Agrícultura Sintrópica 2
Agrícultura Sintrópica 2
Agrícultura Sintrópica 2
2 – DINÂMICAS DA SUCESSÃO
NATURAL USADAS COMO FERRAMENTAS
A segunda técnica diz respeito à sucessão natural das es- florestas”). Porém, para facilitar o entendimento, ele resume essa
pécies em nosso agroecossistema e está intimamente as- dinâmica da floresta em quatro estratos (emergente, alto, médio
sociada à estratificação da floresta. Por mais de 40 anos, e baixo), cada um deles gerando uma porcentagem de sombra
Ernst Götsch estudou as florestas e sua dinâmica e conse- correspondente à soma das copas das árvores que os ocupam,
guiu sistematizar um de seus mais importantes princípios, conforme se vê no gráfico abaixo. A estratificação permite que
a estratificação. a luz chegue até o chão da floresta, onde ainda temos o estrato
rasteiro. Se fizermos uma análise da luz dentro do sistema a par-
ada indivíduo, quando chega à sua fase adulta, tir do estrato emergente, concluiremos que cada estrato recebe
• EMERGENTE
20%
• ALTO
40%
• MÉDIO
60%
• BAIXO
80%
37
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
tecidos e a própria sucessão natural da floresta, que é o nosso Se, no momento do plantio, não temos sementes de algu-
objetivo final. A estratificação deve acontecer desde o início, mas espécies do futuro, mas queremos vir a inseri-las algum
quando já podemos começar plantando as hortaliças, que são a tempo depois, será preciso fazer, nesse momento, uma poda
placenta do sistema, ou seja, elas protegem e criam nosso em- mais drástica, ou mesmo um corte raso, produzindo uma
brião: a floresta do futuro. clareira na qual serão introduzidas as espécies desejadas (se-
A Imagem 16 (abaixo) foi elaborada por Ernst Götsch em mentes ou mudas). A Imagem 17 (à dir.), também elaborada
2018 e demonstra a evolução do agroecossistema por meio por Ernst, complementa a anterior. Ela está dividida em três
da sucessão das espécies. Cada cor indica uma fitofisiono- partes: sistemas de colonização, sistemas de acumulação e
mia, isto é, a paisagem de espécies dominantes, a “pele” do sistemas de abundância. Os círculos coloridos abaixo se repe-
sistema. No início, temos as placentas 1 e 2, destacando-se tem dezenas de vezes entre cada linha tracejada (cada uma
as hortaliças, os tubérculos, o feijão, a mandioca, o abacaxi e delas pode durar entre 100 e 300 anos). Em cada mudança
o mamão. Quando se trata de áreas muito degradadas, com de fase, temos espécies mais exigentes em fertilidade subs-
menos vida, podemos ter ervas e gramíneas pouco exigen- tituindo espécies menos exigentes, ou seja, a quantidade e a
tes, e, junto a elas, no mesmo momento, plantamos semen- qualidade de vida consolidada aumentam em função de dois
tes ou plântulas das árvores do futuro (em sua maioria) de parâmetros principais: nutrientes disponíveis e capacidade
todos os estratos e ciclos de vida. de retenção de água.
Evolução do sistema por meio da sucessão das espécies. O esquema indica onde se localizam suas
plantações sintrópicas após 30 anos de trabalho em sua fazenda na Mata Atlântica, na Bahia.
Imagem 16
38
Da colonização aos sistemas de abundância Imagem 17
VETOR 1
SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO SISTEMAS DE ABUNDÂNCIA FATOR SINTRÓPICO
INSTRUMENTALIDADE
COMPLEXIFICADORA
ANTA
DA VIDA EM RELAÇÂO
PACA / COTIA AO PLANETA TERRA
NÍVEL ENQUANTO
QUALIDADE
SISTEMAS DE
E QUANTIDADE
COLONIZAÇÃO:
DE VIDA
NÃO HÁ ANIMAIS
CONSOLIDADA
C/ N> C/ N<
VETOR 2
SUCESSÃO NATURAL
A PLACENTA
Com o objetivo múltiplo de criar processos ter em determinado espaço uma árvore de cacau, que perderam sua resiliência, nossa placenta
transformatórios e evolutivos, como na im- jaca, castanha ou ingá, semeamos cem sementes capaz de gerar receita fica mais restrita, pois a
plantação e no estabelecimento dos nossos de cada uma delas nesse local. Juntamente com maioria das hortaliças e cereais que comemos só
agroecossistemas complexos, semeamos em as árvores do futuro, semeamos plantas de rápido cresce em solos de sistemas de abundância. Nes-
alta densidade uma grande diversidade de crescimento e ciclo de vida de até dois anos, como ses casos, devemos buscar por plantas adaptadas
plantas, seguindo um princípio da genética cereais, hortaliças, adubos verdes e frutos, como a ambientes menos privilegiados quanto a recur-
que diz que, na formação do novo indivíduo, mamão e abacaxi, entre outros. A essas plantas, sos disponíveis, plantas de rápido crescimento
somente 1% dos genes se manifesta. Daí a ne- cujo ciclo de vida é de até dois anos, chamamos e que suportem solos compactados (com pH 4,5
cessidade de criar plantios adensados, ou seja, “placenta”. Elas são plantadas na densidade de- e baixa disponibilidade de água e nutrientes),
plantando cem vezes mais sementes da espécie finitiva em contraste com as espécies de ciclo de como gramíneas africanas, margaridão (Tithonia
que desejamos, para que reste como adultos ape- vida mais longo (maior que dois anos). Quando diversifolia), algumas agaváceas, além das plan-
nas 1% do total. Em outras palavras, se queremos nos deparamos com solos muito depauperados, tas nativas do lugar em questão.
39
SISTEMAS DE COLONIZAÇÃO
Sistemas de colonização são característicos de locais onde a vida se inicia, como os que ficam próximos
a vulcões (Imagem 18). Com o esfriamento da lava, surgem as primeiras formas de vida, como bactérias,
algas, fungos, líquens e musgos. É nessa sequência que acontece também a colonização em taludes de
estradas e voçorocas, onde todo o solo foi removido, expondo o subsolo.
Imagem 18
40
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO
Quando destruímos uma floresta primária com fogo e, Esse local, situado na Chapada dos Veadeiros (GO), foi des-
durante alguns anos, cultivamos o lugar, o solo empo- truído por queimadas antrópicasG muitos anos atrás. Protegido
brece, perde carbono e se torna ácido, o fósforo é in- delas há 25 anos, apenas recentemente está sendo ocupado
disponibilizado e o alumínio, tóxico para as raízes de novamente por árvores e uma espécie de samambaia arbórea.
muitas plantas, se torna biodisponível. Mesmo ocorrendo em uma cabeceira de nascente e havendo
fragmentos de florestas nas proximidades, os quais poderiam
esse lugar passam a surgir e predominar es- dispersar sementes, a natureza não consegue, em muitos lugares
41
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
Imagem 20
nativas e exóticas, como o eucalipto, o margaridão (Tithonia Diferentemente da agricultura convencional ou orgânica, na
rotundifolia), as braquiárias (Brachiaria spp.), a piteira (Agave agricultura sintrópica esse auxílio externo vai diminuindo com o
americana), o sisal (Agave sisalana), o guandu (Cajanus ca- tempo, à medida que nos aproximamos dos sistemas de abun-
jan), estilosantes (Stylosanthes spp.), o assa-peixe (Vernonia dância, pois estamos caminhando no fluxo da natureza, em que
polysphaera), a lobeira (Solanum lycorcapum) e muitas outras. pequenas mudanças geram grandes transformações. Assim, as
Cultivando essas espécies, podemos até dispensar o uso de espécies vão se sucedendo no tempo e, conforme vamos podan-
insumos externos. Chamamos a esse sistema de “acumulação” do todo o sistema, aceleramos essa sucessão (veja Imagem 24).
porque estamos acumulando a energia do sol, complexifican-
do-a em matéria, aumentando o teor de matéria orgânica que DICAS
irá melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo,
alimentando sua biocenose, permitindo o estabelecimento de 1) EVITAR DAR PASSOS PARA TRÁS NA SUCESSÃO
Por exemplo: não plantar uma espécie de acumulação em um sistema de
plantas mais exigentes. Estamos caminhando, portanto, para abundância, como lobeira (sistema de acumulação) em uma terra em que
cresce muito bem capim-mombaça (sistema de abundância).
sistemas de abundância. Quando iniciamos um sistema de
acumulação, podemos plantar espécies frutíferas mais adian- 2) RETIRAR DO SISTEMA PLANTAS DE SISTEMAS ANTERIORES
Por exemplo: se, entre o capim-mombaça (sistema de acumulação mais
tadas na sucessão natural, cada uma em seu estrato adequa- avançado), há resquícios de capim-barba-de-bode (Cyperus spp.) (sistema
de acumulação no início), este deve sair do sistema, sendo, neste caso,
do, porém necessitamos de um input externo: como o solo e arrancado com a raiz. Isso porque, se for apenas podado, além de produzir
o ambiente como um todo não estão adequados para receber pouca biomassa, seu ciclo será muito mais rápido do que o do mombaça,
isto é, o capim-barba-de-bode florirá antes e transmitirá essa informação de
essas espécies, temos que auxiliá-las com uma “muleta”, como envelhecimento para todo sistema, freando o desenvolvimento das plantas.
adubo orgânico, calcário, termofosfato, pó de rocha etc.
42
Vale salientar que, quando buscamos dar saltos, ou seja, (capim este que tem mais condições de digerir os insumos ex-
pular fases dentro dos sistemas de acumulação, com o intui- ternos ao sistema), que depois será ceifado e usado para adubar
to de nos aproximarmos mais rapidamente dos sistemas de nossas culturas econômicas. Com isso, temos a liberação lenta
abundância, corremos o risco de abrir espaço para ervas inva- dos nutrientes, que podem ser totalmente assimiláveis pelas
soras e ter explosões de insetos, bactérias e fungos, que podem nossas culturas econômicas principais. Quando buscamos criar
se tornar pragas das plantas para as quais criamos artificial- artificialmente sistemas de abundância, nos tornamos inevitá-
mente um sistema de abundância (Imagem 21). vel e obrigatoriamente seus zeladores mais dedicados porque
Ao tentar criar um solo de floresta primária com o uso de melhoramos artificialmente a fertilidade do solo. Dessa forma,
insumos, muitas vezes desequilibramos a biocenose do solo. nossas frutíferas mais exigentes podem crescer, assim como
Nesses casos, o que insetos, fungos e bactérias estão nos di- todos os tipos de ervas e outras formas de vida, como insetos e
zendo é que aquele ambiente de acumulação é impróprio para microrganismos, que, antes, com aquele solo degradado, não
nossa planta, advinda originalmente de um sistema de abun- tinham condições de se estabelecer. Por isso, se descuidarmos
dância. Insetos, fungos e bactérias cumprem, assim, seu papel de aplicar qualquer uma das técnicas (se houver, por exemplo,
de otimizar a vida e nos dão o recado: quanto mais correta- solo descoberto, falta de matéria orgânica ou baixa densidade
mente escolhermos as espécies para nossos consórcios, mais de plantas), rapidamente esses novos seres farão seu trabalho,
rapidamente chegaremos aos sistemas de abundância. Uma cobrindo o solo, comendo nossas plantas mais queridas... Te-
alternativa para avançar é buscarmos por insumos naturais (pó remos, então, o apoio da natureza, que nos mostrará em qual
de rocha, fosfato natural, esterco animal etc.), empregando-os, sistema realmente estamos, ou seja, o domínio das técnicas
contudo, em doses menores, e adubar as entrelinhas de capim sintrópicas é fundamental para avançarmos.
VETOR 1
SISTEMAS DE ABUNDÂNCIA INSTRUMENTALIDADE
DA VIDA EM RELAÇÃO
SISTEMAS DE COLONIZAÇÃO SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO AO PLANETA TERRA.
QUANTIDADE E
PRESSÃO QUE TEREMOS POR QUALIDADE DE
PARTE DAS ERVAS INVASORAS VIDA CONSOLIDADA
NECESSÁRIAS PARA
A OCORRÊNCIA
DA ESPÉCIE EM
QUANTIDADE E QUALIDADE DE VIDA CONSOLIDADA QUESTÃO; NO CASO,
COMO EXEMPLO, O
MAMÃO.
QUANTIDADE E QUALIDADE DE
VIDA CONSOLIDADA NO SOLO TAMANHO DA MULE-
DO LOCAL ONDE PRETENDEMOS TA NECESSÁRIA PRA
CULTIVAR. NESTE CASO, POR CULTIVAR O MAMÃO
EXEMPLO, O MAMÃO.
TAMANHO DA PRESSÃO QUE TEREMOS POR PARTE DE “PRAGAS” E DOENÇAS, OU SEJA, VETOR 2
Imagem 21 POR PARTE DO “DEPARTAMENTO” PARA A OTIMIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE VIDA. SUCESSÃO NATURAL
43
Imagem 22
44
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
SISTEMAS DE ABUNDÂNCIA
Independentemente do estágio de destruição em que vamente e se tornaram perenes. Os gráficos de sucessão das
encontramos um lugar, seja ele um deserto, uma área espécies (imagens 16, 17 e 24) nos dão uma ideia de como
degradada, uma capoeira abandonada, uma cava de a transição entre elas ocorre. Junto a essa transição, o solo
mineração ou uma terra de cultura, nosso objetivo é vai se tornando melhor em todos os parâmetros, sejam eles
levá-lo a ser um sistema de abundância. Podemos di- químicos, físicos ou biológicos. É importante lembrar que co-
zer que esse é nosso “sistema de luxo”. meçamos o agroecossistema plantando todas as espécies de
todos os sistemas (acumulação e abundância), cada sistema
ele, podemos produzir, sem auxílio de in- tendo representantes de cada estrato. Porém, se iniciamos
45
TÉCNICAS DE AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
de vários fatores: o rebrote vigoroso da embaúba estimula as ou- crescimento em profusão, brotação e, consequentemente, um
tras plantas a crescerem também; o material de sua poda aduba sistema rejuvenescido, jovem, com vitalidade. É como se estivés-
todas as espécies à sua volta; e a maior entrada de luz, decorrente semos treinando um atleta de alta performance, sempre traba-
da poda, aumenta a capacidade de fotossíntese de todas elas. lhando com sua potência máxima. Um exemplo da necessidade
Se não houvesse o guapuruvu, a embaúba ficaria mais tempo do distúrbio para a frutificação ocorreu quando o furacão Richard
esperando por alguém que ocupasse o seu lugar, até completar atingiu a América Central, em 2010, causando grande destruição,
seu ciclo de vida, morrendo de velhice. Chega o tempo em que o derrubando muitas árvores e muitas foram “podadas”. No ano
guapuruvu começa a ultrapassar a embaúba. Esta, então, se des- seguinte, nessa região, os plantadores de cacau, cultura conhe-
pede, pois cumpriu sua função no trajeto até a floresta climáxica. cida por viver dentro da floresta, tiveram uma grande produção
Agora, o guapuruvu ocupa o topo da floresta e, embaixo de frutos. O que explicamos para essas três espécies do estrato
dele, vem crescendo o dandá. A cada poda feita no guapuru- emergente (a embaúba, o guarapuvu e o dandá) vale para as
vu, repete-se o ciclo: maior entrada de luz, indução de cresci- espécies de todos os estratos. As plantas econômicas de cada es-
mento por todo o sistema por meio das micorrizas e hormô- trato também podem contribuir com as podas. Por exemplo, no
nios de crescimento. Assim, o dandá vai crescendo até o dia cultivo do cacau, segundo Ernst, sua poda pode chegar a 30% do
em que ultrapassa o guapuruvu. É a vez dele de se despedir, que é podado no sistema. Se, lá no começo de nosso agroecos-
pois, como emergente, não tolera outras árvores sobre sua sistema, conseguimos recolher e plantar sementes de árvores de
copa. Caso não houvesse o dandá, o guapuruvu permaneceria todos os estratos, teremos os estratos completos quando o dandá
no sistema até envelhecer por completo, o que nos levaria a passar a dominar a floresta como emergente.
ficar estancados num sistema de acumulação por muitos mais Podemos imaginar, então, que no estrato alto começará a
anos. Graças a essa dinâmica do manejo por meio das podas, produção de jaqueira, abacate, cajá-manga, manga; no es-
aceleramos enormemente a velocidade da mudança, da fito- trato médio, a produção de cupuaçu, rambutan, nêspera, ci-
fisionomia, ou seja, da cara da nossa floresta. trus etc.; no estrato baixo, a do café, cacau, jabuticaba; e, como
Lembre-se: agricultura sintrópica é distúrbio, e a poda é rasteiras, poderemos ter inhame, gengibre, açafrão, taioba etc.
necessária para impulsionar a floresta, para haver hormônios de Além de todas essas espécies frutíferas, teremos muitas outras
Aprofundando a discussão sobre sucessão das mandioca. Após quatro a cinco anos, derrubam e taboquinha. Nos lugares mais magros aparece lacre
espécies em um ecossistema, Ernst Götsch dá queimam de novo. Nesse segundo ciclo, ainda con- (Vismea guianensis). Se avançarmos mais com a de-
como exemplo o que acontece na Amazônia, seguem plantar arroz e banana-da-terra. Quatro gradação, surgirão sapé e tiririca, e a capoeira secará.
quando um sistema natural de abundância é a cinco anos mais tarde, queimam mais uma vez. Não conseguiremos produzir mais nada, atingiremos
derrubado para dar origem à agricultura de Nesse terceiro ciclo, já não se produz mamão (exceto o colapso. Quanto maior a quantidade e qualidade
tomba e queima: mamão macho), colhendo-se mamão fêmea somen- de vida consolidada em um sistema, menos espécies
te em lugares privilegiados. Cresce agora o paricá são necessárias para restabelecê-lo, caso contrário,
“Após a derrubada de uma mata de sistemas de como emergente, podendo surgir os dois tipos, pa- ultrapassamos os limites aceitáveis de perturbação.
abundância, queimando ou não em seguida, pode ricá de cerne e sem cerne, e abaixo dele surgem cer- Quanto menos abundância, maior a necessidade de
surgir nessa clareira, por exemplo, mamão, junta- tas euforbiáceas. Nesse ciclo, não se consegue mais mais espécies para sua recuperação.”
mente com pau-de-balsa. Podem surgir também, produzir arroz, apenas mandioca e banana mais
como secundárias 1, jaracatiá e eritrina. Nesse uma vez. Com oito a dez anos, queima-se novamen- ESTA EXPLICAÇÃO QUE ERNST NOS OFERECE
primeiro ciclo, os agricultores plantam de tudo: te. Agora surge embaúba (no final da degradação), RETRATA UM CICLO QUE ACONTECE EM TODOS OS
melancia, abóbora, arroz, milho, feijão, banana, juntamente com taboca (uma espécie de bambu) e BIOMAS, EM TODAS AS FLORESTAS DO PLANETA.
46
árvores, madeiráveis e não madeiráveis, nativas e exóticas, que VEJA ALGUNS EXEMPLOS DE BIOMAS E
contribuem para a produção de matéria orgânica e fito-hormô- PLANTAS NATIVAS EXÓTICAS POR ESTRATOS:
nios quando são podadas, imprescindíveis para autodinâmica do AMAZÔNIA
sistema. Ao escolher o que plantar, devemos ter cuidado para
evitar trazer plantas que não se adaptam ao nosso local de culti- • Estrato emergente: castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), angelim
(Dinizia excelsa), piquiá (Caryocar villosum), cajá-mirim (Spondias mombim) etc.
vo, seja por causa do frio em excesso, do calor ou da quantidade
de chuva etc. Por exemplo, na Amazônia, conforme mostrou um • Estrato alto: jaca (Artocarpus heterophyllus), açaí (Euterpe oleracea),
bacaba (Oenocarpus bacaba), cajuí (Anacardium giganteum), mogno
estudo realizado pelo professor Paulo Cavalcante,6 do Museu (Swietenia macrophylla), cedro rosa (Cedrela fissilis) etc.
Emílio Goeldi, crescem bem mais de 150 espécies de frutas na-
tivas e exóticas. As plantas não adaptadas ao clima local podem • Estrato médio: cupuaçu (Theobroma grandiflorum), citrus (Citrus spp),
mangustão (Garcinia mangostana), achachairu (Garcinia humilis), abiu (Pou-
sofrer estresse, sendo que este, se prolongado, suprime o sistema teria caimito), biribá (Rollinia mucosa), carambola (Averrhoa carambola) etc.
imunológico, o qual desempenha um importante papel na au-
• Estrato baixo: cacau (Theobroma cacao), abacaxi (Ananas comosus),
to-organização do organismo.7 araçá-boi (Eugenia stipitata), uarutama (Cheiloclinium cognatum), bacabi
O sistema imunológico, aqui, não se refere apenas ao indi- (Oenocarpus minor) etc.
víduo planta, mas a toda a biocenose associada à sua zona de MATA ATLÂNTICA
raízes, pois os microrganismos não serão alimentados adequa-
damente pelos exsudatos da planta, cuja ecofisiologia encon- • Estrato emergente: jequitibá (Cariniana legalis), jatobá (Himenaea cour-
baril), cajá-mirim (Spondias mombim), castanha-do-brasil (Bertholletia excel-
tra-se desequilibrada. Da perspectiva sistêmica, o estresse é um sa), pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) etc.
desequilíbrio no organismo que ocorre quando uma ou várias
das suas variáveis flutuantes são empurradas para os seus va- • Estrato alto: cedro (Cedrela fissilis), jaca (Artocarpus heterophyllus),
juçara (Euterpe edulis), açaí (Euterpe oleracea) etc.
lores extremos, o que induz um aumento de rigidez em todo o
sistema e, portanto, uma perda de flexibilidade.8 Como exemplo, • Estrato médio: cambucá (Plinia edulis), jabuticaba (Myrciaria jaboticaba),
citrus (Citrus spp), banana-prata (Musa acuminata), longan (Dimocarpus lon-
podemos citar o caso da frutífera lichia (Litchi chinensis), a qual é gan) etc.
bastante exigente com relação ao clima. Ela se desenvolve bem,
mas não produz satisfatoriamente em regiões tropicais, adap- • Estrato baixo: cacau (Theobroma cacao), abacaxi (Ananas comosus), café
(Coffea arabica), espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), cabeludinha (Myrciaria
tando-se melhor em regiões onde o clima é frio e seco antes do glazioviana) etc.
florescimento e, no resto do ano, quente e úmido. A precipitação
CERRADO
ideal para ela encontra-se entre 1.250 mm e 1.700 mm anuais.
• Estrato emergente: jatobá (Himenaea courbaril), barriguda-lisa (Cava-
nillesia umbellata), ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa), cajá-mirim (Spondias
Listou-se ao lado uma pequena amostra de espécies possíveis, incluindo muitas mombim), jequitibá (Cariniana legalis) etc.
árvores cultivadas, de conhecimento dos agricultores, mas as possibilidades de
consórcios são praticamente infinitas, já que só o Cerrado, por exemplo, possui • Estrato alto: copaíba (Copaifera langsdorffii), baru (Dipteryx alata), mangaba
mais de 10 mil espécies de plantas nativas. (Hancornia speciosa), vinhático (Plathymenia foliosa), gonçalo (Asdtronium fraxi-
nifolium), aroeira (Myracrodruon urundeuva), cedro-rosa (Cedrela fissilis) etc.
6 – P. Cavalcante, Frutas comestíveis da Amazônia (1991). • Estrato médio: biribá (Rollinia mucosa), citrus (Citrus spp), jabuticaba (Myr-
ciaria jaboticaba), amora (Morus nigra), pera-do-cerrado (Eugenia klotzchiana) etc.
7 – F. Capra e P. L. Luisi, A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações
filosóficas, políticas, sociais e econômicas (2014). • Estrato baixo: marmelada-de-cachorro (Cordiera sessilis), araçás (várias
espécies), abacaxi (Ananas comosus), café (Coffea arabica) etc.
8 – Idem.
47
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
Outro exemplo interessante é o da mangueira (Mangifera in- com sistemas específicos para cereais, no qual introduzimos o
dica), frutífera bastante comum que cresce bem em praticamen- capim como estrato baixo e linhas de árvores para poda a cada
te todos os biomas do Brasil, mas que só produz frutos naqueles 4 ou 5 metros (veja pág. 54, “Criando sistemas específicos para
em que o período da seca coincide com o de sua floração. grãos e pecuária”). O mesmo vale para a pecuária.
Afinal, não é nosso objetivo, após adquirir experiência e
Fica claro, portanto, porque a ecofisiologia das plantas conhecimento para criar florestas biodiversas e extremamen-
é um dos princípios fundamentais da agricultura sin- te produtivas, com cultivos perenes prósperos, derrubá-las
trópica: é preciso entender como as plantas funcionam para produzir principalmente grãos ou criar gado, algo que iria
e respondem a mudanças em seus ambientes naturais. completamente contra a conservação de energia e os princí-
Dominando o conhecimento sobre seu comportamento, pios da sucessão natural das espécies. Com relação ao esforço
sua morfologia, ecologia e fisiologia, buscamos sempre da mão de obra necessária para a implantação e a manuten-
imitar ao máximo o ambiente natural onde evoluíram ção de um sistema sintrópico, 5% desse esforço são relativos
por milhares de anos. ao plantio e 95% são dedicados ao seu manejo. Se atrasamos
ou abandonamos o manejo, começam a surgir conflitos, tais
Com a floresta de alimentos e madeiras nobres formada, como o sombreamento excessivo ou o envelhecimento das
onde entram o milho, o quiabo, os cereais e o tomate? Sabe- árvores, para os quais a natureza, é claro, sempre tem solu-
mos que uma floresta pujante não é um lugar apropriado para ção. Porém, na natureza, esses conflitos são resolvidos geral-
essas espécies, que necessitam de mais luz — porém ainda mente em uma escala de tempo muito maior. Em uma escala
podemos produzi-los. Para isso, derrubamos nosso agroecos- humana de tempo, buscamos ajustar os estratos das árvores
sistema onde achamos que podemos melhorá-lo, onde falta podando-os, de modo a permitir que cada árvore tenha a ne-
um estrato ou onde queremos introduzir uma frutífera que cessária quantidade de luz ou sombra, depois cobrimos com
não temos. Aí, então, plantamos nossos cereais, nosso tomate, o material das podas os locais descobertos ou mais fracos, co-
nossas hortaliças, agora sem a necessidade de usar adubo ou locamos os troncos em curva de nível em locais com declives
qualquer insumo, pois, desde que começamos nosso trabalho, e auxiliamos a infiltração das chuvas. Quando manejamos um
o solo melhorou muito. Ele se tornou um solo de floresta, sem agroecossistema, aceleramos a ciclagem de nutrientes e fixa-
compactação, com um pH mais alto; o fósforo disponível su- mos muito carbono.
biu, o alumínio se tornou indisponível e, pelo sabor excelente
das frutas, os micronutrientes voltaram. Agroecossistemas, sistemas silviculturais e/ou agro-
E tem mais, vamos produzir hortaliças e grãos conservando florestais bem manejados podem estocar até 228 to-
o solo e usando o mínimo de água, isso graças à grossa cober- neladas de carbono por hectare, incluindo o retido no
tura morta, ao perfil profundo de solo que criamos e à ajuda solo.9 É importante salientar que temos que atentar
de milhões de microrganismos. No momento em que planta- não apenas para a ciclagem do carbono, mas também
mos nossos cereais e hortaliças, plantamos também as frutas e para o fator hormonal, pois, quando podamos, esti-
as madeiras nobres que desejamos. Junto a tudo isso, teremos mulamos fortemente a produção de hormônios de
também a valiosa regeneração natural, que manejaremos po- crescimento nas plantas, os quais circulam por todo
dando-a e conduzindo-a sem desrespeitar a porcentagem de o sistema. Com isso, temos um aumento da fotossín-
sombra de cada estrato. Se quisermos produzir grãos, a descri- tese e forte crescimento de todas as plantas, da parte
ção acima não se encaixaria, pois necessitamos de outro design, aérea e das raízes.
48
Ao iniciarmos a implantação de um agroecossistema, próprio ser humano. Muitas vezes, as plantas que acusam a
é fundamental identificar em que ponto da sucessão a área deficiência de um nutriente são hiperacumuladoras dele e,
se encontra. Podemos fazer isso observando as espécies pre- ao morrerem, deixam um nicho rico desse nutriente escasso,
sentes, pois muitas delas, como sapé (Imperata brasiliensis) e preparando um lugar melhor para as próximas plantas na
guanxuma (Sida rhombifolia), nos dão informação sobre o pH sucessão, como é o caso do mio-mio (Bacharis coridifolia).
do solo e se há nele camadas compactadas. As plantas indi-
cadoras, ao contrário do que muitos pensam, não são pragas,
mas valiosos instrumentos que a natureza possui para curar Saiba mais sobre as plantas indicadoras
as feridas abertas, causadas, em grande parte das vezes, pelo nas págs. 106 a 108 deste livro.
Criando e recriando, assim Ernst Götsch vem trabalhando há mais de 40 anos em sua fazenda em Piraí do Norte,
na Bahia. Quando observa que pode melhorar as florestas plantadas por ele próprio, derruba e planta novamen-
te, sem insumos, a placenta 1, placenta 2, cacau, castanha-do-brasil, açaí, marang, mangustão, achachairu etc.
(a maioria por sementes), em solos que recuperaram quase plenamente sua fertilidade. Nesta foto, vemos uma
clareira com mandioca, a qual é uma das criadoras das fruteiras e madeiras de lei abaixo dela. Apesar do agroe-
cossistema ser tão pujante e produtivo, Ernst diz que ainda não atingiu os sistemas de abundância.
49
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO
Atualmente é a situação de boa parte dos ecossistemas antrópicos
P S C P S C P S C P S C P S C P S C P S C
CIPERÁCIAS
• RASTEIRO LÍQUENS DE FOLHAS ESTREITAS
A ESCALA
TEMPORAL P1
NÃO ESTÁ
REPRESENTADA
NA FIGURA i
Texto de Felipe Pasini e Dayana Andrade, a partir de espécies sugeridas por Ernst Götsch. Infográfico de Giovanni Tabolacci, baseado na arte de Úrsula Arztmann.
50
Exemplo de sucessão natural de espécies
mostrando algumas possibilidades de plantas,
SISTEMAS DE ABUNDÂNCIA seus estratos e ciclos de vida.
Capazes de sustentar espécies mais exigentes Imagem 24
P S C P S C P S C P S C P S C P S C P S C
LEANDRA LACUNOSA
(ERVA-DE-JABUTI)
P2
CAPITAL NATURAL
O ECOSSISTEMA CULTIVADO CRESCE EM O CAPITAL NATURAL ACUMULADO PERMITE QUE O SIS- O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA IMPLANTADO
Aumento de diversidade:
SERVIÇOS E CAPITAL NATURAL TEMA DE ABUNDÂNCIA ESCOE EXCEDENTES DE RECURSOS SOMA AINDA MAIS RECURSOS AO CAPITAL NATURAL Quantidade e qualidade de vida
A figura não está em escala temporal, pois o tempo de placenta aparece muito longo quando comparado
com o tempo das espécies climáxicas, o qual é muito mais longo (350 anos, por exemplo).
51
Mandioca (Manihot esculenta), excelente
criadora de árvores, da qual tudo se aproveita,
até a sombra. Fazenda Olhos D’Água (BA).
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
54
Imagem 25
Frutos de castanha, a “vaca” dos amazonenses, por seu leite de excelente qualidade, extraído dos
frutos recém-colhidos. Uma vaca cria um bezerro; uma castanheira, uma floresta.
55
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
A IMPORTÂNCIA DA ESTRATIFICAÇÃO
Recriar florestas produtivas, semelhantes na forma, na como milho silvestre e cultivado, batata, grãos, forragens, fru-
função e na sua dinâmica aos ecossistemas originais tas e todo tipo de vegetais. Ele chegou a ter a maior coleção
do lugar, implica construirmos florestas estratificadas. de sementes do mundo, a qual contava com cerca de 200 mil
espécies, que foram armazenadas e semeadas em mais de
a natureza, cada planta se encontra dentro de 100 estações experimentais na então União Soviética. Em suas
56
Imagem 27
O Brasil é centro de origem de muitas plantas cultivadas, abacaxi das imagens 27 e 28 estão protegidos pelas copas
dentre elas o abacaxi. Observando um plantio convencional das árvores, enquanto os da Imagem 29 estão a pleno sol.
dessa fruta, sob a forma de monocultura, poderíamos pensar Nesse ambiente, todas as plantas que encontramos estavam
que ela pertence ao estrato alto ou emergente. Mas será esse raquíticas (cresceram pouco) e com as folhas envelhecidas e
o estrato ocupado pelo abacaxi em ecossistemas naturais? No secas, enquanto as que cresceram sob a floresta (centenas
Cerrado brasileiro, temos uma espécie de abacaxi que viceja delas) estavam bem maiores e com um verde brilhante nas
naturalmente, o Ananas ananassoides, que é bastante seme- folhas, como ilustram as imagens 27 e 28. As imagens 30 e
lhante ao abacaxi que cultivamos, o Ananas comosus. Se per- 31 foram obtidas posicionando a máquina fotográfica sobre
corrermos o interior do Parque Nacional da Chapada dos Vea- os pés de abacaxi mais vigorosos e apontando a lente obje-
deiros, uma área protegida de 240 mil hectares no interior do tiva para o alto. Ou seja, as imagens captam o que as plantas
estado de Goiás, encontraremos várias populações de abacaxi de abacaxi “veem” quando “olham” para o céu.
vegetando naturalmente. Quando nos deparamos com uma Observando a maior vitalidade das plantas que cresceram
dessas populações, podemos ver claramente que o abacaxi é sob a floresta em relação àquelas que nasceram a pleno sol,
uma planta do estrato baixo, conforme mostram as imagens não restam dúvidas de que o abacaxi é uma planta de estrato
a seguir. Embora os pés de abacaxi das imagens 27, 28 e 29 baixo. Em nossa incursão pelo Parque Nacional da Chapada dos
cresçam próximos uns aos outros, existe uma grande dife- Veadeiros, ficou evidente que as populações de abacaxi mais
rença quanto à quantidade de luz que recebem: os pés de viçosas acompanhavam precisamente a mata ciliar do córrego.
57
Imagem 28
Populações naturais de abacaxi no interior do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (GO).
58
Imagem 29
Planta de abacaxi nativo a pleno sol no Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (GO).
59
Imagem 30
60
Imagem 31
61
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
Ernst Götsch morou vários anos na Costa Rica e, naquela Quando tentei fazer algo similar, entre o fim do século
época, conheceu uma pesquisa de longa duração sobre passado e o ano de 2004, tive grande êxito, tendo procedido
o abacaxi, a qual nos relata abaixo. da seguinte maneira:
abacaxi cultivado que conhecemos tem uma 1. Primeiro, derrubei capoeiras altas e concentrei a madeira das
copa de grandes árvores. E como chegou até lá? Foi plantado 2. Depois, plantei os abacaxis a cada 30 cm no meio dessas
a partir de sementes por pequenas aves frugívorasG e oní- leiras, e plantei também manivas de mandiocaG a cada 90
vorasG, como sanhaço, sabiá etc. Assim, os abacaxis passam cm e sementes de árvores a cada 30 cm entre os abacaxis, jun-
toda sua vida na copa de árvores velhas climáxicas, onde as tamente com feijão-de-porco e feijão-carioca ou feijão-vigna,
sementes brotaram e se desenvolveram em plântulas, neces- repetindo leiras duplas de madeira a cada 1,2 metro, conforme
sitando de aproximadamente 60 anos para atingirem a flora- o esquema abaixo.
ção, entretanto, as árvores em que se apoiam tombam. Imagem 32
A partir desse evento, os abacaxis, que até então eram 1,2 M 1,2 M
plantas epífitas, começam a crescer no chão e no meio da
clareira, alimentados pelo abundante material lignificadoG, e
pouco depois começam a florir. Os primeiros frutos são gran-
des e comidos por antas e outros frugívoros de porte grande.
Os frutos da segunda safra já são menores e comidos por qua-
90 CM
do), agora são muito pequenos, tendo, cada um, sementes de FEIJÃO E FEIJÃO-DE-PORCO NAS RUAS
tamanho e forma semelhantes a sementes de linho (linha- TORETES DE MADEIRA COM 40 CM DE COMPRIMENTO
62
Quanto à manutenção e desenvolvimento do sistema, é as condições ideais nas quais evoluiu por milhares de anos. Se
possível apontar o seguinte: criarmos as condições adequadas para que nossas plantas cul-
tivadas manifestem, a partir de si mesmas, todo o seu potencial
1. Foram cortadas as primeiras folhas trifolioladasG do feijão-de- produtivo, poderemos criar campos de cultivo belíssimos e alta-
-porco, o que permitiu uma excelente colheita do feijão-carioca mente produtivos, sem necessidade de forçar a produção com
ou feijão-vigna. A operação de poda apical do feijão-de-porco adubos químicos, hormônios e pesticidas.
resultou em um forte crescimento de todo o sistema logo após a Se as grandes companhias produtoras de frutos entenderem
intervenção. a lógica de funcionamento da floresta, tal qual faz a agricultura
sintrópica, se os grandes produtores de grãos fizerem pequenas
2. Sete a dez meses depois do plantio do sistema, a mandioca mudanças em seus campos e se for possível obter máquinas
foi colhida e as árvores de rápido crescimento foram encurtadas adaptadas para o trabalho com as árvores, será possível aban-
(destopadas) na altura dos abacaxizeiros. Com isso, 96% das donarmos completamente o uso de agrotóxicos. Ernst Götsch
plantas de abacaxi, a grande maioria delas extremamente alta já vem trabalhando com alguns grandes produtores e os resul-
(com 1,7 a 1,8 m), receberam a indução floral. Quatro meses tados são impressionantes. Na Fazenda da Toca, em Itirapina
depois elas floriram, bem protegidas do sol pelas árvores que (SP), pomares orgânicos de laranja com infecção de greening
rebrotaram (as mais altas com 3 a 5 metros de altura), e os que recebiam 57 pulverizações anuais de caldas, permitidas
frutos amadureceram de modo extremamente homogêneo, na agricultura orgânica, passaram a dispensar totalmente
sem tratamento fitossanitário. Perdemos menos de 5% devido qualquer pulverização com a adoção da agricultura sintrópica,
à broca, gomose ou outras doenças. O peso dos frutos variou de além de apresentarem redução do greening. Chegou-se a esse
acordo com a qualidade do solo e a variedade (pérola cilíndrica resultado retirando os tratores pesados e plantando mombaça
e pérola cônica) entre 1,3 e 1,9 quilos por fruto. É importante (Panicum maximum) nas entrelinhas, e, nas linhas de citrus,
frisar que somente a primeira colheita é economicamente inte- plantou-se mandioca, banana, eucalipto e árvores nativas.
ressante, pois, nas seguintes, a produtividade é menor, os frutos
têm menor tamanho e a colheita dura meses devido ao ama- • Frugívoro: Animais frugívoros são aqueles cuja dieta alimentar
durecimento heterogêneo. é composta principalmente por frutos, não causando prejuízo às
sementes de uma planta, que são eliminadas intactas por defecação
ou regurgitação.
Quando respeitamos a ecofisiologia das plantas, evitamos
que elas entrem em estado de estresse. O estresse é um dos ga- • Onívoro (ou omnívoro): Animais omnívoros são aqueles com
capacidade para metabolização de diferentes classes alimentícias.
tilhos que desencadeia doenças e ataques de insetos, influen- Eles têm, portanto, uma dieta alimentar menos restrita que a dos
ciando inclusive na qualidade dos frutos. Muitas vezes, compra- carnívoros ou herbívoros. Normalmente são predadores, mas têm
o aparelho digestivo adaptado para metabolizar diferentes tipos de
mos um abacaxi no mercado com a casca ainda bem verde, mas, alimentos.
ao abri-lo, notamos que sua polpa já está como que vitrificada:
• Lignificado: O mesmo que lenhoso, que tem aspecto
o fruto, apesar de verde, está passado, pois o calor excessivo do ou consistência de madeira.
sol o amadureceu forçadamente. Assim como uma vaca holan-
• Leira: Qualquer amontoado em linha. Por exemplo: a) leira de café:
desa (nativa do clima frio da Europa) entra em estresse quando uma pequena pilha de café em linha no terreiro; b) leira de terra:
a temperatura ambiente passa dos 16 °C, ocasionando mastites o monte de terra ao lado de cada sulco num campo arado.
frequentes, micoses de casco etc., um simples fruto de abacaxi • Maniva de mandioca: Pedaço do caule da
também pode se “estressar” caso não lhe sejam proporcionadas mandioca usado para o plantio.
63
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
Mas por que a introdução de poucas espécies nesse cam- o sistema, ao passo que a matéria orgânica é organizada em
po de citrus e a retirada das máquinas pesadas proporcio- leiras duplas debaixo das copas das fruteiras, formando ri-
naram toda essa mudança? Porque mudamos o paradigma quíssimos canteiros para elas, o que evita o surgimento de
de produção! Antes, o capim na entrelinha era um “mal “mato” não desejado e produz um solo idêntico ao de um
necessário”, uma praga a ser controlada ou eliminada. Para minhocário. As árvores podadas (eucalipto, banana e outras)
isso, em campos convencionais, emprega-se herbicida; na são trituradas e seu material é espalhado nos campos, pro-
agricultura orgânica, usa-se roçadeira ecológica, fogo e até duzindo húmus mais estável no solo (originado de lignina).
choque elétrico. Na agricultura sintrópica, diferentemente, O rebrote das árvores estimula todas as outras espécies à sua
tratamos o capim como nossa fábrica de NPK. Ele é corta- volta a crescerem também. No pico do verão, o citrus tem a
do com ceifadeiras afiadas para que rebrote mais rápido e sombra do eucalipto e, no inverno, tem o sol para aquecê-lo.
transmita essa informação de crescimento vigoroso a todo Pequenas mudanças, grandes transformações.
DISTRIBUIÇÃO NA OCUPAÇÃO
DOS DIFERENTES ESTRATOS
Muitos técnicos ainda carregam a ideia errônea, segundo a qual, apesar de a agricultura sintrópica ser um
modelo ecologicamente excelente, é impossível abrir mão dos princípios da Revolução Verde (que, apesar do
nome, prevê o uso de pesticidas e adubos químicos para o aumento da produção) para produzir em larga escala
e alimentar toda a humanidade.
lguns chegam a levar essa forma de ver até Esse tipo de plantio baseado em monocultura não é inteli-
64
auge de produção de alimentos para animais de porte grande. por hectare e de 70 a 80% desse número em árvores de outros
Ao observarmos as plantações de Ernst Götsch em sua fazen- estratos (700 a 900 indivíduos), incluindo plantas frutíferas,
da na Bahia, podemos identificar claramente todos os estratos: madeiráveis, medicinais, melíferas etc., as quais são anual-
emergente, alto, médio e baixo. Quando somos movidos apenas mente podadas ou raleadas.
pela visão econômica e capitalista da natureza, nosso olhar se
restringe àquilo que diretamente nos interessa, e tudo passa a 2) Desaparecimento dos estratos médio e baixo.
ser recurso econômico para maximizar o capital financeiro. Quando nossas florestas deixam de ser podadas ou quando a
No entanto, se perdemos a visão do todo, perdemos tam- ocupação dos estratos ocorre de forma natural, sem intervenção
bém o futuro, porque as plantas não estão sozinhas na natureza, do ser humano, a floresta chega a um ponto em que os estratos
estamos trabalhando com um macrorganismo e não é possível médio e baixo desaparecem.
recriá-lo se esquecermos de inserir parte de seus órgãos nesse
processo. Mas podemos inverter essa lógica quando entende- Por exemplo, a jabuticabeira não produz mais, o cacauei-
mos como a natureza funciona e seguimos nesse caminho de ro vai embora, as laranjeiras se despedem, a jaqueira tam-
fazer a vida prosperar. Ao começar qualquer sistema sintrópico, bém, acontecendo inclusive no lugar natural dessas frutei-
semeamos as árvores de cada estrato em muito maior densida- ras. Isso pode acontecer para a fase médio-tardia, em quase
de do que elas aparecem em uma floresta adulta. Imaginemos, todas as florestas na sua fase de clímax, em climas úmidos e
por exemplo, a cultura do cacau (estrato baixo). subúmidos, sendo mais acentuado nas altitudes fora dos tró-
picos, na contraface das montanhas (face sul no hemisfério Sul
Se desejamos um pé de cacau em determinado lo- e face norte no hemisfério Norte). Portanto, no sistema de acu-
cal, semeamos cem sementes de cacau nessa área, de mulação, a floresta se torna vazia nos estratos inferiores (médio
modo que, quando as plantas forem adultas, teremos e baixo), mas ainda temos a castanheira produzindo (estrato
somente uma planta de cacau naquele lugar (acom- emergente); a floresta ainda sustenta animais de porte grande,
panhada de todos os outros estratos necessários). mas não temos mais uma produção abundante de frutos.
Quando os cacaueiros iniciam a produção de frutos, Do ponto de vista puramente conservacionista, poderíamos
esse ainda não é o auge de produção desse sistema, considerar esse processo natural e não interferir nele, pois as fru-
as árvores vão ficando maiores a cada ano e nosso tíferas que plantamos em nossos sistemas evoluíram em flores-
papel é criar mais espaço para as melhores delas. tas naturais sem a intervenção dos seres humanos. Mas a vida
não é uma lata de conserva, vida é fluxo. Só voltaremos a ter
Selecionamos as melhores entre as melhores, sem que produção nos estratos médio e baixo quando tivermos algum
restem, no entanto, lacunas, e isso justamente porque plan- distúrbio, como a abertura de clareiras, por exemplo.
tamos em alta densidade no início. Esse é um dos segredos! O distúrbio é produtivo, como já foi dito antes, é uma pré-
Os emergentes podem ser podados, mas são principalmente -condição para a renovação das florestas, pois aumenta sua ca-
raleados (a poda de indivíduos muito altos dificulta o mane- pacidade de fotossíntese. Evidentemente, os distúrbios de que
jo), ao passo que os estratos alto, médio e baixo podem ser falamos aqui são bastante diferentes dos distúrbios antrópicos
raleados, mas são principalmente podados. Isso fica bem cla- tecnomorfosG, provocados pelos seres humanos em todos os
ro quando o estrato baixo é o foco de produção, como no caso biomas do planeta; estes, diferentemente dos naturais, causam
do cacau ou do café. Assim, no auge de produção do cacau, uma verdadeira devastação antinatural, pois não consideram os
em sistemas complexos, podemos ter 1.100 árvores de cacau princípios que criaram e mantêm o próprio sistema.
65
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
Para atingir esses números, as florestas conhecem muitos perdendo quase todas as suas folhas no começo da estação das
meios e usam inúmeras estratégias. Cabe a nós escolhermos os águas. Isso permite um crescimento vigoroso das plantas abai-
mais indicados e eficientes no manejo dos nossos agroecossiste- xo dele (inclusive as anuais, como milho, feijão, tomate etc.), as
mas. Nas imagens 34 e 35, a seguir, podemos ver a estratificação quais são adubadas pelas folhas que caíram do cajueiro e prote-
e a estruturação de uma floresta natural de abundância antes e gidas do vento e do sol forte em pleno verão da Caatinga (dezem-
depois de um distúrbio maior (a queda das copas de duas árvo- bro, janeiro e fevereiro).
res do estrato alto após um distúrbio natural, como tempestade, Assim, nesse ecossistema, podemos sombrear percentual-
ventos fortes etc.). A “poda” natural resulta em forte frutificação mente muito mais as áreas que ele habita, cuidando para não
e vigoroso crescimento do sistema. Podemos observar o mesmo ultrapassar de 30% a 40% de sombra produzida pelo estrato
efeito em florestas de produção inspiradas em sistemas natu- alto (estrato do cajueiro). O mesmo acontece com espécies
rais de abundância, as quais, após poda, resultam igualmente como a castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), o jaracatiá
em novo e vigoroso crescimento do sistema e forte frutificação, (Jacaratia spinosa), o cajá (Spondias mombin), entre outras, que
conforme as imagens 36, 37, 38, 39 e 40. É importante notar ficam sem folhagem por muito tempo nos meses sem chuva,
também que existem outros meios, além da poda, para regular o que gera o estímulo (a indução floral) para a frutificação das
a sombra proporcionada pelas plantas que compõem os estratos plantas debaixo delas.
emergente, alto e médio, que são naturais das próprias espécies.
Por exemplo, muitas plantas são caducifólias (perdem suas fo-
lhas numa certa estação do ano, geralmente nos meses mais
frios e sem chuva).
Ao lidar com esse tipo de plantas, é preciso observar o pe-
• Antrópico(a): Característica resultante da ação dos seres humanos.
ríodo do ano em que as árvores ficam sem folhas e por quanto
tempo, pois, ao perdê-las, elas oferecerão pouca sombra para a • Tecnomorfia: Refere-se ao conjunto de relações entre as técnicas
e o solo, e entre o solo e as técnicas. A tecnomorfia em si não é algo
vegetação abaixo delas, favorecendo as espécies que precisam de negativo, porém, quando essas relações se dão de modo destrutivo para
luz para a sua indução floral. Um exemplo extremo é o cajueiro o planeta, ela se torna danosa para a vida. Frequentemente, ao ter o
lucro como objetivo fundamental, as tecnologias criadas e empregadas
(Anacardium occidentale), que floresce no pico da seca, ficando pelos seres humanos não levam em conta os princípios que regem a
verde escuro, amadurecendo seus frutos no fim dessa estação e multiplicação e a manutenção da vida no planeta.
66
Imagem 33
Após a colheita do cacau (Theobroma cacao), realiza-se a poda drástica anual das árvores, reciclando
120 toneladas de biomassa por ha/ano. Fazenda Olhos D’Água (BA).
67
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
ESTRATIFICAÇÃO E
ESTRUTURAMENTO
DE UMA FLORESTA
NATURAL DE
ABUNDÂNCIA
EMERGENTE
ALTO
MÉDIO-ALTO
MÉDIO
BAIXO
RASTEIRO
Fonte: Material didático criado, desenhado e usado por Ernst Götsch em trabalhos de ensino. Infografia de Giovanni Tabolacci, baseada nos desenhos de Ernst Götsch.
68
ESTRATIFICAÇÃO ANTES DE UM DISTÚRBIO
MAIOR, COMO TEMPESTADE, VENTOS
FORTES, FURACÃO ETC.
Imagem 34
69
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
EMERGENTE
ALTO
MÉDIO-ALTO
MÉDIO
BAIXO
RASTEIRO
Fonte: Material didático criado, desenhado e usado por Ernst Götsch em trabalhos de ensino. Infografia de Giovanni Tabolacci, baseada nos desenhos de Ernst Götsch.
70
Imagem 35
71
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
EMERGENTE ~ 20%
ALTO ~ 50 - 55%
MÉDIO ~ 80 - 85%
BAIXO ~ 90%
RASTEIRO ~ 20 -30%
Fonte: Material didático criado, desenhado e usado por Ernst Götsch em trabalhos de ensino. Infografia de Giovanni Tabolacci, baseada nos desenhos de Ernst Götsch.
72
Estratificação dos nossos ASPECTO DO AGROECOSSISTEMA
agroecossistemas, neste caso, PÓS-COLHEITA PRINCIPAL DO
exemplificando os nossos plantios de
cacau na Fazenda Olhos D’Água (BA). CACAU EM JUNHO, MOSTRANDO
O SISTEMA NO AUGE E NO FIM DA
Observe o forte aumento no FASE ACUMULATÓRIA ANUAL
tamanho das copas das árvores,
que, em conjunto, formam os
estratos médio e alto, onde
acontecem os lançamentos dos
novos brotos entre fevereiro e abril,
criando, assim, o “capital” para a
safra do próximo ano agrícola.
Imagem 36
73
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
EMERGENTE ~ 3 - 5%
ALTO ~ 3 - 5%
MÉDIO ~ 3 - 5%
BAIXO ~ 70%
RASTEIRO ~ 1 - 2%
Dessa operação de
poda pós-colheita, • BAIXOS –
resulta um acréscimo submetidos a
de aproximadamente uma forte limpeza
12 a 14 t/ha de (poda dos galhos
matéria seca (80 a • RASTEIROS velhos, doentes e
120 t/ha de material – submetidos mal formados).
verde a cada ano). a uma poda
drástica.
Fonte: Material didático criado, desenhado e usado por Ernst Götsch em trabalhos de ensino. Infografia de Giovanni Tabolacci, baseada nos desenhos de Ernst Götsch.
74
REJUVENESCIMENTO E INDUÇÃO DA FLORAÇÃO
PARA A PRÓXIMA SAFRA. PLANTIO DE CACAU
FAZENDA OLHOS D’ÁGUA (BA).
Imagem 37
75
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
EMERGENTE 2 - 6%
ALTO 7 - 10%
MÉDIO 8 - 12%
BAIXO 85 - 90%
RASTEIRO 6 - 8%
Todas as espécies do
sistema reagem com nova
brotação e se preparam
para florir (com poucas
exceções, como, por
exemplo, a mangueira).
Fonte: Material didático criado, desenhado e usado por Ernst Götsch em trabalhos de ensino. Infografia de Giovanni Tabolacci, baseada nos desenhos de Ernst Götsch.
76
PRINCIPAIS FONTES FORMADORAS DE ÁGUA PARA O SISTEMA:
Forte serrapilheira com composição Matéria orgânica dentro do solo, este, bem Distúrbios naturais e podas de
equilibrada entre folhas, galhos finos, estruturado (com material de raízes e material rejuvenescimento (como mostrado
galhos grossos e troncos, o que propicia trazido da serrapilheira pelas minhocas para na Imagem 37) que induzem um
a criação de uma forte população de dentro dele), sendo pré-condição para uma rejuvenescimento de todo o sistema
fungos e cogumelos que trabalham farta vida bacteriana e fúngica, que, por sua, (independentemente da precipitação
higroscopicamente. vez, cria um substrato higroscópico. que tivermos nesse momento).
Imagem 38
77
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
APROXIMADAMENTE 7 MESES
APÓS PODA FORTE DO SISTEMA
E NO AUGE DA FRUTIFICAÇÃO
CONSOLIDADA. PLANTIO DE
CACAU, FAZENDA OLHOS
D’ÁGUA (BA).
EMERGENTE 20 - 25%
ALTO 30 - 40%
MÉDIO 60%
BAIXO 95%
RASTEIRO 15%
Fonte: Material didático criado, desenhado e usado por Ernst Götsch em trabalhos de ensino. Infografia de Giovanni Tabolacci, baseada nos desenhos de Ernst Götsch.
78
OBSERVE: DEPOIS DOS FORTES LANÇAMENTOS NOVOS QUE ACONTECEM DURANTE A PRIMAVERA (SET/OUT),
COSTUMA-SE FAZER UMA PODA NAS ÁRVORES DOS ESTRATOS MÉDIO E ALTO, SENDO NORMALMENTE OS
GALHOS DAQUELAS ÁRVORES DIMINUÍDOS ENTRE 30 E 50%.
Imagem 39
79
AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
EMERGENTE 20 - 25%
ALTO 40 - 45%
MÉDIO 70 - 80%
BAIXO ~ 95%
RASTEIRO ~ 15%
Fonte: Material didático criado, desenhado e usado por Ernst Götsch em trabalhos de ensino. Infografia de Giovanni Tabolacci, baseada nos desenhos de Ernst Götsch.
80
OBSERVE: A MASSA VEGETAL SE ACUMULA NOS ESTRATOS MÉDIO E ALTO. A SOMBRA DEBAIXO DESSAS
ÁRVORES NÃO DIMINUI O TAMANHO DOS FRUTOS DO CACAU NEM O DAS SUAS AMÊNDOAS, SOMENTE
AUMENTARÁ SUA QUALIDADE. ISSO TAMBÉM ACONTECE COM OS GRÃOS DE CAFÉ, OS FRUTOS DE CÍTRICOS
ETC. PELO CONTRÁRIO, ESTA FASE DE ACUMULAÇÃO NESTE PONTO DO DESENVOLVIMENTO É UM FATOR
CONTRIBUINTE DECISIVO PARA O VIGOR, TAMANHO E UM EXCELENTE SABOR DAS NOSSAS FRUTAS.
Imagem 40
81