psicologia genética e na psicanálise, e cada sujeito era
entendido em sua singularidade, levando em conta seu mundo e suas
experiências históricas e sociais. Hoje, a concepção de aprendizagem
trabalhada pela psicopedagogia é entendida por um equipamento biológico,
que sofre interferências afetivas e intelectuais diante de suas relações com os
sujeitos e com o meio ao qual está inserido, o sujeito é visto em sua
particularidade, mas é um sujeito inserido em um contexto.

https://www.vittude.com/blog/quando-se-deve-procurar-um-psicopedagogo/

11
1.2 Áreas de atuação

A delimitação científica que a psicopedagogia apresenta é a


aprendizagem humana, com um sujeito aprendente ou em situação de
aprendizagem, um sujeito inserido em uma realidade, com seus alcances e
limites. A psicopedagogia é vista como área de conhecimento, ou ainda área
de atuação interdisciplinar no processo de aprendizagem.

Há diferentes níveis de atuação. Primeiro, o psicopedagogo atua nos


processos educativos com o objetivo de diminuir a frequência dos
problemas de aprendizagem. Seu trabalho incide nas questões
didático-metodológicas, bem como a formação e orientação dos
professores, além de fazer aconselhamento aos pais. Na segunda
atuação, o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de
aprendizagem já instalados. Para tanto, cria-se um plano diagnóstico,
a partir do qual procura-se avaliar os currículos com os professores,
para que não se repitam transtorno, estamos prevenindo o
aparecimento de outros.
(BOSSA,1994 apud Oliveira s/d)

Diante dessas características, duas são as formas básicas de atuação


do profissional de Psicopedagogia: Institucional, cujo objetivo é a prevenção de
problemas de aprendizagem e a Clínica, que busca a recuperação do
indivíduo. Atualmente a prevenção é o maior interesse, e isso não apenas no
contexto do psicopedagogo, mas outras áreas de atuação veem demonstrando
interesse por essa forma interessante de se evitar tantos problemas,
professores, médicos, psicólogos, e até mesmo os leigos tem buscado
entender um pouco mais sobre.
É preciso entender que o problema de aprendizagem não é visto de
forma isolada, ao contrário é a manifestação de perturbações oriundas da
totalidade da personalidade do ser (Barone, 1987); além disso, esses
problemas de aprendizagem são mutáveis, dinâmicos, e como originários de
diversas questões, as alterações nestas questões podem evidenciar mudanças
na ordem desses problemas. O desenvolvimento educacional é uma

12
necessidade e é preciso que se estabeleça uma relação segura e verdadeira
entre o psicopedagogo e a criança, afinal de contas, todo aprendizado ocorre
por uma relação.
A Psicopedagoga Sara Pain, faz uma boa delimitação sobre a atuação
do profissional de Psicopedagogia quando trata das relações entre educação e
aprendizagem:

[...] delimitar o terreno de competência do psicólogo dedicado à


aprendizagem e o terreno do especialista em ciências da educação,
que atende às perturbações na aquisição dos processos cognitivos.
Este último se preocupa principalmente em construir situações de
ensino que possibilitem a aprendizagem, incrementando os meios, as
técnicas e as instruções adequadas para favorecer a correção da
dificuldade que o educando 44 apresenta. Diferentemente, o
psicólogo se interessa pelos fatores que determinam o não-aprender
no sujeito e pela significação que a atividade cognitiva tem para ele;
desta forma a intervenção psicopedagógica volta-se para a
descoberta da articulação que justifica o sintoma e também para a
construção das condições para que o sujeito possa situar-se num
lugar tal que o comportamento patológico se torne dispensável (PAÍN,
1985, p. 13).

Pain (1985), entende e evidencia a diferença entre o pedagogo e o


psicopedagogo, mas em dados momentos ela aponta para o fato de que não
se pode dissociar o trabalho dos dois, ambos precisam estar em concordância
para um bom resultado, mas ambos devem considerar a especificidade de
cada área.
É válido entender a Psicopedagogia como uma ciência que está em
constante construção, mas que caminha a passos largos para de fato ter uma
delimitação de seu objetivo.

1.3 Psicopedagogia Institucional Educacional

Dentro da atuação de um psicopedagogo existem duas áreas, a clínica e


a institucional, em ambas o processo de aprendizagem é o foco, mas a
localização de cada uma delas é que fará a diferença, no modo de acontecer.

13
Na escola o psicopedagogo institucional trabalha em um espaço onde a
aprendizagem acontece de forma mais coletiva, os processos são semelhantes
ao clínico, para Bossa (2007):

No primeiro nível o psicopedagogo atua nos processos educativos


com o objetivo de diminuir a “frequência dos problemas de
aprendizagem”. Seu trabalho incide nas questões
didático-metodológicas, bem como na formação e orientação de
professores, além de fazer aconselhamento aos pais. No segundo
nível o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagens já
instalados. Para tanto cria-se plano diagnóstico da realidade
institucional, e elaboram-se planos de intervenção baseados nesses
diagnósticos a partir do qual se procura avaliar os currículos com os
professores, para que não se repitam tais transtornos. No terceiro
nível o objetivo é eliminar transtornos já instalados em um
procedimento clínico com todas as suas implicações. O caráter
preventivo permanece aí, uma vez que ao eliminarmos um transtorno,
estamos prevenindo o aparecimento de outros. (BOSSA, 2007, p. 25)

O trabalho do psicopedagogo na resolução de problemas de


aprendizagem é de grande importância, a formação de um especialista nessa
área precisa acontecer por pessoas que realmente estejam comprometidas
com o trabalho educacional, e estes profissionais buscam essa área pra poder
auxiliar os alunos em seu direito que é a aprendizagem, mas além disso eles
buscam entender como acontece o aprender de seu aluno com dificuldade,
entender o processo para então poder ajudar outrem.
Angelo (2021) trata sobre as etapas para o trabalho psicopedagogo na
instituição escolar:

Primeira etapa: Uma assessoria psicopedagógica e as intervenções


geralmente acontecem diretamente junto ao grupo de docentes que
buscam metodologias diferenciadas de trabalho, visando melhor
aproveitamento escolar por parte do aluno. A assessoria pode
acontecer também junta aos pais ou familiares de alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem. Segunda etapa: Nesse
caso, o psicopedagogo passa a realizar um trabalho em conjunto com
outros profissionais contribuindo em diversos aspectos como
metodologia, avaliação, relacionamentos entre outros. O

14
psicopedagogo pode também atuar junto aos pais na busca de
melhorias nas relações entre pais e filhos frente aos desafios de um
mundo em constante mudança. Terceira etapa: Diretamente com seus
alunos em sala de aula, o que favorece o relacionamento de
proximidade, de confiança, propiciando um melhor conhecimento das
possíveis dificuldades de aprendizagem dos alunos e intervindo no
sentido de prevenir ou minimizar possíveis dificuldades de
aprendizagem. (CORTES, 2012 apud ANGELO 2021)

A escola bem orientada, precisa trabalhar com seu aluno a frustração do


erro, e a ideia de saber que é preciso tentar até acertar, não se deve apenas
deixar de lado, não se pode deixar de fazer e sim notar que é preciso encontrar
outra forma de aprender, mas que há alguma forma para aquele determinado
aluno aprender e que pode ou não ser igual a forma de aprendizagem de
outros alunos. Além disso precisa acontecer o questionamento dos motivos
pelo qual este aluno não aprende.
O psicopedagogo no âmbito escolar pode trabalhar tendo seu foco no
aluno, ou na orientação de professores e gestão. Angelo (2021), apresenta
uma fala de Santos (2011) sobre isso.

O trabalho na instituição escolar apresenta duas naturezas: O


primeiro diz respeito a uma psicopedagogia voltada para o grupo de
alunos que apresentam dificuldades na escola. O seu objetivo é
reintegrar e readaptar o aluno à situação de sala de aula,
possibilitando o respeito às necessidades e ritmos. Tendo como meta
desenvolver as funções cognitivas integradas ao afetivo,
desbloqueando e canalizando o aluno gradualmente para a
aprendizagem dos conceitos conforme os objetivos da aprendizagem
formal. O segundo tipo de trabalho refere-se à assessoria junto a
pedagogos, orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar
as questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e
redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o
cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos e as diferentes
áreas do conhecimento. (SANTOS, 2011, p. 02)

A atuação do profissional de psicopedagogia é muito pertinente a


instituição escola, não podendo, contudo, ultrapassar os limites para tal,

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instrumentos específicos, testes e quaisquer formas de análise precisam
tramitar entre sua própria área, não fazendo uso de testes psicológicos,
psiquiátricos ou fonoaudiológicos. Porém, após um diagnóstico dado por outro
profissional, o psicopedagogo pode ser acionado, mas somente depois deste
dar o diagnóstico pertinente a sua área, e também, quando se nota que há
necessidade de outro profissional, o aluno deve ser encaminhado a este, o que
torna o trabalho escalonado em etapas.
Paín (1986), citada por Bossa (2007), entende que para cumprir os
objetivos, um psicopedagogo deve cumprir certas técnicas, sendo elas
organização de tarefas e graduação sobre a dificuldade destas, uma auto
avaliação após cada tarefa diante de sua finalidade, além da ciência do
histórico do processo de seu paciente, para então traçar a trajetória do
tratamento, informações devem ser angariadas para que possa ter substância
intelectual para o tratamento.
Quando um psicopedagogo inicia trabalho em uma escola, acredita-se
que este solucionará todos os problemas existentes, as dificuldades de
aprendizagem e ainda muitos além de sua intencionalidade, como indisciplina,
evasão escolar, desestímulo de professores, mas o profissional da
psicopedagogia não vem com todas as respostas, mas sim vem para
sistematizar e orientar um trabalho que deve acontecer em equipe, e deve
incluir todos da comunidade escolar, desde os gestores, equipe de apoio,
professores, alunos e familiares, o todo da instituição é o objeto de ação deste
profissional.

1.4 Psicopedagogo X Problemas de aprendizagem

Uma forte parceria que pode acontecer na escola é a do professor junto


ao psicopedagogo, esta proporciona uma aprendizagem de muito valor tanto
para o professor que contará com a expertise do profissional que mais entende
as dificuldades de aprendizagem, quanto para o psicopedagogo que terá ao
seu lado aquele que está presente e é o grande mediador de toda
aprendizagem. Alves (2015) ressalta ainda que inserido no processo escolar o
psicopedagogo deve estar imerso nele, participando de reuniões de pais e
ajudando a esclarecer dúvidas sobre o desenvolvimentos dos alunos, assim

16
como em conselhos de classe, trazendo sua contribuição para a avalição dos
professores, acompanhar as relações existentes na escola, entre alunos, aluno
e professor, alunos e demais profissionais escolares, bem como com qualquer
outra visita que aconteça, sugerindo ainda atividades e estratégias de apoio
para todos neste contexto.

[...] cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no


processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade
educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações
metodológicas de acordo com as características e particularidades
dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que
no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes
responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto
teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os
professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da
escola frente a sua docência e às necessidades individuais de
aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem. (BOSSA, 1994
apud ALVES 2015)

O principal trabalho psicopedagógico é ampliar o entendimento sobre


características, situações, problemas e necessidades de aprendizagem que um
aluno apresenta, apresentando a escola então, matéria prima para que as
metodologias sejam adaptadas e recursos sejam dispendidos para que essas
necessidades pedagógicas aconteçam, e qual melhor forma de fazer isso
senão analisando documentos como o PPP (Projeto Político Pedagógico) e
criando uma linha entre teoria e prática, outra forma é auxiliar o professor na
visão geral de seu aluno, haja vista que muitos problemas que a escola
enfrenta são fruto de situações sociais e afetivas, a indisciplina, por exemplo, a
dislexia, entre outros, que precisam ser analisados com muito cuidado e
trabalhados para não virarem um “grande monstro”. “Sabe-se que nunca há
uma causa única para o fracasso escolar” (Alves, 2015, p. 5), e também que
um aluno com dificuldade de aprendizagem não se refere a um aluno com
distúrbios ou deficiência mental, mas que alguns aspectos em um todo devem
ser trabalhados para que os níveis de aprendizagem sejam elevados.

17
Seabra 2020 nos apresenta os principais problema de aprendizagem,
onde acreditamos que todo profissional da psicopedagogia deva ter em mente,
entender e saber diagnosticar, são eles:

Dislexia: Dificuldade grande na aprendizagem da leitura e escrita, onde


a criança não relaciona os sons da fala com a grafia escrita, onde há troca de
letras de aspectos espaciais semelhantes, além da inversão de letras na
palavra ou de palavras na frase, ou ainda realiza separação de sílabas de
forma errada. Pode acontecer em três tipos: dislexia auditiva, cuja principal
característica é a dificuldade de relação entre o símbolo (grafema) e o som
(fonema), sendo causado possivelmente por um déficit no processamento
fônico ou auditivo central (Seabra, 2012), para estes alunos, precisamos de
recursos visuais, fortalecendo a forma de aprendizagem que é mais facilmente
elaborada, se utilizando de palavras já conhecidas pela criança, e realizar a
introdução de vocabulário diferente de forma progressiva e ordenada, além das
necessidades que cada aulo possa trazer consigo especificamente; dislexia
visual, que tem como característica a dificuldade na percepção por um possível
problemas na visão, que demanda um trabalho com adequação de recursos de
áudio, diminuição das informações em imagens e maior espaçamento entre
linhas, além das necessidade individuais de cada aluno, visando maior conforto
para a aprendizagem; e dislexia mista, que tem características de ambas
supracitadas, e onde o trabalho pedagógico deve se apoiar em recursos
auditivos, e em outros momentos em recursos visuais, uma abordagem
interessante são as propostas de caráter lúdico, que conseguem perambular
pelas duas vertentes. (Seabra, 2020, p.11-12).

Discalculia: Distúrbio que é associado à dislexia, mas acomete as


habilidades matemáticas do aluno. As dificuldades variam em dificuldades com
os números, não se sabe qual é maior ou menor, além dos sentidos de
arredondamento numérico, além da inversão em escrita numérica com muitos
algarismos, também na dificuldade de reconhecer padrões numéricos; outras
dificuldades apresentadas são nas questões escritas, interpretação do que se
pede, interpretação dos símbolos presentes nas questões, problemas de
memória, dificuldade nos processos de sequências numéricas e nas

18
representações gráficas. Estudos apontas seis tipos diferentes de discalculia: a
discalculia verbal, que a dificuldade é em nomear quantidades, termos,
relações, símbolos e números; a discalculia practognóstica, onde a dificuldade
se encontra em enumerar e comparar matematicamente; a discalculia léxica,
quando a dificuldade é na leitura dos símbolos matemáticos; discalculia gráfica,
quando se torna difícil a escrita de símbolos matemáticos; a discalculia
ideognística, onde o indivíduo tem dificuldade com operações mentais e a
discalculia operacional, que apresenta dificuldade na execução de operações e
cálculos. (Garcia, 1998 apud Seabra 2020). Para o atendimento a esse aluno,
as instruções precisam ser claras e breves, de vocabulário fácil, a utilização de
muitos exemplos pode dificultar a compreensão, um único exemplo bem
realizado é melhor aproveitado, não colocar muitas atividades em uma mesma
folha, cores, desenhos e símbolos podem ajudar na memória de curto e longo
prazo, canções e outras formas lúdicas de memorizar as regras matemáticas
são muito bem vindas.

Disgrafia: Transtorno / distúrbio vulgarmente conhecido como a “letra


feia”, onde o aluno apresenta grande dificuldade na escrita, excedendo o uso
da força sobre o papel, uso de grafias diferentes para a mesma letra ou ainda
fragmentação incorreta das palavras. Podendo acontecer de três formas:
disgrafia espacial, quando há comprometimento entre o processamento visual
e a compreensão especial, e se manifesta quando não se consegue escrever
em linha reta, desenhar ou colorir; a disgrafia motora, onde não há controle
muscular da mão e punhos e grafia fica desalinhada; e a disgrafia de
processamento ou disléxica, onde a dificuldade está em visualizar a aparência
das letras, portanto a caligrafia fica mal formada e na ordem errada. Para este
aluno, o uso de exercícios de caligrafia, devem ser evitados, pela ideia de
tortura a alguém que de fato não é responsável pelo seu problema, os
materiais devem ser adaptados conforme as habilidades motoras da criança, e
a letra utilizado por ela deve ser a que mais lhe trouxer conforto e segurança, o
acompanhamento psicopedagógico pode contribuir muito para esta dificuldade,
especialmente quando o comprometimento for mais grave.

19
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: O TDAH é um
transtorno de difícil diagnóstico, por ter comportamentos semelhantes a outros
transtornos, e tem sido muito estudado por isso. Este transtorno se caracteriza
por inadequação comportamental, além destes comportamentos serem
impulsivos e hiperativos, tendo associação com a dificuldade de manter
concentração e atenção em algo. Não é um problema de aprendizagem em si,
mas causa grande influência sobre essa aprendizagem. Muito se aprendeu
sobre este transtorno até hoje, e mudanças foram entendidas, hoje se entende
que meninos tem tendência à comportamentos agressivos, enquanto as
meninas tendem a ter comportamentos mais retraídos. É classificado em três
tipos diferentes conforme os sintomas de apresenta segundo Hudson (2019),
citado por Seabra (2020): TDAH predominante desatento; TDAH hiperativo e
TDAH mito. A conduta pedagógica para o aluno com este transtorno necessita
de muita atenção e planejamento, a rotina facilita o processo de aprendizagem
e traz confiança e segurança à criança, as atividades a serem realizadas ao
longo do dia devem estar evidentes para que o aluno não se perca;
abordagens multissensoriais ajudam muito, além da contextualização das
atividades e exemplos. O aluno com TDAH deve sentar na frente e tem a
necessidade de se movimentar em alguns momentos das aulas, atividade que
o ajudem a executar sua criatividade e atividades onde o aluno saia da sala de
aula devem ser executadas, mas tudo isso só irá funcionar se as regras da sala
de aula e de convívio forem bem claras a ele. Atividades lúdicas são muito
valiosas para este público, a prática da dança, dos esportes, do faz de conta
podem ser de grande interesse e a criança precisa ter autonomia para realizar
suas atividades.

Transtorno Opositor Desafiador: O TOD, é um transtorno elencado


recentemente e apresenta dificuldade em diagnóstico pelos mesmos motivos
do TDAH, a criança não compreende e aceita um sistema de regras, e também
pode atrapalhar o processo de aprendizagem. Ele se caracteriza pelo
comportamento desafiador, agressivo, irresponsável, humor irritável,
comportamento vingativo e dificuldade em assumir seus erros e atitudes,
podendo ainda apresentar características mais intensas como crueldade com
indefesos, sejam animais ou ainda crianças menores, crises de desobediência,

20
condutas incendiárias e roubos. Este aluno precisa ter regras claras,
combinados devem ser feitos com toda turma, as abordagens multissensoriais
também são boas nesse contexto, vale tentar identificar se a criança se
encontra em situação de risco ou vulnerabilidade que possam justificar o
comportamento opositor.

A sala de aula é um local heterogêneo, e pode conter mais de um aluno


com dificuldade de aprendizagem e tipos diversos de atividades, o que torna o
dia-a-dia muito difícil se todos não forem incluídos no processo. Portanto
compreender aquilo que possa dificultar a aprendizagem e ter a mente aberta
para considerar os diversos fatores que possam ter influência sobre este aluno
se faz necessário. Um fator que precisa ser muito claro para todos envolvidos
no processo de aprendizagem é que quando falamos dessa aprendizagem e
dos conhecimentos que levam a ela, não falamos apenas sobre os conteúdos
de cada disciplina, mas sobre todo desenvolvimento de vida do indivíduo, tudo
que seja necessário para um bem viver, para a formação de um cidadão,
pensante, crítico, ativo socialmente, entendendo que a aprendizagem está
diretamente relacionada à conduta do ser.
Como vimos, o lúdico pode conter diversos benefícios junto aos
problemas de aprendizagem, além de ter grandes benefícios para o
desenvolvimento de todos alunos, então vamos entender melhor sobre ele.

2 LÚDICO

2.1 Conceito e Historicidade

Qual o conceito de lúdico? De jogo, de criatividade? Só podemos pensar


na função prática e social destes elementos se soubermos o que significa cada
conceito, portanto, vamos conhecer.
A palavra ludicidade, não existe no dicionário de língua portuguesa, e
nem em diversas outras línguas, mas analisando etimologicamente, vamos
olhar para a origem da palavra, que vem do latim LUDUS, jogo, exercício ou
imitação. (Massa, 2015; SILVA, 2019).

21
Lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus”, que significa "jogo.
Forma de desenvolver a criatividade, os conhecimentos, através de
jogos, música e dança. O intuito é educar, ensinar, se divertindo e
interagindo com os outros. O primeiro significado do jogo é o de ser
lúdico (ensinar e aprender se divertindo). O Lúdico é eminentemente
educativo no sentido em que constitui a força impulsora de nossa
curiosidade a respeito do mundo e da vida. (SILVA, 2019, p.10)

Brougère, em seu estudo de 2003, identifica três significados diferentes


para a palavra:

a atividade lúdica; o sistema de regras bem definidas (que existe


independente dos jogadores); e o objeto (instrumento ou brinquedo)
que os indivíduos usam para jogar. Em alguns povos, que têm no jogo
um elemento forte da sua cultura, é possível encontrar diversas
denominações para designar diferentes atividades. Os gregos, por
exemplo, possuem duas palavras para jogo: a primeira paidia, é
relacionada ao brincar da criança e as formas lúdicas gerais, trazendo
a ideia de despreocupação e alegria. A segunda, agon, remete ao
mundo adulto das competições e concursos (que ocupavam um lugar
de destaque na Grécia antiga). (Brougère, 2003 apud Massa 2015).

Apesar de o termo não estar presente em nossa língua, Lopes (2004),


entende o termo como uma junção de cinco palavras:

- Brincar: significando se divertir, se entreter, foliar, gracejar;

- Recrear: derivação do termo “criar de novo”, a prática de atividade


lúdica que obedece a um determinado tempo, podendo ser entendido também
como aliviar o trabalho, ter um tempo de folga, satisfazer, alegrar-se;

- Jogar: derivado da palavra jocare, do latim e não de ludus, também é


a raiz da palavra jogo em várias línguas, relacionada à atividade para diversão,
para distração e entretenimento, prática de desporto, imitação;

22
- Lazer: do latim significa “tempo livre”, sendo associado ao ócio, à
liberdade, ao momento de fazer o que se deseja;

- Brinquedo: derivada da palavra brinco, trata de objetos utilizados


para o entretenimento da criança, além da própria brincadeira, artefatos
lúdicos.

Olhando para essa coletânea de termos e significações para


ludicidade, podemos olhar para a mesma e entende-la melhor através das
diversas visões que teve durante a história, assim como nos aponta Massa
(2015), na antiguidade, duas civilizações expressavam conceitos sobre o
lúdico, a Romana, que via o jogo como um espetáculo, algo a ser apreciado,
mas de experiência única catártica, e a Grega, que entendia o jogo como algo
vital para o indivíduo, como forma de construção do ser e expressão de seus
desejos, ainda hoje, algumas manifestações dessa época são observadas,
podemos observar no lúdico através do teatro, da dança, da música, da
expressão em si.
Já em outro período, o Medieval, a manifestação do lúdico toma outro
rumo, se tornando algo perigoso, proibido, onde a severidade e influência da
Igreja tentam suprimir toda forma de pensamento e ação que não estava nos
livros sagrados. Os descansos e momentos de lazer são os festejos religiosos,
e tudo que estiver além disso é considerado impuro, fato esse que não
extingue outros momentos, mas obriga seus participantes a se esconderem, a
ficarem à margem na busca pela diversão e prazer. (MASSA, 2015)
Para Lopes (2004), na modernidade, o lúdico deixa de ser uma simples
manifestação e passa a ser parte da vida do indivíduo, sendo vista como uma
tendência natural do ser, sendo observada nas artes, que o renascimento exibe
com tanto afinco, mostrando a elevação da valorização, onde um trabalho
sério, pode ser realizado com ludicidade. Nesse momento então, através desse
novo entendimento, o conceito de lúdico para a criança passa a ser estudado,
e o foco está no desenvolvimento dos infantes através do brincar. É aí, então,
que lúdico e educação passar a dialogar.
Tudo parece avançar de forma satisfatória, mas com a revolução
industrial, ao fim do século XVIII, e a valorização do trabalho, do fazer e da

23
economia, a ludicidade não é mais considerada útil, haja vista que não gera
riqueza, e ainda tira o foco do principal, que é a produção.
A visão contemporânea de lúdico e jogo se multiplica, dependendo do
autor que a estuda, Huizinga (2008, apud Massa 2015), entende que toda
atividade humana é jogo, que jogo e cultura estão diretamente ligados, já que
todos nós fazemos parte de uma sociedade, de determinada cultura, além de
ver o jogo sempre ligado à um propósito, o jogo em si não é o próprio motivo
para o mesmo.

O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de


certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras
livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de
um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e
de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida quotidiana
(HUIZINGA, 2008, apud MASSA, 2015).

Toda atividade lúdica se fundamenta no prazer, quando a criança brinca,


ela encontra este ponto de prazer, e através dos jogos e brincadeiras ela pode
realizar seus desejos, além de diminuir a intensidade de seus desprazeres, o
lúdico permite que haja uma transposição do real na fantasia, o que permite a
mesma que lide com seus erros, medos e angústias. O brincar proporciona
momentos únicos a criança, e nestes momentos, ganhos de cunho afetivo e
social, fortalecendo suas relações, sejam consigo mesma e com seus desejos,
corpo e limites, com seus brinquedos e todo meio que a cerca e com os grupos
ao qual pertence, além do prazer sensório motor que é evidenciado no lúdico.
Para entender melhor sobre como o lúdico se manifesta diante de uma
criança, precisamos entender o que dizem os principais autores do
desenvolvimento sobre este lúdico e sobre a importância do brincar.

2.2 A importância do Brincar

É fácil encontrar na literatura quem seja adepto do brincar,


especialmente na educação infantil, mas precisamos entender porque esse ato
é tão importante, e para isso, vamos usar o referencial de Antunes (2003) que

24
fala através de grandes nomes da psicologia (Vygotsky, Piaget e Freud), como
a brincadeira é um baú cheio de novas experiências e novas constituições do
ser.
No início do século XX, a criança é vista como um mini adulto, como
alguém que está em preparação, um alguém imaturo, que por essa imaturidade
não está pronto para o processo de aprendizagem, seja através do brincar, das
trocas com as outras crianças no momento da brincadeira, ou no contato e
significação com os objetos, o brinquedo era visto outrora, apenas como lazer e
fonte de “descanso” para os cansados pais. Em contradição total a esse
movimento, Vygotsky, alerta sobre o bem que a brincadeira traz na
transposição mental entre os significados e significantes, ele considera

o ato da brincadeira extremamente importante para o


desenvolvimento da criança. Dessa forma, as crianças se relacionam
de várias maneiras com significados e valores, pois, nas brincadeiras
elas ressignificam o que vivem e sentem. Portanto, sabe-se que a
brincadeira faz parte e sentido na vida das crianças. Dessa forma, as
crianças reproduzem várias situações concretas de adultos. Diante
disso, o educador deve utilizar as brincadeiras como ferramenta em
suas aulas para facilitar o aprendizado. Diante desse quadro, é bom
que o educador dê espaço para as brincadeiras lúdicas, pois elas
auxiliarão no aprendizado das crianças. Pode-se observar que as
brincadeiras não são apenas recreações, é mais do que isso, é uma
das formas de comunicação e interação da criança, consigo mesma,
com as outras e com o mundo. (BUENO, 2010, p.24)

Vigotsky cria o conceito de zona de desenvolvimento proximal, onde a


criança se utiliza de seu conhecimento prévio para transpor barreiras através
do contato com um mediador, que na primeira infância pode ser o colega, o
professor, ou o brinquedo:
“no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco
de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do
desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte
de desenvolvimento.” (VYGOTSKY, 1989, p. 117 apud JORGE, 2006), portanto,
não existe caminho mais breve e eficaz para o desenvolvimento da criança.

25
Urna condição muito interessante surge quando a criança, envolvida
em momentos de brincadeira, inclui nestas ações e objetos reais (da
sua vida e do mundo que a cerca). Esta é urna das características da
natureza de transição da atividade do brincar: é um estágio entre as
restrições puramente situacionais da primeira infância e o
pensamento adulto que pode ser totalmente desvinculado de
situações reais. (JORGE, 2006, p87)

Já Piaget vê o brincar como necessário na relação com suas fases de


desenvolvimento, desde a manipulação, a introdução da oralidade, passando
pela associação, pelo pensamento representativo, chegando aos conceitos de
classificação e seriação, por exemplo, o concreto imprescindível na primeira
infância passa a ter forma abstrata e se tornar de fato aprendido.

Piaget desenvolveu múltiplas investigações sobre o desenvolvimento


infantil a partir das quais construiu uma teoria complexa, onde revela
sua compreensão do mundo da criança, a comunicação com a
realidade exterior e seu processo de afirmação da personalidade. O
desenvolvimento do ser humano, para ele, vai do período
sensório-motor em direção ao período das operações representativas
e formais. Apresenta uma explicação de como a criança pensa, como
desenvolve a linguagem, o juízo e o raciocínio, as noções de tempo e
espaço, como se dá a representação infantil, a percepção e também
a afetividade. (...) Pode-se verificar, na sua obra, as explicações
permeadas pelo sentido biológico de equilíbrio, a partir do qual
fundamenta sua teoria. Entretanto, é possível identificar também um
estudo em torno da comunicação infantil, referente à construção da
noção de símbolo e as relações com desenvolvimento da linguagem.
E, para complementar, defende a ideia de que a afetividade está
sempre presente durante esse processo. Embora o seu principal foco
não esteja nas relações que a criança estabelece com o outro,
oferece subsídios para que possamos compreender melhor como
essa relação pode acontecer de forma mais saudável. (BACELAR,
2009, p. 34-35)

Em outro viés, mas também entendendo a importância da brincadeira,


Freud fala que nós nos construímos através da relação entre nosso consciente
e inconsciente, relação essa que gera uma energia vital ao ser, e que se

26
reprimida é algo terrível, causa de futuros problemas, e a melhor forma de
construir um processo de canalização saudável dessa energia, através de
estímulos, através das brincadeiras, que são proporcionam momentos de afeto,
sociabilidade, e de realização dos sonhos infantis. (Antunes, 2003)
Diante de tudo isso,

a escola precisa se dar conta que através do lúdico as crianças têm


chances de crescerem e se adaptarem ao mundo coletivo. A fantasia
é vista como uma forma de superar contextos difíceis e até dolorosos,
e auxilia na criatividade e na aderência com situações. A reiteração
refere-se à criança retomar, recriar e reinventar personagens e
situações inéditas no decorrer da brincadeira, pois a criança tem um
tempo reentrante que pode ser retomado, aberto e revivido. As
atividades lúdicas se trabalhadas corretamente, proporcionam
condições adequadas ao desenvolvimento físico, motor, emocional
cognitivo e social. (SILVA, 2019, p. 11)

O uso dos jogos no contexto escolar é deveras importante, segundo


Silva (2019), por sua grande influência frente aos alunos, por meio do lúdico e
da fantasia, o aluno reproduz situações vividas, e elas se tornam significativas
por poderem nestes momentos ser reelaboradas, se a criança está
emocionalmente envolvida no ato, o processo de aprendizagem através dele
ocorre de forma natural, extravasando os mais diversos sentimentos, alegrias,
entusiasmos, tristeza, introspecção, agressividade, por meio do jogo a criança
interagem consigo mesmo e seus sentidos e sentimentos, com o outro e com o
mundo, ela parte então para a fase de concretizar tudo isso que sem essa
oportunidade ficariam ocultos.

O jogo dramático possibilita às crianças possibilidades variadas de


aprendizagem e, além disso, desenvolve uma função do pensamento
extremamente importante para a vida na sociedade contemporânea: a
função simbólica ou semiótica, que vai influenciar diretamente na
capacidade de abstração e de raciocínio infantil. (PINHO, 2007, p.3)

Pinho (2007) entende que o jogo tem em sua estrutura uma grande
função simbólica, e através deles então, podemos entender e recriar diversos

27
símbolos de nossa cultura, podemos nos encontrar com a linguagem oral,
escrita, das artes, história, matemática, enfim, de diferenciadas áreas, então,
se a brincadeira fornecer um bom estímulo e for bem organizada, auxiliam sim
a aprendizagem infantil, em todas as funções corporais, mas especialmente
nas funções psíquicas.
Além das funções desenvolvimentistas sobre a importância do brincar,
precisamos abordar o benefício desta prática na manifestação da criatividade,
habilidade tão importante e presente na vida de qualquer criança, que
infelizmente, por não ser valorizada de forma própria acaba diminuindo
conforme a pessoa cresce, e oferecendo ao mundo pessoas cada vez menos
criativas.
A criança é um pensador lógico, ele diverge em seus pensamentos
encontrando as resoluções mais lógicas possíveis para cada situação e
conflito, o que nos remete à facilidade de criação deste público. A criatividade
se situa na cognição, porém sofre grande influência do domínio afetivo, tendo
relação direta com as emoções, relações e expressões da criança, ela é a
capacidade de responder de forma intelectual e emocional à suas experiências
sensoriais, o ser artístico da criança também está intimamente ligado ao
conceito de criativo, e este está intimamente ligado ao brincar.
Precisamos notar que várias são as formas de criatividade, e que aquele
que é bom em determinada forma de expressão, pode não ser bom em outra,
assim sendo, nas mais diversas formas de brincar, existem várias riquezas,
várias oportunidades, vários talentos, todos relacionados à nossa história,
nossa experiência de vida e nosso desenvolvimento. Temos então a variação
da aprendizagem e a variação das inteligências, o que nos remete ao conceito
de Inteligências Múltiplas que deve ser respeitado e incluído no planejamento
de aulas, nas estratégias de aula e também nas avaliações do processo de
aprendizagem.

2.3 O LÚDICO E A ESCOLA

Segundo registros históricos, a utilização do lúdico na educação esteve


presente em todas as épocas, sempre foi vista como importante ao ser humano
nos anos iniciais escolares, porém nos dias de hoje, a visão que se tem sobre

28
esse lúdico é bem diferente, vai muito além de uma importância simbólica, hoje
se tem estudos que revelam a efetiva ação sobre a criança.

Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil


(RCNEI) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) determinam
que a Arte seja uma área curricular tão importante como outros
conhecimentos no processo ensino e aprendizagem, e propõem sua
articulação às demais áreas, uma vez que favorece a expressão
criadora do aluno e permite a ele relacionar-se criativa e
significativamente com seu meio, o que o auxiliará no relacionamento
com as demais disciplinas curriculares e na vida em sociedade.
(BRASIL, 2006)

A criatividade é utilizada em diversas áreas, mas em grande parte delas


é forçada, movimento contrário ao da educação infantil onde acontece de forma
lúdica, natural, integral e bastante prazerosa. A criança envolvida no processo
otimiza seu potencial, e faz a aquisição de um repertório motor, social e
psicológico que só lhe beneficia. Esse contexto criativo na escola deve criar a
necessidade de uma maior entrega do aluno, de uma aproximação com o
objeto estudado, deve levar o aluno a desejar ir além do ofertado a ele, temos o
que nos é pautado, mas o mais incrível da criação é o potencial que tem de um
avanço antes impensado do tema.

O sentido básico da criatividade na educação infantil é o de atividade


mediadora e não atividade fim. A criatividade não é, em si mesma, um
conteúdo específico, mas um meio de se trabalharem os conteúdos
específicos. Para que isso ocorra, é imprescindível a existência do
educador, que, interagindo com as crianças, planeja e propicia a ação
educativa, com a utilização da criatividade, sua e de seus alunos.
(SCHIRMER, 2001)

Ainda segundo Schirmer (2001), a criatividade é uma auto realização


para o aluno, é o momento e o espaço onde ele se coloca ativamente diante de
seus pensamentos e ideia, é onde ele vai encontrando seu lugar dentro da
sociedade.
Muitas escolas realizam atividades lúdicas com seus alunos, porém
essas atividades se restringem à exercícios repetitivos, com intenção apenas

29
viso-motora ou auditiva, se utilizando de músicas, desenhos ou brinquedos.
Esta sistematização do lúdico não se torna significativa para a criança, parece
que é apenas o professor impondo seu saber até na forma mais pura de
manifestação de uma criança, seu brincar. É de fundamental importância que a
escola tenha espaço e momento propício para o lúdico, este deve ser
estimulado e não imposto, só assim conseguiremos obter o máximo de todos
os benefícios que esta prática nos oportuniza.
O papel da educação, é a formação de pessoas críticas, criativas,
inventivas, desbravadoras, que sejam ativos e não meros replicadores de
cultura e conhecimento, tendo em vista esse objetivo, a escola precisa formar
desde cedo crianças com essas características, repetições, neste caso, não
são bem vindas, o desenvolvimento deve acontecer em todas as esferas da
educação, especialmente no contexto da educação infantil, onde ela precisa do
maior número possível de estímulos, tendo em vista sempre a bagagem que a
criança traz consigo, o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal de
Vygotsky, que influi diretamente em quem aquele aluno é, e em quem ele pode
ser, este aluno tem muito a contribuir e também muito a aprender, mas a escola
por vezes negligencia esse fato, trata a criança como um ser inacabado,
incompleto que precisa ser preenchido de conhecimento, e mais, do
conhecimento que o professor ache necessário para ele, sem considerar
nenhum outro fator. Quando isso ocorre, a criança se sente bloqueada, sua
naturalidade, seu imaginário e sentimentos ficam reclusos, ela não se percebe
como o ser que é, mas sim como o ser que deveria ser. “O brincar corresponde
a um impulso da criança, e este sentido, satisfaz uma necessidade interior, pois
o ser humano apresenta uma tendência lúdica”. (RIZZI e HAYDT, 1987, p.14).
Outro fator atraente no lúdico aplicado à prática escolar é a contribuição
para aulas e momentos mais prazerosos, mais dinâmicos, que, como já vimos,
é uma indicação para alguns transtornos de aprendizagem. É preciso que as
brincadeiras contribuam para o desenvolvimento da criança de forma
bio-psico-afeto-social, se manifestando sobre o todo que deseja trabalhar, para
o indivíduo total que se deseja obter. O lúdico não pode estar ligado apenas ao
prazer e diversão, ele precisa ser visto como forte estratégia para a
aprendizagem, seu carácter educativo deve ser evidenciado. O aprendizado na

30
criança se dá de forma lúdica, o brincar é um ato que adultos e crianças
buscam para explorar diversas situações.

Considerem, por exemplo, quando uma pessoa adquire um novo


equipamento, tal como uma máquina de lavar a maioria dos adultos
vai dispensar a formalidade de ler o manual de ponta a ponta e
preferir brincar com os controles e funções. Através deste meio, os
indivíduos chegam a um acordo sobre as inovações e se familiarizam
com objetos e materiais: nas descrições do brincar infantil isso é
frequentemente classificado como um brincar funcional. Esta
experiência prática de uma situação real com um propósito real para
o suposto brincador, normalmente é seguida pela imediata
aprendizagem das facetas da nova máquina, reforçada
subsequentemente por uma consulta ao manual e consolidada pela
prática. A semelhança deste processo com uma forma idealizada de
aprendizagem para as crianças pequenas é inevitável. Mas será que
o brincar é verdadeiramente valorizado por aqueles envolvidos na
educação e na criação das crianças pequenas?

O brincar ainda hoje é visto como uma tarefa pós trabalho, como uma
compensação ou um momento apenas para diversão, o que diminui muito seu
fator educador, e o pior, ainda se vê nas escolas quem entenda o brincar como
algo ruim, desnecessário e que causa situações problemas, barulhos e
bagunça, atrapalhando a aula. Este tipo de concepção não pode mais existir,
precisamos quebrar esse conceito e valorizar tudo de bom que possa existir no
mundo do brincar.

2.4 A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO LÚDICA

As crianças são seres construídos histórica e socialmente, são frutos do


processo aos quais são expostas e trazem consigo o jeito adquirido através
das vivências de seu cotidiano, portanto, cada uma se manifesta no mundo de
uma forma, e a educação infantil têm essa missão, extrair o melhor de seus
alunos, proporcionando vivências lúdicas que auxiliem na construção da
personalidade e na aquisição de repertório motor. (Dallabona; Mendes, 2004)

31
A educação, especialmente na primeira infância, precisa ser permeada
de lúdico, a criatividade leva a criança a alçar voos, representar de forma
concreta seus sonhos e internalizar as mais diversas sensações oriundas de
todo esse processo de socialização.

A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para


resolução dos problemas que as rodeiam. A literatura especializada
no crescimento e no desenvolvimento infantil considera que o ato de
brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o
fazer em si, um fazer que requer tempo e espaço próprios; um fazer
que se constitui de experiências culturais, que são universais, e
próprio da saúde porque facilita o crescimento, conduz aos
relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação
consigo mesmo e com os outros. (DALLABONA; MENDES, 2004, p.
109)

Notamos então, através das referências supracitadas que o melhor


caminho para a educação é o brincar, mas infelizmente os pais se esqueceram
de como brincar é importante, fato que aumenta ainda mais a responsabilidade
da escola e dos professores, que cientes destes benefícios precisam fazer
valer de sua criatividade.
Tudo pode acontecer de forma lúdica, seja para adultos ou crianças, seja
no contexto que for, o ser humano tem a capacidade de transitar entre o lúdico
e o sério dentro de uma mesma situação, mas isso precisa ser evidenciado e
trabalho, a criança chega na escola com receios e constrangimentos, e
dificilmente terão os mesmo comportamento que em casa, além do fato de que
se há indicação de uma tarefa dirigida, pouco a criança se sentirá livre para
realiza-la, afinal ela precisa estar atenta aquilo que é “preciso” fazer, não
levando em conta o que ela “poderia” ou ainda “gostaria de fazer”, cabe então
aos profissionais que compõe a comunidade escolar trazer a motivação
extrínseca para essa brincadeira, a intrínseca já está lá, mas precisa ser
despertada.
Para as crianças menores, a aprendizagem acontece em menor número,
mas estas podem ser de fato consideradas, elas são verdadeiras em suas
experiências, no brincar livre a criança aprende sobre si e sobre os outros,

32
sobre situações diversas que as rodeiam, no brincar dirigido de forma correta e
levando em conta os objetivos a serem alcançados, a criança tem uma outra
gama de aprendizagem, portanto trazer o melhor destes dois universos é o
mais indicado, o estímulo para que todas as potencialidades daquele ato
aconteçam precisa existir, e toda forma de brincar precisa ser considerada.

33
CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Criançada correndo na rua


não tem mais, não tem mais
pedalando uma bicicleta
não tem mais, não tem mais
estão todas atadas a tablets
e os raios que saem da tela
fazem danos às cabecinhas
provocando-lhes comportamentos
curtos-circuitos neurais!”

(Angélica Freitas)

Através deste estudo, pudemos identificar a natureza do lúdico, e a


importância da criatividade no contexto da educação infantil, a aprendizagem
compreende as capacidades emocionais, afetivas, sociais e cognitivas, e em
especial o permear da criança por todas essas capacidades de forma saudável.

Entende-se que a aprendizagem e comportamento esperados dos


educandos é a promoção na integração social mais abrangente, com
aceitação de regras, limites, respeito e automotivação a fim de se
tornar um adulto consciente e capaz de participar da sociedade de
forma positiva. O que foi possível concluir é que a ludicidade
introduzida nas práticas pedagógicas se faz obrigatória, pois é
através dela que a criança aprende sem entender que está sendo
ensinada, imergindo em conteúdos diversos, explorando o mundo que
a rodeia, fazendo conexões e aprimorando seu lado motor e
intelectual. (SILVA, 2019, p. 21)

O lúdico então, facilita a aprendizagem infantil e pelo fato de estar


presente nas brincadeiras e jogos, se torna muito significativa, mas quando se
tem o desejo de aprendizado concreto de algo específico, a orientação de um
professor se faz necessária para atingir o objetivo final. Essa orientação cabe

34
ao professor que estuda a ludicidade e toma pra si sua teoria, sua prática e
seus aspectos específicos, pode utilizá-lo como recurso pedagógico,
aumentando sua gama de abordagens, além de se utilizar de uma premissa
aceita literalmente pelo mundo acadêmico. Cabe a esse educador também,
enquanto propagador de conhecimento, veicular de forma constante as funções
educativas do lúdico, de acordo com cada grupo e suas necessidades
pedagógicas.

A reflexão do educador poderá apontar caminhos que atendam às


exigências das novas situações educativas. O lúdico utilizado pelo
professor em sala de aula torna-se, então, um meio para a realização
dos objetivos educacionais, e o aluno, ao praticá-lo, não se limita à
sua ação livre, iniciada e mantida pelo prazer de jogar, mas participa
ativamente do processo de construção do conhecimento. (RAU, 2012,
p. 14).

Aponta-se neste estudo, portanto, a variação de caminhos que o


professor de educação infantil pode seguir, e fortalece a questão de que
apenas sendo uma prática reflexiva, e concreta, onde o ator dela tenha real
certeza de seus benefícios ela terá êxito no processo ensino aprendizagem.

A brincadeira favorece ainda o desenvolvimento da auto-estima, da


criatividade e da psique infantil, ocasionando mudanças qualitativas
em suas estruturas mentais. Através das brincadeiras, as crianças
desenvolvem também algumas noções de grande importância para a
vida em sociedade, como a noção das regras e também dos papéis
sociais. (PINHO, 2007, p.5)

Diante do quadro exposto, a priori fica a o referencial de que se deve


utilizar da prática lúdica em todo contexto de aprendizagem e especialmente na
educação infantil, haja vista que esta é a fase da vida onde mais se preconiza o
brincar. Já a posteriori, vale a reflexão futura sobre o que a escola enquanto
instituição genuína de ensino tem abordado para estímulo dos alunos e se o
professor está pronto para mudanças reais em sua prática pedagógica. Entra

35
ai, então a figura importantíssima do psicopedagogo, sendo aquele que vai
guiar aos membros da escola para uma real prontidão no aceite dessas
mudanças e também no auxílio deste caminhar tão árduo, porém necessário,
além de atuar diretamente com os alunos, ajudando-os a descobrir a riqueza
de seu potencial, a entender seus problemas e dificuldades, e estimulá-los na
busca por outras formas de aprender.

36
REFERÊNCIAS

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Institucional: Análise sobre o psicopedagogo e a sua atuação no campo
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