Módulo 1 - Introdução Às Migrações Internacionais
Módulo 1 - Introdução Às Migrações Internacionais
Módulo 1 - Introdução Às Migrações Internacionais
e Orientações para o
Atendimento
Módulo
1 Introdução às
migrações internacionais
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Equipe responsável
Ana Beatrice Neubauer de Moura (Revisora de texto, 2021).
Ana Carla Gualberto Cardoso (Diagramação, 2020).
Ana Paula Medeiros Araújo (Direção de arte, 2021).
Gabriel Silvestre Marques Boere (Implementador Rise 360º, 2021).
Ivan Lucas Alves Oliveira (Coordenador de produção, 2021).
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos - MMFDH (Conteudista, 2020).
Patrick Oliveira Santos Coelho (Implementador Moodle, 2021).
Priscila Campos (Coordenadora de desenvolvimento, 2020).
Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT / Laboratório
Latitude e Enap.
Enap, 2021
Glossário......................................................................................... 15
Referências ..................................................................................... 16
A migração abarca uma grande variedade de situações. Por vezes, os contextos de migração e
deslocamento forçado podem ser traumáticos, tanto pelas condições no país de origem que
levam à migração – como guerras e conflitos, desastres naturais, perseguição, entre muitos outros
– quanto pelas condições da travessia, que podem ser difíceis – incluindo trajetos inseguros,
com exposição a riscos de violência, exploração e abuso; ou por consequência de eventos que
ocorrem na chegada ao país de destino – incluindo o medo de sofrer uma deportação ou de ser
impedido de entrar ao país, a falta de meios de subsistência, entre outros.
Mas é importante também ter em mente que, apesar das dificuldades que podem caracterizar
os processos migratórios, estes também têm um imenso potencial para beneficiar tanto os
migrantes quanto às sociedades de acolhida e de origem. O desenvolvimento de capacidades
para a acolhida de migrantes contribui para promover esse potencial.
Para você começar a se familiarizar com o assunto, sugerimos que você escute os episódios do
podcast “Rádio Orinoco”, que exploram os diálogos interculturais entre pessoas do Brasil e da
Venezuela que vivem em Roraima.
O termo inclui grupos bem definidos de pessoas, tais como trabalhadores migrantes; pessoas
cuja situação jurídica é claramente definida, tais como vítimas do tráfico de pessoas e migrantes
contrabandeados; assim como aqueles cuja situação ou tipo de movimento não estão
especificamente definidos no direito internacional, tais como estudantes internacionais.
Assim, segundo essa definição, um migrante é qualquer pessoa que está se movimentando, ou já
se movimentou, através de uma fronteira internacional ou dentro de um Estado, saindo do seu
lugar habitual de residência, independente:
As motivações são diversas e na maioria das vezes a migração responde a vários motivos
interconectados. Esses deslocamentos podem ser voluntários ou involuntários, ou ainda uma
mistura complexa entre ambas situações.
É considerada refugiada a pessoa que, temendo ser perseguida por motivos de raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade
e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país. No Brasil
e na América Latina, o termo também inclui pessoas que tenham fundado temor de retornar ao
seu país devido a uma grave e generalizada violação de direitos humanos.
No entanto, muitas vezes as situações de apatridia estão relacionadas à migração, por exemplo
quando filhos de migrantes não são reconhecidos nem pelo país que confere nacionalidade
aos seus pais, nem pelo país em que nasceram. A apatridia pode resultar em situações de
vulnerabilidade e em obstáculos significativos no acesso a direitos. Por esses motivos, vários
países no mundo, inclusive o Brasil, se comprometeram a tomar medidas para eliminá-la.
Por vezes, pessoas que se veem obrigadas a abandonar o seu local de origem ou residência
porque temem pelas suas vidas não chegam a cruzar uma fronteira internacional. Os motivos para
esse tipo de deslocamento podem ser diversos, como é o caso de conflitos armados, situações
de violência generalizada, violações de direitos humanos, desastres naturais ou provocados por
ação humana, entre outros.
Destes, estima-se que 25,9 milhões são refugiados, e 3,5 milhões são solicitantes de refúgio.
Também se calcula que cerca de 65 milhões de pessoas estão em situação de deslocamento
forçado, interno ou internacional. Entre elas, cerca de 18,8 milhões estão em deslocamento
forçado por motivos relacionados ao meio ambiente, tais como processos de desertificação e
degradação do solo ou desastres naturais.
O impacto econômico positivo das migrações também é considerável: estima-se que os migrantes
produziram cerca de 7 trilhões de dólares do PIB mundial em 2018. As remessas – o dinheiro
enviado pelos migrantes às suas famílias e comunidades no país de origem – estão estimadas em
cerca de 466 bilhões de dólares apenas no ano de 2018, somando cerca de três vezes o valor da
assistência oficial ao desenvolvimento.
A América do Sul acolhe mais de 8 milhões de migrantes internacionais, que compõem cerca de
1,9% da população do continente. O gráfico a seguir representa como estão distribuídos esses
migrantes pelos diferentes países, com retângulos proporcionais ao número de migrantes em cada
país. Assim, vê-se que a Argentina é o principal local de residência dos migrantes internacionais
que vivem na região, seguida pela Venezuela e Colômbia. O Brasil aparece em 5º lugar, depois do
Chile, com cerca de 800 mil migrantes internacionais.
2_ Disponível: <https://migrationdataportal.org>.
No entanto, de forma geral quase todos os países do continente tiveram mais emigrantes do que
imigrantes em 2019, isto é, em quase toda a América do Sul o número de pessoas que foram
viver fora de seus países de nacionalidade (emigrantes) é maior do que o número de pessoas de
outras nacionalidades que vieram viver nestes países (imigrantes), como se pode ver no gráfico
a seguir.
No caso do Brasil, os brasileiros que emigraram em 2019 foram ao menos o dobro dos imigrantes
que o país recebeu. Exceções a esta tendência são a Argentina, o Chile e a Costa Rica, que
receberam mais imigrantes em 2019 do que os argentinos, chilenos e costa-riquenses que
emigraram.
O Brasil foi o país com mais pessoas afetadas por deslocamentos forçados devido a desastres
naturais em 2019, cerca de 100 mil pessoas foram obrigadas a abandonar seus locais habituais
de residência por essa razão.
Ao longo do processo migratório, a situação jurídica da pessoa pode se alterar. Ela pode, por
exemplo, chegar ao país com um visto de turista e depois pedir uma autorização de residência,
ou começar um processo de naturalização no seu país de destino.
Por vezes, os migrantes permanecem durante algum período ou mesmo durante toda a sua
estadia sem ter uma autorização formal para residir ou trabalhar no país. A situação jurídica é
um aspecto importantíssimo da experiência das pessoas migrantes e isso pode ter um grande
impacto na qualidade de vida e no acesso a direitos.
No entanto, é importante saber que as pessoas migrantes têm direitos inalienáveis, que são
independentes da sua situação jurídica. O conjunto de instrumentos de direitos humanos, que
abordaremos no Módulo 2, protege a todas as pessoas sem discriminação alguma; isto quer dizer
que nenhuma pessoa pode ser discriminada por causa da sua nacionalidade ou situação migratória.
No Brasil, as pessoas migrantes têm também garantidos os seus direitos pela Constituição Federal
e pela Lei de Migração, entre outras referências. O Módulo 3 apresentará esses direitos, além de
abordar as principais formas de regularização migratória no Brasil. Por fim, alguns migrantes têm
também direitos específicos, como as crianças migrantes. Abordaremos este tema no Módulo 6.
h,
Destaque,h
E os migrantes ilegais?
Migrantes em situação administrativa irregular podem estar em uma ou mais das seguintes
situações:
Caso você queira pesquisar mais sobre migrações internacionais, há várias fontes de dados que
podem ser consultadas. A seguir, você encontra alguns lugares por onde começar.
No Brasil, os dados sobre migrantes internacionais são compilados pela Polícia Federal e
trabalhados pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) da Universidade de
Brasília (UnB). O OBMigra, que é fruto de uma parceria entre a UnB e o Governo Federal, lança
todos os anos um relatório com os dados atualizados sobre migrações internacionais no Brasil.
Como agência líder no tema das migrações, a Organização Internacional para as Migrações
publica vários dados e resultados de pesquisas sobre migrações. A OIM consolida informações
de várias fontes diferentes no Portal de Dados sobre Migrações.
Nos países em que essa organização atua, são aplicadas também as Pesquisas de Monitoramento
de Deslocamentos (DTM). A OIM é a única organização a consolidar e monitorar os dados de
migrantes desaparecidos durante o trajeto migratório através do Projeto Migrantes Desaparecidos
(Missing Migrants Project). Também produz, junto a diversos parceiros, dados sobre tráfico de
pessoas. A organização conta ainda com uma biblioteca virtual de livre acesso.
A nível internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) publica diversos dados sobre
migrações. A principal referência são os dados da Divisão de População, Departamento de
Assuntos Econômicos e Sociais (UN-DESA), que consolida as informações nacionais fornecidas
por todos os Estados-Membros da ONU. Os dados podem ser acessados livremente.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) publica pesquisas e dados sobre crianças
migrantes, destacando-se o relatório A Child is a Child, de 2017. A Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) dedicou o seu relatório anual de 2018 aos desafios
para a educação de crianças e adultos migrantes e refugiados.
Glossário
+ Apátrida
Uma pessoa que não é considerada sua nacional por nenhum Estado, conforme a
sua legislação.
+ Diáspora
+ Emigrante
Uma pessoa que se move do seu país de nacionalidade ou residência habitual para
outro país, o qual se torna efetivamente o seu novo país de residência habitual.
+ Migrante
• Temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social
ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode
ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que.
• Não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha a sua residência
habitual, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.
Referências
Figures at a Glance. UNHCR - The UN Refugee Agency, 2019. Disponível em: http://www.unhcr.
org/figures-at-a-glance.html. Acesso em: 9 nov. 2020.
IOM. International Organization for Migration. Glossary on Migration, n. 34. Genebra, 2019.
IOM. International Organization for Migration. 2019). World Migration Report 2020. Genebra,
2019. Disponível em: https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf. Acesso em:
9 nov. 2020.
UN. United Nations. International migrant stock 2019. Department of Economic and Social
Affairs, 2019.
UNHCR. United Nations High Commissioner for Refugees. Convention and Protocol Relating to
the Status of Refugees, 1951. Disponível em: http://www.unhcr.org/3b66c2aa10. Acesso em: 09
nov. 2020.
VIDAL, E. M.; TJADEN, J. D. Global Migration Indicators. IOM’s Global Migration Data Analysis
Centre: Berlim, 2018. Disponível em: https://publications.iom.int/system/files/pdf/global_
migration_indicators_2018.pdf. Acesso em: 09 nov. 2020.