História Da Educação - RHE - N. 17
História Da Educação - RHE - N. 17
História Da Educação - RHE - N. 17
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
NÚMERO 17
Abril - 2005
Publicação financiada
pelo Programa de Auxílio-Editoração do CNPq SEMESTRAL
História da Educação Pelotas n. 17 p. 1-224 Abril 2005
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
ASPHE
Presidente: Maria Helena Camara Bastos
Vice-Presidente: Maria Stephanou
Secretário: Claudemir de Quadros
Comissão Executiva
Prof. Dr. Elomar Antonio Callegaro Tambara
Profª Drª. Eliane Teresinha Peres
Imagem da capa
Rembrandt. O negociante de Amsterdã Nicolaes Ruts, 1631. Óleo sobre madeira. 116 x 87 cm.
Nova Iorque. The Frick Collection.
História da Educação
Número avulso: R$ 15,00
Single Number: U$ 10,00 (postage included).
CDD: 370-5
Sumário
Apresentação ................................................................................................ 5
Memórias de Professores
Discursos orais sobre a formação e a profissão
Maria João Mogarro ..................................................................................... 7
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares
(Trabajo Infantil y Asistencia Escolar en España
durante la segunda mitad del Siglo XIX y el primer tercio del XX)
Antonio Viñao Frago .................................................................................. 33
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação
(ABE) e suas primeiras ações no campo educacional
Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres ................................................... 51
As caixas de papéis de Nilce Lea:
memórias e escritas de uma simples professora?
Beatriz T. Daudt Fischer............................................................................. 69
A leitura escolar como construção ideológica:
o caso na lenda do Negrinho do Pastoreio (1857-1906)
Elomar Tambara ......................................................................................... 81
O advento da República e a Educação Superior no Brasil:
uma mentalidade nova integrada pelo espírito do século
e nas exigências do tempo
Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz ....................................... 97
Universidades abertas da terceira idade
Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar ............................ 119
História e memória da educação: a organização do sistema escolar
em Uberabinha, MG, no final do Século XIX
Wenceslau Gonçalves Neto ...................................................................... 137
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
Cynthia Pereira de Sousa .......................................................................... 157
Resenhas
Histórias dos Tempos de Escola Memórias e Aprendizado
Luiza Coelho de Souza Rolla ................................................................... 185
Antonio de Almeida Oliveira, os ideais republicanos e a instrução:
um projeto para o ensino público no século XIX
Angélica Borges; Giselle Baptista Teixeira.............................................. 187
Documento ............................................................................................... 191
A Educação Elementar e o Método Lancaster
no Correio Braziliense (1816)
Maria Helena Camara Bastos ................................................................... 193
Orientações aos colaboradores.................................................................. 223
Apresentação
6
Memórias de Professores
Discursos orais sobre a formação e a profissão
Maria João Mogarro
Resumo
Abstract
The theoretical productions developed within the new lines of the history of education,
stressing the ethno-methodological models and the tools of the new cultural and intellectual
history, highlight the discourses produced by the educational agents within their social space.
The oral testimonies analysed were given by teachers and students of a primary-level teacher
education institution and concern their educational and professional experiences. These oral
memories represent powerful points of entry for several educational issues: experiences as
students; teachers' life stories; the type and condition of being a teacher; the profession's
episodes and contexts; the day-to-day of schools; the rituals, ceremonies and parties; the social
status; the professional culture; the ethical and deontological principles; professional identity.
Keywords: oral testimony; representation; professional identity
8
Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
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Maria João Mogarro
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Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
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Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
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Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
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Maria João Mogarro
24
Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
formação que é recordado pelas alunas, no formato dos anos sessenta, pelo
seu carácter rígido e disciplinador.
Agora eu vejo isto, retrospectivamente, com os olhos de uma
profissional, de uma pessoa mais madura, e penso como é que se
aguentavam situações destas, se calhar a maior parte das pessoas,
quer estivessem de um lado, quer do outro, não estavam de acordo
com aquela situação. Mas qual era a voz que se levantava, para dizer
não estou de acordo? Ia direitinha ao gabinete do director, porque
realmente tinha desobedecido a uma ordem do professor. Era uma
disciplina tão fechada! (Mogarro, 2001, II: 455)
25
Maria João Mogarro
escolar foi uma das coisas mais interessantes que se pôs ao serviço
do ensino nesse período, no país. Os resultados foram de alguma
maneira até espantosos, surpreendentes mesmo. Sei isso pela minha
própria experiência de professor do ensino primário e depois por
acompanhar os professores que faziam uso dele... chamei cá a
pessoa que, nessa altura, em Portugal, representava esse método e
que era o Doutor João Nabais... ele que fez cursos na Bélgica, em
Lovaina, e fez na América, de Psicologia e de Pedagogia, era uma
pessoa muito dentro desses problemas, sempre muito interessado e
muito sabedor. Então introduziu em Portugal o ensino pelo método
cuisenaire e fazia demonstrações onde era preciso. E eu convidei-o
para vir cá fazer uma demonstração. Mas eram demonstrações
espectaculares, que davam uns resultados espectaculares, mesmo
com crianças menos conhecedoras. (Mogarro, 2001, II: 361, 379)
26
Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
sublime, as crianças eram tão frágeis e ainda tão incultas que era
preciso alguém muito bem formado, sob todos os pontos de vista,
para tratar daquela matéria. Eu fui, se calhar, durante muito tempo
pensando isto. Era tão construído este entendimento, que achávamos
nós que, se calhar, o professor não podia faltar porque eram
diferentes das outras pessoas, as outras pessoas podiam faltar lá nos
empregos, mas nós tínhamos uma missão, nós éramos muito mais
observados, nós tínhamos que ser exemplos. Isto condicionava
muito a nossa vida. Ah! mas é uma professora! Ah! não pode ir a
certos sítios! Ah! agora fumar, uma professora fumar! Eu julgo que
os meus primeiros entendimentos da profissão traziam associadas
algumas componentes de sacrifício: vieste para aqui, agora tens que
perceber que estás num sítio de excepção, em que tudo o que tu
fazes tem que ser exemplar... mas de onde é que isto vem? Pode vir
de nós próprios, mas também vem dos contextos em que nós nos
desenvolvemos e evoluímos, no sentido de: temos que fazer o
melhor, temos que dar o melhor, um certo sacrifício que nos era logo
pedido. À nossa geração nunca se nos passava pela cabeça recusar
lugares, não só porque nos fazia falta ter a nossa profissão, mas
porque entendíamos que estávamos ali para servir.
Eu ainda hoje acho, agora já por outras razões, que não éramos, não
somos, uma profissão qualquer, não podíamos ser, porque os sítios
onde estávamos determinavam para nós uma função diferente, para a
qual não fomos preparados... o papel era muito mais social do que
nós pensávamos no início. (Mogarro, 2001, II: 503-505)
27
Maria João Mogarro
4 Memória e identidade
28
Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
Referências
29
Maria João Mogarro
30
Memórias de Professores. Discursos orais sobre a formação e a profissão
31
.
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares
(Trabajo Infantil y Asistencia Escolar
en España durante la segunda mitad del Siglo XIX
y el primer tercio del XX)1
Antonio Viñao Frago
Resumo
Neste texto analisam-se as relações entre escolarização, assistência escolar e trabalho infantil
na Espanha na segunda metade do século XIX e primeiros anos do século XX, anos em que a
idade escolar obrigatória, estabelecida em 1857 desde os 6 aos 9 anos, se ampliaria até os 12
anos em 1901 e aos 14 em 1923, e nos quais as cifras reais de escolarização e assistência às
escolas refletem o não cumprimento do estabelecido graças, principalmente ao trabalho
infantil. Assim mesmo, em relação com este último, se expõe o divórcio entre o legalmente
fixado e a realidade a partir de relatórios, documentos e testemunhos autobiográficos da época.
Em síntese, o artigo mostra as diferenças entre os ritmos, tempos e necessidades familiares e os
escolares.
Palavras-chave: Escolarização; Trabalho Infantil; Família e Escola; Séculos XIX-XX
(Espanha).
Resumen
En este texto se analizan las relaciones entre escolarización, asistencia escolar y trabajo infantil
en la España de la segunda mitad del siglo XIX y primeros años del XX, unos años en los que
la edad escolar obligatoria, establecida en 1857 desde los 6 a los 9 años, se ampliaría hasta los
12 años en 1901 y los 14 en 1923, y en los que las cifras reales de escolarización y asistencia a
las escuelas reflejan el incumplimiento de lo establecido a causa, sobre todo, del trabajo
infantil. Asimismo, en relación con este último, se expone el divorcio entre lo legalmente
fijado y la realidad a partir de informes, documentos y testimonios autobiográficos de la época.
En síntesis, el artículo muestra las diferencias entre los ritmos, tiempos y necesidades
familiares y los escolares.
Palabras clave: Escolarización; Trabajo infantil; Familia y escuela; Siglos XIX-XX (España).
1
Publicado en Jean-Louis Guereña (ed.), Famille et éducation en Espagne et en Anérique
Latine, Tours, Plublications de l'Université de Tours, 2002, pp. 83-97.
2
Concepción Arenal, La instrucción del pueblo, Madrid, Tipografía de Guttenberg, 1881, pp.
74 y 77.
3
Ibid., pp. 99-101. La reducción de la jornada escolar de seis a cinco horas se estableció en
1923.
34
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
4
Sobre el incumplimiento de la ley y su carácter de "letra muerta", cf. las afirmaciones en tal
sentido realizadas en la información oral y escrita llevada a cabo en 1884-85, sobre éste y otros
extremos, por la Comisión de Reformas Sociales, en Reformas sociales. Información oral y
escrita publicada de 1889 a 1893, Madrid, Centro de Publicaciones del Ministerio de Trabajo y
Seguridad Social, 1985, Ed. facsímil, t. I, pp. 108 y 131; t. II, p. 174; t. III, p. 117; t. IV, pp. 64,
292 y 397; y t. V, p. 457, en relación con diversos sectores de producción y las localidades de
Madrid, Valencia, Onteniente, Alcira, Sueca, Alcoy, Avila, Burgos, Gijón, y las regiones
gallega y catalana.
5
Ibid., t. II, p. 174.
6
José Mª Borrás Llop, "Actitudes patronales ante la regulación del trabajo infantil en el tránsito
del siglo XIX al XX", Hispania, t. LV, n° 190, 1995, pp. 629-644.
7
Reseña Geográfica y Estadística de España, Madrid, Ministerio de Instrucción Pública y
Bellas Artes, 1914, t. III, pp. 356-357 y 360-361.
35
Antonio Viñao Frago
8
Estadística general de primera enseñanza correspondiente al quinquenio que terminó en 31
de diciembre de 1885, Madrid, Imprenta y fundición de Manuel Tello, 1888, pp. 116-120 y
142-146.
9
Rufino Carpena Montesinos, "Asistencia media mensual y conferencias pedagógicas", La
Escuela Moderna, febrero de 1892, p. 110.
10
Pedro de Alcántara García, Teoría y práctica de la educación y de la enseñanza, Madrid,
English y Gras eds., t. II, 1879, pp. 257 y 544.
36
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
37
Antonio Viñao Frago
[A los] nueve o diez años, [el niño] ya guarda una punta de ganado,
ya queda vigilando la casa, ya ayuda a sus padres en casi todas las
faenas agrícolas. Va a la escuela cuando no hay nada que hacer, y
como esto ocurre pocas veces, pocas veces va a escuela17.
17
Félix Martí Alpera, Las escuelas rurales, op. cit., p. 241.
18
Ibid., p. 240.
19
E. T. L., En la dictadura. Por pueblos y aldeas. De las memorias de un delegado
gubernativo, op. cit., p. 139.
20
M. Domínguez Ortíz, "Sobre la escuela unitaria", Escuelas de España, año I, nº 4, 1935, pp.
236-237.
21
María Sánchez Arbós, Mi diario, op. cit., pp. 177-178, 201-203 y 212-215.
22
El "grupo XV" del cuestionario se refería al trabajo infantil. Incluía siete preguntas: "105.
¿Se ha cumplido en todo o en arte la ley de 24 de julio de 1873?; 106. Géneros de trabajo en
38
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
en el trabajo, las cifras varían entre los 6 y los 12 años. En las imprentas
madrileñas, se informa, había niños de 9 años23, y en la construcción,
también en Madrid, de apenas 10 años24. La industria fabril y manufacturera
empleaba niños y niñas desde los 6 ó 7 años. Esta realidad, constatada en
Cataluña, era generalizada por Luis Aner a los "centros fabriles de España,
como Alcoy, Granada, Antequera, Valencia y Valladolid", una información
que en algunos casos -Alcoy, Valencia, además de Madrid- confirmaban
otros informantes25. En otras provincias y localidades de menor desarrollo
industrial -Burgos, Plasencia, Palencia, Sueca, Onteniente- la edad inicial
del trabajo infantil eran los 10 u 11 años26. En la minería también había
fluctuaciones entre los 9 años de Linares y los 11 de Gijón, aunque en este
caso se añadía "y a veces antes"27.
Francisco Largo Caballero, que había nacido en Madrid en 1869,
indica en sus memorias haber sido puesto "a trabajar" por su familia, cuando
sólo tenía 7 años, "para ganar el pan con que comía", no habiendo pisado
jamás una escuela. Sus primeros trabajos, como aprendiz, fueron
sucesivamente en una fábrica de cajas de cartón, un taller de
encuadernación, otro de fabricar cuerdas y como estuquista28. Otro lider del
movimiento obrero, Angel Pestaña, que había nacido algunos años más
tarde, en 1886, confiesa asimismo en sus memorias haber sido puesto a
trabajar como pastor cuando, con 9 años de edad, vivía en casa de su tío, en
Ponferrada, en vez de acudir a la escuela como dicho tío había acordado con
su padre, y haber entrado "de pinche", en la mina donde su padre trabajaba,
cuando tenía 11 años29.
Respecto del tipo de trabajo, las respuestas al cuestionario son
contundentes y concordantes: los niños y niñas se empleaban en los mismos
trabajos que lo hacían los adultos, hombres y mujeres, es decir, en el mismo
tipo de industrias, oficios o empleos; "en toda clase de trabajos", como
que se emplean los niños, con distinción de sexo y edad, en las minas, en las fábricas de
tejidos, en las de fundición de metales, en las industrias insalubres y peligrosas, etc...; 107.
Efecto del mismo en el desarrollo físico y espiritual de la población obrera; 108. Si el trabajo
de los niños es compatible o incompatible con la asistencia de aquellos a las escuelas de
instrucción primaria; 109. Industrias en que se emplean los niños en trabajos de noche; 110.
Número de horas de trabajo; edad de los niños ocupados; 111. ¿Qué salario perciben en las
diferentes industrias?".
23
Reformas sociales, op. cit., t. I, p. 57.
24
Ibid., t. I, p. 108.
25
Ibid., t. I, p. 176.
26
Ibid., t. III, pp. 276 y 373, t. IV, pp. 397 y 537 y t. V, p. 511.
27
Ibid., t. V, pp. 458 y 178.
28
Mis recuerdos. Cartas a un amigo, México D.F., Ed. Alianza, 1954, pp. 29-31.
29
Lo que aprendí en la vida, Madrid, Aguilar, s.a., pp. 9-10 y 12.
39
Antonio Viñao Frago
30
Reformas Sociales, op. cit.,, t. I, p. 108.
31
Por ejemplo, en Alvaro López Núñez, La protección a la infancia en España, Madrid,
Imprenta de Eduardo Arias, 1908, pp. 92-98.
32
Reformas Sociales, op. cit., t. II, pp. 175-176, t. III, pp. 116-117, t. IV, pp. 64, 293, 397 y
537, y t. V, p. 458.
33
Ibid., t. I, pp. 132 y 225.
34
María Sánchez Arbós, Mi diario, op. cit., p. 214.
40
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
35
Un análisis más detallado de dichas encuestas puede verse en José Mª Borrás Llop, "Zagales,
pinches, gamines... Aproximaciones al trabajo infantil", en José Mª Borrás Llop (Ed.), Historia
de la infancia en la España contemporánea, 1834-1936, op. cit., pp. 230-234.
36
Reformas Sociales, op. cit., t. II, pp. 187-188. El texto procede del informe sobre la
"condición de los niños labradores en Galicia", obra de José Rodríguez Mourelo.
41
Antonio Viñao Frago
37
Instituto de Reformas Sociales, Miseria y conciencia del campesino castellano ("Memoria
acerca de la información agraria en ambas Castillas"), Narcea, Madrid, Ed. de Julio
Aróstegui, 1977, p. 148. La "Memoria" fue redactada por Adolfo Alvarez Buylla.
38
Sobre las reacciones patronales ante el proyecto, cf. José Mª Borrás LLop, "Actitudes
patronales ante la regulación del trabajo infantil en el tránsito del siglo XIX al XX, op. cit.. Dos
de los textos más utilizados y comentados en este trabajo son los de Ferrán Alsina,
Observaciones sobre la reglamentación del trabajo de los niños en talleres y fábricas,
Barcelona, Imprenta "La Renaixensa", 1892, y Juan Sallarés y Plá, El trabajo de las mujeres y
de los niños. Estudio sobre sus condiciones actuales, Sabadell, Est. Tip. de A. Vives, 1892.
Además de ellos, cf. los de José de San Martín y Falcón, El trabajo de los niños. Conveniencia
de que sea regulado por el Estado, e indicación de medios prácticos para reglamentarlo,
Madrid, Imprenta Colonial, a cargo de G. Gutiérrez, 1891, y Juan LLadó y Vallés, Información
abierta por el "Fomento del Trabajo Nacional" de Barcelona sobre el proyecto regulando el
trabajo de las mujeres y de los niños, Barcelona, Tipografía Española, 1900.
39
Sobre la legislación del trabajo de menores, cf. Alvaro López Núñez, La protección a la
infancia en España, op. cit., así como la exposición y comentarios de José Gascón y Marín,
Notas legislativas sobre la reglamentación de la jornada de trabajo de las mujeres y de los
adolescentes en España, Madrid, Imprenta de la Sucesora de M. Minuesa, 1911, e Isidro de
42
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
43
Antonio Viñao Frago
42
Julián Juderías, El problema de la infancia obrera en España, op. cit., p. 31. Sobre las
dificultades para la obtención de las partidas de nacimiento y la expedición de los también
exigidos certificados médicos sin un reconocimiento previo, cf. José González Castro, El
trabajo de la infancia en España, op. cit., pp. 7-8. En cuanto a "la vieja y duradera práctica,
anterior a la ley de 1900", del "falseamiento de las edades", cf. José Mª Borrás Llop, "Zagales,
pinches, gamines..... Aproximaciones al trabajo infantil", op. cit., pp. 252-253.
43
Julián Juderías -El problema de la infancia obrera en España- era Auxiliar del Instituto de
Reformas Sociales y vocal del Consejo Superior de Protección a la Infancia y de la Comisión
Asesora de Reforma tutelar del Ministerio de Gracia y Justicia. José Adsuar Moreno -El niño
en la industria- y José González Castro -El trabajo de la infancia en España- eran Inspectores
provinciales de Trabajo.
44
Julián Juderías, El problema de la infancia obrera en España, op. cit., pp. 35-36. También lo
indicaba, José Adsuar Moreno, El niño en la industria, op. cit., pp. 34-35.
45
José González Castro, El trabajo de la infancia en España, op. cit., p. 12.
44
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
salían de la fábrica a las ocho de la noche, sin más interrupciones que dos
cuartos de hora para tomar algún alimento. Según sus palabras:
Cada dos o tres años visitaba la fábrica un inspector de trabajo. Sin
embargo, jamás le vi porque la tarde en que había de presentarse, a
los rapazuelos nos enviaban a merendar a una fuente situada a un
kilómetro del edificio. El Mayordomo nos decía:
-Hoy no trabajaréis; id a la fuente a merendar.
Estas palabras significaban que el inspector había anunciado su
llegada. Y no era conveniente que nos viera allí, pues nosotros
eramos menores de edad y no podíamos trabajar aún. Por eso nos
daban un asueto inesperado46.
46
F. Estrada Salarich, Memorias de un comerciante catalán, Barcelona, Ed. Quiris, s.a., pp. 32-
33.
47
José Adsuar, El niño en la industria, op. cit., pp. 4-24. Sobre el trabajo de los niños y niñas
en industrias prohibidas, en talleres de costura, en el comercio y en espectáculos públicos, así
como sobre la inobservancia del descanso dominical entre la población infantil trabajadora, cf.
José González Castro, El trabajo de la infancia en España, op. cit., pp. 13-23.
45
Antonio Viñao Frago
48
Simón Sánchez Montero, Caminos de libertad. Memorias, Madrid, Ed. Temas de Hoy, 1997,
pp. 13, 15-16.
49
Isidoro Sánchez Povedano, Vivencias de un zagal andaluz, Terrassa, Ed. Egara, 1990, p. 7.
50
Joan Frigolé Reixach, Un hombre. Género, clase y cultura en el relato de un trabajador,
Barcelona, Muchnik Editores, 1998.
51
Ibid., p. 84.
46
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
52
Ibid., pp. 140-141.
53
Ibid., pp. 107-108.
54
Estadística general de primera enseñanza correspondiente al quinquenio que terminó el 31
de diciembre de 1885, op. cit., pp. 114 y 140.
47
Antonio Viñao Frago
55
Ibid., p. 113.
48
Tiempos Familiares, Tiempos Escolares...
56
Rafael Monroy, "Memoria sobre el modo de propagar la instrucción primaria en las
poblaciones agrícolas y las clases jornaleras", Revista de la Universidad de Madrid, 2ª ép., t. II,
1873, pp. 586-587 y 596.
57
María Sánchez Arbós, Mi diario, op. cit., p. 202.
58
Cf. Gabriel Rivera, "Obligaciones de las corporaciones municipales y autoridades locales en
relación con la escuela y modo de cumplirlas. El problema de la asistencia escolar", Primer
congreso pedagógico provincial. Organizado por la Inspección y por la Asociación Provincial
del Magisterio de Cáceres. 1929, Serradilla (Cáceres), Ed. Sánchez Rodrigo, 1930, pp. 221-
253.
49
Antonio Viñao Frago
50
A criação da Seção Pelotense
da Associação Brasileira de Educação (ABE)
e suas primeiras ações no campo educacional
Aliana Anghinoni Cardoso
Eliane Peres
Resumo
O presente artigo expõe alguns resultados da pesquisa O Movimento da Escola Nova e seus
desdobramentos na Região Sul do Rio Grande do Sul, desenvolvida junto ao Centro de Estudos
e Investigações em História da Educação (CEIHE-FaE/UFPel). Neste trabalho enfocamos o
processo de criação da Seção Pelotense da ABE, em 1926, e suas principais ações em âmbito
local. Baseadas em notícias veiculadas no jornal pelotense Diário Popular, apresentamos
alguns dados que mostram a fase de estruturação e o começo da atuação da Sessão Pelotense da
ABE. Em seguida analisamos a participação da Seção Pelotense na 1ª Conferência Nacional de
Educação realizada em Curitiba, em 1927.
Palavras-Chave: Escola Nova – Associação Brasileira de Educação - Associação Pelotense de
Educação - 1ª Conferência Nacional de Educação.
Abstact
This article exposes some results about the research " the movement of the New School and its
consequences on South region of Rio Grande do Sul, developed in conjunction with the Center
of Studies and Investigation on History’s education (CEIHE – Fae/Ufpel). In this work we
emphasized the process of creation of the ABE´S Pelotas session, in 1926, and its main actions
in the region. Based on news published on the town’s newspaper called Diario Popular, at first
we present some data that show the structuration stage and the beginning of the actuation of the
Pelotas Session of the ABE. Next that we analyzed the participation of Pelotas Session in the
1st Education’s National Conference happened in Curitiba, at 1927.
Keywords: New School –Education’s Brazilian Association –Education’s Pelotas Association
- 1st Education’s National Conference
Introdução
52
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
1
A ABE tem sido, com mais ou menos profundidade, analisada por vários pesquisadores. Para
maior conhecimento dessa Associação ver o estudo de CARVALHO, Marta Maria C. Molde
Nacional e Fôrma Cívica. Bragança Paulista, SP: EDUSF, CDAPH, 1998.
53
Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
54
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
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Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
56
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
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Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
58
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
59
Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
2
De acordo com Carvalho, o primeiro dos regimentos elaborados para as Conferências previa,
no seu artigo 2º, a participação, como presidentes de honra, do presidente da República e do
Presidente do Estado sede do evento.
3
A importância atribuída por Cunha (1981) às cinco primeiras Conferências Nacionais de
Educação promovidas pela ABE – Curitiba, 1927; Belo Horizonte, 1928; São Paulo, 1929; Rio
de Janeiro, 1931 e Niterói, dezembro 1932 e janeiro 1933; – deve-se ao fato desses eventos
terem iniciado o processo de autonomização do campo educacional e contribuído, também,
para o surgimento dos técnicos especializados em educação o que, mais tarde, propiciaria aos
educadores brasileiros, em especial aqueles reunidos na ABE, a participação efetiva na
discussão das diretrizes de um Plano Nacional de Educação.
4
Expressão largamente utilizada por Fernando de Azevedo para se referir aos educadores
responsáveis pelas reformas que modificaram o perfil e o caráter da educação no país.
5
A realização da 1ª Conferência Nacional de Educação e o convite feito pela sede da ABE aos
educadores membros do departamento pelotense mereceu lugar de destaque nas páginas do
jornal pelotense Diário Popular nos dias que precederam a abertura do evento.
6
A tese apresentada pela Seção local na 1ª Conferência Nacional de Educação foi publicada na
íntegra pelo jornal pelotense Diário Popular no dia em que o evento estava sendo oficialmente
inaugurado (18 de dezembro de 1927).
60
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
7
Como professor da Faculdade de Direito de Pelotas, primeiro diretor e organizador da Escola
Prática de Comércio, Professor de Filosofia do Ginásio Pelotense, diretor da Escola de Artes e
Ofícios, presidente da Biblioteca Pública Pelotense e da Sociedade de Tiro Pelotense (Tiro
Brasileiro nº 31), fundador do Núcleo de Escoteiros de Pelotas (o primeiro do Rio Grande do
Sul), Fernando Osório parece ter tido importante participação na construção da imagem
cultural do município de Pelotas. Talvez em função de seu envolvimento com as questões
educacionais e sua erudição como escritor e orador é ele foi indicado, pelos demais membros
da Seção Pelotense da ABE, para o desenvolvimento do tema na 1ª Conferência de Educação.
8
São eles: o Conselho Consultivo de Defesa Nacional Interna, o Ministério da Educação
Nacional, a Federação do Magistério Nacional, a Federação das Letras Ciências e Artes
Nacionais, a Federação da Mocidade Nacional, o Sacerdócio Nacional, a Federação das
Associações da Imprensa Nacional, a Aliança das Mães Brasileiras, a Defesa do Proletariado
Nacional e a Liga Cultural das Forças Armadas.
61
Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
62
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
63
Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
9
A proposta de criação de um Ministério da Educação, já em 1927, mencionada por Fernando
Luís Osório, só se efetivou, como se sabe, em 1931, durante o governo de Getúlio Vargas, com
a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública.
10
Ainda sobre a valorização dos preceitos científicos como determinantes da ação desse
Ministério é interessante destacar que o autor sublinha o fato de que a chefia desse órgão
deveria ser atribuída a um 'ministro sociologo' ou ao menos 'sociologista'. A partir dessa e de
tantas outras posições do autor em relação à incorporação da ciência nas discussões acerca da
educação, pode-se perceber a influência da chamada pedagogia científica, que, no Brasil, teve
entre os educadores reunidos na Associação Brasileira de Educação importantes divulgadores.
11
O autor não cita quais seriam os departamentos que comporiam o Ministerio da Educação
Nacional, fazendo alusão, somente, ao departamento responsável pela educação das 'elites', às
seções que atenderiam ao progresso individual e à educação integral dos indivíduos, ao
departamento que ofereceria estímulos a intelligencia criadora e a cultura educadora e ao
departamento da vida civica.
64
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
65
Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
Considerações Finais
12
(...) Recebam os moços brasileiros uma educação republicana para viverem em republica.
(Trecho da tese de Fernando Luís Osório, Diário Popular, 18 de dezembro de 1927).
66
A criação da Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação...
Referências
67
Aliana Anghinoni Cardoso; Eliane Peres
68
As caixas de papéis de Nilce Lea:
memórias e escritas de uma simples professora?
Beatriz T. Daudt Fischer
Resumo
Resumen
Esses moços
Pobres moços
Ah, se soubessem o que eu sei
Não amavam, não passavam
Aquilo que eu já passei
(...)
É que eu peço - a esses moços
Que acreditem em mim
Que eles julgam que um lindo futuro
Só o amor nesta vida conduz
Saibam que deixam o céu por ser escuro
E vão ao inferno à procura de luz
(Lupicínio Rodrigues) 1
70
As caixas de papéis de Nilce Lea...
4
Cópia literal do site http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribuna/samba-
choro.9905/0918.html Acesso em 15/5/2004.
71
Beatriz T. Daudt Fischer
para que não se casasse ainda, e o fiz com a letra desse samba (e aí
Lupicínio transcreve a letra de Esses Moços, Pobre Moços)5.
5
Há uma coletânea, organizada pelo Lupicínio Filho, chamada Foi Assim (Editora L & PM,
1995), que contem uma seleção destas crônicas, onde ele conta a história de muitas musicas
dele.
6
Ao comentar sobre esta pesquisa com uma colega que integrou a diretoria do CPERGS na
década de 80, ela fez menção à Nilce Lea como atiwa militante.
7
Soube pela neta que a família de Nilce Lea e Hamilton Chaves teria doado documentos e
fotos para o Memorial da Legalidade, acervo que se encontra no Memorial do Rio Grande do
Sul, Praça da Alfândega, Porto Alegre.
72
As caixas de papéis de Nilce Lea...
não cruzar os dados que sairão desta caixa com outras "descobertas" que
posso vir a fazer através de outras fontes? Devo desde já buscar
informações por via de depoimentos de seus amigos e familiares? Ou devo
aguardar primeiro os resultados de minha incursão percorrendo cada página
ou recorte abrigado nesta caixa? De questão em questão, vou encontrando
motivos para persistir nesta aventura, tentando estruturar um caminho que
permita recolher detalhes, garimpar vestígios, quem sabe meros traços
secundários de uma vida enredada em outras vidas. Assim, em forma de
microhistória, buscarei entrecruzar dados, decompondo tramas e
construindo enredos possíveis, tentando descrever dinâmicas de um tempo
não tão distante.
O ritual
A caixa: passo por ela, olho, dou voltas pela casa, encontro o que
fazer, parecendo querer adiar aquele momento de, finalmente, desencadear
o processo, penetrar naqueles documentos que não me pertencem – ou, sim,
já são meus?
Só consigo iniciar a mexer no material quando descubro fazer
disso um ritual quase sagrado. Decido estender um grande pano no chão.
Depois me pergunto: por quê? Estaria erigindo ali uma espécie de altar? Ou
aquele pano ali estava para garantir que nada, nenhum recorte de papel ali
se perdesse? Na medida em que fui retirando da caixa cada um daqueles
documentos, percebia-me como uma arqueóloga que não queria perder
nenhum caquinho daquelas "cerâmicas em fragmentos".
As pastas e papéis: num primeiro momento decido que não posso
perder a ordem de como os materiais estão ali aglutinados. Mas dou-me
conta que talvez esta não tenha sido a forma como Nilce Lea os guardou.
Pode ter sido a forma como filhas e netas os encaixotaram. Mesmo assim,
decido mantê-los na mesma ordem. E vou inventando um jeito de registrar o
que ali vou encontrando. Organizo pelo que chamei de "conjuntos" e vou
listando um por um deles8.
Detenho-me mais tempo nos papéis referentes ao CPERGS. São
eles que ocupam a maior parte das duas primeiras pastas. Ao lê-los
mergulho nos anos 80 do recente século passado. De certa forma, reporto-
me à minha própria história como professora que também lutou por tudo
8
Cada pasta constituiu-se de um conjunto; quando os materiais estavam soltos, tentei formar
conjuntos por sua proximidade (constarem da mesma caixa e porque tinham um tema ou
episódio comum).
73
Beatriz T. Daudt Fischer
9
Já sem incenso, e relaxando no ritual, decido ligar a TV para ver o noticiário. Incrível
coincidência: lá estão as professoras estaduais, portando sinetas na mão, em frente ao palácio
do Governo, reivindicando as promessas feitas (14/5/2004).
74
As caixas de papéis de Nilce Lea...
75
Beatriz T. Daudt Fischer
12
A professora Zilah Totta, entre tantas funções assumidas ao longo de sua carreira, "foi
diretora do Grupo Escolar Paula Soares, em Porto Alegre, de 1956 a 1962" (ABRAHÃO, 2001,
p. 215).
76
As caixas de papéis de Nilce Lea...
13
Encontrei, solto, dentro de um dos cadernos um slide com a imagem de Nossa Senhora. Se a
tecnologia do material consegue expressar uma visão progressista para a época (década de 50
do século XX), o conteúdo confirma a tradicional hegemonia do catolicismo no interior das
escolas públicas.
14
Trata-se de um dos principais fotógrafos do jornal Zero Hora.
15
Nesta momento do trabalho decidi fazer contato, enviando um mail para a neta de Nilce Lea,
que atualmente vive em Belo Horizonte, e que me deu o seguinte retorno: Oi, Beatriz! Fiquei
muito feliz mesmo com o carinho que vc tá tratando essa pesquisa que inclui um pouco da
história da minha avó Nilce. Minha família vai ficar feliz de poder participar, tenho certeza.
Pode ligar pro meu pai qualquer dia pela manhã. Por motivos óbvios, ele herdou os dois álbuns
de fotos lindas que ela montou durante a vida. Minha tia mais velha, Teresa tbm vai ter
bastante pra contar. Ela e meu pai foram alunos da minha avó. A Betânia talvez lembre de
menos coisas, mas tbm pode ajudar. Ela tem um vídeo de uma entrevista que o Jornal Hoje fez
com a minha avó sobre a história do Lupicínio ter feito "Esses Moços" pro meu avó, no
noivado deles. Qualquer dúvida, é só entrar em contato. Um grande abraço da Letânia (Em
30/5/2004).
77
Beatriz T. Daudt Fischer
16
Os indícios revelados até agora por estas caixas fazem crer que ela, no CPERGS, militou
muito mais enquanto professora aposentada junto ao grupo denominado Sempre Ativas.
17
Trata-se de letras de canções tradicionalmente ensinadas nos primeiros anos escolares como,
por exemplo, versos do folclore gaúcho e nacional ou hinos cívicos.
78
As caixas de papéis de Nilce Lea...
Referências
79
Beatriz T. Daudt Fischer
80
A leitura escolar como construção ideológica:
o caso na lenda do Negrinho do Pastoreio (1857-1906)
Elomar Tambara
Resumo
Neste trabalho investigamos o processo de metamorfose de uma das lendas mais conhecida e
usada em sala de aula no Rio Grande do Sul: A lenda do Negrinho do Pastoreio até o momento
em que ela se tornou um "saber escolar".
Sob certo prisma, é possível identificar as mudanças, transformações, metamorfoses que as
diversas concepções de mundo e, em conseqüência, os currículos e saberes escolares sofrem a
partir das leituras escolares. Sem sombra de dúvida, há um processo em desenvolvimento no
cotidiano da sala de aula concatenando escola/sociedade direcionado à construção da memória
e da manutenção da ideologia dominante.
No caso em análise a lenda foi cristianizada e lapidada para atender os interesses de
consolidação de uma estratégia de reconquista do poder do catolicismo e, em particular, do
ultramontanismo no Rio Grande do Sul. No momento em que isto ocorreu, com a versão
desenvolvida por João Simões Lopes Neto, a lenda constituiu-se num efetivo saber escolar
passando a fazer parte dos currículos escolares.
Em suma, o que se pode observar é que as práticas de leitura consubstanciadas nos currículos e
nos saberes escolares estão eivadas de concepções ideológicas que reconstroem continuamente
as subjetividades e as práticas dos sujeitos a elas submetidas. A compreensão da direção destes
parâmetros de indução da introjeção de uma dada cosmovisão contribuiriam, com certeza, para
uma prática profissional, na área da educação, muito mais conscientizada e conscientizadora.
Palavras-chave: Saber Escolar; lenda Negrinho do Pastoreio; Inculcação ideológica.
Abstract
In this work we investigate the metamorphosis of one of the most known and used legends in
classroom in Rio Grande do Sul Province: the "Negrinho do Pastoreio" legend until de moment
it because a "school knowledge".
From a Certain aspect, it is a possible to identify changes, transformations and metamorphosis
that diverse word conceinings and, consequently, School curriculums and knowledges, suffer
from scholl readings. No doubt, there is a developing process in classroom everyday
concatenating school/society directed to memory construction and dominant ideology
maintenance.
In short, one can observe that reading practices consubstantiated in school curriculums and
knowledges are full of ideologic conceinings that continuously re-build subjectivities and
practices of the subjects submitted to such reading practices. The comprehension of the
direction of these inducement parameters of a given conception of world would certainly
contribute to a professional practice, in education area, much more.
In the case here analyzed, the legend was Christianized and lapidated to attend the
consolidation interests of a reconquest strategy of the Catholicism power and, particularly, of
Elomar Tambara
the Ultramontanism. At the moment in which that occurred, with João Simões Lopes Neto
version, the legend became a real school knowledge, as part of the schools curriculums.
Keywords: School knowledge, Negrinho do Pastoreio Legend; Ideologic inculcation.
82
A leitura escolar como construção ideológica...
83
Elomar Tambara
1
Parnazo Brasileiro, SILVA, Pereira da. Parnaso Brasileiro, Rio de Janeiro, Laermert, 1843;
VILLEROY, Frederico Ernesto Estrela de. Seleta nacional ou trechos escolhidos de Diversos
autores nacionais. Pelotas, Americana, 1883.
2
CLEMENTE, Pinto. Seleta em prosa e verso dos melhores autores brasileiros e Portugueses.
Porto Alegre, Selbach, 1884.
3
vide as clássicas traduções de João de Deus e a de Bocage
4
LOBATO, Monteiro. Fabulas em prosa in Revista do Brasil, São Paulo, 1921. n. 68
84
A leitura escolar como construção ideológica...
5
Entendem que a lenda é "genuinamente" Sul-Rio-Grandense, entre outros estudiosos, Alcides
Maia, Donatello Griecco, Augusto Meyer, Roque Callage. De outro lado, contestam de uma
forma ou outra, Câmara Cascudo, Euclides da Cunha, Basílio de Magalhães, Barbosa
Rodrigues
6
A versão de Javier Freyre, publicada em 1890 no Almanaque Peuser encontra-se em
MEYER, 1951, p. 123.
Uma outra versão encontra-se no Anexo 1.
85
Elomar Tambara
7
Para efeito desta comunicação nossa análise irá somente até a versão de J. Simões Lopes
Neto.
8
A versão de Cezimbra encontra-se no Anexo 2.
9
Veja BORGES, Luís. História da pesquisa simoniana e atualização bibliográfica sobre João
Simões Lopes Neto in História, Resistência e Projeto em Simões Lopes Neto. Porto Alegre,
WS editor, 2001
10
Veja CESAR, Guilhermino. Notícia do Rio Grande – Literatura. Porto Alegre, IEL/Editora
da Universidade da UFRGS, 1994
86
A leitura escolar como construção ideológica...
87
Elomar Tambara
11
VARELA, Alfredo. Rio Grande do Sul. Descrição Geográfica, Histórica e Econômica. Porto
Alegre, A Federação, 1897.
12
VARELA, Alfredo. História da Grande Revolução. Porto Alegre, Globo, 1933
88
A leitura escolar como construção ideológica...
13
CACCIATORE, Olga Gudolle. Dicionário de Cultos afro-brasileiros. Rio de Janeiro,
Forense, 1977
89
Elomar Tambara
90
A leitura escolar como construção ideológica...
91
Elomar Tambara
Referências
92
A leitura escolar como construção ideológica...
93
Elomar Tambara
ANEXO 1
94
A leitura escolar como construção ideológica...
ANEXO 2
Versão de Cezimbra
95
Elomar Tambara
Recebido em 15/10/2004
Aceito em: 20/01/2005
96
O advento da República e a Educação Superior
no Brasil: uma mentalidade nova integrada
pelo espírito do século e nas exigências do tempo
Maria Cândida de Pádua Coelho
Almiro Schulz
Resumo
O texto tem como objetivo analisar a visão da educação superior no contexto da Primeira
República, de 1889 a 1930, a partir do "espírito do século", das exigências do tempo e da
compreensão dos presidentes do referido período. A pesquisa foi desenvolvida com base em
fontes bibliográficas e documentais, que abordam a educação superior da época, em especial, o
registro das falas presidenciais. Constatou-se que nesse período estão presentes ainda três
matrizes de pensamento: a matriz Católico-conservadora, como reação; a matriz Libeal, a laica;
e a matriz Cientificista, com base positivista. A educação superior foi entendida como caminho
para superar o atraso e a ignorância e como meio para a profissionalização, para os setores da
economia e do mercado em expansão.
Palavras-chave: Primeira República, Educação Superior, Mentalidades.
Abstract
The objective of the text is to analyze the vision of higher education in the context of the First
Republic, from 1889 to 1930, taking the "spirit of the century", the demands of the time, and an
understanding of the presidents of that period as a point of departure. Research was developed
based on bibliographical sources and documents that deal with higher education of the time,
especially presidential discourse. Three currents of thought were verified to be still present in
this period: the reactionary Catholic-conservative current; the lay Liberal current; and the
Scientific current, with a positivist base. Higher education was understood as the way to
overcome backwardness and ignorance and as a means of professionalizing sectors of the
economy and an expanding market.
Keywords: First Republic, Higher Education, Mentalities..
Introdução
98
O advento da República e a Educação Superior no Brasil...
99
Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
100
O advento da República e a Educação Superior no Brasil...
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Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
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Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
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Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
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Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
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O advento da República e a Educação Superior no Brasil...
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Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
110
O advento da República e a Educação Superior no Brasil...
111
Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
3 O reformismo institucional:
a expansão econômica e a primeira reforma geral do ensino
112
O advento da República e a Educação Superior no Brasil...
113
Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
114
O advento da República e a Educação Superior no Brasil...
Conclusão
115
Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
116
O advento da República e a Educação Superior no Brasil...
Referências
117
Maria Cândida de Pádua Coelho; Almiro Schulz
118
Universidades abertas da terceira idade
Lucy Gomes
Marta Carvalho Loures
Josélia Alencar
Resumo
Na perspectiva de que todos devem estar preparados para enfrentar e solucionar a problemática
do envelhecimento populacional, a Universidade Católica de Brasília criou no ano de 2001, a
Universidade Aberta de Terceira idade, consolidando seu esforço em prol de um processo de
envelhecimento digno. Neste texto faz-se uma análise histórica da evolução da criação das
universidades abertas da terceira idade em nível mundial e brasileiro culminando com a criação
da citada Universidade na Universidade Católica de Brasilia.
Palavras-chave: Universidade Aberta da Terceira Idade; Universidade Católica de Brasília.
Abstract
From the perspective that everyone must be prepared to face and to solve people aging
problematic, in 2001 the Catholic University of Brasilia created the Age Open University,
endorsing its effort to a deserving aging process. This work does an historical analysis of the
evolution of world and Brazilian Age Open Universities creation until the creation moment of
such University at the Catholic University of Brasília.
Keywords: Age Open University; Catholic University of Brasília.
120
Universidades abertas da terceira idade
121
Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar
122
Universidades abertas da terceira idade
123
Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar
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Universidades abertas da terceira idade
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Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar
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Universidades abertas da terceira idade
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Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar
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Universidades abertas da terceira idade
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Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar
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Universidades abertas da terceira idade
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Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar
132
Universidades abertas da terceira idade
Referências
133
Lucy Gomes; Marta Carvalho Loures; Josélia Alencar
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134
Universidades abertas da terceira idade
135
.
História e memória da educação:
a organização do sistema escolar
em Uberabinha, MG, no final do Século XIX*
Wenceslau Gonçalves Neto
Resumo
Abstract
In the end of teh XIX Century, Uberabinha (today) Uberlândia, MG) became a municipality.
Defying work presented to edileship: transforming a village in a city and to lay the foundation
to material and spiritual population development. We attended such a task through the debates
occurred at the Common Council, which involved subjects related to urbanization, public
management, education and social organization. Minas Gerais Province, having faith on the
transforming potential of education, promotes a public instruction reform, yet in 1892. Other
reforms followed it, until 1906, when the elementary schools (grupos escolares) system was
established. In Uberabinha, similar debate occurred, inclusively with the publication of a
municipal Law for public instruction, some months before the above cited 1892 Provincial
Reforms. Between 1892 and 1905 the common Council produced many legislative documents
related to Municipal Schools regulation, to nights courses, to high education right extension to
poor students, to rural teaching, etc. Despite inland condition and communication difficulties,
the common Council showed to be updating relatively education debates that occurred in big
centers of the country, believing in its redeeming capacity.
Keywords: History of education; elementary Schools, Uberabinha
138
História e memória da educação...
139
Wenceslau Gonçalves Neto
3
Op. cit., p. 142.
4
André Petitat, op. cit., p. 152.
5
Carlos Roberto Jamil Cury, Legislação educacional brasileira. Rio de Janeiro: DP&A, 2000,
p. 8.
140
História e memória da educação...
2 A Educação na República
6
Carlos Roberto Jamil Cury, José Silvério Baía Horta, Osmar Fávero, "A relação educação-
sociedade-Estado pela mediação jurídico-constitucional". In: Osmar Fávero (org). A educação
nas constituintes brasileiras 1823-1988. Campinas (SP): Autores Associados, 2001, p. 30.
7
Expressão difundida por Jorge Nagle, em seu já clássico estudo Educação e Sociedade na
Primeira República. São Paulo: EPU, 1974. Conferir, especialmente, p. 97 e seguintes.
8
A Educação Nacional. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985, p. 43.
9
A instrução e a República: Reformas Benjamim Constant (1890-1892). Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1941, p. 233 (primeiro volume).
141
Wenceslau Gonçalves Neto
10
Op. cit., p. 19.
11
Cidadania republicana e educação: Governo Provisório do Mal. Deodoro e Congresso
Constituinte de 1890-1891. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 113.
142
História e memória da educação...
12
José Silvério Baia Horta, "Planejamento educacional". In: Durmeval Trigueiro Mendes
(coord.). Filosofia da educação brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983, p. 205.
13
Messias Costa, A educação nas Constituições do Brasil: dados e direções. Rio de Janeiro:
DP&A, 2002, p. 13.
143
Wenceslau Gonçalves Neto
14
História de Minas Gerais (volume 3). Belo Horizonte: Editora Lemi, 1980, p. 1433.
144
História e memória da educação...
15
Op. cit., p. 231.
16
Op. cit., p. 1432.
17
Foi utilizado para a presente pesquisa o texto da Lei número 41, de 03 de agosto de 1892,
que "Dá nova organização á instrucção publica do Estado de Minas", contido em Minas Gerais,
Collecão das Leis e Decretos do Estado de Minas Geraes em 1892. Ouro Preto: Imprensa
Official de Minas Geraes, 1893. Uma análise dos principais pontos dessa reforma pode ser
encontrada em Paulo Krüger Corrêa Mourão, O ensino em Minas Gerais no tempo da
Republica. Belo Horizonte: Centro Regional de Pesquisas Educacionais de Minas Gerais, 1962,
pp. 24-30.
145
Wenceslau Gonçalves Neto
forma, também são previstos conselhos escolares distritais (art. 35-42), com
atribuições semelhantes às dos conselhos municipais, nos respectivos
distritos. Além disso, foram criados os "inspectores ambulantes, agentes do
governo, encarregados da fiscalização das escolas e mais estabelecimentos
de instrucção do Estado..." (art. 23).
Com relação ao ensino primário, previa-se a sua obrigatoriedade,
conforme consta no art. 53: "O ensino primario é gratuito e obrigatorio para
os meninos de ambos os sexos, de 7 a 13 annos de idade". No entanto, não
se responsabilizava especificamente ao estado pelo cumprimento dessa
obrigatoriedade. No art. 54, continua a orientação: "Os paes, tutores, patrões
e protectores são responsaveis pela educação dos meninos que em sua
companhia ou sob sua auctoridade estiverem, e, como taes, obrigados a
fazer com que elles, em idade escolar, frequentem a escola publica primaria
do Estado, afim de aprenderem os conhecimentos de que trata o art. 88". Ao
descumprimento do estatuído, previa-se a aplicação de multas. No entanto,
existe uma lista de exceções previstas à obrigatoriedade, que permite
facilmente a sua burla: incapacidade física ou mental, doença contagiosa
(ambas comprovadas por atestados médicos), indigência (invalidada quando
existir a distribuição de livros, vestuário, etc aos alunos pobres), frequência
em outra forma de aprendizagem (municipal, familiar, etc), certificados de
aprovação, residência fora do perímetro escolar (1,5 km de raio para os
meninos e 0,5 km de raio para as meninas, a partir da escola pública) e
dificuldade permanente de comunicação.
As escolas foram classificadas em rurais, distritais e urbanas,
exigindo-se a frequência mínima para o funcionamento de 15, 20 e 25
alunos, respectivamente. O art. 79 alertava: "Será suspenso o ensino da
escola cuja frequencia, durante um semestre, fôr inferior á exigida por esta
lei". Com relação à disciplina, o art. 84 definia:
Não serão applicadas aos alumnos penas degradantes, nem castigos
physicos. A diciplina escolar deve repousar essencialmente na
affeição do professor pelos anumnos, possuindo-se aquele de
sentimentos paternaes para com estes, de modo a corrigil-os pelos
meios brandos e pela persuasão amistosa. Nenhum castigo physico
será permittido, ainda quando reclamado ou auctorizado pelos pais,
tutores ou protectores dos alumnos. O professor que infringir esta
disposição fica sujeito á pena de multa e suspensão.
146
História e memória da educação...
18
"Uma por vez". Jornal O Progresso, Uberabinha, 25/10/1914, p. 1. As reportagens dos
jornais de Uberabinha utilizadas neste trabalho referem-se às duas primeiras décadas do século
XX porque apenas a partir de 1907 passa a existir nessa cidade jornal com circulação regular.
O que existe do período anterior (o primeiro jornal aí fundado, A Reforma, é de 1897) são
apenas números esparsos de diversos periódicos.
147
Wenceslau Gonçalves Neto
4 A Educação em Uberabinha
19
"Pela instrucção". Jornal O Progresso, Uberabinha, 24/11/1907, p. 1.
148
História e memória da educação...
20
CAMARA Municipal de S. Pedro de Uberabinha. Actas da Câmara. Uberabinha, 1892-
1905, vol. 25 (Arquivo Público Municipal de Uberlândia-MG). As citações a seguir, que não
forem especificamente indicadas, referem-se a este mesmo livro de Atas.
149
Wenceslau Gonçalves Neto
21
O texto oficial, com correções de forma mas não de fundo, pode ser encontrado no Livro 1
de Leis, Decretos, Regulamentos, da Camara Municipal de S. Pedro de Uberabinha, referente
ao ano de 1892 (também as demais leis citadas, de número 2, 3 e 4 aí se encontram). Aqui e à
frente, preferimos manter o texto original, constante nas atas da Câmara, para que o leitor possa
acompanhar de forma mais "viva" a elaboração legislativa no final do século XIX, em uma
pequena cidade do interior de Minas Gerais, inclusive a forma arcaica da escrita (Arquivo
Público Municipal de Uberlândia-MG).
150
História e memória da educação...
sob pena de pagarem a Camara para o fundo escollar a quantia de trinta mil
reis e na reincidencia – secenta mil reis". A responsabilidade pelo controle
desta obrigação seria feita pelo agente escolar, devendo este informar o
ocorrido ao presidente da Câmara, para as devidas providências. Este agente
escolar, uma espécie de inspetor ambulante previsto na legislação estadual,
cargo criado pelo art. sexto, deve fiscalizar todas as atividades escolares do
município, desde os professores aos pais dos alunos em idade escolar,
passando pelas condições infra-estruturais da escola, envolvendo
equipamentos, mobília, livros, etc. É interessante notar que o pagamento
deste funcionário virá de sua própria competência no recolhimento do
imposto escolar, numa espécie de terceirização na cobrança de tributos,
conforme consta no art. 11º: "O agente escollar que desempenhar com tino e
proficiencia seus deveres receberá dez por cento sob (sic) a quantia que
liquidar para o fundo escollar nas zonas de sua gerencia. Este favor se
reduzirá a seis por cento do primeiro anno em diante".
Com relação às condições arquitetônicas e de higiene, que fazem
parte da lei mineira, também encontraremos essa preocupação na lei
municipal. No art. 5º diz-se que, ao se proceder a qualquer desapropriação
de área para fins de construção escolar, "será escolhido local saudavel e
com mananciais d´ondem derivem uma penna de agua para uso ordinario da
escolla". E o art. 14º complementa: "As cazas destinadas as escollas
construidas pelo fundo escollar ou aduádas por qualquer cidadão terão as
seguintes dimenções e condições: midirão cincoenta palmos de frente sob
trinta e ceis de fundo contando varanda conforme a regra da construção.
Nestas cazas se observarão as condições hygienicas recomendadas pela a
sciencia e terão acomodação necessaria ao serviço da instrucção e a pessoal
docente". A realidade, no entanto, não deveria estar muito próxima desta
descrição. Em reportagem de 1908, veremos críticas profundas às condições
das escolas municipais, declaradas ao jornal por um inspetor escolar que,
apesar de "satisfeitissimo e admirado do adiantamento" de alguns alunos,
acabou observando,
porém, o abandono em que se acham as duas escolas municipaes,
por parte dos poderes competentes. Achou as salas pequenas para a
grande frequencia de alumnos, despidas completamente de mobilia,
material technico, livros, etc. E’ uma pura verdade. A Camara
Municipal adoptou para regimem de suas escolas, o novo methodo
de ensino e regulamento estadoal, mas não cuidou em mobilial-as
convenientemente, fornecel-as de mappas, quadro-negro e outros
utensilios escolares, constantes do regulamento e nem o proprio
regulamento forneceu aos professores para norma de seu
procedimento, de maneira que os professores na falta de instrucções
sobre o regulamento adoptado, vão continuando a exercer o
magisterio pelo antigo methodo de ensino. (...) [E os mestres ainda
151
Wenceslau Gonçalves Neto
22
"Instrucção". Jornal O Progresso, Uberabinha, 08/08/1909, p. 1.
152
História e memória da educação...
23
Op. cit., p. 22-23.
153
Wenceslau Gonçalves Neto
Considerações finais
24
"Estado, cultura e escolarização em Minas Gerais no século XIX". In: Diana Gonçalves
Vidal e Maria Cecilia Cortez C. de Souza (org.). A memória e a sombra: a escola brasileira
entre o Império e a República. Belo Horizonte: Autêntica, 1999, p. 118.
154
História e memória da educação...
Referências
155
Wenceslau Gonçalves Neto
156
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
Cynthia Pereira de Sousa
Resumo
Este artigo pretende tecer algumas considerações acerca dos cruzamentos entre história e
literatura, ilustrando o produtivo intercâmbio que tem sido operado por investigadores dessas
duas áreas, extensivo a quem trabalha com História da Educação. Ao se examinar certas obras
memorialísticas de autores nacionais, não resta dúvida de que as primeiras experiências com a
escola foram fatos marcantes na vida das pessoas, tanto quanto o são, hoje, nos relatos
autobiográficos de professoras e professores. Nesses escritos evidenciam-se de que modo
práticas escolares eram desenvolvidas em diferentes tempos e espaços, desvelando tensões,
conflitos, alegrias e surpresas experimentadas por aqueles que se dispuseram a rememorar sua
infância e juventude e nas quais a escola, seus mestres e o cotidiano foram temas recorrentes.
Palavras-chave: literatura e história – memórias de formação escolar – obras memorialísticas
– escrita autobiográfica – relatos autobiográficos de professores – escrita de diários.
Abstract
This paper intends to make some considerations concerning the interrelations between history
and literature, illustrating the productive exchange that has been carried out by researchers of
those two areas, extensive to those who work with History of Education. If one examines
certain life stories of national authors, there is no doubt that their first experiences at school
were outstanding facts in their lives, as much as male and female teachers’ autobiographical
reports are nowadays. In those writings the way that school practices were developed in
different times and spaces is evidenced, revealing tensions, conflicts, joys and surprises
experienced by those willing to remember their childhood and youth, which the school, their
teachers and daily acitivities were recurring themes.
Keywords: literature and history – memories of school education – life stories –
autobiographical writing – teachers’ autobiographical reports – writing of diaries.
1
Citado por Maria Teresa de Freitas no artigo “Ficção e História: Malraux e a Guerra Civil
Espanhola”. Revista Brasileira de História, v. 7, n. 13, set. 1986/ fev. 1987, p. 137.
2
Roberto Schwarz. Os pobres na literatura brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1983.
158
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
159
Cynthia Pereira de Sousa
8
Entre outros, os trabalhos de Maria Odila Leite da Silva Dias e Miriam Moreira Leite (ambos
publicados em 1984) e Eni de Mesquita Samara., em 1989.
9
José Honório Rodrigues. Teoria da História do Brasil.. 2. ed. v. 2. São Paulo: Ed. Nacional,
1957, p.638.
10
Utilizo a referência a J. H. Rodrigues e o levantamento complementar de obras literárias
feitos por Joelma Sampaio de Alencar, na sua dissertação de mestrado intitulada “A presença
da infância na literatura autobiográfica brasileira (final do séc. XIX/ início do séc. XX)”,
defendida na FEUSP em 1995.
11
Ina von Binzer. Os meus romanos. Alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil. 5ª
ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991.
160
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
12
Graciliano Ramos. Infância. 23. ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Ed. Record, 1986, p. 104.
13
Idem, p. 106.
161
Cynthia Pereira de Sousa
lo. Parecia que o tinham deixado sossegado para poder brincar no quintal,
na rua, com os amigos; entretanto, outras coisas estavam por vir.
A notícia veio de supetão: iam meter-me na escola. Já me haviam
falado nisso, em horas de zanga, mas nunca me convencera de que
realizassem a ameaça. A escola, segundo informações dignas de
crédito, era um lugar para onde se enviavam as crianças rebeldes. Eu
me comportava direito: encolhido e morno, deslizava como sombra.
As minhas brincadeiras eram silenciosas. (...) A escola era horrível -
e eu não podia negá-la, como negara o inferno. Considerei a
resolução de meus pais uma injustiça (p. 113-114).
14
Destacamos O Ateneu - retórica e paixão, livro organizado por Leyla Perrone-Moisés e
publicado pela Ed. Brasiliense e EDUSP, em 1988.
15
M. Lourdes M. Haidar. O ensino secundário no Império brasileiro. 1972, p. 176-177.
16
Raul Pompéia. O Ateneu. São Paulo: Editora Três, 1973, p. 26
17
Viriato Corrêa. Cazuza. 31. ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1983.
162
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
18
Idem, p. 12.
163
Cynthia Pereira de Sousa
19
Zélia Gattai. Anarquistas, graças a Deus. 14. ed. Rio de Janeiro: Record, 1989, p. 186.
20
Idem, p. 189.
164
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
165
Cynthia Pereira de Sousa
Punições e humilhações
166
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
As boas recordações
167
Cynthia Pereira de Sousa
Entrar na escola era um sonho. Tudo o que eu mais queria era poder
usar aquele uniforme: saia pregueada azul-marinho, meia branca 3/4,
sapato preto e fita branca nos cabelos. Achava maravilhoso e ficava
horas e horas me olhando no espelho, rodava prá lá e prá cá, me
sentia uma princesa (Uma professora).
168
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
21
O desvelo como categoria de análise foi discutido, primeiramente, em um trabalho de Carol
Gilligan intitulado In a different voice (1982), no qual propôs uma “ética do desvelo”, com
evidentes implicações para a prática pedagógica, significando “a conduta ética fundamentada
numa experiência pessoal de reciprocidade. (...) desvelar-se por alguém significa receber o
outro na sua inteireza, comunicar-se e ser invadido por ele. Porém, para que o desvelo ocorra, é
preciso que ele seja recebido como tal por aquele que é cuidado. É através desta comunicação,
então, que ocorre o sentimento de estar em relacionamento (connection) com alguém que, por
169
Cynthia Pereira de Sousa
sua vez, alimenta a continuidade da relação”. Cynthia Pereira de Sousa, Denice Barbara
Catani, M. Cecília C. C. de Souza & Belmira Bueno. Memória e autobiografia: formação de
mulheres e formação de professoras. Revista Brasileira de Educação, Anped, n. 2,
maio/jun./jul./ago. 1996, p. 72.
170
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
22
P. Glorieux - “L’enseignement au Moyen Âge. Techniques e Méthodes en usage à la Faculté
de Paris au XIIIème siècle”. Archives d’Histoire Doctrinale et Littéraire du Moyen Âge, t. 35,
p. 97 citado por Ruy A.C. Nunes in História da Educação na Idade Média. São Paulo,
EPU/EDUSP, 1979, p. 237.
23
Alunos com idade variando entre 20 e 23 anos, na sua maioria, e outros, mais velhos, já
formados, entre 28 e 32 anos, todos oriundos de frações das classes médias e com poucos
recursos culturais e econômicos.
24
Voltaremos a esta questão mais à frente.
171
Cynthia Pereira de Sousa
172
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
173
Cynthia Pereira de Sousa
174
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
175
Cynthia Pereira de Sousa
A escrita de diários
176
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
26
Jane DuPree Begos. The diaries of adolescents girls. Women’s Studies International Forum,
vol. 10, nº 1, 1987, p. 69-74.
27
Este é um ponto polêmico entre os estudiosos do gênero autobiográfico. Muitos consideram
diários e cartas como textos secundários, se comparados às autobiografias e relatos de vida, dado
o seu caráter grandemente fragmentário, “construído por associações e não por conexões lógicas”,
desprovido de enredo, “trivial” e “efêmero”. Em contraposição, e para citar apenas um nome
respeitado nessa área, Philippe Lejeune publicou um livro intitulado Cher cahier... (1989),
resultado das análises de 47 diários (journal personnel) de mulheres francesas, jovens e adultas.
177
Cynthia Pereira de Sousa
28
Idem, p. 69. Em tradução livre: “Diários são coisas de maricas”.
29
Helena Morley. Minha vida de menina. Cadernos de uma menina provinciana nos fins do
século XIX. 16ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1988, p. 3. A 1ª edição é de 1942 e o livro
foi, posteriormente, publicado nos Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, França e Itália.
178
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
179
Cynthia Pereira de Sousa
filho, sobre “o que tinha visto, ouvido, pensado, na escola e fora; (...)
preocupando-se para não alterar o pensamento e de conservar, o melhor
possível, as palavras do filho”. Alguns anos mais tarde, já no ginásio, o
filho releu o material “e juntou mais alguma coisa, valendo-se da memória
ainda fresca das pessoas e das coisas”.
***
José Honório Rodrigues observou, em pelo menos dois de seus
livros, o papel de relevo da literatura como fonte para a história social.
Pode-se dizer que a história é tão necessária para uma completa
apreciação literária, quanto a literatura para um completo
conhecimento histórico32.
32
José Honório Rodrigues. A pesquisa histórica no Brasil. 3. ed. São Paulo: Ed. Nacional;
Brasília/INL, 1978, p. 176.
33
Vera Lúcia Puga de Sousa. Entre o bem e o mal. Educação e sexualidade, Triângulo Mineiro,
1960. Depto. de História, FFLCH/USP, 1991.
34
Um excelente trabalho acerca de romances escritos por três professores e uma professora
paulistas, entre 1920 e 1935, foi elaborado por Dislane Zerbinatti Moraes e apresentado como
dissertação de mestrado, com o título de Literatura, memória e ação política: uma análise de
romances escritos por professores paulistas. FEUSP, 1996.
180
História, Literatura e Memórias de Formação Escolar
181
.
Resenhas
.
Histórias dos Tempos de Escola
Memórias e Aprendizado
Luiza Coelho de Souza Rolla
186
Antonio de Almeida Oliveira,
os ideais republicanos e a instrução:
um projeto para ensino público no século XIX
Angélica Borges
Giselle Baptista Teixeira
188
Resenha: O Ensino Público
último, Das mães de família. Em tais divisões o autor aborda uma série de
questões referentes à educação do império, como, o analfabetismo, a
obrigatoriedade, gratuidade e liberdade de ensino, a co-educação dos sexos,
os meios disciplinares, a inspeção de escolas, as instituições noturnas, as
conferências pedagógicas, as escolas normais, a mulher no magistério, os
modos de ensino, as escolas inferiores e superiores, a mulher e a educação,
entre outras questões. Cabe, contudo, ressaltar que o livro dá visibilidade a
um conjunto de idéias e propostas do dito autor, sendo necessário haver
uma preocupação em se buscar identificar e analisar em que pontos suas
afirmações aproximam-se ou se afastam da realidade da instrução pública
no império.
Em sua exposição, Oliveira critica o sistema educacional do
período imperial apresentando uma série de possíveis soluções para os
problemas apontados. Tendo isto em vista traz, em grande parte da escrita,
exemplos de diferentes países, em especial idéias norte-americanas, usando
o argumento da obtenção de bons resultados nos mesmos como um modo
para convencer e converter seus leitores em “republicanos”. Outras
estratégias utilizadas pelo autor, em seu discurso, são o adiantamento de
respostas a possíveis questões e críticas levantadas, assim como, a indução
da interpretação dos leitores.
No decorrer das páginas, percebe-se uma explícita defesa dos
ideais republicanos, que confere a este regime a solução para os males
existentes, resultantes da “suposta” incompetência da monarquia. Desta
forma, constrói um discurso de total desprezo ao regime monárquico,
responsabilizando-o pelos problemas e fracassos educacionais existentes.
Assim, Oliveira tece, por meio de suas idéias de educação juntamente com
algumas estratégias de escrita e de convencimento, um discurso no qual
remete seu leitor a aderir à tese da ineficácia da monarquia, apresentando os
ideais republicanos, como a única saída para o caos no qual a educação se
encontrava. Tal obra funciona, deste modo, como um privilegiado
instrumento para a propagação e, em alguns casos, para a inculcação de uma
proposta carregada por uma doutrina e posição bem determinadas.
Ao nos depararmos com este compêndio, uma pergunta torna-se
inevitável: por que o interesse em sua republicação passado 130 anos de sua
produção? É fato que tal livro se configura como uma importante fonte para
os pesquisadores em História da Educação que almejam refletir acerca de
questões que envolvem a instrução do século XIX, permitindo ao leitor
conhecer e, de certa forma, partilhar de relevantes aspectos da temática, ao
coligar um expressivo acervo de informações, apresentando um
considerável panorama da instrução publica ao retomar determinadas
práticas e políticas do século XIX, notadamente registradas nos já citados
189
Resenha: O Ensino Público
1
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
190
Documento
.
Documento
1
A digitação do documento contou com a colaboração da Bolsista de Iniciação Científica
Elizandra Ambrosio Lemos (FAPERGS – 2004/2)
2
Doutora em História e Filosofia da Educação; Professora no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Pesquisadora do CNPQ.
3
Sobre o método monitorial ou mútuo e sua implantação no Brasil, ver: BASTOS, M.H.C.;
FARIA Fº, Luciano Mendes de. (Org.) A Escola Elementar no século XIX. O método
monitorial/mútuo. Passo Fundo, EdUPF, 1999.
4
Sobre o Correio Braziliense e Hipólito da Costa, ver: LUSTOSA, Isabel. O nascimento da
imprensa brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003; DINES, Alberto; LUSTOS, Isabel
(Org.) Correio Braziliense (1808-1822). São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
2003.
5
Para Lustosa (2003, p. 14), o nome Braziliense refere-se aos portugueses nascidos ou
estabelecidos no Brasil e que se sentiam vinculados ao país como a sua verdadeira pátria, o que
demonstrava que Hipólito da Costa queria enviar sua mensagem preferencialmente aos leitores
do Brasil.
6
GINER, Maria Isabel Cortis; ESPAÑA, Maria Consolación Calderón. El método de
enseñanza mutua. Su difusión en la América Colonial Española. História da Educação.
Salamanca, v. XIV-XV, pp. 279-300, 1995/96.
7
Sobre a adoção do método antes de 1827, ver BASTOS, M.H.C. A instrução pública e o
ensino mútuo no Brasil: uma história pouco conhecida (1808-1827). História da Educação.
ASPHE/ Pelotas, v.1, nº1, p.115-134, abril 1997.
194
A Educação Elementar e o Método Lancaster no Correio Braziliense (1816)
8
O sétimo artigo de Hipólito da Costa trata primorosamente da explicitação dos castigos
segundo a orientação de Lancaster.
195
Documento
Introducção
1
Correio Braziliense. Miscellanea. Londres, vol. XVI, nº 95, abril de 1816. p.346 – 350.
197
Documento
198
Documento
2
Correio Braziliense. Miscellanea. Londres, vol. XVI, nº.96, maio de 1816, p. 460 – 467.
199
Documento
200
Documento
201
Documento
Um mestre 200
Tres ajudadantes do mestre 210
Renda de casa e tributos 60
Carvão e luzes 30
Limpeza da casa, &c. 30
-------
Total L 810
Na suposição de conter a eschola 400 estudantes, pagando cada
um 5L. 5s. o rendimento he 2.100L.; o que deixa um lucro, para remir a
divida de 1.290L
Destas escholas menores estabelecidas nos districtos, se tem
seguido em Londres um beneficio da primeira maguitude, além da
instrução, que a geração futura não deixará de reconhecer com gratidão. As
classes mais pobres da sociedade, como saõ obreiros, trabalhadores,
serventes dos officios mechanicos, &c.; e que não tem meios de pôr seus
filhos na eschola, nem acham emprego proprio para suas tenras idades, são
obrigados a deixallos andar vadios pelas ruas, aonde, em uma cidade tão
populosa como Londres, contrahem as crianças mil hábitos viciosos,
acostumam-sea occiosidade, assossiam com pessoas depravadas, que os
induzem a commmetter crimes; e vem por fim a serem victimas do rigor das
leys, quando se descobrem suas practicas. Estas escholas, portanto,
occupando utilmamente o tempo destes meninos pobres, não sómente lhes
dá a instrucção em lêr, escrever e contar, que tam proveitosa he aos mesmos
individuos; mas impede que elles se habituem á occiosidade, e tira-lhes a
oportunidade de associar pelas ruas, com quem lhes deprave os custumes;
porque as horas vagas, que restam da eschola, são aquellas em que seus
pays tem voltado de seus raspectivos empregos, e que estando, em casa,
pódem ter seus filhos debaixo de seus olhos.
Quando se considera, portanto, os milhares de meninos, e
meninas, filhos de gente pobre, a quem este systema de escholas para os
pobres tem salvado do contagio dos vicios, e dos perigos da occiosidade,
não póde ficar duvida alguma, sobre a utilidade desta invenção.
Devemos aqui notar, que na origem do estabelicimento da
eschola central do Borough-road; todos os negócios pecuniários ficáram a
cuidado do Thesoureiro; e nas outras escholas menores de districtos, ainda
assim continuam no arranjamento de ficarem as receitas e despezas somente
a cargo do respectivo Thesoureiro. Porém, na eschola central, cresceo a tal
ponto a magnitude das contribuiçoens, e a variedade de objectos para sua
applicação, que a sociedade julgou necessário nomear um Commité de
Finanças, independente do Commité de Administração; para ter a seu cargo
as contas de receita e despezas, que no principio somente o Thesoureiro
202
Documento
203
Documento
EDUCAÇÃO ELEMENTAR - Nº 33
3
Correio Braziliense. Miscellanea. Londres, vol. XVI, nº 97, junho de 1816, p. 591 – 598.
204
Documento
cartas de liçaõ estaõ penduradas nas paredes ao lado das series de bancos:
em outro methodo estaõ as cartas fixas em páos postos no meio da salla; em
lugar, que para isso se deixa sem bancos.
A importancia do lugar destas cartas consiste em que, quando os
meninos, que occupam um banco, saem delle para se colocarem em torno da
carta, aonde devem repetir a liçaõ á ordem do decuriaõ, sáiam do banco e
tornem a elle com facilidade, ordem e regulariddae, sem perder tempo em
encontrar-se uns com outros, empurrar-se ou distrahir-se.
A divisaõ dos meninos em classes se fundamenta neste principio;
que todos os meninos que occupam uma classe, tenham os mesmos
conhecimentos, e que logo que algum sobresáia aos demais sêja passado
para a outra classe superior. Os decurioens de cada classe saõ tirados da
classe superior; e cada decuriaõ tem um ajudante, que he o menino mais
bem instruido da classe, que esse decuriaõ ensina.
O mestre tem tambem seus ajudantes, que saõ tirados da classe
mais adiantada.
No arranjamento da salla e seus moveis ha grande numero de
circumstancias, que parecem de pouca importância, mas que merecem
muita attençaõ, pelo que contribuem á regularidade dos movimentos,
marchas, e estudos dos meninos. Por exemplo, os bancos e mezas devem ter
somente a largura, e distancia entre si necessarias, para occupar o menor
lugar possivel, e dar accomodaçaõ para maior numero de meninos: os
bancos e mezas naõ devem ter esquinas agudas; porque nellas se ferem os
meninos, quando entram ou saem com rapidez: a salla deve ter bastantes
janellas, para que sêja sufficientemente ventillada; mas as janellas tam altas,
que os meninos não possam olhar para fora, o que os distrahe
consideravelmente do seu estudo: os meninos devem ter um lugar em que
pendurem os seus chapeos, cada um em sua classe, e se naõ houver
commodidade para isso, devem ter um barbicacho no chapeo, pelo qual
pendurem o chapeo para traz das costas, em quanto estão na eschola; o que
em uma eschola mui nuumerosa he sempre preferivel, por evitar a confusaõ;
que produz queixas, e dá occasiaõ a rixas entre os meninos, quando saem da
eschola.
A distribuiçaõ dos meninos em classes naõ póde ser demasiado
minuciosa: naõ deve haver numero determinado para as differentes classes;
porque logo que um menino sobresáe aos outros de sua classe, deve ser
mudado para outra classe superior; e naõ perder o seu tempo em repetir o
que ja sabe, com os outros que naõ estaõ tam adiantados. Com este methodo
um menino preguiçoso, ou de curtos talentos, naõ retarda o progresso dos
outros que saõ mais industriosos ou de maior engenho.
205
Documento
206
Documento
5ª _ _ subtracçaõ composta.
6ª _ _ multiplicação.
7ª _ _ multiplicação composta.
8ª _ _ divisão.
9ª _ _ divisão composta.
10ª _ _ reducçaõ
11ª _ _ regra de tres.
12ª _ _ practica
Além da divisão de classes, ha outra divisão, que requer grande
cuidado no metre; e vem a ser a disticçaõ dos decurioens.
O menino mais intruido de cada classe he o ajudante do decuriaõ,
e se assenta na extermidade do banco da sua classe; grande meio de
estimulo para os meninos, que aspîram a ésta distincçaõ; porque o coração
humano he o mesmo em todas as idades; as circuntancias saõ as que variam.
Além disto os meninos, que ensinam se aperfeiçoam no que ja sabem;
docendo docentur; e porque acabam de passar pelas difficuldades, podem
melhor dizer aos outros os meios de as vencer.
Da boa nomeaçaõ dos decurioens e subdecurioens depende muito
o progresso da eschola; e portanto deve o mestre er mui cuidadoso nesta
escolha. Na primeira fundação da eschola, he conveniente deixar aos
meninos, que saõ nomeados decurioens, escolherem de entre os outros seus
subdecurioens; porque elles ordinariamente conhecem, quaes saõ os mais
capases de ensinar. Este subdecuriaõ naturalmente vem a ser depois o
decuriaõ; escolhe o seu ajudante. E aquelle não mostram assas habilidades
devem logo ser removidos de seu lugar.
Não basta para que um menino seja nomeado decuriaõ que seja
membro bem instruído da classe superior; he preciso que tenha, além disso,
genio para ensinar, moderação, e vizeza de espirito: he ao mestre que
pertence espreitar os meninos, em quem se reúnem estas qualidades, para os
nomear decurioens.
Antes de um menino passar de uma classe para outra, deve o
mestre examinallo; assim, por exemplo, quando o menino tem de passar da
classe do A, B, C, para a classe de syllabas de duas letras, deve o mestre
examinallo se conhese bem e sem hesitação todas as letras do alphabeto; e
assim por diante em todas as classes. Estes exames, e a escolha dos
decurioens, fazem a principal occupaçaõ do mestre. Quando entra algum
menino de novo na eschola, o que ja tenha aprendido alguma cousa, deve
sempre ser o mestre quem o examine, para saber a classe em que o deve
collocar.
Nu instrucçaõ sobre a escripta, custumam as escholas, segundo o
methodo usual, fazer uma disticçaõ dos meninos, totalmente diversa da
207
Documento
leitura. Porém segundo este novo plano, a leitura a escriptura saõ connexas
na mesma classe, e mutuamente se auxiliam estes exercícios um ao outro;
de maneira que, quando o menino he colocado em uma classe de ler, se acha
também na classe, que lhe compete, de escrever.
Quanto á arithmetica, he preciso classificação distincta; e
segundo o methodo de Mr. Lancaster, he abolido de todo o uso das
taboadas; assim, quando recebe um menino na sua eschola, que já tenha
aprendido alguma cousa, sempre começa pelo põr na primeira classe.
Resta notar, que, em uma eschola mui numerosa, he essencial que
o mestre tenha um livro de registo, em que entre os nomes dos meninos,
seus pays e lugar de habitação. Aqui deve haver lugar para notar os que se
ausentam, merecem premios, ou devem ter castigos.
Igualmente deve haver outro registo para as cartas, livros, pedras,
&c. que se fornecem a cada classe, com a data em que se deram; e cada
decuriaõ deve ser responsável pelo bom uso destes artigos, que se
distribuîram á sua classe.
Estes livros saõ escriptos pelos mesmos meninos mais provectos,
debaixo da inspecçaõ do mestre.
Outra divisão fundamental, neste systema, he a do tempo. Os
meninos entram na eschola ás 9 horas da manhaã; e duas hoars depois de
jantar. Ao entrar da eschola tiveram o chapeo, que fica pendurado nas costas
pelo barbicacho. Quando o relogio bate a hora, cada menino toma o seu
lugar na clase que lhe compete. Um dos meninos reza uma oração; que toda
a eschola repeta. Dahi começam os exercícios alternativamente de ler e
ecrever. A escripta nos bancos; a leitura juncto ao lugar aonde está a carta;
saindo os meninos do banco em fileira; a formar, sem confusão, um
cemicirculo juncto da carta, e o decuriaõ com o ponteiro na mão; na mesma
ordem voltam para o banco, a continuar a escripta.
Como aprimeira classe de meninos aprende a formar as letras na
area, he preciso que a meza, que se extende longitudinalmente ao longo do
banco, seja adaptada para este fim somente. Assim he ésta meza mui
estreita, e com fasquias de madeira pelas bordas, para que a arêa não cáia
para fóra. O decuriaõ tem na mão um pedacinho de taboa com uma alça por
onde lhe péga; e correndo ésta taboinha, de uma extremidade da meza até a
outra, por cima da área, a aliza, e põem em estado de receber a impressão
das letras.
Os meninos de cada classe escrevem na area, todos ao mesmo
tempo, a letra, que lhes ordena o decurião; este passa ao longo da meza a
ver se cada um escreveo bem a sua letra; faz as observaçoens, que convem;
e volta para a outra extremidade, alizando outra vez a area, com a sua
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Documento
EDUCAÇÃO ELEMENTAR - Nº 44
Primeira Classe
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Correio Braziliense. Miscellanea. Londres, vol. XVII, nº 98, julho de 1816, p. 58 – 63.
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Documento
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Documento
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Documento
Segunda Classe
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Documento
EDUCAÇÃO ELEMENTAR Nº 55
5
Correio Braziliense. Miscellanea. Londres, vol. XVII, nº 99, agosto de 1816, p. 205-209.
213
Documento
214
Documento
215
Documento
EDUCAÇÃO ELEMENTAR - Nº 66
6
Correio Braziliense. Miscellanea. Londres, vol. XVII, nº 100, setembro de 1816, p. 468- 472.
216
Documento
217
Documento
218
Documento
EDUCAÇÃO ELEMENTAR - Nº 77
7
Correio Braziliense. Miscellanea. Londres, vol. XVII, nº 101, outubro de 1816, p. 468-472.
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Documento
220
Documento
221
Documento
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Orientações aos colaboradores
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