Contos e Resumos de Miguel Torga
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AMOR
Nasceu aquela flor em Covelinhas, dum castanheiro velho, o Lourenço Abel, e duma urze
mirrada, a Joana Benta. Nasceu e cresceu tão linda, tão airosa, que o povo em peso punha os
olhos nela. Só tinha um defeito...
- Verduras da mocidade! - pretextava a Cláudia, quando o homem, ao lume, censurava os
namoros da rapariga.
- Ultrapassa as marcas! Dá trela a quantos há na freguesia...
- Ainda hão-de ser mais as vozes do que as nozes.
- É, ê! No dia das inspecções lá se viu... A Cláudia calou-se. Na comprida crónica da montanha
não havia página mais negra do que essa a que o homem fazia alusão. Acabadinhos de sair das
garras da junta, onde nus em pêlo pareciam cordeiros tosquiados, três de Paços, dois de
Fermentões, um de Vilela e outro de S. Martinho armaram tamanha guerra na Sainça, que só
faltou tocar os sinos a rebate. O de Vilela, aqui-del-rei que a rapariga era dele; o de S. Martinho
que o varava logo ali se continuasse com as gabarolices; o mais possante dos de Paços que não
consentia trigo do seu forno na boca de cães... Um inferno. Segue-se que daí a nada ia tal
polvorosa pelos montes, que Deus nos acudisse. Não morreu ninguém, felizmente, mas chegou
para afligir.
A Lídia é que não queria saber de desgraças. Muito bem feita, muito corada, com aqueles dois
olhos de veludo que ameigavam tojos, depois de cada sarrafusca a que dava azo, passava pela
rua acima em direcção às hortas como se nada fosse. E o povo inteiro rendia-se-lhe aos pés,
num sorriso de perdão, de complacência e de carinho.
- Tu a quantos atendes? - perguntava-lhe em confidência a Mariana, já com cinquenta e dois e
ainda de olhinho a reluzir.
- A nenhum. Ninguém me quer, tia Mariana! E dava uma gargalhada das dela, muito clara, muito
pura, pondo à mostra uns dentes que cegavam a gente.
- Raios te partam, rapariga! Trazes um regimento à corda, e a dizer que ninguém te quer!
- À consciência!...
E toda ela se dava e se recusava num requebro enigmático, com os seios a enfunarem-lhe a
blusa de chita.
- Olha., fazes tu muito bem! Enquanto dura, é doçura...
E a doçura era naquele inverno gelado, noites a fio, o Pedro Verdeal comido de ciúmes a guardar
o Lúcio, e o Lúcio, comido de ciúmes, a guardar o Verdeal.
- Que cegueira! Perdidinhos de todo! Um sincelo de meter medo e nenhum arreda pé! Ao menos
tem pena deles, cachopa. Manda pôr uma braseira debaixo do negrilho e outra no cruzeiro...
- Eles não têm frio. Quanto mais, deixe falar, tia Cláudia! Se andam de noite, lá andam à sua vida.
Cá comigo não há nada. Querem coisa mais alta.
E continuava a receber cartas do Lúcio, do Verdeal, do Vitorino, e até recados do Teodoro, um
homem já viúvo! A Violante do correio entregava-lhe essas letras de amor às escondidas de toda
gente, mas ia dizendo:
- Eu não sei como tu podes com tal cainçada atrás de ti!...
A Lídia, porém, era aquele coração aberto a quantos lhe batiam à porta. Como uma terra de
semeadura em pousio, dizia a todas as sementes que deixassem apenas chegar a primavera...
Não havia maldade nem cálculo nas promessas que fazia. Diante de cada solicitação masculina,
sentia-se como que chamada a dar contas da sua íntima natureza de mulher. E todos podiam
pedir-lhas com igual autoridade, justamente porque não amara ainda nenhum a valer. Limpo, o
seu corpo estava destinado a pertencer a um daqueles pobres obcecados, que andavam à sua
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Profª Irene Candeias
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volta como lobos à volta de uma ovelha. A um deles teria de se entregar, mais dia, menos dia.
Mas a qual?
- Tu é que sabes. Se fosse comigo, escolhia o mais jeitoso e mandava os outros à tábua. Sarilhos
desses é que não! - repetia a Violante, apavorada com tanta carta e tanto enredo. - Vê lá!
- Deixe correr, que ainda bota, ti Violante. Uma carta custa apenas o selo e o papel.
- Parece-te! Pode custar muita lágrima. Não estiques a corda demais...
Boas palavras, realmente. Pena é que não tivessem eco nos ouvidos da Lídia. Por mais que
quisesse, não conseguia decidir-se por nenhum. Os homens eram como os ramos de rebuçados
na mesa da doceira: pareciam-lhe todos iguais.
- Não são, não. Repara bem, que verás... - respondia-lhe a Cláudia, cheia de paciência.
Reparava e via o mesmo desejo a arder nos Olhos de cada um. As palavras, os gestos, os amuos
significavam em todos a mesma coisa. P’ra a virgindade que lhe pediam, quer o dissessem, quer
não. E continuava, conciliante, a prometer-lha e a negar-lha.
- Qualquer dia estoira para aí tamanho sarrabulho, que vai ser uma vergonha... - ia insistindo o
Leopoldino, agoirento.
- Olha não estoires tu do miolo! - repontava a mulher, a fazer de valente.
- Deu com o pai já comido da terra, e com a lambaças da mãe, que é uma pobre de Cristo. Posse
minha filha e eu te diria. Era com uma soga por aquele lombo...
- A mãe que há-de fazer? Proibi-la de se divertir ?!
A Cláudia estava farta de saber que o homem tinha carradas de razão. Quantas e quantas vezes
falara já com a Joana Benta sobre a filha. Valia de bem! A coitada ouvia, concordava, gemia,
apagava-se rasteira na escuridão da cozinha. noite é que lá se atrevia a dizer uma palavra à
rapariga.
- Tu não terás juízo, mulher! Coisa assim!
- Não se aflija, que não me dá o lampo. Palavras leva-as o vento...
Mas com palavras tinha ela posto a cabeça do Verdeal e do Lúcio a andar à roda. A mangar, a
mangar, jurava a cada um que não queria mais ninguém e que os outros lhe rondavam a casa
por palermice. Que não era culpada de quantos homens havia no concelho lhe andarem a
cheirar o rasto...
Na véspera do S. Miguel, a Olívia, que era sua amiga do coração, ao vir da missa pôs-lhe os
pontos nos ii.
- Tu tem lá mão na manta, que isto não acaba bem. Dá o sim-ou-sopas a um e emponta o resto.
Muitos burros à nora não é negócio; escoicinham-se uns aos outros... O Verdeal anda sobre o
Lúcio como um cão. Se o agarra a jeito, esfandega-o.
- Mas porquê -Ainda perguntas?
- Oh! E aconteceu o que tinha de acontecer. Nessa mesma noite, depois da ceia, o Verdeal, ao
voltar a esquina da eira, viu um vulto à porta do quinteiro da moça. Disfarçou-se na sombra e
chegou-se perto. Era o Lúcio a falar com ela. Avançou até junto deles. No calor da conversa, nem
o viram.
- Então, muito boas noites... - cumprimentou., já de mão na pistola.
- Boas noites - responderam ambos, ela com a mesma cara, e o Lúcio cego de raiva.
- Pode-se saber quando é a boda?
- Pode...
Mediram-se os dois de cima abaixo.
- É capaz de ser, no dia de juízo...
- Conforme...
- É que a bocada às vezes parece que está quase na boca e não está...
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Alheia, numa volúpia de irresponsabilidade, a Lídia assistia àquela disputa de que era a causa,
divertida como uma criança. Quase que nem ouviu o simultâneo deflagrar das armas.
- Canalha! Seguiram-se mais dois estalidos secos.
- Cabrão! Os insultos como que eram apenas um comentário desdenhoso à margem dos tiros
rápidos e sucessivos.
- Excomungada! A inesperada maldição entrou na alma da Lídia como um punhal de quem
vinha? Da boca do Lúcio, ou da boca do Verdeal?
Mas não pôde sabê-lo. Ambos jaziam quase a seus pés, cada um no último arranco. E quando a
mãe, espavorida, em saiote, abriu a porta, veio encontrá-la ainda alheada junto dos dois mortos,
a tentar compreender a violência daquela queixa.
A Paga
As falas doces com que o Arlindo levava a água ao seu moinho não lhas ensinara o pai, não, que
era um santo. Mas vá lá fiar-se a gente em sanguinidades! Famílias boas, sãs, dão às vezes cada
filho que até se fica maluco. Ali estava, à vista de todos, a demonstração. Sem maus exemplos
em casa, nado e criado numa terra limpa como Vale de Mendiz, e Deus nos defendesse de
semelhante boldrego! Rapariga em que pusesse o sentido, pronto. Tanto fazia saltar como
correr: tinha que ser dele. E então não se contentava com qualquer! Só lhe apetecia o melhor.
Mesmo no povo, desgraçou a Arminda, uma cachopa tão dada, tão bonita, que cortava o
coração vê-la depois, desprezada de toda a gente e comidinha dos males que lhe pegou. Em
Guiães foi a filha do Bernardino, pelos modos a coisinha mais jeitosa que lá havia. Em Abaças,
escolheu a Olímpia, uns dezanove anos que nem uma princesa.
Mas nenhuma como a Matilde, o ai Jesus de Litém. Descobriu-a na festa de S. Domingos, e já
não a largou. O Rodrigo, o melhor amigo dele, bem o avisou: - Olha que ali, tudo o que não seja
nó de altar...
Não quis saber. Rapou do harmónio e abriu-o numa gargalhada.
- Borga, rapaziada! Haja alegria!
O poviléu, que não quer senão pândega, claro, a rodeá-lo, embasbacado.
Ora, isto de mulheres é o que se sabe. A tola, só por ver um fadista daqueles a derreter-se por
ela, já pensava que tinha ali o rei de Portugal! A tia, a do Rito, no caminho, ainda lhe perguntou
se não sabia que menino ele era. Sabia, e que ninguém se afligisse por via dela. E logo no
Domingo seguinte, à tarde, toda desenganada a dar-lhe treta na fonte.
Moveu-se o povo. Tivesse tento na bola!
O mundo nunca parira rês de tão má qualidade. Ou já se não lembrava do que acontecera às
outras?
Nada. Não ouvia ninguém. O que lá ia, lá ia. Águas passadas não tocavam moinho.
O rapaz assentara, falava-lhe com todo o respeito, e, tão certo como dois e dois serem quatro,
recebia-a.
O manhosão, por sua vez, que também não, havia dúvidas nenhumas a tal respeito. Mal
arranjasse a vida, casamento.
O mais mau é que ninguém lhe via arranjar essa tal vida. O Alfredo, o moleiro, a pedido de Litém,
sondou a coisa em Vale de Mendiz, e voltou desanimado. Arraiais, tocatas, danças, e nada de
onde se visse sair propósito de coisa séria. E como o namoro ia de vento em popa – um
entusiasmo, uma loucura -, Litém, pela boca do prior, chamou a rapariga à pedra.
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Pensasse no que andava a fazer. Fugisse das tentações. Desse uma cabeçada, e depois se
queixasse. Tivesse vergonha na cara e tratasse de pôr os olhos num rapazinho da terra, honrado
e trabalhador.
Mas a Matilde andava viradinha do miolo. Jurava sobre as falas do Arlindo como sobre os
Evangelhos. Assim tivesse tão certa a salvação como ele nunca tentara pôr-lhe um dedo e só lhe
falava em bem.
Com semelhante conversa, Litém resolveu aguardar. Não há como dar tempo ao tempo e deixar
cada qual aprender à sua custa.
E viu-se o resultado. Um dia à noite, a Matilde prega-se em casa da Lúcia, põe-se a chorar, a
chorar, e acaba por declarar tudo: o ladrão tinha-lho feito. Tantas loas lhe cantara, tantas juras,
tantas promessas, que caíra como uma papalva.
Mas com quem o Arlindo se foi meter! Com os de Litém, gente capaz de limpar uma nódoa com
as lágrimas de Cristo! Fiava-se talvez em o pai da rapariga ter idade e os dois irmãos, o Cândido
e o A]bino, estarem no Rio. Ora oitenta anos em Litém. não tolhem um homem, e o mar já não
é o que era dantes!
O justo, no desejo de compor aquilo, ainda o procurou, a saber que destino queria dar à filha.
Meteu os pés pelas mãos, que não podia casar agora, que as vidas estavam muito más, e mais
aldrabices. Olha lá que o velho lhe dissesse nada! Calou-se muito calado, virou-lhe as costas, e,
nesse mesmo dia, carta para o Brasil.
Entretanto, a nova fora-se espalhando pelas redondezas. E ao cabo de algum tempo o nome da
Matilde simbolizava apenas a façanha mais atrevida e gloriosa do farçola de Vale de Mendiz.
- Não as deita em cesto roto! Isso é que ele pode ter a certeza! - garantiu o Brás, que sempre
acreditara numa justiça imanente.
- Tantas há-de fazer...
- Já fez... - respondeu-lhe o Rodrigo, que, embora amigo e companheiro do Arlindo, não engolia
aquela de se ter enganado. - Com os de Litém ninguém brinca...
Em Março, quando Vale de Mendiz se cobriu de camélias e mimosas, o Alfredo, à frente do
macho carregado de sacas, deu a grande notícia: os filhos do Justo tinham chegado do Brasil.
- Os dois? - perguntaram todos. - Os dois de uma vez ?!
- Olarila! -Então o Arlindo que se acautele. Mas nada parecia bulir naquele princípio de
primavera. A Matilde há muito que calara as lamúrias; o pai, a todos que lhe falavam no caso,
respondia secamente que a filha dele não era melhor do que as demais; e os irmãos encheram
a irmã de prendas, tratavam-na como uma rainha, e nem por sombras falavam no sucedido.
- A mim até a alma se me apertava com tal sossego - dizia de vez em quando o Rodrigo.
- Os de Litém engolirem uma pastilha assim!
- Que pastilha?! Eu quis, a rapariga quis, quem tem lá nada com isso?
Farroncas. No fundo, também ele, Arlindo, andava de coração como a noite. Bem sabia que não
se vem de repente do Brasil sem uma razão qualquer, e que se quisessem resolver o caso a bem
já o teriam procurado.
Entrou Abril, passou Maio, principiou Junho, e o mesmo fado corrido.
- Estou varado! - desabafava o Rodrigo.
- Palavra que estou varado!
Mas em Agosto, no dia de S. Domingos, quando o Arlindo estava nas suas sete quintas - Ó
Arlindo, toca lá isto, Ó Arlindo, toca lá aquilo! -, chega-se o Rodrigo ao pé dele e segreda-lhe:
- Os Justos de Litém, estão aí. O pai e os filhos...
Os dedos do meliante até se pregaram às teclas da sanfona.
- E ela?
- Ela veio cá o ano passado, e bem lhe chegou...
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Já tinha saldo a procissão e quem rodeava a estúrdia enchia os ouvidos de som para o regresso
a casa. E, como a música esmoreceu, foram debandando e descendo a serra. Agora a festa era
para os que tivessem contas velhas a ajustar.
Começou então no adro um drama surdo, só interior. Os dois companheiros do Arlindo, o
Rodrigo e o Gaspar, embora estroinas também, não estavam dispostos a arriscar um cabelo
naquele sarilho.
- Quem as faz que as desfaça - dizia o Rodrigo, sempre que lhe falavam no caso.
E o Arlindo, à medida que a roda ia diminuindo, tinha a estranha sensação de que todos fugiam
dele e o deixavam sozinho no mundo. Na ânsia de os reter, mudava de música. Pior. A
instabilidade das melodias pegava-se à assistência.
Os Justos, sentados no fundo da escadaria, como a impedir-lhe a retirada, não mexiam um dedo.
E a rarefacção do povo era ainda mais opressiva.
Começava a cair a noite dos lados de Constantim. As últimas vendeiras tinham partido já. A pipa
de vinho, que o Pé-Tolo tivera à sombra do sobreiro, descia o monte vazia, aos solavancos no
carro.
Ao fim de duas horas de suores frios, durante as quais o Arlindo puxara pelo harmónio como um
galeriano, os Justos ergueram-se e deixaram a passagem livre.
- Bem, vamos andando... - disse o Arlindo, exausto. - Os homens não querem nada...
- Parece que não...
Meteram-se os três a caminho, aliviados duma carga que pesava a vida do Arlindo. Só no fundo
do monte, quando o Rodrigo olhou para trás, é que viu que os Justos vinham em cima deles,
calados.
- Isto dá grande desgraça, eu seja cego - avisou o Gaspar, transido. - E, se fosse por outra coisa,
tinhas-me aqui. Assim, não. Lá te avém...
Iam já nas inatas do Infantado, quando os perseguidores cortaram por um atalho e se chegaram.
- Queremos uma palavrinha em particular aqui ao senhor Arlindo...
O Rodrigo, numa irresistível solidariedade humana que se tem com qualquer condenado no
momento da expiação, ainda arranjou coragem para refilar:
- Três para dizerem uma palavra a um homem só?!
Mas, sem mais rodeios, um dos Justos deitou as mãos às abas do casaco do Arlindo, enquanto
os outros dois, de pistola na mão, insistiam numa palavrinha muito em particular àquele
cavalheiro.
O Rodrigo e o Gaspar, à vista de tais argumentos, foram andando.
E no dia seguinte, de manhã, o Arlindo entrou em Vale de Mendiz numa manta, capado.
Miguel Torga
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Prosa
2000 - Pão Ázimo
2000 - Criação do Mundo
1934 - A Terceira Voz
Farrusco. The Blackbird and other Stories from the Portuguese. Translated with an Introduction
by Denis Brass. Illustrations by Gregorio Prieto. George Allen & Unwin Ltd.; London, 1950.
1937 - Os Dois Primeiros Dias
1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo
1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo
1940 - Bichos
1941 - Contos da Montanha "Diário I"
1942 - Rua
1943 - O Senhor Ventura "Diário II"
1944 - Novos Contos da Montanha
1945 - Vindima
1946 - Diário III
1949 - Diário IV
1950 - Portugal
1951 - Pedras Lavradas[4][6] Diário V
1953 - Diário VI
1956 - Diário VII
1959 - Diário VIII
1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo
1976 - Fogo Preso
1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo
1982 - Fábula de Fábulas
1999 - Diário: Volumes IX a XVI (1964-1993), Publicações Dom Quixote e Herdeiros de Miguel
Torga, 2.ª edição integral, ISBN 972-20-1647-4
SOBRE O AUTOR:
Escritor português natural, de São Martinho de Anta, Vila Real. Proveniente de uma família
humilde teve uma infância rural dura, que lhe proporcionou conhecer a realidade do campo,
feita de árduo trabalho contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou
com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio, em Minas
Gerais, como capinador, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras. De regresso a
Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal e frequentou em Coimbra o curso de Medicina, que
terminou em 1933. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras
localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em
1941. Miguel Torga era ligado inicialmente ao grupo da revista Presença.
CONTEXTO HISTÓRICO:
Miguel Torga faz parte do Presencismo, movimento literário de grande relevância. O
Presencismo, também conhecido como a segunda fase do modernismo português, teve início
no ano de 1927 com a publicação da Revista Presença: Folha de Arte e Crítica. Revista Presença
reuniu aqueles que não participaram do Orfismo em virtude de divergências estéticas. Ao
contrário do Orfismo, que tinha como objetivo apresentar uma poesia que rompesse com os
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RESUMO DA OBRA:
Contos da Montanha remete o leitor para um espaço situado no interior, composto por 23
contos, neste livro Miguel Torga apresenta aos seus leitores textos que representam descrições
do comportamento humano, das suas emoções e dos seus sentimentos. O leitor da obra deve
voltar sua atenção para o que existe de comum nos 23 contos, que está altamente voltado para
as ações humanas, pois, Miguel Torga traz fortes traços do humanismo em suas obras, dentro
dos contos as pessoas são heróis e sobreviventes da suas vidas de miséria, de fome e de
sofrimentos.
“A Maria Lionça”
Maria Lionça é a personagem principal deste conto. Maria é uma mulher respeitada, amada,
pobre, bonita, forte. Ela viveu em Galafura durante setenta anos onde encontrou o amor da sua
vida, Lourenço Ruivo, com quem se casa e tem um filho, Pedro. Lourenço acaba lhe provocando
um grande desgosto de amor, pois Ruivo foge para o Brasil sem dar noticias. Quinze anos depois
ela acaba o perdoando quando ele volta à terra muito doente, onde morre passado pouco
tempo, Maria fica de novo sozinha cuidando do filho, que também acaba adoecendo e por
consequência morre nos braços da mãe e ela morre também ao final do conto, depois de uma
vida dedicada a ajudar os outros.
”O cavaquinho”
É narrada a história de uma família muito pobre que vivia num casebre a “três léguas” de Vilela,
onde o pai, chefe de família, promete uma prenda de Natal ao filho de 10 anos, pelo seu bom
desempenho no primeiro exame da escola. A criança estava entusiasmada e bastante curiosa
em saber o que iria receber, uma vez que já conhecia os fracos rendimentos dos pais e aquela
situação, o fato de poder receber algo novo e “gratuito”, deixava-o fascinado. Porém, na noite
em que, supostamente, iria descobrir o que seria a sua recompensa, recebe a triste noticia de
que o pai falecera com uma facada, perto de um cavaquinho que lhe trazia. Um conto que
começa por uma notícia boa (o exame do filho e promessa da oferta de uma prenda) e termina
com a morte do pai, de forma dramática.
“Homens de Vilarinho”
Neste conto Torga conta a história de Firmo, personagem cuja principal marca é a infidelidade à
terra natal. Nem o fato de ter mulher e filhos a zelar o prendia ao território. Aliás, as suas visitas
a Vilarinho duravam pouquíssimo tempo. Foram inúmeras as tentativas do padre João, pároco
do povoado, para convencê-lo da necessidade de corrigir-se, mas o “desejo de mundos” que
tinha Firmo, não o permitia ficar. Por possuir esse caráter, Firmo é caracterizado no conto como
aquele que “desorientava Vilarinho”. Por não cultivar o sentimento de pertença à terra nem à
casa, de maneira mais específica, o seu lugar na narrativa é a de um desordenado, um desertor.
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