Rendimento Adequado em Portugal Quanto É Necessário para Uma Pessoa Viver Com Dignidade em Portugal?
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Rendimento Adequado
em Portugal
Quanto é necessário para uma pessoa viver
com dignidade em Portugal?
Universidade de Lisboa
ISEG, Instituto Superior de Economia e Gestão
GHES (Gabinete de História Económica e Social)
UECE (Unidade de Estudos para a Complexidade e Economia)
ISCSP, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
CAPP (Centro de Administração e Políticas Públicas)
Três concelhos
2ª Grupos de Tarefa (GT) Determinação do cabaz de bens e serviços
Etapa 10 grupos, 61 participantes para diferentes tipos individuais. Três tipos individuais
Vila Nova de Gaia Vila Franca de Xira Beja
3ª Equipa de investigação Cálculo do custo dos bens e serviços, Figura 3 - Primeira etapa: Grupos de Orientação (GO)
Etapa (construção dos orçamentos consulta de peritos e verificação
individuais) de cabazes básicos. “... o mínimo Em todos os Grupos de Orientação os participantes concordaram que o mí-
para viver com nimo para viver com dignidade na atualidade em Portugal está acima de um
nível mínimo de subsistência. Além dos aspetos diretamente associados à ne-
Revisão e verificação das listas de bens dignidade na
4ª Grupos de Verificação (GV) cessidade de garantir esse mínimo, foram consensualmente incluídos aspetos
e serviços e decisões sobre economias atualidade em associados às necessidades de segurança, de afeição, de compreensão, de lazer,
Etapa 5 grupos, 36 participantes
de escala. Portugal está de liberdade, de identidade e de participação.
acima de um Foi ainda realizado um workshop, em fevereiro de 2013, com nove peritos,
nível mínimo de sobretudo investigadores portugueses de outras instituições, com o objetivo de
5ª Equipa de investigação subsistência ...” partilhar e debater os resultados alcançados nos Grupos de Orientação.
Elaboração dos padrões orçamentais para
Etapa (construção dos orçamentos
diferentes tipos de agregados.
familiares) A equipa de investigação elaborou a seguinte definição, que orientou
os focus groups nas etapas subsequentes:
Um concelho
Vila Franca de Xira
Vila Franca de Xira
Figura 4 - Segunda etapa: Grupos de Tarefa (GT) Figura 5 – Quarta Etapa: Grupos de Verificação (GV)
absorvem em média 51% da despesa total, e, no caso do casal, 48% da despesa total. Total 1335 1745 2212 1762
Globalmente, o ponderador de necessidades relativas para o 2º indivíduo é de 0,59. Trata-se de um valor
intermédio entre a escala de equivalência da OCDE (0,7) e a escala de equivalência da OCDE modificada (0,5).
Os valores estimados correspondem a 74% e 71% da despesa média observada no IDEF 2010/11 respe-
tivamente para o caso de um indivíduo só com 65 ou mais anos e para o caso de um casal, ambos com “Em todos os orçamentos familares
65 ou mais anos. de referência, as despesas mais
elevadas estão associadas
Os orçamentos familiares de referência para os casos de indivíduos em idade ativa sem filhos a residir à alimentação e à habitação”
consigo são apresentados na tabela 2.
Itens de despesa
Individuo só Casal Tabela 2 - Orçamento familiar de referência
(média)
para os indivíduos em idade ativa sem filhos As despesas mais elevadas estão também associadas à alimentação e à habitação (incluindo a ren-
Alimentação 177 360
Bebidas Alcoólicas 6 11 a residir consigo, despesa mensal em euros
Vestuário e Calçado 39 77 em 2014. da e o abastecimento de água e energia), absorvendo entre 41%, (para a família com dois filhos) e
Rendas de Habitação 138 138
Abastecimento de Água, Saneamento e Resíduos Sólidos e Energia 78 102 44% (para a família com um filho maior de idade) da despesa total.
Nota: Valores arredondados à unidade. Os valores
Mobiliário, Artigos, Utensílios e Equipamentos Domésticos
Produtos e Serviços Domésticos para Manutenção Corrente da Habitação
32
6
32
6 apresentados para o indivíduo só resultam da Considerando como base os indivíduos em idade ativa sem filhos, no caso dos casais, o pondera-
Produtos de Higiene
Produtos e Serviços de Estética e Cuidado Pessoal
11
18
18
30
média dos valores estimados para os indivíduos do dor para o primeiro filho é de 0,63 no caso do filho com 12 anos e de 0,65 no caso da filha com 26
sexo masculino e do sexo feminino.
Artigos de Uso Pessoal 2 5 anos*. Isto significa que os filhos (independentemente de serem adultos ou não) têm associados
Saúde 18 34
Transportes 76 151 ponderadores apenas ligeiramente inferiores aos de um segundo adulto. No casal com 2 filhos, a
Comunicações 19 39
Lazer, Desporto e Cultura (excluindo férias e ocasiões especiais) 39 73 segunda filha, com 2 anos tem associado um ponderador que varia muito com a inclusão/exclusão
Férias e Ocasiões Especiais 53 84
Educação (excluindo creches e infantários) 0 0 do valor da creche (0,61 e 0,46 respetivamente). Globalmente, os resultados sugerem economias
Creches e Infantários 0 0
Outros e reserva para despesas pontuais e/ou inesperadas 51 101
de escala com o nascimento de um segundo filho (ou seja, o ponderador de necessidades relativas
Total 762 1262
do segundo filho é inferior à do primeiro). De uma forma geral, para os filhos menores de idade
os ponderadores de necessidades relativas são superiores aos utilizados na Escala de Equivalência
As despesas mais elevadas estão novamente associadas à alimentação e à habitação (incluindo a renda da OCDE (0,5) e em todos os casos superiores aos utilizados na Escala de Equivalência Modificada
e o abastecimento de água e energia). No caso do indivíduo só, as despesas com alimentação e habitação da OCDE (0,3).
absorvem em média 51% da despesa total, e, no caso do casal, 48% da despesa total. Os valores estimados variam entre 77% e 95% da despesa média observada no IDEF 2010/11,
Globalmente, o ponderador de necessidades relativas para o 2º indivíduo adulto é de 0,66. Trata-se de respetivamente para o casal com um filho maior de idade e para o caso de uma família monoparental
um valor próximo, mas inferior à escala de equivalência da OCDE (0,7) e superior ao da escala de equiva- com um filho.
lência da OCDE modificada (0,5).
Os valores estimados correspondem a 63% e 70% da despesa média observada no IDEF 2010/11 respe-
* Para o caso da filha com 2 anos (dados não apresentados), o fator de escala varia muito com a inclusão/exclusão
tivamente para o caso de um indivíduo só e para o caso de um casal. do valor da creche (0,70 e 0,53 respetivamente).
Indivíduo só Casal Estes montantes são valores líquidos de impostos diretos e incluem as despesas de habitação e as despe-
Valor Em % Valor Em % sas com creches e infantários (quando relevantes).
(em €) RAP (em €) RAP
Salário mínimo (líquido das contribuições para a
segurança social) + Benefícios em espécie
578 74% 1157 89% Os valores RAP e o limiar oficial de pobreza Os valores RAP e as medidas de política de ga-
Valor mínimo do subsídio de desemprego + Benefícios
433 63% 848 77%
De uma forma geral, os valores estimados para rantia de rendimentos mínimos
em espécie
Rendimento social de inserção + Benefícios em espécie
2014 são superiores ao valor do limiar oficial de Os valores RAP estimados, atualizados para abril
200 29% 331 30%
pobreza utilizado para observar a Pobreza em Por- de 2017, são superiores aos valores mínimos implí-
Nota: Valores arredondados à unidade. tugal (que corresponde, de acordo com o critério citos nas medidas de política de garantia de rendi-
EUROSTAT, a 60% do rendimento monetário líqui- mentos mínimos. Apenas nos casos de um casal de
Para os agregados com filhos (tabela 7), também se verifica que os valores míni- do mediano observado nesse ano). Estes resulta- pensionistas, ambos com mais de 30 anos de contri-
mos garantidos se encontram aquém do necessário. Por exemplo, num casal com dos sugerem que o uso deste limiar de pobreza buições para a segurança social, no casal de indiví-
um filho, se ambos os adultos receberem o salário mínimo, o valor mínimo garanti- subestima a medição da incidência da pobreza em duos em idade ativa sem filhos, ambos empregados
do corresponde a 67% do rendimento adequado, tal como estimado neste estudo. Portugal, se considerarmos, como referência para e a receber o salario mínimo, e no casal de indiví-
O rendimento adequado é quase alcançado no caso do casal com uma filha de 26 este cálculo, o valor de rendimento necessário para duos em idade ativa com uma filha maior de idade,
anos, assumindo-se que todos trabalham e recebem o salário mínimo. obter um nível de vida digno. os três empregados e a receber o salário mínimo, se
observa uma aproximação ao rendimento adequa-
Tabela 7 – Rendimentos mínimos mensalizados, em euros, para os agregados com filhos (2017)
Os orçamentos RAP e as escalas de equivalência do para a respetiva morfologia familiar. Acresce que
Casal com um
Monoparental Casal com Casal com Os resultados da análise dos orçamentos RAP para os casos de agregados com filhos menores de
com um filho de dois filhos de 12 zuma filha de
filho de 12 anos
12 anos e 2 anos 26 anos
para diferentes configurações familiares são in- idade, o abono de família e os eventuais benefícios
Valor % RAP Valor % RAP Valor % RAP Valor % RAP dicativos da existência de menores economias em espécie, conjugados com o salário mínimo dos
Salário mínimo (líquido das de escala do que as implícitas na escala de equi- indivíduos em idade ativa, estão muito aquém do
contribuições para a
segurança social) + Abono 1206 67% 653 48% 1372 60% 1735 96% valência da OCDE modificada (que atribui uma valor estimado RAP.
de família (se aplicável) +
ponderação de 0,5 ao segundo adulto), utiliza- Globalmente, do ponto de vista das políticas pú-
Benefícios em espécie
Valor mínimo do subsídio da quer para observar a pobreza quer nalgumas blicas, considera-se que estes resultados poderão
de desemprego + Abono
de família (se aplicável) +
1001 60% 573 43% 1176 55% 1273 78% medidas específicas de política. Além disso, de ser utilizados para equacionar alterações nos va-
Benefícios em espécie acordo com estes resultados, em termos de ren- lores mínimos garantidos por diferentes medidas
Rendimento social de
inserção + Abono de dimento necessário, as necessidades relativas de de política e para diferentes configurações familia-
543 33% 389 29% 835 39% 524 32%
família (se aplicável) + uma criança menor de idade aproximam-se, no res, de acordo com as prioridades políticas legíti-
Benefícios em espécie
contexto social atual, das necessidades relativas mas estabelecidas. Estas alterações podem incidir
Nota: Valores arredondados à unidade. de um segundo adulto no agregado familiar. Isto nos valores monetários garantidos, nas escalas de
sugere um desajustamento das escalas de equi- equivalência utilizadas, nos escalões de rendimento
Finalmente, importa comparar globalmente os valores RAP com o mínimo de exis- valência utilizadas na observação da pobreza, considerados (no abono de família, na ação social
tência previsto no Código do IRS que estabelece um limite à cobrança de impostos. distorcendo o perfil da população em situação de escolar, no IRS), nos limiares de insuficiência econó-
Para todos os casos de agregados com filhos menores de idade e para o caso de um pobreza e subestimando em particular o cálculo mica associados a diferentes benefícios em espécie,
indivíduo em idade ativa a residir só, esse mínimo é inferior ao rendimento adequado. da pobreza infantil em Portugal. entre outros.
A equipa agradece a todas as instituições, públicas e privadas, que possibilitaram, nos concelhos de Beja,
de Vila Nova de Gaia, de Vinhais, de Lisboa (freguesia da Estrela) e, de forma especial, de Vila Franca
de Xira (onde a maior parte do trabalho de campo foi realizado) toda a colaboração e apoio obtidos na
realização deste estudo, nas várias etapas que foram seguidas ao longo deste projeto de investigação.
Um agradecimento muito especial às dezenas de participantes que, de forma voluntária, com grande sen-
tido cívico e enorme simpatia, compreenderam a importância deste estudo e aceitaram colaborar, despen-
dendo muitas horas que retiraram do seu tempo de lazer. Foram estas pessoas as que melhor compreende-
ram a importância do que “as pessoas pensam” como peça metodológica fundamental do nosso estudo.
Entidades Participantes
Financiamento