Aula 1 - O Que É Autismo

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Transtorno no Espectro Autista

O que é autismo?
Profª Esp. Camila Medina
A Descoberta do Autismo

 A condição conhecida como transtorno autista, autismo na infância ou autismo infantil foi
inicialmente descrita pelo Dr. Leo Kanner, em 1943 (embora provavelmente já tivessem sido
observados casos antes disso, vide descrição inicial de Plouller em 1906).

 O médico fez relatos de 11 crianças portadoras do que denominou “um distúrbio inato do
contato afetivo”; ou seja, essas crianças vinham ao mundo sem o interesse habitual nas
outras pessoas e no contato com o ambiente social.
A Descoberta do Autismo
 O Dr. Kanner fez uma descrição cuidadosa e detalhada dos comportamentos incomuns que
esses casos exibiam.

 Mencionou que essas crianças exibiam “resistência à mudança” e as identificou como


portadoras de uma “insistência nas mesmas coisas”.

 Por exemplo, elas podiam exigir que seus pais fizessem o mesmo caminho até a escola ou
a igreja e ficavam muito perturbadas se ocorresse qualquer desvio dessa rotina; podiam
entrar em pânico se qualquer coisa em sua sala de estar estivesse fora do lugar; podiam ser
muito rígidas quanto aos tipos de roupas que vestiam ou alimentos que comiam.
A Descoberta do Autismo
 O termo resistência à mudança também foi utilizado para se referir a alguns dos comportamentos típicos
vistos com frequência em crianças com autismo, como, por exemplo, comportamentos motores aparentemente
sem propósito (estereotipias), tais como balanço do corpo, andar na ponta dos pés e sacudir as mãos. Kanner
acreditava que esses comportamentos poderiam estar ajudando a criança a “manter as mesmas coisas”.
 Kanner mencionou que, quando a linguagem se desenvolvia por completo, esta seria “anormal”. Por exemplo, a
criança com autismo podia não conseguir dar entonação adequada a sua fala (podia falar como um robô),
apresentar eco na linguagem (ecolalia) ou confundir os pronomes pessoais (inversão dos pronomes) – ou,
ainda, quando questionada se queria um biscoito, ela podia responder: “Quer biscoito, quer biscoito, quer
biscoito”.
 Em seu relato original, Kanner considerava que havia duas coisas essenciais para um diagnóstico de autismo –
primeiro, o isolamento social e, segundo, os comportamentos anormais e a insistência nas mesmas
coisas.
A Descoberta do Autismo
• De acordo com Kanner, o autismo é:
• “O transtorno fundamental, proeminente e “patognomônico” que gera a incapacidade das crianças
de se relacionarem da maneira normal com as pessoas e situações desde o começo da vida.
Seus pais se referiam a elas como tendo sido sempre “autossuficientes”; “como dentro de um casulo”;
“mais felizes quando deixadas sozinhas”; “agem como se as pessoas não estivessem ali”;
“completamente alheias a tudo a sua volta”; “dão a impressão de sabedoria silenciosa”; “não
conseguem desenvolver a quantidade típica de consciência social”; “agem quase como se estivessem
hipnotizadas”.
• Desde o início ocorre uma solidão autista extrema, que, sempre que possível, desconsidera, ignora,
se fecha para tudo o que provém de fora da criança. O contato físico direto ou um movimento ou ruído
que ameace perturbar essa solidão são tratados “como se não estivessem ali” ou, se isso já não for
suficiente, são sentidos dolorosamente como uma interferência angustiante”. (continua)
A Descoberta do Autismo
• ...O pavor à mudança e à incompletude parece ser um fator importante na explicação da
repetitividade monótona e na resultante limitação na variedade da atividade espontânea. Uma
situação, uma realização, uma sentença não são consideradas completas se não forem
compostas exatamente pelos mesmos elementos que estavam presentes no momento em que
a criança se defrontou com elas pela primeira vez. Se um mínimo ingrediente é alterado ou
removido, a situação total já não é mais a mesma e não é aceita como tal, ou é experimentada
com impaciência “ou até mesmo com uma reação de profunda frustração”.

• Fonte: Kanner (1943, p. 242, 245, 246).


Primeira Caracterização do Autismo
 Ao final da década de 1970, houve consenso de que o autismo era caracterizado por:
- (1) déficit no desenvolvimento social de um tipo muito diferente em comparação ao das crianças
sadias;
- (2) déficit na linguagem e em habilidades de comunicação – novamente de um tipo distinto;
- (3) resistência à mudança ou insistência nas mesmas coisas, conforme refletido na adesão
inflexível a rotinas, maneirismos motores, estereotipias e outras excentricidades comportamentais;
e
- (4) início nos primeiros anos de vida.
Autismo e inteligência Uma influência para Kanner
• Kanner, a princípio, achava que as crianças com autismo provavelmente tinham inteligência
“normal”, isso se justificava porque elas se saiam muito bem em algumas partes dos testes de
inteligência (QI). Em outras, no entanto, seu desempenho era muito fraco ou elas se recusavam a
cooperar.
• Kanner presumiu que, se elas fossem tão bem em todas as partes do teste de QI quanto iam em
uma ou duas, não seriam “retardadas”. Infelizmente, acontece que, com frequência, habilidades
cognitivas ou intelectuais são difíceis de avaliar, em grande parte porque elas costumam ser
muito difusas.
• Em outras palavras, crianças com autismo frequentemente fazem algumas coisas bem,
como resolver enigmas, mas podem ter uma tremenda dificuldade com tarefas mais
relacionadas à linguagem. O grau de discrepância entre as diferentes áreas de habilidades é
muito incomum na população tipicamente em desenvolvimento, mas muito frequente em crianças
com autismo.
Autismo e inteligência Uma influência para Kanner
• Com o passar do tempo ficou claro que, de modo geral, muitas crianças com autismo têm
deficiência intelectual (QI abaixo de 70).
• No passado, isso era válido para a maioria dos casos, mas com o diagnóstico mais precoce e
intervenções mais efetivas, esse número baixou de tal forma que, hoje, é provável que apenas
uma minoria dos casos se enquadre nessa categoria.
• No entanto, o padrão de desempenho no autismo costuma ser diferente daquele observado
no retardo mental sem autismo, frequentemente com escores muito discrepantes em várias
partes do teste de QI – por exemplo, pontos fortes em habilidades não verbais, mas grande
debilidade em tarefas verbais ou mais relacionadas à sociabilidade.
• Ocasionalmente (talvez 10% das vezes), crianças com autismo têm alguma habilidade incomum,
como desenhar, tocar um instrumento, memorizar coisas ou, algumas vezes, calcular os dias da
semana para eventos no passado ou no futuro (cálculos de calendário).
Autismo e parentalidade Na ótica de Kanner
 O relato de Kanner (1943) também menciona que, com frequência, os casos provinham de famílias
nas quais um dos pais era extremamente bem-sucedido;
 Isso levou à ideia, na década de 1950, de que talvez o sucesso tivesse feito os pais negligenciarem
seus filhos de alguma maneira, de modo que conceitos como “mãe-geladeira” foram invocados para
explicar o autismo.
 Não há evidências que apoiem essa hipótese, e evidências consideráveis mostram que o autismo é
um transtorno com elevada base genética e de alterações na estruturação cerebral. Porém, esse
mito do baixo vínculo parental traumatizou uma geração inteira de pais e levou a tratamentos
inapropriados e ineficazes para as crianças.
 Felizmente, foi esclarecido, durante a década de 1970, que o autismo tinha forte base genética e
cerebral, bem como ficou claro que intervenções educacionais e comportamentais estruturadas
podiam ajudar essas crianças a aprender (National Research Council, 2001; Reichow, Doehring,
Cicchetti, & Volkmar, 2011).
OUTRAS CONDIÇÕES NO ESPECTRO AUTISTA E
ALTERAÇÕES NO DSM-5
 Em fins da década de 1970, emergiu um consenso sobre a validade do autismo como conceito, e
em 1980 o transtorno foi incluído na histórica terceira edição das diretrizes diagnósticas oficiais da
American Psychiatric Association (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais; DSM-
III [APA, 1980]).
 O DSM-III precisava ter uma classe de transtornos à qual o autismo pudesse pertencer, e foi
escolhida a designação transtorno pervasivo do desenvolvimento (TPD).
 Durante a década seguinte, foram feitas algumas revisões à medida que novas pesquisas eram
disponibilizadas, e, em 1994, a quarta edição do livro (DSM-IV, 1994) reconheceu inúmeras
condições além do autismo dentro da classe mais ampla do TPD.
 Esses conceitos têm sua própria história, e foi feita uma tentativa de ampliar o espectro das
condições no DSM-IV (e seu correlato, a CID-10 [OMS, 1993]).
Alterações no DSM- V
 A versão mais recente do DSM (APA, 2013), introduziu inúmeras mudanças baseadas em uma revisão
das duas décadas de trabalho que se seguiram ao DSM-IV. O termo “transtorno pervasivo do
desenvolvimento” foi suprimido como denominação geral para a categoria e substituído por “transtorno do
espectro autista”.

 A nova definição de transtorno do espectro autista é mais simples do que a utilizada no DSM-IV, com
menos critérios para o diagnóstico, mas foca de modo excessivo no autismo mais “clássico”, visto que
inúmeros estudos vieram a demonstrar que vários grupos, inclusive os adolescentes e adultos mais
capazes do ponto de vista cognitivo, bem como bebês, “perderiam” seu diagnóstico no DSM-5 (Smith,
Reichow, & Volkmar, 2015).

 Em consequência dessas preocupações, a definição da versão atual do manual permite que casos com
diagnósticos “bem estabelecidos” no DSM-IV mantenham o diagnóstico.

 O DSM-5 também inclui uma nova categoria – transtorno da comunicação social – para indivíduos
com problemas principalmente na área da linguagem pragmática. – criticada em sua fundamentação*
EPIDEMIOLOGIA DO AUTISMO E CONDIÇÕES
RELACIONADAS
 Tem havido muito interesse em saber se a incidência do transtorno está aumentando, com
mensagens do serviço público na mídia sugerindo que ele é muito comum.

 No entanto, muitas dessas alegações se baseiam em registros escolares ou em diagnósticos


atribuídos na escola para fins educacionais, e bem sabemos que frequentemente um
diagnóstico de autismo é desejável para que possam ser obtidos mais serviços (um
problema referido como substituição diagnóstica).

 Além do mais, crianças diagnosticadas pelas escolas ou por clínicos inexperientes têm maior
probabilidade de superar ou “perder” seu diagnóstico com o passar do tempo (Blumberg,
Zablotsky, Avila, Colpe, Pringle, & Kogan, 2016).
EPIDEMIOLOGIA DO AUTISMO E CONDIÇÕES
RELACIONADAS
 Uma recente revisão abrangente (Presmanes Hill, Zuckerman, & Fombonne, 2014) observou que a
prevalência de autismo (examinando os estudos mais atuais) é de cerca de 1 em cada 152 crianças.

 Os autores dessa revisão não encontraram evidências que apoiem um crescimento importante na
ocorrência da condição. Quanto mais rígidos forem os critérios empregados, mais baixos serão os
índices observados, sobretudo se os dados estiverem baseados no exame direto, e não no registro
escolar.

 Os TEAs são claramente de 3 a 5 vezes mais comuns em homens. Em grupos com QI mais baixo,
isso é muito menos pronunciado, mas, naqueles com maior capacidade intelectual, a predominância
aumenta.

 Há algumas sugestões de que índices mais altos de deficiência (em geral) em mulheres podem
refletir um risco genético ainda mais forte (veja Rutter & Thapar, 2014).

 Estudos que relacionam classe social e autismo nos Estados Unidos costumam observar índices de
prevalência mais baixos em crianças negras e hispânicas, uma diferença que não é observada de
forma tão consistente em outros países com abordagens mais uniformes de avaliação e assistência
médica.
O QUE CAUSA O AUTISMO?

 Houve muita confusão quanto às causas do autismo nas primeiras duas décadas seguintes a
sua primeira descrição.
 A especulação começou na década de 1950, concentrando-se nos fatores psicossociais.
 Entretanto, durante as décadas de 1960 e 1970, começaram a se acumular as evidências
mostrando que o transtorno era uma condição com base cerebral e fortemente genética.
Aspectos neurobiológicos do autismo
 Foram necessárias várias décadas para que se tornasse claro que o autismo era um transtorno
com forte base cerebral.
 Em seu relato original, Kanner (1943) enfatizou que a condição era congênita, ou seja, presente
desde o nascimento, se não antes, mas também observou que as crianças de sua amostra eram
não dismórficas e que seus pais eram notavelmente bem-sucedidos.
 Essas observações, combinadas com a considerável confusão diagnóstica sobre a psicose infantil
e com a forte abordagem psicossocial que costumava ser utilizada na compreensão da doença
mental, levaram os primeiros profissionais a sugerir psicoterapia para “remediar” as dificuldades
no vínculo parental que presumivelmente causava autismo.
 Com o passar do tempo, no entanto, tornou-se claro que havia fortes evidências de que o autismo
tinha base cerebral, devido ao frequente desenvolvimento de transtorno convulsivo durante a
infância. Os pesquisadores começaram a olhar com convicção para a base cerebral do transtorno.
Aspectos neurobiológicos do autismo
 Inúmeras teorias especulam sobre qual região ou quais regiões do cérebro podem estar
envolvidas, embora, com o tempo, os modelos tenham-se tornado mais sofisticados,
acompanhando o crescente conhecimento sobre a complexidade do “cérebro social” (Pelphrey,
Shultz, Hudac, & Vander Wyk, 2011; Volkmar, 2011).

 A importância e a gravidade das dificuldades no processamento social e de outras informações nas


várias áreas de desenvolvimento são, agora, consideradas para sugerir a implicação de um
conjunto de sistemas neurais muito diverso e amplamente distribuído.

 Ao mesmo tempo, está claro que alguns aspectos do funcionamento neurocognitivo estão
poupados e podem até mesmo, em alguns casos, ser muito superiores.
Aspectos neurobiológicos do autismo
 Cientistas realizaram estudos de neuroimagem da estrutura e da função do cérebro.
 Parece haver diferenças na amígdala e no tamanho total do cérebro. Este parece aumentar
entre 2 e 4 anos, com o crescimento desacelerando após esse período, de modo que, no fim da
adolescência, o tamanho do cérebro é apenas um pouco maior.
 A natureza dessa diferença permanece foco de pesquisa e especulação, e as teorias têm-se
concentrado na conectividade anormal dos indivíduos com autismo, com mais conexões “próximas”
e menos conexões “distantes”.
 Uma parte da superfície ventral do lobo temporal (o giro fusiforme) era hipoativa durante a tarefa de
percepção de rostos. Essa área, em indivíduos neurotípicos, parece ter alta especificidade para
processamento de rostos.
Aspectos neurobiológicos do autismo
 A literatura sobre neuroimagem sugere diferenças de volume em regiões cerebrais específicas,
com o crescimento exagerado do cérebro sendo o achado mais replicado em um subgrupo de
casos, além de conectividade estrutural e funcional atípica com algumas alterações observadas
com a idade (Anagnostou & Taylor, 2011).
 Trabalhos disponíveis sugeriram diferenças na estrutura cortical, sobretudo naquelas regiões do
cérebro envolvidas no processamento socioafetivo – de modo específico, a amígdala, o
hipocampo, o septo, o giro do cíngulo anterior e os corpos mamários; regiões fortemente
interconectadas que compreendem o sistema límbico.
 Novos métodos também foram aplicados para compreender o processamento das informações
sociais. Por exemplo, métodos que utilizam o acompanhamento do olhar (câmeras infravermelhas
são capazes de acompanhar o ponto exato de interesse enquanto um indivíduo observa a situação
social) identificam diferenças importantes na forma como as cenas sociais são vistas.
Aspectos neurobiológicos do autismo
 A figura mostra o foco de interesse para
uma pessoa com autismo e um adulto com
desenvolvimento típico durante a exibição
de um videoclipe curto.
 A pessoa com autismo - que tem alto
funcionamento cognitivo - acompanha a
região da boca durante a exibição do
videoclipe, enquanto o adulto com
desenvolvimento típico se concentra na
região dos olhos, a qual oferece muito mais
informação social e afetiva do que a
primeira.
Fatores genéticos
 No primeiro estudo do autismo em gêmeos (Folstein & Rutter, 1977), ficou evidenciado o forte papel
dos fatores genéticos na etiologia do transtorno. Estudos posteriores com gêmeos confirmaram
esses achados com estimativas de hereditariedade na faixa de 60 a 90%.
 Essa linha de pesquisa também sugeriu vulnerabilidade nos familiares para uma ampla gama de
transtornos neuropsiquiátricos, inclusive transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH),
ansiedade e problemas de aprendizagem e de linguagem.
 Tornou-se evidente que existe uma ampla gama de variabilidade nos fenótipos do autismo e
que inúmeros genes e mecanismos criam considerável heterogeneidade genética.
 Mais comumente, parecem ser vários os genes envolvidos no transtorno, os quais também estariam
envolvidos na expressão potencial de uma vasta gama de condições (o “fenótipo mais amplo”). O
envolvimento de muitos dos genes identificados faz sentido, uma vez que parecem estar implicados
em aspectos do desenvolvimento do cérebro ou na conectividade neural.
CID- 10 e 11 Autismo na CID-11
•6A02 – Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
Autismo na CID-10 • 6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem
deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve
•F84 – Transtornos globais do ou ausente da linguagem funcional;
desenvolvimento (TGD) • 6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com
• F84.0 – Autismo infantil; deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve
• F84.1 – Autismo atípico; ou ausente da linguagem funcional;
• F84.2 – Síndrome de Rett; • 6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem
deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional
• F84.3 – Outro transtorno
desintegrativo da infância; prejudicada;
• 6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autismo com
• F84.4 – Transtorno com
deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional
hipercinesia associada a
prejudicada;
retardo mental e a movimentos
estereotipados; • 6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autismo com
deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem
• F84.5 – Síndrome de Asperger;
funcional;
• F84.8 – Outros transtornos • 6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Autismo
globais do desenvolvimento; especificado;
•F84.9 – Transtornos globais não • 6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autismo, não
especificados do desenvolvimento. especificado.
• LD90.4 – Síndrome de Rett;
Síndrome de Asperger
No DSM-4 as principais diferenças entre autismo e Síndrome de Asperger eram a intensidade do
atraso que afetaria o indivíduo.
Enquanto na definição do Autismo a fala tinha um provável início tardio, na Síndrome de Asperger era
descrita como normal.
Pacientes com os dois transtornos apresentariam dificuldade de se relacionar e de entender
situações abstratas, como figuras de linguagem ou gestos. Por exemplo, ao escutar a frase “meu
namorado é um gatinho”, tanto a pessoa com autismo quanto a com Asperger imaginaria que o
companheiro é um animal (gato).
Como a Síndrome de Asperger apresenta sintomas mais leves, o diagnóstico costumava ser mais
tardio que do autismo.
Geralmente, começava-se notar que a criança não interagia do modo esperado apenas na fase
escolar.
Os interesses restritos são comuns entre pessoas com Asperger. Por exemplo, a criança pode
gostar muito de trens e dinossauros e sempre encontra um meio de falar sobre os temas, ainda que
eles não se relacionem com o assunto em questão.
DSM-V
 Segundo o DSM-5 — Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — o autismo é um
transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de interação social,
comunicação e comportamentos repetitivos e restritos.

 Ainda que os sintomas variam de caso a caso, esses elementos são determinantes para realizar o
diagnóstico de autismo.

 Antes dos três anos de vida os sinais de TEA já podem ser percebidos. No entanto, muitas crianças
ainda são diagnosticadas tardiamente, seja por desinformação ou resistência da família e dos
médicos.

 A nova classificação do DSM-V trouxe mudanças significativas nos critérios diagnósticos do autismo,
ampliando a identificação de sintomas e com uma ênfase na observação do desenvolvimento da
comunicação e interação social da criança.

 O diagnóstico precoce é fundamental para que as melhores intervenções sejam realizadas.


Critérios de Diagnóstico no DSM-V
 Inabilidade persistente na comunicação social, manifestada em déficits na reciprocidade
emocional e nos comportamentos não verbais de comunicação usuais para a interação social.

 Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividade, manifestados por


movimentos, falas e manipulação de objetos de forma repetitiva e/ou estereotipada, insistência na
rotina, rituais verbais ou não verbais, inflexibilidade a mudanças, padrões rígidos de comportamento e
pensamento; interesses restritos e fixos com intensidade; hiper ou hipo atividade a estímulos
sensoriais.

 Os sintomas devem estar presentes no período de desenvolvimento, em fase precoce da infância,


mas podem se manifestar com o tempo conforme as demandas sociais excedam as capacidades
limitadas.

 Todos esses sintomas causam prejuízos significativos no funcionamento social, profissional e em


outras áreas da vida da pessoa com autismo.
Os 3 Níveis de gravidade do autismo (DSM-V)

 Nível 1 — Leve
- As pessoas com nível leve de autismo, em relação à interação e comunicação
social, apresentam prejuízos mas não necessitam de tanto suporte. Têm
dificuldade nas interações sociais, respostas atípicas e pouco interesse em se
relacionar com o outro.

- Em relação ao comportamento, apresentam dificuldade para trocar de atividade,


independência limitada para autocuidado, organização e planejamento.
Os 3 Níveis de gravidade do autismo (DSM-V)
 Nível 2 — Moderado
- As pessoas com nível moderado de autismo, em relação à interação e
comunicação social, necessitam de suporte substancial, apresentando déficits
na conversação e dificuldades nas interações sociais, as quais, muitas vezes,
precisam ser mediadas.

- Em relação ao comportamento podem apresentar dificuldade em mudar de


ambientes, desviar o foco ou a atenção, necessitando suporte em muitos
momentos.
Os 3 Níveis de gravidade do autismo (DSM-V)
 Nível 3 — Severo
- As pessoas com nível severo de autismo, em relação à interação e comunicação
social, necessitam de muito suporte, pois apresentam prejuízos graves nas interações sociais e
pouca resposta a aberturas sociais.

- Em relação ao comportamento, apresentam dificuldade extrema com mudanças e necessitam


suporte muito substancial para realizar as tarefas do dia a dia, incluindo as de autocuidado e higiene
pessoal.

- Além desses fatores, outros critérios específicos para o diagnóstico de autismo são: prejuízo
intelectual e de linguagem, condição médica ou genética, outras desordens do neurodesenvolvimento
ou transtornos relacionados.
Diagnóstico do autismo em meninas
 O cérebro feminino é naturalmente mais social, possui maior capacidade de empatia e para
habilidades sociais esperadas nos relacionamentos interpessoais.

 Meninas com autismo leve apresentam menos sintomas externalizantes e que chamam mais
atenção como agressividade, inquietude, comportamentos inapropriados em geral e ações
estereotipadas.

 Espera-se socialmente comportamentos diferentes entre um menino e uma menina. Uma


menina com autismo leve que apresente alguma dificuldade na comunicação e interação social,
que não goste de toque, beijos ou de brincar com outras crianças, pode ser considerada pelos
pais, familiares, pela escola, como sendo somente uma criança mais tímida, retraída. Porém, a
criança que é tímida e não tem autismo, compreende o outro e o ambiente que a cerca. Um
menino que se comporte de maneira mais retraída, acaba chamando mais a atenção de todos,
uma vez que meninos são naturalmente mais inquietos e exploradores.
Diagnóstico do autismo em meninas
 A dificuldade no diagnóstico do autismo leve em meninas não está exatamente na diferença dos
sintomas entre meninos e meninas com autismo, pois estes, em geral, são similares entre os
gêneros mas sim, na forma com que a sociedade olha para cada gênero, ou seja, ao fato de
que determinados comportamentos chamam mais a atenção em um menino do que em uma
menina e à capacitação de profissionais da saúde identificarem sinais sutis.

 Por tudo isso, o maior desafio hoje ainda é treinar o olhar dos profissionais da saúde que
acompanham a criança (pediatra, neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, entre
outros), pais, familiares, educadores e sociedade em geral para que alguns sinais de autismo leve
não sejam ignorados e/ou justificados com comportamentos esperados entre meninas ou
meninos.

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