Do Conselho Tutelar Texto
Do Conselho Tutelar Texto
Do Conselho Tutelar Texto
A criao do Conselho Tutelar foi uma das inovaes que o Estatuto da Criana e do Adolescente trouxe. E andou bem o legislador, idealizando uma gesto participativa da prpria comunidade, inclusive com a criao simultnea dos conselhos e fundos de direitos da criana e do adolescente. Antes, o legislador constituinte, acolhendo uma concepo moderna de defesa da criana e do adolescente, estabeleceu como princpios bsicos a participao popular e a municipalizao do atend imento queles. A Constituio da Repblica, no art. 227, 7, prev que "no atendimento dos direitos da criana e do adolescente levar-se- em considerao o disposto no art. 204", o qual assegura, dentre outras diretrizes, a "participao da populao, por meio de organizaes representativas, na formulao das polticas e no controle das aes em todos os nveis" (inc. II). Nas discusses do anteprojeto de lei que deu origem ao Estatuto, pensou-se na necessidade de um rgo popular que distribusse just ia social, clere e com um mnimo de formalidade, voltado a resolver, no prprio municpio, as questes relacionadas com violao dos direitos fundamentais das crianas e adolescentes. Verdadeira instncia administrativa, segundo Paulo Afonso Garrido de Paula [1], o rgo foi criado para zelar pelos direitos da criana e do adolescente. No existe como mera formalidade ou criao burocrtica, apenas para "empregar" pessoas e ser mais um rgo do aparelho estatal. Conquanto a sociedade e o prprio poder pb lico ainda teimem em no aceit-lo e isso implica acatar as decises, prover os meios de funcionamento, participar do processo de composio etc os conselhos tutelares so realidade. Chegaram para ficar e a esto, mesmo que ausentes em muitos municpi os. E a experincia tem mostrado que, mormente para seus principais destinatrios, o rgo muito tem feito e contribudo de maneira eficaz para a implementao dos direitos constitucionalmente garantidos.
Antes deles, as questes scio-jurdicas relacionadas a crianas e adolescentes desaguavam nas antigas varas de menores, que acumulavam funes diversas, como a de punir, acolher, encaminhar para uma famlia substituta, entre outras. O antigo "juiz de menores" assumia tarefas de juiz, de pai, de policial, de assistente social, em compasso com a ento vigente Doutrina da Situao Irregular, que tinha em mira crianas e adolescentes mendigos, abandonados, infratores, andarilhos e outros "menores" em "situao irregular". Como explica o Juiz de Direito Jud Jess de Bragana Soares, "O Conselho Tutelar no apenas uma experincia, mas uma imposio constitucional decorrente da forma de associao poltica adotada, que a Democracia participativa ("Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituio"), e no mais a Democracia meramente representativa de Constituies anteriores" [...]. E ainda: "O Estatuto, como lei tutelar especfica, concretiza, define e personifica, na instituio do Conselho Tutelar, o dever abstratamente imposto, na Constituio Federal, sociedade (CF, art. 227). O Conselho deve ser, como mandatrio da sociedade, o brao forte que zelar pelos direitos da criana e do adolescente" [2]. E sobre as atribuies desse magnfco instrumento de proteo criana e ao adolescente que se discorrer neste texto, abordando -se, em sntese, o Ttulo V da Lei Federal n 8.069/90 (Estatuto da Criana e do Adolescente), alm de outras disposies correlatas.
Das atribuies
O artigo 136 do Estatuto da Criana e do Adolescente enumera as atribuies do Conselho Tutelar. So funes de carter administrativo e scio assistenciais, no se impregnando de juridicidade, conquanto o rgo deva se ater ao princpio da legalidade.
O Conselho Tutelar exerce uma parcela do Poder Pblico, conforme disposto no art. 1, par. n., da Constituio Federal, poder este no jurisdicional (cf. art. 131, ECA). Ele pode promover a execuo de suas decises, requisitar servios pblicos, representar ao juiz em caso de desobedincia injustificada e, inclusive, assessorar o Poder Executivo na elaborao de proposta oramentria no tocante ao atendimento dos direitos da criana e do adolescente. Passo aqui a analisar as inmeras atribuies dispostas no art. 136 do ECA. I - atender as crianas e adolescentes nas hipteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII ; Trata-se da competncia para aplicao de medidas protetivas crianas e adolescentes quando ocorrer violao por ao ou omisso da sociedade ou do Estado, por falta, omisso ou abuso dos pais ou responsvel e em razo da conduta da criana ou do adolescente (art. 98, ECA). No caso de ato infracional praticado por adolescente, a competncia para aplicao de medida scio-educativa do Juzo da Infncia e da Juventude (148, I, ECA), ao passo que em se tratando de ato infracional cometido por criana, cabero apenas medidas protetivas, a cargo do Conselho Tutelar (art. 105, ECA). O Conselho Tutelar poder aplicar as seguintes medidas, sem prejuzo de outras (art. 101, ECA): I. encaminhamento aos pais ou responsvel, mediante termo de responsabilidade; II. orientao, apoio e acompanhamento temporrios; III. matrcula e freqncia obrigatrias em estabelecim ento de ensino fundamental; IV. incluso em programa comunitrio ou oficial de auxlio famlia, criana ou adolescente; V. requisio de tratamento mdico, psicolgico ou psiquitrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI. incluso em programa oficial ou comunitrio de auxlio, orientao e tratamento alcolatras e toxicmanos; e VII. abrigo em entidade.
Sobre o tema: "AGRAVO DE INSTRUMENTO Nulidade inocorrente Medida tomada pelo Conselho Tutelar, em carter preventivo Retirada de recm-nascido do convvio materno, nos estritos limites previstos na lei Aplicao do artigo 101, VII do Estatuto da Criana e do Adolescente Improvimento dos agravos" [3]. II - atender e aconselhar os pais ou responsvel, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII ; Tais medidas so: I - encaminhamento a programa oficial ou comunitrio de proteo famlia; II - incluso em programa oficial ou comunitrio de auxlio, orientao e tratamento a alcolatras e toxicmanos; III encaminhamento a tratamento psicolgico ou psiquitrico; IV encaminhamento a cursos ou programas de orientao; V - obrigao de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqncia e aproveitamento escolar; VI - obrigao de encaminhar a criana ou adolescente a tratamento especializado; VII advertncia. Aqui, "a atribuio do Conselho Tutelar de realizar um trabalho educativo de atendimento, ajuda e aconselhamento aos pais ou responsvel, a fim de superarem as dificuldades materiais, morais e psicolgicas em que eles se encontram, de forma a propiciar um ambiente saudvel para as crianas e os adolescentes que devem permanecer com eles, tendo em vista ser justamente em companhia dos pais ou responsvel que tero condies de se desenvolver de forma mais completa e harmoniosa" [4]. III - promover a execuo de suas decises, podendo para tanto: a) requisitar servios pblicos nas reas de sade, educao, servio social, previdncia, trabalho e segurana ; As situaes previstas no presente inciso deixam latente a variada gana de funes que possui o Conselho Tutelar. Atualmente, ele o primeiro rgo pblico procurado pelas pessoas (pais, crianas e adolescentes, servidores pblicos, entidades etc) quando se trata de violao a direitos de
crianas e adolescentes, mesmo quando tais violaes caracterizem ilcito penal. E justamente para bem exercer tais funes e cumprir seu papel que o Conselho Tutelar foi provido, pela lei, de ferramentas hbeis e mecan ismos capazes de emprestar fora para o alcance de sua finalidade. Na primeira situao, se v que o rgo pode requisitar inmeros servios. No caso da sade, pode requisitar o atendimento urgente de uma criana, cuja consulta ou exames necessrios estejam sendo protelados por alegada "falta de vaga", cabendo a "requisio de tratamento mdico, psicolgico ou psiquitrico, em regime hospitalar ou ambulatorial" (art. 101, V). No tocante educao, conhecidssima a ao do rgo em requisitar vagas em escolas ou creches, at mesmo para cumprir a medida de matrcula e freqncia obrigatrias em estabelecimento oficial de ensino fundamental" (art. 101, III). Pode requisitar a incluso de criana e adolescente em programa assistencial e de incluso, bem como atuar junto ao INSS no sentido de ver concedido benefcio assistencial criana deficiente, cujos genitores esto encontrando obstculo ao deferimento. No campo do trabalho e segurana, p. ex., pode exigir do Ministrio do Trabalho que fiscalize empresas que submetem adolescentes a trabalhos penosos, insalubres ou de reconhecida periculosidade, ou em desacordo com a idade mnima fixada pelo art. 7, XXXIII, da Constituio Federal. O Estatuto usa o termo requisitar, que significa ordenar, "exigir legalmente" (ELIAS, 1994, p. 116). No pede, apenas. Est explcito, portanto, o poder do rgo e a obrigao do destinatrio da requisio em atend -la, salvo justo motivo a ser verificado no caso concreto. Caso houve, no municpio de Junqueirpolis, que o Conselh o Tutelar requisitou vaga em escola pblica para dois alunos na 5 srie do ensino fundamental e o responsvel pela escola se negou a atender alegando falta de vagas. Levado o caso ao Ministrio Pblico, este constatou que, na poca, haviam vagas, e determ inou a instaurao de inqurito para apurar ilcito penal e procedimento para apurar infrao administrativa.
"Com efeito, o Conselho Tutelar no executa suas decises, mas promove, indica, determina que suas deliberaes sejam cumpridas pelas entidades governamentais e no -governamentais que prestam servios de atendimento criana, ao adolescente, s famlias e comunidade em geral, caracterizados pela essncia da assistncia social, nas diversas reas" [5]. b) representar junto autoridade judiciria nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberaes; Essa representao pode ser aquela que dar in cio a procedimento para apurar a infrao administrativa do art. 249 [6] do ECA, conforme disposto no art. 194 [7] do estatuto. Rose Mary de Carvalho lembra: "Uma coisa certa: as decises do Conselho Tutelar postas a servio dos interesses da criana e do adolescente no podem ficar no papel, como letra morta, pois, havendo descumprimento injustificado de suas deliberaes, pode o Conselho Tutelar representar junto autoridade judiciria, para fazer com que suas decises sejam respeitadas" [8]. IV - encaminhar ao Ministrio Pblico notcia de fato que constitua infrao administrativa ou penal contra os direitos da criana ou adolescente ; "O Conselho, de posse de informaes da existncia de infraes administrativa ou penal contra os direitos da criana e do adolescente, deve dar cincia do fato ao Ministrio Pblico, para que sejam tomadas as providncias cabveis" [9]. A comunicao de fato caracterizador de infrao penal plenamente justificada, por fora do poder -dever do Ministrio Pblico de requ isitar a instaurao de inqurito policial (art. 5, II, CPP). E de posse das peas de informao enviadas pelo Conselho Tutelar, poder, se for o caso, oferecer denncia desde j. Entretanto, no que tange s infraes administrativas, s cabe a remessa ao Ministrio Pblico quando o Conselho Tutelar entender que
devero ser realizadas novas diligncias a cargo do Parquet. Caso contrrio, cabe a representao direta ao Juzo da Infncia e da Juventude, pois o procedimento para apurao de infrao administr ativa, a teor do art. 194 do ECA, se inicia tambm por representao do Conselho. Colhe-se da jurisprudncia do TJSP: "REPRESENTAO - Conselho Tutelar - Legitimidade de parte - Medida tendente a apurar infrao administrativa cometida por genitor, por ale gado abandono material e moral de seu filho - Artigo 194 do Estatuto da Criana e do Adolescente - Recurso provido" [10]. V - encaminhar autoridade judiciria os casos de sua competncia ; Os artigos 148 e 149 do ECA dispem sobre a competncia da Justia da Infncia e da Juventude. No exerccio de suas funes, os conselheiros tutelares se deparam com situaes que fogem de sua alada, notadamente quando se percebe o carter litigioso do problema. Situao comum da criana que no tem registro de nascim ento. O Conselho resolve outras questes de sua competncia, como a aplicao de medida protetiva, e encaminha o caso ao Juzo competente para que, por meio do procedimento adequado, determine a lavratura do assento. VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciria, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional ; O dispositivo contempla a aplicao de medida protetiva, pelo Conselho Tutelar, aos adolescentes autores de ato infracional, porventura encaminhados pelo Juzo da Infncia e da Juventude. As medidas so: I. encaminhamento aos pais ou responsvel, mediante termo de responsabilidade; II. orientao, apoio e acompanhamento temporrios; III. matrcula e freqncia obrigatrias em estabelecimento de ensino fundamental; IV. incluso em programa comunitrio ou oficial de auxlio famlia, criana ou adolescente; V. requisio de tratamento mdico, psicolgico ou
psiquitrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI. incluso em programa oficial ou comunitrio de auxlio, orientao e tratamento alcolatras e toxicmanos. VII - expedir notificaes ; Eis uma poderosa ferramenta de que dispe o Conselho Tutelar para bem exercer suas funes. Evidente que, para atendimento dos inmeros casos que lhe so apresentados, dever convocar pais, adolescentes, servidores pblicos, responsveis por entidades. Poder notific -los a comparecer em sua sede, bem ainda a adotar providncias para efetivao de direitos de crianas e adolescentes ou mesmo para cess ar violao a tais direitos. A notificao tambm poder ser utilizada para cientificar os destinatrios e beneficirios das medidas aplicadas. Pode -se notificar o diretor de escola acerca da determinao de matrcula de criana ou os pais dessa criana para que cumpram a medida aplicada, zelando pela freqncia do filho escola. Observam Wilson Donizeti Liberati e Pblio Caio Bessa Cyrino que "a notificao poder ser feita de maneira muito simples, em forma de correspondncia oficial, em impresso prprio , com o timbre do Conselho, desde que contenha, claramente, o objetivo a ser atendido" [11]. Roberto Elias, por seu turno, assevera: "A expedio de notificaes, ao que nos parece, deve ser no s com relao aos pais e responsveis, para que apresentem seus filhos ou tutelados para serem ouvidos, mas, tambm, em certos casos, s entidades que atendem menores, na cobrana de alguma providncia com respeito a menores, por fora de medidas que foram aplicadas. Percebe-se, claramente, que o legislador quis da r ao Conselho foras para que realmente possa atuar em prol da criana e do adolescente. Cabe aos seus membros, com sabedoria, utilizar aquilo que lhes confere o Estatuto, sem em proveito nico do menor, sujeito prevalecente de direitos" [12].
VIII - requisitar certides de nascimento e de bito de criana ou adolescente quando necessrio; O Conselho Tutelar pode requisitar dos cartrios de registro civil das pessoas naturais certides de nascimento e de bito, que devero ser fornecidas gratuitamente, em qualquer hiptese. Trata -se de medida adequada para corrigir a falta do documento, situao mais comum do que possa parecer. Inmeras crianas e adolescentes encontram dificuldades para o exerccio de direitos bsicos apenas porque no ostentam a certido de nascimento e, na maioria das vezes, seus responsveis no tm condies de pagar pela segunda via ou de ir at o cartrio de origem, muitas vezes em municpios distantes daqueles em que residem. Mesmo com as facilidades da vida moderna (v.g. Cartrio 24 horas, internet), a atuao do Conselho Tutelar, nesse ponto, supre a falta do documento para crianas e adolescentes de famlias simples e desprovidas de recursos. Como explica Rose Mary Carvalho, nesse inciso "est conferida ao Conselho Tutelar a atribuio de requisitar, quando necessrio, certides de nascimento e de bito, tendo em vista facilitar o desempenho de suas atribuies em defesa dos interesses da criana e do adolescente, assim como fazer valer o direito fundamental do indivduo de ter sua certido de nascimento, j que o registro civil de nascimento um direito no muito respeitado em nosso pas" [13]. Tais documentos sero expedidos independentemente do pagamento de custas e emolumentos. Em outras palavras, a requisio ser atendida gratuitamente e, eventual negativa do cartorrio, importar na aplicao de penalidade administrativa, sem prejuzo de apurao de ilcito penal. Sobre a gratuidade, in casu, j se pronunciou o Colendo Superior Tribunal de Justia: "Recurso ordinrio. Mandado de segurana. criana e adolescente. Regularizao de registro. Iseno de pagamento. Lei n 8.069/90. Provimento do Corregedor-Geral de Justia do Rio Grande do Sul. Legalidade. 1.
Provimento do Corregedor-Geral de Justia do Rio Grande do Sul que, " ex vi " do art. 102, da lei 8.069/90, isentou de custas, emolumentos e multa o fornecimento de certides de nascimento e bito para regularizao do registro de crianas e adolescentes, no ilegal nem abusivo. 2. Os servios de registro, exercidos em carter privado, subordinam-se natureza pblica da sua prestao, sujeitando -se s regras de fiscalizao e providncias corregedoras do poder concedente desses servios. 3. As requisies de
certides pelos conselhos tutelares so isentas de pagamento ,
competindo ao Corregedor-Geral de Justia editar provimento a esse respeito. 4. Recurso ordinrio conhecido e improvido" [14]. O art. 102 do ECA prev que as medidas protetivas aludidas no art. 101 (da competncia do Conselho Tutelar) sero acompanhadas da regularizao do registro civil. Sempre que o conselheiro tutelar constatar que uma criana ou adolescente no possui registro de nascimento (que no se confunde com a certido de nascimento), dever encaminhar o caso ao Juzo da Infncia e da Juventude, a quem compete requisitar o registro (art. 102, 1, ECA). Dessa forma, no cabe ao Conselho determinar a lavratura de assento de nascimento. Ele apenas requisita certides de nascimento ou bito. IX - assessorar o Poder Executivo local na elaborao da proposta oramentria para planos e programas de atendimento dos direitos da criana e do adolescente ; Essa atribuio evidencia a relevncia do Conselho Tutelar no que concerne s polticas pblicas voltadas aos interesses de crianas e adolescentes. Afinal, saindo os conselheiros tutelares do seio da comunidade, eles bem sabero as necessidades locais e renem condies para sugerir as prioridades e definir os programas que melhor atendam os anseios e problemas de seu meio. Compete ao Poder Executivo municipal propor o oramento e submet lo Cmara de Vereadores, obrigatoriamente prevendo recursos para "planos e programas de atendimento dos direitos da criana e do adolescente" e, segundo Edson Seda, "para essa propositura, o Executivo deve se assessorar
dos Conselhos Tutelares, os quais, recebendo reclamaes e denncias sobre a no-oferta ou a oferta irregular de servios pblicos obrigatrios, tem condies de informar ao Executivo onde o desvio entre os fatos e a norma vem ocorrendo com freqncia" [15]. Paulo Afonso Garrido de Paula, por sua vez, obtempera: "Como o Conselho Tutelar atende a casos individuais, via de regra dependentes de assistncia social, fazendo encaminhamentos para programas ou servios destinados a crianas e adolescentes lesados ou ameaados de leso aos seus direitos fundamentais, acaba, em razo de suas funes, detendo conhecimentos referentes s demandas e necessidades pblicas na rea de infncia e juventude. Desta forma, tem o dever de influir na elaborao da proposta oramentria, sugerindo ao Poder Executivo, inclusive atravs do Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente, a es que permitam a universalizao do atendimento queles que dele necessitem" [16]. X - representar, em nome da pessoa e da famlia, contra a violao dos direitos previstos no art. 220, 3, inciso II, da Constituio Federal ; O artigo 220 da Constituio Federal dispe que "a manifestao do pensamento, a criao, a expresso e a informao, sob qualquer forma, processo ou veculo no sofrero qualquer restrio, observado o disposto nesta Constituio". E no pargrafo 3 desse mesmo artigo, fixa a compe tncia de lei federal para "estabelecer os meios legais que garantam pessoa e famlia a possibilidade de se defenderem de programas ou programaes de rdio e televiso que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, prticas e servios que possam ser nocivos sade e ao meio ambiente" (inc. II). O mencionado art. 221 dispe que a produo e a programao das emissoras de rdio e televiso atendero princpios da [I] preferncia a finalidades educativas, artsticas, culturais e informativas; [II] promoo da cultura nacional e regional e estmulo produo independente que objetive sua divulgao; [III] regionalizao da produo cultural, artstica e jornalstica,
conforme percentuais estabelecidos em lei; e [IV] respeito ao s valores ticos e sociais da pessoa e da famlia. O Estatuto da Criana e do Adolescente, no art. 74, estabelece: "O Poder Pblico, atravs do rgo competente, regular as diverses e espetculos pblicos, informando sobre a natureza deles, as faixas et rias a que no se recomendem, locais e horrios em que sua apresentao se mostre inadequada". A regulamentao a respeito feita pelo Ministrio da Justia. Eventual violao a essas regras caracteriza a infrao administrativa do art. 254 do Estatuto, in verbis: "Transmitir, atravs de rdio ou televiso, espetculo em horrio diverso do autorizado, ou sem aviso de sua classificao". Verificando tal situao, o Conselho Tutelar deve representar ao Juzo competente para as providncias pertinentes. XI - representar ao Ministrio Pblico, para efeito das aes de perda ou suspenso do ptrio poder . Enquanto menores, os filhos esto sujeitos ao poder familiar (art. 1630, Cdigo Civil). Cabe a suspenso desse poder se o pai ou a me abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos (art. 1637, CC), se qualquer deles for condenado por sentena irrecorrvel por crime, pena superior a 2 anos de priso (art. 1637, par. n., CC). A reiterao nessas faltas poder ocasionar a perda do poder familiar, o mesmo ocorrendo se o pai ou me castigarem imoderadamente ou deixar o filho em abandono e praticarem atos contrrios moral e aos bons costumes (art. 1638, CC). Tambm importa na perda ou suspenso do poder familiar o descumprimento injustificado dos deveres de sustento, guarda e educao dos filhos menores (art. 24, ECA). Dos abusos cometidos pelos pais contra os filhos menores, o Conselho Tutelar geralmente a primeira instituio a tomar conhecimento. Alm das providncias de seu cargo (aplicao de medidas protetivas, tratamento, abrigamentoetc), dever, em sendo o caso, remeter relatrio circunstanciado
ao Ministrio Pblico, que detm competncia para requerer judicialmente a suspenso ou perda do poder familiar ( arts. 155 e 201, III, ECA). O art. 95 do Estatuto da Criana e do Adolescente confere ao Conselho Tutelar competncia (concorrente com o Poder Judicirio e Ministrio Pblico) para fiscalizar entidades governamentais e no -governamentais responsveis pela execuo de programas de proteo e scio -educativos destinados a crianas e adolescentes, em regime de orientao e apoio scio -familiar, apoio scio-educativo em meio aberto, colocao familiar, abrigo, liberdade assistida, semi-liberdade e internao (cf. art. 90, ECA). Para o exerccio dessa atribuio, o Estatuto determina que o Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente comunique o Conselho Tutelar sobre as entidades registradas e eventuais alteraes (art. 90, par. n.). Verificando irregularidades, o Conselho Tutelar dever representar autoridade judiciria, nos termos do art. 191, para apurao dos fatos e imposio de penalidade. sempre oportuno lembrar, com arrimo em Wanderlino Nogueira Neto, que "[...] os Conselhos Tutelares podem e devem fazer o que o Estatuto e a lei municipal de criao autorizarem. No podem agir segundo o desejo dos seus integrantes ou dos demais operadores do sistema de garantia de direitos. E, principalmente, no podem atuar para suprir ausncias, falta s, omisses de outros rgos, como por exemplo de Vara do Poder Judicial, de rgo do Ministrio Pblico, de Delegacia de Polcia, de Secretaria Municipal de Ao Social, de Entidades governamentais e no governamentais de proteo especial ou de socioeducaoetc" [17]. Pertinente, sobre o tema, explicao de Wilson Donizeti Liberati e Pblio Caio Bessa Cyrino: "A fiscalizao realizada pelos membros do Conselho Tutelar no poder limitar -se simples verificao da pedagogia do atendimento. Dever, tambm, ser observadas a parte fsica do estabelecimento, suas reparties, as condies de higiene e de sade. Isso se
torna imprescindvel quando se trata de entidade de atendimento que adote o regime de abrigo ou internao [18].