Sergio Robinson Quintanilha
Sergio Robinson Quintanilha
Sergio Robinson Quintanilha
Sempre que um piloto se destaca na Fórmula 1, surge uma dúvida entre os especialistas
e os fãs: em que posição ele se encaixaria no panteão dos grandes automobilistas da história?
A primeira referência é sempre Juan Manuel Fangio, o argentino que conquistou cinco
campeonatos mundiais nos anos 1950. O assunto voltou à tona com as conquistas dos escoceses
Jim Clark e Jackie Stewart, com o francês Alain Prost, com o brasileiro Ayrton Senna, com os
alemães Michael Schumacher e Sebastian Vettel e agora com o inglês Lewis Hamilton. Mas é
possível indicar com algum critério técnico o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos?
Para tentar oferecer pistas a quem busca essa resposta, o presente artigo faz uma visita
ao passado e, por meio de uma pesquisa empírica, divide a história da Fórmula 1 em sete curtos
períodos e quatro grandes fases. Tal estudo é necessário porque, ao longo do tempo, a Fórmula
1 teve vários regulamentos diferentes – de forma que é impossível simplesmente contabilizar
as conquistas de cada piloto. Uma das razões é que a F1 começou sob o reflexo do fim da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e tinha poucas corridas no calendário, mas na atual
modernidade do excesso (Augé, 2010) o calendário normal tem mais de 20 corridas.
A divisão por períodos sugerida neste artigo baseia-se em fatos que influenciaram a
divisão de forças dentro da categoria. Vale lembrar que, embora a questão seja a busca do
melhor piloto de cada fase, a corrida é de carros e não de homens. No automobilismo, o atleta
é totalmente refém das condições de seu equipamento. Partindo desse princípio, a divisão dos
períodos é a seguinte (o sinal # corresponde ao número de cada GP na história da F1).
1º período: 1950 a 1957. Paradigma: disputa entre pilotos experientes, oriundos da
extinta categoria Grand Prix, dirigindo carros que haviam sido projetados antes da Segunda
Guerra Mundial por grandes marcas, como Alfa Romeo, Maserati, Ferrari e Mercedes. Total
de corridas: 64. Início: GP da Europa 1950 (#1). Final: GP da Itália 1957 (#64).
2º período: 1958 a 1968. Paradigma: início do campeonato de construtores, atraindo
inúmeros garagistas do automobilismo inglês e suas equipes, como Lotus, BRM e Cooper, além
de iniciativas de pilotos, como Brabham e McLaren. Total de corridas: 98. Início: GP da
Argentina 1958 (#65). Final: GP da África do Sul 1968 (#162).
1
Jornalista especializado em automobilismo. Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero.
Doutorando na ECA-USP.
3º período: 1968 a 1980. Paradigma: presença dos grandes patrocinadores,
notadamente as empresas de tabaco e suas marcas, como Gold Leaf, John Player Special,
Marlboro, Camel, Gitanes, Rothmans e Mild Seven. Total de corridas: 180. Início: GP da
Espanha 1968 (#163). Final: GP dos EUA 1980 (#342).
4º período: 1981 a 1988. Paradigma: domínio dos motores turbo e impacto do primeiro
Pacto da Concórdia, que deu poder de decisão às equipes, tirando a categoria do domínio da
FIA (Federação Internacional de Automobilismo), cuja sede fica na Place de la Concorde, em
Paris. Total de corridas: 126. Início: GP dos EUA-Oeste 1981 (#343). Final: GP da Austrália
1988 (#468).
5º período: 1989 a 1996. Paradigma: banimento dos motores turbo, mas dependência
de um grande fornecedor de motor (como Honda, Renault e Ferrari), como consequência do
segundo e terceiro Pacto da Concórdia, que concentrou o poder nas grandes equipes (como
Ferrari, Williams e McLaren), em detrimento das equipes dos garagistas (como Tyrrell, Lotus
e Minardi). Total de corridas: 129. Início: GP do Brasil 1989 (#469). Final: GP do Japão 1996
(#597).
6º período: 1997 a 2013. Paradigma: poder concentrado nas equipes das montadoras
de automóveis (Mercedes, Renault, Ferrari), em detrimento de equipes tradicionais
independentes (como McLaren e Williams), em consequência do quarto, quinto e sexto Pacto
da Concórdia. Total de corridas: 300. Início: GP da Austrália 1997 (#598). Final: GP do Brasil
2013 (#897).
7º período: 2014 a 2020. Paradigma: propulsão híbrida nos carros, combinando um
motor a combustão interna com um motor elétrico alimentado por baterias. Total de corridas:
121. Início: GP da Austrália 2014 (#898). Final: em vigor. Último GP disputado até a conclusão
deste artigo: GP de Abu Dhabi 2019 (#1.018)
Acreditamos que a divisão da história da Fórmula 1 nesses sete períodos é mais eficiente
do que a divisão da história por décadas, pois muitas mudanças de paradigma ocorreram no
transcorrer das décadas. Entretanto, para efeito de comparação de resultados, não há
necessidade de tantas divisões. Por isso, a partir desse ponto, a pesquisa se divide em quatro
grandes fases com os seguintes paradigmas dominantes:
▪ Fase 1: 1950 a 1957 (campeonato de pilotos)
▪ Fase 2: 1958 a 1968 (domínio dos garagistas)
▪ Fase 3: 1968 a 1996 (grandes patrocínios)
▪ Fase 4: 1997 a 2020 (poder das montadoras)
Fase 1: Fangio vence em todos os critérios
Nos 64 grandes prêmios disputados na Fase 1 (1950 a 1957) não havia uma disputa
entre as equipes. As corridas tinham como foco o piloto. Por isso, era permitido a um piloto
trocar de carro durante a corrida, caso o seu apresentasse defeito. Os campeonatos de 1952 e
1953, por exemplo, foram disputados com carros de Fórmula 2 (Cimarosti, 1990, p. 136-139).
Juan Manuel Fangio foi o grande vitorioso dessa fase e teve o mérito de ganhar corridas e ser
campeão por todas as equipes que defendeu. Suas maiores conquistas foram pela Mercedes.
Fator Fator
PILOTO País GPs TIT VIT APR POL
carro motor
J.M. FANGIO ARG 51 5 24 47% 29 82% 83%
O quadro acima mostra que Fangio teve o fator carro (82%) e o fator motor (83%) em
seu benefício acima da média (58% e 59%, respectivamente). O quadro abaixo, por outro lado,
mostra que Fangio foi responsável por oito das nove vitórias da Mercedes. Outra característica
dessa primeira fase é que os carros usavam seus próprios motores, por isso as estatísticas abaixo
se repetem, mas isso será diferente nas demais fases da Fórmula 1.
CARRO VIT FAN ASC FAR MOTOR VIT FAN ASC FAR
FERRARI 25 3 13 1 FERRARI 25 3 13 1
MERCEDES 9 8 - - MERCEDES 9 8 - -
MASERATI 9 7 - - MASERATI 9 7 - -
Total 43 24 13 5 Total 43 24 13 5
Fonte: F1 Stats. Tabela criada pelo autor.
Fator Fator
PILOTO País GPs TIT VIT APR POL
carro motor
J. BRABHAM AUS 85 3 13 15% 12 27% 49%
2
A Mercedes abandonou as competições após um acidente que matou um piloto e mais de 80 pessoas nas 24
Horas de Le Mans de 1955, retornando à F1 como equipe somente em 2010.
3
A Alfa Romeo disputou apenas as temporadas de 1950 e 1951, depois retornou para outro curto período, entre
1979 e 1985. Seu terceiro retorno aconteceu em 2019.
3, permitindo também os títulos mundiais do neo-zelandês Dennis Hulme (1967) e do brasileiro
Nelson Piquet (1981 e 1983)
Porém, a quantidade de vitórias de Clark, que teve um incrível aproveitamento de 35%
de bandeiradas em primeiro lugar, num total de 72 GPs disputados, pesa a seu favor. Da mesma,
o número de pole positions de Clark (33) também mostra como ele era um piloto difícil de ser
batido. Clark superou Fangio tanto em número de vitórias quanto em número de pole positions.
Seu fator carro (31%) nem era tão alto, mas o fator motor (60%) foi o maior de todos.
CARRO VIT BRA CLA GHI HAW SUR HUL PHI STE
LOTUS 30 - 25 - - - - - 0
FERRARI 17 - - - 1 4 - 3 -
COOPER 16 7 - - - 1 - - -
BRM 13 - - 10 - - - - 2
BRABHAM 10 6 - - - - 2 - -
HONDA 2 - - - - 1 - - -
Total 88 13 25 10 1 6 2 3 2
Fonte: F1 Stats. Tabela criada pelo autor.
A tabela acima mostra que Clark obteve 25 das 30 vitórias da Lotus, a grande equipe
da Fase 2 da Fórmula 1, por conta da ousadia e genialidade de seu proprietário, Colin Chapman,
que apresentou carros revolucionários. Chapman foi a grande estrela entre os garagistas
ingleses. Porém, é precipitado dizer que Clark foi apenas beneficiado pelos carros da Lotus.
Sua competência ao volante também era um fator importante para as vitórias. Quando Chapman
teve a ideia de criar o Lotus 25, que exigia uma posição de dirigir praticamente deitada para
melhor aproveitamento aerodinâmico, coube a Clark readaptar sua pilotagem para tirar o
máximo do carro. Com o Lotus 25, Clark obteve 13 vitórias na Fórmula 1, entre 1962 e 1964.
Quanto aos motores, o domínio foi da Climax, que venceu 41% das corridas disputadas
na Fase 2. A maioria dos triunfos do motor Climax foi com os carros Lotus (24 vitórias) e
Cooper (14), além de duas vitórias com a equipe Brabham – mas não com o piloto Jack
Brabham e sim com Dan Gurney. O domínio dos motores Climax terminou quando surgiu o
Ford Cosworth, em 1967. O motor Ford Cosworth venceu já em sua segunda corrida, ao estrear
na Lotus, no Grande Prêmio da Holanda de 1967. Clark obteve cinco vitórias com ele, como
mostra o quadro a seguir. Já os campeões pela Ferrari (John Surtees e Phil Hill), obtiveram
apenas sete das 16 vitórias do motor italiano nessa fase.
A Fase 2 da Fórmula 1 foi uma das mais competitivas na questão dos motores, pois
também são dignos de nota o BRM e o Repco, ambos campeões. O motor BRM foi responsável
por 10 vitórias de Graham Hill (inclusive no título mundial de 1962) e pelas primeiras vitórias
dos dois maiores pilotos escoceses: Jim Clark e Jackie Stewart. BRM é a sigla de British Racing
Motors, o que explica a preferência dos três pilotos britânicos. Já o motor Repco, de origem
australiana, obteve todas as suas oito vitórias e dois títulos mundiais também com pilotos de
sua região, o australiano Jack Brabham e o neo-zelandês Dennis Hulme.
MOTOR VIT BRA CLA GHI HAW SUR HUL PHI STE
CLIMAX 40 7 19 - - - - - -
FERRARI 16 - - - - 4 - 3 -
BRM 14 - 1 10 - - - - 2
REPCO 8 6 - - - - 2 - -
FORD COSWORTH 5 - 5 - - - - - -
HONDA 2 - - - - 1 - - -
MASERATI 2 - - - - 1 - - -
Total 87 13 25 10 0 6 2 3 2
Fonte: F1 Stats. Tabela criada pelo autor.
Fator Fator
PILOTO País GPs TIT VIT APR POL
carro motor
A. PROST FRA 199 4 51 26% 33 61% 57%
Essa terceira fase da Fórmula 1, baseada em grandes patrocínios, permitiu não apenas
a ascensão inicial da Lotus (cigarros Gold Leaf e John Player Special) e da Tyrrell (petroleira
francesa Elf), mas a transformação da Williams e da McLaren em duas gigantes. A Williams
se tornou vencedora com gigantescos aportes financeiros da Saudia (companhia aérea árabe),
Cannon (câmeras fotográficas) e mais tarde com o cigarro Rothmans. A McLaren também
cresceu a partir de sua parceria com marcas de tabaco, inicialmente o cigarro Marlboro e já na
parte final desta fase o West. Até a Ferrari, embora fosse mais discreta na exposição do
patrocinador, cresceu com o dinheiro dessa fonte, criando duas longas parcerias, com Marlboro
e Shell (lubrificantes).
CARRO VIT PRO STE SEN LAU PIQ SCH FIT MAN
WILLIAMS 84 7 - - - 7 - - 27
McLAREN 80 30 - 35 6 - - 4 -
FERRARI 66 5 - - 15 - 3 0 3
LOTUS 50 - - 6 - - - 9 -
BENETTON 26 - - - - 3 19 - -
BRABHAM 25 - - - 2 13 - - -
TYRRELL 23 - 15 - - - - - -
RENAULT 15 9 - - - - - - -
MATRA 9 - 9 - - - - - -
MARCH 3 - 1 - - - - - -
Total 381 51 25 41 23 23 22 13 30
Fonte: F1 Stats. Tabela criada pelo autor.
MOTOR VIT PRO STE SEN LAU PIQ SCH FIT MAN
RENAULT 86 16 - 1 - - 9 - 15
FERRARI 66 5 - - 15 - 3 - 3
HONDA 69 11 - 32 - 7 - - 13
TAG PORSCHE 25 19 - - 6 - - - -
BMW 9 - - - - 7 - - -
ALFA ROMEO 2 - - - 2 - - - -
Total 426 51 25 38 25 23 22 14 31
Fonte: F1 Stats. Tabela criada pelo autor.
Finalmente, vale destacar que o fator motor foi preponderante para proporcionar a
Mansell 31 vitórias, o maior número entre todos os pilotos que possuem apenas um título
mundial. Renault (15 vitórias) e Honda (13) foram responsáveis por 28 dos 31 triunfos do piloto
inglês. Somados, os motores Renault e Honda obtiveram 155 vitórias nessa fase, número
próximo do conquistado pelo Ford Cosworth, que durante vários anos equipou quase a
totalidade dos carros que participaram dos grandes prêmios.
Fator Fator
PILOTO País GPs TIT VIT APR POL
carro motor
L. HAMILTON ING 250 6 84 34% 88 41% 44%
Para obter 27 vitórias em sua carreira, Jackie Stewart precisou disputar 99 corridas
durante nove anos. Na Fase 4, o espanhol Fernando Alonso chegou a 32 vitórias, mas com 312
GPs disputados em 17 anos. Ao igualar o tempo de carreira de Stewart, em 2010, Alonso já
contava 158 corridas em seu currículo. Além disso, Alonso teve 93% de benefício do fator
motor em suas conquistas, como mostra a tabela acima. O excesso em todos os sentidos fez
com que Schumacher não apenas quebrasse o recorde de cinco títulos de Fangio, mas que fosse
além e conquistasse mais dois, além de estabelecer o “inalcançável” recorde de 91 vitórias.
Sebastian Vettel deu sequência à saga alemã e também conquistou quatro campeonatos
seguidos, de 2010 a 2013. Depois dele, Lewis Hamilton obteve um retrospecto ainda mais
surpreendente, chegando a seis títulos mundiais, pulverizando o recorde de poles que era de
Senna e se aproximando do recorde de vitórias de Schumacher. Antes do início da temporada
de 2020, Hamilton já tinha em seu currículo 88 poles e 84 vitórias (contra 65 poles de Senna e
91 vitórias de Schumacher).
Quanto aos carros, devido às consequências do quinto e sexto Pacto da Concórdia, a
equipe Williams desapareceu do mapa das vitórias. A McLaren resistiu por algum tempo,
devido a um acordo de fornecimento de motor com a Mercedes, da mesma forma que a Red
Bull se valeu de acordo semelhante com a Renault, para dar a Vettel seus quatro títulos
mundiais.
CARRO VIT HAM SCH VET HAK ALO MOTOR VIT HAM SCH VET HAK ALO
McLAREN 78 - - - 20 4 RENAULT 73 - - 38 - 17
TORO ROSSO 1 - - 1 - -
Total 384 63 69 53 20 15
No caso dos motores, a concentração de vitórias foi ainda maior do que a verificada
com os pilotos. Somente três motores conquistaram 384 das 421 corridas disputadas na Fase 4.
Isso significa um índice inédito de 91,2% das vitórias para apenas três fabricantes. No último
período, a era híbrida (a partir de 2014), os carros Mercedes e os motores Mercedes ganharam
todos os títulos mundiais de pilotos e construtores. Cinco dos seis títulos de Lewis Hamilton
foram conquistados nesse último período. Sua pior colocação foi o vice-campeonato de 2016,
quando somou 380 pontos contra 385 do alemão Nico Rosberg, campeão da temporada com o
mesmo equipamento (Mercedes). Mesmo assim, Hamilton ganhou 10 corridas naquele ano,
contra nove de Rosberg. Nas cinco temporadas anteriores à era híbrida, a melhor colocação de
Hamilton foi o quarto lugar em 2010, 2012 e 2013 (anos dominados pelos carros Red Bull e
pelo motor Renault).
Conclusão
Não pretendemos neste artigo responder à questão: quem foi o maior campeão de todos
os tempos. A pesquisa mostra claramente que, embora o talento humano seja fundamental, ter
o melhor carro e o melhor motor é receita quase certa de sucesso. É possível perder um
campeonato tendo o melhor carro e o melhor motor, até porque existe pelo menos mais um
piloto com o mesmo equipamento. Porém, é quase impossível vencer várias corridas e ser o
campeão da temporada sem o melhor equipamento. É mais “fácil” ser campeão sem o melhor
conjunto carro-motor do que vencer várias corridas. Afinal, uma campanha regular pode levar
ao título mesmo sem o maior número de vitórias.
Para determinar quem é o maior piloto de todos os tempos, é preciso uma combinação
de títulos, vitórias e pole positions. Os títulos representam a sabedoria e a maturidade do piloto,
sua capacidade de resistir à pressão, sua inteligência para correr com o regulamento. As vitórias
representam a consistência do piloto, sua capacidade de repetir várias vezes a receita que o leva
ao topo de pódio. As poles representam a velocidade do piloto, seu talento puro ao extrair o
máximo de velocidade do carro em apenas uma ou duas voltas. Para encontrar o maior piloto
de todos os tempos, é preciso criar um modelo matemático que crie pesos específicos para cada
uma dessas conquistas, mas de forma a considerar também a fase em que ela aconteceu para
que não se cometam injustiças.
Também devemos observar que, dos pilotos citados nos quadros deste artigo, dois
ganharam corridas também na fase em que não foram campeões e dois foram campeões em
duas diferentes fases. Jack Brabham foi três vezes campeão na Fase 2 (1958 a 1968), mas
ganhou uma corrida na Fase 3 (1968 a 1997). Jack Stewart ganhou duas corridas na Fase 2,
mas foi três vezes campeão na Fase 3. Graham Hill faturou um título mundial na Fase 2 e outro
na primeira temporada da Fase 3. Michael Schumacher ganhou dois títulos na Fase 3 (até 1997)
e mais cinco títulos na Fase 4 (a partir de 1998). Portanto, no caso específico desses pilotos,
uma análise deveria considerar uma média das fases. Há outros casos, inclusive de campeões,
mas como não se destacaram em alguma fase, deixaram de ser citados nos quadros.
A pesquisa empírica revela que um piloto que reúna o talento e a sorte de estar numa
das três equipes vencedoras da atualidade terá mais chances de conquistar corridas do que um
piloto nas mesmas condições das fases 2 e 3, muito mais competitivas. Por isso, deixamos essa
questão em aberto para que surja um modelo matemático atualizável à medida em que a história
vai acontecendo. Deve-se levar em conta que simplesmente atribuir valores aleatórios para cada
título, vitória ou pole position não resolve o problema, pois é preciso ter valores que sejam
“neutros” quando confrontados com o número de grandes prêmios disputados (se é que isso é
possível).
Finalmente, cabe observar que a Fórmula 1, ao se transformar em espetáculo midiático,
com mais atenção ao público da televisão e das mídias digitais do que ao público que
comparece aos autódromos, mudou totalmente os parâmetros de comparação que havia nas
fases 2 e 3, de 1958 a 1996. A Fórmula 1 se transformou na categoria do excesso, com muitas
corridas no calendário (mais de 20, contra sete ou oito na primeira década), portanto com
muitas vitórias acumuladas para os pilotos vencedores. Ao fazer uma “introdução a uma
antropologia da supermodernidade”, Marc Augé (2010, p. 41) afirma que este fenômeno é
caracterizado por três figuras do excesso: “A superabundância factual, a superabundância
espacial e a individualização das referências”.
Essa necessidade de dar um sentido ao presente, senão ao passado, é o resgate da
superabundância factual que corresponde a uma situação que poderíamos dizer de
“supermodernidade” para dar conta de sua modalidade essencial: o excesso. (Augé,
2010, p. 32)
Referências
AUGÉ, M. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. 8ª ed.
Campinas: Papirus, 2010.
CIMAROSTI, A. Grand Prix Story. Milano: Giorgio Nada Editore, 1990.
CONTESINI, L. United colors of racing: a história das cores e pinturas de corrida.
FlatOut, 2014. Disponível em: <https://flatout.com.br/united-colors-racing-historia-das-cores-
e-pinturas-de-corrida/>. Acesso em: 27 jun. 2020.
ESTATÍSTICAS. Stats F1, 1950-2020. Disponível em: <https://www.statsf1.com/pt/
statistiques/pilote.aspx>. Acesso: 28 jun. 2020.
FANGIO – o rei das pistas. Direção: Francisco Macri. Produção: Cinema 7 Films, Fox
Sports, Netflix. Buenos Aires: Netflix, 2020. Netflix.
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Observação: artigo publicado no livro “Jornalismo Esportivo no Brasil, Livro 2, 2020,
páginas 209 a 233.
Como citar:
QUINTANILHA, Sergio. História da Fórmula 1 deve ser dividida em sete períodos e
quatro grandes fases. In: Jornalismo Esportivo no Brasil. Livro 2. São Paulo: Amazon,
2020. MALULY, L.V.B.; LONGO. G. A.; VENANCIO, R. D. O. (Orgs.)