(Livro) Dicionário Caiçara 2021

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2021

JOSÉ CARLOS MUNIZ


- pesquisa -

REGISTROS DO LINGUAJAR CAIÇARA

GUARAQUEÇABA/PR
2021
Idealização e Pesquisa: Profº. Me. Zé Muniz (José Carlos Muniz).

Co-autoria - Consultoria - Colaboradores Caiçaras: Aorélio Domingues e Edson Afonso


Domingues “Taquinha” (Paranaguá/PR), José Hipólito Muniz (Guaraqueçaba/PR), Mário
Ricardo de Oliveira “Mário Gato” (Ubatuba/SP) e Cleiton do Prado (Iguape/SP).

Capa: Jhon Bermond (<[email protected]>).


Revisão: Willian Dolberth e Karina da Silva Coelho.

Texto de Apresentação: Profª. Dra. Patrícia Martins.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Muniz, José Carlos
Falas do mar e do mato: registros do linguajar caiçara / José Carlos
Muniz, Aorélio Domingues, Cleiton do Prado, José Hipólito Muniz, Mário
Ricardo de Oliveira, Edson Afonso Domingues. -- Guaraqueçaba:
edição do autor, 2021.

il. ; ePUB

Bibliografia.
ISBN 978-65-00-18012-1

1. Comunidades tradicionais. 2. Cultura caiçara. 3. Linguagem típica.


4. Vocabulário. I. Domingues, Aorélio. II. Prado, Cleiton. III. Muniz, José
Hipólito. IV. Oliveira, Mário Ricardo de. V. Domingues, Edson. VI. Título.

CDD: 305.8

Ficha Catalográfica elaborada por Márcio Paulo Ferreira Bibliotecário CRB 9-1800

______________________________________________________________
_ permitida reprodução parcial ou total desde que citada a fonte
Ao povo DE DANTES

do norte e do sul,
do mar e do mato, que
mesmo na oralidade

soube nos deixar este rico legado


– a cultura caiçara.

I
AGRADECIMENTOS
Este material tem muitos co-autores e colaboradores.
De modo especial aos meus familiares, Célio Muniz, Edenildo Muniz, Rita Muniz da
Silva e Marcos Maceno, Rosemere Muniz de Carvalho, Suelen Muniz, Ana Muniz Viana e
Everaldo Nascimento Viana; todos quanto de uma forma ou de outra contribuíram para
esta pesquisa, com sincero reconhecimento e em especial agradecimento a Marcelinho
José Mendonça, Aurélio Duarte Gasparini Jr, Profº. Otoniel Pedro, Angélica Constantino
Lopes, Valdecir ‘Cirzinho’ Borget, Manassés Neto, Lincon Paiva Xavier, Yohana Proença,
Evelyn Muniz Viana Rita, Andressa Benetti e Joanil Gonçalves ‘Jr Negão’, José ‘Zezé’
Manoel Nascimento e seus amigos informantes Amilton Corrêa Gomes, Eginaldo Corrêa e
Leonel Corrêa, (de Guaraqueçaba/PR); Edina Santana Muniz (de Barra de Ararapira);
Profº. Elias e Profº. Leonardo das Dores (de Tibicanga); Wagner Muniz, Herbert Cardoso
dos Santos e Roger dos Santos (de Superagui); Eloir Ribeiro de Jesus ‘Poro’, Marcela
Bettega, Profª. Flaviele Carvalho, Paulo Wistuba, Edvaldo de Oliveira ‘Vaca’ e Bruno de
Oliveira, Elisson Domingues, Mauren Ferreira Lopes, André Maurício de Aguiar Marques,
Roseli Rosa e Grupo (watszapp) do Curso de História (turma 2008); Romildo do Rosário
(de Vila São Miguel, na baía de Paranaguá); Natanael ‘Natã’ (de Morretes/PR); Joaquim
Pires (de Cananéia/SP); Profº. Zé Ronaldo dos Santos, Rogério Estevenel, Robson
Fernandes ‘Robinho’, Peola Maria Barbosa, Manoel Moisés “Mestre Néco”, Ezequiel dos
Santos e Cida Eustáquio (de Ubatuba/SP); Edson Leopoldo dos Santos “Edinho” (da
Praia de Almada-Ubatuba/SP), Jorge Inocêncio Alves Jr “Juninho” (de Ubatumirim
Ubatuba/SP); Anderson do Prado Carneiro, Rodolfo Monteiro ‘Cajú’, Erli Teresinha
Carneiro e Camila Zwarg de Oliveira Ramos (de Iguape/SP); Maurício de Lima e Ciro
Xavier Martins (de Peruíbe/SP); Flávio da Conceição (da Praia do Sono-Paraty/RJ);
Fernando Alcântara (Paraty/RJ), Catarina Apolinário de Souza (Santos/SP); Alexandre
Marcos Líbano de Oliveira (de Toque-toque-São Sebastião/SP), Ari Giordani e Greice
Barros, Márcio Paulo Ferreira e Luciana Martins.
À Aorélio Domingues e Edson Afonso Domingues “Taquinha”, ambos de
Paranaguá/PR, Mário Ricardo de Oliveira “Mário Gato”, de Ubatuba/SP, Cleiton do Prado,
de Iguape/SP, e papai José Hipólito Muniz, de Guaraqueçaba/PR, que previamente
receberam uma cópia da pesquisa enriquecendo-a com suas contribuições; também à
Karina Coelho, William Dolberth e Patrícia Martins pelas correções e acréscimos.

II

“ESTRANGEIRISMO”

Eu gostaria de falar com o presidente


pra cuidar melhor da gente que vive neste país

nossa gramática está tão dividida

tem gente falando happy, pensando que é feliz.

Acabaria com esse tal estrangeirismo

que deturpa nossa língua, e muda tudo de uma vez

e os mendigos que hoje vivem nas calçadas

ensinariam ao brasileiro, que aqui se fala português.

Sou simples, sou composto, oculto indeterminado

particípio, eu sou gerúndio, sou fonema sim, senhor

adjetivo, predicado, eu sou sujeito

ainda trago no meu peito, este país com muito amor.

Composição1: Carlos Silva / Sandra Regina.

1
Disponível visualização no endereço <https://www.youtube.com/watch?v=lx3ihWnomik>.

III
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA: _________________________________________________________ I
AGRADECIMENTOS: ____________________________________________________ II
ESTRANGEIRISMO (epígrafe): ____________________________________________ III
APRESENTAÇÃO (Profª. Dra. Patrícia Martins): _________________________________ V
COMO TUDO ISSO SURGIU: ______________________________________________ 1
QUAL LÍNGUA MESMO SE FALA NESSE IMENSO BRASIL? ___________________ 3
CONTRIBUIÇÕES PARA UM DICIONÁRIO CAIÇARA? _________________________ 7
A: ___________________________________________________________________ 18
B: ___________________________________________________________________ 29
C: ___________________________________________________________________ 41
D: ___________________________________________________________________ 59
E: ___________________________________________________________________ 64
F: ___________________________________________________________________ 71
G: ___________________________________________________________________ 77
H: ___________________________________________________________________ 82
I: ____________________________________________________________________ 83
J: ___________________________________________________________________ 86
L: ___________________________________________________________________ 89
M: ___________________________________________________________________ 92
N: __________________________________________________________________ 101
O: __________________________________________________________________ 102
P: __________________________________________________________________ 103
Q: __________________________________________________________________ 116
R: __________________________________________________________________ 118
S: __________________________________________________________________ 124
T: __________________________________________________________________ 132
U: __________________________________________________________________ 139
V: __________________________________________________________________ 140
X: __________________________________________________________________ 143
Z: __________________________________________________________________ 144
CRÉDITO DAS IMAGENS: ______________________________________________ 145
SUGESTÕES DE ATIVIDADES: __________________________________________ 146
BIOGRAFIA: _________________________________________________________ 162

IV
FALARES CAIÇARAS: a língua como suporte do patrimônio imaterial Profª.

Dra. Patrícia Martins2.

Inseridas em contextos culturais específicos, as línguas adquirem usos,


expressões e significados sociais diferenciados; garantem a transmissão e a reprodução
de conhecimentos e saberes através da oralidade; colaboram, significativamente, na
construção da identidade social; expressam códigos, a história, a memória, as
representações e a cosmovisão de um povo. Ou seja, as línguas representam um
específico tipo de saber, onde são expressas as particularidades socioculturais de cada
povo. Para além desses valores, cabe destacar que as línguas possuem também,
especificidades gramaticais e estruturais, e estão agrupadas em famílias e troncos
lingüísticos.
Como patrimônio imaterial, as línguas são alvo de um conjunto de leis, no
âmbito internacional e nacional, que garantem aos seus falantes, direitos de uso e
salvaguarda, assegurados pelo Estado através de ações e políticas públicas.
Considerando esses valores atribuídos às línguas, tanto pelo Estado e, principalmente,
pelas comunidades lingüísticas, registramos a importância do presente trabalho produzido
pelo historiador caiçara José Muniz, intitulado “Falas do mar e do mato: registros do
linguajar caiçara”. Certamente esta produção vêm a contribuir para a valorização e
salvaguarda de um acervo linguístico tão vasto e rico expresso nos falares desta
população, revelando-se os diferentes significados, os contextos e os usos sociais que a
população caiçara imprime às suas línguas.
Reconhecendo a importância da língua para transmissão de saberes,
reprodução de conhecimentos, como forma de elaboração de códigos específicos,
construção e legitimação das identidades, trazer a tona esse importante material, fruto de
uma extensa pesquisa e de uma longa vivência, torna-se fundamental, para que as
próximas gerações compreendam a riqueza contida em seus falares.
Na medida em que o uso da língua diminui, com a redução de suas funções
expressivas e comunicativas, ela empobrece em sua riqueza e complexidade: cantos e
narrativas são esquecidos, palavras são perdidas, propriedades morfológicas e
gramaticais desaparecem. Elementos que por si só justificam a ampla divulgação desta
obra, para transmissão de saberes, para promoção do reconhecimento, a valorização e a

2
Antropóloga, docente do IFPR Campus Paranaguá.

V
salvaguarda da língua enquanto patrimônio imaterial, sensibilizando atores sociais,
agentes educacionais, formadores de opinião pública, instituições públicas e comunidade
em geral.

Falares em Performance

Em minhas pesquisas, os falares caiçaras com os quais eu estava envolvida,


diziam sobre o repertório de cantos, versos e os textos musicados caiçaras, ou seja, a
palavra cantada. Neste terreno, evidenciava-se que os falares são acompanhados de uma
determinada performance provinda do sujeito da fala.
A partir da criação dos versos, encontramos uma espécie de contextualidade,
onde se relacionam dimensões verbais (poéticas) e sonoras, que se aliam a palavra
cantada. A experiência da construção desta poética é construída pela combinação da
palavra cantada com outras formas expressivas e seus meios de comunicação. Assim, os
gestos, as posturas e as atitudes corporais, os deslocamentos no espaço e a execução de
artefatos musicais, ao lado dos aspectos vocais e orais, são constitutivos do canto como
um evento comunicacional.
A etnomusicóloga Kilza Setti, em seu clássico trabalho sobre a produção
musical caiçara já apontava “o músico, ao cantar, é o porta voz de sua época e de sua
comunidade” (1985, p. 61). Portanto seus versos e seus falares se amplificam seja no
ambiente da fé, festa ou trabalho.
Eu sou filho de bom pai
Pra cantar e trovar versos Neto de bom coração
Só de Deus eu tenho Quando quero canta
medo Eu tenho verso verso Tiro da palma da
estudado Em todas juntas mão
dos dedo

No fandango, sobretudo, as letras estão imbuídas de fortes percepções do


ambiente, juntamente com aspectos de seus cotidianos e temas envolvendo sentimentos,
emoções e afetos de ordem subjetiva. Além disso, o próprio processo de bricolage que
ocorre na composição das letras, onde recortes e trechos de autorias variadas vão se
misturando no trânsito destes versos entre tempo e espaços diferenciados, demonstra o
aspecto relacional e multiagentivo da de uma específica criação/criatividade no fandango.

VI
A imensa diversidade de versos e de suas respectivas performances em
bailes de fandango compõem em um grande mosaico de tocadores, dançadores,
personagens, falas e imagens que vão se transformando à medida em que são
experenciados nas situações em relevo, sendo necessário vê-los neste pleno movimento.
Isto porque a prática de tocar, ouvir e dançar o fandango nesta região está inserida num
complexo contexto polifônico onde o ressoar dessas várias ―vozes/falares representa a
vitalidade de uma tradição que é recriada dia após dia.
A performance está profundamente ligada ao que se considera por
vocalidade, recitada ou cantada, partindo de um modelo que é o da oralidade. Portanto a
centralidade das oralidades para as culturas tradicionais nos remete aos falares em
performance. É justamente a corporeidade – o peso, o calor, o volume real do corpo, do
qual a voz é expansão, que se estabelece como característica da vocalidade e elemento
essencial a toda performance.
Quero ressaltar aqui que a compreensão destes falares, deve estar
relacionada em seu relativo contexto, destacando-se a centralidade do corpo para a
produção e reprodução da socialidade caiçara. Momento de recriação, de reafirmação
identitária, de conhecimento, de memória e de política, os falares caiçaras são suporte de
um patrimônio cultural inestimável. O trabalho do pesquisador José Muniz joga luz a esse
acervo riquíssimo em formato de linguajares, vozes que ecoam, expressões que marcam
suas lutas, dialetos que carregam história e ancestralidade. Estimular projetos como esse
que aqui se apresenta, é também estimular a valorização e salvaguarda das línguas como
patrimônio cultural imaterial.
Referências Bibliográficas

BAUMANN, Richard; BRIGGS, Charles. ―Poética e performance como perpectivas críticas sobre
a linguagem e a vida social. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis: UFSC, v. 8, n. 1-2, 2008.

MARTINS, Patricia. PELAS CORDAS DA VIOLA, NAS CURVAS DA RABECA: UMA


ETNOGRAFIA DOS MOVIMENTOS DE FAZER. MUSICAL CAIÇARA. Tese submetida ao
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Santa Catarina: UFSC, 2018.

SETTI, Kilza. Ubatuba nos cantos das praias: estudo do caiçara paulista e de sua produção
musical. São Paulo: Ática, 1985.

ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.

VII
Como surgiu tudo isso...

Faz tempo. Mas a ideia ficou guardadinha na cachola. Corria o ano de 1993 e como
fazia com outras características da cultura caiçara, amontoavam-se papéis, folders,
recortes de jornais, anotações e manuscritos de informações, curiosidades que ouvíamos
pela vizinhança. E o registro de palavras ‘engraçadas’ começou assim também.
“Sempre se anotava alguma coisinha”. Retornando de alguma ida pelas
comunidades, de algum Fandango Caiçara ou mesmo depois de um cafézinho ou outro
pelas redondezas e vizinhança, sempre resultava em algumas linhas de anotações, ou
melhor dizendo, algumas palavrinhas a mais, a somar na pesquisa já meio adormecida.
O tempo passou; surgiram em nosso território outros registros do linguajar caiçara e
eis que chega 2019, ano que resurge a ideia de transformar o amontoado de palavras em
um material acessível e disponibilizado ao máximo possível de pessoas. E mãos a obra.

Esquerda - convite à contribuições compartilhado nas redes sociais em janeiro de 2020; Direita -
anotações de Aorélio Domingues para o seu ‘Novo Dicionário Aorélio da Língua Caiçara’.

Nessa retomada, fazendo uso de tecnologia e integrando grupos sociais de cultura


caiçara (mestres do Fandango Caiçara, Circuito do Fandango Caiçara, Coordenação
Nacional de Comunidades Tradicionais Caiçaras, professores e pesquisadores, dentre
outros), com membros do Rio de Janeiro, de São Paulo e de nosso estado, abrimos a
possibilidade, em 2020, de receber contribuições destes caiçaras com palavras de seu
dia-a-dia, assim como recebemos de familiares, amigos e ainda de terceiros que a
mensagem atingiu, via rede social (e-mail ou whatsapp). E não é que deu certo?
Em menos de quinze dias de compartilhamentos foram cerca de 50 caiçaras do Rio
de Janeiro, de São Paulo e do Paraná, contribuindo diretamente (e alguns destes ainda
repassaram contribuições de terceiros) com mais de 400 palavras recebidas via Rede

-1-
Social, acrescidos de 27 contribuições do Profº Leonardo Matias das Dores, caiçara da
comunidade de Tibicanga/Guaraqueçaba-PR que já havia feito uma atividade escolar
acerca desta temática, além de aproximadamente 150 palavras já anotadas para o ‘Novo
Dicionário Aorélio da Língua Caiçara’, obra pretendida por Aorélio Domingues, caiçara,
fandangueiro, construtor de instrumentos artesanais e mestre da Romaria do Divino
Espírito Santo.

Em Paranaguá, no ano de 2004, a artista Sônia Gutierrez havia produzido Caboclos


e Caiçaras, uma publicação contendo “ditados/quadrinhas/provérbios populares do litoral
paranaense”; na Vila São Miguel3, antigamente conhecida como Saco de Tambarutaca,
durante um curso de turismo em que a comunidade participava, perceberam a dificuldade
da ministrante, “de fora”, em compreender certos vocábulos que por ali falavam. Surgiu a
ideia, seguida de registros, lançaram a pesquisa - Dicionário Tambarutaquense.

A preocupação agora era o que fazer com este trabalho que se avolumava. Surgiram
infinitas ideias. Frases, provérbios, apelidos, receitas, remédios do mato, imagens e
desenhos somando e enriquecendo a pesquisa “Falas do Mar e do Mato”. Uma ideia que
floresceu, fazendo brotar um novo capítulo, foi pensar sua utilização em sala de aula.
A oferta da modalidade Educação do Campo já é realidade em nosso território e
esta pesquisa vêm de encontro com os eixos temáticos da diversidade educacional e do
respeito à cultura caiçara. Portanto, acrescentamos ao final atividades com esta finalidade
educacional, uma forma também, da pesquisa trazer um retorno às comunidades.

Importante! Esta pesquisa não teve por função o neologismo, ou seja, não pretendeu
registrar ‘novas’ palavras ainda não dicionarizadas para a Língua Portuguesa, até porque
muitas aqui registradas, obviamente constam em nosso dicionário oficial.
Sua função foi reunir palavras e expressões utilizadas no dia-a-dia caiçara, algumas
dicionarizadas, outras não; algumas de um português arcaico e pouco usual, outras tão
somente faladas em nossa região caiçara (inclusive ao final há uma atividade propondo
esta identificação), uma espécie de glossário do cotidiano caiçara.

Zé Muniz – pesquisador.
3
Em Paranaguá fora divulgado nos anos 2000 pelas mídias a poesia “Aqui se fala Bagrinhês”, autoria de Alexandre Santana e
interpretação de Carine Nunes, exaltando o “bagrinhês”, ou seja, o modo de falar do parnanguara.

-2-
QUAL LÍNGUA MESMO SE FALA NESTE IMENSO BRASIL?

Nos primeiros contatos durante a colonização portuguesa nestas terras, os ádvenas


que neste solo desembarcaram de imediato perceberam um entrave na aproximação, na
comunicação e no entendimento entre os nativos e os conquistadores: a língua.
Pindorama ou Brasil, ainda quinhentista, quando invadido, possuía aproximadamente
uma população de 5 milhões de nativos, das mais diversas etnias, falantes, acredita-se,
de cerca de 1.300 línguas diferentes.
O cronista português Pero de Magalhães Gândavo, em 1576, relata a maneira
‘desordenada’ que viviam os povos indígenas e, a partir da observação das línguas
nativas faladas na costa brasileira, com estranhamento à sua cultura, postula que, “não se
acha nela F, nem L, nem R”, portanto conclui com espanto que aqueles povos “não têm
Fé, nem Lei, nem Rei”.
Idiomas e dialetos diferentes eram uma síntese da variedade linguística encontrada pelos
Padres da Companhia de Jesus, tão logo começaram sua missão de evangelização nas
terras do Brasil, a partir de 1549, quando iniciam também observações e estudos tentando
entender as línguas nativas e utilizá-las como ferramenta de sua catequização.
Bessa-Freire (2008, pg.136) relata o caso descrito pelo Padre Serafim Leite, quando
aproximadamente trezentas crianças, vindas de um orfanato em Portugal, foram soltas
nas aldeias da Bahia, com o propósito de ensinarem o português aos indígenas e o
resultado, um ano depois, todas elas falavam a Língua Geral, pois “quase tudo aqui
estava codificado em línguas indígenas: as brincadeiras, os animais, as plantas, os
peixes, os pássaros, os rios, as montanhas”; ao contrário do esperado, nenhum indígena
falava o português.
Então, a unidade possível entre esta diversidade toda era a língua brasílica ou o
Tupi Antigo, que se estendia em quase todo território brasileiro, excetuando-se regiões
onde se falava o Guarani. Seus ramos se difundiram pelo sul e sudeste como a Língua
Geral Paulista e, noutro broto, a Língua Geral Amazônica, sendo esta mais conhecida
como Nheengatu.
Figura primordial nesse assunto foi o Padre José de Anchieta (1534-1597). O “Apóstolo
do Brasil” (Beatificado em 2014 pela Igreja Católica), desembarcado nestas terras em
1533, um dos jesuítas responsáveis pela escrita da Língua Geral – Nheengatu – tendo
como base a pronúncia e vocabulário Tupi e como referência o alfabeto latino e regras da
língua portuguesa, conhecimento este utilizado na escrita de seus poemas

-3-
sacros, princípio da literatura brasileira, tendo ainda publicado, em 1549, a primeira
escrita de gramática - Artes de Gramática da Língua Mais usada na Costa do Brasil. Da
família linguística Tupi-Guarani, traduzida como “Língua Boa” e conhecido como “Língua
Geral”, o Nheengatu foi falado em todo território, inclusive por brancos. Alguns ainda,
dominavam apenas esta que chega a ser orientada seu aprendizado e conhecimento
como premissa aos que aqui desembarcariam, principalmente aos padres, tendo por base
os estudos de Anchieta e, nesse sentido, em 1621, em Lisboa, o Padre Luíz Figueira
publica Arte de Grammatica da Língua Brasília4.

Há de se salientar a vinda de aproximadamente 4 milhões de negros africanos


escravizados, do século XVI ao XIX, oriundos de distintas regiões daquele continente.
Acredita-se, mais de 200 línguas nativas africanas, originárias de duas áreas: oeste
africana e banto, somaram-se à diversidade linguística encontrada nas terras do Brasil.
Conforme Lucchesi (2008, pg. 172), estas línguas foram vítimas da repressão social
declarada, onde a
comunicação dos escravos e seus descendentes em língua africana
foi se circunscrevendo a espaços sociais cada vez mais restritos: os
espaços de resistência dos terreiros, dos batuques e das cerimônias
religiosas. A redução das funções sociais de uso de uma língua
constitui o caminho mais rápido para o seu desaparecimento. Assim,
as línguas veiculares africanas no Brasil restringiram-se no século
XX a um conjunto de fórmulas rituais nos terreiros de candomblé.

De acordo com Mello (2008) as habilidades dos negros escravizados em relação à


língua portuguesa garantia certa superioridade em sua classificação: “Negro Boçal” -
aquele que não se expressava compreensivelmente; “Negro Ladino” - aquele que
demonstrava certo grau de proficiência, dominavam “um bem imaterial e altamente
valorizado”, conforme Mello (pg. 301).
O “desaparecimento das línguas africanas trazidas para o Brasil”, de acordo com
Lucchesi, “bem como de variedades crioulizadas delas derivadas reflete, portanto, um
longo e profundo processo de repressão cultural e simbólica a que foram submetidos os
africanos e seus descendentes” (2008, pg. 173).

Ainda no século XVIII, a Coroa Portuguesa sob o Reinado de Dom José I (1750-
1777) passa por inúmeras modificações e imposições feitas por Sebastião de Carvalho e
Melo (1699-1782), o I Ministro Marquês de Pombal. Uma destas é a expulsão da Cia. de

4
Disponível no site <https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/4887/1/006919_COMPLETO.pdf >.

-4-
Jesus das terras e domínios portugueses, em 1759; outra ação fora, um ano antes,
apresentada como base fundamental da civilidade, através do Diretório que se deve
observar nas povoações dos índios do Pará e Maranhão, de 17 de agosto, a proibição do
ensino da Língua Geral, chamada inclusive de “invenção diabólica”, entendida como
empecilho à difusão da língua portuguesa que começa a ser expandida em sua Colônia,
portanto, declarando a Língua Portuguesa como oficial do Brasil.
Tempos depois, acelerado pela acentuada imigração portuguesa que se deu após a
chegada da Família Real, em 1808, o Nheengatu entra em desuso e, com a Constituição
de 1824, onde a “instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”, o ensino da língua
nacional e sua gramática se encontra garantido e com ele, as premissas da garantia da
unidade política do estado independente.
Para sucesso dessa lusofonização5 e consolidação do português, foi necessário,
segundo Mello (2008), que “falantes das línguas indígenas e africanas, assim como seus
descendentes, pouco a pouco abandonassem suas primeiras línguas e adotassem o
português”, ou seja, “a morte das línguas africanas para cá transplantadas e o decréscimo
substancial do número de línguas indígenas ao lado do firme estabelecimento do
português como língua absolutamente majoritária” (pg.307).

Na ciência, alguns ainda pleiteiam seus estudos; na ficção, literatura, aparecem


personagens como Policarpo Quaresma, criação de Lima Barreto (1881-1922), e em seu
enredo “O triste fim de Policarpo Quaresma”, este nacionalista, entusiasta, estudante que
era da história do Brasil, trava luta, inclusive no Congresso Nacional, pela substituição do
idioma português “língua emprestada” pelo Tupi “língua oficial e nacional do povo
brasileiro”, na construção de um projeto de identidade nacional. É tido como louco.
Concomitantemente, cientistas estrangeiros fizeram pesquisas linguísticas no Brasil.
Um destes, o botânico Karl Friedrich Philipp Von Martius (1794-1868), também fez coleta
e estudos da língua falada no Brasil, acreditando ser urgente, “ao bem da nação
brasileira”, a restauração da civilização através da unificação linguística (1846).

5
A Língua Portuguesa é falada oficialmente hoje em 09 países entre Europa (Portugal) - África (São Tomé e Príncipe,
Moçambique, Guiné-Equatorial, Guiné-Bissau, Arquipélago de Cabo Verde, Angola) – América (Brasil) - Ásia (Timor-Leste),
figurando entre as 05 mais faladas do mundo, por mais de 260 milhões de pessoas; ainda por uma parte da população em
comunidades da Ásia como Macau (China) e Goa (Índia). Desde 2019 celebra-se, em 5 de maio, o Dia Mundial da Língua
Portuguesa (CPLP/UNESCO) e no Brasil, através da Lei nº. 11.310/2006 o Dia Nacional da Língua Portuguesa é celebrado no
dia 05 de novembro (em homenagem ao nascimento de Rui Barbosa).
Para saber mais visite a CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa <https://www.cplp.org/>.

-5-
Bessa-Freire (2008) já alertava que “são línguas que não têm tradição escrita e por
isso foram discriminadas”; evidenciando, acaso algum aluno se interesse em estudar
Latim ou Grego Antigo, vai encontrar cursos em qualquer universidade pública, enquanto
línguas indígenas não dispõem do mesmo privilégio. O Guarani, por exemplo, “é falado
em 100 municípios de 10 estados brasileiros. É falado na Argentina, Paraguai, Uruguai,
Brasil. E nenhuma universidade parou para dizer: nós queremos que seja ensinada esta
língua”, concluindo que “o país é plurilíngue, mas a universidade é monolíngue, a escola é
monolíngue, a mídia é monolíngue” (BESSA-FREIRE, 2008, pg. 143).
Na contemporaneidade, há iniciativas pela inclusão do idioma em cursos de
formação superior, alguns, inclusive, em curso, em diferentes localidades; recentemente
um registro raro da Língua Paulista - “Vocabulário elementar da Língua Geral Brasílica”,
com 1.311 entradas, escrito por José Joaquim Machado de Oliveira (1790-1867) fora
localizado em pesquisa.

Segundo o Censo do IBGE (2010), existem 274 línguas indígenas faladas por
indivíduos integrantes de 305 etnias diferentes, distribuídos em dois troncos linguísticos:
Tupi e Macro-Jê. Destes, cerca de 17,5% dos povos indígenas não falam o português. Há
ainda as línguas isoladas.

O Atlas de Línguas em Perigo (UNESCO)6, considera que no Brasil, levando em


consideração o número de falantes e os processos de transmissão, 190 línguas correm o
risco de serem extintas e o número chega a ser maior se considerarmos aquelas que
sequer entraram no estudo mencionado.
Uma das ações que visam promover o reconhecimento da diversidade linguística
como Patrimônio Cultural é o Inventário Nacional de Diversidade Linguística, realizado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por meio da
identificação, documentação e ações de fomento.
Nessa política cultural, a língua Guarani Mbyá, em 2010, através do Decreto nº.
7.387, foi incluída no Inventário Nacional de Diversidade Linguística, que lhe conferiu o
título de Referência Cultural Brasileira.
O Nheengatu7 ainda é falado na bacia do Rio Negro, sendo, desde 2002,
reconhecido como idioma oficial da cidade amazonense de São Gabriel da Cachoeira.

6
Disponível no endereço <http://www.unesco.org/languages-atlas/index.php>.
7
Ouça um pouco da “Língua Indígena Nheengatu”: <https://www.youtube.com/watch?v=mKyUiaaFuks&t=12s>.

-6-
CONTRIBUIÇÕES PARA UM DICIONÁRIO CAIÇARA?

Historicamente, foi em 1789, após elaborado na Inglaterra, a publicação em Lisboa


do Diccionário da Lingua Portugueza, autoria do brasileiro Antônio de Moraes Silva, sendo
considerada o ‘primeiro monolíngue da língua portuguesa8’.
No condizente aos monolíngues brasileiros, surgem no século XIX, conforme Nunes
(2008, pg.353), porém, considerados ‘parciais’, servindo de complemento aos
portugueses, aos quais o autor cita: Braz da Costa Rubim (‘Vocabulário brasileiro para
servir de complemento aos dicionários da língua portuguesa’, de 1853), Antônio Álvares
Pereira Coruja (‘Coleção de vocábulos e frases usados na Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul’, de 1852), Visconde de Beaurepaire Rohan (‘Dicionário de vocábulos
brasileiros’, de 1889) e Antônio Joaquim de Macedo Soares (‘Dicionário brasileiro da
língua portuguesa”, de 1888).
Já no século XX surgem os ‘dicionários gerais’, como de Laudelino Freire (‘Grande e
novíssimo dicionário da língua portuguesa’, de 1939-1944), Gustavo Barroso e
Hildebrando Lima (‘Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa’, de 1938), e,
conforme Nunes (ibid.), se estabelecem “definitivamente nos anos 1960-1970, quando
substituem os dicionários portugueses, passando a ser mais utilizados que aqueles”.

Naquele primeiro momento dos anos 1930, de acordo com Nunes (2008, pg.360), o
dicionário clássico recusava termos populares, tratando-se “de uma representação elitista
da sociedade”, onde o “lexicógrafo tem como interlocutor um público letrado erudito e
produz uma imagem da língua dos clássicos, ao mesmo tempo em que evita as
discursividades “populares””, trazendo como exemplo, Laudelino Freire e a falta de
preocupação deste em distinguir regionalismo e provincianismo.
Conforme Freire (1939-1944. Apud. NUNES, 2008, pg.360/361):

No registro de gíria e de conversação, tive empenho em evitar as


corrutelas que conduzem a erros crassos ou se traduzem em
chulices, e em proscrever os barbarismos e solecismos que tanto
deprimoram e achincalham o idioma. Léxico não é portão de feira
franca, aberto a disparates de gíria, troças e plebeísmos de esquisa,
chulismos de mangalaça e pulhices desprezíveis, que se originam de
ignóbil corrução vocabular ou do instinto não menos grosseiro da
plebe – palavras que não são palavras e têm em regra existência
efêmera no giro flamejante das patuscadas e da patuléia.

8
Disponível no site: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242523>.

-7-
9
A diversidade cultural encontrada no Brasil se apresenta também no ‘falar ’. O
nascimento da Geografia Linguística e sua aceitação enquanto ciência contribuiu para a
preocupação em relação a situação brasileira e o mapeamento de seus ‘falares’,
procupação esta evidenciada formalmente no Congresso Internacional de Linguística
(Haia, 1928), donde o patrocínio para esta necessidade – Atlas Linguístico do Brasil - foi
solicitada junto ao Governo Federal.
Esta preocupação permeou as pesquisas não apenas de linguistas, mas também
interesse de etnólogos, antropólogos e historiadores, dentre outras áreas de
conhecimento que, para entender melhor seus objetos de estudo, objetivaram aprofundar,
ainda que sem os métodos linguísticos, o falar encontrado em suas regiões de pesquisa,
tendo por exemplo, conforme citado, em 1852 a publicação de regionalismos (Coleção de
vocábulos e frases usados na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul).
Referência nesse tipo de registro, Amadeu Amaral, em 1920, publica O Dialeto
Caipira10, obra na qual apresenta 1.714 entradas de vocabulário, trazendo ainda a
constante preocupação ao seu desaparecimento, acreditando estar o ‘caipirismo’ às
margens do progresso, “acantoado em pequenas localidades que não acompanharam de
perto o movimento geral do progresso e subsiste, fora daí, na boca de pessoas idosas,
indelevelmente influenciadas pela antiga educação” (1920, pg.01) e sofrendo constantes
alterações devido às mudanças socioculturais advindas do comércio e as interações com
uma cultura urbana, das interações com a cultura dos imigrantes europeus,
principalmente, assim, “era impossível que o dialeto caipira deixasse de sofrer com tão
grandes alterações do meio social” (ibid.).
Em consequência da preocupação que tomava vulto, iniciam-se pesquisas
mapeando a diversidade dialetal brasileira, como em 1963, o Atlas Prévio dos Falares
Baianos e o Atlas-Etnográfico da Região Sul do Brasil, em 2002, dentre outros.
O Atlas Linguístico do Paraná, publicado pela Imprensa Oficial em 1994, nasce como
pesquisa de doutoramento (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita) de Vanderci
de Andrade Agulilera, trazendo registros de 191 cartas geolinguísticas (92 lexicais, 70
fonéticas e 29 fonéticas/sintéticas) de aspectos encontrados no falar rural paranaense (65
localidades); porém, uma considerável parte ainda permanecia inexplorada, tornando-se
objeto do II Volume, em 2007, no doutoramento (Universidade

9
Um acervo importante nesse sentido é o Museu da Língua Portuguesa <https://museudalinguaportuguesa.org.br/>. 10
Disponível no site: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7381>.

-8-
Estadual de Londrina) de Fabiane Cristina Altino, constando de 125 cartas lexicais, 31
fonéticas e 2 dialectométricas, trazendo a influência dos diversos grupos étnicos que
vivem no Estado, desde sua colonização e povoamento.
Fagundes (2015) esclarece que o Português do Brasil falado no Paraná, deriva de
pelo menos três grandes áreas dialetais:

o falar paranaense tradicional corresponde à ocupação histórica


vicentina: centro-sul-litoral; a segunda área se formou com a vinda de
migrantes gaúchos e catarinenses, à cata de terras mais baratas,
desbravando as matas do sudoeste e do oeste do Paraná,
transformando-as em áreas agricultáveis. A terceira área linguística
corresponde ao norte e noroeste do estado, colonizados por
migrantes mineiros e paulistas, que vieram explorar a cultura do café
na rica terra roxa. (FAGUNDES, 2015).

Ocorreram registros recentes em cidades do Paraná11 e, na região litorânea, mais


precisamente durante o século XIX, alguns registros acerca das diferenças linguísticas
paranaense pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), a partir de
observações específicas feitas em 1820, em suas viagens pela Provínica.
Outro naturalista, o alemão Karl Julius Platzmann (1832-1902), tendo aqui chegado
no ano de 1858 e vivendo na Baía dos Pinheiros/Guaraqueçaba/PR, até 1864, além de
sua coleta botânica, deixou inestimável contribuição à linguística, tendo feito registros com
os nomes regionais de uma variedade de espécies de animais e plantas, publicadas em
1872, sua obra Aus der Bai von Paranaguá (Da Baia de Paranaguá), tendo ainda,
dedicado o restante de sua vida aos estudos da linguística, reeditado muitas obras, dentre
outras, a do Padre José de Anchieta.

Sistematicamente, enquanto fonte de estudo, o vocábulo, sob ponto de vista


histórico, conforme Aguilera (2015), foi registrado em 2007 na pesquisa Scripturae nas
Villas de São Luiz de Goaratuba e Antonina: manuscritos setecentistas e oitocentistas e
também em 2007 na Scripturae na Villa de Pernagoa: manuscritos setecentistas, ambos

baseados em corpus diacrônico formado de manuscritos datados do


final do século XVII à primeira metade do XIX, coletados junto ao
Arquivo Público do Estado de São Paulo. Para organizar esses dois
trabalhos, foram examinados oitenta manuscritos oficiais emanados
de antigas vilas (atualmente Guaratuba, Antonina e Paranaguá). Os
autores procederam à transcrição (leição) semidiplomática desses

11
Em 2010 foi lançado o Dicionário de Curitibanês e Curitibanices, de autoria de Anthony Leahy (Instituto Memória).

-9-
manuscritos e, ao final, apresentaram um glossário com o objetivo de
“listar alguns vocábulos extraídos dos manuscritos transcritos,
elucidar suas definições e esclarecer seus significados dentro do
contexto dos documentos” (AGUILERA, 2015).

Enquanto estudos acadêmicos ainda, a partir de análises sistemáticas, ocorreram


estudos nas décadas de 1950 e 1970, pela Universidade Federal do Paraná, tendo como
ponto de coleta o litoral paranaense, especificamente a região da baía de Guaraqueçaba.
Este modo de falar - Caiçara - somatório dos termos e expressões de diversas
origens, entre espanhóis, franceses, africanos, indígenas, de acordo com Diegues (2005),
é “devidamente adaptado ao sotaque cantado, ao lirismo típico, aos inúmeros diminutivos,
somados à ironia e ao deboche cômico que os caiçaras criaram para conviver com a
língua portuguesa, enriquecendo-a e tornando-a um pouco mais local” (pg.16).
O falar em Guaraqueçaba, representaria, conforme Mercer (1977, pg. 35) “o estado
atual de um português quinhentista, evoluído em especiais condições de isolamento, no
seio de uma sociedade bastante conservadora” e neste cenário seguiram-se pesquisas,
parte delas mais tarde publicadas em artigos, teses e livros, respectivamente por
AMARAL (1956), MERCER (1979) e ALVAR e ALVAR (1979).
Sabe-se da área escolhida para a coleta de dados, conforme Wouk (1976, pg.101):

que o grau de vitalidade de um povo pode ser avaliada pela sua


capacidade inventiva, por seu poder criador, mas também por seu
espírito conservador da experiência acumulada de várias gerações e
da mentalidade que resiste às novas técnicas, às novas ideias e a
outras maneiras de viver, Guaraqueçaba apresenta condições que
favorecem a conservação da cultura antiga, mas que vem nos
últimos anos recebendo certos influxos inovadores, ainda mal
assimilados.
Em 1953, Serafina Traub Borges do Amaral (1914-2000), compunha a equipe de 08
estudantes, supervisionados pelo Profº. Oswaldo Pinheiro dos Reis (1919-1955), que
excursionaram à Medeiros, comunidade de 20 casas e aproximadamente 80 habitantes,
na baía das Laranjeiras, em Guaraqueçaba, onde realizaram a pesquisa linguística em
maio e setembro daquele ano; o desejo de publicação do material coletado não se
concretizou, pois o grande incentivador, responsável pela pesquisa e professor orientador
faleceu algum tempo depois. Amaral (1956) vai retomar algumas das anotações coletadas
compondo seu artigo Contribuição para um inquérito linguístico no litoral do Paraná,
publicado em 1956, “para que não fique inteiramente perdido” (pg.157).

- 10 -
Referente ao léxico, expõe algumas especificidades dialetais, fazendo observações
de ordem fonética, como a ausência do fonema constritivo palatal, como em Iórie (por
Jorge), ingrêia (por igreja), a desnasalação constante (fándángo, bánána), a pronúncia rr
com acentuada diferença ao Planalto, e a articulação do fonema lateral alveolar em trava
silábica ora como vibrante retroflexa, ora como semivogal (arquere, eis, caine) (por
alqueire, eles, carne). Amaral (1956) registra ainda vários vocábulos referentes à
natureza, aos fenômenos atmosféricos, aos astros, ao tempo, às plantas e animais.
É típico, para Diegues (2005), “o uso constante do diminutivo no trato com as
pessoas, numa demonstração de afetividade típica dos oradores” (pg.90), apresentando,
ainda, exemplos lexicais, como: a troca do ‘r’ pelo ‘l’ (carçado, sordado), as palavras em
que as vogais nasais estendem influências sobre as vogais que as precedem (ingreja,
increnca), outras em que há a supressão do final (cantadô, faladô, pescá), outras em que
a vogal ‘a’ e ‘o’ tônicos, nasalisam-se quando seguidas de consoante nasal (âma, hôme).
Outras ainda em que a vogal final ‘a’, quando seguida de ‘s’ ou ‘z’ finais, é acrescida de
um ‘i’ ditongando-se (rapaiz, paiz), ou mesmo quando o átono pretônico soa como ‘i’
(sinhor, tisoura, imbora), a consoante ‘v’ passa a ‘b’ (bassoura, berruga), dentre outras.

Na década de 1970, na UFPR, se inicia outra pesquisa, sob a coordenação do Profº.


Miguel Wouk (1917-1981), professor de Língua Portuguesa no Colégio Estadual do
Paraná, também Chefe do Departamento de Linguística, Letras Clássicas e Vernáculas,
objetivando elaborar um atlas que, em sua concepção, previa capítulos dedicados à
história e povoamento, à descrição da terra, à cultura material, à cultura espiritual e à
língua, em seus vários aspectos, desde o vocabulário, relacionado com a cultura regional,
expressões, ditos populares e provérbios, maneiras de pronunciar, entonação, ritmo de
emissão formas gramaticais, frase, ou seja, o Atlas Linguístico do Paraná.
Apoiado pelo Centro de Estudos Brasileiros, então dirigido pelo Profº Elloy da Cunha
Costa, a equipe foi constituída pelos professores Affonso Robl, José Luiz da Veiga Mercer
e Miguel Wouk (língua); José Zula de Oliveira (folclore), Marília de Carvalho Kraemer
(antropologia), Jair Mequelusse e Carlos Roberto Santos (história), Bento Arce Gomez e
Elias Karam Júnior (genética), além do etnógrafo e desenhista, acompanhado da esposa,
Júlio e Janine Alvar, o primeiro irmão do linguista espanhol Manuel Alvar (1923-2001).
As coletas de campo ocorreram entre dezembro de 1973 e abril de 1974, porém,
derivada da demora para classificação, análise, interpretação e quantificação dos dados
recolhidos, somados à outras atividades docentes e administrativas que realizavam os

- 11 -
envolvidos na Instituição, o afastamento de alguns para especializações e a falta de
recursos, o projeto acaba também estacionando, restando acreditar na possibilidade,
como esperava Mercer (1979, pg. 102), de “uma publicação conjunta de todos os
trabalhos, como um retrato vivo da população e da região pesquisada”, o que em partes
ocorrera, mas em publicações de resultados parciais.
Uma destas, autoria de José Luiz da Veiga Mercer, é o artigo de 1977, com o título
Notas dialetológicas sobre Guaraqueçaba, no qual expõe resultados preliminares de
análises, com divisões em “gramática, vocabulário e breve notícia antroponímica”, listando
167 lexias relativas à construção (22), à agricultura (25), à economia doméstica (21), ao
Fandango (celebração regional típica) (37) e ao vocabulário geral (62).
Sua tese de doutoramento, intitulada Le lexique technique des pêcheurs de
Guaraqueçaba (Brésil), publicada em 1979, tem como objeto de estudo o uso da língua
no campo da pesca artesanal, sendo esta pesquisa composta de três volumes onde se
encontram relatos do trabalho de pesquisa, dados dos informantes, questionários,
respostas e análises sobre a variação encontrada, um extenso glossário da pesca, estudo
das origens históricas da localidade e dos principais traços fonológicos, prosódicos,
fonéticos e morfossintáticos relacionados ao falar em Guaraqueçaba, ao qual define como
“misturado com português, palavras espanholas e palavras Indígenas”.
O casal Júlio e Janine Alvar, como resultado da pesquisa ocorrida em 1973,
publicam Guaraqueçaba Mar e Mato, em dois volumes: No Primeiro Volume, um glossário
com mais de 2.000 vocábulos e, no Segundo Volume, uma abordagem etnográfica com
gravuras, desenhos e imagens dos lugares, instrumentos de trabalho, caça e pesca, da
fauna e da flora. É o primeiro trabalho etnolingüístico a registrar artisticamente esses
elementos.

Muito do vocabulário registrado em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, assemelha


se com outros falares de Cananéia, litoral de São Paulo, e as respostas para estas
similaridades, pela cultura que se desenvolveu nesta região – Caiçara.
Durante 12 meses, entre 2019/2020, o Fandango Caiçara, enquanto Patrimônio
Cultural reconhecido e através da Instrução Normativa 001/201512“imprescindíveis para
que um projeto não impactue ou destrua os bens culturais”, como ação compensatória
dos empreendimentos portuários em Paranaguá, veiculou semanalmente, na Rádio Litoral
12
Disponível no endereço:
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Instru%C3%A7%C3%A3o%20normativa.pdf>.

- 12 -
13
Sul FM, o programa No Vanzeiro do Fandango , onde o “linguajar caiçara” se fez
presente em toda programação como marca identitária do caiçara e compartilhado em
todo território através das ondas do rádio.
Diegues (2005, pg. 87) acredita que é o “código de linguagem o traço de união, de
identificação e de integração da cultura caiçara”, pois está “relacionada com a existência
de um modo de vida com muitos traços em comum”.

a linguagem popular caiçara possui um léxico, em sua maioria


arcaico, um falar matuto conservador, influenciado pelo tupi e pelo
falar dos negros nos primórdios de nossa colonização. É um linguajar
de substrato arcaico, eivado de mudanças decorrentes da
transmissão oral e de novos acréscimos lançados por conta da
analogia, do menor esforço e dos metaplasmos de toda ordem.
(DIEGUES, 2005, pg. 87).

Postula Diegues (2005) que o falar caiçara é “um falar cantado, melódico, e
harmonioso, em sintonia com a natureza” e sua peculiaridade “não está assentada na
originalidade de seus termos”, mas observa que, juntamente com a fala e sua entonação,
há uma interligação com a postura e o gestual e, ainda o olhar, pois, o caiçara “não
apenas fala, ele fala e, ao mesmo tempo, representa” (DIEGUES, 2005. pg.16).

Para além destas pesquisas científicas, ainda se encontram outras obras


referenciais, de caiçaras, pesquisadores e amantes desta cultura que também evidenciam
o linguajar no litoral do Paraná, de São Paulo e do Rio de Janeiro, como a pesquisa de
Olympio Correa de Mendonça, Léxico do falar caiçara de Ubatumirim (1978), o O falar
caiçara (2008), de Carlos Rizzo e João Barreto, ambos em Ubatuba/SP, a Enciclopédia
Caiçara (2005) trazendo a pesquisa de Paulo Fortes Filho Falares Caiçaras (organização
do Profº. Antônio Carlos Diegues), o Glossário Caiçara de Ubatuba: Pequeno vocabulário
de palavras e locuções que compõe o falar do povo caiçara (2010), do pesquisador Peter
Németh “alemão”, o O Caiçares (2007), do pesquisador de Cananéia Romeu Mário
Rodrigues, o Pequeno Dicionário de Vocábulos e Expressões Cananéias, de Edgard Jaci
Teixeira (s.dt.); também em Itanhaém, litoral paulista, o Dicionário Tabacudo (2017),
autoria da Professora Maria Tereza Leal.

13
Programas disponíveis no endereço: <https://www.facebook.com/No-Vanzeiro-do-Fandango-627160437755845/>.

- 13 -
REFERENCIAL
(utilizado nesta introdução)

AGUILERA, Vanderci de Andrade. Os Atlas Linguísticos no Paraná: percursos e estágio


atual. In: Revista Gelne. Ano 1. Nº2. 1999, pg. 07-13.

___ . O léxico paranaense: uma viagem pelas veredas rurais e pelos caminhos urbanos. In: O
falar paranaense. Curitiba: Ed. UTFPR, 2015. Pg. 19-34.

ALVAR, Júlio. ALVAR, Janine. Guaraqueçaba: mar e mato. Curitiba: UFPR, 1986.

AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. São Paulo: Hucitec, 1976. [1920].

AMARAL, Serafina Taub Borges. Contribuição para um inquérito lingüístico no litoral do


Paraná. IN: Letras, 5/6: 157-66, dez., 1956.

ANCHIETA, Padre José. Arte de Gramática da língua mais usada na costa do Brasil. 1ª Ed.
1595. Coimbra: Antônio Moriz; 2ª Ed. 1874. Leipzig: Juliuz Platzmann; 3ª Ed. 1876, idem; 4ª Ed.
1933. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional; 5ª Ed. 1946. São Paulo: Ed. Anchieta; 6ª Ed. 1980.
Salvador: UFBA.

BESSA-FREIRE, José Ribamar. Nheengatu: a outra língua brasileira. In: História social da
língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do Carmo -- Rio de Janeiro: Edições
Casa de Rui Barbosa, 2008. Pg. 119-149.

BRASIL. Decreto nº 7.387, de 9 de Dezembro de 2010. Institui o Inventário Nacional da


Diversidade Linguística e dá outras providências. Disponível no site:
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Decreto%207387%20-%202010.pdf>.

___. Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Disponível no site:


<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/140>.

___. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (Brasil) Guia de pesquisa e
documentação para o INDL: patrimônio cultural e diversidade linguística. Brasília-DF, 2016.

Inventário da Língua Guarani Mbya - Inventário Nacional da Diversidade Linguística /


Organização Rosângela Morello e Ana Paula Seiffert – Florianópolis: IPOL: Editora Gapuruvu,
2011.

DIEGUES, Antônio Carlos Sant’Anna; FORTES, Paulo. Enciclopédia Caiçara. Vol. II. Falares
Caiçara. São Paulo: HUCITEC:NUPAUB:CEC/USP, 2005.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. A primeira história do Brasil: história da província de Santa


Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

- 14 -
História social da língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do Carmo -- Rio
de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008.

LUCCHESI, Dante. Africanos, crioulos e a língua portuguesa. In: História social da língua
nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do Carmo -- Rio de Janeiro: Edições Casa de
Rui Barbosa, 2008. pg. 151-180.
MARTIUS, Karl F. P. Von. Como se Deve Escrever a História do Brasil. In: Revista do
Instituto Histórico e Geográfico 5, p. 381-401, 1845.

MELLO, Heliana. Modelos de formação da língua nacional sob a perspectiva do contato de


populações. In: História social da língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima, Laura do
Carmo -- Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008. pg. 295-311.

MERCER, José Luiz; ROBL, Affonso; WOUK, Miguel. Notas dialetológicas sobre
Guaraqueçaba. In: Estudos brasileiros. Ano 2, nº 3. Vol. 2. 1977. Pg.35-63.

MERCER, José Luiz da Veiga. Le lexique technique des pêcheurs de Guaraqueçaba


(Brésil). Toulouse: Univ. de Toulouse II, 1979, tese de doutorado.

NUNES. José Horta. Dicionário, sociedade e língua nacional: o surgimento dos dicionários
monolíngües no Brasil. In: História social da língua nacional / Organizadoras: Ivana Stolze Lima,
Laura do Carmo -- Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008, pg.353-374.

O falar paranaense / organização: Edson Domingos Fagundes, Loremi Loregian-Penkal,


Odete Pereira da Silva Menos. – 1. Ed. Curitiba: Ed. UTFPR, 2015.

TENDLER, Daniel; PIZZI, Gustavo [direção]. Oncotô? Expedição Sul 8: a Língua Portuguesa
e a música. 24:26 min. [documentário].

WANKE. Eno Theodoro. Dicionário Paranista. Ponta Grossa: UEPG, 2001.

WOUK, M. Atlas Linguístico do Paraná. Primeira Etapa: Guaraqueçaba. In: Estudos


Brasileiros, Curitiba, (1):99-102, jun. 1976.).

*******

O material tema desta pesquisa - Falas do Mar e do Mato - foi selecionado no edital
#Cultura Na Rede, da Secretaria de Cultura/Prefeitura Municipal de Paranaguá/PR, no
ano de 2020 e o vídeo-produto “Falas do Mar e do Mato... uma espécie de dicionário
caiçara” pode ser visualizado nos links abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=MIjDKpmU0Ek

https://www.youtube.com/watch?v=kvThj3tK8t4&t=547s

- 15 -
LEGENDAS

As palavras aqui listadas são resultantes de anotações de longa data


(desde 1996) registradas por José Carlos Muniz em diversas comunidades do
território caiçara, devidamente revisadas e corrigidas pela equipe de
colaboradores.

Acrescentam-se ainda contribuições diversas recebidas nos primeiros


meses de 2020 e estas assim identificadas no decorrer desta obra:
[pesq.A.D] = Pesquisa de Aorélio Domingues – compilado da pesquisa
[inédita] de Aorélio Domingues.

[via R.S] = Via Rede Social – contribuições de verbetes e frases recebidas via
e-mail e whatsapp.

- 16 -
SC
- 17 -

Arapuca ou Buíza

-A-
A GUATÁ: Quando o produto está sobrando; remete a quantidade.

“[a guatá] É andando à toa, sem fazer nada; passeando; panapaneando por argures”.
(Cleiton do Prado [via R.S] – Iguape/SP, 2020).

A LUA COME TUDO: Expressão utilizada em dias chuvosos ou de ventania, quando de


lua cheia e uma vez aparecendo no céu, significa calmaria no tempo. A LUA TÁ PRA
FORA HOJE: Expressão que remete a dias de lua cheia em que, pela claridade da
água, evita-se alguns tipos de pescaria.
Á MÍNGUA: Enfermo ou caído em cansaço. Derreado. Ver Minguado. A POIS DE
CERTO / DICERTO: Remete à certeza de que algo aconteceria. A POIS O QUÊ / A
POIS OLHE: [via R.S]: Expressão que remete ao estranhamento a alguma informação;
desconfiança; mesmo sentido que “não me diga”. Também negação em realizar qualquer
afazer ordenado.
A RODO: Designa quantidade. Ainda “a dar com o pé”, “por cima” ou “três por
quatro”. Á TOA [via R.S]: Desafazerado; devarde.

ABANCAR: (assentar) Ficar por tempo indeterminado num lugar; permanecer; demorar.
ABANO: Instrumento semelhante a um leque, servindo para avivar o fogo. Diz-se ainda
da orelha do indivíduo, de tamanho descomunal (“orelha de abano”). Ver Atiçar. ABANÔ:
Relativo a não ter conseguido os objetivos; azarado, derrotado; perdedor.

- 18 -
ABDALA: Vendedor ambulante; sacoleiro.
ABOCANHAR / ABRACAR: Morder; pegar; segurar com força.
ABARROTADO (mar): Cheia. Diz-se ainda, sobre qualquer objeto em quantidade.
ABORRIDO [via R.S]: Triste. Também cansado. Mesmo que Amuado, Mocambuzo,
Desacorçoado ou Jururu.
ABRAÇO DE TAMANDUÁ: Abraço forte. Ninguém quer, pois é doído, apertado;
designa ainda o não querer por ser considerado de uma pessoa com higiene duvidosa.
ABUTO: Abuta selloan. Cipó utilizado na Medicina Caseira, indicado em decorrência de
cólicas menstruais.
ACACHATANDO [via R.S]: Mesmo que batendo.
ACANHADO: Tímido.
ACEMÃO / ASSEMÃO / UMACEMÃO / SENACEMÃO: Símbolo mítico e sagrado
que se origina na tradição da Estrela de Salomão ou na Cruz de São Salomão. Remete a
proteção contra o mau.

SENACEMÃO

ACOSTAR: O que é lançado ao mar e as ondas trazem para a praia. Ver Verão da Lata.
Para saber mais:
< http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2012/07/sin-hay-ii-exposicao-no-marcado-velho.html>.

- 19 -
ACUADO: Diz-se da caça assustada, perseguida e encurralada pelos cachorros.
ADOIDADO: Maluco, destranbelhado. Também Desguairado.
ADUFO / ADUFE / DUFE / RUFE: (Fandango Caiçara) Instrumento musical de
percussão, semelhante ao pandeiro, mas artesanal, com aro de madeira e couro animal
(Cutia ou Cachorro do Mato, tradicionalmente).
ADULAR: Carinho.
AFEIÇOAR: Apego.
AFOITO: Apavorado, ansioso.
AGARRAMENTO: Casal se Aparpando; Diz-se também de brincadeiras de crianças,
lutinhas, muito empurra-empurra que logo termina em choro/briga.
AGORINHA MESMO: Há pouco tempo; agora a pouco.
AGOURO / AGORADO: Superstição; prenúncio de acontecimento ruim. ÁGUA DA
FONTE: Expressão utilizada para designar água que nasce na localidade, difereciando-a
de outra qualquer; relativo a superioridade.
ÁGUA DO MONTE [via R.S]: Chuva forte e torrencial quando vem do continente.
AGUAGE [via R.S]: Onde a onda lava. Diz-se também do Vanzeiro que faz o cardume da
Tainha, prenunciando ser em muita ou pouca quantidade.
AGUASCADA: Água em grande quantidade e volume sobre um lugar ou uma pessoa.
ÁGUA DE JANEIRO: Diz-se da primeira chuva do ano; acreditam trazer sorte. Em
crianças, ainda de colo, diz-se da ingestão favorecer o rápido início do falar. ÁGUA-VIVA:
Animal marinho. Em contato com seres humanos, algumas destas espécies de Cnidaria
provocam graves queimaduras. Ver Caravela.
AGULHA: (pesca) Instrumento artesanal, confeccionado em madeira, para costurar o
Pano de Rede. Ver Malheiro.
Agulhas de madeira e plástica, chumbeiros de argila e malheiros de madeira

- 20 -
AIAIAI: Expressão que indica atenção ao que se pretende, pois pode não dar certo.
AIPIM: (culinária) Palavra indígena com significado em “brota do fundo”, relativo a planta
Manihot sculenta, servindo suas raízes de alimento e fabricação da farinha de mandioca.
AÍVA: Pessoa ruim; vadio; preguiçoso.
AJUNTADO: Refere-se ao estado civil, amigado ou amasiado.
AJUNTÓRIO: (Fandango Caiçara) Semelhante ao Mutirão, porém, trata-se de uma troca
de dias de trabalho.
ALAGAR: Afundar a canoa acidentalmente.
ALANHO / ALANHAR: (culinária) Fazer cortes horizontais no corpo do peixe para
facilitar na salga. Ver Lanho. Diz-se ainda do ser humano ao apresentar cortes pelo corpo.
ALARIDO: Gritaria, berro.
ALAÚZA: Bagunça. Ver Aloito, Berrero, Escarcéu, Banzé, Soré, Timiridade e Zueira.
ALEGRE: (Fandango Caiçara) Ferramenta utilizada na confecção de instrumentos;
consiste em uma faca com a ponta retorcida, facilitando o entalhe na madeira. ALENTO /
ALENTO-CHOCO / ARROTO-CHOCO: Arrotar.

“quando a pessoa tá empanturrado, ae arrota, um gosto ruim, uma catinga


brabo”. (Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

ALFERES: (Romaria do Divino Espírito Santo) Integrante da Tripulação responsável pela


recolha e destinação das ofertas (recebidas durante a Romaria) ao Divino Espírito Santo.
ALIMAR: Amolar a faca fazendo uso do instrumento, pedra de amolar - ‘lima’. ALÍPIO:
Refere-se àquele ser muito mentiroso.
ALMEJA / BERBIGÃO: (frutos do mar) Anomalocardia brasiliana. Marisco Bivalve,
encontra-se enterrado na areia de praia. Também Sapinhauá, Pegoava, Manini ou Sarro
de Pito. Em algumas regiões chamado de Vôngole ou Papa-Terra.
ALOITO [via R.S]: Bagunça de criança; Também trabalhar, lidar.
ALUADO / AVOADO: Diz-se da pessoa muito distraída, que vive no “mundo da lua”.
ALUGADO: Diz-se da pessoa exibida. Ver Lambido, Pachola ou Releza. ALUÍR:
Ficar inquieto, se mexendo a todo instante. Misturar algo.
ALUMEIE / ALUMIAR [via R.S]: Iluminar, direcionar a luz.
ALVORADA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria executada às seis horas da
manhã, a primeira do dia de Romaria.

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(Canto de ‘Alvorada’ – Mestre André Pires – Romaria do Divino Espírito Santo de


Cananéia) (gravado em Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR, em 2004)

AMANHECE: (Fandango Caiçara) Expressão que designa o baile estar bom, animado.
AMARELÃO: Doença (icterícia) em que a criança está com vermes. Deve-se mastigar
em jejum Erva de Santa Maria (Chenopodium ambrosioides), sementes de mamão (Carica
papaya) ou um dente de Alho ou folha de Hortelã, estes últimos na lua minguante.
AMARGOSO14: (bebida) Garrafada típica produzida na Sexta-Feira-Santa, tida como
remédio contra picada de cobra. Acreditam que afasta o azar. Também chamada de
“Fecha-Corpo” e “Tranca-Rua”.

“O Amargoso leva Capitiu (Siparuna guianensis Aubl), o alho (Allium sativum), a Arruda (Ruta
graveolens), raízes de Guiné (Petiveria alliacea L.), o Betarú (Xanthoxylum rhoifolium), o Capiá
(Coix lacryma-jobi) e o Fé-de-Gozo (Senna occidentalis), acompanhados de raspas de Milome
(Aristolochia paulistana, A. triangularis), de chifre de Veado, de espora de Arraia, do bico de
Macuco, da pata de Anta e do focinho de Porco”
(Genésio Viana - Comunidade de Rio Verde – Guaraqueçaba/PR, 2008).

AMBORÊ: Gobiodes broussonnetti. Peixe de porte pequeno, habitando grotas e tocas na


pedra, muito procurado para ser utilizado como isca viva.
AMEAÇANDO TEMPO: Quando se percebe nuvens carregadas dando sinais de
tempestade, trovoada ou chuva forte. Ver Arruinar.

“roncô trevoada na nova de setembro, é seis meses chovendo”.


(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).
“lua nova trovejado, trinta dias de molhado
trovoada em lua nova, a esperança se desova”
(José Hipólito Muniz – Guaraqueçaba/PR, 2015)

14
Assista ao documentário “Amargoso”:
<https://drive.google.com/file/d/1lLRJ4fhjn0ukzOWG7ovuMbcvx6TcGcWf/view?usp=sharing>.

- 22 -
“céu pedrento, chuva e vento; céu com escamas, sinal de bom tempo; lua deitada, marinheiro de
pé; lua a tardinha com seu anel, chuva a noite ou vento a granel; cerração na baixa, sol que racha;
nordeste anoitecido, temporal amanhecido; bugiu na terra, chuva na serra; norte duro, pampero
seguro; nuvem cor de cobre, tempestade que se descobre; rosado sol posto, cariz bem disposto;
trovoada de manhã, trovoada o dia inteiro; vermelha a alvorada, vem cal a ancarada; lua nova
trovejada, trinta dias de molhada; nuvem comprida que se desfia, sinal de grande ventania;
saracura cantando, vento norte ventando e ruivas a tarde, chuva de manhã”.
ALMEIDA, Antônio Paulino 15.

AMOLAR: Infortunar, ‘encher o saco’ dos outros.


AMONTOOU-SE: Cair; tombo. Também Se Esborrachou ou Se Espatifou. AMUADO:
Triste. Mesmo que Aborrido, Mocambuzo, Amuado, Desacorçoado e Jururu. ANDASSO
[via R.S]: Virose, gripe, constipação. Também mal do intestino. ANDORINHA: (Fandango
Caiçara) Marca batida. Em determinado momento da coreografia as Damas rodopiam ao
centro da roda, unidas às mãos de seus Cavalheiros, imitando o verão do pássaro que dá
nome à dança.
ANTONTE / ANTIONTE: Refere-se a dois dias atrás (antes de ontem). ANÚ:
(Fandango Caiçara) Moda batida16, sendo a primeira do Fandango Caiçara. O nome
refere-se a ave (Crotophaga ani – Família Cuculidae) tida como agourenta.

AÓ: Expressão que remete à culpabilização do outro.


AONDE / DAONDE: Expressão relativo à dúvida em certos assuntos.
APANHÁ VENTO: Expressão que remete ao fato de a pessoa estar ao relento,
desagasalhado, exposto à doenças advindas com o frio e a chuva.
APARECIDO / VISÃO / VISAGE: Assombração; vulto.

15
Usos e costumes praianos. In: Enciclopédia Caiçara. Vol 4. História e Memória Caiçara. Antônio Carlos Diegues (org.).
São Paulo: HUCITEC/NUPAUB, 2005. pg. 56.
16
Ouça no álbum “Viola Fandangueira: Viola Quebrada e Família Pereira”:
<https://drive.google.com/file/d/1SYiEcFdATpKS12fgYEn3GqZYEAXvDMiE/view?usp=sharing>.

- 23 -
APARPAR: Mexer, cutucar. Mesmo que Expirucar.
APERREADO: Aborrecido, desconfiado. Triste.
APERTAR O REMO / METER O REMO: Expressão que remete ao remar com mais
força; andar depressa.
APISSUIR / APOSSAR [via R.S]: Ter, adquirir, possuir; sentir-se dono. APOITAR: Jogar
a Poita; ancorar, Fundear a embarcação ou a canoa. APRECATAR: Preparar; Ficar
atento; Previnido. Também Antenado. APROCHEGAR: Chegar mais perto. Sentar-se
mais próximo. Diz-se quando se está conversando ao Pé do Fogo.
APU: Som emitido em necessidades, servindo como localização, em caso de se perder
no mangue, por exemplo. Também remete à brincadeira infantil Mãe de Esconde,
sinalisando a ‘mãe’ procurar aqueles que se esconderam. Ainda remete a qualquer
posição corporal desajeitada. Ver Cunhenho.
APURADO: Ligeiro; depressa; rápido. Diz-se da necessidade em defecar.
APURRINHAR: Irritar. Forçar.
ARAPUCA: Tipo de armadilha feita de bambú para captura de pássaros. Ver Buíza.
ARATACA: (caça) Tipo de armadilha de caça.

Prensa de Arataca ou Burro de Prensa

“a Prensa de Arataca é um tipo para prensar a massa da Mandioca. Consiste em uma Virgem
de Prensa, que é um esteio com um furo próximo da cabeça dele. Nesse furo vai um pau
grosso, de uns 15 centímetros de grossura por um 4 metros de comprimento e ele faz como se
fosse uma alavanca. Então na ponta é amarrado uma corda com uma tábua onde se põe

- 24 -
pedras. Essas pedras baixam e prensa o Tipiti, que fica mais próximo da Virgem de Prensa, que
é essa pilastra principal. É como se fosse um macaco; Com o uso da gravidade pra prensar o
balaio, o Tipiti, com a massa de Mandioca, pra poder secar e fazer a farinha”. (Juninho –
Ubatumirim/SP, 2020).

ARATICUM: Rollinia sericea. Também Araticum do Brejo; árvore da Família


Annonaceae, com fruto, dito “sorvete” comestível, crescendo em terreno próximo ao mar.
ARCALA: (rede) Fio que serve para ligar a rede na Arpoeira, durante o Entralhe do Pano
da Rede.

Arpoeira (a); Arcala (b); Cortiça (c); Malha (d); Nó (e)

ARDENTIA: Florescência, luminosidade no mar, resultante da ação dos plânctons.


ARDOR / ARDUME: Ardido; ardência pelo corpo.
AREADO: Que transparece limpeza; que brilha. Diz-se das panelas bem lavadas.
AREIA FOFA: Areia da praia, mais próxima ao Combro, aquecida pelo calor do sol.

“se for pescar, acaso as ondas estiverem batendo na praia e o mar subindo rápido, logo irá piorar,
deve-se evitar viajar de barco. E se acaso a areia da praia estiver fofa, logo a maré vai encher”.

ARGUERO: Cisco ou qualquer outro objeto que cai nos olhos e incomoda a visão.
ARGURES: Estar em algum lugar. Também Inhures.
ARINQUE: (pesca) Poita. Apetrecho, peso para fundear e segurar a rede no mar.
ARISCO: Animal não domesticado. Desconfiado.
ARPOEIRA: (pesca) Cabo principal, superior, cheio de bóias, que une a malha da rede
ARRASTÃO DE PRANCHA / ARRASTO DE FUNDO: (pesca) Modalidade proibida
no Mar de Dentro. Consiste em um Pano de Rede extenso, com dois pranchões (Porta)

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em cada extremidade, soltas ao mar. O peso da Porta, vai ao fundo, arrastar tudo para o
interior do Pano. Utilizada na captura de Camarão Branco. Ver Porta. ARRASTO DE
PRAIA: (pesca) Uma ponta da rede fica fixa na praia e outra, de canoa, cerca o cardume,
arrastando-o para a praia. Ver Camboá.
ARRE: Expressão que designa êxito em ter conseguido algo difícil. Na pronúncia se
prolonga a letra final da palavra.
ARRE BEM FEITO: Exprime vingança.
ARREBENTAÇÃO: Quebrança das ondas, no Mar de Fora.
ARREGADO: Com privilégios e vantagens.
ARREGANHAR: Se abrir ou sorrir demasiadamente; se engraçar, se exibir. Também
remete a posição corporal ‘de cócoras’, com as pernas entreabertas. ARRE LÁ [via R.S]:
Expressão que significa “ô dó”; que pena. Também alívio ao concluir algo.
ARRELASINHO [via R.S]: Carinho.
ARREMEDAR / REMEDAR: Imitar a voz humana ou o som de passarinhos.
ARRIAR: Cair doente; utilizado tanto para humanos quanto para os animais.
ARRIERA [via R.S]: (pesca) Cabo ou cipó para puxar a canoa na Varação.

“[arriera] é a corda ou o cipó que fica na popa da canoa pra usar na hora da puxada da
canoa. Amarra na raiz da árvore, dá uma volta, duas, as vezes três voltas, pra pode ir
soltando aos poucos. Aquele que fica na Arriera é o responsável pra não soltar a canoa
quando tá morro
abaixo, pra não atingir os companheiros que tão puxando e também não batê num pau, numa
pedra e lascar. Então, Arriera tem papel importante pra fazer o freio”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

ARRODEAR: (Fandango Caiçara) Marca coreográfica do “8”, ou seja, quando a Dama


rodeia o Cavalheiro.
ARROSAR: Relacionado ao plantar e ao colher o arroz.
ARROZ LAMBE-LAMBE / LAMBE-LAMBE: (culinária) Arroz cozido com Bacucu ou
Sururu (ainda na concha), acrescido de temperos.
ARRUINADO: Diz-se da pessoa doentia. Também do mau tempo ou algo estragado.
ARURÁ: Espécie de Jacaré-Açú (Melanosuchus Níger) de tamanho descomunal em
relação à espécie de Papo-Amarelo (Caiman latirostris), abundante na região. ARVO:
Claro, branco.

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ASCANHO [via R.S]: Esquerda, canhoto.
ASCO / CATINGA: Mau cheiro; fedor. Ver também Jaó.
ASEJA / ASEJINHA: Expressão que remete à caridade. Sentimento de pena, dó.
ASSEIRO / ACEIRO [via R.S]: Pedaço de roça que é limpa e não fica galho
nenhum.

“[asseiro] pedaço da roça que é limpa e não fica cisco nenhum, que é pra separar o lugar que vai
fazer queimada, vai fazer a coivara... olha o vento de que lado que tá, sempre o fogo contra o
vento e morro abaixo, contrário do que o fogo gosta. Assim pra não juntar o pedaço que vai
queimar com outra parte da roça que não quer queimar. É tipo um picadão em volta da na roça”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

ASSINTE: Atentar; Enfernizar; Provocar.


ATACADO / VARIADO: Surto; Loucura.
ATAQUE DE BICHA: Surto por vermes ou vermes alvoroçados.

“quando dava ataque de bicha, pois subia e tapava a respiração, chegou a matar muitas crianças.
Para desembolar as bichas, passava querosene na barriga e também dava pra cheirar; na sola do
pé dava pra passar mel de abelha e açúcar molhado. Também dava chá de fumo de corda”. (José
Hipólito Muniz – depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, 2015).

ATAZANANDO: Atentar; Assinteiro; provocação.


ATÉ O CEPO: Expressão que remete a insistência e êxito no que se deseja.
ATEAR: Acender; fazer fogo. Ver Atiçar e Avivar o fogo.
ATENTADO: Diz-se da pessoa muito peralta e sarrista.
ATIÇAR: Soprar a brasa para reavivar o fogo. Diz-se também da provocação ao cachorro
para atacar alguém ou alguma caça ou provocações quando se está brigando. ATOA / A
TOA: Diz-se da pessoa sem qualidades para o trabalho; preguiçoso ou Mequetrefe.
ATOCICAR: Dar palpites em brigas; Mau conselho.
ATORAR / TORAR: Corte em parte do corpo; machucadura; também utilizado para
cortes de madeiras. Ver Alanho.
ATRACAR: (embarcação) Encostar.
ATRAVESSA-RIO: (vestimenta) Diz-se da bermuda ou calção muito curto.
AVACALHADO: Diz-se do sujeito ou espaço desarrumado, desorganizado; bagunçado.

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AVE-MARIA [via R.S]: Designa o anoitecer, após às 18:00 horas. Se chama de Período
da Ave-Maria, das seis da manhã às seis da noite (Romaria do Divino Espírito Santo).
Ainda remete a expressão que remete a admiração.
AVENCE [via R.S]: Alcança. Avança.
AVEXE: Vergonha, timidez.
AVIVAR O FOGO: Soprar as brasas para reavivar as chamas. Ver Atiçar.
AVUADO: Aquele que é esquecido; atrapalhado.

“não esquece a cabeça porque tá grudado”


(expressão que remete à pessoa esquecida)

AZUL MARINHO: (culinária) Postas de peixe cozido com bananas ainda verdolengas e
acrescidos de temperos. É declarado Patrimônio17 Histórico e Cultural de Ubatuba/SP pela
Lei Municipal nº 2479/2004.
Arrasto de Praia ou Camboa
(Wagner Muniz18)

17
Para saber mais: <https://www.youtube.com/watch?v=Q-Kgvik-bUg&feature=emb_logo>.
18
Natural de Superagui – Guaraqueçaba/PR. Uma mostra de seu trabalho está no endereço:
<http://wagnermuniz.blogspot.com/>.

- 28 -

-B-

Burro de Prensa

BACHARELO: Pessoa de qualidades ruim; safada, malvado.


BACHERO: Lugar baixo onde se despeja entulho.
BACIADA / DE BACIADA / BALDADA / BALDAME / BARDAME: Unidade de
medida, designando grande quantidade, equivalente a um ‘balde’ cheio. Também Latada.
BACUCU / MEXILHÃO: (frutos do mar) Mytella charruana. Marisco bivalve que vive
enterrado na lama, de tamanho inferior ao Sururu. Ver também Sururu e Arroz Lambe
Lambe.
BADEJO: Espécie de peixe da Família Serranidae (Mycteroperca), podendo alcançar
mais de 100 quilos, vindo a boiar (morrer) devido o excesso de peso – Badejão.

Em Guaraqueçaba/PR, em 1980, o pescador Albertino Barbosa (In Memoriam), após


prometer pegar um peixe maior que ele mesmo, capturou um Badejão19 com 182 kg;
porém, tendo cumprido sua promessa, veio a falecer naquele mesmo dia.

BAFAFÁ: Falaria; confusão. Ainda Sururu.


BAFAGE [via R.S]: Vento quente soprando de Noroeste.
BAFORADA / ESBAFORIDO: Soprar o hálito (bafo da boca).

19
Para saber mais: <http://www.overmundo.com.br/guia/restaurante-barbosa-e-o-peixe-grande>.

- 29 -
BAGAÇO [via R.S]: Canoa moída, quebrada. Também remete a qualquer objeto ou
utensílio velho e estragado, inapropriado para o uso.
BAGRE AMARELO: Cathorops spixii. Espécie comum de peixe sem escamas. Também
chamado de Congo ou Gonguito, ou ainda de Bagre Vermelho.
BAGRE BACIA: Bagre marinus. Espécie de bagre.
BAGRE BRANCO: Genidens barbus. Espécie de bagre também chamado de Guiri.
BAGRE BUGRE: Notarius grandicassis. Espécie de bagre, com tamanho maior que os
demais, confundindo-se com o Guiri, porém, não é branco, sendo de cor mais escura.
BAGRE CANGATA: Aspistor luniscutis. Espécie de bagre, de tamanho médio. BAGRE
ENSABOADO: Liso. Expressão utilizada referenciando pessoas que fogem com astúcia
das responsabilidades; ligeresa; esperteza.
BAGRE GUIRI: Netuma barba. Espécie de bagre, branco e de tamanho grande.
Também chamado de Bagre Branco.
BAGRE JUNDIÁ: Rhamdia quelen. Peixe de rio.
BAGRE PARARÊ: Genidens genidens. Espécie de bagre, de tamanho médio.
BAGRE SARI-SARI: Bagre bagre. Espécie de bagre, de porte pequeno.
BAIACU: Sphoeroides testudineus. Espécie de peixe de couro, temido pelo veneno
(vesícula biliar) potencialmente letal - Fel, porém, àqueles que o dominam na limpeza,
proporcionam aos degustadores uma carne muito apreciada. Também chamado de
Baiano ou Cascudo. Outras espécies conhecidas como Baicú Arara (Lagocephalus
laevigatus), Baiacú Espinho (Diodon hystrix) e o Baiacú Guará.
BAITA: Algo muito grande; Tamanho descomunal. Também Lemarde e Ximirde.

- 30 -
BAITACA: Espécie de papagaio; diz-se da pessoa que fala muito.
BAIXIO: Na baía ou lagamar, lugares de concentração de bancos de areia,
impossibilitando a navegação.
BAJULANDO / ADULANDO: Adorando; mimando; “puxando o saco”. BALAIADA:
Unidade de medida; grande quantidade. Ver Bardame e Batelada. BALAIO: Cesto
artesanal confeccionado com cipó ou taquara, para carregar no dia-a-dia na pescaria ou
guardar utensílios, em casa.
BALAIO: (Fandango Caiçara) Cometer erros na coreografia da dança. BALAIO DE
GATO: Diz-se quando objetos diferentes estão misturados; bagunça. BALEERA / ERVA
BALEERA: Cordia verbenacea. Planta utilizada na Medicina Caseira (existe
medicamento a partir dessa espécie já patenteado). Também Barrelera. BALEEIRA:
(embarcação) Embarcação, geralmente com Proa e Popa em dimensões e formatos
semelhantes, porém com Bojo mais alargado.
BALOFO: Diz-se da pessoa gorda ou daquele “inchado” de caçacha. BANANA DE
BEIZ [via R.S]: Diz-se quando o cacho da banana está amadurecendo. BANDALHO
[via R.S]: Andar sujo.
BANDOLEIRA [via R.S]: Diz-se da canoa sem estabilidade na água. Canoa louca ou
Macuca. Também se refere à pessoa malandra.
BANHA DE LAGATO: Tupinambis merianae. Remédio do Mato, a partir da banho do
Teiú, sendo utilizado para diversas enfermidades, entre elas dores no ouvido. BANOTE:
Expressão que remete a algo que deu errado.
BANZÉ: Confusão ou bagunça; Mesmo que Pé de Manparra. Também Timiridade,
Berrero, Escarcéu, Soré, Alaúza, Aloito.
BANZEIRO / BALANLANDO [via R.S]: Meio bêbado. Também Chapado, Embalado,
Escamado, Calabreadao e Chumbado.
BAQUE: Tombo, cair.
BAQUE DO MAR: Onde as ondas quebram.
BARATA TONTA: Expressão que remete à pessoa ‘sem rumo nem direção’; Também
Zanzando ou Azorário.
BARBELA: Penugem.
BARDAME [via R.S]: Unidade de medida equivalente a um balde, baldada. Ver Batelada
ou Balaiada.

- 31 -
BARRA: Canal que divide e separa as águas oceânicas do mar de dentro ou da baía.
Ainda o termo “Barra do Rio” remete ao local da junção das águas pluviais em relação às
águas marítimas.

Barra de Ararapira

BARREADO: (culinária) Prato típico do litoral. Referência Cultural do Paraná20, em


Paranaguá celebra-se, na 3ª semana de agosto, o Dia do Fandango e do Barreado,
criado através da Lei Municipal nº 2218/2001.

“era feito mais no Carnaval né, então faziam na sexta-feira. Cortavam a carne bem cortadinha,
passava um pouco de banha bem ali, quando tava meio frito coloca água, cebola, pimenta,
cominho né, fervia um pouco e tava cozido. Tirava tudo fora do fogo. Fazia aquele angu
misturando farinha e cinza, cortava aquela folha de banana nova, sapecava em cima do fogo e
cobria a panela, bem coberta e amarrava bem amarrado e passava aquele barro, pra não sair o
cheiro né. Cozinhava uma meia hora por aí, até a carne fica bem molinha né. Então quando era
sábado dez horas, punha aquela panela no fogo, pra aquent ar um pouco, né. Quando abria era
aquele cheiro, mas que cheiro mais gostoso. Depois tinha Biju de Mandipuva pra comer junto.
Tirava foguete, chegava a rapaziada e comiam, cada família tirava sua carne e comia com Biju”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2004).

20
Para saber mais, assista ao documentário Unidas pela história – Antonina, Morretes e Paranaguá”:
<http://gp7cinema.com/produ%C3%A7%C3%B5es/antonina-morretes-e-paranagua-unidas-pela-historia/>; veja também
“Barreado, prato típico do Paraná com mais de 200 anos de história”: <https://www.youtube.com/watch?v=YOS5g-4QkTY>.

- 32 -
BARREAMENTO / BARREAR / TAIPAMENTO: Mutirão para revestir de barro a Casa
de Pau-a-Pique. Recobrir qualquer superfície com barro.
BARROSO: (culinária) Consiste em moer dentro do copo com café, banana assada na
brasa.
BARROTE: Viga de madeira utilizada para construção.
BASÍLIO: Refere-se àquele muito fofoqueiro.
BATE-BATE: Brinquedo de criança. Espécie de ‘carrinho’ puxado na corda, amarrada
nas duas extremidades. Consiste em uma garrafa (água sanitária, sem alça), em que se
amarra, na horizontal, uma espécie de ‘língua’, fazendo com que, ao correr, a garrafa gire
inúmeras vezes e a ‘língua’ fique a bater em contato com o chão.
BATÊ PERNA [via R.S]: Diz-se da pessoa que anda muito pela vizinhança; Ver
Panapaneando, Pela Costera.

“chegava na casa dos mais velhos, logo falavam: “onde andaste que tamanho nariz criastes””.
(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

BATELADA: Unidade de medida. Grande quantidade. Ver Bardame ou Balaiada.


BATELÃO: (embarcação) Canoa Caiçara com grandes dimensões.

“O batelão é uma canoa grande, com 3 palmos de ‘boca’ e 3 braças de


comprimento”. (José Hipólito Muniz, Guaraqueçaba/PR, 2020).

BATENDO GUASCA [via R.S]: Mesmo que batendo perna; pela costeira.
BATER LINHA: (pesca) Pescaria de Caniço ou Vara de pesca.
BATERA: (embarcação) Canoa com fundo chato, sem quilha, utilizando-se o Remo de
Voga. Diz-se ainda da embarcação com motor de centro, porém, com a Popa achatada.
-
33 -
BATUÍRA: Charadrius semipalmatus. Ave marinha.
BEBERAGE: Remédio feito com ervas naturais, em Garrafada. Também Cordeá.
BEDELHO: Intrometer-se em assuntos alheios.
BEIJAMENTO: (Divino Espírito Santo) Toque instrumental21, logo após a cantoria da
Despedida ou a cantoria de Encerro, em que os devotos foliões, em fila, beijam a Bandeira
do Divino Espírito Santo.
BEM-RUIM [via R.S]: Antônimo de algo ou alguém belo, que se expressa o valor.
BEM-TE-VI: (mitologia) Pitangus sulphuratus. Diz-se que seu cantar remete a “eu teví”,
denunciava assim a fuga da Sagrada Família da perseguição do Rei Herodes. Por esse
motivo fora amaldiçoado, não servindo como alimento. Ver Curruíra, Gralha Azul, Sabiá
Laranjeira e Linguado.
BENDITO: (cantoria popular) Orações cantadas22 na região de Ubatuba/SP, em
determinadas ocasiões, como durante a Folia do Divino Espírito Santo. Ver também
Rosário de Maria e Martírio de Cristo.

“esse bendito é loUvado


Foi feito com fundamento

Recordai as minhas dores


suspendei meus pensamentos”
(Robson ‘Robinho’ Fernandes – Ubatuba/SP, 2021).

BENDITO DA PAIXÃO: (Terço-Cantado) Orações cantadas23 na região litorânea do


Paraná, em determinadas ocasiões, como na reza do Terço-Cantado. Versa sobre os
sofrimentos de Jesus Cristo durante sua condenação e cucificação. Ver Terço-Cantado.
BERDUGO [via R.S]: Sujeira pelo corpo. Craca.
BERDUGUE / VERDUGUE: (embarcação) Ripamento no ‘esqueleto’ da embarcação,
servindo para firmar o ‘bojo’.
BEREANDO: Ficar na beira da casa; rodeando algum lugar.

21
Ouça no álbum “Chegadas e Despedidas – Mestre André Pires – Cananéia/SP”:
<https://drive.google.com/file/d/1VEAysJ3ZtqLuexghbEIFGxmo7UUuFtBD/view?usp=sharing
. 22 Ouça na voz da Folia do Divino de Ubatuba/SP:
<https://drive.google.com/file/d/19TnoydrGtjaeI8TuJExTjik6NVZ9dFHN/view?usp=sharing>. 23
Ouça na voz de Antônio Muniz, da comunidade de Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR:
<https://drive.google.com/file/d/189VXLFtpB9l9qkWimSURXutPyUcIHI8W/view?usp=sharing>
.

- 34 -
BERERÉCA: (culinária) Massa de Bijú feito a partir da raiz da Mandioca apodrecida,
prensada e socada e misturada com ovos; assada na folha da bananeira. Ver Mandipuva.
BERRERO: Gritaria, bagunça.
BETA [via R.S]: Corda feita com a casca do Cipó Imbé (Philodendron imbé Schott).
BETARA: Menticirhus littoralis. Espécie de peixe de escama.
BICA: Pequeno orifício de onde jorra água potável.
BICHA: Vermes, lombrigas. Para evitar em crianças recém-nascidas se confecciona um
colar com dentes de alho para estas usarem. Ver Ataque de Bicha.
BICHERA: Feridas com infecções em animais.
BICHERO: (pesca) Fisga, em formato de anzol, para retirar o peixe do mar e embarcá-lo.
BICHO DE FIGUEIRA: Lagarta ou embira (Indeterminado); venenosa. Também
Cachorrinho ou Marandová.
BICHO DE PURGA: Tunga penetrans. Parasita, também chamado de ‘Bicho de Pé’.
BICO: Órgão sexual masculino. Alcunha de pessoa com baixa estatura. BICO DO
CORVO: Diz-se da pessoa ou outro animal doentio, em fim de vida. BIJU DE CUZCUZ:
Massa da Mandioca, depois de prensada é misturada com fubá e cozida no Cuzcuzeiro.

“[Biju de Cuscuz] depois de ralada e prensada, a massa é misturada com um pouco de fubá e vai
para o cuscuzeiro [panela de barro cheio de furos no fundo]. O cuscuzeiro é forrado com folhas de
banana nova ou palha de milho. Põe o cuscuzeiro dentro de uma panela com água, barreia a
tampa e leva a ferver em banho-maria por cerca de 30 minutos”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, no ano de 2004).

BIJU DE GOMA: A Goma, extraída da massa da Mandioca após prensada, é misturada


com a prórpia massa da Mandioca e levada para assar.
“[Biju de Goma] enquanto prensada, a massa enxuga, deixando escorrer a mandiquera,
despejada na gamela. Com tempo, a Goma assenta no fundo da gamela. Depois de assentada a
goma é levada ao sol e seca bem, mistura-se com cerca de 30% da massa e vai ao forno”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, no ano de 2004).

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Bijú, Cuzcuz e Cuzcuzeiro de barro

BIJU DE MANDIPUVA: (culinária) Raíz da Mandioca fermentada ou apodrecida, depois


de ralada, prensada, coada, é assada na folha da bananeira.

“[Biju de Mandipuva] era assim. Arranca a mandioca de ter um ano e meio e escolhe só as
grandes. Corta o jurupú, o talo e risca a mandioca [fazendo cortes, para facilitar no descascar].
Fazia uma poça, um buraco, cortava bastante folha de bananeira, forrava bem forrado o buraco,
punha a mandioca e água. Daí cobria com as folha da rama mesmo e depois bastante folha por
cima e mais terra por cima pra bicho não entra. Três dias [ou mais dependendo do sol] e tava ela
[mandioca] boiando de molinho. Daí, a gente tirava dali, lavava na fonte e punha água, levava o
tipiti e a gamela. Ia lavando e descascando e bem lavado ali. Aí rala, põe na prensa e deixa mais
ou menos bem enxuto, pega, soca bem socado, torna a prensá e vai indo, até que fique igual
farinha de trigo. Depois faz o biju no forno, pra corta tudo em pedacinho. Tem aquele cheiro forte.
(Dorçulina Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2004).

BIJU DE TAPIOCA: Massa da Mandioca, após coada e peneirada, adiciona fubá


ou arroz, temperada com sal e cravo e levada para assar.

“[Biju de Tapioca] rala a mandioca, leva pra prensá e quando a massa tiver bem enxuta é coada
em peneira fina. Daí tempera com sal, cravo moído e põe fubá [ou arroz]. Leva ao forno, podendo
fazer com punhados enrolados em folhas de banana-maçã [melhor folha], pode fazer redondo ou
em pedaços finos para enrolar depois”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam)
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba/PR, no ano de 2004).
“força no cú pra ganhá bijú / força na mão pra ganhá pirão”
(parlenda usada como motivacional em trabalhos pesados e coletivos)

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BILHA: Recipiente feito de barro, para colocar água, sobre a mesa. Ver
Boião. BIRIVA: Grito; gritaria.
BIRRA: Estar zangado; teimoso.
BIRRO: Igual a baqueta, para tocar bumbo. Era utilizado no tear para a confecção de
Esteiras de Piri.
BIRRUGA: Verruga. Ver Cebolana.
BIRUANHA: Mosca varejeira.
BOBA: Doença que acomete as aves de Criação.
BOBIÇA / BOBAJADA / BOBAJINHA: Mesmo que bobagem, besteira. BOBÓ:
(culinária) Camarão, decascado e cozido com mandioca e temperos. BOCA: (utilizado
para diversas funções) Refere-se à diversos tipos de ‘entrada’. [boca] entrada da Barra;
[boca] largura da canoa; entrada do furado; [boca do povo] falado pelo povo; [boca do dia
ou boca da noite] amanhecer do dia ou escurecer.
BOCA ABERTA: Sinônimo de ficar espantado.
BOCA DE BURRO: Alcunha daquele que é atrasado, ignorante. Ainda Mocorongo.
BOCA DE SIRI: Sinônimo de ficar quieto.
BOCA DE UNTANHA / BOCA DE PARÚ [via R.S]: Alcunha daquele que tem a boca
com tamanho descomunal ou que consegue abrí-la demais.
BOCA DURA: Diz-se da pessoa que fala ‘palavrões’ ou blasfêmias.
BOCA SUJA: Diz-se da pessoa que fala muitas besteiras ou
Má-criação. BOCHICHO / BUCHICO: Comentários sobre a vida de
outrem.
BODOQUE: Arco, feito de galho envergado, para atirar pelote.
BOI DE MAMÃO: Manifestação cultural no litoral do Paraná24, equivalente ao Auto do
Boi ou Boi Bumbá, porém, nesta dramatização de rua, geralmente no período de Entrudo
ou das Festas Juninas, o personagem Vaqueiro é que morre, depois de levar chifradas do
Boi (diferentemente de outros autos onde o boi é que morre). Envolto em danças típicas,
como Balainhas, Pau de Fitas e apresentando outros personagens como Tichipá, Mariola,
Bernunça, Cavalo, dentre outros.
BOI-TATÁ: (mitologia) Diz-se de um cavalo que, no lugar da cabeça, possui fogo.
BOIÃO / MORINGA: Recipiente de barro, para armazenar água e mantê-la fresca. Ver
Bilha.

24
Assista ao trailer do documentário “Boi de Mamão”: <https://www.youtube.com/watch?v=7Tv1AevZxzw>.
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BOJO: (embarcação) Alargamento (corpo) da Canoa.

“[Bojo] o fundo da canoa; se a canoa tem 1 metro de boca o ideal é que tenha um bojo no mínimo
de 1,20 metro, pelo menos vinte por cento a mais de cada lado. Você tem canoa segura ca borda
fechada. Se o bojo for roliço, for estreito. Pessoa quer fazer uma canoa muito larga, com o fundo
seco; canoa bojuda ela é uma canoa segura”.
(Juninho – Ubatumirim/SP, 2020).

BOLANDEIRA: (Casa do Tráfico) Maquinário para ralar a Mandioca. Semelhante a


Cevadeira, porém, a força motor é da eletricidade.
BOLEADO: Arredondado
BOLINAR: Mexer, no sentido de apalpar, passar a mão noutra pessoa. Ver Expirucar.
BOLINHO DE GRAXA: (culinária) Consiste em bolinhos fritos, feitos a partir da Farinha
de Trigo, água e sal (alguns acrescentam arroz ou pedaços de banana madura). BONITO
PRA SUA CARA: Designa decepção com o ato praticado por outra pessoa.
BOQUEIRA: Feridas labiais, no canto da boca, provocada por fungos e ou bactérias.
BORDA: (embarcação) Laterais da embarcação.
BORDADURA: (embarcação) Feitio e detalhes da borda da embarcação. BORDÃO:
Cajado. No Fandango Caiçara se refere ao nome da última corda fina da Viola
Fandangueira. Ainda à frases e ou Pé de Moda, conhecidos por todos e repetidos com
frequência.
BOROCOXÔ: Triste, abatido.
BORRADO: Sujo. Ver Burrasquera.
BORRAMENTO: (Fandango Caiçara) No primeiro dia de Entrudo, fazia parte da
diversão pintar ou ‘borrar’ o rosto com tição de carvão e pó de café.

“borrava a cara toda no primeiro dia de carnaval e era dançando pelo menos uma moda, de
sábado pra amanhecer domingo com a cara borrado”.
(Antônio Alves Pires – In Memoriam).
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2003).

BORRASCA: Tempestade.
BORRASCADA / BURRASQUERA [via R.S]: Também Jateada, Mal de Barriga ou
Barriga Mole; desinteria. Estar sujo, diz-se de dejetos. Também Breado.

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BOTA NA XINCHA : Expressão que remete à intimidação; ‘botar na parede’ ou tomar
atitude extrema na espera que outro confesse algo ou algum crime praticado. BOTE:
(embarcação) Diz-se da embarcação com motor de centro e formato da Popa achatada,
porém, quando possui Casaria.
BRAÇA: (pesca) Unidade de medida do comprimento do Pano da rede (equivalente aos
braços abertos e esticados).
BRACORAIA: Vestimentas com várias listas multicoloridas ou desenhos extravagantes.
BRADAR: gritar, berrar.
BRAZIDO: Brazeiro, fogaréu, com ardentia.
BREÁ / BREADO: Sujo.
BREU: Mata fechada ou mata virgem; diz-se do local onde pouco se enxerga a frente,
muito escuro; cerração forte; escuridão da noite. No Fandango Caiçara remete a resina
para passar nas cordas do arco da Rabeca. Tradicionalmente se usava do nó da árvore
Pinho (Pinus).
BROINHA DE GOMA: (Fandango Caiçara) Espécie de biscoito feito a partir da Goma
extraída da Mandioca ralada e prensada. Na receita, adiciona-se ovos, cravo e açúcar,
levando a massa para assar.

“relava a mandioca, exprimia e deixava oito dias ali a goma com a


mandiquera.
Azedava a goma né, pois não tinha fermento naquele tempo. Punha no
sol por três dias, enxugava bem enxutinho aquela goma. Depois passa no
forno e podia guardá até ano. Misturava a goma com gema e a clara tinha
que batê e deixá espumada pra misturá na massa pronta. Amassava bem.
Faziam em dois ou três dias antes, eram feitas latas cheias, preparadas
mais no tempo de casamento, batizado ou baile mesmo”.
(Dorçulina Fagundes Eiglmeier – In Memoriam).
(depoimento recolhido em Guaraqueçaba, no ano de 2004.)

BRUÇO: Posição do corpo deitado, ficando


com os braços para baixo. BUCAÇO [via R.S]: Mesmo que grande.

BUCHA: Equivalente a uma colherada de comida ou pequena porção. Também pode


designar assunto mal resolvido; ainda apetrecho para vedar vasamento em embarcações.
BUFANDO: (culinária) Fervendo; Também designa pessoa extremamente irritada.
BUFO: (Fandango Caiçara) Diz-se da sonoridade que ecoa da Viola Fandangueira.

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BUGRE: Dizia-se do nativo ou do indígena. Nos últimos anos, note-se, há uma
autoafirmação enquanto Caiçaras, caindo tal denominação em desuso. Designa ainda
etnia de indígenas brasileiros. Há quem assim chame o Bagre Branco, de tamanho
superior aos demais (Bagre Bugre).
BUÍZA: Mesmo que Ararapuca, ou seja, armadilha para capturar pássaros.
BULHA: Ruído, barulho alto, confusão.
BULIR / RESBULIR: Mexer. Remexer, tocar.
BUSANO / GUSANO: Molusco vermiforme, da Família Teredenídeos. Corroe e perfura
madeiras imersas, estragando a embarcação.

Busano

BUSSUROCA [via R.S]: Buraco fundo, ribanceira; barranco alto.


BUSULÉU: Desordem, confusão.
BUTELO / BRUTELO: Grande; de tamanho descomunal. Também Lemarde, Ximirde.
BUTOQUE / OLHO DE BUTUCA / OLHO DE BOTO: Diz-se daquele que tem olhos
grandes; olhos arregalados; Ainda o olhar de “rabo de olho”. Ver Esbugalhado.

“o bobo era vinte e um, morreu vinte e ficou um”


(expressão que remete à sagacidade do indivíduo, colocando-se mais esperto que outros
em situações em que sairia prejudicado).

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-C-
Cevadeira

CABEÇA: Designa liderança de determinado grupo.


CABEÇA DE BAGRE: Diz-se da pessoa desajuizada.
CABEÇA DE BAGRE / ESPÍRITO DE PORCO: Diz-se da ave marinha Biguá
(Phalacrocorax brasilianus), que se alimenta de bagre e emite som semelhante ao ronco
de um porco.
CABEÇA DE MODA: (Fandango Caiçara) Equivalente ao refrão. Ver Pé de Moda.
CABEÇA DE VENTO: Começo de ventania; Diz-se também da pessoa esquecida.
CABOCLO: Diz-se do morador do interior, no sítio. Ver Caiçara.
CABRERO: Ficar nervoso, desconfiado.
CACARECANDO: Cacarejar. Som emitido pelas Criação (galinhas) no Terreiro.
CACAU: Encrenca.
CAÇÃO: Condrichthyes. Espécie de peixe, Tubarão, também chamado de Tintureira. Sua
banha é passada em madeiras, evitando a infestação de cupins. Há ainda o Cação Viola.
CACEIO / CACEAR: (pesca) Consiste em soltar a rede, com as devidas bóias de
marcação, a andar, a rede, conforme a maré e ir buscá-la, dentro de poucas horas.

Na Baia de Paranaguá/PR é proibida a pesca de espécies com malha miúda (5mm);

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já as malhas 6 e 7 mm são utilizadas mais para captura de Pescadinhas; as malhas 8 e 9 mm
para Tainhota; as malhas 10 e 11 mm para Tainha, a malha 12 mm para Bagre; as malhas 12, 13,
14 mm para Salteira e a malha 20 mm para Linguado.

CACHEIRO: Vendedor, de armazém. Dono da Venda.


CACHOPA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Flores no alto do mastro da Bandeira,
envoltas ao Pombinho que simboliza o Divino Espírito Santo. Também Buquê ou Tope.
CACHORRINHO: (Fandango Caiçara) Um dos nomes da ‘meia corda’, na Viola
Fandangueira. Também chamado de Turina, Periquito ou Cantadeira.
CACHORRO DO MATO: Procyon thous. Mamífero carnívoro que habita áreas de
mangue. Também chamado de Mangueiro ou Cachorrinho Policial.
CACINDANGA: Diz-se do Saci. Ver Fite ou Coisa Ruim.
CAÇOAR: Dar risadas de alguém. Também tirar Sarro ou Zombar.
CACO [via R.S]: Pedaço de qualquer coisa. Fragmento de vidro ou telha
quebrado. CACUNDA: Costas.
CACUQUE: Ânus.
CAGA-SEBO: Euscarthmornis nidipendulus. Espécie de passarinho, Cambacica.
CAGAÇO: Medo, temor.
CAGADOR [via R.S]: Banheiro improvisado, no mato. Também Mitório.
CAGAIBA [via R.S]: Diarréia; caganeira.
CAIÇARA: Indívíduos que vivem em parte do litoral carioca e ao longo do litoral paulista,
paranaense e catarinense, herdeiros da miscigenação entre o indígena, o português e o
negro africano. O termo remetia a definições estereotipadas, fruto de intensa
desarticulação sócio-cultural decorrentes de interesses imobiliários e conservacionistas,
porém, hoje, sinônimo de luta e resistência. Através do Decreto-Lei nº 6.040/2007 foi
instituída a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais PNPCT e o Caiçara reconhecido como Povo Tradicional do Brasil.

“com isolamento relativo, essas populações desenvolveram modos de vida particulares que
envolvem uma grande dependência dos ciclos naturais, um conhecimento profundo dos ciclos
biológicos e dos recursos naturais, tecnologias patrimoniais, simbologias, mitos e até uma
linguagem específica, com sotaques e inúmeras palavras de origem indígena e negra. As
populações tradicionais estão relacionadas com um tipo de organização econômica e social com
pouca ou nenhuma reserva de capital, raramente usando força de trabalho assalariado. Nela,
produtores independentes estão envolvidos em atividades econômicas de pequena escala, como
agricultura, pesca, caça, coleta de recursos florestais e artesanato”. DIEGUES (2004, pg.14)25
25
DIEGUES, Antônio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC: NUPAUB: USP, 2004.

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CAIFÁZ [via R.S]: Diz-se da pessoa mentirosa, ruim, trapaceira.
CAITÊ: (indígena) Área de matagal. Também designa espécie de planta Helicônia,
conhecida ainda como Bananeira do Mato.
CALABREADO / LABREADO [via R.S]: Meio sujo. Meio bêbado.
CALABUCHA: Espécie de animal (Indeterminado) que ocorre no Mar de Fora, indicado
como remédio para mulheres.
CALAFATE: Umbrina cirrosa. Espécie de peixe de escamas.
CALÃO: (pesca) Nó no cabo de rede de pescar. Também o palanque em que se dá a
amarração da rede, quando em pesca Estaqueada ou para Camboar na Costa.
Modalidade de pesca que consiste em dois pescadores, cada qual em uma extremidade
da rede, um na costa (praia) e outro dentro da água, até a altura da cintura, de forma a
cercar o cardume, com rede 20 ou 25 braças. Ver Camboá.
CALÇA PAU: Diz-se ao estar com as vestimentas curtas. Também Atravessa-Rio.
CALCULE SÓ: Expressão que remete a imaginar a ação, destreza de outrem.
CALIÇA: Formação compacta de lama. Ainda restos da construção civil (entulhos).
CALOMBO: Tumor, ferida com inchaço.
CALUNDU: Estar bravo.
CAMAÇADA DE PAU: Trata-se de bater com violência extrema, surrar. CAMARADA:
Diz-se daqueles que formam parceria para pescarem juntos; geralmente se utiliza
também no Fandango Caiçara designando os violeiros.
CAMAROÁ: Ato de ir pescar camarão, também chamado de Gerivá, quando para tal se
utiliza o Gerival. Ver Gerival.
CAMBADA: Coletivo de grupo. Designa grupo de desafazerados. Também Patota.
CAMBAIO: Diz-se da pessoa que tem as pernas tortas. Também Perna de Alicate.
CAMBALEANDO: Bêbado.
CAMBÉ: Trabalho de enrolar cipó no mato.
CAMBICHO (Fuso): Pau para enrolar fio artesanal. Também remeta à madeira onde se
amarram, nas extremidades, latas para armazenar água, carregando-a sobre os ombros.
CAMBIRA: (culinária) Peixe seco, cozido com bananas verdolengas. CAMBOÁ /
CAMBAL: (pesca) Consiste em dois pescadores, cada qual em uma extremidade da
rede; um na praia e outro dentro da água, de forma a cercar o cardume. Ver Caracol.

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CAMBOTE: Diz-se da pessoa ao cair; ficar de ponta-cabeça ou da embarcação, virada
de cabeça ou de ‘boca’ para baixo.
CAMPEAR: Andar a ermo; vagar em determinado lugar.
CANAL: Telha que serve para cobertura de cumieira da casa. Também remete, na
navegação, à rota, em meio a Baixios, por onde passam as embarcações sem que se
atrase a viagem. Também chamado de Furado.
CANAPUVA / CANDAPUVA: Rhizophora mangle Roxb. Espécie de Mangue. Sua
casca é utilizada para fazer tintura para Pano de Rede.
CANECÃO: Cafeteira, jarra.
CANELA PRETA: Ocotea catharinensis. Espécie de madeira.
CANELA SASSAFRÁS: Ocotea odorífera. Espécie de madeira.
CANEMA: Espécie de árvore (Indeterminada).
CANGOTE: Mesmo que nuca ou pescoço.
CANGULO: Balistes carolinensis. Espécie de peixe com escamas e tamanho pequeno.
CANGUTA: Ombros.
CANOA CAIÇARA: Embarcações construídas no território caiçara, fazendo uso de
madeiras nativas, preferencialmente o Guapuruvú (Schizolobium parahyba). Também
chamada de ‘canoa de um tronco só’, ‘canoa de um pau só’ ou ainda de Ubá.

Em 2013 foi protocolado junto ao Iphan Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional o pedido da Associação dos Pescadores da Enseada/Ubatuba-SP, pelo
reconhecimento do saber-fazer da Canoa Caiçara26 como Patrimônio Imaterial do Brasil
(considerado pertinente-aguardando tramitação).

CANOA LOUCA: Embarcação sem muita estabilidade. Também Macuca.


CANTADA: Conversa cheia de segundas intenções.
CANTADEIRA: (Fandango Caiçara) Um dos nomes da ‘meia corda’ da Viola
Fandangueira (ver Cachorrinho). Designa também a 4ª corda (ou a 2ª corda fina).
CANTAREIRA: Espaço, espécie de prateleira, construída da janela da cozinha para fora,
onde se colocam potes e panelas para secar ao sol.

26
Acessar os materiais de pesquisa e acompanhar o registro: <http://nupaub.fflch.usp.br/registro-da-canoa-caicara>. Assista ao
documentário “O último fazedô de canoa”: <https://www.youtube.com/watch?v=6BT2jIVr_hc>.

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CANTONEIRA: Espaço, espécie de prateleiras, construídas nos cantos, entre as
paredes da casa, para guardar utensílios domésticos ou outros pertences. CANTORIA
DO DIVINO: (Romaria do Divino Espírito Santo) Designa os cânticos da equipe de
Foliões em louvor ao Divino Espírito Santo, pelas comunidades onde passam,
sequencialmente na ‘Chegada’, ‘Despedida’, ‘Encerro’, ‘Beijamento’ e ‘Alvorada’, ainda
com toques específico na Igreja, por vezes ou outra ocasião particular. CANUTILHO:
(Fandango Caiçara) Nome de 1ª corda grossa da Viola Fandangueira. CAPA DA GAITA:
Diz-se da pessoa muito magra.

CAPACETE / CHAPÉU: (Casa do Tráfico) Peça de madeira que fica sobre o Tipiti,
cheio de massa de Mandioca, a ser espremida na Prensa. Também chamado de Queijo.
CAPELA: Nome com o qual ficou conhecido a Companhia Agropastoril (após realizarem
a pintura da ‘Capela’ da Colônia de Superagui (Saco do Morro)), que na década de 1970,
iniciou suas atividades em comunidades no litoral do Paraná, expropriando os antigos
moradores com a presença de jagunços, cercando as terras e soltando búfalos pela
região, estes que, mais tarde, abandonados, tornaram-se selvagens. CAPELÃO: (Terço
Cantado) Responsável leigo na comunidade pelos cultos religiosos quando da ausência de
sacerdotes católicos. Mantinham rituais litúrgicos/populares em ocasião de festas
celebrando seus padroeiros e em falecimentos, quando entoavam cantorias sacras e o
Terço-Cantado (Terço de Sétimo Dia).
CAPENGANDO: Aquele que está com as pernas fracas; caindo ou cambaleando.
CAPIÁ: Coix lacryma. Semente usada na confecção de Terço ou Rosário. Na Medicina
Rústica, usa-se suas folhas para lavar ferimentos de picada de cobra. CAPIM CIDRÓ:
Cymbopogon citratu. Planta utilizada na Medicina Caseira, sendo indicado seu chá como
calmante.
CAPUÊRA / CAPOERA: Mato raso, limpo recentemente.
CARA CHUPADA: Diz-se do rosto com Feição muito magra.
CARÁ DE ESPINHO: (culinária) Dioscorera. Tubérculo comestível.
CARA DE ONTEM: Expressão que designa Feição de cansaço.
CARÁ DE PORCO-DO-MATO: Remédio do Mato. Tumor maligno que cresce no
estômago do Porco do Mato (Tayassu tajacu), a partir das ervas que ingeriu em vida.

“sempre usei. Uma vez curei bronquite de um guri com o chá desse Cará. É feito na
Minguante” (Alziro Pedro – comunidade de Utinga - Guaraqueçaba/PR – depoimento recolhido
em 2010).

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CARA DE TACHO: Diz-se da pessoa envergonhada. Também Encalistrado. CARA
LAMBIDA: Diz-se da pessoa desavergonhada; arruma confusão e reaparece como se
nada tivesse acontecido.
CARACOL: (pesca) Chamado de Caceio de Praia ou ‘Redondo”, consiste em dois
pescadores, um na praia e outro na canoa (ou os dois em canoas, mas separadas),
ambos segurando as extremidades da rede, a cercar o cardume. Deve-se fazer barulho
para emalhar os peixes, portanto, batem com a pá do remo na água. Ver Camboá.
CARAGO: (culinária) Mistura da farinha ou farinha de milho ao copo com café.
CARANGUEJADA: (culinária) Panelada de Caranguejo Uçá, cozido na água e sal,
acrescentado como tempero, folhas de Alfavaca.

Espécies de Caranguejo

CARANGUEJO CHAMA-MARÉ: Ucides Thayeri. Caranguejinho, de tamanho pequeno,


sai da toca e faz movimentos com as garras, quando a maré está de enchente.
CARANGUEJO GAROÇÁ: Ocypode quadrata. Caranguejinho de praia. Também
Maria-Farinha. Utilizado na Sabença para acelerar os primeiros passos das crianças.
CARANGUEJO GUAIÁ [via R.S]: Menippe nodifrons Stimpson. Encontrado em pedras,
próximas ao mar; tem corpo troncudo e forte. Usado como isca para Miraguaia.
CARANGUEJO GUAIAMUM: Cardisoma guanhumi. Encontra-se em áreas de
transição entre o mar e mato.
CARANGUEJO MARINHEIRO: Aratus pisoni. Encontra-se no mangue, geralmente
trepado nas raízes, pois não é de se enterrar. Também chamado de Tunica, é
avermelhado e preto.

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CARANGUEJO UÇÁ: Espécie de Carangueijo (Ucides cordatus) cuja liberação para
captura vai do mês de dezembro até o mês de março.
CARANGUEJO SIVOCA: Indeterminado.
CARAPINHÉ: Milvago chimachima. Ave - Gavião Carrapateiro - Também brincadeira
infantil que consiste em imitar o gavião ao caçar sua presa (beliscar a parte superior das
mãos do outro, e este a fazer o mesmo nas mãos da pessoa, de forma a sobrepor-se mão
sobre mão, uma a beliscar a outra, enquanto repetem o nome “carapinhé, pinhé, pinhé”).
CARAPUÇA: (pesca) Parte superior no Pano da tarrafa Gerival, onde ficam aprisionados
os camarões.
CARATINGA: Eugerres brasilianus. Espécie de peixe de escamas.
CARAVELHA / CRAVELHA: (Fandango Caiçara) Peça de madeira – tarracha - na
‘cabeça’ da Viola Fandangueira, servindo como afinador das cordas. Também chamado
de Cravilha ou Caravilha.
CARÃO: Levar bronca; passar vergonha. Também Pito ou Ralho.
CARAVELA: Animal marinho Physalia physalis, parente da Água-Viva, é altamente
tóxica em contato com o ser humano.
CARCAÇO: Diz-se da pessoa ‘arteira’, malandro.
CARCOMIDO: Diz-se da pessoa abatida, cansada, vencida.
CARDO DE MASSA [via R.S]: Líquido resultante da Massa da Mandioca espremida na
Prensa. Mesmo que Mandicuera.
CARDERADA / CALDERADA: (culinária) Ensopado de peixe; pode ser preparado com
diversas espécies, como o bagre, a corvina, a tainha, entretanto, consiste na utilização de
vários temperos também (salsinha, cebolinha, cebola, dentre outros). CARNEGÃO: Parte
dura, no interior de furúnculos, devendo ser expelida, para ter cura da enfermidade.
CARNICEIRO: Diz-se do profissional dentista de má fama.
CAROVA / CAROBA: Jacaranda puberula. Espécie de madeira.
CARQUEI-LHE / DEI-LHE / LARGUEI-lHE: Expressão que remete a bater, espancar.
CARQUEJA: Baccharis trimera DC. Planta utilizada como Remédio do Mato. A espécie
‘Carquejinha’ é procurada para perda de peso.
CARREGADO: Designa nuvens no céu, indicando chuva.

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CARREIRO / TRILHA / PICADA: Mesmo que caminho. Diz-se ainda da trilha ou
rastros na mata, por onde andam determinadas caças, geralmente próximo aos rios.
CARRERA / CARRERO: Pressa; corrida. Ainda remete ao fato de ser expulso de algum
lugar (levar um carrero) ou ainda “sair no Carrero”, desaparecer pelos caminhos.
CARRINCA [via R.S]: Encaixe, na Canoa Caiçara, para se colocar, quando necesário, o
mastro, usando da força do vento para navegação. Também chamado de Calinga.

“[carrinca] furo deixado no fundo da canoa, debaixo do banco de proa. Quando vai fazer a canoa,
a parte fica mais grossa embaixo do banco de proa. Fura o banco; passa o mastro pelo banco e
vai lá dentro da carrinca”.
(Juninho - Ubatumirim/SP, 2020).

CARTAZ: Propaganda que exalta as qualidades da pessoa.

(Fandango Caiçara)

CARUERA: Sobra de casca da mandioca, depois de ralada e prensada. CASA DE


TRÁFICO: Local onde se guardam os equipamentos e apetrechos de fazer Farinha de
Mandioca. Também chamado de Casa da Farinha ou Farinheira. CASARIA:
(embarcação) Cobertura de madeira sobre o Bojo da embarcação, no sentido da Proa,
geralmente em Bote ou lancha.
CASINHA: Privada ou Mitório, quase sempre construído distante da
casa-moradia. CASQUEIRA: Acidente; algo que deu errado.

CATAIA: Pimenta pseudocryophyllus. Árvore cujas folhas são utilizadas na Medicina


Caseira e como tempero; também apreciada em infusão na chachaça – Uísque Caiçara.
CATINGA: Mau odor. Ver Asco, Pitiu, Jaó e Réla.
CATREVAGE [via R.S]: Refere-se a quantidade de pessoas ou ainda a animais.
CATUERO: (pesca) Linha de pesca com 3 anzóis presos, porém, com bóia de
identificação numa ponta e poita na outra, devendo ficar fundeada. Espécie de Espinhel.

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CATUTO: Ninho de vespa. Também se refere ao instrumento musical e artesanal, feito
de cabaça ou porungo, com formato semelhante a um bandolim, por isso também
chamado de Bandola.
CAVAÇÃO: Ato de plantação de Rama de Mandioca. Também Covareá. CAVACO:
Instrumento musical; também pedaço de madeira para lenha. CAVALHEIRO: (Fandango
Caiçara) Diz-se do homem que faz par com a Dama. CAVALO MARINHO: Família
Syngnathidae. Espécie marinha utilizada na Medicina caseira. Dizem afastar o mau
olhado e atrair sorte.
CAVERNAGE: (embarcação) Remete à fase inicial da construção naval, apenas a
‘caverna’, ou seja, aparelhamento de vigas e caibros. Também na culinária, remete à
ossada, restos do frango ou da caça.
CAXETA: Tabebuia cassinóides. Madeira branca, tida como “mole”, sendo, portanto,
utilizada na confecção de artesanatos, utilitários e, tradicionalmente, predominante na
confecção de intrumentos do Fandango Caiçara.
CEBOLANA: Indeterminado. Planta marinha cujo fruto – cebolana – é utilizado na
Medicina Rústica no tratamento de verrugas.
CEDRO: Cedrela fissilis. Espécie de árvore cuja madeira é boa para caibros e vigas.
Também usada na confecção de Viola Fandanguera.
CEGO: Instrumento (faca, serrote, formão) desamolado. Também Serenga. CENTRO:
(mato) Diz-se ao estar na floresta, mato adentro ou no meio do mato. CERNE: A madeira,
quando cortada, sua parte mais interna, apresentando boa durabilidade.
CERCO / PASSÁ O CERCO: (pesca) Consiste em dois camaradas, em Canoas
diferentes, ‘cercar’ o cardume com o Pano da rede.
CERCO / CERCO FIXO: (pesca) Semelhante a um curral, confeccionado de Taquara,
armado próximo ao mangue para capturar Tainha na época da Corrida da Tainha. Técnica
proibida no litoral do Paraná, porém, utilizado em fase experimental, aguardando parecer
definitivo do estudo de viabilidade.
CERRO / CERRAÇÃO / CERRADO: Cerração que dificulta a visibilidade na
navegação. Remete ainda ao Baixio.
CETRA: Mesmo que estilingue; instrumento de criança para Pelotear. CÉVA:
Local onde se coloca comida para atrair animais para caçar em seguida.

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CEVÁ: (culinária) Ralar a Mandioca; mesmo que Relar.
CEVADEIRA / RODA: Instrumento da Casa do Tráfico, em formato de roda sobreposta
por metal perfurado, servindo para ralar a Mandioca, obtendo a massa que vai resultar na
Farinha das Mandioca.
CHACHO: Âncora feita com pedras, em cruz, com 4 varas de madeira. Também designa
qualquer trabalho mal feito. Ver Fateixa.
CHAMAR A CANOA: (embarcação) Movimento do Remo na água, a partir da Proa
(quando se faz da Popa, se diz “governá a canoa”), a mudar o direcionamento da
navegação na Canoa Caiçara.
CHAMUSCADO: Meio queimado.
CHAPA: Também refere-se à dentadura.
CHAPADA / CHAPULETADA: Murro, soco.
CHAPADO: Embarcação com excesso de carregamento de mercadorias. Também
designa o bêbado.
CHAPEADA / CHAPA: Corrida, velocidade. Geralmente refere-se ao motor da
embarcação em máxima aceleração.
CHAPÉU DE COURO: Echinodorus grandiflorus Mich. Planta utilizada na Medicina
Caseira.
CHAPOCA: Brincadeira, como um combinado; ao encontrar, de surpresa atingir o outro,
assim como Metadinha e Hoje Não. Consiste em dar um tapa, com a mão entre aberta, na
nuca de outra pessoa.
CHAPUZ: (construção civil) Peça, espécie de braçadeira, que reforça a armação do
telhado na casa de madeira.
CHARCO: Terreno alagadiço.
CHEGADA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria27 em louvor ao Divino Espírito
Santo, executado pelos Foliões do Divino, quando da entrada em cada casa de seus
romeiros. Nesta cantoria improvisam versos pedindo a presença do Divino Espírito Santo,
saudando o senhor e a senhora donos da casa, seus familiares e cada imagem de santo
ou objeto sagrado disposto no altar previamente montado para o ritual.
CHEIRANDO: Diz-se quando a comida está estragada, apodrecendo; Também Moído,
no caso de carne ou peixe, ou mesmo Suruí.

27
Ouça no álbum “Mandicuéra: Fandango pancada”:
<https://drive.google.com/file/d/1BMAJ55jRxRG8gwYnxTXVaNvenWgoq7x2/view?usp=sharing>.

- 50 -
CHIIII: Expressão após ser surpreendido com alguma notícia
assustadora. CHIANDO: Resmungando, reclamando.
CHIBA: Manifestação cultural caiçara, consistindo em dança sapateada ou rufada,
praticada no litoral de São Paulo e Rio de Janeiro.

“Ciranda e Chiba é uma variante do Fandango [...]. Ciranda é uma dança de roda e Chiba uma
dança sapateada, rufada. Não é algo assim, específico, no sentido de identificar todo um
movimento [...]. aqui muita gente antiga usava o termo Fandango e Chiba era uma dança. O Chiba
virou uma referência porque tinha casa onde o pessoal dançava só chiba. É uma dança, uma
variante que fazia parte de todo conjunto musical do caiçara”.
(Mário Gato – Ubatuba/SP, 2020).

CHICO: (Fandango Caiçara) Moda em que se intercala o batido e o valsado.


CHIMARRITA / CHAMARRITA: (Fandango Caiçara) Moda valseada, também chamada
de Limpa Banco, onde todos os presentes fazem questão de dançar. O nome deriva de
espécie de planta Vernonia polyanthes Less.
CHIMARRO: Amargo. Diz-se do café servido sem tempero/adoçar.
CHIMIA: Doce de abóbora ou qualquer outro doce caseiro, em calda.
CHIMIRDE: Remete tamanho descomunal de algo ou alguém.
CHINCHADA: Bronca.
CHINCHA: Diz-se ao pressionar alguém à confessar ou delatar algo; “encostar no muro”.
CHIO: Dor no peito; dor nos pulmões. Bronquite.
CHIPUTE [via R.S]: (culinária) Café misturado com farinha de
milho. CHISPA: Ser expulso de algum lugar.

CHOÇA: Cabana.
CHOCO: Diz-se do ovo podre; Ainda designa pescador azarado ou Pé Frio.

Quando a esposa engravida, diz-se que o pescador fica ‘choco’; a esposa deve evitar entrar no
rancho de pesca e caso o faça, o esposo então deve desentralhar e entralhar seu pano de rede.
Acreditam que dá azar passar por cima do pano da rede.

CHOCOLATERA [pesq.A.D]: Panela, bule ou jarro de barro, mais precisamente a


panela que serve para torrar café.
CHORAMINGAR: Reclamar. Insistir na reclamação.

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CHUMAÇO: Muito mato; emaranhado de matagal e capim. Ver Guanxume.
CHUMBADO: Bêbado. Também Chapado, Embalado, Escamado, Calabreadao e
Banzeiro.
CHUMBEIRO [pesq. A.D]: Utensílio de barro usado como contrapeso na rede de pesca.

“peça de barro em forma de elipse, com dois furos usado


como
contrapeso na arpoera para afundar a rede no mar”.
(Aorélio Domingues – Paranaguá/PR).

CHORORÓCA: Forte irritação na garganta; pigarro.


CHURRILHO: Diarréia.
CIAR: Querer bem, proteger, sentir ciúmes.
CINTA DA MARÉ [via R.S]: Marcação natural do nível da água do mar nas estruturas do
mangue, do barranco, das pedras. Quando no mangue, também chamado de Nhundu.
CIPÓ-CHUMBO [via R.S]: Diz-se da pessoa “folgada”. Remete a uma espécie de cipó,
utilizada como Remédio do Mato.

“aquela que gosta de tirá proveito dos outros”.


(Ciro Xavier – Iguape/SP, 2020).

CIRANDA CAIÇARA [via R.S]: Manifestação cultural caiçara, consistindo em dança de


roda, praticada no litoral de São Paulo e Rio de Janeiro.
A Ciranda Caiçara de Paraty, é declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do
Rio de Janeiro (Lei nº 7994/2018).

(Ciranda Caiçara – Paraty/RJ)

CISCANDO / CISCANDO DE GALO: Expressão que remete ao ser valente, que


insiste em estar em lugares onde não é bem vindo.
CISCAR: (animais) Refere-se ao remexer a terra do Terrero em busca de alimentos.
CISCO: Sujeira, poeira, miudeza.
COBREIRO: Infecção na pele.

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CÓÇA: Surra; apanhar. Também Cornaço ou Sóva.
COCEROSO [pesq.A.D]: Que coça muito.
COCHO: Pedaço de Canoa Caiçara, cortada ao meio, servindo ainda para o fabrico da
farinha da Mandioca ou plantar verduras no quintal.

Cocho com Massa de Mandioca


CÓCICA: Cócega.
CÓCORA / CRÓCA: Posição corporal, agachado; o peso do corpo sobre as pernas.
COCORÉCO: (onomatopéia) Imitação do cantar da Criação, diz-se remeter a espíritos
vagando (quando o galo canta “fora de hora”, deve jogá-lo na maré vazante), também
moças fugindo de casa (quando as galinhas cocorecam) ou prenúncio de morte. COISA
FEITA: Remete a trabalhos de feitiçaria, malefício sofrido por alguém. COISA RUIM:
Remete a forças malígnas; ainda aos desobedientes e ou violentos. COIVARA: Técnica
de agricultura itinerante nas comunidades tradicionais que, consiste em abrir uma clareira,
empilhar os galhos e queimá-los, assim, adubando a terra e plantando – pousio – por
períodos determinados, interrompendo-os para regeneração.

O Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira - um


conjunto de saberes e técnicas acumuladas, oriundas do repertório de conhecimentos
agrícolas, ambientais, sociais, religiosos e lúdicos das comunidades quilombolas
localizadas na Região Sudeste do Estado de São Paulo e leste do Estado do Paraná, no
Vale do Ribeira, foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil (Iphan, 2018). Para
saber mais:
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1944>.

- 53 -

(reza para apagar o fogo – recolhida em 2020 com José Hipólito Muniz -

Guaraqueçaba). COMBRO: Duna de areia, intersecção entre a praia e a vegetação.

COMEDIO: (mitologia) Diz-se de seres que habitam o solo, ocasionando eventuais


desbarrocamento na superfície.
COMÊ SOLTO: Designa briga, discussão.
COMICHANDO: Remete a fartura, quantidade de qualquer espécie.
COMIZANHA: Fartura de alimentos.
COMPANHEIRO: (Fandango Caiçara) Diz-se do parceiro tocador de Viola
Fandangueira. Também chamado de Camarada.
(Fandango Caiçara)

CONGADO: Manifestação cultural-religiosa com canto e dança28 como louvor a São


Benedito e Nossa Senhora do Rosário; centenária em Ubatuba/SP.

“TÁ NA FRENTE NOSSO SANTO PADROEIRO

QUE REPRESENTA NO QUADRO DESSA BANDEIRA

VENHA VER A CONGADA BRASILEIRA


VENHA VER NOSSO MANEJO DE OCNGUEIROS”
(Robson “Robinho Fernandes” – Ubatuba/SP, 2021).

CONGO: Arius spixii. Espécie de Bagre Amarelo. Também chamado de Gonguito.


CONSERTADA: Cachaça artesanal, atualmente produzida em Ubatuba/SP, com açúcar
queimado, Cravo e Canela. Em Guaraqueçaba/PR, garrafada destinada à parturientes.

28
Ouça o Grupo de Congado de bastões de São Benedito, de Ubatuba/SP:
<https://www.facebook.com/CongadaDeBatoesDeSaoBenedito/videos/2503508606337043>.

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CONSERTAR: Ato de limpar o peixe para o consumo ou a venda. Também Lidar.


CONTRAVAPOR: Reação inversa ao ato de dar um Murro ou Soco em alguém.
COPIADA DE DENTRO [via R.S]: “Amarrado de Bambu que faz a vez da bóia na rede
do Cerco, próximo ao caminho do Cerco”.
COPIADA DE FORA [via R.S]: “Amarrado de Bambu que faz a vez da bóia do lado de
fora da rede do Cerco”.

Para saber mais:


http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2009/05/chico-mula-simplesmente-e-eterno-chico.html

CORADO: Diz-se da pessoa bem de saúde, de aparência saudável.


CORDEÁ: Garrafada; também chamado de Remédio do Mato ou
Beberagem. CORNAÇO: Surra. Também Cóça.
CÓRNO: Cantil feito com chifre de boi.
COROA: (mar) Banco de areia.
CORÓ / GORÓ: Espécie de larva (Indeterminado), em madeira podre, utilizado como
Remédio do Mato e mesmo na alimentação.
CORPO SANTO: (mitologia) Diz-se de corpos de pessoas que eram muito boas em vida
e que sofreram um processo de mumificação natural e, mesmo sepultadas, aparentam
estarem vivas, num estado de graça e, dizem, com sangue ainda nas veias. CORPO
SECO: (mitologia) Diz-se do corpo que não se decompõe, mas sofre um processo de
mumificação, aparentando estado de secura, espanto, tristeza, sendo rejeitados pela
própria terra de suas sepulturas pois quando em vida eram pessoas más, bateram nos
pais ou nos padrinhos; se encontrados devem ser transferidos de lugar, do

- 55 -
contrário perturbam aquele que o encontrou. Quando nas matas, uma vez secos e
enrugados, tomam semelhanças com as prórpias árvores secas, cheias de bromélias.
CORREIÇÃO: Carreiro de formigas.

CORRENDO: Diz-se do período de Lua Cheia, na saída ou ‘andada’ do Caranguejo Uçá


da toca. Também remete à época da pesca da Tainha, quando o cardume se aproxima da
Costa. Ver também Tá de Bola.
CORRIDA DA TAINHA: Diz-se do período de abundância do peixe, de maio a agosto,
sobressaindo o mês de mais frio, junho ou julho. Ver Espia.
CORRIMANÇA: Cachorros no cio.
CORRUPTO: Callichirus major. Crustáceo utilizado como isca viva em Pescaria de Vara.
CORTAR A CANOA: Acelerar e podar aquela que estava a frente na navegação.
CORTIÇA: Isopor, bóia utilizada no Pano de Rede, confeccionada a partir da raíz das
árvores caxeta e do Araticum.
CORUMBAR: Forçar, coagir.
CORVINA / COROVINA: Micropogonias furnieri. Espécie de peixe de escamas.
CORVO: Urubú.
COSCOVILHO [via R.S]: Fofoca.
COSTA: Mar de fora; águas oceânicas; Também Mar Grosso.

Na cabeça da Corvina encontra-se uma


‘pedra’ (otólitos), formada por Carbonato
de Cálcio e proteínas, utilizada como
amuleto por alguns ou como Remédio
para outros. Dizem ser boa prática
guardar, pois faz bem para a memória.

COSTADO: (embarcação) Remete à madeira, lateral da embarcação. Também às costas


(ser humano).

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COSTANEIRA: Diz-se da madeira, as partes laterais inutilizadas para o fabrico de
tábuas.
COSTEIRA: Vizinhança; andar a ermo.
CÓVA: Pequenos buracos abertos no roçado para plantação da rama da Mandioca.
COVAREAR: Plantar rama de Mandioca na roça; abrir a ‘cova’, por isso, ‘covareá”.
Setembro é o mês de plantar e colher, aproximadamente um ano e meio depois. COVO /
CÓVO: (pesca) Armadilha para peixes confeccionada com Taquara; possui estreita porta
de entrada, sendo dificultada na saída; disposto na corrente do rio ou mar. COZIDO:
Embriagado. Ver Chapado, Embalado, Calabreado, Banzeiro ou Escamado. COXADO:
Dor extrema, quando a pessoa se enrola pelo chão, sem poder aliviar. Na pesca
artesanal, diz-se quando os cabos do Pano de Rede se enrolam entre sí ou em Caliça ou
galhos. Também remete às cordas da Viola Fandangueira, ao ato de enrolar duas cordas
finas para Tinir como uma corda grossa.
CRACA: Espécie de crustáceo marinho da Ordem Thoracica que se agrupa em colônias
no fundo da embarcação, causando diminuição da velocidade durante a navegação.
Refere-se, no ser humano, à sujeira acumulada do suor corporal.
CRACUNHADO [pesq.A.D]: Enrugado, crespo, encurunhado; se enrugou com o tempo.
CRENDIOROSO / CRENDIOSPADRE: Expressão que remete a “Creio em Deus Pai
todo poderoso”, jaculatória Católica Apostólica Romana, expressada em ocasiões de
susto ou tragédias.
CRIAÇÃO: Diz-se das aves, geralmente de galinhas, criadas no Terrero de casa.
CRIAME: Criação de peixes.
CRIERA / QUIERA [via R.S]: Diz-se da sobra (farelo) ao ralar a Mandioca, destinado a
alimento das galinhas, da Criação.
CRISTÉ [via R.S]: Posição corporal ‘de quatro’, comumente entendida como agachado,
encostando as mãos no chão. Designa lavagem intestinal.
CROQUE: Movimento com o dedo médio, curvado, a bater na cabeça de outro. Também
chamado de Cascudo. Ver Peteleque.
CUÁ: Peneirar; coar a massa da Farinha de Mandioca.
CUCURUTE [via R.S]: Topo de morro; morro é mais alto e de formato meio roliçado.
CUÍ [via R.S]: Pequeno. Diz-se do pó, sobra da Farinha de Mandioca, após torrada.
- 57 -
CUIA: (embarcação) Recipiente que serve para retirar água ou como unidade de
medida (peixe, camarão). Também chamado de Coco ou Esgote. Ainda remete à Casa do
Tráfico, como unidade de medida da farinha recém torrada para comercialização.

CUITELINHO: Também chamado de “Galo de Deus”. Caso seja abatido, prenuncia


chuva. É o Beija-Flor.
CUJIANDO / ESCUGIAR: Espiar, vigiar. Também Fuçar ou Pescoçando. CUMBIÉ /
CUMBIÁ: (marisco) Gastrópode Olivancillaria vesica vesica. Também chamado de
Chave.
CUMIZANHA: Esfomeado.
CUNHA: Pedaço de madeira para calçar uma superfície de madeira em outra qualquer.
CUNHENHO / CONHÉM: Posição corporal desajeitada.
CURUANHA [pesq.A.D]: “O filhote do macaco Bugiu, agarrado no colo da mãe e que
limpa a sua baba quando ele grita”. Também adjetivo designado à pessoa que fica ao lado
de outra sendo incoviniente.
CURUANHA: Dioclea violace. Suas sementes, também chamadas de Olho de Boi, são
recolhidas no mar e servem para brincadeiras de crianças, tanto para Três Marias ou,
quando friccionadas em atrito na pedra, absorvem calor, ficando extremamente quentes;
são utilizadas ainda na Medicina Caseira.
CORRUÇÃO: Molência no corpo após as refeições; doença relacionada a moléstia.
CURRUÍRA: (mitologia) Pássaro Troglodytes musculus. Vive a recolher e carregar
Ciscos e galhos; dizem que é ‘abençoado’, pois quando São José e Santa Maria, Mãe de
Jesus, apressadamente fugiam para esconder o Salvador do malfeitor Herodes, a
Curruíra, limpava o caminho por onde passavam, cobrindo suas pegadas, não deixando
rastros da Sagrada Família. Ver Bem-Te-Ví, Gralha Azul, Sabiá Laranjeira e Linguado.
CUSTOSO: Algo difícil, quase impossível.
CUTUCAR: Mexer. Também Expirucar.

- 58 -

-D-
DÁ PRA SER: Expresssão que remete à dúvida em algum
assunto. DADO: Adjetivo de pessoa simpática.
DALE: Expressão que remete à empolgação em situações de discussão, briga, festa,
competições. Ver Amanhece.
DAMA: (Fandango Caiçara) Diz-se da mulher, dançarina que faz par com o Cavalheiro.
DANDÃO / DONDOM: (Fandango Caiçara) Moda em que se dança valseado. Também
chamado de Bailadinho.
DANINHO [pesq.A.D]: Pessoa mesquinha, egoísta, miserável.
DANTES: Tempo de antes ou seja, antigamente. Também De Primeiro e Tempo Antigo.
DAR CORDA: Dar confiança à algum ‘espertalhão’. Ao contrário de Pegar Corda. DAR
GANJE: Dar atenção a alguém.
DA LATA: Expressão que remete à qualidade superiora de um produto. Surgiu em 1987
quando no litoral carioca, paulista e paranaense, acostaram ‘latas’ com maconha, jogadas
ao mar pela tripulação do navio panamenho Solana Star. Ver Verão da Lata.

Para saber mais:


<http://informativo-nossopixirum.blogspot.com/2015/09/verao-da-lata-maconha-espalhada-pelo.html>

DAR NA TELHA: Fazer quando se está com vontade.


DAR TRELA: Dar confiança no ‘papo’, conversa de alguém de caráter
duvidoso. DE BOTUCA: Ficar ‘ de olho’; vigiar; cuidar.

- 59 -
DE CESTO / DE CÉSTO [via R.S]: Quando a pessoa fica nervosa sem motivo aparente.
DE CRÓCA / DE CÓCORAS: Posição do corpo agachado, sustentado sobre as duas
pernas.
DE FORA: Refere-se ao visitante ou turista, aquele que não reside na região caiçara. DE
LUA: Expressão que remete à desvio de personalidade, um dia alegre e sorridente,
noutro carrancudo e fechado.
DE OVO VIRADO: Expressão que remete à uma boa pessoa, porém, devido a algum
acontecimento muda repentinamente seu humor.
DE PRIMERO: Antigamente. Também Tempo Antigo; Dantes.
DE REDONDO: (pesca) Tipo de pesca em que, em duas canoas, cerca-se o cardume.
Ver Caracol.
DE REVEZGUELHO: Olhar com desconfiança; vigiar.
DEBICAR: (embarcação) Movimentos da canoa na quebrança das ondas.
DEBULHANDO: Expressão que remete a sucesso em competição. Vitória. DECEPÁ:
Cortar a rama da Mandioca na Roça. Remete ainda a qualquer tipo de corte profundo.
Ainda Atorar.
DECERTO / POIS DECERTO: Ao certo.
DEDAR: Denunciar. Dedurar.
DEDO: Remete à medida, em pequena quantidade.
DEDO DE CARANGUEJO: Indeterminado. Planta cujas raízes se assemelham ao dedo
do caranguejo, sendo utilizadas em infusão na cachaça.
DEFRUÇO / DIFRUÇO [via R.S]: Gripe; também arrepio.
DEGALHAR: (culinária) Retirar as galhas, barbatanas dos peixes. Também Lidar,
Consertar.
DEIXAR AO LÉU: Abandonar esquecido, desguarnecido, sem
provimento. DEJAHOJE: A pouco.
DENTE SECO [via R.S]: Aproveitadores, espertalhões.
DEPELAR: (culinária) Ato de banhar a Caça em água fervente com a finalidade de
facilitar a retirada dos pêlos.
DERGADO [via R.S]: Formato da entrada de água da proa e da popa da canoa.

- 60 -
“o dergado é o que faz a mistura do que é quilha e do que vai virando fundo. A canoa que tem
uma quilha que vai virando, coxando sentido da madeira até virar o fundo. Isso é o dergado.
Dergado pranchado de uma “canoa cargueira” que não tem quase proa nem popa o fundo é mais
comprido. O dergado da “canoa de viagem”, a proa é comprida e a popa também. O fundo é mais
curto. É um formato mais de canoa de corrida”
(Juninho - Ubatumirim/SP, 2020).
Bote, Batera, Canoa e Baleeira

DERRADEIRO: Último filho.


DERREADO: Caido ao chão, vencido; muito cansado.
DERRUBADA: Espécie de Mutirão, onde os homens se reuniam para derrubar árvores e
fazer a Coivara.
DESACORÇOO: Sem esperança, triste. Ainda Amuado, Aborrido, Mocambuzo e
Jururu. DESAPARTAR: Apartar uma confusão.

DESAPRECATAR: Desprevenido.
DESARVORADO: Sair sem rumo.
DESBASTAR: Cortar, aparar o mato alto; afinar madeira.
DESCAÍDO: Com formato inclinado. Remete fisicamente à pessoa abatida, doentia.
DESCOIVARÁ / COIVAREÁ: Limpar terrenos para fazer Roça, juntar e amontoar os
galhos. Ver Coivara.
DESCONJUNTADO: Refere-se à pessoa desajustada, com aparência e trejeitos
estranhos. Ver Sanananga.
DESEJO: Remete à mulher grávida e aos inusitados desejos que a acompanham.

- 61 -
DESENTERRAR O CARNAVAL: (Fandango Caiçara) Passado o período da
Quaresma, retornam a casa em que pela última vez foi dançando Fandango Caiçara, na
terça-feira de Carnaval, quando ‘enterraram o Entrudo’, recomeçando os bailes. Também
chamado de Ranca Toco.
DESENTRALHAR: (pesca) Cortar Entralhe (nós, costura) errado no Pano da
Rede. DESGOTAR: (pesca) Retirar água dentro da canoa. Também Desencher.
DESGOVERNAR: Perder o rumo na canoa
DESGRACENTO: Remete à pessoa maldosa.
DESMALHAR: (peixe) Retirar os peixes emalhados na Rede, logo após a pescaria.
Também Despescar.
DESMAZELADO: Diz-se da pessoa sem organização ou preocupação semelhante.
DESMENTIU: (Fandango Caiçara) Diz-se quando desafinam as cordas da Viola
Fandangueira. Ver Destemperou.
DESMIOLADO: Pessoa ‘sem juízo’, “avoada”, maluco. Também Destrambelhado.
DESPEDIDA: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria29 entoada logo após a
cantoria da Chegada, em que em versos agradecem a recepção e doações recebidas.

Despedida no Porto
Romaria do Divino Espírito Santo – Mestre André Pires, de Cananéia/SP
(Comunidade de Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR, em 2004)

DESPEDIDA NO PORTO: (Romaria do Divino Espírito Santo) Cantoria realizada no


Porto da última casa visitada na comunidade, antes de dirigirem-se à outra
comunidade.
29
Ouça no álbum “Mandicuéra: Fandango pancada”:
<https://drive.google.com/file/d/1HA9fys8JCOnthi3mrHdumIc9hYTyCqx4/view?usp=sharing>.

- 62 -
DESPENCAR: Diz-se ao cortar as pencas de banana do cacho; também ao cair de
algum lugar alto.
DESTEMPERAR: (Fandango Caiçara) Cordas e instrumento desafinado. DESVARAR:
(embarcação) Mesmo que tirar a Canoa Caiçara, do Porto ou do Rancho, em direção ao
mar.
DEVARDE [via R.S]: Mesmo que Atoa; desafazerado.
DILIZENTE [pesq.A.D]: Pessoa ladina, puéta, extrovertida com facilidade de convencer
os outros e entrar em qualquer ambiente.
DISQUE [via R.S]: Referente ao verbo ‘dizer’.
DOBRA: Refere-se ao canto dos passarinhos.
DOMINGUEIRA: (Fandango Caiçara) Quando o baile de sábado avança madrugada
adentro e, mesmo com o raiar do sol, prossegue até duas horas da tarde de domingo.
DOR DE PERÊ: Dor no baço.
DOR D’OLHO: Conjuntivite; irritação nos olhos.
DORMENTO: Madeiras, em toras, retiradas no mato, com utilidade para a construção de
ferrovia ou mesmo servindo como Estiva em caminhos e trilhas alagadiças.
DORMITRATO [via R.S]: Cama. Ver Tarimba.
DOR NO APÁ: Dores nas costas.

“dedo mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura bolo,mata piolho”


- Cadê o rato que estava aqui? - o rato comeu.

- Cadê o rato? - foi pro mato.


- Cadê o mato? - o fogo queimou.

- cadê o fogo? - a água apagou.

- Cadê a água? - o boi bebeu.


(parlenda)

- 63 -

-E-

Enxó

ÊH: Expressão de espanto, que antecede resposta


acerca de quantidade. EITA LASQUERA: Expressão
que remete a êxito em determinada ação. EITO: Remete à distância.
EITO DA NOITE: Altas horas da noite; pela madrugada.
ELAVORAR: Jogar algo muito longe.
EM RIBA: Estar em cima de qualquer lugar ou sobressaindo em determinada situação.
EMALOU / EMPACHOU: Diz-se do empate nas disputas de Jogo de Burico ou mesmo
no Jogo de Cartas.
EMBALADO: Veloz. Diz-se também do embriagado. Também Chapado, Chumbado,
Escamado, Calabreadao e Banzeiro.
EMBIRRADO: Diz-se da pessoa com ‘cara fechada’, bravo. Também designa o teimoso.
Ver Birra.
EMBOCAR: Entrar apressadamente, sem permissão ou sem ser visto.
EMBUCHADO: Quando está com a boca cheia; também remete a gravidez.
EMPACHADO: Barriga cheia, estômago satisfeito por ter comido demasiadamente.
EMPACOTÁ: Queda; cair. Ir ao chão ou ao fundo.
EMPALÁ: (pesca) Consiste em fincar a rede presa num Palanque, na praia e com outra
extremidade, adentrar na água e fazer o cerco do cardume.
EMPALAMADO / UVÚ: Pessoa de cor muito branca; amarelo; anêmico.
EMPAPUÇADO: Diz-se da pessoa que comeu demais. Também Empanturrado.
EMPAZINADO / INPAZINADO: Aquele que comeu demais ou a comida fez mal.

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EMPOLADO: Diz-se da pessoa metida, soberba. Anda com ‘peito levantado’, querendo
parecer mais ou superior aos outros. Ver Pachola.
EMPUTECER: Ficar bravo, irritado ou ficar “puto da cara”.
ENCAFIFADO: Desconfiado.
ENCARANGAR: Ter os movimentos diminuídos devido ao frio. Ver Engruvinhado.
ENCARDIDO: Estar sujo ou com as roupas sujas. Denomina ainda o malígno.
ENCASQUETOU: Desconfiado. Persistir na dúvida. Mesmo que Encucar.
ENCEBANDO: Enrolando.
ENCERRO: (Romaria do Divino Espírito Santo) Remete à cantoria30 executada já ao final
do dia, na Ave-Maria, encerrando o dia de Romaria.

“pra começo de oração / façamos o sinal da cruz

VAMOS FAZER O SANTO ENCERRO / DEste espÍrito jesus”


Romaria do Divino Espírito Santo – Mestre André Pires, de Cananéia/SP
(Comunidade de Barra de Ararapira – Guaraqueçaba/PR, em 2004)

ENCHARCANDO O CORO: Expressão que designa estar consumindo muita bebida


alcoólica
ENCHEU A LATA: Remete ao fato de ter capturado em grande quantidade.
ENCORUJADO: Triste, acabrunhado. Também Jururu.
ENCOSTÁ REMO [via R.S]: “Fixar o remo na borda da canoa, fazendo movimento para
manobrar”. (Mário Gato-Ubatuba/SP, 2020.).
ENCURUROU: A banana quando, mesmo estando madura, permanece dura ou rijo.
ENDIABRADO: Diz-se da pessoa muito atentada, peralta. Também Endemonhinhado.
ENERVADO: Nervoso. Também Estourado.
ENFERRUSCADO: Diz-se da pessoa com a ‘cara fechada’, muito brava. Também
Embirrado ou Enfesado.
ENFIAR A CARA NO MATO : Fugir, correr de qualquer situação desagradável.
ENFURNADO: Escondido.
ENGABELAR / INGABELAR: Enganar.
ENGENHADO [via R.S]: Enrugado, amassado.

30
Ouça no álbum “Chegadas e Despedidas - Mestre André Pires – Cananéia/SP”:
<https://drive.google.com/file/d/1lSZiP8t8Mp2F--_Q2mteR3r1CbZ7nMdm/view?usp=sharing>.

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ENGIRIZADO: Pessoa ruim, atentada. Mesmo que Endiabrado.
ENGODO: (pesca) Consiste em isca para pesca, a partir de restos de peixe cozido e
alfavaca, misturados ao barro, colocados ao mar, atraindo cardumes.
ENGORFADO: Esfomeado; Quando se está com a boca cheia e querendo comer mais.
ENGRIZIA: (Fandango Caiçara) Diz-se quando a moda cantada não possui uma letra
uniforme ou Moda Tirada, mas apenas ‘versos’ ou Pé de Moda.
ENJOAÇÃO: Enjôo; vômito. Também Mareado ou Imbucá.
ENLEADO: Enroscado, preso a um fio; fio embolado. Ainda remete a recolhimento ou
enrolar um fio no carretel.
ENQUIZILHADO / INQUIZILHADO: Nervoso, bravo, aborrecido.
ENRODILHADO [via R.S]: Enrolada, coberta, envolta.
ENTENDIDA / CURIOSA: Parteira31. Também Vó de Umbigo.

“eu usava só uma tesoura pra cortá o umbigo, mais nada. Mede três dedinhos assim no cordão,
amarra e corta; passava dois, três dias e já cai. Eu primeiro fazia [na gestante] um banho bem
forte com água e sabão virgem, sem uso. Em cróca era lavado as mulheria nas cadera, barriga. Aí
você olha no ponto pra vê que jeito tava. Depois daquele banho aí se o tempo demora muito,
pegava o pano da cozinha, esquentava pra passá na barriga da mulher, aí vem a dor” (Genésia
Cunha – In Memoriam)
(comunidade de Barra de Ararapira/Guaraqueçaba/PR – depoimento recolhido em 2004).

ENTERRADA DE PROA : Diz-se da Canoa Caiçara quando os remadores, em


velocidade, estão aportando, fazendo-a subir e encalhar ou varar.
ENTERRAR O ENTRUDO: (Fandango Caiçara) Diz-se do Fandango Caiçara na terça
feira de carnaval, quando ao amanhecer da Quarta-Feira-de-Cinzas adentram o período
cristão da Quaresma, encerrando os festejos carnavalescos. Da mesma forma que,
quarenta dias depois, no Sábado-Aleluia, reunem-se na mesma casa onde ‘enterraram o
Entrudo’ para então ‘desenterrar o carnaval’. Também chamado de Meio Toco e após o
período de Ranca Toco.

“lá SE VAI O SANTO ENTRUDO / JÁ VEM A PÁSCOA DA FLOR

JÁ TÁ SE PASSANDO O TEMPO / da gente tratá de amor”


(Fandango Caiçara)

31
Para acessar o artigo “Notas sobre benzeduras e parteiragens em Guaraqueçaba/PR”:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/download/33704/19482>.

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ENTERTIDO: Distrair alguém.
ENTOJADO: Antipático, chato, mimado.
ENTONCE [via R.S]: Então.
ENTURRADO / ENTURRAÇÃO [via R.S]: Prisão de ventre; Também Peido, Ventuzil,
Sainô.
ENTRALHAR: (pesca) Ato de costurar ou remendar o Pano da rede. Ver Desentralhar.
ENTRANHADO: Pessoa apegada a outra.
ENTRÃO: Gaiato; aquele que aparece sem ser convidado.
ENTRUDO: Refere-se ao período festivo do Carnaval.
ENTRUNCADO: Pessoa forte. Mesmo que Parrudo.
ENVARO [via R.S]: Varas, dispostas na vertical para amarrar o Pau a Pique.
ENVIAZADO: Diz-se do corte na madeira, de forma transversal.
ENXOTAR: Tocar; expulsar.
ÉPA [via R.S]: Época.
ESBUGALHADO: Quando se está com vermelhidão nos olhos e com estes muito
abertos. Ver também Olho de Butuca ou Olho de Boto.
ESCABECHE: (culinária) Aproveitamento do peixe frito, sobra da noite anterior,
acrescido de temperos e molho de tomate.
ESCADEIRA: Parte do corpo humano, relativo à coluna. Também chamado de Bacia.
ESCAFEDER: Correr; fugir às pressas; desaparecer. Também Meter a cara no mato.
ESCALÁ: Consiste em fazer cortes no corpo do peixe limpo, facilitando assim a Salga.
ESCALABRADO / ESCALABREADO: Machucado. Também Emperebado.
ESCAMÁ / DESCAMÁ: Limpar, tirar as escamas do peixe. Também Lidá.
ESCAMADO: Bêbado. Também Chapado, Embalado, Calabreado, Banzeiro ou Cozido.
ESCAMBAU: Não dar atenção, não acreditar.
ESCAMOSO: Liso.
ESCANGALHADO: Estragado, arruinado, quebrado.
ESCAPULIU: Escapou.
ESCARCÉU: Bagunça; gritaria.

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ESCARDÁ: (culinária) Água ou caldo do peixe cozido, já em estado de fervura ou bem
quente, jogada sobre a Farinha de Mandioca para fazer o Pirão do Mesmo ou Pirão de
Jacuva.
ESCARDA-PÉ: (remédio) Trata-se da lavagem dos pés com folhas de laranjeira cozida
na água com sal.
ESCARRADO: Diz-se de aparências iguais, semelhantes.
ESCONSO [via R.S]: Balangando. Também penso.
ESCORA: Viga de madeira para segurar ou como apoio de estrutura de casa ou
Rancho. ESCRACHADO: Zombaria.

ESCRIVÃO: Indeterminado. Espécies de peixe, de escamas, com tamanho


pequeno. ESCULHAMBÁ: Desmoralizar publicamente. Também Avacalhar ou
Esculachar. ESCURRAÇADO: Enxotado, tocado, expulsar.

ESFOMEADO: Ganancioso. Faminto.


ESGANADO: Diz-se daquele que está com muita fome. Também Varado ou Rafado.
ESGOTE: (pesca) Instrumento semelhante a uma Cuia para retirar a água do fundo da
Canoa. Também Pote, Cabaça ou Cumbuca.
ESGRUVIO [via R.S]: Faminteza, gulodice.

“quando tem pessoas discutindo; crianças discutindo, querendo brigar e chega um [adulto]
e manda todo mundo ficar quieto, calar a boca. Chegou fulano de tal e fez um espalhafate
em tudo eles. Mandou ficar quieto, sair andando”.
(Ciro Xavier - Peruíbe/SP, 2020).

ESPARRELA: Armadilha feita com laço, junto ao bambú, para aprisionar aves.
ESPATIFADO [via R.S]: Cair e se machucar. Remete a fruta quando cai e estraga.
ESPERNEAR: Debarter-se; mexer-se muito.
ESPIÁ: (caçada) Ficar de tocaia, no Trepeiro, a espera da Caça.
ESPIA: (pesca) Camarada que fica na praia ou no alto do morro observando o Lote de
Tainha nadar Barra adentro para avisar aos demais a fazerem o Cerco. Também refere se
à corda da tarrafa Gerival.
ESPICHADO: Ereto. Ainda Esparramado.

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