Processo Previdenciário

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PROCESSO PREVIDENCIÁRIO

ADMINISTRATIVO E JUDICIAL
RESUMO DA UNIDADE

Esta unidade tratará do processo previdenciário, iniciando pela via administrativa,


com os procedimentos adotados para o requerimento de benefício no INSS e
quando indeferido pelas possibilidades de utilização da via recursal, demonstrando a
composição e o funcionamento do sistema de recursos administrativos. Nos passos
seguintes, será estudado o processo judicial, que pode tramitar no rito do Juizado
Especial ou no rito ordinário, cada qual com seus princípios e procedimentos, desde
o ajuizamento da ação até o processamento dos recursos cabíveis em cada
instância. A vasta Jurisprudência previdenciária também vai ser estudada de modo a
se buscar agregar conteúdo específico da matéria. Por fim, ainda nesta Unidade,
será estudado o dano moral previdenciário, somente possível no âmbito judicial.

Palavras-chave: Previdência Social. Processo Administrativo e Processo Judicial


Previdenciário. Dano Moral Previdenciário.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................... 4


CAPÍTULO 1 – DO PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO ................. 5
1.1 Fase Instrutória do Processo Administrativo Previdenciário. ......................... 7
1.2 Fase Decisória do Processo Administrativo Previdenciário. ........................ 12
1.3 Recurso Administrativo ................................................................................ 14
1.3.1 Recurso Ordinário ........................................................................................ 17
1.3.2 Recurso Especial. ........................................................................................ 17
1.4 Embargos de Declaração e Erro Material. ................................................... 19
1.5 Revisão de Acórdão ..................................................................................... 20
1.6 Reclamação no âmbito do Recurso Administrativo ...................................... 20
1.7 Uniformização de Jurisprudência ................................................................. 21
CAPÍTULO 2 – DO PROCESSO JUDICIAL PREVIDENCIÁRIO ............................. 24
2.1 Competência em matéria previdenciária ...................................................... 24
2.2 Ações previdenciárias .................................................................................. 26
2.3 Processo Judicial – ajuizamento e primeira instância .................................. 27
2.4 Prova no processo previdenciário ................................................................ 29
2.5 Recursos ...................................................................................................... 37
2.5.1 Recursos nos Juizados Especiais ................................................................ 37
2.5.2 Recurso no rito ordinário .............................................................................. 38
2.6 Processo Previdenciário nos Tribunais Superiores ...................................... 41
2.7 Mandado de Segurança ............................................................................... 47
2.8 Sustentação oral e técnicas de audiência .................................................... 48
CAPÍTULO 3 – DO DANO MORAL PREVIDENCIÁRIO .......................................... 50
3.1 Dano moral: caracterização no direito civil ................................................... 50
3.2 Dano moral previdenciário – caracterização ................................................ 57
3.3 Dano moral na Jurisprudência ..................................................................... 63
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

O processo previdenciário começa na via administrativa, com o requerimento


no INSS, atualmente realizado apenas pelos sistemas eletrônicos. Uma vez
indeferido ou concedido de forma errada, o segurado tem o direito de recorrer
administrativamente, bem como interpor ação judicial.
O processo administrativo obedece às regras e procedimentos da Lei 9784/99
e a Instrução Normativa n. 77/15, e o recurso administrativo está sendo regulado
pela Portaria 116/17 do Ministério do Desenvolvimento Social, que trata do
Regimento Interno do Conselho de Recursos da Previdência Social.
A ação judicial obedece aos procedimentos do Código de Processo Civil ou da
Lei 10.259/01, neste caso, se o rito foro do Juizado Especial Federal. Dentre as
ações previdenciárias, destacam-se as de concessão e de restabelecimento de
benefícios. Em alguns casos, cabe também o Mandado de Segurança.
Tendo em vista o duplo grau de jurisdição, há vários recursos cabíveis, como
apelação, recurso especial, extraordinário, embargos, dentre outros. No Juizado
Especial Federal, além do recurso inominado, em segunda instância, cabem
incidentes de uniformização, para dirimir controvérsias de matéria de direito.
Nesse capítulo, também trataremos do dano moral previdenciário, sob o
aspecto da caracterização civil e previdenciária.
Por fim, desejo que este texto contribua para o estudo do processo
previdenciário e o dia a dia da advocacia. Bons estudos!

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CAPÍTULO 1 – DO PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO

O processo administrativo, em âmbito federal, é regulado pela Lei 9.784/1999,


destacando-se o Art. 2º, que dispõe sobre os princípios gerais e critérios a serem
observados no andamento de quaisquer processos de competência da
Administração Pública Federal. De acordo com esse dispositivo, a Administração
deve se guiar pelos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
interesse público e eficiência.
Além disso, nos processos administrativos de atuação, deve ser conforme a lei
e o Direito. Deve-se primar pelo atendimento a fins de interesse geral, não se
podendo renunciar total ou parcialmente de poderes ou competências, salvo
autorização em lei. As ações devem ser revestidas de objetividade no atendimento
do interesse público, sendo vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades.
A legislação também prevê a atuação segundo padrões éticos de probidade,
decoro e boa-fé. Os atos administrativos devem ser divulgados, ressalvadas as
hipóteses de sigilo previstas na Constituição. Nesse sentido, é de questionar se as
informações sobre os benefícios pagos pela Previdência Social deveriam ser
públicas ou não. Podemos comparar:
 VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações,
restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente
necessárias ao atendimento do interesse público;
 VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a
decisão;
 VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos
administrados;
 IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau
de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados;
 X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações
finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos processos
de que possam resultar sanções e nas situações de litígio;

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 XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as


previstas em lei;
 XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da
atuação dos interessados;
 XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta
o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa
de nova interpretação.
O processo administrativo previdenciário, por sua vez, é regulado pelas
instruções normativas publicadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social, o INSS.
No que tange ao direito material, as INs detalham questões que as Lei 8.212 e
8.213, ou mesmo o Decreto 3.048/99, incumbiram ao Poder Executivo decidir.
Sobretudo, por outro lado, as instruções normativas visam a instruir os
procedimentos envolvidos nos pedidos de benefícios que são da alçada da
Previdência Social – e também da Assistência Social, considerando que o INSS é
responsável pela concessão e manutenção dos benefícios assistenciais.

IMPORTANTE
Aplica-se ao processo administrativo previdenciário, no âmbito do INSS, a Lei
9.784/99, que trata do processo administrativo federal.

A mais recente instrução normativa, utilizada ainda hoje, é a IN 77/2015. No


que diz respeito ao processo administrativo em si, dispõe detalhadamente sobre os
princípios e sobre as fases processuais decorrentes de um pedido feito ao INSS.
Inicialmente, salienta-se a definição própria de processo administrativo é o
conjunto de atos administrativos relativos aos benefícios previdenciários que são
realizados nos Canais de Atendimento da Previdência Social, iniciado em razão de
requerimento formulado pelo interessado, de ofício pela Administração ou por
terceiro legitimado, e concluído com a decisão definitiva no âmbito administrativo.
Embora esse seja o conceito legal, na prática os benefícios são requeridos,
atualmente, apenas pelo meio digital (pelos sistemas Meu INSS ou INSS Digital).
Até então, era possível protocolar pelo fone 135, pela Internet e nas Agências da
Previdência Social.

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O processo administrativo previdenciário contemplará as fases inicial,


instrutória, decisória e recursal. Hoje, as fases inicial e instrutória ficam a cargo do
segurado ou seu procurador, embora o INSS possa e deva emitir exigências para
que o benefício possa ser concedido.
Em que pese todas as disposições gerais sejam de suma importância para
compreender o processo administrativo, destaca-se a necessidade de
fundamentação das decisões administrativas. O destaque se deve ao fato de que
não são raros, no processo administrativo, atos administrativos destituídos de
fundamentação e também da devida indicação de documentos e elementos que
levaram à concessão ou ao indeferimento do benefício ou serviço.

FIQUE ATENTO
A Instrução Normativa 77/15 do INSS incorporou, no capítulo que trata do Processo
Administrativo, todos os princípios da Lei 9.784/99.

1.1 Fase Instrutória do Processo Administrativo Previdenciário.

Sobre o pedido de benefício em si, a IN 77/2015 ainda refere que o


requerimento de benefícios e serviços deverá ser solicitado pelos canais de
atendimento da Previdência Social (atualmente, apenas pelo Meu INSS e pelo INSS
Digital). Assim, toda normatização que se refere aos benefícios e serviços
agendáveis quase não se aplica mais, porque é desnecessário o comparecimento
presencial. Porém, ainda permanece necessário o atendimento a algumas
exigências.
Assim, atualmente, considerando-se o advento do Meu INSS e do denominado
INSS Digital, implementados mediante Acordos de Cooperação Técnica, as formas
de solicitação de benefícios foram facilitadas, mas, simultaneamente, tornaram-se
mais restritas, sendo, basicamente, duas:
Quando, no protocolo do pedido, são feitas as seguintes perguntas ao cidadão:
 Possui tempo especial?
 Possui tempo rural?
 Trabalhou no exterior?

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 Professor?
 Militar, Servidor?
 Aposentadoria proporcional?
 Reafirmação da DER?
 Aceita acompanhar o requerimento via Meu INSS, e-mail ou Central 135?
Tais perguntas orientam a análise do pedido por parte do servidor responsável
e informam sobre a necessidade de emitir carta de exigências para que o segurado
apresente documentação referente aos seus vínculos. A carta de exigência também
deverá ser emitida, ainda que todos os vínculos do cidadão estejam registrados no
CNIS, caso haja alguma irregularidade neste. Conforme determina a IN 77/2015, a
comprovação dos dados divergentes, extemporâneos ou não constantes no CNIS
cabe ao requerente. Nos casos de dados divergentes ou extemporâneos no CNIS,
cabe ao INSS emitir carta de exigências. Quando os documentos apresentados não
forem suficientes, mas constituírem início de prova material, o INSS deverá realizar
as diligências cabíveis. Entre as hipóteses, estão a consulta aos bancos de dados
colocados à disposição do INSS, a emissão de ofício a empresas ou órgão, a
pesquisa externa e a justificação administrativa, dentre outras.
Por outro lado, no protocolo pelo Meu INSS, caso o segurado tenha exercido,
por exemplo, atividade rural, serviço em condições especiais, militar ou serviço
público, recomenda-se que os documentos, desde já, sejam anexados para evitar
que o benefício seja indeferido sem a emissão de carta de exigências.

PARA SABER MAIS


Livro sobre o assunto: BEIRÃO JR, Gustavo. Processo Administrativo
Previdenciário e sua efetividade. Curitiba: Juruá, 2019.
TRICHES, Alexandre Schumacher. Direito Processual Administrativo
Previdenciário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

Também, pode ser realizado protocolo por entidade conveniada. O sistema


chama-se INSS Digital. Os representantes de entidades que firmaram Acordos de
Cooperação Técnica com o INSS têm a opção de fazer o protocolo de pedidos
administrativos previdenciários em canal próprio, no site requerimento.inss.gov.br.

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Para acessar o sistema, os representantes deverão fazer cadastro para obter login
junto à entidade conveniada correspondente. No caso dos advogados, deverão
contatar a OAB de sua região para que proceda com a autorização.
Ao fazer o requerimento, o representante da entidade conveniada deverá
fornecer os dados do segurado, e anexar todos os documentos pertinentes ao caso.
O rol de documentos essenciais para que o protocolo possa ser efetuado varia
dependendo do tipo de benefício que se pede, mas, em geral, são exigidos o termo
de representação, a identidade do segurado e a procuração, se for o caso.
As mesmas perguntas feitas pelos canais remotos também são endereçadas
no INSS Digital, de modo a possibilitar também a emissão de carta de exigência por
parte do servidor que fizer a análise.
Cabe lembrar que, por ora, é possível anexar documentos em qualquer tempo,
desde que o processo não tenha sido concluído: dito de outra forma, não é preciso
ter todos os documentos que se quer juntar para que o protocolo seja feito, embora
se o representante optar por anexar posteriormente, sempre há o risco de o
processo finalizar sem que os documentos em questão tenham sido anexados e,
portanto, analisados.
Nesse sentido, é pertinente atentar ao que diz a IN 77/2015, no art. 678, na
mesma linha do que prevê o art. 105 da Lei 8.213/91, que dispõe que a
apresentação de documentação incompleta não constitui motivo para recusa do
requerimento de benefício, ainda que, de plano, possa-se constatar que o segurado
não faz jus ao benefício ou serviço que pretende requerer, sendo obrigatória a
protocolização de todos os pedidos administrativos.
Se o segurado não apresentar toda a documentação indispensável ao
processamento do benefício ou do serviço, o servidor deverá emitir carta de
exigências elencando providências e documentos necessários, com prazo mínimo
de trinta dias para cumprimento.
O segurado pode solicitar prorrogação do prazo por igual período, mediante
pedido justificado do interessado. A IN 77/15 prevê que, uma vez emitida carta de
exigências no momento do atendimento, deverá ser colhida a assinatura de ciência
na via a ser anexada no processo administrativo, com entrega obrigatória de cópia
ao requerente. Porém, atualmente, é tudo realizado via sistema.

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Quanto à data de entrada do requerimento, tanto para o pedido pelos canais


remotos quanto para o efetuado via entidade conveniada, caberá o disposto no art.
669 da IN, de que qualquer que seja o canal de atendimento utilizado, será
considerada como DER a data de solicitação do agendamento do benefício ou
serviço, ressalvadas as hipóteses de incompatibilidade do benefício ou serviço
agendado com aquele efetivamente devido (nesse caso, a DER será considerada
como a data do atendimento).
Pelo entendimento do INSS, a DER será mantida sempre que o benefício
requerido e o devido fizerem parte do mesmo grupo estabelecido em cada inciso a
seguir, na forma da Carta de Serviços ao Cidadão:
 I - aposentadorias;
 II - benefícios por incapacidade;
 III - benefícios aos dependentes do segurado;
 IV - salário-maternidade; e
 V - benefícios assistenciais.
Prevê a IN que DER será mantida sempre que o INSS não puder atender o
solicitante na data agendada. Porém, como atualmente é via sistema informatizado,
que muitas vezes não funciona, não há como garantir que o benefício seja pago
desde o requerimento.
No caso de falecimento do interessado, os dependentes ou herdeiros poderão
dar andamento ao processo administrativo, mantida a DER na data do agendamento
inicial. Nesse caso, deverá ser comprovado o óbito e anexado o comprovante do
agendamento eletrônico no processo de benefício.
Em relação aos documentos apresentados, a IN 77/2015 determina que não
deverão ser exigidos do segurado aqueles que sejam provenientes de outro órgão
federal. Isso decorre do disposto no Decreto 9.094/17. Quando o requerente
declarar que fatos e dados estão registrados em documentos existentes em
qualquer órgão público, o próprio INSS deverá, de ofício, obter os documentos ou
das respectivas cópias.
O INSS não poderá exigir do requerente a apresentação de certidões ou outros
documentos por outro órgão ou entidade do Poder Executivo Federal. Isso não

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impede que o interessado providencie, por conta própria, o documento junto ao


órgão responsável, se assim o desejar.
E, ainda, que, caso já tenha entrado com um pedido de benefício
anteriormente, o segurado não precisará apresentar todo o conjunto probatório
novamente, devendo ser considerada a documentação apresentada no processo
anterior.
Ainda quanto aos documentos, ressalta-se que a autenticação desses pode ser
efetuada por advogado: nos processos iniciados pelos canais remotos, o advogado
poderá autenticar por meio de carimbo e/ou assinatura as cópias dos documentos
que for apresentar; já via entidade conveniada no SAG (Sistema de Agendamento),
a autenticação de um arquivo por parte do advogado ocorrerá pelo botão de
autenticação ao lado do arquivo anexado.
O art. 677 da IN 77/2015 diz que são equiparados aos originais os documentos
autenticados por órgãos da Justiça, pelo Ministério Público, por procuradorias, por
autoridades policiais, pelas repartições públicas em geral, por advogados públicos e
por advogados privados. Nesse último caso, o documento autenticado deverá conter
nome completo, número de inscrição na OAB e assinatura do advogado. Caso
identificado indício de irregularidade nas cópias apresentadas, o servidor poderá
exigir a apresentação dos originais para conferência.

FIQUE ATENTO
A etapa mais importante do processo previdenciário é a fase instrutória.
Atualmente, está praticamente tudo nas mãos do segurado ou advogado, porque é
ele quem vai apresentar os documentos necessários, embora o INSS tenha a
obrigação de emitir carta de exigência quando verificar que a documentação se
mostra insuficiente para a comprovação do direito do segurado.

Os benefícios podem ser analisados por qualquer servidor do INSS, em


qualquer lugar do Brasil. Mas, há uma especificidade quanto aos Acordos
Internacionais. Nesse caso, há Agências da Previdência Social destinadas ao
atendimento de requerimentos de benefícios e serviços, exclusivamente no âmbito
dos Acordos Internacionais.

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Também, há Unidades de Atendimento para atender as demandas judiciais,


tanto para cumprimento de liminares, como para implantação de benefício após o
trânsito em julgado das ações, nas quais o INSS for parte do litígio.

1.2 Fase Decisória do Processo Administrativo Previdenciário.

Em relação à decisão sobre a concessão ou indeferimento do benefício, deverá


o servidor atentar-se para a concessão do melhor benefício disponível para o
segurado, de acordo com os critérios que ele preenche. Essa é a determinação da
Instrução Normativa do INSS, mas, também, foi decidido em repercussão geral no
Supremo Tribunal Federal:
APOSENTADORIA – PROVENTOS – CÁLCULO. Cumpre observar o
quadro mais favorável ao beneficiário, pouco importando o decesso
remuneratório ocorrido em data posterior ao implemento das condições
legais. Considerações sobre o instituto do direito adquirido, na voz
abalizada da relatora – ministra Ellen Gracie –, subscritas pela maioria.
(RE 630501, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2013,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-166 DIVULG 23-08-2013 PUBLIC
26-08-2013 EMENT VOL-02700-01 PP-00057)

Assim, quando o servidor verificar que estão satisfeitos os requisitos para mais
de um tipo de benefício, cabe ao INSS oferecer ao segurado o direito de opção,
mediante a apresentação dos demonstrativos financeiros de cada um deles. Isso
deve constar no processo administrativo. No entendimento do INSS, se os
benefícios forem do mesmo grupo, a DER será mantida. Já se forem de grupos
distintos, e o segurado optar por aquele que não requereu inicialmente, a DER será
fixada na data da habilitação do benefício.
Nesse sentido, caso resulte em benefício mais vantajoso, deverá ser oferecida
ao segurado a reafirmação da data de entrada do requerimento. Além disso,
também dever ser oportunizada a reafirmação da DER ao segurado que não
atendeu aos requisitos para o reconhecimento do direito, mas que os implementou
em momento posterior, deverá o servidor informar ao interessado sobre a
possibilidade de reafirmação da DER, exigindo-se para sua efetivação a expressa
concordância por escrito. Satisfazer

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De todo modo, qualquer que seja a decisão do servidor do INSS, deverá ser
devidamente fundamentada – orientação essa aplicável a qualquer processo
administrativo federal, consoante já mencionada Lei 9.784/99, e expressamente
reiterada na IN 77/2015, que determina que o INSS tem o dever de, explicitamente,
emitir decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou reclamações
em matéria de sua competência.
Se considera decisão administrativa aquela que contiver despacho sucinto do
objeto do requerimento administrativo, fundamentação com base na análise das
provas, bem como conclusão deferindo ou indeferindo o pedido formulado. O
servidor pode usar o modelo constante no sistema corporativo da Previdência
Social.
A motivação deve ser clara e coerente, indicando quais os dispositivos legais
que foram ou não atendidos, podendo fundamentar-se em decisões anteriores, bem
como notas técnicas e pareceres do órgão consultivo competente, tais como
pareceres da Consultoria Jurídica.
A IN 77/15 determina que todos os requisitos legais do requerimento devem ser
apreciados no momento da decisão, registrando-se, no processo administrativo, a
avaliação individualizada de cada requisito legal. Porém, é extremamente comum o
INSS só analisar um dos requisitos, por exemplo, a incapacidade e não verificar a
qualidade de segurado, ou vice-versa.
Concluída a instrução do processo administrativo, a Unidade de Atendimento
do INSS tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual
período expressamente motivada. Na prática, verifica-se que, em geral, uma vez
concluída a instrução (concluídas as exigências eventualmente realizadas), o INSS
não demora para decidir.
Após concluir a análise, o interessado deverá ser comunicado da decisão
administrativa com a exposição dos motivos, a fundamentação legal e o prazo para
interposição de recurso.
Prevê também a IN 77/2015 sobre a possibilidade de desistência do pedido
efetuado pelo segurado, enquanto não proferida a decisão, desistir do pedido
formulado. O pedido de desistência atinge somente aquele que o solicitou (por
exemplo, numa pensão por morte, podem ter mais requerentes). A desistência não

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prejudica o prosseguimento do processo se a Administração considerar que o


interesse público assim o exige, o que não se verifica, em regra, no INSS.
Findo o processo administrativo, é possível a interposição de recurso, o pedido
de revisão administrativa ou mesmo o pedido de reabertura do processo caso
identificado erro na decisão.
Cabe ressaltar que o pedido de Revisão Administrativa pode ser feito como
qualquer outro tipo de benefício, ou seja, por meio dos canais remotos. O pedido de
reabertura, por sua vez, não encontra aporte nos sistemas atualmente, o que
considera-se a perda de oportunidade de se fazer economia processual, pois essa
espécie de pedido poderia diminuir em muito os pedidos de revisão e de recurso,
visto ser, a princípio, sem a burocracia que os outros tipos de solicitação exigem.
No que tange ao recurso, especificamente, será tratado mais detalhadamente
no próximo tópico.

1.3 Recurso Administrativo

O recurso administrativo é procedimento adotado 1) diante da inconformidade


com uma decisão do INSS, caso no qual tratar-se-á de recurso ordinário, ou 2)
diante de decisão de Junta de Recursos, caso em que consistirá em Recurso
Especial para as Câmaras de Julgamento (última instância recursal). O recurso,
ordinário ou especial, bem como as contrarrazões a Recurso Ordinário, deverão ser
interpostos no prazo de trinta dias a contar da ciência da decisão, conforme IN
77/15. Deve ser excluído da contagem o dia do início e incluindo-se o do
vencimento.
O prazo inicia-se para apresentação de contrarrazões por parte do INSS, a
partir do protocolo do recurso, ou, quando encaminhado por via postal, da data de
recebimento na Unidade que proferiu a decisão. Para a interposição de recurso
especial por parte do INSS, começa o cômputo do prazo de trinta dias, a partir da
data da entrada do processo na Unidade competente para apresentação das razões
recursais e para os demais interessados (beneficiários), a partir da data da intimação
da decisão ou da ciência da interposição de recurso pela parte contrária.

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O prazo só se inicia ou vence em dia de expediente normal no órgão em que


tramita o recurso ou em que deva ser praticado o ato. Se não houver, considera-se
prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte.

IMPORTANTE
Os prazos são contados em dias corridos, mas, se a data de vencimento cair em dia
em que não há expediente (sábado, domingo, feriado) a data de vencimento será
automaticamente prorrogada para o próximo dia útil.

Ainda, de acordo com o que dispõe a IN 77/2015, a interposição de recurso ou


contrarrazões deverá ser efetuada, preferencialmente, junto à APS que proferiu a
decisão original. Mas, atualmente, o protocolo é realizado pelos sistemas digitais.
Mas é a APS que deve se manifestar sobre o recurso, antes que ele seja
direcionado para a Junta de Recursos ou Câmara de Julgamento.
A Portaria 116/17, que institui o Regimento Interno do Conselho de Recursos
da Previdência Social, estabelece a possibilidade de relativizar a questão do prazo
de 30 (trinta) dias, ao dispor que incumbe aos conselheiros relatores, nas Câmaras e
Juntas propor à composição julgadora relevar a intempestividade de recursos
quando fundamentadamente entender que, no mérito, restou demonstrada de forma
inequívoca a liquidez e a certeza do direito da parte. É importantíssimo atentar para
essa parte final: só é possível relativizar o prazo, quando não há necessidade de
produção de novas provas na instância recursal. Portanto, deve-se atentar para o
dispositivo no artigo 53 da mesma Portaria, que no § 6º não autoriza a
desconsideração da intempestividade, quando é necessária a conversão em
diligência – o que supõe a necessidade de produção de provas.

FIQUE ATENTO
Existe a possibilidade de obter êxito no recurso administrativo, mesmo após
decorrido o prazo de 30 (trinta) dias após o indeferimento do benefício. Essa
possibilidade é muito relevante, porque, por vezes, o segurado procurado o
advogado depois de transcorrido o prazo recursal.

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16

Entende-se que, no caso dos recursos interpostos via entidade conveniada


(SAG), deverão ser protocolados junto à gerência executiva responsável pela
decisão da qual o recorrente discorda.
A IN 77/2015 ainda orienta sobre os procedimentos a serem tomados pelo
INSS no caso de interposição intempestiva de recurso ou contrarrazões do
interessado, devendo ser encaminhado ao respectivo órgão julgador com as devidas
contrarrazões do INSS, apontada a ocorrência da intempestividade.
O INSS pode e deve revisar a sua decisão, se constatar que a decisão sobre o
requerimento do segurado foi errada ou se o segurado apresenta novas provas que
lhe garantem o direito. Esse procedimento deve ser adotado, mesmo quando o
recurso é intempestivo.
Conforme determinação da IN 77/2015, a interposição do recurso ensejará
reanálise do ato administrativo por parte do INSS, que deverá anteceder a remessa
do processo para a Junta de Recursos. Se a decisão questionada for mantida, serão
formuladas as contrarrazões e o recurso deverá ser encaminhado à Junta de
Recursos; se houver reforma parcial da decisão, o recurso será encaminhado para a
Junta de Recursos para prosseguimento em relação à matéria que permaneceu
controversa; e em caso de reforma total da decisão, deverá ser atendido o pedido
formulado pelo recorrente e o recurso perderá o seu objeto. Nesse caso, não é
necessário o encaminhamento do recurso ao órgão julgador.
Caso o interessado apresentar contrarrazões fora do prazo regulamentar,
serão remetidas ao local onde o processo se encontra para que seja feita a juntada.
Por outro lado, no caso de intempestividade do protocolo de contrarrazões por
parte do INSS, os motivos do indeferimento serão considerados contrarrazões. Isso,
para evitar que a Autarquia demore muito para encaminhar o recurso para os órgãos
julgadores administrativos.

IMPORTANTE
A propositura de ação que tenha por objeto idêntico pedido sobre o qual versa o
processo administrativo importa renúncia ao direito de recorrer na esfera
administrativa e desistência do recurso interposto.

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1.3.1 Recurso Ordinário


Conforme já mencionado, diante de qualquer decisão do INSS com a qual o
requerente não se conformar, poderá ser interposto recurso administrativo ordinário.
Em que pese, na grande maioria das vezes, o recurso seja interposto somente
diante do indeferimento do benefício, a previsão se estende, na realidade, a
qualquer ato administrativo decisório. Conforme dispõe a própria IN 77/2015, das
decisões proferidas pelo INSS poderão os interessados, quando não conformados,
interpor recurso ordinário às Juntas de Recursos do CRPS. Isso nada mais é do que
o cumprimento do art. 126 da Lei 8.213/91.
Os titulares de direitos e interesses têm legitimidade para interpor recurso
administrativo. O recurso interpõe-se por meio de requerimento, no qual o recorrente
deverá expor os fundamentos do pedido de reanálise, podendo juntar novos
documentos, se entender conveniente.
A admissão do recurso é prerrogativa do CRPS, não devendo o INSS recusar o
recebimento ou sustar o andamento da petição apresentada pelo interessado.
Os recursos ordinários serão julgados pelas Juntas de Recursos do CRSS,
considerada primeira instância administrativa. Conforme esclarece a Portaria 116/17,
denomina-se Recurso Ordinário o interposto pelo interessado, segurado ou
beneficiário da Seguridade Social, diante de decisão proferida pelo INSS, devendo
ser dirigido às Juntas de Recursos do CRSS, observada a competência regimental.
Considera-se decisão de primeira instância recursal o acórdão proferido pelas
Juntas de Recursos, exceto em matéria de alçada, hipótese em que a decisão será
de única instância.

1.3.2 Recurso Especial.


O Recurso Especial, por sua vez, é devido quando o interessado não se
conformar com a decisão da Junta de Recursos, e será julgado pelas Câmaras de
Julgamento que, nos termos da Portaria 116/2017, deve ser interposto pelo INSS
quando:
I - violar disposição de lei, de decreto ou de portaria ministerial;
II - divergir de Súmula ou de Parecer do Advogado Geral da União, editado
na forma da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993.

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III - divergir de pareceres da Consultoria Jurídica do MDSA, dos extintos


MTPS e MPS ou da Procuradoria Federal Especializada - INSS, aprovado
pelo Procurador Chefe;
IV- divergir de enunciados editados pelo Conselho Pleno do CRSS e do
antigo CRPS;
V - tiver sido fundamentadas em laudos ou pareceres médicos divergentes
emitidos pela Assessoria Técnico-Médica no âmbito do CRSS e pelos
médicos peritos do INSS, ressalvados os benefícios de auxílio-doença, nos
termos do inciso I do § 2º deste artigo; e
VI - contiver vício insanável.

Verifica-se que, para que seja adequada a interposição de recurso especial por
parte do INSS, não basta que a decisão da Junta de Recursos tenha sido
considerada insatisfatória por parte da autarquia: será necessária a presença de
algum dos requisitos dispostos no § 1º do Art. 30 da Portaria 116, colacionado
acima. Os critérios repetem-se na IN 77/2015, em art. 540 que, inclusive, determina
expressamente inadequada a interposição de recurso especial por parte do INSS
por motivo diferente dos citados.
Por outro lado, não são todas as matérias para as quais será possível a
interposição de recurso especial, sendo excluídas dessa possibilidade aquelas que
forem de alçada exclusiva da JRPS, conforme esclarece a IN 77/2015, que são as
fundamentadas exclusivamente em matéria médica, quando os laudos ou pareceres
emitidos pela Assessoria Médica da Junta de Recursos e pelos Médicos Peritos do
INSS apresentarem resultados convergentes; ou proferidas sobre reajustamento de
benefício em manutenção, em consonância com os índices estabelecidos em lei,
exceto quando a diferença na Renda Mensal Atual - RMA decorrer de alteração da
Renda Mensal Inicial - RMI.
Por fim, dispõe a IN 77/2015 sobre as hipóteses de coisa julgada
administrativa, ou seja, quando a matéria é julgada pela Junta de Recursos, em se
tratando de alçada exclusiva da JRPS, ou quando é julgada pela Câmara de
Julgamento. Não será objeto de novas discussões por parte do INSS, ressalvadas
as hipóteses de oposição de embargos de declaração, de revisão de acórdão, de
alegação de erro material; ou pedido de uniformização de jurisprudência.
As hipóteses em que há possibilidade de novas discussões, quais sejam as
elencadas acima destacados, serão estudadas adiante.

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1.4 Embargos de Declaração e Erro Material.

Diante de acórdão dos órgãos julgadores recursais, tantos das Juntas de


Recursos quanto das Câmaras de Julgamento, em que for identificada obscuridade,
ambiguidade, contradição ou omissão na decisão, caberá a interposição de
Embargos de Declaração.
Conforme artigo 58 da Portaria 116, os Embargos também poderão ser opostos
diante de acórdão que contenha erro material, entendendo-se, conforme art. 58,
como tal, os decorrentes de erros de grafia, numéricos, de cálculos ou, ainda, de
outros equívocos semelhantes, que não afetem o mérito do pedido, o fundamento ou
a conclusão do voto, bem como não digam respeito às interpretações jurídicas dos
fatos relacionados nos autos, o acolhimento de opiniões técnicas de profissionais
especializados ou o exercício de valoração de provas.
Qualquer que seja o motivo que fundamentar os embargos, estes deverão ser
opostos no prazo de 30 dias a partir da ciência do acórdão. Devem ser opostos
pelas partes do processo, mediante petição fundamentada, dirigida ao relator do
acórdão embargado, no prazo de 30 (trinta) dias contados da ciência do acórdão,
excetuando apenas a hipótese prevista no inciso II deste artigo, que poderão ser
opostos a qualquer tempo.
Por fim, ressalta-se que a protocolização de embargos tem efeito suspensivo
no cumprimento do acórdão e também nos prazos para a interposição de Recurso
Especial, Reclamação e Pedido de Uniformização de Jurisprudência. A interposição
tempestiva dos embargos interrompe o prazo para o cumprimento do acórdão, para
a interposição de Recurso Especial, a apresentação de Reclamação ao Conselho
Pleno e do Pedido de Uniformização de Jurisprudência. A interrupção cessa a partir
da intimação das partes acerca da decisão dos declaratórios, quando passa a fluir o
lapso temporal de 30 (trinta) dias.
Analisados os embargos, o processo será submetido pelo relator ao colegiado
para juízo de admissibilidade e de mérito, salvo quanto ao erro material (conforme
previsto no inciso II), que se dará por meio de Despacho à decisão do presidente do
Órgão Julgador, e, se couber, proceder ao saneamento e reedição do acórdão.

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1.5 Revisão de Acórdão

Outro pedido aos órgãos administrativos de julgamento que difere dos recursos
é o de revisão de acórdão que, assim como o de embargos de declaração, somente
é devido em casos específicos, dispostos na Portaria 116/2017, quando violarem
literal disposição de lei ou decreto, divergirem dos Pareceres da Consultoria Jurídica
do MDSA, aprovados pelo Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e Agrário,
bem como, Súmulas e Pareceres do Advogado-Geral da União, divergirem dos
Pareceres da Consultoria Jurídica vigentes e aprovados pelos Ministros de Estado;
divergirem de enunciado editado pelo Conselho Pleno; e for constatado vício
insanável.
Deve ser considerado vício insanável, entre outros, a decisão que tiver voto de
Conselheiro impedido ou incompetente, bem como, se condenado por crimes
relacionados à matéria objeto de julgamento do colegiado, a fundamentação
baseada em prova obtida por meios ilícitos, ou cuja falsidade tenha sido apurada em
processo administrativo ou judicial, a decisão decorrer de julgamento de matéria
diversa da contida nos autos, a fundamentação de voto decisivo ou de acórdão
incompatível com sua conclusão; a decisão fundada em "erro de fato",
compreendendo-se como tal, aquela que considerou fato inexistente, ou, considerou
inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos,
que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o órgão julgador deveria
ter se pronunciado.

1.6 Reclamação no âmbito do Recurso Administrativo

Similar ao procedimento de Revisão de Acórdão é a possibilidade de


Reclamação ao Conselho Pleno. Esse procedimento poderá por requerimento das
partes do processo, devendo ser dirigido ao Presidente do CRSS, somente quando
os acórdãos das Juntas de Recursos do CRSS, em matéria de alçada, ou os
acórdãos de Câmaras de Julgamento do CRSS, em sede de Recurso Especial,
infringirem Pareceres da Consultoria Jurídica ou enunciados editados pelo Conselho

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Pleno. O prazo é de 30 (trinta) dias contados da data da ciência da decisão


infringente.
É atribuição do Presidente do Conselho de Recursos fazer o juízo de
admissibilidade da Reclamação ao Conselho Pleno verificando se estão presentes
os pressupostos previstos no caput, podendo indeferir o pedido monocraticamente,
que é irrecorrível, quando verificar que não foram demonstrados os pressupostos de
admissibilidade ou distribuir o processo ao Conselheiro relator da matéria no
Conselho Pleno, quando verificar presentes os pressupostos de admissibilidade.
Os processos poderão ser preliminarmente submetidos pelo Presidente do
Conselho de Recursos ao órgão julgador que prolatou o acórdão supostamente
infringente, para facultar-lhe a Revisão de Ofício.
Na realidade, os critérios de admissibilidade são os mesmos e, em ambos os
casos, se identificada infração conforme hipóteses da Portaria 116/2017, deverá o
acórdão ser remetido para o Conselheiro relator para que, se for o caso, proceda
com a revisão do acórdão. A diferença principal entre os institutos é o órgão ao qual
o pedido é endereçado: enquanto que o pedido de Revisão de Acórdão é
endereçado ao próprio órgão julgador que elaborou o acórdão, a Reclamação é
dirigida ao Conselho Pleno.

IMPORTANTE
A utilização do recurso administrativo tem sido cada vez mais comum como
estratégia para buscar o direito do segurado, quer seja porque as Juntas de
Recursos e Câmaras de Julgamento têm melhorado muito os seus entendimentos,
quer seja porque o Judiciário tem sido restritivo em algumas matérias.

1.7 Uniformização de Jurisprudência

Em relação às matérias sobre as quais há significativa divergência de


entendimento entre os órgãos recursais, é cabida a uniformização de jurisprudência,
a ser realizada pelo Conselho Pleno.

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A Portaria 116/2017, por sua vez, dispõe sobre os procedimentos envolvidos


na uniformização de jurisprudência, diferenciando a Uniformização em Tese da
Jurisprudência do Pedido de Uniformização de Jurisprudência.
Quanto à Uniformização em Tese da Jurisprudência, somente os entes
legitimados poderão provocá-la, e mediante apresentação de estudo que comprove
que há divergência de entendimento quanto à matéria, conforme art. 61 da Portaria
116/2017. São competentes o Presidente do CRPS, a Coordenação de Gestão
Técnica, a Divisão de Assuntos Jurídicos (estes dois últimos integram o CRPS), os
Presidentes das Câmaras de Julgamento ou, exclusivamente em matéria de alçada,
por solicitação de Presidente de Juntas de Recursos, ou pela Diretoria de Benefícios
do INSS, mediante a prévia apresentação de estudo fundamentado sobre a matéria
a ser uniformizada, no qual deverá ser demonstrada a existência de relevante
divergência jurisprudencial ou de jurisprudência convergente reiterada.
Deverá ser demonstrada mediante a elaboração de estudo fundamentado com
a indicação de decisórios divergentes ou convergentes, conforme o caso, proferidos
nos últimos cinco anos, por outro órgão julgador, composição de julgamento, ou,
ainda, por resolução do Conselho Pleno. Diante disso, será atribuído um relator da
matéria no Conselho Pleno.
Já o Pedido de Uniformização de Jurisprudência poderá ser feito pelas partes
diante de acórdão da JRPS, em matéria de alçada exclusiva, ou da CAJ, em sede
de recurso especial. O prazo para propor o PUJ é de 30 dias a partir da data da
ciência da decisão e, caso o pedido não seja recebido pela presidência do órgão
julgador, poderá ser interposto de recurso ao Presidente do CRSS, também dentro
de 30 dias.
Conforme dispõe a Portaria 116/2017, o Pedido de Uniformização de
Jurisprudência poderá ser requerido em casos concretos, pelas partes do processo,
dirigido ao Presidente do respectivo órgão julgador, quando houver divergência na
interpretação em matéria de direito entre acórdãos de Câmaras de Julgamento do,
em sede de Recurso Especial, ou entre estes e resoluções do Conselho Pleno; ou
quando houver divergência na interpretação em matéria de direito entre acórdãos de
Juntas de Recursos, nas hipóteses de alçada. Reconhecida a existência da
divergência pelo Presidente do órgão julgador, o processo será encaminhado ao

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Presidente do Conselho Pleno para que o pedido seja distribuído ao relator da


matéria. Do não recebimento do pedido de uniformização pela Presidência do órgão
julgador, caberá recurso ao Presidente do CRPS, no prazo de 30 (trinta) dias da
ciência da decisão.
Tanto a Uniformização em Tese da Jurisprudência quanto o Pedido de
Uniformização de Jurisprudência poderão resultar em emissão de enunciados ou
resoluções, a depender da matéria tratada e da pronunciação do Conselho Pleno.

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CAPÍTULO 2 – DO PROCESSO JUDICIAL PREVIDENCIÁRIO

Em muitos casos, a concessão de benefícios e serviços pela previdência social


é obtida apenas na via judicial. O processo judicial previdenciário guarda muitas
controvérsias e dificuldades, que passarão a ser estudadas.

2.1 Competência em matéria previdenciária

A competência jurisdicional é estabelecida na Constituição Federal, no art. 109,


que atribui aos juízes a competência para julgar as causas em que a União,
autarquias ou empresas públicas federais forem interessadas como autoras, rés,
assistentes ou oponentes, não se incluindo as de falência, as de acidentes de
trabalho e aquelas que são sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
O mesmo dispositivo constitucional estabelece, no § 3º que há possibilidade de
a Lei autorizar que as causas que são em princípio de competência da Justiça
Federal ajuizadas por segurado contra instituição de previdência social sejam
processadas e julgadas na justiça estadual quando a comarca do domicílio do
segurado não for sede de vara federal. Essa regra sofreu alterações na Emenda
Constitucional 103/19. Até então, o ajuizamento da Justiça Estadual era bastante
comum. Com a alteração, a questão foi remetida à regulamentação sobre a
possibilidade de ajuizamento de ação previdenciária na Justiça Estadual.
Mas as mudanças já tinham começado com a Lei 13.876/2019, que deu nova
redação ao art. 15, III, da lei 5.010/66, autorizando o processamento e julgamento na
Justiça Estadual, se não for sede de Vara Federal, das causas em que forem parte
instituição de previdência social e segurado e que se referirem a benefícios de
natureza pecuniária, quando a Comarca de domicílio do segurado estiver localizada
a mais de 70 km (setenta quilômetros) de Município sede de Vara Federal.
A RESOLUÇÃO N. 603/2019 - CJF, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2019
regulamentou a matéria determinando os critérios para o cálculo da distância de 70
quilômetros entre os Municípios sede da vara federal e o Município sede da
comarca: para definição das comarcas deverá ser considerada a distância entre o
centro urbano do Município sede da comarca estadual e o centro urbano do

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Município sede da vara federal mais próxima, em nada interferindo o domicílio do


autor. Para apurar a distância será considerada a tabela de distâncias indicada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE ou em outra ferramenta de
medição de distâncias disponível. Uma vez estabelecidas essas condições, a
Resolução remeteu aos Tribunais Regionais Federais deveriam publicar, até o dia
15 de dezembro de 2019, as lista das comarcas com competência federal delegada
e disponibilizá-las na Internet e enviá-las ao Conselho da Justiça Federal para
divulgação em sua página própria, às seccionais da Ordem dos Advogados do
Brasil, às Procuradorias Regionais Federais, às Procuradorias Regionais do
Ministério Público Federal, às Corregedorias dos Tribunais de Justiça, à Defensoria
Pública Federal, ao Instituto Nacional do Seguro Social, sem prejuízo de outros
órgãos ou entidades que tenham interesse na matéria.
A Resolução também orienta que as Comarcas estaduais que deixarem de
possuir competência delegada federal e os respectivos Tribunais Regionais deverão
afixar em local de acesso aos advogados e ao público informação sobre a
localização da vara federal competente para processamento das ações
previdenciárias. Assim, a Lei 13.876/2019 criou um limite mínimo de distância para
que as ações previdenciárias possam ser ajuizadas na Justiça Estadual. Porém, nas
disposições finais, consta que isso só entraria em vigor em 1º de janeiro de 2020.
Ainda assim, muitos juízes vinham remetendo, desde logo, os processos já
ajuizados, para a Justiça Federal. O Superior Tribunal da Justiça proferiu liminar
num conflito de competência, determinando que os processos permanecessem na
estadual:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 170.051 - RS (2019/0376717-3)
RELATOR: MINISTRO MAURO CAMPBELL 170.051 MARQUES
SUSCITANTE JUÍZO FEDERAL DA 21A VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SUSCITADO JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA CÍVEL DE GUAÍBA - RS
INTERES. :EDUARDO TOLDO MACHADO REPR.
NTERES. :INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
DECISÃOPROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. CONFLITO
NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS FEDERAL E ESTADUAL
INVESTIDO NA JURISDIÇÃO DELEGADA. ART. 109, § 3º, DA CF.
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103/2019. LEI FEDERAL Nº 13.876/2019.
REDISTRIBUIÇÃO DE PROCESSOS EM TRAMITAÇÃO.
RECONHECIMENTO DOS REQUISITOS DO INCIDENTE DE ASSUNÇÃO
DE COMPETÊNCIA (ART. 947 DO CPC/2015). AFETAÇÃO AD
REFERENDUM DA 1ª SEÇÃO DO STJ. LIMINAR DEFERIDA PARA

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DETERMINAR A SUSPENSÃO DOS ATOS DE REDISTRIBUIÇÃO DOS


PROCESSOS.

A Constituição Federal dá um tratamento diverso quando se trata de benefícios


decorrentes de acidente de trabalho, que se manteve com a Emenda Constitucional
103/19. Nesse caso, a competência permanece na Justiça Estadual, tanto em
primeira instância como também no julgamento dos recursos cabíveis (apelação,
agravo...). Portanto, o Congresso Nacional optou por manter a competência da
Justiça Estadual para o julgamento de ações em que a origem do benefício é
acidentária, ainda que ajuizada contra autarquia federal.

FIQUE ATENTO
Onde ajuizar ação previdenciária atualmente:
 O segurado pode ajuizar a ação na Justiça Estadual se a Comarca de domicílio
do segurado estiver localizada a mais de 70 km (setenta quilômetros) de
Município sede de Vara Federal.
 Caso contrário ele só pode ajuizar na Justiça Federal, mas, se a causa tiver
natureza acidentária (acidente de trabalho), deve ser ajuizada na Estadual.
 Se ajuizada na Federal, o rito será o ordinário se o valor da causa for superior a
60 salários mínimos e no rito dos Juizados Especiais Federais, se for de até 60
salários mínimos.

2.2 Ações previdenciárias

Uma vez indeferido ou cessado o benefício ou ainda concedido em valor


inferior ao devido, pode ser ajuizada ação. As mais comuns são: ação de concessão
de benefício previdenciário; ação de restabelecimento de benefício previdenciário;
ação de revisão de benefício previdenciário. Menos utilizada, mas, também, cabível
é a ação de obrigação de fazer. Outra ação cabível, mas que será abordada em item
específico, é o Mandado de Segurança.
Na Ação de Concessão de Benefício Previdenciário, o que se busca é a
proteção previdenciária que foi negada pelo INSS. Há muitas controvérsias na
análise dos benefícios. Em matéria de fato, por exemplo, a Autarquia muitas vezes

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não reconhece períodos de atividade rural, atividade especial, vínculos


empregatícios, incapacidade, união estável, condição de deficiente, condição de
vulnerabilidade social, entre outras. Há também controvérsias jurídicas (de direito)
como: decadência, forma de cálculo, legislação aplicável, etc. Na Ação de
Restabelecimento do Benefício Previdenciário, pode se tratar de benefício por
incapacidade cessado, porque o INSS entendeu que o segurado estava apto para o
retorno ao trabalho. Outra hipótese, comum diante de vários programas de revisões
de benefícios, é quando o benefício é cessado por irregularidade.
A Ação de Revisão de Benefício Previdenciário trata de erro no valor do
benefício concedido, em que o segurado busca que seja corrigido. Um exemplo de
revisão recentemente julgada foi a chamada Revisão da Vida Toda, no STJ (REsp
1554596/SC), em que se foi reconhecido o direito de computar-se o período anterior
a 1994 para o salário-de-benefício de aposentadorias. É possível que diante da
reforma da previdência (Emenda Constitucional 103/19) surjam novas tese
revisionais de benefícios.

2.3 Processo Judicial – ajuizamento e primeira instância

A ação pode ser ajuizada no rito ordinário ou no rito do Juizado Especial. O que
define o rito é o valor da causa. A Lei 10.256/19 determina que é de competência do
Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência
da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as
suas sentenças. O valor da causa, por sua vez, de acordo com o CPC, é definido
levando-se em conta não só as prestações vencidas como também as vincendas,
devem serem somadas.
Ajuizada a ação no rito ordinário, segue os procedimentos do Código de
Processo Civil. Já se for no rito do Juizado, o procedimento obedece aos princípios
da Lei 9.099/95: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.
No Juizado Especial Federal, a tramitação em primeira instância está abarcada
pela assistência judiciária gratuita, pois, conforme estabelecido na Lei 9.099/95,
determina que não será exigido o pagamento de custas, taxas ou despesas. Já para

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o recurso, o preparo deverá compreender todas as despesas processuais, inclusive


aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, mais uma vez ressalvada a
hipótese de assistência judiciária gratuita.
Além das Leis 9.099/95 e 10.259/01, que já levaram a maior agilidade dos
processos judiciais, com prazos mais curtos e procedimentos mais céleres, a Lei
11.419/06, que institui o processo eletrônico trouxe grandes avanços para o direito
previdenciário. Dois são os procedimentos mais comuns: em matéria de benefícios
por incapacidade é designada perícia médica e nos demais litígios é realizada
audiência. A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa,
exceto arguição ou impedimento do Juiz.
Há um forte incentivo no Judiciário à conciliação e mais ainda no âmbito do
Juizado. A Lei 10.259/01 prevê que as partes poderão designar representantes para
a causa, advogado ou não. Ou seja, a atuação diante do Juizado pode ocorrer
diretamente pelo segurado/requerente. Além disso, os representantes judiciais da
União, autarquias, fundações e empresas públicas federais são autorizados a
conciliar, transigir ou desistir, no âmbito dos processos da competência dos Juizados
Especiais Federais.
A sentença pode ser de improcedência liminar, conforme previsto no Código de
Processo Civil. O art. 332 permite que naquelas que não necessitam da fase
instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, poderá julgar liminarmente
improcedente o pedido, quando contraria enunciado de súmula do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, quando dispuser de forma diversa de
acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos, quando divergir de entendimento
firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência, quando contrariar enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre
direito local. O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se
constatar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
As partes serão intimadas da sentença, quando não proferida esta na
audiência em que estiver presente seu representante, por aviso de recebimento em
mão própria. Mas, na prática, quase todo procedimento é eletrônico e, assim, a
intimação se dá via sistema. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido

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29

em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-fé. O


Enunciado 5 do Fonajef esclarece que: “As sentenças e antecipações de tutela
devem ser registradas tão-somente em meio eletrônico”.
Há uma preocupação na rápida e correta implantação dos benefícios, de modo
que o Conselho Nacional de Justiça estabeleceu alguns elementos mínimos a serem
inseridos nas decisões. A Recomendação 4/12 do CNJ orienta os juízes com
competência para julgar matéria previdência a incluírem nas sentenças ou atos
ordinatórios proferidos: nome e CPF do segurado, endereço, renda mensal,
benefício concedido e data de início de sua vigência e pagamento, entre outros. O
objetivo é, com essa padronização, permitir que as agências do INSS localizem com
maior agilidade os segurados e calculem os benefícios a serem pagos. Mais
informações:
https://atos.cnj.jus.br/files//recomendacao/recomendacao_4_17052012_2210201221
4711.pdf
Da sentença cabem embargos de declaração, quando houver obscuridade,
contradição ou omissão. Os embargos interrompem o prazo para a interposição de
recurso.

2.4 Prova no processo previdenciário

O conhecimento dos fatos é fundamental para a correta aplicação do Direito. A


função de toda atividade jurisdicional é conhecer a verdade. O juiz conhece os fatos
e sobre eles aplica a norma correspondente. Distingue-se a verdade substancial da
verdade formal, admitindo naquela a intervenção do juiz no sentido de produzir
provas, o que competiria, inicialmente, às partes, dando, agora, ares de instrumento
público ao processo. Já a verdade formal é a verdade segundo os autos, ou seja, o
juiz considera verdade aquilo que foi reconstruído, uma vez decorrida a fase
instrutória da ação. 1
Marinoni e Arenhart entendem como ingênua a ideia de que o juiz possa
analisar, objetivamente, um fato sem acrescentar alguma dose de subjetividade:

1
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Prova. 2. Ed. ver. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009. p. 30-31.

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30

“Exige-se que o juiz seja um deus, capaz de desvendar a verdade velada


pela controvérsia das partes, onde cada qual entende estar com a
2
‘verdadeira’ verdade e, portanto, com a razão”.

Portanova defende que há três ordens de motivação para a sentença: a


probatória, a pessoal e a ideológica. A primeira é a relação do juiz com as provas
produzidas nos autos. São pessoais as interferências psicológicas, sociais, culturais,
os valores, sentimento de Justiça, percepção da função, ideologia, intelectualização,
afetos, ódios, rancores, convicções, fanatismos, predileções, etc.3 O autor cita pelo
menos três ideologias que resistem ao tempo e influenciam o juiz: capitalismo,
machismo e racismo. Esclarece Portanova:
A ideologia de que falamos não é má-fé, é um conjunto de representações,
saberes, diretrizes ou pautas de condutas. Este complexo disperso,
acumulado e pseudamente sistemático orienta, coordena e governa atos,
decisões e atividades. [...] Está difundida nos preconceitos, costumes,
religião, família, escola, tribunais, asilo, ciência, cultura, moral, regras gerais
4
de conduta, filosofia, bem-senso, tradição.

Em vez de obter a verdade, o juiz consegue apenas chegar à verossimilhança


dos fatos, pois, além dos elementos já citados por Portanova, do próprio juiz, ele
está sujeito à versão tendenciosa das partes, à subjetividade das testemunhas que
presenciaram o evento, que pode não corresponder àquilo que realmente ocorreu.
Assim, conforme Marinoni e Arenhart, sobre a atividade do juiz, o máximo que
permite a sua atividade é alcançar a um resultado que próximo à verdade, baseado
na convicção de que esse é o ponto mais próximo da verdade que poder atingir do
que propriamente, em algum critério objetivo.5
É no procedimento que se constrói (e não descobre) a verdade, em
colaboração das partes, apresentando sua versão e, a partir do diálogo, chega-se a
uma verdade possível, que guiará a aplicação da lei ao caso concreto. É a
interferência entre os sujeitos que leva ao conhecimento (ou elaboração) dos fatos.
A legitimidade da decisão decorre, assim, da forma e garantias que permeiam o
procedimento, ou seja, por meio das alegações e comprovações, em suma, do
contraditório. Marinoni e Arenhart sustentam que a função da prova é buscar o
2
Idem. p. 38.
3
PORTANOVA, Rui. Motivações ideológicas da sentença. 4. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2000. p. 15-16.
4
Idem. p. 17.
5
MARINONI; ARENHART, op. cit., 2009. p. 43.

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31

embasamento concreto das proposições formuladas, de forma a convencer o juiz de


sua validade, diante de sua impugnação por outro sujeito do diálogo. É por isso que
apenas os fatos (rectius, as afirmações de fatos) controvertidos são objeto de prova;
as afirmações de fato sobre as quais não se levanta (por nenhum dos sujeitos do
processo) qualquer dúvida são incontroversas e, portanto, estão fora da investigação
processual.6
Dessa forma, os autores definem a prova, em direito processual, como sendo:
... todo meio retórico, regulado pela lei, e dirigido, dentro dos parâmetros
fixados pelo direito e de critérios racionais, a convencer o Estado-juiz da
validade das proposições, objeto de impugnação, feitas no processo.7

Há, todavia, situações em que o juiz vai além das proposições apresentadas
pelas partes no processo. É o caso em que considera, na decisão, elementos que
não foram invocados em momento algum pelos interessados.
Nesse sentido, importa diferenciar o princípio dispositivo do princípio inquisitivo.
Pode se entender o princípio dispositivo como aquele em que o juiz deve julgar a
causa com base nos fatos alegados e provados pelas partes. É verdade buscar fatos
não alegados e cuja prova não tenha sido requerido pelas partes. Esse princípio
vincula duplamente o juiz aos fatos alegados e o impede de decidir com base em
algo que as partes não hajam afirmado e o obriga a considerar a situação de fato
afirmada por todas as partes como verdadeiras.8
Pelo princípio dispositivo, são as partes que determinam e fixam o objeto do
processo. A esse princípio, contrapõe o princípio inquisitivo, segundo o qual o juiz
tem o poder de iniciativa probatória para a determinação dos fatos postos pela parte
como fundamento de sua demanda. Com tal tipo de atividade desempenhada pelo
juiz, no campo probatório, o princípio dispositivo atenuou-se bastante. O ônus da
parte em provar suas alegações continua a existir, mas os poderes do juiz na
disposição do material probatório foram aumentados.
No direito brasileiro, pode-se dizer que ainda vigora o princípio dispositivo,
como regra fundamental, porém, também se outorga ao juiz uma apreciável

6
Idem. p. 55.
7
Idem. p. 59.
8
BARBIERI, Mauricio Lindenmeyer. O Princípio Dispositivo em Sentido Formal e Material. Disponível em
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5260>. Acesso
em 16. Jan. 2012.

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32

faculdade de iniciativa probatória. Essa autonomia é, todavia, limitada, pois,


dificilmente, teria o julgador condições de manter-se imparcial, se a lei lhe conferisse
plenos poderes de iniciativa probatória. Conforme Barbieri:
....na medida em que o magistrado abandonasse a condição de
neutralidade que a função jurisdicional pressupõe, para envolver-se na
busca e determinação dos fatos da causa, de cuja prova a parte se haja
desinteressado, certamente ele poderia correr o risco de comprometer a
9
própria imparcialidade e isenção.

Quando o juiz usar da faculdade de produzir provas de ofício, em nome da


busca da verdade, deverá oportunizar às partes que se pronunciem sobre a sua
oportunidade, a participação na produção e o resultado. Significa dizer que as partes
não devem ficar alheias à produção da prova de ofício.
No Direito Penal, corresponde ao princípio inquisitivo o sistema inquisitório,
conforme Streck está ligado ao paradigma da subjetividade (esquema sujeito-
objeto), que se concretiza através da produção de prova ex oficio e de princípios
como o do livre convencimento do juiz. Já o sistema acusatório (princípio dispositivo)
é o modo pelo qual a aplicação igualitária do direito penal penetra no direito
processual-penal, em que o poder persecutório do Estado é exercido de um modo
limitado e equalizado.10
Streck sustenta que se fossem tomadas seriamente cláusulas constitucionais
como o princípio do contraditório, já haveria condições de evoluir no processo
jurisdicional democrático. Ele se refere em compreender o contraditório como
garantia de comparticipação e debate, assegurando a influência dos argumentos
suscitados por todos os sujeitos processuais e garantindo que nas decisões não se
usem fundamentos não submetidos ao que consta no processo.11
O autor ressalta, porém, que mais importante do que saber quem produziu a
prova, é impedir que o juiz a examine sem que a tenha apresentado aos demais
sujeitos do processo e sem que leve em consideração os argumentos relevantes por
eles apresentados e que, ao final, não decida apenas pelo seu livre convencimento.

9
Idem.
10
STRECK, Lenio. O Livre Convencimento e a sua Incompatibilidade com o Dever de Acountability
Hermenêutica: O Sistema Acusatório e a Proteção dos Direitos Fundamentais no Processo Penal. IN: LEITE,
George Salomão [et. al] Direitos, Deveres e Garantias Fundamentais. Salvador: Editora Podivm, 2011. p. 625-
659.
11
Idem.

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33

O caminho processual defendido por Streck é que todos os sujeitos do processo


tenham o direito de ver seus argumentos considerados. Mas, para isso, o julgador
deve ter capacidade, apreensão e isenção de ânimo para considerar todos os
motivos apresentados. Alerta ele que “o dever de conferir atenção aos direito das
partes não envolve apenas a obrigação de tomar conhecimento, mas também a de
considerar, séria e detidamente, as razões apresentadas.”12
Se, como diz Streck, em nome do processo democrático, o juiz não deve
descuidar do contraditório, oportunizando constantemente que as partes se
manifestem sobre as provas dos autos, não importando quem as tenha produzido,
não há que se confundir a produção de prova, com a produção de alegações. A
legislação processual não autoriza o juiz a introduzir alegações sem que tenham
sido objeto de discussão nos autos, tampouco pode inovar em aspectos
controversos. Quando, por exemplo, em se tratando de ação previdenciária de
concessão de benefício por incapacidade, a qualidade de segurado foi incontroversa
na via administrativa e não foi invocada pelo INSS na contestação, não cabe ao juiz
fazê-lo, pois não estaria apenas produzindo prova, mas inserindo controvérsia não
invocada pelas partes, o que descaracteriza a imparcialidade ou caracteriza a
parcialidade negativa. Nesse aspecto, a doutrina propõe uma nova leitura da
imparcialidade do juiz, sob o enfoque do constitucionalismo social, o que não
significa lançar a decisão judicial ao crivo subjetivo do magistrado, mas romper a
postura inerte idealista de que o juiz está “fora” da sociedade, alheio aos fatos que o
cercam. Nesse sentido, Artur César Souza:
Sendo um homem de seu tempo, o magistrado deve levantar a venda que o
liberalismo burguês do século XVIII lhe colocou sobre os olhos para
reconhecer as diferenças das pessoas (humanização do processo) que se
encontram no âmbito da relação jurídica processual, suprindo essas
diferenças com os instrumentos que a própria Constituição Federal lhe
13
confere no transcurso de sua atividade jurisdicional.

O autor trata dos conceitos de parcialidade negativa e positiva. É negativa,


quando a conduta tendenciosa for motivada pela amizade, interesse pessoal,

12
Idem.
13
SOUZA, Artur César. A Parcialidade Positiva do Juiz (Justiça Parcial) como Critério de Realização – no
Processo Jurisdicional – das Promessas do Constitucionalismo Social. IN: VAZ, Paulo Afonso Brum;
SAVARIS, José Antonio. Direito da Previdência e Assistência Social – Elementos para uma Compreensão
Interdisciplinar. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009. p. 329-361.

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gratidão, ódio ou qualquer outro fator de âmbito subjetivo. É positiva, quando o


magistrado leva em consideração, no desenvolvimento da relação jurídica
processual, aspectos instrumentais fundamentais para o atingimento dos objetivos
da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade mais justa, igualitária,
erradicando a pobreza e as desigualdades.14
A parcialidade positiva, todavia, como já referimos apoiados em Streck, não
implica nem no desrespeito ao contraditório, tampouco na ausência ou insuficiência
de fundamentação das decisões judiciais. Nesse sentido, reiteramos, com o autor,
que ocorre, inclusive nas decisões de segundo grau de haver acórdãos com pouca
fundamentação, em que os argumentos das partes são ou ignorados, como se o
Poder Judiciário conseguisse atingir a resposta final “atalhando” a argumentação
que se firmou na esfera pública do processo. 15
No mesmo andar, Ferrajoli sustenta que, hodiernamente, o principal
fundamento da legitimação da independência do Judiciário frente aos Poderes
Legislativo e Executivo. Para ele, o fundamento da legitimação do Poder Judiciário e
da sua independência traduz o valor da igualdade, visto que os direitos
fundamentais são de cada um e de todos, a sua garantia exige um juiz terceiro e
independente, subtraído a qualquer título com os poderes assentes na maioria, e em
condições de poder censurar, como inválidos ou como ilícitos, os atos praticados no
exercício desses poderes. 16
No Direito Previdenciário, por vezes, sobressaem na decisão judicial,
elementos que não foram invocados por nenhuma das partes, o que demonstra que
o juiz está indo além do seu papel, embora, por não configurar nenhum interesse
pessoal ou obscuro, também está longe de se configurar em parcialidade positiva. E
é mais comum encontrarmos essa postura, de produzir alegações novas, jamais
discutidas no processo pelas partes, em favor da Autarquia previdenciária e não em
favor dos segurados, estes geralmente hipossuficientes, inclusive, processualmente,
já que o INSS tem fácil acesso a dados e sistemas de difícil pesquisa pelos autores
das ações previdenciárias.

14
Idem. p. 352-353.
15
STRECK, op. cit., 2011. p. 647.
16
FERRAJOLI, Luigi. O Direito como Sistema de Garantias. IN: OLIVEIRA JR., José Alcebíades. O Novo em
Direito e Política. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p. 89-109.

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Se é verdade que a prova pertence ao juiz, também é verdade que ela se


refere àquilo que foi proposto para julgamento e não a outros elementos estranhos
aos limites da lide, assim, colocados pelas partes. Ao falarmos de prova no Direito
Previdenciário, é necessário analisar mais dois aspectos atinentes à prova: o ônus
de produzi-la e as presunções. Passamos a analisar o ônus da prova.
A distribuição do ônus da prova encontra-se estabelecida no Código de
Processo Civil. O art. 373 atribui a prova ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu
direito e ao réu, sempre que se trata de existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.
Essa regra se destina às partes e também ao juiz, que, em caso de dúvida, fará
a parte, a qual cabia provar o fato, suportar a consequência de não o ter feito. Mas,
ainda que não produzida a prova, poderá o juiz se convencer dos fatos alegados.
Assim, como o convencimento varia de acordo com o direito material, a regra
do ônus da prova também não pode ser vista sempre do mesmo modo, sem
considerar a dificuldade de convicção própria ao caso concreto. 17
No mesmo sentido, Pacífico observa que tanto no processo em que predomina
a ampla investigação probatória do juiz como no modelo dispositivo, já abordado,
existe a possibilidade de o juiz defrontar com uma situação de incerteza quanto aos
fatos sob análise na demanda. Em qualquer caso, seja qual a estrutura do processo,
18
deverá o juiz julgar segundo a regra de julgamento baseado no ônus da prova.
Ainda, para Marinoni e Arenhart, o ônus da prova não está ligado ao resultado
favorável, mas ao convencimento do juiz, sobre o fato que está sendo provado.19
Reportando-nos novamente ao disposto no Código de Processo Civil, que
distribui a prova conforme sejam os fatos constitutivos, impeditivos, modificativos ou
extintivos, é necessário distinguir essas espécies. Para Chiovenda, constitutivos são
os fatos que normalmente produzem determinados efeitos jurídicos (ex.:
empréstimo, testamento, matrimônio). Impeditivo é quando a falta daquele fato que
normalmente concorre com o constitutivo, que impede a este de produzir seus
efeitos. Já extintivos, são os que fazem cessar uma vontade concreta da lei e a

17
MARINONI; ARENHART, op. cit., 2009. p. 175.
18
PACIFICO, Luiz Eduardo Boaventura. O Ônus da Prova. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 177.
19
MARINONI; ARENHART, op. cit., 2009. p. 183.

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consequente expectativa de um bem, por exemplo, o pagamento. Os modificativos


pressupõem válida a constituição do direito, mas buscam alterá-lo.20
Didaticamente, para relacionar todas as espécies, Marinoni e Arenhart
exemplificam que, se o autor pede o pagamento da dívida e o réu alega que foi
parcelada, somente pode ser exigida em parte, o fato é modificativo; se o réu alega
o pagamento, o fato é extintivo; se o réu afirma a exceção de contrato não cumprido,
o fato é impeditivo. 21
Geralmente, como em outros ramos do Direito, a predominância na produção
da prova cabe ao autor da ação. Quando se trata de benefícios previdenciários, não
é diferente. É o segurado que junta elementos que indicam a incapacidade, que
demostram a condição de dependente, que comprovam a atividade rural, etc. Trata-
se dos fatos constitutivos do direito, que o CPC incumbiu ao autor comprovar, nos
termos do art. 373. Mas, quando o segurado apresenta documento para comprovar
o seu direito, por exemplo, certidão de casamento que caracteriza a condição de
cônjuge, cabe ao INSS comprovar que o segurado estava separado de fato, o que
nos termos do § 2º do art. 76 da Lei n. 8.213/91 lhe tira a condição de dependente, o
que representa, assim, um fato impeditivo. Por fim, é dever do INSS, nos termos da
lei processual civil, comprovar fato extintivo do direito do autor, como, em se
tratando de produtor rural, o fato de ter mais de quatro módulos fiscais, o que o
desenquadra da condição de segurado especial. O direito à aposentadoria ou a
outro benefício se extingue, porque ele não preenche um dos requisitos do
benefício. A contraprova (prova de fato impeditivo, extintivo ou modificativo) deve ser
feita pelo INSS nas situações em que o segurado tem a prova do exercício da
atividade, por exemplo, quando consta vínculo empregatício registrado na CTPS.

IMPORTANTE
A prova no Direito Previdenciário inicialmente incumbe ao autor. Em caso de fato
impeditivo, extintivo ou modificativo cabe ao INSS, mas devemos lembrar que a
Autarquia Previdenciária deve colaborar na produção de provas no Direito
Previdenciário.

20
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Civil. v. 2. 2 ed. Campinas: Bookseller, 1998. p. 450-452.
21
MARINONI; ARENHART, op. cit., 2009. p. 181.

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37

2.5 Recursos

A legislação brasileira consagra o princípio do duplo grau de jurisdição como


regra. Assim, quem se sentir lesado pela decisão de primeiro grau, pode utilizar dos
recursos cabíveis. Vamos analisar os procedimentos no âmbito do Juizado e
também no rito ordinário.

2.5.1 Recursos nos Juizados Especiais


Intimada da sentença, a parte que restou prejudicada, ainda que em parte,
poderá interpor recurso. No âmbito do Juizado Especial, a Lei 9099/95 prevê que o
julgamento será feito por uma Turma Recursal, composta de três juízes. Na segunda
instância a representação por advogado é obrigatória, enquanto na primeira é
facultativa. O Conselho da Justiça Federal editou a Resolução 357/2015, em que
compatibiliza os regimentos internos das turmas recursais, das turmas regionais e da
turma nacional de uniformização. As Turmas Recursais têm autonomia (através do
respectivo Tribunal) para estabelecer o seu regimento.
O prazo do recurso inominado no Juizado é de 10 dias, contados da ciência da
sentença. Conforme Enunciado 59 do Fonajef, não cabe recurso adesivo quando
houve interposição do inominado pela outra parte.
Também cabe recurso inominado nos termos dos arts. 4º e 5º da Lei
10.259/01. O art. 4º autoriza o Juiz, de ofício ou a requerimento das partes, deferir
medidas cautelares no curso do processo, quando verificar risco de dano de difícil
reparação. Por sua vez, o art. 5º refere que a única exceção a recurso, exceto da
sentença, é o recurso da liminar concedida nos termos do art. 4º.
Frederico Amado esclarece que na primeira hipótese deverá ser interposto
recurso com a formação do instrumento diretamente na Turma Recursal, pois
deverão ser formados autos apartados para julgamento do recurso enquanto os
autos principais tramitam em 1º grau, podendo ser denominado “recurso inominado
na modalidade instrumento”, sendo similar ao agravo de instrumento previsto pelo
rito comum. 22

22
AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 12. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2020. P.
1204.

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38

Há divergência no remédio jurídico a ser utilizado em caso de sentença que


extingue a ação sem julgamento do mérito. Nas Turmas Recursais da 4ª Região
admite-se, sem problemas, a interposição de recurso inominado. Mas, há
entendimento diverso, de que o correto seria impetrar um Mandado de Segurança.
E, ainda, há quem entenda que não cabe qualquer recurso nesse caso. Cabe ao
advogado verificar o posicionamento do Judiciário de sua circunscrição judiciária
para ver qual o melhor entendimento.
Conforme determinado na Resolução CJF 347/2015, ao relator do recurso
compete negar seguimento se manifestamente inadmissível, improcedente,
prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante da
Turma Nacional de Uniformização, do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo
Tribunal Federal, ou em confronto com tese firmada em julgamento em incidente de
resolução de demandas repetitivas. Ao relator compete dar provimento ao recurso
se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante da Turma Nacional de Uniformização, do Superior Tribunal
de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal, ou com tese firmada em julgamento em
incidente de resolução de demandas repetitivas.
Da decisão do relator e do presidente da turma recursal caberá agravo
regimental no prazo de quinze dias. Se não houver retratação, o prolator da decisão
apresentará o processo em mesa, proferindo voto. Caso a decisão do relator tenha
sido submetida à turma recursal e por ela confirmada, não será cabível a
interposição de agravo regimental. A admissão de incidente de resolução de
demandas repetitivas por tribunal regional federal suspende o processamento de
pedido de uniformização regional, no âmbito de sua jurisdição.”

2.5.2 Recurso no rito ordinário


Da sentença, no rito ordinário, o recurso cabível é a apelação. O procedimento
é regulado pelo Código de Processo Civil. Cabe ao apelante suscitar, por ocasião da
apelação, também alegar questões resolvidas na fase de conhecimento, não
cobertas pela preclusão.
O art. 1.010 orienta a elaboração da petição de apelação. Deve ser dirigida ao
juízo de primeiro grau, contendo os nomes e a qualificação das partes; a exposição

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do fato e das normais aplicáveis; os motivos para a reforma ou de decretação de


nulidade; o pedido expresso de nova decisão.
O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15
(quinze) dias. Também, poderá interpor apelação adesiva, ocasião em o juiz intimará
o apelante para apresentar contrarrazões. Após, os autos serão remetidos ao
tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.
Uma vez recebido e distribuído o recurso pelo Tribunal, o relator deve decidir
monocraticamente, quando no recurso não foram impugnados especificamente os
fundamentos da decisão recorrida, deve negar provimento a recurso contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do
próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de assunção de competência.
Por outro lado, o relator da apelação deve dar provimento à decisão recorrida
for contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do
próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de assunção de competência.
Se não for o caso de decisão monocrática, o relator deve elaborar seu voto
para julgamento do recurso pelo colegiado.
A apelação tem efeito suspensivo, mas começa a produzir efeitos
imediatamente após a publicação da sentença que condena a pagar alimentos,
extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do
executado, que confirma, concede ou revoga tutela provisória. Essas são as
situações possíveis na matéria previdenciária.
A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões

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suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas,


desde que relativas ao capítulo impugnado. Quando o pedido ou a defesa tiver mais
de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao
tribunal o conhecimento dos demais.
Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve
decidir desde logo o mérito, encaminha-se para sessão de julgamento. Quando
reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se
possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o
retorno do processo ao juízo de primeiro grau.
É bom lembrar que, quando se trata de decisões interlocutórias, cabe agravo
de instrumento. Conforme art. 1.015 do CPC. Dentre as possibilidades estão as
decisões que tratam de tutelas provisórias, que rejeitam o pedido de gratuidade da
justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; a concessão, modificação ou
revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; a redistribuição do ônus
da prova e outros casos previstos expressamente em lei.
O CPC também admite a interposição de agravo de instrumento contra
decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
O Superior Tribunal de Justiça julgou Recurso Repetitivo em 2018, entendendo
que as hipóteses de interposição do Agravo podem ser estendidas. No Recurso
Especial 1704520, oriundo do Mato Grosso, de Relatoria Ministra NANCY
ANDRIGHI, o STJ entendeu que a taxatividade do art. 1.015 poderia ser mitigada, a
partir de uma interpretação extensiva, analógica ou exemplificativa, a fim de admitir
a interposição de agravo de instrumento contra decisão interlocutória que verse
sobre hipóteses não expressamente previstas nos incisos do referido dispositivo
legal. Segundo entendimento da relatora, o legislador pretendeu salvaguardar
apenas as "situações que, realmente, não podem aguardar rediscussão futura em
eventual recurso de apelação". Essa restrição seria insuficiente e estaria em
desconformidade com as normas fundamentais do processo civil, na medida em que
sobrevivem questões urgentes fora da lista e que tornam inviável a interpretação de
que o referido rol seria absolutamente taxativo e que deveria ser lido de modo
restritivo.

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O STJ fixou a seguinte tese jurídica: O rol do art. 1.015 do CPC é de


taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento
quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no
recurso de apelação.

2.6 Processo Previdenciário nos Tribunais Superiores

Cabe ao Superior Tribunal de Justiça, conforme art. 105, inc. III, alínea “a” da
Constituição Federal, julgar recurso quando a decisão recorrida contrariar tratado ou
lei federal, ou negar-lhes vigência. Cabe ao Supremo Tribunal Federal, nos termos
do art. 102 da CF/88, decidir sobre constitucionalidade/inconstitucionalidade.
Não cabe Recurso Especial de decisões dos Juizados Especiais Federais.
Mas, cabe Recurso Extraordinário se demonstrada matéria constitucional.
O Código de Processo Civil determina os procedimentos do recurso especial e
extraordinário. Devem ser interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão a exposição do fato e do
direito, a demonstração do cabimento do recurso interposto e as razões do pedido
de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.
Na hipótese de o recurso fundar-se em divergência jurisprudencial, o CPC
determina que se faça prova da divergência com a certidão, cópia ou citação do
repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica,
em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de
julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva
fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem
ou assemelhem os casos confrontados.
Há uma previsão específica para IRDR - Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas, caso em que o presidente do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça poderão determinar a suspensão dos processos que tratam do
tema todo o território nacional, até ulterior decisão do recurso extraordinário ou do
recurso especial a ser interposto.
Conforme o CPC determina, uma vez recebida a petição do recurso na
secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no

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prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao


vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá negar seguimento quando o
recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal
Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso
extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com
entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral
ou a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de
recursos repetitivos.
O Tribunal deverá encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do
juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos
regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos. Também deverá sobrestar
o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo
Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de
matéria constitucional ou infraconstitucional. O Tribunal deve selecionar o recurso
como representativo de controvérsia constitucional ou infraconstitucional e realizar o
juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal
ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão
geral ou de julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.

Da decisão de inadmissibilidade caberá agravo.


É possível que da mesma decisão caibam recurso especial e extraordinário.
Nesse caso, aplica-se o disposto no art. 1.031 do CPC a hipótese de interposição
conjunta de recurso extraordinário e recurso especial, os autos serão remetidos ao
Superior Tribunal de Justiça. Depois de julgado o recurso especial, os autos serão
remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário,
se esse não estiver prejudicado (se ainda restar interesse de que seja julgado). Se o
relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário, em
decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo

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Tribunal Federal. Se o relator do recurso extraordinário rejeitar a prejudicialidade,


devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso
especial.
Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial
versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para
que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre
a questão constitucional. Por fim, cumprida essa diligência, o relator deverá remeter
o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá
devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.
Todavia, o STF pode dar entendimento diverso. Se o Supremo Tribunal Federal
considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário,
por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao
Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial.
O STF somente admite o recurso quando a questão constitucional nele versada
tiver repercussão geral, assim, considerada a existência ou não de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem
os interesses subjetivos do processo. Portanto, o recorrente deverá demonstrar a
existência de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal
Federal.
Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que
contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal ou que
tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos
do art. 97 da Constituição Federal.
Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal
determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território
nacional.
Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de
origem negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que
versem sobre matéria idêntica.

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O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no


prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que
envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.
Desde 2006, com a Lei n. 11.418, já se adotou a sistemática dos recursos
repetitivos e em repercussão geral, o que foi reforçado no CPC de 2015, prevendo
que em caso de multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com
fundamento em idêntica questão de direito, deve ser afetado o recurso para
julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado o disposto no
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de
Justiça.
O presidente ou o vice-presidente de Tribunal de Justiça ou de Tribunal
Regional Federal selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da
controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior
Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a suspensão do trâmite de
todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou
na região, conforme o caso.
A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça ou do
tribunal regional federal não vinculará o relator no tribunal superior, que poderá
selecionar outros recursos representativos da controvérsia. Acontece, muitas vezes,
de o recurso ser afetado, mas, quando chega ao tribunal superior, não se mantém o
entendimento de fundo, por exemplo, quando os recursos não contêm abrangente
argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.
O relator identificará a questão submetida a julgamento e determinará a
suspensão dos processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem sobre a
questão nacional. As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu
processo, a ser proferida pelo respectivo juiz ou relator quando informado da
decisão de sobrestamento. Poderá, nesse caso, demonstrar distinção entre a
questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada no recurso especial ou
extraordinário afetado, requerendo o prosseguimento do seu processo.
Nesses recursos – repetitivos e de repercussão geral – é muito comum a
participação de entidades como amici curiae contribuindo para a elucidação da
matéria de direito em discussão. O CPC também esclarece os procedimentos a

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serem adotados após o julgamento, no art. 1.039. Uma vez decididos os recursos
afetados, os órgãos colegiados declararão prejudicados os demais recursos que
tratam da matéria e devem se submeter à tese firmada.
Como vimos, o STF pode negar a existência de repercussão geral no recurso
extraordinário afetado. Nesse caso, serão considerados automaticamente
inadmitidos os recursos extraordinários que tratem da matéria.
Uma vez publicado o acórdão paradigma, o presidente ou o vice-presidente do
tribunal de origem negará seguimento aos recursos especiais ou extraordinários
sobrestados na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação do tribunal
superior. Ato contínuo o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem,
reexaminará o processo de competência originária, a remessa necessária ou o
recurso anteriormente julgado, se o acórdão recorrido contrariar a orientação do
tribunal superior. Os processos suspensos em primeiro e segundo graus de
jurisdição, após o julgamento, deverá tomar o curso para julgamento e deverá ser
aplicação da tese firmada pelo tribunal superior.
Se o tribunal de origem mantiver o acórdão divergente, o recurso especial ou
extraordinário será remetido ao respectivo tribunal superior. Realizado o juízo de
retratação, com alteração do acórdão divergente, o tribunal de origem, se for o caso,
decidirá as demais questões ainda não decididas cujo enfrentamento se tornou
necessário em decorrência da alteração.
Se o recurso versar sobre outras questões, caberá ao presidente ou ao vice-
presidente do tribunal recorrido, depois do reexame pelo órgão de origem e
independentemente de ratificação do recurso, sendo positivo o juízo de
admissibilidade, determinar a remessa do recurso ao tribunal superior para
julgamento das demais questões.
No âmbito do Juizado Especial Federal, também cabe Incidente de
Uniformização de Jurisprudência, conforme prevê o art. 14 da Lei 10.259/01, sempre
que houver divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas
por Turmas Recursais na interpretação da lei, portanto apenas em matéria de direito.
Quando fundado em divergência entre Turmas da mesma Região, o incidente
será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz
Coordenador. Já quando fundado em divergência entre decisões de turmas de

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diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência


dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes de
Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal.
Vejamos que o objetivo é uniformizar matéria de direito entre turmas recursais
distintas. Se forem turmas da mesma região, a divergência será dirimida pela Turma
Regional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. Se forem turmas de
regiões distintas, a divergência será dirimida pela Turma Nacional.
Na hipótese de a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, contrariar
súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça -STJ, a parte
interessada poderá provocar a manifestação deste par dirimir a divergência. Nesses
casos, como prevê o art. 14, § 5º poderá o relator conceder, de ofício ou a
requerimento do interessado, medida liminar determinando a suspensão dos
processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida, provocando o
sobrestamento também nas instâncias ordinárias. Publicado o acórdão respectivo,
os pedidos retidos referidos sobrestados serão apreciados pelas Turmas Recursais,
que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los prejudicados, se veicularem
tese não acolhida pelo Superior Tribunal de Justiça.
Sobre a composição das Turmas Recursais a Lei estabelece que as Turmas
Recursais serão instituídas por decisão do Tribunal Regional Federal, que definirá
sua composição e área de competência, podendo abranger mais de uma seção. A
coordenação incumbirá a um Juiz do respectivo Tribunal Regional, escolhido por
seus pares. O mandato é de dois anos.
O Juiz Federal, quando o exigirem as circunstâncias, poderá determinar o
funcionamento do Juizado Especial em caráter itinerante, mediante autorização
prévia do Tribunal Regional Federal, com antecedência de dez dias.
O Conselho da Justiça Federal poderá limitar, por até três anos, contados a
partir da publicação desta Lei, a competência dos Juizados Especiais Cíveis,
atendendo à necessidade da organização dos serviços judiciários ou administrativos.
A Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais tem
editado diversos temas representativos de controvérsia, procurando estabelecer
entendimentos sobre matéria de direito controvertidas.

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Quando as instâncias ordinárias não cumprem as decisões das superiores,


cabe Reclamação, que tem por objetivo garantir a uniformidade de entendimento.

2.7 Mandado de Segurança

O Mandado de Segurança, atualmente, é regulado pela Lei 12.016/09, e


objetiva proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, alguém sofrer violação ou
houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade. Está previsto no
art. 5º, LXIX da Constituição Federal de 1988. Visa proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público.
No momento da impetração do mandado de segurança, deverão existir
elementos comprobatórios do direito liquido e certo. Na prática administrativa
previdenciária, há várias hipóteses de utilização do Mandado de Segurança:
a) Quando o INSS não fornece cópia do processo administrativo.
b) Quando a Autarquia não decide no prazo.
c) Quando o INSS não cumpre as decisões das Juntas de Recursos e
Câmaras de Julgamento.
d) Quando os órgãos dos Conselhos de Recursos não julgam no prazo.
Existem duas espécies de mandado de segurança na lei: o primeiro chamado
de repressivo em que já ocorreu o ato ou abuso tido por ilegal; o segundo
denominado de preventivo que ocorre quando existe o receio do impetrante vir a
sofrer os efeitos da violação de um direito líquido e certo por parte da autoridade.
O mandado de segurança, então, é repressivo quando houver violação efetiva
a direito líquido e certo do impetrante, por ilegalidade ou abuso de poder por parte
da autoridade. Por outro lado, será preventivo o MS, quando houver justo receio de
violação de direito líquido e certo do impetrante provoca pela administração pública
ou por quem exerce a sua função por delegação. Othon Sidou diz que para se
caracterizar a ameaça e, com isso, o justo receio de lesão deve existir um risco
potencial para causar o dano o ato administrativo.

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Há divergência quanto ao sujeito passivo no Mandado de Segurança – a


autoridade coatora no exercício de suas funções vincula à pessoa jurídica de direito,
e a relação processual do Mandado determina que o impetrante aponte a pessoa
jurídica de direito público que se encontra integrada à autoridade coatora.
Existem posições doutrinárias no sentido de que a autoridade coatora atua
como uma espécie de informante do juízo. Enquanto outros o impetrado apenas a
notificação judicial por ato reflexo à pessoa jurídica de que se vincula e, por isso, só
pode se qualificar como representante processual e não como parte.
Para a impetração do mandado de segurança não pode transcorrer os 120
(cento e vinte) dias contados, pelo interessado, do ato infracional praticado pela
autoridade coautora, entende-se que o prazo é suficiente para impetração ou da
ciência. Outra particularidade do mandando de segurança que, não há condenação
de honorários advocatícios e tem sido de certa forma uma ferramenta eficaz contra
um abuso contra ilegalidades praticada o que na prática deverá o advogado buscar
a remuneração através acordado com o próprio cliente.

2.8 Sustentação oral e técnicas de audiência

O Estatuto da OAB prevê, dentre os direitos do advogado, sustentar oralmente


as razões de qualquer recurso ou processo, nas sessões de julgamento, após o voto
do relator, em instância judicial ou administrativa, pelo prazo de quinze minutos,
salvo se prazo maior for concedido;
Porém, o STF julgou parcialmente inconstitucional, nos seguintes termos:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 8.906, DE 4
DE JULHO DE 1994. ESTATUTO DA ADVOCACIA E A ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL. DISPOSITIVOS IMPUGNADOS PELA AMB.
PREJUDICADO O PEDIDO QUANTO À EXPRESSÃO "JUIZADOS
ESPECIAIS", EM RAZÃO DA SUPERVENIÊNCIA DA LEI 9.099/1995.
AÇÃO DIRETA CONHECIDA EM PARTE E, NESSA PARTE, JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE. VII - A sustentação oral pelo advogado,
após o voto do Relator, afronta o devido processo legal, além de poder
causar tumulto processual, uma vez que o contraditório se estabelece entre
as partes. (ADI 1127, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em
17/05/2006, DJe-105 DIVULG 10-06-2010 PUBLIC 11-06-2010 EMENT
VOL-02405-01 PP-00040 RTJ VOL-00215-01 PP-00528)

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Portanto, o STF entendeu que a sustentação deve ser feita antes da leitura do
voto pelo relator.
A apresentação de memorias e, especialmente, a realização de sustentação
oral produzem importantes efeitos no julgamento das ações previdenciárias. Na
sessão de julgamento, os pedidos de sustentação oral terão preferência. Para
entender o procedimento em cada tribunal, é fundamental verificar o respectivo
regimento interno.
No Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, consta que as sessões
devem ser públicas, salvo quando o Regimento determinar que sejam secretas, ou
assim o deliberar o Plenário ou a Turma. Os advogados podem ocupar a tribuna
para formularem requerimento, produzirem sustentação oral, ou responderem às
perguntas que lhes forem feitas pelos Ministros.
Na ocasião do julgamento, o Presidente do Plenário ou da Turma, após o
relatório, dará a palavra, sucessivamente, ao autor, recorrente, peticionário ou
impetrante, e ao réu, recorrido ou impetrado, para sustentação oral. O assistente
somente poderá produzir sustentação oral quando já admitido.
Em algumas hipóteses, o Regimento prevê que não haverá sustentação oral
nos julgamentos de agravo, embargos declaratórios, arguição de suspeição e
medida cautelar. Os advogados e procuradores que desejarem realizar sustentação
oral por videoconferência, nas sessões presenciais de julgamento do Plenário e das
Turmas, deverão se inscrever, utilizando o formulário eletrônico disponibilizado no
sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal até 48 horas antes do dia da sessão.

IMPORTANTE
Os regimentos dos Tribunais são semelhantes, mas é muito importante que o
advogado que pretenda realizar sustentação oral verifique o procedimento,
especialmente quanto ao tempo que pode ser utilizado para sustentar as razões.

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50

CAPÍTULO 3 – DO DANO MORAL PREVIDENCIÁRIO

3.1 Dano moral: caracterização no direito civil

O dano é uma circunstância importante da responsabilidade civil. Identifica-se


quando há lesão sofrida pelo ofendido, no âmbito dos valores, protegido pelo direito.
Relaciona-se a sua própria pessoa (moral ou física), aos seus bens e ao seu direito.
Mas não é qualquer dano que é capaz de ensejar o ressarcimento, mas o dano
injusto, contra a lei, afastando-se o dano autorizado pelo direito. Como ensina o
Professor Yussef Said Cahali:
O instituto atinge agora a sua maturidade e afirma a sua relevância,
esmaecida de vez a relutância daqueles juízes e doutrinadores então
vinculados ao equivocado preconceito de não ser possível compensar a dor
23
moral com dinheiro.

Para o mesmo autor, o dano moral é a privação ou diminuição de valores


intrínsecos da pessoa, como a paz, a tranquilidade de espírito, a honra e os outros
afetos sagrados, caracterizando-se, desse modo, em dano que afeta a parte social
do patrimônio moral externa, por exemplo, a honra e a reputação, como, também, o
dano que alcança a parte afetiva, como os sentimentos de dor, tristeza, saudade,
etc. e, por fim, o dano moral que provoca direta ou indiretamente dano patrimonial
(cicatriz deformante, etc.) e dano moral puro (dor, tristeza, etc.), por si mesmo. 24
É na análise do caso concreto que se vai verificar se realmente houve abalo
moral passível de ser indenizado ou um mero aborrecimento, algo da vida cotidiana
de qualquer pessoa, que deve ser suportado ainda que com algum dissabor. E
importante a observação de Wladimir Novaes Martinez:
Sucedem pequenas ofensas, por vezes, embaraços com significa do
apenas momentâneo, choques naturais das relações humanas, falta de
respeito de pequena monta, cujo dia a dia deve abstrair e não chegam a se
constituir em dano moral. O certo é assimilá-las, perdoá-las ou ignorá-las.
Não há quem não as sofreu ou as causou. São fatos que não justificam a
25
ação processual, bastando a reclamação verbal.

23
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral; 2º ed. Editora Revista dos Tribunais, SP, 1998. p. 17
24
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral; 2º ed. Editora Revista dos Tribunais, SP, 1998. p. 20.
25
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Dano Moral Previdenciário. São Paulo: LTr, 2005. P. 30

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51

O dano moral, depois de muita resistência, surgiu no ordenamento jurídico


brasileiro em conjunto com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
momento o qual a carta magna trouxe, plenamente, a possibilidade de reparação do
dano moral, conforme dispõe o artigo 5º, incisos V e X.26 Por conseguinte, o Código
Civil de 2002 trouxe a previsão legal de que o dano exclusivamente moral também
deveria ser indenizável, referindo-se ao instituto expressamente em seu artigo 186.27
No que diz respeito ao conceito do dano moral, depreende-se de que, à luz da
Constituição Federal, pode-se dividir em dois aspectos distintos: em sentido estrito e
em sentido amplo. Em sentido estrito, o dano moral é a violação do direito à
dignidade e em sentido amplo, o referido dano é interligado ao direito da
personalidade, abrangendo todas as ofensas à pessoa, considerada esta em suas
dimensões individual e social.28
Tem-se, portanto, que o dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa,
não lesando o seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da
personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem e etc.,
acarretando ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.
No tocante aos bens lesados e à configuração do dano moral, malgrado os
autores em geral entendam que a enumeração das hipóteses, previstas na
Constituição Federal, seja meramente exemplificativa, não deve o julgador afastar-
se das diretrizes nela traçadas, sob pena de considerar dano moral pequenos
incômodos e desprazeres que todos devem suportar, na sociedade em que vivemos.
Para evitar excessos e abusos, recomenda SÉRGIO CAVALIERI, com razão,
que só se deve reputar como dano moral "a dor, vexame, sofrimento ou humilhação
que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero
dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da

26
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
27
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
28
Sérgio cavalieri filho. programa de responsabilidade civil 10ª ediçao – 2012.

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órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso


dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais
situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico
do indivíduo.29
Salienta-se, ainda, atinente à prova do dano moral que, salvo os casos
especiais (como o de inadimplemento contratual, por exemplo), dispensa-se prova
em concreto, pois se passa no interior da personalidade e existe in re ipsa, ou seja,
consiste em presunção absoluta. A verdade é que, por se tratar de algo imaterial, o
dano moral, ao contrário do dano material, não se prova, uma vez que a dor física, o
sofrimento emocional, a tristeza, a humilhação e a desonra são indemonstráveis por
meio de documentos, depoimentos, perícias ou quaisquer outros meios de prova e,
em razão do exposto, são presumíveis.30
A ofensa objetiva dos bens relativos ao dano moral tem, em geral, um reflexo
subjetivo na vítima, traduzindo na dor ou sofrimento, de natureza física ou de
natureza moral. São violados interesses materiais, como ocorre quando se pratica
uma lesão corporal ou um atentado a honra: em primeira linha causam-se danos não
patrimoniais, por exemplo, os ferimentos ou a reputação, mas, em seguida, podem,
também, causar-se danos patrimoniais, tais como as despesas de tratamento ou a
perda de emprego. Nas palavras do Professor Arnold Wald,
Dano é a lesão sofrida por uma pessoa no seu patrimônio ou na sua
integridade física, constituindo, pois, uma lesão causada a u bem jurídico,
que pode ser material ou imaterial. O dano material é causado a alguém
num dos seus direitos de personalidade, sendo possível a cumulação da
31
responsabilidade pelo dano material e pelo dano moral.

Também se constata que, ressalvadas as diferenças conceituais, o aspecto


essencial reside no sentimento interior do indivíduo para com ele mesmo e para com
a sociedade. Assim sendo, toda lesão não patrimonial que afeta o indivíduo e que
causa alguma repercussão no seu interior e é, pelo menos em princípio, passível de
reparação.

29
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 11. Ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
30
MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr,
2008.
31
WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989. p. 407

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A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso V, reconhece que é assegurado


o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano
material, moral ou à imagem. Assim, o dano moral, no sentido jurídico não é a dor, a
angústia ou qualquer outro sentimento negativo experimentado por uma pessoa,
mas, sim, uma lesão que legitima a vítima e os interessados reclamarem uma
indenização em dinheiro, uma espécie de compensação para amenizar, pelo menos
em parte, as consequências da lesão jurídica por eles sofridos.
Conforme destacam Farineli e Maschieto, para que o dano possa ser passível
de indenização, deve-se apurar alguns requisitos, tais como: atualidade, certeza e
subsistência. É atual o dano que efetivamente já ocorreu. O certo é aquele fundado
em um fato determinado, não em mera hipótese. E a subsistência significa dizer que
aquele dano ainda não foi ressarcido por aquele que o causou.32
Para os autores, o dano poderá ser patrimonial ou moral. Consideram
patrimonial aquele que trata do patrimônio da vítima, em que se perdem ou
deterioram total ou parcialmente os bens materiais economicamente avaliáveis.
Abrange os danos emergentes (o que a vítima efetivamente perdeu) e os lucros
cessantes (o que a vítima tinha a possibilidade de ganhar). Tudo isso estava
normatizado no art. 1059 do antigo Código civil, e atualmente no art. 402 do Código
Civil de 2002. Já o dano moral se trata de lesão de bens imateriais, ou seja, bens da
personalidade (ex. honra, imagem etc.).
É necessário também estabelecer o nexo de causalidade, que consiste na
relação de causa e efeito entre a conduta praticada pelo agente e o dano provocado
na vítima. No que diz respeito a estabelecer o nexo de causalidade, nem sempre é
tarefa fácil buscar a origem do dano, pois podem surgir várias causas, chamadas de
concausas, que podem ser concomitantes ou sucessivas. Quando as concausas são
simultâneas ou concomitantes, a questão é solvida com a regra do artigo 1518 do
antigo Código Civil, solução também presente no novo Código Civil, em seu art. 942.
Neles, estipula-se a responsabilidade solidária de todos que concorreram para o
resultado danoso.

32
FARINELI, Alexsandro Menezes; MASCHIETTO, Fabia. Dano Moral Previdenciário- Teoria e Prática. 2. Ed.
Leme: Mundo Jurídico, 2013.p. 85.

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33
Quanto às concausas sucessivas, surgiram três teorias a respeito.
A primeira é chamada “Teoria da Equivalência” das condições ou dos
antecedentes ou conditio sine qua non. Segundo essa teoria, quando se verifica que
existem várias circunstâncias que poderiam ter causado o prejuízo, qualquer delas
poderá ser considerada a causa eficiente, ou seja, se suprimida alguma delas, o
resultado danoso não teria ocorrido. Uma vez aplicada de forma isolada, essa teoria
leva a resultados absurdos, provocando infinitamente responsabilidades.
A segunda é a “Teoria da Causalidade Adequada”: segunda qual a causa deve
ser apta a produzir o resultado danoso, excluindo-se, portanto, os danos decorrentes
de circunstâncias extraordinárias, ou seja, o efeito deve se adequar à causa. Já a
terceira, a “Teoria da Causalidade Imediata” ou “Teoria dos Danos Diretos e
Imediatos”. Para esta teoria, é necessário que exista entre o fato e o dano uma
relação de causa e efeito direta e imediata. A escolha do nosso ordenamento
jurídico é por esta última teoria, conforme o art. 1060 do antigo Código Civil, bem
como no art. 403 do novo Código traduzem. Segundo nossa legislação, será causa
do dano aquela que está mais próxima, imediatamente (sem intervalo) e diretamente
(sem intermediário).Deve-se levar em consideração que a culpa exclusiva da vítima,
a culpa de terceiro, o caso fortuito ou a força maior, a cláusula expressa de não
indenizar, as excludentes de ilicitude, o estado de necessidade e a legítima defesa,
todas positivas em nosso ordenamento jurídico, retiram o nexo causal.
Outro aspecto relevante é a culpa. A culpa, para a responsabilização civil, é
abrange também o dolo, ou seja, todas as espécies de comportamentos contrários
ao direito, sejam intencionais ou não, mas sempre imputáveis ao causador do dano.
Seria incoerente penalizar a culpa, strictu sensu, e não o dolo, que á vontade de
cometer o ato ilícito. Pode-se diferenciar do seguinte modo: a culpa em si seria a
violação de um dever legal ou contratual, por imprudência, negligência ou imperícia;
já o dolo se caracteriza pela violação dos deveres de forma intencional, quer seja
buscando o resultado que aquele ato irá causar ou, ainda, assumindo o risco de
produzi-lo.

33
FARINELI, Alexsandro Menezes; MASCHIETTO, Fabia. Dano Moral Previdenciário- Teoria e Prática. 2.
Ed. Leme: Mundo Jurídico, 2013.p. 90.

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Certo é que não cogita de culpa quando o ato é ilícito. Para que se leve em
consideração o dano, deverá ser decorrente de ato ilícito. A matéria vem sendo
regulada diferentemente, ao longo do tempo, pelas diversas Constituições como se
verá das transcrições adiante.
Constituição Política do Império do Brasil de 1824:
Art. 179, 29 – Os empregados públicos são estritamente responsáveis pelos
abusos e omissões praticados no exercício das suas funções, e por não
fazerem efetivamente responsáveis aos infratores.

Constituição federal de 1891:


Art. 82. Os funcionários públicos são estritamente responsáveis pelos
abusos e omissões em que incorrerem no exercício de seus cargos, assim
como pela indulgência ou negligência em não responsabilizarem
efetivamente os seus subalternos.

Parágrafo único. O funcionário público obrigar-se-á por compromisso formal,


n ato da posse, ao desempenho de seus deveres.

Constituição Federal de 1934:


Art. 171. Os funcionários públicos são responsáveis solidariamente com a
Fazenda nacional, estadual ou municipal, por quaisquer prejuízos
decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seus
cargos.
§ 1º Não ação proposta contra a Fazenda pública, e fundada em lesão
praticada por funcionário, este será sempre citado como litisconsorte.
§ 2º Executada a sentença contra a fazenda, esta promoverá execução
contra o funcionário público.

Constituição Federal de 1937:


Art. 158. Os funcionários públicos são responsáveis solidariamente com a
Fazenda nacional, estadual ou municipal, por quaisquer prejuízos
decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seus
cargos.

Constituição Federal de 1946:


Art. 194. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente
responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessas qualidades,
causem a terceiros.
Parágrafo único. Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcionários
causadores do dano, quando tiver havido culpa destes.

Constituição Federal de 1967/69:


Art. 105. As pessoas jurídicas de direito público respondem pelos danos que
seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros.

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Parágrafo único. Caberá ação regressiva contra o funcionário responsável,


nos casos de culpa ou dolo.

Constituição Federal de 1988:


Art. 37, § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Verifica-se pelas duas primeiras Cartas Políticas, a de 1824 e a de 1891, os


funcionários públicos eram direta e exclusivamente responsáveis por prejuízos
decorrentes de omissão ou abuso no exercício de seus cargos. O estado nenhuma
responsabilidade assumia perante terceiros prejudicados por atos de seus
servidores. Imperava a teoria da irresponsabilidade do Estado por atos de seus
servidores.
Nas Constituições de 1934 e de 1937, verifica-se a presença do princípio da
responsabilidade solidária. Aquela pessoa que se sentisse prejudicada poderia
ajuizar uma ação contra o Estado ou contra o servidor público, ou ainda contra
ambos, ou contra um deles, segundo o seu critério de conveniência e oportunidade.
Com a Constituição Federal de 1946, passou a se aplicar o princípio da
responsabilidade em ação regressiva. Não há mais a figura da responsabilidade
direta do servidor ou da responsabilidade solidária. Assim, acaba o litisconsórcio
necessário. Com o Código Civil, que previu expressamente (art. 15), o princípio da
regressividade ganhou espaço na doutrina, influenciando na elaboração de textos
constitucionais a partir da Carta política de 1946, quando se adotou a teoria da
responsabilidade objetiva do Estado.
Desde a Constituição de 1967, houve uma expansão na responsabilização das
pessoas jurídicas de direito público por atos de seus servidores. Isso se acentuou na
Constituição de 1988, que passou a estender a responsabilidade civil objetiva às
pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.

FIQUE ATENTO:
A responsabilização do Estado pelos danos causados aos cidadãos é antiga. Já a
condenação em danos morais, por atos estatais, através dos prepostos (servidores

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públicos, por exemplo) assumiu proporções maiores recentemente, com a


Constituição Federal de 1988.

São responsáveis pela indenização do dano moral as pessoas que, direta ou


indiretamente se relacionam com o fato gerador do dano. Superadas as premissas
elementares acerca da caracterização e surgimento do dano moral no âmbito do
direito civil, far-se-á necessário tecer algumas considerações acerca do instituto do
dano moral na seara previdenciária, conforme se verá no tópico subsequente.

3.2 Dano moral previdenciário – caracterização

Preliminarmente, cumpre destacar que a Constituição Federal, ao se referir à


Administração Pública, traz em seu artigo 37, §6º que “as pessoas jurídicas de
direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nesta qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
A partir dessa perspectiva, imperioso destacar que não se faz necessário
provar a existência ou não de culpa do agente agressor para os casos de reparação
por dano moral em face da Administração Pública, bastando apenas demonstrar a
ocorrência do nexo de causalidade entre o ofendido e o ato do ofensor, que no caso
é o agente público.
Na definição do autor José Afonso da Silva, a afirmativa supracitada se refere à
teoria do risco administrativo, que assim aduz:
Não se cogitará da existência ou não de culpa ou dolo do agente para
caracterizar o direito do prejudicado à composição do prejuízo, pois a
obrigação de ressarci-lo por parte da Administração ou entidade equiparada
fundamentasse na doutrina do risco administrativo. A doutrina do risco
administrativo isenta-o do ônus de tal prova: basta que comprove o dano e
que este tenha sido causado por agente da entidade imputada. A culpa ou
dolo do agente, caso haja, é problema das relações funcionais, que escapa
34
a indagação do prejudicado.

Rememora-se, ainda, a existência da previsão infraconstitucional acerca do


direito à reparação por dano moral, conforme preceitua o artigo 927 do Código

34
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005.

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Civil.35 Entretanto, quando o ente agressor for público, a responsabilidade é objetiva,


presumindo-se que a culpa seja da Administração Pública, bastando apenas o nexo
de causalidade entre o ato agressor e a ofensa moral por ele causada, o que difere
se o ente for privado.
Nesses casos, destaca-se que o objetivo de impor o dano moral à
Administração Pública tem efeito educativo, para que a autarquia possa melhorar o
atendimento aos pedidos de benefícios de cunho previdenciário e caráter alimentar.
Adentrando no referido contexto da seguridade social, aponta-se a lição descrita por
Balera:
Arrumadas em sistema, as três partes que compõem o arcabouço saúde,
Previdência social e assistência social devem proporcionar, a todos,
seguridade social. A integração das áreas que, dentro e fora do aparelho
governamental, recebem a incumbência de satisfazer certos direitos sociais
implica na racionalização da atividade administrativa, permitindo, destarte,
melhor aproveitamento das particulares formas de proteção pelos
36
usuários.

Assim sendo, no que se refere ao dano moral previdenciário, necessário


ponderar que os benefícios de cunho eminentemente protetivo demandam eficiência
do serviço público, sob pena de inviabilizar o direito ao mínimo existencial para os
segurados da Previdência Social, colocando-os, muitas vezes, em manifesta
vulnerabilidade social em razão da falta ou retardamento da prestação do direito
social o qual o segurado faz jus.
Em consonância com o exposto, o autor Wladimir Novaes Martinez, esclarece
que:
A teoria jurídica que envolve os diferentes aspectos do dano moral,
naturalmente sediados no Direito Civil, acabou transportando-se para outras
áreas, particularmente ao Direito do Trabalho em que encontrou um habitat
florescente, e experimenta particularidades no Direito Previdenciário. As
razões dizem respeito à especificidade das técnicas protetivas da
seguridade social ou instituições correlatas, e a essência diferenciada da
aproximação do indivíduo ao Estado, quando ele objetiva creditar-se nos
37
meios de subsistência.

35
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187 ), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
36
BALERA, Wagner. Sistema de seguridade social. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 11.
37
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Dano moral no Direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 65.

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Acredita-se, portanto, que em determinadas situações envolvendo atraso nas


concessões de benefício previdenciário; retenção de valores sem esclarecimentos;
indeferimentos imotivados; acusação de fraude na concessão sem prévia-análise;
perda de documentos ou extravio de processos concessórios; recusa de protocolo,
erro grosseiro na apuração da RMI, dentre outras inúmeras possibilidades, pode-se
postular a reparação civil dentro das referidas conjunturas.
Por outro lado, há de analisar minuciosamente a incidência do fato à norma, ao
passo que, nem todo segurado que passar por determinado atraso na concessão,
por exemplo, sofrerá, necessariamente um dano imaterial, devendo o caso concreto
ser analisado sob a ótica da dignidade da pessoa humana e à luz dos direitos da
personalidade.
No Direito Previdenciário, a relação se dá entre segurado e dependentes de um
lado e de outro lado e de outro o INSS. Compete ao segurado ou dependente, os
quais tiveram seu direito negado, por vícios na concessão de benefícios
previdenciários ajuizar ação contra o INSS. Então, quanto aos polos Ativo e Passivo,
temos como Sujeito Ativo a vítima que tem o poder de ajuizar a ação, direta ou
indiretamente (representada por tutor ou curador) a fim de reparar ou atenuar o
prejuízo causado. Neste caso figurando no polo ativo da relação processual, como
Sujeito Ativo o segurado ou dependente (na ocorrência de falecimento do segurado).
A Jurisprudência admite que os sucessores da vítima do dano moral
proponham ou sucedam na ação judicial de reparação por danos morais contra o
INSS (assim como em qualquer outra hipótese). Já no caso de ações judiciais em
andamento, devido à morosidade da justiça, venha o segurado a falecer, seus
sucessores podem habilitar-se no processo judicial, conforme determina o art. 1060,
I do Código de Processo Civil. Quanto as questões que envolvem o custeio
previdenciário, o contribuinte pode ser pessoa física ou jurídica, e será o sujeito ativo
na ação judicial para reparação de danos nesses casos em discussão. É claro que é
mais difícil configurar um dano moral nessas situações.
Quanto ao sujeito passivo, em geral será o INSS. Mas pode ocorrer, por
exemplo, de haver litisconsórcio com uma instituição financeira, em caso de
consignado. Quanto à questão, é relativa ao custeio, é a União que deve ser o

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sujeito passivo na ação judicial. Desde a Lei 11.457/07, é de competência da


Receita Federal a arrecadação das contribuições previdenciárias.
Outro ponto a ser avaliado é o quantum de indenização a ser buscando. A lei
não estabelece ou fixa um parâmetro previamente definido para se apurar o valor a
título de dano moral. Por isso, as bases têm sido traçadas e desenhadas, caso a
caso, por nossas Cortes, em especial, pelo Superior Tribunal de Justiça,
responsável pela missão de uniformizar a aplicação do direito infraconstitucional.
O STJ recomenda que as indenizações sejam arbitradas segundo padrões de
proporcionalidade, conceito no qual se insere a ideia de adequação entre meio e fim;
necessidade-exigibilidade da medida e razoabilidade. Objetiva-se, assim,
preconizando o caráter educativo e reparatório, evitar que a apuração do quantum
indenizatório se converta em medida abusiva e exagerada.
Nessa senda, a jurisprudência tem atuado mais num sentido de restrição de
excessos do que, propriamente, em prévia definição de parâmetros compensatórios
a serem seguidos pela instância inferior. Contudo, o sistema processual civil
estabelece como regra geral o pedido certo e determinado. Todavia, em
determinadas situações, o legislador previu a possibilidade de formulação de pedido
genérico, como aquelas previstas no artigo 324, parágrafo 1º, do Código de
Processo Civil de 2015. É neste sentido inclusive que tem se posicionado o STJ.38
É muito difícil medir a dor monetariamente. A importância a ser paga vai se
submete a um poder discricionário, mas de acordo com alguma fundamentação.
A condenação deve ser do pagamento do que for arbitrado, mas de forma
razoável, porque não se trata de enriquecer um necessitado nem de aumentar a
fortuna de alguém que já tem muito, mas de impor uma sanção jurídica ao
responsável pelo dano moral causado. Outro critério a ser considerado como
agravante o proveito obtido pelo lesante com a prática do ato ilícito. Isso não quer

38
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS. PEDIDO GENÉRICO. POSSIBILIDADE. 1. Esta Corte Superior, nos
casos de indenização por danos materiais, é firme no seguinte sentido: "muito embora a lei processual imponha
que o pedido seja certo e determinado não obsta que o mesmo seja genérico, como, in casu, em que foi requerida
a indenização pelos danos materiais e morais sem definição, initio litis, do quantum debeatur" (REsp
693.172/MG, PRIMEIRA TURMA Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 12.9.2005). 2. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1321219/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
02/05/2017, DJe 04/05/2017).

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dizer que a ausência de eventual vantagem não o isenta da obrigação de reparar o


dano causado ao ofendido.
A fixação do valor indenizatório não pode ser decorrer de fatores subjetivos,
como a condição socioeconômica das partes envolvidas. De um lado, há a ideia de
punição do infrator, que não pode ofender em vão o patrimônio moral do outro; de
outro lado, deve proporcionar à vítima uma compensação pelo dano sofrido.
Quanto à punição do culpado, a condenação deve considerar as condições
econômicas e sociais e a gravidade da falta cometida, segundo um critério subjetivo.
Deve haver proporcionalidade entre as duas coisas.
Mais do que em qualquer outro tipo de indenização, a reparação do dano moral
há de ser imposta a partir do fundamento mesmo da responsabilidade civil, que não
visa a criar fonte injustificada de lucros e vantagens sem causa. Vale, por todos os
melhores estudiosos do complicado tema, a doutrina atualizada de Caio Mário, em
torno do arbitramento da indenização do dano moral.
“E se em qualquer caso se dá á vítima uma reparação de dano vitando, e
não do lucro capiendo, mais que nunca há de estar presente a preocupação
de conter a reparação dentro do razoável, para que jamais se converta em
fonte de enriquecimento” (Instituições cit., loc. Cit.).

Nessa linha, o Tribunal de Alçada de Minas Gerais já manifestou que “para a


fixação do quantum em indenização por danos morais, devem ser levados em conta
a capacidade econômica do agente, seu grau de dolo ou culpa, a posição social ou
política do ofendido, a prova da dor” (TAMG, Ap. 140.330-7, Rel. Juiz BRANDÂO
TEIXEIRA, ac. 05.11.92, DJMG, 19.03.93, pág. 09).
Por sua vez, o Tribunal de Justiça de São Paulo, a correta estimação da
indenização jamais poderia ser feita levando em conta apenas o potencial
econômico da empresa demandada. Era imperioso cotejar-se, também, a
repercussão do ressarcimento sobre a situação social e patrimonial da ofendida,
para que lhe fosse proporcionada - como decidiu o TJ de São Paulo - “satisfação na
justa medida do abalo sofrido, sem enriquecimento sem causa” (Ap. 142.932-1-3,
Rel. Des. URBANO RUIZ, ac. 21.05.91, in RT 675/100).
Por fim, importa referir, também, a lição ministrada pelo Tribunal de Justiça do
Paraná:

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Ao magistrado compete estimar o valor da reparação de ordem moral,


adotando os critérios da prudência e do bom senso e levando em estima
que o quantum arbitrado representa um valor simbólico que tem por escopo
não o pagamento do ultraje - a honra não tem preço -, mas a compensação
moral, a reparação satisfativa devida pelo ofensor ao ofendido” (TJPR, Ap.
19.411-2, Rel. Des. OTO LUIZ SPONHOLZ, ac. 05.05.92, in RT 66/206).

Se, à falta de critérios objetivos da lei, o Juiz tem de se valer da prudência para
atender, em cada caso, às peculiaridades assim como à repercussão econômica da
indenização pelo dano moral, o certo é que o valor da condenação, como princípio
geral, não deve ser nem tão grande que se converta em fonte de enriquecimento,
nem tão pequeno que se torne inexpressivo (TJMG, Ap. 87.244-3, Rel. Des. BADY
CURI, ac. 09.04.92, in Jur. Mineira, 118/161).
A maior dificuldade na matéria que estamos versando é chegar-se a um índice
que oriente a fixação do montante da indenização. O valor fixado deve ter caráter
pedagógico, para que no caso em discussão o INSS e União, não voltem a cometer
atos eivados de vícios que acarretem lesão aos segurados ou seus dependentes,
evitando-se, assim, causar danos a estes. A fixação do valor do dano moral deve ser
de caráter punitivo, sendo maior a sua fixação em casos se reincidência.
Mas a reparação do dano moral, ainda que pecuniária, não indeniza
satisfatoriamente. O dano íntimo, a angústia em não receber o benefício que lhe é
devido, o receio de passar fome e toda sorte de dificuldade, pela não concessão
indevida pelo INSS de prestações substitutivas da renda, como auxílio-doença,
aposentadoria por invalidez, pensão por morte, aposentadoria por idade, causaria a
quase todas sentimentos de tristeza, de injustiça, de revolta, etc.

IMPORTANTE
Uma das maiores dificuldades na condenação em danos morais é na estipulação do
valor adequado, capaz de ressarcir o dano, de compensar a vítima. No mais, das
vezes, acaba sendo arbitrário, estimado pelo julgador, a partir de parâmetros da
Jurisprudência e da análise que o julgador faz do caso concreto.

Por derradeiro, insta ressaltar que a jurisprudência, como fonte informadora do


Direito, tem se pautado de maneira decisiva para a viabilidade da reparação civil

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imaterial dentro da seara previdenciária conforme abordado anteriormente, de


acordo com o que se discorrerá brevemente no tópico seguinte.

3.3 Dano moral na Jurisprudência

A partir dos conceitos elementares acerca do instituto do dano moral


anteriormente abordados, aponta-se, a seguir, algumas decisões recentes
envolvendo dano moral na seara previdenciária, conforme se vê:
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL.
FINANCIAMENTO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. SEGURADO DO INSS.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. BANCOS. INSS. INDEVIDA INSCRIÇÃO
EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. DANO MORAL Responde o INSS
pelos danos causados ao autor em face de injustas cobranças e inscrição
em cadastros de inadimplentes, já que estes ocorreram por equívoco do
órgão previdenciário. A instituição financeira não poderia exigir da parte
autora o adimplemento de parcela já deduzida dos seus proventos. Devida
indenização por danos morais à parte autora. Apelação improvida. (TRF4,
AC 5014804-83.2013.4.04.7112, QUARTA TURMA, Relator OSCAR
VALENTE CARDOSO, juntado aos autos em 13/02/2019)

Vejamos que, no caso acima, tratava-se de um litisconsórcio passivo entre


INSS e instituições financeiras.
O erro flagrante, inescusável, também é capaz de ensejar a condenação do
INSS em indenizar por danos morais, conforme se verificou no caso abaixo:
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CESSAÇÃO DE
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. ERRO FLAGRANTE DO INSS.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. 1. Embora a mera negativa de
concessão de benefício previdenciário ou sua cessação não gerem direito à
indenização quando fundados em interpretação específica da legislação de
regência, diferente é a hipótese quando configurado erro inescusável da
autarquia previdenciária, impondo ao segurado danos patrimoniais e
extrapatrimoniais. 2. Evidenciada a existência de nexo causal entre a
conduta do Instituto Nacional do Seguro Social e os danos causados à parte
autora, é inafastável o direito à reparação pretendida, porquanto
inquestionável que os transtornos suportados transcendem o mero
aborrecimento. (TRF4, AC 5036241-60.2015.4.04.7000, QUARTA TURMA,
Relatora VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos autos em
04/11/2019)

O INSS ainda tem falhas nos sistemas que, por vezes, causam severos
aborrecimentos, o que também pode levar à condenação.
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. SAQUE
INDEVIDO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. 1. Cabível indenização por
danos morais ao autor que, por falha no servido do INSS e do banco, teve
valores do benefício previdenciário sacados indevidamente por terceitos

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mediante fraude. 2. Mantida indenização, fixada em R$ 20.000,00 3.


Apelações improvidas. (TRF4, AC 5009056-52.2017.4.04.7202, QUARTA
TURMA, Relator MARCOS JOSEGREI DA SILVA, juntado aos autos em
30/10/2019)

Como bem se aborda no caso abaixo, o dano tem que ultrapassar o mero
dissabor:
DIREITO ADMINISTRATIVO. DANO MORAL. INSS. BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL PROPOSTA COM
DESRESPEITO DE DECISÕES JUDICIAIS PRETÉRITAS TRANSITADAS
EM JULGADO. ABALO PSÍQUICO DEMONSTRADO. COMPROVAÇÃO
DO NEXO CAUSAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. São três os elementos
reconhecidamente essenciais na definição da responsabilidade civil - a
ilegalidade, o dano e o nexo de causalidade entre um e outro. Comprovada
a ilegalidade, o dano e o nexo causal, exsurge a obrigação de indenizar.
Demonstrada falha do INSS que ensejou a propositura indevida de
execução fiscal contra o espólio do segurado e que, inequivocadamente,
causou expressivo abalo psicofísico na demandante. É inquestionável que a
situação vivenciada pela parte autora - para a qual em nada contribuiu - lhe
causou transtorno de tal monta que suplanta o mero dissabor cotidiano,
sendo passível de reparação. No arbitramento da indenização advinda de
danos morais, o julgador deve se valer do bom senso e razoabilidade,
atendendo às peculiaridades do caso, não podendo ser fixado quantum que
torne irrisória a condenação, tampouco valor vultoso que traduza
enriquecimento ilícito. Quantum indenizatório mantido. (TRF4, AC 5038169-
37.2015.4.04.7100, QUARTA TURMA, Relatora VIVIAN JOSETE
PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos autos em 14/02/2019)

A Jurisprudência em matéria de dano moral previdenciário ainda é incipiente,


percebendo-se grande resistência em reconhecer-se que os segurados, ainda que
sofram consequências além das materiais, ou seja, além do não recebimento do
benefício.

IMPORTANTE
Há resistência do Judiciário em reconhecer a possibilidade de dano moral na área
previdenciária. Mas já existem algumas decisões favoráveis.

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Material. Disponível em <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5260>.
Acesso em 16. Jan. 2012.

BEIRÃO JR, Gustavo. Processo Administrativo Previdenciário e sua efetividade.


Curitiba: Juruá, 2019.

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CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Civil. v. 2. 2 ed. Campinas:


Bookseller, 1998.

FARINELI, Alexsandro Menezes; MASCHIETTO, Fabia. Dano Moral


Previdenciário- Teoria e Prática. 2. Ed. Leme: Mundo Jurídico, 2013.

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Alcebíades. O Novo em Direito e Política. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 11.


Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Prova. 2. Ed. ver. atual. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

MARTINEZ, Wladimir Novaes. Dano moral no Direito previdenciário. 2. ed. São


Paulo: LTr, 2009.

MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do


trabalhador. 3. ed. São Paulo: LTr, 2008.

PACIFICO, Luiz Eduardo Boaventura. O Ônus da Prova. São Paulo: Revista dos
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Juizados Especiais Federais. 7. Ed. rev. atual. Curitiba: Alteridade, 2019.

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SAVARIS, José Antonio. Direito Processual Previdenciário. 8. Ed. rev. atual.


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SOUZA, Artur César. A Parcialidade Positiva do Juiz (Justiça Parcial) como Critério
de Realização – no Processo Jurisdicional – das Promessas do Constitucionalismo
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STRECK, Lenio. O Livre Convencimento e a sua Incompatibilidade com o Dever de


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