Cartilha Fuvest 2020 - FMRP - Usp - Turma Lxix

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1

TURMA LXIX
2

Sumário:

Desempenhos………………………………….…………………3

-FUVEST

-ENEM

Redações…………………………………………………………7

Estatísticas………………………………………………………43

Depoimentos……………………………………………………55
3

Desempenhos (FUVEST):

Modalidad Primeira 2˙ Fase- 2˙Fase- 2˙ Classifica


e Fase 1˙ dia dia Redação Nota Final ção
AC 81 82,5 87,5 47 866,67 1
AC 82 78 89,17 44,5 860,93 2
AC 80 81 88,33 45 860,74 3
AC 80 81 85,83 48 852,41 4
AC 81 74 90,83 36 849,44 5
AC 85 76 83,33 40 845,93 6
AC 81 77,5 85,83 43 844,44 7
AC 78 84 82,5 45 843,89 8
AC 76 83,5 85 48,5 843,15 9
AC 78 79,5 86,67 44,5 842,78 10
AC 77 81 81 44,5 838,52 11
AC 83 77,5 81,67 41 837,96 12
AC 75 82 85,83 45 837,22 13
AC 83 74,33 84,17 43,33 835,74 14
AC 79 78 84,17 39,5 833,15 15
AC 84 73,5 82,5 38,5 831,11 16
AC 76 85,5 78,33 44,5 827,59 17
AC 81 74 84,17 41 827,22 18
AC 79 82 78,33 42 827,04 19
AC 78 74,17 86,67 38,67 825 20
AC 83 73,5 81,67 37 824,63 21
AC 80 80 78,33 39,5 824,07 22
AC 80 71,5 86,67 37,5 823,52 23
AC 80 68 90 38,5 822,96 24
AC 81 81 75,83 42,5 822,78 25
AC 75 80,5 82,5 41,5 821,11 26
AC 80 78 79,17 40 820,19 27
AC 77 73,5 86,67 38 819,07 28
AC 77 73,5 85,83 37,5 816,3 29
AC 77 77,5 81,67 45 815,74 30
AC 78 70 87,5 38 813,89 31
AC 80 76,5 78,33 44,5 812,41 32
4

AC 79 67 88,33 35 810,37 33
AC 77 72,5 85 40 810,19 34
AC 78 75,33 80,83 43,33 809,44 35
AC 75 74,5 85 38 809,44 36
AC 76 80,5 77,5 46 808,15 37
AC 79 73 81,67 39,5 808,15 38
AC 81 66 85,83 35 806,11 39
AC 77 71 85 38,5 805,19 40
AC 76 78,5 78,33 46,5 804,28 41
AC 79 72,5 80,83 40 803,7 42
AC 77 67 88,33 45 802,96 43
AC 76 74,5 81,67 43 802,04 44
AC 79 74,5 78,33 38,5 802,04 45
AC 78 68,5 85 38,5 800,56 46
AC 81 70 80 33 800 47
AC 76 73 82,5 42 799,81 48
AC 81 69 80,83 36 799,44 49
AC 77 70 84,17 36 799,07 50
AC 75 73,5 82,5 38,5 797,78 51
AC 81 73,5 75,83 43 797,78 52
AC 77 69,5 69,5 41,5 797,41 53
AC 77 74 79,17 38 795,74 54
AC 77 69 84,17 31 795,74 55
AC (2ª
lista) 76 72,5 81,67 37,5 795,37 56
EP 75 79 68,33 45 768,89 1
EP 75 69 78,33 40 768,89 2
EP 77 70,5 74,17 43 767,41 3
EP 74 66 81,67 37,5 766,3 4
EP 82 68,5 70 34,5 765,37 5
EP 74 74,5 70,83 36,5 758,52 6
EP 69 69,5 78,33 36 748,33 7
EP 72 67,5 75 39,5 741,67 8
EP 67 74 72,5 46,5 736,48 9
EP 77 71 64,17 37 735,74 10
5

EP 68 72,5 72,5 38 735,19 11


EP 77 56 78,33 30 732,96 12
EP 77 58,5 75 37 730,16 13
EP 72 70 68,33 36,5 727,78 14
EP 70 74,5 65,83 46,5 727,04 15
EP 71 70 68,33 38 724,07 16
EP 75 63 70,83 33,5 723,89 17
EP 71 69 69,17 36 723,52 18
PPI 69 66 70 36,5 708,89 1
PPI 67 62 73,33 33 699,26 2
PPI 62 80 53,33 46 674,07 3
PPI 4
6

Desempenhos (ENEM): *Os números entre parênteses referem-se à quantidade de acertos por prova.
Modalid Linguag Humana Naturez Matemát Nota Classific
ade ens s a ica Redação final ação
EP 676,4 733,6 756,6 910,4 940 828 1
EP 670,6 730,4 756,8 868,9 980 826,55 2
621,4 665,3 753,5 935,1
EP (32) (34) (37) (40) 960 822,99 3
EP 821,2 4
EP 820,7 5
614,8 733,8 907,1
EP (31) (41) 741 (37) (38) 960 820,6 6
EP 817,73 7
EP 635,9 735,7 743 861,7 980 817,63 8
EP 657,5 684,7 756,1 901,1 940 817,08 9
EP 816,14 10
EP (2ª 581,7 688,9 751,6 891,2
lista) (30) (34) (37) (37) 980 814,5 11
EP (2ª
lista) 631,3 691,1 715,3 907,9 940 806,1 12
PPI 790,4 1
621,5 667,4 838,7
PPI (31) 704 (37) (28) (33) 980 787,21 2
PPI 626,3 629,7 674,3 866 960 782,08 3
PPI 624,9 670,8 703,5 815,6 960 781,74 4
PPI 780,84 5
PPI 779,23 6
PPI 617 666,9 673,4 828,9 960 776,06 7
PPI 612,6 665,6 690 878 940 774,49 8
619,3 690,4 896,5
PPI 591 (30) (31) (33) (41) 960 774,48 9
PPI 770,24 10
PPI 767,76 11
PPI 764,98 12
626,9 683,3 658,5 780,9
PPI (32) (35) (31) (27) 960 763,63 13
PPI (2ª
lista) 626,2 665,7 626 857 920 762,24 14
7
8

NOTA: 40
Ciência no século XXI: conhecimento e democracia

As sociedades de hiperconsumo do século XXI são, segundo Gilles Lipovetsky, marcadas


pela mercantilização da felicidade, de modo que o consumo de roupas ou calçados, por exemplo,
atua como uma verdadeira pílula de felicidade. Nesse contexto, os indivíduos estão sujeitos a um
processo de imbecilização - o qual causa a privação do saber crítico e o desprezo pela ciência, visto
que eles são não servem à lógica esquizofrênica do consumismo e do individualismo. Trata-se,
conforme afirma Carl Sagan, de uma civilização global em que elementos fundamentais - como a
educação, a medicina e a própria democracia - dependem da ciência, a qual é, todavia,
profundamente incompreendida. Assim, o papel da ciência no mundo contemporâneo é o de conter
o avanço nefasto da ignorância e o de proteger os regimes democráticos.
A ignorância, sobretudo por meio das redes sociais, adquire uma enorme capilaridade no
tecido social. Não por acaso, segundo Alicia Kowaltowski, as pessoas utilizam produtos derivados
do conhecimento científico, como celulares e computadores, a fim de, paradoxalmente, negar a
ciência. A expansão do movimento antivacina é um exemplo notório dessa contradição absurda, em
que a recusa em se vacina provoca efeitos devastadores - como a reaparição do sarampo em 2019.
Desse modo, a ciência serve o papel de combater a disseminação da ignorância, de forma a auxiliar
na reconstrução do saber crítico nas sociedades de hiperconsumo do século XXI.
Além disso, segundo Eric Hobsbawn, a ausência de lastro no conhecimento histórico
permite o revisionismo oportunista e, portanto, a ascensão de tecnocracias. A título de exemplo, a
eleição de Jair Bolsonaro - o qual demonstra profundo desprezo pelas ciências humanas -, permitiu
o avanço da mineração e do garimpo ilegal em reservas indígenas Yanomamis. Isso é uma flagrante
violação de direitos humanos, visto que há a danificação irreparável de um patrimônio material e
imaterial fundamental a essas populações. Assim, a ciência possuí o papel de preservar o
conhecimento, de modo a impedir a ruína dos regimes democráticos de direito.
O papel da ciência no mundo contemporâneo é, pois, o de combater a alienação provocada
pelo hiperconsumismo e o de defender as democracias liberais. De fato, a ciência deve prevenir o
esfacelamento dos elementos que alçaram a modernidade ao progresso: o conhecimento e a
democracia.
9
10

NOTA: 38

Drummond, antirrosas e utopias

O homem sempre buscou - busca - a verdade: o surgimento das religiões comprova que
precisamos de algo em que acreditar. É a ciência, atualmente, que nos permite sonhar e persistir
rumo às utopias. Entretanto, se serve ao nosso progresso, também serve a nossa destruição: a
"antirrosa atômica", metáfora de Vinicius de Moraes para a bomba atômica que atingiu Hiroshima,
nos permite conferir um papel ambíguo às ciências, as quais, ao mesmo tempo, levam-nos da
realidade aos sonhos, das utopias às distopias.
Nessa linha de raciocínio, Drummond de Andrade, no poema "A Ingaia Ciência",
tacitamente revela tal ambiguidade: a maturidade, para o eu-lírico, tem seus benefícios, entretanto, o
conhecimento que a acompanha torna o homem infeliz. De fato, se a ciência é uma das ferramentas
que aproxima o homem da verdade, também é a que toca em nuances como a morte, tabu que o
assombra desde sempre. Em "A Máquina do Mundo", também de Drummond, o eu-lírico deixa
clara sua aversão à verdade "fácil" ao negar o conhecimento oferecido pela Máquina, a mesma
verdade também é relativizada em "A Relíquia", de Eça de Queirós, quando Jesus é confrontado por
Pilatos.
A busca pela verdade, entretanto, atrelada à ciência, é uma geradora de utopias, as quais
mantém o homem rumo ao progresso: saber que é possível atingir a felicidade, o prazer eterno de
um mundo justo, faz com que a sociedade funcione como funciona atualmente. Buscamos
recompensas por nossas ações, e é fato que a ciência oferece algo a se objetivar - o que varia de
pessoa para pessoa. De utopia à distopia, entretanto, basta bem menos que a troca de prefixos:
armas nucleares, sistemas de tortura e teorias eugenistas sempre foram embasados na ciência, o que
a confere um poder capaz de submeter o próprio homem.
Desse modo, a ciência, no mundo contemporâneo, exerce papeis ambíguos: ainda que
permita ao homem sonhar, também permite que ele se destrua e destrua aos outros. A rosa "sem cor,
sem perfume, sem rosa, sem nada" simboliza não só o poder que as ciências conferem ao ser, mas
também a multiplicidade de horrores que podem causar.
11
12

NOTA: 43
Alicerce sólido, edifício frágil

Importante vanguarda do século XX, o futurismo foi marcado por obras artísticas que
exaltavam a tecnologia, que trouxe elementos como a grandiosidade e a velocidade, os quais
encantaram os olhos humanos e se tornaram essenciais para o funcionamento da sociedade. Quanto
a isso, as cores vibrantes e o dinamismo das pinturas futuristas mostram a ciência que é exterior aos
indivíduos, os quais, até hoje, vivem sem uma compreensão interna e plena do conhecimento
científico, cujo papel é, portanto, bastante discutível.
O avanço da ciência mostrou-se evidente nas Revoluções Industriais, pelas quais grande
parte do mundo passou, e resultou no progressivo aumento da presença da tecnologia na rotina e no
modo de vida do ser humano. Como consequência, diversas práticas do século XXI dependem do
desenvolvimento técnico, o que pode ser visto, então, como o alicerce do grande edifício que vem
se construindo: a sociedade contemporânea. No entanto, grande parte desse prédio humano carece
de informação, a liga que seria essencial para o sucesso da edificação do corpo social. Em outras
palavras, embora rodeada pela tecnologia possibilitada pelo avanço científico, a população
encontra-se distante do conhecimento baseado na pesquisa e na comprovação, necessário para
preencher os fragmentos que fragilizam essa estrutura em construção.
Ademais, o conhecimento que nasceu restrito a uma elite intelectual continua sendo usado
para marginalizar a maioria da população. Como ilustração, a universalização da internet tem
trazido a falsa sensação de democratização do conhecimento, ao agilizar e facilitar o acesso à
informação. No entanto, constantemente bombardeados por notícias e dados e influenciados pelo
imediatismo das relações atuais, os usuários de sites e aplicativos despreocupam-se quanto à
veracidade e à fonte das informações, o que contribui para a propagação de discursos superficiais,
limitando o campo de influência do embasamento científico e da comprovação, de modo a
aprofundar o abismo entre o saber e a ignorância. Dessa forma, sobre a sólida base da ciência e
como próprio resultado de seu avanço, constrói-se uma estrutura fragilizada pela inexistência de
raizes que conectem a população à cultura da descoberta.
Sendo assim, somente o alicerce científico não é suficiente para manter a estrutura do
mundo contemporâneo. Carente de mecanismos que enraizem o conhecimento em si, os blocos
humanos são frágeis. O grande edifício construído pelo Homem tende a ceder, se a liga de cultura
não for democratizada e usada para a libertação do povo em relação à ignorância.
13
14

NOTA: 39.5
A instrumentalização do saber científico

O Iluminismo, ocorrido na Idade Moderna, foi uma corrente que se destacou ao indicar a
razão científica como essencial ao desenvolvimento humano. Os intelectuais de destaque da época,
como Carnot, Rousseau e Kepler, pertenciam à aristocracia e compreendiam a ciência simplesmente
como um passatempo. Na época contemporânea, contudo, o saber tomou outra dimensão, tornando-
se muito mais vinculado à detenção do poder e ao controle das massas.
A obra inglesa Fahrenheit 451 aborda um cenário distópico, no qual os bombeiros são
encarregados de queimar todas as obras literárias existentes. Desse modo, o governo despótico
controla o conhecimento científico e, consequentemente, a população. A ciência passa a exercer a
função de mecanismo de controle das massas e da dinâmica comportamental. O sociólogo francês
Michel Foucault aponta esse fenômeno em que as organizações governamentais exercem seu poder
através de manobras de controle populacional, científico e comportamental. Foucault denominou
como biopoder tal submissão de um sujeito ou grupo a determinado saber científico.
De tal modo, o biopoder sustenta a ideia de que “saber é poder”, o que implica em que o
controla da ciência está atrelado ao poder. Desse modo, muitos discursos se conceituam na dialética
erística, de Arthur Schopenhauer, na qual o objetivo da argumentação é vencer o debate e, assim,
controlar a razão, mesmo que o indivíduo faça uso recorrente de falácias e falsos argumentos
científicos. Essa técnica aparece, contemporaneamente, em discursos de movimentos terra-planistas
e anti-vacinas. Tais ideias arriscam o desenvolvimento científico e especialmente a saúde pública.
O saber científico recebeu diferentes concepções no decorrer da história: já foi visto como
heresia, na Idade Média, e como salvação na Idade Moderna. No mundo contemporâneo, assume
papel central na política e sociedade. A ciência passa a ser mecanismo de controle do poder e das
massas. Portanto, a máxima “saber é poder”, em uma sociedade contemporânea, é válida apenas
quando “controlar o saber é poder”.
15
16

NOTA: 45
O decifrar do caos

"O caos é uma ordem por decifrar". O trecho extraído do romance "O Homem Duplicado",
de José Saramago, explicita a compreensão da dinamicidade caótica na qual os processos mundanos
decorrem. Decerto, em consonância com a epígrafe, o saber científico auxilia a percepção dos
fenômenos globais por intermédio da análise objetiva da realidade hodierna. Dessa forma, o papel
da ciência perpetua o entendimento acerca dos valores inerentes à condição humana que, por
conseguinte, são integrados aos elementos humanistas culturais que edificam os sistemas
democráticos no mundo contemporâneo.
A priori, a autonomia cognitiva propiciada pela difusão dos saberes científicos liberais
corrobora um pensamento crítico concernente aos acontecimentos atuais. Nessa conjuntura, a obra
literária "1984", de Georg Orwell, expõe uma distopia em que o controle das ciências pelo
Ministério da Verdade - órgão estatal especializado em distorcer o conhecimento- integrado à
educação escolar propicia cidadãos acríticos que aceitam as decisões arbitrárias do governo
orwelliano. Assim, ao mitigar essa realidade de opressão social, as ciências instigam a liberdade de
expressão no século XXI.
Outrossim, o estudo científico acerca das ideologias obsoletas, propulsoras de
desigualdades, que permeiam o mundo contemporâneo colabora a progressão democrática das
sociedades vigentes. Sob tal óptica, a filósofa alemã Hannah Arendt conceitua a "banalização do
mal" como a naturalização de paradigmas retrógrados -sociais e econômicos- na cognição humana
com o intuito de perpetuar violências simbólicas promotoras da manutenção de lógicas de poder
segregacionistas. Dessa maneira, os ideais e as tecnologias elucidados pela ciência auxiliam a
compreensão de desigualdades- como o racismo e a pobreza- contestadas por manifestações em prol
do bem-estar social.
Destarte, entre a autonomia psicológica e o esclarecimento de ideologias, as ciências propiciam um
entendimento no que tange ao valores intrínsecos à humanidade liberal. Ademais, a proliferação de
ideais de liberdade e a organização de manifestações sociais são características relacionadas ao
papel científico na contemporaneidade. Portanto, o decifrar do caos perpetua a ordem democrática
no mundo hodierno.
17

NOTA: 38.5
A bota da manipulação

“Se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota pisoteando um rosto
humano — para sempre.” Essa passagem, do livro “1984”, de George Orwell, retrata a busca
incessante pelo poder e pela dominação naquela sociedade distópica. Analogamente ao que o livro
narra, vive-se, hoje, um retrocesso — caracterizado pela ascensão do conservadorismo e pelo
esvaziamento dos valores humanistas —, no qual se observa paulatino descalabro da função da
ciência em relação ao que se desenhou originalmente. Hoje, dialeticamente, a ciência vem se
tornando instrumento de dominação de acordo com as manipulações estabelecidas pelos detentores
do poder e é, por conseguinte, desvalorizada.
Tais detentores do poder, como as forças mercantis e o próprio governo, através da ideologia
e da manipulação das massas, promovem, sob o olhar dos indivíduos, a desvalorização da ciência.
Concomitante a isso, alimentam-na como instrumento de dominação — assim como no livro
“1984”. Como se vê, depende-se cada vez mais da ciência. Nesse cenário, evidencia-se a
onipresença da ciência e da tecnologia na vida das pessoas, que não mais se desvinculam, em uma
relação que apresenta caráter dialético.
Toda dinâmica do universo é regida por relações dialéticas — ou seja, pela
complementariedade entre facetas que se opõem. A ascensão da ciência, que promove, entre outros
fatores, avanços tecnológicos, na contemporaneidade, não é diferente. De fato, facilita o cotidiano e
permite melhor compreensão dos fenômenos. No entanto, ao ser delineada de acordo com o
interesse de poucos, a ciência se torna mecanismo de controle, através do qual as pessoas são
levadas a se fechar aos deleites dos processos naturais da vida — o que se relaciona à narrativa de
George Orwell, em que o Estado totalitário controla àquilo que os indivíduos têm acesso — e a se
afastar do desenvolvimento científico. Nessa direção, o interesse pela ciência míngua e ela se torna,
ainda, rejeitada, de acordo com interesses conservadores.
Como se vê, é evidente que a ciência, atrelada ao atual momento de retrocesso vivido, se
encontra controlada por poucos, poderosos, de acordo com seus interesses. Dessa forma, para se
evitar que o futuro se concretize, de fato, como uma bota a pisotear um rosto humano, devido à
manipulação por meio do poder e da dominação, deve-se promover uma educação adaptada aos
novos tempos, visando à retomada do ímpeto inicial dos desenvolvimentos científicos e do interesse
pela ciência, findando a atual rejeição a ela estabelecida.
18

NOTA: 38.5
A ciência e o anti-intelectualismo

O desenvolvimento tecnológico e sua influência no mundo. Essa foi uma das pautas
estudadas pelo geógrafo brasileiro Milton Santos. Se em um primeiro momento predominava o
meio natural e as pessoas se submetiam aos ciclos da natureza, a ciência e a tecnologia mudaram
essa relação. Dessa forma, o desenvolvimento de técnicas cada vez mais avançadas permitiu que a
humanidade e a natureza exercessem igual influência (meio técnico) e até que a humanidade
dominasse a natureza, como na atualidade. Observando-se a vida no meio técnico-científico-
informacional, pode-se afirmar que essa depende completamente da ciência e de sua tecnologia.
Entretanto, na contemporaneidade, a ciência vem perdendo força, devido ao fortalecimento de um
movimento anti-intelectualista.
Primeiramente, é preciso caracterizar o contexto atual quanto à dependência da ciência.
Após séculos de exaltação contínua do conhecimento científico, fato este que se iniciou com o
Renascimento Cultural no século XIV e perdura até hoje, diversas tecnologias foram desenvolvidas.
Dentre essas encontram-se meios de transporte e comunicação extremamente eficientes que
permitem que a humanidade domine o meio natural. Por isso, pôde-se afirmar que, atualmente, a
humanidade depende dos produtos da ciência para realizar desde tarefas simples, como cozinhar, até
tarefas complexas, como viajar dezenas de milhares de quilômetros. É preciso ressaltar que umas
das tecnologias mais influentes na pós-modernidade são as redes sociais, que atuam como meio de
contato entre as pessoas, podendo ser utilizada para convocar protestos, como observado na
Primavera Árabe, e como um mecanismo de difusão de informações.
Entretanto, mesmo em um contexto de dependência direta da ciência, essa vem perdendo
influência na sociedade atual. Tal fato é causado pelo fortalecimento de um movimento anti-
intelectualista, marcado pela valorização e afirmação de opiniões pessoais sobre pesquisas e fatos
científicos. O surgimento desse está diretamente relacionado às redes sociais. Isso porque essas
permitem a divulgação em massa de notícias e informações que nem sempre são verdadeiras.
Todavia, como defendeu Leandro Karnal, quando bombardeado por informações, os indivíduos
tendem a legitimar aquelas que são favoráveis a seus pontos de vista pré-existentes. Tal fato leva à
formação de um cenário no qual opiniões pessoais são consideradas como verdades absolutas,
mesmo quando combatidas pela ciência, o que enfraquece essa. Um exemplo desse fenômeno foi o
discurso do atual presidente Jair Bolsonaro acerca do nazismo. Isso se deve ao fato de que as
opiniões pessoais do presidente, e a presença de “comunismo” no nome do partido de Hitler, foram
suficientes para que ele afirmasse que o nazismo era de esquerda, mantendo seu posicionamento
mesmo quando contrariado por pesquisadores de totalitarismo.
Em suma, pôde-se afirmar que a sociedade atual é dependente da ciência em diversos
aspectos da vida. Contudo, mesmo nesse contexto, há um atual enfraquecimento dessa, causada
pelo fortalecimento de um movimento anti-intelectualista.
19

NOTA: 33.5

A ciência no mundo atual

A ciência é o princípio da civilização. Desde a Revolução Agrícola, de milhares de anos


atrás, até a física moderna de Albert Eisntein e sua incrível teoria da relatividade o conhecimento
cientifico se liga ao progresso. Nesse sentido, levanta-se o questionamento sobre o papel da ciência
no mundo contemporâneo. Dentro dessa perspectiva, é possível identificar duas funções
fundamentais, a sustentação da sociedade e o aumento da qualidade de vida.
Primeiramente, entende-se que a ciência é a base para a construção do conjunto social. isso
porque toda a estrutura civilizatória, como a política, a agricultura, a industria e a educação são
derivadas do avanço da ciência e apenas se mantêm funcionando através de conhecimento cientifico
em constante transformação. Prova disso é a Revolução Verde, a qual ao unir avanço do saber a
tecnologia constata as falhas da teoria de Tomas Maltus, que afirmava o crescimento populacional
em PG e a produção de alimentos em PA, ao produzir modificações na produtividade suficientes
para elevar o estoque acima do comum. sem esses avanços Maltus provaria-se verdadeiro e a fome
provocaria caos na sociedade e mortes humanas. Com isso, é visível que os progressos no campo
das ciências são as estruturas que sustentam a sociedade.
Além disso, vê-se que a vida humana tem melhorado graças ao conhecimento. As vacinas,
os antibióticos, a higiene pessoal e o sistema de esgoto são avanços que aumentaram a expectativa
de vida e ajudaram na qualidade desta. Recentes pesquisas da Faculdade de Medicina de Rio Preto
(Famerp) criaram vacinas contra a doença viral, dengue, que é fatal nos casos hemorrágicos e tem
sofrido modificações constantes cada vez mais fatais. Já no sertão nordestino, pesquisas para
dessalinizar a água estão em andamento, uma vez que a seca nesse local é um problema que impacta
negativamente a vida do sertanejo. Esses exemplos são apenas uma pequena mostra do grande
impacto da ciência na qualidade de vida do homem contemporâneo.
Portanto, faz-se notável que o conhecimento possibilita a manutenção da grande estrutura
social, a qual o homem está inserido, assim como torna a vida mais satisfatória. Dessa forma,
entende-se que assim como a Revolução Agrícola e a teoria da relatividade, novas formas de
conhecimento virão para preencher mais o papel da ciência no mundo.
20

NOTA: 44.5
Tecnologia: a faca de dois gumes

Até meados do século XX, o racionalismo e a ciência eram considerados fatores essenciais
para uma sociedade ser considerada civilizada. Com o final da ll Guerra Mundial, em 1945, no
entanto, quando a bomba pairou sobre a cidade de Hiroshima, a tecnologia passou a ser questionada
quanto aos benefícios e malefícios que ela causa ao homem. De fato, a ciência no mundo
contemporâneo tem o papel de garantir conforto e facilidades à vida humana; mas, utilizada de
forma irresponsável e irracional, ela pode gerar sérios problemas à sociedade, ao meio ambiente e
ao saber.
É inegável que o desenvolvimento científico contribuiu para elevar a qualidade de vida do
homem moderno. As ciências médicas, por exemplo, possibilitaram a contenção de diversas
epidemias, como a da gripe suína e da ebola, o que poupou a vida de diversos indivíduos, fato que
não ocorreu quando a peste negra assolou a Europa no século XlV. Além disso, diversos produtos,
como automóveis e aparelhos eletrodomésticos, surgiram para facilitar e agilizar as atividades mais
simples do cotidiano. Vale ressaltar, entretanto, que grande parte dessas tecnologias são produzidas
a partir da superexploração de recursos naturais e seu descarte contribui para a geração de lixo
urbano nas grandes cidades. Assim, do mesmo modo que a ciência desenvolveu essas tecnologias
no passado, hoje, por meio de pesquisas e estudos ecológicos, ela deve criar novos produtos e
formas de produção mais sustentáveis, visando à diminuição dos impactos negativos provocados
por ela.
Outro ramo importante para o qual a ciência contribuiu foi o comunicação. Com a
Revolução Técnico-Científica Informacional, o mundo se viu inteiramente interconectado, o que
contribuiu positivamente para o debate de ideias e a liberdade de expressão, direitos das
democracias atuais. A fluidez da informação no meio digital, contudo, favoreceu a proliferação de
"fake-news" e pesquisas pseudocientíficas, que ao invés de contribuírem para a difusão do
conhecimento, o deturpam e o distorcem. Exemplo disso é o crescimento de movimentos
antivacina, após ser divulgado falaciosamente na "internet" que vacinas causam autismo. Desse
modo, a ciência tem o papel de garantir o conhecimento básico à população e impedir que
questionamentos irracionais sejam difundidos.
A ciência possui, pois, ação ambígua no mundo contemporâneo. De um lado, ela resolve
problemas cotidianos e facilita a vida humana. De outro, ela, paradoxalmente, contribui para a
destruição do mundo e do conhecimento. Logo, a menos que utilizemos a ciência com
responsabilidade, continuaremos a segurar a faca de dois gumes que é a tecnologia.
21

NOTA: 41
A ciência como ferramenta no mundo contemporâneo

O desenvolvimento da ciência fez-se presente na humanidade desde a Antiguidade. Dito


isso, aponta-se que, na Grécia Antiga, os pré-socráticos utilizavam métodos empíricos e científicos
para elaborar teorias, tal como o Teorema de Thales e o Teorema de Pitágoras, ambos utilizados
hodiernamente. Desde então, é possível perceber que estudos científicos compõem importante parte
da vida social, tal que, na Contemporaneidade, as ciências humanas, exatas e da natureza unem-se
em prol do benefício da sociedade. Então, afirma-se que, no período vigente, o papel da ciência é de
colaborar para o desenvolvimento do globo, seja como ferramenta de análise ou de construção.
A priori, nota-se que as ciências humanas têm papel de estudar a sociedade e as relações
humanas. Diante disso, aponta-se que Emilie Durkheim, considerado o fundador da sociologia,
estudou conceitos como anomia e solidariedade orgânica, ou seja, diagnosticou, a partir da análise
do comportamento humano coletivo, características que se referem à ausência de sentido (anomia) e
às formas de relacionamento interdependente na Modernidade (solidariedade orgânica). A partir
disso, percebe-se que o estudo da sociedade permite analisar aspectos positivos e negativos da
humanidade, tal que demonstra que o papel das ciências humanas no mundo contemporâneo é de
diagnosticar problemas – como a anomia – e propor alternativas que buscam melhorias no convívio
social – como a solidariedade orgânica -, ou seja, apresentam papel de ferramenta de análise.
A posteriori, as ciências exatas e da natureza têm papel primordial na evolução técnica do
globo. Assim, cita-se a III Revolução Industrial como evento marcante para a tecnologia, tal que o
desenvolvimento de aparatos que permitiram a ampliação dos meios de transportes e comunicações
foi atingida graças ao apoio de teorias científicas, as quais culminaram em conhecimento necessário
para a concretização de tal marco. Outrossim, aponta-se que esse evento é demasiado importante
para o mundo contemporâneo regido pela Globalização, no qual o aumento de fluxos dentre todas
as regiões do globo foi permitido pelo acúmulo de técnicas da III Revolução Industrial. Sendo
assim, infere-se que a ciência é uma ferramenta que constrói teorias para promover o
desenvolvimento da humanidade.
Portanto, em vista dos argumentos supracitados, conclui-se que o papel da ciência no mundo
contemporâneo é de ferramenta para culminar no progresso humano. Destarte, as ciências humanas
permitem análise da sociedade, diagnóstico de problemas e proposição de soluções que buscam
melhorar o convívio social. Já as ciências exatas e da natureza permitem evolução técnica e
somatório de condições que resultam em desenvolvimento da humanidade. Dessa forma, todas as
áreas da ciência unem-se em prol do benefício da sociedade.
22

NOTA: 43
Sociedade Científica

O saber científico é construído a partir de comprovações. Para isso, utiliza a observação, o


raciocínio e os experimentos. O objetivo disso é fundamentar o conhecimento em bases sólidas, a
fim de fugir de dogmatismos e tornar possível que as descobertas possam ser utilizadas pela
sociedade. Hoje, tudo se relaciona com a ciência, desde as coisas mais simples, como a folha de
papel, até as mais avançadas, como as naves espaciais. Contudo, ela não é compreendida por todos
e as suas próprias tecnologias digitais auxiliam na sua rejeição. Assim, o papel de criticar e inovar
exercidos pela ciência continua, mas é necessário que ultrapasse as barreiras acadêmicas e atinja a
sociedade.
Para o filósofo iluminista René Descartes, a ciência deve ter um método rigoroso de
questionamento constante. No entanto, hoje, a existência de diversos algoritmos no meio digital cria
bolhas que isolam os indivíduos em suas próprias ideias. Isso, porque esses mecanismos analisam
os padrões de busca e navegação de seus usuários, selecionando, por meio disso, o que será exibido
para essas pessoas. Dessa forma, a sociedade vai perdendo sua criticidade, pois deixa de entrar em
contato com diferentes visões de mundo. Nesse sentido, apesar da ciência estar em praticamente
tudo, os seus próprios frutos, como a internet, atenuam o pilar de sua existência, o questionamento.
Logo, a sociedade atual está cada vez mais alheia ao pensamento científico.
Como decorrência disso, os movimentos anticiência ganham forças, já que as pessoas estão
perdendo seu filtro crítico. Prova disso é o movimento terraplanista, que nega a esfericidade da
Terra. Sem métodos científicos para sustentar suas ideias, seus adeptos negam os experimentos de
Keppler, Galileu e Newton, que se dedicaram a observar e provar seus argumentos. Por conta da
falta de conhecimento dos métodos e da importância da ciência, esses movimentos ganham força,
uma vez que criam falsas verdades, originadas pela falta de questionamento e de criticidade para
lidar com ideias falsas, também típicas do meio virtual.
Nessa análise, se a ciência fundamenta tecnologias que auxiliam na sua própria rejeição, ela
estaria se direcionando para um caminho autodestrutivo. Isso se justifica pelo fato dela não incluir a
sociedade, apenas fornece a esta as suas inovações, como se as tecnologias fossem dissociadas da
ciência. Dessa maneira, o papel da ciência não deve se limitar às inovações, mas também assumir a
responsabilidade de incluir as pessoas em seu meio, tornando-as críticas. Com isso, a ciência não
deve apenas compreender, mas também ser compreendida, para que suas criações não se voltem
contra ela.
Portanto, o papel da ciência, hoje, é de incluir a sociedade em sua função crítica e inovadora.
Sem isso, ela estaria caminhando em uma trilha que a direcionaria ao seu fim.
23

NOTA: 40
Kant jamais poderia imaginar o que a razão e o desejado “Esclarecimento” seriam capazes
de conquistar. Com eles, a ciência e o desenvolvimento tecnológico produziram, entre outros,
máquinas, transgênicos e internet, fazendo com que a humanidade atingisse mais do que filmes de
ficção conseguiram projetar. A ciência passou, dessa forma, a ocupar todos os lugares do cotidiano
de forma a melhorar a qualidade de vida do ser humano. Apesar dessa realidade, e dos bens que o
desenvolvimento científico trouxe, a sociedade, hoje, vive o paradoxo de, ao mesmo tempo, ter
satélites e terra planistas; ter provas do aquecimento global e negadores de sua existência. Ora, se
aquele que é fruto do esclarecimento e responsável por tantos benefícios, é negada, talvez, o papel
da ciência seja lutar contra essa escuridão.
Cabe avaliar, inicialmente, que a ciência, no seu percurso do desenvolvimento tecnológico,
sempre manteve seus conhecimentos compreensíveis a parcelas restritas da humanidade. Isso
significa dizer que a complexidade de seus processos não era explicada de forma acessível a
população em geral. Exemplo disso são os centros acadêmicos em que até lordes ocuparam, como
Lorde Kelvin. Nesse sentido, mesmo que nesses centrosfera a física mais precisa estivesse sendo
estudada, fora deles, para as pessoas comuns, explicar a esfericidade da Terra seria algo
extremamente complexo.
Em função desse processo mútuo de esclarecimento para alguns e escuridão para outros,
nem mesmo os avanços obtidos pela ciência foram suficientes para que a sociedade confiasse nela.
O fato é que aquilo que é estranho à alguém, torna-se fonte de desconfiança e de descrédito, como
nas palavras de Drummond, uma ingaia ciência, ou seja, uma ciência inútil, apesar das respostas
obtidas. Dessa maneira, o papel do desenvolvimento científico de melhorar a qualidade de vida do
ser humano perdeu o seu reconhecimento pela sociedade.
Por isso, como Kant, a ciência deve buscar a razão e o “Esclarecimento”, mas não apenas
para o desenvolvimento, e sim também para tirar da escuridão quem a nega, tornando-se acessível
como nunca fora. Afinal, para terra planistas e negacionistas do aquecimento global, falta-lhes a
explicação clara e evidente que só a ciência pode lhes fornecer.
24

NOTA: 48
Engrenagens do Motor

Em “A máquina do Mundo”, o poeta Carlos Drummond de Andrade recita como essa


máquina, que apareceu no meio de um caminho pedregoso, é essencial para a resolução das
questões e das dúvidas humanas. Sabe-se que, para a sociedade, essa máquina é a ciência. Foi a
ciência, por intermédio da cartografia, que garantiu a ocorrência das Grandes Navegações. Foi a
ciência, por meio da termodinâmica, que garantiu a ocorrência das Revoluções Industriais. E a
ciência que, hoje, soluciona as dúvidas humanas e garante a sobrevivência da população.
Concomitantemente, entretanto, há indivíduos que a negam, fogem da máquina do mundo e
questionam: qual o papel da ciência na contemporaneidade?
Sem a ciência, no século XV, o continente americano permaneceria isolado dos demais. Sem
a ciência, no século XIX, a população não teria acesso às ferrovias. Ao longo dos séculos, o
desenvolvimento tecnológico cumpriu um papel crucial no progresso humano, visto que foram as
suas engrenagens que permitiram o deslocamento do motor da história. A Globalização e a
integração promovida, o desenvolvimento médico-sanitário e a Revolução Técnico-Científica
Informacional são apenas algumas das conquistas que essa máquina do mundo trouxe na
contemporaneidade. Porém, e se a sociedade ignorasse essa máquina? O infindável e pedregoso
caminho enfrentado por Drummond seria novamente uma realidade e todo o progresso alcançado
com o motor da história estaria a milhares de quilômetros de distância. A ciência é essencial para
que haja o desenvolvimento humano, cujas peças são os componentes do motor da história.
Ainda há, todavia, indivíduos questionando atualmente a veracidade desse progresso.
Simultaneamente à pesquisa de células-tronco para o transplante de órgãos, a eficácia das vacinas é
questionada. Simultaneamente à construção de satélites visando à exploração de sistemas solares
distintos, a esfericidade da Terra é duvidada. A ciência, que sana as dúvidas da sociedade, tornou-se,
para alguns, o objeto de dúvida. Enquanto, para a população feudal europeia do século X, o
desconhecido é amedrontador, atualmente o superconhecimento é que assusta a sociedade. O que se
tinha como truísmo é indagado e a máquina do mundo, para esses indivíduos, não é a engrenagem
do motor da história, mas sim uma arma que prejudicará a população. E é por meio dessa
perspectiva retrógrada que o papel da ciência de progresso e de aprimoramento humanos é
suprimido atualmente, pois o seu valor é banalizado, sucateado e, muitas vezes, ignorados devido à
influência dessas pessoas questionadoras. Logo, na contemporaneidade, a ciência não recebe muitas
vezes o seu devido valor.
A sociedade, há séculos, aceitou entrar nessa máquina do mundo de Drummond. Máquina
essa que garantiu o deslocamento do motor da história e, consequentemente, do progresso humano.
Sem ela, a integração humana e o desenvolvimento da saúde e da tecnologia atuais seriam apenas
ilusões presentes em apenas mais um poema análogo ao de “A Máquina do Mundo”. Contudo, há
indivíduos que questionam a ciência e desejam negar seu papel. Desejam transformar a máquina em
uma pseudo-arma. Desejam jogar o motor da história no ferro-velho. E, assim, desejam voltar a
caminhar na travessia pedregosa e infindável da ignorância.
25

NOTA: 48.5
Instagram existiria sem Nagazaki e Hiroshima?

No conto machadiano “Ideias de canário”, um pássaro, com atributos humanos, acredita que
o mundo se resume a uma loja de Belchior, e “todo o resto é ilusão e mentira”. Assim como o
canário saiu da gaiola, o homem, ao utilizar-se da ciência para compreender o mundo e melhorar
suas condições de vida, também expande o seu horizonte. No entanto, a utilização da ciência nem
sempre é só de expansão, mas também é retração.
Numa análise de expansão, isto é, benéfica da ciência entende-se que o homem, por meio
dela, consegue explicar grande parte da realidade, de modo que o mundo não se resuma à
“achismos” de aves presas em gaiolas. Isso é feito por meio da análise, investigação e
experimentação do mundo em diferentes campos de atuação, como História, Biologia, Física e
outros. Assim, é possível explicar tanto como as plantas fazem fotossíntese, mas também o motivo
pelo qual as pirâmides do Egito foram construídas. A partir dessas descobertas, além da ampliação
do conhecimento que adquirimos sobre o mundo, há a possibilidade da criação de ferramentas que
nos auxiliam a comunicar (celulares computadores), locomover-se (carros, aviões, trens),interagir
com os outros (Instagram, Facebook), produzir alimentos de forma produtiva (transgenia, adubos,
fertilizantes). Nesse sentido, há a expansão do que entendemos sobre o mundo e da sua possível
utilização através da ciência.
Todavia, a ciência também adquire uma conotação de retração, ou seja, negativa, quando é
utilizada pelo homem para aprisionar outros em gaiolas, ou até mesmo para destruir seus mundos.
Nessa perspectiva, movimentos “antivacina” e “terraplanistas” inserem-se na tentativa de utilizar a
própria ciência contra si mesma, a fim de que, por meio do aprisionamento de indivíduos em gaiola,
onde é dito que a terra é plana e vacina provoca autismo, seja possível usufruir financeiramente ,
como ocorreu nos EUA, em que um médico, aliado a indústrias farmacêuticas, disse que a vacina
era precurssora do autismo, para impedir que as pessoas as utilizassem e, com isso, aumentasse a
procura por medicamentos genéricos. Além disso, em casos extremos, a ciência também é utilizada
para destruir mundos, como ocorreu, por exemplo, em Hiroshima E Nagazaki que tiveram suas
populações devastadas, através das bombas atômicas, ou melhor, das inovações científicas, em
nome de uma guerra.
De acordo com Aristóteles no livro “Ética a Nicômaco “, uma ação virtuosa é aquela que se
situa na mediana entre dois extremos, isto é, entre a falta e o exagero. Nesse sentido, o homem, ao
utilizar-se da ciência, precisa buscar o equilíbrio entre a falta da ciência e o excesso de sua
utilização, para que o papel dessa seja libertar os homens de suas gaiolas sem que nesse ato eles se
espatifem numa asa de um avião.
26

NOTA: 36

Redescobrindo o passado

O filme "O garoto que descobriu o vento" , baseado em fatos reais, conta a história de um
menino que realiza um avanço incrível para sua vila, inventa um moinho de vento. Para muitos esse
feito pode parecer banal e até ultrapassado, a final, vivemos atualmente em uma sociedade repleta
de avanços tecnológicos, fazendo com que esqueçam-se que a vida nem sempre foi dessa maneira.
A ciência é o que proporciona, em todos os seus campos de atuação, o conforto e a praticidade que
desfrutamos, sendo a base para praticamente todas as atividades no mundo moderno.
Apesar disso, com a passagem dos tempo e das gerações, chegamos a um ponto em que a
maioria dos jovens e adultos não sabe como era a vida à 50 anos, e as gerações que cresceram
beneficiadas por todos os avanços científicos, começam a esquecer-se de sua importância no
cotidiano. A banalização de descobertas seculares vem levando a descrença, e a ciência, que desde o
Renascimento tem simbolizado a libertação para o homem, para a ser duvidosa, enquanto opniões
sem fundamento tomam lugar como verdades absolutas, sem espaço para discussão.
Deste modo, assim como o apresentado pelo sociólogo Habermas, nossa sociedade ainda
não atingiu o uso pleno da razão e a resolução de conflitos pelo método dialógico, por meio de
debates, e mais do que isso, tem presenciado o ressurgimento de teorias infundamentadas e que já
haviam sido superadas, como a terraplanista. Esses fatos mostram um caminhar no sentido da
ignorância, em um tempo no qual a maioria busca saber apenas como as coisas podem ser úteis para
si e a curiosidade pela descoberta vem gradualmente se perdendo.
Entretanto, a ciência não perdeu sua importância, as pessoas é que tornaram-se incrédulas e
autoritárias, assim, é necessário que a sociedade, assim como o garoto do filme citado, encontre seu
novo "moinho de vento" e possa redespertar para a importância de todas as descobertas tecnológicas
do passado. Com isso a ciência, que é um dos alicerces do mundo contemporâneo, poderá voltar a
crescer e exercer seu papel de esclarecimento e desenvolvimento para o homem pós-moderno,
deixando de lado teorias e ideias retrógradas.
27

NOTA: 43.33
Renascimento e desmistificação

Com condições sociais e políticas propícias para a construção do saber racional, as cidades
de Gênova e Veneza - maiores expoentes do renascimento europeu - apresentaram muitos
pensadores que contribuíram para o avanço científico no período, como Leonardo da Vinci, que
através da experimentação e observação da natureza desenvolveu importantes ideias sobre o
funcionamento da anatomia humana. Tal ímpeto pelo conhecimento, demonstrado por Leonardo,
também está presente na sociedade científica atual que, com a ascensão de ideias anticientificistas,
procura demonstrar o papel que a ciência tem no mundo contemporâneo.
A partir da Revolução Industrial Inglesa, o desenvolvimento de tecnologias se deu de forma
exponencial até os dias atuais. Inteligência artificial e “internet das coisas”, por exemplo, são alguns
dos instrumentos que estão sendo desenvolvidos na atualidade para facilitar a vida da população,
que gera avanços em grande parte das áreas do saber - como na medicina - e dinamiza as relações
sociais. Nesse sentido, a ciência na atualidade tem o objetivo de gerar uma melhor qualidade de
vida para as pessoas através dos avanços tecnológicos e do saber.
Concomitantemente à Revolução Industrial, o desenvolvimento da “Máquina de Gutenberg”
também teve papel importante na sociedade e está em consonância com um dos paradigmas da
ciência, que é a busca pelo espalhamento do saber científico - uma vez que ela disseminou as
primeiras cópias de enciclopédias de forma eficaz. Assim, a ciência na atualidade não só busca uma
melhora na qualidade de vida das pessoas, mas também busca disseminar o conhecimento factual e
concreto para a população.
Ainda, um dos importantes objetivos do saber científico contemporâneo são a
desmistificação de ideias infundadas e o esclarecimento com base empírica - defendidos desde os
filósofos iluministas. Contudo, o crescimento do anticientificismo, como no terraplanismo ou nos
movimentos antivacinas, caracteriza-se como uma afronta aos preceitos científicos, dado que
compartilham ideias falsas, sem base concreta e aprofundam a ignorância humana.
Enfim, o papel da ciência no mundo contemporâneo - que remonta ao Renascimento e
iluminismo europeu - é o esclarecimento e a propagação de ideias racionais, a busca por melhorar a
qualidade de vida da população e a desmistificação da ignorância. Nesse viés, a ascensão do
anticientificismo - evidenciado pelo terraplanismo e movimentos antivacina - é um golpe no saber
racional e empírico, que é substituído por “achismos” que expressam a subjetividade pessoal.
28

NOTA: 42.5

A era do meio técnico-científco-informacional-irracional

A contemporaneidade é marcada pela influência das tecnologias no cotidiano da


humanidade, as quais atingiram um alto grau de complexidade ,sobretudo, na rapidez do
compartilhamento de informações, tornando-se a era dos meios técnicos-científicos-informacionais.
Nesse contexto, a ciência, como impulsionadora de novas tecnologias, adquire função essencial
para a atual sociedade, dado que o ser humano é cada vez mais dependente das produções
tecnológicas. Todavia, a presença de indivíduos que contestam a ciência é marcante na atualidade,
prejudicando pesquisas e divulgações científicas em diversas áreas da saúde e geografia, por
exemplo, que seriam de grande importância para a sociedade.
Em uma primeira análise, o sociólogo Antonio Candido, em seu texto “Direito à literatura”,
afirma que em comparação a eras passadas o ser humano atingiu o máximo de racionalidade técnica
e o máximo de irracionalidade de pensamento. Nessa perspectiva, a grande disponibilidade de
ferramentas tecnológicas capazes de facilitar as ações humanas denota a incapacidade individual de
utilizar essas ferramentas para o bem-estar social. Tal fato é evidente na ascensão do movimento
anti-vacina que defende a não aplicação de vacinas, mesmo que elas sejam comprovadamente
eficientes no combate à doenças, implicando, assim, no reaparecimento de doenças já erradicadas,
como, no caso do Brasil, o sarampo.
Ademais, o filósofo Jean Paul-Sartre defende que a humanidade é condenada à liberdade e,
consequentemente, é responsável por seus atos. Em analogia ao pensamento de Sartre, na
atualidade, o indivíduo é livre para escolher crer ou não na ciência e nos seus resultados para a
sociedade, todavia, há a responsabilidade com as consequências dessa escolha. Isso ocorre, por
exemplo, nas críticas às pesquisas que advertem sobre as ações antrópicas no meio ambiente, em
que há a liberdade de crítica ou não a elas, porém as responsabilidades das alterações climáticas
provenientes das alterações no meio ambiente alertadas pelos cientistas devem ser arcadas pelos
críticos.
Conclui-se, portanto, que a contemporaneidade marcada pelo meio técnico-científico-
informacional denota o papel primordial da ciência. Contudo, as produções científicas são
contestadas por muitos indivíduos, seja pela sua irracionalidade de pensamento, seja pela presença
ou não da responsabilidade.

   
29

NOTA: 37.5
A previsão de Harari

O período conhecido com Renascimento foi o florescer do pensamento racionalista e


antropocêntrico, rompendo com teorias que tentavam explicar fenômenos de maneira superficial ou
religiosa. Em contraste, o anticientificismo hodierno cresce de maneira assustadora, negando teses
consolidadas ao basear-se em misticismo ou conspiracionismo. Nesse contexto, o papel da ciência
no mundo contemporâneo é de alicerce de uma sociedade que se alimenta da tecnologia, além de
ser a instituição responsável pela guarda do rigor metodológico que discute as questões centrais
para comprovação de uma hipótese.
A priori, as relações humanas ocorrem atualmente com significativa influência tecnológica.
Nesse sentido, o escritor israelense Harari –autor do best-seller “21 Lições para o século XXI” -
descreve em sua obra o domínio quase que completo do uso da inteligência artificial em todas as
áreas, substituindo cargos laborais e algumas vezes, o contato humano até o final do século. Isto
posto, a crescente participação de ferramentas desenvolvidas em virtude do avanço do
conhecimento científico faz deste um pilar da sociedade moderna. Nota-se, portanto, a pesquisa
como agente promovedor de conexão e funcionamento coeso da civilização.
A posteriori, a ciência é o único meio de descredibilizar teorias absurdas que surgem
ocasionalmente, sejam elas com algum propósito ou não. Sob tal ótica, o pensador e cientista Karl
Popper foi um dos responsáveis pela discussão acerca do método de verificação da integridade
científica, adaptando-o para que suas conclusões sejam verdadeiramente aceitáveis. Com efeito, a
verdade científica pode dissolver ideias que buscam, através da irracionalidade humana, promover
sua ideologia ou conquistar notoriedade. Logo, visualiza-se que a ciência defende o homem da
manipulação alheia.
Em suma, tanto alimentar as redes tecnológicas que mediam as interações humanas quanto
verificar a veracidade de teses constituem o papel da ciência no mundo contemporâneo. Destarte, a
ciência auxilia na manutenção da ordem de uma sociedade saudável. Assim, a previsão de Harari
será concretizada positivamente se a ciência receber seu devido valor.
30

NOTA: 43
A ciência é a luz dos povos

O papel da ciência para o progresso da humanidade já era reconhecido pelos empiristas no


Século XVIII, mas, hoje, sua importância é ainda maior, diante dos discursos negacionistas que
ressaltam a ignorância e oprimem o conhecimento humano. Na contemporaneidade, a ciência é um
elemento de emancipação do homem e age como ferramenta de poder geopolítico aos países, sendo
subestimada por uns e temida por outros.
É notável que o conhecimento científico permite ao indivíduo a compreensão do mundo em
que vive e de suas potencialidades, desenvolvendo, a partir de então, seu pensamento crítico, que o
emancipa das opressões. Esse fenômeno é nomeado por Kant como a conquista da maioridade, e
permite a constante evolução das sociedades. Um exemplo disso é a criação de produtos para uso
espacial no Século XX e sua posterior utilização no cotidiano social, facilitando a rotina das
pessoas.
No contexto geopolítico também há a emancipação dos países. A ciência relacionada à
pesquisa e ao desenvolvimento impulsiona o país ao status de desenvolvido na atual Divisão
Internacional do Trabalho por exportar conhecimento e tecnologia aos outros. Além disso, as
descobertas científicas garantem poder de barganha, aos países que as detêm, em relações
diplomáticas entre os Estados, seja pelo poderio bélico ou econômico deles. Têm-se como exemplo
a Coreia do Norte, que investe em arsenal nuclear para ganhar facilidades no diálogo entre
potências como os Estados Unidos.
Essa característica revolucionária da ciência gera animosidade por parte de líderes que
almejam a alienação popular para a prática da opressão. No século XXI, a ciência luta
constantemente contra ataques a ela, como a disseminação de fake news, que questionam e atenuam
o valor da verdade, e como o corte de incentivo à pesquisa em universidades, o que cria uma
sociedade ignorante e alienada.
A ciência assume papel libertário e emancipador no mundo contemporâneo. Sua prática é
vital para o desenvolvimento das relações humanas e para o combate à dominação entre Estados e
indivíduos. O período de trevas que ela enfrenta deve ser combatido e, dessa forma, o conhecimento
vigorará sobre a ignorância.
31

NOTA: 45
A faísca que rege a mudança

Em 2019, o Governo Federal brasileiro realizou uma série de cortes financeiros nas
universidades do país, alegando que a educação não era a prioridade das verbas públicas. No
entanto, tal ação se mostra insipiente e perigosa, pois torna deficitária a formação científica, a qual,
no mundo contemporâneo, é eminente, já que, além de proporcionar avanços que alavancam a
qualidade de vida, contribui para a preponderância da verdade e para a manutenção da integridade
crítica da sociedade.
A princípio, a ciência tem um papel fundamental por impedir a disseminação de falácias.
Isso pode ser visto pela corrente filosófica do Empirismo, cujo princípio se baseia na defesa da
experimentação para a comprovação do saber, impedindo, logo, que pensamento subjetivos se
tornem verdades incontestáveis e que superstições e opiniões superem a legitimidade da ciência,
algo que possibilita a manutenção da integridade social, pois ela possui as reais respostas para
questões relevantes como saúde e política. Dessa forma, nota-se a importância do saber na
modernidade, pois ela vive, de acordo com a Sociologia, a era da “Pós-Verdade”, em que crenças
individuais têm, paulatinamente, superando o factual, gerando, por exemplo, movimentos contrários
às vacinações, e evidenciando, com isso, a necessidade da educação para conter tal era, que coloca
em risco a população.
Ademais, a ciência também possui o papel de instigar o saber, o que impede a alienação
social. Tal fenômeno foi muito presente no século XVII com a Revolução Científica, na qual a
divulgação de teorias, como as da gravitação de Kepler, instigou a curiosidade e a criticidade da
sociedade, levando-a a negar e a enfrentar os opressores dogmas católicos do período.
Analogamente, em 1968, durante as corridas armamentista e aeroespacial da Guerra Fria, que
impulsionaram a formação do conhecimento, um grupo de estudantes parisienses se mobilizou para
questionar regras sociais arcaicas, alavancando um grande movimento no país, que aglutinou
também as reivindicações trabalhistas. Com isso, a ciência, além de proporcionar tecnologias,
possui um grande papel social na alteração de padrões opressores e exploradores, sendo, assim, a
faísca que rege a mudança.
Portanto, a ciência se mostra indispensável no mundo contemporâneo, em virtude de seu
papel na formação de inovações, na validação dos fatos e, principalmente, no impulso à
racionalidade e ao questionamento. Dessa maneira, a ação do governo brasileiro assume um caráter
extremamente perigoso ao não considerar a educação como prioridade, sacrificando, com isso, a
integridade física e crítica da população, e mantendo-a na escuridão da opressão, longe do fogo do
desenvolvimento.
32

NOTA: 44.5
Por entre a obscuridade do desconhecido e a estagnação histórica: a ciência

Ainda na Idade Antiga, a civilização grega, a fim de desvencilhar-se da irracionalidade das


explicações mitológicas, desenvolver a Filosofia, Ciência que deu origem às outras formas de
conhecimento, deixando como legado para a humanidade os primórdios da metodologia científica.
Assim como as sociedades da antiguidade utilizaram-se do saber racional para permitir a
sobrevivência e a compreensão dos fenômenos, o gênero humano, desde os tempos remotos até à
contemporaneidade, depende historicamente da tecnologia e do exercício científico, sendo a
construção de grande parte do passado resultado do desenvolvimento da ciência. Muito embora essa
forma de saber seja de crucial importância para a civilização, observa-se na contemporaneidade um
movimento “obscurantista” de negação da ciência, destituindo-lhe seu fundamental papel facilitador
da vida cotidiana e de orientação da atividade humana, restando à sociedade tão somente o
retrocesso e o desconhecimento.
Presente historicamente na vivência em sociedade, o desenvolvimento científico é fruto de
uma busca constante não só pela sobrevivência humana, mas, principalmente, pela necessidade de
superar dilemas e de proporcionar qualidade de vida, resultando na contemporaneidade globalizada,
realidade na qual a tecnologia é um pilar imprescindível. A esse respeito, o geógrafo brasileiro
Milton Santos, ao conceituar a “Revolução Técnico-Científico-Informacional”, refletiu acerca da
crucialidade da ciência para os níveis de desenvolvimento socioeconômicos que marcam o presente
e a necessidade da tecnologia para a facilitação de fluxos , sejam eles materiais ou imateriais, sendo
a produção científica, portanto, ferramenta que sustenta o presente e permite a progressão para o
futuro. Dessa forma, uma vez que o cotidiano contemporâneo e toda historicidade humana são
marcados pelo saber produzido pela ciência, não reconhece-lo é negar a própria realidade e a busca
pelo desenvolvimento progressista.
Além de marcar a temporalidade histórica, sobretudo a contemporaneidade, a ciência norteia
a ação coletiva ao desvendar o desconhecido e explicar impasses presentes. Nesse sentido, o
“obscutantismo”, que preza pelo repúdio aos conhecimentos científicos – como à vacina, ao formato
terrestre, ao aquecimento global-, atenta contra a metodologia racional e a capacidade reflexiva
humana, apresentada pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman como elementar para uma sociedade
que busca a superação de dilemas que a aflingem. É, assim, através da ciência que o indivíduo,
circundado por um presente de desconhecimento e por um universo de difícil compreensão,
encontra respostas para, enfim, explicar a si próprio e o seu meio.
Diante dessa contemporaneidade que tem seu progresso dificultado pelo não reconhecimento
do papel da ciência, é relegado à sociedade o obscurantismo do desconhecimento que permeava as
civilizações da antiguidade. Ao passo, por fim, em que a humanidade relutar pela ignorância da
negação dessa forma de saber, que não só facilita e constrói a vida cotidiana, bem como orienta o
homem contemporâneo, a vida em coletividade estará fadada à estagnação.
33

NOTA: 40

Ciência elitizada e sociedade capitalista

É certo que a relação entre sociedade e ciência é moldada a partir da relação entre política e
economia de cada período histórico. Enquanto a Europa Medieval, religiosa e agrária, negava e
combatia o saber científico os Árabes, urbanos e comerciais, desenvolviam todos os campos da
ciência. Nesse Viés, a tendência contemporânea de reduzir o papel da ciência às elites e aos
interesses econômicos se relaciona com a estrutura social, política e econômica que avança hoje em
escala global.
Primeiro, é preciso analisar a tendência mundial de ascensão de políticas e líderes
dogmáticos e superficiais quanto à importância da cultura, arte e ciência. Tanto no Brasil quanto nos
Estados Unidos a liderança está com partidos conservadores que promovem a manutenção dos
privilégios elitistas e dissimulam a necessidade pela democratização do acesso à educação. Nesse
sentido, o conhecimento científico se perpetua como monopólio das elites, as quais acessam esse
conhecimento de maneira privada. Esses fatores se somam distanciando as massas da ciência e
isolando a população.
Segundo, e como consequência, aumenta-se a distância da integração entre sociedade geral e
ciência. Acerca disso, os polos desenvolvedores de tecnologia criam novos produtos e impulsionam
o consumo alimentando o Sistema Capitalista. Esses frutos são consumidos de forma passiva pela
população, que usufrui da ciência sem retê-la. Como resultado, a sociedade cria aversão por aquilo
que não compreende, sendo cada vez mais alienada por essa aspiral excludente. O papel da ciência
passa a ser o de consumo e não o de integração à realidade e a cultura
Em suma, o espaço que o conhecimento científico possui depende da agenda política de
cada Estado e sociedade. Na atualidade, o sucesso do capital é priorizado frente à democratização
do saber. Os governos conservadores intensificam a alienação da população em relação a seu papel,
este por sua vez parece limitado ao de consumidor passivo.
34

NOTA: 44.5
Ciência: progresso e manipulação

Durante séculos, os avanços científicos foram considerados sinônimos de progresso.


Entretanto, recentemente percebeu-se que a mesma tecnologia responsável pelo desenvolvimento da
eletricidade e pela melhora nos procedimentos médicos, os quais aumentaram a qualidade de vida
da população, foi a base de grandes mazelas sociais, como a bomba atômica, que gerou muita morte
e destruição. Nesse contexto, fica-se evidente como o mundo contemporâneo tornou-se dependente
da ciência, mas como grande parte da população não a compreende, abre-se espaço para a
ignorância e a manipulação social.
Em um mundo cada vez mais influenciado pela tecnologia, em que o conhecimento mostra-
se muito acessível, por meio da internet, a população encontra-se, paradoxalmente, na menoridade
kantiana. Dessa forma, por mais que seja fácil buscar o conhecimento, as pessoas não o procuram,
consequência de uma realidade em que grande parte dos trabalhos humanos, como até mesmo
pensar, já são realizados por máquinas. Diante dessa disseminação da ignorância, a ciência começa
a ser utilizada de forma negativa, como para espalhar “fake news”, fato que chega até mesmo a
prejudicar a medicina, já que notícias erradas sobre vacinação foram uma das principais causas da
volta de doenças já erradicadas. Assim sendo, a ciência mostra seu lado retrógrado, o qual contribui
para a menoridade do ser humano.
Nesse cenário, a sociedade pode ser facilmente manipulada por quem entende de tecnologia,
seja intimidando pelo fato de possuir bombas atômicas, como os Estados Unidos fazem, seja pela
compra de informações pessoais de usuários em redes sociais, dentre outras maneiras. O ponto é
que com a ignorância da população somada às facilidades tecnológicas, as pessoas podem ser
manipuladas, como na última eleição americana, em que o presidente Donald Trump fez uso de
“fake news” para ser eleito. Dessa forma, mostra-se como a ciência pode ser utilizada a favor dos
poderosos, não somente para o desenvolvimento do país, mas também para a manipulação e a
destruição.
Infere-se, portanto, que o papel da ciência no mundo contemporâneo é tanto positivo, pela
criação da eletricidade por exemplo, quanto negativo, sendo causa de grandes mazelas sociais. Isto
posto, evidencia-se a necessidade da população de compreender a tecnologia, com a finalidade de
evitar manipulações e atingir a maioridade kantiana, levando a humanidade ao progresso.
35

NOTA: 34.5
A Ciência e o Obscurantismo

Em 2019, o Governo Federal, presidido por Jair Bolsonaro, realizou discursos ataques à
educação, especialmente através do corte de verbas. Esse corte interrompeu o pagamento de
diversos pesquisadores e prejudicou milhares de estudos. Nesse sentido, a ciência tem sido
desacreditada devido ao avanço do obscurantismo, o que impacta em seu papel de transformação
social e desenvolvimento da medicina.
Primeiramente, para Immanuel Kant, o movimento iluminista representava a emancipação
do homem, que teria deixado sua menoridade, a idade das trevas, através da ciência e do livre
pensamento. Analogamente, no mundo atual, as ciências humanas têm um papel de transformar a
sociedade ao investigar as relações de poder e contribuir para a emancipação do proletariado. No
entanto, esse fenômeno representa uma ameaça à elite conservadora, que fomenta o anti-iluminismo
a fim de manter a alienação e consequentemente, seu poder. Dessa forma, uma das funções da
ciência no mundo contemporâneo é transformar e emancipar a sociedade.
Além disso, outro papel da ciência é a melhoria da saúde humana. Esse desenvolvimento da
medicina se dá por meio de pesquisas científicas, como a realizada pela Universidade Estadual de
São Paulo, que executou, com sucesso, um novo tratamento para o câncer. Em contrapartida, com o
descrédito causado pelo obscurantismo, o movimento anti-vacina cresce e provoca surtos de
doenças, como o de sarampo no estado de São Paulo. Desse modo, a ciência é imprescindível para a
saúde humana, já que, quando negada, doenças graves ressurgem, quando incentivada, novos
tratamentos são criados.
Em suma, a ascensão de governos conservadores, como o Bolsonaro no Brasil, reflete o
obscurantismo que permeia o mundo atual. Consequentemente, o fortalecimento do anti-iluminismo
faz com que grande parte da sociedade permaneça em sua menoridade e sofra com o retorno de
doenças, já que a ciência é impedida de realizar seus principais papéis no mundo contemporâneo: a
transformação social e o desenvolvimento da medicina.
36

NOTA: 38
A Volta De João E Maria

Na história infantil “João e Maria”, tais personagens, movidos pela inocência e


irracionalidade típicas de crianças, são levados a uma armadilha por parte de uma Bruxa, que os
prende e pretendia mata-los. No entanto, por sorte, conseguem escapar da antagonista e sobrevivem.
De maneira semelhante ao imaginário das crianças do enredo, nota-se, em um contexto
contemporâneo, que a humanidade tende a guiar-se instintivamente, o que aumenta a possibilidade
de que ela também caia em uma armadilha de uma Bruxa. Dessa forma, entende-se que a ciência,
dado a sua racionalidade, atua como um adulto que dá conselhos e rejeita informações falsas,
desenvolvendo assim uma mentalidade mais madura na atual sociedade “infantilizada”.
Essa infantilização pode ser notada a partir de determinadas atitudes irracionais. A
campanhas pela volta da eleição em cédulas de papel, por exemplo, corresponde a esse tipo de ação,
dado que rejeita a urna eletrônica, produto de tecnologias diretamente ligadas a ciência, em nome de
um método que remonta períodos de vigência de currais eleitorais e inúmeras fraudes nesse meio,
como foi na Primeira República. A partir disso, fica nítido que a ciência deve tomar uma posição
que, por meio de fatos e estudos, comprove o anacronismo de certas atitudes e preferencias da
comunidade, que promovem um verdadeiro atraso na presente conjuntura, atuando assim de forma a
expandir um esclarecimento acerta de muitos assuntos.
A necessidade desse esclarecimento em questão ocorre pelo que a cientista política Hannah
Arendt classifica como “banalidade do mal”. Tal conceito se baseia no fato de que a sociedade, por
vezes, é responsável pela normatização de diversas ideias que a corrompem. Tais ideias, na forma
de “fake news”,por exemplo, de maneira recorrente, terminam por minar descobertas científicas,
produzindo mais atrasos e prejuízos aos indivíduos. Um caso que ilustra tal conceito é a
comunidade “anti vacina”, que, ao atropelar várias verdades referendadas pela ciência, disseminam
ideias sem comprovação nenhuma. Enxerga-se, então, que a ciência também deve assumir um papel
combativo com relação a tais ideias por meio da manutenção do incentivo a descobertas que, cada
vez mais, comprovem pontos a seu favor.
Portanto, conclui-se que, no mundo contemporâneo, a ciência recebe o papel de desenvolver
um amadurecimento intelectual nos homens, além de esclarecer tais indivíduos por meio de novas
descobertas e até mesmo assumindo uma postura combativa a fim de impedir a volta de uma
“mentalidade João e Maria”, responsável por fazer com que, assim como os personagens, a
sociedade caia em inúmeras armadilhas.
37

NOTA: 36.5

Nebulosidade

No século 18, os filósofos iluministas Diderot e D’Alembert, chamados enciclopedistas,


objetivavam a democratização do acesso ao conhecimento através da sua compilação e distribuição
na forma de enciclopédias. Séculos depois, a Internet tem cumprido bem uma função análoga na
atualidade, deixando usuários e informações a um clique de distância. Paradoxalmente à ampliação
desse acesso à ciência, percebe-se sua negação através da disseminação de inverdades, permitindo
afirmar que o papel da ciência no mundo contemporâneo é a quebra de mitos.
Em primeiro lugar, a emancipação humana está intimamente ligada à ciência. Para
Immanuel Kant, o homem só alcança a “maioridade” quando faz uso da razão sem o auxílio de
“tutores”. Ou seja, o indivíduo que busca conhecimento por si próprio possui autonomia intelectual
e dificilmente é enganado por outros. Entretanto, mesmo nos dias de hoje, são vistas posturas
semelhantes às do período medieval, em que pessoas pouco escolarizadas são manipuladas por
líderes religiosos mal intencionados, que, por exemplo, vendem artigos supostamente milagrosos
para a cura de doenças.
Em segundo lugar, convém ressaltar também a preservação da vida que a ciência representa.
Tome-se como exemplo a criação de vacinas no século 20, importantes fármacos geradores de
imunidade no combate a muitas enfermidades. Contudo, a divulgação nas redes sociais, como
Whatsapp, de um estudo falso por um médico que alegou que as vacinas provocam autismo em
crianças impactou na redução da cobertura vacinal no mundo todo, inclusive no Brasil, trazendo de
volta doenças extintas perigosas como o sarampo. Assim, é corroborado o pensamento de Carl
Sagan sobre o caráter destrutivo da ignorância, urgindo conscientização.
Fica claro, portanto, que o papel da ciência no mundo contemporâneo é o combate aos
mitos, sejam eles fatos ou pessoas. Ao representarem nebulosos riscos à autonomia e até à vida
humana, torna-se fundamental a clareza que só o conhecimento oferece. Dessa forma, será possível,
mais que democratizar – como visado pelos enciclopedistas -, vislumbrar a real valorização da
ciência.
38

NOTA: 39.5
Entre a maioridade e melhores condições de vida

De acordo com Oscar Sala, profissional da área de humanidades, apenas em sociedades que
apresentam clima cultura de impulso à curiosidade e amor a descobertas a ciência pode florescer.
Analisando-se a realidade brasileira, observa-se que esse cenário de florescimento não é propiciado,
uma vez que a ascensão de movimentos negacionistas – que repudiam ideias científicas
consolidadas, tal como as vacinas – ilustra uma comum rejeição ao conhecimento científico, o que
cria uma conjuntura de avanço da ignorância. Diante desse cenário, tem-se que, de fato, a ciência
possui um papel indispensável no mundo contemporâneo, pois permite a maioridade e promove
melhorias na qualidade de vida.
Decerto, a ciência permite a maioridade. Tal noção, criada pelo filósofo Immanuel Kant,
corresponde à habilidade do ser humano de pensar por si próprio, de modo autônomo, o que é
obtida pelo estudo. Prova dessa potencialidade é a obra Mayombe, do angolano Pepetela, na qual,
em meio a guerra de independência pela Angola, o comandante Sem Medo, em uma das passagens,
estimula um dos guerrilheiros a estudar, pois assim este conseguiria obter sua maioridade – o que,
em um contexto macro, alude metonimicamente, à independência cultural e intelectual do país em
formação. Portanto, a ciência possui grande importância na atualidade, pois o estudo é um
instrumento de obtenção da maioridade.
Ademais, a ciência também promove melhorias na qualidade de vida. Essa fomentação
ocorre, pois muitos são os projetos científicos destinados à descoberta de conhecimentos que
acarretem melhores condições para a sobrevivência humana. Um exemplo de como esses estudos
podem propiciar tal cenário foi a descoberta da penincilina, antibiótico que revolucionou o
tratamento de infecções bacterianas e salvou milhares de vidas. Dessa forma, à luz do essencial
papel da ciência na promoção de melhorias na qualidade de vida da população humana, o
conhecimento científico, realmente, possui indiscutível relevância.
Em suma, levando-se em conta a atual conjuntura de avanço da ignorância, denota-se que a
ciência possui um papel indispensável no mundo contemporâneo. Assim sendo, a permissão para a
obtenção da maioridade, como observado na obra Mayombe, ilustra essa importância. Além dessa
autonomia, tal papel essencial também justifica-se pela promoção de melhorias na qualidade de
vida, a exemplo da descoberta da penincilina, fatores estes que explicitam a função basal da ciência
na contemporaneidade.
39

NOTA: 45

Anticientificismo: construção de muros e cavernas

“Nas grandes cidades do pequeno dia-a-dia/o medo nos leva a tudo, sobretudo à fantasia/
então erguemos muros”. Na música “Muros e Grades”, da banda Engenheiros do Hawaii, o medo
constante que permeia a sociedade contemporânea é cantado como motivo para a construção de
muros concretos e abstratos, como, por exemplo, aquele que afasta a ciência e seus desdobramentos
da população. Nesse contexto, o anticientificismo se apresenta como fruto da dificuldade humana
de entender que a ciência é composta de verdades transitórias, o que esmaece seu papel no mundo
contemporâneo, permitindo, sobretudo, a dissolução do Estado democrático.
Primeiramente, o descrédito a ciência é resultado do apego humano a suas crenças pessoais.
Nesse sentido, o método científico é um mecanismo para averiguar hipóteses a fim de garantir teses
sólidas, apartidárias e reprodutíveis. Para tanto, o filósofo Karl Popper estabeleceu o conceito de
falseabilidade, o qual define que uma hipótese só pode ser levantada se houver a possibilidade de
ser refutada. Com isso, no meio acadêmico, a todo instante teorias são reformuladas, aperfeiçoadas
ou dissolvidas, como atesta o modelo heliocêntrico de Ptolomeu, o qual foi revisado e aperfeiçoado
por Kepler. Contudo, estudar e compreender a transitoriedade das verdades científicas não é
simples, o que impele indivíduos a se apegarem a suas crenças e opiniões que, por vezes, são
imutáveis. Uma analogia disso é o Mito da Caverna de Platão, no qual pessoas estão acorrentadas
nas sombras - preconceitos e crenças -, mas, quando uma delas se liberta e conta sobre as luzes de
fora da caverna - o conhecimento -, matam-na, visto que é cômodo se apegar a suas crenças
pessoais. Assim, com o anticientificismo resultante do apego a percepções pessoais, dificulta-se o
entendimento do papel da ciência no mundo atual, aumentando a altura do muro entre ela e a
população.
Em decorrência do descrédito à ciência, o Estado democrático se fragiliza. Nessa
perspectiva, o filósofo Michel Foucault definiu episteme como o conjunto de pressupostos e
preconceitos de determinada época, o qual é alicerce para entender o que se entende como verdade,
já que, para o filósofo, esta é construção histórica. Desse modo, epistemes pautadas por
pressupostos autoritários produzem verdades arbitrárias, decididas por percepções dos governantes.
Stálin, por exemplo, por não acreditar na teoria de Darwin, adotou, como ditador da URSS, medidas
agrícolas que levaram à fome milhares de camponeses e à perda de capital por parte do Estado.
Portanto, consolidar uma episteme baseada na ciência impede que governos adotem políticas
públicas baseadas em percepções pessoais e construam verdades úteis e arbitrárias que possam
prejudicar a população. Ou seja, o papel chave da ciência se constrói ao ser aplicada socialmente,
impedindo a prática de governos autoritários, garantindo o bem-estar da população e, por isso, a
sustentação do Estado de direito.
Em síntese, o papel da ciência no mundo contemporâneo é, sobretudo, de garantir a
qualidade de vida e o progresso, desconstruindo verdades utilitárias que sustentam políticas
40
públicas ideológicas. O Estado democrático, no entanto, para ser assegurado, necessita de uma
episteme baseada na ciência, o que se torna gradativamente mais difícil em uma sociedade que se
agarra em suas crenças pessoais, como o fazem as pessoas do Mito da Caverna de Platão, e
descredita o método científico. Assim, enquanto se solidifica, no mundo contemporâneo, uma
episteme anticientificista, o medo se difunde, os muros se acirram, as opiniões e crenças ganham
força e o Estado de direito se desfaz, abrindo o espaço para regimes totalitários e suas respectivas
verdades.
41

Redações ENEM — ingressantes pelo SISU:

NOTA: 980 (C1: 180; C2: 200; C3: 200; C4: 200; C5: 200)

A produção cinematográfica brasileira “Que horas ela volta?” Retrata a disparidade entre
dois jovens de diferentes camadas sociais, abordando fatores econômicos, regionais, socioculturais
e até educacionais. Nesse contexto, na realidade brasileira — similar ao filme — tem-se a
problemática da democratização do acesso ao cinema, seja decorrente da desigualdade
socioeconômica, seja pela negligência governamental.
A priori, a desigualdade socioeconômica vigente no Brasil inviabiliza o acesso igualitário ao
cinema. Segundo a Escola de Frankfurt, a industrialização da cultura tende a monetizá-la, ou seja, a
produção cultural é capitalizada e valorada. Nesse sentido, a desigualdade existente atua como
barreira para disseminação do cinema na sociedade, visto que a concepção dos filmes como produto
de consumo torna-o incompatível com a renda mensal da maior parte da população brasileira. Dessa
forma, a desigualdade segrega e impede a democratização do cinema no país.
Ademais, a negligência governamental é fator preponderante para a perpetuação da
desigualdade no acesso ao cinema no Brasil. De acordo com as cláusulas pétreas, a educação e
cultura são direitos do cidadão, entretanto, lamentavelmente, a falta de políticas públicas que os
garantem, somados à mercantilização, resultam na segregação do espaço e, consequentemente, na
disparidade do acesso à salas de cinema. Ou seja, sem a adoção de políticas inclusivas que visem
garantir o acesso e consumo de forma isonômica, o Estado torna-se negligente para com a
população no que tange às garantias constitucionais e, também, à importância sociocultural dos
filmes na construção social.
Portanto, a desigualdade econômica, junto à negligência do Estado, são fatores cruciais para
entendimento da não democratização do acesso ao cinema no país. Isso posto, cabe ao Ministério da
Educação e Cultura, órgão responsável pela garantia dos direitos educacionais e culturais previstos
na Constituição Federal, a implementação, por meio de um projeto de lei e recursos federais, de
salas de cinemas públicas — ou com valor simbólico — em todo o território nacional, priorizando
escolas e museus, a fim de fomentar o acesso à cultura, arte e história e, então, garantir a
democratização do acesso ao cinema no Brasil.
42

NOTA: 980 (C1: 180; C2: 200; C3: 200; C4: 200; C5: 200)

No contexto da “Bélle Epoque” europeia, por intermédio das inúmeras invenções


propiciadas pelas Revoluções Técno-Científicas, que são responsáveis por garantir o
desenvolvimento social e econômico dessa comunidade na época, ocorreu o surgimento do
“cinematographo”, máquina criada pelo francês Lumière que deu origem ao fenômeno mundial
hodierno do cinema, caracterizado pela sua importância para o entretenimento e para a área
acadêmica em geral. Nesse sentido, embora tal atividade seja positiva para a sociedade
contemporânea, na realidade brasileira, o acesso a esta é precário quando analisado em escala
nacional, sendo necessária sua democratização. Desse modo, é necessário discorrer acerca de como
a má distribuição desse serviço pelo país e a subestimação das práticas ligadas ao lazer pelo
brasileiro contribuem para a manutenção de tal conjuntura.
Em primeiro plano, há o processo de urbanização do território no século XX, que se deu de
forma tardia e despreparada, fato responsável por influenciar a formação de cidades com oferta de
serviços estabelecida de maneira desigual nacionalmente. Nesse contexto, a disseminação das artes
cinematográficas foi expressivamente afetada, distribuindo-se de forma mais concentrada em áreas
com certo poder econômico. Em razão dessa perspectiva, o geógrafo David Harvey teoriza que a
qualidade de vida citadina é visa como uma mercadoria, uma vez que apenas aqueles com maior
prestígio social podem desfrutar totalmente das atividades urbanas, como o cinema, característica
excludente e que garante ao país o sexagésimo lugar, no ranking mundial, na relação de habitantes
por salas disponíveis para essa prática, de acordo com pesquisa divulgada pela Ancine.
Outrossim, em um país com elevadas taxas de desigualdade social e com aproximadamente
13 milhões de desempregados, segundo dados do jornal Nexo, a importância dada às atividades
destinadas ao lazer é exponencialmente diminuída. Tal atitude ocorre, embora tal direito seja
assegurado pelo artigo 6 da Constituição Federal, devido à luta constante na garantia de outras
premissas também negligenciadas pelo Estado, como o acesso à moradia e ao trabalho dignos. Por
conseguinte, em uma sociedade que subestima a necessidade de práticas associadas ao lazer, como
as de caráter cinematográfico, e fica restrita a ambientes corriqueiros que corroboram o expressivo
acúmulo de sentimentos negativos, como o estresse, os indivíduos são mais susceptíveis ao
desenvolvimento de doenças psicológicas, como a ansiedade e a depressão.
É evidente, portanto, que medidas para solucionar o impasse devem ser adotadas. Para isso,
é imprescindível que o Ministério da Cultura, órgão responsável pela elaboração de políticas
públicas com esse fim, atue de forma a promover uma descentralização na distribuição dos cinemas
pelo país, por intermédio de uma parceria público-privada que vise a construção de unidades novas
capazes de oferecer tal serviço, a fim de que a democratização do acesso a esse bem ocorra.
Ademais, é necessário que o Ministério da Educação forneça uma série de projetos nas escolas de
todo o país, com o intuito de conscientizar os estudantes a respeito da importância de práticas de
lazer para seu desenvolvimento saudável, com atenção especial voltada aos benefícios advindos do
mundo cinematográfico.
43

ESTATÍSTICAS:

Os dados abaixo, mostrados no questionário, não correspondem a 100% da


turma, mas, sim, a 98% visto que 98 pessoas responderam. Essa foi uma
iniciativa da turma LXIX que tem o intuito de ajudar o maior número de
pessoas que tanto deseja entrar na Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo. Além das estatísticas, alguns
depoimentos foram escritos contando um pouco da história de cada um de
nós durante as trajetórias escolar e pré-vestibular. Acrescentamos, ainda,
que estamos dispostos a conversar para tirar quaisquer dúvidas ou para
ajudar da forma que for possível.

1. Qual a sua idade?


98 respostas
*Gráfico em porcentagem

30

24

18

12

0
17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
44
2. Você se identifica com algum gênero abaixo?
98 respostas

Masculino Feminino

38,8%

61,2%

3. Sua família mora em:


98 respostas
*Gráfico em porcentagem

70

56

42

28

14

0
BA ES GO MA MS MG PR RJ RN SP
45
4. Em qual tipo de instituição você cursou a maior parte do seu Ensino
Médio?
98 respostas

43,9% Instituição particular


56,1% Instituição pública

5. Você fez cursinho no ano da aprovação?


98 respostas

13,3%

Sim Não

86,7%

6. Qual era o modelo do seu cursinho?


98 respostas

6,1%
12,2%

Cursinho on-line
Cursinho presencial matutino ou noturno
43,9% Cursinho presencial em horário integral
37,8% Não fiz cursinho
46
7. Se sim, em qual condição?
98 respostas

12,2%
7,1%
1,0% 12,3%
Sem desconto
10 a 50% de desconto
50 a 90% de desconto
28,6% 100% de desconto
Cursinho social
Não fiz cursinho
38,8%

8. Por quantos anos você fez cursinho?


98 respostas

12,2%

1,0%
6,1% 34,7%
1 ano ou menos 2 anos
3 anos 4 anos
19,4% 5 anos Não fiz

26,5%

9. Pagar o cursinho era uma preocupação para você?


98 respostas

14,3%

46,9% Sim, muito grande Sim, média


Não
38,8%
47
10. Você se inscreveu em algum outro curso preparatório além do
cursinho presencial?
98 respostas

Sim, assinei plataforma on-line

Sim, tive aulas particulares

Não

0 12,5 25 37,5 50

11. Você já fez algum curso superior?


98 respostas
12. Se sim, você terminou o curso superior?

6,1%
5,1%

5,1%
Sim, na área de biológicas
Sim, na área de exatas
Sim, na área de humanas
Não
83,7%

98 respostas

3,1% 13,2%

Sim, terminei
Não terminei
Não fiz curso superior

83,7%
48
13. Se sim para a pergunta anterior, você fez algum curso de
especialização após o curso superior?
98 respostas

1,0%
1,0%

Sim, fiz mestrado


Sim, fiz mestrado e doutorado
Não fiz curso superior

98,0%

14. Durante o ano da provação, você exercia alguma atividade


remunerada? 98 respostas

2,0%
1,0% 8,2%

Não
Sim, trabalhava por meio período
Sim, trabalhava por 8 horas
Sim, trabalhava às vezes, sem muita regularidade

88,8%

15. Praticava alguma atividade física? 98 respostas

29,6%

46,9% Sim, 1-2 vezes na semana


Sim, 3-4 vezes na semana
Sim, 5-7 vezes na semana
16,3% Não praticava atividade física
7,1%
49

16. Além do cursinho, quantas horas você estudava por conta própria por
dia? 98 respostas
*Gráfico em porcentagem

30

22,5

15

7,5

0
1h 2h 3h 4h 5h 6h 7h 8h 9h 10h 11h +12h

17. Quantas horas de sono por dia, em média, você tinha?


98 respostas

9,2%
5,1%

20,4% 4-5 horas


6 horas
7 horas
37,8% 8 horas
9 horas

27,6%

18. Você pensou em desistir? 98 respostas

33,7%
Não
Sim, uma vez
55,1% Sim, mais de uma vez

11,2%
50
19. Teve acompanhamento psicológico?
98 respostas

33,7%
Sim
Não
66,3%

20. Durante o ano e antes da prova, você achava que ia passar na USP?
98 respostas

3,1%

34,7% Tinha certeza que não


Talvez
Tinha certeza que sim
62,2%

21. Depois da prova, você achou que iria passar na USP?


98 respostas

10,2%
29,6%
Tinha certeza que não
Talvez
Tinha certeza que sim

60,2%
51
22. Em quantas instituições foi aprovada (o)?
98 respostas
*Gráfico em porcentagem

1 (USP RP)

5+

0 7,5 15 22,5 30

23. Você tem histórico de ansiedade?


98 respostas

25,5%
30,6%
Sim, já tinha antes dos vestibulares
Sim, apareceu com os vestibulares
Não

43,9%

24. Se sim, como foi essa experiência?


98 respostas

16,3% 22,4%
Não experienciei ansiedade em 2019
Lidei com relativa facilidade
Lidei com média dificuldade
Foi um grande problema
32,7%
28,6%
52
25. Qual foi o seu maior desafio ao longo de 2019?
98 respostas *Gráfico em porcentagem

Insegurança

Sobrecarga

Procrastinação

Motivação

Problemas financeiros

Sono

Falta de organização

Pressão dos pais

0 12,5 25 37,5 50

26. Qual foi o seu segundo maior desafio ao longo de 2019?


98 respostas *Gráfico em porcentagem

Insegurança
Sobrecarga
Procrastinação
Motivação
Problemas financeiros
Sono
Falta de organização
Pressão dos pais

0 7,5 15 22,5 30

27. Qual foi seu terceiro maior desafio ao longo de 2019?


98 respostas *Gráfico em porcentagem

Insegurança

Sobrecarga

Procrastinação

Motivação

Problemas financeiros

Sono

Falta de organização

Pressão dos pais

0 7,5 15 22,5 30
53
28. Em qual nível de dificuldade você classificaria a FUVEST?
98 respostas

2,0%
7,1%
14,3%
Muito fácil
21,4% Fácil
Médio
Difícil
Muito difícil
Não prestei FUVEST
55,2%

29. Na FUVEST, qual foi a prova mais difícil para você?


98 respostas

10,2% 18,4%
12,2%
Primeira fase
Segunda fase - dia 1
Segunda fase - dia 2
Não prestei FUVEST

59,2%

30. Quantos livros para a FUVEST você leu? (considere 0,5 se leu algum
parcialmente)
98 respostas *Gráfico em porcentagem

18

13,5

4,5

0
0 1 livro 2 livros 3 livros 4 livros 5 livros 6 livros 7 livros 8 livros 9 livros
54
31. Em qual nível você classificaria o ENEM?
98 respostas

5,1%
1,0%
20,4%
Muito fácil
Fácil
34,7% Médio
Difícil
Muito difícil
Não fiz ENEM
38,8%

32. No ENEM, qual foi a prova mais difícil para você?


98 respostas

8,2%
1,0%

3,1% Humanas
Natureza
38,8% Matemática
36,7% Linguagens
Redação
12,2% Não fiz ENEM

33. Quantas redações por semana você fazia?


98 respostas

5,1%
19,4%

26,5% Menos de uma


1
2
3
4

49,0%
55

DEPOIMENTOS

“‘Não é só por que você nasceu aqui, que você pertence a esse lugar.’ Sou de uma família
humilde da periferia de São Paulo, e minha mãe, que engravidou ainda adolescente, sempre
insistiu na ideia de que não nos devemos deixar limitar pelo contexto no qual estamos
inseridos. No ensino fundamental frequentei uma escola particular do meu bairro. Era uma
instituição que se mostrava como uma alternativa às escolas públicas locais, conhecidas
pelo plácido descaso com a formação dos alunos. Me destacava nas atividades acadêmicas
da escola, mas sem muito esforço, de modo que sentia a necessidade de algo mais
desafiador, que transcendesse aquela situação em que me sentia estagnado. Para o ensino
médio, portanto, consegui uma bolsa em um colégio voltado para o vestibular, na Avenida
Paulista, centro de São Paulo. Lá, os colegas tinham ambições muito grandes. Queriam ser
médicos, advogados, engenheiros... eram coisas impensáveis para mim, esses lugares
simplesmente não eram próprios de uma pessoa preta e periférica como eu. Em uma dessas
conversas sobre o futuro, no segundo ano do ensino médio, uma amiga me convidou para
um workshop de medicina. Foi lá que fiquei maravilhado com a possibilidade de usar o
meu conhecimento para atenuar o sofrimento de alguém. Nesse dia, me tornei uma das
pessoas com ambições grandiosas. Para realizar essas ambições, entretanto, havia um
degrau: passar na faculdade. Como minha escola era voltada para o vestibular, no terceirão
apenas segui o cronograma estipulado pelo colégio (que na prática aproximava-se do que
era dado ao cursinho), dando mais atenção às matérias que julgava mais importantes, como
biologia e química. No final do ano não estava confiante que ia passar, de fato não estava
bem preparado, de modo que fiz as provas com relativa tranquilidade. Desta forma, foi uma
grata surpresa quando saiu o resultado e vi que fiquei apenas a 50 posições de ser aprovado
na UNICAMP. Ainda que não tivesse sido aprovado, esse feedback positivo atuou como um
fator motivador para o meu ano de cursinho. No quesito emocional, o meu ano de cursinho
foi marcado por altos e baixos, principalmente no quesito motivação. Problemas familiares,
ansiedade, término de relacionamento e inseguranças... de fato, o ano de cursinho não foi
dos mais simples. Nesse sentido, foi essencial o acompanhamento psicológico, e a dica
mais convicta que posso dar a vocês é exatamente essa, cuidem da sua saúde mental,
pratiquem o auto amor! Tratem com carinho suas mentes, que são o instrumento de trabalho
de vocês. Praticava Tênis de mesa e corrida três vezes por semana, e jogava basquete aos
domingos. As práticas esportivas me auxiliaram a manter o foco, e o fato de ter me
resguardado durante o ano, fez com que, na reta final, quando todos estão extremamente
gastos, eu ainda tivesse gás para dar. Esse foi um grande diferencial. Além disso, para me
manter motivado, eu costumava consumir conteúdos que me fizessem sentir como parte
pertencente das faculdades para que prestaria. Vídeos das gestões da AAARL, recepção dos
calouros da UNICAMP, dos gritos e hinos da UNESP. Tudo isso me fez sentir parte das
faculdades que pleiteava, de modo que as provas passassem a ser meramente a parte
burocrática. Pelo lado dos estudos, foi um ano de muita fluidez. Não focava nas horas de
estudo diárias, de modo que não tinha um horário fixo para sair do cursinho. Minhas aulas
regulares iam das 7h às 15h45min. Durante as aulas de exatas, eu focava na resolução de
exercícios, de modo que acabava não prestando tanta atenção no professor. Nas
humanidades acompanhava a aula, anotando pontos que julgava mais importantes. Nas
aulas de biologias focava 100% no que o professor falava, e tentava anotar o máximo
possível. Nos estudos pós aula, propunha algumas tarefas a serem feitas no dia (entender
56
princípio fundamental da contagem e relações métricas em triângulos retângulos, por
exemplo), e tentava concluí-las no dia, avaliando meu desempenho por meio de exercícios.
Entretanto, quando me sentia muito cansado, ia praticar algum exercício físico para
desanuviar a mente, e tentava retomar a tarefa em casa, durante a noite (mas nem sempre
conseguia terminar, acontece). Nas semanas que antecediam as provas, eu suspendia o
estudo baseado nas apostilas do cursinho, e começava a estudar por provas antigas. Nesse
período não frequentava assiduamente o cursinho, indo apenas para o plantão de dúvidas.
Essa tática me auxiliou no entendimento das especificidades de cada vestibular, de modo
que, ao fazer as provas, já entendia o padrão de perguntas de cada banca, evitando qualquer
surpresa. Além disso, como não frequentava o cursinho, entrava mais descansado para as
provas. Para as segundas fases, mantive a estratégia e comecei a focar mais na redação
(antes fazia uma por quinzena, passei a fazer duas por semana, uma fuvest e uma unicamp).
E a partir dessa sistematização nos estudos, lançando mão desses truques para me manter
motivado, e me sustentando no apoio psicológico, consegui transpor meu contexto inicial.
Isso sustenta o que minha mãe diz: não podemos nos limitar pelo contexto em que estamos
inseridos. Então, se você tem o sonho de passar na faculdade, não ache que é algo
intangível, que não condiz com a sua realidade. Aproprie-se da vaga que já é sua!”

“Ano passado, toda a turma 69 estava no mesmo lugar em que vocês estão nesse momento.
Insegurança, medo, ansiedade, apenas alguns dos sentimentos que acompanham a intensa
vida de um vestibulando. Eu saí de uma escola muito boa e tinha certeza que iria passar
direto do terceiro, mas bem, nem sempre as coisas acontecem como a gente quer. Foram
necessários 3 anos de cursinho, muitas desaprovações e muita dedicação para a tão sonhada
aprovação na Gloriosa chegar. Então o que eu posso falar para vocês é para não desistirem,
mesmo quando a ansiedade bater (oi, terapia) e mesmo quando vocês acharem que a fuvest
é impossível. A melhor coisa que eu fiz no meu ano de 2019, além de estudar muito, foi
procurar ajuda psicológica e tratar da minha ansiedade... a prova não pode ser vista como
um monstro de sete cabeças... é ela que vai te colocar aqui dentro, mas se você não cuidar
da sua saúde mental (e física, claro) é essa mesma prova que pode te tirar da usp. Todo ano
100 alunos entram na sonhada Gloriosa e ano que vem pode ser você, então estude muito e
não esqueça de se cuidar, o equilíbrio e a dedicação podem te levar mais longe do que você
jamais sonhou. Até ano que vem, calouro!”

“Decidi ser médica cedo. Meu avô desenvolveu câncer de pulmão e, como eu era a neta
xodó, eu visitava muito ele no hospital. Eu tinha 3 anos e pensei: é isso que eu quero fazer,
pra sempre. No primeiro ano do ensino médio, contudo, achando que seria incapaz de
estudar para o resto da vida e, além disso, de passar no vestibular, aliado ainda à minha
relativa facilidade e gosto por exatas, decidi prestar engenharia. Prestei mecânica na poli-
usp, engenharia física na ufscar (pelo sisu) e curso 51 na unicamp. Passei nos três cursos e
optei pela unicamp. Eu tinha 16 anos, gostava do curso, era apaixonada pela faculdade, mas
sentia que eu não me via trabalhando com aquilo pro resto da minha vida, não era pra mim.
Com apoio dos meus pais, sai da faculdade e em agosto e 2018 ingressei em um cursinho
intensivo de 14 semanas, totalmente desacreditada que eu passaria. Como moro em
Mairiporã, eu acordava às 4 da manhã, pegava o trem as 5h, chegava no cursinho em São
Paulo às 6:30 e essa rotina foi me matando aos poucos. Passei para a segunda fase da
unicamp no corte - na época, valia
57
30% da nota final-, não conseguia estudar no período pre segunda fase de tão esgotada que
eu estava. Fiz o primeiro dia da segunda fase confiante, sabia que tinha ido bem. O segundo
dia eu tinha feito 23/24 de matemática (corrigi com o gabarito da comvest) e fui para o
terceiro dia com uma cobrança insana da família e de mim mesma, porque sabia que faltava
pouco para eu passar. Fiz metade da prova, entrei em desespero, comecei a chorar, deixei
metade da prova em branco e fui embora. Fiquei em 200 e pouco e não passei - demorou
muito para eu superar isso porque sentia que era falta de estrutura minha, era o curso dos
meus sonhos, na faculdade que eu mais amava no planeta e por falha minha eu não passei.
Cheguei a passar em algumas federais, mas como eu tinha 17 anos, eu queria tentar um ano
de cursinho para tentar as estaduais de são paulo. Consegui bolsa no cursinho e apoio da
minha família e fui. Nesse ano, já emendando as dicas, eu busquei achar meu equilíbrio, o
qual eu não tinha achado nos meses anteriores, acabando com minha saúde mental. Eu
estudava muito, mas, invariavelmente, eu fazia crossfit duas vezes na semana, era meu
momento de espairecer e não pensar em vestibular, principalmente porque sempre me senti
muito incapaz, que nunca daria certo, que medicina era impossível. Eu fiz muita prova
antiga, desde a primeira semana de aula. Como eu fazia cursinho em Jundiai, eu ia de trem
para lá. Acordava 4:50, saia de casa 5:20, pegava o trem 5:40, chegava no cursinho 6:30. O
tempo de condução eu usava para fazer provas antigas e ler as obras, consegui fazer umas
60 provas ao longo do ano dessa maneira. Outro conselho é ser humilde para reconhecer
que a gente não sabe tudo e não subestimar o quanto uma aula pode nos ajudar. Eu nunca
fazia exercício durante a aula, só prestava atenção e anotava tudo. Muita gente,
principalmente quem está há mais tempo no cursinho, por dominar uma matéria ignora o
que o professor fala. Eu não era assim. Até matérias que eu dominava bastante, eu só
anotava é isso me ajudou a solidificar muita coisa na minha cabeça. Por fim, deu tudo certo.
Fazer provas antigas me ajudou a achar padrões e ficar calma na hora da prova. Em
nenhum momento eu achei que fosse passar, como eu disse, sempre sentia que todo mundo
sabia mais que eu, iria passar e eu não. Não recomendo a ninguém. Trabalhe sua
autoestima, confie em você. Vai dar certo. No meu caso, passei na usp pinheiros, usp
ribeirão, santa casa, unicamp, unesp, unifesp, famema e famerp. Um dia de cada vez. As
coisas vão dar certo.”

“Na minha opinião, o mais essencial em toda jornada de vestibular é a persistência.


Cursinho é exaustivo, toda rotina de estudos é puxada, mas todo esforço é sempre
recompensado. Eu, por exemplo, fiz 4 anos de cursinho e tudo que eu posso dizer é: vale
tudo a pena! A partir do momento que você lê ‘convocado para matrícula’, você tem certeza
absoluta que encararia toda jornada novamente só pra chegar naquele momento. Então,
minha dica é: se preocupe com o presente, faça o seu melhor sempre!
Mantenha uma rotina sempre equilibrada, sem extremos. Acredite, no final sempre da
certo!”

“Oi, meu nome é Juliana. Minha história talvez ajude muitos de vocês que pensam em
desistir. Comecei a estudar para meu primeiro ‘vestibular’ aos 14 anos, quando passei no
Instituto Federal da Bahia. Lá tive a oportunidade de amadurecer enquanto estudante e,
acima de tudo, como indivíduo. Eram tantas realidades, tantas histórias difíceis que o drama
de vestibulando; acabou se tornando o menor dos problemas para a maioria de meus
amigos, inclusive para mim. Costumo dizer que o IFBA transformou a vida deles (a minha
também, porém principalmente as deles) da forma mais linda possível. Então, após quatro
58
(longos) anos de ensino médio, formei Técnica em Química. Assim, sem ninguém ficar pra
trás e estudando por conta própria, ingressamos na UFBA e, em diversos cursos,
reescrevemos as histórias de nossas famílias. Foi uma baita festa quando passei em Direito
na UFBA. Imagine? Primeira da família a ingressar em uma universidade federal. Não era
exatamente o curso que queria. Sempre quis medicina. Porém, não queria sobrecarregar
meus pais com cursinho pago. Dessa forma, ‘aprendi’; a gostar de direito e fiquei por,
aproximadamente, 1 ano sem manifestar interesse em trocar de curso. Tudo mudou na
metade do terceiro semestre. Quando, no meio da apresentação de um trabalho, percebi que
não era aquilo que queria. Estava no curso errado. E agora? Com 21 anos eu já estava
‘velha’ pra trocar de curso? Como estudaria pra entrar em um curso tão concorrido como
medicina estando metade do ano? Pois então... Procurei alternativas e encontrei! Consegui
entrar em um cursinho popular da prefeitura da minha cidade. Porém não poderia
simplesmente abandonar o curso de Direito na UFBA tão significativo pra mim e pra minha
família. Assim, a partir da metade de 2019, minha rotina foi: Cursinho + faculdade +
Trabalho + Vida social (essencial, né? haha). Era caótico, mas funcionava, eu juro!!!
Finalmente estava estudando para entrar no curso dos meus sonhos. Assim foi... estudei
com o objetivo de entrar na em medicina UFBA, fiz o ENEM e minha nota havia sido boa.
Com base nos últimos anos, percebi que dava pra entrar. Uhu!!! Eis que no último dia de
SISU tive o seguinte pensamento: ‘Ok, to em primeiro na UFBA mas e se eu colocasse
minha primeira opção na USP? caso eu coloque, não vai mudar em nada. Passo na UFBA
de qualquer jeito.; E, bem desse modo, sem pretensão, aguardei o resultado do sisu e...
Tinha passado??! Hahah Foi (está sendo) uma loucura o processo de mudança. Porém é
muito gratificante olhar pra trás e ver o quanto conquistei e lutei pra estar aqui. Finalizo
dizendo um clichê que sempre será válido: Siga seu sonho. Vai haver dificuldades, você
talvez se sinta insuficiente, mas NÃO desista. Garanto que o esforço vai valer pena.
Sintetizando finalmente... espero te encontrar o quanto antes na universidade (sendo a USP
ou qualquer outra). De antemão, sinta-se MUITO bem-vindo a essa loucura boa que é o
curso de medicina. Abraços, Sua colega.”

“Para começar, eu acho que o mais importante é deixar claro que a sua aprovação é um
processo de construção: Cada minuto estudado, exercício resolvido ou matéria
compreendida é um tijolinho que você coloca nesse projeto de vida chamado medicina.
Então use todas as ferramentas que estão ao seu alcance para tornar essa aprovação uma
realidade. Dito isso, vamos às apresentações. Meu nome é Mateus, sou de Aparecida de
Goiânia, tenho 18 anos e cursei todo o ensino médio em escola pública. De início, preciso
dizer que minha família não tinha a menor condição de pagar um cursinho para mim, eu
estudava em casa mesmo e assistia aulas no YouTube pelo meu celular, porque não tinha
computador. No meu segundo ano do ensino médio, eu tentei uma bolsa integral em um
cursinho e consegui, ele era bem simples, tinha poucas aulas por dia, mas precisava
complementar os estudos quando chegava em casa (a parte mais importante para alguém
que quer medicina). No meu terceiro ano, eu consegui uma outra bolsa, agora em um bom
cursinho, só que por ironia do destino, os horários das aulas no cursinho eram os mesmos
horários que eu precisava estar no colégio, ou seja, não assistia aula no cursinho. Eu
estudava à tarde sozinho com os livros que eu tinha e assistia aulas online no YouTube
(Parece que voltei para a estaca 0, não é?), isso me abalou bastante, mas eu persisti graças
ao apoio da minha família e amigos. Eu comecei a fazer uma coisa que eu não fazia durante
os outros anos, eu comecei a resolver provas antigas e outros vestibulares. Então eu percebi
59
o quão importante isso é para fazer um vestibular, porque assim você conhece o seu
‘inimigo’, sabe o que ele quer de você. Foram longos dias de estudo, alguns dias
intermináveis e uma rotina exaustiva e maçante, mas cada minuto dedicado foi um tijolinho
que coloquei para erguer meu projeto. Desde muito novo eu quero ser médico, é uma
profissão que sempre me encantou (e olha que eu não assistia nenhuma série), porque você
tem a oportunidade de ajudar as pessoas diretamente com o seu conhecimento e também é
possível entender a complexidade do funcionamento do corpo humano e todos os seus
detalhes de forma impressionante e brilhante. Para você, que deseja entrar nessa longa
jornada de aprendizagem e desafios, desejo-te uma boa sorte e que a força esteja com
você.”

“O objetivo de passar em Medicina era um grande desafio e que decidi encarar com
bastante empenho. Já sou formado em outro curso, com pós-graduação e trabalho nessa
outra área. Assim, meu maior desafio foi encontrar tempo para realizar os estudos. Utilizei
muitos materiais encontrados na internet e foquei meus estudos na realização de exercícios.
Ouvi de um amigo que ‘vestibular é repetição’ e acreditei muito nisso. Os temas são
praticamente os mesmos todos os anos e as formas dos exercícios não possuem uma grande
margem de criatividade. Por isso, foquei em resolver muitas provas de anos anteriores, de
diversos vestibulares. Fazia uma prova por semana e assistia no youtube a resolução de
todos os exercícios que errava. Isso me deu tranquilidade para o dia da prova e foi
fundamental para minha aprovação. Mantenham-se com foco no objetivo! A jornada é
longa, mas é justamente a nossa capacidade de não desistir que nos permite atingir o
resultado desejado.”

“Olá futuros calourxs da turma 70. Venho aqui deixar minha mensagem de apoio para
vocês que estão passando por essa fase tão delicada e complexa de suas vidas. Sei que os
vestibulares não são fáceis, especialmente os de medicina, e entendo todo o cansaço
psicológico e físico que eles causam. No entanto, é necessário paciência, dedicação e
organização. Paciência para esperar o seu momento, pois todos tem sua hora e sua vez.
Dedicação para encarar os desafios que lhe aguardam, principalmente em relação àquelas
matérias que mais lhe causam dificuldades. E organização com seus horários de estudos,
alimentação, atividades físicas e horas de sono (isso é muito importante administrar). Um
grande professor que tive no cursinho me ensinou que o vestibular não é sobre estudar tudo,
e sim sobre estudar certo. Ou seja, estude sim, mas não se esqueça de se alimentar bem,
preparar tanto o seu físico quanto o seu psicológico e descansar. Tudo isso para que seu
corpo aguente a rotina de estudos durante todo ano e que durante as provas vocês não
estejam exaustos. Em uma analogia ao atletismo, vestibular não é uma prova de 100
metros, e sim uma meia maratona. Espero, do fundo do coração, que esse ano sejam de
vocês, e nos encontraremos na Gloriosa no ano que vem. Abraços!!”

“Nascido em uma família pobre, pais divorciados, irmão com depressão... Muita coisa pra
me segurar mas usei minhas dificuldades para me impulsionar. Nunca me vitimizei, sempre
coloquei na minha cabeça que ia chegar longe. Tudo que deveria me colocar pra baixo eu
usava como combustível para chegar mais longe. Além de muito pobre, ter estudado em
escola pública a vida toda, sempre procurei ser o mais carismático possível e conseguir
ajuda de todos à minha volta para atingir meu propósito. No ensino médio, era um aluno
fraco no começo, mas coloquei minha cabeça em ordem e comecei a me dedicar, me formei
60
no ensino médio como melhor aluno, e ainda sim fiquei muito longe da medicina, ainda
mais na USP. Fiz um ano de serviço militar obrigatório, meus instrutores foram como pais
(homens) que nunca tive, me motivaram e falaram que eu tinha potencial, e falaram pra
investir em mim mesmo. Estudei um pouco nesse ano... No outro, estudei em casa, mas não
rendeu muito. Também fiz alguns trabalhos e juntei grana pra fazer cursinho... Fiz amizade
com pessoal do cursinho que inaugurou na cidade, fui o primeiro a fazer matrícula e, pelas
minhas condições, deram um desconto alto pois acreditaram em mim. O dinheiro foi
contado exatamente para 7 meses, acabou em Setembro e o pessoal do cursinho, vendo
meus resultados, deixaram estudar até dezembro sem pagar mais um centavo. E, por ter o
dinheiro contado, não tinha condições de almoçar no cursinho nem comer nada além...
Nesse ano, eu dei TODO o meu máximo, ia para o cursinho de bicicleta andando uns 7km
pra ir e 7km pra voltar, pois não tinha sequer condição de pagar uma van. Mal tinha o que
comer, levava uns 4 pães, as vezes sem nada ou apenas ovo, e ficava no cursinho, das 7h
até 22h todo dia (minhas aulas paravam 16h e eu ficava nas salas de estudo). O pessoal do
cursinho pagou minhas inscrições e meu transporte para o vestibular, e algumas vezes, até
me pagaram almoço, quando eu estava com muita fome e não aguentava, tendo que pedir
um lanchinho... Tudo isso, que era mais que motivo pra me derrubar, só me levaram mais
longe. Fui o único do cursinho aprovado em medicina pública, ainda mais na USP. Eu
mesmo não acreditei! Então, ‘para quem tem pensamento forte, o impossível é só questão
de opinião!’ Para o querido leitor que busca inspiração, acredite em si mesmo. Ninguém vai
acreditar em você se você não o fizer primeiro! Pense em tudo que já sofreu até agora, o
quanto batalhou... Use suas dificuldades como combustível para seu sonho! E, se não tiver
como pagar inscrições para o vestibular, converse. Alguém vai te ajudar, como me
ajudaram quando precisei! EU mesmo posso ajudar... Não deixe suas dificuldades travarem
seus sonhos. Força, guerreiro(a/x)!!”

“Já sou biólogo, tenho 27 anos, estou muito satisfeito de ter escolhido mudar de carreira. O
que eu percebi, fazendo cursinho e olhando meus colegas, é que a maior parte dos
estudantes quer seguir fórmulas fáceis e muito sistemáticas de estudos (exercícios por dia,
redações por semana, páginas por dia). E essa fixação cria uma sensação falsa de progresso.
A melhor régua de desempenho são as provas, os alunos devem usa-las para perceberem
onde estão falhando, onde podem melhorar, quais matérias estudar e como estuda-las. Cada
matéria é um desafio diferente, fazer 20 exercícios de matemática sem ler a teoria é muito
bom e é útil, fazer 20 exercícios de história mesmo lendo a teoria é um desperdício de
tempo em muitos casos, pois são matérias que exigem posturas diferentes frente ao seu
estudo. O mais importante é: encontre suas fraquezas, os pontos que você está perdendo e
que mais fácil poderá ganhar. Não adianta dominar uma matéria pra ganhar dois pontos se
nas outras você está perdendo 20 pontos por erros básicos. Não perca as provas de vista,
seu foco é ser ingressar na faculdade e não virar um especialista em ensino médio (apesar
de que todos acabamos virando no cursinho). No mais, saiba que o cursinho não é um
período gostoso e que ele vai exigir sacrifícios, mas há muito orgulho e muita satisfação em
percorrer um objetivo, um sonho. A medicina pode parecer impossível pra você agora, mas
pense em todos os desafios que enfrentamos todos os dias e você pode perceber o quanto é
forte e o quanto um vestibular pode ficar pequeno. Seja firme, respeite sua história e seus
sonhos, a sociedade precisa de bons profissionais e se você está disposto a se sacrificar por
eles, merece meu respeito e te espero aqui ano que vem.”
61
“Quando eu decidi prestar Medicina, eu já tinha 30 anos e estava há 12 anos longe da
escola. Tudo aquilo que as pessoas tinham visto no ano anterior era uma novidade pra mim
e parecia que eu não aprenderia todo conteúdo necessário, por mais que me esforçasse. A
sensação de insuficiência era constante. Por isso, a coisa mais valiosa na minha aprovação
foi a dedicação em fazer análise com o psicanalista. Isso me deu toda estrutura emocional
para vencer os medos, as inseguranças e o desespero. Além de toda pressão do vestibular,
eu tinha nas costas o peso da abdicação de uma longa carreira e da estabilidade de concurso
público no qual eu havia sido aprovada e desisti. Tive de enfrentar o olhar recriminatório de
muitos. Então, eu me cobrava bastante e me desesperava diante da incerteza. Mas depois
me acalmava e tentava aprender uma coisa por vez, respeitando minha história e meu
tempo de aprendizado. O apoio da minha família foi fundamental nessa hora. Na rotina, eu
me sentia mal por não conseguir estudar tanto quanto alguns colegas. Eu não conseguia
desempenho para ficar na sala de maior nota e isso me frustrava muito. Mas no fim das
contas eu pude escolher onde estudar – passei na Unicamp e a nota do Enem dava pra mais
de 40 federais. Muitas pessoas que sabiam bem mais que eu não passaram :( , porque foram
traídas pela ansiedade na hora da prova. Por isso, o mais importante de tudo é não desistir e
manter a tranquilidade. Você não precisa saber toda a matéria pra passar (fala do Sílvio pra
mim, sabedoria). Ninguém que passou, seja aqui ou qualquer facul, gabaritou a prova.
Respeite seu cansaço, respeite suas horas de sono, respeite suas angústias e tire um tempo
para lidar com elas. Não negligencie seu emocional. Cuide bem dele durante o ANO
TODO. Cuide da saúde: coma bem e durma bem, drene a ansiedade com exercício físico.
De tempos em tempos, faça uma lista das suas maiores dificuldades e vá resolvendo uma
por uma, sem pressa. Cuidado com a estratégia de estudar mil horas aquilo de que gosta e
deixar pra lá aquela matéria chata. Aquela matéria chata é justamente seu calcanhar de
Aquiles, estude ela bastante e vença! Aproveite E USE toda estrutura do seu cursinho: os
plantonistas e monitores me ajudaram INFINITO (amo vocês galera! Um salve especial pra
Adriano, Alana, Amanda, Fabiano, Henrique, Lucas, Sílvio, Yuri e tantos profissionais
maravilhosos que seguraram minha mão nessa batalha). Em resumo: minha aprovação foi
um trabalho conjunto da minha família que me deu todo suporte e apoio, do meu
psicanalista incrível e de toda equipe educacional dos cursinhos e professores do Youtube.
Acredite em você! Tudo vai dar certo! Espero te abraçar aqui em 2021!”

“Os anos de vestibular são extremamente difíceis. Falando pela minha experiência, eles
foram cercados de incerteza, ansiedade, medo e pressão. Mas o meu dia a dia de
vestibulanda mudou muito quando eu mudei a forma como eu via os meus dias. A partir do
momento que eu deixei de acordar pensando que eu tinha que fazer o melhor, e passei a
pensar apenas em fazer o MEU melhor, minha vida melhorou demais. Tudo isso porque eu
comecei a aceitar que tinham dias que o meu melhor era fazer e acertar dezenas de
exercícios, mas também tinham dias que o meu melhor era apenas ir pra aula, chegar em
casa e descansar até o dia seguinte. Sim, passar em medicina envolve muito estudo e
dedicação, mas também envolve você conhecer e respeitar o seu corpo. Em um dia que ele
te implore pra descansar, apenas descanse, porque um estudo forçado não produzirá
conhecimento e causará piora do seu estado emocional e físico. As vezes um dia de
descanso seguido de alguns de estudo rende muito mais do que dias e mais dias de estudo
forçado. Por isso, a minha mensagem principal pra todos vocês vestibulandxs e futurxs
calourxs é: descansem, vocês já estudam tempo o suficiente.”
62
“Eu sou de São José dos Campos e desde que me conheço por gente quero medicina. Nunca
me imaginei em nenhuma outra profissão. No ensino médio eu tinha muita pouca noção
sobre o que era o vestibular, pensava que tirar notas boas era suficiente e me alegrava por
estar entre os melhores alunos da escola. Somente no cursinho fui entender que o vestibular
é muito mais do que isso. É um processo desgastante, que não requer somente
conhecimento, mas uma preparação física e emocional também. Foi decepcionante para
mim entender isso, porque pensava que seria fácil passar em medicina com as minhas
notas. Posso dizer que não só eu sofri com essa decepção, vi vários colegas que sempre
estiveram entre os primeiros colocados em rankings escolares enfrentarem grande desilusão
por não passarem direto do terceiro ano na faculdade que queriam. Mas como disse,
vestibular não é só conhecimento. Por isso procurei acompanhamento psicológico. Sempre
tive muita ansiedade e isso me afetava bastante, principalmente na hora da prova, pois eu
ficava tão nervosa que não conseguia nem ler o teste. Estudava bastante e me mantinha
atenta às minhas dificuldades tanto relacionadas aos estudos quanto à ansiedade.
Desmotivar é fácil, eu já me senti tão mal a ponto de querer desistir, mas sempre pensei que
aquele esforço valia a pena para realizar o meu sonho. As vezes você pode se sentir mal,
incapaz e querer desistir, eu sei que é difícil, muito difícil mesmo, mas não desista, as
coisas acontecem no seu tempo. O que eu acho mais importante de tudo é tentar se livrar da
competição do cursinho, o vestibular já é competitivo, então não deixe o ambiente do
cursinho ser estressante a ponto de encarar todos como inimigos e concorrentes. Minhas
amizades me ajudaram muito, eram pessoas que me faziam descontrair e ser mais feliz
nesse momento de estresse extremo. Então, estude e se concentre em você e na sua
felicidade, mas sem esquecer daqueles que estão ao seu redor e de como vocês podem se
ajudar. Não deixe a felicidade pra depois, sei que temos que abdicar de algumas coisas, mas
isso não significa ser infeliz. Faça sua rotina e se encontre nela. Mais importante de tudo:
confie em você.”

“É muito bom o estudante pesquisar sobre a profissão, sobre a faculdade e o curso, para ter
certeza que é aquilo que quer, o que motiva muito a pessoa. Durante o progresso dos
estudos, é importante não se intimidar com a concorrência e tentar cada dia ser um pouco
melhor na matéria e mais confiante, sem se importar com a evolução dos demais, sempre
respeitando a capacidade individual. Eu, particularmente, sempre preferi estudar fazendo
muitos exercícios ao invés de fazer resumos e lê-los. Diria que tão importante quanto
estudar as matérias é manter a saúde mental em dia. Tive apoio psicológico profissional
durante todo ano e isso fez toda diferença, aprender a lidar com a pressão do vestibular.
Então, pra ser sincero me surpreendi com meus resultados, não esperava nem nos meus
melhores sonhos estudar em uma universidade com tamanha hegemonia. Esperava ir para
uma universidade pública, mas não a USP. Eu venho de uma família humilde, meus pais
são professores e serei o primeiro médico da família. Tenho 4 irmãos, já passamos por
muita dificuldade quando era mais novo, mas graças a Deus depois as coisas se corrigiram.
Por ter pais professores sempre fui incentivado a estudar e me desenvolver, em todos os
âmbitos educativos, o que me fez desenvolver habilidades com exatas. Resumindo: saí do
terceiro querendo medicina, mas por não querer ir para o cursinho comecei a fazer
engenharia (em uma universidade pública sem expressão), mas depois de 2 anos de curso,
apesar de admirar muito a profissão não encontrei afinidades (não precisava ter sofrido
tanto rsrs) resolvi ir para o cursinho pra buscar meu verdadeiro sonho (o que poderia ter
feito direto, depois do terceiro se tivesse analisado com mais calma, por isso estou contando
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essa história, percebi que muitos colegas e veteranos passaram por isso). Caso não tem
certeza do que deseja cursar analise com calma, se necessário tire um ano ‘sabático’, não
perderá com isso. Espero ter ajudado, ignore os erros de gramática e concordância rsrs.”

“Fala galera! Meu nome é João Pedro, sou de Brodowski - interior de SP - e devo dizer
desde já que você, vestibulando de medicina, é um guerreiro e que estou na torcida por
você! Sei bem que não é nada fácil o ano de vestibular e espero que meu depoimento possa
te ajudar! Bom, eu sempre estudei em escola pública e no ensino médio não foi diferente:
fiz em uma Etec na cidade de Batatais-SP. No meu segundo ano, decidi que queria prestar
Medicina e logo no começo do ano fui atrás de um cursinho pra me dar aquela força nos
estudos. Sabia que não seria fácil passar, mas é um alívio muito grande saber que há reserva
de vagas para alunos de escola pública na maioria dos grandes processos seletivos (dentre
eles o Sisu-Enem e a FUVEST, que são porta de entrada para a maravilhosa USP). Voltando
à parte do cursinho, o presencial não era uma opção pra mim por diversos motivos: alto
custo; não tinha um bom na minha cidade porque ela é bem pequena; achei que ficaria
pesado pra conciliar com o ensino médio. Então optei por um cursinho online: o
Descomplica. Os professores são maravilhosos e têm uma didática que combinou muito
comigo (única ressalva é que a correção de redação deles não é muito boa)! Usei a
plataforma deles tanto no segundo quanto no terceiro ano do ensino médio. No segundo
ano, como eu ainda era treineiro, resolvi pegar leve nos estudos, a fim de ir me adaptando
com a plataforma e com o estudo por conta própria (que requer mais disciplina pra não cair
na procrastinação haha). Já no terceiro, foi hora de dar aquele gás! Montei e imprimi um
cronograma que fiz pelo Excel no qual: de segunda à sexta, assistia às aulas no turno da
noite (pois de manhã eu estava na escola) e fazia bastante exercícios (de 20 a 30) no
período da tarde. Aos sábados, era dia de fazer redação (é muito importante fazer toda
semana para que a escrita se torne cada vez mais fácil e você não sofra na hora das provas).
Além disso, como meu foco era FUVEST, ao longo do ano eu fiz as 10 últimas provas da
primeira fase (é muito bom pra você "pegar"; o estilo das questões e, assim, melhorar seu
desempenho). Tanto nas provas antigas quanto nos exercícios que você faz diariamente, é
muito importante fazer o diagnóstico, ou seja, ver o que você errou (e estudar mais dessa
matéria) e, principalmente, não ficar com dúvida (veja a resolução em algum fórum, no
Youtube, no Brainly, é fácil achar questões de vestibular resolvidas)! No final do terceiro
ano, fiz um mês de intensivo no Cursinho Objetivo, em Ribeirão Preto, voltado apenas para
questões dissertativas (de segunda fase), que foi providencial para eu aprender, além do
conteúdo, como formular uma resposta completa. E, por fim (parecia que chegaria o
próximo Natal mas não chegava o dia do resultado haha), tive a maravilhosa notícia de ter
sido aprovado na Unesp, Unicamp, Famerp e USP Ribeirão Preto -meu maior sonho!
Saindo um pouco dessa parte técnica, nenhum estudo é perfeito, portanto não se cobre em
excesso! Teve dias em que estava cansado da escola ou emocionalmente abalado nos quais
eu não estudava nada, não adianta forçar seu cérebro e destruir seu psicológico. Permita-se
assistir um filme, ficar à toa, ver seus amigos e, no dia seguinte, dar a volta por cima e
colocar sua rotina de volta nos trilhos! Se tiver oportunidade, busque atendimento
psicológico pra passar por esse período, mas, caso não, cerque-se da sua família, amigos ou
daqueles que você confia e que te apoiam. Sem dúvida, não sei o que teria sido de mim em
2019 sem meus pais e meus irmãos quase que semanalmente me consolando nos meus
dramas repentinos e choros longos haha. Em especial, minha mãe foi minha base todo esse
tempo: eu voltei a ser criança quando ia frequentemente deitar do lado dela na cama e
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desabafar sobre minhas inseguranças - “Mãe, eu sou de uma cidade pequena e faço escola
pública. Que chance eu tenho?”, “Será que tô estudando o suficiente?”, “Mãe, eu acho que
não fui bem nas segundas fases, não vai dar!”. Se esses pensamentos passarem pela sua
cabeça, relaxe! Você está prestando medicina do jeito certo haha. Brincadeiras à parte, não
tenha vergonha de expor seus sentimentos e pedir ajuda aos seus amados. Tudo vale a pena!
Nada foi mais gratificante do que acordar com o abraço forte da minha mãe aos prantos no
dia que saiu a lista da primeira chamada e contar para as minhas avós (simples, pouco
escolarizadas, que tanto oravam por mim e me abençoavam antes de cada prova) que
realizei nosso sonho: vou ser o primeiro médico da família!!”

“Eu escolhi medicina no primeiro colegial então desde lá já estudei pensando que meu
curso era muito concorrido, no terceiro ano fiquei muito insegura o que me desmotivou
muito pra estudar e atrapalhou demais meu desempenho nos vestibulares e acabei só sendo
aprovadas em particulares - nem para as segundas fases das públicas eu consegui passar...
No cursinho a insegurança continuou sendo minha maior inimiga, eu via os aprovados em
medicina das faculdades públicas como seres inatingíveis, o que me desmotivava muito...
Mas mesmo assim continuei mentalizando que um dia eu ia conseguir entrar na faculdade
dos meus sonhos (que sempre foi a USP) e eu direcionei meus estudos pra Fuvest ... No
começo de ano acho que a melhor dica que eu posso dar é: ache o melhor método de estudo
pra você em cada matéria... tira um tempo pra tentar mudar como vc estuda uma matéria na
qual vc nunca evolui!! A outra dica é: tenha em mente que o ritmo de estudo que vc
começar tem que ser aquele que vc vai conseguir manter até as segundas fases! Não adianta
se matar de estudar no primeiro semestre e não aguentar mais quando chegar a fase de
revisão final! Bom, perto dos vestibulares minha insegurança piorou muito... chorava
sempre, me sentia incapaz e me cobrava muitooooo. Saindo os resultados da primeira fase
fiquei muito feliz com meu desempenho, consegui passar pra todas as segundas fases mas
ja estava esgotada pra conseguir me dedicar para as provas escritas... Bom, acho que para
as segundas fases minha maior dica é: se prepare desde o começo do ano, muitos cursinhos
não tem muito simulado segunda fase durante o ano e chegando no fim estamos muito
cansados e é muito mais difícil aprender a escrever uma resposta ideal pro vestibular na reta
final! Enfim, chegando na segunda fase da Fuvest eu fiquei extremamente decepcionada
com meu desempenho, chorei por dias e jurava que não tinha passado... (por sinal fui fazer
a segunda fase da unicamp chorando e me atrapalhou demais) No fim deu certo! Entrei na
faculdade que sempre quis e poderia ter sofrido muito menos! Então, sério mesmo, sei que
é difícil mas nn se cobre tanto, não ache que vc é incapaz... quase ninguém que passa em
medicina se sentia preparado o suficiente e está tudo bem! Não desista, descanse e se
dedique!! Boa sorte!”

“Não desistam da USP por esse medo enorme que todo mundo tem da FUVEST!! Eu fiz o
ensino médio em um colégio que não tinha como foco os vestibulares, era super de
humanas e não tive vários conteúdos de biologia e física. Depois fui pro Poliedro vila
mariana e fiz 3 anos de cursinho. O meu primeiro ano foi o mais difícil pra mim, porque eu
tive que aprender a maioria das matérias e sofri com a adaptação dessa vida sem dormir
direito, sem poder sair com os amigos todo final de semana, com simulado de domingo e
estudar todo dia até tarde. No segundo ano eu me sentia mais adaptada a rotina e pude
mudar algumas coisas que eu achava que não tinham funcionado no meu primeiro ano, com
por exemplo, fui fazer curso particular de matemática e foquei mais nas matérias que tinha
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feito minha nota cair no último ano. Mas foi no terceiro ano de cursinho que eu realmente
percebi que não bastava só o conteúdo pra eu passar, eu precisava cuidar do meu
psicológico também! Então eu fui morar mais perto do cursinho e assim conseguia acordar
mais tarde, ia na academia 2 vezes por semana, deixava de assistir algumas aulas pra
descansar ou colocar alguma matéria em dia. Nesse ano eu dei mais espaço pra minha vida
social também: sai mais com os meus amigos e buscava fazer alguma coisa que eu gostava
no final do dia, como assistir uma serie. Enfim, nesses três anos eu só passei em faculdades
particulares e só tinha passado pra segunda fase da unesp, mas nunca na da fuvest. Eu
sempre tive muito medo da fuvest e não acreditava na minha capacidade, o que me
atrapalhou muito nos 2 primeiros anos, porque eu acabava não focando nessa prova já
achando que eu não iria conseguir. No terceiro ano, com o meu psicológico melhor, eu
entendi que eu precisava fazer de tudo pra estudar pra fuvest, sem pensar se eu iria
conseguir ou não, porque isso eu só iria saber lá no final do ano e que não adiantava eu já
me sabotar antes da prova. Então, eu foquei muito em geografia, redação (fiz curso
particular) e física; treinei muito pras dissertativas durante o ano todo; e fazia várias
pequenas revisões de todo o conteúdo nos feriados, nas ferias de julho ou quando não tinha
lição de uma matéria na semana. Isso foi um pouco da minha vida de vestibulanda, mas a
dica que eu acho mais importante é buscar se conhecer, ver qual método de estudo mais se
encaixa pra vc e, principalmente, respeitar seus limites!! Um exemplo pra mim é a
quantidade de sono: eu precisava dormir muito, então eu preferia não assistir minhas
primeiras aulas e ter mais energia pra estudar no final do dia; mas tem gente que consegue
dormir pouco e render muito, então não adianta se comparar e achar q só pq você dorme
mais vc estuda menos, cada um tem um ritmo diferente! Concluindo, acreditem no seu
potencial sempre!! Não se auto sabotem durante o ano e deixem pra sofrer com o medo da
não aprovação só depois dos vestibulares, ate lá tudo que vcs estão fazendo pra estudar
torna esse sonho mais próximo e possível, não sofram por antecipação!! A fuvest coloca um
medão na gente, mas ela é só mais uma prova, encarem ela assim, não se deixem intimidar
e enfrentem ela com a noção de que vcs se preparam muito e fizeram tudo que podiam!!”

“Pra começar, gostaria de frisar a importância de não se comparar aos outros. Sofri muito
no meu ensino médio, a escola era rigorosa e cobrava dos alunos o estudo constante. Já
ouvi do próprio diretor que eu jamais iria passar em uma boa universidade, já que eu
namorava e costumava praticar bastante exercício físico. Já ouvi diversas repreensões, já
tive crises de ansiedade e já fui menosprezada por muitos colegas, o que é horrível para
alguém tão insegura quanto eu. Ainda assim, depois de tanto ouvir que eu não era capaz,
descobri que eu tinha todo o poder para me superar e extrapolar todas as minhas
expectativas: aos 17 anos, fui aprovada em primeiro lugar na universidade dos meus
sonhos. Enfim, a chave para ter mantido a sanidade e ter conseguido continuar, após tanto
pensar em desistir, foi o equilíbrio. É algo bem clichê, mas é necessário ter isso em mente.
Você, como o ser humano incrível que é, consegue conciliar os estudos e o lazer. A vida não
para (pelo menos, não deveria) por causa do vestibular. Lembre-se sempre de que a vida é
muito ampla para dar ouvidos a conselhos como ‘você TEM que estudar até meia noite,
você NÃO PODE sair com os amigos, você NÃO DEVE ter lazer.’ Estudar muito, dedicar-
se ao seu sonho, não deve ser necessariamente associado ao sofrimento (sim, você fará
alguns sacrifícios, mas deve ter como prioridade sua saúde mental. É absurdo pensar que,
pra ser aprovado, deve-se sofrer). Entenda seus limites e persista dentro deles, tenha
constância nos estudos e busque, com o tempo, ampliar essas limitações. Sobre métodos de
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estudo: você deve procurar o seu. É cansativo, mas um dia você se entende e descobre o
jeito certo de estudar! Espero ter ajudado :)”

“Creio que vá ser um relato um pouco longo, mas espero que ajude pelo menos uma pessoa
na trajetória até a faculdade. Meu nome é Olga, sou do Rio de Janeiro, mais
especificamente Cabo Frio. Cresci numa cidade praiana e matava aula para mergulhar ou
jogar bola. Fiz meu ensino médio no Instituto Federal Fluminense - Campus Cabo Frio
integrado com o técnico em petróleo e gás, ou seja, eu tinha aulas das 7 da manhã até às
18hr. Sou uma baita fã do meu IFF pelas oportunidades que foram proporcionadas, desde
pré-iniciação científica, organizar um grande evento sobre petróleo, teatro, dar aulas de
inglês, artigos até fundar um Clube de Debates (CdD) com colegas do instituto. Durante
meus três anos no ensino médio, eu nunca tive certeza de qual curso eu optaria ao me
formar: direito, engenharia de petróleo, psicologia ou medicina. Quando me formei, no
início de 2017 (calendário atrasado por causa das greves), consegui a aprovação no Sisu
para engenharia de petróleo, mas, ao olhar a grade do curso, percebi que não era o que eu
queria. Decidi que seria medicina. Diante desse fato, me dando conta que teria que
enfrentar os vestibulares e um ano de estudo (sendo otimista) para entrar em medicina,
busquei opções fora do país. Em abril eu estava embarcando para Rússia, depois de
conseguir minha aprovação para medicina na KSMU - Kursk Medical State University. O
contato com a medicina lá me fez ter a certeza absoluta de que era o curso, a profissão que
eu queria exercer. Por infortúnios e ironias do destino, lesionei o joelho jogando bola e
voltei para o Brasil no final de agosto para tratamento. Minha depressão se acentuou nesse
período. Foi muito triste voltar e abrir mão da faculdade. Decidi comigo mesma de que
começaria a estudar somente em 2018, que eu precisava de umas ‘férias mentais’ e
organizar a mente um pouco. Feito isso, em 2018 comecei um cursinho em minha cidade,
presencial e em horário integral. Por não ter estudado o conteúdo do vestibular por 2 anos
(meu último ano no ensino médio foi voltado para o técnico, sem as propedêuticas), com
uma grande defasagem perto dos meus colegas de sala, eu surtei. (risos de desespero). Não
conseguia acompanhar o ritmo somente com as aulas, eu precisava me esforçar além só na
intenção de estar no mesmo nível que eles. No meio do ano foi a minha cirurgia no joelho e
tive que ficar em casa, de cama, por um mês, o que complicou ainda mais meu psicológico
e meu ritmo de estudos. Eu fiz o ENEM, UFPR, UNIOESTE e UEM no final do ano.
Abdiquei da saúde física e mental – 2 meses com sinusite e só procurei tratamento quando
evoluiu para uma pneumonia - e a depressão + ansiedade. Fiquei em 11º na UNILA para 7
vagas e em 14º na UFPR para 9 vagas. A lista de espera foi uma tortura. E, por fim, não
passei. Meu maior aprendizado no final do ano foi: é completamente errado abrir mão da
saúde, fosse física ou psicológica, por uma vaga. No início de 2019 entrei em contato com
cursinhos do Paraná, visto que eu via maior possibilidade de passar num vestibular do Sul
estudando em cursinhos especializados em tais vestibulares. Apresentei meus resultados e
notas e parti para o interior do Paraná com uma bolsa de 100%. Morei sozinha no ano
passado, mudei completamente minha rotina de estudos, no intuito de preservar a mim
mesma. A primeira coisa que decidi foi: dormir é essencial. Enquanto meus colegas de sala
ficavam no cursinho até às 22 estudando, eu ia dormir às 20hrs. Isso me lembra de algo
crucial, que é não ficar se comparando com outros vestibulandos. Quando comecei a cuidar
de mim mesma, mantendo 9, 10hrs de sono diariamente, meu aprendizado começou a
melhorar e meu rendimento aumentou exponencialmente. Parei de me cobrar muito em
relação a assuntos que eu não conseguia aprender. Vários conteúdos eu só falava pra mim
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mesma que, na véspera, eu memorizaria. Passei o ano resolvendo questões, fazendo duas a
três redações semanalmente e sempre prestando atenção nas aulas. No final do ano, meu
primeiro vestibular foi o da UFPR. Tive uma crise de ansiedade no meio da prova. Quando
corrigi a prova no final do dia, sabia que não ia passar para a segunda fase. Faltava
pouquíssimo tempo para o ENEM. Eu simplesmente surtei. Saber que eu havia passado no
ano anterior e não passar depois de estudar o ano inteiro acabou comigo (inclusive, acertei
64 questões e o corte foi 65). Fiquei alguns dias sem estudar, até criar coragem e começar
as revisões para o ENEM. Abri mão da saúde física nessas semanas. Dormi menos de 5
horas por dia, a base de energético, resolvendo questões e memorizando aqueles assuntos
que eu não havia aprendido a tempo. Quando saí do ENEM, após o segundo dia de prova,
minha namorada estava me esperando e ela não sabia como me consolar, porque eu
simplesmente não parava de chorar achando que tinha ido pessimamente na prova. Até sair
o gabarito oficial, eu surtei várias e várias vezes. No final das contas, eu acertei
praticamente 150 questões, além de ter tirado 980 na redação. Aprendi a não surtar por
antecipação. Ainda fiz o vestibular na UNIOESTE (fui muito mal, não cheguei nem perto
de ficar entre os 500 primeiros) e da UFSC (fiquei em 6o de 2 vagas). E então, com o SISU
problemático 2020.1, a tão sonhada e esperada aprovação chegou. Para minha surpresa e
surpresa de todos aqueles que não acreditavam no meu potencial, foi uma aprovação pra
medicina na USP. Um pouco depois veio a aprovação para a UNICAMP pelo ENEM
também. E confesso que, mesmo estando na FMRP há mais de um mês, a ficha não caiu.
Nunca havia sequer sonhado em passar para a USP e às vezes a ansiedade me faz sentir que
eu não merecia estar aqui, mas... Aqui estamos. É incrível como não acreditar no próprio
potencial pode ser uma auto sabotagem tremenda e, também, como não existe nada
impossível de ser feito. Por isso, como maior legado moral que posso deixar diante de tudo
o que vivi nesses últimos 3 anos, é: o que as pessoas acham ou pensam de você, da sua
trajetória, dos seus motivos e aspirações não pode, em hipótese alguma, ser norte para as
suas decisões e dedicação. Se você quer algo, lute por isso e, caso não dê certo na primeira
vez, não surte, só prossiga no seu plano. Mesmo se sentindo incapaz, continue. Mesmo que
pareça que nunca vai dar certo, continue. Mesmo que você veja pessoas ao seu redor e
sinta que elas são muito mais capazes que você, continue. Mesmo que você PARE
TOTALMENTE de acreditar que um dia vai conseguir, apenas CONTINUE. Continue a ir
ao cursinho ou a abrir uma vídeo aula. Continue TENTANDO. Eu perdi as contas quantas
vezes me achei indigna na posição que me encontro hoje antes de chegar aqui. Pensei em
desistir incontáveis vezes. Me comparei a colegas de cursinho MUITAS vezes e TODAS as
vezes eu perdia pros “melhores”, os top ranking. Se eu estou aqui agora é porque eu nunca
desisti. Visualizei a Usp e segui em frente, levando porrada e levantando. Não é fácil
perseguir nossos sonhos. Quanto mais altos mais difícil é caminhar até eles. Desistir é
sempre uma opção que nos rodeia, e é incrivelmente fácil encontrar pessoas que pegaram
atalhos mais fáceis e se acomodaram, esquecendo do que um dia sonharam. Não seja essa
pessoa. Apenas continue.”

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