Aula 3 - Microbiota Normal e Microbioma

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Microbiota normal e microbioma

APRESENTAÇÃO

A microbiota normal (ou flora normal) refere-se à população de microrganismos comensais que
habitam o corpo humano. Normalmente a microbiota normal não causa prejuízos nos indivíduos
saudáveis e ainda pode ser benéfica na manutenção da nossa saúde. Entretanto, alterações da
microbiota normal podem trazer sérios problemas de saúde. Por exemplo, o intestino grosso é
colonizado por inúmeros microrganismos das mais variadas espécies, que normalmente não
causam problemas nesse local em indivíduos saudáveis; porém, se uma bactéria do intestino
grosso migrar para o trato urogenital, lá pode causar uma infecção urinária, sendo, nesse caso,
considerado um patógeno oportunista. O estudo dos microrganismos que compõem a microbiota
normal é de extrema relevância para se compreender o comportamento deles nos processos de
saúde e doença.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre as bactérias que compõem a
microbiota normal e sua localização, aprenderá a avaliar as propriedades que indicam a
patogenicidade de um microrganismo e identificará a importância do microbioma na saúde
humana.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Listar bactérias da microbiota normal e sua localização.


• Avaliar propriedades que indicam a patogenicidade de um microrganismo.
• Identificar a importância do microbioma na saúde humana.

DESAFIO

A Staphylococcus aureus é uma bactéria gram-positiva em forma esférica agrupada em cachos


(é um estafilococo). Essa bactéria pode ser encontrada na microbiota normal de alguns sítios do
corpo humano, normalmente não causando doenças. Dependendo do sítio do corpo e do estado
de saúde do hospedeiro, o achado desse microrganismo pode ser irrelevante
clinicamente. Entretanto, em algumas situações, essa bactéria se comporta como um patógeno
oportunista, causando uma grande variedade de infecções, desde localizadas até sistêmicas,
podendo, inclusive, levar à morte. Assim, é importante que o microbiologista saiba reconhecer
tanto os sítios corporais em que normalmente a S. aureus está presente, como os sítios em que
ela não deveria estar alterando a microbiota normal. Uma vez infeccionados, é preciso
identificar o tipo de infecção oportunista para que o tratamento seja eficaz.

Observe a seguinte situação:

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Com base nos tipos de amostras recebidas, diga em que casos a bactéria S. aureus está agindo
como microbiota normal e em que casos está agindo como um patógeno oportunista. Justifique a
sua resposta.

INFOGRÁFICO

O homem convive com uma grande variedade de microrganismos em seu corpo, normalmente
inócuos ou até mesmo benéficos à saúde. São chamados de microbiota normal. Algumas vezes,
porém, podem causar infecções oportunistas, como, por exemplo, se introduzidos em sítios
diferentes do seu habitat normal. Portanto, saber quais são as principais bactérias da microbiota
normal e sua localização usual no corpo humano é fundamental para se entender as infecções
oportunistas.

No Infográfico a seguir, você verá alguns sítios não estéreis do corpo humano e quais são os
principais exemplos de bactérias da microbiota normal, além de saber quais são os sítios
estéreis, ou seja, aqueles tecidos que normalmente não apresentam microbiota permanente.
CONTEÚDO DO LIVRO

Há quem diga que o ser humano é mais bacteriológico do que humano, já que o corpo abriga
dez vezes mais bactérias do que células humanas. Essa afirmação pode ser extremista e mesmo
sensacionalista, mas tem algum embasamento, pois o organismo humano abriga trilhões de
microrganismos, incluindo milhares de espécies de bactérias, arqueas, fungos, vírus e
protozoários. Esses microrganismos fazem parte da microbiota normal e habitam, de forma
permanente, diferentes partes do corpo. Quando existe um equilíbrio nesse ecossistema, esses
microrganismos podem ajudar na prevenção de infecções por patógenos virulentos e na
manutenção da saúde. Por outro lado, caso ocorra um desequilíbrio, esses microrganismos
podem causar infecções oportunistas e outros tipos de doença. Existe um esforço da comunidade
científica para identificar os microrganismos que habitam o corpo e entender como eles podem
causar doenças. Mais do que isso, os cientistas buscam como objetivo final aplicar esse
conhecimento para melhorar a saúde humana.

No capítulo Microbiota normal e microbioma, da obra Bacteriologia Clínica, você conhecerá as


bactérias que fazem parte da microbiota normal e a sua localização, aprenderá a avaliar as
propriedades que indicam a patogenicidade de um microrganismo, além de identificar qual é a
importância do microbioma na saúde humana.

Boa leitura.
BACTERIOLOGIA
CLÍNICA

Margarida Neves Souza


Microbiota normal
e microbioma
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Listar as bactérias da microbiota normal e a sua localização.


„„ Avaliar propriedades que indicam a patogenicidade de um
microrganismo.
„„ Identificar a importância do microbioma na saúde humana.

Introdução
O homem abriga em seu corpo uma variedade imensa e complexa de
microrganismos, os quais buscam benefícios, como alimentos e ambiente
ideal para o seu crescimento. Na maioria das vezes, esses microrganis-
mos não trazem qualquer prejuízo à saúde humana, podendo, inclusive,
beneficiá-la, como o fato de ajudar na proteção contra microrganismos
patogênicos e na estimulação do sistema imune. Entretanto, sabe-se que,
em algumas situações, esses microrganismos podem causar infecções
oportunistas, ou até mesmo outros tipos de doença, o que demonstra
a importância de se estudar esse ecossistema.
Neste capítulo, você vai entender o conceito de microbiota normal
e saber em quais partes do corpo humano esses microrganismos estão
localizados. Além disso, você também irá aprender as propriedades que
indicam a patogenicidade dos microrganismos e como a população da
microbiota normal pode causar infecções oportunistas. Por fim, você
entenderá o conceito de microbioma humano e o seu papel na saúde
e no desenvolvimento de doenças.
2 Microbiota normal e microbioma

Microbiota normal
O ser humano convive com muitos microrganismos permanentemente em
seu corpo, desde o nascimento até a morte, sem que necessariamente cau-
sem doenças. Eles estão presentes na pele, nas mucosas e em outros locais
do corpo humano, usufruindo dos nutrientes, da temperatura, da umidade,
da pressão osmótica e do pH do hospedeiro para utilizarem como fonte de
energia e se multiplicarem. Essa população de microrganismos são comensais
(relação simbiótica), pois colonizam o ser humano sadio de forma harmônica
em busca de benefícios, normalmente não trazendo problemas. Além disso,
são denominados como microbiota normal ou flora normal, fazendo parte
milhares de espécies de bactérias, arqueas, fungos, vírus e protozoários. Mui-
tos deles podem, inclusive, trazer benefícios ao ser humano, como proteção
contra infecções causadas por organismos patogênicos, digestão de alimentos,
produção de vitaminas e estimulação da imunidade. Em termos evolutivos,
os microrganismos que compõem a microbiota normal são mais adaptados ao
homem do que aqueles microrganismos extremamente patogênicos, pois estes
podem levar a óbito, o que não é vantajoso para o microrganismo (MURRAY
et al., 2004; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Além dos microrganismos que formam a microbiota normal (de forma
permanente), existem alguns que colonizam o homem de forma transitória
(permanecem por horas, dias ou semanas) e normalmente não são patogênicos,
os quais são chamados de microbiota transitória (BROOKS et al., 2014).

Sítios de colonização da microbiota normal


Durante a vida uterina, o feto humano vive em um ambiente estéril, ou seja,
não é exposto nem é colonizado por microrganismos. Quando nasce, o recém-
-nascido fica exposto a diversas populações de microrganismos provenientes
da mãe e do ambiente, sendo então colonizado gradativamente. Caso o parto
seja normal, a pele do recém-nascido é colonizada pela microbiota fecal da
mãe, que contamina o canal do parto, porém, se o parto for por cesariana,
não há contato com a microbiota fecal, o que torna a colonização da pele
mais tardia. Uma questão importante do parto normal é o risco de infecção
por Streptococcus agalactiae, que pode causar meningite bacteriana e sepse
neonatal. Os recém-nascidos nascidos por parto normal podem adquirir essa
infecção um pouco antes ou durante o parto, caso as mães sejam portadoras
Microbiota normal e microbioma 3

dessa bactéria em seu trato genital, ou posteriormente, devido ao contato com


a mãe colonizada e com a equipe de profissionais da saúde da maternidade ou
por outras fontes. Essa infecção pode ser prevenida. Se a mãe for portadora,
realiza-se uma profilaxia com os antibióticos ampicilina ou penicilina du-
rante o parto (KASPER; FAUCI, 2015; MADIGAN et al., 2016; TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008).
Após a colonização da pele do recém-nascido pela microbiota normal, há a
colonização da cavidade oral e dos tratos respiratório superior e gastrintestinal
por meio do aleitamento. A microbiota intestinal dos bebês que se alimentam
pelo leite materno é diferente das que se alimentam por mamadeira, sendo que
os primeiros têm maior número de estafilococos e bifidobactérias e menor
quantidade de clostrídeos, enterococos, Klebsiella e Enterobacter, além de
menor frequência de E. coli portadoras de antígeno K1, que pode causar bac-
teremias e meningite no recém-nascido. Ainda sobre o aleitamento, a prática
do aleitamento cruzado (quando uma mulher amamenta o filho de outra)
representa sérios riscos ao bebê, pois pode transmitir doenças infectoconta-
giosas (como HIV — vírus da imunodeficiência humana — e Hepatite B),
sendo contraindicado pela OMS (Organização Mundial de Saúde). É importante
ressaltar que o Banco de Leite Humano (BLH) não traz riscos ao bebê, pois
o leite materno da doadora é pasteurizado (BOECHAT, 2019; TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008).
Ao longo da vida, as populações da microbiota normal vão se alterando,
podendo ser influenciados por fatores como estado de saúde, idade, hormônios,
dieta, higiene pessoal, estresse, clima, estilo de vida, uso de antibióticos, entre
outros. A diversidade da microbiota é muito grande, inclusive varia entre os
sítios (locais) de colonização no corpo humano e mesmo entre diferentes
indivíduos (MADIGAN et al., 2016).
Alguns tecidos humanos são naturalmente estéreis, exceto pela passagem
de microrganismos transitórios ou nas situações em que há uma doença infec-
ciosa. Os sítios estéreis são: trato respiratório inferior (traqueia, brônquios e
pulmões), Sistema Nervoso Central (SNC), sangue, baço, fígado, rins e bexiga
(LEVINSON, 2016). Por outro lado, existem sítios não estéreis que são co-
lonizados pela microbiota normal. O Quadro 1 traz as principais bactérias da
microbiota normal e suas localizações (sítios não estéreis), mas você deve levar
em consideração que podem existir outras espécies bacterianas nesses sítios
(além de algumas espécies de fungos e protozoários), os quais nem sempre
estão presentes em todos os indivíduos (MURRAY et al., 2004).
4 Microbiota normal e microbioma

Quadro 1. Bactérias da microbiota normal e sua localização

Localização Bactérias comensais mais comuns

Pele Acinetobacter, Brevibacterium, Clostridium perfringens,


Corynebacterium, Enterobacter, Klebsiella, Micrococcus,
Propionibacterium, Proteus, Pseudomonas, Streptococcus,
Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis
e outros estafilococos coagulase negativos

Cavidade oral Actinomyces, Bacteroides, Corynebacterium,


Capnocytophaga, Eikenella, Fusobacterium,
Haemophilus, Lactobacillus, Neisseria, Prevotella,
Staphylococcus, Streptococcus, Treponema, Veillonella

Trato respiratório Corynebacterium, Haemophilus, Neisseria,


superior Staphylococcus, Streptococcus, Veillonella

Ouvidos externos Staphylococcus coagulase negativo

Olhos Corynebacterium, Haemophilus, Micrococcus, Neisseria,


Propionibacterium, Staphylococcus coagulase negativo,
Staphylococcus aureus e Streptococcus viridans

Estômago Lactobacillus, Streptococcus

Intestino delgado Peptostreptococcus, Porphyromonas, Prevotella

Intestino grosso Bacteroides, Bifidobacterium, Citrobacter, Enterococcus,


Enterobacter, Escherichia coli, Eubacterium,
Fusobacterium, Klebsiella, Lactobacillus, Proteus

Uretra anterior Lactobacillus, Staphylococcus coagulase


negativo e Streptococcus

Vagina Gardnerella, Lactobacillus, Staphylococcus, Streptococcus

Fonte: Adaptado de Murray et al. (2004).

A microbiota normal da pele é bem diversificada e a sua composição


depende da área anatômica. A bactéria Staphylococcus epidermidis é a bac-
téria predominante da pele, mas outras também importantes, como outros
estafilococos coagulase negativos, Staphylococcus aureus, os difteroides
(p. ex., Corynebacterium e Propionibacterium), Acinetobacter, entre outros.
Além disso, a pele facilmente abriga uma microbiota transitória, já que cons-
tantemente está em contato com o ambiente externo (BROOKS et al., 2014).
Microbiota normal e microbioma 5

A microbiota da cavidade oral tem uma diversidade complexa, já que


contém um ambiente propício para o crescimento de microrganismos (é úmida,
quente e constantemente tem a presença de alimentos). As bactérias podem
estar presentes na língua, nos dentes, na bochecha e na gengiva, como, por
exemplo, várias espécies de Streptococcus, Actinomyces, Lactobacillus e
Corynebacterium. Apesar de a saliva conter nutrientes microbianos, ela é
composta por algumas substâncias que funcionam como antimicrobianos
(p. ex., a enzima lisozima), o que a torna não muito ideal para o crescimento
bacteriano (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Ao contrário do trato respiratório inferior de pessoas sadias, que é ge-
ralmente estéril, o trato respiratório superior (nasofaringe, cavidade oral,
laringe e faringe) não é estéril, tendo uma microbiota normal diversificada.
O nariz produz secreções nasais que podem matar ou inibir o crescimento
de alguns microrganismos e ainda podem removê-los pela ação mecânica de
expectoração do muco e do movimento ciliar, entretanto, alguns microrganis-
mos sobrevivem. A microbiota normal do nariz é composta, principalmente,
por Streptococcus e Staphylococcus, sendo de grande importância as espé-
cies Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis. Já as bactérias
mais encontradas na microbiota normal da garganta são: Streptococcus viri-
dans, Streptococcus mutans, S. epidermidis e algumas espécies de Neisseria
(LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
As microbiotas dos ouvidos externos são compostas, principalmente, pelo
Staphylococcus coagulase negativo. Eles também podem ser colonizados por
microrganismos encontrados normalmente na pele e outros potencialmente
patogênicos, como Pseudomonas aeruginosa e Streptococcus pneumoniae
(MURRAY et al., 2004).
As conjuntivas dos olhos têm uma microbiota semelhante à da pele, sendo
alguns exemplos as bactérias Staphylococcus epidermidis, Corynebacterium
e Micrococcus. As lágrimas e o ato de piscar ajudam na eliminação ou na
inibição do crescimento de alguns microrganismos (TORTORA; FUNKE;
CASE, 2017).
O estômago produz o ácido clorídrico, que é muito ácido (pH 2), o que
dificulta o crescimento de muitos microrganismos, entretanto, algumas bac-
térias sobrevivem a esse ambiente ácido, como Proteobacteria, Bacteroidetes,
Actinobacteria e Fusobacteria (MADIGAN et al., 2016).
6 Microbiota normal e microbioma

A porção do duodeno do intestino delgado contém uma microbiota normal,


semelhante à do estômago, já que também é muito ácida. Já a porção do íleo
(pH se torna menos ácido) tem uma maior variedade e mais bactérias, sendo
principalmente colonizada pelas bactérias Peptostreptococcus, Porphyromonas
e Prevotella (MADIGAN et al., 2016).
O colo do intestino grosso é um ambiente extremamente rico para muitas
bactérias, já que elas utilizam os nutrientes provenientes da digestão alimentar.
Assim, é o sítio do corpo com o maior número de microrganismos, sendo a
maioria composta por bactérias anaeróbias (96 a 99%). Como exemplos de
microbiota normal do intestino grosso, é possível citar as bactérias Bacteroides
fragilis e Bifidobacterium e a família Enterobacteriaceae (p. ex., Escherichia
coli, Klebsiella e Proteus) (BROOKS et al., 2014).
Em relação às microbiotas do trato urogenital, ao contrário dos rins e da
bexiga, que são sítios normalmente estéreis em pessoas saudáveis, a parte
proximal da uretra e a vagina têm microbiota normal. A urina ajuda na eli-
minação mecânica de diversos microrganismos, além desta e da ureia serem
antimicrobianos naturais devido aos seus pHs. A uretra anterior de ambos
os sexos é colonizada, principalmente, por Lactobacillus, Staphylococcus
coagulase negativo e Streptococcus. Já a vagina é colonizada principalmente
pelos Lactobacillus, os quais ajudam na manutenção do pH normal vaginal,
inibindo o crescimento de microrganismos patogênicos quando há equilíbrio.
Outras espécies também encontradas são Staphylococcus, Streptococcus e
Gardnerella vaginalis (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

No mercado, existem diversas marcas de sabonetes bactericidas e sabonetes íntimos


femininos. Os sabonetes bactericidas são aqueles que alegam matar 99,9% das bactérias
da pele, sendo compostos, basicamente, pelos agentes antissépticos triclosan ou
triclocarban; entretanto, além de matar microrganismos potencialmente patogênicos,
eles também matam as bactérias da microbiota normal da pele, o que pode ser mais
prejudicial à saúde do que benéfico, causando problemas como alergias, resistência
a antibióticos e bioacumulação. Além disso, estudos têm demonstrado que eles não
são mais eficientes que os sabonetes comuns na higienização das mãos. Por esses
motivos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu, no Brasil, o uso do
triclocarban em produtos de higiene e estéticos, com poucas exceções.
Microbiota normal e microbioma 7

Já os sabonetes íntimos femininos são aqueles usados na higiene da região vulvar


externa, os quais são compostos, principalmente, por ácido lático, glicerina e subs-
tâncias controladoras de pH. Já foi cientificamente demonstrado que os sabonetes
íntimos ajudam a prevenir doenças infecciosas vaginais (p. ex., a vaginose bacteriana
causada pela bactéria G. vaginalis), pois controlam o pH normal vaginal (o que não
acontece com os sabonetes comuns, que podem alterar o pH), o que é essencial para
evitar o desequilíbrio da microbiota normal vaginal e, consequentemente, prevenir o
crescimento de bactérias potencialmente patogênicas.
Fontes: Bahamondes et al. (2011) e Kim et al. (2015).

Propriedades patogênicas dos microrganismos


Segundo Tortora, Funke e Case (2017), a patogenicidade é a capacidade que os
microrganismos têm de causar doenças ao superarem o sistema imunológico do
hospedeiro, enquanto a virulência se refere ao grau ou à extensão da patogeni-
cidade (refere-se a uma capacidade quantitativa). Existem algumas propriedades
que indicam que um microrganismo tem potencial de patogenicidade.

„„ Adesão (ou aderência ou fixação) é a capacidade de as bactérias se


aderirem às células epiteliais do hospedeiro ou a superfícies, formando
biofilmes. Esta é uma etapa importante para causar infecção, pois,
caso contrário, a bactéria pode ser eliminada do organismo. Existem
alguns fatores de adesão que podem estar presentes na bactéria, como
proteínas de aderência, ácido lipoteicoico, cápsula, fímbrias, pili e
flagelos (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al., 2016).
„„ Invasão é a capacidade que o microrganismo tem de penetrar nas células
ou nos tecidos do hospedeiro, de forma a permitir a sua disseminação e
a propagação da doença (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al., 2016).
„„ Toxicidade é a capacidade que o microrganismo tem de produzir a toxina
que causa doença no hospedeiro. Os microrganismos podem produzir
exotoxinas, que são as proteínas tóxicas liberadas pelos patógenos
enquanto eles crescem (p. ex., enterotoxinas produzidas pelas bactérias
Clostridium perfringens e Bacillus cereus que causam intoxicação
alimentar) ou podem produzir endotoxinas — que são os lipopolissa-
carídeos (LPS) tóxicos que causam febre, hipotensão e choque séptico
—, as quais são produzidas somente pelas bactérias gram-negativas,
já que somente elas têm LPS em suas membranas externas (BROOKS
et al., 2014; MADIGAN et al., 2016).
8 Microbiota normal e microbioma

„„ Resistência a antimicrobianos e a desinfetantes: microrganismos


com resistência a antimicrobianos e desinfetantes comumente utilizados
são mais virulentos e têm maior potencial de causar doença (BROOKS
et al., 2014).

Infecções oportunistas
Conforme você aprendeu acima, existem microrganismos que podem colonizar
o homem de forma permanente (microbiota normal) ou de forma transitória
(microbiota transitória), normalmente não causando doenças em indivíduos
sadios. Entretanto, há algumas situações (p. ex., baixa imunidade) em que de-
terminados microrganismos podem causar uma doença infecciosa ou tóxica no
ser humano, os quais podem ser considerados patógenos estritos ou patógenos
oportunistas (LEVINSON, 2016; MURRAY et al., 2004).
Patógenos estritos são aqueles microrganismos que sempre estão as-
sociados à doença quando estão presentes no homem, como, por exemplo,
a Mycobacterium tuberculosis — agente patogênico da tuberculose —, e a
Neisseria gonorrhoeae, que é o agente patogênico da gonorreia (LEVINSON,
2016; MURRAY et al., 2004).
Por outro lado, os patógenos oportunistas são aqueles microrganismos
que dificilmente causam infecções em hospedeiros imunocompetentes (i.e.,
em indivíduos saudáveis), mas podem causar infecções oportunistas gra-
ves em pacientes imunocomprometidos (indivíduos com baixa imunidade),
como, por exemplo, pacientes com câncer, pacientes transplantados (os quais
utilizam medicamentos que induzem a imunossupressão), ou com síndrome
da imunodeficiência adquirida (aids, em inglês acquired immunodeficiency
syndrome). Esses microrganismos podem fazer parte da microbiota normal
ou não. Quando ocorre um desequilíbrio no corpo do hospedeiro, esses mi-
crorganismos podem se multiplicar de maneira descontrolada, ou serem in-
troduzidos em locais que são estranhos do seu hábitat normal, ou mesmo em
sítios estéreis, causando uma infecção oportunista. A bactéria E. coli, por
exemplo, faz parte da microbiota normal do intestino grosso. Em geral, ela não
causa doença em indivíduos saudáveis nesse local, porém, caso consiga migrar
para outros locais do corpo, pode causar infecção (p. ex., no trato urinário, ela
causa infecção urinária, ao passo que, em feridas da pele, causa abscessos).
Um outro exemplo é a bactéria S. epidermidis, que faz parte da microbiota
normal da pele e nesse local normalmente não gera doença em indivíduos
Microbiota normal e microbioma 9

saudáveis, apesar disso, ela causa doença infecciosa se migrar para as válvulas
cardíacas artificiais ou para as articulações prostéticas (LEVINSON, 2016;
MURRAY et al., 2004; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Um dos principais benefícios que a microbiota normal confere ao hospedeiro
é a proteção contra infecções causadas por microrganismos potencialmente
patogênicos. Esse benefício acontece quando há um equilíbrio entre a mi-
crobiota normal e os microrganismos potencialmente patogênicos, ou seja, a
microbiota normal impede o crescimento excessivo desses microrganismos ao
competirem por nutrientes e oxigênio, ao produzirem substâncias prejudiciais
aos microrganismos invasores e ao alterarem o pH do local (fenômeno chamado
de antagonismo microbiano ou exclusão competitiva). Entretanto, existem
situações que causam um desequilíbrio entre a população da microbiota normal
e dos microrganismos potencialmente patogênicos, sendo que esses últimos
se multiplicam de maneira descontrolada, podendo resultar no aparecimento
de uma doença infecciosa (MADIGAN et al., 2016).
O uso de antimicrobianos pode inibir o crescimento ou reduzir as bacté-
rias normais, favorecendo o crescimento de microrganismos potencialmente
patogênicos e, consequentemente, a instalação de infecções oportunistas.
As bactérias Lactobacillus, por exemplo, fazem parte da microbiota normal da
vagina e, por manterem um pH ácido, são essenciais para conservar o equilíbrio
entre a microbiota normal e os microrganismos potencialmente patogênicos.
O uso de antimicrobianos pode eliminar os Lactobacillus da vagina, tornando o
pH vaginal neutro, situação em que os microrganismos oportunistas crescem e
se tornam predominantes, o que causa infecções oportunistas, como a bactéria
Gardnerella vaginalis, que provoca a vaginose bacteriana (BROOKS et al.,
2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Um conceito médico importante que você deve conhecer é o estado de
portador, no qual um indivíduo abriga um patógeno em potencial sem apre-
sentar sintomas clínicos (a presença da bactéria Chlamydia trachomatis pode
ser assintomática em algumas pessoas), ou quando o indivíduo se curou de
uma doença infecciosa ativa, mas ainda carrega o patógeno em seu corpo
por um tempo. Por não saber que está infectado ou porque o patógeno ainda
está em seu corpo mesmo após o fim da doença infecciosa ativa, o portador
pode transmitir o patógeno para outro indivíduo e causar, neste, uma doença
sintomática (LEVINSON, 2016; MURRAY et al., 2004).
O Quadro 2 traz exemplos sobre as bactérias oportunistas ou patogênicas
estritas mais comuns e as respectivas localizações em que causam infecções.
10 Microbiota normal e microbioma

Quadro 2. Bactérias oportunistas ou patogênicas estritas e sua localização

Bactérias oportunistas ou
Localização
patogênicas estritas mais comuns

Trato respiratório superior Família Enterobacteriaceae,


Haemophilus influenza, Moraxella
catarrhalis, Neisseria meningitidis,
Staphylococcus aureus, Streptococcus do
grupo A e Streptococcus pneumoniae

Ouvidos externos Família Enterobacteriaceae, Pseudomonas


aeruginosa e S. pneumoniae

Olhos Bacillus, Chlamydia trachomatis, H.


influenza, Neisseria gonorrhoeae, P.
aeruginosa, S. aureus e S. pneumoniae

Vias aéreas inferiores, Família Enterobacteriaceae (p. ex.,


laringe, traqueia Klebsiella), H. influenza, Peptostreptococcus,
e bronquíolos S. aureus e S. pneumoniae

Estômago Helicobacter pylori

Intestino grosso Campylobacter, Clostridium difficile, E. coli


entero-hemorrágica, Salmonella e Shigella

Uretra anterior C. trachomatis, Enterococcus, família


Enterobacteriaceae e N. gonorrhoeae

Vagina Gardnerella, Mobiluncus e N. gonorrhoeae

Colo uterino Actinomyces, C. trachomatis e N. gonorrhoeae

Fonte: Adaptado de Murray et al. (2004).

Relações harmônicas com fungos


O equilíbrio da microbiota normal não ocorre apenas entre espécies bacterianas,
como os exemplos vistos anteriormente, mas também entre bactérias e fungos,
que normalmente convivem em uma relação harmônica. Quando ocorre um
desequilíbrio da microbiota normal, podem ocorrer infecções oportunistas
causadas por fungos (BROOKS et al., 2014).
Microbiota normal e microbioma 11

Você sabia que quando há um desequilíbrio da microbiota normal, essa condição


pode favorecer o aparecimento de infecções oportunistas causadas por fungos?
Como exemplo, cita-se a levedura Candida albicans, que faz parte da microbiota
normal da vagina e normalmente não causa doença, pois seu crescimento é mantido
controlado pela bactéria Lactobacillus, porém, quando são utilizados antibióticos, há
um desequilíbrio da microbiota, o que ocasiona a morte dos Lactobacillus e favorece
o crescimento do fungo Candida albicans, causando uma infecção vaginal (BROOKS
et al., 2014; LEVINSON, 2016).

Muitas vezes, a infecção oportunista causada pelo fungo ocorre quando há


uma outra doença pré-existente grave comprometendo a imunidade do indiví-
duo. A C. albicans, por exemplo, também faz parte da microbiota normal da
pele e pode ser introduzida na corrente sanguínea por intermédio da perfuração
da pele com agulha (p. ex., uso de cateteres ou de fármacos intravenosos),
o que causa infecção sistêmica em pacientes imunocomprometidos (BROOKS
et al., 2014; LEVINSON, 2016).

Microbioma e sua relação com a saúde humana


O homem convive de forma harmônica com trilhões de microrganismos que
habitam o seu corpo, conforme você aprendeu nos tópicos anteriores. O nú-
mero de bactérias que habitam o corpo humano supera, em aproximadamente
10 vezes, o número de células humanas. O conjunto de todas as comunidades
de microrganismos que habitam o corpo humano é definido como microbioma
humano (TURNBAUGH et al., 2007).
Em 2007, foi lançado o Projeto Microbioma Humano (HMP, do inglês
Human Microbiome Project), que é uma associação internacional de grupos
interdisciplinares de pesquisas, cujos objetivos principais incluem caracterizar
todos os microrganismos que compõem o microbioma humano e entender o
papel desse ecossistema com relação à saúde e às doenças humanas. Esse
projeto foi lançado como uma extensão do Projeto Genoma Humano, já que
é possível dizer que a composição genética humana engloba não só o genoma
humano, mas também os genomas de todos os microrganismos que o habitam
(TURNBAUGH et al., 2007).
12 Microbiota normal e microbioma

A Microbiologia tradicional não consegue isolar a maioria dos microrganis-


mos que compõem o microbioma humano, pois eles precisam de condições de
crescimento muito específicas e difíceis de serem reproduzidas em laboratório.
Com o avanço de novas tecnologias que permitem o sequenciamento de DNA
em larga escala, os cientistas do HMP conseguiram analisar a coleção de
genomas de todos os microrganismos que compõem o microbioma humano
(análise metagenômica). Eles analisaram amostras da pele, da cavidade oral, da
cavidade nasal e dos tratos urinário e gastrintestinal de 300 indivíduos adultos
saudáveis (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH COMMON FUND, 2019;
TURNBAUGH et al., 2007). Nesses estudos, observou-se que o microbioma
humano é muito mais complexo do que o previsto no início do projeto. Um dos
principais achados do HPM é que o microbioma varia muito em número e com-
posição de espécies entre diferentes indivíduos, inclusive entre os saudáveis.
Essas diferenças podem ser explicadas por diversos fatores, como ambiente,
dieta, grupo étnico, genética do hospedeiro e exposição microbiana precoce,
entre outros. Mesmo depois do anúncio de que completaram o mapeamento do
microbioma humano, em 2012, ainda são realizados estudos epidemiológicos
que demonstram a importância do entendimento desse ecossistema na saúde
humana (HUTTENHOWER et al., 2012; NELSON et al., 2010).
Uma das associações mais compreendidas a partir do HPM foi a associação
entre a microbiota do trato gastrintestinal humano e as doenças inflamatórias
intestinais, como a colite ulcerativa e a doença de Crohn. A bactéria Clostridium
difficile faz parte da microbiota normal do intestino grosso e normalmente
não causa doença em situações normais, já que outras bactérias da microbiota
competem por nutrientes e produzem bacteriocinas, o que inibe o seu cresci-
mento, entretanto, o uso de antibióticos pode matar as outras bactérias e causar
um desequilíbrio na microbiota gastrintestinal, com consequente crescimento
da C. difficile. O estudo de Li et al. (2012) observou que indivíduos com
colite ulcerativa continham C. difficile de forma mais predominante em sua
microbiota intestinal em comparação aos indivíduos saudáveis. Esses achados
sugerem que o desequilíbrio da microbiota intestinal (fenômeno chamado de
disbiose) é a causa da doença colite ulcerativa.
Microbiota normal e microbioma 13

O HMP tem realizado estudos que apontam alterações no microbioma como as


possíveis causas do surgimento de doenças inflamatórias intestinais. Em virtude desses
achados, novos estudos têm sido feitos para avaliar a eficácia de tratamentos de
reposição da microbiota normal intestinal por meio de transplantes fecais ou de
tratamentos com vermes.

Algumas pesquisas envolvendo camundongos demonstraram que a com-


posição da microbiota gastrintestinal é diferente entre os animais magros e os
obesos, principalmente na composição de bactérias dos filos Bacteroidetes e
Firmicutes e de arqueias metanogênicas (Figura 1). Outros estudos demonstra-
ram que a transferência da microbiota fecal de roedores obesos para roedores
magros gera um aumento de gordura corporal nesses últimos, o que indica que
a composição da microbiota gastrintestinal pode influenciar a porcentagem
de gordura corporal e o ganho de peso. Também foram realizadas pesquisas
com humanos, as quais demonstraram que existe uma forte associação entre a
obesidade e a microbiota intestinal humana, já que desvios na composição de
microrganismos associados à composição corporal magra estão relacionados ao
aumento da massa corporal gorda e a doenças metabólicas. Apesar disso, ainda
não está claro se a alteração da microbiota gastrintestinal é uma causa ou uma
consequência da obesidade (MADIGAN et al., 2016; MARUVADA et al., 2017).

Figura 1. Diferenças nas comunidades microbianas gastrintestinais entre camundongos


magros e obesos. Os camundongos obesos têm menos bactérias do filo Bacteroides, mais
bactérias do filo Firmicutes e mais arqueias metanogênicas em relação aos camundongos
magros.
Fonte: Madigan et al. (2016, p. 690).
14 Microbiota normal e microbioma

Outros estudos têm focado na relação entre o microbioma humano e o


câncer. Alguns demonstraram que os metabólitos tóxicos produzidos por
alguns microrganismos que compõem o microbioma humano podem contri-
buir para o surgimento do câncer ou a progressão tumoral, mesmo em sítios
distantes de seu hábitat, ou ainda que esses microrganismos podem migrar
para outros locais e iniciar o processo de carcinogênese. Por outro lado, há
pesquisas que correlacionaram o desequilíbrio da microbiota intestinal com
desordens inflamatórias e vários tipos de câncer. A bactéria Helicobacter
pylori, presente na mucosa gástrica na metade da população mundial, por
exemplo, induz uma gastrite crônica que pode progredir para o carcinoma
gástrico (RAJAGOPALA et al., 2017).
Muitos outros estudos têm sido realizados para que seja possível entender o
papel desse ecossistema na saúde humana, como, por exemplo, a associação do
microbioma com o desenvolvimento do diabetes tipo 2 e a relação da mudança
da microbiota vaginal durante a gravidez com os partos prematuros e os abor-
tos. A diversidade do microbioma é um ponto fundamental para se entender
o papel desses microrganismos na saúde e no desenvolvimento de doenças.
Com os resultados que o estudo do microbioma humano têm demonstrado,
o monitoramento e a manipulação do microbioma humano para melhorar a
saúde humana pode ser uma realidade na Medicina do futuro (PETERSON
et al., 2009).

BAHAMONDES, M. V. et al. Use of a lactic acid plus lactoserum intimate liquid soap for
external hygiene in the prevention of bacterial vaginosis recurrence after metronidazole
oral treatment. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 57, n. 4, p. 408−413, 2011. Dispo-
nível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v57n4/v57n4a15.pdf. Acesso em: 12 out. 2019.
BOECHAT, N. Os perigos da amamentação cruzada. Fiocruz, 2019. Disponível em: http://
www.iff.fiocruz.br/index.php/8-noticias/221-perigosamamentacao. Acesso em: 12
out. 2019.
BROOKS, F. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick e Adelberg. 26. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2014. (Série Lange).
HUTTENHOWER, C. et al. Structure, function and diversity of the healthy human mi-
crobiome. Nature, v. 486, n. 7402, p. 207, 2012.
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Microbiota normal e microbioma 15

KIM, S. A. et al. Bactericidal effects of triclosan in soap both in vitro and in vivo. Journal
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LEVINSON, W. Microbiologia e imunologia médicas. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
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are associated with shifts in human ileum associated microbial composition. PloS one,
v. 7, n. 6, 2012.
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
MARUVADA, P. et al. The human microbiome and obesity: moving beyond associations.
Cell Host & Microbe, v. 22, n. 5, p. 589−599, 2017.
MURRAY, P. R. et al. Microbiologia Médica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
NELSON, K. E. et al. A catalog of reference genomes from the human microbiome.
Science, v. 328, n. 5981, p. 994−999, 2010.
NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH COMMON FUND. NIH Human Microbiome Project.
USA, 2019. Disponível em: https://www.hmpdacc.org/hmp/overview/. Acesso em: 12
out. 2019.
PETERSON, J. et al. The NIH human microbiome project. Genome Research, v. 19, n. 12,
p. 2317-2323, 2009.
RAJAGOPALA, S. V. et al. The human microbiome and cancer. Cancer Prevention Research,
v. 10, n. 4, 226−234, 2017.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
TRABULSI, L. R.; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2008.
TURNBAUGH, P. J. et al. The human microbiome project. Nature, v. 449, n. 7164, p. 804,
2007.
DICA DO PROFESSOR

O Projeto Microbioma humano tem como principal objetivo caracterizar todos os


microrganismos que compõem o microbioma humano e entender o papel desse ecossistema na
saúde e nas doenças. Para conseguir caracterizá-los, foi necessário fazer uma análise
metagenômica, por sequenciamento de genoma inteiro.

Nesta Dica do Professor, você verá, com mais detalhes, a técnica de análise metagenômica
utilizada para mapear o nosso microbioma.

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EXERCÍCIOS

1) Os seres humanos convivem de forma harmônica com diversos microrganismos,


como bactérias, fungos e protozoários. Normalmente não causam doenças e podem
beneficiar o homem ajudando na estimulação da imunidade, na defesa contra
organismos patogênicos e na digestão de alimentos. A respeito da microbiota normal,
assinale a alternativa correta:

A) A microbiota normal é uma população de microrganismos que colonizam o homem de


forma transitória, ou seja, permanecem no corpo humano por horas, dias ou semanas.

B) A microbiota normal estabelece uma relação simbiótica com o homem, pelo


comensalismo.

C) A composição da população da microbiota normal é constante ao longo da vida humana.

D) A composição da população da microbiota normal é a mesma entre os diferentes


indivíduos.
E) O primeiro contato do homem com a microbiota ocorre durante a vida uterina, quando a
mãe transfere os microrganismos pelo cordão umbilical.

2) A microbiota normal é aquela que habita o homem de forma permanente e


harmônica. A população de microrganismos varia de acordo com a localização
anatômica e, em alguns tecidos, elas não estão normalmente presentes. Em relação às
bactérias que fazem parte da microbiota normal do homem e a sua localização no
corpo humano, assinale a alternativa correta:

A) A bactéria mais predominante na microbiota normal da pele é a Staphylococcus


epidermidis.

B) A bactéria Lactobacillus faz parte da microbiota normal da bexiga.

C) A bactéria Haemophilus faz parte da microbiota normal das vias aéreas inferiores.

D) A bactéria mais predominante na microbiota normal do ouvido externo é a


Corynebacterium.

E) A bactéria mais predominante na microbiota normal da vagina é a Gardnerella vaginalis.

3) Alguns microrganismos são patógenos, isto é, causam doenças infecciosas ou tóxicas


no hospedeiro. Em relação às propriedades patogênicas dos microrganismos, assinale
a alternativa correta:

A) A virulência é a capacidade de os microrganismos causarem doenças ao superarem o


sistema imunológico do hospedeiro.

B) A adesão é a capacidade que o microrganismo tem de penetrar nas células ou tecidos do


hospedeiro, permitindo sua disseminação e propagação da doença.
C) São exemplos de fatores de adesão as cápsulas, as fímbrias e os flagelos.

D) A invasão é a capacidade de as bactérias se fixarem às células epiteliais do hospedeiro ou a


superfícies.

E) As endotoxinas são fatores de virulência produzidas pelas bactérias gram-positivas.

4) Vários microrganismos podem causar doenças infeciosas no homem, podendo ser


classificados como patógenos estritos ou patógenos oportunistas. Em relação a esse
assunto, assinale a alternativa correta:

A) Os patógenos estritos são aqueles microrganismos que fazem parte da microbiota normal,
mas, por algum desequilíbrio no corpo humano, podem causar uma doença infecciosa.

B) Um exemplo de patógeno estrito é a levedura Candida albicans.

C) Os patógenos oportunistas são aqueles microrganismos que sempre estão associados à


doença quando presentes no homem.

D) Alguns exemplos de patógenos oportunistas são a Mycobacterium tuberculosis e a


Neisseria gonorrhoeae.

E) O uso de antimicrobianos pode desequilibrar a microbiota normal do hospedeiro,


favorecendo o aparecimento de infecções oportunistas.

5) O microbioma humano é definido como o conjunto de todas as comunidades de


microrganismos que habitam o corpo humano. Na tentativa de entender a relação do
microbioma com a saúde humana, foi lançado, em 2007, o Projeto Microbioma
Humano. Em relação ao Projeto Microbioma Humano e às descobertas
proporcionadas por ele até o momento, assinale a alternativa correta:
A) O Projeto Microbioma Humano mapeou o microbioma humano de crianças e adultos,
incluindo indivíduos saudáveis e doentes, por amostras da pele, da cavidade oral, da
cavidade nasal e dos tratos urinário e gastrointestinal.

B) O método utilizado pelo Projeto Microbioma Humano para mapear o microbioma humano
foi a microbiologia tradicional, que inclui, entre outras etapas, o crescimento dos
microrganismos em meios de cultura.

C) Com os estudos do HMP, observou-se que o microbioma humano é menos complexo do


que o previsto no início do projeto.

D) Com os estudos do HMP, foi possível concluir que a diversidade do microbioma é um


ponto fundamental para se entender o papel desses microrganismos na saúde e no
desenvolvimento de doenças.

E) O monitoramento e a manipulação do microbioma humano para melhorar a saúde humana


ainda é uma realidade muito distante na medicina.

NA PRÁTICA

As infecções oportunistas são causadas pelos patógenos oportunistas, ou seja, microrganismos


que vivem no meio ambiente e em indivíduos sadios, raramente causando-lhes doenças.
Entretanto, podem causar uma infecção grave em indivíduos imunodeprimidos, podendo,
inclusive, levar a óbito.

Neste Na Prática, você verá um caso clínico de um paciente internado com câncer, que contraiu
uma infecção oportunista após a hospitalização. O papel do profissional Microbiologista foi
fundamental para identificar o patógeno que estava causando a infecção oportunista no paciente.

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SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

O que é microbiota?

A microbiota normal muda durante diferentes fases da vida humana. Veja a explicação de uma
pesquisadora sobre o que é microbiota e como ela é diferente se o bebê nasce por parto normal
ou por cesariana.

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Interações dos microrganismos com o homem

Os microrganismos podem interagir com o homem de forma harmônica, em uma relação de


comensalismo (microbiota normal), ou pode causar doenças (micorganismos patogênicos).
Aprofunde mais o seu conhecimento sobre esse assunto estudando o capítulo 23 (p. 705 a 730)
do livro "Microbiologia de Brock", de Madigan e colaboradores (14ª ed. Porto Alegre, Artmed,
2016).

A maior parte do seu corpo não é humana - e é nova aposta de cientistas para vencer
doenças

Há cientistas que dizem que a maior parte do nosso corpo não é humano, já que existem muito
mais microrganismos vivendo no corpo humano do que células humanas. Veja nessa
reportagem, no site da BBC - Brasil, o que pensam alguns cientistas que dizem que a reposição
do microbioma é a nova aposta para se curar doenças.

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Projeto Microbioma Humano

Para saber mais sobre o mapeamento do microbioma e os dados de sequências metagenômicas


obtidos pelo Projeto Microbioma Humano, acesse o site do NCBI.

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Mapeamento do microbioma

O mapeamento do microbioma foi concluído em 2012 e os dados de sequências metagenômicas


obtidos pelo Projeto Microbioma Humano estão disponíveis ao público no site do HMP1.

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