Rendimento Adequado em Portugal Quanto É Necessário para Uma Pessoa Viver Com Dignidade em Portugal?

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Rendimento Adequado em Portugal Quanto é necessário para uma pessoa


viver com dignidade em Portugal?

Research · July 2017


DOI: 10.13140/RG.2.2.33186.73924

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6 authors, including:

Jose Pereirinha E. Pereira


University of Lisbon University of Lisbon
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Francisco Branco Maria Inês Amaro


Universidade Católica Portuguesa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
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01 junho 2017

Rendimento Adequado
em Portugal
Quanto é necessário para uma pessoa viver
com dignidade em Portugal?

José Pereirinha (coordenador) | Elvira Pereira | Francisco Branco


Inês Amaro| Dália Costa | Francisco Nunes

Universidade de Lisboa
ISEG, Instituto Superior de Economia e Gestão
GHES (Gabinete de História Económica e Social)
UECE (Unidade de Estudos para a Complexidade e Economia)
ISCSP, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
CAPP (Centro de Administração e Políticas Públicas)

Universidade Católica Portuguesa


Faculdade de Ciências Humanas
CESSS (Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia)

EAPN, Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal

Projeto PTDC/CS-SOC/123093/2010 Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia


O projeto Rendimento Índice pág. Metodologia do estudo
Adequado em Portugal (RAP) Este projeto de investigação combinou o método consensual dos padrões
orçamentais (“o que as pessoas pensam”) com a abordagem normativa de
O projeto Rendimento Adequado 2
A noção de “adequação do rendimento” reme- peritos (“a opinião de peritos”) para estimar níveis de rendimento adequado
em Portugal (RAP)
te para a identificação de valores de recursos con- em Portugal, para diferentes tipos de família, replicando, com algumas adap-
siderados suficientes para possibilitar um nível de tações, o método de determinação de um rendimento mínimo padrão (MIS
vida digno, para diferentes tipos de família, numa Metodologia do estudo 3 - “Minimum Income Standard”) no Reino Unido.
dada sociedade. Um certo nível de rendimento é Estas estimativas assentam no cálculo da despesa necessária para garantir
considerado adequado, nessa sociedade, se permi- Padrão de Vida Digno em Portugal: 5 um padrão de vida digno na atualidade, a partir da construção de orçamen-
tir atingir esse nível de vida. o que é? tos de referência para cada um desses tipos de família num concelho não
O conceito de “rendimento adequado” tem ga- atípico de Portugal Continental. A escolha recaiu sobre o concelho de Vila
nho relevância no debate europeu sobre política Construção dos orçamentos 6 Franca de Xira dadas as suas características geográficas, sociodemográficas e
social. Várias instâncias internacionais, e em par- familiares de referência económicas e também por razões de proximidade de Lisboa e apoio logístico
ticular Europeias, reconhecem o direito universal obtido para a realização do trabalho de campo.
a um nível adequado de recursos que permita um Determinação dos orçamentos: 9 A construção destes orçamentos de referência baseou-se em decisões to-
nível de vida digno, e a necessidade de um ren- algumas questões de método madas por focus groups, sobre os bens e serviços necessários, a quantidade,
dimento adequado ser garantido a todos os cida- a duração esperada e o local de aquisição dos mesmos, em informação técni-
dãos que tenham recursos insuficientes. Orçamentos familiares de referência 10 ca e científica solicitada a peritos nas áreas da nutrição, habitação, energia
Este projeto de investigação trouxe este assunto e saúde, nos preços dos bens observados nos locais de aquisição indicados, e
para o seio da Universidade em Portugal e preten- noutra informação compilada pela equipa de investigação, incluindo os pa-
RAP e a observação da pobreza 12
de contribuir para enriquecer este debate na so- drões de despesa e posse de bens duráveis observados em Portugal (Figura 1).
em Portugal
ciedade portuguesa, através de uma abordagem
científica, respondendo à seguinte questão: “qual
é o nível de rendimento que permite um nível de RAP e os rendimentos mínimos 13
vida digno em Portugal?” em Portugal
Apresenta-se neste documento uma resposta Focus Groups Conhecimento
Equipa
a esta pergunta, alcançada através da constru- Principais conclusões 15 científico e
com cidadãos de
técnico de
ção de orçamentos de referência para diferentes
comuns investigação peritos
tipos de família, segundo um método, já testa-
do noutros países, que combina o ponto de vis-
ta de cidadãos comuns com a opinião de peritos.
Os resultados obtidos têm grande relevância, quer
para a medição da pobreza, quer para a discus-
são da adequação das políticas públicas em Por- Padrões de despesa e
Outros inquéritos à
Observação dos posse de bens
tugal na realização do direito universal a um nível população (e.g. ICOR,
preços duráveis observados
Eurobarómetros)
adequado de recursos. O método utilizado e a sua (IDEF)
transparência permitirão mais facilmente alcançar
um acordo público relativamente a esses valores. Figura 1 – A construção dos orçamentos de referência: fontes de informação
Estes resultados podem ser utilizados como refe-
rência na conceção, fundamentação e avaliação de
diversas políticas públicas com impacto na obten- O recurso a focus group como elemento central do método assenta na ideia de “são as pessoas,
ção de um nível de vida digno em Portugal. que são as pessoas, pela sua experiência de vida quotidiana, que possuem pela sua
o melhor conhecimento sobre o que é necessário para viver com dignidade. experiência de vida
Assim, para identificar aquilo que constitui um padrão de vida digno e cons- quotidiana, que
truir os orçamentos familiares de referência, organizaram-se 31 focus groups,
possuem o melhor
envolvendo 212 participações, onde pessoas pertencendo à mesma morfologia
conhecimento sobre
familiar (indivíduos com 65 ou mais anos, indivíduos em idade ativa, com e sem
filhos a residir consigo), mas com características individuais diferentes (e.g. nível o que é necessário
educacional, nível subjetivo de suficiência económica, freguesia de residência), para viver com
pudessem partilhar opiniões entre si, refletir individualmente, debater em conjun- dignidade.”

2 | Rendimento Adequado em Portugal 3


to e obter consensos negociados. Cada um dos orçamentos familiares baseia-se “... organizaram-se Padrão de vida digno em Portugal: o que é?
assim em decisões tomadas em grupos constituídos por indivíduos pertencendo 31 focus groups,
à morfologia familiar respectiva. No funcionamento destes grupos, salientou-se a envolvendo 212 Para determinar o valor de rendimento que permite obter um nível de vida “...a consulta a
importância da participação de todos no debate e na tomada de decisões. participações...” digno é fundamental, em primeiro lugar, saber o que constitui um padrão de cidadãos comuns
O recrutamento dos participantes para os focus groups realizou-se através de vida digno, ou seja, saber quais são as necessidades que todas as pessoas de- procurou reflectir
três modalidades diferentes: on-line (disponibilização de uma ligação na página veriam poder satisfazer e de que ninguém deveria ser privado, na atualidade
diversidade
do projeto na internet e respetiva divulgação por e-mail), face-a-face (abordagem em Portugal. Este foi, assim, o objetivo da primeira fase do estudo - a Fase de
sociodemográfica
direta às pessoas em locais públicos) e drop-off (disponibilização de um painel Orientação. Designaram-se por Grupos de Orientação os focus groups cons-
informativo com uma urna, em diferentes instituições locais, na qual as pessoas tituídos com este objetivo.
e geográfica.”
poderiam depositar fichas de inscrição). Entre julho e novembro de 2012, organizaram-se assim 9 Grupos de Orienta-
Nas várias etapas que precederam e se seguiram à organização de cada um ção, um para cada um dos três tipos individuais considerados, em cada um dos
destes grupos (Figura 2), os investigadores da equipa compilaram e organizaram três concelhos seleccionados (Figura 3).
a informação necessária para orientar a discussão. A escolha dos 3 concelhos para esta etapa do estudo assentou numa análise
de indicadores sociodemográficos que permitiu, pela seleção feita, refletir di-
versidade entre o espaço urbano e rural, o Norte e o Sul do país.

Três tipos individuais


1ª Grupos de Orientação (GO) Operacionalização do conceito de nível de
Etapa 9 grupos, 68 participantes vida digno. Indivíduos com 65 ou Indivíduos em idade ativa
Três tipos individuais Indivíduos em idade ativa
(18 a 64 anos) sem filhos (18 a 64 anos) com filhos
mais anos
menores a residir consigo menores a residir consigo.

Três concelhos
2ª Grupos de Tarefa (GT) Determinação do cabaz de bens e serviços
Etapa 10 grupos, 61 participantes para diferentes tipos individuais. Três tipos individuais
Vila Nova de Gaia Vila Franca de Xira Beja

3ª Equipa de investigação Cálculo do custo dos bens e serviços, Figura 3 - Primeira etapa: Grupos de Orientação (GO)
Etapa (construção dos orçamentos consulta de peritos e verificação
individuais) de cabazes básicos. “... o mínimo Em todos os Grupos de Orientação os participantes concordaram que o mí-
para viver com nimo para viver com dignidade na atualidade em Portugal está acima de um
nível mínimo de subsistência. Além dos aspetos diretamente associados à ne-
Revisão e verificação das listas de bens dignidade na
4ª Grupos de Verificação (GV) cessidade de garantir esse mínimo, foram consensualmente incluídos aspetos
e serviços e decisões sobre economias atualidade em associados às necessidades de segurança, de afeição, de compreensão, de lazer,
Etapa 5 grupos, 36 participantes
de escala. Portugal está de liberdade, de identidade e de participação.
acima de um Foi ainda realizado um workshop, em fevereiro de 2013, com nove peritos,
nível mínimo de sobretudo investigadores portugueses de outras instituições, com o objetivo de
5ª Equipa de investigação subsistência ...” partilhar e debater os resultados alcançados nos Grupos de Orientação.
Elaboração dos padrões orçamentais para
Etapa (construção dos orçamentos
diferentes tipos de agregados.
familiares) A equipa de investigação elaborou a seguinte definição, que orientou
os focus groups nas etapas subsequentes:

6ª Grupos Finais (GF)


Etapa Finalização dos orçamentos de referência.
3 grupos, 24 participantes Padrão de Um padrão de vida digno na atualidade, em Portugal, inclui, para além
da alimentação, habitação e vestuário, tudo o que é necessário para
vida digno: uma pessoa poder ter saúde, sentir segurança, relacionar-se com os
O que pensam outros e sentir-se respeitada e integrada na sociedade. Permite realizar
7ª Grupos Geográficos (GG) Identificação de diferenças geográficas
cidadãos comuns escolhas livres e informadas sobre coisas práticas da vida e formas de
Etapa 4 grupos, 23 participantes relacionadas com a ruralidade. realização pessoal, nomeadamente no acesso à educação e ao trabalho,
à cultura e ao lazer.
Caixa 1 – Padrão de vida digno
Figura 2 – Etapas da investigação

4 | Rendimento Adequado em Portugal 5


Construção dos orçamentos Nesta etapa e nas subsequentes, foi pedido aos participantes que, tendo em
familiares de referência conta a definição de padrão de vida digno adotada (caixa 1), centrassem a sua
discussão naquilo que seria necessário para o alcançar (necessidades) e não
naquilo que seria desejável uma pessoa ter ou naquilo que cada um gostaria de
A construção dos orçamentos obedeceu a um conjunto de etapas de auscul- “...com base ter (desejos). Igualmente, os participantes tomaram as decisões pensando num
tação de cidadãos comuns, maioritariamente residentes no concelho de Vila na definição caso imaginário (ver pressupostos na página 9), que é sempre uma pessoa com
Franca de Xira, de obtenção de opiniões de peritos, de recolha de dados e de adoptada de características semelhantes às das pessoas que participam no grupo (tipos indi-
elaboração e sistematização por parte da equipa de investigadores, numa ló- viduais em análise), à exceção das crianças em que os participantes são mães e
padrão de vida “... foi pedido
gica de aproximação sucessiva (Figuras 1 e 2). Num primeiro momento, foram pais de filhos com idades idênticas às dos tipos individuais em análise.
digno, os grupos aos participantes
construídas as listagens de bens e serviços a que diferentes tipos individuais Entre abril e setembro de 2013, compilaram-se, organizaram-se e analisaram-
deveriam poder aceder e, num segundo momento, foi estimado, para cada
elaboraram uma que... centrassem -se os resultados dos Grupos de Tarefa. Recolheram-se também os preços dos
tipo de família, o nível de rendimento adequado (construção dos orçamentos lista completa dos a sua discussão bens e serviços nos locais de aquisição indicados pelos grupos. Com base nes-
familiares), entendido como aquele que é necessário para obter um padrão de bens e serviços naquilo que ta informação, construíram-se orçamentos individuais (baseados na despesa
vida digno, tal como foi definido na primeira etapa. que uma pessoa seria necessário mensal) para cada um dos 10 tipos individuais. Nesta fase iniciaram-se também
Tendo em conta os objectivos de cada uma das etapas, organizaram-se qua- necessita ter para o alcançar as consultas a peritos nas áreas da nutrição, habitação e energia.
tro tipos distintos de focus groups: os Grupos de Tarefa, os Grupos de Verifica- ou deveria (necessidades) e Entre outubro e novembro de 2013, organizaram-se os Grupos de Verifica-
ção, os Grupos Finais e os Grupos Geográficos. Os primeiros três tipos foram poder aceder...” ção (Figura 5) que tiveram como objetivos rever e verificar as listas de bens e
não naquilo que
realizados com residentes no concelho de Vila Franca de Xira. serviços elaboradas pelos Grupos de Tarefa para os tipos individuais e morfo-
seria desejável
Entre fevereiro e março de 2013, realizaram-se os Grupos de Tarefa (Figura logia familiar respetivos, colmatar as lacunas de informação, debater e decidir
4) com o objetivo de elaborar uma lista completa dos bens e serviços que uma
uma pessoa ter questões suscitadas pelos peritos e questões relacionadas com as diferenças
pessoa, do tipo individual em análise, necessita ter ou poder aceder para obter ou naquilo que observadas nas listas para tipos individuais semelhantes, e tomar decisões sobre
um padrão de vida digno na atualidade em Portugal. Além da identificação cada um gostaria as economias de escala a considerar na construção dos orçamentos familiares
dos bens e serviços necessários, estes grupos tomaram decisões sobre a quan- de ter (desejos).” para os tipos de família compostos por mais de um indivíduo.
tidade, a qualidade, a duração esperada e o local de aquisição dos mesmos.

Dez tipos individuais segundo a morfologia familiar


Cinco tipos individuais segundo a morfologia familiar

Indivíduos com 65 Indivíduos em Indivíduos em idade ativa


Indivíduos em agregados domésticos Indivíduos com 65 ou Indivíduos em agregados
ou mais anos idade ativa (18 a 64 com filhos (18 a 64 anos) sem filhos
anos) sem filhos a mais anos domésticos com filhos
a residir consigo
residir consigo Indivíduos do sexo
(Mães e Pais de)
masculino a residir
Crianças em idade pré-
com cônjuge e filhos Indivíduos (homens e Indivíduos (homens e Indivíduos (homens e mulheres) em
escolar (0-5 anos)
Indivíduos Indivíduos menores de idade mulheres) com 65 ou mulheres) em idade ativa idade ativa a viver sós ou com o
do sexo masculino do sexo masculino mais anos a viver sós ou a viver sós ou com cônjuge e com filhos menores a
Indivíduos do sexo
(Mães e Pais de)
a residir só a residir só feminino a residir com com o cônjuge o cônjuge residir consigo.
Crianças em idade
cônjuge e filhos
escolar (6-17 anos)
menores de idade
Indivíduos do sexo Indivíduos do sexo (Mães e Pais de)
feminino a residir só feminino a residir só Indivíduos a residir Jovens adultos entre Crianças com menos de 18 anos
com filhos menores de os 18 e os 34 anos
idade em famílias a residir com a família Jovens adultos (entre os 18
monoparentais de origem.
e os 34 anos) a residir com a
família de origem.

Um concelho
Vila Franca de Xira
Vila Franca de Xira

Figura 4 - Segunda etapa: Grupos de Tarefa (GT) Figura 5 – Quarta Etapa: Grupos de Verificação (GV)

6 | Rendimento Adequado em Portugal 7


Com base nesta informação, construíram-se orçamentos familiares pre- “... no final de Determinação dos orçamentos: algumas questões de método
liminares (baseados na despesa mensal) para onze tipos de família. Foram cada sessão os
realizadas também consultas a peritos na área da saúde. grupos foram A leitura dos resultados que se apresentam deve ser feita tendo em consideração alguns aspetos técni-
Em fevereiro de 2014 organizaram-se os Grupos Finais (Figura 6) que per- confrontados cos utilizados no método de construção dos orçamentos, entre os quais se salientam os seguintes:
mitiram finalizar os orçamentos de referência para os onze tipos de família.
com o designado
Estes grupos funcionaram como um Grupo Consultivo, avaliando a adequa- Os pressupostos dos casos imaginários Métodos de determinação da despesa mensal
Dilema do
ção dos valores estimados para cada área de despesa para os tipos indivi- e actualização dos preços
duais e morfologia familiar respetivos, tendo em conta, entre outros, a sua Primeiro-Ministro...” • Os indivíduos com 65 ou mais anos têm am-
comparação com os valores de despesa observados pelo Instituto Nacional bos 70 anos, os indivíduos em idade ativa, do Para cada item de consumo, independentemente
de Estatística, colmatando as lacunas de informação entretanto detetadas, e sexo masculino e do sexo feminino, têm respe- da frequência de aquisição do bem ou serviço, foi
tomando decisões finais quanto à inclusão de itens menos consensuais. No tivamente 42 e 40 anos, a jovem adulta tem 26 determinada uma despesa mensal baseada na quan-
final de cada sessão, para testar a robustez do valor final, os grupos foram anos, e as crianças, do sexo masculino e do sexo tidade, na duração (em meses) e no preço, de acordo
confrontados com o designado Dilema do Primeiro-Ministro, consistindo na feminino, têm respetivamente 12 e 2 anos. com a seguinte fórmula: quantidade vezes preço a
seguinte questão: “Se o Primeiro-Ministro considerar que este valor não é dividir por duração (em meses). Os preços foram ob-
exequível, sendo necessário reduzi-lo, em que áreas de despesa se poderia • Todos os indivíduos vivem na freguesia de Vila servados nos locais indicados pelos grupos, durante
cortar sem colocar em causa o padrão de vida digno identificado?” Franca de Xira, têm uma saúde razoável, os seus o ano de 2014. Na generalidade dos itens, o preço
familiares e amigos vivem no concelho ou nos observado é o preço não promocional mais barato
Tipos individuais segundo a morfologia familiar concelhos em redor, podem usar a rede de trans- existente no local de compra. Uma exceção foi o ves-
portes públicos existente, não têm dívidas; e não tuário, uma vez que todos os grupos decidiram que
Indivíduos em idade ativa
Indivíduos com 65
(18 a 64 anos) sem filhos
Indivíduos em agregados produzem nem recebem gratuitamente bens uma parte importante das peças de vestuário seriam
ou mais anos a residir consigo domésticos com filhos para consumir, com carácter regular. compradas em saldos.
Tendo em conta a evolução dos preços, conside-
•N
 o caso dos indivíduos em idade ativa, incluindo a rou-se, para efeitos de atualização, o mês de Dezem-
Indivíduos (homens e mulheres) Indivíduos (homens e Indivíduos (homens e
com 65 ou mais anos a viver sós mulheres) em idade ativa a mulheres) em idade ativa a jovem adulta, o valor apresentado assume que os in- bro de 2014 como mês de referência dos orçamentos
ou com o cônjuge viver sós ou com o cônjuge viver sós ou com o cônjuge divíduos trabalham fora da freguesia de residência. construídos. Os valores do rendimento adequado fo-
ram assim atualizados para abril de 2017, utilizando
• No caso das crianças de 12 anos e 2 anos, assu- o indice de preços no consumidor (IPC base 2012)
me-se que a primeira frequenta a escola pública disponibilizado pelo INE.
e a segunda frequenta uma creche, onde paga
Vila Franca de Xira
uma mensalidade que varia com o rendimento O caso dos bens duráveis
do agregado familiar.
Figura 6 - Sexta Etapa: Grupos Finais (GF) No caso destes bens, o valor estimado da despesa
• O apartamento onde residem é alugado (com mensal, seguindo a fórmula já referida (preço a dividir
Como existem diferenças entre os lugares relativamente aos costumes, à acessibilidade a equipamentos uma renda de mercado, exceto para o caso do pela duração), é o equivalente ao pagamento mensal,
e serviços e aos preços, que podem fazer variar quer os bens e serviços necessários quer o rendimento indivíduo com 65 ou mais anos a viver só), fica em prestações iguais, do bem durante toda a sua vida
correspondente para uma pessoa viver com dignidade em (diferentes lugares de) Portugal, entre setem- num 2º andar num edifício de 4 pisos, sem ele- útil (duração). O valor mensal da despesa neste tipo de
bro e outubro de 2014, organizaram-se os Grupos Geográficos (figura 7), com o objetivo de identificar vador; tem uma sala, uma cozinha, uma casa bens corresponde assim ao valor hipotético dessa pres-
essas eventuais variações. Tendo em conta este objetivo, foram selecionadas duas freguesias que repre- de banho e um número de quartos adequado tação, admitindo que não se incorre em pagamentos
sentam casos extremos no grau de ruralidade e acessibilidade: Vinhais e Estrela (Lisboa). à composição familiar (não sobrelotado) e tem de juros.
acesso à rede de eletricidade e água canalizada.
As opiniões dos peritos
Dois tipos individuais As áreas do orçamento
Foram consultados peritos em três áreas fundamen-
Indivíduos com 65 Indivíduos em idade ativa (18 a 64 anos) Foram consideradas áreas de despesa semelhan- tais: alimentação, habitação e saúde. Estes peritos fo-
ou mais anos com ou sem filhos a residir consigo tes às estabelecidas pela Classificação do Consu- ram confrontados com as decisões tomadas nos focus
mo Individual por Objetivo (COICOP), embora com groups e avaliaram essas decisões nas áreas respetivas,
algumas alterações. Nomeadamente, foi incluída de acordo com um normativo técnico. Nos casos em
Duas freguesias uma categoria que designámos por reserva para que os peritos discordaram das decisões, propuseram

Estrela em Lisboa Vinhais em Vinhais despesas pontuais e/ou inesperadas, que tem em alternativas fundamentadas que foram apreciadas pe-
conta a necessidade que as pessoas poderão ter de los grupos das etapas seguintes para que pudessem
poupar para este efeito. tomar uma decisão informada pelos mesmos.
Figura 7 - Sétima Etapa: Grupos Geográficos (GG)

8 | Rendimento Adequado em Portugal 9


Orçamentos Familiares de Referência Os orçamentos familiares de referência para os casos de agregados domésticos com filhos são apre-
sentados na tabela 3.
Os orçamentos familiares de referência para os casos dos indivíduos com 65 ou mais anos são apresen-
tados na tabela 1. Tabela 3 - Orçamento familiar de referência
Indivíduo só Casal com 1 Casal com 2 Casal com 1
Itens de despesa com 1 filho filho (12 filhos (12 e 2 filho (26 para os agregados domésticos com filhos,
Itens de despesa Individuo só Casal Tabela 1 – Orçamento familiar de referência (12 anos) anos) anos) anos) despesa mensal em euros em 2014.
(média) para os indivíduos com 65 ou mais anos, Alimentação 299 451 535 467
Alimentação 139 244 Bebidas Alcoólicas 2 6 6 6
despesa mensal em euros em 2014. Vestuário e Calçado 89 132 184 135
Bebidas Alcoólicas 8 17 Nota: Valores arredondados à unidade.
Vestuário e Calçado 24 48 Rendas de Habitação 188 188 228 188
Rendas de Habitação 105 138 Abastecimento de Água, Saneamento 90 113 136 113
Abastecimento de Água, Saneamento e Resíduos Sólidos e Energia 73 90 Nota: Valores arredondados à unidade. Os valores e Resíduos Sólidos e Energia
Mobiliário, Artigos, Utensílios e Equipamentos Domésticos 34 40 apresentados para o indivíduo só resultam da Mobiliário, Artigos, Utensílios e 49 50 58 51
Produtos e Serviços Domésticos para Manutenção Corrente da Habitação 9 12 média dos valores estimados para os indivíduos do Equipamentos Domésticos
Produtos de Higiene 11 21 Produtos e Serviços Domésticos para 15 17 18 17
sexo masculino e do sexo feminino. Manutenção Corrente da Habitação
Produtos e Serviços de Estética e Cuidado Pessoal 24 47
Artigos de Uso Pessoal 3 5 Produtos de Higiene 16 22 47 24
Saúde 40 80 Produtos e Serviços de Estética e 47 55 68 57
Transportes 16 24 Cuidado Pessoal
Comunicações 39 50 Artigos de Uso Pessoal 6 8 15 11
Lazer, Desporto e Cultura (excluindo férias e ocasiões especiais) 34 64 Saúde 29 37 66 27
Férias e Ocasiões Especiais 38 61 Transportes 153 225 231 267
Educação (excluindo creches e infantários) 0 0 Comunicações 61 69 69 69
Creches e Infantários 0 0 Lazer, Desporto e Cultura (excluindo 105 155 182 142
Outros e reserva para despesas pontuais e/ou inesperadas 20 41 férias e ocasiões especiais)
Total 617 982 Férias e Ocasiões Especiais 89 116 139 133
Educação (excluindo creches e 45 45 48 0
infantários)
Creches e Infantários 0 0 120 0
As despesas mais elevadas estão associadas à alimentação e à habitação (incluindo rendas e abasteci- Outros e reserva para despesas 56 56 61 56
mento de água e energia). Assim, no caso dos indivíduos sós, as despesas com alimentação e habitação pontuais e/ou inesperadas

absorvem em média 51% da despesa total, e, no caso do casal, 48% da despesa total. Total 1335 1745 2212 1762

Globalmente, o ponderador de necessidades relativas para o 2º indivíduo é de 0,59. Trata-se de um valor
intermédio entre a escala de equivalência da OCDE (0,7) e a escala de equivalência da OCDE modificada (0,5).
Os valores estimados correspondem a 74% e 71% da despesa média observada no IDEF 2010/11 respe-
tivamente para o caso de um indivíduo só com 65 ou mais anos e para o caso de um casal, ambos com “Em todos os orçamentos familares
65 ou mais anos. de referência, as despesas mais
elevadas estão associadas
Os orçamentos familiares de referência para os casos de indivíduos em idade ativa sem filhos a residir à alimentação e à habitação”
consigo são apresentados na tabela 2.

Itens de despesa
Individuo só Casal Tabela 2 - Orçamento familiar de referência
(média)
para os indivíduos em idade ativa sem filhos As despesas mais elevadas estão também associadas à alimentação e à habitação (incluindo a ren-
Alimentação 177 360
Bebidas Alcoólicas 6 11 a residir consigo, despesa mensal em euros
Vestuário e Calçado 39 77 em 2014. da e o abastecimento de água e energia), absorvendo entre 41%, (para a família com dois filhos) e
Rendas de Habitação 138 138
Abastecimento de Água, Saneamento e Resíduos Sólidos e Energia 78 102 44% (para a família com um filho maior de idade) da despesa total.
Nota: Valores arredondados à unidade. Os valores
Mobiliário, Artigos, Utensílios e Equipamentos Domésticos
Produtos e Serviços Domésticos para Manutenção Corrente da Habitação
32
6
32
6 apresentados para o indivíduo só resultam da Considerando como base os indivíduos em idade ativa sem filhos, no caso dos casais, o pondera-
Produtos de Higiene
Produtos e Serviços de Estética e Cuidado Pessoal
11
18
18
30
média dos valores estimados para os indivíduos do dor para o primeiro filho é de 0,63 no caso do filho com 12 anos e de 0,65 no caso da filha com 26
sexo masculino e do sexo feminino.
Artigos de Uso Pessoal 2 5 anos*. Isto significa que os filhos (independentemente de serem adultos ou não) têm associados
Saúde 18 34
Transportes 76 151 ponderadores apenas ligeiramente inferiores aos de um segundo adulto. No casal com 2 filhos, a
Comunicações 19 39
Lazer, Desporto e Cultura (excluindo férias e ocasiões especiais) 39 73 segunda filha, com 2 anos tem associado um ponderador que varia muito com a inclusão/exclusão
Férias e Ocasiões Especiais 53 84
Educação (excluindo creches e infantários) 0 0 do valor da creche (0,61 e 0,46 respetivamente). Globalmente, os resultados sugerem economias
Creches e Infantários 0 0
Outros e reserva para despesas pontuais e/ou inesperadas 51 101
de escala com o nascimento de um segundo filho (ou seja, o ponderador de necessidades relativas
Total 762 1262
do segundo filho é inferior à do primeiro). De uma forma geral, para os filhos menores de idade

os ponderadores de necessidades relativas são superiores aos utilizados na Escala de Equivalência
As despesas mais elevadas estão novamente associadas à alimentação e à habitação (incluindo a renda da OCDE (0,5) e em todos os casos superiores aos utilizados na Escala de Equivalência Modificada
e o abastecimento de água e energia). No caso do indivíduo só, as despesas com alimentação e habitação da OCDE (0,3).
absorvem em média 51% da despesa total, e, no caso do casal, 48% da despesa total. Os valores estimados variam entre 77% e 95% da despesa média observada no IDEF 2010/11,
Globalmente, o ponderador de necessidades relativas para o 2º indivíduo adulto é de 0,66. Trata-se de respetivamente para o casal com um filho maior de idade e para o caso de uma família monoparental
um valor próximo, mas inferior à escala de equivalência da OCDE (0,7) e superior ao da escala de equiva- com um filho.
lência da OCDE modificada (0,5).
Os valores estimados correspondem a 63% e 70% da despesa média observada no IDEF 2010/11 respe-
* Para o caso da filha com 2 anos (dados não apresentados), o fator de escala varia muito com a inclusão/exclusão
tivamente para o caso de um indivíduo só e para o caso de um casal. do valor da creche (0,70 e 0,53 respetivamente).

10 | Rendimento Adequado em Portugal 11


RAP e a Observação da Pobreza em Portugal RAP e os rendimentos mínimos em Portugal
Tabela 4 –Ponderadores associados aos orçamentos familiares
Em Portugal, as estatísticas oficiais para obser- RAP (tendo por referência um indivíduo em idade ativa a viver Importa ainda, para informar a discussão da adequação das políticas públicas
vação da pobreza utilizam um limiar de pobreza, só sem filhos) em Portugal na realização do direito universal a um nível adequado de recursos,
a nível nacional, que está estabelecido em 60% do Ponderadores
comparar os valores de rendimento adequado estimados neste estudo com os
valor do rendimento monetário líquido mediano 1º
adulto

adulto

adulto

criança

criança
valores garantidos por diferentes medidas de política para os casos considerados.
por adulto equivalente observado no ano respeti- Indivíduos indivíduo só 0,81 Assim, foram estimados para os diferentes casos, tendo em conta pressupostos
vo em Portugal. Excluem-se assim outras fontes de com 65 ou
mais anos casal 0,81 0,48
específicos, os valores mínimos garantidos em 2017 pelas medidas de política con-
rendimento, nomeadamente o salário em géneros, indivíduo só 1
sideradas mais relevantes, e comparados com os valores RAP atualizados a preços
o autoconsumo, o autoabastecimento e a autolo- Indivíduos em
idade ativa de Abril de 2017.
Casal 1 0,66
cação, que em conjunto representam, de acordo Para estimar os valores mínimos de rendimento garantido foram incluídos, além
monoparental com um
1 0,75
com os dados do Inquérito às Despesas da Família filho de 12 anos do valor monetário garantido, benefícios em espécie ou equiparados, sujeitos a
casal com um filho de
de 2010/11, cerca de 19% do rendimento total das Agregados
domésticos
12 anos
1 0,66 0,63
condição de recursos, na saúde, na eletricidade, na água, nos transportes e na
famílias em Portugal. com filhos casal com dois filhos de
12 e 2 anos
1 0,66 0,63 0,61 educação, quando aplicável, de acordo com as atuais condições de elegibilidade
De uma forma geral, este limiar de pobreza está casal com um filho de
26 anos
1 0,66 0,65 (nomeadamente quando o valor monetário garantido coloca o indivíduo/agrega-
bastante abaixo daquilo que foi estimado como do em situação de insuficiência económica, tal como determinado por esse benefí-
rendimento adequado para os diferentes casos cio). O valor destes benefícios foi calculado tendo em conta os valores estipulados
apresentados a viver em Vila Franca de Xira. Por pelos mesmos e a despesa respetiva estimada nos orçamentos RAP. Nos casos de
“... os ponderadores
exemplo, o limiar de pobreza para um indivíduo rendimentos monetários pagos em 14 meses, o valor foi anualizado e depois divi-
de necessidades relativas associados
só, em 2014, correspondia a 422 euros mensais. dido por 12 meses.
Ora, só para cobrir as despesas estimadas em ali- aos orçamentos RAP diferem das
mentação e habitação, um indivíduo só sem filhos escalas de equivalência habitualmente A tabela 5 apresenta os cálculos para os indivíduos com 65 ou mais anos.
a residir consigo, necessita de 391 euros, se juntar- usadas nas estatísticas oficiais...” No caso das pensões, assume-se que ambos os indivíduos do casal recebem o
mos os transportes, o valor ascende a 467 euros. valor mínimo da pensão do regime geral da segurança social, para indivíduos
Acresce que para determinar o limiar de pobreza com mais de 30 anos de carreira contributiva.
para agregados domésticos privados com mais de
um indivíduo é utilizada a escala de equivalência da Em primeiro lugar, de acordo com os resultados
Tabela 5 – Rendimentos mínimos mensalizados, em euros, para os indivíduos
OCDE modificada, que atribui um peso de 1 ao pri- obtidos um indivíduo com 65 ou mais anos necessita com 65 ou mais anos (2017)
meiro adulto (independentemente da idade), um de um rendimento inferior ao de um indivíduo em
Indivíduo só Casal
peso de 0,5 a cada um dos restantes adultos e um idade ativa (ponderador de 0,81).
Valor Em % Valor Em %
peso de 0,3 a cada criança dentro do agregado. Em segundo lugar, os resultados sugerem menores (em €) RAP (em €) RAP
Ora, os resultados obtidos com as estimativas do economias de escala do que as implícitas na escala Valor mínimo das pensões de velhice e invalidez do
regime geral da Segurança Social (mais de 30 anos) + 481 76% 941 93%
rendimento adequado para os diferentes casos su- de equivalência da OCDE utilizada (ponderador de Benefícios em espécie
gerem ponderadores diferentes (Tabela 4). 0,66 para o 2º adulto). Complemento solidário para idosos + Benefícios em
469 74% 823 82%
espécie
Finalmente, de acordo com os orçamentos RAP, a
despesa necessária associada a uma criança aproxi- Nota: Valores arredondados à unidade.
ma-se da despesa necessária associada a um segun-
do adulto. Este resultado contraria a lógica de am- Estes resultados sugerem que os valores mínimos garantidos estão de uma
“...os valores estimados bas as escalas de equivalência da OCDE, a original, forma geral aquém do necessário para os indivíduos com 65 ou mais anos
de rendimento adequado em Portugal utilizada na verificação da condição de recursos em obterem um padrão de vida digno, na atualidade, em Portugal. Com efeito,
são superiores ao valor do limiar Portugal, e a modificada, utilizada para a observação só no caso do casal de pensionistas, ambos com mais de 30 anos de carrei-
de pobreza utilizado da pobreza, que pressupõem que o custo de uma ra contributiva, o valor garantido se aproxima do rendimento adequado, tal
nas estatísticas oficiais...” criança corresponde, respetivamente, a cerca de 71% como estimado neste estudo.
e 60% do custo de um segundo adulto no agregado.
Assim, os resultados deste estudo sugerem que o As tabelas seguintes apresentam os cálculos para os indivíduos em idade
limiar de pobreza e a escala de equivalência utiliza- ativa sem filhos a residir consigo e para os agregados com filhos (tabelas 6 e
dos na observação da pobreza subestimam e distor- 7). No caso do salário mínimo e do subsídio de desemprego, assume-se que
cem a identificação da população em situação de todos os indivíduos em idade ativa do agregado recebem os respetivos valo-
pobreza, se a entendermos como uma situação em res. O valor mensalisado do salário mínimo já exclui as contribuições para a
que as pessoas não têm rendimento suficiente para segurança social. No caso do subsídio de desemprego e do rendimento social
obter um padrão de vida digno. de inserção, a comparação com o valor RAP, faz-se excluindo deste as despe-

12 | Rendimento Adequado em Portugal 13


sas especificamente associadas a uma situação de emprego. Para os agregados Principais Conclusões
com filhos, quando aplicável, foram considerados a majoração do subsídio de
desemprego, o valor do abono de família, consoante o escalão de rendimento, Os valores do rendimento adequado em Portugal em 2017
os benefícios em espécie da Ação Social Escolar (relacionados com refeições De acordo com os resultados deste estudo, os valores de referência para o rendimento adequado,
na cantina, livros, material escolar e visitas de estudo), consoante o escalão de entendido como o valor necessário para alcançar um nível de vida digno, atualizado a preços de abril
rendimento, e o benefício em espécie associado à mensalidade paga para a de 2017, são os seguintes:
frequência da creche da criança de 2 anos (que varia consoante o rendimento).
Morfologia Familiar Valor mensal (em €)

Indivíduo com 65 ou mais anos a residir só


Para os indivíduos em idade ativa sem filhos a residir consigo (tabela 6), é 634
Casal de indivíduos, ambos com 65 ou mais anos 1007
possível verificar que os valores mínimos garantidos estão de uma forma geral Indivíduo em idade ativa (18 a 64 anos) a residir só 783
aquém do necessário, de acordo com o estimado neste estudo. Assim, só no Casal de indivíduos, ambos em idade ativa (18 a 64 anos) 1299
caso do casal em que ambos os indivíduos recebem o salário mínimo, o valor Família monoparental com um filho menor de idade (12 anos) 1374
Casal de indivíduos em idade ativa com um filho menor de idade (12 anos) 1796
garantido se aproxima do rendimento adequado estimado.
Casal de indivíduos em idade ativa com dois filhos menores de idade (2 e 12 anos) 2271
Casal de indivíduos em idade ativa com um filho maior de idade (26 anos) 1816
Tabela 6 – Rendimentos mínimos mensalizados, em euros, para os indivíduos em idade ativa
sem filhos a residir consigo (2017) Nota: Valores arredondados à unidade.

Indivíduo só Casal Estes montantes são valores líquidos de impostos diretos e incluem as despesas de habitação e as despe-
Valor Em % Valor Em % sas com creches e infantários (quando relevantes).
(em €) RAP (em €) RAP
Salário mínimo (líquido das contribuições para a
segurança social) + Benefícios em espécie
578 74% 1157 89% Os valores RAP e o limiar oficial de pobreza Os valores RAP e as medidas de política de ga-
Valor mínimo do subsídio de desemprego + Benefícios
433 63% 848 77%
De uma forma geral, os valores estimados para rantia de rendimentos mínimos
em espécie
Rendimento social de inserção + Benefícios em espécie
2014 são superiores ao valor do limiar oficial de Os valores RAP estimados, atualizados para abril
200 29% 331 30%
pobreza utilizado para observar a Pobreza em Por- de 2017, são superiores aos valores mínimos implí-
Nota: Valores arredondados à unidade. tugal (que corresponde, de acordo com o critério citos nas medidas de política de garantia de rendi-
EUROSTAT, a 60% do rendimento monetário líqui- mentos mínimos. Apenas nos casos de um casal de
Para os agregados com filhos (tabela 7), também se verifica que os valores míni- do mediano observado nesse ano). Estes resulta- pensionistas, ambos com mais de 30 anos de contri-
mos garantidos se encontram aquém do necessário. Por exemplo, num casal com dos sugerem que o uso deste limiar de pobreza buições para a segurança social, no casal de indiví-
um filho, se ambos os adultos receberem o salário mínimo, o valor mínimo garanti- subestima a medição da incidência da pobreza em duos em idade ativa sem filhos, ambos empregados
do corresponde a 67% do rendimento adequado, tal como estimado neste estudo. Portugal, se considerarmos, como referência para e a receber o salario mínimo, e no casal de indiví-
O rendimento adequado é quase alcançado no caso do casal com uma filha de 26 este cálculo, o valor de rendimento necessário para duos em idade ativa com uma filha maior de idade,
anos, assumindo-se que todos trabalham e recebem o salário mínimo. obter um nível de vida digno. os três empregados e a receber o salário mínimo, se
observa uma aproximação ao rendimento adequa-
Tabela 7 – Rendimentos mínimos mensalizados, em euros, para os agregados com filhos (2017)
Os orçamentos RAP e as escalas de equivalência do para a respetiva morfologia familiar. Acresce que
Casal com um
Monoparental Casal com Casal com Os resultados da análise dos orçamentos RAP para os casos de agregados com filhos menores de
com um filho de dois filhos de 12 zuma filha de
filho de 12 anos
12 anos e 2 anos 26 anos
para diferentes configurações familiares são in- idade, o abono de família e os eventuais benefícios
Valor % RAP Valor % RAP Valor % RAP Valor % RAP dicativos da existência de menores economias em espécie, conjugados com o salário mínimo dos
Salário mínimo (líquido das de escala do que as implícitas na escala de equi- indivíduos em idade ativa, estão muito aquém do
contribuições para a
segurança social) + Abono 1206 67% 653 48% 1372 60% 1735 96% valência da OCDE modificada (que atribui uma valor estimado RAP.
de família (se aplicável) +
ponderação de 0,5 ao segundo adulto), utiliza- Globalmente, do ponto de vista das políticas pú-
Benefícios em espécie
Valor mínimo do subsídio da quer para observar a pobreza quer nalgumas blicas, considera-se que estes resultados poderão
de desemprego + Abono
de família (se aplicável) +
1001 60% 573 43% 1176 55% 1273 78% medidas específicas de política. Além disso, de ser utilizados para equacionar alterações nos va-
Benefícios em espécie acordo com estes resultados, em termos de ren- lores mínimos garantidos por diferentes medidas
Rendimento social de
inserção + Abono de dimento necessário, as necessidades relativas de de política e para diferentes configurações familia-
543 33% 389 29% 835 39% 524 32%
família (se aplicável) + uma criança menor de idade aproximam-se, no res, de acordo com as prioridades políticas legíti-
Benefícios em espécie
contexto social atual, das necessidades relativas mas estabelecidas. Estas alterações podem incidir
Nota: Valores arredondados à unidade. de um segundo adulto no agregado familiar. Isto nos valores monetários garantidos, nas escalas de
sugere um desajustamento das escalas de equi- equivalência utilizadas, nos escalões de rendimento
Finalmente, importa comparar globalmente os valores RAP com o mínimo de exis- valência utilizadas na observação da pobreza, considerados (no abono de família, na ação social
tência previsto no Código do IRS que estabelece um limite à cobrança de impostos. distorcendo o perfil da população em situação de escolar, no IRS), nos limiares de insuficiência econó-
Para todos os casos de agregados com filhos menores de idade e para o caso de um pobreza e subestimando em particular o cálculo mica associados a diferentes benefícios em espécie,
indivíduo em idade ativa a residir só, esse mínimo é inferior ao rendimento adequado. da pobreza infantil em Portugal. entre outros.

14 | Rendimento Adequado em Portugal 15


Pode consultar documentação técnica deste projeto,
e enviar comentários e questões, em:
www.rendimentoadequado.org.pt

Participaram neste projeto de investigação as seguintes bolseiras:


Anabela Correia (CAPP, ISCSP, Universidade de Lisboa)
Brisa Jara (CESSS, FCH, Universidade Católica Portuguesa)
Margarida Ferreira (CAPP, ISCSP, Universidade de Lisboa)
Susana Brissos (GHES, ISEG, Universidade de Lisboa)

Foram consultores deste projeto, a quem a equipa agradece o apoio obtido:


Equipa MIS do Centre for Research in Social Policy, Universidade de Loughborouh
Prof. John Veit-Wilson, Universidade de Newcastle
Profª Maria Manuela Silva
Drª Eduarda Ribeiro

A equipa de investigação contou com a colaboração dos seguintes peritos


Na área da nutrição:
Profª Doutora Maria João Gregório (FCNA, Universidade do Porto)
Prof. Doutor Pedro Graça (FCNA, Universidade do Porto)
Na área da habitação e energia:
Prof. Doutor Manuel Duarte Pinheiro (IST, Universidade de Lisboa)
Na área da saúde:
Dr. Vitor Ramos (ENSP, Universidade Nova de Lisboa)
Dra Filipa Manuel (Usf Marginal)

A equipa agradece a todas as instituições, públicas e privadas, que possibilitaram, nos concelhos de Beja,
de Vila Nova de Gaia, de Vinhais, de Lisboa (freguesia da Estrela) e, de forma especial, de Vila Franca
de Xira (onde a maior parte do trabalho de campo foi realizado) toda a colaboração e apoio obtidos na
realização deste estudo, nas várias etapas que foram seguidas ao longo deste projeto de investigação.

Um agradecimento muito especial às dezenas de participantes que, de forma voluntária, com grande sen-
tido cívico e enorme simpatia, compreenderam a importância deste estudo e aceitaram colaborar, despen-
dendo muitas horas que retiraram do seu tempo de lazer. Foram estas pessoas as que melhor compreende-
ram a importância do que “as pessoas pensam” como peça metodológica fundamental do nosso estudo.

Entidades Participantes

Financiamento

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