Análise Combinatória

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Análise Combinatória

01 - Introdução

Foi a necessidade de calcular o número de possibilidades existentes nos chamados jogos de azar
que levou ao desenvolvimento da Análise Combinatória, parte da Matemática que estuda os
métodos de contagem. Esses estudos foram iniciados já no século XVI, pelo Matemático Italiano
Niccollo Fontana (1500-1557), conhecido como Tartaglia. Depois vieram os Franceses Pierre de
Fermat (1601-1665) e Blaise Pascal (1623-1662). A Análise Combinatória visa desenvolver
métodos que permitam contar - de uma forma indireta - o número de elementos de um conjunto,
estando esses elementos agrupados sob certas condições.

02 - Factorial

Seja n um número inteiro não negativo. Definimos o fatorial de n (indicado pelo símbolo n! )
como sendo:

n! = n .(n-1) . (n-2) . ... .4.3.2.1, Casos especiais:


Para n = 0 , teremos : 0! = 1. Para n = 1 , teremos : 1! = 1

Exemplos:
a) 6! = 6.5.4.3.2.1 = 720
b) 4! = 4.3.2.1 = 24
c) observe que 6! = 6.5.4!
d) 10! = 10.9.8.7.6.5.4.3.2.1
e) 10! = 10.9.8.7.6.5!
f ) 10! = 10.9.8!

03 - Princípio Fundamental da Contagem – PFC

Se determinado acontecimento ocorre em n etapas diferentes, e se a primeira etapa pode ocorrer


de k1 maneiras diferentes, a segunda de k2 maneiras diferentes, e assim sucessivamente , então o
número total T de maneiras de ocorrer o acontecimento é dado por:
T = k1. k2 . k3 . ... . kn

Exemplo:
O INAV decidiu que as placas dos veículos de Moçambique são codificadas usando-se 3 letras do
alfabeto e 4 algarismos. Qual o número máximo de veículos que poderá ser licenciado?

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 1


Solução:

Usando o raciocínio anterior, imaginemos uma placa genérica do tipo PWR-USTZ.


Como o alfabeto possui 26 letras e nosso sistema numérico possui 10 algarismos (de 0 a 9),
podemos concluir que: para a 1ª posição, temos 26 alternativas, e como pode haver repetição, para
a 2ª, e 3ª também teremos 26 alternativas. Com relação aos algarismos, concluímos facilmente que
temos 10 alternativas para cada um dos 4 lugares. Podemos então afirmar que o número total de
veículos que podem ser licenciados será igual a: 26.26.26.10.10.10.10 que resulta em
175.760.000. Observe que se no país existissem 175.760.001 veículos, o sistema de códigos de
emplacamento teria que ser modificado, já que não existiriam números suficientes para codificar
todos os veículos.

04 - Permutações simples

4.1 - Permutações simples de n elementos distintos são agrupamentos formados com todos os n
elementos e que diferem uns dos outros pela ordem de seus elementos.

Exemplo: com os elementos A,B,C são possíveis as seguintes permutações: ABC, ACB, BAC,
BCA, CAB e CBA.

4.2 - O número total de permutações simples de n elementos distintos é dado por n!, isto é

Pn = n! onde n! = n(n-1)(n-2)... .1 .

Exemplos:
a) P6 = 6! = 6.5.4.3.2.1 = 720
b) Calcule o número de formas distintas de 5 pessoas ocuparem os lugares de um banco retangular
de cinco lugares. P5 = 5! = 5.4.3.2.1 = 120

4.3 - Denomina-se ANAGRAMA o agrupamento formado pelas letras de uma palavra, que podem
ter ou não significado na linguagem comum.

Exemplo:
Os possíveis anagramas da palavra REI são: REI, RIE, ERI, EIR, IRE e IER.

05 - Permutações com elementos repetidos

Se entre os n elementos de um conjunto, existem a elementos repetidos, b elementos repetidos, c


elementos repetidos e assim sucessivamente , o número total de permutações que podemos formar
n!
é dado por: pn( a , b , c ,...) 
a!b!c!...

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 2


Exemplo:
Determine o número de anagramas da palavra MATEMÁTICA.(não considere o acento)
Solução: Temos 10 elementos, com repetição. Observe que a letra M está repetida duas vezes, a
letra A três, a letra T, duas vezes. Na fórmula anterior, teremos: n=10, a=2, b=3 e c=2. Sendo k o
número procurado, podemos escrever: k=10!/(2!.3!.2!)=151200
Resp: 151200 anagramas.

06 - Arranjos simples

6.1 - Dado um conjunto com n elementos, chama-se arranjo simples de taxa k, a todo agrupamento
de k elementos distintos dispostos numa certa ordem. Dois arranjos diferem entre si, pela ordem
de colocação dos elementos. Assim, no conjunto E ={a,b,c}, teremos:
a) Arranjos de taxa 2: ab, ac, bc, ba, ca, cb.
b) Arranjos de taxa 3: abc, acb, bac, bca, cab, cba.

6.2 - Representando o número total de arranjos de n elementos tomados k a k (taxa k) por An,k ,
n!
AN , K  teremos a seguinte fórmula:
(n  k )!

Obs : é fácil perceber que An,n = n! = Pn . (Verifique)

Exemplo:
Um cofre possui um disco marcado com os dígitos 0,1,2,...,9. O segredo do cofre é marcado por
uma seqüência de 3 dígitos distintos. Se uma pessoa tentar abrir o cofre, quantas tentativas deverá
fazer (no máximo) para conseguir abrí-lo?
Solução: As seqüências serão do tipo xyz. Para a primeira posição teremos 10 alternativas, para a
segunda, 9 e para a terceira, 8. Podemos aplicar a fórmula de arranjos, mas pelo princípio
fundamental de contagem, chegaremos ao mesmo resultado:
10.9.8 = 720. Observe que 720 = A10,3

07 - Combinações simples

7.1 - Denominamos combinações simples de n elementos distintos tomados k a k (taxa k) aos


subconjuntos formados por k elementos distintos escolhidos entre os n elementos dados. Observe
que duas combinações são diferentes quando possuem elementos distintos, não importando a
ordem em que os elementos são colocados.

Exemplo: No conjunto E= {a,b.c,d} podemos considerar:


a) combinações de taxa 2: ab, ac, ad,bc,bd, cd.
b) combinações de taxa 3: abc, abd,acd,bcd.
c) combinações de taxa 4: abcd.

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 3


7.2 - Representando por Cn,k o número total de combinações de n elementos tomados k a k (taxa
n!
k) , temos a seguinte fórmula: Cnk 
k!(n  k )!

Obs: o número acima é também conhecido como Número binomial e indicado por:
n!
( kn ) 
k!(n  k )!

Exemplo: Uma prova consta de 15 questões das quais o aluno deve resolver 10. De quantas
formas ele poderá escolher as 10 questões?
Solução:
Observe que a ordem das questões não muda o teste. Logo, podemos concluir que trata-se de um
problema de combinação de 15 elementos com taxa 10. Aplicando simplesmente a fórmula
chegaremos a: C15,10 = 15! / [(15-10)! . 10!] = 15! / (5! . 10!)= 15.14.13.12.11.10! / 5.4.3.2.1.10! = 3003

Exercício resolvido:

Um salão tem 6 portas. De quantos modos distintos esse salão pode estar aberto?

Solução:
Para a primeira porta temos duas opções: aberta ou fechada, para a segunda porta temos também,
duas opções, e assim sucessivamente. Para as seis portas, teremos então, pelo Princípio
Fundamental da Contagem - PFC: N = 2.2.2.2.2.2 = 64. Lembrando que uma dessas opções
corresponde a todas as duas portas fechadas, teremos então que o número procurado é igual a

64 -1 = 63. Resposta: o salão pode estar aberto de 63 modos possíveis.

Exercícios de Análise Combinatória I

De quantos modos diferentes podem ser dispostas em fila (p+q) pessoas sendo p homens de
alturas todas diferentes e q mulheres também de alturas diferentes, de modo que, tanto no grupo
dos homens como no das mulheres, as pessoas se sucedam em alturas crescentes?

Solução:

Supondo os p homens e as q mulheres ordenados segundo suas alturas crescentes, teremos ao todo
(p+q) pessoas. Ordenando-se os p homens em p dos (p+q) lugares, as q mulheres ocuparão os q
lugares restantes.

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 4


Ora, basta calcular então, o número de maneiras de preencher p lugares entre os (p+q) lugares
existentes, isto é, determinar quantos subconjuntos de p elementos podem ser formados num
conjunto de (p+q) elementos, com a condição de ordenamento crescente das alturas.

O número procurado será igual ao número de combinações possíveis de (p+q) elementos tomados
p a p. Logo:

Portanto, p homens e q mulheres podem ser dispostos em fila em ordem crescente de altura, de
(p+q)! / p!.q! maneiras distintas.

Exemplo de verificação:
Considere três homens e duas mulheres, com as seguintes alturas em metros:
Pedro, com 1,76m = P Rafael, com 1,77m = R Eduardo, com 1,78m = E
Maria, com 1,75 m = M Samantha, com 1,74m = S
Em termos de alturas temos: P>R>E>M>S

Pela fórmula acima, o número de maneiras de dispor estas cinco pessoas em ordem crescente de
altura, será igual a: n = (3+2)! / 3!.2! = 5! /3!.2! = 120/12 = 10.
São as seguintes, as 10 disposições possíveis, considerando-se a ordem decrescente de alturas:
01 – PREMS 02 – PRMES 03 – PRMSE 04 – MPRES 05 – MPRSE
06 – MPSRE 07 – PMRES 08 – PMRSE 09 – PMSRE 10 – MSPRE

1 – Mostrar que 2.4.6.8. ... .(2n – 2).2n = n! . 2n

Solução: O primeiro membro da igualdade pode ser escrito como:


2.1 . 2.2 . 2.3 . 2.4 . ... . 2.(n – 1) . 2.n Observe que no produto acima, o fator 2 se repete n vezes;
portanto, o produto de 2 por ele mesmo, n vezes, resulta na potência 2n. Logo, o primeiro membro da
igualdade fica: 2n(1 . 2 . 3 . 4 . ... . n). Observe que entre parênteses, temos exatamente o fatorial de n ou
seja: n! Substituindo, vem finalmente : 2n . n! Assim, mostrei que:
2.4.6.8. ... .2(n – 1). 2n = n! . 2n

Então, podemos dizer que: O produto dos n primeiros números pares positivos é igual ao factorial de n
multiplicado pela n - ésima potência de 2.

2 – Simplificar o número fracionário:

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 5


n! p!
2.4.6.8...2n.2.4.6.8...2 p

Solução: Usando o resultado do problema anterior, poderemos escrever imediatamente:

n! p! 1 1
n p
 n p  n  p  2 ( n  p )
2 n!2 p! 2 2 2

Portanto, a expressão dada, quando simplificada, fica igual a 2 -(n+p).

1 - A Direcção de uma Empresa tem seis membros. Quantas comissões de quatro membros podem ser
formadas, com a condição de que em cada comissão figurem sempre o Presidente e o Vice-Presidente?
SOLUÇÃO: Os agrupamentos são do tipo combinações, já que a ordem dos elementos não muda o
agrupamento. O número procurado é igual a: C6-2,4-2 = C 4,2 = (4.3)/(2.1) = 6. Observe que raciocinamos
com a formação das comissões de 2 membros escolhidos entre 4, já que duas posições na comissão são
fixas: a do Presidente e do Vice.

2- A Directoria de uma Empresa tem seis membros. Quantas comissões de dois membros podem ser
formadas, com a condição de que em nenhuma delas figure o Presidente e o Vice?
SOLUÇÃO: Ora, retirados o Presidente e o Vice, restam 6 – 2 = 4 elementos. Logo, O número
procurado será igual a: C6-2,2 = C4,2 = (4.3)/(2.1) = 6.

3- Numa assembleia de quarenta Cientistas, oito são físicos. Quantas comissões de cinco membros podem
ser formadas incluindo no mínimo um físico?
SOLUÇÃO: A expressão “no mínimo um físico” significa a presença de 1, 2, 3, 4 ou 5 físicos nas
comissões. Podemos raciocinar da seguinte forma: em quantas comissões não possuem físicos e subtrair
este número do total de agrupamentos possíveis. Ora, existem C40,5 comissões possíveis de 5 membros
escolhidos entre 40 e, existem C40-8,5 = C32,5 comissões nas quais não aparecem físicos.
Assim, teremos: C40,5 - C32,5 = 456 632 comissões.Observe que Cn,k = n!/(n-k)!.k!

4- Ordenando de modo crescente as permutações dos algarismos 2, 5, 6, 7 e 8, qual o lugar que ocupará a
permutação 68275?
SOLUÇÃO: O número 68275 será precedido pelos números das formas:
a) 2xxxx, 5xxxx que dão um total de 4! + 4! = 48 permutações
b) 62xxx, 65xxx, 67xxx que dão um total de 3.3! = 18 permutações
c) 6825x que dá um total de 1! = 1 permutação.

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 6


Logo o número 68275 será precedido por 48+18+1 = 67 números. Logo, sua posição será a de número
68.

5- Sabe-se que o número de maneiras de n pessoas sentarem-se ao redor de uma mesa circular é dado pela
fórmula Pn = (n - 1)! . Nestas condições, de quantas maneiras distintas 7 pessoas podem sentar-se em
torno de uma mesa circular, de tal modo que duas determinadas pessoas fiquem sempre acomodadas
juntas?
SOLUÇÃO: Supondo que as pessoas A e B fiquem sentadas juntas, podemos considerar que os
agrupamentos possíveis serão das seguintes formas:
a) (AB)XYZWK.......P’n = (6-1)! = 120
b) (BA)XYZWK.......P’n = (6-1)! = 120
Logo o número total será: 120+120 = 240.

6- De quantas maneiras seis pessoas podem sentar-se ao redor de uma mesa circular?
SOLUÇÃO: Pn = (6-1)! = 5! = 5.4.3.2.1 = 120.

7- Numa reunião de sete pessoas há nove cadeiras. De quantos modos se podem sentar as pessoas?
SOLUÇÃO: Trata-se de um problema de arranjos simples, cuja solução é encontrada calculando-se:
A9,7 = 9.8.7.6.5.4.3 = 181.440 Nota: observe que An,k contém k fcatores decrescentes a partir de n.
Exemplo: A10,2 = 10.9 = 90, A9,3 = 9.8.7 = 504, etc. Poderíamos também resolver aplicando a regra do
produto, com o seguinte raciocínio: a primeira pessoa tinha 9 opções para sentar-se, a segunda, 8 , a
terceira,7 , a quarta,6 , a quinta,5 , a sexta, 4 e finalmente a sétima, 3. Logo, o número total de
possibilidades será igual a 9.8.7.6.5.4.3 = 181.440

8- Quantos são os anagramas da palavra UNIVERSAL que começam por consoante e terminam por
vogal?
SOLUÇÃO: A palavra dada possui 5 consoantes e 4 vogais. Colocando uma das consoantes, por
exemplo, N, no início da palavra, podemos dispor em correspondência, cada uma das 4 vogais no final.
Eis o esquema correspondente: (N...U) (N...I) (N...E) (N....A). Podemos fazer o mesmo raciocínio
para as demais consoantes. Resultam 5.4=20 esquemas do tipo acima. Permutando-se as 7 letras restantes
situadas entre a consoante e a vogal, de todos os modos possíveis, obteremos em cada esquema 7!
anagramas. O número pedido será, pois, igual a
20.7! = 20.7.6.5.4.3.2.1 = 100.800

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 7


9- Numa reunião estão doze pessoas. Quantas comissões de três membros podem ser formadas, com a
condição de que uma determinada pessoa A esteja sempre presente e uma determinada pessoa B nunca
participe junto com a pessoa A?
SOLUÇÃO: Como um dos 3 integrantes é sempre A, resta determinar os dois outros, com a condição
de que não seja B. Logo, dos 12, excluindo A(que tem presença garantida) e B (que não pode participar
junto com A) restam 10 pessoas que deverão ser agrupadas duas a duas. Portanto, o número procurado é
igual a C10,2 = (10.9)/(2.1) = 45.

10- Numa assembleia há cinqüenta e sete deputados sendo trinta e um governistas e os demais,
oposicionistas. Quantas comissões de sete deputados podem ser formadas com quatro membros do
governo e três da oposição?
SOLUÇÃO: Escolhidos três deputados oposicionistas, com eles podemos formar tantas comissões
quantas são as combinações dos 31 deputados do governo tomados 4 a 4 (taxa 4), isto é: C31,4 . Podemos
escolher 3 oposicionistas, entre os 26 existentes, de C26,3 maneiras distintas; portanto o número total de
comissões é igual a C26,3 . C31,4 = 81.809.000, ou seja, quase oitenta e dois milhões de comissões
distintas!.

11- Quantas anagramas podem ser formados com as letras da palavra ARARA?
SOLUÇÃO: Observe que a palavra ARARA possui 5 letras porém com repetição. Se as 5 letras fossem
distintas teríamos 5! = 120 anagramas. Como existem letras repetidas, precisamos “descontar” todas as
trocas de posições entre letras iguais. O total de anagramas será, portanto, igual a P = 5!/(3!.2!) = 10.
É óbvio que podemos também calcular directamente usando a fórmula de permutações com repetição.

12- De quantos modos podemos dispor 5 livros de Matemática, 3 de Física e 2 de Química em uma
prateleira, de modo que os livros do mesmo assunto fiquem sempre juntos?
SOLUÇÃO: Dentre os 5 livros de Matemática, podemos realizar 5! permutações distintas entre eles.
Analogamente, 3! para os livros de Física e 2! para os livros de Química. Observe que estes 3 conjuntos
de livros podem ainda serem permutados de 3! maneiras distintas entre si. Logo, pela regra do produto, o
número total de possibilidades será:
N = [(5!).(3!).(2!)].(3!) = 120.6.2.6 = 8640 modos distintos.

Agora resolva estes:

1 – Com seis homens e quatro mulheres, quantas comissões de quatro pessoas podemos formar? Solução:
210

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 8


2 – Com seis homens e quatro mulheres, quantas comissões de cinco pessoas podemos formar,
constituídas por dois homens e três mulheres? Solução: 60

3 - De quantos modos podemos dispor cinco livros de Matemática, três de Física e dois de Química em
uma prateleira, de modo que os livros do mesmo assunto e na ordem dada no enunciado, fiquem sempre
juntos? Solução: 1440

Noções de Probabilidade

1 – Introdução

Chama-se experimento aleatório àquele cujo resultado é imprevisível, porém pertence


necessariamente a um conjunto de resultados possíveis denominado espaço amostral.
Qualquer subconjunto desse espaço amostral é denominado evento. Se este subconjunto possuir
apenas um elemento, o denominamos evento elementar.

Por exemplo, no lançamento de um dado, o nosso espaço amostral seria


U = {1, 2, 3, 4, 5, 6}.

Exemplos de eventos no espaço amostral U:


A: sair número maior do que 4: A = {5, 6}
B: sair um número primo e par: B = {2}
C: sair um número ímpar: C = {1, 3, 5}

Nota: O espaço amostral é também denominado espaço de prova. Trataremos aqui dos espaços
amostrais equiprováveis, ou seja, aqueles onde os eventos elementares possuem a mesma chance
de ocorrerem. Por exemplo, no lançamento do dado acima, supõe-se que sendo o dado perfeito, as
chances de sair qualquer número de 1 a 6 são iguais. Temos então um espaço equiprovável.

Em oposição aos fenômenos aleatórios, existem os fenômenos determinísticos, que são aqueles
cujos resultados são previsíveis, ou seja, temos certeza dos resultados a serem obtidos.

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 9


Normalmente existem diversas possibilidades possíveis de ocorrência de um fenômeno aleatório,
sendo a medida numérica da ocorrência de cada uma dessas possibilidades, denominada
Probabilidade.

Consideremos uma urna que contenha 49 bolas azuis e 1 bola branca. Para uma retirada, teremos
duas possibilidades: bola azul ou bola branca. Percebemos entretanto que será muito mais
freqüente obtermos numa retirada, uma bola azul, resultando daí, podermos afirmar que o evento
"sair bola azul" tem maior probabilidade de ocorrer, do que o evento "sair bola branca".

2 – Conceito elementar de Probabilidade

Seja U um espaço amostral finito e equiprovável e A um determinado evento ou seja, um


subconjunto de U. A probabilidade p(A) de ocorrência do evento A será calculada pela fórmula

p(A) = n(A) / n(U)


onde: n(A) = número de elementos de A e n(U) = número de elementos do espaço de prova U.
Vamos utilizar a fórmula simples acima, para resolver os seguintes exercícios introdutórios:

1.1 - Considere o lançamento de um dado. Calcule a probabilidade de:

a) sair o número 3: Temos U = {1, 2, 3, 4, 5, 6} [n(U) = 6] e A = {3} [n(A) = 1]. Portanto, a


probabilidade procurada será igual a p(A) = 1/6.

b) sair um número par: agora o evento é A = {2, 4, 6} com 3 elementos; logo a probabilidade
procurada será p(A) = 3/6 = 1/2.

c) sair um múltiplo de 3: agora o evento A = {3, 6} com 2 elementos; logo a probabilidade


procurada será p(A) = 2/6 = 1/3.

d) sair um número menor do que 3: agora, o evento A = {1, 2} com dois elementos. Portanto,p(A)
= 2/6 = 1/3.

e) sair um quadrado perfeito: agora o evento A = {1,4} com dois elementos. Portanto, p(A) = 2/6
= 1/3.

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 10


1.2 - Considere o lançamento de dois dados. Calcule a probabilidade de:

a) sair a soma 8. Observe que neste caso, o espaço amostral U é constituído pelos pares ordenados
(i,j), onde i = número no dado 1 e j = número no dado 2. É evidente que teremos 36 pares
ordenados possíveis do tipo (i, j) onde i = 1, 2, 3, 4, 5, ou 6, o mesmo ocorrendo com j.
As somas iguais a 8, ocorrerão nos casos:(2,6),(3,5),(4,4),(5,3) e (6,2). Portanto, o evento "soma
igual a 8" possui 5 elementos. Logo, a probabilidade procurada será igual a p(A) = 5/36.

b) sair a soma 12. Neste caso, a única possibilidade é o par (6,6). Portanto, a probabilidade
procurada será igual a p(A) = 1/36.

1.3 – Uma urna possui 6 bolas azuis, 10 bolas vermelhas e 4 bolas amarelas. Tirando-se uma bola
com reposição, calcule as probabilidades seguintes:

a) sair bola azul


p(A) = 6/20 = 3/10 = 0,30 = 30%

b) sair bola vermelha


p(A) = 10/20 =1/2 = 0,50 = 50%

c) sair bola amarela


p(A) = 4/20 = 1/5 = 0,20 = 20%

Vemos no exemplo acima, que as probabilidades podem ser expressas como porcentagem. Esta
forma é conveniente, pois permite a estimativa do número de ocorrências para um número elevado
de experimentos. Por exemplo, se o experimento acima for repetido diversas vezes, podemos
afirmar que em aproximadamente 30% dos casos, sairá bola azul, 50% dos casos sairá bola
vermelha e 20% dos casos sairá bola amarela. Quanto maior a quantidade de experimentos, tanto
mais a distribuição do número de ocorrências se aproximará dos percentuais indicados.

3 – Propriedades

P1: A probabilidade do evento impossível é nula. Com efeito, sendo o evento impossível o
conjunto vazio (Ø), teremos: p(Ø) = n(Ø)/n(U) = 0/n(U) = 0
Por exemplo, se numa urna só existem bolas brancas, a probabilidade de se retirar uma bola verde
(evento impossível, neste caso) é nula.

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 11


P2: A probabilidade do evento certo é igual a unidade. Com efeito, p(A) = n(U)/n(U) = 1
Por exemplo, se numa urna só existem bolas vermelhas, a probabilidade de se retirar uma bola
vermelha (evento certo, neste caso) é igual a 1.

P3: A probabilidade de um evento qualquer é um número real situado no intervalo real [0, 1].
Esta propriedade, decorre das propriedades 1 e 2 acima.

P4: A soma das probabilidades de um evento e do seu evento complementar é igual a unidade.
Seja o evento A e o seu complementar A'. Sabemos que A U A' = U. n(A U A') = n(U) e,
portanto, n(A) + n(A') = n(U). Dividindo ambos os membros por n(U), vem:
n(A)/n(U) + n(A')/n(U) = n(U)/n(U), de onde conclui-se: p(A) + p(A') = 1

Nota: esta propriedade simples, é muito importante pois facilita a solução de muitos problemas
aparentemente complicados. Em muitos casos, é mais fácil calcular a probabilidade do evento
complementar e, pela propriedade acima, fica fácil determinar a probabilidade do evento.

P5: Sendo A e B dois eventos, podemos escrever: p(A U B) = p(A) + p(B) – p ( A  B )


Observe que se A B= Ø (ou seja, a interseção entre os conjuntos A e B é o conjunto vazio), então
p(A U B) = p(A) + p(B). Com efeito, já sabemos da Teoria dos Conjuntos que n(A U B) = n(A) +
n(B) – n(A B). Dividindo ambos os membros por n(U) e aplicando a definição de probabilidade,
concluímos rapidamente a veracidade da fórmula acima.

Exemplo:
Em uma certa comunidade existem dois jornais J e P. Sabe-se que 5000 pessoas são assinantes do
jornal J, 4000 são assinantes de P, 1200 são assinantes de ambos e 800 não lêem jornal. Qual a
probabilidade de que uma pessoa escolhida ao acaso seja assinante de ambos os jornais?

SOLUÇÃO:
Precisamos calcular o número de pessoas do conjunto universo, ou seja, nosso espaço amostral.
Teremos:
n(U) = N(J U P) + N.º de pessoas que não lêem jornais.
n(U) = n(J) + N(P) – N ( J  P) + 800
n(U) = 5000 + 4000 – 1200 + 800
n(U) = 8600
Portanto, a probabilidade procurada será igual a:
p = 1200/8600 = 12/86 = 6/43.

dr. Rodrigues Zicai Fazenda [email protected] 12


Logo, p = 6/43 = 0,1395 = 13,95%.

A interpretação do resultado é a seguinte: escolhendo-se ao acaso uma pessoa da comunidade, a


probabilidade de que ela seja assinante de ambos os jornais é de aproximadamente 14%.(contra
86% de probabilidade de não ser).

4 – Probabilidade condicional

Considere que desejamos calcular a probabilidade da ocorrência de um evento A, sabendo-se de


antemão que ocorreu um certo evento B. Pela definição de probabilidade vista anteriormente,
sabemos que a probabilidade de A deverá ser calculada, dividindo-se o número de elementos de
elementos de A que também pertencem a B, pelo número de elementos de B. A probabilidade de
ocorrer A, sabendo-se que já ocorreu B, é denominada Probabilidade condicional e é indicada por
p(A/B) – probabilidade de ocorrer A sabendo-se que já ocorreu B – daí, o nome de probabilidade
condicional.

Teremos então: p(A/B) = n(A B)/ n(B), onde A B = interseção dos conjuntos A e B.

Esta fórmula é importante, mas pode ser melhorada. Vejamos:


Ora, a expressão acima, pode ser escrita sem nenhum prejuízo da elegância, nem do rigor, como:
p(A/B) = [n ( A  B ) /n(U)] . [n(U)/n(B)]
p(A/B) = p ( A  B ) . 1/p(B)
Vem, então: P(A/B) = p ( A  B ) /p(B), de onde concluímos finalmente:

p(A B) = p(A/B).p(B)

Esta fórmula é denominada Lei das Probabilidades Compostas. Esta importante fórmula, permite
calcular a probabilidade da ocorrência simultânea dos eventos A e B, sabendo-se que já ocorreu o
evento B. Se a ocorrência do evento B, não mudar a probabilidade da ocorrência do evento A,
então p(A/B) = p(A) e, neste caso, os eventos são ditos independentes, e a fórmula acima fica:
p(A B) = p(A) . p(B) . Podemos então afirmar, que a probabilidade de ocorrência simultânea de
eventos independentes, é igual ao produto das probabilidades dos eventos considerados.

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Exemplo:
Uma urna possui cinco bolas vermelhas e duas bolas brancas. Calcule as probabilidades de:

a) em duas retiradas, sem reposição da primeira bola retirada, sair uma bola vermelha (V) e depois
uma bola branca (B).

Solução: p(VB) = p(V) . p(B/V). p(V) = 5/7 (5 bolas vermelhas de um total de 7).
Supondo que saiu bola vermelha na primeira retirada, ficaram 6 bolas na urna. Logo:
p(B/V) = 2/6 = 1/3. Da lei das probabilidades compostas, vem finalmente que:
P(VB) = 5/7 . 1/3 = 5/21 = 0,2380 = 23,8%

b) em duas retiradas, com reposição da primeira bola retirada, sair uma bola vermelha e depois
uma bola branca.

Solução:
Com a reposição da primeira bola retirada, os eventos ficam independentes. Neste caso, a
probabilidade buscada poderá ser calculada como:
P(VB) = p(V) . p(B) = 5/7.2/7 = 10/49 = 0,2041 = 20,41%

Observe atentamente a diferença entre as soluções dos itens (a) e (b) acima, para um entendimento
perfeito daquilo que procuramos transmitir. Vimos na aula anterior, que num espaço amostral U,
n( A)
finito e equiprovável, a probabilidade de ocorrência de um evento A é dada por: p( A) 
n(U )

onde n(A) = n.º de elementos de A e n(U) = n.º de elementos de U.

Sabe-se que p(A) é um número real que pode assumir valores de 0 a 1, sendo p(A) = 0, a
probabilidade de um evento impossível (conjunto vazio) e p(A) = 1, a probabilidade de um evento
certo (conjunto universo).

Já sabemos também que definido um evento A, podemos considerar o seu evento complementar
Além disto, vimos que p ( A ) = 1 – p(A).

Vejamos um exemplo de aplicação imediata das fórmulas acima:

Ao sortear ao acaso um dos números naturais menores que 100, qual a probabilidade do número
sorteado ser menor do que 30?

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Ora, neste caso, o nosso espaço amostral é: U = {0,1,2,3, ... , 99}.
O evento A é igual a: A ={0,1,2,3, ... , 29}.
O evento complementar de A é igual a: A’= {30,31,32, ... , 99}.
Temos que: n(U) = 100, n(A) = 30 e n( A )  70
Portanto:
p(A) = 30/100 = 0,30 = 30%
70
p( A )   0,70  70%
100

Vemos que p(A) + p ( A ) = 0,30 + 0,70 = 1, o que confirma que a probabilidade de um evento
somada à probabilidade do seu evento complementar, é igual à unidade.

Vimos também na aula anterior que, sendo A e B dois eventos do espaço amostral U, podemos
escrever: p ( A  B )  p ( A)  p ( B )  p ( A  B )
Vejamos um exemplo de aplicação da fórmula supra:

No lançamento de um dado, determine a probabilidade de se obter um número ímpar ou mais de 4


pontos na face de cima. Ora, neste caso, teremos:
Espaço amostral: U = {1,2,3,4,5,6} e n(U) = 6
Evento A: A = {1,3,5} e n(A) = 3
Evento B: B = {5,6} e n(B) = 2
Evento interseção: ( A  B )= {5} e n ( A  B )= 1
Então, vem: p ( A  B ) = 3/6 + 2/6 – 1/6 = 4/6 = 2/3 = 0,6667 = 66,67%.

NOTA: Se A  B  0 , então dizemos que A e B são eventos mutuamente exclusivos, e, neste


caso, p ( A  B )  p ( A)  p ( B ) , já que p ( A  B )  0 [evento impossível].

Vejamos um exemplo ilustrativo do caso acima:


Suponha que no lançamento de um dado, deseja-se saber qual a probabilidade de se obter um
número par ou um número menor do que 2.
Temos os seguintes eventos:
A = {2,4,6} e n(A) = 3 B = {1} e n(B) = 1
Portanto, p ( A  B ) = 3/6 + 1/6 = 4/6 = 2/3 = 0,6667 = 66,67%

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Vimos também na aula anterior, que a probabilidade de ocorrência simultânea de dois eventos A e
B é dada por:
p ( A  B ) = p(A) . p(B/A) OU p ( A  B ) = p(B) . p(A/B)
onde:
p(A/B) = probabilidade de ocorrer A, sabendo-se que ocorreu o evento B.
p(B/A) = probabilidade de ocorrer B, sabendo-se que ocorreu o evento A.
Se a ocorrência do evento B não modifica a chance de ocorrer o evento A, diremos que os
eventos A e B são INDEPENDENTES e, neste caso, teremos que p(B/A) = p(B), e a fórmula
resume-se a: p ( A  B )  p ( A)  p ( B )

O exemplo ilustrativo a seguir, ajudará a entender a afirmação supra:


Qual a probabilidade de em dois lançamentos de um dado, se obter número par no primeiro e
número ímpar no segundo?

Ora, os eventos são obviamente independentes, pois a ocorrência de um não afeta o outro.
Logo, teremos:
p ( A  B )  p ( A)  p ( B ) = 3/6 . 3/6 = 1/2.1/2 = 1/4 = 0,25 = 25%.

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