Fluidos em Repouso

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

1

Aula 14.08.19
1.4 Fluidos em Repouso
Iniciaremos o estudo da hidrostática, a parte da mecânica que estuda os fluidos
(gases e líquidos) em repouso. Para tanto, considere um líquido de densidade 𝜌,
homogêneo e incompressível em equilíbrio. Para calcular a diferença de pressão entre
dois pontos no interior do líquido, basta imaginar um volume cilíndrico, cuja altura ℎ
seja ao longo da vertical à superfície com as bases contendo os pontos 1 e 2,
respectivamente. A área das bases pode ser qualquer: desde que elas estejam dentro do
fluido. Como o volume cilíndrico é estático, a força na base de baixo deve ser igual à
força na base de cima somada à forca peso devido ao volume de água dentro do
cilindro. Ou seja, como a massa do fluido é dada por 𝜌𝐴ℎ, obtém-se que (Figura 2).
𝐹2 − 𝐹1 = (𝜌𝐴ℎ)𝑔 (3)
Dividindo a Eq.3 pelo valor da área das bases, obtém-se que a pressões nos
pontos 1 e 2 estão relacionadas pela diferença de altura entre os dois pontos.
𝐹2 𝐹1 (4)
− = 𝜌𝑔ℎ ⇒ 𝑝2 = 𝑝1 + 𝜌𝑔ℎ
𝐴 𝐴
expressão que traduz o teorema de Stevin: A pressão em um ponto situado à
profundidade ℎ no interior de um líquido em equilíbrio é dada pela pressão na
superfície, exercida pelo ar, denominada pressão atmosférica, mais a pressão devida à
coluna de líquido situada acima do ponto e expressa pelo produto 𝜌𝑔ℎ.
Como consequência imediata do teorema de Stevin, pode-se concluir que todos os
pontos de uma mesma profundidade e pertencentes ao mesmo líquido possuem a mesma
pressão.

Figura 2 – No cilindro líquido ilustrado, uma força de intensidade 𝐹1 age na base superior e outra força de
intensidade 𝐹2 na base inferior.

O fato da pressão num líquido em repouso ser a mesma para dois pontos à mesma
altura (ou profundidade) é evidente nos vasos comunicantes, qualquer que seja a seção
do ramo, conforme indicado na Figura 3.

Figura 3 – Nos vasos comunicantes, qualquer que seja a seção do ramo as pressões são iguais, ou
seja, 𝑝𝐴 = 𝑝𝐵 = 𝑝𝐶 = 𝑝𝐷 .
2
1.5 Princípio de Pascal
Quando é exercida uma pressão num ponto de um líquido, essa se transmite a
todos os pontos do líquido. É o que ocorre, por exemplo, no freio hidráulico de um
automóvel, onde a pressão exercida pelo motorista no pedal se transmite até as rodas
através de um líquido (fluido de freio). Este fato é conhecido como princípio de Pascal:
“Os acréscimos de pressão sofridos por um ponto de um líquido em equilíbrio são
transmitidos integralmente a todos os pontos do líquido e das paredes do recipiente
onde está contido”.

Figura 4 – Princípio de Pascal aplicado num elevador hidráulico.


A Figura 4 mostra como o Princípio de Pascal como a base de funcionamento de
um elevador hidráulico. Seja uma força externa de módulo 𝐹1 , exercida sobre o lado
esquerdo (ou entrada) do pistão, cuja área é 𝐴1 . Para manter o sistema em equilíbrio,
um peso externo exerce uma força de módulo 𝐹2 sobre o lado direito (ou saída) do
pistão, cuja área é 𝐴2 . Pode-se escrever para a variação da pressão associada a estas
forças,
𝐹1 𝐹2
∆𝑝 = =
𝐴1 𝐴2
Logo,
𝐴2
𝐹2 = 𝐹1 (5)
𝐴1
A Eq.5 mostra que a força na saída é maior que na entrada, pois 𝐴2 > 𝐴1 .
1.6 Princípio de Arquimedes
Consta que foi Arquimedes quem verificou, durante um banho, que seu corpo
parecia pesar menos quando mergulhado em água. O líquido exerce no corpo uma força
𝐸⃗ (empuxo) vertical para cima de intensidade igual ao peso do líquido deslocado. Essa
conclusão é válida para corpos imersos em fluidos em geral, líquidos ou gases, e esse
fenômeno é regido pelo princípio de Arquimedes: “Todo corpo, total ou parcialmente
mergulhado num fluido, sofre a ação de uma força vertical dirigida para cima, de
intensidade igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo”.
Exercício 1.5
Em uma girafa adulta com a cabeça 2,00𝑚 acima do coração, que também se
encontra 2,00𝑚 acima do solo, a pressão manométrica (hidrostática) do sangue na altura
do coração é 250𝑡𝑜𝑟𝑟. Suponha que a girafa está de pé e a massa específica do seu
sangue é 1,06𝑔⁄𝑐𝑚3 . Determine a pressão arterial (manométrica) em 𝑡𝑜𝑟𝑟 (a) no cérebro
(a pressão deve ser suficiente para abastecer o cérebro com sangue) e (b) nos pés (a
pressão deve ser compensada por uma pele esticada que se comporta como uma meia
elástica). (c) Se a girafa baixasse a cabeça bruscamente para beber água, sem afastar as
pernas, qual seria o aumento da pressão arterial no cérebro?
Dado: 1𝑃𝑎 = 0,007500617𝑡𝑜𝑟𝑟.
Respostas: (a) 𝑝𝑐é𝑟𝑒𝑏𝑟𝑜 ≅ 94,2𝑡𝑜𝑟𝑟; (b) 𝑝𝑝é𝑠 ≅ 406𝑡𝑜𝑟𝑟; (c) ∆𝑝 ≅ 312𝑡𝑜𝑟𝑟.
3
Solução:
(a) A diferença da pressão arterial (manométrica) entre o cérebro e o coração da
girafa é:
𝑝𝑐é𝑟𝑒𝑏𝑟𝑜 = 𝑝𝑐𝑜𝑟𝑎çã𝑜 − 𝜌𝑔ℎ
1𝑡𝑜𝑟𝑟
𝑝𝑐é𝑟𝑒𝑏𝑟𝑜 = 250𝑡𝑜𝑟𝑟 − (1,06 × 103 𝑘𝑔⁄𝑚3 )(9,8𝑚⁄𝑠 2 )(2,00𝑚) ( ) ≅ 94,2𝑡𝑜𝑟𝑟
133,33𝑃𝑎
(b) A diferença da pressão arterial (manométrica) entre o coração e os pés da girafa
é:
𝑝𝑝é𝑠 = 𝑝𝑐𝑜𝑟𝑎çã𝑜 + 𝜌𝑔ℎ
1𝑡𝑜𝑟𝑟
𝑝𝑝é𝑠 = 250𝑡𝑜𝑟𝑟 + (1,06 × 103 𝑘𝑔⁄𝑚3 )(9,8𝑚⁄𝑠 2 )(2,00𝑚) ( ) ≅ 406𝑡𝑜𝑟𝑟
133,33𝑃𝑎
(c) Se a girafa baixasse a cabeça bruscamente para beber água, sem afastar as
pernas, o aumento da pressão arterial no cérebro seria de:
∆𝑝 = 𝑝𝑝é𝑠 − 𝑝𝑐é𝑟𝑒𝑏𝑟𝑜 = 406 − 94,2 ≅ 312𝑡𝑜𝑟𝑟
Este aumento de pressão provavelmente provocaria a morte da girafa.

Exercício 1.7
Qual seria a altura da atmosfera se a massa específica do ar (a) fosse uniforme e
(b) diminuísse linearmente até zero com a altura? Suponha que ao nível do mar a
pressão é 1,00𝑎𝑡𝑚, que a massa específica do ar é 1,30𝑘𝑔 ⁄𝑚3 . Respostas: (a) ℎ ≅
7,93𝑘𝑚; (b) ℎ ≅ 15,9𝑘𝑚.
Solução:
(a) A variação da pressão com a altura para um fluido incompressível (uniforme) é
dada por:
𝑝2 = 𝑝1 − 𝜌𝑔(𝑦2 − 𝑦1 )
Tomando o nível do mar como 𝑦1 = 0, então 𝑝1 = 1,00𝑎𝑡𝑚 = 1,01 × 105 𝑃𝑎, de modo que:
𝑝1 − 𝑝2
𝑦2 =
𝜌𝑔
No topo da atmosfera 𝑦2 = ℎ e 𝑝2 = 0. Assim:
𝑝1
ℎ=
𝜌𝑔
Substituindo os valores:
𝑝1 1,01 × 105 𝑃𝑎
ℎ= = ≅ 7,93 × 103 𝑚 ≅ 7,93𝑘𝑚
𝜌𝑔 (1,30𝑘𝑔⁄𝑚3 )(9,8𝑚⁄𝑠 2 )
(b) Considerando agora que a massa específica do ar diminua linearmente até zero
com a altura:
𝑦
𝜌 = 𝜌0 (1 − )

Onde 𝜌0 é a massa específica do ar ao nível do mar. Assim:

𝑝2 = 𝑝1 − ∫ 𝜌𝑔𝑑𝑦
0

𝑦
𝑝2 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 − ∫ 𝜌0 (1 − ) 𝑔𝑑𝑦
0 ℎ
4
ℎ ℎ
𝑦 𝑦2
𝑝2 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 − 𝜌0 𝑔 ∫ (1 − ) 𝑑𝑦 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 − 𝜌0 𝑔 [𝑦 − ]
0 ℎ 2ℎ 0
𝜌0 𝑔ℎ 𝜌0 𝑔ℎ 2(𝑝𝑎𝑡𝑚 − 𝑝2 )
𝑝2 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 − 𝜌0 𝑔ℎ + = 𝑝𝑎𝑡𝑚 − ⇒ ℎ=
2 2 𝜌0 𝑔
No topo da atmosfera 𝑝2 = 0. Assim:
2𝑝𝑎𝑡𝑚 2(1,01 × 105 𝑃𝑎)
ℎ= = ≅ 1,59 × 104 𝑚 ≅ 15,9𝑘𝑚
𝜌0 𝑔 (1,30𝑘𝑔⁄𝑚3 )(9,8𝑚⁄𝑠 2 )
Exercício 1.9
Se a pressão de uma prensa hidráulica for aumentada em 10𝑁⁄𝑐𝑚2, quanta carga
extra poderá ser sustentada no pistão de saída se sua área de seção transversal for igual
a 50𝑐𝑚2 ? Resposta: 500𝑁.
Solução:
Do princípio de Pascal:
𝐹2
∆𝑝1 = ∆𝑝2 ⇒ ∆𝑝1 =
𝐴2
𝐹2 = ∆𝑝1 ∙ 𝐴2 ⇒ 𝐹2 = (10𝑁⁄𝑐𝑚2 )(50𝑐𝑚2 ) = 500𝑁

Exercício 1.10
Um objeto de 5,00𝑘𝑔 é liberado a partir do repouso quando está totalmente
imerso em um líquido. O líquido deslocado pelo objeto tem massa de 3,00𝑘𝑔. (a)
Construa um diagrama de corpo livre indicando todas as forças que atuam sobre o
objeto. (b) Que distância o objeto percorre em 200𝑚𝑠 e em que sentido, supondo que se
desloca livremente e que a força de arrasto exercida pelo líquido é desprezível?
Resposta: (b) O objeto irá afundar 7,84𝑐𝑚.
Solução:
(a)

Supondo que o objeto se desloca livremente e que a força de arrasto exercida


pelo líquido seja desprezível e tomando o sentido para cima como positivo:
𝐸⃗ + 𝑚𝑔 = 𝑚𝑎 ⇒ 𝐸 − 𝑚𝑔 = 𝑚𝑎 ⇒ 𝑚á𝑔𝑢𝑎 𝑔 − 𝑚𝑔 = 𝑚𝑎
𝑚á𝑔𝑢𝑎 3,00𝑘𝑔
𝑎=( − 1) 𝑔 ⇒ 𝑎=( − 1) (9,80𝑚⁄𝑠 2 ) = − 3,92𝑚⁄𝑠 2
𝑚 5,00𝑘𝑔
O fato do valor da aceleração ser negativo indica o vetor aceleração é vertical para
baixo.
(b) Como a aceleração resultante sobre o objeto é constante, em 200𝑚𝑠 irá se
deslocar a distância vertical de:
1 1
𝑦 = 𝑎𝑡 2 ⇒ 𝑦 = (− 3,92𝑚⁄𝑠 2 )(200 × 10−3 𝑠)2 = −7,84 × 10−2 𝑚
2 2
Este resultado indica que o objeto irá afundar 7,84𝑐𝑚 em 200𝑚𝑠.
5
Exercício 1.12
Um objeto cilíndrico com 6,0𝑐𝑚 de altura flutua na água com seu eixo
perpendicular à superfície, com a altura da parte emersa do objeto igual a 2,0𝑐𝑚. A
partir dessas informações, determine a densidade do cilindro?
2
Resposta: 𝜌𝑜𝑏𝑗𝑒𝑡𝑜 = 3 𝜌á𝑔𝑢𝑎 ≅ 0,67𝑔⁄𝑐𝑚3.
Solução:

O objeto está flutuando na água, de modo que:


𝐸⃗ + 𝑚𝑔 = 0 ⇒ 𝐸 − 𝑚𝑔 = 0 ⇒ 𝐸 = 𝑚𝑔
Como 𝐸 = 𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑉𝑖 𝑔 e 𝑚 = 𝜌𝑜𝑏𝑗𝑒𝑡𝑜 𝑉𝑔:
𝑉𝑖
𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑉𝑖 𝑔 = 𝜌𝑜𝑏𝑗𝑒𝑡𝑜 𝑉𝑔 ⇒ 𝜌𝑜𝑏𝑗𝑒𝑡𝑜 = 𝜌
𝑉 á𝑔𝑢𝑎
2
Como 𝑉𝑖 = 3 𝑉:
2
𝜌𝑜𝑏𝑗𝑒𝑡𝑜 = 𝜌
3 á𝑔𝑢𝑎

Você também pode gostar