Resumo Arraial Matias Cardoso

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Universidade Federal do Ceará – UFC

Disciplina de História do Ceará I


Coordenada pelo Professor Almir Leal de Oliveira
Lecionada pelo aluno Anderson dos Santos Paiva

Resumo do Arraial de Matias Cardoso de Almeida


Visado da obra A Guerra dos Bárbaros, de Pedro Puntoni.

Fortaleza, 12 de Agosto de 2021

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Matias da Cunha, governador-geral, já em 1688 reconhecia que a região do entorno do Rio
Grande já estava sob controle dos tapuias. Remetendo-se aos paulistas novamente, o governador via
neles a única remediação pronta para o combate ao inimigo. Em pedido, chegou a solicitar que estes
viessem pelo sertão, onde encontrava-se o centro do conflito, e já abria um prenúncio para que
Matias Cardoso se juntasse aos seus interesses.
Com a morte do governador-geral, em Outubro de 1688, foi nomeada à substituição de seu
cargo uma Junta Provisória composta pelo chanceler Manuel Carneiro de Sá e pelo arcebispo dom
frei Manuel da Ressurreição. De imediato, este último, atendendo às suplicas dos moradores da
região conflituosa e baseando-se nos relatos chegados ao falecido chefe, solicitou em carta que
fossem excluídas as ordens dadas por Matias da Cunha, e que as tropas recuassem em relação as
suas investidas, visto que a população estava sofrendo tanto mais com a atuação do exército na
região, quanto com os “bárbaros” e seus saques.
Tão maiores foram as investidas indígenas contra as tropas luso-brasileiras que fizeram com
que Jorge Velho e Antônio Albuquerque, por escassez de munições, recuarem e retornarem para o
seu quartel de origem. Além da problemática do atraso de assistência por outros grupos, este
retrocesso se deu pela falta de soldados, a maioria tendo sido morta em combate.
Os moradores da região continuavam em seu êxodo para fora do país, tanto pela atuação
arbitrária das tropas do Estado na região, que consumiam recursos aos montes, tanto quanto os
indígenas saqueavam, quanto pelos contínuos saques destes. Até mesmo as tropas de Manuel de
Abreu Soares estavam abusando do consumo de insumos, o que gerou reconhecimento do prórpio
arcebispo, que lamentou que os soldados estivessem sendo tão nocivos à população que ali habitava
quanto os reais inimigos.
Em carta, o próprio Abreu abdicou de sua posição em Açu, que datava de cinco ou seis meses,
pelos motivos já citados, e isso foi lido por todos os envolvidos como a plena entrega da região aos
tapuias. O mesmo tentou fazer Agostinho de Andrade, por motivações também pessoais
relacionadas ao escravismo, mas que não o concluiu por cumprimento de um requerimento dos edis
paulistas, onde solicitavam sua permanência, o que foi de bom tom aceito pelo capitão-mor.
Já perambulando pela região sertaneja ao fim de 1688, Matias Cardoso, com o citado, era a
preferência do ex governador geral, e isto por este confiar nas habilidades e conhecimentos de
sertão de Cardoso, que já havia participado das expedições de Fernão Dias Pais e que fora nomeado
por D. Rodrigo Castel Branco, administrador-geral das Minas do Sul, como tenente-general da leva
de Sabarabuçu, encarregada da exploração das minas de prata. Manuel da Ressurreição e outas
autoridades já viam como certa sua convocação para a guerra e nomeação ao cargo que lhe fora
prometido.

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Matias Cardoso seria nomeado como governador do regimento que se formasse a partir da
vassalagem de indígenas do sertão, que lhe daria também as mesmas atribuições de um mestre-do-
campo, o que foi usado como propaganda para que outros paulistas ingressassem ao sertão para
integrar-se ao conflito. Apesar de possuir um adversário ao cargo, Manuel Camargo, Cardoso foi o
consagrado com os poderes da função. Alguns encargos foram levados em conta antes de tal
nomeação , visto que os concorrentes fizeram exigências maiores do que os interesses do falecido
governador em relação à guerra, o que aparentou para o arcebispo como sendo interesses de
conveniência pessoal, sendo as exigências de Cardoso ainda mais brandas do que as do adversário.
Ao final, ele estaria com as mesmas regalias de Domingos Jorge Velho.
Por já se localizar nas imediações do São Francisco, o novo governador de exército estava no
aguardo de reforços para poder se dirigir ao Rio Grande. Porém, por encargos e descargos das
outras províncias e governadores, sua viagem à Bahia ainda custaria alguns meses. Nesse tempo,
várias propostas de auxílio remunerado surgiram de paulistas, mas nenhuma que atendesse às
possibilidades e interesses do frei. Até mesmo André Furtado de Mendonça, que levaria o
reconhecimento posteriormente por matar o Zumbi dos Palmares, havia se oferecido pelo valor de 5
mil cruzados em espécie, além de outras regalias, mas o arcebispo o negou, afirmando que a região
conflituosa não estava à venda.
Mais empecilhos se davam ao longo da jornada das tropas lusitanas até o campo de batalha,
tais como tentativas de fraude por parte de alguns senhores, o que atrasava o andamento do
processo de angariar mais gente para o combate, como no caso de Aranha Pacheco, que na época
exigira do governo geral insumos que já contava em sua infantaria, visto ter comunicado sua
retirada e de seus homens da região por falta dos mesmos.
Foi apenas em Agosto de 1689 que parte do montante de Matias Cardoso chegou na Bahia. O
sargento-mor Manuel Álvares de Morais Navarro que trouxe consigo soldados por mar, foi
convocado a se juntar a Cardoso no São Francisco, sob ordens de recuperar os insumos bélicos que
ficaram com André Correia após a sua desistência.
Pela falta de verbas a mais a serem cedidas pela Fazenda na arrecadação de mais reforços para
a guerra, o arcebispo se confiou, naquele momento, na eficiência daqueles que chegaram ao local
para por fim à guerra contra os indígenas, e no gabo que carregavam os paulistas em relação aos de
Pernambuco, Bahia e Rio Grande. Eram uma opção mais barata, visto serem mais ágeis neste
combate aos “gentis”, junto com as tropas dos camarões e henriques, acelerando o processo e
diminuindo os gastos.
Por pressão popular, o governador-geral se viu na obrigação de arcar com um plano de
destituição das tropas que se encontravam no sertão, em campo de batalha, para que Matias Cardoso

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assumisse todo o controle juntamente com seus reforços. E foi o feito em 1690, quando o
governador, também sob influência da opinião do governador da Bahia, solicitou o retiro das tropas
remuneradas de Albuquerque e Abreu do centro do sertão, com alguma exceção que serviria como
reforço, bem como ficaria isento o exército de Jorge Velho, o qual teria autonomia em relação aos
camaroneses, henriques e a Matias Cardoso. Esta seria a reforma esperada que poria o fim nos
bárbaros, nos gastos e nos descontentos.
No ano de 1690, com a reformulação tática e administrativa, Manuel Navarro continuara em
seu posto de sargento-mor do regimento, junto com seus ajudantes. Sete companhias novas
surgiram, sob o comando de Miguel de Godói Vasconcelos, João Pires de Brito, João de Godói
Moreira, Luís Soares Ferreira, Amaro Homem de Almeida, Diogo Rodrigues da Silva e João Freire
Farto, no intuito de dinamizar a circulação de armamento entre as tropas, bem como um exército
com 500 indígenas submissos à parte das tropas, cedidos no intuito de agilizar o andamento da
batalha.
Um dos objetivos, além do fim da guerra e diminuição de gastos com o conflito e a região, era
a recuperação do território do Açu, abandonado por Manuel de Abreu Soares, visto ser de suma
influência na passagem até o Ceará. Inicialmente, Cardoso havia estabelecido um arraial no
Jaguaribe, o qual deixou sob comando de João Amaro Maciel Parente e suas tropas, que em poucos
meses foram quase que completamente aniquiladas pelos tapuias e pela escassez de abastecimento,
o que fez o comandante regressar para o Rio Grande, contornando o território.
Já a situação de Domingos Jorge Velho era mais favorável, pois o seu sargento-mor, Cristóvão
de Mendonça Arrais havia capturado o principal nome dentre os janduís, Canindé, e posteriormente
também capturaria um pirata estrangeiro, para o qual atribuíram a ideia de conspiração entre os
tapuias e inimigos externos que visavam a bancarrota da coroa portuguesa na região.
Canindé, intitulado “rei dos janduís”, possuía influência em ao menos 22 aldeias, que eram
habitadas por cerca de 14 mil pessoas e com um exército de 5 mil soldados armados, que se
estendiam das capitanias de Itamaracá ao Rio Grande. Era a cabeça, segundo Taunay, responsável
pelo início das investidas contra a região deste durante o governo de João Fernandes Vieira.
Uma questão bastante pertinente neste período foi a dos escravos. Discutia-se sobre a
legalidade desta prática, visto que os cativeiros eram vistos com maus olhos pela coroa. Tanto que,
em carta, o novo governador-geral, Câmara Coutinho, revogou o status de guerra justa daquele
conflito, pois sentia que nele estavam envolvidos interesses que não o abarcavam, visto que a
missão destinada pelo ex-governador-geral remetia ao assassinato de seus inimigos, e não a sua
cativação e comércio, que era o que almeja Coutinho. Tanto ele quando o rei solicitaram, neste 1691,
o transporte dos cativos ao Rio de Janeiro, local donde não poderiam sair.

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Obviamente essa decisão causou tremendo descontentamento dos paulistas combatentes que
se encontravam no campo de batalha a anos. Em cartas, com apoio de Matias Cardoso, eles
contestaram a decisão da coroa, afirmando que se não fosse pelo extermínio dos gentios, não
poderia ser cessada a guerra e nem se manter em pé as capitanias do Rio Grande e do Ceará. Essa,
até 1695, seria a questão central da questão dos paulistas contra os indígenas tapuias: a legalidade
do cativeiro, do aprisionamento, ou do seu extermínio, e qual seria a promissa mais eficaz contra a
problemática desses nativos na região.

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