Escola, Família e Comunidade

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Escola, Família

e Comunidade
Material Teórico
Instituições Sociais: Família, Escola e Comunidade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.a Me. Janaina Pinheiro Vece

Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni
Instituições Sociais:
UNIDADE Família, Escola e Comunidade

• Escola, família e comunidade: transformações e influências históricas

• Antiguidade: o berço da civilização

• Idade Média: do feudalismo à religiosidade

• Tempos Modernos: revoluções e transformações

• Contemporaneidade: Revolução Industrial

• Escola, família e comunidade: aspectos atuais e legislativos

• Onde tudo começa: a família

• Para além dos muros de casa: a escola

• Para além dos muros da escola: a comunidade

Nesta primeira unidade da disciplina Escola Família e


Comunidade, vamos aprofundar nossos conhecimentos acerca
do processo histórico que determinou o desenvolvimento
Objetivo de
APRENDIZADO

dessas instituições sociais e do contexto atual em que elas estão


inseridas. Vamos, também, estudar os aspectos legislativos que
definem o papel de cada uma delas e verificar a importância da
relação entre a Escola, Família e Comunidade..

Conte com o tutor para qualquer situação em que sua interferência seja necessária. Lembre-
se de que o seu desempenho depende de uma rotina de estudo organizada e, principalmente,
da sua responsabilidade

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Unidade: Instituições Sociais - Família, Escola e Comunidade

Contextualização

Explore

Para darmos início à unidade I, convido você a refletir sobre o tema Escola, Família e Comunidade.
Assista ao clipe da música Another Brick In The Wall, que fez sucesso na década de 70, com a
banda de rock Pink Floyd. Nessa produção, o grupo inglês protesta contra a rígida educação escolar
da época. Vale a pena conferir clicando no link:

https://youtu.be/vrC8i7qyZ2w

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Nesta primeira unidade da disciplina Escola, Família e
Comunidade, inicialmente, serão apresentados os aspectos
históricos que constituíram as definições das instituições
sociais e os papéis exercidos por elas ao longo da história.
Serão situados os tempos históricos e as transformações
em relação à Escola, Família e Comunidade além dos
aspectos legislativos que fundamentam o atual momento
do cenário social, educacional e familiar. Para tanto, o
texto será organizado em dois grandes títulos:

• Escola, Família e Comunidade: transformações e influências históricas


• Escola, Família e Comunidade: aspectos atuais e legislativos.

Escola, família e comunidade: transformações e influências históricas

Para compreendermos o papel da escola, da família e da


comunidade no cenário atual, faz-se necessário reportarmo-
nos ao passado, analisando brevemente a trajetória dessas
instituições sociais ao longo da história. Durante leitura,
trar
aproveite para regis
r
De acordo com Franco Cambi (1999, p.35) “A história é o os aspectos que acha
an te s e as
exercício da memória realizado para compreender o presente mais import
m.
e para nele ler as possibilidades do futuro [...]”. Com essa dúvidas que surgire
Boa leitura!
perspectiva pretende-se situar o leitor nos grandes tempos
históricos que marcaram o desenvolvimento da humanidade
e apresentar as influências das diferentes épocas que
repercutiram nos âmbitos escolar, familiar e social.
Para Cambi (1999), a história é um organismo em que o antes condiciona o depois. Dessa
forma, a Antiguidade condicionou a Idade Média, que, por sua vez, condicionou a Época
Moderna, a qual conduziu a humanidade à Contemporaneidade. Tais cenários históricos
constituem-se como referência para revisitarmos o passado e compreendermos o presente.

Antiguidade: o berço da civilização

Segundo Cambi (1999), a Antiguidade, influenciada pela cultura Ocidental, foi centrada no
ser humano e marcada pela relevância dada à vida cotidiana. Nesse contexto, destacaram-se
as civilizações concentradas na região do Mediterrâneo, como Grécia e Roma, que expandiram
sua cultura e influenciaram a educação de outros povos.

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Unidade: Instituições Sociais - Família, Escola e Comunidade

O Mediterrâneo, como centro de intercâmbio, concentrou um pluralismo de povos e


culturas, de religiões e de conhecimentos contexto, porém permeado por lutas políticas, de
classes, de etnias, de domínio e de hegemonia. A educação, no mundo antigo, configurou-se
como uma educação por classes, diferenciada por papéis e funções nos grupos sociais.
Em grande parte do período da Antiguidade, a educação desenvolveu-se com base no
princípio educativo da Paideia.
Segundo Cambi (1999), o princípio da Paideia guiava todas as instituições educativas da
época. Quanto aos marginalizados, a responsabilidade da educação era incumbida à família,
caracterizada como patriarcal, autoritária e disciplinar. Aos familiares cabia a formação para o
trabalho manual, que era desvalorizado pela sociedade.
A escola, neste período, era privilégio de poucos e oferecia, estritamente, a educação para o
trabalho intelectual, ou seja, a educação retórica, típica daqueles que exerciam o poder.
Tal diferenciação entre educação para o trabalho e educação intelectual revela, nitidamente,
a distância que separava dominantes e dominados na Antiguidade.

Idade Média: do feudalismo à religiosidade


Mosteiros, castelos, igrejas e senhores feudais reportam-nos à Idade Média. De acordo com Franco
Cambi (1999), essa época foi marcada pela vida arcaica baseada na economia de subsistência,
no trabalho quase que escravo e nas migrações de povos e nos conflitos étnicos culturais. Na Era
Medieval, a sociedade concentrava-se no valor religioso e no autoritarismo da Igreja.
Na Idade Média, a organização social estruturava-se em torno dos feudos. O feudo era
uma unidade territorial, governada por um senhor feudal, que impunha aos habitantes a
obrigação de fidelidade e submissão em troca de proteção. Tratando-se de uma sociedade
fixa, a cultura, estritamente religiosa, desenvolvia-se no castelo do feudatário ou nas igrejas
e, sobretudo, nos mosteiros.
De acordo com Cambi (1999), a educação, nesse período, organizou-se em instituições – como
família e Igreja – que tinham como função disseminar os valores cristãos. A família, no período
medieval, tinha característica ampla e dispersa, ou seja, era composta por núcleos, dirigida pelo
pai e constituída mais por interesses econômicos do que propriamente por laços afetivos.
Na idade Média, a educação destinada à nobreza divergia daquela que era oferecida ao povo,
pois empregavam modelos, processos e práticas de formação diferentes, deixando evidente o
dualismo existente entre as classes inferiores e superiores.

Explore

Confira o filme “O Nome da Rosa”, que apresenta a história ocorrida no ano de 1327 – Século XIV
– num Mosteiro Beneditino Italiano e que retrata todo contexto da Idade Média.
https://goo.gl/uV9pfh

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Tempos Modernos: revoluções e transformações
A Modernidade, conhecida como a era da ruptura em relação à Idade Média, foi marcada
por fortes transformações sociais, econômicas, políticas e educacionais. Para Cambi (1999),
a Modernidade é uma época histórica com características orgânicas e complexas na qual
se deu a reconstrução de uma sociedade nova, mais livre e mais coesa. Esse período deu
origem a um sistema organizado que tinha como eixo o indivíduo, a eficiência no trabalho
e o controle social.
Segundo Franco Cambi (1999, p.197), a Idade Moderna:
Como revolução social, promove a formação e a afirmação de uma nova
classe: a burguesia, que nasce nas cidades e promove o novo processo
econômico (capitalista), assim como delineia uma nova concepção de
mundo (laica e racionalista) e novas relações de poder (opondo-se à
aristocracia feudal e aliando-se à coroa, depois entrando em conflito
aberto também com esta e com o seu modelo de Estado-patrimonial e de
exercício absoluto de poder).

A dimensão antropocêntrica passou a ser a ideia central desse momento histórico, ou


seja, o homem era visto como centro do mundo. A atenção à natureza trouxe princípios
metodológicos e científicos mais rigorosos, que levaram, a partir da observação e da dedução,
ao avanço de estudos e pesquisas.
No âmbito político, com o surgimento do Estado moderno, as cidades passaram a ser
controladas pelo código estatal, pelo domínio racional da sociedade civil e pelas instituições
responsáveis por uma educação articulada entre famílias, escolas e outras associações. Dessa
forma, a ética, ligada à natureza e às suas leis, à sociedade e aos seus fins, tornou-se reguladora
dos princípios de harmonização e conformação do sujeito com o meio social.
Segundo Cambi (1999), a educação Moderna sofreu os reflexos da reforma político-
religiosa, que contrapôs à desordem disciplinar e à corrupção moral, que dominavam a
Idade Média, a mentalidade racional e humana, passando da visão religiosa de mundo para
um processo de laicização.
Nesse contexto, além da família, da Igreja e da escola, surgiram outras instituições, como
hospitais, prisões e manicômios, responsáveis pela ordem, conformação e produtividade. Assim,
tanto a família quanto a escola, nesse momento, sofreram profunda reorganização, centralizando
suas ações na formação dos indivíduos e assumindo, ao lado de sua função de cuidar do sujeito
e do seu crescimento, também a responsabilidade da formação pessoal desse indivíduo, visando
à própria reprodução da sociedade.
Dessa forma, na Modernidade, a instituição familiar passou a ser constituída por um único
núcleo parental, estruturado com mãe, pai e filhos, e a assumir o dever de educar para a
sociedade. Em paralelo, a escola, fazendo uso de uma didática apropriada para reorganizar e
racionalizar o controle do trabalho escolar, que disciplina desde o corpo até o tempo, instruía e
formava o indivíduo com a única função de servir como um “aparato ideológico do Estado”,
como bem aponta Cambi (1999).

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Unidade: Instituições Sociais - Família, Escola e Comunidade

Contemporaneidade: Revolução Industrial


A Idade Contemporânea nasceu com a Revolução Francesa, que trouxe, em seu bojo,
um processo novo caracterizado pela inquietação, renovação e abertura para o futuro. Nesse
momento, o pluralismo de grupos sociais, de interesses e de projetos traduzia a hegemonia
construída pragmaticamente por meio de conflitos.
Na Contemporaneidade deu-se início à expansão da industrialização, dos direitos das
massas e da democracia. Essa época foi marcada pelas grandes migrações, por deslocamentos
ideológicos, lutas de classes duríssimas e frontais que o Estado não conseguia conter e orientar.
Dessa forma, a Era Contemporânea foi marcada por manifestações de rebeldia e de profunda
tensão entre as massas e a elite.
Segundo Cambi (1999), foi nesse momento que nasceu um organismo político-social
que previa a participação civil e política de todos, com intuito de promover, pelo menos
teoricamente, a igualdade de oportunidades para o povo.
No mundo contemporâneo, a família está ao lado da escola e é vista como a primeira
instituição educativa e natural, que deve agir tendo em vista o bem da sociedade, assumindo
os valores éticos e afetivos que eram dispensados na Idade Moderna. No entanto, a instituição
familiar contemporânea ainda carrega o controle dos valores tradicionais que a sustentam e o
próprio autoritarismo que a acompanha ao longo da história.
De acordo com Cambi (1999, p.381):
A contemporaneidade é também a época da educação e de uma educação
social que dá substância ao político (enquanto a política é governo dos
e sobre os cidadãos), mas que também se reelabora segundo um novo
modelo teórico, que integra ciência, filosofia, experimentação e reflexão
crítica, num jogo complexo e sutil.

Tendo a sociedade contemporânea a necessidade de uma ideologia própria, a escola


aparece como aquela que promove a unificação social, exercendo o papel de socializadora. A
escola passou a ser de responsabilidade do Estado, sendo obrigatória para todos, atendendo
a finalidades coletivas e objetivos sociopolíticos. Dessa forma, o vínculo entre educação e
sociedade aparece como uma das principais problemáticas da Contemporaneidade, na medida
em que a educação passou a apresentar um profundo envolvimento social e político bem como
uma forte relação com a ideologia vigente.

Em Síntese
Antiguidade
Sociedade: Civilizações Mediterrâneas (Pluralismo cultural).
Escola: Previlégio de poucos (Trabalho intelectual - Paideia).
Família: Patriarcal, autoritária e disciplinar responsável pela educação
para o trabalho.

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Idade Média
Sociedade: Feudalismo x Igreja Católica (Estática unificada).
Escola: Oferecida apenas para a Nobreza (Igreja).
Família: Patriarcal, diversa, responsável pela educação religiosa por meio
do autoritarismo

Idade Moderna
Sociedade: Estado Capitalista (Burguesia);
Escola: Controle e unificação social (Ideologias);
Família: Núcleo familiar (mãe, pai e filho). Responsável pela formação social.

Idade Contemporânea
Sociedade: Democracia participação social de todos;
Escola: Função social - Democratização do Ensino;
Família: Primeira instituição natural responsável pela formação integral
(biológica, social e psíquica).

Escola, família e comunidade: aspectos atuais e legislativos

Assim como ocorre com a história, quanto mais conhecemos as leis e seus contextos,
mais compreendemos as lutas sociais e a evolução histórica das constituições que regem a
sociedade. Sendo assim, este item do texto abordará como a atual legislação apresenta a Escola,
a Família e a Comunidade e qual o papel de cada uma dessas instituições, principalmente, no
desenvolvimento psicossocial da criança.
Os documentos legislativos que regulamentam a garantia de direitos e os deveres dos
cidadãos brasileiros, tais como a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases (LDB – Lei n.º 9.394/96) e a Política Nacional
de Educação em Direitos Humanos (2010), entre outros, contêm os pressupostos que explicitam
os princípios das Políticas Públicas aplicadas na realidade atual.
No entanto, os documentos legislativos que fundamentam este estudo são a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional 9.394/96 (LDB) e o Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 – o ECA, que refletem a busca pela garantia de direitos e deveres
numa sociedade democrática.

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Unidade: Instituições Sociais - Família, Escola e Comunidade

Onde tudo começa: a família


Na revisão histórica que acabamos de fazer, foi possível identificar que, inicialmente, a
família era uma instituição basicamente patriarcal, autoritária e desprovida de vínculos afetivos
que além de se responsabilizar pela educação para o trabalho também reproduzia a formação
religiosa empregada pela Igreja Católica.
A evolução da humanidade levou à reorganização e redefinição do papel da família na
sociedade, que passou a se constituir como núcleo afetivo e primeiro na formação do sujeito.
Atualmente, mesmo que os núcleos familiares sejam diversos, é no meio familiar que se dá o
pleno desenvolvimento do cidadão.
A esse respeito, o Artigo 2º da LDB 9.394/96 reconhece que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade


e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Consoante a LDB 9.394/96, o ECA (1990), no Título I das Disposições Preliminares no


Artigo 4º, destaca:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Observa-se que os desdobramentos históricos e as lutas sociais conquistaram um contexto


que garante, atualmente, à criança e ao adolescente o direito de ser reconhecido como
sujeito biopsicossocial, cabendo à família, neste cenário atual, assegurar, em conjunto com
as demais instituições, a condição necessária para o desenvolvimento biológico, psíquico e
social de suas gerações.

Explore

Para saber mais sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e sobre a importância e a função da
família, acesse o link abaixo, que lhe dará acesso a depoimentos de crianças a respeito do ECA.
https://youtu.be/vf_0AOn2QDc

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É perceptível que a responsabilidade familiar ampliou-se ao longo da história, pois,
no passado, sua função oscilava apenas entre o trabalho e os princípios religiosos. Numa
dinâmica orgânica, tais transformações refletem o resultado de lutas e conquistas que têm
sua origem nos tempos mais remotos do século XXI. Na verdade, a família tem ocupado
papel central neste século, como se pode verificar no Art. 19 do ECA (1990), que prevê o
direito à convivência familiar:

Art. 19 – Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio
da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias de entorpecentes.

A análise, cuidadosa e crítica, dos aspectos legislativos permite observar que a função familiar
ainda se submete, mesmo que de forma inconsciente, aos princípios Estatais, desempenhando
também o papel de reprodutora do Estado. A liberdade e os ideais de solidariedade humana,
preconizados na LDB 9.394/96, servem de exemplo dos “ideais” do Estado, que também
interferem na educação familiar.

Para além dos muros de casa: a escola


A educação, como dever da família e do Estado, é garantida pelo artigo 205 da Constituição
Federal de 1988, segundo o qual a educação tem por finalidade garantir aos educandos
desenvolvimento intelectual e social, tornando-o consciente de seu papel enquanto cidadão e
também preparando-o para o mundo do trabalho.
É importante destacar que a LDB 9.394/96 reconhece além da escola, como responsável
pelo processo formativo, também outras instituições. Acerca da educação, a lei prescreve:

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida


familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,
nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Os parágrafos 1º e 2º da LDB 9.394/96 apresentam a educação escolar como responsabilidade


da escola, ou seja, ela deve ser desenvolvida em instituições próprias, ligadas estritamente ao
mundo do trabalho e à prática social.

§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente,


por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.

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Unidade: Instituições Sociais - Família, Escola e Comunidade

A educação escolar vincula-se ao crescimento contemporâneo, uma vez que age nos âmbitos
social, político e econômico; é realizada por uma escola em constante transformação que procura
respostas para as situações sociais, culturais e de mercado de trabalho. Nessa perspectiva, a
escola não é neutra, mas sim partidária de ideologias que vigoram na sociedade e no Estado.
De acordo com Paulo Freire (2002, p.124), “É impossível, na verdade, a neutralidade da
educação”. Para que a educação fosse neutra seria preciso que não houvesse discordância
nenhuma entre as pessoas com relação aos modos de vida individual e social, com relação ao
estilo político e aos valores a serem ensinados.
Submersa numa sociedade de direitos e deveres, a educação escolar, no Brasil, é baseada
nos seguintes princípios:

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:


I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte
e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Muitos dos princípios que regem a LDB 9.394/96 reconhecem a escola como um espaço
de formação de cidadãos de uma sociedade plural e miscigenada como a do Brasil. Além
disso, também valorizam a democratização do ensino, prevendo, por lei, a igualdade de
condições para o acesso, permanência, gratuidade, gestão democrática e garantia do padrão
de qualidade para todos.
Assim como a LDB 9.394/96 assegura o direito à educação escolar, o ECA (1990) também
destaca, no Capítulo IV, que:

Art. 53 – A criança e o adolescente têm o direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para o trabalho.

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Face às demandas e aos desafios colocados pela sociedade atual, as funções historicamente
delineadas para a escola modificaram-se e passaram a exigir novos olhares para a prática da
educação, o que implica rever conceitos e assumir posturas dialógicas e articuladas, determinando
novos acordos entre a escola, família e comunidade. Sabendo-se que há, ainda, um longo
caminho entre o escrito e o praticado, a lei pode ser considerada, neste caso, como o primeiro
passo rumo à concretização dos ideais de uma sociedade democrática.

Para além dos muros da escola: a comunidade


Os fatos históricos revelam que as lutas e conquistas sociais culminaram na elaboração
e criação de normas jurídicas orientadas por ideologias, ideais e desejos de construção de uma
sociedade mais justa e igualitária.
No Brasil, na década de 1980, quando se iniciou o processo de redemocratização do
país, ocorreram mudanças significativas nos diferentes setores da sociedade e, obviamente, nas
comunidades que a constituíam.
A Constituição Federal de 1988, nesse sentido, representa um marco legal que rege a
vida política do povo brasileiro, sendo considerado um divisor de águas na história do Brasil
para a conquista, pelos cidadãos, dos direitos reconhecidos nacionalmente.
O preâmbulo da Constituição de 88 apresenta:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte


para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e
sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias [...]

O texto do preâmbulo deixa clara a intenção de garantia, a todos os brasileiros, da efetivação


de seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais e ambientais, responsabilizando os setores
públicos, que devem se organizar, pelo cumprimento da lei.
É importante ressaltar que construir uma sociedade democrática não é tarefa apenas para
um plano de governo ou para uma gestão pública; a prática da democracia é construída no
cotidiano e vivenciada em todos os espaços possíveis na sociedade. Desse modo, cabem às
instituições formativas exercer a democracia, a fim de que possam ter como resposta ações
democráticas.
Em pleno século XXI, tanto a família quanto a escola estão inseridas num contexto complexo
de novas demandas e emergências sociais, educativas, políticas e culturais que trazem à tona
temáticas como o feminismo, a ecologia e o aspecto intercultural. Nesse sentido, o Plano Nacional
de Educação em Direitos Humanos (2010) tem o seguinte princípio:

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Unidade: Instituições Sociais - Família, Escola e Comunidade

A educação em direitos humanos, sobretudo no âmbito escolar, deve ser concebida


de forma articulada ao combate do racismo, sexismo, discriminação social, cultural
religiosa e outras formas de discriminação presentes na sociedade brasileira.

Com uma política nacional de direitos humanos, a comunidade da qual fazemos parte
aperfeiçoou suas condições de cidadania, tornando-se protagonista política e social, numa
sociedade cada vez mais móvel e num mercado de trabalho cada vez mais globalizado, em
expansão e em constante transformação.
Vale destacar que a comunidade que está além dos muros da escola revela-se, atualmente,
mais consciente e capaz de participar da vida pública, mostrando-se preparada para o pleno
exercício da democracia, o que demonstra que, mais uma vez, tanto a escola quanto a família
necessitam de rever os seus papéis.

Em Síntese
Legislação
• Constituição Federal de 1988
• LDB 9.394/96
• ECA (1990)

Comunidade
• Cidadãos de direitos
• Democrática
• Complexa

Escola
• Para todos
• Articulada ao mundo do
trabalho e às práticas sociais

Familia
• Nucleo afetivo e plural
• Dever de educar

Glossário
Paideia: formação do homem através do contato orgânico com a cultura.

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Material Complementar

Neste espaço você encontra sugestões de material complementar ao conteúdo desenvolvido


na unidade 1. Aproveite para aprofundar e sistematizar os conhecimentos sobre a construção
histórica das instituições sociais assim como sobre os documentos legislativos que as embasam.

Explore

O vídeo Família e Educação na Sociedade de Consumo apresenta o encontro de pesquisadores


renomados, como Rosely Sayão, Julio Groppa Aquino e Yves De La Taille, que discutem acerca da
função da família no mundo contemporâneo. Você verá que as discussões que se desenrolam no
vídeo abordam, de forma crítica e reflexiva, o conteúdo tratado no material teórico desta unidade.
https://youtu.be/GZU1OYprGns

Explore

Caro aluno, acessando os links abaixo, você terá a oportunidade de ler, na integra, em sites oficiais,
as leis apresentadas na Unidade I.
Lembre-se: em caso de dúvida não deixe de consultar o tutor!

LDB
https://goo.gl/oXee3

ECA
https://goo.gl/UdwKV

Constituição Federal
https://goo.gl/NyLnS1

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Unidade: Instituições Sociais - Família, Escola e Comunidade

Referências
BRASIL, Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Promulgada
em 5 de outubro de 1988.

________. ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8069/90, de 13 de


julho de 1990. Brasília, 1990.

________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394, de


dezembro de 1996. Brasília, 1997.

________. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Plano Nacional de Ed-


ucação em Direitos Humanos. Brasília, DF, 2010.

CAMBI, Franco – História da pedagogia / Franco Cambi: tradução de Álvaro Lor-


encini. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

18
Anotações

19
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000
Escola Família e
Comunidade
Material teórico
Escola, Família, Comunidade e os Direitos Fundamentais

Responsável pelo Conteúdo:


Profª. Me. Janaina Pinheiro Vece

Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profª. Esp Vera Lidia de Sa Cicaroni
Escola, Família, Comunidade e os
Direitos Fundamentais

Caro aluno,

Nesta segunda unidade, serão discutidos os direitos humanos


fundamentais e como as instituições Escola, Família e
Comunidade lidam com a situação que se apresenta e
garantem esses direitos. Vamos aprofundar nossos
conhecimentos acerca desses temas a partir de duas
referências importantes: a Declaração Universal dos Direitos
Humanos e o Programa Nacional de Direitos Humanos.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

Leia as charges abaixo:

Clauro Joel Almeida

As charges apresentam uma crítica em comum: além da ignorância da sociedade em


relação aos direitos humanos, a crítica também expõe o descaso das autoridades competentes
para com as condições mínimas de sobrevivência, como: moradia, saúde, educação, lazer,
entre outras. Afinal, como falar em direitos humanos se muitos não os usufruem?!

As charges ainda se referem à ignorância daqueles que, de fato, desconhecem os


direitos fundamentais da humanidade.

A linguagem humorística procura nos conscientizar da importância de conhecermos os


nossos direitos não só como cidadãos, mas também como profissionais da educação.
Material Teórico

Nesta Unidade II, serão abordados os direitos fundamentais da humanidade e o papel


de cada instituição – Escola, Família e Comunidade – na propagação e preservação
desses direitos. Este texto está fundamentado em duas referências principais: a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e o Programa Nacional de
Direitos Humanos (2009). O conteúdo teórico parte de uma abordagem geral dos
movimentos e ações que ocorreram mundialmente para uma análise mais específica das
medidas nacionais brasileiras que se referem aos direitos humanos.

Boa leitura!

Para ter acesso às principais referências desta unidade, acesse os links:


Declaração Universal dos Direitos Humanos
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf
Programa Nacional de Direitos Humanos
https://goo.gl/Mz2ivL

Direitos Fundamentais: Igualdade e Liberdade

É inegável que a História, como ciência, explica a atual condição humana. Afinal, a
organização da sociedade do século XXI é decorrência dos fatos passados.

Desde a Antiguidade, a desvalorização dos direitos humanos e o desrespeito a eles têm


estado presentes nas relações sociais. De acordo com Edgar Morin (2002, p.36), “O homem
surgiu marginalmente no mundo animal e seu desenvolvimento marginalizou-o ainda mais”. A
citação de Morin (2002) revela que, apesar de a humanidade ter se desenvolvido política e
economicamente, a condição de vida do ser humano e as relações sociais sempre foram
preocupações constantes e legitimadas ao longo da história.

Há, praticamente, dois séculos, a relação entre Estado e Sociedade tem dominado o
planeta. Essa relação tem se organizado numa identidade que, ao mesmo tempo, é territorial,
política, cultural, histórica, mística e religiosa. Em meio a essa relação complexa reside a
condição do homem que consiste em direitos civis, econômicos, sociais, culturais e
ambientais.
Para Edgar Morin (2002), a atual condição humana é resultado de uma sociedade
universal, que é, ao mesmo tempo, biológica e totalmente cultural. Nessa perspectiva, as
mobilizações mundiais em favor dos direitos da humanidade defendem o princípio da
identidade nacional, continental e planetária.

A criação da Organização das Nações Unidas, a ONU, é um exemplo dessa


necessidade universal de direitos. A ONU é uma organização internacional formada por
países, reunidos voluntariamente, que lutam e prezam pela paz e pelo desenvolvimento
mundial.

De acordo com o site da ONU no Brasil (2012):

Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos,


independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer
outra condição. Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à
liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e
muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem discriminação.

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Assista ao vídeo A ONU é seu Mundo e saiba mais sobre a Organização:
http://www.youtube.com/watch?v=Ln9NtMjmt-o

Os direitos humanos são estabelecidos por um conjunto de normas universais e


específicas das nações. A seguir apresenta-se a análise da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948) e do Programa Nacional de Direitos Humanos (2009), procurando destacar,
principalmente, como a Escola, a Família e a Comunidade têm adotado e praticado as
normas estabelecidas por esses documentos.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) foi pensada para delinear os
direitos básicos dos cidadãos do mundo inteiro. Seus ideais foram construídos após a Segunda
Guerra Mundial, que terminou no ano de 1945. Sua elaboração contou com a participação de
mais de 50 representantes de diferentes países, e foi adotada e proclamada em 10 de
dezembro de 1948 pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Embora não represente obrigatoriedade legal, o documento é a principal referência
sobre o assunto no mundo, pois pressupõe um ideal comum a ser atingido por todos os povos
e todas as nações, com o intuito de que os cidadãos e os órgãos sociais se esforcem, por
intermédio da educação, para valorizar e respeitar os direitos e a liberdade dos seres
humanos.

Historicamente outras mobilizações aconteceram contra a desvalorização da condição


humana. A maior parte delas foi realizada pós-revoluções e guerras mundiais. A Declaração
de Direitos Inglesa, de 1689, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e
a própria criação da ONU, no ano de 1945, são exemplos das manifestações que ocorreram
antes da Declaração Universal.

Informação
Que segundo o Guinness Book of World Records, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é
o documento traduzido para o maior número de línguas?

Em Dezembro de 2012, o site oficial da Declaração Universal dos Direitos Humanos informou a
existência de 403 traduções disponíveis!

Afinal, o que diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos?


O Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) apresenta a
seguinte introdução:
A ASSEMBLEIA GERAL proclama a presente DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
DIRETOS HUMANOS como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas
as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo
sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por
promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e
a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-
Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Na introdução do documento, é possível destacar alguns ideais presentes nessa


declaração: a universalização dos direitos; a parceria internacional; o estreitamento da relação
entre sociedade civil e Estado; e, por fim, o ensino e a educação como meio de formar
cidadãos conscientes de seus direitos e respeitosos à liberdade.

Os ideais concebidos pelo documento mostram, principalmente, que a sociedade


mundial evoluiu no que se refere aos laços entre Nações e o Estado, diferindo do modelo
fragmentado e desarticulado presente na Antiguidade e nas Idades Média e Moderna.
Os 30 artigos que compõem a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
foram desenvolvidos considerando:

 o reconhecimento da dignidade de todo ser humano como fundamento da liberdade, da justiça


e da paz no mundo;
 a crença da liberdade como a mais alta aspiração da humanidade;
 a necessidade de que os direitos humanos sejam protegidos por lei, sendo essa medida
essencial para repelir a tirania e a opressão;
 a promoção e o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações;
 a fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na
igualdade de direitos entre homens e mulheres como progresso nas relações universais;
 a necessidade de que os Estados-Membros se comprometam, com a colaboração das Nações
Unidas, a promover a observância desses direitos e liberdades;
 a importância da compreensão comum dos direitos e liberdades da humanidade para o pleno
cumprimento desse compromisso.

Fundamentados nessas considerações, os artigos apresentam, detalhadamente, os


direitos e liberdades, sem distinção de espécie, preservando a consciência de igualdade e
liberdade. A Declaração Universal defende que todo ser humano tem direito ao trabalho, que
a escravidão e o tráfico de escravos são proibidos em todas as suas formas e que todo
indivíduo tem direito à proteção da lei contra interferências ou ataques à sua vida privada.
Nos artigos também são apontados o direito à nacionalidade, à segurança, à constituição
familiar, ao repouso e lazer e à participação livre da vida cultural da comunidade.

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Assista ao vídeo produzido em Portugal que sintetiza os 30 artigos apresentados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948):
https://www.youtube.com/watch?v=cs5-rbwUGQQ

A seguir são destacados os direitos relacionados aos ambientes escolar, familiar e


comunitário, sendo estes apresentados com mais profundidade.

No Artigo 16, no Item 3, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) adverte
que “A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da
sociedade e do Estado”.
Ao conceber a família como núcleo natural e fundamental da sociedade, o documento
revela a concepção familiar da Era Contemporânea. No contexto contemporâneo, a família é
considerada a primeira instituição natural responsável pela formação integral do seu membro,
o que incluí os fatores biológicos, sociais e psíquicos.

O Item 1 do Artigo 26 destaca:

Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução
técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está
baseada no mérito.

Essa asserção de que “Todo o ser humano tem direito à instrução” deixa nítida a
superação de educação elitista e seletiva que vigorava nas eras anteriores e propõe a oferta
democrática do ensino. Observa-se que a Educação, no século XXI, é pautada no princípio de
igualdade.

Para a preservação e garantia do direito à educação, a Organização das Nações Unidas


para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO - na Conferência Mundial de Jomtien,
Tailândia, realizada entre 5 e 9 de março de 1990, proclamou a Declaração Mundial sobre a
Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem.

O manifesto sobre a Educação para Todos surgiu posteriormente à Declaração


Universal dos Direitos Humanos (1948), em decorrência da observação de que, apesar de
quarenta anos de esforços para assegurar o direito à educação, a realidade ainda mostrava
um quadro muito precário, com altas taxas de analfabetismo, dificuldade no acesso ao ensino
fundamental e um índice significativo de evasão escolar.

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Para saber mais sobre a Declaração de Jomtien, acesse o site oficial da representante da
UNESCO no Brasil:
http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf

O Item 1 do Artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos(1948) diz:

Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da


comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus
benefícios.
Esse item revela a importância que a comunidade tem sobre a formação cultural do ser
humano; mostra que o contato social, neste século, vai além das relações de trabalho e
religiosas que prevaleciam nos tempos passados. As relações familiares, sociais, profissionais e
religiosas são valorizadas como intercâmbios que colaboram para o desenvolvimento
biopsicossocial do sujeito, respeitando o direito à liberdade de ir e vir.

No entanto não se deve supor que vivemos numa sociedade plena de direitos, pois o
Item 1, do Artigo 29, determina que “Todo ser humano tem deveres para com a comunidade,
na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível”.

Dessa forma, considera-se que, para garantir e cumprir os direitos fundamentais à


humanidade, também é preciso compreender os deveres que os cidadãos têm para com a
sociedade.

Sintetizando:

Figura 1 - Organograma elaborado pela autora


Programa Nacional de Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) foi idealizada considerando:

(...) que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as


Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e
a observância desses direitos e liberdades.

Sendo o Estado responsável por observar e acompanhar a garantia dos direitos


humanos, cabe a ele criar medidas para o cumprimento de seu papel. No Brasil, o Programa
Nacional de Direitos Humanos (2009) - PNDH - é um exemplo dessa ação, envolvendo os
Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública.

O ano de 1996 data o lançamento do primeiro Programa Nacional de Direitos


Humanos – PNDH-1. Seis anos depois, revisado, atualizado e ampliado com a incorporação
dos direitos econômicos, sociais e culturais, o PNDH-2 foi publicado em 2002. O PNDH-3 é a
versão atual, que foi editada no ano de 2009.

A idealização do PNDH-3 (2009) foi baseada no debate público da 11ª Conferência


Nacional dos Direitos Humanos no Brasil em decorrência da comemoração dos 60 anos da
Declaração Universal.

O PNDH-3 (2009) representa um roteiro para a constituição de uma sociedade livre,


igual e fraterna. O diálogo entre Estado e sociedade civil consolida o fortalecimento da
democracia no país, assim como reafirma a universalidade, indivisibilidade e interdependência
dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais.

Embora o PNDH-3 (2009) estabeleça coerência com os princípios e ideais da ONU,


sua publicação, nos meados de 2009, foi palco de muitas controvérsias e críticas da sociedade
civil ao governo vigente, por isso foi expedido pelo Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de
2009, e atualizado pelo Decreto nº 7.177, de 12 de maio de 2010.

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Confira a reportagem que retrata as contestações da sociedade civil ao PNDH-3 (2009):
https://www.youtube.com/watch?v=E8vThYlrSms
O PNDH-3 (2009) está organizado em Eixos Orientadores:
 Eixo I – Interação Democrática entre Estado e sociedade civil.
 Eixo II – Desenvolvimento e Direitos Humanos.
 Eixo III – Universalização dos Direitos em um Contexto de Desigualdades.
 Eixo IV – Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência.
 Eixo V – Educação e Cultura em Direitos Humanos.
 Eixo VI – Direito à Memória e à Verdade.

Adiante serão tratados especificamente os itens relacionados à Escola, Família e


Comunidade, que interessam à disciplina.

O Eixo III, que versa sobre a universalização dos direitos humanos em contextos de
desigualdades, aponta como objetivo estratégico o acesso à educação de qualidade e garantia
de permanência na escola. Para tanto, são apresentadas ações programáticas, como:

a) Ampliar o acesso à educação básica, a permanência na escola e a universalização


do ensino no atendimento à educação infantil.
Responsável: Ministério da Educação
d) Apoiar projetos e experiências de integração da escola com a comunidade que
utilizem sistema de alternância.
Responsável: Ministério da Educação

j) Fortalecer as iniciativas de educação popular por meio da valorização da arte e da


cultura, apoiando a realização de festivais nas comunidades tradicionais e valorizando
as diversas expressões artísticas nas escolas e nas comunidades.
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República.
(BRASIL, 2009, p.145)

Quando o assunto em pauta é democratização da educação e permanência na escola,


o Ensino Fundamental, no Brasil, tem sido prioridade. A ação (a) revela a intenção de
estender a garantia de acesso à educação à primeira etapa da educação básica, ou seja, às
creches e instituições de Educação Infantil. É importante destacar que, atualmente, a
educação é considerada como direito de todo o cidadão.

Ao apoiar projetos e experiências de integração entre escola e comunidade e propor o


fortalecimento de iniciativas para a valorização de festivais nas escolas e nas comunidades, as
ações programáticas (d) e (j) favorecem a relação democrática e participativa entre as
instituições. Nesse caso, a escola é apontada como um importante local onde se pode
aprender democracia, exercitando-a. Isso se tornará possível se a comunidade puder participar
dos espaços da escola, vivenciando atividades em que se envolva o maior número de sujeitos
com o objetivo de proporcionar o estreitamento dessa relação.
No Eixo V - Educação e Cultura em Direitos Humanos - o PNDH-3 (2009) traz
algumas inovações ao currículo escolar. A Diretriz 19, que contribui para o fortalecimento dos
princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, tem como
primeiro objetivo estratégico:

a) Estabelecer diretrizes curriculares para todos os níveis e modalidades de ensino da


educação básica para a inclusão da temática de educação e cultura em Direitos
Humanos, promovendo o reconhecimento e o respeito das diversidades de gênero,
orientação sexual, identidade de gênero, geracional, étnico-racial, religiosa, com
educação igualitária, não discriminatória e democrática (BRASIL, 2009, p.154).

A inclusão da educação e da cultura como direitos humanos no ensino básico está


orientada para a educação para a paz, que é construída por atitudes acolhedoras à
diversidade cultural e religiosa, bem como pelo respeito à dignidade humana, à liberdade, à
justiça, à igualdade. A educação para tolerância está vinculada às manifestações de respeito
aos direitos fundamentais do ser humano.

É importante destacar que, mais do que um rol de assuntos que devem ser
obrigatoriamente incluídos nos currículos das escolas, a exigência de acolhimento, respeito e
tolerância traz, em seu bojo, o desvelamento das diferenças entre grupos humanos, isto é, o
reconhecimento da formação multirracial do nosso país, questão que, se não for tratada com
seriedade por escolas, famílias e comunidades, pode se converter em situações de racismo,
preconceito e discriminação, que, por sua vez, interferem negativamente na formação do
sujeito.

Complementando, o PNDH-3 (2009, p.155), em sua ação programática (d), adverte


sobre a necessidade de “Incluir conteúdos, recursos, metodologias e formas de avaliação da
educação em Direitos Humanos nos sistemas de ensino da educação básica”.

Um exemplo dessa ação são as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004).
O documento institui que não se pode estabelecer uma disciplina para tratar da temática das
relações étnico-raciais, mas que, antes de ser um conteúdo trabalhado isoladamente em datas
comemorativas, deve ser vivenciado cotidianamente nas relações escolares e comunitárias.

Incluir, nos currículos das escolas brasileiras, a educação das relações étnico-raciais
implica dar visibilidade a aspectos relativos à história da África, à cultura afro-brasileira,
africana e indígena, à presença de personalidades negras na história do Brasil, à contribuição
dos povos africanos à humanidade, dentre outros e divulgá-los nas instituições educacionais.
Contudo, para além de temas a serem tratados nos currículos, tem-se lutado para que
posturas e atitudes racistas e discriminatórias sejam inaceitáveis e amplamente combatidas no
ambiente escolar.
Sendo impossível desconsiderar o professor numa nova implementação de diretriz
curricular, a ação programática (b) do Eixo V do PNDH-3 (2009) apresenta necessidade de:

b) Promover a inserção da educação em Direitos Humanos nos processos de


formação inicial e continuada de todos os profissionais da educação, que atuam nas
redes de ensino e nas unidades responsáveis por execução de medidas
socioeducativas (BRASIL, 2009, p.154).

Vemos que se exige dos profissionais da educação uma postura de reconhecimento dos
direitos humanos. No entanto essa construção não ocorre no isolamento, mas sim como
construção coletiva que envolve desde o sistema macro de ensino até o ambiente escolar
propriamente dito, a escola.

Com a preocupação de estabelecer uma política de direitos nas escolas, vários estatutos
e documentos foram elaborados, entre os quais o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990)
e o documento denominado “Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os
Direitos Fundamentais das Crianças”, expedido em 1995 e reeditado pelo MEC em 2009.

Em meio a tantas transformações, a escola deve buscar oferecer um atendimento


educacional que garanta o bem-estar e o desenvolvimento dos alunos, seguindo os
pressupostos que se baseiam no respeito à dignidade e aos direitos básicos das crianças.

Considerando a laicidade da escola e, ainda, a existência de uma política nacional de


garantia dos direitos humanos, almeja-se a concretização da educação para e pela cidadania a
partir da universalização de uma educação em direitos humanos, imprescindível à construção
de uma sociedade verdadeiramente democrática.
Sintetizando:

Figura 2 - Organograma elaborado pela autora


Material Complementar

Atualmente a Carta da Terra apresenta os princípios da Declaração Universal


dos Direitos Humanos, adequando-a e introduzindo necessidades dos tempos
atuais, como as que se relacionam com questões ecológicas e de
sustentabilidade.

Para aprender um pouco mais sobre a Carta da Terra, acesse:

http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/index.html

A Carta da Terra também possui uma versão infantil, elaborada para que os Direitos
Universais possam ser trabalhados desde a infância.

Para ter acesso à Carta da Terra Infantil clique no link:

http://earthcharter.org/invent/images/uploads/Carta%20da%20Terra.pdf

Conheça também o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que é um


documento que contempla as políticas e ações a serem desenvolvidas pelos diversos órgãos
públicos e entidades da sociedade civil sobre a educação em direitos humanos.

Para acessar o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos clique no endereço:

http://new.netica.org.br/prevencao/cartilha/plano-educdh.pdf
Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação


das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de Histórica e Cultura Afro-Brasileira
e Africana. Brasília, DF, 2004.

______, ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8069/90, de 13 de julho de


1990. Brasília, DF, 1990.

______, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica – Indicadores de


Qualidade na Educação Infantil. Brasília, DF, 2009.

______. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em


Direitos Humanos. Brasília, DF, 2010.

______. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Programa Nacional de Direitos


Humanos. 3ª Edição. Brasília, DF, 2009.

MORIN, Edgar – A cabeça bem-feita: pensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução


de Eloá Jacobina. 7ª edição – Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2002.

UNESCO – Declaração Universal dos Direitos Humanos. ONU– Brasília, DF, 1998.
Anotações

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Escola, Família e
Comunidade
Material teórico
Escola, Família e Comunidade: conceitos e relações

Responsável pelo Conteúdo:


Profª. Me. Janaina Pinheiro Vece

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Revisão Textual:
Profª. Esp. Vera Lidia de Sa Cicaroni
Escola, Família e Comunidade:
conceitos e relações

O objetivo desta unidade é que você compreenda as relações


sociais e interpessoais que ocorrem quando a família está
inserida num ambiente escolar democrático. Esclarecendo
teoricamente os conceitos de educação, de gestão
democrática e de cidadania, os materiais disponibilizados
apresentam vários exemplos de que a aproximação entre
família, comunidade e ambiente escolar é possível.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

Uma escola sem muros e sem violência no coração de uma das maiores favelas no Brasil.
Você consegue imaginar?!

Uma série especial sobre educação, exibida por uma emissora de televisão brasileira, mostra o
exemplo de uma comunidade que transformou as relações pessoais e interpessoais na escola,
usando um econômico e interessante caminho: o poder da palavra.

Para darmos início à unidade III, assista à reportagem “Escola transforma relação em diálogo”,
que mostra como a instituição escolar pode se constituir num espaço harmonioso e amistoso a
partir das relações estabelecidas com a comunidade.
Material Teórico

O assunto principal desta unidade aborda as relações sociais que se formam no


processo de integração entre Escola, Família e Comunidade. No entanto, para
compreendermos o seu desenvolvimento, os conceitos de educação, de gestão
democrática e de cidadania, que constituem a base desse relacionamento,
serão analisados a partir de fundamentos teóricos e legais. Posteriormente,
veremos como a relação entre escola e comunidade pode ser reconstruída no
âmbito escolar.

Durante a leitura, aproveite para registrar os aspectos que achar mais importantes e as dúvidas
que surgirem.

Boa leitura!

Introdução
Atualmente, as escolas têm se mobilizado para construir, num ambiente democrático e
participativo, a sua verdadeira identidade e autonomia. Essa preocupação pode ser
considerada como um reflexo do desenvolvimento da educação no Brasil, marcado, na
década de 1990, pela democratização do ensino.

Ao democratizar o acesso à Educação Básica, o governo federal revelou o


compromisso de oportunizar e garantir a todo o cidadão brasileiro, independente da sua
classe social, econômica, cultural ou religiosa, o direito à instrução fundamental.

Nesse processo de democratização, a escola ocupou um papel de destaque em resposta


às demandas históricas e locais e foi necessário rever alguns conceitos e as relações
estabelecidas com o seu público, em especial com a comunidade. Um exemplo é a adoção da
política de direitos humanos na relação entre escola e comunidade, prevendo a garantia do
bem-estar e o desenvolvimento de todos os alunos, com base nos pressupostos de respeito à
dignidade e aos direitos básicos dos cidadãos.

O contexto apresentado é bem convidativo para revermos os significados atribuídos a


educação, gestão democrática e cidadania e também para compreendermos como as relações
entre Escola, Família e Comunidade se constituem nesse novo ambiente escolar.
Revendo conceitos e reconstruindo significados: educação, gestão
democrática e cidadania

Estudos revelam que, nas últimas décadas, o Brasil alcançou um aumento significativo
de matrículas em todos os níveis de ensino da Educação Básica. Nesse cenário, o Ensino
Fundamental apresenta-se como uma conquista histórica em resposta aos amplos movimentos
e investimentos realizados em favor da democratização do acesso à educação.

Os resultados dos últimos 50 anos indicam que, em 1960, apenas 9,1% dos alunos
ingressantes no Ensino Fundamental concluíam a oitava série, e que, em 2001, houve um
crescimento que elevou esse número para 62%. Na luta pela democratização da educação
pública brasileira, os números apontam que os avanços foram significativos.

Os avanços, perceptíveis no acesso à Educação Básica, não são os mesmos quando se


avalia a qualidade de ensino. A qualidade da educação brasileira tem se constituído, em
especial neste momento histórico, como um dos grandes desafios para a educação em geral.

Para Veiga (2003, p. 17):

A escola de qualidade tem obrigação de evitar, de todas as maneiras possíveis,


a repetência e evasão. Tem que garantir a meta qualitativa do desempenho
satisfatório de todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta
quantitativa de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade escolar,
entrem na escola. É preciso garantir a permanência dos que nela ingressam.

Mediante as demandas e os desafios postos pela busca da qualidade de ensino e pela


própria sociedade contemporânea, as funções historicamente definidas para a escola
transformaram-se e exigem, atualmente, novos caminhos para fazer educação, o que implica
rever conceitos e assumir posturas mais articuladas e dialógicas entre a escola e os sujeitos que
dela usufruem, ou seja, a própria comunidade.

A necessidade de reconstruir o espaço da escola, somada às novas demandas legais


voltadas para os direitos humanos, contribui para a discussão da relação Escola, Família e
Comunidade com uma postura mais crítica e coerente com a realidade vivida hoje.

Falar sobre essas relações implica a revisão de conceitos e concepções acerca de


educação, gestão e cidadania, que, de certa forma, estruturam sua base.

Paulo Freire (2002, p.25), ao dizer que “ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, revela a educação como um
processo de desenvolvimento humano e mostra, ainda, que a compreensão de educação
exige a consciência do inacabamento.
Para Cortella (1998), não nascemos prontos e, como seres inconclusos, transformamo-
nos pelo processo de educação, ao qual somos submetidos ao longo da nossa trajetória de
vida.

Compartilhando da mesma concepção de educação, Gadotti (2009, p.31) afirma que:


“Como nos educamos ao longo da vida, não podemos separar um tempo em que nos
educamos e um tempo em que não estamos nos educando”.

São posicionamentos semelhantes que assumem que aprendemos o tempo todo,


dentro e fora da escola, por isso a escola de hoje não pode se posicionar como o único e
exclusivo espaço em que se oferece a educação. É por esse e outros motivos que as palavras
de Freire são tão presentes e atuais quando o autor se refere à relação entre professor e aluno.

Não há docência sem discência, as duas explicam seus sujeitos, apesar das
diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objetivo, um do
outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender
(FREIRE, 2002, p.25).

Se a educação ocorre em todos os lugares, na comunidade, nas famílias, nas igrejas,


nas praças, na ida à padaria ou ao mercado, torna-se extremamente necessária a oferta de
uma educação escolar que contribua para formar as capacidades humanas, para que possam
ser empregadas fora e dentro da escola, tendo sempre em mente que elas não são inerentes
ao sujeito, mas sim apreendidas e construídas ao longo do tempo.

Acerca do assunto, Veiga (2003) destaca que:

A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto


educativo, uma vez que necessita organizar o seu trabalho pedagógico com
base em seus alunos. Nesta perspectiva é fundamental que ela assuma suas
responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores
tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as condições necessárias para levá-la
adiante. Para tanto, é importante que se fortaleçam as relações entre escola e
sistema de ensino(VEIGA, 2003, p.12).

Ao construir o seu projeto pedagógico com base na realidade de seus alunos e assumir
responsabilidades administrativas, a autora aponta-nos um conceito presente nas escolas de
hoje, a gestão democrática.
De acordo com Veiga (2003), a gestão democrática pode ser definida como:

Um princípio consagrado pela Constituição vigente, que abrange as dimensões


pedagógica, administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na
prática administrativa da escola, com o enfrentamento das questões de
exclusão e reprovação e da não-permanência do aluno na sala de aula, o que
vem provocando a marginalização das classes populares. Esse compromisso
implica a construção coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à
educação das classes populares (VEIGA, 2003, p.17-18).

Veiga (2003) refere-se à Constituição Federal de 1988, que, ao reconhecer os direitos


de todos os cidadãos brasileiros, deu início ao processo de democratização do Ensino
Fundamental no Brasil, universalizando e abrindo os portões da escola às classes populares,
que, até então, não tinham privilégio de acesso.

De modo geral, o pensamento pedagógico brasileiro, instituído pela Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional, LDB nº 9.394/96, tem adotado a perspectiva crítica e
emancipadora de Paulo Freire, com a proposta de que as escolas adotem e incorporem, em
sua organização, a gestão democrática.

É o que apontam os incisos I, II e VI do Artigo 12 da LDB nº 9.394/96:

Art. 12º Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas


comuns e as dos seus sistemas de ensino, terão a incumbência
de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
financeiros;
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando
processos de integração da sociedade com a escola (...).

No Artigo 14 da LDB nº 9.394/96, a proposta de gestão democrática está mais explícita


ao estabelecer que:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão


democrática do ensino público na educação básica, de acordo
com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
Em ambos os artigos, a participação das comunidades escolar e local e o seu
envolvimento nos processos de integração com a escola são apontados como princípios da
gestão democrática. Os esforços para a participação efetiva da comunidade no ambiente
escolar visam ao atendimento dos direitos humanos fundamentais, pois o espaço democrático
só pode ser consolidado por meio do respeito à diversidade e à pluralidade e por intermédio
do diálogo para a construção de um ambiente compartilhado coletivamente.

Tendo por base tais dispositivos legais e constitucionais, podemos afirmar que é
impossível falar sobre a função e a dinâmica da escola, sem, ao menos, compreendermos o
que de fato é a gestão democrática.

Para Veiga (2003), a gestão democrática implica, principalmente, o repensar das


relações de poder da escola, tendo em vista, acima de tudo, a sua socialização. A socialização
do poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo; da
reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que supera a opressão; da
autonomia, que anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram políticas
educacionais das quais a escola é mera executora.

Os autores Apple e Beane (1997) apresentam uma visão que transcende a gestão
democrática para uma comunidade democrática na escola:

As escolas democráticas, como a própria democracia, não surgem por acaso.


Resultam de tentativas explícitas de professores(as) colocarem em prática os
acordos e oportunidades que darão vida à democracia (...). Esses acordos e
oportunidades envolvem duas linhas de trabalho. Uma é criar estruturas e
processos democráticos por meio dos quais a vida escolar se realize. A outra é
criar um currículo que ofereça experiências democráticas aos jovens (APPLE,
BEANE, 1997, p.20).

A escola, ao delinear sua própria identidade, induz a sua reconstrução como um


espaço público, lugar de debate, de diálogo, fundado na reflexão coletiva. Nesse sentido, a
escola democrática carece de alicerces e pressupostos críticos que considerem a prática social,
que estejam compromissados em solucionar os problemas da educação e do ensino da sua
escola e, principalmente, articulados aos interesses da maioria da população.
Sendo assim, acerca da gestão democrática, conclui-se que, no interior da escola, esse
não é um processo fácil de ser consolidado, pois não se trata apenas da gestão em si, mas de
uma educação democrática que envolve todos os representantes dos diferentes segmentos da
escola, necessariamente, em decisões e ações administrativas e pedagógicas que, no espaço,
se desenvolvem.
Aprenda um pouco mais sobre a Gestão Democrática, acessando o
link:

https://www.youtube.com/watch?v=f0J4eVJ2uTA

De acordo com Freire (2002), tornar-se contemporâneo de seu tempo é uma das
principais contribuições que a educação pode oferecer aos seus alunos. Por isso, de nada
adianta posicionar-se com saudosismo frente à educação do passado, postura que pouco
contribui e dialoga com as urgências e demandas do tempo histórico em que estamos
inseridos.
Formar para a cidadania compreende uma reunião de conhecimentos, sistematizados e
articulados às práticas, costumes, crenças e valores que estão na base da vida cotidiana e que,
articulados ao saber escolar, podem e devem constituir o currículo da escola.
De acordo com Gadotti (2009), o movimento da educação cidadã foi paralelo ao
processo de democratização do ensino que ocorreu em meados de 1980 e na década de
1990. Seu início é decorrente da gestão democrática, sendo incorporadas outras
preocupações geradas pelas próprias relações sociais fadadas à violência e à deterioração dos
direitos humanos. Para o autor, cidadania é, essencialmente, a consciência de direitos e
deveres e o exercício da democracia. Afinal, não há cidadania sem democracia.
Segundo Gadotti (2009), a cidadania compreende a participação e o pertencimento.
Essa apropriação só é possível se a própria escola criar mecanismos, como Gestão
Participativa, Reunião de Colegiados, Grêmios, entre outros, que possam ser estruturados e
decididos pela comunidade escolar. O intuito desses movimentos é levar para dentro da
escola os interesses e as necessidades da população.
Dessa forma, a educação para os direitos humanos e a cidadania democrática surge,
inicialmente, na educação não formal, como prática de educação popular, constituindo-se
como estratégia de mobilização, organização e formação de uma cultura cidadã na construção
de sujeitos históricos em processos de lutas pelas conquistas dos seus direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais.
Nesse sentido, é possível afirmar que a educação em direitos humanos foi substituindo
o que, nas décadas de 70 e 80, era chamado de “educação popular” ou “educação
libertadora”, tendo como idealizador Paulo Freire.

Confira, na prática, o exemplo de uma escola cidadã.

https://www.youtube.com/watch?v=pG1DGaMfpTw
É indiscutível o legado deixado por Freire, parte do qual se refere à educação
popular. A teoria de Paulo Freire destaca-se por comprometer-se com a dimensão social e
política e, principalmente, por seus ideais pedagógicos terem um forte componente ético
derespeito ao aluno.

Para Freire (2002, p.66):

O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e


não um favor que podemos ou não conceber uns aos outros. (...) O professor
que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua
inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua
prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que
“ele se ponha em seu lugar” (...) transgride os princípios fundamentais éticos
de nossa experiência enquanto educador.

É por essa e por outras contribuições que Paulo Freire tem sido mencionado como o
Pai da Pedagogia no Brasil e reconhecido, mundialmente, por seu trabalho ético e
comprometido com a educação para e pela cidadania, conceitos esses indispensáveis para
que a escola reconstrua o seu papel social.

A partir do conteúdo apresentado, conclui-se que buscar uma nova organização para a
escola, pautada na gestão democrática e cidadã, é uma ousadia e um tremendo desafio para
gestores, educadores, pais, alunos, funcionários e a comunidade em geral. No entanto, não
podemos dizer que esse processo de readequação do papel da escola às necessidades de uma
nova educação seja uma tarefa impossível, se, de fato, acreditamos na função da escola de
hoje.
Sintetizando:

Princípios:
ESCOLA GESTÃO
Desenvolvimento DEMOCRÁTICA
Humano

Direitos Humanos

Projeto Pedagógico

Participação

Pertencimento

Integração Escola,
Família e Comunidade.

CIDADANIA

Figura 1 – Esquema elaborado pela autora

Escola, Família e Comunidade: uma relação possível?

Em busca da melhoria da qualidade de ensino e da adequação curricular às novas


demandas da sociedade, a relação entre escola e comunidade tem sido objeto de estudos de
professores, pesquisadores e instituições educacionais.
Pesquisas mostram que, para a aproximação dessas instâncias, há a necessidade de
repensar a organização do trabalho pedagógico, superando os conflitos, eliminando as
relações competitivas, corporativas e autoritárias que permeiam o interior da escola. Para isso,
as relações de poder devem ser revistas e reconstruídas.
De acordo com Veiga (2003, p. 15):

O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem mais possibilidade
de ser dirigida de cima para baixo na ótica do poder centralizador que dita as
normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a
descentralização em busca de sua autonomia e qualidade.

É preciso ter consciência de que, por muito tempo, a dominação no interior da escola
efetivou-se a partir das relações de poder expressas nas práticas autoritárias e conservadoras
dos diferentes profissionais bem como por meio das formas de controle existentes na
organização escolar.

Quando se busca uma nova dinâmica para a escola, é preciso analisar, primeiramente,
como as relações acontecem dentro dela. Sendo a escola uma instituição social que reflete, no
seu interior, as determinações e contradições da sociedade, atitudes violentas,
preconceituosas, intolerantes à diversidade cultural são exemplos dos reflexos sociais que
adentram os muros da escola. Isso mostra que repensar as relações de poder implica pensar as
relações legítimas dessa mesma sociedade.

Para garantir a relação amistosa entre escola e família, é preciso considerar que o
processo educativo, em si, compreende, principalmente, a relação da aprendizagem dos
alunos com a sua vida e com a sua comunidade local. Por isso é importante que, nas práticas
cotidianas da escola, sejam considerados e tolerados os costumes, as crenças e os valores que
estão na base diária.

A superação de posicionamentos hierárquicos e autoritários permite que todos os


envolvidos, diretor, professores, alunos, pais e comunidade, possam se reconhecer como
sujeitos do processo e não como meros coadjuvantes. Desvela-se, na prática, que o diálogo,
num embate respeitoso, acolhedor às diferenças e aos direitos humanos, é um caminho
promissor para uma relação saudável entre as instituições.

Veja, na prática, através da experiência da Escola Municipal


Professor Daniel Alvarenga, de Belo Horizonte (MG), como é
possível a transformação e integração entre escola e comunidade:

https://www.youtube.com/watch?v=-XFGLzT7R1Y
A perspectiva dialógica de Freire (2002) sustenta que o direito da palavra não é de um
ou de outro, mas sim é direito de todos os homens. Reconhecida a instituição escolar como
gestora da sua própria prática educativa, é importante que a escola se firme como um corpo
que se desenvolve a partir de um movimento dialógico que convida a todos para participar e
transformar o mundo vivido e compartilhado.

Essa dimensão dialógica inerente à escola desafia os membros de cada segmento


escolar - pais, funcionários, alunos, professores e gestores - a potencializarem a construção de
uma vivência escolar plural e democrática que valorize a trajetória de vida de cada sujeito e
reconheça o espaço escolar como uma oportunidade de todos, juntos, tornarem-se pessoas
melhores.

Esse movimento de integração entre a escola e a comunidade contribui para


potencializar e estabelecer uma ampla rede de relações e parcerias, o que não significa
descaracterizar a função social elementar da escola de ensinar, mas sim reconhecer que a
escola só pode efetivar o seu papel assumindo compromissos com a realidade de seus alunos.

É comum o entendimento errôneo e limitado de que a presença das famílias na escola


se resume a festividades e reuniões pedagógicas. É preciso assumir que essa presença é muito
mais necessária; o segmento familiar é um parceiro essencial na efetivação da proposta
pedagógica da escola, por isso a necessidade de se criar outros espaços de participação.

A respeito da participação da família na escola, Paro (1983, p.34) sugere:

(...) a instalação de processos eletivos de escolha de dirigentes, colegiados com


representação de alunos, pais, associação de pais e professores, grêmio
estudantil, processos coletivos de avaliação continuada dos serviços escolares
etc.

Se, por um lado, a escola precisa criar mecanismos para que a comunidade, de fato,
pertença à instituição, por outro, as famílias também precisam compreender e reconhecer a
sua função nessa relação, que é muito mais do que estar presente; acima de tudo, é participar
efetivamente da construção da escola a que pertence.
Sintetizando

ESCOLA FAMÍLIA
Rever relações de
poder

Diálogo

Cidadania

Realidade local

Participação

COMUNIDAD
E

Figura 2 – Esquema elaborado pela autora


Material Complementar

Neste espaço, você terá acesso a conteúdos complementares ao material da unidade III.
Aproveite para aprofundar e sistematizar os conhecimentos acerca da gestão democrática e
educação cidadã.
Bom estudo e até a próxima unidade!

Escola do Rio transforma sala de aula num lugar mais interessante para
reduzir abandono.
Disponível em: https://goo.gl/ZlQXAP

Caro aluno, no Google, o maior site de pesquisa mundial, também é


disponibilizado o conteúdo parcial ou total de livros que autorizam a sua
publicação digital. Veja o conteúdo (parcial) do livro Gestão Democrática
na Escola, de Dinair Leal da Hora, disponível no site:
http://books.google.com.br/books?id=L2j_hh8hisYC&printsec=frontcover&
dq=gest%C3%A3o+democr%C3%A1tica&hl=pt-PT&cd=2
Referências

APPLE, M. BEANE, J. Escolas democráticas. São Paulo: Cortez, 1997.

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5


de outubro de 1988.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394, dedezembro de


1996. Brasília, DF.

CORTELLA, M. S. A escola e o conhecimento: fundamentosepistemológicos e


políticos. São Paulo: Cortez/IPF, 1998.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à práticaeducativa. Edição 27ª.


São Paulo: Paz e Terra, 2002.

GADOTTI, M. Educação Integral no Brasil. São Paulo: Editora e LivrariaInstitutoPaulo


Freire, 2009.

PARO, V. H. Situações e perspectivas da administração da educação brasileira:uma


contribuição. In: Revista Brasileira de Administração da Educação. Brasília,
Anpae,1983.

VEIGA, I. P. A. Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção possível. 16ª


Edição. Campinas, Sp. Editora: Papirus, 2003.
Anotações

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Escola, Família e
Comunidade
Material teórico
Relações, Espaços e Tempos: implicações no processo educativo

Responsável pelo Conteúdo:


Profª Me. Janaina Pinheiro Vece

Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Vera Lidia de Sa Cicaroni
Relações, Espaços e Tempos:
implicações no processo

Caro aluno,

Nesta unidade, vamos concluir a disciplina Escola, Família e


Comunidade, compreendendo a organização escolar no que
se refere aos seus espaços e tempos. Nossos estudos abordam
a revisão histórica do modelo rígido e autoritarista da idade
moderna, que influenciou e até hoje influencia a estrutura da
escola, procurando reconstruir, principalmente, as relações
entre professor e aluno no contexto contemporâneo.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

Leia o trecho de um texto bastante curioso, de 1922, que mostra os ideais disciplinares da
instituição escolar da época.

Recomendações Disciplinares

Em classe a disciplina deve ser severa:

- os alunos devem manter silêncio absoluto;

- não poderá estar em pé mais de um aluno;

- a distribuição do material deverá ser rápida e sem desordem;

-sempre que se retirar da sala, a turma a deixará na mais perfeita ordem.

No recreio a disciplina é ainda necessária para que ele se torne


agradável aos alunos bem comportados:

- os alunos devem participar de conversas e diversões que não produzam grande


alarido.

Ao findar os trabalhos do dia, cada classe seguirá em fila e em pleno


silêncio até a escada de saída (...).

Texto adaptado do livro Indisciplina na Escola de Julio Groppa Aquino (1996, p.42).

Você já vivenciou, enquanto aluno, situações como as apresentadas no texto? Em sua


opinião, faz sentido esse tipo de recomendação disciplinar para os alunos da escola
contemporânea?

Na unidade IV, vamos refletir sobre a organização do espaço e do tempo escolar e a


relação entre professor e aluno com intuito de superar o modelo disciplinar da idade moderna
que, nos dias de hoje, ainda influencia a educação no Brasil.
Material Teórico

Na última unidade da disciplina Escola, Família e Comunidade, iremos


estudar a organização da escola, em especial os espaços, os tempos e as
relações que acontecem em seu contexto. Para tanto, na introdução, serão
apresentados alguns aspectos históricos que subsidiam as duas principais
temáticas deste texto:
• A organização da Escola: tempos e espaços.
• A relação entre professor e aluno.

Ao ler o texto aproveite para registrar os aspectos que achar mais


importantes e as dúvidas que surgirem.

Boa leitura!

Introdução
É evidente que a escola de hoje é produto de transformações históricas e sociais. A
organização disciplinar por meio do castigo e controle, como forma de modelar o
comportamento humano, marcou, significativamente, o desenvolvimento da escola como
instituição formativa.

Sobre esse modelo disciplinar, Aquino (2007) refere-se à organização de um mundo


novo que nasceu a partir do século XVIII. Para o autor, trata-se de um modelo insólito na
história da humanidade, voltado para a racionalização e normatização do espaço, do tempo e
dos corpos dos indivíduos.

As técnicas sistemáticas de vigilância, punição e controle influenciaram e influenciam,


ainda hoje, a organização escolar. Esse modelo apresenta um perfil de aluno ideal, que pouco
considera se o mesmo é bem comportado por medo do castigo ou se, de fato, o seu
comportamento é tranquilo.

Para Aquino (2007, p.9), “a disciplina dedica-se ao assujeitamento dos corpos dos
indivíduos nas instituições”.
Vejamos um trecho de um texto bastante curioso de 1922, apresentado por Aquino
(1996, p.42) e intitulado “Recomendações Disciplinares”:

Não há crenças refratárias à disciplina, mas somente alunos não disciplinados. A disciplina é um fator
essencial do aproveitamento dos alunos e indispensável ao homem civilizado. Mantém a disciplina,
mais do que o rigor, a força moral do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as crianças
interessadas em algum assunto útil.

Os alunos devem se apresentar na escola minutos antes das 10 horas, conservando-se em ordem no
corredor da entrada, para daí descerem ao pátio onde entoarão o cântico.

Formados dois a dois dirigir-se-ão depois às suas classes acompanhadas das respectivas professoras,
que exigirão que se conservem em silêncio e entrem nas salas com calma, sem deslocar as carteiras.

Deverão andar sempre sem arrastar os pés, convindo que o façam em terça, evitando assim o balançar
dos braços e movimentos desordenados do corpo. (...)

Observa-se, no texto, que as correções disciplinares são evidentes para controle e


ordenação do corpo e da fala. O silencio é absoluto dentro e fora da sala de aula e os
movimentos corporais são contidos e esquadrinhados nos diferentes tempos e espaços da
escola.

Para Aquino (1996), muitos educadores concebem essa descrição de cotidiano escolar
com certo saudosismo, como um modelo de educação muito almejado.

No caso do ensino público, tal mentalidade mostra suas feições quando, por
exemplo, insiste-se em enaltecer uma época tão remota em que “os
professores eram respeitados e só frequentava escola quem sabia dar valor a
ela” – chavão repetido por 9,9 entre 10 cidadãos brasileiros, sendo eles ligados
profissionalmente ao campo pedagógico ou não (AQUINO, 2007, p.21).

Trata-se de um espaço escolar organizado como um verdadeiro “quartel”, onde


professor assume a posição de superior hierárquico, em que os termos de obediência e
subordinação são determinantes na sua relação com o aluno.

Conforme Aquino (1996, p.43), “O professor não era só aquele que sabia mais, mas
que podia mais, porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela”.

A disciplina então imposta pela época ocorria por meio do castigo, medo, coação e
subserviência, principalmente à figura do professor.
De acordo com Taille (1996, p.10):

O tema disciplina pode nos levar mais longe ainda: discutir a própria natureza
humana. Para o filósofo Kant, por exemplo, a disciplina é condição necessária
para arrancar o homem de sua condição natural selvagem. Não se trata,
portanto, apenas de “bons modos”: trata-se de educar o homem para ser
homem, redimi-lo da sua condição animal.

Permanecer parado e quieto na cadeira escolar tornou-se, por muito tempo, necessário
não só para possibilitar o bom funcionamento da escola, mas, principalmente, para ensinar a
criança a controlar os seus impulsos e afetos. Sobre o controle disciplinar na escola, Aquino
(2007) faz referência à instituição como um dispositivo biopolítico, ou seja, que regula os
fenômenos biológicos e políticos ligados à população.

Acerca da biopolítica, Aquino (2007, p.10) destaca:

A normalização operada pela biopolítica é o que faz com que incorporemos


paulatinamente certos padrões relativos a como proceder no campo da
sexualidade, da estética, da dietética, dos cuidados pessoais etc., que
convertem em paradigmas morais com vistas a uma administração eficaz da
própria existência.

Nessa perspectiva genérica dos fatores biológicos e psicológicos, infelizmente ainda


idealizam um sujeito abstrato, idealizado e desenraizado do seu tempo real e histórico.

Pensando na democratização política do país e, consequentemente, da escola, a


desmilitarização das relações sociais desenvolveu uma nova geração. Atualmente a escola está
inserida num contexto em que o controle dos indivíduos escapou das instituições sociais,
sendo que outras instâncias, como a mídia e a internet, apropriaram-se desse papel.

(...) o monopólio escolar estaria sendo drasticamente preterido por outras


formas de ensino e aprendizagem, em particular aquelas propiciadas pela TV e
internet. Sem papel definido neste mundo volátil e imagético, o velho trabalho
escolar deveria então se reduzir à guarda e à tutela moral da infância e da
juventude? Deveriam os professores cumprir o papel outrora exclusivo da
família? (...) (AQUINO, 2007, p.24).

Nesse conflituoso cenário, além de desvencilhar da organização de outrora, a escola


tem diante de si um novo aluno e um novo professor, sujeitos históricos que, até então,
tinham bem definidos os seus papéis, aquele que mandava e outro que apenas obedecia.
Pensando no espaço da escola como uma dimensão democrática, em que a educação
é um direito consolidado, faz-se necessário repensar os tempos e os espaços oferecidos pela
instituição escolar e a relação entre professor e aluno no atual contexto.

A organização da Escola: tempos e espaços

A partir de uma análise crítica acerca da organização dos tempos e ritmos da escola,
Freitas (2004, p. 1) destaca:

Esta dimensão espacial é vivida em acontecimentos que se desenrolam em


seus tempos e ritmos (tempo para estudar, tempo para aprender matemática,
tempo para brincar, tempo para planejar, tempo para gerir). Nada é tão
demarcado na escola atual como seus tempos. Instituí-los implicou em
decisões igualmente orientadas por uma visão de mundo e por concepções de
educação. Tais decisões foram implementadas há tanto tempo na história da
escola que já não nos damos mais ao trabalho de examiná-la se, em geral,
damos isso por suposto e naturalizado.

Segundo o autor, o sistema seriado por décadas foi utilizado pela escola para classificar
os alunos e organizá-los com base em seus conhecimentos e competências. No entanto, esta
organização sempre esteve intimamente relacionada a uma ordem política e pedagógica
capitalista.

Por outro lado, a organização do ensino por ciclo, coerente aos princípios progressistas
e aos pressupostos de Paulo Freire, diz respeito a um mecanismo de permanência dos
estudantes na escola, com o objetivo de reduzir o índice de evasão e retenção presentes no
regime seriado. Ao ciclo estão agregados a compreensão dos tempos de aprendizagem e o
processo de desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.

Para saber mais sobre a organização da escola leia o artigo

“CICLO OU SÉRIES? O que muda quando se altera a forma de organizar os tempos-


espaços da escola?”

de Luiz Carlos de Freitas.

http://27reuniao.anped.org.br/diversos/te_luiz_carlos_freitas.pdf

Vale ressaltar que é impossível falar sobre espaço e tempo na escola sem
compreendermos como os alunos são organizados e enturmados nos diferentes períodos da
educação básica. Portanto, adiante, apresenta-se como essa organização temporal e espacial
pode acontecer na prática, já que o texto de Freitas (2004) aborda, com detalhes, os regimes
de séries e ciclos adotados, historicamente, por nosso sistema brasileiro.

Conforme explicitado por Freitas (2004), algumas decisões foram implantadas há tanto
tempo na história da escola que já não nos damos o trabalho de examiná-las com criticidade
e, muitas vezes, com rigor pedagógico.

É muito comum, nas escolas, a ausência dos alunos na composição dos diferentes
espaços, salas, corredores, bibliotecas, pátio etc. Em outros momentos, também nos
deparamos com uma organização do espaço dirigida estritamente para o público adulto, como
materiais e trabalhos expostos numa altura imprópria para a criança, o que impede a
exploração do espaço com mais intensidade e entusiasmo.

O controle corporal ao qual os alunos, infelizmente, ainda são submetidos, contraria a


ideia de que a criança estrutura o conhecimento de mundo e de si mesma por meio da
experiência corporal. Se a escola de antes era controladora dos elementos físicos e
comunicativos, atualmente muitos pesquisadores têm se preocupado com a importância do
movimento corporal e das relações interpessoais para o processo de aprendizagem.

De acordo com Fraga (2010, p.8):

Geralmente, quando se fala da necessidade de movimento corporal das


crianças, pensa-se muito mais num âmbito funcional, relacionado ao
desenvolvimento motor e à aquisição de determinadas habilidades. Ou então,
restringe-se à possibilidade de extravasar, gastar energia, já que as crianças
passam tanto tempo em atividades que exigem contenção.

Segundo a autora, mesmo que o movimento da criança esteja relacionado às ações


comuns do cotidiano, está imbuído de expressividade. O grande problema é que, muitas
vezes, os profissionais não se atentam à expressão de seus alunos e nem estão preparados
para “ler” o significado dessa movimentação.

Considerando que a tradição escolar, ainda hoje, persiste em controlar e reprimir a


atividade corporal e expressiva da criança, observa-se a preocupação em reconstruir os
aspectos concernentes à organização temporal e espacial da escola, priorizando a autonomia
do aluno na condução dos seus movimentos.

O Parecer CNE/CEB n. 20/2009 faz uma revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil e, assim, refere-se ao importante papel do professor na organização
do tempo e do espaço nas instituições, em especial de Educação Infantil:
A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos
espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as
crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade
e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras
tentativas de escrita. A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e
movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das
classes e à instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos
e materiais diversificados que contemplem as particularidades das diferentes
idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as
diversidades sociais, culturais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias
e comunidade regional (BRASIL, 2009, p. 14).

Apesar do excerto se referir especificamente à Educação Infantil, as considerações são


válidas e relevantes para outras modalidades de ensino.

Embasados no Parecer CNE/CEB n. 20/2009, vejamos alguns questionamentos sobre a


organização do tempo apontados no documento de Reorientação Curricular da Educação
Infantil da prefeitura de Osasco (2011, p.109):

Nossas rotinas são flexíveis para garantir às crianças o tempo para as brincadeiras livres?
Quando ela está envolvida nesse tipo de atividade ela toma decisões, faz escolhas, admite
consensos com o (a) professor (a), vivenciando situações essenciais a uma formação cidadã?
Quando está em grupo, aprende a dividir, a ouvir e a aceitar visões de mundo diferentes da
sua? E o planejamento diário? O chamado plano do dia, situação em que a criança tem
oportunidade de saber, participar e dar opiniões sobre o que vai acontecer naquele dia,
aprendendo a lidar com suas ansiedades e expectativas, está garantido?

Diferente do modelo autoritário e estático, os questionamentos apresentados na RECEI


(2011) são convidativos para reflexão de uma rotina escolar flexível e compartilhada, no que
se refere à organização do tempo de trabalho educativo realizado com as crianças.

A nova perspectiva atribuída à educação busca superar a ideia de que o aluno precisa
adaptar-se e/ou ajustar-se às exigências de organização da escola. Pelo contrário, a
organização está intimamente ligada à concepção de infância como uma fase de
desenvolvimento humano que requer uma composição de um ambiente próprio para atender
às suas particularidades e não à de um adulto em miniatura.

As questões reportam-nos a uma nova concepção de criança, ou seja, um sujeito único


e singular. O tempo para brincar, por exemplo, permite um período dedicado à atividade mais
importante para a faixa etária e que proporciona o conhecimento de uma cultura acumulada.
O convite à tomada de decisão e o incentivo para expressar sua opinião evidenciam
que o aluno é um sujeito que também organiza o ambiente da escola, podendo modificá-lo,
explorá-lo e recriá-lo.

No processo em que a escola busca se desvencilhar da sua inadequada estrutura, o


tempo necessita, prioritariamente, ser objeto de análise e transformação, superando os
pragmatismos de que a escola é quem dita as regras. A proposta de reorganizar o tempo
submete-se à ideia de que a escola deve estruturar-se e desenvolver-se, apriori, para os seus
alunos e não o contrário.

Nesse contexto, o professor reconstrói o seu papel, ouvindo as crianças a respeito da


organização e, especialmente, observando como elas se relacionam com os aspectos
temporais da rotina, como, por exemplo, verificando se conseguem se alimentar na hora do
recreio ou se apresentam sono em determinados momentos no período em que estão na
escola. Afinal os fatores biológicos influenciam diretamente o desempenho dos alunos e não
podem, em hipótese alguma, serem unificados.

Para o documento RECEI (2011), a organização dos espaços e dos materiais


disponibilizados na escola constitui-se como um instrumento fundamental para a prática
educativa. Isso significa que todas as atividades realizadas com os alunos devem ser
planejadas, prevendo a forma mais adequada de organizar o mobiliário e os materiais na sala
de aula. É importante destacar que tal procedimento transcende o espaço da sala de aula para
os espaços da área externa e outros da instituição.

Ao pensar sobre a organização dos seus espaços, é importante que a escola se


autoquestione: o ambiente que ofereço é acolhedor, desafiador e criativo? Esse
ambiente é um local seguro e promotor de desenvolvimento?

De acordo com o documento RECEI (2011, p.112):

Em um espaço em que a oportunidade de expressão é valorizada e onde são


igualmente valorizadas as mais variadas maneiras de expressão da criança
(desenho, pintura, o faz de conta, o teatro, a modelagem, a fala, entre outras),
adultos e crianças tornam-se sujeitos aprendentes de uma experiência
educativa que respeita as diferenças de cada um(a), num espaço
aconchegante, seguro e diversificado, com a oferta de materiais e objetos da
cultura às crianças.

Mediante os aspectos apresentados conclui-se que a organização da escola não pode


ser restrita à figura de um ou de outro. Enquanto local compartilhado e construído
coletivamente, o espaço escolar exige a participação de gestores, professores, alunos e
comunidade, de forma que a oferta intencional de espaços organizados e tempos
diversificados contribua para a formação de cidadãos mais autônomos e que compartilham de
experiências coletivas.

Sintetizando:

ESCOLA

ESPAÇO TEMPO

Figura 1 – Esquema elaborado pela autora

A relação entre professor e aluno

Quando falamos em infância, um conjunto de fatores determina os papéis da família


e da escola que colaboram para compreender os diferentes modos de pensar e viver essa etapa
particular do desenvolvimento humano. Desde o final do século XII até início do século XX, a
sociedade vem criando conceitos e modelos para infância.

De acordo com a RECEI (2011):

Ao longo da história, a criança tem sido considerada como um ser incompleto,


portanto frágil, precisando de proteção, controle, direção, dependente da
orientação de um adulto, que o avalia de acordo com as expectativas.

Os avanços das diferentes ciências, como a Psicologia, Pedagogia, Sociologia,


Antropologia, entre outras áreas, apontam que novos olhares são atribuídos à infância.
Atualmente a criança é considera como um sujeito de direitos, que interpreta o mundo, age
sobre ele e que produz e reproduz cultura.
Mediante a ressignificação do seu público, é preciso que a escola repense as relações
que são estabelecidas com a criança e o adolescente, concebendo-os como seres capazes de
se expressar, comunicar, aprender e que chegam à escola com saberes acumulados.

Contrapondo à concepção de aluno como simples objeto à mercê de determinações e


mandonismos de adultos, os estudos de Paulo Freire contribuem para a reconstrução dessas
relações, por apresentarem críticas à escola rígida e autoritária e, principalmente, por atentar-
se às relações estabelecidas entre professor e aluno.

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de


setembro em Recife. É considerado um dos
pensadores mais notáveis na história da
pedagogia mundial.

De acordo com Freire (2002, p.25):

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos,


apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de
objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender.

Na defesa de que ensinar não é transferir conhecimentos, o autor mostra que o


processo de ensino e aprendizagem não deve ocorrer de maneira que o aluno, no papel de
objeto, seja formado pelo professor, sujeito único e exclusivo formador. Para Freire (2002),
essa relação reduz o processo de ensino e aprendizagem a uma educação bancária que se
aproxima à de um paciente que recebe os conteúdos acumulados por um sujeito que sabe.

Embora diferentes entre si, aluno e professor estão envolvidos num mesmo processo,
em que um existe em detrimento do outro. Sendo assim, é preciso que a relação entre ambos
seja construída de forma colaborativa e dialógica, em que todos se constituem como sujeitos
aprendentes e ensinantes, conforme é apresentado no documento RECEI (2011).

Sobre a postura do professor em relação ao aluno, Freire (2002, p.52) destaca:

Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser
crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não
a de transferir conhecimento.

Considerando a condição de inacabamento do ser humano, que está em constante


processo de educação desde o seu nascimento até a sua morte, o professor necessita de se
predispor à mudança e aceitar o diferente, já que a cada dia mais demandas são impostas à
escola.

Por outro lado devemos reconhecer que o professor não pode eximir-se da sua tarefa
educativa. A prática escolar cotidiana deve dar condições para que as crianças não somente
conheçam as expectativas em relação a elas, como, por exemplo, que apresentem atitudes de
solidariedade, respeito e cooperação, mas também que construam e interiorizem esses valores
de forma consciente e conhecedora dos “porquês”. Mais do que obedecerem a com regras
estabelecidas e conformarem-se com elas, os alunos precisam ter a oportunidade de conhecer
as intenções que as originaram.

Nesse processo, o papel mediador do professor é de fundamental importância, pois,


além de constantemente estimular os alunos a refletirem sobre as regras construídas
coletivamente, também oferece a eles a oportunidade de negociá-las e flexibilizá-las.

Nesse sentido, Taille (1996, p.23) contribui dizendo:

(...) somente resta à escola uma solução: lembrar e fazer lembrar em alto e
bom tom, a seus alunos e à sociedade como um todo, que sua finalidade
principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão,
são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço
público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo
franco entre olhares éticos. Não há democracia se houver completo desprezo
pela opinião pública.

A escola concebida como um lugar que proporciona a vivência social diferente do


grupo familiar tem um papel extremamente relevante, que não o é, como já aconteceu, o de
controlar e ameaçar, mas sim o de oferecer a oportunidade de acesso às informações novas e
desafiadoras, tornando os alunos capazes de se apropriarem dos princípios de uma sociedade
democrática.
ESCOLA

Sintetizando

PROFESSOR ALUNO

Figura 2 – Esquema elaborado pela autora


Material Complementar

Neste espaço, você terá acesso a conteúdo complementares ao material da unidade IV.
Aproveite para aprofundar e sistematizar os conhecimentos acerca dos conteúdos teóricos.
Bom estudo e até a próxima unidade!

Acesse o texto Organização do espaço e do tempo na Educação Infantil: a Legislação e os


Documentos publicados pelo Ministério da Educação, de Maévi Anabel Nonol. Apesar de
direcionado ao público da Educação Infantil, o artigo traz contribuições para as demais
modalidades de ensino.
Acesso ao artigo: http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/296/5/01d13t07.pdf

No Google Livros, pesquise a obra Instantâneos da Escola Contemporânea, de Julio Groppa


Aquino, e aprofunde um pouco mais seus conhecimentos sobre os aspectos históricos e sociais
da escola apresentados na unidade IV.
http://books.google.com.br/books?id=rRPSBV_Y_WwC&printsec=frontcov
er&dq=julio+groppa+aquino&hl=pt-
PT&sa=X&ei=9k8WUceaG5OA0AGQ_4D4Cg&ved=0CEMQ6AEwAw
Referências

AQUINO, J. G. Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo:


Summus, 1996.

______. Instantâneos da Escola Contemporânea. São Paulo: Papirus, 2007.

BRASIL. Parecer CNE/CEB n. 20, de 11 de novembro de 2009. Revisão das Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, Seção 1, p. 14, 9 dez. 2009.

FRAGA, A. O corpo e o movimento criativo. In: Cadernos da Rede Formação de


Professores. São Paulo: Prefeitura de São Paulo, 2010.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Edição 27ª.


São Paulo: Paz e Terra, 2002.

FREITAS, L. C. CICLO OU SÉRIES? O que muda quando se altera a forma de organizar os


tempos-espaços da escola. Disponível em:

<http://www.anped.org.br/reunioes/27/diversos/te_luiz_carlos_freitas.pdf>, Acesso em: 8


fevereiro 2013.

OSASCO. Reorientação Curricular da educação infantil e ensino fundamental. São


Paulo: Instituto Paulo Freire, 2011.

TAILLE, Y. L. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In:AQUINO, J. G. Indisciplina na


Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.
Anotações

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