Alquimia - Nicolau Flamel

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Nicolau Flamel

por Rubellus Petrinus: http://planeta.clix.pt/petrinus/

Nicolau Flamel é um dos alquimistas mais conhecidos do século XV. Nicolau


Flamel foi um dos raros alquimistas cuja existência é conhecida mesmo nos mais
pequenos detalhes.

Nascido por volta de 1330, muito jovem estabeleceu-se em Paris como escrivão
público, numa pequena barraca ao lado da igreja de St. Jacques de la Boucherie.
Esta profissão era muito lucrativa na Idade Média, quando existia uma enorme
massa de iletrados não só nos miseráveis como também na restante população.

Ela comportava não só a redacção de actos oficiais e a arte da caligrafia como a


iluminura de manuscritos. Flamel ao que parece, era um verdadeiro artista nesta
matéria. Copiando livros e ornamentando manuscritos, o escrivão ganhava o
suficiente para levar uma vida financeiramente desafogada.

Consta que teve um estranho sonho.«Viu um livro revestido de uma capa de cobre
e cujas folhas, que pareciam ser feitas de cascas finas, ornadas de magníficas
ilustrações. O anjo que em sonhos lho apresentou disse: olha bem este livro;
parecer-te-á obscuro como a todo o mundo, mas um dia verás aquilo que é preciso
ver e saberás o que ninguém sabe...Adormecido, estendeu a mão para receber o
livro mas o sonho desfez-se e acordou subitamente.»

Este livro mostrado em sonhos a Flamel, ele o descobrirá na realidade como


descreve no seu Livro das Figuras Hieroglíficas:

«Eu, Nicolau Flamel, escrivão e vizinho de Paris, neste ano de 1399, residindo na
minha casa da Rue des Escrivains, perto da capela de St. Jacques de la Boucherie.
Ainda que tenha aprendido só um pouco de latim devido aos escassos meios dos
meus pais, que, apesar de tudo, eram estimados como gente de bem....Assim pois,
quando depois da morte de meus pais, ganhava a vida com a nossa arte da escrita ,
fazendo inventários, contas, travando os gastos de tutores e de menores, veio-me
parar às mão, por dois florins, um livro dourado muito velho e grande.

Não era de papel nem pergaminho como os demais, mas de córtices (assim me
pareceu) de tenros arbustos. A sua capa era de cobre fino, gravado com letras e
figuras estranhas. Creio que poderiam ser caracteres gregos ou de outra língua
antiga similar, pois sabia lê-lo e não eram letras ou ornamentos, já que dessa
percebo um pouco.

No interior, as folhas de córtice estavam gravadas com grande perfeição e escritas


com buril de ferro, umas letras latinas coloridas, muito belas e claras. Continha três
vezes sete folhas; assim estavam numeradas no alto da folha. A sétima não
continha escrito algum. Em vez disso, estava pintado, na primeira sétima, um
látego e umas serpentes mordendo-se. Na segunda sétima, uma cruz com uma
serpente crucificada.»

Ver explicação do simbolismo da Primeira Lâmina das Figuras de Abraão o Judeu,


na home page inclusivamente com links para as matérias:
http://www.geocities.com/Paris/Cathedral/6232

Seria fastidioso descrever aqui o que podereis ler no livro acima citado mas
queremos chamar a vossa atenção para a descrição da Quarta Lâmina, porque esta
também está explicada na nossa home page.

«Na quarta folha pintou, em primeiro lugar, um jovem com asas nos calcanhares e
com um caduceu na mão, rodeado por duas serpentes, com o qual golpeava um
capacete que lhe cobria a cabeça. Pareceu-me o deus Mercúrio dos pagãos. Contra
ele, vinha correndo e voando, com as asas abertas, um velho que levava um relógio
atado na cabeça e nas suas mãos uma gadanha como a Morte, com a qual queria
cortar os pés a Mercúrio.»

Flamel não tinha, na altura em que adquiriu o dito livro, um conhecimento


profundo da simbologia alquímica porque nesta primeira Lâmina estão indicadas
simbolicamente as matérias necessárias à obra. Por isso fez uma peregrinação a
Compostela onde encontrou um tal Mestre Canches, um sábio judeu que lhe teria
explicado o simbolismo.

Na quarta Lâmina a simbologia é mais pormenorizada indicando-nos não só as


matérias especificadas na Primeira como também parte do modus operandi.

Le Livre Des Figures Hieroglyphiques não é o melhor e mais explícito de Nicolau


Flamel e, nem tão pouco Le Sommaire Philosophique e Le Désir Désiré.

Flamel escreveu outro livro menos conhecido mas que é o mais importante: O
Brevière ou em Inglês Testament.

Na Introdução do Breviário Nicolau Flamel diz o seguinte:

«Eu, Nicolau Flamel, escrivão de Paris, neste ano de 1414 do reinado do nosso
príncipe bendito Carlos VI, que Deus abençoou, e após a morte da minha fiel
companheira Perrenelle, me tomou de fantasia e de satisfação, recordando-me dela,
para escrever em teu favor, caro sobrinho, toda a mestria do segredo do Pó de
Projecção ou Tintura Filosofal, que aprove a Deus dispensar a seu insignificante
servidor...Segue, portanto, com engenho e entendimento os discursos dos filósofos
acerca do segredo, mas não tomes os seus escritos à letra, porque ainda que possam
ser entendidos segundo a Natureza não te serão úteis. Por isso, não esqueças de
rogar a Deus que te dispense entendimento de razão, de verdade e natureza, para
que vejas neste livro, em que está escrito o segredo palavra a palavra e página a
página, como eu fiz e trabalhei com a tua querida tia Perrenelle, que recordo
imensamente.»
Consta que O Breviário ou Testamento teria manuscrito por Nicolau Flamel nas
margens de um Breviário e seria dedicado ao sobrinho de sua mulher Perrenelle.
Daí ele ser extremamente caridoso, escrito em linguagem clara para a época, mas
que hoje um alquimista com conhecimentos profundos da Arte poderá entender o
que não acontece com os seus anteriores livros. Por isso de um verdadeiro
Testamento se trata.

Ao que parece, o Breviário foi encontrado pelo Mestre Dom Antoine-Joseph


Pernety do qual teria feito uma cópia ilustrada. Mais tarde o Cavaleiro Denis
Molinier, também ele alquimista, adquiriu a cópia de Dom Pernety e anotou nas
margens, cuidadosamente, os esclarecimentos complementares que julgou
convenientes para a execução desta via, que ele provavelmente fez ou tentou fazer.
Essas anotações, embora um pouco confusas e repetitivas, mesmo assim facilitam
muito a compreensão do texto.

Resumindo: a obra de Nicolau Flamel tal como a de Ireneu Filaleto é uma via dos
amálgamas. O que numa é omisso na outra é descrita quase ao pormenor por esse
motivo complementam-se.

In La Alchimie de Flamel ( Le Brevière) d'après manuscrit du Chevalier Denis


Molinier (1772). Editions d'Arte Savary, Carcassome, France.

É inegável que Flamel de repente se tornou capaz de assumir despesas enormes


com obras de caridade e deu avultadas quantias para a construção de hospitais em
Paris e inclusivamente para a construção da igreja de St. Jacques de la Boucherie.

A tradição popular afirma que no século XVII foram descobertos na adega da casa
que pertenceu a Flamel por uma empregada muitos frascos de grés empoeirados
que teve a ideia de recuperá-los. Assim esvaziou o conteúdo num riacho, fazendo
perder com a sua ignorância, a preciosa provisão de pó de projecção.

Lâmina do Livro das Figuras Hieroglíficas de Nicolau Flamel de Arnauld de la


Chevalerie (1682) representando uma arcada que Flamel e sua esposa Perrenelle
fizeram construir no cemitério dos Inocentes.

Flamel juntamente com sua esposa Perrenelle teriam sido sepultados na Capela de
S. Clemente, em St. Jacques de la Boucherie. Mais tarde, as duas sepulturas seriam
transportadas para o cemitério dos inocentes, onde o alquimista havia feito erigir
uma arcada com motivos simbólicos e onde o adepto e a sua companheira se
acham representados em oração.

Posteriormente a pedra tumular de Nicolau Flamel chegara ao museu de Cluny, em


Paris, onde actualmente se encontra.

In História da Alquimia, Serge Hutin, Edições MM, Brasil.

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