Fluxograma de Preparação Do Biodiesel
Fluxograma de Preparação Do Biodiesel
Fluxograma de Preparação Do Biodiesel
Biodiesel
Produção
Novembro/2006
Edição atualizada em Junho/2021
Biodiesel
O Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas – SBRT fornece soluções de informação tecnológica sob medida, relacionadas aos
processos produtivos das Micro e Pequenas Empresas. Ele é estruturado em rede, sendo operacionalizado por centros de
pesquisa, universidades, centros de educação profissional e tecnologias industriais, bem como associações que promovam a
interface entre a oferta e a demanda tecnológica. O SBRT é apoiado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas – SEBRAE e pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação – MCTI e de seus institutos: Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT.
Dossiê Técnico COSTA, Bill Jorge; OLIVEIRA, Sonia Maria Marques de
Biodiesel
Instituto de Tecnologia do Paraná - TECPAR
31/10/2006
Resumo Este dossiê aborda sobre o biodiesel apresentando aspectos
relativos à tecnologia de produção, matérias-primas, legislação,
regulamentações e normas técnicas, patentes, máquinas e
equipamentos, planta de produção, instituições e associações
vinculadas ao biodiesel, bem como, questões relativas ao
desempenho de motores que utilizam este tipo de combustível.
Salvo indicação contrária, este conteúdo está licenciado sob a proteção da Licença de Atribuição 3.0 da Creative Commons. É permitida a
cópia, distribuição e execução desta obra - bem como as obras derivadas criadas a partir dela - desde que criem obras não comerciais e
sejam dados os créditos ao autor, com menção ao: Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br
Sumário
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
2 OBJETIVO .................................................................................................................. 3
3 O QUE É BIODIESEL.................................................................................................. 3
4 TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO ............................................................................... 4
4.1 Processo produtivo do biodiesel ........................................................................... 5
4.1.1 Preparação da matéria-prima................................................................................. 6
4.1.2 Reação de transesterificação ................................................................................. 6
4.1.3 Separação de fases ............................................................................................... 7
4.1.4 Recuperação do álcool da glicerina ....................................................................... 7
4.1.5 Recuperação do álcool dos ésteres ....................................................................... 7
4.1.6 Desidratação do álcool........................................................................................... 7
4.1.7 Purificação dos ésteres .......................................................................................... 8
4.1.8 Destilação da glicerina ........................................................................................... 8
4.2 Armazenamento do biodiesel ................................................................................ 8
5 MATÉRIAS-PRIMAS PARA PRODUÇÃO DO BIODIESEL ........................................ 8
5.1 Óleos residuais como matéria-prima para produção de biodiesel...................... 10
5.2 Óleo vegetal in-natura ............................................................................................ 10
5.3 Biodiesel e o óleo de mamona ............................................................................... 11
5.4 Toxicidade do biodiesel de mamona ..................................................................... 11
5.5 Propriedades do biodiesel devido à origem da matéria-prima ............................ 12
5.6 Especificações técnicas ......................................................................................... 13
6 EQUIPAMENTOS PARA UMA MICRORREFINARIA ................................................. 14
7 DESEMPENHO DO BIODIESEL EM MOTORES E VEÍCULOS COM O DIESEL
ADITIVADO E A GARANTIA DOS FABRICANTES....................................................... 14
7.1 Rendimento do motor ............................................................................................. 15
7.2 Combustão do biodiesel ........................................................................................ 15
8 PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DE BIODIESEL (PNPB) ............. 16
9 LEGISLAÇÃO, REGULAMENTAÇÕES E NORMAS TÉCNICAS ............................... 17
9.1 Normas técnicas ..................................................................................................... 17
9.1.1Normas ASTM ........................................................................................................ 17
9.1.2 Normas EM/ISO ..................................................................................................... 17
9.1.3 Normas ABNT ........................................................................................................ 19
9.2 Legislação e regulamentações técnicas ............................................................... 22
9.2.1 Legislação da ANP. ............................................................................................... 22
9.2.2 Legislação federal para o biodiesel ........................................................................ 23
10 PATENTES................................................................................................................ 24
10.1 Primeira patente no mundo de biodiesel ............................................................ 24
10.2 Pedidos de depósito de patentes registrados no INPI ....................................... 24
Conclusões e recomendações .................................................................................... 27
Referências ................................................................................................................... 28
Anexo - Empresas que elaboram plantas para produção de biodiesel .................... 29
Conteúdo
1 INTRODUÇÃO
O Brasil, pela sua grandiosa extensão territorial e pelas vantajosas condições de clima e
solo, é o país que se oferece, como poucos no mundo, para a exploração da biomassa com
fins alimentícios, químicos e energéticos. No caso do biodiesel, têm-se oleaginosas que são
matérias-primas de superior qualidade para a obtenção do produto, a exemplo da mamona,
dendê, soja, babaçu, girassol, entre outras espécies da flora nacional.
Assim, o uso de biocombustíveis no país, com ênfase no biodiesel, além de constituir uma
importante opção para a diminuição da dependência dos derivados de petróleo com ganhos
ambientais, representa um novo mercado para diversas culturas oleaginosas. O biodiesel
certamente será um importante produto para exportação, além de seu consumo interno.
2 OBJETIVO
A produção comercial do biodiesel no mercado nacional gerou uma alta demanda por
questões sobre sua cadeia produtiva. Desta forma, o presente dossiê tem por objetivo
apresentar informações técnicas e tecnológicas sobre a produção de biodiesel.
3 O QUE É BIODIESEL
4 TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO
Processo da transesterificação
Um reator realiza a reação química do óleo vegetal ou gordura animal com o etanol (rota
etílica) ou com o metanol (rota metílica) na presença de um catalisador básico (hidróxido de
sódio ou de potássio) ou ácido (ácido sulfúrico). O mais comumente utilizado é o NaOH pelo
seu baixo custo e disponibilidade. Para remoção da glicerina, que aparece como subproduto
da produção de biodiesel, são necessários volumes de 10 a 15% de etanol ou metanol. A
glicerina pode ser utilizada como matéria-prima na produção de tintas, adesivos, produtos
farmacêuticos, têxteis, etc., aumentando a competitividade do produto. As vantagens e
desvantagens das rotas etílica e metílica estão descritas no Quadro 1.
Sob o ponto de vista técnico e econômico, a reação via metanol é muito mais vantajosa que
a reação via etanol.
No Brasil, atualmente, uma vantagem da rota etílica possa ser considerada a oferta desse
álcool, de forma disseminada em todo o território nacional. Assim, os custos diferenciais de
fretes, para o abastecimento de etanol versus abastecimento de metanol, em certas
situações, possam influenciar numa decisão. Sob o ponto de vista ambiental, o uso do
etanol leva vantagem sobre o uso do metanol, quando este álcool é obtido de derivados do
petróleo, no entanto, é importante considerar que o metanol pode ser produzido a partir da
biomassa, quando essa suposta vantagem ecológica, pode desaparecer. Em todo o mundo
o biodiesel tem sido obtido via metanol.
Um reator promove a quebra das moléculas do óleo vegetal por aquecimento a altas
temperaturas e um catalisador remove os compostos oxigenados corrosivos.
Processo de esterificação
A formação de ésteres por meio da reação entre um ácido graxo livre e um álcool de cadeia
curta (metanol ou etanol) na presença de um catalisador ácido é chamada esterificação e
vem sendo considerada outra rota promissora para a obtenção de biodiesel.
ou
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DOSSIÊ TÉCNICO
Ressalta-se que, sob o ponto de vista objetivo, as reações químicas são equivalentes, uma
vez que os ésteres metílicos e os ésteres etílicos têm propriedades equivalentes como
combustível, sendo ambos, considerados biodiesel.
Da mesma forma, mas separadamente, o álcool residual é recuperado da fase mais leve,
liberando, para as etapas seguintes, os ésteres metílicos ou etílicos.
O biodiesel deve ser estocado em ambientes secos, limpos e isentos de luz. Os materiais
aceitáveis são alumínio, aço, polietileno fluoretado, propileno fluoretado e teflon. Entretanto,
não são recomendados chumbo, estanho, zinco e bronze.
O biodiesel pode ser produzido a partir de várias oleaginosas. Destacam-se como principais
fontes o dendê, o babaçu, a soja, o coco, o girassol, a colza e a mamona. É possível fazer
misturas dos ésteres de várias origens na obtenção do biodiesel.
Empregar uma única matéria-prima para produzir biodiesel, num país com a diversidade do
Brasil, seria um grande equívoco. Na Europa usa-se, predominantemente, a colza (canola),
por falta de alternativas, embora se fabrique biodiesel também com óleos residuais de fritura
e resíduos gordurosos. No caso do Brasil, têm-se dezenas de alternativas, como
demonstram experiências realizadas em diversos Estados com mamona, dendê, soja,
girassol, pinhão manso, babaçu, amendoim, pequi, etc.
Cada cultura desenvolve-se melhor dependendo das condições de solo, clima, altitude e
assim por diante (FIG. 2). A mamona é importante para o Semiárido, por se tratar de uma
oleaginosa com alto teor de óleo, adaptada às condições vigentes naquela região e para
cujo cultivo já se detém conhecimento agronômico suficiente. Além disso, o agricultor
familiar nordestino já conhece a mamona. O dendê será, muito provavelmente, a principal
matéria-prima na região Norte (QUADRO 2).
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DOSSIÊ TÉCNICO
As matérias-primas para produção de biodiesel podem ser divididas a partir de suas cadeias
produtivas (FIG. 3).
De acordo com Parente (2003), existem alguns problemas técnicos com respeito à
transformação dos óleos residuais de frituras, em face da heterogeneidade da matéria-prima
com respeito ao grau de acidez, do teor de umidade e da presença de certos contaminantes,
no entanto, instituições brasileiras, a exemplo da Coordenação dos Programas de Pós-
graduação de Engenharia (COPPE) e da Escola de Química da Universidade Federal do Rio
de Janeiro - UFRJ, realizam pesquisas sobre este tema.
Biodiesel e óleo vegetal in natura são substâncias quimicamente distintas. Os óleos vegetais
são substâncias graxas, de natureza triglicerídica ou não, presentes em frutos ou grãos
oleaginosos. Já o biodiesel é um produto do processamento químico de tais óleos vegetais.
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DOSSIÊ TÉCNICO
Essa dúvida sempre surge devido ao fato de óleos vegetais in natura já terem sido testados
em motores diesel, inclusive pelo próprio inventor, Rudolf Diesel.
Na realidade, ainda hoje, alguns utilizam esses óleos como combustíveis. Mas, estudos
demonstram que o uso de óleos vegetais in natura em motores diesel com combustão direta
(ausência de pré-câmara de combustão), que são os motores utilizados atualmente (com
maiores rendimentos, porém menor tolerância quanto à qualidade do combustível), é
tecnicamente inviável, pois causa formação de resíduos sólidos, entupindo os bico injetores.
No mais, a combustão de óleos vegetais in natura libera a acroleína (fruto da oxidação da
glicerina), substância de elevada toxicidade e odor desagradável.
O governo brasileiro defende o uso do biodiesel obtido a partir de qualquer matéria graxa,
desde que haja viabilidade técnica, econômica e socioambiental.
Então, por que querer utilizar justamente o óleo mais caro para a produção de um
combustível no limite da sua viabilidade econômica? Simplesmente porque argumenta-se
que a mamona (Ricinus communis L.) é a única cultura capaz de sustentar um programa
social de geração de ocupação e renda no semiárido brasileiro. O óleo de mamona possui
um elevado valor químico, o que lhe permite a prática de preços relativamente altos.
Entretanto, esse mercado é pequeno, se comparado ao mercado energético. O mercado
químico mundial da mamona foi estimado em 800.000 ton./ano e já está praticamente
saturado. Um grande programa de produção de biodiesel empregando a mamona como
matéria-prima e centrado no homem do campo, já é o suficiente para inundar o mercado
químico, reduzindo o preço do óleo a patamares admissíveis ao mercado sustentador da
cadeia produtiva (mercado energético).
O biodiesel de mamona, além de possuir uma enorme vantagem social, possui algumas
vantagens de ordem técnica. Seu óleo é predominantemente composto (90%) de ácido
ricinoléico combinado. Esse ácido possui 18 átomos de carbono em sua molécula, além de
uma dupla no carbono 9 e uma hidroxila no carbono 12. Isso quer dizer que ele possui a
vantagem de conter predominantemente um ácido monoinsaturado e possuir um maior teor
de oxigênio em sua molécula.
Com isso, estudos realizados pela montadora FIAT demonstraram que, devido a essas
características, o biodiesel de mamona, dentre os demais, foi o que apresentou os melhores
resultados em testes de aplicabilidade em seus motores (maior torque, maior potência e
menor consumo específico), além de, em consequência à melhoria na qualidade de
combustão, apresentar ainda uma maior redução das emissões poluentes, se comparado ao
biodiesel obtido de outras matérias-primas.
O biodiesel de mamona não é tóxico. Muito se tem falado em mamona, desde que esta
matéria-prima, possível de ser agricultada em lavouras familiares nas regiões semiáridas, se
presta para o mercado energético. Os seus aspectos toxicológicos têm vindo à tona, uma
vez que é possível envolver grandes contingentes de lavradores e, em consequência, se
fala em grandes plantios.
A baga da mamona, fruto da mamoneira, possui duas substâncias de alto grau de toxidez: a
ricina e a ricinina. A ricinina ocorre também nas folhas da planta. São as substâncias
naturais mais venenosas que se tem notícia. Entretanto, da extração mecânica ou com
solvente do óleo contido na baga de mamona, resulta um óleo espesso, de odor e sabor
característico que, após a filtração, não contém ricina, nem tampouco ricinina, que são
insolúveis no óleo, ficando essas duas substâncias na torta ou farelo.
O óleo de mamona não é alimentício porque não é palatável e, sobretudo, porque é laxativo,
constituindo um poderoso vermífugo, bastante utilizado no passado, apesar do seu péssimo
sabor. É um óleo vegetal triglicerídico, no qual o ácido ricinoléico (ácido cis-12-
hidroxioctadec-9-enoico) é o ácido graxo dominante. A transesterificação do óleo de
mamona resulta no biodiesel de mamona, da mesma forma que acontece com os demais
óleos triglicerídicos. Sob o ponto de vista químico, o biodiesel de mamona é constituído
predominantemente pelo ricinoleato de metila ou de etila, conforme a reação química que
lhe deu origem tenha sido coadjuvada pelo álcool metílico ou etílico, respectivamente.
Por outro lado, o óleo de mamona encontra muitas aplicações no mercado químico e
farmacêutico. Entre elas convém comentar a produção de ácido w-amino-undecanóico, um
monômero de processos de produção de biopolímeros, obtido através de uma pirólise do
ricinoleato, catalisada por ácido sulfúrico. Como um dos intermediários da produção do
referido monômero, inclui a presença do heptanal, um aldeído de 7 átomos de carbono,
considerado uma substância por demais tóxica. Este destaque foi considerado oportuno,
pois poderia supor que este aldeído poderia se fazer presente nas emissões de um motor
diesel, funcionando com o biodiesel de mamona. Isto é verdadeiramente impossível, pois os
aldeídos queimam com extraordinária facilidade, mormente pela presença na molécula de
um átomo de oxigênio, catalisando a formação de gás carbono, ainda mais em condições da
câmara de combustão (900ºC e 40 atm), não sobrando qualquer substância tóxica
específica ao biodiesel de mamona.
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DOSSIÊ TÉCNICO
obviamente, a composição dos ácidos graxos combinados nos óleos ou gorduras será a
mesma composição no biodiesel produzido.
O biodiesel obtido de diferentes óleos vegetais apresenta poucas diferenças entre seus
parâmetros físico-químicos. A seguir, apresentam-se alguns parâmetros, para efeito de
comparação, de um biodiesel de óleo de soja, um biodiesel de óleo de girassol e o diesel
comum, com base na legislação, a qual sempre deverá ser utilizada como referência para
comparações (QUADRO 3).
Quadro 3 – Comparação entre biodiesel de óleo de soja, biodiesel de óleo de girassol e diesel comum
Fonte: (CERBIO, [200-?])
A Agência Nacional do Petróleo – ANP lançou no começo do ano de 2003, uma proposta de
especificação do biodiesel puro para ser utilizado misturado a até 20%. Tal proposta foi
baseada nas normas europeias (DIN 14214) e americanas (ASTM D-6751).
Análises feitas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro indicam que o uso do B2 não
causa nenhum dano aos componentes e, portanto, não requer qualquer modificação nos
motores. Ao contrário, ajuda no processo de lubrificação. A Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) já se comprometeu a manter as garantias
usualmente oferecidas aos veículos, desde que o B2 atenda às especificações técnicas
estabelecidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), que vai fiscalizar a qualidade do
diesel aditivado vendido nos postos, da mesma forma e com o mesmo rigor com que
fiscaliza os demais combustíveis.
Desenvolver um motor exclusivamente para o uso do biodiesel não tem muito sentido. A
ideia é substituir parcialmente o óleo diesel por esse combustível alternativo. Mesmo no
caso de se desejar uma substituição total, pequenas alterações de motores são necessárias
para que o seu funcionamento seja satisfatório. Desta forma, são muito poucas as
perspectivas de desenvolvimento de motores próprios para o biodiesel.
Dependendo da origem do biodiesel utilizado, essa diferença pode ser maior ou menor,
mas, em geral, o desempenho do motor não é significativamente alterado com o uso do
biodiesel. Eventualmente, pode-se verificar um aumento de consumo específico e maior
produção de óxidos de nitrogênio.
O biodiesel pode ser utilizado puro em motores a diesel, e já vem sendo utilizado nos
Estados Unidos e em alguns países da Europa, como a Alemanha e a França. No Brasil,
isso não vai ocorrer, a não ser em casos especiais, a exemplo do uso de B100 em motores
estacionários para a geração de energia elétrica.
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DOSSIÊ TÉCNICO
O segundo cuidado está relacionado ao uso sequenciado de óleo diesel mineral de baixa
qualidade e biodiesel. O diesel mineral de baixa qualidade provoca a incrustação de
resíduos sólidos nas linhas de condução do combustível. Um possível e posterior uso do
biodiesel pode limpar essas linhas, porém entupindo o filtro, carecendo uma reposição
(também não onerosa). Misturas biodiesel/diesel com concentração do primeiro abaixo de
20%, não apresentam esses inconvenientes.
O biodiesel possui um poder calorífico menor que o do diesel do petróleo. Entretanto, esse
inconveniente é compensado pelo maior número de cetano. Isso quer dizer que o biodiesel
possui uma combustão de maior qualidade, aproveitando melhor seu conteúdo energético,
de modo que o consumo específico dos dois combustíveis são os mesmos. Além disso,
testes de aplicabilidade demonstraram que não há redução significativa na potência, nem no
torque do motor.
Com o biodiesel dentro de especificações adequadas, a vida útil do motor não deve ser
alterada relativamente àquela do óleo diesel. Um teste normal de durabilidade de um motor
é efetuado em 1000 horas de funcionamento com combustível sob avaliação.
A molécula acima funciona como um palito de fósforo, sendo o grupamento éster (os dois
átomos de carbono) a pólvora e a cadeia hidrocarbônica, o palito de madeira. A madeira
pode ser utilizada como combustível para fazer fogo, porém a pólvora tem a função de
facilitar sua queima. Em outras palavras, os dois átomos de oxigênios na ponta da molécula,
nas condições da câmara de combustão evoluem a oxigênio nascente, que é muito mais
oxidante que o oxigênio gasoso do ar. Isso faz com que a combustão (oxidação) do resto da
cadeia hidrocarbônica seja facilitada. Dessa maneira, os gases de combustão do biodiesel
puro apresentam uma redução média de 35% dos hidrocarbonetos não queimados
(precursores do efeito smog), 55% dos sistemas particulados (causadores de problemas
respiratórios), 78 a 100% dos gases do efeito estufa (responsáveis pelo aquecimento global)
e 100% dos compostos sulfurados (precursores do câncer e da chuva ácida) e aromáticos
(também cancerígenos).
O PNPB foi lançado em 2004, seu principal objetivo era o de aumentar a produção e uso do
biodiesel de forma sustentável e com inclusão social. O Programa foi responsável pela
consolidação da indústria de biodiesel no Brasil. Em 2005, o biodiesel foi introduzido na
matriz energética brasileira, através da Lei 11.097, de 13 de janeiro de 2005 que fixou para
todo o território nacional o percentual mínimo obrigatório de adição de biodiesel ao diesel de
2% (B2) em volume ao diesel vendido ao consumidor final, a partir de janeiro de 2008 e de
5% (B5) a partir de janeiro de 2013 e estabeleceu o modo de utilização e o regime tributário
distinguido por região de plantio, por oleaginosa e por categoria de produção, agronegócio e
agricultura familiar.
A partir de 2008, a mistura passou a ser obrigatória e o percentual foi sendo ajustado ao
longo dos anos. Em 2018, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou o
percentual de 10% de biodiesel misturado ao óleo diesel vendido ao consumidor final (B10).
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DOSSIÊ TÉCNICO
A determinação das características do biodiesel deverá ser feita mediante o emprego das
normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), das normas internacionais
da "American Society for Testing and Materials" (ASTM), da "International Organization for
Standardization" (ISO) e do "Comité Européen de Normalisation" (CEN).
ASTM D130 - Corrosiveness to copper from petroleum products by copper strip test
ASTM D445 - Kinematic viscosity of transparent and opaque liquids (and calculation of
dynamic viscosity
ASTM D1298 - Density, relative density (specific gravity) or API gravity of crude petroleum
and liquid petroleum products by hydrometer
ASTM D4052 - Density and relative density of liquids by digital density meter
ASTM D5453 - Determination of total sulfur in light hydrocarbons, spark ignition engine fuel,
diesel engine fuel, and engine oil by ultraviolet fluorescence
ASTM D6304 - Determination of water in petroleum products, lubricating oils, and additives
by coulometric Karl Fisher titration
ASTM D6371 - Cold filter plugging point of Diesel and heating fuels
ASTM D6584 - Determination of total monoglyceride, total diglyceride, total triglyceride, and
free and total glycerin in b-100 biodiesel methyl esters by gas chromatography
ASTM D6890 - Determination of ignition delay and derived cetane number (DCN) of Diesel
fuel oils by combustion in a constant volume chamber
EN ISO 3675 - Crude petroleum and liquid petroleum products - Laboratory determination of
density - Hydrometer method
EN ISO 3679 - Determination of flash point - Rapid equilibrium closed cup method
EN ISO 3987 - Petroleum products - Lubricating oils and additives - Determination of sulfated
ash
EN ISO 5165 - Diesel fuels - Determination of the ignition quality of diesel fuels - Cetane
engine method
EN ISO 12185 - Crude petroleum and liquid petroleum products. Oscillating U-tube method
EN 14103 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of ester
and linolenic acid methyl ester contentes
EN 14104 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of acid
value
EN 14105 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of free
and total glycerol and mono, di - and triglyceride content - (Reference Method)
EN 14106 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of free
glycerol contente
EN 14107 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of
phosphorous content by inductively coupled plasma (ICP) emission spectrometry
EN 14108 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of
sodium content by atomic absorption spectrometry
EN 14109 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of
potassium content by atomic absorption spectrometry
EN 14110 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of
methanol contente
EN 14111 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of
iodine value
EN 14112 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of
oxidation stability (accelerated oxidation test)
EN 14538 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of Ca,
K, Mg and Na content by optical emission spectral analysis with inductively coupled plasma
(ICP-OES)
EN 15751 - Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) and blends with diesel
fuel. Determination of oxidation stability by accelerated oxidation method
EN 16294 - Petroleum Products And Fat And Oil Derivatives - Determination of Phosphorus
Content In Fatty Acid Methyl Esters (Fame) - Optical Emission Spectral Analysis With
Inductively Coupled Plasma (ICP OES)
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DOSSIÊ TÉCNICO
360 °C. Esta Norma também contempla a determinação do ponto de fulgor de biodiesel na
faixa de temperatura de 60 °C a 190 °C, utilizando aparelho automatizado.
NBR 15553:2019 - Biodiesel — Determinação dos teores de cálcio, magnésio, sódio, fósforo
e potássio por espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado
(ICPOES)
Visa avaliar a qualidade do biodiesel, em termos do teor de sódio, cuja presença acima de
certa concentração pode afetar a sua utilização como combustível. Este elemento pode
advir do processo de produção do biodiesel e/ou de eventuais contaminações.
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DOSSIÊ TÉCNICO
Visa avaliar a qualidade do biodiesel, em termos do teor de potássio, cuja presença acima
de certa concentração pode afetar a sua utilização como combustível. Este elemento pode
advir do processo de produção do biodiesel e/ou de eventuais contaminações.
Visa avaliar a qualidade do biodiesel, em termos dos teores de sódio, potássio, magnésio e
cálcio, cuja presença acima de certas concentrações pode afetar a sua utilização como
combustível.
Estabelece o método para determinação quantitativa dos teores de glicerol livre, mono-, di-,
triacilgliceróis e glicerol total por cromatografia gasosa em amostras de biodiesel
proveniente de diversas matérias-primas, incluindo óleo de coco, de palma e gordura
animal. Porém, esta Norma não se aplica ao biodiesel proveniente de óleo de mamona.
Resolução ANP nº 30, de 23 de junho de 2016. Fica estabelecida, por meio da presente
Resolução, a especificação de óleo diesel BX a B30, em caráter autorizativo, nos termos
dos incisos I, II e III do art. 1º da Resolução CNPE nº 03, de 21 de setembro de 2015.
Disponível em: <https://atosoficiais.com.br/anp/resolucao-n-30-
2016?origin=instituicao&q=30/2016>. Acesso em: 11 jun. 2021.
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DOSSIÊ TÉCNICO
10 PATENTES
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DOSSIÊ TÉCNICO
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DOSSIÊ TÉCNICO
Conclusões e recomendações
Particularmente, o biodiesel obtido por rota etílica carece ainda de testes monitorados de
aplicação em motores, tanto em bancos dinamométricos quanto em frotas cativas, de modo
a conhecer-se amplamente os efeitos do biocombustível sobre o adequado funcionamento
dos motores do ciclo diesel. Tais testes começam a serem executados no país e seus
resultados irão permitir a utilização de misturas de biodiesel com diesel de petróleo em
maiores proporções do que aquela já autorizada pelo governo, ou seja, 2%, com maior
segurança e com a garantia dos fabricantes de motores e sistemas de injeção.
O SBRT possui, em seu banco de informação, Respostas Técnicas que tratam do assunto
biodiesel e podem complementar as informações aqui prestadas. Para visualizar esses
arquivos, acesse o site <www.respostatecnica.org.br> com seu login e senha e realize a
Busca Avançada utilizando palavras-chave como: biocombustível; biodiesel; combustão;
craqueamento; etanol; metanol; transesterificação; usina para encontrar os arquivos
recomendados para leitura.
Ressalta-se que quando há aplicação de leis, o empreendedor deve se certificar de que está
utilizando o documento oficial, sempre buscando o órgão que emitiu a legislação para
confirmar a sua vigência. Para consultar a vigência da legislação citada neste Dossiê
Técnico e ter acesso ao texto na íntegra, o empreendedor poderá fazer a busca nos
sistemas:
Para a leitura na íntegra dos documentos de patentes, a busca pode ser feita pelo número
da patente no seguinte link:
<https://busca.inpi.gov.br/pePI/jsp/patentes/PatenteSearchBasico.jsp>. Acesso em: 11 jun.
2021.
Referências
BATISTA, Antonio Carlos Fereira. Biodiesel no tanque. [S.l.], [200-?]. Disponível em:
<http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./energia/index.html&conteudo
=./energia/artigos/oleo_vegetal.html>. Acesso em: 11 jun. 2021.
FEIX, Rodrigo Daniel. A indústria do biodiesel no Rio Grande do Sul e o papel das
políticas públicas de incentivo. Porto Alegre, 2020. Disponível em: <https://dee-
admin.rs.gov.br/upload/arquivos/202009/30132046-estudo-biocombustiveis.pdf>. Acesso
em: 11 jun. 2021.
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DOSSIÊ TÉCNICO
JARDINE, José Gilberto; BARROS, Talita Delgrossi. Craqueamento. Brasília, DF: Embrapa,
[200-?]. Disponível em:
<https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agroenergia/arvore/CONT000fbl23vmz02wx
5eo0sawqe3wx8euqg.html>. Acesso em: 11 jun. 2021.
PARENTE, Expedito José de Sá. Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado.
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C3%A1cidos%20graxos%20livres%20utilizando%20catalisadores%20heterog%C3%AAneos
%20%C3%A1cidos.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2021.
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