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Palavras-chave: Ministério da Defesa; Colégios Militares; Autoritarismo; Luta Nacional; Integração com IFs.
A maior parte de servidoras e servidores da Rede Federal de Ensino desconhece o que ocorre nas instituições de
ensino do Ministério da Defesa. Ao mesmo tempo, boa parte de quem trabalha no Ministério da Defesa desconhece o
que existe fora do autoritarismo em que vive. Essa tese tem por objetivo tornar prioridade do SINASEFE a luta por
uma maior interação entre essas duas esferas em que se divide a Educação federal.
Embora muitos não se deem conta, o Ministério da Defesa mantém não somente suas escolas de formação de tropas,
mas também diversos colégios de Ensino Fundamental e Médio, com objetivo declarado de formar jovens nos limites
dos valores das Forças Armadas. A história do nosso país já mostrou o quanto esses valores militares frequentemente
abandonam a democracia e a defesa dos direitos dos cidadãos brasileiros em troca da busca do autoritarismo e da
ditadura. Na prática, são escolas mantidas por recursos públicos, mas não funcionam como escolas públicas: sua
gestão é feita por uma corporação que não dialoga com a sociedade. Em nossos tempos de um governo formalmente
liderado por um capitão da reserva e claramente regido por generais, muitos deles da ativa, o papel das instituições
de ensino do Ministério da Defesa tem sido o da sustentação do projeto de destruição daquela sociedade que superou
a ditadura e gerou a democracia consolidada na Constituição de 1988.
Mesmo fazendo parte de um projeto particular, o Ministério da Defesa usa da prerrogativa de manterem escolas de
educação básica para ter em seus quadros docentes civis EBTT além de receber verbas e benefícios destinados às
escolas públicas, como livros do PNLD e direito a cotas em universidades. No entanto, as vagas nessas escolas são
praticamente exclusivas para as famílias de militares e, ainda assim, mediante pagamento de taxas. Ao mesmo
tempo, sob a alegação de serem "instituições de ensino militar", acreditam-se no direito de descumprir a legislação
prevista para a educação básica e de impor práticas da carreira militar a servidoras e servidores não militares, mesmo
contrariando as prerrogativas legais de nossa carreira.
Embora fazendo parte das mesmas carreiras e, consequentemente, pautados nas mesmas diretrizes legais, servidoras
e servidores lotados nas instituições de ensino das forças armadas vivem realidade institucional bastante distinta
daquela vivida por colegas das outras instituições federais de ensino. O desconhecimento de tal realidade pela rede
federal, assim como a dificuldade de interação entre as próprias unidades de ensino das forças armadas, tem como
consequência isolamento destas, fazendo com que suas pautas específicas sejam invisibilizadas na luta coletiva e
favorecendo a desmobilização e a estagnação entre quem tem lotação nestas instituições. De forma ainda mais
negativa, há forte adesão ao projeto antidemocrático delas.
Os colégios regidos pelas forças armadas possuem uma composição complexa, que envolve servidoras e servidores
com diferentes regimes de trabalho. Além das tradicionais diferenças dentro da própria categoria, há militares em
atividades técnicas e docentes militares, divididos entre militares de carreira, militares temporários e militares da
reserva contratados. No topo dessa hierarquia, estão militares de carreira sem formação na área de ensino, a quem
compete a administração dessas instituições, os quais, muitas vezes, ignoram não só as diretrizes previstas para a
educação no Brasil, como também as diferentes atribuições legais previstas para servidoras e servidores, tudo em
nome de um projeto de imposição dos valores militares sobre a comunidade escolar. Assim, é comum que servidoras
e servidores sejam demandados a seguir determinações que não são compatíveis com sua carreira e/ou sejam
submetidos a situações que estão em desacordo com parâmetros legais.
A título de ilustração, citamos algumas situações vivenciadas por servidoras e servidores lotados nessas instituições
do Ministério da Defesa:
1) Avaliação funcional feita com critérios subjetivos e/ou que não são compatíveis com a carreira, sem qualquer
transparência e fiscalização/acompanhamento dos servidores e sem previsão de possibilidade de contestação
da avaliação realizada.
2) Imposição e cobrança de uso de jaleco para os docentes em geral e de uniformes esportivos para a disciplina
de Educação Física, sem que essas vestimentas sejam fornecidas. A mobilização docente conseguiu que o
Colégio Naval (RJ) e a EPCAr fornecessem jalecos, mas são agradáveis exceções dentro das instituições do
Ministério da Defesa.
3) Total falta de participação docente na elaboração dos programas ou nas decisões pedagógicas, em desacordo
com a BNCC. As decisões no mundo militar sempre têm a direção de cima para baixo na hierarquia.
4) Censura em relação a abordagem de temáticas previstas pela BNCC, prevalecendo sempre o projeto político
da corporação militar.
5) Exigência de que docentes produzam material para todo o sistema Colégio Militar do Brasil e não apenas para
suas/seus estudantes, sem o devido pagamento de GECC.
6) Exigência de participação em formaturas e eventos comemorativos das forças armadas que correspondem à
carreira militar e não a atividades docentes.
7) Imposição de gozo de férias em 3 períodos que, segundo a legislação trabalhista, só pode ser realizada a
pedido de servidoras e servidores.
8) Demandas de trabalho impostas de forma oficiosa por meio do WhatsApp, sem qualquer respeito aos horários
de descanso (inclusive, em feriados e períodos de férias), de maneira assistemática (sem que a informação
chegue igualmente à equipe) e sem qualquer tipo de custeio da instituição para aquisição de aparelhos e
pacotes de dados. A lei estabelece que os meios de comunicação oficiais devem ser custeados pelo
empregador.
9) Realização de tarefas de caráter administrativo, como Exame de Contracheque, que envolve cálculos
financeiros e análise de documentos, atividades que não fazem parte das atribuições previstas para a carreira
dos servidores e para as quais estes não têm o preparo técnico necessário, o que pode lhes causar prejuízos
financeiros ou problemas legais.
10) Obrigatoriedade de uso de materiais paradidáticos pré-definidos pela instituição sem que esta os forneça,
forçando-os a adquirir por seus próprios meios.
A lista de arbitrariedades, irregularidades e assédios que compõem o dia a dia dos servidores das instituições do
Ministério da Defesa extrapolaria os limites dessa tese. Ao ler as primeiras versões desse texto, foram muitos os
companheiros que pediam a inclusão de novos itens. Tivemos que ser breves, por isso nem tudo pôde ser citado.
Historicamente, quem trabalha no Ministério da Defesa tem dificuldades de mobilização. A carreira militar é proibida
por lei de se organizar sindicalmente e treinada de forma a obedecer cegamente à hierarquia de poder, o que cria
dentro das instituições militares uma forte oposição a tudo o que envolva a organização sindical. Instituições de
ensino do Ministério da Defesa não permitem reuniões do sindicato no local de trabalho e costumam proibir cartazes e
até mesmo o uso de camisetas ou adesivos de campanhas ou eventos sindicais. Ao lado disso, o autoritarismo que
permeia todas as relações dentro dessas instituições dificulta enormemente nosso trabalho de organização. No
entanto, nossa história inclui momentos de forte mobilização.
Boa parte das instituições de ensino do Ministério da Defesa trabalhou no ensino remoto desde os primeiros dias da
pandemia de Covid-19, sem interrupção ao longo de 2020 e 2021. Quando, já em fins de 2020, foi imposto o ensino
híbrido, fomos capazes de impor uma resistência considerável a esse retorno presencial. Vários colégios militares
sustentaram greve sanitária por longo tempo, com alguns poucos servidores do Colégio Militar do RJ mantendo-se em
greve sanitária por 15 meses! Em alguns colégios, a resistência simplesmente inviabilizou o ensino híbrido. O Colégio
Naval (RJ), por exemplo, chegou a março de 2022 ainda sem ter convocado o retorno de seus servidores, consciente
da pressão que os servidores organizados farão. Cada instituição teve uma história própria, com capacidades
diferentes de resistência e com formas diferentes de represálias aos servidores.
As experiências, porém, foram positivas: em boa parte das instituições do Ministério da Defesa, servidores e
servidoras saíram mais fortes e novas lideranças se formaram. A maioria desses colégios pela primeira vez conheceu
o que é uma greve. Em alguns casos, a luta permitiu uma integração maior com Seções ligadas a IFs, e até mesmo
dentro da própria rede do Ministério da Defesa: foram comuns a troca de experiências e a participação de militantes
em reuniões e assembleias de outras Seções de todo o país.
Nossa base vem lutando individualmente, em cada local de trabalho, o que não faz muito sentido dentro do Ministério
da Defesa. Ao contrário dos IFs, a hierarquia militar determina que nenhuma instituição tenha autonomia. Tudo vem
de cima para baixo, sempre. Os colégios do Exército obedecem a ordens da DEPA, os da Marinha obedecem à DEnsM,
os da Força Aérea obedecem à DEA. Lutar contra os desmandos dessas instituições exige uma ação nacionalmente
unificada: se as ordens vêm de cima, a briga tem que ser em cima! No entanto, tem faltado ao SINASEFE a
articulação nacional que chegou a ser construída. Já é tempo de agirmos como devemos!
A partir de tal panorama, a tese que aqui propomos é a de instituir um maior diálogo entre as unidades federais de
ensino das forças armadas e entre estas e outros institutos federais para que nossas demandas possam ser discutidas
e enfrentadas nacionalmente.
PROPOSTAS E ENCAMINHAMENTOS:
- Que seja criada uma articulação nacional para o retorno dos Encontros Nacionais dos Servidores das Instituições do
Ministério da Defesa – ESCIME, que não se realizam desde 2019.
- Que os ESCIMES retornem efetivando sua proposta inicial de serem bianuais, uma vez que permitem uma forte
integração das/dos militantes e formação de novas lideranças.
- Que a DN eleita nesse Consinasefe escolha diretores que terão a tarefa de colaborar com a comissão de negociação
eleita no ESCIME mais recente na articulação nacional da nossa base lotada no Ministério da Defesa, enquanto não
houver uma coordenação nacional exclusiva para tal.
- Que o próximo ESCIME, a ser realizado em Vitória, eleja não somente uma comissão de negociação, mas sim uma
Comissão de Articulação Nacional, responsável por tornar nacional a luta sindical dentro do universo no Ministério da
Defesa.
- Que a DN dê mais suporte aos colégios ligados às forças armadas para tratar em nível nacional problemas legais
que não podem ser sanados pelas seções de cada unidade, como a tripartição das férias, a obrigatoriedade do exame
de contracheque e a imposição de compra e uso de uniforme, e tantos outros.
- Que o SINASEFE publique material de formação específico para a base lotada no Ministério da Defesa, levando em
conta suas especificidades.
- Que o SINASEFE publique material de campanha de filiação específico para a base lotada no Ministério da Defesa,
levando em conta suas especificidades.
- Que o SINASEFE assuma a campanha de fortalecer os servidores civis do Ministério da Defesa: CIVILIZAR OS
COLÉGIOS MILITARES!