Resenha 4 - O Povo Contra A Democracia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 3

Leonardo Jardim Ramos Jorge

12517176
Resenha 3 – O povo contra a democracia (cap. 1 a 5)
A obra “O povo contra a democracia” de Yascha Mounk é dividida em três partes: “A
crise da democracia liberal”; “Origens” e “Remédios”. Nessa resenha, a primeira parte inteira
será tratada, como também a maior parte da segunda. Ao contrário do que se pensava diversos
cientistas políticos logo depois do fim da Guerra Fria, Mounk ressalta que esse modelo de
democracia não é imbatível, já que em alguns lugares do mundo há a volta do autoritarismo ou
modelos não-democráticos de poder. Ao longo do texto, o autor explicará que a regressão do
sistema se deve pela separação e conflito da própria democracia e o liberalismo.

Para dar início ao texto, o autor busca conceituar os elementos mais importantes do
debate: democracia, instituições liberais e democracia liberal. O primeiro é o conjunto de
instituições que, com base na legislação, tentam estabelecer políticas públicas de acordo com
o desejo do povo. O segundo defende e garante tanto o Estado de direito quanto os direitos
individuais da população. Já o último é a síntese dos dois elementos, pois, da mesma forma que
protege direitos individuais, também estabelece políticas públicas. Com isso, o cientista
político alega que a democracia liberal pode ser desvirtuada de duas formas, sendo elas: quando
a democracia se torna iliberal, na qual as instituições não funcionam e quando o regime, mesmo
liberal, se torna antidemocrático, pois, apesar de haver eleições, elas já não traduzem a opinião
popular em políticas públicas.

No primeiro capítulo, Mounk começa a dissertar o que é e exemplos de “democracias


sem direitos”. De início, o cientista político cita algumas manifestações populares de cunho
xenofóbico ao longo da história, como com a chancelar da Alemanha em 2015, Angela Merkel.
A criação de um inimigo único favorece populistas, como no caso de lideranças de extrema-
direita, em especifico Le Pen, na França, que, em alguns momentos, chega perto de alcançar o
mais alto posto francês. Apesar de acreditar que existe um caráter democrático no populismo,
o autor afirma que quem carrega esse símbolo, geralmente é iliberal, principalmente em relação
aos direitos humanos. Dessa forma, pontua que nem todo populista é antidemocrático como
acontecia no fascismo da primeira metade do século XX, já que, atualmente, alguns desses
atores políticos usam do jogo eleitoral para se lançar ao poder, como Trump, nos EUA. Além
disso, afirma que os populistas esbanjam soluções simplórias para problemas difíceis, como na
própria Europa, com países desenvolvidos com taxas de crescimento aquém de outros países,
como China.
Já no segundo capítulo, o autor explora o que chama de “direitos sem democracia”. Para
contextualizar, Mounk reflete sobre o início de democracias pelo mundo, como no Reino Unido
e o parlamento inglês, que, segundo o autor, não foi feito para representar a vontade popular,
pelo contrário, apenas seria um acordo de elites. Longe do mito fundador da democracia, hoje,
as novas gerações se distanciam e não desejam mais fazer parte do processo eleitoral e de
criação de políticas públicas, já que, entre diversos motivos, está uma elite política que se
distanciou do seu eleitorado, perdendo, portanto, qualquer caráter representativo que já se
imaginou. Outro fator que distancia a vontade popular das respostas para problemas públicos
é a criação de uma burocracia técnica que retira poderes dos legisladores e, consequentemente,
do povo, já que pode criar leis próprias, tendo parte do poder decisório e, assim, tomado
decisões importantes, muitas das vezes benéficas.

Ademais, Yascha Mounk reflete sobre o sentimento dos eleitores se sentirem alienados
da política e do processo decisório, explicado pela criação de instituições públicas, como
também uma elite política inalcançável. Porém, Mounk explica a importância das instituições,
como a burocracia pontuada anteriormente, os bancos centrais, se independentes, visam buscar
estabilidade monetária e controle da inflação, o “controle de constitucionalidade”, que permite
aos tribunais superiores promoverem avanços nas constituições e os tratados e organizações
internacionais, que possibilitaram maiores relações entre os países, porém, retirando parte da
autonomia desses atores. Em relação as elites, o autor afirma que, para se tornar mandatário, a
captação de recursos para a conquista do pleito de um cargo político cresce cada mais vez,
impossibilitando, por exemplo, a grande massa, os mais pobres, de serem legisladores ou
governantes. Além disso, essa elite, pela dependência financeira aos lobistas, faz dela
subserviente dos patrocinadores de campanha.

O terceiro capítulo nos mostra dados que representam o declínio da democracia. Por
exemplo, algumas pesquisas de opinião buscam responder o quanto os americanos têm
interesse na política. Desde o número não para de cair. Os números são similares quando
falamos da confiança aos políticos ou as instituições democráticas, como os tribunais
superiores. As pesquisas mostram outro dado interessante: os mais jovens têm menos apreço
pela democracia. Consequentemente, as pessoas estão cada vez mais abertas a aceitarem
alternativas a democracia, sobretudo as autoritárias. Nos Estados Unidos, entre os jovens de 18
a 24 anos, o apoio a um governo militar era de 24% em 2011, percentual que cresce desde
1995. O descontentamento dos cidadãos a democracia como um todo favorece o surgimento
de populistas e novos partidos que atentam as regras do jogo, tanto as oficiais quanto as
implícitas. De modo geral, os novos líderes populistas emergem com o discurso anti-
establishment, já que reúne os anseios da população em discursos simplistas e com respostas
fáceis.

Caminhando para a parte dois da obra, o autor explica as possíveis causas sobre o
declínio da democracia. No quarto capítulo, disserta sobre a primeira delas, a ascensão das
mídias sociais, que, com o avanço da internet, mudaram a lógica das difusoras tradicionais de
informação e, agora, permitem a disseminação de notícias falsas e ideias extremistas. Diferente
da digitalização das mídias tradicionais, como os sites de jornais famosos, por exemplo o
“nytimes.com”, as mídias sociais, como Facebook e Twitter, revolucionaram a forma como
uma informação é circulada, já que, uma postagem por um anônimo pode viralizar dependendo
do conteúdo viral da mensagem. Por um lado, há um cenário otimista, alegando que com as
novas tecnologias seria possível que os cidadãos participassem ativamente da política,
mobilizando protestos, denunciando governos, monitorando eleições. Por outro lado, o
pessimismo, desde 2015, é mais forte que o otimismo, pois, salientou diferenças de pensamento
entre as pessoas e a opinião, agora, seria debatida apenas por meio do ódio. A campanha de
Trump, com predomínio das redes sociais, sobretudo o Twitter, fez com que o candidato
pudesse postar mentiras a todo momento e as viralizando, forçando até mesmo a mídia
tradicional, os canais de TV, a noticiarem os tweets, se não cairiam no esquecimento e
perderiam audiência.

Por fim, no último capítulo é debatido a segunda possível causa: estagnação econômica
global. Nas últimas décadas, o progresso econômico reduziu suas taxas e não mais se
assemelham a períodos do século passado. Junto disso, a desigualdade aumentou.
Consequentemente, o padrão de vida das pessoas estagnou, ou pior, piorou. A estagnação
acarretou o que o autor chama de “medo do futuro”. Ao contrário dos analistas da mídia
tradicional, Mounk explica que populistas não necessariamente conseguirá o voto dos mais
pobres, como no caso de Trump. Quando aprofunda os dados sobre os eleitores do republicano,
percebe que o perfil é diverso, por exemplo: diferente dos eleitores de Hillay Clinton, os
trumpistas tinham menos possibilidade de ter curso superior e assim, suas perspectivas
econômicas seriam frustradas com a modernização trazida pela globalização. Ou seja, a
apreensão econômica conta muito quando analisamos fenômenos populistas. O discurso que
explora o medo dos eleitores, aqui, o medo da sua realidade econômica futura, traz sucesso ao
populista e garante o voto desse eleitorado.

Você também pode gostar