05 - O Livro Selado e o Cordeiro

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O LIVRO SELADO E O CORDEIRO


Apocalipse 5

Freqüentemente ouvimos alguém exclamar: "Aonde é que esse mundo vai parar?"
Este questionamento reflete a perplexidade de algumas pessoas diante de certos
acontecimentos ou situações.

São muitas as coisas que nos deixam perplexos. E o advento da rede mundial de
computadores, conhecida como Internet. E a possibilidade da clonagem de seres
humanos. E o programa de viagens espaciais com suas incríveis descobertas.

E a aberração dos casamentos homossexuais. E o avanço interminável da ciência e


da tecnologia. É o aparecimento de movimentos e seitas... Diante de tudo isso, muitos
se desesperam e ficam amedrontados, num pessimismo sem fim, pensando num "fim
do mundo" catastrófico. E preciso ter calma. O Apocalipse nos ensina que tudo está
sob controle.

Deus não perdeu o rumo da História. Cremos num Deus que é soberano sobre tudo, e
Ele dirige a História. Nada de histeria ou fanatismo. A visão que João teve no capítulo
5 é uma visão que certamente servirá de consolo, conforto e esperança para as
comunidades cristãs atuais. Vamos à reflexão:

Análise do texto
O capítulo 5 do Apocalipse, basicamente, é a visão do livro selado com sete selos e a
visão daquele que abre o livro - o Cordeiro. É bom lembrar que os livros daquele
tempo eram rolos, possivelmente de pele de carneiro.

João vê, também, um anjo com uma pergunta: "Quem é digno de abrir o livro e de lhe
desatar os selos?"(v.2). Ele se desespera ao perceber que ninguém, em lugar
nenhum, foi capaz de abrir o livro. No entanto, um dos anciãos mostra que a hora não
é de desespero, mas de confiança e celebração. Jesus venceu a morte dando início a
um novo tempo.

É o final dos tempos; porém, no dizer do teólogo José Bortolini, "não se trata do fim do
mundo, e sim da vitória do bem sobre o mal, até que a vida se realize plenamente na
Nova Jerusalém. Esta já começou com a ressurreição de Jesus" (Como ler o
Apocalipse, Editora Paulus).

Em Apocalipse 5, Jesus é apresentado como Cordeiro, imagem que relembra a liber-


tação de Israel do cativeiro egípcio (Ex 12.1-4). Ele tem a plenitude do poder,
simbolizada pelos "sete chifres"; tem, também, a plenitude do Espírito, simbolizada
pelos "sete olhos".

Ray Summers, professor de Novo Testamento, diz o seguinte, comentando a visão do


Cordeiro: "O Cordeiro tem sete chifres, o número perfeito. Está Ele, portanto,
perfeitamente aparelhado para destruir a oposição que fazem ao seu Reino. Tem sete
olhos (...).Isto, sem dúvida, representa a vigilância incessante e perfeita a favor do seu
povo".

Uma grande e festiva celebração se inicia quando o Cordeiro toma o livro. A


celebração une o céu, a terra e todo o universo. Três cânticos são entoados.
Analisemos rapidamente os três hinos:

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O primeiro hino (5.9,10) - É entoado pelos quatro seres vivos com os vinte e quatro
anciãos, e se dirige ao Cordeiro aclamando sua dignidade para receber o livro e abrir
os selos. O cântico mostra que o povo de Deus está presente em toda a humanidade
com uma nova missão: ser reino de sacerdotes agindo no mundo para transformar a
morte em vida ( Êx 19.6; Ap 1.6).

O segundo hino (5.11,12) - Proclamado em grande voz por "milhões" de anjos,


reconhece ser o Cordeiro digno de todos os atributos possíveis. São sete atributos (7
= totalidade): poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor. Os grandes
senhores daquele tempo exigiam para si todas estas coisas. O coral celeste afirma
que só o Cordeiro merece isso.

O terceiro hino (5.13) - Abrange o mundo inteiro e se dirige a Deus e ao Cordeiro,


atribuindo-lhes quatro coisas (4 = tudo): louvor, honra, glória e poder. A festa de louvor
termina com o "Amém" dos quatro seres vivos e dos vinte e quatro anciãos. Jesus é
adorado no final.

José Bortolini sugere que "esses hinos eram cantos que as comunidades perseguidas
cantavam em suas celebrações. O Apocalipse mostra que no céu se celebra a mesma
esperança dos que resistem e denunciam a idolatria que gera a morte" (op. cit.).

Da leitura e reflexão sobre o capítulo 5 de Apocalipse, podemos fazer as seguintes


considerações:

1. A HISTÓRIA NÃO ESTÁ DESGOVERNADA - ELA TEM UM


SENHOR
Na época em que o Apocalipse foi escrito, possivelmente o imperador era Domiciano -
alguém que impôs duras perseguições às igrejas aquém o livro foi escrito. Ele era
apresentado como o "senhor absoluto" - alguém que deveria ser adorado por seus
súditos.

Na visão confortadora de João, o grande soberano não é o Imperador Romano, mas


sim, Jesus Cristo, o "Alfa e o Omega, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-
poderoso" (Ap 1.8; Mt 28.18-20). A pergunta do anjo (v.2) tem uma resposta singular:
"eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus
sete selos"(Ap 5.2, 5).

No século I, o Império Romano castigou severamente as igrejas cristãs com violentas


perseguições. As comunidades poderiam entender, em meio ao desespero, que a
História estava desgovernada e que não havia mais esperança.

O choro de João (v.4) revela a triste situação das comunidades perseguidas "que só
vêem injustiça, opressão e morte diante dos olhos. Os poderosos parecem ter tomado
as rédeas da História, gerando a morte do povo" (J. Bortolini, op. cit.).

Hoje, também, somos tentados, em meio à situação caótica dos tempos atuais, a
pensar que Deus não controla mais a História.

Não temos mais a perseguição daqueles dias, mas temos o imperialismo do mercado
que persegue e exclui os mais pobres; temos a tão falada "globalização"; temos o
avanço incrível da ciência e da tecnologia; temos a escalada da violência, e tanta
coisa ruim acontecendo, que podemos pensar que o mundo e a História estão sem
rumo.

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O Apocalipse mostra que não. Diz o teólogo Carlos Mesters: "Jesus recebe o livro da
mão de Deus (5.7) e torna-se, assim, o Senhor da História (5.13).
É Ele quem vai assumir o controle dos acontecimentos e executar o plano de Deus"
(Esperança de um povo que luta, Editora Vozes). Diante desta realidade, os cristãos
da atualidade precisam desenvolver suas vidas sem medo de nada.

Jesus é o Senhor da História! A História está em suas mãos! Os acontecimentos do


mundo se desenrolam sob a absoluta soberania do Senhor dos senhores, do Rei dos
reis.

Cada cristão, consciente desta realidade, irá interagir no mundo, transformando-o,


levando conforto aos que precisam, e mostrando que a vida já triunfou sobre a morte.
É significativo afirmar que foi por causa desta consciência que sobreveio aos cristãos
do século I tamanha perseguição.

2 - A VITÓRIA ESTÁ NAS MÃOS DO CORDEIRO


A situação das comunidades cristãs na Ásia no final do primeiro século era
desesperadora. Elas sofriam a opressão do Império Romano. Muitos poderiam pensar
numa derrota da fé cristã.

Ou, em meio às lutas, pensar que o projeto de Deus para a humanidade não deu
certo. A morte tinha triunfado sobre a vida, os fortes sobre os fracos. O choro de João
é significativo (v.4), como significativa também é a resposta que recebeu do ancião: "O
Leão da tribo de Judá venceu "(v.5).

João olha, mas não vê um leão, e sim um Cordeiro. Para aquelas comunidades, a
figura do Cordeiro relembrava a libertação do cativeiro egípcio (Êx 12.1 -28). Jesus é o
Cordeiro (Jo 1.29).

Ele foi morto, humilhado, passando por toda sorte de sofrimento (Is 53). Agora Ele é
vitorioso; está vivo ("de pé"-\.6); venceu a morte: "venceu para abrir o livro "(v.5). Com
a descrição desta visão, João consola e conforta as pobres comunidades da Ásia, bem
como a todos os cristãos em todo tempo e lugar. A vitória está nas mãos do Cordeiro.
Ele tem o poder ("sete chifres "); Ele está em todo lugar ("sete olhos ").

A missão e o ministério de Jesus mostram algo que os próprios apóstolos não


compreenderam bem, que era o papel duplo que o Messias haveria de cumprir. Ele,
primeiro, teria de virem humildade e mansidão (Cordeiro) a fim de sofrer e morrer, para
depois ressurgir com poder e glória (Leão) e colocar todos os seus inimigos (inclusive
o Imperador) debaixo de seus pés (Fp 2.8-11).

Jesus é o Leão, que é o Cordeiro. O Cordeiro era símbolo da Páscoa judaica, assim
como o pão e o vinho são símbolos da Páscoa cristã.

A visão que a Igreja precisa ter, hoje, é a mesma de João: a visão de um Jesus
ressuscitado possuindo a plenitude do poder e do Espírito; a visão de que a vida
vence a morte, de que ajustiça triunfa sobre a injustiça. "Ele abrirá o livro, e sua vitória
é a chave para lermos todos os acontecimentos da História".

3 - INSPIRAÇÃO PARA CELEBRAÇÃO


"Canta-se muito no Apocalipse", diz Carlos Mesters (op. cit. p. 48). O livro traz a letra
de vários hinos e aclamações (4.8; 5.9,10,12, 13; 7.10, 12; 11.15-18; 12.10-12;
15.3,4). "Será que é só para informar o que se cantou no céu?

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Não! Mas para animar o povo perseguido (e a nós também) a cantar o mesmo canto
de vitória e de alegria" (op. cit. p. 49).

O fato de Jesus ser o Senhor da História, e o fato de ser Ele o Cordeiro vitorioso e
digno de abrir o livro, é motivo de muita festa e muita música no céu. O versículo 7
registra o momento em que o Cordeiro toma o livro "e, quando toma o livro" (v.8) surge
uma grande celebração de exaltação ao Cordeiro.

No cântico (5.9,10) louva-se a Jesus Cristo porque foi digno de abrir os selos. O
Cordeiro é digno exatamente por causa de sua obra redentora. Ray Summers
descreve esta obra redentora com quatro qualidades específicas:

Primeira - é para Deus, primariamente - "compraste para Deus".

Segunda - é pelo sangue de Cristo - "foste morto... e com o teu sangue compraste ".
Esta referência é direta e somente à morte sacrificial de Cristo na cruz.

Terceira - é ilimitada - "homens de toda tribo, e língua e povo e nação". A graça de


Deus por Cristo não está limitada a esta ou àquela nação, mas é para todas as
nações.

Quarta - faz dos remidos um reino. "E para o nosso Deus os fizeste um reino de
sacerdotes, e reinarão sobre a terra". "Tornando-se os homens participantes da obra
redentora de Deus, tornam-se parte do Reino de Deus; tornam-se sacerdotes, para
servi-lo aqui neste mundo" (A Mensagem do Apocalipse: Digno é o Cordeiro,
JUERP,p.l33).

Esta obra redentora é inspiração para celebração, e não para temor. A igreja cristã
não deve temer nenhum inimigo, nenhum poder maligno. Ela pode entrar na luta e
suportar todo o mal, tendo plena consciência de que Javé permanece no seu trono,
não deixou o seu cetro, não abandonou seu lugar para qualquer outro. Ele é o Todo-
poderoso.

Discussão
1. Há alguma relação entre o choro de João e o choro dos excluídos de hoje? Se há,
qual é?
2. Deus está no comando da História. Como explicar tantas desordens verificadas no
mundo hoje?

AUTOR: REV. AILTON GONÇALVES DIAS FILHO

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