M7 - Crer Também É Pensar
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CRER TAMBÉM É PENSAR
l I ntrodução
Para melhor compreensão, uma dica de leitura é o livro de John Stott, "Crer
Também é Pensar", de leitura agradável que nos convida a entender que fé não
é uma questão simplesmente subjetiva, mas para usar a nossa fé também
temos que pensar.
Crente precisa usar a cabeça, crente precisa ser alguém que pensa, crente
precisa ser alguém que leva a sério as coisas da razão. Não pode simplesmente
abandonar a nossa racionalidade, como estamos acostumados, de colocar razão
e fé como se fossem inimigos mortais, muito pelo contrário, a razão pode ser um
grande aliado a nossa fé.
Muitas vezes temos essa referência de antagonismo, de inimizade entre razão e
fé. Na realidade a fé é aquele árbitro da nossa razão, e da nossa emoção, porque,
às vezes, iremos pensar errado e quem irá me corrigir será a minha fé, às vezes
eu sinto errado e a minha fé dirá que estou sentindo errado. Gosto sempre de
pensar que o céu é um lugar para quem usa a cabeça, ninguém que não usa a
cabeça irá para o céu, ou seja, racionalidade não pode ser excluída da fé, elas
caminham juntas
l Filosofias que Entraram na Igreja
Faço esses levantamentos como incentivo para que nos acostumemos, como
líderes cristãos, a levar esse tema mais a sério, do nosso pensamento, da nossa
reflexão de olhar para a igreja, de olhar para a sociedade, de olhar para cultura,
de olhar para o mundo e de olhar para dentro da igreja e saber que não somos
reféns dos pensamentos de outras pessoas.
A intenção é provar que as quatro filosofias que discutiremos a seguir, estão
permeando dentro da igreja, que muitas vezes, quando as pessoas sobem no
púlpito para falar sobre evangelho, em vez de falar do Evangelho, falam dessas
quatro filosofias.
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l Dualismo
Como já conversamos, o dualismo fala de criar contornos, a vida só cabe dentro
deste pequeno mundo separado do outro. A ideia de que tudo que tem a ver
com corpo é ruim.
Já presenciei em nosso portal de alunos uma discussão sobre isso. Foi visível
perceber que existia um pensamento dualista empregado na ideia de que a
sexualidade é uma coisa ruim, porque o sexo é no corpo e tudo que é do corpo é
ruim. Somente é possível viver coisas boas dentro desse limite criado no
dualismo.
Evangelismo: uma pessoa que tem essa ideia de dualismo na cabeça, irá
evangelizar alguém afirmando que esta pessoa está no lugar errado, pois o
único lugar seguro é dentre estas paredes que acostumamos a chamar de
igreja. O Evangelismo é mais geográfico do que espiritual. Imagine uma pessoa
passando por depressão e um pastor, um líder dualista, ao consolar essa pessoa
deprimida, dirá: “Querido, você está depressivo porque você está no lugar
errado, se você entrar de novo nesse território seguro, os seus problemas
emocionais irão acabar, você está deprimido porque você está longe deste
lugar.”
Assim também fez um dos amigos de Jó, trabalhando essa ideia:
“Jó, você está assim porque pecou. Volta para aqui para dentro.” Mas a pessoa
pode argumentar com você que nunca saiu da Igreja, mesmo assim o dualista
continuará a afirmar que ela saiu do lugar que deveria estar. O evangelismo,
para esse tipo de raciocínio, tem a ver com você estar no lugar errado, volte para
o aprisco, volte para dentro dessa região de domínio, que as coisas vão ficar
bem.
Reino: Reino aqui é uma ideia de clausura, é quase como se fosse um aquário. A
vida somente é possível no reino de Deus, que é esse muro e não tem nada de
Deus lá fora. Então, quando uma pessoa irá pregar ou anunciar o reino de Deus,
está simplesmente falando de dentro das quatro paredes. O reino aqui é uma
coisa muito pequena.
Santidade: Temos o péssimo hábito de, ao falar sobre santidade, pensar que
todo mundo está entendendo igual essa palavra. Dentro desse sistema filosófico
chamado dualismo, a santidade significa isolar. Você não conseguirá ser santo
se você não se isolar de tudo.
2
l Gnosticismo
No gnosticismo, existe uma necessidade de conhecer os mistérios, os segredos.
Nele, é como se houvessem esferas, subníveis. Você que já jogou videogame
sabe que, em cada nível tem um "Chefão" que você precisa vencer. O mesmo
ocorre no gnosticismo, dentro dessas esferas você precisa achar uma chave ou
um conhecimento e quando você derrotá-lo, terá o conhecimento para ir ao
nível acima. No pensamento gnóstico, as pessoas estão sempre evoluindo de
fase, e para evoluir você precisa de uma nova revelação, de um novo segredo, de
um novo conhecimento oculto e sem aquele conhecimento oculto você não irá
para o próximo nível.
Santidade: Tudo é muito oculto, as pessoas mais santas são aquelas que
descobrem segredos que ninguém mais sabe. Como a vida é dividida em níveis,
você sempre tem que passar por esses mediadores. Não se tem um acesso
direto com Deus, a sua relação é uma relação que precisa ser sempre mediada
de degrau a degrau.
Evangelismo: Aqui se trabalha numa dimensão muito estranha o evangelho,
porque o gnóstico está falando em atiçar a curiosidade das pessoas. Ele afirma
para a pessoa que existe um segredo para prosperar, ele sabe esse segredo e
você não sabe. Ao evangelizar, o gnóstico tenta demonstrar que é portador de
um conhecimento que ninguém mais tem, conversando com pessoa de tal
forma que ela fique muito curiosa, que ela fique muito atiçada, para que ela
venha para o seu lado e aprenda com o líder espiritual que sabe mais do que ela.
A pessoa sente essa necessidade de conhecer esses segredos, criando uma
relação que se estabelece de dependência emocional espiritual, porque esse
Líder é alguém que vai trazer um conhecimento sobrenatural, que libertará a
vida dessa pessoa. O evangelho trata uma coisa muito diferente, fala da relação
pessoal com Jesus Cristo.
Reino: É completamente subjetivo, esse reino não tem coisas concretas, porque
simplesmente basta as sensações, que são experiências, são revelações que
você tem que ter, são conhecimentos Sobrenaturais que você precisa ter para
chegar a esse conhecimento superior.
l Como esses Pensamentos afetam as Pessoas
O dualismo é uma tentativa de responder o problema do medo, então ele diz: já
que nenhum lugar é seguro, vamos tentar criar um lugar seguro aqui para você
ficar. Então, pense que você está com alguém passando por um problema
seríssimo e, em vez de falar sobre Jesus Cristo, em vez de falar sobre a verdade
do evangelho que é Libertador, você trabalha com o medo das pessoas, falando
que o mundo é isso, o mundo é aquilo.
3
Cuidado! a pessoa com medo é um alvo fácil do dualismo, e essa pessoa com
medo, ao encontrar a filosofia do dualismo, se torna uma pessoa preconceituosa.
Preconceituosa porque o medo encontrou um sistema filosófico pagão, que não
evangélico e a pessoa irá se isolar, pois tem medo de tudo que está lá fora e,
toda vez que ela vê alguma coisa diferente, que não está no seu mundo seguro,
ela segrega. Ela é acostumada a se isolar porque essa é uma santidade de
isolamento.
Isso cria naturalmente, ao longo dos anos, um sentimento de preconceito com
tudo que não tem a ver com esse quadradinho criado no dualismo. Esse sujeito
está dentro da igreja, mas é um sujeito cheio de preconceito e cheio de medo. O
evangelho era para responder essas questões, mas essa pessoa agora está pior
do que entrou, porque, em vez de ter acesso ao evangelho, ela teve acesso ao
dualismo.
No gnosticismo, a pessoa tem o desejo de conhecer, porque ela olha para a vida
e sabe que não tem muita coisa, que não tem resposta, há essa necessidade de
conhecer as coisas. Cheio de perguntas sobre como é a vida, sobre como as
coisas são e sobre como as coisas deveriam ser, a pessoa, ao se deparar com o
gnosticismo, é atiçada pela curiosidade e com passar do tempo se transforma
praticamente num Feiticeiro, porque agora, a fé dessa pessoa é uma fé
incrivelmente Mística, cheio de rituais que permitem te levar para um novo nível
de fé.
Então ela começou cheia de necessidade, de conhecimento, de coisas
importantes e termina como especialista em rituais. Não conhece sobre a vida,
mas conhece sobre todos os rituais possíveis, e vemos isso de forma muito clara
na igreja.
l Pragmatismo
O pragmatismo tem a ver com fazer tudo de maneira prática, essa relação de
causa e efeito, de ter que bater meta, o resultado que é importante. Chamo a
sua atenção, o Evangelho não é pragmatismo, e sabe por que eu posso afirmar
com tanta certeza? Porque para Jesus sair do céu, cheio da sua glória e descer
na terra, não foi nada prático. Jesus subiu numa cruz e o prático era ficar fora da
Cruz. Isso significa que o evangelho irá te desafiar a fazer coisas que não são
práticas.
O filósofo Cortella diz que: trabalhar é muito menos prático de roubar. Roubar
um banco é muito mais prático, bastando planejar, mas se quiser a mesma
quantia trabalhando, precisará trabalhar 10 anos. Trabalhar 10 anos é muito
menos prático do que roubar um banco.
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➔ O pragmatismo hoje: Vivemos numa sociedade onde as coisas práticas são
santificadas, tudo que é prático é melhor e confundimos o Evangelho com isso,
por exemplo: amar um esposo, uma esposa não é tão prático, apesar de você ter
necessidade de fazer coisas concretas, você precisa lavar louça, você precisa
arrumar a casa, é claro que coisas práticas são indispensáveis, mas o
relacionamento ele vai muito além de questões práticas. Nem sempre o amor te
levará por um caminho tão prático.
O pragmatismo ilude, nos fazendo pensar que o evangelho vem, simplesmente,
para tornar nossa vida mais prática. Não! O evangelho vem para tornar nossa
vida mais cheia de significado e, às vezes, o significado será encontrado nos
lugares mais improváveis possíveis. Precisamos ser práticos, precisamos ser
lógicos, mas a vida vai além do que é prático.
Santidade: Falamos aqui de resultado. Ser santo é oferecer o resultado que se
espera de você, que o seu Líder espera de você. O sujeito Santo na igreja é o que
mais traz resultado para igreja.
Evangelismo: Se reduz a métodos e modelos. Evangelizar é conhecer todos os
métodos possíveis.
Cuidado com essa relação. Nós, como cristãos, precisamos ser práticos, se uma
pessoa está com fome, levamos um prato de comida para ela, não adianta
evangelizar essa pessoa de barriga vazia. Perceba que não é uma luta para que o
evangelismo vire abstrato, até porque, a perfeita abstração pende para o
gnosticismo, que é uma coisa totalmente subjetiva. Assim como corremos o
risco de ir para o universo como um todo subjetivo, também corremos o risco de
ir fundo a um universo que se perdem somente em questões práticas. A vida
tem coisas práticas e coisas não práticas, conhecer métodos são importantes
mas o evangelho não é um método.
Reino: O reino então tem relação a bater metas, ser cidadão do reino é ser
prático.
l Liberalismo
Talvez desses quatro grupos, é o menos presente no Brasil, mas é muito comum
na Europa e Estados Unidos. O liberalismo teológico trabalha com um olhar de
desconfiança para Deus, um olhar de desconfiança para a Bíblia, um olhar de
desconfiança, para tudo que é sobrenatural e espiritual.
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Santidade: é muito pessoal, cada um desenvolve o seu tipo de santidade. Como
é impossível ter certeza de tudo, não tem tanta certeza na Bíblia, a santidade,
aqui, é uma questão particular e individual, cada um desenvolve um conceito.
Perceba que existe um pêndulo entre subjetividade e objetividade: ou você
amarrar toda a fé numa esfera subjetiva ou se amarra toda a fé numa esfera
objetiva, não existe o equilíbrio.
Evangelizar: é simplesmente compartilhar teorias, não existe o evangelismo, já
que ninguém quer converter ninguém.
Reino: a razão é o reino dessas pessoas
l Como esses Pensamentos afetam as Pessoas
Quando uma pessoa entra no pragmatismo, ela também tem uma
preocupação muito real, porque está pensando em que há coisas precisam ser
feitas e essa necessidade as leva a agir. Ação é muito bom, mas quando essa
pessoa, que percebe a realidade necessitando de coisas perfeitas, encontra o
pragmatismo, reduz o evangelho a metas e, no final das contas, ela vai estar
mais sensível para padrões, para modelos do que para pessoas.
No final desse processo, ao longo dos anos, essa pessoa que entrou na filosofia
do pragmatismo, desenvolverá insensibilidade em relação as pessoas, porque os
métodos dominarão o seu coração.
No liberalismo, essa pessoa tem dúvidas e, com o passar do tempo, essas
dúvidas se tornam cada vez mais perigosas, no sentido de que desafiam e
enfraquecem a fé.
A filosofia do liberalismo está principalmente presente em seminários
teológicos. Imagina o pastor da sua igreja, ao ir para um seminário onde existe
esse liberalismo teológico. Ele aprende no seminário a duvidar de tudo e ele sai
de lá, em vez de ter uma fé mais robusta, saem cheios de dúvidas, cheios de
minhocas na cabeça. Pode ocorrer que este pastor congregue numa igreja, às
vezes, cheio de dualismo, cheio de gnosticismo. Essa igreja não tem como ser
saudável, porque existe uma mistura de filosofias tão grande que o Evangelho é
confundido com filosofia.
Nesses quatro modelos apresentados, podemos ver que existe uma tentativa
humana de tentar resolver os problemas humanos.
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● O pragmatismo traz essa necessidade de que a vida é repleta de
necessidade, de coisas que precisam ser feitas. O liberalismo se dá conta de
que temos dúvidas.
São coisas reais, são coisas que cada um de nós temos, mas quando usamos
qualquer uma dessas filosofias, trazendo respostas humanas para esses padrões,
acabamos por deixar as pessoas cada vez mais mergulhadas no problema.
➔ O que fazer: Para resolver cada uma dessas questões, o evangelho apresenta
Jesus Cristo. Por isso, insisto tanto com você, estude melhor a filosofia, para
perceber nas igrejas ou na igreja que você congrega, ou entre amigos que são
evangélicos, que se dizem cristãos, quando o cristianismo é confundido. Você
precisa ser alguém que se levanta como profeta, como Arauto, para dizer que
cristianismo não é isso, não prega essas filosofias.
l Adoração nas Filosofias
Ao presenciar a adoração dentro de uma igreja que é dualista, perceba que a
adoração dessa igreja é simplesmente um momento onde se maquia o medo,
não é uma conexão profunda, um ato de serviço a Deus, um ato de consciência
de quem Deus é, mas é um movimento de combater e maquiar como se fosse
uma morfina.
Dentro do gnosticismo adoração é completamente subjetiva, não tem nenhum
elemento prático nessa adoração. É simplesmente o movimento de se perder
em sensações incrivelmente subjetivas, sem nenhum corte para realidade. Uma
igreja que adoração é gnóstica, carece de realidade, precisando se conectar com
a corrupção, com a necessidade do vizinho.
Na igreja tomada pelo pragmatismo, há adoração simplesmente as obras essa
igreja faz. Isso é bom, pois a igreja precisa de obras e eles estão certos porque
não existe adorador que não toque na realidade sensível, adorar é tocar na
realidade, mas também é conhecer um Deus e ser transformado por esse
conhecimento. É como se os pragmáticos entendessem um lado da moeda, mas
falta conhecer o outro lado.
E no liberalismo não existe espaço para adoração, porque esse coração está
completamente recheado por dúvidas. Se queremos uma igreja mais saudável
nos próximos anos, precisamos saber identificar se as filosofias que entraram na
igreja.
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Creio que se você está sentado aí, lendo esta apostila, essa responsabilidade
também a sua. Te desafio a pensar, gastar algum tempo meditando se você
consegue reconhecer alguma dessas filosofias ou se você intui, porque intuir
também é uma forma de conhecimento, que existe alguma coisa errada no
evangelho que se tem pregado nas nossas igrejas.
Muitas vezes, queremos ser espirituais, e devemos ser, mas percebo este fato: as
pessoas que mais dizem querer ser espiritual, às vezes, são as mesmas que estão
trazendo essas filosofias. É muito comum, na minha prática, as pessoas dizerem
que as coisas do mundo não podem entrar na igreja. Essa frase é verdadeira,
mas essas filosofias é que são a própria essência do mundo entrando na igreja,
são elas que não podem entrar.
Tem muita gente que quer entrar na igreja e chega na porta, começa a se
relacionar com os membros e, em vez de ver o evangelho vivo, vibrante, que
transforma a realidade e que transforma o caráter das pessoas, encontra
dualismo e percebe, mesmo não sendo Cristã, que dentro do dualismo não
existe uma resposta profunda para o medo dela. Ela não fica nessa igreja, não
cria raízes nessa igreja, porque sente que o medo dela precisa de uma resposta
mais profunda. E isso vale para qualquer uma dessas categorias filosóficas.
➔ Desafio Pastoral: O meu desafio é: você precisa ter um discernimento de quais
filosofias entraram na sua própria igreja, para que você saiba se posicionar, para
que você saiba defender o grupo de fé congrega.
Quando somos chamados a ser Profetas, somos convocados a ser um grupo de
pessoas que tem um compromisso com a verdade, que não quer trocar o
evangelho por qualquer outra coisa.
O próprio Paulo fala no livro de Gálatas: se mesmo um anjo trouxe algum outro
evangelho, que seja anátema - e esses Evangelhos são anátemas, e tem muita
gente dentro da sua igreja que talvez conheço um desses quatro falsos
Evangelhos - e o seu dever, como diz em II Timóteo Capítulo 4: “pregar a
palavra há tempo oportuno, há tempo que não seja tão oportuno, pregar de
tal forma que você corrige, repreende e exorta”. A palavra exortação tem um
sentido de incentivar, e apoiar, não é empurrar para baixo e sim puxar essa
pessoa para que agora seja motivada. E existe um modo para fazer isso: com
toda a doutrina, ou seja, com conhecimento da Bíblia de fato e com toda
longanimidade, porque aquele que prega precisa ser paciente.
Se existe uma pregação com impaciência, existe um erro sério que tem entrado
em nossas igrejas. Isso precisa ser combatido, precisa da sua consciência para
ser alcançada pelo evangelho, mas você precisa fazer isso em amor e paciência.
A filosofia é importante para você porque existe muita gente precisando
conhecer o verdadeiro evangelho.
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