Relatório Final CPI Cemig

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Comissão Parlamentar de Inquérito para, no prazo de 120 dias, investigar fatos


determinados consistentes na possível prática de ilegalidades na gestão da
Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, desde 2019, gerando prejuízos ao
interesse público

CPI DA CEMIG
Relatório Final

Relator: Deputado Sávio Souza Cruz

Aprovado em comissão em:

Belo Horizonte
2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................4

1. Normativas sobre o modelo de contratações da Cemig .......................................10


1.1 A Lei das Estatais ................................................................................................10
1.2 Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig ...............................11
1.3 Manual de Procedimentos – Seção 04 – Jurídico (IJ-04) da Cemig.... ................12

2. Contratações e as irregularidades apuradas ........................................................14


2.1 Da contratação direta da Exec Consultoria de Recursos Humanos Ltda. para a
seleção do atual diretor-presidente da Cemig .....................................................14
2.2 Da contratação da Exec Consultoria de Recursos Humanos Ltda. para a prestação
de serviços de avaliação e validação de candidatos a cargos de executivos .......55
2.3 Da contratação direta do escritório Terra, Tavares, Ferrari, Elias Rosa Sociedade
de Advogados para consultoria jurídica ..............................................................67
2.4 Da contratação direta da IBM e a subcontratação da A&C em detrimento da
vencedora do pregão para prestação de serviços de call center, a Audac ...........85
2.5 Da contratação da Wework Serviços de Escritório Ltda. para serviço de locação de
espaço de trabalho de coworking na cidade de São Paulo ................................122
2.6 Da contratação da Kroll Associates Brasil Ltda. para serviços técnicos
especializados de assessoria forense e econômico-financeira ..........................155
2.7 Da contratação direta dos escritórios Lefosse Advogados e Thomaz Bastos,
Waisberg, Kurzweil Advogados para consultoria jurídica ................................192

3. Da venda da participação da Light, da qual a Cemig era a maior acionista, na


Renova Energia por apenas R$1,00 e outras operações societárias ......................216

4. Das práticas de condutas ilegais e imorais na execução contratual .................226

CONCLUSÃO ................................................................................................................239

2
Recomendações de providências ....................................................................................255

Anexo I – Relação das reuniões realizadas ..................................................................260


Anexo II – Relação dos requerimentos de informações e de providências aprovados pela
CPI .................................................................................................................................278
Anexo III – Projeto de lei ...............................................................................................313

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INTRODUÇÃO

O Requerimento Ordinário nº 1.047/2021, encabeçado pelo deputado Professor


Cleiton e assinado pelos deputados e deputadas Ana Paula Siqueira; Alencar da Silveira Jr.;
André Quintão; Andréia de Jesus; Beatriz Cerqueira; Betão; Cássio Soares; Celinho
Sintrocel; Charles Santos; Cleitinho Azevedo; Cristiano Silveira; Delegado Heli Grilo;
Doutor Jean Freire; Doutor Paulo; Doutor Wilson Batista; Elismar Prado; Fernando
Pacheco; Ione Pinheiro; Leandro Genaro; Leninha; Marquinho Lemos; Osvaldo Lopes;
Rafael Martins; Sargento Rodrigues; Sávio Souza Cruz e Ulysses Gomes, requer “seja
constituída comissão parlamentar de inquérito para, no prazo de 120 dias, investigar fatos
determinados, indicativos de possível prática de ilegalidades na gestão da Companhia
Energética de Minas Gerais – Cemig –, de 2019 até a presente data, gerando prejuízos ao
interesse público, quais sejam: contratações diretas realizadas desde janeiro de 2019, sem
a prévia realização de licitação, tanto pela Cemig como pelas suas subsidiárias, em
desconformidade com a lei e a Constituição da República; realização de alienações de
ativos e ações da Cemig, a partir de janeiro de 2019, relacionadas com sua participação
societária na Renova, na Light e na Taesa, em desconformidade com a lei e a Constituição
da República; prática de condutas ilegais e imorais por parte de diretores e empregados
públicos da Cemig e de suas subsidiárias e de particulares contratados, desde janeiro de
2019, em questões de execução contratual; e prática ilegal e antieconômica de transferência
de atividades administrativas da Cemig para São Paulo (SP), com prejuízos para o interesse
público estadual”.
Publicado no Diário do Legislativo em 17/6/2021, esse requerimento foi recebido
em Plenário e deferido em 16/6/2021, sendo constituída, nos termos do art. 112 do
Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais e do art. 60, § 3º,
da Constituição Mineira de 1989, a CPI da Cemig, composta dos seguintes membros
efetivos: deputado Cássio Soares/PSD, designado como presidente da comissão; deputado
Professor Cleiton/PSB, designado como vice-presidente da comissão; deputado Sávio
Souza Cruz/MDB, designado como relator da comissão; deputada Beatriz Cerqueira/PT,
deputado Hely Tarqüínio/PV, deputado Zé Guilherme/PP e deputado Zé Reis/PODE.
Foram, também, designados como membros suplentes os seguintes deputados: Rafael

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Martins/PSD, Elismar Prado/PROS, Betão/PT, Arnaldo Silva/DEM, Sargento
Rodrigues/PTB, Tito Torres/PSDB e Roberto Andrade/AVANTE.
Nos termos do art. 58, § 3º, da Constituição da República de 1988 e do art. 60, § 3º,
da Constituição do Estado, a Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – possui poderes
de investigação próprios das autoridades judiciais, podendo adotar medidas necessárias
para a apuração de fato determinado – um acontecimento considerado, nos termos dos arts.
112 e seguintes do Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado de Minas
Gerais, “de relevante interesse para a vida pública e para a ordem constitucional, legal,
econômica e social do Estado, que demande investigação, elucidação e fiscalização” do
Poder Legislativo Mineiro.
Considerando o arcabouço normativo que ampara a matéria, 27 parlamentares –
mais de 1/3 dos membros do Parlamento Mineiro, conforme requer o art. 112 do Regimento
Interno e o art. 60, § 3º, da Constituição Mineira de 1989 – se uniram para pleitear a
constituição de Comissão Parlamentar de Inquérito para, no prazo de 120 dias, investigar
fatos determinados consistentes na possível prática de ilegalidades na gestão da Cemig,
desde 2019, gerando prejuízos ao interesse público.
Esta comissão iniciou os seus trabalhos em 29/6/2021, com a previsão de concluí-
los até o dia 08/11/2021. Para otimizar seu cronograma, os membros da CPI pactuaram o
acordo de procedimentos e o planejamento das atividades dividido em três fases de trabalho.
Em razão do grande volume de documentos e depoimentos necessários para a
investigação, foi aprovado o RQC nº 10.663/2021, prorrogando o prazo de duração desta
CPI por mais sessenta dias, com previsão, portanto, para o encerramento em 21/2/2022.
Em um primeiro momento, as investigações desta comissão se concentraram na
análise de dezenas de contratos celebrados desde 2019, sem a prévia realização de processo
licitatório, prática constantemente realizada pela atual Diretoria, inclusive sem a prévia
formalização de procedimentos de dispensa ou inexigibilidade de licitação.
As contratações diretas objeto de investigação envolvem serviços de consultoria e
assessoria jurídica, econômico-financeira e até mesmo serviços na área de seleção e
recrutamento de pessoal (headhunters).
Outra contratação direta relevante, objeto desta investigação, envolve o serviço de
call center, que, conforme será detalhado neste relatório, se trata do maior e do mais longo

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acordo já firmado na história da Cemig, celebrado sem a realização de um processo
licitatório, em que pesem os vultosos valores envolvidos no negócio e a existência de um
pregão já encerrado e vencido por outra empresa que não a contratada sem a licitação.
A partir de oitivas de testemunhas e depoimentos de investigados, além de vasta
produção de prova documental e quebra de sigilo bancário e de dados telefônicos, na
primeira fase apurou-se uma série de irregularidades e ilegalidades.
Em razão da limitação de prazo de duração, as investigações focaram seus esforços
nos temas mais sensíveis e evidentes envolvendo os fatos determinados que ensejaram a
instauração da comissão.
Apurou-se, como será explicado, uma conduta recorrente da atual gestão da Cemig
consistente em realizar contratações verbais e precárias de consultorias extremamente caras,
especialmente de escritórios e empresas situadas na cidade de São Paulo, com suposto
início de execução de serviços sem a cobertura contratual.
A prática excepcionalíssima da “convalidação” de contratações verbais e precárias
tornou-se figura constante na atual gestão, que, sob a alegação de urgência e necessidade
de sigilo, promovia escolhas subjetivas de fornecedores e os autorizava a prestar os
serviços mesmo sem a prévia formalização dos procedimentos de contratação direta.
Ainda nessa primeira fase dos trabalhos, além dos defeitos formais das
contratações, a investigação detectou uma série de conflitos de interesses envolvendo
alguns dos contratos, situações nas quais algumas das inexigibilidades e contratações
demonstram-se meros subterfúgios para estabelecer formalmente o que tinha sido
estabelecido verbalmente e previamente entre as empresas envolvidas. Foram cruciais para
o inquérito as oitivas dos próprios empregados da Cemig, alguns deles afastados da
companhia em razão de supostas investigações do Ministério Público do Estado de Minas
Gerais – MPMG.
Ao que parece a partir de alguns depoimentos, o verdadeiro motivo do afastamento
de alguns empregados se deu porque eles não compactuavam com as práticas ilegais que
vêm sendo perpetradas pela atual diretoria da empresa, como, por exemplo, ao não
aceitarem assinar documentos acatando as inexigibilidades de licitação, contratações
diretas e convalidações, na medida em que tais práticas não se encontravam dentro das
exigências de compliance e da Lei das Estatais – Lei Federal nº 13.303, de 30/6/2016.

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Alguns procedimentos de inexigibilidade de licitação investigados, inclusive, nem contam
com a peça do parecer jurídico opinativo acerca da sua legalidade, tendo sido essa
“substituída” pela proposta de deliberação firmada pelo diretor de regulação e jurídico, que
muitas vezes era o próprio responsável pela requisição da contratação.
Também na primeira fase dos trabalhos, apurou-se a forte interferência do partido
NOVO na Diretoria da Cemig bem como a constante pressão de alguns superintendentes e
da Presidência no direcionamento de contratos para algumas empresas também
relacionadas ao partido.
A segunda fase das investigações teve por foco as vendas – e tentativas de venda –
de subsidiárias da Cemig, que evidenciaram a estratégia da diretoria de acelerar a
privatização, mesmo sem a existência de lei autorizativa e referendo popular, como exige
a Constituição estadual.
Cuida-se de uma estratégia iniciada em 2019 e de diversas práticas convergentes no
sentido de desidratar e desvalorizar a companhia, tais como a retirada de postos importantes
de servidores de carreira e contratação de funcionários advindos de São Paulo, tudo isso
no intuito de quebrar o “telhado de vidro”, isto é, a natural proteção da companhia por parte
dos empregados públicos de carreira.
Nessa fase, apurou-se a venda da participação da Light S.A. – Light – na Renova
Energia S.A. – Renova –, a situação da recuperação judicial da Renova e a venda da
participação da Cemig na Light. Tal imbróglio gerou prejuízo financeiro que impressionou
o mercado corporativo brasileiro. Com efeito, as vendas das ações da Light se deram em
momento de retração econômica, de pandemia, em que o mercado não aconselhava essa
venda. Da mesma forma, salta aos olhos o ímpeto da Cemig de vender a participação da
Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. – Taesa –, empresa em que a Cemig é a
maior acionista e é sócia da ISA CTEEP – Companhia de Transmissão de Energia Elétrica
Paulista –, de onde veio o atual presidente, o Sr. Reynaldo Passanezi Filho.
Na terceira fase, a CPI se debruçou sobre a contratação das empreiteiras. Apurou-
se as denúncias de empreiteiras que estão operando na Cemig sem condição alguma de
prestar o serviço, como é o caso de empresas de coleta de lixo, sediadas em São Paulo –
SP. Verificou-se que há uma série de exigências técnicas que não estão sendo consideradas

7
pela Diretoria, demonstrando um claro direcionamento da contração para determinadas
empresas, sobretudo as que vêm de São Paulo.
No total, a CPI realizou uma reunião especial para a instauração dos trabalhos; 31
reuniões extraordinárias, sendo uma delas secreta para ouvir uma das testemunhas. Foram
colhidos dezenas de depoimentos e aprovados aproximadamente uma centena de
requerimentos. Foram, além disso, recebidos ofícios com documentos e resultados de
providências tomadas.
É importante destacar que, como o desenvolvimento dos trabalhos da comissão
ocorreu em período de pandemia de Covid-19, por medida de prevenção à transmissão do
coronavírus, algumas das reuniões foram realizadas com número reduzido de pessoas e
parlamentares, que puderam participar remotamente das reuniões.

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Método de organização dos trabalhos

Na primeira etapa dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito,


denominada CPI da Cemig, se deu a análise de alguns contratos celebrados sem a prévia
realização de processo licitatório, prática reiterada desta atual gestão a partir de 2019,
algumas delas inclusive sem a devida instauração do processo de inexigibilidade
legalmente exigido.
Nessa etapa, foi necessário, primeiramente, um estudo minucioso da legislação,
incluindo as normas constitucionais, legais e infralegais referentes à contratação por parte
da Cemig. Esse estudo será apresentado no item 1 deste relatório, considerando os
dispositivos normativos que são imprescindíveis para a compreensão dos resultados aqui
apresentados.
A partir desse estudo, foi possível determinar as ilegalidades e as inconsistências de
algumas contratações realizadas pela Cemig a partir do ano de 2019.
Apuradas as ilegalidades e irregularidades, este relatório apresenta considerações
referentes aos fatos investigados e suas consequências cíveis e criminais. Além disso,
apresenta as possíveis sanções e diligências referentes a cada delito ou desvio descrito.
Em razão do volume de documentos e informações e do tempo curto de duração
desta CPI, as apurações aqui trazidas não conseguiram exaurir todos os acontecimentos.
Este é o motivo de o relatório destacar alguns dos contratos cujas irregularidades afiguram-
se flagrantes e graves.
Por fim, com o objetivo de dar publicidade a todo o trabalho realizado, serão
anexados os documentos comprobatórios dos fatos descritos neste relatório. O Anexo I traz
a relação das reuniões e diligência realizadas pela CPI da Cemig; o Anexo II contempla a
relação dos requerimentos de requisição de informações e pedido de providências
aprovados pela comissão e, finalmente, no Anexo III, se apresenta sugestão de projeto de
lei, que dispõe sobre a adoção, pelas empresas estatais, das parcerias em oportunidade de
negócio, no âmbito do Estado.

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1. Normativas sobre o modelo de contratações da Cemig

A Cemig foi constituída como sociedade por ações, de economia mista. A Lei
Estadual nº 828, de 14/12/1951, em seu primeiro artigo, determina: “fica o Governo do
Estado de Minas Gerais autorizado a promover a organização, no Estado, de uma sociedade
de economia mista, por ações, destinada a construir e explorar diretamente sistemas de
produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e serviços correlatos, bem como a
auxiliar a criação, administração, controle e financiamento de sociedades de economia
mista de caráter regional, que tenham aquela finalidade”.
A caracterização da natureza jurídica da Cemig, como sociedade de economia mista,
é repetida na Lei Estadual nº 8.655, de 18/9/1984, que dispôs sobre a mudança do nome da
empresa de “Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A.” para “Companhia Energética de
Minas Gerais”. Atualmente, o estatuto da empresa, disponível em seu sítio1, também
afirma ter sido a Cemig criada sob a forma de sociedade por ações, de economia mista.
Uma sociedade de economia mista é uma estrutura societária de sociedade anônima
em que as ações são compartilhadas entre o Estado e o mercado, sendo o Estado o maior
detentor das ações com direito a voto. Note-se que o Estado não precisa ser o acionista
majoritário – possuir a maior parte das ações –, para se caracterizar uma empresa de capital
misto. Entretanto, é preciso que ele tenha o controle da companhia. A Cemig possui capital
aberto e o Estado possui 51% (cinquenta e um por cento) do seu capital votante.

1.1 A Lei das Estatais

A Lei Federal nº 13.303, de 30/6/2016, conhecida como “Lei das Estatais”,


introduziu significativo e importante arcabouço direcionado ao controle, transparência e
gestão administrativa das empresas públicas e das sociedades de economia mista. A
referida lei dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios, regulamentando o art. 173, § 1º, da Constituição da República de 1988 –
CRFB/88.

1
Acesso disponível em: <www.cemig.com.br>.

10
Ela inovou em aspectos importantes do regime jurídico das licitações e contratos,
em substituição ao regime da Lei Federal nº 8.666, de 21/6/1993, que regulamentava o art.
37, inciso XXI, da CRFB/88, instituindo normas para licitações e contratos da
Administração Pública, objeto de revogação pela Lei Federal nº 14.133, de 1º/4/2021.
Assim, a Lei das Estatais passou a disciplinar a realização de licitações e contratos
no âmbito da Cemig. Consequentemente, a Lei Geral de Licitações e Contratos (Lei Federal
nº 8.666, de 1993, e Lei Federal nº 14.133, de 2021) não se aplica mais diretamente às
estatais, salvo nos casos expressamente descritos na própria Lei Federal nº 13.303, de 2016
(normas penais e parte dos critérios de desempate, entre outras) ou identificada alguma
lacuna normativa.
Portanto, com a edição da referida Lei Federal nº 13.303, de 2016, a Cemig não
utiliza mais as modalidades de licitação então previstas na Lei Federal nº 8.666, de 1993,
e na Lei Federal nº 14.133, de 2021 (convite, concorrência, tomada de preços, concurso e
leilão), mas, sim, os procedimentos previstos na Lei das Estatais, sendo que, para a
aquisição de bens e serviços comuns, deve-se adotar preferencialmente o pregão.
Pontos extremamente importantes previstos na Lei Federal nº 13.303, de 2016, que
impactam diretamente a investigação são as regras que disciplinam as hipóteses específicas
de licitação dispensada (art. 28, § 3º), dispensável (art. 29) e inexigível (art. 30), além das
que regulamentam os procedimentos administrativos prévios à sua realização pelas
empresas estatais.
O art. 28, § 3º, estabelece hipótese de não incidência ou inaplicabilidade do dever
de licitar relativamente às atividades-fim das empresas estatais, traçando importantes
balizas em situações qualificáveis como “oportunidades de negócio”. A Cemig utilizou
exatamente desse modelo de contratação em um dos objetos mais vultosos da investigação
e, em momento oportuno, este relatório exporá o tema com a riqueza de detalhes que
merece e que foi possível aprofundar no limite temporal da CPI.

1.2 Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig

11
O art. 40 da referida Lei Federal nº 13.303, de 2016, estabelece que as empresas
estatais deverão publicar e manter atualizado regulamento interno de licitações e contratos,
compatível com o disposto na citada lei:
Art. 40. As empresas públicas e as sociedades de economia mista deverão
publicar e manter atualizado regulamento interno de licitações e contratos,
compatível com o disposto nesta Lei, especialmente quanto a:
I – glossário de expressões técnicas;
II – cadastro de fornecedores;
III – minutas-padrão de editais e contratos;
IV – procedimentos de licitação e contratação direta;
V – tramitação de recursos;
VI – formalização de contratos;
VII – gestão e fiscalização de contratos;
VIII – aplicação de penalidades;
IX – recebimento do objeto do contrato.

Atendendo ao disposto no artigo citado, a Diretoria (em 3/1/2018) e o Conselho de


Administração (em 12/1/2018) da Cemig aprovaram o Regulamento Interno de Licitações
e Contratos, o qual está disponível para consulta em seu sítio oficial2.
Assim, a partir de 1º/7/2018, a Cemig passou a se sujeitar às determinações da
citada Lei Federal nº 13.303, de 2016 e do Regulamento Interno de Licitações e Contratos
da companhia, cuja finalidade consiste exatamente em proporcionar maior eficiência,
transparência, controle e economicidade nas contratações, conferindo concretude aos
princípios que regem a administração pública dispostos no art. 37 da Constituição da
República de 1988.

1.3 Manual de Procedimentos – Seção 04 – Jurídico (IJ-04) da Cemig

O Manual de Procedimentos – Seção 04 – Jurídico, também referido como IJ-04,


de 4/8/2020 (que substituiu a IJ-04 de 2/9/2019), é um documento interno da Cemig, com
23 laudas, que tem por finalidade esclarecer conceitos jurídicos e definir rotinas de trabalho
da área jurídica, da área de aquisições e dos órgãos interessados, relativos à contratação de
obras, serviços, aquisição e alienação de bens, celebração de convênios e outras parcerias,
negócios jurídicos em geral, bem como a prática de atos administrativos inerentes, no

2
Acesso disponível em: <https://www.cemig.com.br/fornecedor/regulamento-interno-de-licitacoes-e-
contratos>.

12
âmbito da Cemig, observadas as disposições da Lei das Estatais e do Regulamento Interno
de Licitações e Contratos.
A instrução foi aprovada pela Diretoria Executiva em 4/8/2020 e se encontra
juntada aos autos desta CPI, tendo sido fornecida pela Cemig em razão da aprovação do
Requerimento nº 10.639/2021.
O referido instrumento estabelece procedimentos a serem seguidos na fase interna
dos processos de licitação, de contratação direta e de contratações especiais, trazendo
diretrizes extremamente importantes para a fase pré-contratual, as quais, infelizmente,
passaram a ser ignoradas pela atual gestão da Cemig.
Além disso, ele contempla regras procedimentais relativas à fase externa dos
processos administrativos de licitação e de contratação direta. Regulamenta, ainda, os
negócios jurídicos atípicos, a celebração de aditivos a contratos e a competência para a
prática dos atos. Finalmente, a IJ-04 apresenta, em anexo, o modelo de termo de
convalidação de atos e o modelo de atos para os processos de contratação.
Conforme se verá, a IJ-04 foi mencionada, em diversas oportunidades, pelas
testemunhas, no curso da investigação da CPI. A título de exemplo, os depoimentos
confirmaram que ela estabeleceria o fluxo interno para contratações diretas na estatal, ou
seja, sem licitação. Esse fluxo partiria da demanda da área contratante com a devida
justificativa, depois emissão de parecer prévio pela Diretoria Jurídica e, por fim, elaboração
de Proposta de Deliberação a ser aprovada pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de
Administração.
Outro ponto abordado no curso das investigações sobre a referida instrução e que é
conveniente abordar desde logo é que, conforme o item 3.1.2, alínea “d”, da IJ-04, quando
se trata de uma contratação por dispensa ou inexigibilidade de licitação, o órgão interessado
deverá providenciar parecer jurídico sobre a contratação direta pretendida, excepcionados
os casos de dispensa referidos no art. 29, incisos I, II, V, VI e § 1º da Lei Federal nº 13.303,
de 2016.

13
2. Contratações e as irregularidades apuradas

2.1 Da contratação direta da Exec Consultoria de Recursos Humanos Ltda. para a


seleção do atual diretor-presidente da Cemig

Por meio da aprovação do RQC nº 9.481/2021, a Comissão Parlamentar de


Inquérito requisitou ao diretor-presidente da Companhia Energética de Minas Gerais cópia
integral da inexigibilidade de licitação nº 510-E14318, Contrato nº 4320000014/510,
celebrado com a empresa Exec Consultoria de Recursos Humanos Ltda.
A Cemig, em resposta ao requerimento, encaminhou as cópias que se encontram
juntadas aos autos do inquérito desta Comissão Parlamentar de Inquérito no SDS,
especificamente na Pasta Respostas aos RQCs, subpasta nº 9.481, arquivo “Resposta ao
RQC 9481_2021_CPI_CEMIG”.
Da análise dos documentos enviados, é possível constatar, de plano, que:
✓ o objeto da contratação consiste em serviços de recrutamento e seleção de executivo
para a substituição do diretor presidente da Cemig, em caráter de urgência;
✓ a necessidade da contratação foi identificada em novembro de 2019 e a proposta de
prestação dos serviços enviada pela Exec para a Cemig foi direcionada ao Sr.
Evandro Negrão de Lima Júnior, à época dirigente do partido NOVO, sujeito
totalmente estranho aos quadros de empregados e diretores da companhia e aos
quadros do Poder Executivo estadual;
✓ os serviços foram supostamente prestados pela Exec mesmo sem a prévia realização
de processo licitatório ou mesmo a instauração do devido processo de dispensa ou
de inexigibilidade de licitação, bem como antes ainda da celebração de qualquer
contrato escrito entre as partes;
✓ a Cemig promoveu o pagamento dos serviços à Exec Consultoria de Recursos
Humanos após a instauração de um procedimento de convalidação, enquadrando a
hipótese supostamente na situação de inexigibilidade de licitação prevista no art.
30, inciso II, alínea “c”, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, e do art. 21, inciso II,
alínea “c”, do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig;

14
✓ no processo de convalidação que justificou o pagamento, não foi conferida e muito
menos comprovada a efetiva prestação dos serviços, não tendo sido também
justificada a escolha do fornecedor e os preços praticados;
✓ em sua proposta, a Exec menciona que estaria oferecendo os serviços por preço
supostamente muito inferior ao praticado no mercado, indicando valor que não
atinge 60% dos preços supostamente praticados pelo mercado para serviços
similares.
Após o recebimento da documentação, a CPI iniciou a fase de oitiva de investigados
e testemunhas envolvidos na contratação da Exec para a seleção do diretor-presidente da
Cemig. A investigada, Sra. Cláudia Campos de Faria, advogada responsável pela emissão
do parecer jurídico favorável, em tese, à contratação direta da Exec, por inexigibilidade de
licitação, mediante a convalidação, exerceu o seu direito constitucional ao silêncio, não
respondendo aos questionamentos apresentados pelos membros desta Comissão
Parlamentar de Inquérito, na 7ª Reunião Extraordinária realizada no dia 13/8/2021.
Por outro lado, dos depoimentos das testemunhas Débora Lage Martins Lélis,
Hudson Felix Almeida, Leandro Corrêa de Castro, Rômulo Provetti, João Polati Filho,
Carlos Eduardo Altona e Cledorvino Belini, foi possível confirmar indícios da ocorrência
de diversos fatos.
Preliminarmente, ficou bastante claro que a escolha e a indicação da empresa Exec
Consultoria de Recursos Humanos Ltda., inclusive a negociação dos valores, foram
realizadas pelo Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior, conforme se extrai do seguinte
trecho do depoimento da testemunha Carlos Eduardo Altona, sócio proprietário da citada
empresa:
(…) O deputado Sávio Souza Cruz - Foi o Sr. Evandro quem
pediu a proposta para a seleção do novo diretor-presidente da
Cemig?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Sim. Pelo que fui informado pelo
meu sócio, sim.
O deputado Sávio Souza Cruz - Como foi estabelecido esse contato
e como foi a tratativa?

15
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Eu não posso dar detalhes porque
não fui eu exatamente quem manteve contato com ele. Mas o meu
sócio me informou, e a gente proveu informações de que foram
tratativas... O Evandro entrou em contato com o meu sócio -
diga-se de passagem, um dos principais consultores de RH do
Brasil, uma pessoa que é muito especializada no segmento de
energia, faz diversos trabalhos para empresas nesse setor -,
interessado em uma proposta para a então substituição do
presidente da Cemig.
O deputado Sávio Souza Cruz - A Exec apresentou uma proposta
para seleção do diretor-presidente da Cemig dirigida ao Sr.
Evandro. Posteriormente foi apresentada nova proposta pela Exec
com data retroativa à data da proposta original enviada ao Sr.
Evandro Negrão de Lima Júnior, só que dessa vez endereçada
diretamente à Cemig. Quem solicitou essa nova proposta foi o Sr.
Evandro ou alguém em nome dele?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Segundo o meu sócio, o Sr.
Evandro entrou em contato com a Exec na época como
interlocutor do governo do Estado, um acionista da Cemig,
informando que o Belini, presidente da companhia na época, estava
ciente dessas tratativas. No dia 27/11/2019, a Exec submete então
uma resposta com uma proposta nossa para a substituição do
presidente à época.
O deputado Sávio Souza Cruz - Não, mas não foi o que eu
perguntei. Primeiro foi encaminhada uma proposta dirigida ao Sr.
Evandro.
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Ã-hã!
O deputado Sávio Souza Cruz - Posteriormente, houve uma nova
proposta, se não me engano de igual teor, mas com a data da
proposta anterior, dirigida à Cemig. Quem pediu para fazer essa
nova proposta foi o Sr. Evandro? Quem foi que fez esse pedido?

16
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Posteriormente, se não me engano
em janeiro de 2020, a Cemig nos solicitou reencaminhar a proposta
que na época tinha sido enviada. E aí nós o fizemos.

O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior não era à época dos fatos, e nem mesmo
nunca foi, empregado, gerente ou diretor da Cemig ou do Estado de Minas Gerais, tratando-
se de uma pessoa totalmente estranha aos seus quadros. Foi constatado, ainda, que, na
época da indicação e negociação dos valores com a Exec, o Sr. Evandro era dirigente do
partido NOVO, agremiação partidária que já possuía fortes vínculos com a Exec
Consultoria de Recursos Humanos Ltda.
Isso porque a citada empresa possui em seu quadro societário mais de um sócio
filiado ao citado partido político, bem como porque recorrentemente prestou e vem
prestando diversos trabalhos, inclusive de forma voluntária, ao partido NOVO e ao próprio
governador do Estado, Romeu Zema (filiado ao NOVO), destacando-se a escolha de
secretários de Estado. É o que se extrai do seguinte trecho do depoimento da testemunha
Carlos Eduardo Altona, como dito anteriormente, sócio proprietário da Exec:
(…) O deputado Sávio Souza Cruz - Boa tarde a todos. Quero
cumprimentar nominalmente o presidente Cássio Soares, os
deputados Roberto Andrade, Zé Guilherme, Beatriz Cerqueira,
Professor Cleiton. Parece que ainda não contamos com a presença,
remotamente, do Dr. Hely Tarqüínio.
Sr. Carlos Eduardo, o senhor é ou já foi filiado ou já participou
como militante do Partido NOVO?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Estou filiado ao Partido NOVO e
nunca participei como militante.
O deputado Sávio Souza Cruz - Consta de publicações no site da
Exec que a empresa atuou no recrutamento de alguns secretários
de Estado para o governo de Minas Gerais. O senhor poderia nos
dizer quais secretários foram recrutados por intermédio da Exec e,
ainda, se o ex-secretário de Saúde figura entre os recrutados pela
Exec?

17
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Não me lembro, de memória, de
todos os processos seletivos de que a gente participou para a
seleção dos secretários, mas me recordo que, sim, o ex-secretário
de Saúde foi um deles.
O deputado Sávio Souza Cruz - Lembra-se de mais algum?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Lembro-me das Pastas de
Infraestrutura e Transportes, Segurança, Desenvolvimento
Econômico.
O deputado Sávio Souza Cruz - No processo de seleção do ex-
secretário de Saúde foi considerado o fato de ele também ser filiado
ao Partido NOVO e ter sido candidato a deputado?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Não me recordo desse detalhe e acho
importante destacar que a Exec é uma sociedade privada, composta
por 16 sócios, por mais de 50 colaboradores, e não fui eu,
diretamente, quem participou desse processo específico.
O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor sabe se também foi
levado em consideração o fato de o ex-secretário ter participação
em organizações sociais na área da saúde?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Não sei informar.
O deputado Sávio Souza Cruz - Qual valor foi cobrado do governo
do Estado nesse contrato, qual foi a forma de contratação e com
quem a empresa estabeleceu contato nessa tratativa?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - São algumas perguntas. Você pode
repetir?
O deputado Sávio Souza Cruz - Qual o valor cobrado do governo
do Estado nesse contrato?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Esse contrato foi feito de forma
voluntária, essa prestação de serviço foi feita de forma voluntária.
O deputado Sávio Souza Cruz - É habitual a Exec trabalhar
voluntariamente?

18
O Sr. Carlos Eduardo Altona - A Exec conduz mais de 200
processos seletivos todos os anos, e pontualmente, em caráter
excepcional, nós fazemos alguns poucos trabalhos pro bono, quase
todos os anos, geralmente para instituições sem fins lucrativos e
que têm algum tipo de alinhamento…
(…)
O deputado Sávio Souza Cruz - No governo de Minas, com quem
a empresa estabeleceu contato nessa tratativa?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Principalmente com o Sr. Evandro
Negrão.
O deputado Sávio Souza Cruz - Não, eu perguntei com o governo
de Minas, e, não sei, mas parece que o Sr. Evandro Negrão não
pertence ao governo de Minas, pertence ao Partido NOVO.
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Mas qual é a pergunta?
O deputado Sávio Souza Cruz - Com quem, no governo de Minas,
a Exec estabeleceu contato?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - A Exec estabeleceu contato
principalmente com o Sr. Evandro Negrão, na época, tido, para nós,
como um interlocutor do governo do Estado.
O deputado Sávio Souza Cruz - E a Exec não procurou saber se, de
fato, ele representava o governo, já que ele jamais ocupou qualquer
função no governo de Minas?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Não, não procuramos averiguar.
O deputado Sávio Souza Cruz - Também foi noticiado que a Exec
fez recrutamento de candidatos para o Partido NOVO. Por se tratar
de serviços prestados por um partido político, o senhor pode dizer
a esta comissão qual o valor cobrado e qual a época em que os
serviços foram prestados? E enfatizar que, por se tratar de
documentos que devem constar na prestação de contas do partido,
eles são, por natureza, documentos de acesso público.

19
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Prestamos alguns serviços de
seleção e de validação de candidatos do Partido NOVO em
algumas datas, por exemplo: em abril de 2019, em novembro de
2019, em fevereiro de 2020. Foram todos esses serviços prestados
por nós.
O deputado Sávio Souza Cruz - Perguntei também qual é o valor
dos serviços prestados ao Partido NOVO na seleção de candidatos.
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Eu não tenho todos os detalhes, mas
podemos depois fornecer essas informações, em detalhes.
O deputado Sávio Souza Cruz - Essa próxima pergunta, parece-me
que o senhor já a respondeu, mas só para reafirmar. O senhor
conhece o Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Pessoalmente, não; só através de
contatos telefônicos.
O deputado Sávio Souza Cruz - Qual a sua relação com ele?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Exclusivamente de tratativa de
alguns trabalhos prestados para o governo.
O deputado Sávio Souza Cruz - Essas tratativas foram feitas
diretamente com o senhor ou com algum outro sócio da Exec?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Algumas dessas tratativas foram
comigo, por exemplo, na seleção de alguns dos secretários, mas é
importante esclarecer que foi um dos meus sócios, o Rodrigo Forte,
que esteve pessoalmente envolvido nos trabalhos realizados para a
Cemig.

Ficou evidente, também da análise das informações obtidas neste inquérito, que,
embora todo o processo de convalidação da contratação tivesse sido conduzido e realizado
pelo Sr. Hudson Felix Almeida, diretor adjunto de gestão de pessoas e serviços corporativos,
responsável inclusive por elaborar a Nota Técnica – DPR/PD – 001/2020 contendo a
justificativa da necessidade da contratação, do escopo, das razões para a escolha do
fornecedor e da justificativa do preço, ele próprio confessou em seu depoimento que não

20
participou da decisão de escolha e contratação da Exec, conforme se extrai do seguinte
trecho do seu depoimento:
(…) O deputado Sávio Souza Cruz – Mas quem tomou a decisão
de contratar a empresa para realizar o trabalho que depois teve de
ser convalidado porque já estava executado?
O Sr. Hudson Felix Almeida – Bom, não participei e não sei dizer
ao senhor exatamente, mas tive informação, pelo presidente à
época, Dr. Belini, que me entregou uma proposta da empresa
Exec e me disse que o serviço tinha sido prestado, que essa
empresa tinha sido escolhida pelo governo de Minas Gerais.
Pediu-me, então, que eu visse, dentro da Casa, quais seriam os
procedimentos necessários para convalidar esse processo.
O deputado Sávio Souza Cruz – Então, ela já estava contratada?
O Sr. Hudson Felix Almeida – O serviço já tinha sido prestado. A
contratação é um processo formal que vem depois, que seria a
convalidação.
O deputado Sávio Souza Cruz – Isso com o presidente ainda?
O Sr. Hudson Felix Almeida – Desculpe-me.
O deputado Sávio Souza Cruz – Isso com o presidente ainda?
O Sr. Hudson Felix Almeida – Sim, o Dr. Belini.
(…)
O deputado Sávio Souza Cruz – O senhor tem informação de a
proposta ter chegado num e-mail em nome de uma pessoa estranha
à empresa?
O Sr. Hudson Felix Almeida – A proposta que me foi entregue o foi
pelo Dr. Belini.
O deputado Sávio Souza Cruz – Parece que ela estava dirigida,
encabeçada por uma pessoa que não…
O Sr. Hudson Felix Almeida – Sr. Evandro Negrão.
(…)

21
O deputado Sávio Souza Cruz – O senhor estranhou ou achou
normal? É normal chegar proposta dirigida a terceiros, estranhos à
empresa?
O Sr. Hudson Felix Almeida – Naquela época, o Dr. Belini falou
que era uma proposta que o governo recebeu, então achei que ele
era uma pessoa do governo.
O deputado Sávio Souza Cruz – Não sei. Essa pessoa ocupa algum
cargo no governo? O senhor não sabe responder, não é?
O Sr. Hudson Felix Almeida – Na época, eu não sabia.
O deputado Sávio Souza Cruz – Mas hoje sabe se ele ocupa algum
cargo no governo?
O Sr. Hudson Felix Almeida – Hoje sei que ele é uma pessoa
ligada ao Partido NOVO. (NOTA TAQUIGRÁFICA – 6ª
Reunião Extraordinária da CPI da Cemig – 19/8/2021).

Constata-se, portanto, que o processo de convalidação e de pagamento da Exec foi


construído e montado pelos Srs. Hudson Felix Almeida e Rômulo Provetti, mesmo sem
qualquer comprovação da sua efetiva prestação à Cemig, tendo unicamente como base uma
proposta da citada empresa endereçada ao dirigente do partido NOVO, pessoa totalmente
estranha aos quadros da companhia. É o que se confirma nos depoimentos do Sr. Rômulo
Provetti, gerente de provimento e desenvolvimento de pessoas da Cemig, do Sr. João Polati
Filho, ex-diretor adjunto de suprimentos, logística e serviços corporativos, e do Sr. Leandro
Corrêa de Castro, ex-gerente de compras de materiais e serviços:
O deputado Sávio Souza Cruz – Especificamente a contratação da
empresa Exec passou pelo seu setor?
O Sr. Rômulo Provetti – O processo de escolha da empresa, a
definição de qual empresa faria essa seleção não passou pela minha
área. A convalidação do processo, sim. Eu fui o responsável por
providenciar a documentação para a convalidação de atos.
O deputado Sávio Souza Cruz – Então, a empresa chegou escolhida
para o senhor, é isso?

22
O Sr. Rômulo Provetti – Exato.
O deputado Sávio Souza Cruz – Sabe dizer quem fez a escolha?
O Sr. Rômulo Provetti – Não sei dizer, senhor.
O deputado Sávio Souza Cruz – Chegou por intermédio de quem?
O Sr. Rômulo Provetti – Do meu diretor, Hudson Felix Almeida.
O deputado Sávio Souza Cruz – Ele já passou para o senhor assim:
contrato da empresa Exec?
O Sr. Rômulo Provetti – Exato. Ele já passou com a proposta, a
deliberação da diretoria já tomada e a nota técnica já feita.
(…)
O deputado Professor Cleiton - A questão é a seguinte: numa
contratação como essa, dentro da administração pública - e estamos
falando de uma empresa pública -, o chamado fundamento fático
para a seleção de executivo, inclusive de um novo diretor-
presidente... Ela deve ser movida pela consulta também de outras
empresas que têm expertise no mercado. Por isso a nossa pergunta:
qual é a relação de confidencialidade, a relação do senhor para
confiar na contratação da Exec?
O Sr. Rômulo Provetti - Deputado, como não participei do processo
de seleção dessa empresa, não tenho como responder a essa
pergunta.
O deputado Professor Cleiton - Presidente, tenho aqui uma
proposta da Exec, que foi enviada à Cemig, no dia 28/11/2019, aos
cuidados do Sr. Evandro Veiga Negrão de Lima Jr. Um contrato de
um serviço de recrutamento de seleção de executivos que passa,
inclusive, depois pelas mãos do depoente, que diz que não conhece
o Sr. Evandro Negrão de Lima. É muito interessante. O senhor não
conheceu, não teve nenhuma relação com o Sr. Evandro Negrão de
Lima?
O Sr. Rômulo Provetti - Não, deputado.

23
O presidente - Desculpe, Professor Cleiton. O senhor se recorda
desse e-mail que o deputado - Professor Cleiton está dizendo?
O Sr. Rômulo Provetti - Recordo-me. É uma proposta.
O presidente - Não lhe chamou a atenção o destinatário do e-mail,
já que o senhor não o conhece?
O Sr. Rômulo Provetti - Sim. Na verdade, durante o processo de
levantamento de documentos para realizar a convalidação, peguei
essa proposta. Como eu não conhecia essa pessoa - não o conheço,
se ele estiver aqui do meu lado, não o reconheço -, como eu não
sabia quem era, solicitei à empresa Exec que nos encaminhasse -
inclusive essa proposta não está assinada. Então, de acordo com os
requisitos dos procedimentos internos da Cemig, as propostas têm
que ser assinadas e endereçadas à Cemig. Então, solicitei à empresa
Exec que nos providenciasse o encaminhamento de uma proposta
endereçada à Cemig e assinada por um representante legal daquela
empresa. Então, só tive contato com esse documento nesse
momento inicial e o descartei, não o utilizei.
O presidente - Simplesmente descartou, não se interessou em saber
o porquê, o motivo pelo qual um documento de uma empresa
contratada pela Cemig chegou aos cuidados de uma pessoa
estranha ao corpo da Cemig?
O Sr. Rômulo Provetti - Entendi que não cabia a mim qualquer tipo
de questionamento. Importante era o que estava descrito nos
procedimentos da Cemig, que foram os que segui. (NOTAS
TAQUIGRÁFICAS – 5ª Reunião Extraordinária da CPI da Cemig
– 19/8/2021).

(…) O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor atuou no processo


de contratação da Exec?

24
O Sr. João Polati Filho - O processo de contratação da Exec, vamos
aos fatos. Esse eu estava presente, que foi no começo de agosto.
Como isso aconteceu? Hudson, que é o diretor de recursos
humanos, chegou na minha sala com a carta e disse assim: "Polati,
como é que nós vamos pagar isto aqui? Tem que pagar isto aqui".
"O que é isso?" "É uma carta de um headhunter." Não era usual na
Cemig, naquele instante. "Headhunter de quê?" Ele falou: "Da
admissão do presidente". Peguei a carta, dei uma lida e falei: "Aqui
há um problema. Quem é esse senhor que está aqui listado?" "Não
conheço", ele disse. "Eu também não. Como é que nós damos
prosseguimento nisso?"
Aí chamei o Leandro...
O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor a que o senhor se refere
é que estava direcionado a uma pessoa estranha à Cemig?
O Sr. João Polati Filho - É, Negrão de Lima, uma coisa assim.
O deputado Sávio Souza Cruz - O Sr. Evandro Veiga Negrão de
Lima.
O Sr. João Polati Filho - É muito nome, de vez em quando eu vou
fazer confusão aqui.
O deputado Sávio Souza Cruz - Dirigente do Partido NOVO.
O Sr. João Polati Filho - É. Aí o que aconteceu? Eu chamei o
Leandro, que já esteve aqui, e falei: "Leandro, analise isso aqui,
esta carta, junto com o jurídico e tal, e volte". Ele voltou: "Polati,
impossível, não é? Porque esta carta está endereçada a uma pessoa
estranha, e não está dentro da 13.303 e do regulamento de
licitações". Perfeito. Chamei o Hudson, devolvi a carta, e falei para
o Leandro: "Tire um xerox e mantém isso em nossos arquivos,
porque é importante". E assim foi feito. Foi devolvida a carta para
a pessoa que me trouxe. Eu mantive uma cópia em arquivo. Falei:
"Vamos manter uma cópia em arquivo, não é?". É um assunto,
assim, um pouco diferente da rotina - vamos dizer.

25
O deputado Sávio Souza Cruz - Essa pessoa, o senhor de fato
comprovou que ela não tinha relação com o governo nem com a
Cemig?
O Sr. João Polati Filho - Nunca tinha visto falar. Claro que, depois,
o mundo hoje, a internet, não é? Pesquisaram e falaram: "Parece
que essa pessoa é uma pessoa...". Eu não sei se eu vou usar o termo
certo aqui: filiada ao Partido NOVO, ou participa. Pode haver
imprecisão na minha palavra aqui, mas seria uma pessoa com
filiação partidária aí, não sei.
O deputado Sávio Souza Cruz - Acho que a palavra correta seria
"dirigente".
O Sr. João Polati Filho – Dirigente. (NOTA TAQUIGRÁFICA –
13ª Reunião Extraordinária da CPI da Cemig – 23/9/2021).

O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor teve conhecimento da


proposta original da Exec para os serviços de headhunter, para
buscar um novo presidente para a Cemig?
O Sr. Leandro Corrêa de Castro - Tive, tive conhecimento. No dia
21 de janeiro, essa proposta chegou até mim; na verdade, no dia 21
pela manhã, logo pela manhã, o Hudson mandou essa proposta por
e-mail para o Polati, que era o meu diretor de suprimentos, João
Polati Filho. O João Polati depois encaminhou essa proposta para
o Paulo Vanelli, que era o meu superintendente, o meu superior
imediato, e o Vanelli mandou para mim por volta do almoço. No
início da tarde, o João Polati me chamou na sala dele e falou:
"Leandro, chegou isso aqui, e o Hudson veio aqui, de manhã, e
falou para mim que a gente precisa pagar. Explique-me como
funciona". Eu expliquei para o João Polati quais os documentos
necessários para a inexigibilidade, inclusive com termos mais
jurídicos, porque ele cuidava mais da parte estratégica, ele não
tinha essa questão operacional. A gente ficou curioso com o

26
Evandro, porque estava no nome do Evandro. Pesquisei na frente
dele, com o meu celular, quem era Evandro. Ao pesquisar no
Google, identifiquei que ele era um empresário, mas não vi relação
nenhuma com o Partido NOVO, isso não aparece escancarado no
Google. Então o Polati chamou o Hudson ainda nesse dia e
comunicou ao Hudson que a gente não faria a contratação; daquela
forma, sem chance. Não havia nada, só havia essa proposta; nem
mesmo a PD, que é a proposta de deliberação do dia anterior, do
dia 20, a gente tinha. Quer dizer, não tínhamos jeito de fazer nada.
E assim o Polati comunicou ao Hudson que não faria a contratação
naqueles termos.
O deputado Sávio Souza Cruz - Então você está dizendo que essa
proposta veio direcionada a um tal Sr. Evandro?
O Sr. Leandro Corrêa de Castro - Foi, foi Evandro, conforme ele
mesmo confirmou aqui.
O deputado Sávio Souza Cruz - Lembra-se da data que foi emitida
a proposta?
O Sr. Leandro Corrêa de Castro - Em 28/11/2019.
O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor sabe quem solicitou o
serviço da Exec?
O Sr. Leandro Corrêa de Castro - Não, infelizmente não sei. A
minha área de compras está lá na ponta, e eu realmente não sei.
(NOTAS TAQUIGRÁFICAS – 7ª Reunião Extraordinária da CPI
da Cemig – 23/8/2021).

Diante das informações colhidas no inquérito, resta evidente que os serviços não
foram prestados à Cemig, não havendo no processo de convalidação qualquer prova do seu
recebimento pela companhia. Ao se analisar cópia de todo o processo de contratação e
convalidação da contratação da Exec, verifica-se que, em seu bojo, surpreendentemente,
não consta qualquer demonstração da efetiva prestação dos serviços contratados.

27
Isso significa que a prova documental demonstra que a Cemig pagou por serviços
mesmo sem a efetiva existência sequer de indícios da sua prestação. O processo de
convalidação sequer se preocupou em apurar a efetiva existência de prestação dos serviços.
A IJ-04, ao tratar da excepcionalíssima figura da convalidação, mais
especificamente no seu item 7.2.3, exige que o termo de convalidação relacione “todas as
ocorrências contratuais”, elemento indispensável para comprovar a efetiva prestação dos
serviços em prol dos interesses da companhia, mesmo sem a devida cobertura contratual.
Ficou demonstrado na investigação, porém, que não foram apurados no bojo do
processo de convalidação sequer indícios da efetiva prestação dos serviços de headhunters
à Cemig, não havendo nele o mínimo de esclarecimento das “ocorrências contratuais”. Os
gestores responsáveis pela convalidação e pelo pagamento autorizaram a sua realização à
Exec mesmo sem qualquer cautela da exigência de comprovantes da efetiva prestação dos
serviços à companhia. Esta foi presumida pela mera existência de nomeação do novo
presidente, como se esse fato fosse uma consequência direta da efetiva prestação de
serviços pela Exec.
Sendo assim, foi autorizado o pagamento dos valores, sem qualquer pesquisa de
mercado prévia e conferência da efetiva prestação dos serviços, mesmo sabendo-se que
quem os requisitou e, em tese, os recebeu foi o partido NOVO, contando com a escolha da
indicação da Exec por meio de sujeito estranho aos quadros da companhia, qual seja, o
dirigente partidário Evandro Negrão de Lima.
A prova testemunhal confirmou a ausência de prestação de serviços pela Exec à
Cemig, havendo confissão de sócio proprietário da própria empresa de que o destinatário
de todos os serviços contratados não foi a companhia, mas, sim, o Sr. Evandro Negrão de
Lima Júnior, dirigente do partido NOVO. É o que pode ser constatado do seguinte trecho
do depoimento da testemunha Carlos Eduardo Altona:
(…) O deputado Sávio Souza Cruz - A parte da metodologia desse
processo de seleção, tudo isso foi entregue no relatório final. Esses
documentos foram entregues na Cemig quando e para quem? O
senhor sabe?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Foram entregues à Cemig logo duas
ou três semanas depois do início do processo. Na época, para o

28
Evandro, que na nossa interpretação era o interlocutor entre a
Cemig e o governo, que é acionista do processo. E foi comunicado
a nós que essas informações chegaram ao Belini, presidente à
época, e ao presidente do conselho de administração, Sr. Márcio
Utsch.
O deputado Sávio Souza Cruz - Então o serviço contratado pela
Cemig foi entregue ao Sr. Evandro?
E Sr. Carlos Eduardo Altona - Sim, porque era o interlocutor que a
gente tinha na época.
O deputado Sávio Souza Cruz - Ele apresentou uma procuração
que mostrava que era interlocutor?
O Sr. Carlos Eduardo Altona - Não.
O deputado Sávio Souza Cruz - É usual isso? A Exec trabalha,
assim? "Olha, eu sou o interlocutor e quero contratar isso".
(…)
O presidente - Quando vocês iniciaram o processo de prestação de
serviços à Cemig, vocês tinham um contrato assinado?
O Sr. Carlos Eduardo Altona – Não.
(NOTA TAQUIGRÁFICA – 14ª Reunião Extraordinária da CPI da
Cemig).

Ademais, o depoimento do antigo diretor-presidente à época dos acontecimentos,


Sr. Cledorvino Belini, comprovou que não partiu da sua iniciativa qualquer requisição da
contratação da Exec para a seleção de novo diretor-presidente, sendo desconhecida a sua
efetiva prestação à companhia, não tendo ele tido qualquer tipo de acesso a relatórios ou a
quaisquer outros documentos relacionados à escolha do candidato:
O deputado Sávio Souza Cruz - Como o senhor explica, então, ainda
no seu período na presidência, uma proposta da Exec ser
encaminhada à Cemig aos cuidados do Sr. Evandro?

29
O Sr. Cledorvino Belini - Foi o que eles decidiram, não passou por
mim. Eu não pedi, eu não solicitei essa proposta, eu não solicitei
nenhum headhunter, foi uma decisão do governo.
O deputado Sávio Souza Cruz - O importante é que não foi o governo
que contratou a Exec, foi a Cemig, e a proposta para a Cemig
contratar a Exec foi encaminhada em nome do Sr. Evandro, que não
se sabe ter nenhum vínculo com a Cemig nem sequer com o governo,
e isso ainda no seu período. O senhor não ficou sabendo que a... (- É
interrompido.)
O Sr. Cledorvino Belini - Eu recebi essa proposta no final e não
tomei nenhuma decisão porque já tinha a indicação do meu
substituto, e eu falei: Então, a nova diretoria que resolva isso.
O deputado Sávio Souza Cruz - Então, o senhor não participou e não
sabe como se chegou ao nome da Exec. O senhor sabia que os quatro
dirigentes - pelo menos quatro dos proprietários da Exec - são
filiados ao Partido Novo?
O Sr. Cledorvino Belini - Não, eu não sabia. Não conheço a Exec,
nunca trabalhei com eles.
(...)
A deputada Beatriz Cerqueira - A minha pergunta é: o governo do
Estado, por meio do governador ou dos seus secretários, fez algum
encaminhamento solicitando alguma contratação?
O Sr. Cledorvino Belini - Nenhuma.
A deputada Beatriz Cerqueira - O senhor Evandro, como membro do
diretório do Partido NOVO, antes da Exec, também lhe encaminhou
alguma solicitação de contratação?
O Sr. Cledorvino Belini - Nenhuma; para mim, não. E ele sabe que,
se tivesse mandado, eu não teria aceitado.

O depoimento da testemunha Sr. Gabriel Ciríaco Fonseca, delegado da Polícia Civil,


confirma que o então diretor-presidente da Cemig, à época dos fatos, era até mesmo

30
contrário à citada contratação, unicamente de interesse do partido NOVO, requisitada pelo
seu então dirigente Sr. Evandro Negrão de Lima:
O Sr. Gabriel Ciríaco Fonseca - Eu não sei se foi um pedido dele ou
um pedido do governo diretamente, eu não lembro. Mas houve uma
solicitação: "Olha, a gente vai trocar o presidente, e a gente precisa
contratar o novo". E foi feita essa solicitação para o partido. Então o
Evandro, como secretário, tomou a frente disso, num ato, ele disse,
de boa-fé, de voluntariado. Ele começou a fazer cotações de
empresas de headhunter, até chegar à Exec. Diz ele que a Exec
ofereceu um preço bem vantajoso, abaixo do mercado; e foi feita
essa contratação verbal, na verdade, porque não havia contrato; foi
feita uma contratação verbal da Exec para a prestar esse serviço.

Diante dos fatos apurados e anteriormente explicitados, é possível concluir que eles
configuram fortes indícios da prática de condutas ilícitas, inclusive, em tese, prática de
crimes, conforme se passa demonstrar.

a) Do dano ao erário. Utilização de recursos de empresa estatal para pagamento de


serviços prestados a partido político. Conduta em tese passível de enquadramento em
ato de improbidade administrativa (art. 10, inciso II, da Lei Federal nº 8.429, de 1992,
e nos crimes de usurpação de função pública e peculato

A prova documental, aliada à prova testemunhal, comprovou que o serviço de


headhunter para o diretor-presidente da Cemig não foi solicitado por qualquer empregado,
gerente, diretor e nem mesmo por sócio majoritário ou minoritário da companhia.
A autoria da contratação da Exec para a seleção do diretor-presidente continua
sendo um mistério insolucionável. Mesmo após toda a investigação, nenhuma das
testemunhas e dos investigados soube ou quis esclarecer de quem foi a decisão pela efetiva
contração da Exec. Todos aqueles que participaram e assinaram documentos no processo
de convalidação negam a sua autoria, conforme se verifica dos depoimentos de Hudson
Felix Almeida, Rômulo Provetti e Reynaldo Passanezi Filho.

31
Não se sabe quem efetivamente contratou e decidiu contratar, mas há prova robusta
de que quem escolheu, indicou, negociou os valores da contratação e supostamente recebeu
os serviços da Exec foi o dirigente do partido NOVO, Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior.
Em seu depoimento prestado a esta CPI, na 5ª Reunião Extraordinária, realizada em
15/2/2022, Evandro Negrão de Lima Júnior confirmou que a indicação e escolha da Exec
foram da sua responsabilidade, embora negue veementemente que tenha sido responsável
pela sua contratação:

O deputado Professor Cleiton - Essa CPI tem a cópia da proposta


original da Exec para realização do serviço de headhunter para
seleção de um novo presidente da Cemig. Essa proposta é datada
de 28/11/2019 e direcionada ao senhor. Por gentileza, explique-nos
como se deu esse processo de acionamento da Exec, se foi o senhor
que tomou a frente desse assunto junto a Exec e recebido a proposta
dela. Talvez o senhor esteja acompanhando, Sr. Evandro, esta CPI
e vai conseguir responder uma pergunta que ninguém conseguiu
até agora conseguiu: quem tomou a frente desse assunto e quem
contratou, de fato, o serviço da Exec?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Junior - Respondo, sim, senhor.
Quando o secretário Cássio entrou em contato comigo pedindo
uma opinião, eu emiti a minha opinião que achava que a melhor
maneira de escolher um substituto para o presidente Belini seria
através de uma empresa de recrutamento e seleção, seguindo as
melhores práticas de mercado. A conversa acabou por aí. Talvez o
Sr. Cássio tenha consultado outras pessoas ou avaliado. Um tempo
depois, ele entrou em contato comigo de novo pedindo para que eu
buscasse uma proposta de uma empresa de recrutamento e seleção
para avaliação dele. Então, procurei a empresa Exec que, no meu
modo de entender, atendia a todos os requisitos para fazer esse
processo e obtive a proposta. Imediatamente após eu obter a
proposta a repassei ao secretário Cássio e ao então presidente da

32
Cemig, Cledorvino Belini. Não tendo mais nenhuma participação
na contratação da consultoria.
O deputado Professor Cleiton - Obrigado, presidente.
O deputado Sávio Souza Cruz - Deputado, só um comentário nesse
ponto aí: então o senhor também não sabe quem contratou? Até
hoje é um mistério aqui nesta CPI, igual a uma novela em que se
questionava "Quem matou Salomão Hayalla?" Durante 6 meses
ficou a discussão de quem matou Salomão Hayalla, e nós temos a
questão aqui: "Quem contratou a Exec?" Ninguém sabe quem
contratou a Exec. O Sr. Cledorvino disse aqui que não foi ele.
O Sr. Evandro Negrão de Lima Junior - Quem contratou a Exec foi
a Cemig.
O deputado Sávio Souza Cruz - A Cemig tem que agir através de
uma pessoa. Quem na Cemig contratou?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Junior - O fato é que eu recebi a
proposta e imediatamente a repassei ao secretário Cássio e ao
presidente Belini.
O deputado Sávio Souza Cruz - Eu entendi.
O Sr. Evandro Negrão de Lima Junior - E depois a Exec
foi contratada.
O deputado Sávio Souza Cruz - Entendi. Eu só não sei quem
contratou a Exec. Até hoje nós não sabemos quem contratou a Exec.
O senhor também não sabe?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Junior - Quem contratou foi a
Cemig. A proposta ... (– É interrompido.)
O deputado Sávio Souza Cruz - Quem pela Cemig? O presidente?
O diretor?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Junior - Eu repassei a proposta da
Exec ao presidente.
O deputado Sávio Souza Cruz - Sim e quem contratou a Exec?

33
O Sr. Evandro Negrão de Lima Junior - Depois que eu repassei a
proposta não tive mais nenhum contato, então não posso responder.
O deputado Sávio Souza Cruz - Exatamente. Então o senhor
também não sabe. Nós continuamos com o nosso Salomão Hayalla.
Nós não sabemos quem contratou a Exec. É só essa intervenção
que eu queria fazer neste momento. Devolvo a palavra ao deputado
Professor Cleiton.

Ainda em seu depoimento, Evandro Negrão de Lima tenta justificar a sua


participação na escolha e indicação da Exec com o fato de supostamente compor a “equipe
de transição” do governo Romeu Zema:
Contudo, estranhamente, o próprio Evandro Negrão de Lima reconhece que não fez
parte da equipe de transição oficialmente indicada pelo governador Romeu Zema nos
termos do art. 257 da Constituição estadual, cuja nomeação foi publicada na imprensa
oficial:

O deputado Sávio Souza Cruz - Sr. Evandro, consultamos aqui, o


senhor já deu essa informação de que participou da equipe de
transição. O decreto que apresentou a equipe de transição traz
como membros Mateus Simões, como coordenador; Victor
Cezarini; Victor Lobato; Luciana Lopes e Rodrigo Paiva. Não
consta o nome do senhor. Então, parece que, mais uma vez,
também na comissão, o senhor atuava na informalidade, pelo
menos não consta oficialmente na comissão que foi criada pelo
governador entre os nomes que foram indicados. (...)
Então, como o senhor reitera que participou da equipe de transição,
eu queria passar esse posicionamento de que só se foi na
informalidade, porque, oficialmente, o seu nome não consta na
equipe de transição indicada pelo governador Romeu Zema.
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Deputado Sávio, não só na
equipe de transição, mas todo o trabalho que faço para o Partido

34
Novo e, antes, os projetos sociais que tenho são 100% voluntários,
não só na equipe de transição, quando fui consultado pelo Sr.
Cássio, é um trabalho 100% voluntário. Como disse anteriormente,
é um dever cívico que acho que mais pessoas deveriam ter e me
sinto na obrigação de ter.
(...)
O deputado Sávio Souza Cruz - Sr. Evandro, o senhor se lembra
em qual situação o senhor já tinha trabalhado com a Exec, em qual
seleção, qual recrutamento?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Na equipe de transição.
O deputado Sávio Souza Cruz - Nessa que o senhor não participou?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - De que participei
informalmente.

O partido político, nos termos da Lei Federal nº 9.096, de 19/9/1995, é uma pessoa
jurídica de direito privado, sendo o seu dirigente um mero particular que jamais possui
poderes de escolher e indicar empresas para contratações por empresas públicas.
Ademais, os recursos de uma empresa estatal não podem jamais ser utilizados para
o custeio de despesas com prestação de serviços para partidos políticos ou seus respectivos
membros, configurando-se malversação de recursos pertencentes às entidades que
compõem a administração pública estadual, especialmente uma sociedade de economia
mista.
Corroborando essa conclusão, muito antes da instauração desta CPI, a mídia já
noticiava que a escolha do presidente da Cemig foi definida pelo partido NOVO,
especialmente com a interferência do seu presidente João Amoêdo, já no início de
dezembro de 2020, logo, na mesma época em que a Exec teria sido acionada pelo Sr.
Evandro Negrão de Lima Júnior para prestar os serviços de headhunter.

35
A notícia divulgada no site Além do fato3 no dia 13/1/2020, portanto durante o
suposto processo de seleção do executivo realizado pela Exec, já noticiava a definição por
Reynaldo Passanezi Filho:
(…) A escolha do novo presidente da Cemig, o economista Reynaldo
Passanezi Filho, teve a participação direta do presidente do Partido
NOVO, João Amoêdo. Segundo fontes ouvidas pelo Além do Fato, a
intenção do governador Romeu Zema era anunciar o novo presidente da
estatal na última semana de dezembro. O atraso teria ocorrido exatamente
por conta da indefinição de Amoêdo.
Como Minas é considerado a vitrine do Partido NOVO (para o mal ou
para o bem), toda e qualquer decisão estratégia, segundo as mesmas fontes,
é submetida à direção nacional da legenda.
Com o novo presidente, a expectativa do governo é acelerar o processo de
privatização da empresa, que o governador defendeu publicamente na sua
campanha para o governo do Estado. Embora a venda não dependa
unicamente da vontade do governador e nem da direção da empresa.

O próprio Reynaldo Passanezi Filho, no seu depoimento na 4ª Reunião


Extraordinária da CPI, realizada no dia 11/2/2022, confessou ter passado por entrevista
realizada por João Amoêdo, confirmando a sua escolha pelo mencionado líder partidário,
o que corrobora a tese de ausência de prestação de serviços pela Exec que recebeu para
indicar pessoa já escolhida pelo partido NOVO:
(...) O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor participou
verdadeiramente de um processo de seleção de executivos
conduzido pela Exec com o objetivo de preencher a vacância da
presidência da Cemig? Se sim, explique-nos como foi esse
processo de seleção, as fases do processo. Houve entrevista?
Quando? Quem fez a entrevista? Qual a dinâmica do processo?
O Sr. Reynaldo Passanezi Filho - Sr. Relator, como eu comentei,
eu fui contatado pela Exec provavelmente no começo de dezembro
de 2019. Primeiro, eu fiz uma entrevista comentando sobre a
oportunidade, foi perguntado se eu tinha interesse. Eu respondi que
sim, que tinha interesse. Aí eu fiz uma entrevista na Exec, mandei
o currículo, e posteriormente a Exec me comunicou que o processo

3
Acesso disponível em: <https://alemdofato.uai.com.br/politica/novo-presidente-da-cemig-foi-escolhido-
com-participacao-direta-de-joao-amoedo/>.

36
iria avante. Nesse momento, comentou o nome da empresa e
agendou algumas entrevistas. Então, eu tive uma entrevista com o
Sr. João Amoêdo, depois eu tive uma entrevista com o Sr. Márcio
Utsch... (– É interrompido.).

E o que causa maior espanto é que, além de os supostos serviços terem sido
prestados pela Exec diretamente ao dirigente do NOVO – e não à Cemig –, a mesma Exec
possui sócios filiados ao próprio partido NOVO, tendo ela prestado serviços “gratuitos” ao
governador Romeu Zema (também do NOVO) na escolha de secretários de Estado.
Portanto, o contexto fático dos indícios documentais e testemunhais é o seguinte:
1º – a Exec possui mais de um sócio filiado ao partido NOVO;
2º – ela prestou serviços ao partido NOVO e ao próprio governador Romeu Zema
(também do NOVO), inclusive de forma gratuita, para a seleção de candidatos e secretários
de Estado;
3º – o dirigente do NOVO, Evandro Negrão de Lima Júnior, foi quem escolheu a
empresa de titularidade de seus colegas de partido e que já havia contribuído com serviços
gratuitos para o governo do NOVO, indicando-a para prestar novamente serviços ao partido,
agora para a escolha do diretor-presidente da Cemig e recebendo R$170.000,00 (cento e
setenta mil reais) para a seleção de um único executivo;
4º – embora os serviços tenham sido requisitados e prestados ao partido NOVO,
por empresa de titularidade de filiados ao próprio NOVO, foram utilizados recursos da
Cemig para o pagamento da despesa em questão, serviços esses que tiveram como
destinatários o partido NOVO, na figura do Sr. Evandro, e não a companhia;
5º – o pagamento pela Cemig dos serviços prestados ao NOVO se deu mediante um
procedimento de convalidação, realizado por diretores e gerentes da companhia que
confessaram não ter participado da efetiva contratação e desconhecem a sua efetiva
prestação pela Exec, resumindo-se a afirmar que uma proposta de deliberação foi aprovada
pela atual Diretoria autorizando o pagamento, Diretoria essa já composta pelo diretor-
presidente indicado pela própria Exec;
6ª – mesmo após a convalidação, ainda persiste o mistério sobre a pessoa que
efetivamente foi responsável pela contratação verbal da Cemig, tendo sido negada a sua

37
autoria por todos os gerentes e diretores que participaram do processo de convalidação e
também pelo dirigente do partido NOVO, Evandro Negrão de Lima Júnior;
Ao final disso tudo, a convalidação e o pagamento pelos serviços de seleção do
diretor-presidente são realizados já sob a gestão do próprio diretor-presidente supostamente
escolhido pela referida empresa Exec, nomeado e empossado.
O diretor-presidente escolhido, Reynaldo Passanezi Filho, embora ciente da sua
pré-escolha pelo partido NOVO e das irregularidades da contratação da Exec, alega não ter
se posicionado acerca da convalidação mediante a abstenção na votação da Proposta de
Deliberação sob o fundamento de ser o verdadeiro “objeto da contratação”:
O deputado Sávio Souza Cruz - Por que a Exec enviou proposta
comercial e fatura para pagamento dos seus serviços ao Sr. Evandro
Negrão de Lima Jr.? Era o Sr. Evandro que coordenava a seleção
do novo presidente da Cemig?
O Sr. Reynaldo Passanezi Filho - Essa pergunta, na verdade, assim,
teria que ser feita ao Sr. Evandro, não é? Ou à Exec. Na verdade,
foi feita à Exec. Eu, de fato, sou objeto dessa contratação, não é?
O deputado Sávio Souza Cruz - Sua posição é diferente. O senhor
é objeto, mas foi o senhor que pagou também depois.
O Sr. Reynaldo Passanezi Filho - Se o senhor me permite um
esclarecimento, Sr. Relator, eu sou objeto da contratação, claro.
Essa escolha é do diretor-presidente da Cemig. Esse processo de
contratação da Exec foi levado à diretoria. E, no momento da
decisão de contratação da Exec, eu me abstive de votar. Então isso
está registrado. Efetivamente eu cheguei no dia... Na verdade, a
eleição foi no dia 13 de janeiro. No dia 14 de janeiro, eu comecei
as minhas atividades. Se não me engano, no dia 20 de janeiro houve
a minha primeira reunião de diretoria, na qual houve uma proposta
da área de Gestão de Pessoas, solicitando a contratação dos
serviços da Exec. Essa proposta é levada à consideração da
diretoria. Eu, por ser objeto da contratação, preferi me abster e não
votei.

38
Causa maior estranheza ainda a Exec aceitar a prestação de um serviço
supostamente tão complexo e relevante por um preço muito inferior ao praticado no
mercado, sem qualquer fundamentação fática ou esclarecimento acerca da sua
exequibilidade.
Se a praxe de mercado é o pagamento de 25% a 33% do valor do salário do cargo
objeto da seleção de pessoal (como noticiado na sua proposta), quais teriam sido os motivos
de a empresa ter aceitado trabalhar por valores supostamente muito abaixo da prática de
mercado, trazendo riscos da sua exequibilidade com a segurança e qualidade esperadas?
Para que se tenha dimensão da estranheza, de acordo com as justificativas da
convalidação da contratação da Exec, o preço mínimo praticado no mercado para a seleção
do diretor-presidente da Cemig alcançaria R$425.000,00 (quatrocentos e vinte e cinco mil
reais), valor equivalente a 25% do salário anual do posto a ser selecionado.
A referida empresa, contudo, se propôs a prestar o importante e complexo serviço
de seleção do mais alto cargo da maior estatal mineira por um valor equivalente a 40% do
mínimo supostamente praticado no mercado.
Nesse contexto, cabe lembrar que o art. 56, incisos III e V, da Lei Federal nº 13.303,
de 2016, veda que as estatais celebrem contratos com preços inexequíveis, tratando-se de
uma previsão indispensável para evitar danos ao interesse público em decorrência da
inexecução contratual ou da execução com a qualidade e eficiência aquém do necessário.
Para que se tenha uma ideia, a IJ-04, tratando da inexequibilidade das propostas de
obras e de serviços de engenharia, estabelece um parâmetro mínimo de 70% do valor
orçado pela Cemig ou 70% da média aritmética das propostas superiores a 50% do valor
orçado por ela (art. 65).
Embora o serviço contratado não seja de engenharia, a diferença entre o valor
orçado e o valor contratado é muito elevada, configurando-se flagrantemente inexequível.
E este é exatamente o caso da Exec, a qual estranhamente, sem qualquer
justificativa plausível, foi escolhida e indicada por dirigente do partido NOVO, que não
apenas sugeriu a empresa preterindo até mesmo consulta de preços a dezenas de outras
existentes no mercado, mas também negociou os valores e a forma de prestação dos
serviços, os quais não foram entregues à Cemig ou ao governo do Estado, mas, sim, à

39
agremiação partidária, como provado pelos depoimentos testemunhais, especialmente pelo
depoimento do sócio-proprietário da Exec.
Esse contexto, aliado ao fato de o processo de convalidação não conter qualquer
comprovação da efetiva prestação dos serviços, demonstra a ilegalidade da contratação e
até mesmo indícios da inexistência da sua prestação à Cemig. Como desculpa, para dar
ares de legalidade e moralidade, estipulou-se uma remuneração à Exec em preço inferior
aos praticados no mercado.
Instada a apresentar a comprovação da prestação dos serviços, a Cemig apresentou
cópias de e-mails internos e relatórios, os quais não denotam a efetiva prestação de serviços
à Cemig aptos a justificar o pagamento da vultosa quantia de R$170.000,00 (cento e setenta
mil reais).
Para supostamente comprovar a prestação dos serviços, a diretoria atual da Cemig,
em resposta a requerimentos, apresentou a esta CPI um mero print da tela contendo o
modelo do software supostamente utilizado pela Exec para a seleção do presidente da
Cemig, tela esta que não traz qualquer dado relevante ou específico relacionado aos
trabalhos contratados.
Ora, a demonstração de que a Exec dispõe de um software não comprova que os
serviços de seleção de executivo foram por ela efetivamente realizados, menos ainda com
a discrição e objetividade esperada para o caso.
Apresentou, ainda, troca de alguns poucos e-mails internos com pequenos
comentários sobre perfis de candidatos, sem qualquer comprovação de que foram
efetivamente requeridos pela Cemig ou a ela repassados.
Trouxe, por fim, o que chamou de “Relatório” sobre os “4 finalistas”, relatório este
cujo conteúdo é praticamente uma cópia do currículo dos candidatos com pequena
descrição da sua trajetória. Ora, como se sabe, os próprios candidatos são responsáveis pela
elaboração dos seus currículos, não sendo justificável o pagamento de quantia tão
expressiva de R$170.000,00 (cento e setenta mil reais) para empresa organizar e relatar
quatro currículos.
Definitivamente, a Cemig e a Exec não foram capazes de demonstrar que
efetivamente houve a prestação de algum serviço de headhunter à Companhia, não tendo

40
apresentado qualquer documento suficiente para demonstrar o desenvolvimento de
atividades compatíveis à contraprestação de R$170.000,00 (cento e setenta mil reais).
O pagamento pela prestação de um serviço pela estatal sem a comprovação
inequívoca da sua realização configura conduta no mínimo irresponsável, trazendo sérios
riscos de prejuízos ao interesse público.
Dentro do contexto das informações colhidas nesta CPI, os indícios levam a crer
que a contratação da Exec, empresa de titularidade de sócios filiados ao partido NOVO,
não passou de uma forma de retribuí-la pelos trabalhos voluntários que já havia até então
prestado ao citado partido e ao próprio governo do Estado.
Quanto a este ponto, são relevantes os seguintes trechos do depoimento da
testemunha Evandro Negrão de Lima Júnior, que confirmam a escolha e a indicação da
Exec em razão dos serviços por ela gratuitamente prestados ao partido NOVO em situações
anteriores:

A deputada Beatriz Cerqueira - Em se tratando, nesse caso, em que


estamos discutindo a administração pública, recursos públicos,
então, em nenhum momento foi considerada a hipótese de que não
poderia ser uma proposta direcionada? O senhor não pediu
proposta a mais nenhuma outra empresa? Só à Exec?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Fui consultado sobre uma
forma de substituição do presidente. Sugeri a contratação de uma
empresa de recrutamento e seleção. Eu pedi uma proposta para a
Exec. Caberia ao secretário Cássio e à presidência da Cemig
decidir se queria pedir outras ou não. Eu pedi uma.
A deputada Beatriz Cerqueira - E por que a Exec?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Era a única em que eu tinha
tido experiência de trabalhar, era a única que eu poderia referendar
o trabalho. Para um cargo da estatura de presidente da Cemig, era
a única em que eu tinha tido a experiência de ter trabalhado junto
e que poderia referendar. Ele me pediu uma sugestão e a única que
eu poderia sugerir era a Exec.

41
O deputado Sávio Souza Cruz - Sr. Evandro, o senhor se lembra
em qual situação o senhor já tinha trabalhado com a Exec, em qual
seleção, qual recrutamento?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Na equipe de transição.
O deputado Sávio Souza Cruz - Nessa que o senhor não participou?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - De que participei
informalmente.
A deputada Beatriz Cerqueira - O que ela fez na equipe de transição?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Ela ajudou a selecionar
nomes para a escolha do governador para secretário.
A deputada Beatriz Cerqueira - E quem remunerou a Exec para esse
serviço?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Da equipe de transição?
Ninguém. Não foi remunerada.
A deputada Beatriz Cerqueira - Foi voluntário?
O Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior - Foi voluntário.
O deputado Sávio Souza Cruz - Eles também são do Partido Novo,
os sócios da Exec. Então, estavam ajudando um governo do Partido
Novo que estava se formalizando. Imagino que seja isso.

Sob o ponto de vista jurídico, o art. 31 da Lei Federal nº 13.303, de 2016, Estatuto
Jurídico das Estatais, prevê que as contratações realizadas pelas empresas públicas e
sociedades de economia mista, inclusive as contratações diretas, devem observância aos
princípios da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da eficiência,
da probidade administrativa e da economicidade:
Art. 31. As licitações realizadas e os contratos celebrados por empresas
públicas e sociedades de economia mista destinam-se a assegurar a
seleção da proposta mais vantajosa, inclusive no que se refere ao ciclo
de vida do objeto, e a evitar operações em que se caracterize sobrepreço
ou superfaturamento, devendo observar os princípios da impessoalidade,
da moralidade, da igualdade, da publicidade, da eficiência, da probidade
administrativa, da economicidade, do desenvolvimento nacional
sustentável, da vinculação ao instrumento convocatório, da obtenção de
competitividade e do julgamento objetivo.

42
É fora de dúvidas que a utilização de recursos da estatal para o custeio de serviços
prestados a partido político por empresa por ele escolhida e que contém sócios filiados ao
próprio partido NOVO conflita frontalmente com os princípios da impessoalidade,
moralidade, eficiência, probidade administrativa e economicidade.
Não é lícita a utilização de recursos pertencentes a uma entidade da administração
pública para custear despesas particulares de uma determinada agremiação partidária, ainda
que esta seja a mesma do atual governador do Estado.
Mesmo o Estado de Minas Gerais sendo o acionista majoritário da Cemig, essa
condição não lhe confere o poder de utilizar recursos da estatal para custear serviços
prestados por solicitação do partido do governador por empresa diretamente vinculada ao
partido NOVO.
A escolha e indicação da Exec pelo Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior configura
burla à mens legis do disposto no art. 17, inciso I, da Lei Federal nº 13.303, de 2016.
O citado dispositivo veda a indicação, para o Conselho de Administração e para a
Diretoria de empresas estatais, de dirigente estatutário de partido político; ou seja, a lei tem
como objetivo impedir interferências partidárias no âmbito da estrutura diretiva das estatais.
Contudo, a prova colhida por esta CPI comprova que o Sr. Evandro Negrão de Lima
Júnior (dirigente partidário e empresário do ramo imobiliário), embora não tivesse sido
formalmente nomeado para o cargo de conselheiro ou diretor da Cemig, desempenhou
funções típicas e privativas desses cargos consistente na indicação da escolha da empresa
de recrutamento de pessoal, inclusive recebendo informações sigilosas e confidenciais
acerca da substituição da estatal mineira, informações essas capazes de impactar nos
valores das ações da companhia comercializadas na bolsa de valores.
Os depoimentos testemunhais dos gerentes, diretores e presidente da Cemig à época
dos fatos e até mesmo do próprio Evandro Negrão de Lima Júnior comprovam que a
indicação da escolha da Exec bem como a negociação dos valores partiram do dirigente
partidário, culminando no pagamento do elevado valor de R$170.000,00 (cento e setenta
mil reais) à empresa por supostamente ter realizado o serviço de headhunter para a
nomeação do atual presidente da Cemig, mesmo ninguém sabendo explicar e esclarecer de
quem teria partido a ordem da contratação verbal dos serviços.

43
Portanto, não há dúvidas de que a conduta do Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior,
consistente na indicação da escolha da Exec e negociação dos valores dos honorários, foi
determinante para a configuração do pagamento de verdadeiras despesas do partido NOVO
com recursos da estatal mineira.
Diante de tudo o que foi anteriormente exposto, a conduta praticada pelos diretores,
gerentes, particulares e empresa contratada configura, em tese, ato de improbidade
administrativa que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº 8.429,
de 1992, que assim prevê:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e
comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
(…)
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das
entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
(…)
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de
responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação
específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:
(...)
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos,
pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de
contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior
a 12 (doze) anos;
(…)
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para
a prática do ato de improbidade.
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa
jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que
venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente,
houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos
limites da sua participação.

44
Sendo assim, em tese, há fortes indícios de que Hudson Felix Almeida, Rômulo
Provetti, Evandro Negrão de Lima Júnior, Reynaldo Passanezi Filho e a empresa Exec
Consultoria de Recursos Humanos Ltda. praticaram atos, em tese, passíveis de
enquadramento na conduta de improbidade administrativa descrita no citado art. 10, inciso
II, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em que as pessoas físicas, no exercício das
suas funções desempenhadas na Cemig, contribuíram para a irregular contratação e
aplicação de recursos da companhia, provocando dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica
configura-se como particular beneficiário da ilegalidade. O Sr. Evandro Negrão de Lima
Júnior, embora negue participação na contratação, ao ser o responsável pela indicação da
escolha da Exec e pela negociação dos valores dos honorários, contribuiu para o pagamento
da despesa pela Cemig à empresa privada que possuía e possui fortes vínculos com o
partido NOVO (prestadora de serviços voluntários à agremissão partidária), do qual ele é
dirigente partidário.
Há indícios ainda de que o particular Evandro Negrão de Lima Júnior, dirigente
partidário, teria usurpado função pública, indicando a escolha e negociando o valor dos
honorários com a Exec, exercendo, assim, atividade privativa de diretor e conselheiro desta,
inclusive recebendo informações sigilosas e confidenciais acerca da substituição do
diretor-presidente, tudo isso às escuras, uma vez que o art. 17, inciso I, da Lei Federal nº
13.303, de 2016, impedia a ocupação formal e oficial de cargos na estatal.
Os depoimentos pessoais das testemunhas e até mesmo os documentos contendo
proposta direcionada à Cemig em nome do Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior comprovam
a sua concorrência para o pagamento da despesa ilegal pela estatal mineira.
A usurpação de função pública, além de configurar ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública em clara violação
aos deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade (art. 11 da Lei Federal nº
8.429, de 1992), configura também crime tipificado pelo art. 328 do Código Penal:
Usurpação de função pública
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

45
Por fim, cabe também registrar que a conduta de desviar recursos públicos em
proveito alheio configura, em tese, o crime de peculato, nos termos do art. 312 do Código
Penal:
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo
a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.

Dessa forma, caso se confirme que recursos da Cemig foram utilizados para o
pagamento de serviços prestados ao partido NOVO (e não propriamente à Cemig, até
mesmo porque não foi possível identificar de quem partiu a decisão pela contratação dos
serviços), a conduta, em tese, é passível de configurar desvio de valores pertencentes a uma
empresa estatal para proveito de uma entidade privada (partido NOVO e Exec).

b) Da irregularidade da contratação direta. Inexigibilidade de licitação sem o


preenchimento dos requisitos legais. Improbidade administrativa. Conduta em tese
passível de enquadramento no crime de contratação direta ilegal (art. 337-E do
Código Penal)

O art. 173, § 1º, inciso III, da Constituição da República de 1988, prevê que a lei
estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de
suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre licitação e contratação de obras, serviços,
compras e alienações, observados os princípios da administração pública.
A Lei Federal nº 13.303, de 30/6/2016, que dispõe sobre o estatuto jurídico da
empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, em observância à citada norma
constitucional, consagrou a regra da licitação prévia como exigência das contratações
realizadas pelas estatais.

46
O art. 28 da citada lei federal prevê que os contratos de obras e serviços celebrados
por estas devem ser precedidos de licitação, ressalvadas apenas as hipóteses previstas nos
arts. 29 e 30 da mesma lei federal.
O art. 29 prevê as hipóteses em que a licitação pode ser dispensada, enquanto o art.
30 prevê as hipóteses nas quais a licitação é inexigível, por inviabilidade de competição.
Em ambos os casos, porém, não é possível a contratação direta sem a prévia
instauração de um procedimento administrativo de sua justificação, o qual deverá ser
instruído com a razão da escolha do fornecedor, a justificativa do preço e a demonstração
do seu enquadramento em dispensa ou inexigibilidade de licitação.
Marçal Justen Filho, em sua obra “Comentários à Lei de Licitações e Contratações
Administrativas”, bem explica que a inexigibilidade de licitação não significa eliminação
da instauração de processo administrativo prévio e da necessidade de observância aos
princípios que regem a administração pública:
(…) A contratação direta não significa o afastamento dos princípios
básicos que orientam a atuação administrativa. Nem autoriza escolhas
prepotentes ou arbitrárias. O administrador está obrigado a seguir um
procedimento administrativo determinado, destinado a assegurar
(também nesses casos) a prevalência dos princípios jurídicos
fundamentais. Permanece o dever de realizar a melhor contratação
possível, dando tratamento igualitário a todos os possíveis contratantes.
Portanto, a contratação direta não significa eliminação de dois postulados
consagrados a propósito da licitação. O primeiro é a existência de um
processo administrativo. O segundo é a vinculação estatal à realização de
suas finalidades. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de
Licitações e Contratações Administrativas. Revista dos Tribunais. Nova
Lei 14.133/2021, São Paulo, 2021, p. 938).

A Cemig tenta justificar os pagamentos feitos à Exec com o argumento de que a sua
contratação, ainda que verbal e precária, estaria fundada em hipótese de inexigibilidade de
licitação.
A respeito deste tema, o seu Regulamento Interno de Licitações e Contratos é
explícito acerca da obrigatoriedade da prévia instauração de um procedimento
administrativo, devidamente instruído de informações e documentos capazes de
fundamentar a não realização do processo licitatório. É o que se extrai do seu art. 22:
Art. 22. O processo de contratação direta, por inexigibilidade ou dispensa
de licitação, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:
I. descrição do objeto da contratação;

47
II. caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa, quando for o caso;
III. razão da escolha do fornecedor ou do executante;
IV. justificativa do preço, que comprove adequação com os preços
praticados no mercado, observando-se pelo menos um dos seguintes
aspectos:
a) cotações de preços junto a outros fornecedores; ou
b) comparação de preços, em contratos similares havidos pelo próprio
fornecedor junto a outros clientes;
c) outros elementos que permitam a verificação da compatibilidade de
preços com o mercado, desde que observadas as peculiaridades da
contratação.
Parágrafo único. Deverão estar contidos no processo de contratação direta,
ainda:
I. a autorização para a contratação direta, observados os limites de
deliberação da autoridade competente, nos termos de normativos internos
da CEMIG; e
II. o reconhecimento da situação de dispensa ou inexigibilidade.

Como bem leciona Marçal Justen Filho:


Ausência de licitação não significa desnecessidade de observar
formalidades prévias (tais como a verificação da necessidade e
conveniência da contratação, a disponibilidade de recursos etc.). Devem
ser observados os princípios fundamentais da atividade administrativa,
buscando selecionar a melhor contratação possível, segundo os princípios
da licitação. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações
e Contratações Administrativas. Revista dos Tribunais. Nova Lei
14.133/2021, São Paulo, 2021, p. 945).

E continua o citado autor explicando que:


A ausência de licitação não equivale a contratação informal, realizada com
quem a Administração bem entender, sem cautelas nem documentação. Ao
contrário, a contratação direta exige um procedimento administrativo
prévio, em que a observância de etapas e formalidades é imprescindível.
Somente em hipóteses limite é que a Administração estaria autorizada a
contratar sem o cumprimento dessas formalidades. Seriam aqueles casos
de emergência tão grave que a demora, embora mínima, pusesse em risco
a satisfação dos valores a cuja realização se orienta a atividade
administrativa. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações
e Contratações Administrativas. Revista dos Tribunais. Nova Lei
14.133/2021, São Paulo, 2021, p. 945).

Contudo, especificamente quanto à contratação da Exec para a seleção do diretor-


presidente, é fato incontroverso que os gestores não observaram as citadas regras legais e
regulamentares, tendo promovido uma contratação verbal, totalmente informal e arbitrária,

48
com escolhas subjetivas de empresa de titularidade de sócios vinculados ao partido NOVO,
sem qualquer justificativa prévia da escolha do fornecedor, dos valores cobrados e muito
menos do enquadramento da situação na hipótese legal de inexigibilidade de licitação.
Dos elementos colhidos observa-se que a contratação da Exec se deu de forma
verbal pelo Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior, tendo sido por ele subjetivamente
escolhido o fornecedor (que por sinal possuía fortes vínculos com o partido NOVO),
definido o preço e o próprio escopo do trabalho. Ora, como admitir que o dirigente do
partido NOVO estabeleça e alinhe com a empresa de headhunters os critérios e condições
a serem seguidos no processo de seleção do novo presidente-diretor?
É importante chamar atenção para o fato de que na Proposta de Deliberação nº
013/2020 constou justificativa genérica para a ausência de instauração de processo
administrativo prévio à contratação direta da Exec, mesmo tratando-se de exigência
expressa da lei e do regulamento de compras da Cemig, nos seguintes termos:
Em razão da urgência e confidencialidade na contratação, considerando
o art. 22, § 4º, “g”, do Estatuto Social, restou impossível a realização do
Processo Administrativo Prévio, pelo que é necessário convalidar a
contratação da empresa Exec Consultoria de Recursos Humanos Ltda. para
prestação do serviço de executive search para a posição de Diretor-
Presidente, nos termos mencionados no Contexto e Diagnóstico desta PD.
A convalidação tem previsão no art. 55 da Lei 9.784/99 e no art. 66 da Lei
Estadual 14.184/02.

Preliminarmente, cabe destacar que a urgência supostamente aventada não se


afigura como suficiente para justificar a dispensa da formalização de um procedimento
administrativo. O caso em questão não envolveu a contratação de serviços, execução de
obras ou aquisição de bens para fazer frente a uma calamidade pública ou a um evento
imprevisível ou de dimensões imprevisíveis que não fosse capaz de aguardar alguns dias
até a devida formalização do procedimento.
O argumento da urgência chega a ser contraditório à própria natureza do serviço
prestado, que supostamente é complexo, singular e demanda um tempo considerável para
a sua conclusão. Sendo assim, por óbvio, não é crível que o início da prestação do serviço
de seleção/recrutamento de pessoal para o mais alto posto da principal companhia do
Estado não tenha sido precedido de longas conversas e alinhamentos importantes entre os
requisitantes do serviço e a empresa contratada.

49
Não é crível que se inicie um processo de seleção de pessoal para o mais alto cargo
da maior estatal mineira sem que o tomador do serviço tenha previamente definido o perfil
do candidato desejado, mediante a elaboração de um termo de referência, ainda que
confidencial, contendo as condições da prestação dos serviços que se deseja.
Não se está aqui tratando da aquisição de um bem, execução de uma obra ou
prestação de um “serviço de prateleira” que deva ser realizado do dia para a noite, com
extrema urgência, sem tempo nem mesmo para se definir com o contratado os detalhes
técnicos a serem observados na execução dos serviços.
Da forma como a história está sendo narrada na citada proposta de deliberação, o
serviço de recrutamento de pessoal foi feito às pressas, sem uma prévia definição por parte
do próprio tomador dos serviços acerca do perfil profissional, psicológico, características
profissionais, experiências profissionais e demais critérios que deveriam pautar a seleção
de executivo.
A suposta urgência alegada, diante da sua fragilidade, é indício que leva a crer que
Reynaldo Passanezi já estava escolhido pelo partido NOVO e a contratação da Exec foi,
na verdade, uma simulação, um verdadeiro teatro para retribuir à citada empresa os serviços
gratuitos até então prestados à agremiação partidária e ao governador Romeu Zema, bem
como para retribuir aos sócios filiados ao partido que fizeram doações ao NOVO.
A formalização do processo administrativo prévio à contratação da Exec poderia e
deveria ter sido feita, não havendo como se sustentar uma urgência extrema que não
pudesse esperar alguns dias de instauração e conclusão.
Ademais, a “confidencialidade” também não configura motivo para se dispensar a
instauração e formalização do processo administrativo.
Se o setor requisitante do serviço entende que a contratação merece sigilo, não
podendo ser desvendado o seu objeto, bastaria, por óbvio, conferir o grau de sigilo
necessário ao procedimento instaurado, justificando-o. Na realidade, se confidencialidade
existia na prestação dos serviços, mais um motivo para se exigir a prévia formalização do
procedimento de contratação direta, uma vez que, dessa forma, a empresa escolhida já
deveria, de antemão, firmar compromissos de confidencialidade, sob pena de sanções
contratuais e legais, o que obviamente só se tem após a efetiva assinatura de contrato entre
as partes.

50
A postura correta a ser adotada em caso de sigilo jamais seria a contratação às
escuras, por meio verbal e informal, capitaneada por dirigente de partido, sujeito estranho
aos quadros da Cemig, mas, sim, nos termos da Lei Federal nº 12.527, de 2011, conferir a
adequada oficialidade e formalização do processo de contratação, promovendo o
tratamento da informação com a classificação do grau de sigilo cabível e adequado.
No caso, se a prestação dos serviços de fato exigia sigilo e confidencialidade, a
contratação informal, sem prévia assinatura de contratos e termos de compromissos entre
a Cemig e a empresa contratada, configura risco grave ao interesse público, não existindo
garantias mínimas que tornassem minimamente segura a sua prestação de forma precária,
com vínculos verbais travados entre dirigente partidário e sócios-proprietários da empresa
Exec.
Logo, a confidencialidade exigida na prestação dos serviços é mais um motivo para
se exigir a prévia instauração do processo administrativo antes do início da contratação,
não se podendo confundir a “confidencialidade” com a “informalidade”. Do contrário, não
há como se garantir que a empresa escolhida e contratada, que terá amplo acesso a
informações privilegiadas, efetivamente manterá a confidencialidade adequada. E, mais
ainda, não seria possível sequer controlar se o processo de seleção foi ou não direcionado
e conduzido subjetivamente em prol de interesses escusos de terceiros que não os interesses
do Estado de Minas Gerais e demais acionistas da companhia.
Outro registro importante é que, se confidencialidade existia a ponto de impedir
consultas ao mercado de recrutamento de pessoal, como explicar o acesso a essas
informações por parte do Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior e do Sr. João Amoêdo? Eles
não possuem qualquer vínculo funcional com a companhia e nem mesmo com a Exec (ao
menos formalmente não figuram como seus sócios ou empregados).
Se o franqueamento da informação de troca da presidência da Cemig é capaz de
impactar em oscilações de mercado, como explicar o acesso desse tipo de informação aos
senhores Evandro Negrão de Lima Júnior e João Amoêdo, pessoas privadas, empresários
particulares e integrantes de partido político que não possuem qualquer vínculo funcional
com a Cemig ou com a Exec?
A ausência de formalização de processo de inexigibilidade de licitação é situação
excepcionalíssima que só pode ser admitida em situações drásticas nas quais a urgência da

51
contratação é tão relevante que não há tempo hábil de se aguardar alguns dias para a
formalização da situação, sob pena de perecimento de direitos.
O descaso com a norma legal e regulamentar da Cemig, que exige expressamente a
formalização do processo, é conduta flagrantemente ilegal, imoral e ineficiente,
comprometendo o interesse público e tornando as contratações uma prática de escolhas
subjetivas e sem controle.
Este fato, por si só, já configura ilegalidade e, portanto, necessidade de
responsabilização dos gestores que promoveram a contratação direta verbal, sem prévia
instauração do devido procedimento previsto na Lei das Estatais e no próprio Regulamento
Interno de Licitações e Contratos da companhia.
Independentemente da discussão acerca da viabilidade ou não da futura
convalidação, o fato é que os gestores responsáveis pela sua realização sem a devida e
prévia instauração do procedimento administrativo devem ser responsabilizados pela
ilegalidade.
Além da ausência da formalização do procedimento, há também outros vícios na
contratação direta, o que denota a ilegalidade da sua convalidação.
Esta só é permitida nas hipóteses em que há erros sanáveis, entre eles os erros de
forma ou de competência, o que não é o caso da contratação da Exec.
O art. 85, § 1º, do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig só
permite a convalidação dos atos quando os vícios neles envolvidos sejam meramente
formais ou de competência.
No caso, os vícios da contratação formal não se resumem à mera ausência da prévia
instauração do procedimento e assinatura do contrato.
Há um vício extremamente grave e que não foi observado pelos responsáveis pela
contratação, qual seja, a ausência de comprovação da efetiva prestação dos serviços à
Cemig.
O processo administrativo de convalidação não contou com um documento sequer
capaz de demonstrar que a Exec efetivamente desenvolveu algum trabalho em favor da
Cemig. A convalidação pressupõe a correção do vício, fato que não ocorreu, uma vez que
o seu procedimento não foi instruído com os documentos necessários à comprovação da
efetiva prestação dos serviços contratados.

52
Mesmo assim, de forma irresponsável, foi aprovada a proposta de deliberação de
pagamento do elevado valor de R$170.000,00 (cento e setenta mil reais), preparada pelos
Srs. Hudson Felix Almeida e Rômulo Provetti, que depois confessaram não ter recebido
qualquer documento comprobatório da efetiva prestação dos serviços pela Exec e que
presumiram a prestação dos serviços em razão da nomeação do atual presidente-diretor da
Cemig.
Outra irregularidade gritante no procedimento de convalidação é a ausência de
comprovação da notória especialização da Exec.
Nos termos do art. 21 do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig,
“considera-se de notória especialização o profissional ou a empresa cujo conceito no
campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiência,
publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica ou outros requisitos relacionados
com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o
mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato”.
Da leitura dos documentos enviados pela Cemig, constata-se que a convalidação da
inexigibilidade de licitação foi feita sem que houvesse no seu procedimento qualquer
documento idôneo capaz de comprovar a notória especialização da Exec.
Tudo indica, pois, que a empresa foi escolhida subjetivamente para o desempenho
do suposto trabalho não por conta da sua expertise, mas, sim, por força dos seus laços
político-partidários com o NOVO, especialmente com o Sr. Evandro Negrão de Lima
Júnior.
Não pode o gestor convalidar uma contratação direta sem que tal requisito de
validade tivesse sido devidamente observado ou retificado, com comprovação documental
nos autos do procedimento.
Outro gravíssimo vício de ilegalidade insanável é a falta da justificativa do preço,
que comprove adequação com os preços praticados no mercado, observando-se pelo menos
cotações de preços junto a outros fornecedores ou comparação de preços em contratos
similares havidos pelo próprio fornecedor junto a outros clientes.
Na Nota Técnica DPR/PD – 001/2020, a justificativa do preço foi assim indicada
pelo então gerente de pessoas, Hudson Félix Almeida:
Para justificar o valor cobrado, o fornecedor enviou para a Cemig as notas
fiscais e memórias de cálculo dos honorários pelos serviços prestados na

53
seleção de executivos para três grandes grupos empresariais com atuação
no Brasil:
• Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL – Diretor de Recursos
Humanos; BRK Ambiental Participações S.A. - VP de Novos Negócios;
Whirlpool S/A – Talent Acquisition.

Contudo, da análise dos documentos que instruíram o processo de convalidação,


nota-se que não foi juntada aos autos qualquer cópia de documento idôneo capaz de
demonstrar uma comparação de preços em contratos similares havidos pelo próprio
fornecedor junto a outros clientes.
Foram juntadas apenas notas fiscais, a partir das quais não há como se concluir
acerca da similaridade entre os serviços prestados a outros clientes e os serviços
supostamente prestados à Cemig.
Foi juntado ainda um documento intitulado “Contrato de Serviços de Recrutamento
& Seleção de Executivo”, o qual, entretanto, encontra-se assinado exclusivamente pela
suposta contratada Exec Consultoria e Recursos Humanos, não se tratando de documento
idôneo e com validade jurídica suficientemente segura para figurar como comparativo de
preços.
Os indícios contidos no inquérito levam à conclusão de que a convalidação da
contratação direta da Exec foi feita sem a observância das regras de convalidação, tendo
sido superados vícios insanáveis, ordenando-se o pagamento da empresa pela Cemig em
situação completamente irregular e insegura, gerando, assim, danos ao interesse público.
Sendo assim, em tese, há fortes indícios de que Hudson Felix Almeida, Rômulo
Provetti, Evandro Negrão de Lima Júnior e Reynaldo Passanezi Filho, ao promoverem a
contratação direta da Exec por meio da convalidação, praticaram atos, em tese, passíveis
de enquadramento na conduta de improbidade administrativa descrita no art. 10, incisos V
e VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em que contribuíram para a irregular
contratação e aplicação de recursos da companhia, com dispensa indevida, provocando
dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica, Exec, configura-se como particular beneficiário
da ilegalidade.
Por fim, cabe também lembrar que a realização de contratação direta, sem o
preenchimento dos requisitos legais é, em tese, passível de enquadramento no crime
previsto no art. 337-E do Código Penal:

54
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta fora
das hipóteses previstas em lei:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

2.2 Da contratação da Exec Consultoria de Recursos Humanos Ltda. para a prestação


de serviços de avaliação e validação de candidatos a cargos de executivos

Além da contratação da Exec anteriormente analisada, que lhe rendeu


R$170.000,00 (cento e setenta mil reais) para a seleção do diretor-presidente da Cemig, a
mesma empresa recebeu mais R$129.107,99 (cento e vinte e nove mil, cento e sete reais e
noventa e nove centavos) por meio de outra convalidação de contratação direta, por suposta
inexigibilidade de licitação, desta vez como retribuição de supostos trabalhos prestados
para fins de “avaliação e validação de candidatos a cargos de executivos em empresas do
Grupo Cemig, utilizando técnicas de Assessment e de Recrutamento e Seleção”.
Os documentos pertinentes à citada contratação foram enviados pela Cemig a esta
CPI em resposta ao RQC nº 9481/2021 e encontram-se juntados aos autos do inquérito.
Conforme consta na Proposta de Deliberação-PD 118/2020, “ao final de 2019, foi
identificada a necessidade de substituição do diretor-presidente da Cemig, ante a iminência
de vacância desta posição, por motivos particulares, assim manifestado pelo antigo
ocupante do cargo, fato consumado em 13/1/2020. Na ocasião, o Conselho de
Administração analisava a substituição de três outras posições na Diretoria Executiva:
diretor de finanças e relações com investidores; diretor de regulação e jurídico; e diretor da
CemigPar. Ficou definido que essas substituições e outras que porventura poderiam ser
necessárias seriam realizadas em consonância com o novo titular do cargo de presidente da
Companhia, após a posse do executivo selecionado”.
Em razão desse contexto, a proposta de deliberação citada justifica que “foi
necessário contratar uma empresa conhecida mundialmente na prestação de serviço para
as empresas do mesmo porte da Cemig e em cargos de mesma complexidade, nos termos
do art. 30, II, c, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, e do art. 21, II, c, do Regimento Interno
de Licitações e Contratos da Cemig”.

55
Ainda nos termos da mencionada PD, em razão da urgência e confidencialidade na
contratação, não teria sido possível a realização do processo administrativo prévio de
inexigibilidade de licitação, razão pela qual se optou pela convalidação.
Por fim, o documento justifica que os valores contratados estavam de acordo com
os praticados no mercado e que a contratação traria como benefícios: a substituição célere
e sigilosa dos executivos, evitando especulações políticas e de mercado, e seleção de
profissionais com perfil adequado ao exercício das atribuições estatutárias.
Analisando o contrato gerado pela convalidação, percebe-se que a Exec recebeu o
valor de R$129.107,99 (cento e vinte nove mil, cento e sete reais e noventa e nove centavos)
por supostos serviços de “avaliação de candidatos a cargos de executivos em empresas do
Grupo Cemig, utilizando-se de técnicas de Assessment e de Recrutamento e Seleção”,
iniciados em 5/2/2020 e encerrados em 5/4/2020, ou seja, em 60 (sessenta) dias.
O objeto do contrato convalidado está vinculado ao detalhamento constante na
proposta da Exec, que assim delimita a sua extensão:
Visando a elevação do índice de acerto do cliente nas contratações
pretendidas, realizaremos um projeto de avaliação e validação de
candidatos finalistas já identificados e aprovados por ele.
Tal projeto terá como base um mix de técnicas de Assessment e de
Recrutamento e Seleção.
Trata-se de uma alternativa com excelente relação custo-benefício para
situações em que a empresa deseja uma opinião independente e
especializada sobre a viabilidade de contratação de candidatos potenciais
previamente identificados.
Este processo de validação será realizado da seguinte forma, em ordem
cronológica:
Reunião com área de Recursos Humanos e/ou requisitante para
detalhamento completo do perfil do cargo, das competências-chave e
daquelas mais relevantes para o sucesso da função analisada;
Envio dos questionários e links aos candidatos, para preenchimento de
dados e realização dos instrumentos de diagnóstico;
Realização de entrevistas comportamentais com os consultores
especialistas;
Condução do processo de “investigação de carreira” junto às pessoas mais
relevantes que fizeram parte da vida profissional de cada candidato, através
de uma abordagem diretiva sobre as referências;
A Exec realiza este estudo dentro do período de até 10 dias e apresenta um
relatório completo do perfil de cada candidato avaliado, incluindo: O
resultado do instrumento de diagnóstico (Assessment) utilizado; Síntese do
processo de “investigação de carreira” e referências profissionais; e
Recomendação conclusiva sobre a sua contratação.

56
Ocorre que a citada contratação e a consequente convalidação da inexigibilidade de
licitação encontram-se maculadas por diversos vícios de ilegalidade.

a) Do vício de competência. Ausência de Saneamento na convalidação. Usurpação das


funções do Comitê de Auditoria Interna. Convalidação não requisitada pelo Comitê
e nem pelo Conselho de Administração

De acordo com o Estatuto Social da Companhia Energética de Minas Gerais –


Cemig, são da competência privativa do Conselho de Administração as atividades de
eleição e avaliação dos diretores da Companhia, in verbis:
Art. 18 - Caberá ao Conselho de Administração:
(...)
b) eleger, destituir e avaliar os Diretores da Companhia, nos termos da
legislação aplicável, observado o presente estatuto.

Da mesma forma, o Estatuto Social da Cemig prevê, no mesmo art. 18, alínea “x”,
a competência do Conselho de Administração para “eleger, na primeira reunião que se
realizar após a Assembleia Geral Ordinária, os membros do Comitê de Auditoria e destituí-
los, a qualquer tempo, pelo voto justificado da maioria absoluta dos membros do Conselho
de Administração”.
Por fim, esse Estatuto, em seu art. 26, alíneas “i” e “j”, confere ao Comitê de
Auditoria a competência para “opinar, de modo a auxiliar os acionistas na indicação de
administradores, dos membros dos comitês de assessoramento ao Conselho de
Administração e membros do Conselho Fiscal, sobre o preenchimento dos requisitos e a
ausência de vedações para as respectivas eleições” e “verificar a conformidade do processo
de avaliação dos administradores, dos membros dos comitês de assessoramento ao
Conselho de Administração e dos membros do Conselho Fiscal”.
O citado artigo do Estatuto Social prevê, ainda, que, se vier a ser criado o comitê
de elegibilidade e avaliação, essas competências serão transferidas a este órgão.
É relevante ainda destacar que o seu art. 27 confere ao “Comitê de Auditoria
autonomia operacional para conduzir ou determinar a realização de consultas, avaliações e
investigações dentro do escopo de suas atividades, inclusive com a contratação e utilização
de especialistas externos independentes”.

57
A ausência de qualquer vinculação entre a Diretoria Executiva da estatal e a
auditoria interna é uma exigência do art. 9º, § 3º, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, que
prevê a sua vinculação ao Conselho de Administração, diretamente ou por meio do Comitê
de Auditoria Estatutário.
Existe, inclusive, um Regimento Interno do Comitê de Auditoria da Cemig que
prevê sua criação como um órgão colegiado auxiliar do Conselho de Administração, no
que se refere ao exercício das suas funções de auditoria e de fiscalização sobre a qualidade
e integridade das demonstrações contábeis, a aderência às normas legais, estatutárias e
regulatórias, e efetividade dos sistemas de controle interno e de auditorias interna e
independente.
Nos termos do citado Regimento Interno, esse Comitê de Auditoria é composto por
quatro membros, em sua maioria independentes, indicados e eleitos pelo Conselho de
Administração, na primeira reunião que se realizar após a Assembleia Geral Ordinária, para
mandato de três anos, não coincidentes, sendo permitida uma reeleição.
Por se tratar de uma atividade altamente estratégica, com competências que podem
comprometer a integridade da companhia, o Regimento Interno regulamenta de forma
bastante clara os requisitos e as vedações impostas aos seus membros, quais sejam:
Art. 4º - Os membros do Comitê de Auditoria devem ter experiência
profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo,
preferencialmente na área de contabilidade, auditoria ou no setor de
atuação da Companhia, sendo que pelo menos 1 (um) dos membros deve
ter experiência profissional reconhecida em assuntos de contabilidade
societária.
§ 1º - São condições mínimas para integrar o Comitê de Auditoria:
I - não ser ou ter sido, nos 12 (doze) meses anteriores à nomeação para o
Comitê de Auditoria:
a) diretor, empregado ou membro do Conselho Fiscal da Companhia ou de
sua controladora, subsidiária, controlada, coligada ou sociedade em
controle comum, direta ou indireta; e,
b) responsável técnico, diretor, gerente, supervisor ou qualquer outro
integrante com função de gerência de equipe envolvida nos trabalhos de
auditoria na Companhia;
II - não ser cônjuge ou parente consanguíneo ou afim ou por adoção, até o
segundo grau, das pessoas referidas no inciso I;
III - não receber qualquer outro tipo de remuneração da Companhia ou de
sua controladora, subsidiária, controlada, coligada ou sociedade em
controle comum, direta ou indireta, que não seja aquela relativa à função
de membro do Comitê de Auditoria;
IV - não ser ou ter sido ocupante de cargo público efetivo, ainda que
licenciado, ou de cargo em comissão na Administração Pública Estadual

58
Direta, nos 12 (doze) meses anteriores à nomeação para o Comitê de
Auditoria; e,
V - atender aos requisitos previstos no art. 147 da Lei 6.404/1976,
conforme alterada.
§ 2º - Na formação acadêmica, exige-se curso de graduação ou pós-
graduação reconhecido ou credenciado pelo Ministério da Educação.
§ 3º - Para que se cumpra o requisito de reconhecida experiência em
assuntos de contabilidade societária, prevista no caput deste artigo, o
membro do Comitê de Auditoria deve possuir:
I - conhecimento dos princípios de contabilidade geralmente aceitos
aplicáveis à Companhia e das demonstrações financeiras;
II - habilidade na aplicação de tais princípios em relação às principais
estimativas contábeis;
III - experiência na preparação, auditoria, análise ou avaliação de
demonstrações financeiras de abrangência e complexidade similares às da
Companhia;
IV - formação educacional compatível com os conhecimentos de
contabilidade societária necessários às atividades do Comitê de Auditoria;
V - conhecimento de controles internos e procedimentos de contabilidade
societária; e,
VI - conhecimento das funções de um Comitê de Auditoria.

O Regimento Interno do Comitê de Auditoria foi claro e expresso ao atribuir a este


órgão (e não a qualquer Diretoria Executiva) a competência de “opinar, de modo a auxiliar
os acionistas na indicação de administradores, dos membros dos comitês de
assessoramento ao Conselho de Administração e membros do Conselho Fiscal, sobre o
preenchimento dos requisitos e a ausência de vedações para as respectivas eleições”.
Diante do contexto normativo aqui trazido, é possível concluir que:
✓ é da competência do Conselho de Administração a eleição dos diretores executivos
entre os membros indicados pelos acionistas;
✓ é da competência do Comitê de Auditoria interna da Cemig, órgão vinculado ao
Conselho de Administração, dotado de autonomia operacional, opinar sobre os
nomes indicados para a eleição de diretores executivos, bem como promover a
avaliação de não conformidades para a ocupação do cargo, observando os critérios
legais e estatutários;
✓ os membros do Comitê de Auditoria são inclusive remunerados pelas suas
atividades, conforme expressamente previsto no art. 8º do seu Regimento Interno,
sendo ainda dotados de notória especialização nas funções de auditoria e
contabilidade;

59
✓ o Comitê de Auditoria, órgão dotado de autonomia operacional para conduzir ou
determinar a realização de consultas, avaliações e investigações dentro do escopo
de suas atividades, pode promover a contratação e utilização de especialistas
externos independentes, quando entender que a singularidade da demanda justifica
esse gasto para a Companhia;
✓ a Diretoria Executiva não possui competência legal ou estatutária para opinar no
processo de eleição dos seus respectivos diretores, sendo, inclusive, indesejadas
interferências externas no processo de avaliação e checagem dos nomes indicados,
atividade que deve pautar-se em critérios objetivos.

Apesar de as normas serem bastante claras acerca da ausência de competência da


Diretoria Executiva para opinar sobre a escolha e eleição de novos diretores, estranhamente
o mencionado órgão resolveu convalidar a contratação da Exec, tendo exatamente como
objeto a suposta prestação dos serviços de avaliação e validação de candidatos a cargos de
executivos em empresas do Grupo Cemig, utilizando técnicas de Assessment e de
Recrutamento e Seleção.
O processo de convalidação da contratação foi juntado aos autos do inquérito desta
CPI após aprovação de requerimento de requisição.
Em que pese o Estatuto da Cemig conferir ao Comitê de Auditoria Interna, órgão
vinculado ao Conselho de Administração, a competência pelo processo de avaliação e
validação dos candidatos aos cargos de diretores executivos, sem qualquer justificativa
adequada, a proposta de deliberação para convalidação da suposta contratação da Exec
partiu da iniciativa do gerente de provimento e desenvolvimento de pessoas, Rômulo
Provetti, do diretor adjunto de gestão de pessoas e serviços corporativos, Hudson Felix
Almeida e do diretor de regulação e jurídica, Eduardo Soares.
Nem as citadas diretorias e nem mesmo a Diretoria Executiva, porém, possuem a
competência para realizar o processo de avaliação e validação dos candidatos a diretores
indicados pelos acionistas.
Reitere-se que essa atividade se encontra prevista no Estatuto da Cemig como
competência do Comitê de Auditoria, o qual, inclusive, recebe remuneração para o seu
desenvolvimento. Nos termos das normas do Estatuto da Cemig citado, quem dispõe de

60
competência para solicitar e realizar a contratação de consultoria independente para opinar
e validar as indicações dos acionistas para cargos de administradores é esse Comitê.
A Exec, empresa privada que, conforme mostramos anteriormente, possui fortes
vinculações com o partido NOVO, não poderia usurpar as citadas funções do Comitê de
Auditoria. Inclusive, eventual iniciativa de contratação de empresas externas para auxiliar
o Comitê na sua função de opinar sobre os nomes indicados pelos acionistas deveria ter
partido do citado órgão, o qual é dotado de autonomia e, portanto, não pode sofrer
interferências da Diretoria Executiva.
A proposta de deliberação, no entanto, não passou pela aprovação do Conselho de
Administração, mas apenas pela Diretoria Executiva, sob a alegação de que o valor do
contrato não demandava manifestação de outro órgão, utilizando-se para tanto a regra do
art. 22, alínea “g”, do Estatuto da Cemig.
Além do aspecto da alçada de valor, por óbvio é necessário respeitar as iniciativas
quanto ao aspecto das competências estatuárias. E o estatuto da Cemig é claro ao prever
que compete ao Conselho de Administração a eleição dos diretores executivos, com auxílio
do Comitê de Auditoria Interna, órgão responsável por opinar e avaliar a observação dos
critérios legais e estatutários pelo nome indicado pelos acionistas para a posição.
No final de tudo, a proposta de convalidação da contratação da Exec foi assinada,
nada mais nada menos, pelo candidato por ela selecionado e validado, Sr. Eduardo Soares.
O citado diretor de regulação e jurídica confirmou em seu depoimento que teria
sido avaliado e validado pela Exec, empresa cuja convalidação de contratação pela Cemig
ele mesmo, posteriormente, solicitou, promovendo-se o pagamento de mais de
R$120.000,00 (cento e vinte mil reais).
É possível concluir ainda que a Cemig acabou pagando duas vezes pelo mesmo
serviço, já que, além da remuneração dos membros do Comitê de Auditoria Interna previsto
no Regimento Interno do mencionado comitê, órgão responsável por opinar e validar os
nomes indicados, manifestando-se perante o Conselho de Administração, a companhia teve
que pagar para a Exec mais de R$120.000,00 (cento e vinte mil reais) pelo suposto serviço
de avaliação e validação dos nomes indicados pelos acionistas para as posições de diretores.
Dessa forma, a convalidação e o pagamento realizado encontram-se fulminados de
nulidade. A convalidação pressupõe a correção dos vícios, o que não ocorreu, porque a

61
requisição da contratação partiu de órgão da Cemig que não possui competência para
exercer as atividades de avaliação e validação de candidatos a cargo de diretores executivos,
tratando-se de competência clara e expressa do Conselho de Administração, por meio do
Comitê de Auditoria Interna.

b) Da ausência da comprovação da notória especialização da Exec

Nos termos do art. 21, § 1º, do Regulamento de Compras da Cemig, “considera-se


de notória especialização o profissional ou a empresa cujo conceito no campo de sua
especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiência, publicações,
organização, aparelhamento, equipe técnica ou outros requisitos relacionados com suas
atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais
adequado à plena satisfação do objeto do contrato”.
Marçal Justen Filho bem explica o conceito jurídico indeterminado de notória
especialização:
31. O conceito de notória especialização (§ 3º)
A notória especialização resulta da conjugação de dois elementos,
que são a especialização e notoriedade.
31.1) A especialização
A especialização consiste na titularidade objetiva de requisitos que
distinguem o sujeito, atribuindo-lhe maior habilitação do que a
normalidade existente no âmbito dos profissionais que exercem a
atividade.
Isso se traduz na existência de elementos objetivos ou formais, tais
como a conclusão de cursos e titulação no âmbito de pós-graduação,
a participação em organismos voltados a atividade especializada, o
desenvolvimento frutífero e exitoso de serviços semelhantes em
outras oportunidades, a autoria de obras técnicas, o exercício de
magistério superior, a premiação em concursos ou a obtenção de
láureas, a organização de equipe técnica e assim por diante.
(…)
31.2) A notoriedade
A notoriedade significa o reconhecimento da qualificação do
sujeito por parte da comunidade profissional. Ou seja, trata-se de
evitar que a qualificação seja avaliada exclusivamente no âmbito
interno da Administração.
Não basta a Administração reputar que o sujeito apresenta
qualificação, pois é necessário que esse juízo seja exercitado pela
comunidade profissional. Não se exige notoriedade quanto ao
público em geral, mas que o conjunto dos profissionais de um certo

62
setor reconheça o contratado como um sujeito dotado de requisitos
de especialização.
(JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e
Contratações Administrativas. Revista dos Tribunais. Nova Lei
14.133/2021, São Paulo, 2021, p. 986).

Como a notória especialização é requisito indispensável para a contratação direta


via inexigibilidade de licitação, por óbvio que a convalidação da contratação da Exec pela
Cemig não poderia ter sido realizada sem que no processo administrativo estivesse
documentalmente comprovada a sua presença.
Conforme visto, é necessário demonstrar a qualificação da equipe técnica que ficará
responsável pela prestação dos serviços, juntando-se aos autos do procedimento de
contratação direta os documentos que comprovem que o(s) responsável(is) técnico(s) pela
execução dos serviços: concluiu cursos e titulação no âmbito de pós-graduação na área;
participou em organismos voltados a atividade especializada; desenvolveu de modo
frutífero e exitoso serviços semelhantes em outras oportunidades; é autor de obras técnicas;
exerce atividade de magistério superior; recebeu premiação em concursos ou obteve
láureas; entre outros.
Estranhamente, no entanto, no processo de convalidação, não há um documento
sequer que demonstre a notória especialização dos profissionais que ficaram responsáveis
pela prestação dos serviços.
Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, “a notória
especialização jurídica é aquela de caráter absolutamente extraordinário e incontestável,
que fala por si. É posição excepcional, que põe o profissional no ápice de sua carreira e do
reconhecimento”. (Resp 448.442/MS, rel. ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,
DJe 24/9/2010).
Para piorar a situação, não há nem mesmo a indicação de qual seria o profissional
responsável técnico pela prestação dos serviços, não existindo sequer garantia da
pessoalidade da sua execução, a qual, nos termos contratados, poderia ser realizada por
qualquer empregado ou preposto da Exec.
Em sua proposta juntada aos autos do processo de convalidação, esta afirma que “é
uma empresa jovem, obstinada pela qualidade na prestação de seus serviços e que acredita

63
ser possível oferecer consultoria em Recursos Humanos com uma abordagem mais
pragmática e orientada aos resultados do negócio”.
Afirma, ainda, que:
(…) reúne uma equipe de referência em seu setor de atuação, através de
combinada experiência executiva e consultiva de seus diretores e
associados em diferentes especialidades da economia.
Essa equipe trabalha em um ambiente rico em colaboração, informação
e geração de conhecimento, amparada pelo que há de mais moderno em
tecnologia aplicada à sua atividade.
Trata-se também de um time altamente pautado por valores de
acessibilidade, qualidade, ética e atendimento personalizado, assim como
acostumado a produzir resultados diferenciados em projetos de alta
complexidade e relevância para os nossos clientes.

São essas, enfim, as únicas informações acerca da suposta notória especialização


da Exec. Não há um diploma de pós-graduação, um atestado de capacidade técnica de
execução de um objeto anterior em condições semelhantes, nem a publicação de um artigo
científico, absolutamente nada que possa credenciá-la como uma empresa dotada de
notória especialização.
É óbvio que a proposta deveria vir acompanhada da indicação do profissional
técnico responsável pela execução dos serviços, com vedação da sua subcontratação ou
mesmo delegação para outro membro da equipe, ainda que pertencente à Exec, não dotado
das qualificações necessárias.
Ocorre que os responsáveis pela contratação dessa empresa e pela convalidação da
inexigibilidade de licitação não cumpriram o requisito legal indispensável da comprovação
da notória especialização, maculando de ilegalidade a sua realização.
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais já reconheceu
como ato de improbidade administrativa a contratação direta, por inexigibilidade de
licitação, sem a prévia comprovação da notória especialização da empresa contratada no
procedimento administrativo prévio:
Apelações Cíveis. Ação Civil Pública por Ato de Improbidade
Administrativa. Ação Popular. Rejeitadas as preliminares de
incompetência absoluta do juízo e de inadequação da via eleita. Sanções
impostas pela Lei de Improbidade Administrativa aos agentes políticos.
Não incidência da Reclamação n. 2138/DF julgada pelo Supremo Tribunal
Federal. Contratação direta de empresa para realização de concurso
público. Inobservância das formalidades exigidas. Inexigibilidade e
dispensa de licitação. Incomprovada a notória especialização da empresa

64
contratada e a singularidade do objeto. Nulidade do contrato.
Inobservância do procedimento administrativo previsto no art. 26, da Lei
n. 8.666/1992. Dispensa indevida. Ato de improbidade administrativa
previsto no art.10, inciso VIII, da Lei n. 8.429/1992. Sanção aplicada em
conformidade com o art. 12, inciso II, da Lei n. 8.429/1992. Observância
dos princípios constitucionais da razoabilidade e proporcionalidade.
Recursos a que se nega provimento. (TJMG - Apelação Cível
1.0568.07.005170-7/001, relator(a): des.(a) Roney Oliveira , 2ª Câmara
Cível, julgamento em 15/12/2009, publicação da súmula em 13/1/2010).

c) Da ausência de comprovação da efetiva prestação dos serviços

Verifica-se da análise das cópias do processo de convalidação da contratação da


Exec fornecidas pela Cemig no bojo do inquérito desta CPI não constar nelas qualquer
demonstração documental da efetiva prestação dos serviços contratados.
Não é crível que uma empresa do seu porte possa autorizar o pagamento de serviços
por meio da convalidação de contratações verbais sem a exigência de prova documental
mínima acerca da sua efetiva realização.
O processo de convalidação deveria ter sido minimamente instruído com relatórios,
pareceres, enfim, documentos capazes de registrar a existência de prestação dos serviços,
o que, contudo, não ocorreu. Não há, como exige a IJ-04, qualquer registro de ocorrências
contratuais aptas a justificar o pagamento de quantia tão vultosa.
O fato de os serviços envolverem informações sigilosas não dispensa a presença de
documentos no procedimento de convalidação, bastando, para tanto, a classificação do grau
de sigilo e restrição de acesso.
A CPI chegou a oficiar a Cemig, requisitando a comprovação da efetiva prestação
dos serviços, o que foi feito por meio do RQC nº 9935.
Em resposta ao mencionado requerimento, a Cemig encaminhou apenas resumos
de relatórios de 10 (dez) assessments.
Não há, portanto, comprovação de que efetivamente o objeto contratado, em sua
íntegra, foi efetivamente prestado pela Exec e, menos ainda, pelos profissionais que
supostamente detém notória especialização. Não há relatórios firmados por profissionais
dotados da expertise exigida para a comprovação da notória especialização, o que
compromete a própria sustentabilidade da contratação direta. Inexistindo qualquer
exigência da responsabilidade técnica de profissional com qualificação extraordinária, fica

65
configurada a natureza rotineira do serviço, passível de ser executado por qualquer empresa
de recrutamento e seleção de pessoal.
A convalidação de procedimento sem a devida comprovação da prestação dos
serviços pelo profissional tecnicamente qualificado e responsável pela execução também
macula de ilegalidade e nulidade a contratação, tornando-se nula a convalidação irregular
promovida.
Diante de tudo o que foi anteriormente exposto, a conduta praticada pelos diretores,
gerentes e particular contratado configura, em tese, ato de improbidade administrativa que
causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº 8.429, de 1992, que assim
prevê:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e
comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
(…)
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou
serviço por preço superior ao de mercado;
(…)
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo
para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou
dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva;
(...)
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de
responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação
específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: :
(...)
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos,
pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de
contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior
a 12 (doze) anos;
(…)
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para
a prática do ato de improbidade.
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa
jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que

66
venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente,
houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos
limites da sua participação.

Sendo assim, há fortes indícios de que os gestores responsáveis pela convalidação


da contratação direta da Exec praticaram atos, em tese, passíveis de enquadramento na
conduta de improbidade administrativa descrita no art. 10, incisos V e VIII, da Lei Federal
nº 8.429, de 1992, tendo em vista que as pessoas físicas, no exercício das suas funções
desempenhadas na Cemig, contribuíram para a irregular contratação e aplicação de
recursos da companhia, com irregular dispensa/inexigibilidade de licitação, provocando
dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica, Exec, configura-se, em tese, como particular
beneficiário da ilegalidade.
Por fim, a conduta dos gestores consistentes na realização de contratação direta,
sem o preenchimento dos requisitos legais, é, em tese, passível de enquadramento no crime
previsto no art. 337-E do Código Penal:
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta fora
das hipóteses previstas em lei:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

2.3 Da contratação direta do escritório Terra, Tavares, Ferrari, Elias Rosa Sociedade
de Advogados para consultoria jurídica

Trata-se de mais uma contratação direta, por inexigibilidade de licitação, tendo


como objeto serviços de consultoria e assessoria jurídica, assim detalhado na proposta do
escritório contratado:
acompanhamento e intervenção em procedimentos de investigação
interna e externa, com vistas à apuração de condutas e eventual reparação
de danos causados, orientando e auxiliando o exercício da autotutela e a
interlocução com os órgãos internos e externos de controle e fiscalização,
bem como representando, naqueles procedimentos, a Companhia e seus
direitos, abrangendo:

(i) assessoramento jurídico para as comissões internas ou comitê de


investigações, assistindo-as inclusive na realização de atos e diligências
de modo a preservar a legalidade e aumentar a produtividade, como
indicado;
(ii) elaboração ou revisão de respostas a solicitações de informações;
(iii) análise de conteúdo de informações e comunicações;

67
(iv) preparo de opiniões legais, com fundamento em pesquisas a serem
desenvolvidas sob os pontos de vista doutrinário e jurisprudencial;
(v) interlocução com áreas internas de controle e fiscalização, sejam
ordinárias ou internas ou independentes, sem prejuízo do assessoramento
já indicado;
(vi) acompanhamento e interlocução com equipes de investigação que
venham a ser constituídas com o propósito de apurar outros fatos que
venham a ser identificados ou que venham a ser indicados por órgãos de
controle;
(viii) exame de normas regulatórias e administrativas aplicáveis à
Companhia e atinentes aos procedimentos de fiscalização, de auditoria;
(ix) indicação de possíveis estratégias a serem seguidas no que concerne
aos procedimentos em andamento ou em vias de serem deflagrados;
(x) apresentação de sugestões de aperfeiçoamento dos ritos e
procedimentos internos de controle e de verificação;
(xi) participação em reuniões internas ou externas que se façam
necessárias;
(xii) realização de apresentações e reuniões perante terceiros etc; e
(xiii) representação da Companhia em procedimento investigatório
perante órgãos de controle e de fiscalização, dentre eles, o Ministério
Público do Estado de Minas Gerais e outros, que abarcará os dois
procedimentos, já citados (inquéritos civis nº MPMG-0024.20.005087-0
e MPMG-0024.06.000003-1), bem como procedimentos adicionais que
venham a ser oportunamente apontados pela Companhia ao nosso
escritório.

Os documentos pertinentes à mencionada contratação foram obtidos após a


aprovação do RQC nº 9.481/2021 e as cópias estão juntadas aos autos do inquérito desta
Comissão Parlamentar de Inquérito no SDS, especificamente na Pasta Respostas aos RQCs,
subpasta nº 9.481, arquivo “Resposta ao RQC 9481_2021_CPI_CEMIG”.
Da sua análise percebe-se que a remuneração da contratação foi estipulada por meio
de horas efetivamente trabalhadas de acordo com cada ato praticado pelo escritório para o
enfrentamento dos temas, fixando-se um teto de R$90.000,00 (noventa mil reais) por mês.
A tabela de honorários foi assim contratualmente fixada de acordo com o
profissional do escritório designado para atuar em cada caso específico:

Cargo Tabela de honorários

Consultor e Sócios R$1.400,00

Advogado Nível 3 R$850,00

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Advogado Nível 2 R$700,00

Advogado Nível 1 R$600,00

Estagiários R$400,00

Analisando os documentos encaminhados pela Cemig em resposta ao referido RQC


nº 9.481/2021, constata-se que a contratação em exame possui uma série de irregularidades
flagrantes, conforme se passa a explicar.

a) Contratação verbal. Ausência de prévia formalização do procedimento prévio de


inexigibilidade de licitação. Ofensa ao art. 30, § 3º, da Lei Federal nº 13.303, de 2016,
e do art. 22 do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig

A primeira irregularidade flagrante, infelizmente, é uma prática constante da atual


gestão da companhia, qual seja, a celebração de contratações verbais fora das hipóteses
expressamente previstas em lei e, consequentemente, sem a necessária instauração do
procedimento prévio de inexigibilidade de licitação.
Cabe lembrar que tanto a Lei Federal nº 13.303, de 2016, quanto o Regulamento
Interno de Licitações e Contratos da Cemig são claríssimos ao estabelecerem que a
contratação direta, por inexigibilidade de licitação, não pode ser realizada de forma verbal
e precária, sem a prévia justificação por meio do devido procedimento administrativo.
Como a realização da licitação para a escolha do fornecedor é a regra consagrada
pela Constituição da República e pela legislação federal que regulamenta as contratações
públicas, as contratações diretas devem ser encaradas como exceção, exigindo motivação
suficiente e adequada.
Exatamente por isso, antes da contratação direta, o gestor deve instaurar um
procedimento prévio justificando a não realização da licitação e enquadrando a hipótese
entre aquelas previstas no rol de inexigibilidade previsto na lei.
O procedimento deve ser devidamente instruído com toda a documentação
legalmente estabelecida (art. 22 do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da
Cemig).

69
Ocorre que, no caso da contratação do escritório Terra Tavares, os gestores
responsáveis ignoraram solenemente a previsão legal, tendo ela sido realizada de forma
verbal e precária, sem qualquer instauração do procedimento de inexigibilidade de licitação
e da demonstração do seu enquadramento nas hipóteses capazes de justificar a ausência da
licitação.
Não há no procedimento de convalidação da contratação qualquer informação
capaz de demonstrar e convencer que o início da execução contratual não pudesse ser
precedido da devida instauração e conclusão do competente processo administrativo de
inexigibilidade de licitação.
Ora, não se trata aqui da contratação de um serviço ou execução de uma obra que
não pudesse aguardar algumas horas ou até mesmo dias, tempo mais do que suficiente para
a devida instauração e conclusão do processo administrativo de inexigibilidade de licitação.
A “premência das providências” mencionada na proposta de deliberação não
convence quanto à inviabilidade da devida instauração do procedimento administrativo.
Até mesmo porque, se a situação em questão é delicada e a divulgação de
informações relacionadas aos fatos pode impactar negativamente nos interesses da
companhia, não seria razoável a contratação verbal de um escritório de advocacia sem a
conferência prévia de conflitos de interesses de todos os membros integrantes da banca
selecionada. Em especial neste caso, em que a contratação autoriza prestação de serviços
não apenas por algum ou alguns sócios do escritório, mas também por advogados de nível
1, 2 e 3 e até mesmo por estagiários cujos nomes sequer constam no bojo do contrato
celebrado para fins de uma conferência série e firme de conflito de interesses e controle de
vazamento de dados e informações confidenciais.
Configura-se até mesmo irresponsável a conduta praticada pelos gestores
consistente em franquear acesso aos procedimentos com informações sigilosas e sensíveis
aos interesses da companhia sem a prévia apuração de eventuais conflitos de interesse de
todos aqueles que integram a banca do escritório, iniciando-se a prestação de serviços de
representação sem a devida cobertura contratual.
O argumento de que os procedimentos envolviam matéria sigilosa também não é
suficiente para justificar a eliminação da instauração prévia de procedimento de

70
inexigibilidade de licitação. Obviamente, se sigilo existisse quanto à contratação, o
caminho jamais seria a sua realização de forma verbal, mas, sim, a sua devida formalização.
A questão do sigilo é resolvida mediante a classificação do grau de sigilo dos
documentos, impedindo o acesso dos dados eventualmente sensíveis, nos termos da Lei
Federal nº 12.527, de 2012.
Com efeito, não havia qualquer urgência capaz de impedir que, antes de o Terra
Tavares ter iniciado a prestação dos seus serviços, os gestores responsáveis tivessem
providenciado:
a) a descrição do objeto da contratação;
b) razão da escolha do fornecedor ou do executante;
c) justificativa do preço, que comprove adequação com os preços praticados no
mercado;
d) o reconhecimento da situação de inexigibilidade de licitação;
e) a comprovação da notória especialização do escritório escolhido.
Ao invés de seguir a lei e adotar o procedimento prévio, os gestores preferiram
escolher subjetivamente e precariamente um escritório de advocacia, colocando em risco
os interesses da companhia, além de promover contratações com valores vultosos de forma
verbal e sem a adoção de qualquer cautela para a preservação do interesse público.
O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais já se posicionou sobre o tema,
tendo firmado entendimento de que “ainda que se trate de dispensa ou de inexigibilidade
de licitação, a Administração Pública não está autorizada a contratar qualquer particular e
por qualquer via, porquanto a contratação direta deverá ser precedida, necessariamente, de
procedimento administrativo formal, que evidencie a obediência aos princípios e regras do
regime jurídico administrativo”, in verbis:
Representação. Inspeção extraordinária. Prefeitura municipal.
Superintendência de água e esgoto. Contratações diretas. Dispensa e
inexigibilidade de licitação. Irregularidades na formalização dos
procedimentos. Aplicação de multa aos responsáveis. Recomendações e
determinação ao atual prefeito. 1. A prévia licitação constitui regra para a
realização de contratação pela Administração Pública e,
consequentemente, a contratação direta é exceção, observadas as
hipóteses e regras previstas na legislação de regência. 2. Ainda que se trate
de dispensa ou de inexigibilidade de licitação, a Administração Pública
não está autorizada a contratar qualquer particular e por qualquer via,
porquanto a contratação direta deverá ser precedida, necessariamente, de

71
procedimento administrativo formal, que evidencie a obediência aos
princípios e regras do regime jurídico administrativo, sobretudo, o
disposto no art. 26 da Lei nº 8.666, de 1993. 3. A inexigibilidade de
licitação pressupõe a inviabilidade de competição, e o inciso II do art. 25,
combinado com o art. 13 da Lei nº 8.666, de 1993, estabelece, como
pressuposto da contratação direta de serviços técnicos profissionais
especializados, a presença simultânea da natureza singular do objeto e da
notória especialização do favorecido. 4. O serviço para ser singular deve
ter características que o tornam inconfundível com os outros. É aspecto
inerente ao serviço, e não ao profissional ou sociedade empresária que o
executará. (Representação n. 912263. Rel. cons. Gilberto Diniz. Sessão
do dia 14/3/2019. Disponibilizada no DOC do dia 26/4/2019).

b) Da irregularidade da contratação direta. Inexigibilidade de licitação sem o


preenchimento dos requisitos legais. Improbidade administrativa por ofensa aos
princípios que regem a administração pública. Conduta em tese passível de
enquadramento no crime de contratação direta ilegal (art. 337-E do Código Penal)

b.1) Da ausência de demonstração da notória especialização

Vejamos o trecho da proposta de deliberação que fundamentou a suposta existência


de notória especialização por parte do escritório Terra Tavares:
Conforme previsto na legislação, propõe-se a contratação da Terra,
Tavares, Ferrari, Elias Rosa Sociedade de Advogados, tendo como sócio
principal e coordenador dos trabalhos o Dr. Márcio Fernando Elias Rosa,
profissional de notório saber e com experiência sobretudo nas áreas
objeto desta contratação.

A saber, Márcio Fernando Elias Rosa é bacharel em direito, formado em


1985, e possui mestrado e doutorado em Direito do Estado pela Pontifícia
Universidade Católica São Paulo; presta serviços de consultoria jurídica
para grandes empresas e atua como advogado em causas judiciais e em
procedimentos extrajudiciais; foi, por mais de 30 anos, membro do
Ministério Público do Estado de São Paulo, tendo sido, por dois mandatos,
Procurador-Geral de Justiça; atuou na Administração Pública do Estado
de São Paulo, no cargo de Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
e foi Presidente da Fundação Casa. Além disso, é professor de Direito
Administrativo e de Tutela Coletiva e professor convidado na escola
superior do Ministério Público do Estado de São Paulo e da Magistratura
Estadual.

Como se vê, a notória especialização foi fundamentada pela PD essencialmente na


pessoa do sócio Márcio Fernando Elias Rosa.

72
Contudo, a contratação realizada autoriza a prestação de serviços por outros
advogados e até mesmo por estagiários integrantes da mencionada banca.
Da leitura do contrato, percebe-se que, além do referido consultor Márcio Fernando
Elias Rosa e dos demais sócios do escritório, foram autorizados a prestar os serviços de
consultoria e representação da Cemig nos procedimentos os advogados nível 3, nível 2 e
nível 1, além dos estagiários.
Todavia não há na mencionada PD, e nem mesmo no âmbito do procedimento
administrativo, qualquer documento apto a comprovar que os mencionados advogados
(nível 3 a 1) e estagiários possuem a devida notória especialização.
Não há também no contrato celebrado qualquer cláusula contratual que exija que
todos os atos praticados pelos demais advogados do escritório sejam devidamente
supervisionados pelo responsável técnico indicado como possuidor dela.
Pelo contrário, o contrato permite a execução de atos de forma isolada por qualquer
advogado, inclusive os de nível 1 a 3 e até mesmo por estagiários.
Dessa forma não há qualquer garantia de que os serviços serão efetivamente
prestados pelo profissional indicado na inexigibilidade de licitação como possuidor da
expertise superior ao padrão comum do mercado.
Tornando a situação ainda mais grave, na proposta do escritório Terra Tavares, há a
indicação dos advogados Yuri Maciel Araújo e Bernardo Gonçalves Petrucio Salgado como
participantes e responsáveis pela prestação dos serviços, sem a exigência expressa da
coparticipação do sócio Marcio Fernandes Elias Rosa.
Os currículos dos mencionados profissionais denotam que são jovens advogados,
apenas com mestrado e inclusive fora da área de direito público, sendo um deles na área de
direito civil e o outro na área de arbitragem, ou seja, especializações que não possuem
relação direta com o objeto singular que fundamentou a contratação pela Cemig.
Na época da contratação, o advogado Yuri Maciel Araújo contava com pouco mais
de cinco anos de graduação, enquanto o advogado Bernardo Gonçalves contava com pouco
mais de três anos de graduação. Ambos não tiveram a comprovação de qualquer
experiência profissional anterior que não fossem os seus vínculos com o escritório Terra
Tavares iniciados, respectivamente, em 2015 e 2018.

73
Logo não há comprovação apta a demonstrar que os mencionados jovens
advogados possuem notória especialização, menos ainda qualificação e experiência
anterior suficiente para o enfrentamento do problema.
Eles sequer possuem mestrado ou doutorado na área de direito administrativo ou
empresarial, o que denota que não são nem mesmo mais capacitados que os próprios
advogados da Cemig para o enfrentamento do problema, menos ainda com remunerações
vultosas de R$850,00 (oitocentos e cinquenta reais) por hora trabalhada.
A propósito, analisando o relatório de horas enviado pela Cemig em resposta ao
RQC nº 11.370/2022, foi possível constatar que o escritório Terra Tavares, a partir de
fevereiro de 2021, cobrou da companhia o valor unitário de R$1.400,00 (um mil e
quatrocentos reais) por cada hora trabalhada pelo jovem advogado Yuri Maciel Araújo, o
qual não compunha o rol de consultor ou sócio do escritório quando da sua apresentação
da proposta à Cemig e flagrantemente não possui comprovação de notória especialização.
Analisando os orçamentos juntados ao processo de convalidação pela própria Terra
Tavares, constata-se que, para os seus outros clientes, a hora do mesmo advogado foi
cobrada no patamar de R$850,00 (oitocentos e cinquenta reais).
Dessa forma, está provado um superfaturamento na cobrança de horas do advogado
nível 3 no patamar de R$550,00 (quinhentos e cinquenta reais) por cada hora lançada. E
tudo isso apenas comparando os preços do próprio escritório Terra Tavares cobrado de
outros clientes!
Essa situação denota a ilegalidade da contratação, a sua antieconomicidade e a falta
de qualquer compromisso dos gestores da Cemig com os gastos realizados pela companhia.
É preciso ressaltar que os valores autorizados para esses níveis de advogados (1, 2
e 3) encontram-se em patamares bastante elevados.
Para que se tenha ideia, uma hora de trabalho de um advogado nível 3 foi contratado
pelo custo de aproximadamente 70% do salário-mínimo da época, mesmo se tratando de
advogado que não possui comprovada qualificação e experiência na área de direito
administrativo ou empresarial.
A cada hora trabalhada pelo advogado nível 3, o escritório está autorizado a faturar
70% do salário-mínimo mensal de um trabalhador brasileiro. Tudo isso sem que se tenha a

74
devida demonstração da notória especialização desses profissionais e, menos ainda, de
coparticipação do sócio indicado como responsável técnico pelos trabalhos.
Analisando os relatórios de horas, foi possível constatar que a situação foi mais
grave ainda. O escritório Terra Tavares cobrou em sua fatura valores acima daqueles que
ele próprio ofereceu à Cemig em sua proposta. Para comprová-lo, basta verificar o
superfaturamento das horas trabalhadas pelo jovem advogado Yuri Maciel Araújo, que de
R$850,00 (valor previsto na proposta) subiu inexplicavelmente para R$1.400,00.
Conforme já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça:
a notória especialização jurídica é aquela de caráter absolutamente
extraordinário e incontestável, que fala por si. É posição excepcional, que
põe o profissional no ápice de sua carreira e do reconhecimento,
espontâneo, no mundo do Direito, mesmo que regional, seja pela longa e
profunda dedicação a um tema, seja pela publicação de obras e exercício
da atividade docente em instituições de prestígio.
A especialidade do serviço técnico está associada à singularidade,
envolvendo serviço específico que reclame conhecimento peculiar do
seu executor e ausência de outros profissionais capacitados no
mercado, daí decorrendo a inviabilidade da competição. (Resp
448.442/MS, rel. ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
24/9/2010.

Se a pretensão fosse comprovar a notória especialização do escritório Terra Tavares


através da sua equipe de advogados nível 1, 2, 3 e até mesmo de estagiários, além dos
demais sócios que não o Márcio Fernando Elias Rosa, deveriam ter sido apresentados e
juntados aos autos do procedimento documentos que comprovem desempenho anterior,
estudos, experiências e publicações.
E a contratação direta, como já indicamos anteriormente, nos termos estabelecidos
no contrato, autoriza os advogados nível 1, 2, 3 e até mesmo estagiários a praticarem atos
sem a devida coparticipação do sócio Márcio Fernando Elias Rosa (indicado como
responsável técnico).
Definitivamente não há nos autos comprovação capaz de demonstrar a notória
especialização dos advogados autorizados a trabalharem, não existindo na minuta
contratual celebrada qualquer previsão que resguarde a atuação e execução em todos os
atos contratados do advogado indicado como detentor da notória especialização.

75
Cabe lembrar que o art. 78, § 3º, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, exige que o
profissional indicado como responsável técnico para fins de comprovação da notória
especialização execute “direta e pessoalmente as obrigações a ele imputadas”.
A autorização da execução de trabalhos por estagiários ao elevado custo de
R$ 400,00 (quatrocentos reais) é também uma prova da burla à notória especialização.
Conforme prevê o art. 1º da Lei Federal nº 11.788, de 2008, o “estágio é ato
educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à
preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino
regular em instituições de educação superior”.
É, portanto, incompatível com a figura da notória especialização a utilização de
estagiários para a prestação de serviços de consultoria, assessoramento e representação da
Cemig em procedimentos judiciais ou administrativos.
Obviamente, se o trabalho contratado possui complexidade técnica capaz de
enquadrá-lo no conceito de singularidade, não é lícita a utilização de estagiários para o seu
enfrentamento, menos ainda mediante a vultosa remuneração de R$400,00 (quatrocentos
reais) por hora dedicada pelo acadêmico.
Logo, de duas uma: ou o objeto contratado não possuía qualquer singularidade,
podendo ser executado e enfrentado por advogados recém-formados e até mesmo por
estagiários, não sendo necessária a atuação direta de advogados com notória especialização
em todos os objetos que compõem o escopo contratual, ou a Cemig irresponsavelmente
permitiu que estagiários e advogados sem a notória especialização enfrentassem os serviços
singulares mediante o pagamento de honorários vultosos, comprometendo, assim, os
interesses da companhia e causando danos patrimoniais consideráveis.
Analisando os documentos, percebe-se que os gestores Eduardo Soares, Luiz
Fernando de Medeiros Moreira, Hudson Felix Almeida e Osias da Silva Galantine foram
os responsáveis pela ilegal apresentação da proposta de deliberação contendo a
convalidação da ilegal contratação direta do escritório Terra Tavares, mesmo com os
defeitos aqui mencionados.
Eduardo Soares e Henrique Motta Pinto foram os responsáveis pela assinatura do
contrato, em que pesem as flagrantes ilegalidades anteriormente apontadas. Além disso,

76
Eduardo Soares ratificou a inexigibilidade de licitação, enquanto Henrique Motta foi
responsável pelo reconhecimento da situação de inexigibilidade.
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais já reconheceu
como ato de improbidade administrativa a contratação direta, por inexigibilidade de
licitação, sem a prévia comprovação da notória especialização da empresa contratada no
procedimento administrativo prévio:
Apelações Cíveis. Ação Civil Pública por Ato de Improbidade
Administrativa. Ação Popular. Rejeitadas as preliminares de
incompetência absoluta do juízo e de inadequação da via eleita. Sanções
impostas pela Lei de Improbidade Administrativa aos agentes políticos.
Não incidência da Reclamação n. 2138/DF julgada pelo Supremo
Tribunal Federal. Contratação direta de empresa para realização de
concurso público. Inobservância das formalidades exigidas.
Inexigibilidade e dispensa de licitação. Incomprovada a notória
especialização da empresa contratada e a singularidade do objeto.
Nulidade do contrato. Inobservância do procedimento administrativo
previsto no art. 26, da Lei n. 8.666/1992. Dispensa indevida. Ato de
improbidade administrativa previsto no art.10, inciso VIII, da Lei n.
8.429/1992. Sanção aplicada em conformidade com o art. 12, inciso II,
da Lei n. 8.429/1992. Observância dos princípios constitucionais da
razoabilidade e proporcionalidade. Recursos a que se nega provimento.
(TJMG - Apelação Cível 1.0568.07.005170-7/001, relator(a): des.(a)
Roney Oliveira, 2ª Câmara Cível, julgamento em 15/12/2009, publicação
da súmula em 13/1/2010).

b.2) Do superfaturamento da contratação. Irregularidades na justificativa do preço

Além do superfaturamento das cobranças das horas do advogado Yuri Maciel


Araújo, já explicado no tópico anterior, – que também configura descumprimento ao
requisito da notória especialização –, há ainda outras provas de superfaturamento nos
valores contratados.
O contrato firmado pela Cemig com a Terra Tavarez prevê em sua cláusula sétima,
§ 2º, que “em havendo deslocamento dos sócios acima referidos e do consultor nominado
para Belo Horizonte, serão computados, no mínimo, 08 (oito) horas por dia de
deslocamento. Em havendo o deslocamento concomitante de mais de um serão computadas
outras 06 (seis) horas, no mínimo”.

77
Além disso, o § 2º da cláusula oitava do contrato prevê que a Cemig arcará com
todas as despesas de viagem efetivamente realizadas para a execução dos serviços objeto
do contrato.
Analisando o objeto contratado, percebe-se que o seu núcleo central consiste no
acompanhamento de dois inquéritos civis que tramitam perante o Ministério Público do
Estado de Minas Gerais, situado em Belo Horizonte, bem como o acompanhamento de
investigações, reuniões e procedimentos internos realizados na Cemig, relacionados aos
objetos dos inquéritos.
Frise-se, inclusive, que, para o trabalho de investigação envolvendo os fatos dos
inquéritos civis, os gestores também contrataram a empresa Kroll por mais de
R$3.000.000,00 (três milhões de reais).
Trata-se de um objeto contratual que inevitavelmente exige a presença física dos
advogados responsáveis, com notória especialização, para o seu enfrentamento,
perspectiva essa que impacta sobremaneira na necessidade de deslocamentos para Belo
Horizonte, seja para acompanhar o procedimento que tramita no MPMG, seja para
acompanhamento dos procedimentos internos de investigação, reuniões etc., realizados na
sede da companhia que fica situada em Belo Horizonte.
Dessa forma, a peculiaridade do local da prestação dos serviços não foi
devidamente considerada pela Cemig, não havendo demonstração suficiente da sua
compatibilidade com o mercado, especialmente tendo em vista a existência de vários
escritórios de advocacia com equipes dotadas de notória especialização e, logo, plenamente
capazes de enfrentar o problema.
Como visto, qualquer serviço que precise ser realizado na cidade de Belo Horizonte
(e a essência do serviço está situada no acompanhamento de atos processuais e
procedimentos nesta capital) custará para a Cemig oito vezes mais do que aquilo que seria
cobrado por escritórios sediados nesta capital mineira.
É necessário considerar que, em se tratando de um assessoramento jurídico que
envolve temas sensíveis e sigilosos, as reuniões remotas e comunicações telefônicas devem
ser restritas, por segurança, sob pena de colocar em risco os interesses da companhia,
exigindo-se, assim, uma presença física frequente dos advogados contratados na sede da
companhia e na própria sede do MPMG.

78
Na PD há inclusive menção a ataques cibernéticos ao sistema interno da Cemig, o
que denota a inviabilidade do tratamento de tema tão sensível por meio de troca de e-mails,
ligações telefônicas e reuniões por videoconferência.
Posto isso, a título de comparação, para a realização de uma reunião de uma hora
de trabalho perante o MPMG, o comparecimento de qualquer sócio do escritório Terra
Tavares custaria para a Cemig a importância de, no mínimo, R$11.200,00 (onze mil e
duzentos reais), fora as despesas com passagens aéreas, hospedagem, alimentação,
táxi etc.
Por outro lado, a realização do mesmo trabalho por um escritório situado no
Município de Belo Horizonte (MG), adotando-se a mesma tabela de horas, custaria, na pior
das hipóteses, R$1.400,00 (um mil e quatrocentos reais).
É importante registrar que o superfaturamento de fato se consumou, conforme
comprovam os relatórios de horas juntados aos autos pela Cemig em resposta ao RQC nº
11.370/2022.
A planilha abaixo, utilizando como recorte apenas 15 (quinze) dias de execução
contratual 1º/2/2021 a 15/2/2021, sintetiza o superfaturamento dos preços praticados
provocado pela elevada cobrança de horas de viagem, inclusive de retorno:

DATA Nº DE HORAS VALOR COBRADO ATIVIDADE


03/2/2021 10 R$ 14.000,00 Viagem a BH
para reuniões
03/2/2021 10 R$ 8.500,00 Viagem a BH
para reuniões
04/2/2021 8 R$ 11.200,00 Viagem a BH
para reuniões
05/2/2021 8 R$ 11.200,00 Viagem a BH
para reuniões
05/2/2021 6 R$ 5.100,00 Viagem a BH
para reuniões
06/02/2021 2 R$ 2.800,00 Retorno de
viagem de BH

79
06/02/2021 2 R$ 1.700,00 Retorno de
viagem de BH
11/02/2021 8 R$ 11.200,00 Viagem a BH
para reuniões
11/02/2021 6 R$ 5.100,00 Viagem a BH
para reuniões
12/2/2021 8 R$ 11.200,00 Viagem a BH
para reuniões
12/2/2021 6 R$ 5.100,00 Viagem a BH
para reuniões
13/2/2021 2 R$ 2.800,00 Retorno de
viagem de BH
13/2/2021 2 R$ 1.700,00 Retorno de
viagem de BH
TOTAL R$ 91.600,00

A planilha acima, por amostragem, comprova a surpreendente cobrança de


R$91.600,00 (noventa e um mil e seiscentos reais) apenas em um período de 15 (quinze)
dias para a realização de viagens de ida e volta a Belo Horizonte para a realização de
reuniões de 1h (uma hora) ou 2h (duas horas) de duração.
Isso sem considerar as despesas com passagens aéreas e hospedagem que, de acordo
com as regras contratuais, também seriam arcadas pela Cemig.
Chama a atenção ainda o deslocamento de vários advogados no mesmo dia ou em
dias muito próximos para viagens a Belo Horizonte para participação em reuniões, o que,
obviamente, rende faturamento em duplicidade ao escritório para a mera realização de
reuniões.
Há que se chamar a atenção ainda para o fato de que as propostas apresentadas pelo
próprio Terra Tavares para outros clientes, juntadas ao processo de convalidação como
forma de justificar os preços contratados pela Cemig, não contém a mesma cobrança de 8h
(oito horas) por deslocamento e cobrança de horas de retorno de viagem.

80
Trata-se da proposta datada de 18/10/2019, a qual, além de conter valores
consideravelmente inferiores à proposta contratada pela companhia, não possui previsão
de cobrança de horas por deslocamento, menos ainda o quantitativo de no mínimo 8h (oito
horas).
Destaca-se, inclusive, que a hora do jovem advogado recém formado Yuri Maciel
Araújo foi indicada na mesma proposta com o valor de R$850,00 (oitocentos e cinquenta
reais), tendo sido, contudo, cobrada da Cemig no patamar de R$1.400,00 (um mil e
quatrocentos reais).
Portanto, comparando a proposta da própria Terra Tavares apresentada a outro
cliente, juntada aos autos da convalidação, e aquela proposta apresentada pelo mesmo
escritório à Cemig e que originou a contratação, constata-se a falta de compatibilidade entre
elas.
Em outra proposta da Terra Tavares, datada de 4/5/2020, consistente em “renovação
da prestação de serviços de consultoria jurídica estratégica”, também apresentada para
tentar justificar os preços ofertados à Cemig, constata-se que nela também não há a
previsão da cobrança de horas de deslocamento, menos ainda as 8 oito horas previstas no
contrato desta estatal mineira. Nela também a hora do jovem advogado Yuri Maciel Araújo
consta como R$850,00.
Dessa forma, está evidente que a contratação do referido escritório, situado em São
Paulo (SP), encontra-se com sobrepreço comparativamente aos custos pela prestação dos
mesmos serviços através de escritórios de advocacia situados em Belo Horizonte ou até
mesmo por escritórios de outras cidades, porém sem a cobrança de horas de deslocamentos
no patamar mínimo de 8 oito horas além dos custos com a própria viagem.
Surpreendentemente, o sobrepreço é demonstrado comparando-se a proposta
contratada pela Cemig com as duas propostas apresentadas pelo próprio Terra Tavares no
processo de convalidação, as quais, como explicado, não preveem cobrança de horas por
deslocamento como horas de trabalho, menos ainda o quantitativo mínimo de 8 oito horas
por viagem.
Como demonstrado e comprovado pelos relatórios de horas, qualquer presença de
sócios ou consultores em reuniões ou audiências custou para a Cemig o valor vultoso de
R$11.200,00 (onze mil e duzentos reais), fora despesas com passagens aéreas, táxi e

81
alimentação. Com a agravante de comparecimento de mais de um advogado para a
participação em uma mesma reunião (faturamento de múltiplas horas de vários advogados
para participar da mesma reunião) e cobranças de horas de retorno de viagem.
Diante desses fatos, está provado que os gestores responsáveis pela contratação
verbal do escritório Terra Tavares e pela posterior convalidação da sua contratação agiram
ilegalmente, deixando de atentar para o requisito indispensável exigido pela legislação,
qual seja, a justificativa do preço que comprove adequação com os preços praticados no
mercado.
Definitivamente, salta aos olhos a vultosidade dos valores contratados, chegando-
se ao absurdo de contratar uma hora de reunião presencial do sócio responsável técnico
pela prestação dos serviços pela quantia de R$11.200,00 (onze mil e duzentos reais), fora
custos com despesas aéreas, táxi e alimentação.
Conforme bem reconhece a doutrina, “a consulta a outro notório especialista
protege a Administração Pública e o próprio gestor de contratar, inadvertidamente,
valores elevados praticados por um específico profissional, que não representem um
referencial fidedigno de razoabilidade em relação ao restante do mercado, formado por
outros possíveis contratados para a execução daquele mesmo objeto considerado singular”.
(PÉRCIO, Gabriela; TORRES, Ronny Charles L. Ilegalidade da pesquisa de preços em
contratação por inexigibilidade de licitação. Fórum de Contratação e Gestão Pública –
FCGP, Belo Horizonte, ano 18, nº 210, p. 22-25, jun. 2019).
Analisando os documentos, percebe-se que os gestores Eduardo Soares, Luiz
Fernando de Medeiros Moreira, Hudson Felix Almeida e Osias da Silva Galantine foram
os responsáveis pela ilegal apresentação da proposta de deliberação contendo a
convalidação da ilegal contratação direta do escritório Terra Tavares, mesmo com os preços
excessivos, diante das condições impostas pelo escritório no que tange à cobrança de horas
pelo deslocamento.
Eduardo Soares e Henrique Motta Pinto foram os responsáveis pela assinatura do
contrato, apesar do flagrante superfaturamento dos valores propostos. Além disso, Eduardo
Soares ratificou a inexigibilidade de licitação, enquanto Henrique Motta foi responsável
pelo reconhecimento da situação de inexigibilidade, mesmo com os preços exorbitantes,
considerando as condições da proposta e da prestação dos serviços.

82
E nem se diga que, para contornar o superfaturamento, bastaria o envio de
advogados nível 3,2,1 ou de estagiários para as reuniões e audiências. O que, se fosse feito,
demonstraria a ausência de singularidade do objeto, caindo por terra a sustentação jurídica
da legalidade da inexigibilidade de licitação.
Se o serviço é singular, por óbvio as reuniões e audiências não podem dispensar a
participação do responsável técnico, indicado na justificativa de escolha do escritório para
fins de fundamentar a notória especialização.
Afinal, conforme bem alerta a doutrina, “a característica singular dos serviços
de advocacia deve ser apta a exigir a contratação de advogado ou
escritório com qualificações diferenciadas: atividades jurídicas rotineiras,
próprias do dia a dia do funcionamento dos municípios e demais
entidades – desempenháveis de maneira idêntica e indiferenciada (tanto
faz quem o executa) por qualquer profissional – não haverão de ser
objeto de contratação direta por inexigibilidade. Patrocínio genérico de causas,
elaboração de pareceres que não envolvem dificuldades superiores às corriqueiramente
enfrentadas por advogados atuantes na área da Administração Pública e
pelo órgão técnico jurídico do município não podem ser considerados
como singulares”. (MOTTA, Fabrício. A contratação direta de serviços de
advocacia e consultoria jurídica por inexigibilidade de licitação. Fórum de
Contratação e Gestão Pública – FCGP, Belo Horizonte, ano 15, nº 174, p.
24-28, jun. 2016).
Embora exista discricionariedade na escolha do escritório contratado por
inexigibilidade de licitação em razão do elemento fidúcia, tal fato não autoriza a sua
realização por preços manifestamente antieconômicos, completamente fora do mercado,
especialmente considerando que nesta capital existem diversas bancas de advocacia com
notória especialização na área demandada.
Diante de tudo o que foi anteriormente exposto, a conduta praticada pelos diretores,
gerentes, particulares e escritório contratado configura, em tese, ato de improbidade
administrativa que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº 8.429,
de1992, que assim prevê:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e

83
comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
(…)
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou
serviço por preço superior ao de mercado;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo
para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou
dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva;
(…)
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de
responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação
específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:
(...)
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos,
pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de
contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior
a 12 (doze) anos;
(…)
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para
a prática do ato de improbidade.
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa
jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que
venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente,
houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos
limites da sua participação.

Sendo assim, em tese, há fortes indícios de que Eduardo Soares, Luiz Fernando de
Medeiros Moreira, Hudson Felix Almeida, Osias da Silva Galantine e Henrique Motta
Pinto praticaram atos, em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade
administrativa descrita no art. 10, incisos V e VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na
medida em que as pessoas físicas, no exercício das suas funções desempenhadas na Cemig,
contribuíram para a irregular contratação e aplicação de recursos da companhia,
provocando dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica, Terra Tavares, configura-se em tese
como particular beneficiário da ilegalidade.

84
Por fim, a conduta dos gestores consistentes na realização de contratação direta,
sem o preenchimento dos requisitos legais é, em tese, passível de enquadramento no crime
previsto no art. 337-E do Código Penal:
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta fora
das hipóteses previstas em lei:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

2.4 Da contratação direta da IBM e a subcontratação da A&C em detrimento da


vencedora do pregão para prestação de serviços de call center, a Audac

O contrato de aproximadamente R$1,1 bilhão, com duração de dez anos, entre a


Cemig e a IBM Brasil – Indústria Máquinas e Serviços Ltda., multinacional de tecnologia,
foi objeto de intensa investigação por parte desta CPI. Para compreender as irregularidades
apuradas, é necessário contextualizar o escopo da contratação da IBM e o contexto das
contratações da A&C Centro de Contas S.A. – A&C ou AeC – e da Audac Serviços
Especializados de Cobrança e Atendimento S.A – Audac.
De início, observe-se que, em resposta ao Requerimento nº 9.483/2021, desta
comissão, a Cemig enviou as cópias integrais dos seguintes processos licitatórios (com
inexigibilidade de licitação): a) Inexigibilidade 530-E14994, Contrato 4680006138,
firmado com a empresa IBM do Brasil, acrescido dos estudos técnicos preliminares, atas,
projeto básico e demais decisões que precederam a formalização contratual; b) Contrato
4680004808, firmado com a empresa A&C, e seus aditivos a partir de 2019; c) Pregão
Eletrônico 530-H13806, cujo objeto era a contratação de empresas para serviços de call
center; e d) Contrato 4680005967, firmado com a empresa Audac, acrescido da ordem de
serviço e eventual termo de rescisão. Tais cópias foram acompanhadas dos documentos
essenciais à formalização prévia desses processos, tais como, (i) solicitação de contratação
e justificativas/motivações que embasaram essas solicitações; (ii) autorização e aprovação
do conselho da empresa; (iii) ordem de serviço, empenhos; (iv) notas fiscais; (v)
comprovantes de prestação dos serviços; (vi) relação dos serviços entregues à empresa;
(vii) comprovantes de publicação e; (viii) comprovantes de pagamentos.
Da análise das provas coletadas, apurou-se que o escopo do contrato da IBM seria
a integração de todos os canais de atendimento da Cemig em uma única plataforma
(omnichannel), com o uso de inteligência artificial e de todas as funcionalidades para um

85
atendimento rápido e de fácil uso para o cliente. Alegou a companhia, em inúmeras
oportunidades, que a parceria com a IBM teria sido precedida de ampla consulta ao
mercado, com a realização de dois Procedimentos de Manifestação de Interesse – PMIs –
e a opção pela modalidade denominada oportunidade de negócio, com a seleção final
validada por um comitê técnico composto por funcionários das principais áreas da
companhia e com aprovação unânime da Diretoria Executiva e do Conselho de
Administração. Ainda segundo a Cemig, o custo com essa parceria seria inferior ao custo
somado dos 14 (quatorze) fornecedores que prestavam serviços de atendimento ao cliente
e cuidavam de diferentes canais (call center, Whatsapp, site, agências físicas, totens etc).
Finalmente, argumenta a empresa que o novo projeto remuneraria por resolução no
atendimento, não por tempo de atendimento, o que beneficiaria os clientes e reduziria
custos.
Em que pese tais afirmações, a CPI apurou fatos graves relativamente à tal
contratação.
Na oitiva de Wantuil Dionísio Teixeira, superintendente do Centro de Serviços
Compartilhados da Cemig, foi esclarecido que a empresa tinha, de fato, 14 (quatorze)
contratos e que deveriam ser finalizados com a contratação da IBM. A testemunha
reconheceu, contudo, que alguns contratos ainda seguem ativos e confirmou que aquele
cuja data de término era mais breve era o do call center, celebrado com a A&C. O contrato
foi assinado com a IBM no dia 12/2/2021, enquanto o contrato de serviços de call center
com a A&C expiraria em 28/2/2021, o que teria motivado a subcontratação desse serviço.
Veja-se:
O presidente - Antes de passar a palavra ao próximo inscrito, que é
o deputado Zé Guilherme, eu queria que o Sr. Wantuil nos
respondesse aqui: quando foi assinado o contrato com a IBM?
O Sr. Wantuil Dionísio Teixeira - O contrato com a IBM foi
assinado no dia 12/2/2021.
O presidente - Em 2021. Está bem. Dentro dessa contratação, vocês
já têm acesso à subcontratação de serviços de call center. É isso?
Vocês foram informados de que ocorreria uma subcontratação, em
que pese inicialmente o senhor ter falado que não saberia qual

86
empresa foi subcontratada; depois disse que sabe qual é a empresa.
O senhor já teve acesso ao contrato da subcontratação desse serviço?
O Sr. Wantuil Dionísio Teixeira - Por que a subcontratação na fase
de transição que estava permitida no acordo foi feita? O contrato
foi assinado no dia 12 de fevereiro, e o contrato que estava em vigor
do call center se encerrava no dia 28 de fevereiro. Era praticamente
impossível a gente fazer uma transição de empresas entre os dias
12 e 28 - num prazo de 16 dias fazer toda uma transição de canais
de comunicação, o próprio recrutamento de pessoas, treinamento
de pessoas nos procedimentos. Por isso, dentro do que está
estabelecido no nosso acordo, essa subcontratação no período de
transição e transformação foi permitida. Então nos foi apresentado
pela IBM que ela, sim, subcontrataria...
O presidente - Você sabe me dizer o valor desse contrato da
subcontratação da IBM com a empresa AeC?
O Sr. Wantuil Dionísio Teixeira - Não, senhor.

Vejamos com mais detalhes esse objeto da investigação da CPI.

a) A A&C e a sua relação com o governo do Estado

A A&C foi fundada por Cássio Rocha de Azevedo, secretário de Desenvolvimento


Econômico de Minas Gerais entre outubro de 2019 e abril de 2021 – ele faleceu em junho
de 2021. Como essa empresa já possuía milhões em contratos com o próprio governo do
Estado de Minas, a própria nomeação de Cássio como secretário de Estado já demonstrava
que, a despeito das tentativas de consolidar uma imagem de aversão à política, o partido
NOVO passou a atrelar, fortemente, outros interesses na sua gestão. Essa relação do
referido partido ficou evidenciada, ainda, pela análise de outras contratações da Cemig,
conforme vem sendo tratado neste relatório.
É importante notar que o governador anunciou Cássio Azevedo como secretário em
outubro de 2019. Azevedo deixou o cargo de CEO da A&C e o Conselho de Administração

87
da empresa em dezembro de 2019. Porém, ele só foi nomeado oficialmente como secretário
no final de março de 2020, quase cinco meses depois do anúncio do governador e depois
de a A&C perder a licitação para a Audac, mas antes da sua subcontratação pela IBM,
temas que serão relatados adiante.
Esta comissão apurou, a partir do testemunho de João Polati Filho, ex-diretor de
Suprimentos e Serviços Compartilhados da Cemig, que foram feitas obras em uma sala no
18º andar do prédio da companhia para abrigar Azevedo. A testemunha confrontou todos
os depoimentos prestados perante esta CPI que negavam tal informação. Segundo o ex-
diretor, “quando vem alguém aqui na CPI e fala que não sabe disso eu vejo até com tristeza.
Esse assunto foi um tititi a semana inteira na Cemig”. Observe-se:
O deputado Sávio Souza Cruz - Luiz Fernando. Ele informou que
deu parecer contrário a uma solicitação do presidente e queria que
fosse aberto um espaço físico, uma sala para o proprietário da AeC
dentro da sede Cemig. O senhor teve conhecimento disso?
O Sr. João Polati Filho - Perfeito. Tenho total conhecimento, e
vamos aos fatos. O Hudson chegou na minha sala e falou: "Polati,"
- lembrando, eu era diretor de serviços corporativos, era a minha
função também -, "o Reynaldo pediu para desocupar a sua sala".
Sala do Hudson, sala bacana, sala do diretor da Cemig. "E eu estou
sem sala, cara. E agora? Como é que vai fazer?". "Não,
perfeitamente". Pessoalmente, rodei com ele o 18º andar. Entre a
sala do diretor de transmissão e da holding, havia uma sala de apoio
e o financeiro. E aqui, quase na minha antessala, tinha o diretor de
comercialização, que tinha uma sala. De bate-pronto falei: "Tem
essas duas salas. Qual você quer?". Ele disse: "Essa que está perto
de você". Imediatamente chamei o pessoal, o Eron, a Ivna e as
outras pessoas todas envolvidas, e foi feita a instalação para a sala
do Hudson.
Quando alguém vem aqui e fala da sala, tem que entender que a
sala para o secretário era a sala ao lado da sala do presidente. Essa
sala ficou lá fechadona, tranquila, intocável. Quando alguém fala

88
que não sabia disso dentro da Cemig, vejo até com tristeza, porque
esse assunto foi um ti-ti-ti a semana inteira.
O presidente - Inclusive a Sra. Ivna?
O Sr. João Polati Filho - A Ivna era a responsável por essa parte de
imóveis, e as arquitetas que trabalhavam com ela tinham que
reconfigurar. Eu não podia chegar lá: "Vamos mudar essas mesas
aqui. Deixa do jeito que está". As arquitetas tinham que ir lá e
atualizar o layout, toda a área de corporativos, o Sr. Eron, a Ivna e
o Elias, que entrou no PDV e foi embora. É isso.
Essa sala, como ela acabou? Essa sala acabou da seguinte forma:
foi feita uma reforma geral no 18º andar, um layout novo, inclusive
eu me manifestei, por informações recebidas - eu tinha pouco
tempo de casa -, que havia sido feita uma megarreforma no 18º
andar, que era onde eu estava, todo mundo estava instalado, e não
seria bom, não é? Toda hora reforma o 18º. A Cemig é conhecida
pelo 18º.

O aparelhamento político da companhia ficou evidente a partir de tais fatos, uma


vez que, mesmo sem ser funcionário da estatal, Cássio Azevedo chegou a solicitar uma sala
reservada no 18º andar de seu edifício-sede. Tamanha interferência fundamentou a própria
contratação da IBM para viabilizar a manutenção da contratação da A&C, mesmo após sua
derrota no processo licitatório, conforme será relatado adiante.

b) O procedimento licitatório e a participação da A&C e da Audac

A empresa A&C tinha uma relação com a Cemig por mais de uma década. A última
licitação vencida por ela em certame datava de 16/1/2015, sob nº 500-H07804, com o valor4

4 Segundo a Cláusula Quinta do contrato, pela execução dos serviços contratados, “a CEMIG D pagará
mensalmente à CONTRATADA, o valor unitário máximo de R$20,95431 (vinte reais, noventa e cinco
centavos e quatrocentos e trinta e um milésimos de centavos) por Posição de Atendimento/hora, efetivamente
logada, ou seja, PA e tele atendente em atividade, conforme as medições diárias realizadas e conforme
cláusula sexta deste CONTRATO, no prazo de 30 (trinta) dias, mediante a apresentação e aceite da nota
fiscal/fatura (...)”. De acordo com o Parágrafo Primeiro, “a quantidade mensal de PAs-hora, inicialmente

89
de R$118.182.308,40 (cento e dezoito milhões, cento e oitenta e dois mil, trezentos e oito
reais e quarenta centavos). 5 Devido a revisões/reajustes diversos, 60 meses após
contratados, tais serviços chegaram a atingir o valor de R$139.807.576,20 (cento e trinta e
nove milhões, oitocentos e sete mil, quinhentos e setenta e seis reais e vinte centavos).6 O
objeto do contrato nº 4680004808 foi a prestação de serviços de “call center para
relacionamento receptivo e ativo, na forma de PA/HORA LOGADA, incluindo todo o
pessoal especializado e toda a infraestrutura física e tecnológica necessárias, bem como a
sua manutenção, destinado ao relacionamento com os clientes internos e externos da Cemig
D, potenciais clientes e quaisquer outros agentes implicados na comercialização e/ou
exploração dos diferentes produtos e serviços oferecidos pela Cemig D”.
A previsão era a de que o contrato findaria depois de 5 anos, em 28/2/2020.7 Por
se tratar de um serviço contínuo, o Conselho de Administração da estatal optou pela sua
prorrogação por até mais 12 meses, elevando o valor da prestação dos serviços para até
R$171.457.390,60 (cento e setenta e um milhões, quatrocentos e cinquenta sete mil,
trezentos e noventa reais e sessenta centavos).8 O montante de quase 171 milhões de reais
ao final de mais um ano foi decidido na 323ª Reunião do Conselho de Administração,
realizada em 14/2/2020, ao argumento de ser uma “prorrogação excepcional”.
A área jurídica da Cemig, por meio do Parecer Jurídico JC/DA nº 28.324/2019, de
18/12/2019, concluiu pela possibilidade jurídica da prorrogação excepcional do contrato

estimada pela CEMIG D, para execução dos serviços, totalizam 94.000 (noventa e quatro mil) PAs-hora, por
mês, conforme dimensionamento inicialmente previsto, descrito no ANEXO II – CURVAS TÍPICAS DE
CHAMADAS E DIMENSIONAMENTO DE PAs”.
5 Vide a Cláusula Vigésima Sexta do Contrato: “Para efeitos legais, o presente CONTRATO tem o valor
de R$118.182.308,40 (cento e dezoito milhões cento e oitenta e dois mil trezentos e oito reais e quarenta
centavos)”.
6 Conforme alteração constante do Primeiro Termo Aditivo ao Contrato nº 4680004808. De acordo com a
Cláusula Segunda, “tendo em vista o reequilíbrio econômico financeiro e o reajuste de preço dos serviços,
este Termo Aditivo no valor de R$21.625.267,80 (vinte e um milhões, seiscentos e vinte e cinco mil, duzentos
e sessenta e sete reais e oitenta centavos) altera o valor do Contrato de R$118.182.308,40 (cento e dezoito
milhões cento e oitenta e dois mil trezentos e oito reais e quarenta centavos) para R$139.807.576,20 (cento
e trinta e nove milhões, oitocentos e sete mil, quinhentos e setenta e seis reais e vinte centavos)”.
7 Conforme alteração constante do Segundo Termo Aditivo ao Contrato nº 4680004808, o contrato passou
a vigorar pelo prazo de 72 (setenta e dois) meses, a partir de 01/03/2015, data da Autorização de início de
Serviços ou até a conclusão do processo licitatório em andamento (cf. Cláusula Primeira do Segundo Termo
Aditivo).
8 Cf. Cláusula Terceira do Segundo Termo Aditivo ao Contrato nº 4680004808, que alterou a Cláusula
Vigésima Sexta do contrato original.

90
por até 12 (doze) meses ou até que se concluísse o processo licitatório, com fundamento
no art. 57, II e § 4º, da Lei Federal nº 8.666, de 1993.
Mediante o Pregão Eletrônico 530-H13806, cujo objeto era a contratação de
empresas para serviços de call center, a Audac sagrou-se vencedora, com preços oferecidos
no valor de R$88.487.000,00 (oitenta e oito milhões e quatrocentos e oitenta sete mil reais)
(“proponente 04”), exatos R$500,00 (quinhentos reais) abaixo do valor ofertado pela A&C,
de R$88.487.500,00 (oitenta e oito milhões, quatrocentos e oitenta sete mil e quinhentos
reais) (“proponente 03”).
Note-se que três recursos foram interpostos pela A&C, todos rechaçados pelos
órgãos técnicos de compras de suprimentos da Cemig. Com a devida habilitação da Audac,
após os recursos dos demais proponentes, em 5/3/2020, foi homologado o julgamento e
adjudicado o objeto da licitação.
Na mesma data foi, então, celebrado pela Cemig e a Audac o Contrato 4680005967,
no valor de R$88.486.961,73 (oitenta e oito milhões, quatrocentos e oitenta seis mil,
novecentos e sessenta e um reais e setenta e três centavos) (vide Cláusula 25). O prazo de
vigência do contrato foi de 36 (trinta e seis) meses contados da Autorização de Início de
Serviço.

c) A vitória da Audac, a assinatura contratual e a rescisão unilateral pela Cemig

Como relatado, meses antes da chegada da IBM, a Audac, que atua com call center,
havia vencido licitação para controlar a assistência via telefone da Cemig. Em depoimento
prestado à CPI, José Roberto Roque, presidente da Audac, testemunhou o fato de ter
esperado, por meses a fio, um sinal da estatal para começar a operar. Com a vitória na
licitação e a assinatura do contrato, a vencedora, então, passou a trabalhar para colocar em
prática os serviços de atendimentos pensados para o call center.
Em fevereiro de 2021, para surpresa da Audac, empresa vencedora da licitação e já
contratada, a Cemig a comunicou informando que tinha a intenção de rescindir o contrato
fruto do pregão. Mediante o Ofício nº RC/CL-00912/2021, datado de 16/2/2021, com o
“Assunto: Rescisão do Contrato 4680005967-530”, a Cemig notificou a empresa “sobre o

91
encerramento, sem qualquer ônus decorrente” do contrato relativo à prestação de serviços
de call center para relacionamento receptivo e ativo.
Para justificar a rescisão, a companhia se baseou nos seguintes fatos: (1) evento
extraordinário da pandemia de Covid-19; (2) Cláusula 4.1 do contrato, que estipula que ele
vigorará pelo prazo de 36 (trinta e seis) meses a contar da data da “Autorização de Início
dos Serviços” – AIS; (3) a emissão da autorização de início dos serviços é decisão exclusiva
da Cemig, não gerando penalidade ou prejuízos sua falta ou atraso na emissão, conforme
Cláusula 4.1.1 do contrato; (4) a Audac apenas disponibilizaria pessoal especializado,
estrutura física e tecnológica e realizaria os investimentos necessários para a execução do
objeto do contrato após a AIS, nos termos das Cláusulas 4.3, 4.5 e 20.2; (5) a Cemig não
emitiu a referida autorização, razão pela qual o contrato, embora celebrado e válido, não
teria se tornado eficaz.
Conforme se comprova a partir da Proposta de Deliberação – PD – nº 035/2021, a
própria Cemig relata que:
5) Em 11-03-2020 ocorreu a primeira reunião de abertura dos trabalhos
com a Audac, realizada nas dependências da Cemig em BH. Em 16-03-
2020 foi encaminhada para Audac proposta de cronograma de migração,
considerando o prazo de 180 dias, definido pelo Conselho de
Administração.

Além disso, no mesmo documento consta a informação de que:


11) Em 07-07-2020 a Cemig propôs nova data para início dos
treinamentos, 01/09, e início da migração, 01/10, em função do retorno
da abertura de serviços em Belo Horizonte ao estágio inicial, por decreto
da Prefeitura. A Audac destacou seu interesse em iniciar a mobilização o
quanto antes, já que em São Paulo o plano de flexibilização da quarentena
seguia conforme planejado; 12) Após a reunião ocorrida da Diretoria em
28-07-2020, foram suspensas as tratativas com a Audac sobre o Plano de
Migração. Audac foi informada da suspensão em 29-07-2020; (...).

Percebe-se, claramente, que a referida empresa estava comprometida e interessada


no início dos trabalhos e atuou continuamente pela sua execução. De modo diverso, a
Cemig resistia e, a partir do subterfúgio da existência da pandemia de Covid-19, se
esquivou do compromisso assumido e do contrato celebrado, em total desrespeito às
normas legais e ao interesse dos mineiros. Esse ponto foi esclarecido pela testemunha José
Roberto Roque, presidente da Audac, confira-se:

92
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Não. Houve resposta através da
rescisão, ou seja, no dia 11/2/2021 fomos convocados para uma
reunião no dia 12 de fevereiro, no dia seguinte, com o diretor
adjunto de Suprimentos, Sr. Osias. Aí os diretores Marney e
Eduardo Soares, além do Sr. Wantuil, Thiago e Ivanei Geraldo, nos
comunicaram a intenção da Cemig de cancelar o contrato. Isso foi
comunicado em 11 de fevereiro por um call, e pedimos, como tudo
fazemos na nossa empresa com formalização, pedimos a
formalização, e ela veio no dia 16/2/2021.
O deputado Sávio Souza Cruz - Essa formalização aborda as razões?
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Não. O que ela aborda,
inclusive tem os termos, é que não houve a emissão da ordem de
serviço e que o evento da pandemia...
O deputado Sávio Souza Cruz - Mas a ordem de serviço era ela
quem tinha de dar?
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Era ela que tinha de dar.
O deputado Sávio Souza Cruz – “Como não dei ordem de serviço,
estou cancelando?”.
O Sr. José Roberto Romeu Roque - É... O que está dito na carta
expressamente é que houve o evento extraordinário da pandemia e
que a emissão da autorização de serviço é decisão exclusiva da
Cemig.
O presidente - Se o senhor me permite, relator, ainda que o advento
da pandemia tenha sido decretado, reconhecido, posteriormente ao
reconhecimento da existência da pandemia, diversas reuniões
aconteceram para a preparação. O argumento da pandemia só se
deu posteriormente, em plena pandemia também.

Note-se que, paralelamente às tratativas com a Audac, que se desenrolavam entre


os meses de março a julho de 2020, até a rescisão contratual de fevereiro de 2021, a partir
de junho de 2020, a Cemig começou a realizar os Procedimentos de Manifestação de

93
Interesse – PMIs – com a finalidade de “realizar, sem ônus e sem caráter vinculante,
avaliação prévia do potencial e viabilidade da implantação de solução de atendimento
omnichannel aos clientes da Cemig” (cf. PMI 003/2020, de 24/6/2020).
Não tendo sido apresentadas propostas no PMI 003/2020, em 4/8/2020, foi
realizado o PMI 004/2020, detalhando mais a ideia do novo modelo de atendimento,
fornecendo dados da operação atual e englobando no escopo o fornecimento de
infraestrutura, tecnologia e mão de obra necessária para a execução dos serviços.
Novamente, não houve manifestação do mercado alinhada às expectativas do novo modelo.
Esse procedimento da estatal, inclusive, causou perplexidade à Audac, conforme se
infere da fala da testemunha José Roberto Roque, seu presidente, em depoimento a esta
CPI:
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Houve... Só terminando - está
certo? -, com relação inclusive ao que o deputado citou, o que nós
soubemos foi uma audiência pública, que não era uma preparação
de PMI. Nós estávamos com o contrato vigente. Na primeira, o meu
pessoal técnico participou como ouvinte - porque era só para ser
ouvinte, não era para fazer proposta; e o gerente do projeto da
Cemig, que estava implantando conosco o contrato, falou para o
meu pessoal técnico que não houvesse preocupação, porque aquela
audiência ou aquela consulta pública ou o nome que fosse dado era
para algo muito posterior, e que não afetaria nosso contrato. Isso
foi afirmado pelo gerente de contrato. Nós nunca soubemos de PMI,
nós nunca fomos convidados, e também nunca soubemos de outra
licitação.
O deputado Professor Cleiton - A Cemig alega, Sr. José Roberto,
que deu publicidade ao seu projeto de omnichannel com a
realização de dois procedimentos de manifestação de interesse -
PMI. Um que foi realizado em 24/6/2020, e outro, em 4/8/2020. A
Audac participou apenas do primeiro PMI, sendo representada pelo
Sr. Marco Aurélio Vecchiatti Palma, certo? Nesse PMI ficou claro

94
para a Audac qual era o escopo pretendido pela Cemig e que o seu
contrato de call center seria rescindido?
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Não, nós nunca soubemos que
isso era um PMI. Eu inclusive desconhecia isso. O Sr. Marco
Aurélio me reportou como uma consulta pública e questionou o
gerente do contrato da Cemig, que falou: "Não, isso é outra coisa,
isso é muito distante, não tem nada a ver com o contrato de vocês".
Foi falado isso.
O deputado Professor Cleiton - Por que a Audac não participou do
segundo PMI?
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Nem fui convidado, nem soube
dele.
O deputado Professor Cleiton - A Audac foi convidada pela Cemig
para participar do projeto de omnichannel?
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Não.

O rompimento das relações da Cemig com a Audac, sem uma justificativa plausível
e com indícios de desvio de finalidade, causará danos aos cofres da companhia. A
testemunha José Roque informou à CPI que a empresa cobra R$13,5 milhões da Cemig
pelo distrato unilateral e ressaltou: “Quando recebemos a carta de rescisão, foi com a maior
perplexidade e estranheza, não entendendo, efetivamente, o que estava acontecendo”.
Observe-se, ainda, o seguinte trecho:
A deputada Beatriz Cerqueira - A planilha ajustada para
ressarcimento que a Audac apresentou à Cemig está no valor total
de quanto?
O Sr. José Roberto Romeu Roque - O valor total é de
R$13.541.000,00.
A deputada Beatriz Cerqueira - Três?
O Sr. José Roberto Romeu Roque - Treze... R$13.541.000,00,
sendo que, de investimentos realizados que eu gastei, está por volta
de R$8.000.000,00, para o site exclusivo da Cemig.

95
Segundo a testemunha, a partir de meados de julho de 2020, a Audac tentou, sem
sucesso, questionar a Cemig sobre as novas etapas para implantar o serviço de atendimento.
Foram feitas, inclusive, notificações oficiais cobrando respostas. Nada justifica tal
morosidade, senão o fato de que a Audac foi literalmente “cozinhada no banho-maria” até
que a diretoria da Cemig encontrasse uma alternativa para dar uma solução para a
continuidade da prestação do serviço da A&C. Somente a partir da PD nº 035/2021, de
9/2/2021, é que se deliberou:
autorizar a rescisão unilateral do contrato 4680005967-530 firmado com
a AUDAC SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DE ATENDIMENTO AO
CLIENTE S.A. para a prestação dos serviços de Call Center para
relacionamento receptivo e ativo, na forma de PA/hora logada, visto que
a empresa parceira autorizada pela PD nº 218/2020 assumirá a execução
do objeto desse contrato a partir de 01-03-2021.

Aqui se demonstra a clara conexão entre os contratos da Audac e da IBM e como a


sequência dos fatos demonstra indícios de uma simulação de uma parceria estratégica por
parte da Cemig, em fraude às normas da licitação e com a finalidade de beneficiar a A&C.
Ressalte-se que, em resposta ao comunicado de rescisão contratual, a Audac
peticionou perante a Cemig no dia 23/2/2021. A empresa vencedora do certamente
licitatório manifestou, com veemência, a sua discordância em relação à rescisão unilateral
pretendida pela companhia. Na petição, a Audac comprovou a realização de dezenas de
reuniões entre as partes e a sua expectativa de início da prestação de serviços, com
brevidade. Há provas de que a Cemig chegou a indicar que estaria na iminência da emissão
da AIS e que os treinamentos de funcionários seriam iniciados em julho, com o início da
prestação de serviços em agosto de 2020.
É interessante notar que a Audac demonstrou que o valor mensal do contrato
firmado com ela seria de R$2.457.971,15 (dois milhões, quatrocentos e cinquenta e sete
mil, novecentos e setenta e um reais e quinze centavos) ao passo que o contrato mantido
com a A&C, após a prorrogação, passou a ser de R$2.598.160,00 (dois milhões, quinhentos
e noventa e oito mil e cento e sessenta reais). Ou seja, era mais vantajoso à Cemig promover
a imediata implantação, encerrando o contrato mais oneroso, de vigência extraordinária.

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Ademais, a Audac considerou que a premissa de que o contrato somente se tornaria
eficaz com a AIS é equivocada. Ela entende que o contrato passou a produzir efeitos desde
a sua publicação, em 18/3/2020, uma vez que as partes tomaram diversas providências,
previstas na avença, para organizar o início da prestação dos serviços de call center. Por
isso, diante da inviabilidade de rescisão unilateral (admitida somente por consenso), a
Audac demonstrou a necessidade de ser indenizada pela rescisão antecipada do contrato,
abrangendo, inclusive, os lucros cessantes, além dos danos emergentes.
Em face do possível litígio, a Cemig ajuizou uma Ação de Produção Antecipada de
Provas, com base no art. 381, inciso II, do Código de Processo Civil, protocolada sob o nº
5058372-10.2021.8.13.0024, que atualmente tramita na 4ª Vara da Fazenda Pública e
Autarquias da Comarca de Belo Horizonte. A companhia reconheceu a legítima expectativa
de direito gerada com a assinatura do contrato e a preservação da cláusula geral de boa-fé,
motivo pelo qual entendeu que a Audac faria jus a uma indenização para compensar os
gastos iniciais, como a preparação para o início da execução dos serviços. Reconheceu,
ainda, que a rescisão unilateral tomada gerou um impacto financeiro direto à empresa,
como, por exemplo, os referentes a valores relativos a eventuais custos de mobilização e
desmobilização, hábeis a serem compensados.
Como exposto, a Audac pleiteia o montante de R$13,5 milhões da Cemig pelo
distrato unilateral. Ora, na medida em que a empresa sofreu um dano em virtude de uma
conduta praticada por uma entidade estatal, no exercício de suas funções, pode e deve
pleitear a reparação pelo dano sofrido. Caso a Cemig venha a despender tal relevante monta
financeira, esta CPI considera que a empresa estatal deverá buscar o seu direito de regresso
em face do(s) agente(s) causador(es) do dano, para reaver a quantia que foi condenada a
pagar.
Além dos prejuízos envolvendo a rescisão do contrato da Audac, há também
prejuízos decorrentes da rescisão antecipada de diversos outros contratos de outros
fornecedores, conforme apurado por meio do RQC nº 10.448/2021.
Em resposta ao mencionado requerimento, a Cemig confirmou que foram também
objeto de rescisão antecipada, em decorrência da contratação da IBM, as seguintes
contratações: Publikimagem Projetos e Marketing Ltda. – Contrato 4680005995-530 –,
prestação dos serviços de gestão e apoio à prestação de serviços de atendimento presencial

97
em Postos Cemig Fácil de Atendimento Lote 02; Max Telecomunicações e Energia
Elétrica Eireli – Contratos 46800059945 e 4680005997, prestação dos serviços de gestão
e apoio à prestação de serviços de atendimento presencial em Postos Cemig Fácil de
Atendimento Lotes 01 e 04; MG Setel Serviços em Telecomunicações e Eletricidade
Eireli – Contrato 4680005998 –, prestação dos serviços de gestão e apoio à prestação de
serviços de atendimento presencial em Postos Cemig Fácil de Atendimento Lote 05; e
Delta Serviços em Eletricidade e Comércio Eireli – Contrato 4680005996 –, prestação
dos serviços de gestão e apoio à prestação de serviços de atendimento presencial em Postos
Cemig Fácil de Atendimento Lote 03.
O art. 37, § 6º, da Constituição da República de 1988, que trata da responsabilidade
civil da Administração Pública, prevê o seguinte:
Art. 37 (...) § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Esse dispositivo constitucional aplica-se às pessoas jurídicas de direito privado


delegatárias de serviços públicos e não se restringe aos atos praticados por servidores
públicos, alcançando também qualquer pessoa no desempenho de funções estatais, como,
por exemplo, os empregados das entidades de direito privado delegatárias de serviços
públicos.
Ao final desse tópico do relatório, serão identificados os agentes responsáveis pela
prática dos atos ilícitos ora apurados. Dessa forma, a própria Cemig, patrimônio dos
mineiros, poderá, futuramente, recompor os seus cofres mediante uma ação regressiva
movida em desfavor de tais indivíduos.

d) A subcontratação da A&C pela IBM: a empresa do ex-secretário de Estado que


“perdeu, mas levou”

João Polati Filho, ex-diretor da Cemig e que ocupou o cargo entre junho de 2019 e
agosto de 2020, isto é, de forma contemporânea aos fatos ora relatados, em seu depoimento,
demonstrou claramente a gravidade da situação. Segundo o depoente, o atual diretor-
presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho, pediu a ele para encontrar uma forma de

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mudar o resultado da licitação para serviços de call center e favorecer a A&C. Os fatos são
estarrecedores e merecem ser transcritos da forma denunciada à CPI. Veja-se o testemunho
do ex-diretor:
O deputado Sávio Souza Cruz - Ah, foi o Hudson. Queria só
esclarecer. Segundo, foi o senhor Reynaldo quem chamou a
atenção sobre se não era ele quem mandava?
O Sr. João Polati Filho - Quando eu fui apresentar para ele o
resultado... Porque, como a gente já estava estrangulado em prazo
com esse edital, por questões já explicadas, eu ia entrar na sala do
conselho, ele era o presidente, então me cabia profissionalmente
chamá-lo preliminarmente e falar: "Olha, nós tanto vamos pedir o
aditamento, mas também o edital está encerrado, e ganhou a
Audac". Ele ficou assim: "Que isso, Polati? Parece que eu não
mando em nada aqui." Eu olhei para ele e pensei: "Pô, o que...".
Entendeu? Fui, apresentamos o resultado, justificamos ao diretor
as questões da necessidade de mais prazo para AeC. Ali,
evidentemente eu não poderia sonegar uma informação dessa, que
estava fresca, que tinha...
O deputado Sávio Souza Cruz - Dentro desse episódio, depois, em
mais uma ocasião, ele falou com o senhor...
O Sr. João Polati Filho - Depois disso, ele me chamou na sala dele
para a gente encontrar uma forma. Usou argumentos dos R$500,00,
R$400,00. Usou argumentos. Nós tínhamos que encontrar. E disse:
"Não resolva nada sem falar comigo." Como ele teve essa viagem
a Brasília, vou refrescar a memória dele daqui, ele pediu, e eu
mandei um e-mail no dia... Tenho de ver as datas aqui. Dia 2 ou 3,
véspera da decisão final. Mandei todo o esboço para ele. Ele pegou
as informações. Na segunda, ele veio com o mesmo teor, que eu
tinha de ser mais isso, mais aquilo etc. Na terceira, ele me falou:
"Ah, eu me aconselhei com um amigo aqui. Deixe do jeito que
está."

99
É simples, se houver dúvida, já que eles estão com a Kroll, mandem
investigar essas ligações. Os fatos dados ali falam por si. Não vou
entrar em polêmica com o Sr. Reynaldo a respeito disso, porque eu
assumo todas as minhas responsabilidades, e que ele assuma a dele.
O deputado Sávio Souza Cruz - E foi ele quem comentou que a
AeC era de propriedade de um secretário de Estado do governo.
O Sr. João Polati Filho - O senhor falou bem. Eu já estou com o
cabelo dessa cor aqui. Eu nunca vi alguém... Como é que é? Ganha
e não leva, leva mas não perde? Nunca vi. É autoexplicativo.
Expliquei bem o negócio da sala. Todo mundo que veio aqui fez
cara de paisagem, que não sabia. A Cemig inteira sabe do detalhe
disso. Faltou coragem só às pessoas. Isso é muito ruim. Vão tentar
agora me denegrir etc. Estou tranquilo, porque sou um homem de
bem.
Os fatos são graves. A data limite para assinatura do contrato com a Audac era o dia
3/3/2020. Na véspera, dia 2, Polati disse que enviou um e-mail a Reynaldo Passanezi Filho
em que reforçou que a referida empresa foi a vencedora da licitação e que seria contratada.
Segundo o ex-diretor, após enviar a mensagem, ele recebeu três ligações do presidente da
Cemig em um curto período de tempo. Passanezi, naquele dia, estava em Brasília e teria
dito ao diretor que ele teria que ser mais “arrojado” e, posteriormente, após uma conversa
com um “amigo” – que provavelmente lhe sugeriu o modelo contratual com a IBM e a
subcontratação da A&C –, considerou “deixar as coisas como estão”. No dia seguinte, a
Audac foi declarada vencedora e o contrato foi assinado.
Dias antes do cancelamento do contrato com a empresa, a Cemig realizou a
contratação direta da IBM, sem licitação, por R$1,1 bilhão, e por um prazo de 10 anos,
para implantar o atendimento integrado. A IBM, por sua vez, subcontratou a A&C, que
perdeu a licitação, para prestar o serviço de call center. A informação foi confirmada pelo
superintendente do Centro de Serviços Compartilhados da Cemig, Wantuil Dionísio
Teixeira. José Roberto Roque, presidente da Audac, confirmou perante a CPI que a empresa,
que venceu a licitação, não foi consultada pela IBM para assumir o call center.

100
Os indícios e as provas coletadas no âmbito deste inquérito deixam muito evidente
que houve um direcionamento da diretoria da Cemig para a continuidade da prestação de
serviço pela A&C, empresa do então secretário de Estado, a despeito de ter sido perdedora
da licitação.
A rescisão contratual com a Audac, com graves prejuízos financeiros à companhia
(em razão do dever de indenização), teve como pano de fundo a necessidade de se criar
uma solução arrojada para manter a A&C prestando os serviços de call center.
O próprio executivo da IBM, Marcelo Flores de Moura, arrolado na qualidade de
testemunha, afirmou à CPI que a empresa de inteligência artificial sabia que a A&C havia
perdido a licitação do serviço de call center da estatal, em fevereiro de 2020.
Note-se, ainda, que, em resposta ao Requerimento nº 10.449/2021, desta comissão,
a IBM prestou informações e apresentou cópias dos contratos de subcontratação
envolvendo o objeto do acordo de parceria celebrado com a Cemig. Especificamente em
relação à subcontratação da A&C, a empresa celebrou o contrato em 26/2/2021, e
apresentou as notas fiscais dos pagamentos mensais correspondentes, a saber:
Nota Fiscal nº 2021/408 (competência 27/4/21) – valor do serviço
R$ 2.174.359,58
Nota Fiscal nº 2021/409 (competência 27/4/21) – valor do serviço
R$ 1.223,077,26
Nota Fiscal nº 2021/450 (competência 17/5/21) – valor do serviço
R$ 1.907.441,77
Nota Fiscal nº 2021/451 (competência 17/5/21) – valor do serviço
R$ 1.072.936,00
Nota Fiscal nº 2021/591 (competência 18/6/21) – valor do serviço
R$ 1.956.176,35
Nota Fiscal nº 2021/592 (competência 18/6/21) – valor do serviço
R$ 1.124.416,32
Nota Fiscal nº 2021/664 (competência 15/7/21) – valor do serviço
R$ 1.382.558,47
Nota Fiscal nº 2021/665 (competência 15/7/21) – valor do serviço
R$ 1.590.685,56
Nota Fiscal nº 2021/837 (competência 26/8/21) – valor do serviço
R$ 956.938,33
Nota Fiscal nº 2021/838 (competência 26/8/21) – valor do serviço
R$ 2.010.312,31
Nota Fiscal nº 2021/918 (competência 21/9/21) – valor do serviço
R$ 1.711.822,66
Nota Fiscal nº 2021/919 (competência 21/9/21) – valor do serviço
R$ 1.038.623,46

101
Grosso modo, avaliando as faturas pagas, foram pagos à A&C o montante médio
de R$3.000.000,00 (três milhões) por mês. Tais fatos causam extrema perplexidade a esta
comissão, uma vez que tais valores são consideravelmente maiores do que o montante que
a própria Cemig pagaria pela prestação dos serviços de call center. Ora, basta lembrar que
o contrato assinado com a Audac em decorrência da licitação era no valor de
R$88.487.000,00 (oitenta e oito milhões e quatrocentos e oitenta e sete mil) por 36 meses,
o que equivaleria, em média, por mês, a R$2.457.972,22 (dois milhões, quatrocentos e
cinquenta e sete mil, novecentos e setenta e dois reais e vinte e dois centavos).
A conclusão inarredável a que se chega é que o ajuste entre a IBM e a Cemig não
só garantiu a permanência da perdedora da licitação, a A&C, conforme já mencionado,
empresa de propriedade do ex-secretário de Estado, que chegou a solicitar uma sala
privativa no prédio da Cemig, como incrementou substancialmente os valores pagos pela
prestação dos mesmos serviços.

e) A engenharia jurídica para contratação da IBM sem licitação

Em face da inexistência da manifestação do mercado sobre os PMIs aqui referidos,


a Cemig passou a buscar a contratação de uma empresa com atuação relevante no País,
preferencialmente do setor elétrico, que apresentasse características particulares e
vinculadas à oportunidade de negócio, de modo a apoiar a companhia na adoção da solução
omnichannel para atendimento ao cliente. A Diretoria Executiva, por meio da PD nº
177/2020, de 20/10/2020, autorizou a continuidade do estudo de formação da parceria
estratégica.
Os depoimentos e documentos colhidos por esta CPI demonstram que a Cemig
abordou várias empresas, entre elas, a IBM, a Capgemini, a Accenture, a Stefanini, a
Deloitte e a CI&T. A maioria não teria demonstrado capacidade técnica ou interesse em
assumir o projeto na amplitude e extensão requeridas, com exceção da IBM e da Stefanini.
Conforme relato da PD nº 218/2020, de 11/12/2020, o grupo multidisciplinar da Cemig
avaliou melhor a IBM (nota: 6,83) do que a Stefanini (nota: 4,19), por isso foi deliberada
a contratação com a IBM.

102
O Conselho de Administração da Cemig, em reunião realizada em 11/12/2020,
decidiu pela contratação da IBM, por um prazo de 120 meses. Essa empresa, em sua
proposta comercial, ventila que a Cemig conseguiria com tais serviços uma economia
resultante da redução de seus custos totais de R$1,47 bilhões para R$1,06 bilhões. Na
defesa da parceria estratégica com a IBM, a companhia afirma que será executado o maior
programa de investimentos de sua história, no valor de R$22,5 bilhões de 2021 a 2025. Ela
esclareceu ainda que a referida empresa é referência mundial em tecnologia, inteligência
artificial e soluções digitais.
Compulsando os documentos acostados ao presente inquérito, constata-se que foi
firmado pela Cemig, com a IBM, o acordo de parceria estratégica 530-E14994, Contrato
nº 4680006138, com fundamento no art. 28, § 3°, inciso II, da Lei Federal nº 13.303, de
2016, para a contratação de serviços especializados de (i) consultoria em transformação
digital e (ii) desenvolvimento, implementação e operação do modelo omnichannel de
atendimento aos clientes e (iii) otimização do custo total de operação. Com o valor de
R$1.111.700.000,00 (um bilhão, cento e onze milhões e setecentos mil reais) pelo prazo de
10 (dez) anos, o contrato foi assinado e ratificado em 12/2/2021.

f) As irregularidades identificadas na contratação da IBM em “oportunidade de


negócio”

Antes de analisar os pressupostos para a contratação sem licitação da IBM, com


fulcro no art. 28, § 3°, inciso II, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, cabe apontar um vício
evidente constatado pela CPI, a partir de depoimentos e provas colhidas, na mencionada
contratação corroborando o fato de que toda a engenharia jurídica utilizada se deu, entre
outros motivos, para beneficiar a A&C.
O executivo da IBM, Marcelo Flores de Moura, testemunhou que a A&C foi
mantida como fornecedora a partir do início da vigência do contrato com a IBM. O próprio
Moura detalhou que o acordo teria sido assinado, a princípio, por três meses, renovado por
mais três e, por fim, prorrogado por outros seis, até dezembro de 2021. Em seu depoimento,
o executivo reconheceu que a IBM não presta o serviço de call center, reforçando o

103
testemunho do ex-diretor João Polati Filho, de que a real intenção da utilização da
“oportunidade de negócio” foi manter os serviços da A&C.
Há, assim, uma ilegalidade evidente: a Cemig montou um plano de negócios e
incluiu dentro desse plano um serviço em que a empresa contratada, IBM, não tem
expertise, não tem no seu portfólio, nem no objeto social, que é o call center. Se levado ao
extremo, esse modelo de contratação inaugurado com a IBM permitiria fazer um contrato
de todas as prestações de serviço que a Cemig contrata e ela poderia se utilizar do modelo
para fraudar todas as licitações.
Esse fato é gravíssimo e foi corroborado pelo depoimento de diversas testemunhas.
O próprio Sr. Antônio Guilherme Noronha Luiz, sócio fundador da empresa A&C, em seu
depoimento, não conseguiu esclarecer o sentido de a empresa ter sido subcontratada para
prestar um serviço que ela já vinha prestando (call center), ao passo que a IBM não presta
tal modalidade de serviço para nenhuma outra empresa no mundo:
O deputado Sávio Souza Cruz - O valor é maior ou menor que o
valor que a Cemig praticava com a AeC?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - O faturamento é diário, e
o volume não é maior nem menor. O que posso falar para o senhor
é que os parâmetros são os mesmos.
O deputado Sávio Souza Cruz - A informação que recebemos é que
os valores pagos pela IBM são maiores que os valores que a Cemig
pagava para a AeC.
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Os parâmetros são os
mesmos.
O deputado Sávio Souza Cruz - Os valores são maiores.
Surpreendeu-o a IBM virar uma grande "terceirizadora"?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Da IBM? Não, a IBM é
uma das maiores empresas do mundo. Não me surpreende.
O presidente - Não há nenhum outro serviço de call center.
O deputado Sávio Souza Cruz - Nenhum parecido.
O presidente - Nenhum outro cliente da IBM a contratou para fazer
serviço de call center.

104
O deputado Sávio Souza Cruz - No mundo, no mundo, no mundo.
Vamos repetir aqui para ficar bem gravado: esse serviço em que foi
contratada a IBM para subcontratar a AeC, a empresa do secretário
do NOVO, contratado pelo usurpador de função pública do NOVO,
para passar para a IBM, não tem paralelo no mundo, e a IBM
trabalha no mundo inteiro.

O mais surpreendente é que o representante da A&C reconheceu que o valor que


ela vem recebendo da IBM é, inclusive, superior ao valor que receberia se mantivesse a
prestação diretamente para a Cemig. O valor da subcontratação é maior, aliás, do que o
valor que a Audac, vencedora da licitação, receberia:
A deputada Beatriz Cerqueira - Obrigada, presidente. Meu
questionamento à testemunha foi: qual o valor atual do contrato da
AeC por posição de atendimento e por hora? Eu também solicitei
que nos informasse quantas posições de atendimentos foram
faturadas no último mês.
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Deputada, então, o valor
é R$24,64 a hora logada. Este valor teve um reajuste, na licitação
passada, de mais ou menos 4,5%, e a quantidade de PAs foram 482.
A deputada Beatriz Cerqueira - Quatrocentos e oitenta e cinco?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Quatrocentos e oitenta e
duas posições. O valor R$24,64 e o reajuste que foi aplicado para
chegar a esse número foi de 4,5%.
A deputada Beatriz Cerqueira - Esse valor já é com reajuste?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Já, já com reajuste.
A deputada Beatriz Cerqueira - Agradeço. De fato, o valor é
superior ao da Audac, que foi vencedora da licitação, mas sigamos.
Eu gostaria que o senhor descrevesse as atividades que a AeC
presta hoje para a Cemig através da IBM. Aliás, vamos começar:
primeiro, descreva as atividades que a AeC fez para a Cemig e se
o conteúdo dessas atividades se alterou no ano passado.

105
A partir do depoimento do Sr. Antônio Guilherme Noronha Luiz, ficou ainda mais
clara a relação da empresa com o partido NOVO. Em seu depoimento, o atual membro do
Conselho de Administrador e acionista da A&C confirmou que fez doação para o partido.
Veja-se:
O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor fez uma doação nas
eleições de 2018 de R$50.000,00 ao Partido NOVO. Correto?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Sim.
O deputado Sávio Souza Cruz - Então, o senhor fez a doação, mas
o senhor não tem relação com o partido?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Deputado, já fizemos
doações em outras eleições para o Sr. Pimentel, Sr. Aécio e agora
ao senhor do Partido NOVO.
O deputado Sávio Souza Cruz - Não entendi. O senhor fez outras
doações a quais partidos?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Na época, eram
campanhas prioritárias. Fizemos doações para o Pimentel, para o
Aécio acho que na época de presidente. Foram algumas campanhas.
O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor doou R$50.000,00 ao
partido. O senhor fez outras doações a partidos também ou não?
O Sr. Antônio Guilherme Noronha Luz - Não me lembro.
O deputado Sávio Souza Cruz - Porque para o governador Sr.
Romeu Zema Neto o senhor doou R$5.000,00, e R$50.000,00 para
o Partido NOVO.

Em face de todo esse contexto e da íntima relação entre a empresa A&C e o partido
NOVO, fica evidenciado o desvio de finalidade na contratação da IBM, para, reflexamente,
beneficiar a empresa A&C. Por si só, toda a simulação já mereceria uma investigação mais
profunda, a apuração de responsabilidades e a anulação de todo esse procedimento viciado.
Conforme se demonstrará, esta CPI apurou, ainda, que o próprio instituto da
oportunidade de negócio foi utilizado de maneira equivocada.

106
Há que se lembrar que licitação é regra, mesmo para as empresas estatais
submetidas a regime jurídico próprio das empresas privadas (art. 173, § 1º, inciso II, da
Constituição), inclusive em sua área finalística, e só pode ser afastada em situações nas
quais for demonstrada a existência de obstáculos negociais, com efetivo prejuízo às
atividades da estatal, que impossibilitem a licitação. O TCU tem seguido a linha de uma
interpretação restritiva quanto ao tema, justamente para preservar os princípios
constitucionais da Administração Pública (cf. Acórdão 2.384/2015, Segunda Câmara,
relator ministro Benjamin Zymler).
A Lei Federal nº 13.303, de 2016, de fato, previu que as empresas públicas e as
sociedades de economia mista ficam desobrigadas da observância da licitação na
comercialização, prestação ou execução, de forma direta, de produtos, serviços ou obras
especificamente relacionados com seus respectivos objetos sociais e nos casos em que a
escolha do parceiro esteja associada a suas características particulares, vinculada a
oportunidades de negócio definidas e específicas, justificada a inviabilidade de
procedimento competitivo. Observe-se:
Art. 28. Os contratos com terceiros destinados à prestação de serviços às
empresas públicas e às sociedades de economia mista, inclusive de
engenharia e de publicidade, à aquisição e à locação de bens, à alienação
de bens e ativos integrantes do respectivo patrimônio ou à execução de
obras a serem integradas a esse patrimônio, bem como à implementação
de ônus real sobre tais bens, serão precedidos de licitação nos termos
desta Lei, ressalvadas as hipóteses previstas nos arts. 29 e 30.
(...)
§ 3º São as empresas públicas e as sociedades de economia mista
dispensadas da observância dos dispositivos deste Capítulo nas seguintes
situações:
I - comercialização, prestação ou execução, de forma direta, pelas
empresas mencionadas no caput, de produtos, serviços ou obras
especificamente relacionados com seus respectivos objetos sociais;
II - nos casos em que a escolha do parceiro esteja associada a suas
características particulares, vinculada a oportunidades de negócio
definidas e específicas, justificada a inviabilidade de procedimento
competitivo.
§ 4º Consideram-se oportunidades de negócio a que se refere o inciso II
do § 3º a formação e a extinção de parcerias e outras formas associativas,
societárias ou contratuais, a aquisição e a alienação de participação em
sociedades e outras formas associativas, societárias ou contratuais e as
operações realizadas no âmbito do mercado de capitais, respeitada a
regulação pelo respectivo órgão competente.

107
Há, portanto, duas hipóteses em que são previstas as possibilidades de desobrigação
da observância, de maneira integral, dos dispositivos do Capítulo I da Lei Federal nº 13.303,
de 2016, cujo conteúdo cuida do processo licitatório no âmbito das empresas públicas e
sociedades de economia mista. A primeira possibilidade, observada no inciso I, trata da
inaplicabilidade de licitação quando observado que a empresa pública ou a sociedade de
economia mista comercializa, de forma direta, produtos, serviços ou obras que sejam
especificamente relacionados com seus respectivos objetos sociais. Não é o caso da
prestação de serviços de relacionamento ao cliente e assemelhadas, uma vez que a
atividade-fim da Cemig é a comercialização de energia elétrica.
Por isso, o modelo adotado para a contratação da IBM foi o da oportunidade de
negócio, regulada pelo art. 28, § 3º, II, da Lei Federal nº 13.303, de 2016. Apesar de ser
um instituto novo, o TCU, em decisão prolatada em sede de representação de relatoria do
ministro Benjamin Zymler, estabeleceu alguns requisitos para a contratação direta de
empresa parceira decorrente de oportunidade de negócio. Veja-se o seguinte trecho da
ementa:
São requisitos para a contratação direta de empresa parceira com
fundamento no art. 28, § 3º, inciso II, da Lei 13.303/2016 (Lei das
Estatais): a) avença obrigatoriamente relacionada com o desempenho de
atribuições inerentes aos respectivos objetos sociais das empresas
envolvidas; b) configuração de oportunidade de negócio, o qual pode ser
estabelecido por meio dos mais variados modelos associativos,
societários ou contratuais, nos moldes do art. 28, § 4º, da Lei das Estatais;
c) demonstração da vantagem comercial para a estatal; d) comprovação,
pelo administrador público, de que o parceiro escolhido apresenta
condições que demonstram sua superioridade em relação às demais
empresas que atuam naquele mercado; e) demonstração da inviabilidade
de procedimento competitivo, servindo a esse propósito, por exemplo, a
pertinência e a compatibilidade de projetos de longo prazo, a comunhão
de filosofias empresariais, a complementariedade das necessidades e a
ausência de interesses conflitantes. (Acórdão 2.488/2018 TCU-Plenário
- min. rel. Benjamin Zymler).

De acordo com o referido Acórdão 2.488/2016, são necessários os seguintes


requisitos para o estabelecimento de parceria decorrente de oportunidade de negócio: (i)
empreendimento relacionado ao objeto social da empresa estatal; (ii) identificação da
oportunidade de negócio; (iii) demonstração de vantagem comercial para a empresa estatal;

108
(iv) diferenciais qualitativos e quantitativos relacionados ao parceiro escolhido; e (v)
demonstração da inviabilidade de procedimento competitivo.
Em que pese o conceito de oportunidade de negócio trazido pela Lei das Estatais
ser relativamente abrangente, a norma apresenta dois adjetivos limitadores para a utilização
deste instituto: as oportunidades de negócio devem ser definidas e específicas,
demonstrando a finalidade do legislador em impedir que as empresas estatais utilizem o
expediente para se furtar à regra geral de licitar. Por isso, devem ser definidas com exatidão,
determinando-se de maneira precisa seu escopo e objeto (oportunidades definidas).
Ademais, elas devem apresentar singularidades capazes de as diferenciar frente à
generalidade das operações da empresa estatal (oportunidades específicas). Confira-se o
entendimento de Alexandre Santos de Aragão:
Porém, quando a estatal estiver, ela própria, finalisticamente buscando a
realização do seu próprio objeto social através de uma empresa
participada, a escolha do sócio, poderá não se acomodar em critérios
objetivos.
Mas deve-se estar atento em cada caso concreto para que a criação de
uma parceria societária na verdade não encubra um verdadeiro contrato
com o sócio privado. A possibilidade de os órgãos de controle aceitarem
a escolha de um sócio sem licitação pode levar gestores públicos a dar
forma jurídica de sociedade a contratos que economicamente são, por
exemplo, de mera prestação de serviços.
Para que se demonstre de antemão não haver desvios na escolha de
parceria societária, mister se faz explicitar as razões pelas quais é
necessário tal vínculo com a empresa privada, a existência e a
necessidade de um substrato de união perene entre as partes, que não
teriam como ser atendidas por exemplo através de um contrato de mera
prestação de serviços.
Hão de ser demonstrados fatores como a necessidade de cooperação
continuada, a conjunção empresarial de esforços, a integração logística,
o aprendizado de know-how, a transferência de tecnologia etc. que
impliquem, ainda que revestida de elevado grau de discricionariedade
administrativo-negocial, a razoabilidade da decisão de se fazer uma
parceria societária e não a celebração de um vínculo meramente
contratual.
Desta forma, além de definida e específica, a oportunidade de negócio
desenvolvida em sociedade deve representar efetivos benefícios frente às
opções de atuação direta pela empresa estatal ou execução indireta, não
devendo ser utilizada para se desviar da sua finalidade precípua ou em
afronta aos princípios da impessoalidade e da proporcionalidade.
(ARAGÃO, Alexandre. Empresas Estatais: o regime jurídico das
empresas públicas e sociedades de economia mista. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2018, p. 468).

109
Mencione-se, ainda, o seguinte trecho do Acórdão 1.744/2021 (TCU, Plenário,
min. rel. Walton Alencar Rodrigues):
As oportunidades de negócio não devem ser caracterizadas única e
exclusivamente por atributos contratuais sujeitos ao princípio da
autonomia da vontade, tais como: alocação de riscos, sistemas
remuneratórios, as tipificações das infrações e as respectivas penalidades
e valores das multas. Ao contrário, as oportunidades de negócio, nos
termos acentuados pela Lei das Estatais, devem possuir características
definidas e específicas associadas a atributos singulares de potenciais
parceiros. Em outras palavras, não se deve confundir as possibilidades de
negociação de termos contratuais com oportunidade de negócio definidas
e específicas. A legitimidade da parceria deve albergar outras
características, além das aludidas: continuidade e perenidade na
performance do negócio; equidade na relação, sem prevalência
hierárquica de um ou de outro; autonomia e independência da “nova”
atividade, em termos de centro de custo; dentre outras - que não se
observam no caso concreto observado.
Em suma, no processo de estabelecimento de parceria decorrente de uma
oportunidade de negócios deve-se demonstrar: i) finalidade empresarial
abarcada no objeto social da empresa estatal, em decorrência do princípio
da subsidiariedade; ii) identificação da oportunidade de negócio -
previamente à escolha do parceiro -, cujo escopo e objeto deve ser
definido e específico, demonstrando-se as singularidades do
empreendimento que sejam capazes de o diferenciar frente à generalidade
das operações da empresa estatal; iii) descrição das características
quantitativas e qualitativas utilizadas na escolha do parceiro e elaboração
da análise de mercado para a identificação de potenciais interessados; iv)
estudo de viabilidade técnica e econômica que contemple a análise de
proporcionalidade da decisão, incluindo a ponderação da adequação, da
necessidade e dos custos e benefícios da decisão associativa; v)
motivação para a escolha do agente econômico privado, apresentando as
razões de fato e de direito que fundamentam todas as suas decisões, em
especial nos casos de ausência de mais de um agente econômico possível
e vi) justificativa de impossibilidade de procedimento competitivo nos
termos da Lei 13.303/2016, que não se restrinja a fundamentos derivados
do princípio da affectio societatis - por potencial afronta ao princípio da
impessoalidade.
Além desses requisitos, o processo de estabelecimento de uma
oportunidade de negócios deve observância aos princípios
constitucionais e societários aplicáveis às empresas públicas e sociedades
de economia mista, bem como às regras de governança e de compliance
exigidas.
Nesta seara, pode-se assegurar que, além dos princípios constitucionais
referentes à administração pública (legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência) , os administradores das empresas
estatais devem respeitar normas de governança privada que impõe
deveres de diligência e lealdade, comportando-se em conformidade com
a boa-fé objetiva, atuando em consonância com a finalidade de suas
responsabilidades e das estratégias empresariais, decidindo de maneira

110
ponderada e razoável, atentos para o dever de prestar contas de maneira
motivada e fundamentada.
Finalmente, com fundamento nas melhores práticas de gestão, o
estabelecimento de parcerias decorrentes de oportunidades de negócio
deve obediência à sistemática corporativa estabelecida pela instituição
com intuito de suportar a estruturação desses negócios jurídicos, que
observe os princípios que regem a administração pública, reduzindo os
riscos de idiossincrasias na condução de tais processos.

Dessa forma, a partir da investigação levada a cabo nesta CPI, percebe-se que não
há motivação suficiente a suportar a contratação direta, pela Cemig, da IBM, com
fundamento no art. 28, § 3º, inciso II, da Lei das Estatais.
Além disso, compulsando a Nota Técnica RC-0002/2020, de 1º/12/2020, cujo
assunto era “justificativa para contratação de empresa para a formação de parceria de
negócio para execução de serviços técnicos especializados de diagnóstico, reestruturação
e operação integrada do atendimento aos clientes da Cemig”, percebe-se que há um abuso
de conceitos indeterminados, abstratos e vagos para justificar o mencionado modelo de
negócios.
Apenas argumentos como os de que “o atendimento é o ‘coração’ da Cemig D, pois
é o ponto de contato entre a concessionária e o cliente” ou mesmo o de que “a
transformação digital dos processos de atendimento torna-se nosso maior desafio” não são
suficientes para justificar a celebração de um modelo de negócios de tamanha envergadura
e custo para a estatal. As singelas 14 laudas da mencionada Nota Técnica RC-0002/2020
servem para demonstrar justamente o oposto: as justificativas são frágeis e débeis, o que
torna mais evidenciado o indício de manipulação dos procedimentos licitatórios sob o
rótulo de ser uma “parceria estratégica”.
Ora, os alegados ganhos com “aumento da satisfação dos clientes”; “redução do
número de reclamações”; “melhoria da experiência de utilização dos canais de
atendimento”; “melhoria da comunicação com o cliente”; “redução de contestações
judiciais”; “atendimento dos indicadores regulatórios” etc. poderiam facilmente ser
alcançados com a melhoria da atividade-fim da empresa estatal, objetivo de todos os
mineiros. Não é o simples incremento da atividade-meio da Cemig que melhorará sua
relação com o cliente, e, sim, e principalmente, a melhoria substancial da sua atividade de

111
fornecimento de energia elétrica aos mineiros, ponto que parece ter sido deixado de lado
pela atual administração da estatal.
Pelos mesmos motivos, uma vez que lastreado na Nota Técnica RC-0002/2020, o
Parecer Jurídico DRJ 29.117/2021, da lavra do diretor de regulação e jurídico, Eduardo
Soares, é falho ao justificar o modelo de oportunidade de negócio ora questionado. Alega-
se que a contratação do modelo de atendimento omnichannel teria um caráter estratégico
inequívoco, pois se referiria ao cerne da atividade de distribuição de energia.
Em nenhum momento, contudo, os técnicos da Cemig ou mesmo o diretor jurídico
se preocuparam em comprovar tal tipo de parceria no mercado de energia, se concorrentes
da Cemig já aventaram tal modelo de negócio, ou mesmo se isso já foi pactuado com
alguma estatal brasileira. Muito pelo contrário, em depoimento à esta CPI, Eduardo Soares,
diretor jurídico da companhia, reconheceu a novidade e a “inovação” do uso do instituto
da oportunidade de negócio. Confira-se:
O Sr. Eduardo Soares - Posso, deputado. Na realidade, a parceria
estratégica, tecnológica e operacional, o acordo estratégico,
tecnológico e operacional com a IBM, essa parceria foi firmada
com base numa figura nova, que foi trazida ao mundo jurídico pela
Lei Federal nº 13.303, que é a oportunidade de negócio. A
oportunidade de negócio, de forma bem resumida, é a possibilidade
que uma empresa estatal tem de, em determinadas situações,
estabelecer parcerias, associações ou mesmo sociedades com
parceiros privados para o aproveitamento de oportunidades de
negócios, devidamente especificadas, e com um parceiro, pelas
características, levando em consideração as características
peculiares desse parceiro. É o que está na lei mais ou menos.
Então esse tipo de parceria realmente é uma coisa nova. E aqui eu
quero fazer uma observação. A Cemig, nesse caso, é pioneira, é
inovadora, o que é da tradição da história dessa companhia. Nós
inovamos no processo de contratação, aproveitando uma franquia
legal, que é a oportunidade de negócios. Não é inexigibilidade de
licitação. A licitação, no caso da oportunidade de negócio, é uma

112
licitação dispensada. Também não é um caso de dispensa de
licitação. A lei nos autoriza, nos dispensa. A dispensa é legal. Então
a Cemig inovou ao buscar essa parceria por uma necessidade
empresarial. Nós tínhamos 14 contratos para fazer o nosso
atendimento ao cliente. Nós tínhamos uma necessidade de
modernizar o atendimento ao cliente. Procuramos então buscar no
mercado empresas que pudessem fazer essa parceria tecnológica,
estratégica, operacional com a Cemig.

Na realidade, o que se percebe é que as peças jurídicas e técnicas serviram apenas


para legitimar um procedimento viciado, que fraudou os princípios da Administração
Pública e as normas da licitação brasileira. Aliás, em depoimento perante esta CPI, o Sr.
Wantuil Dionísio Teixeira, superintendente do Centro de Serviços Compartilhados da
Cemig, não logrou justificar os motivos pelos quais o parecer jurídico foi feito
exclusivamente pelo diretor, e não pelos demais advogados da Cemig, como geralmente
ocorre. Veja-se:
O deputado Professor Cleiton - Última pergunta, Presidente, desta
rodada: por que o parecer jurídico foi emitido diretamente pelo
diretor jurídico, o Sr. Eduardo Soares, ao invés de ter sido emitido
pela Gerência do Direito Administrativo da Cemig? O Sr. Eduardo
é mais competente, é mais rápido, é mais comprometido, é um
fenômeno? Ou seria porque a equipe jurídica poderia ter
entendimento diferente do Sr. Eduardo Soares e não emitir parecer
favorável à contratação da IBM?
O Sr. Wantuil Dionísio Teixeira - Não sei dizer. Ele é o diretor
jurídico da empresa, responsável pela diretoria jurídica. Então,
acaba que praticamente os pareceres sobem dentro de uma
hierarquia; um advogado prepara o parecer que é remetido, dentro
da hierarquia da área, para todos. Agora, por que foi ele que fez e
não outro, não sei dizer.

113
Observe-se, ainda, a partir da oitiva do Sr. Wantuil Dionísio Teixeira, que não foi
suficientemente esclarecido por que um modelo que não atendia aos objetivos de eficiência
almejados pela Cemig com a parceria da IBM resultou na contratação da Audac. Cabe
ressaltar que a Lei das Estatais é de 2016 e, quando da contratação da Audac, já era possível
a adoção do modelo de parceria de negócios. Das duas uma: ou a contratação da Audac foi
temerária por insistir em um modelo ineficiente e a atual administração da Cemig deve ser
responsabilizada ou ela deveria ter se mantido em respeito às normas da licitação, motivo
pelo qual a parceria estabelecida com a IBM foi um claro desvio de finalidade. Observe-
se:
O deputado Sávio Souza Cruz - Sr. Wantuil, eu fiquei muito curioso
com a intervenção do deputado Zé Guilherme, porque ela foi muito
esclarecedora no sentido de mostrar que a Cemig tinha um modelo
que não era eficiente, um modelo que era mais oneroso. E aí eu
fiquei na dúvida por que, ainda assim, a Cemig resolveu abrir um
certame licitatório dentro do mesmo modelo; um certame que a
A&C não logrou. Acabou, ao fim e ao cabo, por via transversa, ela
lançar aquilo que eu falei do novo paradigma: perdeu, mas levou.
Então, a minha dúvida é a seguinte: o modelo era ruim, o modelo
era ineficiente, a Cemig era mal avaliada, mas ainda assim a Cemig
optou, em primeira instância, em manter o modelo. Abriu um
certame de licitação no mesmo modelo anterior e depois que a
empresa que prestava esse mau serviço não ganhou, resolveu
mudar o modelo. O deputado Zé Guilherme falou que foi a Lei
Federal nº 13.303, que abriu possibilidade para novo paradigma,
mas essa lei é de 2016. Quatro anos depois, em 2020, a Cemig abre
uma licitação no mesmo modelo para, só depois do seu resultado,
resolver mudar o modelo? É isso que eu não consegui entender, por
que ocorreu dessa forma. Se não estava indo bem, se havia a
possibilidade de fazer diferente, para que abriu esse certame?
Eu queria aqui publicamente fazer uma sugestão para a IBM,
porque ela, no Google, está assim: qual a função da IBM? O que

114
faz a IBM? A IBM desenvolve, fabrica e vende hardware e
software, incluindo sistemas de inteligência artificial, deep
learning, e supercomputadores. Entre suas invenções estão o PC,
os códigos de barra e o supercomputador Watson. Quer dizer, a
IBM deveria incluir aqui que ela faz call center, que ela faz agência
de atendimento presencial, porque isso deve ser uma especialidade
também, já que ela assumiu esse modelo tão amplo que inclui
também essas possibilidades. Nem a IBM reconhece que isso é sua
função. Estou lendo aqui no Google o que a IBM faz. Acho que a
IBM deveria pensar e incluir esse tipo de expertise que ela também
pode fazer, como começou a fazer na Cemig.
Mas eu insisto na pergunta: por que abrir essa licitação em
fevereiro de 2020, num modelo que era tão ruim?
O Sr. Wantuil Dionísio Teixeira - Excelência, o conselho de
administração autorizou o processo licitatório do call center que
foi em fevereiro de 2020, em julho de 2019. O vencedor do
processo licitatório foi a Audac. Então, em fevereiro de 2020 o
contrato foi assinado - se não me equivoco, no dia 5/3/2020. Nós
tivemos a decretação da pandemia no dia 18 de março, certo?
Iniciamos, inclusive, algumas tratativas com a Audac porque na
oportunidade ninguém tinha em mente essa proporção que acabou
tomando toda a pandemia. De março até junho praticamente foi a
tentativa - que era o que estava autorizado no conselho - de se
repetir o modelo e trabalhar com mais tempo.
O senhor colocou da Lei Federal nº 13.303, de 2016, mas as
empresas na verdade... A lei de 2016 determinava que as empresas
tinham que implantar a aplicação da lei a partir de junho de 2018.
Então, era uma novidade para a empresa, tanto é que quando fomos
buscar essa nova solução, nós não partimos de fazer a parceria; nós
tentamos por meio da licitação pública mesmo.

115
O que aconteceu, então, neste período foi exatamente isso. O
conselho já havia autorizado, em 2019, a fazer essa licitação. Ela
foi feita, como vencedor, a Audac, só que logo na sequência da
assinatura do contrato instaurou-se a pandemia. A base da empresa
Audac é São Paulo. Quer dizer, dentro do contrato nós estávamos
impedidos até de viajar para poder fazer visitas ao site e tudo isso,
e por isso que não foi emitida a autorização de início de serviços
para a Audac poder estar validando o contrato. Respondi a questão?
O deputado Sávio Souza Cruz - Nós vamos ter que responsabilizar
alguém. Talvez responsabilizar o conselho por ter autorizado abrir
uma licitação num modelo que era tão negativo. Já se sabia que era
negativo, era contraproducente, era antieconômico, era lesivo à
Cemig, mas o conselho autorizou abrir no mesmo modelo. De duas,
uma: ou o conselho é inconsequente ou alguma coisa ocorreu a
posteriori do certame licitatório que resolveram mudar o sistema.
E o fato inegável é que quem perdeu ganhou; quem entrou no
certame e perdeu levou o serviço de forma transversa.

Esse tema foi novamente trazido à baila no depoimento de Eduardo Soares. Saltam
aos olhos a amplitude e a abstração do plano celebrado com a IBM, de modo que a única
saída para a defesa desse tipo de operação foi a existência da pandemia de Covid-19.
Observe-se:
O deputado Sávio Souza Cruz - A Lei Federal nº 13.303 já estava
em vigor quando a Cemig optou por fazer uma licitação que
finalmente foi ganha pela Audac?
O Sr. Eduardo Soares - Já estava. Já estava.
O deputado Sávio Souza Cruz - O senhor acha razoável, depois de
fazer uma licitação, imaginar uma oportunidade de negócio e
incluir no negócio algo que já havia sido objeto de licitação? O que
impede agora a Cemig de falar: "Há uma oportunidade de negócio.
Eu vou juntar o call center com o atendimento presencial e, agora,

116
com a locação de automóvel, e quem sabe a Localiza assume tudo
e pega o contrato da IBM? É uma outra oportunidade de negócio".
Como é que o senhor inclui na oportunidade de negócio um serviço
que já tinha um processo licitatório com um ganhador? Que
oportunidade é essa? Oportunidade de negócio para quem, cara
pálida? Para quem?
O seu antecessor aqui disse que foi consultado sobre a
possibilidade de ceder uma sala na Cemig para o dono da AeC; da
Audac acho que não. Têm alguma relação essas coisas? O senhor
acha que é uma coisa mais cândida, mais pacífica? Todo mundo
aqui com cara de paisagem, e o senhor vai dizer: "Não, de uma hora
para outra, surgiu uma oportunidade de negócio. Não houve
nenhum regramento novo que aconteceu depois da licitação. Aí eu
tive uma ideia. Tive uma ideia que é uma boa oportunidade de
negócio e eu não vou entregar para quem ganhou a licitação esse
serviço, vou incluir nesse pacote aqui, nós vamos entregar, e você
não vai ter prejuízo, não, porque a IBM vai subcontratá-lo".
Quando é que para essa oportunidade de negócio? Já se pensou em
incluir o serviço de locação de automóvel também? Quem sabe isso
aí pode interessar? Há gente com boa relação também com o
governo que pode assumir um projeto de, ao invés de
R$1.100.000.000,00, quem sabe, de R$2.000.000.000,00. Quando
é que para? Que oportunidade é essa se um serviço já estava
licitado com uma empresa que havia ganhado o serviço?
O Sr. Eduardo Soares - Deputado, como eu disse, a diretoria da
companhia, motivada pelo trabalho tanto do diretor de distribuição
quanto do diretor de TI, no início da pandemia, nos meses
seguintes... Havia uma carência muito grande no nosso
atendimento. Eu me reuni com os Procons, com o Ministério
Público que atua no Procon, sempre com reclamações sobre a
qualidade do atendimento da Cemig por conta da pandemia. A

117
pandemia trouxe dissabores para todo mundo, não é? O que eu
estou afirmando é - uma suposição minha - que isso motivou a
diretoria de tecnologia da informação e a diretora de distribuição a
buscarem uma alternativa, a aproveitarem aquele momento e
verificarem se nós podíamos dar um salto no nosso atendimento ao
cliente. Esse é o objetivo da oportunidade de negócio. A
oportunidade de negócio é esta, é fazer com que a Cemig...
O deputado Sávio Souza Cruz - Uma oportunidade de negócio
melhor ainda para a AeC, não é?
O Sr. Eduardo Soares - Para a AeC?
O deputado Sávio Souza Cruz - É. Uma boa oportunidade de
negócio para ela.
O Sr. Eduardo Soares - A AeC era contratada da Cemig...
O deputado Sávio Souza Cruz - Isso. E aí perdeu a licitação.
O Sr. Eduardo Soares - A AeC tinha um contrato com a Cemig até
28/2/2021, e esse contrato foi encerrado.
O deputado Sávio Souza Cruz - Isso.
O Sr. Eduardo Soares - Em relação à Audac, Deputado, é como eu
falei: o modelo de atendimento que foi desenhado e que a Cemig
resolveu adotar... Volto a dizer: um modelo inovador de
atendimento para empresas do setor elétrico.

Analisando o conteúdo do Acordo de Parceria Estratégica, Tecnológica e


Operacional celebrado entre a Cemig e a IBM, constata-se que, na realidade, ele não passou
de um ilegal agrupamento de objetos contratuais licitáveis relacionados aos serviços de
atendimento aos clientes da companhia pelos diversos canais já existentes, acrescido de um
serviço de consultoria técnica de reestruturação de procedimentos, processos e sistemas
para a implantação de novo modelo de atendimento omnichannel (este sim, em tese,
passível de inexigibilidade de licitação caso comprovada a sua singularidade e a notória
especialização).

118
A existência de dois blocos de serviços agrupados nesta “parceria estratégica” é
flagrante e pode ser assim sintetizada:
a) serviços técnicos de consultoria especializada em transformação digital,
com o objetivo de reestruturar e integrar os diversos canais de atendimento aos
clientes/usuários da Cemig (humano, presencial, eletrônico, telefônico e digital); e
b) implantação e operação dos diversos canais de atendimento aos
usuários/clientes de acordo com o novo modelo omnichannel.
Ao agrupar os serviços e centralizá-los nas mãos da IBM, a atual gestão tenta criar
uma falsa realidade de que o objeto não seria licitável, ou que ao menos a maior parte dele
não o seria, tratando-se de uma suposta parceria estratégica que geraria redução de custos
milionários à Cemig, com suposto foco de remuneração com base na performance.
O fato é que uma análise mais detida do caso nos leva à conclusão de que na pior
das hipóteses só seria possível conceber uma contratação direta da IBM, sem licitação, caso
demonstrada a sua notória especialização e a singularidade do objeto, apenas para prestar
os serviços de consultoria especializada para a transformação digital dos canais de
atendimento. Para isso, claro, sem desconsiderar a necessidade da demonstração do
enquadramento do caso na hipótese descrita no art. 30, inciso II, “a”, da Lei Federal nº
13.303, de 2016, com a comprovação da notória especialização da IBM e da singularidade
desta parcela do objeto.
Contudo, nada justifica acrescentar ao serviço de consultoria em transformação
digital a outorga de um verdadeiro monopólio à IBM do direito de exploração de todos os
canais de atendimento aos clientes da Cemig pelo prazo de 10 (dez) anos, passível de
prorrogação para durar até 20 (vinte) anos.
Não há nas justificativas técnicas elaboradas às pressas pela Cemig para viabilizar
a “parceria estratégica” e consequentemente a subcontratação da A&C um estudo sério e
tecnicamente fundamentado capaz de autorizar o descumprimento do disposto no art. 32,
inciso III, da citada Lei Federal nº 13.303, de 2016, que exige “o parcelamento do objeto,
visando a ampliar a participação de licitantes, sem perda de economia de escala”.
Analisando a cláusula terceira do acordo celebrado entre a IBM e a Cemig,
constata-se a existência da autorização de subcontratação desde que não englobe a
totalidade do seu escopo ou os aspectos centrais e basilares.

119
A rigor, a IBM poderá subcontratar todos os serviços de canais de atendimento aos
clientes, mantendo para si apenas o serviço de consultoria para a elaboração do novo
modelo e a sua implantação.
Isso demonstra a total viabilidade da manutenção da licitação para a contratação
das diversas empresas que continuarão responsáveis pela efetiva prestação dos serviços de
atendimento direto aos clientes. E a concorrência é a melhor forma de se buscar melhores
serviços por preços justos, ao invés de se concentrar nas mãos de uma empresa privada o
monopólio pela exploração e operação dos canais de atendimento dos usuários da
companhia.
A propósito, a subcontratação da A&C comprova essa constatação fática e denota
que a essência dos serviços absorvidos pela IBM não possui qualquer vinculação com as
suas características particulares.
No final das contas, com a celebração da parceria, esta empresa ficará com toda a
margem de redução de custos operacionais que a otimização dos diversos canais de
atendimento proporcionará à companhia, além da possível exploração econômica indireta
que o acesso aos dados lhe proporcionará.
Ademais, a “quarteirização” dos serviços de atendimento aos clientes/usuários, com
o monopólio da sua gestão na IBM, é mais uma prova do processo de sucateamento da
companhia, para justificar a todo custo a sua privatização.
Ao invés de a Cemig adotar o processo de contratação que mantém nas suas mãos
a gestão das atividades-meio importantes para o aprimoramento da qualidade do
atendimento aos clientes/usuários, viabilizando concorrência na prestação desses serviços
(meio mais adequado para alcançar qualidade e bons preços), acabou irresponsavelmente
conferindo uma exploração de longo prazo nas mãos de uma grande empresa privada.
Obviamente, a IBM visa constantemente o lucro, pressupondo, portanto, redução de custos
operacionais.
Os interesses da Cemig e desta empresa são contrapostos e não convergentes, o que
é típico de um contrato de prestação de serviços, ainda quando a remuneração possa levar
em consideração a qualidade da performance.

120
Definitivamente, não se tratou a relação entre Cemig e IBM de uma oportunidade
de negócios, mas, sim, de um verdadeiro contrato de prestação de serviços, não apenas
licitável como também passível de parcelamento para viabilizar a mais ampla concorrência.
Todo esse contexto demonstra, no mínimo, que os administradores da Cemig não
observaram o dever de diligência de definir previamente a oportunidade de negócio
detalhada, na linha do que dispõe a Lei nº 6.404, de 1976, que prevê:
Dever de Diligência
Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício de
suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo
costuma empregar na administração dos seus próprios negócios.

A indefinição econômica precisa sobre a pertinência da oportunidade de negócio


com a IBM, além de afrontar diretamente o que dispõe a Lei Federal nº 13.303, de 2016,
contraria igualmente o princípio da cautela bem como a Lei nº 6.404, de 1976, haja vista o
referido comportamento cuidadoso ser indispensavelmente esperado de um homem ativo
e probo na condução de seus próprios negócios.
Na esteira dos demais comportamentos graves já apurados por esta CPI, considera-
se que a conduta praticada pelos diretores, gerentes, particulares e empresa
contratada/subcontratada (IBM e A&C) configura, em tese, ato de improbidade
administrativa que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº 8.429,
de 1992.

f) Dos indícios de crimes e atos de improbidade

Por todo o exposto, há fortes indícios de que Hudson Felix Almeida, Rômulo
Provetti, Reynaldo Passanezi Filho, Eduardo Soares, a empresa A&C e IBM praticaram
atos, em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade administrativa
descrita no art. 10, inciso VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, tendo em vista que as
pessoas físicas, no exercício das suas funções desempenhadas na Cemig, contribuíram para
a irregular contratação sem a prévia realização de processo licitatório e para a irregular
aplicação de recursos da companhia, provocando dano ao erário, enquanto as pessoas
jurídicas configuram-se como particulares beneficiários da ilegalidade. Tudo isso com a
agravante do desvio de finalidade para beneficiar a A&C com a sua subcontratação pela

121
IBM, preterindo a Audac e gerando passivos à companhia decorrentes da rescisão unilateral
antecipada.
Por fim, cabe também lembrar que a realização de contratação direta, sem o
preenchimento dos requisitos legais é, em tese, passível de enquadramento no crime
previsto no art. 337-E do Código Penal:
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta fora
das hipóteses previstas em lei:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

2.5 Da contratação da Wework Serviços de Escritório Ltda. para serviço de locação


de espaço de trabalho de coworking na cidade de São Paulo

Por meio da aprovação do RQC nº 9481/2021, a Comissão Parlamentar de Inquérito


requisitou ao diretor-presidente da Companhia Energética de Minas Gerais cópia integral
da inexigibilidade de licitação nº 510-E14449, Contrato 4320000020a, celebrado com a
empresa Wework Serviços de Escritório Ltda., firmado em 21/9/2020.
A Cemig, em resposta ao requerimento, encaminhou as cópias que se encontram
juntadas aos autos da CPI no SDS, especificamente na Pasta Respostas aos RQCs, subpasta
9481, arquivo “Resposta ao RQC 9481_2021_CPI_CEMIG”.
Da análise dos documentos enviados, é possível constatar de plano que:
✓ o objeto da contratação consiste em serviços de locação de espaço de trabalho de
coworking no Edifício JK, Shopping Iguatemi – São Paulo (SP), para
funcionamento de escritório da Cemig naquela cidade, em caráter de urgência;
✓ a necessidade da contratação foi apresentada pelo Gabinete da Presidência;
✓ a Cemig instaurou um procedimento de convalidação, enquadrando a hipótese
supostamente na situação de inexigibilidade de licitação prevista no art. 30, inciso
II, alínea “c”, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, e do art. 21, inciso II, alínea “c”
do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig;
✓ no processo de convalidação foram dispensados documentos exigidos pela
Instrução Jurídica 04, que disciplina o fluxo interno para as contrações diretas pela
Cemig; não foram observadas as ofertas de menor preço para a prestação do serviço
e nem mesmo justificada a escolha do fornecedor e os preços praticados.

122
Após o recebimento da documentação, a CPI iniciou a fase de oitiva de investigados
e testemunhas envolvidas na contratação da Wework.
Dos depoimentos das testemunhas Hudson Félix Almeida, prestado na 6ª reunião –
dia 19/8/2021; Leandro Corrêa de Castro, prestado na 7ª reunião – dia 23/8/2021; Ivna de
Sá Machado de Araújo, prestada na 11ª reunião – dia 16/9/2021; João Polati Filho, prestado
na 13ª reunião – dia 23/9/2021, e de Cledorvino Belini, prestado na 19ª reunião – dia
18/10/2021, foi possível confirmar indícios da ocorrência de diversos fatos.
A contratação dos serviços da empresa Wework Serviços de Escritório Ltda.
ocorreu após solicitação do gabinete da Presidência, em caráter de urgência, para a
instalação de um escritório de representação comercial da Cemig em São Paulo, onde são
mantidas duas funcionárias trabalhando, conforme explicita o seguinte trecho de
depoimento do Sr. Hudson Félix Almeida, diretor adjunto de gestão de pessoas, em
depoimento prestado na 6ª Reunião Extraordinária, realizada em 19/8/2021:
O deputado Professor Cleiton – Temos aqui também algumas
dúvidas, Sr. Hudson, sobre a contratação de uma empresa
chamada Wework para o serviço de locação de escritório em
São Paulo. Em que pese o seu cargo de diretor adjunto de
gestão de pessoas, sabe-se que o senhor acumulou cargo de
diretor adjunto de suprimentos e serviços compartilhados, de
agosto a dezembro de 2020, não é isso? Nesse período houve
a contratação direta da Wework. Quero perguntar então,
especificamente sobre a gestão de imóveis, quais os motivos
de a Cemig ter um escritório em São Paulo?
O Sr. Hudson Félix Almeida – O motivo é ter um escritório
de representação comercial em São Paulo.
O deputado Professor Cleiton – Quem fez essa solicitação?
O Sr. Hudson Félix Almeida – Ela surgiu na diretoria, não me
lembro diretamente da pessoa.
O deputado Professor Cleiton – O senhor sabe por que a
inexigibilidade?

123
O Sr. Hudson Félix Almeida – O processo de contratação de
aluguel de imóvel dispensa a inexigibilidade.
O deputado Professor Cleiton – A contratação, Sr. Hudson,
foi autorizada pela diretoria executiva em 18/8/2020,
conforme o PD nº 160/2020. Pela leitura do referido
documento, depreende-se que a estratégia de abrir uma filial
em outro estado era... Prestem atenção aqui, pessoal, quem
está nos assistindo: pela leitura do documento que nós aqui
fizemos, a estratégia da Cemig era se livrar do recolhimento
da diferença de ICMS para o Estado de Minas Gerais em suas
operações de venda de energia, ou seja, vendendo a energia,
a partir de uma filial de São Paulo para uma empresa em
outro estado da Federação, não haveria diferencial de
alíquota do ICMS a ser recolhido para o Estado de Minas
Gerais. O senhor tem como explicar essa estratégia para o
povo de Minas?
O Sr. Hudson Félix Almeida – Deputado, isso não é minha
área de atuação, não tenho conhecimento suficiente para
explicar.
O deputado Professor Cleiton – Perfeitamente. Os ganhos
obtidos... Isso aqui era dentro dessa pergunta.
Três propostas foram coletadas, apresentando os seguintes
valores mensais: Wework, R$9.380,00, aliás R$9.380.000,00;
(-Incompreensível.) JK, R$5.048.000,00; coworking,
R$4.500.000,00. Então prestem atenção: temos três empresas,
uma na casa dos R$9.000.000,00; outra, na casa dos
R$5.000.000,00; e outra, na casa dos R$4.000.000,00. Por
que a Cemig escolheu a proposta dessa Wework, a de maior
valor para a contratação de inexigibilidade, sabendo que a
companhia, por lei, é obrigada a contratar a menor proposta?
Por que foi desobedecida a regra do valor de mercado?

124
O Sr. Hudson Félix Almeida – Deputado, desses valores, não
tenho lembrança dos detalhes do processo, teria que verificar.
O deputado Professor Cleiton – Essa contratação, para ajudar
o senhor a se lembrar, iniciou-se com uma dispensa de
licitação com base exatamente na prerrogativa utilizada pelo
senhor do aluguel do imóvel. No entanto, posteriormente, ela
passou a ser inexigibilidade de licitação, tanto que o parecer
jurídico teve que ser revisado. Qual o motivo de passar de
dispensa para inexigibilidade?
O Sr. Hudson Félix Almeida – Bom, deve ter sido algum
critério jurídico que não sei agora explicar para o senhor,
porque não tenho conhecimento jurídico.
O deputado Professor Cleiton – Na diretoria atual da Cemig,
sabe-se que cinco diretores são residentes em São Paulo:
Reynaldo Passanezi Filho, Marney Tadeu Antunes, Maurício
Dall'Agnese, Eduardo Soares e Carlos Eduardo de Moraes
Barros Júnior. O escritório locado da Wework tem o
propósito de acomodar esses diretores?
O Sr. Hudson Félix Almeida – Não, nós temos lá duas
funcionárias fixas do nosso setor de comercialização de
energia, que são lotadas lá.
(NOTA TAQUIGRÁFICA – 6ª Reunião Extraordinária da
CPI da Cemig – 19/8/2021)

Na 7ª Reunião Extraordinária realizada em 23/8/2021, o Sr. Leandro Corrêa de


Castro, ex-gerente de compras de materiais e serviços da Cemig, informou que o processo
de contratação da Wework começou como dispensa de licitação por se tratar de locação de
imóvel, mas, diante da argumentação da empresa de que o serviço prestado não era o de
locação, e, sim, um serviço de coworking, ele foi enquadrado como inexigibilidade de
licitação por se tratar de serviço especializado. Informou, também, que houve pressão para

125
que esse contrato fosse resolvido rápido, sob pena de a Cemig ter prejuízo, conforme pode
se verificar pelo depoimento prestado:
O deputado Professor Cleiton – Depois a gente então vê, no âmbito
da Consultoria.
Sobre a contratação da Wework para o serviço de locação de
escritório em São Paulo, essa contratação iniciou como dispensa de
licitação e depois se transformou em inexigibilidade de licitação.
Qual foi o motivo?
O Sr. Leandro Corrêa de Castro – Quando iniciou como dispensa de
licitação, ela foi inserida dentro de um artigo, de um inciso, eu não
me lembro aqui em específico, mas um dos incisos da dispensa de
licitação permite a locação de imóveis. Então começou como
locação de imóveis. A gente fez o contrato, a minha área criou o
contrato, colocou na plataforma eletrônica – a que a gente usa lá é a
DocuSign –, e foi para o fornecedor assinar. Quando chegou no
fornecedor, para ele assinar, ele recusou, porque leu a minuta da
Cemig, do contrato, e falou que, na verdade, ele não locava imóvel,
e, sim, prestava um serviço de coworking. Isso acabou que
desmanchou tudo o que foi feito. A área requisitante no caso, que era
a gerência de imóveis, voltou o assunto ao jurídico, porque aí teve
que enquadrar como inexigibilidade, porque já não era mais dispensa.
Aí enquadrou como serviço especializado.
O deputado Professor Cleiton – Mas há uma dúvida aqui, porque,
analisando a documentação que veio da Cemig para cá, como pode
ser considerada inviabilidade de competição, se no processo constam
três propostas? E mais: foi escolhida a proposta de maior valor.
Ajude-nos a entender isso aqui.
O Sr. Leandro Corrêa de Castro – Pois é, deputado, é outra questão
que eu levantei. Eu conversei isso com a gerente Ivna, que hoje está
no meu lugar, mas, na época, ela era gerente de imóveis; e com o
superintendente de serviços compartilhados na época, que era o Eron.

126
Eu conversei exatamente isso com eles: como há inexigibilidade se
há três, vocês mesmo cotaram três empresas. E com relação à
escolha da de maior valor, é semelhante à do psicólogo. É feio, mas,
que eu me lembro, é porque o coworking da Wework estava
preparado para a Covid – até hoje eu não entendi o que é isso,
preparado para a Covid –, fornecia itens além de café e água, e
poderia aumentar a quantidade de estações de trabalho. Foi essa a
justificativa.
O deputado Professor Cleiton – Essa a justificativa então.
O Sr. Leandro Corrêa de Castro – Para escolher a Wework.
O deputado Professor Cleiton – Então eu queria chamar a atenção de
quem está nos assistindo: nós estamos falando de um contrato que,
na concorrência, ganhou aquela que apresentou o maior valor. Eu
trabalhei com licitação pública, Sr. Leandro e demais deputados; eu
fui servidor, com muita honra. Inclusive entendo muito da 8.666 –
até passou um "meia" aqui –, e eu nunca vi isso na minha vida,
deputado Sávio Souza Cruz. Um servidor de carreira da Prefeitura
de Varginha, na área de compras, é a primeira vez que eu vejo quem
apresenta o maior valor ganhar um contrato. E aí eu pergunto: a
Diretoria cobrou o senhor para formalizar esse contrato? O senhor
foi pressionado a formalizar esse contrato? Quem pressionou?
O Sr. Leandro Corrêa de Castro – Fomos, fomos. Na verdade, eu; a
própria Ivna, que era gerente de imóveis; e o Eron, pelo diretor
Maurício. Ele inclusive mandou um e-mail para a gente falando que
esse contrato tinha que sair a qualquer custo, e que, se não resolvesse
rápido, não houvesse a decisão pelas assinaturas no contrato, que a
Cemig ia ter um prejuízo. Então que a gente, nós – eu estava copiado
nesse e-mail – teríamos que justificar por que esse contrato não ia
sair. Depois eu também recebi essa cobrança por uma intermediária,
vamos dizer assim. A assessora jurídica do Maurício, a Daniele, ela
me mandou mensagem. As mensagens a Kroll pode até ver, que está

127
lá com ela. E até me ligou também, na época, falando que o contrato
tinha que sair no dia 1º de outubro de todo jeito, porque, no outro dia,
o presidente já está lá no escritório, já para usar o escritório.
(NOTA TAQUIGRÁFICA – 7ª Reunião Extraordinária da CPI da
Cemig – 23/8/2021).

A escolha e a determinação da contratação dos serviços da empresa Wework


Serviços de Escritório Ltda. ocorreram após solicitação do gabinete da Presidência, em
caráter de urgência, em processo convalidado pela Gerência de Compras de Materiais e
Serviços da Cemig, atendendo a Proposta de Deliberação – PD nº 160/2020, cujo processo
de tramitação apresentou ocorrências inusuais, conforme explicita o seguinte trecho de
depoimento da Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo, gerente de Compras de Materiais e
Serviços, prestado na 11ª Reunião Extraordinária da CPI, realizada em 16/9/2021:
O deputado Sávio Souza Cruz – A senhora foi orientada a escolher
especificamente alguma região ou especificamente a locação em
algum endereço?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Quando nós recebemos a
demanda, vieram alguns requisitos que a gente deveria verificar,
dentre eles a localização da região na cidade de São Paulo.
O deputado Sávio Souza Cruz – Quais foram os critérios de seleção?
A senhora foi orientada a escolher sempre dentro do edifício JK
Iguatemi, um dos metros quadrados mais caros de São Paulo?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Sr. Deputado, como eu falei,
alguns requisitos, dentre eles a localização, e, com base nos
procedimentos com que a gente trabalha, nós verificamos as
oportunidades naquela localização. Foram feitos três orçamentos de
escritórios de coworking, que é o ambiente compartilhado, e também
de um imóvel próprio – desculpe-me, locado; só que esse imóvel
locado se fez inviável financeiramente, pelos custos.
O deputado Sávio Souza Cruz – Exatamente. No processo de
contratação foram selecionadas três empresas: Wework, Regus e

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Gowork. É coincidência todas estarem localizadas no Edifício JK
Iguatemi ou nas suas proximidades? Enfim, quem definiu que o
escritório da Cemig teria que ser nessa região e por qual motivo?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Nós recebemos essa
demanda do gabinete da Presidência. Eu não sei exatamente falar o
porquê da região.
O deputado Sávio Souza Cruz – Então, a Presidência definiu que
precisava ser no Shopping Iguatemi ou nas imediações, mas não
explicou por quê. Entre as empresas analisadas, ao final, a Cemig
decidiu contratar a de maior valor, que foi a Wework. É comum isso
na Cemig: fazer três orçamentos e contratar o mais caro?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Sr. Deputado, na época, foi
feito um estudo técnico, levando-se em consideração não só os
requisitos passados, como também as funcionalidades, o tamanho da
sala. Quando essa contratação ocorreu – acho que em agosto ou
setembro, não me lembro bem –, a gente já estava no período de
pandemia, e, para a lotação de pessoas que utilizariam essa sala, seria
necessária uma sala maior. Naquele momento, dentre as três que
haviam sido orçadas, somente a Wework tinha uma sala com o
espaçamento mínimo do protocolo de saúde: 2m de distanciamento.
Esse foi o motivo de classificação dessa empresa.
O deputado Sávio Souza Cruz – Restou entender o objetivo dos três
orçamentos. Não seria o caso de pegar mais três orçamentos na área
exigida?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Sr. Deputado, na época, a
gente não tinha mais tempo; precisava fechar essa contratação.
O deputado Sávio Souza Cruz – Era urgente abrir esse escritório?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Não era urgente; essa
solicitação já havia acontecido há muito tempo; precisava ser
finalizada porque já havia datas para outras reuniões que os diretores

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da Cemig teriam lá em São Paulo, e era necessário fechar esse
contrato.
O deputado Sávio Souza Cruz – A Cemig viveu algumas décadas
sem escritório lá, mas, de uma hora para outra, era urgente fechar?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Eu não sei responder a isso,
Sr. Deputado.
O deputado Sávio Souza Cruz – Surgiu uma necessidade – e uma
necessidade urgente – de ter um escritório amplo, próximo à área
mais cara do Estado de São Paulo, no Shopping Iguatemi, e tinha
que ser urgente.
Da leitura da PD da contratação da Wework, depreende-se que a
estratégia de abrir uma filial em outro Estado era a de a Cemig se
livrar do recolhimento de diferença de ICMS para o Estado de Minas
Gerais e suas operações de venda de energia, ou seja, vendendo
energia a partir de uma filial de São Paulo para uma empresa situada
em outro estado da Federação, não haveria diferencial de alíquota de
ICMS a ser recolhido para o Estado Minas Gerais. Como a senhora
explica isso?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Sr. Deputado, eu não vou
conseguir responder a essa pergunta porque eu não trabalhava com
essa atividade. A minha atividade se restringia à questão da gestão
dos imóveis mesmo.
O deputado Sávio Souza Cruz – Aparentemente isso envolveria um
prejuízo para o acionista majoritário da Cemig, que é o Estado de
Minas Gerais, quando deixasse de recolher impostos e tributos no
Estado para recolher em São Paulo. Quem é o gerente responsável
pela contratação das empresas Nova Energia e Brascopper? A
senhora teve participação?
A deputada Beatriz Cerqueira – Sim. Eu li os dois e-mails. Um foi
do Eron Lopes Pereira para o Maurício, copiando a senhora, que foi
de 23/7/2020. Depois eu li o e-mail da senhora de 25/8/2020 para o

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Leandro Corrêa. Aí, na análise da documentação a que nós já
tivemos acesso, que foi encaminhada à CPI, o que nós identificamos
foi uma intensa troca de e-mails e uma cobrança constante da
urgência para a contratação desse espaço para o escritório da Cemig
em São Paulo. O contrato com a Wework é de R$145.560,00. As
minhas perguntas são as seguintes. Antes disso, lembrando que foi
uma contratação sem concorrência. A senhora sabe me informar a
razão dessa urgência? Por que ou para quê? Qual o objetivo de se
alugar um escritório em São Paulo e por que não contrataram a
empresa com menor preço? Essas são as primeiras perguntas.
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Entendi. Obrigada. Sra.
Deputada, quando o Eron mandou esse e-mail, nós concluímos
tecnicamente que a Regus era a melhor opção para a Cemig,
considerando os requisitos elencados e o valor. No entanto, quando
a gente foi fechar com essa empresa, ela já não tinha mais salas
disponíveis do tamanho que a Cemig necessitava. Por isso, tivemos
que partir para outra opção, que foi a Wework. Somente por esse
motivo.
Com relação à necessidade de urgência, eu não sei falar exatamente
o motivo, mas existia a urgência, sim, de que esse contrato fosse
fechado na data que a senhora informou.
A deputada Beatriz Cerqueira – Quem informou essa urgência? Essa
urgência vinha de onde?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Do gabinete da Presidência.
A deputada Beatriz Cerqueira – O.K. Obrigada. Só para que nós
possamos compreender, no e-mail que eu li do Eron Lopes para o
Maurício, em que ele cita as três... Foi encaminhada a proposta para
a Cemig, a Cemig levantou os valores. Da GoWork, o valor do
aluguel era de R$4.500,00; da Regus, o valor era de R$5.048,00; e
foi contratada a Wework, em que o valor foi de R$9.380,00, por isso

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a gente questiona como a Cemig fez a contratação do maior valor.
Por isso o nosso questionamento.
Eu vou ler o outro e-mail e fazer as minhas últimas perguntas. O e-
mail é de Danielle Cristina Maciel Marques, datado de 10/8/2020,
no período da manhã. Esse e-mail foi dirigido ao Eron Lopes, com
cópia para a senhora. Com cópia não, dirigido também à senhora.
“Prezados Eron e Ivna, bom dia. Peço nos encaminhar o estudo de
serviços corporativos com as opções e os custos para locação do
escritório em São Paulo, considerando os três quesitos abaixo” -
quais são - "razoabilidade de custos; padrão das instalações e
serviços oferecidos; a flexibilidade de oferta com rede de escritórios".
Voltando ao pedido, "para comparar as empresas, incluindo uma
tabela ao final que conclua pela Wework". A senhora disse de onde
veio a pressão, não é? Mas de novo nos fica o questionamento: por
que havia pressão para contratar a Wework? A senhora sabe informar
se essa pressão para forjar uma justificativa foi levada ao
conhecimento dos órgãos de controle: a comissão de ética, o
Compliance, a Auditoria Interna, o Conselho Fiscal ou o comitê de
auditoria?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Sra. Deputada, quando eu
recebi esse e-mail, eu reportei ao meu chefe Eron que faríamos o
trabalho conforme nós sempre fazemos, que é fazendo as três
cotações. E o documento final que nós elaboramos com base em
informações técnicas, e que passamos inclusive, não concluía pela
Wework.
A deputada Beatriz Cerqueira – Não concluiu?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Não concluía pela Wework.
Há um comparativo, e tecnicamente a nossa orientação é pela Regus,
que atendia todos os requisitos que eles tinham elencado.
A deputada Beatriz Cerqueira – O.K. Obrigada. Bem, a senhora
saberia me dizer então se mesmo com a orientação técnica... A

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orientação técnica final não era a contratação de Wework, e foi
contratada a Wework. A senhora sabe me dizer se essa situação
chegou a ser levada a algum órgão de controle da Cemig?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – Não, não sei informar.
O presidente – Permita-me, deputada Beatriz? Quem deu a ordem
para que fosse contratada a Wework, mesmo com a orientação
contrária, a orientação técnica contrária?
A Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo – No final, acabou-se
concluindo tecnicamente pela Wework pela questão do
distanciamento da Covid. Porque, quando foi feito o estudo, que foi
em torno de uns 30 dias antes, a Regus era a melhor opção. Quando
nós partimos para o contato com essa empresa para contratá-la, ela
já não tinha uma sala grande como nós precisávamos. E por esse
motivo foi-se para segunda opção, que era a Wework. (NOTA
TAQUIGRÁFICA – 11ª Reunião Extraordinária da CPI da Cemig –
16/9/2021).

Em depoimento como testemunha, na 13ª Reunião Extraordinária da CPI, realizada


em 23/9/2021, o Sr. João Polati Filho, ex-diretor de Suprimentos e Serviços
Compartilhados da Cemig, informou que não concordou com o processo de escolha da
Wework, quando se decidiu pela opção mais cara, conforme pode se inferir pelo diálogo
abaixo:
O deputado Sávio Souza Cruz – Na apresentação sobre
planejamento estratégico da Cemig constava a abertura de
escritórios para a comercialização de energia em Brasília e em São
Paulo?
O Sr. João Polati Filho – Brasília tinha escritório. São Paulo, São
Paulo, já na minha época então, não sei se em abril, maio, chegou
uma proposta. Eu não sei o nome da empresa, eu sei que era no
shopping...
O deputado Sávio Souza Cruz – Iguatemi.

133
O Sr. João Polati Filho – Iguatemi JK, porque eu conheço
pessoalmente. Essa carta, não sei como, chegou lá para mim. Eu
chamei o Eron, que também seria ligado depois com a Ivna, e a
olho nu meu... Eu não sabia o porquê, falava-se num escritório da
Cemig. Eu achei essa carta assim, na minha visão... Está doido!
Caro demais! E aquele assunto ficou seguro ali. Depois, no final de
julho, quando eu já estava de férias... Porque os imóveis seguem
uma regra diferente, não é? Você pode pegar três propostas e definir.
Você não faz o... (– É interrompido.)
O deputado Sávio Souza Cruz – No caso, pegaram três propostas e
escolheram a mais cara.
O Sr. João Polati Filho – Aí, no final de julho, essas três propostas...
A mais cara era essa lá do Iguatemi. Eu não sei o nome, mas todo
mundo sabe aí do que eu estou falando. Eu vou no conceito, porque
é muito nome. Foi contratada essa mais cara, sendo que a
justificativa que ouvi aqui - e se eu estivesse lá na época, não
aceitaria - foi: "Não, reformulou, aquela empresa não tinha mais
espaço". Quer dizer, na contramão da pandemia... Todos aqui
sabem que imóveis, salas, residenciais e shoppings fecharam
adoidado, não é? A oferta, naquele instante, em julho, era
abundante. Não haveria modificação, no meu entendimento, para
falar: "Eu quero é aquela ali". Por quê? Estava tudo em retrocesso
- em excesso, desculpe. Oferta abundante de imóveis comerciais.
Dê uma volta em Belo Horizonte, em São Paulo, onde você quiser.
Está tudo desse jeito.
O deputado Sávio Souza Cruz – O senhor sabe se o objetivo desses
escritórios tem a ver com a comercialização de energia para fugir
das diferenças de ICMS que seriam devidas ao Estado de Minas
Gerais?
O Sr. João Polati Filho – Olha, eu não, não posso afirmar com
certeza, mas escutei alguma coisa nesse sentido lá dentro. Não

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posso afirmar, mas que eu escutei um zum-zum-zum a respeito
disso... E isso não qualifica, por ser zum-zum-zum, mas que eu
escutei alguma coisa a esse respeito eu escutei. Se é verdade ou
não…
O deputado Professor Cleiton – Muito bem. A Cemig fez a locação
de um escritório em São Paulo, após o desligamento do senhor. No
entanto, nós temos informações de que o assunto se iniciou bem
antes, quando o senhor ainda era diretor de suprimentos e serviços
corporativos.
O Sr. João Polati Filho – Sim.
O deputado Professor Cleiton – O senhor teve acesso à proposta do
escritório Wework? Quem definiu que o escritório tinha de estar
dentro do Edifício JK Iguatemi?
O Sr. João Polati Filho – Eu tive... Deve ser essa empresa. Por
questões de tempo, eu tive uma primeira carta lá dessa proposta.
Eu me lembro que era no shopping JK Iguatemi. Depois, foi no
meu período de férias, e retorno, no começo de agosto, foi definido
pedido de coleta de três empresas, três preços. Foi contratada - foi
dito aqui - essa empresa, porque era o menor preço, não tinha mais
espaço, isso e aquilo. Evidentemente que, se eu estivesse lá, isso
não ia acontecer. Foi feita uma pressão, que tinha de ser para
amanhã, essa coisa toda. Até reforço o porquê. Não é só por uma
questão disso. O mercado em recessão, o mercado em plena
pandemia, a Cemig vem aqui e argumenta que: "nós compramos
no maior preço porque, naquele momento, quem tinha espaço, isso
e aquilo, era essa empresa." "Putz grila!". É de doer, não é?
O deputado Professor Cleiton – É de doer mesmo. Muita coisa aqui,
nesta tarde, foi de doer. Não é, Sr. João? Isso nos assusta e apenas
confirma aquilo de que a gente já tem desconfiança...
(NOTA TAQUIGRÁFICA – 13ª Reunião Extraordinária da CPI da
Cemig – 23/9/2021).

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Na 19ª Reunião Extraordinária da CPI, realizada em 18/10/2021, o Sr.
Cledorvino Belini, ex-presidente da Cemig, informou desconhecer o benefício de se abrir
um escritório da companhia em São Paulo e que não participou das tratativas para a
contração da Wework, como se pode constatar pelo diálogo a seguir:
O deputado Professor Cleiton – Em janeiro de 2021 essa atual
diretoria contrata a Boston para fazer um outro planejamento, com o
objetivo de tornar a Cemig privatizável, entre outras coisas, como
nós já apresentamos aqui. Então, que fique claro que são
contratações diferentes – a que o senhor apresentou aqui e a que nós
apresentamos anteriormente.
O senhor era favorável à abertura do escritório da Cemig em São
Paulo? Inclusive, notícias dão conta de que era intenção transferir a
sede da empresa para São Paulo. Qual era o propósito disso? Essa
mudança foi submetida à diretoria e ao conselho de administração?
Há registro sobre a discussão desse assunto? Qual seria o benefício
para a Cemig decorrente dessa ação?
O Sr. Cledorvino Belini – Desconheço.
O deputado Professor Cleiton – O senhor desconhece?
O Sr. Cledorvino Belini – Desconheço.
O deputado Professor Cleiton – O senhor não participou, em nenhum
momento, de uma discussão de transferência e de abertura de um
escritório em São Paulo?
O Sr. Cledorvino Belini – Não.
O deputado Professor Cleiton – O que aparece para nós na CPI,
inclusive em depoimentos, em apresentações dentro da companhia,
é que o Shopping Iguatemi foi escolhido para ter a sede do escritório.
Em nenhum momento, então, o senhor participou dessas tratativas
de discussões?
O Sr. Cledorvino Belini – Não.
O deputado Professor Cleiton – Isso não apareceu também em
nenhum momento durante a sua presença no conselho?

136
O Sr. Cledorvino Belini – Não.
(NOTA TAQUIGRÁFICA – 19ª Reunião Extraordinária da CPI da
Cemig – 18/10/2021).

Na análise da documentação apresentada, documentos esses com classificação de


“reservado”, e não como sigilosos, é possível identificar respostas a questões feitas às
testemunhas para as quais não foram apresentadas respostas, sob o argumento de
desconhecimento sobre o assunto. Nessa documentação, podemos verificar as razões de
ordem tributária que tratamos a seguir.
O parecer jurídico datado de 29/8/2020, assinado pela advogada Virgínia Londe de
Melo, com o de acordo do diretor de Regulação e Jurídico Eduardo Soares, informa o
objetivo da abertura do escritório da Cemig em São Paulo, justificada pelo aumento na
competitividade e sustentabilidade do negócio comercialização, otimizando ainda os seus
resultados e ganho tributário para a Cemig GT da ordem de R$2,73 milhões mensais.
Ademais, a cidade de São Paulo concentra os maiores agentes do mercado, grandes clientes
e fornecedores da empresa, além da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica –
CCEE.
O referido parecer jurídico, na sua análise e contexto, dispõe que:
1. atualmente, cerca de 70% do volume da energia vendida pela Cemig Geração e
Transmissão S. A. – Cemig GT – é suprido por contratos de compra. A participação
significativa de compras no balanço de seus recursos traz a oportunidade do planejamento
tributário com redução nos dispêndios com ICMS através da abertura de uma filial da
Cemig GT em outra unidade federativa;
2. a venda de energia elétrica para outro estado da Federação, por consubstanciar
uma das hipóteses previstas no art. 15 do RICMS-MG, atrai o recolhimento diferido,
obrigando a concessionária a recolher o tributo devido, incidente na operação de aquisição
de energia elétrica.
O art. 15 do Regulamento do Imposto sobre as Operações relativas à Circulação de
Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e
de Comunicação – ICMS – dispõe:
Art. 15 – O adquirente ou o destinatário da mercadoria deverão recolher o
imposto diferido, inclusive o relativo ao serviço de transporte, em

137
documento de arrecadação distinto, sem direito ao aproveitamento do valor
correspondente como crédito do imposto, nas hipóteses de:
I – a mercadoria, adquirida ou recebida para comercialização ou emprego
em processo de industrialização, ser objeto de operação posterior isenta ou
não tributada pelo imposto, no mesmo estado ou após industrialização,
ressalvado o disposto no § 2º deste artigo;
II – perecimento, deterioração, inutilização, extravio, furto, roubo ou perda,
por qualquer motivo, da mesma mercadoria ou de outra dela resultante;
III – o bem destinado ao ativo imobilizado deixar de satisfazer os requisitos
previstos nos incisos I, II e VI do § 5º do art. 66 deste Regulamento.
§ 1º – Salvo disposição em contrário deste Regulamento, considera-se
devido o imposto no mês em que tenha ocorrido qualquer dos fatos
previstos nos incisos do caput, hipótese em que será observado, para
fixação da base de cálculo, o disposto na alínea “a” do inciso IV do caput
do art. 43 deste Regulamento, devendo o contribuinte:
I – emitir nota fiscal com destaque do imposto correspondente e com a
observação de que a emissão se deu para fins de recolhimento do imposto
diferido, indicando o fato determinante do recolhimento;
II – (...)
III – no caso do inciso II do caput deste artigo, além do lançamento previsto
no inciso anterior, escriturar a nota fiscal no livro Registro de Saídas,
lançando o seu valor na coluna “Operações sem Débito do Imposto”, sob
o título “Outras”, e fazendo na coluna “Observações” a anotação de que o
imposto foi recolhido por meio de documento de arrecadação distinto, com
identificação deste.
§ 2º – Fica dispensado o recolhimento do imposto diferido:
I – na hipótese do inciso I do caput:
a) quando a operação com a mercadoria estiver alcançada pela isenção
prevista no art. 459 da Parte 1 do Anexo IX;
b) quando for assegurado o direito à manutenção do crédito do imposto
pela entrada da mercadoria, observado o disposto no parágrafo seguinte.
II – na hipótese do inciso II do caput, quando se tratar de bens ou
mercadorias destinados ao desenvolvimento de protótipos pela indústria
automobilística, no momento da destruição, inutilização ou descarte do
protótipo.
§ 3º – Não havendo o recolhimento do imposto diferido, em razão do
disposto no parágrafo anterior, é vedado o lançamento do valor como
crédito do imposto.
§ 4º – O imposto diferido na entrada de mercadoria destinada ao ativo
imobilizado será recolhido, na forma prevista neste artigo, na proporção
das operações ou prestações isentas, não tributadas ou com base de cálculo
reduzida em relação ao total das operações ou prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação realizadas em
cada um dos 48 (quarenta e oito) períodos de apuração de que trata o § 2º
do art. 14.

Nesse dispositivo está previsto o encerramento do diferimento na hipótese de


aquisição de energia elétrica com imposto diferido e posteriormente comercializado em
operação isenta ou não tributada pelo imposto.

138
A previsão do prazo para recolhimento do imposto é tratada no Anexo IX do
RICMS, que, em seu capítulo III, trata das operações relativas à energia elétrica; no art. 49-
A dispõe:
RICMS – ANEXO IX
(...)
CAPÍTULO III
Das Operações Relativas a Energia Elétrica
(...)
Art. 49-A – A empresa concessionária ou permissionária de energia elétrica,
relativamente às entradas de mercadoria ao amparo do diferimento previsto
na alínea “b” do item 33 da Parte 1 do Anexo II, deverá, nas hipóteses de
encerramento do diferimento de que trata o art. 15 deste regulamento,
apurar o imposto devido e emitir NF-e até o último dia útil do mês
subsequente ao da ocorrência de quaisquer das hipóteses determinantes do
encerramento.
Parágrafo único – O valor do imposto apurado nos termos do caput deverá
ser informado no Campo 94 do quadro “Apuração do ICMS no período”
da DAPI modelo 1.

Nos itens 3 a 6 do referido parecer jurídico, fica evidenciada a intenção de se obter


um ganho tributário com a realização das operações adquiridas com ICMS diferido por
meio do estabelecimento criado em São Paulo:
3. Como a Cemig GT tem sede no Estado de Minas Gerais, o custo da
energia vendida pela empresa, quando adquirida no mercado mineiro, é
incrementado pelo ICMS recolhido em função do encerramento do
diferimento. Dessa forma, abrindo uma filial da empresa em outro estado,
a margem alcançada nas operações será aumentada.
4. Os ganhos estimados pela Diretoria de Comercialização com esta
medida são da ordem de R$2,7 milhões mensais, isso porque as operações
com energia elétrica praticada em Minas Gerais estão sujeitas ao
diferimento do pagamento do ICMS e, que nas hipóteses de saída isenta ou
não tributada – como a venda de energia para fora do estado – deve ser
encerrado o diferimento e recolhido o imposto. Desta forma, a metodologia
de cálculo do ICMS diferido acaba por incrementar o custo da energia para
a formação do preço, implicando em perda de competitividade para a
companhia.
5. A constituição e legalização dessa filial junto aos órgãos de governo
pode ser realizada por um escritório de advocacia, com o acompanhamento
do processo até a sua finalização. O prazo estimado para a conclusão é de
30 dias.
6. A contratação deste serviço poderá ser realizada de forma
descentralizada pela Gerência de Planejamento e Gestão Tributária –
CR/TB em razão do valor de alçada. Os custos de manutenção dos registros
da filial são de pequeno valor.

139
Na análise jurídica do referido parecer, nos itens 15 e 16, pode se constatar o
alerta sobre os riscos assumidos pela empresa pela prática de planejamento tributário
abusivo:
15 – Foi realizada uma análise jurídica (Parecer JE/TC – 27.551/2019)
quanto aos aspectos regulatórios e tributários.
16 – O parecer concluiu que não há efeitos que possam inviabilizar a
otimização pretendida. De acordo com o parecer, há o risco de que o fisco
entenda haver planejamento tributário abusivo, o que implicaria na
manutenção da tributação considerando a regra de encerramento do
diferimento do ICMS, os acréscimos legais de juros, multa por atraso no
recolhimento e eventual imposição de multas. O mitigador deste risco seria
o fato de a atividade de comercialização da filial ser efetivamente
desempenhada por equipe lá situada, entretanto, estes riscos tributários
serão avaliados no momento de registro de operações usando a filial.

Por fim, para justificar os riscos assumidos, conclui o parecer sobre os benefícios
esperados:
Benefícios/Impacto Financeiro/ Previsão Orçamentária:
Aumento na competitividade e sustentabilidade do negócio
comercialização, otimizando ainda mais os seus resultados. Considerando
o portfólio atual de contratos da Cemig GT, o ganho tributário com a
operação será da ordem de 2,73 milhões mensais.

Diante dos fatos apurados e anteriormente explicitados, é possível concluir que eles
configuram fortes indícios da prática de condutas ilícitas, inclusive, em tese, prática de
crimes, conforme se passa a demonstrar.

a) Da irregularidade da contratação direta. Inexigibilidade de licitação sem o


preenchimento dos requisitos legais. Improbidade administrativa por ofensa aos
princípios que regem a administração pública. Conduta em tese passível de
enquadramento nas sanções previstas na Lei Federal nº 8.429, de 1992, que dispõe
sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade
administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 da Constituição Federal; e dá outras
providências

Como já explicado neste relatório, a Lei Federal nº 13.303, de 30/6/2016, dispõe


sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias, no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

140
A regra geral está prevista no art. 28 da referida lei, que dispõe:
Art. 28 – Os contratos com terceiros destinados à prestação de serviços às
empresas públicas e às sociedades de economia mista, inclusive de
engenharia e de publicidade, à aquisição e à locação de bens, à alienação
de bens e ativos integrantes do respectivo patrimônio ou à execução de
obras a serem integradas a esse patrimônio, bem como à implementação
de ônus real sobre tais bens, serão precedidos de licitação nos termos desta
Lei, ressalvadas as hipóteses previstas nos arts. 29 e 30.
§ 1º – Aplicam-se às licitações das empresas públicas e das sociedades de
economia mista as disposições constantes dos arts. 42 a 49 da Lei
Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
§ 2º – O convênio ou contrato de patrocínio celebrado com pessoas físicas
ou jurídicas de que trata o § 3º do art. 27 observará, no que couber, as
normas de licitação e contratos desta Lei.
§ 3º – São as empresas públicas e as sociedades de economia mista
dispensadas da observância dos dispositivos deste Capítulo nas seguintes
situações:
I – comercialização, prestação ou execução, de forma direta, pelas
empresas mencionadas no caput, de produtos, serviços ou obras
especificamente relacionados com seus respectivos objetos sociais;
II – nos casos em que a escolha do parceiro esteja associada a suas
características particulares, vinculada a oportunidades de negócio
definidas e específicas, justificada a inviabilidade de procedimento
competitivo.
§ 4º – Consideram-se oportunidades de negócio a que se refere o inciso II
do § 3º a formação e a extinção de parcerias e outras formas associativas,
societárias ou contratuais, a aquisição e a alienação de participação em
sociedades e outras formas associativas, societárias ou contratuais e as
operações realizadas no âmbito do mercado de capitais, respeitada a
regulação pelo respectivo órgão competente.

A dispensa de licitação é tratada no art. 29, interessando, para o caso, o disposto no


seu inciso V:
Art. 29 – É dispensável a realização de licitação por empresas públicas e
sociedades de economia mista:
(…)
V – para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento de suas
finalidades precípuas, quando as necessidades de instalação e localização
condicionarem a escolha do imóvel, desde que o preço seja compatível
com o valor de mercado, segundo avaliação prévia;
(…)

Interessa, ainda, para o exame do caso, o disposto no caput do art. 30 da referida


lei, que assim prevê a inexigibilidade de licitação por inviabilidade de competição:
Art. 30 – A contratação direta será feita quando houver inviabilidade de
competição, em especial na hipótese de:
(...)

141
§ 3º – O processo de contratação direta será instruído, no que couber, com
os seguintes elementos:
I – caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa, quando for o caso;
II – razão da escolha do fornecedor ou do executante;
III – justificativa do preço.

Existem argumentos consistentes que põem em dúvida a necessidade da contratação


direta da Wework, por não haver inviabilidade de competição, já que foram apresentadas
três propostas para a escolha da Cemig, o que demonstra que poderia tal contratação ser
realizada por meio de licitação.
O § 2º do art. 30 da referida lei prevê a responsabilidade solidária daqueles que
decidiram pela contratação direta com sobrepreço ou superfaturamento. O contrato da
Wework apresenta valores muito acima das duas outras propostas, com fortes indícios de
sobrepreço, o que, na hipótese de comprovação pelo Tribunal de Contas do Estado de
Minas Gerais, implica responsabilização dos envolvidos no processo de contratação direta.
O Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig, em seu art. 22, trata
da instrução do processo de contratação direta, o que se verifica não ter sido observado no
caso da referida contratação. Dispõe o mencionado artigo:
Art. 22 – O processo de contratação direta, por inexigibilidade ou dispensa
de licitação, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:
I – descrição do objeto da contratação;
II – caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa, quando for o caso;
III – razão da escolha do fornecedor ou do executante;
IV – justificativa do preço, que comprove adequação com os preços
praticados no mercado, observando-se pelo menos um dos seguintes
aspectos:
a) cotações de preços junto a fornecedores; ou
b) comparação de preços, em contratos similares havidos pelo próprio
fornecedor junto a outros clientes;
c) outros elementos que permitam a verificação da compatibilidade de
preços com o mercado, desde que observadas as peculiaridades da
contratação.
Parágrafo único – Deverão estar contidos no processo de contratação direta,
ainda:
I – a autorização para a contratação direta, observados os limites de
deliberação da autoridade competente, nos termos normativos internos da
Cemig; e
II – O reconhecimento da situação de dispensa ou inexigibilidade.

142
Finalmente, conclui o parecer jurídico, datado de 29/8/2020, que seria necessária a
abertura de processo de contratação direta com a empresa Wework Serviços de Escritório
Ltda., nos moldes do art. 30, § 3º, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, e art. 22 do
Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig, bem como do item 3.1.2 da IJ-
04, de 2/9/2019, no qual se justifique a inviabilidade de competição e eventualmente se
delibere pela contratação direta dos serviços da referida empresa, se for o caso.
Vejamos quais foram as razões apontadas na PD para seguir a escolha da
contratação direta desta:
(…) 13. Para a escolha do local, foram feitas pesquisas de mercado
considerando como variáveis chave para a seleção (i) razoabilidade de
custos, (ii) padrão das instalações e serviços oferecidos e (iii) flexibilidade
da oferta com rede de escritórios. Recomendamos a contratação da
empresa WeWork, com custo mensal de R$ 9.380,00 (nove mil, trezentos
e oitenta reais), considerando o serviço diferenciado e compatível com o
uso proposto.
(...)
Nesse sentido, as características específicas da WeWork que
condicionaram sua escolha para a abertura de filial da CEMIG para
atividades de comercialização de energia, conforme constam dos itens 8 a
14 da PD 160/2020, são:
a) Localização em uma das áreas comerciais mais importantes de São
Paulo;
b) Disponibilização de área privativa que observa requisitos de
ocupação adequada, compatíveis com as atividades que serão
desenvolvidas, garantindo condições de conforto, segurança e
apresentação, inclusive condições de distanciamento exigidas pela
pandemia da COVID-19;
c) Estrutura que permitirá diversos usos, como por exemplo: reuniões
com clientes, fornecedores, parceiros, sócios, consultores, investidores, e
instituições financeiras; espaço de trabalho para colaboradores, diretores e
conselheiros;
d) Flexibilidade para atendimento ao grupo de trabalho (número de
estações variável podendo ser, eventualmente, superior ao contratado);
e) Disponibilização de copas/cozinha com fornecimento de produtos
variados;
f) Padrão de qualidade diferenciado das instalações e serviços
oferecidos;
g) Flexibilidade da oferta com rede de escritórios

Contudo, analisando as justificativas apresentadas na PD, constata-se que elas não


são suficientes para afastar o procedimento licitatório, não se enquadrando nas hipóteses
de dispensa de licitação e nem mesmo de inexigibilidade de licitação indicadas.

143
Preliminarmente, é fato notório que a cidade de São Paulo possui diversas empresas
que oferecem serviço de coworking, não sendo a Wework fornecedora exclusiva na
localidade.
Outro ponto importante é que não há justificativa técnica nem qualquer razão de
interesse público capazes de justificar a localização do seu imóvel como o único capaz de
atender a finalidade que consiste em sediar uma filial da Cemig. Não há qualquer fator
geográfico mencionado na justificação como condicionante para a escolha do imóvel, mas
apenas a menção vaga e imprecisa de que a localização está situada “em uma das áreas
comerciais mais importantes de São Paulo”.
Não há, contudo, qualquer apontamento objetivo, fundado em interesse público,
que exija que a filial esteja situada em uma das áreas comerciais mais importantes de São
Paulo, sendo, portanto, indiferente a sua localização em qualquer outra área comercial da
cidade.
Com relação às demais características, nota-se que todas elas são facilmente
passíveis de atendimento por qualquer empresa de coworking.
Bastaria que a Cemig incluísse no edital do pregão as mencionadas exigências
(qualidade dos móveis e instalações; flexibilidade de oferta; disponibilização de
copa/cozinha, etc.), que facilmente seriam objeto de atendimento pelas empresas do ramo.
Não é possível presumir que outras empresas de coworking, diante da publicação
do edital de licitação, não se adaptariam às condições de instalação e funcionamento
exigidas pela companhia.
No caso, houve flagrante direcionamento e benefício a Wework, preterindo-se a
concorrência de mercado, sem a concessão de oportunidades iguais a todas as empresas do
ramo para a cobertura das necessidades/comodidades pretendidas pela Cemig.
A justificativa apresentada na PD não é suficiente para justificar a escolha da
empresa contratada, existindo, portanto, clara violação ao dever de licitar.
O art. 29, inciso V, conjugado com o art. 30, caput, da Lei Federal nº 13.303, de
2016, exige que a justificativa técnica da escolha do contratado contenha uma explicação
objetiva das necessidades de instalação e localização do imóvel que condicionaram a
escolha, comprovando, assim, a inviabilidade da competição.

144
Entretanto, no caso, não foram apresentadas razões de interesse público a
demonstrar que este seria o único local apto a atender a finalidade precípua (servir de filial
para a Cemig) e as características de instalação exigidas são facilmente preenchidas por
qualquer outra empresa de coworking de São Paulo, plenamente ajustáveis para
atendimento das exigências inseridas no termo de referência do edital do pregão a ser
realizado pela Cemig.
A não realização da licitação prejudica a economicidade das contratações, fazendo
com que a Cemig tenha que despender maior volume de recursos. Como foi o caso visto,
há outras empresas que oferecem o serviço de coworking em São Paulo por preços menores.
Com efeito, esta foi a justificativa técnica apontada na proposta de deliberação para
a contratação dos serviços de coworking da empresa Wework.
Essa justificativa, porém, não está compatível com as exigências legais e nem
mesmo com o próprio parecer jurídico que fundamentou a celebração do contrato.
Sendo assim, em tese, há fortes indícios de que Maurício Dall´Agnese, Ronaldo
Gomes de Abreu, Reynaldo Passanezi Filho, Ronaldo Gomes de Abreu e Leonardo George
de Magalhães, responsáveis pela proposta de deliberação de contratação direta da Wework,
praticaram atos, em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade
administrativa descrita no art. 10, inciso V, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em
que contribuíram para a irregular contratação e aplicação de recursos da companhia,
provocando dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica, Wework, configura-se como
particular beneficiário da ilegalidade. Da mesma forma agiram Eron Lopes Pereira,
superintendente responsável por ratificar a inexigibilidade de licitação, Dimas Costa,
Hudson Felix Almeida e Rogério Ferreira Santiago, responsáveis pela assinatura do
contrato como representantes da Cemig.
Por fim, cabe também lembrar que a realização de contratação direta, sem o
preenchimento dos requisitos legais é, em tese, avaliada a conduta individual de cada
participante do evento, passível de enquadramento no crime previsto no art. 337-E do
Código Penal:
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta fora das
hipóteses previstas em lei:
Pena – reclusão.

145
b) Da prática de planejamento tributário abusivo

A tributação da energia elétrica em Minas Gerais está disciplinada pela Lei


Complementar nº 87, de 1996, que dispõe sobre o Imposto dos Estados e do Distrito
Federal sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de
Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, e dá outras
providências; pelo Convênio ICMS nº 83/2000, que dispõe sobre o regime de substituição
tributária nas operações interestaduais com energia elétrica não destinada à
comercialização ou à industrialização; e pela Lei nº 6.763, de 1975, que consolida a
Legislação Tributária do Estado de Minas Gerais e dá outras providências.
São várias as hipóteses de tributação, cujo fato gerador pode ser a entrada ou a saída
da energia elétrica.
A tributação ocorre na entrada da energia elétrica:
I – entrada:
a) em operação interna com origem em gerador de energia, revendedor de
energia e concessionária em Minas Gerais, com destino a concessionária em Minas Gerais,
quando o diferimento é encerrado e a operação é tributada.
A tributação ocorre com base no art. 9° da Lei nº 6.763, de 1975; arts. 8º, 12 a 15
do RICMS; alínea “b” do item 33, da Parte 1, do Anexo I do RICMS; art. 49-A do Anexo
IX do RICMS, que dispõem:
Lei nº 6.763, de 1975
Art. 9º – O regulamento poderá dispor que o lançamento e o pagamento do
imposto sejam diferidos para operações ou prestações concomitantes ou
subsequentes.
§ 1º – O imposto diferido será considerado recolhido com a saída
subsequente tributada da mesma mercadoria ou outra dela resultante, ainda
que:
I – a alíquota aplicada seja inferior à prevista para a operação anterior
realizada com o diferimento;
II – a apuração do imposto devido pela saída subsequente tributada esteja
sujeita à apropriação de crédito presumido, independentemente do
montante deste, inclusive na hipótese em que o crédito presumido seja
aplicado cumulativamente aos demais créditos do imposto relacionados à
mercadoria.
RICMS
Art. 8º – O imposto será diferido nas hipóteses relacionadas no Anexo II,
nas hipóteses específicas de diferimento previstas no Anexo IX e, ainda,

146
naquelas não previstas nos supracitados anexos, desde que autorizadas
mediante regime especial concedido pelo Superintendente de Tributação.
(…)
Art. 12 – Encerra-se o diferimento quando:
I – a operação com a mercadoria recebida com o imposto diferido, ou com
outra dela resultante, promovida pelo adquirente ou destinatário daquela,
não estiver alcançada pelo diferimento, for isenta ou não for tributada;
(…)
Art. 13 – O recolhimento do imposto diferido será feito pelo contribuinte
que promover a operação ou a prestação que encerrar a fase do diferimento,
ainda que não tributadas.
(…)
Art. 15 – O adquirente ou o destinatário da mercadoria deverão recolher o
imposto diferido, inclusive o relativo ao serviço de transporte, em
documento de arrecadação distinto, sem direito ao aproveitamento do valor
correspondente como crédito do imposto, nas hipóteses de:
I – a mercadoria, adquirida ou recebida para comercialização ou emprego
em processo de industrialização, ser objeto de operação posterior isenta ou
não tributada pelo imposto, no mesmo estado ou após industrialização,
ressalvado o disposto no § 2º deste artigo;
(...)
ANEXO II
PARTE 1
DO DIFERIMENTO
(a que se refere o artigo 8º deste Regulamento)
ITEM HIPÓTESES/CONDIÇÕES
(...)
33
Saída de energia elétrica:
(...)
b) para empresa concessionária ou permissionária de energia elétrica.

ANEXO IX

Art. 49-A – A empresa concessionária ou permissionária de energia elétrica,


relativamente às entradas de mercadoria ao amparo do diferimento previsto
na alínea “b” do item 33 da Parte 1 do Anexo II, deverá, nas hipóteses de
encerramento do diferimento de que trata o art. 15 deste regulamento,
apurar o imposto devido e emitir NF-e até o último dia útil do mês
subsequente ao da ocorrência de quaisquer das hipóteses determinantes do
encerramento.
Parágrafo único – O valor do imposto apurado nos termos do caput deverá
ser informado no Campo 94 do quadro “Apuração do ICMS no período”
da DAPI modelo 1.
b) em operação interestadual:
1 – de gerador, revendedor ou concessionária em outro estado para
revendedor ou concessionária em Minas Gerais não há incidência do
imposto, nos termos do inciso II do art. 7º da Lei nº 6.763, de 1975, que
dispõe:
Art. 7º – O imposto não incide sobre:

147
III – a operação que destine a outra unidade da Federação petróleo,
lubrificante e combustível líquido ou gasoso dele derivados e energia
elétrica quando destinados à comercialização ou à industrialização do
próprio produto;
2 – de gerador, revendedor ou concessionária em outro estado com destino
a consumidor final em Minas Gerais, é tributado por substituição tributária
com os recursos do ICMS pertencendo ao Estado de Minas Gerais, nos
termos do inciso III do § 1º do art. 2º e alínea “g” do inciso I do art. 11,
inciso II do § 1º e § 2º do art. 9º da Lei Complementar nº 87, de 1996; e do
Convênio ICMS nº 83/2000, que dispõem:
Lei Complementar nº 87, de 1996
Art. 2° - O imposto incide sobre:
I – operações relativas à circulação de mercadorias, inclusive o
fornecimento de alimentação e bebidas em bares, restaurantes e
estabelecimentos similares;
(…)
§ 1º O imposto incide também:
(...)
III – sobre a entrada, no território do Estado destinatário, de petróleo,
inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e
de energia elétrica, quando não destinados à comercialização ou à
industrialização, decorrentes de operações interestaduais, cabendo o
imposto ao Estado onde estiver localizado o adquirente.
(…)
Art. 9º – A adoção do regime de substituição tributária em operações
interestaduais dependerá de acordo específico celebrado pelos Estados
interessados.
§ 1º – A responsabilidade a que se refere o art. 6º poderá ser atribuída:
(...)
II – às empresas geradoras ou distribuidoras de energia elétrica, nas
operações internas e interestaduais, na condição de contribuinte ou de
substituto tributário, pelo pagamento do imposto, desde a produção ou
importação até a última operação, sendo seu cálculo efetuado sobre o preço
praticado na operação final, assegurado seu recolhimento ao Estado onde
deva ocorrer essa operação.
§ 2º – Nas operações interestaduais com as mercadorias de que tratam os
incisos I e II do parágrafo anterior, que tenham como destinatário
consumidor final, o imposto incidente na operação será devido ao Estado
onde estiver localizado o adquirente e será pago pelo remetente.
(...)
Art. 11 – O local da operação ou da prestação, para os efeitos da cobrança
do imposto e definição do estabelecimento responsável, é:
I – tratando-se de mercadoria ou bem:
(…)
g) o do Estado onde estiver localizado o adquirente, inclusive consumidor
final, nas operações interestaduais com energia elétrica e petróleo,
lubrificantes e combustíveis dele derivados, quando não destinados à
industrialização ou à comercialização;

CONVÊNIO ICMS 83/00

148
Dispõe sobre o regime de substituição tributária nas operações
interestaduais com energia elétrica não destinada à comercialização ou à
industrialização.
(…)
Cláusula primeira – Ficam os Estados e o Distrito Federal autorizados a
atribuir ao estabelecimento gerador ou distribuidor, inclusive o agente
comercializador de energia elétrica, situados em outras unidades federadas,
a condição de substitutos tributários, relativamente ao ICMS incidente
sobre a entrada, em seus territórios, de energia elétrica não destinada à
comercialização ou à industrialização.
II – Saída:
a) em operação interna:
1 – de gerador, revendedor ou concessionária em Minas Gerais para
revendedor ou concessionária em Minas Gerais ocorre o diferimento, nos
termos do art. 9º da Lei nº 6.763, de 1975 e; art. 8º, alínea “b” do item 33
da Parte 1 do Anexo II do RICMS, que dispõem:

Para enfatizar o entendimento sobre a tributação da energia adquirida pela


Cemig em Minas Gerais e posteriormente revendida a destinatário situado em outro estado,
temos a consulta realizada pela empresa DME Energética S.A. a – DMEE, concessionária
de energia elétrica situada na cidade de Poços de Caldas – MG, que buscou esclarecimentos
junto à CEF e cuja resposta veio por meio da Consulta do Contribuinte nº 079/2019, que
dispõe:
PTA Nº: 45.000017386-15
CONSULENTE: DME Energética S.A. - DMEE
ORIGEM: Poços de Caldas – MG

ICMS • ENERGIA ELÉTRICA • DIFERIMENTO • OPERAÇÃO


INTERESTADUAL • NÃO INCIDÊNCIA • Havendo operação interna de
saída de energia elétrica com diferimento do pagamento do ICMS e
posterior saída em operação interestadual, independentemente do destino
a ser dado à mesma, deverá haver o recolhimento do imposto diferido, em
documento de arrecadação distinto, e sem direito ao aproveitamento do
valor correspondente como crédito do imposto, nos termos do inciso I do
art. 15 do RICMS/2002.

EXPOSIÇÃO:
A Consulente apura o ICMS pela sistemática de débito e crédito e tem
como atividade principal informada no cadastro estadual a geração de
energia elétrica (CNAE 3511-5/01).
Informa que é uma empresa pública e tem como objeto social a exploração
de atividade econômica de geração, comercialização e transmissão de
energia, bem como a realização de outras atividades correlatas, inclusive
mediante a prestação de serviços, direta ou indiretamente.
Menciona que, para o desenvolvimento de suas atividades, realiza a
comercialização de energia própria, gerada nas usinas das quais detém o

149
direito de exploração individual, em consórcio ou compartilhada, sob o
regime de concessão ou permissão, bem como comercializa a energia de
terceiros (compra e revenda).
Acrescenta que, por meio da Portaria nº 185/2013, do Ministério das Minas
e Energia, e da Resolução Normativa nº 611/2014, da Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL, foi permitida a cessão de energia contratada e
não consumida pelo consumidor livre ou especial.
Com dúvida sobre a correta interpretação da legislação tributária, formula
a presente consulta.

CONSULTA:
1 – Em relação ao excedente de energia elétrica adquirida de consumidor
livre, localizado em Minas Gerais, em que o mesmo adquiriu para consumo
próprio, tendo recolhido o ICMS sobre a totalidade da energia comprada,
pergunta-se:
1.1 – A compra do excedente de energia desse consumidor livre estará
enquadrada no diferimento previsto no item 37 da Parte 1 do Anexo II do
RICMS/2002?
1.2 – Caso a resposta ao questionamento anterior seja positiva, na revenda
para fora do estado de Minas Gerais, deve haver o recolhimento do ICMS
diferido, ainda que a revenda seja destinada para comercialização? Neste
caso poderia se enquadrar no inciso IV do art. 5° do RICMS/2002?
1.3 – Caso a resposta ao questionamento n° 1.1 seja positiva, na revenda
para fora do estado de Minas Gerais, deverá haver recolhimento do ICMS
caso a revenda seja destinada para consumo final, uma vez que a totalidade
da energia já foi tributada? Isso não caracteriza bitributação, visto que o
consumidor livre já efetuou o recolhimento do imposto na primeira
operação?
2 – Em relação à energia comprada para revenda de gerador
(concessionária ou permissionária) localizado em Minas Gerais, pergunta-
se:
2.1 – Esta operação está amparada pelo diferimento do ICMS?
2.2 – Quando realizar a revenda dessa energia para fora do Estado, deverá
fazer o recolhimento do ICMS diferido, ainda que a venda seja destinada
para comercialização e não consumo final?
2.3 – Quando realizar a revenda dessa energia para fora do Estado, para
consumidor final, haverá o recolhimento do ICMS?
2.4 – O recolhimento de que trata o questionamento anterior, se devido,
será realizado apenas para o estado de destino?
2.5 – Caso a revenda da energia seja para dentro do Estado, para
comercialização e não consumo final, permanecem os efeitos do
diferimento?

RESPOSTA:
Preliminarmente, importa salientar que o diferimento do pagamento do
ICMS na saída interna de energia elétrica está amparado pelo item 37 da
Parte 1 do Anexo li do RICMS/2002 da seguinte forma:

ANEXO II
PARTE 1
DO DIFERIMENTO

150
(a que se refere o artigo 8º deste Regulamento)
ITEM HIPÓTESES/CONDIÇÕES
37 Saída de energia elétrica:
a) do estabelecimento gerador:
a.1) para estabelecimento industrial do mesmo titular, para consumo no
respectivo processo de industrialização;
a.2) para estabelecimentos de suas consorciadas, na hipótese da atividade
ser explorada mediante consórcio;
b) para empresa concessionária ou permissionária de energia elétrica.
* item renumerado nas alterações do decreto para “33”
Vale esclarecer que o diferimento não é benefício fiscal, mas sim uma
técnica de tributação consistente na postergação do lançamento e
pagamento do imposto. Apesar de ocorrerem sem débito do ICMS, as
operações com diferimento são consideradas tributadas, uma vez que não
se trata de desoneração fiscal.
Observa-se que, com a concessão do diferimento do ICMS devido pela
saída de energia elétrica em operação interna, houve apenas o adiamento
do pagamento do imposto para outra etapa da cadeia de circulação, com a
expectativa de que em uma das operações posteriores haveria a incidência
do imposto.
Assim, visando a efetivação desta incidência, há a previsão no inciso I do
art. 12 do RICMS/2002 de que encerra o diferimento do pagamento do
ICMS quando a operação com a mercadoria recebida com o imposto
diferido, ou com outra dela resultante, promovida pelo adquirente ou
destinatário daquela, não estiver alcançada pelo diferimento, for isenta ou
não for tributada.
Neste momento será devido o recolhimento do imposto pelo contribuinte
que promover a operação ou a prestação que encerrar a fase do diferimento,
em documento de arrecadação distinto, sem direito ao aproveitamento do
valor correspondente como crédito do imposto, conforme previsão contida
nos arts. 13 e 15 do RICMS/2002.
Ressalte-se, por oportuno, que o diferimento previsto na alínea “b” do item
37 da Parte 1 do Anexo II do RICMS/2002 não especifica o remetente,
apenas qualifica o destinatário da energia elétrica, podendo ser
concessionária ou permissionária de energia elétrica.
Por outro lado, é importante também destacar que, sob o enfoque da
unidade da Federação de origem, as operações que destinem petróleo,
inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados e
energia elétrica a outras unidades da Federação, não estão sujeitas à
incidência do ICMS, nos termos da alínea “b” do inciso X do § 2° do art.
155 da Constituição Federal de 1988.
Em relação à unidade Federada de destino, a tributação sobre tais produtos
ocorrerá no momento da entrada no seu território, desde que não sejam
destinados à comercialização ou industrialização do próprio produto,
conforme inciso III do § 1° do art. 2° da Lei Complementar nº 87/1996.
Caso contrário, a tributação ocorrerá por ocasião da subsequente saída
interna, observada a legislação do estado de destino.
Feitos estes esclarecimentos, passa-se a responder aos questionamentos
formulados.
1.1 – Sim. A Consulente informa que é concessionária ou permissionária
de energia elétrica, sendo assim, a operação interna de saída de energia

151
elétrica com destino à Consulente estará sujeita ao diferimento do
pagamento do ICMS, nos termos da alínea “b” do item 37 da Parte 1 do
Anexo lI do RICMS/2002, ainda que adquira a mercadoria de consumidor
livre estabelecido em Minas Gerais.
1.2 e 2.2 – Sim. De acordo com o exposto inicialmente, na operação que
destine energia elétrica a outra unidade da Federação não há incidência do
ICMS para a unidade da Federação de origem, por determinação
constitucional.
Por sua vez, o inciso I do art. 12 do RICMS/2002 determina que encerra o
diferimento do pagamento do ICMS quando a operação posterior com a
mercadoria recebida com o imposto diferido, promovida pelo adquirente
ou destinatário, não for tributada.
Nestes termos, havendo operação interna de diferimento do pagamento do
ICMS, e posterior saída em operação interestadual, independentemente do
destino a ser dado à energia elétrica, deverá haver o recolhimento do
imposto diferido, em documento de arrecadação distinto e sem direito ao
aproveitamento do valor correspondente como crédito do imposto, nos
termos dos arts. 13 a 15 do RICMS/2002.
Em relação ao enquadramento no inciso IV do art. 5° do RICMS/2002, que
prevê a não incidência do imposto na operação interestadual com energia
elétrica quando for destinada à comercialização ou à industrialização do
próprio produto, ocorrendo tal hipótese, conforme aqui questionado,
aplica-se a não incidência prevista no referido inciso.
1.3 – Sim. Nos termos da resposta anterior, independentemente do destino
a ser dado à energia elétrica, deverá haver o recolhimento do imposto
diferido, em documento de arrecadação distinto e sem direito ao
aproveitamento do valor correspondente como crédito do imposto.
A Consulente também questiona se estaria havendo bitributação na
situação relatada. Contudo, para fins de elucidação da dúvida, é necessário
distinguir o " bis in idem" da bitributação. Ocorre a bitributação quando
entes tributantes diversos exigem do mesmo sujeito passivo tributo
decorrente do mesmo fato gerador. Por outro lado, o “bis in idem” ocorre
quando uma pessoa jurídica de direito público tributa mais de uma vez o
mesmo sujeito passivo sobre o mesmo fato gerador.
Na situação exposta não há ocorrência do " bis in idem" nem da
bitributação, uma vez que o diferimento é apenas a postergação do
pagamento do imposto para uma etapa posterior, cuja mercadoria sairá
isenta ou não tributada, nos termos do inciso I do art. 15 do RICMS/2002.
Ressalte-se que o imposto diferido a ser recolhido refere-se apenas à
operação de venda realizada pelo consumidor livre para a Consulente (para
a qual não houve qualquer recolhimento do ICMS por força do
diferimento). Eventual incidência prévia do imposto, quando da aquisição
da energia pelo consumidor livre, certamente ensejou para esse
consumidor o aproveitamento do crédito correspondente.
2.1 – Sim. O fornecimento de energia elétrica de uma para outra empresa
concessionária ou permissionária estará sujeito ao diferimento do
pagamento do imposto devido para o momento do fornecimento da energia
ao consumidor, nos termos do art. 49 da Parte 1 do Anexo IX do
RICMS/2002.
2.3 e 2.4 – Infere-se, no contexto dos questionamentos, que a dúvida reside
no recolhimento do ICMS diferido na operação interna mencionada pela

152
Consulente. Se assim for, aplica-se a mesma resposta aos questionamentos
n°s 1.2, 1.3 e 2.2, devendo o recolhimento ser efetuado na integralidade
para este Estado, nos termos ali dispostos.
Caso se refira ao recolhimento do ICMS devido ao estado de destino, em
decorrência da entrada de energia elétrica em seu território, não destinada
à comercialização ou industrialização, nos termos do inciso III do § 1° do
art. 2° e alínea “g” do inciso I do art. 11, ambos da Lei Complementar nº
87/1996, a Consulente deverá consultar o ente Federado correspondente,
notadamente quanto à sujeição ao regime da substituição tributária, em
decorrência do disposto no inciso li do§ 1° e§ 2° do art. 9° da citada Lei
Complementar e do Convênio ICMS nº 83/2000.
2.5 – Nesta situação, a subsequente operação interna somente estará sujeita
ao diferimento se ocorrer a saída de energia elétrica para estabelecimentos
de suas consorciadas, na hipótese da atividade ser explorada mediante
consórcio, considerando que a Consulente é estabelecimento gerador, nos
termos da subalínea “a.2” do item 37 da Parte 1 do Anexo II do
RICMS/2002, ou para outra empresa concessionária ou permissionária de
energia elétrica, desta feita com supedâneo na alínea “b” do citado item e
no art. 49 da Parte 1 do Anexo IX do RICMS/2002.
Caso contrário, em regra haverá a tributação normal da operação,
observadas as demais disposições da legislação tributária.
Cumpre informar, ainda, que a Consulente poderá utilizar os
procedimentos relativos à denúncia espontânea, observando o disposto nos
arts. 207 a 211-A do Regulamento do Processo e dos Procedimentos
Tributários Administrativos (RPTA), aprovado pelo Decreto nº
44.747/2008, caso não tenha adotado os procedimentos acima expostos.
Por fim, se da solução dada à presente consulta resultar imposto a pagar,
este poderá ser recolhido sem a incidência de penalidades, observando-se
o prazo de 15 (quinze) dias contados da data em que a Consulente tiver
ciência da resposta, desde que o prazo normal para seu pagamento tenha
vencido posteriormente ao protocolo desta consulta, observado o disposto
no art. 42 do RPTA.

DOT/DOLT/SUTRI/SEF, 22 de abril de 2019.

Valdo Mendes Alves


Assessor
Divisão de Orientação Tributária

Ricardo Wagner Lucas Cardoso


Coordenador
Divisão de Orientação Tributária

De acordo:
Ricardo Luiz Oliveira de Souza
Diretor de Orientação e Legislação Tributária

De acordo:
Marcelo Hipólito Rodrigues
Superintendente de Tributação.

153
O esforço jurídico empreendido pela administração da Cemig para praticar o
planejamento tributário abusivo foi imenso, contrariando normas da própria empresa e da
Lei Federal nº 13.303, de 30/6/2016, além de terem sido assumidos riscos de recolhimento
do imposto acrescido de juros e multas.
O parecer jurídico, datado de 29/8/2020, faz menção à necessidade de celebração
de termo aditivo para que a Cemig possa utilizar o endereço dos seus espaços como
domicílio fiscal ou de outra forma nomear tal endereço como endereço legal de acordo com
a legislação aplicável. Assim, como o item 12 da PD nº 160/2020 faz previsão expressa do
uso do espaço como domicílio fiscal, faltou a apresentação na documentação enviada a esta
CPI da comprovação da celebração do referido termo aditivo.
Além disso, na conclusão do referido parecer jurídico, é mencionado que, para o
processo de contratação, é importante observar as razões que fundamentaram a deliberação
da Diretoria Executiva na PD nº 160/2020 (abertura de filial e transferência de domicílio
fiscal, com efetiva transferência das atividades de comercialização de energia para aquele
local, para obtenção de benefícios tributários, para mitigação dos riscos tributários
mencionados no Parecer JE/TC – 27.551/2019), bem como a regular gestão das despesas
oriundas dos serviços adicionais que são disponibilizados no contrato a ser celebrado.
Finalmente é importante esclarecer que a Cemig é uma empresa estatal cujo maior
acionista é o Estado de Minas Gerais, exatamente quem seria lesado pelo planejamento
tributário abusivo a ser praticado. Se, por um lado, a administração criava uma forma de se
eximir do recolhimento do imposto, valendo-se de meio aparentemente legal para atingir
tal objetivo, essa mesma administração não demonstra preocupação com os prejuízos
causados aos cofres do seu maior investidor e controlador, o Estado de Minas Gerais.
O pensamento adotado para tratar tal questão desconhece os limites da lei, que, para
evitar procedimentos que levam à sonegação do imposto, se vale de artifícios para
dissimular a ocorrência do fator gerador do tributo, bem como a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação tributária. O Fisco estadual desqualificará tais artifícios
observando o disposto no art. 116 da Lei nº 5.172, de 1966, que dispõe:
Art. 116 – Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o
fato gerador e existentes os seus efeitos:
I – tratando-se de situação de fato, desde o momento em que se verifiquem
as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que
normalmente lhe são próprios;

154
II – tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja
definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.
Parágrafo único – A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos
ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a
ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem
estabelecidos em lei ordinária.

A decisão tomada pela Cemig nesse ato lesivo ao Estado de Minas Gerais sujeita os
responsáveis ao enquadramento nas sanções previstas na Lei Federal nº 8.429, de 1992,
que dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade
administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 da Constituição Federal; e dá outras
providências.
Além da lesão ao erário estadual, o ato praticado pela Diretoria Executiva da
companhia trará em momento futuro um prejuízo à própria empresa, pois o que se
considerava ganho financeiro capaz de justificar os gastos para constituição de um
estabelecimento em outro estado passa a ser um custo extra para a empresa, visto que o
valor do imposto será cobrado acrescido de juros e multa.

2.6 Da contratação da Kroll Associates Brasil Ltda. para serviços técnicos


especializados de assessoria forense e econômico-financeira

Em outra importante linha de investigação relacionada às contratações de empresas


prestadoras de serviços sem licitação, a Comissão Parlamentar de Inquérito apurou
informações sobre a contratação, pela Cemig, de diversas firmas do setor, com destaque
para a Kroll Associates Brasil Ltda., empresa que tem origem norte-americana.
Por meio da aprovação do RQC nº 9.680/2021, a Comissão Parlamentar de
Inquérito requisitou ao diretor-presidente da Companhia Energética de Minas Gerais cópia
integral da inexigibilidade de Licitação nº 500-E15249, Contrato nº 4320000074, celebrado
com a empresa Kroll Associates Brasil Ltda. Também foram tomados diversos
depoimentos relevantes sobre esse contrato e intercorrências da atuação da Kroll na Cemig.
Em resposta ao mencionado requerimento, a Cemig encaminhou a esta CPI os
documentos relativos ao processo de contratação da referida empresa para a prestação de
serviços técnicos especializados de assessoria forense e econômico-financeira.

155
Em resposta aos RQCs nºs 10.117 e 10.124, também encaminhou documentos e
informações complementares acerca da contratação em exame.
Por fim, a testemunha Daniel Polignano Godoy encaminhou a esta CPI cópia de
gravação do circuito interno de TV da Cemig, registrando a invasão da Kroll a sua estação
de trabalho.
Diante da análise de todos os documentos e informações encaminhadas aos autos
desta CPI, inclusive dos depoimentos colhidos, foi possível apurar que:
✓ a Kroll foi contratada verbalmente pelos diretores de regulação jurídica e de
compliance, riscos corporativos e controles internos, sem a instauração de qualquer
processo licitatório ou de dispensa/inexigibilidade de licitação, tendo supostamente
iniciado a prestação dos serviços em 30/11/2020;
✓ os serviços contratados consistem no assessoramento forense e econômico-
financeiro e prestação de serviços de natureza técnica especializada, relacionados
aos procedimentos de investigação interna e externa pelo valor total de
R$3.476.042,92 (três milhões, quatrocentos e setenta e seis mil, quarenta e dois
reais e noventa e dois centavos);
✓ a necessidade dos serviços teria surgido a partir de ofícios do Ministério Público do
Estado de Minas Gerais, recebidos pela Cemig no início de novembro de 2020, que
solicitavam informações e documentos à companhia para instrução dos Inquéritos
Civis MPMG-0024.20.005087-0 e MPMG-0024.06.000003-1;
✓ teria sido elaborado pela Cemig um “Plano de Trabalho” com o objetivo de elucidar
os fatos objeto dos mencionados inquéritos civis e de contribuir para a preservação
do patrimônio público e do patrimônio da Cemig, colaborando com o Ministério
Público Estadual e com outras autoridades de fiscalização e controle locais e
internacionais, especialmente o Department of Justice e a Securite and Exchange
Commission;
✓ embora iniciada a prestação dos serviços em 30/11/2020, a instauração do
processo de inexigibilidade de licitação e a celebração do contrato de prestação de
serviços foi firmado apenas em 23/4/2021, ou seja, praticamente cinco meses após
o seu suposto início;

156
✓ a Kroll, mesmo sem qualquer cobertura contratual e nem mesmo assinatura de
termo de confidencialidade, teve acesso a documentos, dados e informações
sensíveis e sigilosas da Cemig, tendo inclusive promovido a coleta de
computadores e telefones funcionais de empregados da companhia, mesmo ainda
sob esta condição precária de contratação verbal.

Apresentado um breve resumo dos fatos apurados, passamos a indicar os indícios de


ilegalidades envolvendo a mencionada contratação.

a) Da irregularidade da contratação direta. Inexigibilidade de licitação sem o


preenchimento dos requisitos legais. Improbidade administrativa. Conduta em tese
passível de enquadramento no crime de contratação direta ilegal (art. 337-E do
Código Penal)

a.1) Ausência de prévia instauração do processo de inexigibilidade de licitação.


Urgência inexistente e forjada. Contratação precária e verbal com comprometimento
de informações sigilosas da companhia

Como já explicado em capítulos anteriores, a Lei Federal nº 13.303, de 30/6/2016,


consagrou a regra da licitação prévia como exigência das contratações realizadas pelas
estatais.
O art. 28 da citada lei federal prevê que os contratos de obras e serviços celebrados
por elas devem ser precedidos de licitação, ressalvadas apenas as hipóteses previstas nos
arts. 29 e 30 da mesma lei federal.
O art. 29 prevê as hipóteses em que a licitação pode ser dispensada, enquanto o art.
30 prevê as hipóteses nas quais a licitação é inexigível, por inviabilidade de competição.
Todavia, em ambos os casos, como já visto e explicado neste relatório da CPI, não
é possível a contratação direta sem a prévia instauração de um procedimento administrativo
de sua justificação, o qual deverá ser instruído com a razão da escolha do fornecedor, a
justificativa do preço e a demonstração do seu enquadramento em dispensa ou
inexigibilidade de licitação.

157
A doutrina é pacífica quanto ao entendimento de que:
a contratação direta não significa o afastamento dos princípios básicos
que orientam a atuação administrativa. Nem autoriza escolhas
prepotentes ou arbitrárias. O administrador está obrigado a seguir um
procedimento administrativo determinado, destinado a assegurar
(também nesses casos) a prevalência dos princípios jurídicos
fundamentais. Permanece o dever de realizar a melhor contratação
possível, dando tratamento igualitário a todos os possíveis contratantes.
Portanto, a contratação direta não significa eliminação de dois postulados
consagrados a propósito da licitação. O primeiro é a existência de um
processo administrativo. O segundo é a vinculação estatal à realização de
suas finalidades. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de
Licitações e Contratações Administrativas. Revista dos Tribunais. Nova
Lei 14.133/2021, São Paulo, 2021, p. 938).

Porém, o comportamento dos gestores responsáveis pela contratação da Kroll


demonstra o seu total desprezo a essa regra básica das contratações públicas, inclusive das
realizadas por estatais. Eles tentam justificar a convalidação da sua contratação, cinco
meses após o suposto início da prestação dos serviços, sob a alegação de que ela estaria
fundada em hipótese de inexigibilidade de licitação.
Aliás, é importante registrar que esse comportamento de desprezo total às regras
procedimentais das contratações de serviços de consultoria e assessoria técnicas/jurídicas
é uma marca dos gestores que participaram dessa contratação. Como visto neste relatório,
a prática da contratação verbal e precária com posterior convalidação é quase que uma
rotina, configurando regra, e não exceção, para os mencionados gestores, o que obviamente
contribui para a configuração da conduta dolosa ou no mínimo uma culpa grave pelo
descumprimento reiterado das exigências legais de formalização e justificação das
contratações.
A respeito do tema, cabe novamente trazer aqui o que dispõe o Regulamento Interno
de Licitações e Contratos da Cemig, que, como já dissemos, é claro acerca da
obrigatoriedade da prévia instauração de um procedimento administrativo, devidamente
instruído de informações e documentos capazes de fundamentar a não realização do
processo licitatório. É o que se extrai do seu art. 22:
Art. 22. O processo de contratação direta, por inexigibilidade ou dispensa
de licitação, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:
I. descrição do objeto da contratação;
II. caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa,
quando for o caso;

158
III. razão da escolha do fornecedor ou do executante;
IV. justificativa do preço, que comprove adequação com os preços
praticados no mercado, observando-se pelo menos um dos seguintes
aspectos:
a) cotações de preços junto a outros fornecedores; ou
b) comparação de preços, em contratos similares havidos pelo próprio
fornecedor junto a outros clientes;
c) outros elementos que permitam a verificação da compatibilidade de
preços com o mercado, desde que observadas as peculiaridades da
contratação.
Parágrafo único. Deverão estar contidos no processo de contratação direta,
ainda:
I. a autorização para a contratação direta, observados os limites de
deliberação da autoridade competente, nos termos de normativos internos
da CEMIG; e
II. o reconhecimento da situação de dispensa ou inexigibilidade.

Como bem leciona Marçal Justen Filho, anteriormente citado:


Ausência de licitação não significa desnecessidade de observar
formalidades prévias (tais como a verificação da necessidade e
conveniência da contratação, a disponibilidade de recursos etc.). Devem
ser observados os princípios fundamentais da atividade administrativa,
buscando selecionar a melhor contratação possível, segundo os
princípios da licitação. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei
de Licitações e Contratações Administrativas. Revista dos Tribunais.
Nova Lei 14.133/2021, São Paulo, 2021, p. 945).

E continua o autor explicando que:


A ausência de licitação não equivale a contratação informal, realizada
com quem a Administração bem entender, sem cautelas nem
documentação. Ao contrário, a contratação direta exige um procedimento
administrativo prévio, em que a observância de etapas e formalidades é
imprescindível. Somente em hipóteses limite é que a Administração
estaria autorizada a contratar sem o cumprimento dessas formalidades.
Seriam aqueles casos de emergência tão grave que a demora, embora
mínima, pusesse em risco a satisfação dos valores a cuja realização se
orienta a atividade administrativa. (JUSTEN FILHO, Marçal.
Comentários à Lei de Licitações e Contratações Administrativas. Revista
dos Tribunais. Nova Lei 14.133/2021, São Paulo, 2021, p. 945).

A despeito disso, especificamente quanto à contratação da Kroll para a prestação


dos serviços de assessoramento forense e econômico-financeiro, é fato incontroverso que
os gestores não observaram as citadas regras legais e regulamentares, tendo promovido
uma contratação verbal, totalmente informal e arbitrária, com escolha subjetiva da empresa,

159
sem qualquer justificativa prévia da escolha do fornecedor, dos valores cobrados e muito
menos do enquadramento da situação na hipótese legal de inexigibilidade de licitação.
Na análise dos elementos colhidos, evidencia-se que a contratação da Kroll pela
cifra milionária superior a R$3 milhões se deu de forma verbal pelo diretor de regulação e
jurídico Eduardo Soares, conjuntamente com o diretor adjunto de compliance, sem a prévia
aprovação da diretoria executiva.
É importante chamar atenção para os motivos registrados na Proposta de
Deliberação nº 025/2021, os quais supostamente justificariam a contratação verbal da Kroll
com início de prestação de serviços mesmo sem a prévia instauração de um processo de
inexigibilidade e assinatura contratual:
(...) Em razão da premência das providências, da complexidade e
especificidade da matéria e, mormente, da necessidade de sigilo absoluto
dos procedimentos investigatórios (pelo menos até que medidas
acautelatórias internas de preservação de provas e documentos), os
serviços foram iniciados ainda em dezembro de 2020. Não obstante a
impossibilidade da contratação imediata, previamente ao início dos
trabalhos, é mister esclarecer que o escritório iniciou a prestação dos
serviços depois de ter sido aprovada a proposta de prestação de serviços
jurídicos enviada à Cemig. Nessa perspectiva, a convalidação dos atos
praticados até a presente data é medida possível e necessária, prevista no
art. 85, § 1º, do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da CEMIG
(por analogia, também no art. 55 da Lei Federal nº 9.784/99 e no art. 66 da
Lei Estadual nº 14.184/2020, tendo em vista não ter acarretado qualquer
prejuízo à Companhia, ao contrário, o contrato não foi firmado
previamente ao início dos trabalhos para necessidade inafastável da
preservação do sigilo das investigações).

Preliminarmente, cabe destacar que a urgência supostamente aventada não se


afigura como suficiente para justificar a dispensa da formalização de um procedimento
administrativo. O caso em questão não envolveu a contratação de serviços, execução de
obras ou aquisição de bens para fazer frente a uma calamidade pública ou a um evento
imprevisível ou de dimensões imprevisíveis que não fosse capaz de aguardar alguns dias
até a devida formalização do procedimento.
O argumento da urgência chega a ser contraditório à própria natureza do serviço
prestado que supostamente é complexo, singular e demanda um tempo considerável para a
sua conclusão. Sendo assim, por óbvio, não é crível que o início da prestação de um serviço
tão complexo, especializado e delicado não tenha sido precedido de longas conversas e

160
alinhamentos importantes entre os requisitantes do serviço e a empresa contratada, além,
claro, de todas as cautelas necessárias para se resguardar a confidencialidade das
informações a que a Kroll passaria a ter acesso.
A situação é tão grave que a empresa só veio a assinar um termo de
confidencialidade acerca das informações e dados por ela acessados e recebidos
praticamente cinco meses após o início da prestação dos serviços, conforme se vê do anexo
V do Contrato assinado em 23/4/2021.
Outra falácia apresentada para justificar a contratação às pressas da Kroll seria a
necessidade premente de responder às requisições contidas nos ofícios enviados pelo
Ministério Público do Estado de Minas Gerais.
Ora, basta uma leitura dos mencionados ofícios para se constatar que eles não
trazem em si qualquer dificuldade técnica para sua resposta a ponto de demandar a
contratação de uma consultoria milionária.
Pelo contrário, as informações e documentos requisitados pelo Ministério Público
nos mencionados dois ofícios são bastante simplórias e objetivas, bastando um
levantamento nos arquivos da companhia que poderia e deveria ter sido feito pelos seus
empregados internos, mantendo-se o sigilo quanto aos possíveis investigados.
Não há como aceitar a alegação de que a urgência de resposta ao Ministério Público
impossibilitou a formalização da inexigibilidade de licitação para a contratação da Kroll,
tornando-a extremamente urgente a ponto de não ser possível aguardar poucos dias de
instauração e conclusão.
Reforçando a conduta açodada dos gestores na promoção da contratação verbal e
precária milionária dessa empresa, tem-se que os fatos objeto dos inquéritos instaurados
pelo Ministério Público são fatos antigos.
Chama a atenção ter sido um dos inquéritos (MPMG 0024.06.0000003-1)
instaurado em 2006, apurando fatos supostamente ocorridos nos idos de 2002 até a data da
sua instauração, ou seja, há mais de uma década.
O processo de convalidação da contratação verbal e precária da Kroll sequer explica
a urgência da apreensão de computadores e telefones corporativos que não fosse capaz de
aguardar a devida aprovação do plano de trabalho apresentado por ela e pela formalização

161
contratual que resguardaria a Cemig quanto ao acesso de informações tão sigilosas e
sensíveis à companhia por uma empresa privada.
A conduta adotada pelos gestores responsáveis por essa contratação claramente
violou o dever de controle de acesso às informações sigilosas (art. 25 da Lei Federal nº
12.527, de 2011), conferindo seu acesso à empresa privada sem a adoção de qualquer
procedimento prévio de credenciamento com resguardo necessário quanto ao tratamento e
sigilo das informações.
A formalização do processo administrativo prévio à contratação da Kroll poderia e
deveria ter sido instaurada, não havendo como se sustentar uma urgência extrema que não
pudesse esperar um ou dois dias de instauração e conclusão.
Ademais é preciso esclarecer que a “confidencialidade” também não configura
motivo para dispensar a instauração e formalização do processo administrativo.
Se o setor requisitante do serviço entende que a contratação merece sigilo, não
podendo ser desvendado o seu objeto, bastaria, por óbvio, conferir o grau de sigilo
necessário ao procedimento instaurado, justificando-o. Na realidade, se confidencialidade
existia na prestação dos serviços, mais um motivo para se exigir a prévia formalização do
procedimento de contratação direta. Isso porque, como já explicado, a empresa escolhida
já deveria, de antemão, firmar compromissos de confidencialidade, sob pena de sanções
contratuais e legais, o que obviamente só se tem após a efetiva assinatura de contrato entre
as partes.
No caso da Kroll, em que pese o início dos serviços remontar a 30/11/2020, o termo
de confidencialidade data de 23/4/2021.
A postura correta a ser adotada em caso de sigilo jamais seria a contratação às
escuras, por meio verbal e informal, mas, sim, nos termos da Lei Federal nº 12.527, de
2011, conferir a adequada oficialidade e formalização do processo de contratação,
promovendo o tratamento da informação com a classificação do grau de sigilo cabível e
adequado.
No caso, se a prestação dos serviços de fato exigia sigilo e confidencialidade, a
contratação informal, sem prévia assinatura de contratos e termos de compromissos entre
a Cemig e a empresa contratada, configura risco grave ao interesse público, não existindo

162
garantias mínimas que tornassem minimamente segura a sua prestação de forma precária,
com vínculos verbais travados entre diretores e representantes da empresa Kroll no Brasil.
Portanto, a confidencialidade exigida na prestação dos serviços é mais um motivo
para se exigir a prévia instauração do processo administrativo antes do início da contratação,
não se podendo confundir a “confidencialidade” com a “informalidade”. Do contrário, não
há como se garantir que a empresa escolhida e contratada, que terá amplo acesso a
informações privilegiadas, efetivamente manterá a confidencialidade adequada.
A ausência de formalização de processo de inexigibilidade de licitação é situação
excepcionalíssima que só pode ser admitida em situações drásticas nas quais a urgência da
contratação é tão relevante que não há tempo hábil de se aguardar alguns dias para a
formalização da situação, sob pena de perecimento de direitos.
O descaso com a norma legal e regulamentar da Cemig, que exige expressamente a
formalização do processo, é conduta flagrantemente ilegal, imoral e ineficiente,
comprometendo o interesse público e tornando as contratações uma prática de escolhas
subjetivas e sem controle.
Este fato, por si só, já configura ilegalidade e, portanto, necessidade de
responsabilização dos gestores que promoveram a contratação direta verbal, sem prévia
instauração do devido procedimento previsto na Lei das Estatais e no próprio Regulamento
Interno de Licitações e Contratos, colocando em risco os interesses da companhia.
Independentemente da discussão acerca da viabilidade ou não da futura
convalidação, o fato é que os gestores responsáveis pela sua realização sem a devida e
prévia instauração do procedimento administrativo devem ser responsabilizados pela
ilegalidade.

a.2) Ausência de demonstração da notória especialização da Kroll e da equipe


empregada nos serviços contratados

Conforme indicado na Proposta de Deliberação nº 25/2021, que justificou a


contratação direta e verbal da Kroll, a sua realização foi fundamentada no art. 30, inciso II,
alínea “c”, da Lei Federal nº 13.303, de 2016.

163
Trata-se da contratação direta, por inexigibilidade de licitação, de serviços técnicos
especializados, com profissionais ou empresas de notória especialização, especialmente
para assessorias e consultorias técnicas.
Nos termos do mencionado dispositivo, considera-se “notória especialização o
profissional ou a empresa cujo conceito no campo de sua especialidade, decorrente de
desempenho anterior, estudos, experiência, publicações, organização, aparelhamento,
equipe técnica ou outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o
seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto
do contrato”.
Exatamente em razão da exigência de notória especialização, o art. 22, inciso III,
do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig exige que no procedimento
de inexigibilidade de licitação seja devidamente apresentada a “razão da escolha do
fornecedor ou executante”.
Especificamente, quanto a notória especialização da Kroll para a execução dos
serviços contratados, não foram apresentados quaisquer documentos capazes de comprovar
a sua existência, seja pela empresa ou pela equipe de profissionais alocada.
Pelo contrário, não há nos autos da convalidação qualquer documento que
comprove que a Kroll Associates Brasil Ltda. possui em seus quadros profissionais com
toda a qualificação necessária para desempenhar de forma adequada as investigações
contratadas.
Tanto na Proposta de Deliberação nº 25/2021 como na proposta apresentada pela
empresa, existem apenas vagas menções honrosas a ela e a sua equipe.
Não há, contudo, sequer a apresentação dos integrantes da equipe alocada na
prestação dos serviços, demonstrando a sua notória especialização nos serviços de
consultoria e assessoria contratada.
Também não há nem mesmo a apresentação de documentos ou fontes capazes de
demonstrar experiência anterior exitosa em objeto similar apto a qualificar a Kroll
brasileira e a sua equipe atual como detentora da notória especialização.
Vejamos os trechos vagos, imprecisos e não acompanhados de sustentação
documental mínima constante na Proposta de Deliberação 25/2021 e na proposta comercial
da Kroll, que supostamente demonstrariam sua suposta notória especialização:

164
✓ PD 25/2021
Conforme previsto na legislação, propõe-se a contratação da Kroll a
Divison of Duff&Phelps, fundada em 1972, e a empresa líder em gestão de
riscos, investigações corporativas e segurança cibernética para os setores
público e privado, tendo participado dos maiores casos nacionais e
internacionais de investigações e busca de ativos, cujos profissionais têm
formação em Direito, Contabilidade, Economia, Administração,
Jornalismo, Relações Internacionais e Tecnologia.
A Kroll faz parte do grupo Duff & Phelps, contando com mais de 3.500
empregados, em 28 países, sendo o time operacional do Brasil composto
por cerca de 40 pessoas, cidadãos brasileiros e americanos.

✓ Proposta da Kroll
A Kroll está presente no Brasil (São Paulo) desde 1995
O time operacional da Kroll no Brasil é de 40 pessoas – cidadãos brasileiros
e americanos
Nosso time tem formação em Direito, Contabilidade, Economia,
Administração, Jornalismo, Relações Internacionais e Tecnologia.
(...)
A Kroll é líder no mercado de gestão de riscos e investigações corporativas
desde 1970, tendo participado dos maiores casos nacionais e internacionais
de investigação e busca de ativos.

Como se sabe, a pessoa jurídica é uma ficção do direito, praticando os seus atos por
meio dos seus sócios, empregados e colaboradores.
No caso da Kroll brasileira, a sua contratação decorreria da expertise e credibilidade
das pessoas físicas (sócios, empregados e colaboradores) que compõem o time de
investigação da empresa.
Tanto é que a precificação contida na sua proposta comercial é baseada nas horas
dos profissionais que participarão do projeto: “A precificação considera o escopo descrito
anteriormente e está baseada nas horas dos profissionais que participarão do projeto”.
Contudo, embora a contratação da Kroll tenha sido justificada na notória
especialização do seu time de investigação, supostamente integrado por profissionais com
vasta experiência e conhecimento multidisciplinar, não há, no processo administrativo
de convalidação e nem mesmo no contrato de prestação de serviços celebrado por
convalidação, a indicação dos membros/profissionais que participarão do projeto e
muito menos da comprovação da sua notória especialização.
Não há dúvidas de que o serviço de assessoramento e consultoria contratados
deveria ter como diferencial, para justificar a inexigibilidade de licitação, a alta
qualificação dos profissionais alocados pela empresa.

165
Este ponto não se encontra justificado e muito menos garantido à Cemig.
Não há sequer a definição dos responsáveis técnicos pela execução e prestação dos
serviços aptos a garantir a sua execução com a notória especialização que originou a
milionária contratação da Kroll.
Definitivamente, não há nos autos comprovação capaz de demonstrar a notória
especialização dos profissionais envolvidos no projeto: nem mesmo os seus nomes foram
revelados, não existindo na minuta contratual celebrada qualquer previsão que resguarde a
atuação e execução em todos os atos contratados por profissionais com a devida notória
especialização.
Cabe lembrar que o art. 78, § 3º, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, exige que o
profissional indicado como responsável técnico para fins de comprovação da notória
especialização execute “direta e pessoalmente as obrigações a eles imputadas”.
Em que pese a precificação dos serviços contratados ter levado em conta a suposta
elevada qualificação dos profissionais disponibilizados pela Kroll, com preço de horas
superelevados para cada atividade a ser desenvolvida, não há garantia da sua execução por
time dotado de notória especialização.

a.3) Da ausência de pesquisa de preços

Outra exigência clara e expressa constante no art. 22, inciso IV, do Regulamento
Interno de Licitações e Contratos da Cemig é a de que o processo de contratação direta,
por inexigibilidade de licitação, seja devidamente instruído com a “justificativa do preço,
que comprove adequação com os preços praticados no mercado”.
A adequação deve ser comprovada por meio de cotações de preços junto a outros
fornecedores ou comparação de prelos, em contratos similares havidos pelo próprio
fornecedor junto a outros clientes.
Sob a alegação do sigilo envolvendo o objeto da prestação dos serviços, os gestores
responsáveis pela contratação deixaram de realizar uma pesquisa de preços mediante
cotação com outros fornecedores.
Cabe pontuar que tal motivo não é suficientemente válido para justificar a ausência
de cotação no mercado.

166
Primeiramente porque nada impede a realização de cotação, ainda que genérica, dos
serviços sem a prévia especificação e abertura dos dados sigilosos. A pesquisa genérica
com outros fornecedores é extremamente importante para a aferição da compatibilidade
dos preços com o mercado.
E, em segundo lugar, o sigilo das informações não impede a consulta aos
fornecedores do mercado, bastando, para tanto, a prévia estipulação da confidencialidade
quando do fornecimento das informações necessárias à formulação da proposta, prevendo-
se sanções severas ao seu descumprimento.
Até mesmo porque, quando da consulta à Kroll solicitando a sua proposta, não havia
certeza quanto a sua efetiva contratação. Obviamente, a consulta a essa empresa deveria
ter sido resguardada por documento contendo o dever de confidencialidade para acesso às
informações necessárias à formulação da proposta.
Não se está exigindo aqui a publicação de edital de licitação conferindo publicidade
aos dados sigilosos das investigações pretendidas, mas, sim, ao menos consulta às empresas
do mercado, obviamente cercando-se dos cuidados mínimos necessários.
Está, dessa forma, mais do que provada a falta de responsabilidade e cuidado com
os gastos da companhia por parte dos gestores.
Para tentar justificar a compatibilidade dos preços com o mercado, estes juntaram
aos autos do processo de convalidação três propostas de serviços que a Kroll teria prestado
para outros clientes.
As três propostas de investigação corporativa continham os seguintes preços
globais:
• R$380.000,00 (trezentos e oitenta mil reais);
• R$221.000,00 (duzentos e vinte um mil reais);
• R$536.000,00 (quinhentos e trinta e seis mil reais).

Para dizer que os preços são compatíveis com a proposta de mais de


R$3.000.000,00 apresentada pela Kroll para a Cemig, os gestores tentam utilizar o preço
da hora aplicada aos projetos.
Contudo, obviamente, esse comparativo por preço de hora não demonstra a sua
compatibilidade com os preços de mercado e a especificação do número de horas a ser

167
desenvolvida nas investigações da Cemig foram unilateralmente definidas pela própria
Kroll.
Surpreendentemente, a Cemig não elaborou um termo de referência para definir o
escopo do serviço que precisa e deseja. Pelo contrário, ela foi totalmente subserviente ao
dimensionamento do quantitativo de horas imposto pela Kroll.
Ora, obviamente, essa empresa possui total interesse em ampliar ao máximo o
quantitativo de horas necessários para enfrentamento do objeto, fazendo com que a
investigação se amplie para garantir ao final o seu faturamento. A empresa privada tem
como objetivo máximo o lucro, não sendo diligente por parte da Cemig submeter-se às
condições impostas pela Kroll, não elaborando o seu próprio termo de referência.
Veja que a entrega dos resultados de investigações corporativas com objeto
semelhantes ao da Cemig prestados pela Kroll para outros clientes não chegaram nem
mesmo perto do astronômico e milionário valor por ela cobrado da estatal mineira.
E, sob o raciocínio inexplicável dos gestores de que não poderiam consultar outras
empresas por conta do sigilo das investigações, a Cemig se viu presa e obrigada a se
submeter aos preços e condições da proposta de mais de R$3.000.000,00 (três milhões de
reais) formulada pela Kroll.
A respeito da incompatibilidade dos preços da empresa com o mercado de empresas
de investigação independente, são relevantes os seguintes trechos de depoimentos
testemunhais prestados à CPI (depoimento prestado pela testemunha Fernanda Barroso
Carneiro, representante legal da Kroll Associates Brasil Ltda., na reunião do dia 7/10/2021).
O deputado Professor Cleiton – Em 18/12/2020, a Cemig realizou
uma licitação pública para contratar o serviço de auditoria forense
e investigação corporativa. Participaram dessa licitação um total de
sete proponentes, entre eles a Kroll, o que demonstra ampla
competitividade nesse segmento. A empresa ICTS Protiviti venceu
essa solicitação por R$572.000,00 para um contrato de 12 meses.
Eu queria chamar a atenção desta CPI para esse detalhe aqui: a
empresa ICTS Protiviti venceu essa licitação apresentando o valor
de R$572.000,00 para um contrato de 12 meses, enquanto a Kroll
ficou em quinto lugar, com o preço de R$1.300.000,00. Na data da

168
referida licitação, a Kroll já estava trabalhando informalmente para
a Cemig no contrato de inexigibilidade, que viria a ser assinado em
abril de 2021 por R$3.400.000,00, também por 12 meses. A
senhora saberia explicar por que na licitação o preço da Kroll ficou
o dobro do preço da ICTS? Por que, na inexigibilidade, o preço da
Kroll ficou seis vezes mais caro que o preço da ICTS?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Sr. Deputado, eu não posso
explicar o valor dos nossos supostos concorrentes. O que eu posso
dizer é que a solicitação tinha um escopo diferente da contratação
que foi realizada para investigação relacionada às denúncias dos
ofícios do Ministério Público.
O deputado Professor Cleiton – Exatamente. Essa é uma prática
corriqueira da Cemig, Sra. Fernanda. A Cemig faz a licitação, mas
é cancelada por essa diretoria. Depois de cancelar, ela muda o
escopo, faz inexigibilidade e sai contratando quem a atual diretoria
deseja, ferindo drasticamente a Lei Federal nº 13.303. Então, como
eu disse, a Kroll não tem nada a ver com essa questão.
Comparando os escopos da licitação feitos em dezembro de 2020,
com inexigibilidade formalizada em abril de 2021, notamos que na
licitação vencida pela ICTS não consta a busca de informações
sobre filiação partidária, doações políticas, relação de dívidas, entre
outras. Por que no escopo da Kroll constam esses serviços? O
trabalho da Kroll é mais específico em relação ao trabalho da ICTS?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Sr. Deputado, eu não posso
responder pelo trabalho dos nossos fornecedores. O que eu posso
dizer é que a Kroll atua de acordo com as melhores práticas
nacionais e internacionais e que a diligência de integridade inclui
todos esses pontos que o senhor colocou.
(...) O deputado Professor Cleiton – Eu queria só dizer que o
simples fato – isso é importante – de a Cemig ter feito uma licitação
para serviço de auditoria forense, investigação corporativa, na qual

169
participaram sete proponentes, comprova que havia uma ampla
competitividade e que a contratação por inexigibilidade desse
contrato com a Kroll não encontra amparo legal. De novo, de novo,
nós identificamos um problema aqui. Não merecem prosperar as
alegações da Cemig de que escopos são distintos e de que as
pessoas que fariam a contratação são exatamente as que seriam
investigadas. Queria chamar a atenção para o fato de que basta
ler o Edital de Licitação 500-H14708, vencido pela ICTS
Protiviti, para ficar evidente que era possível licitar o serviço
sem citar a área que seria investigada. Afinal de contas, para esse
tipo de serviço, os preços são cotados por hora do profissional, não
importando se o investigado é da área de suprimentos, do jurídico,
da elétrica, e por aí vai, paga-se por hora.
(...) A deputada Beatriz Cerqueira – Mas o que eu quero mesmo é
chamar a atenção, Presidente, para a Proposta de Deliberação nº
25/2021, que é da Cemig. O que a Cemig nos relata foi muito além
daquilo relatado ou negado pela depoente no âmbito dos trabalhos
da Kroll para a Cemig. Eu quero fazer a leitura de um pequeno
trecho para que as pessoas que estão nos acompanhando
compreendam. Isso é da proposta de deliberação da Cemig que está
assinada pelo Hudson, pelo Luiz Fernando, pelo Eduardo Soares e
pelo Osias da Silva e consta de março de 2021. Diz o seguinte, no
contexto e na análise do que hoje é o contrato da Kroll que nós
estamos investigando: "Desde a recepção das requisições de
informações do Ministério Público, diligenciou-se...". Eu quero
chamar a atenção, relator, para o fato de que várias diligências
foram feitas antes de a Kroll começar a participar das reuniões com
o Ministério Público, várias diligências foram feitas antes da
assinatura do contrato, que só aconteceu em abril, até porque essa
proposta de deliberação é para a assinatura do contrato. Segundo
as novas normas da nova direção, essa proposta inclusive substitui

170
parecer jurídico. A proposta de deliberação assinada pela direção,
em si, basta.

Por fim, quanto ao aspecto do preço da contratação, há também flagrante


ilegalidade e irresponsabilidade dos gestores.
Isso porque, como já demonstramos aqui, além de não terem se preocupado sequer
em elaborar um termo de referência, satisfazendo-se com as condições impostas pela Kroll
(cujo interesse, sem dúvida, é inflar o seu número de horas), não trouxeram o mínimo de
informações da vantajosidade e necessidade do objeto contratado.
Está entre os objetos da investigação a apuração de denúncias de irregularidades
supostamente praticadas por empregados da Cemig no âmbito de licitações e contratos, que
já estão sendo investigadas pelo Ministério Público, uma delas desde 2006.
Não há, todavia, em uma linha sequer da justificativa para a contratação dos
serviços, qual seria a vantagem econômica obtida pela companhia. Um dos supostos
objetivos é o levantamento patrimonial de investigados, para fins de se eventualmente
buscar ressarcimento. Entretanto, os supostos valores a serem buscados superariam o
investimento de mais de R$3.000.000,00 (três milhões de reais) com os serviços da Kroll,
sem contar os custos com os escritórios de advocacia e outras consultorias, também em
cifras milionárias, para o acompanhamento dos procedimentos instaurados no Ministério
Público?
Analisando-se todo o investimento feito pela Cemig em contratações de consultoria
para o enfrentamento do objeto, chega-se à assustadora cifra de R$12.000.000,00 (doze
milhões de reais), englobando a contratação da Kroll (ora em análise); Terra Tavares
(escritório de advocacia); Sampaio Ferraz (escritório de advocacia); e
PricewaterhouseCoopers.
A respeito dessa questão, destaca-se o seguinte trecho de depoimento prestado a
esta CPI:
O deputado Sávio Souza Cruz – A Cemig contratou, para fins de
investigação corporativa, as empresas Kroll, Terra Tavares, Sampaio
Ferraz, PricewaterhouseCoopers. Todas foram contratadas por
inexigibilidade de licitação, ao custo total de R$12.000.000,00. A

171
senhora poderia explicar o escopo de atuação de cada uma, se a
senhora souber, é claro? E, pior, por que a Cemig teve que contratar
quatro empresas para um mesmo objetivo?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Das empresas que o senhor citou,
posso citar apenas o nosso trabalho e acredito que o senhor falou
Sampaio Ferraz, foi isso?
O deputado Sávio Souza Cruz – Também.
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Quais são as outras duas?
O deputado Sávio Souza Cruz – Vamos lá: Kroll; Terra, Tavares,
Sampaio Ferraz; e PricewaterhouseCoopers.
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Não tenho informações sobre o
contrato da Price. Em relação ao Sampaio Ferraz, ele faz parte do
time de investigação independente que investiga as denúncias
relacionadas aos ofícios do Ministério Público; e o Terra, Tavares é
o escritório de advocacia que atua junto com a Cemig para que o
Ministério Público esteja ciente de todas as informações da
investigação.

Obviamente, a imagem da Cemig precisa ser preservada e resguardada, devendo


ser instaurados os devidos procedimentos internos de apuração e para tanto a companhia
possui estrutura própria. Na verdade, sua imagem acaba sendo abalada com as contratações
precárias, verbais e milionárias de serviços de investigação e de escritórios de advocacia
sem a prévia e necessária explicação dos reais motivos dessas contratações e das suas reais
vantagens para a Cemig.
Por fim, a precariedade da contratação verbal da Kroll e até mesmo da convalidação
que não cuidou sequer de elaborar o termo de referência com a delimitação clara do seu
escopo põe em xeque a própria credibilidade dos trabalhos desenvolvidos pela empresa de
investigação.
Esta, no depoimento prestado pela sua representante legal, corrobora a diferença
entre o objeto da contratação descrito na PD nº 25/2021 e a proposta apresentada pela Kroll
e que ela diz ser a verdadeira e aprovada oficialmente:

172
O deputado Sávio Souza Cruz – Toda a contratação por
inexigibilidade da Cemig é precedida de um pedido de deliberação
da diretoria – a famosa PD. Na PD da contratação da Kroll, cita que
o seu escopo é a denúncia sobre suprimentos e lista de Furnas, mas
também o programa Luz para Todos e a Desenvix. A senhora poderia
confirmar se o programa Luz para Todos e a Desenvix estão sendo
investigados pela Kroll?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Não fazem parte do escopo da
investigação. Não estão nos ofícios do Ministério Público de Minas
Gerais recebidos pela Cemig.
O deputado Sávio Souza Cruz – Estão na PD, então a Cemig tem que
responder sobre isso aí, porque foi autorizado dentro de uma PD e
parece que houve um corte de escopo na realização dos trabalhos. A
gente não sabe se no orçamento estava incluído isso ou não. Há um
erro, então, na PD que defende a contratação da Kroll, pois é
informado que o Luz para Todos e a Desenvix fazem parte do escopo
da contratação.
Há indícios de que a Kroll está investigando ex-diretores e ex-
presidentes da Cemig, por exemplo: lista de Furnas, Luz para Todos,
Desenvix são assuntos muito ligados à gestão de governadores do
PSDB na Cemig. A senhora confirma isso? Qual o objetivo de
investigar ex-executivos da Cemig?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Eu não confirmo a informação
que o senhor colocou. Eu não posso entrar em detalhes sobre o
escopo desse projeto, além do que eu já falei sobre o ofício do
Ministério Público.
(...)
O deputado Professor Cleiton – Nobre relator, pela ordem.
O deputado Sávio Souza Cruz – Com a palavra, deputado.
O deputado Professor Cleiton – Voltando à sua pergunta anterior, aí
eu gostaria de perguntar à Sra. Fernanda se ela quer refazer a resposta

173
dela em relação à questão das investigações que a Kroll exerce sobre
ex-diretores e ex-presidentes da Cemig. Não há como negar: a Lista
de Furnas, que envolve diretamente os governos de Aécio Neves e
de Antonio Anastasia, está no escopo do contrato também da
Brascopper e da Toshiba. Não são somente servidores, no caso da
abertura do inquérito do Ministério Público, do setor de compras e
de suprimentos, mas também a Lista de Furnas. Então não dá para
negar isso, nobre relator. Então gostaria de perguntar se a nobre
depoente gostaria de refazer a sua resposta.
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Não gostaria de refazer,
Deputado. Não confirmo essa informação. De acordo com o ofício
do Ministério Público, as investigações de corrupção no
departamento de compras envolvem as empresas Brascopper, Nova
Energia e Toshiba.
O deputado Professor Cleiton – Não há investigação em relação à
Lista de Furnas?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Não confirmo essa informação.
A deputada Beatriz Cerqueira – Não há, ou ela não confirma?
O deputado Professor Cleiton – Não há, ou não confirma?
A deputada Beatriz Cerqueira – São coisas diferentes.
O deputado Professor Cleiton – É, são coisas diferentes.
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Com base no meu conhecimento,
não há essa investigação que o senhor está mencionando.
(...) O deputado Professor Cleiton – A outra pergunta: consta da
proposta de deliberação e da proposta da Kroll para a Cemig a
investigação de um inquérito civil de 2006 que envolve a Lista de
Furnas, também o caso Toshiba e um inquérito civil, de 2020, sobre
a área de suprimentos. Não consta expressamente no contrato, mas,
segundo a depoente, esses serviços – Furnas e Toshiba – não estão
sendo feitos. Correto?

174
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Eu não posso dar detalhes sobre
o escopo da investigação, como eu aqui já coloquei. O ofício do
Ministério Público citava, sim, Toshiba, e eu comentei aqui que
houve alterações de escopo ao longo do projeto.
O deputado Professor Cleiton – Então a minha pergunta: nesse caso,
a Kroll está recebendo por um serviço que não está sendo prestado?
Será que a depoente gostaria de ir até o computador e verificar os
documentos que constam dessa proposta? A Lista de Furnas está ou
não entre os serviços prestados pela Kroll junto à Cemig?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Sr. Deputado, eu não preciso
olhar proposta porque fui eu mesma que preparei slide a slide e sei
exatamente o que está lá.
O deputado Professor Cleiton – Mas não é slide, não; é proposta de
deliberação.
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – O escopo do trabalho da Cemig,
depois de reuniões realizadas com o Ministério Público de Minas
Gerais, foi modificado. Por isso que eu disse ao senhor que o caso
Toshiba e o caso Lista de Furnas não são prioridades nessa
investigação. Isso foi algo decidido em conjunto com o Ministério
Público de Minas Gerais.
O deputado Professor Cleiton – Não são prioridades, mas estão sob
investigação então?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Do Ministério Público, sim.
O deputado Professor Cleiton – A Kroll não tem envolvimento, então?
A Sra. Fernanda Barroso Carneiro – Nós não temos envolvimento.
(...) A deputada Beatriz Cerqueira – De fato, há uma série de
contradições entre as informações e os depoimentos daqueles que
são ligados à Cemig, seja da própria direção da empresa, seja de
documentos que foram encaminhados, e o depoimento hoje, no caso,
da representante da Kroll. (...) No escopo do trabalho também há
contradições. A Kroll afirma que, por exemplo, a Lista de Furnas não

175
estaria no escopo do trabalho. A Cemig afirmou, por documentos,
por exemplo, que a Lista de Furnas estaria no escopo do trabalho.
(...) "Desde a recepção das requisições de informações do Ministério
Público, diligenciou-se para a identificação da extensão e dos atuais
limites da apuração a ser efetuada, sobretudo porque abrange fatos
que datam de mais de 10 anos, relacionados a investigações que
ganharam repercussão internacional – entre parentes – (Lista de
Furnas, além de outras que teriam ocorrido em data próxima, mas
anteriores à assunção da atual administração) e que se referem a
supostos ilícitos praticados por agentes de superintendência de
suprimentos". Aqui nós vamos ver, ainda na proposta de deliberação
da Cemig, a realização de diligências pela Kroll, que foram feitas
antes da assinatura do contrato, quando ela foi fazer a identificação
do quanto seria necessário apurar. Então: "A diligência feita pela
Kroll revelou que os fatos, objeto dos referidos inquéritos civis, não
são os únicos a serem apurados e podem estar associados a
investigações e procedimentos anteriormente realizados, porém sem
sucesso no âmbito da própria companhia, indispensável" – estou
lendo – "indispensável à imediata coleta de computadores, telefones
funcionais e outras diligências".
A defesa da coleta de computadores, telefones funcionais e outras
diligências está justificada após a diligência da Kroll, que revelou
que os fatos, objeto dos referidos inquéritos policiais, não são os
únicos. Para o que eu quero chamar a atenção é que, quando da coleta
dos computadores, telefones funcionais e outras diligências, os
objetivos das diligências da Kroll já eram superiores, já eram
maiores do que aqueles no âmbito da investigação do Ministério
Público, e todo mundo fala que a Kroll só está contratada de acordo
com os ofícios do Ministério Público.

176
Ainda sobre a precariedade do objeto de investigação que motivou a contratação da
Kroll, são relevantes os depoimentos do diretor adjunto de Compras e Logística da Cemig,
Osias Galantine, prestado à CPI no dia 21/10/2021.
Questionado sobre se no escopo da contratação da Kroll constava a investigação da
lista de Furnas, o executivo declarou não saber ou não ter conhecimento sobre o que era
questionado, apesar de essa investigação constar no teor de documentos da contratação da
Kroll assinados por ele:
O deputado Sávio Souza Cruz - Sobre a contratação de empresas de
investigação, o senhor assinou as PDs que deliberaram as
inexigibilidades da Kroll, da Terra Tavares e da Sampaio Ferraz.
Todas elas envolvidas nas investigações forenses. Nessas PDs, é
informado que faz parte do escopo da investigação o caso Lista de
Furnas. No entanto, a Sra. Fernanda Barroso, diretora da Kroll,
informou aqui, a esta CPI, que a Lista de Furnas não faz parte dos
trabalhos. Afinal de contas, a Lista de Furnas está, ou não, sendo
investigada pela Cemig, e, se sim, qual o motivo?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Deputado, não sei o que é a Lista de
Furnas. Sei que assinei essa inexigibilidade da Kroll, e, lá, os
trabalhos que estão sendo conduzidos são sobre as denúncias de
irregularidade de suprimentos e sobre contratos de transformadores
da Toshiba. São esses dois pontos que conheço.
O deputado Sávio Souza Cruz - Mas lá, na PD que o senhor assinou,
consta a Lista de Furnas. O senhor assinou sem saber?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Não, eu, eu... Esses dois pontos são
os que sei que estão sendo considerados.
O deputado Sávio Souza Cruz - Mas vou insistir: a Lista de Furnas
consta na PD assinada pelo senhor. O senhor assinou sem saber?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Não, assinei, mas os fatos de que
estou participando, de que participei são sobre esses suprimentos,
não é?

177
O deputado Sávio Souza Cruz - Vou insistir na pergunta: o senhor
assinou uma PD, onde consta Lista de Furnas, e, aqui, a Sra.
Fernanda disse que a Lista de Furnas não está sendo investigada.
Então vai haver um abatimento no preço, porque se está fazendo
apenas parcialmente, ou não era para se investigar a Lista de Furnas?
Qual é? Esclareça para a gente.
O Sr. Osias da Silva Galantine - Deputado, como eu não participei
da contratação, porque a contratação começou lá no final de
novembro, ou em novembro, sobre essas questões de irregularidades
em compras... E eu entrei em janeiro, e, em março, no dia 9 de março,
assinei essa PD e sinceramente não sei o que é a Lista de Furnas.
O presidente - A PD chegou pronta para o senhor assinar?
O Sr. Osias da Silva Galantine - É, eu não sou um... Eu assino como
um...
O presidente - Chegou de onde?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Chegou da área que propôs, que é a
área jurídica, não é? A diretoria jurídica.
A deputada Beatriz Cerqueira - Quem? Qual é o nome?
O deputado Sávio Souza Cruz - Eduardo Soares.
O Sr. Osias da Silva Galantine - Ele é diretor jurídico.
A deputada Beatriz Cerqueira - Então é o Eduardo Soares. Foi da
parte do Eduardo Soares que chegou para o senhor, para que o senhor
assinasse uma PD, e o senhor assinou? É isso?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Chega da área... Desculpe-me,
deputada, mas isso aí vem no eletrônico, vem no DocuSign. Não é o
Eduardo que manda, ele tem as pessoas lá, mas ele também assina e
assinou, eu assinei, e assinaram outras pessoas. É comum, é um
documento eletrônico, que vem da área jurídica. Ele é o proponente.
A deputada Beatriz Cerqueira - Mas o senhor assina um documento,
uma autorização, considerando inclusive que as PDs agora, na
Cemig, têm uma força extraordinária, não é? Substitui parecer,

178
substitui um monte de coisa, e então o senhor assina sem tomar
conhecimento de como chegou aquela PD? O senhor não procurou
saber absolutamente nada anterior, isto é, até o momento em que se
originou aquela PD?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Não, eu falei que a PD e que o
trabalho de que eu estava participando e do qual estava ciente era
esse da, dos...
A deputada Beatriz Cerqueira - A Lista de Furnas está na PD, não é?
Eu já li essa PD aqui, algumas vezes inclusive.
O Sr. Osias da Silva Galantine - Está na PD.
A deputada Beatriz Cerqueira - No que o senhor assinou, está escrito:
Lista de Furnas. É por isso que o relator trouxe o questionamento. E
agora o nosso questionamento se amplia, porque queremos entender
como é que um diretor adjunto - e esse é o seu cargo, um cargo criado
neste governo, com uma série de tarefas e salários quase compatíveis
com os salários de diretores estatutários e com remuneração fixa e
variável - isto é, estamos querendo entender como é que um diretor
adjunto, responsável por uma área, autoriza uma PD sem conhecê-
la. É isso? Essa é a síntese?
O deputado Sávio Souza Cruz - A coisa é mais complexa ainda,
porque, no escopo da investigação da Kroll, consta a empresa
Toshiba, e agora é a empresa Tsea que está sendo investigada, e isso
não constava na PD. Então a Lista de Furnas, que estava na PD, não
está sendo investigada, e a Toshiba, que não estava, está sendo
investigada. Como é que o senhor vê isso? Vai-se poder pagar a Kroll,
mesmo ela fazendo uma coisa distinta do que estava na PD? Na hora
de fazer o contrato, o pessoal não respeitou a PD? Então a PD é para
quê?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Deputado, a PD é o documento para
definir as atividades a serem feitas. Eu, sinceramente, havia chegado
à Cemig havia dois meses, e novamente falo: a área estava sem as

179
pessoas, colocamos os novos gerentes, e depois tivemos que tocar a
vida. A parte de... A Cemig tem as licitações que são 95%, 96% das
compras que a Cemig executa, e os 4% são as inexigibilidades, que
são as compras diretas que são feitas pelas áreas, não é? As áreas
operam... (- É interrompido.)
O deputado Sávio Souza Cruz - Mas são tão poucas. Então podiam
ter mais cuidado com elas, não é?
O Sr. Osias da Silva Galantine - Oi?
O deputado Sávio Souza Cruz - Já que são tão poucas, você podia
ter mais cuidado, mais conhecimento sobre elas.
O Sr. Osias da Silva Galantine - Sim. Como eu falei, nós tivemos,
nós temos lá o rito das pessoas também. Não sou eu que faço, eu
tenho as pessoas que trabalham comigo, que são profissionais de
carreira, e que fazem esse suporte.

Os documentos e depoimentos comprovam que não apenas os preços contratados


para o enfrentamento do objeto são excessivos, alcançando cifras milionárias, como
também a própria Kroll reconhece não estar investigando fatos mencionados na Proposta
de Deliberação nº 25/2021, que fundamentou a sua contratação.
Diante de tudo o que foi anteriormente exposto, a conduta praticada pelos diretores,
gerentes, particulares e empresa contratada configura, em tese, ato de improbidade
administrativa que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº 8.429,
de 1992, que assim prevê:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e
comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
(…)
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou
serviço por preço superior ao de mercado;
(...)
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo
para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou
dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva;
(…)

180
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de
responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação
específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: :
(...)
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos,
pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de
contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior
a 12 (doze) anos;
(…)
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para
a prática do ato de improbidade.
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa
jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que
venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente,
houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos
limites da sua participação.

Sendo assim, em tese, há fortes indícios de que Eduardo Soares, Luiz Fernando de
Medeiros Moreira, Hudson Felix Almeida, Osias da Silva Galantine e Reynaldo Passanezi
Filho praticaram atos, em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade
administrativa descrita no art. 10, incisos V e VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na
medida em que as pessoas físicas, no exercício das suas funções desempenhadas na Cemig,
contribuíram para a irregular contratação direta, sem licitação, e aplicação de recursos da
companhia, provocando dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica, Kroll, configura-se em
tese como particular beneficiário da ilegalidade.
Por fim, a conduta dos gestores consistentes na realização de contratação direta,
sem o preenchimento dos requisitos legais é, em tese, passível de enquadramento no crime
previsto no art. 337-E do Código Penal:
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta fora
das hipóteses previstas em lei:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

b) Da ilegal invasão de computadores promovida pela Kroll

181
Conforme ficou provado ao longo das investigações realizadas por esta CPI, a Kroll,
no dia 3/12/2020, após o horário de expediente normal da Cemig (por volta das 20hs),
promoveu a entrada no prédio da estatal e a invasão em estação de trabalho de empregado
público.
As investigações registraram essa prática no computador do empregado Daniel
Polignano Godoy, ex-gerente de direito administrativo da companhia.
A mencionada empresa privada, na época dos fatos, sequer possuía cobertura
contratual para a prática deste ato, não existindo, por parte da Cemig, autorização lícita
para ela assim agir.
Frise-se que o contrato de prestação de serviços e respectivo Termo de
Confidencialidade só foi assinado cinco meses depois, em 23/4/2021, enquanto a invasão
do computador funcional ocorreu no dia 3/12/2020, com extração de todas as informações
contidas na estação de trabalho por uma empresa privada.
Instado a apresentar todos os documentos da contratação, o diretor de regulação e
jurídico confessou que a contratação da Kroll foi feita verbalmente por ele, não existindo
qualquer contrato assinado no dia 3/12/2020 e nem mesmo termo de compromisso de
confidencialidade entre a Kroll e a Cemig, até mesmo porque inexistia vínculo capaz de
fundamentar a atuação da mencionada empresa.
Causa maior espanto ainda o fato de que no processo de convalidação da
contratação da Kroll não há parecer jurídico capaz de fundamentar a validade da relação
jurídica contratual e, muito menos, opinião técnica e isenção o suficiente para recomendar
a sua realização.
Surpreendentemente, o diretor de regulação e jurídico, Eduardo Soares, entendeu
ser desnecessário o parecer jurídico para avalizar a contratação e a consequente
convalidação, alegando que a Proposta de Deliberação 25/2021, na medida em que
assinada por ele próprio (advogado) substituiria a opinião legal.
Ora, mas é claro que o parecer jurídico emitido pelo Sr. Eduardo Soares jamais
concluiria pela ilegalidade da contratação verbal da Kroll. Basta lembrar que foi ele mesmo
quem a realizou em 30/11/2020, autorizando-a a iniciar a prestação de serviços mesmo sem
a prévia instauração de um procedimento de inexigibilidade de licitação e preenchimento
dos requisitos legalmente exigidos.

182
Caso o parecer do Sr. Eduardo Soares concluísse pela ilegalidade da contratação,
por óbvio estaria condenando a sua própria conduta praticada em 30/11/2020, gerando
como consequência para ela a responsabilidade por ressarcir à Cemig os valores que teve
que pagar à Kroll ao longo dos últimos cinco meses (visto que o contrato foi assinado em
23/4/2021).
Por esse motivo, obviamente, o diretor de regulação e jurídico jamais admitiria um
parecer contrário à contratação emitido por um advogado dos quadros da Cemig, este sim
isento e imparcial para análise da situação ilegal e absurda das contratações verbais e
precárias de consultorias milionárias.
Eduardo Soares, diretor de regulação e jurídico, na tentativa de esclarecer a invasão
de computadores praticada pela Kroll, menciona que “as informações armazenadas nos
equipamentos fornecidos pela Cemig aos seus empregados, voltados às suas atividades
profissionais, são de propriedade da companhia e devem ser preservadas em sua
integridade”.
Contudo, cabe mais uma vez destacar que a autorização para a Kroll invadir
computadores da Cemig foi feita pelos gestores sem a prévia existência de vínculo jurídico
entre a empresa de investigação e a estatal, sem, portanto, qualquer resguardo acerca da
confidencialidade.
Quanto ao fato de as informações armazenadas nos computadores pertencerem à
Cemig, isso não legitima a sua captação por empresa privada sem qualquer cobertura
contratual e, menos ainda, com mera autorização verbal do diretor de regulação e jurídico.
Afinal, os dados não pertencem a ele, mas, sim, à Cemig, uma pessoa jurídica,
integrante da administração indireta do Estado, que possui ações comercializadas na bolsa
de valores.
E, no caso específico do advogado, a violação à estação de trabalho pela Kroll
conflita com a inviolabilidade prevista no art. 7º, inciso II, da Lei Federal nº 8.906, de 1994.
O mencionado dispositivo prevê que são diretos dos advogados a inviolabilidade
do local de trabalho, bem como de seus instrumentos, de sua correspondência escrita,
eletrônica, telefônica e telemática relativas ao exercício da advocacia.
Visando exatamente a apuração e repressão desses abusos e irregularidades, esta
CPI já aprovou e enviou requerimentos ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil

183
(RQC nº 10.194) e à Comissão de Defesa, Assistência e Prerrogativas da Ordem dos
Advogados do Brasil, Seção Minas Gerais (RQC nº 10.128), informando os fatos e
requerendo a adoção das providências cabíveis.
Vale registrar que o ex-gerente de direito administrativo da Cemig, Daniel
Polignano Godoy, foi ouvido por esta comissão na reunião do dia 9/9/2021, tendo
confirmado que dados sobre a estatal foram retirados de seu computador profissional,
fornecido pela empresa, durante a noite do dia 3 e a madrugada do dia 4/12/2020.
O seu depoimento confirmou a informação de que a cópia dos arquivos teria sido
feita por um funcionário da Kroll, cinco meses antes da assinatura de contrato com a Cemig
capaz de justificar a atuação da mencionada empresa privada de investigação.
O deputado Professor Cleiton – (...) Dia 3/12/2020, quando o senhor
ainda ocupava o cargo de gerente de direito administrativo, o senhor
encontrou sobre a sua mesa um formulário da empresa Kroll dando
conta da extração de dados do computador que o senhor utilizava na
empresa. O senhor confirma isso?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu encontrei esse formulário, que
estava com o meu nome preenchido à caneta; não havia outras
informações preenchidas no formulário, mas seguia uma lógica
como se fosse uma coleta de evidências, uma coleta de provas.
O deputado Professor Cleiton - Coleta de provas?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - De provas; provas ou evidências,
como eu disse.
O deputado Professor Cleiton - Mexeram, então, no seu computador,
o computador que o senhor utilizava dentro da empresa, sem que o
senhor fosse informado. O senhor, como jurista, como advogado, a
OAB foi informada de que iriam coletar dados no seu computador,
como advogado, sem lhe comunicar e sem comunicar à OAB?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - No que é de meu conhecimento, não,
deputado.
O deputado Professor Cleiton - Que medidas o senhor tomou ao
encontrar esse documento?

184
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu fiquei surpreso com o documento,
fui ao meu superintendente, que era o meu superior imediato,
perguntei se ele sabia o que era aquilo. Ele também não tinha
informações. Ele foi ao diretor jurídico com o formulário para
perguntar se ele sabia o que era. O diretor disse que também não
sabia do que se tratava e que iria averiguar. Eu, preocupado com a
situação, procurei saber se a Kroll poderia ter algum tipo de contrato.
A partir do objeto do contrato, eventualmente eu poderia saber do
que se tratava a eventual averiguação e investigação que estivesse
sendo feita. A Kroll, naquele momento, pelo que me foi dito, não
teria contrato. Aí, passados alguns dias, como eu não tive retorno,
solicitei à área de segurança patrimonial da Cemig acesso às câmeras.
Nessas câmeras, eu acabei vendo que a assessora do meu diretor
parece ter conduzido a pessoa da Kroll, que deve ter trabalhado lá
um dia à noite.
O deputado Professor Cleiton - Presidente, estou assustado aqui com
o que acabei de ouvir. Por essa questão, nós já poderíamos, Dr. (–
Inaudível.), encerrar aqui a CPI. Isso é motivo de pedido de prisão,
presidente. Uma empresa sem contrato, uma empresa sem contrato
entra na maior estatal, capta dados sigilosos... O senhor abria neste
computador o seu e-mail particular, o seu e-mail pessoal?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu evitava ao máximo, porque era
um computador da empresa, mas pode ser que, durante essa trajetória
longa de trabalho na Cemig e com jornadas extensas de trabalho -
trabalhava 10, 11, 12 horas por dia -, provavelmente em algum
momento eu precisei resolver algum assunto profissional de dentro
da empresa.
O deputado Professor Cleiton - Então, essa empresa teve acesso... (–
É interrompido.)
O presidente - Deputado Professor Cleiton, peço-lhe a gentileza,
apenas um aparte aqui.

185
O deputado Professor Cleiton - Claro, presidente.
O presidente - Eu queria lhe perguntar...
O deputado Professor Cleiton - Estou assustado.
O presidente - Eu queria lhe perguntar se, dentre essas afirmações
que o senhor nos trouxe, se o senhor se sentiu aviltado,
profissionalmente falando, com essa ação que ocorreu e que o senhor
acabou de nos relatar.
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu fiquei surpreso com a situação,
afinal sempre procurei ter uma conduta...
O presidente - A surpresa pode ser positiva ou negativa. O senhor
teve uma surpresa positiva ou negativa? É algo que o incomodou, é
algo que trouxe conforto ao senhor quando o senhor se deparou com
essa situação?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Foi motivo de preocupação. Eu
resolvi aguardar. Eu me coloquei à disposição do meu diretor... (– É
interrompido.)
O presidente - O senhor não respondeu o que eu perguntei, Sr. Daniel.
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu respondi, excelência, dizendo
que foi motivo de preocupação; foi um motivo de preocupação. Eu
fiquei surpreso e preocupado com a situação e me coloquei à
disposição do meu diretor para esclarecer o que se fizesse necessário.
O presidente - No seu entendimento, essa ação não fere o Estatuto
da Ordem dos Advogados do Brasil, conforme o senhor trouxe aqui
também, referente às questões de sigilos profissionais? O senhor
acha que essa ação feriu o que dita o Estatuto da Ordem?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Deputado, como eu não fiz essa
avaliação, isso não consta de pareceres públicos, eu prefiro...
O presidente - Pelo que consta, o senhor não é investigado dentro da
Cemig.
O Sr. Daniel Polignano Godoy - A informação que eu recebi é de que
eu não era investigado... (– É interrompido.)

186
O presidente - Não sendo investigado, seria muito razoável que o
senhor colaborasse com qualquer tipo de investigação interna - não
é? - e não fosse preciso, na calada da noite, numa madrugada,
flagrada pelo sistema de circuito fechado de TV, uma assessora do
diretor jurídico entrar acompanhada de funcionários de uma empresa
contratada precariamente naquele momento e ter acesso a dados de
um computador funcional. Tudo isso nos soa muito estranho.
O deputado Sávio Souza Cruz - Presidente, só gostaria de fazer um
aparte, pedindo desculpas ao deputado Professor Cleiton. Eu cada
vez entendo menos a direção da Cemig. A oitiva do Dr. Daniel foi
precedida de uma notificação de seus advogados de que ele acordara
com a direção da Cemig preservar segredos da empresa, segredos a
que ele teve acesso no exercício das funções de advogado, inclusive
em cargo de chefia, mas nós estamos aqui diante de uma situação em
que uma empresa, sem nenhuma cobertura contratual, inclusive de
preservação de segredos empresariais, tem acesso aos computadores
da empresa e de seus funcionários sem sequer ter um contrato. Não
é que ele não estava coberto por cláusulas de confidencialidade, o
que ele podia ou o que ele não podia; nem contrato tinha. Ou seja,
esse contrato é mais um do túnel do tempo, Dr. Daniel. "O senhor
vai trabalhando aí, depois que o senhor já tiver visto tudo, nós vamos
estabelecer no contrato o que você pode ver. Aí a gente já vai
pagando aí e depois convalida". Parece que as coisas são dessa forma.
Agora eu, como servidor com quase 10 anos de casa, sou coberto por
uma notificação judicial, e a empresa me cobra guardar os sigilos.
Eu vejo que a empresa não tem nenhum cuidado, nenhum zelo na
contratação de um terceiro, uma pessoa estranha à Cemig, sem
nenhum vínculo; uma pessoa jurídica essa empresa aí, que está
mexendo nos computadores, revirando a vida da empresa e de seus
funcionários sem sequer ter um contrato, sem que fosse estabelecido
o que ela pode ver, o que ela não pode ver e, daquilo que ela vê, o

187
que ela tem que guardar sigilo ou não. Nada, nada, não tem nada. É
simplesmente um ato de vontade. É como se fosse o meu boteco; a
Cemig hoje é gerida como um boteco: "Fulano, sirva a cerveja para
ele; vá pagando aí". "Não, ele não pagou, não." Vá servindo! Vá
servindo. Esse boteco é meu, e eu faço o que eu quiser".
Então, parece-me que a Cemig hoje virou o boteco de alguém,
porque não é razoável, não é crível que nós estejamos diante de
tantos casos, que eu estou aqui ironizando - questão de túnel do
tempo -, porque as coisas acontecem de fato. Falam assim: "Vai fazer
isso." "Como é que eu vou fazer? Como é que eu pago isso?". "Isso
eu vejo depois." "Mas ele vai ter acesso aos sigilos empresariais."
"Isso não é problema seu, eu estou mandando, isso aqui é meu".
É assim que as coisas estão andando na Cemig? Porque é a essa
conclusão que nos levam os inúmeros depoimentos que nós estamos
recebendo aqui. São contratos em que não se sabe quem contratou,
não se sabe por que foi dirigido a pessoa estranha, ninguém tem
conhecimento do relatório final. Só se sabe que pagou e que
convalidou. Agora, há uma empresa que entra na Cemig sem
nenhuma cobertura contratual que resguarde a empresa e seus
funcionários, nada, mas já está mexendo, flagrada de noite pela
câmera. Isso é coisa de Agente 86. Já que nós estamos falando das
férias(?) do passado, isso é coisa... Será que existe cone do silêncio
lá também?
Estão nos levando à conclusão de que nós estamos diante de uma
investigação de como uma empresa, a maior estatal que o povo de
Minas construiu na sua história, pode chegar ao ponto de ser gerida
como um boteco de fim de linha. É inacreditável, mas não há outra
conclusão possível. Se houver, que me corrijam e me expliquem;
alguém me explique! Às pessoas que vieram aqui, a todas eu pedi:
"Eu quero entender". Mas não consigo entender como as coisas são
produzidas dessa forma. E me desculpem esse desabafo, mas nós já

188
estamos aqui há algum tempo ouvindo, e a sequência das oitivas só
conduz a essa conclusão, não há outra.
As contratações são feitas de fato, e pagam depois, convalidam, dão
um jeito. Não é possível entender isso, não é possível. E quando a
gente vê esse caso em que até o seu computador de uso pessoal -
claro, de propriedade da empresa, com certeza, mas nós todos temos
nas máquinas que usamos assuntos pessoais, isso é inevitável. É
máquina da Cemig, ela tem todo direito de dar acesso...(– É
interrompido.)
O presidente - E não sendo investigado.
O deputado Sávio Souza Cruz - Não sendo investigado - não sendo
investigado. O que é isso? É o Big Brother? Que história é essa? Eu
não consigo entender. Se alguém puder me explicar, eu queria
entender.
O presidente - Professor Cleiton, para encerrar, por gentileza.
O deputado Professor Cleiton - Deputado, eu agradeço a interrupção
ao deputado Sávio Souza Cruz. Não foi interrupção, eu falo sempre
publicamente que ele é o meu professor aqui nesta Casa. Se o meu
professor não está entendendo, que se dirá do aluno aqui?
Mas eu até recebi - é interessante - as orientações, e muito boas
orientações, do Dr. Marcelo Leonardo, de quem eu publicamente
também digo que sou muito fã, sobre a questão dos sigilos que
devem permear a questão da atuação de um advogado. Inclusive,
como advogado que é, o nosso depoente, o Dr. Daniel Polignano,
também precisa manter o seu sigilo profissional. Mas o sigilo dele
não foi mantido dentro da Cemig. Eu queria, inclusive neste
momento, reivindicar... Eu não sou da área - há vários doutores e
doutoras aqui -, mas a OAB precisa entrar nessa história a partir de
agora, Dr. Felipe Santa Cruz, presidente nacional da OAB, que é
inclusive do partido do nosso presidente aqui, pré-candidato a

189
governador do Rio de Janeiro. Nós estamos diante, deputado Sávio
Souza Cruz, de uma inviolabilidade de sigilo profissional.
Quando eu perguntei sobre os e-mails pessoais... Nós estamos
falando dos e-mails pessoais, mas o que é mais grave é que foram
coletados dados sigilosos de um jurista, de um advogado, de alguém
com mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais.
Temos informações, Dr. Daniel Polignano, de que o senhor requereu
ao departamento de infraestrutura da Cemig cópia do vídeo da
câmera de segurança na qual restou comprovada a ação do
funcionário da Kroll. O senhor ainda possui a cópia desse vídeo?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Sim, deputado.
O deputado Professor Cleiton - Então eu gostaria que o senhor
entregasse a cópia desse vídeo a esta CPI. Presidente, eu estou
solicitando ao senhor que seja entregue à CPI a cópia desse vídeo.
Eu quero citar até o IP dele - eu o tenho comigo. IP do vídeo:
10653985. Esse é o IP do vídeo, que é a prova da violação que essa
empresa fez, juntamente com uma servidora da Cemig, na calada da
noite. Servidora da Cemig. Qual é o nome da servidora que entra
com o funcionário da Kroll?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - É a assessora do diretor jurídico, a
Virginia. Deputado, eu ponderaria se o requerimento poderia ser
dirigido, em primeiro lugar, à empresa.
O presidente - O senhor estando em poder do vídeo, eu peço que o
senhor disponibilize esse vídeo para a juntada nos autos da CPI.
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu não o tenho aqui; eu precisaria
de prazo.
O presidente - Sem problemas. O senhor terá o prazo.
O deputado Professor Cleiton - Eu estou encerrando, presidente.
O presidente - Por gentileza, porque nós temos outros inscritos,
deputado.

190
O deputado Professor Cleiton - Sim, senhor. A última pergunta:
existe uma comissão de ética na Cemig?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Sim.
O deputado Professor Cleiton - O senhor sabe me informar se essa
interceptação da Kroll foi ou está sendo investigada pela Comissão
de Ética?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Não sei informar isso, deputado.
O presidente - O senhor assinou a Comissão de Ética?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu resolvi aguardar para entender
do que se tratava a investigação.
O deputado Professor Cleiton - E o senhor conseguiu entender?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Foi-me dito, em determinado
momento, que eram informações relacionadas à investigação da área
de suprimentos.
O deputado Professor Cleiton - O senhor sabe então... É isso que foi
explicado, então o senhor não sabe quais são os reais motivos de o
funcionário da Kroll ter feito cópia de arquivos da sua estação de
trabalho? O senhor não sabe? É isso?
O Sr. Daniel Polignano Godoy - Eu tenho essa informação de que
poderia ter alguma coisa a ver com a investigação da área de
suprimentos. O jurídico em que eu atuava atendia a área de
suprimentos. Era parte de direito administrativo. Então imaginei que
pudesse ter alguma coisa a ver... (- É interrompido.).

Há indícios, portanto, que, além de ilegal a sua contratação, a Kroll, mediante a


autorização do diretor de regulação e jurídico, Eduardo Soares, mesmo sem vínculo
contratual válido com a Cemig, violou o sigilo do local de trabalho do ex-gerente de direito
administrativo da companhia, ofendendo o disposto no art. 7º, inciso II, da Lei nº 8.906, de
1994.
Ademais, a conduta comprometeu o sigilo de dados sigilosos e sensíveis da
companhia, tendo sido franqueado acesso à empresa particular sem vínculo contratual e

191
sem os devidos cuidados relacionados aos compromissos de confidencialidade, em clara
ofensa ao art. 25 da Lei Federal nº 12.527, de 2011.

2.7 Da contratação direta dos escritórios Lefosse Advogados e Thomaz Bastos,


Waisberg, Kurzweil Advogados para consultoria jurídica

Por meio da aprovação do RQC nº 9.481/2021, a Comissão Parlamentar de


Inquérito requisitou ao diretor-presidente da Companhia Energética de Minas Gerais cópia
integral da Inexigibilidade de Licitação nº 500-E14374, contratos nºs 4320000015 e
4320000016, firmados com o escritório de advocacia Lefosse Advogados.
A Cemig, em resposta ao requerimento, encaminhou as cópias que se encontram
juntadas aos autos do inquérito desta Comissão Parlamentar de Inquérito no sistema SDS,
especificamente na pasta Respostas aos RQCs, subpasta nº 9.481, arquivo “Resposta ao
RQC 9481_2021_CPI_Cemig”.
Da análise dos documentos enviados é possível constatar, de plano, que:
✓ o objeto da contratação envolve serviços de natureza consultiva, sem caráter de
exclusividade e sem vínculo de emprego, consistentes na prestação de serviços de
assessoria jurídica, englobando: (i) assessoria e suporte na negociação com
credores financeiros no âmbito da recuperação judicial da Renova; (ii) assessoria e
suporte em aspectos societários e de mercado de capitais relacionados à Cemig ou
à Renova e (iii) elaboração, discussão e revisão de notificações ou documentos
relacionados a questões societárias ou de mercado de capitais da Renova
relacionadas à Cemig ou à Renova;
✓ a necessidade da contratação foi justificada na Proposta de Deliberação nº 145,
datada de 14/7/2020, bem como na Proposta de Deliberação nº 222, datada de
13/10/2020;
✓ a Cemig justificou a contratação do escritório Lefosse Advogados tendo como
fundamento a hipótese de inexigibilidade de licitação prevista no art. 30, inciso II,
alíneas "b" e “c”, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, e do art. 18, § 4º, alínea "k",
do Estatuto Social da Cemig;

192
✓ na Proposta de Deliberação nº 145/2020 a Cemig destacou que, em 16/10/2019, o
Conselho de Administração da Renova aprovou o ajuizamento do pedido de
recuperação judicial da Renova e diversas controladas, que foi protocolado na 2ª
Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, tendo sido aprovado na
mesma data o processamento da medida;
✓ a Cemig também aduziu que os assuntos relacionados ao processo de recuperação
judicial da Renova exigiriam a atuação imediata de assessores legais com notório
saber e experiência, tanto na condução processual dos interesses da Cemig, como
na análise e apresentação de alternativas viáveis econômica e juridicamente, de
forma a preservar interesses e evitar maiores perdas ao Grupo Cemig.

a) Do flagrante conflito de interesses no processo de contratação da Lefosse pela


Cemig, comandada pelo Sr. Eduardo Soares. Da configuração de improbidade
administrativa.

Após o recebimento da documentação, a CPI iniciou a fase de oitiva de investigados


e testemunhas envolvidas na contratação da Lefosse Advogados, realizando, no dia
20/9/2021, a 12ª Reunião Extraordinária desta Comissão Parlamentar de Inquérito,
oportunidade na qual o Sr. Eduardo Soares, atual diretor jurídico da Cemig e ex-sócio da
Lefosse Advogados, prestou depoimento.
Em tal ocasião, o Sr. Eduardo Soares, ao se apresentar, afirmou que exerce o cargo
de diretor estatutário da Cemig, tendo tomado posse no dia 23/3/2020.
Da análise dos documentos recebidos por esta comissão, observa-se que o Sr.
Eduardo Soares se desvinculou da Lefosse Advogados em 20/3/2020, por meio da 176ª
Alteração Contratual, averbada às fls. 034/073 do Livro nº 920 de Registro de Sociedades
de Advogados da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo no dia 4/12/2020.
O processo da sua saída da Lefosse Advogados e a sua ida para a diretoria jurídica
da Cemig é detalhada nos seguintes trechos do depoimento do próprio Eduardo Soares:
O deputado Roberto Andrade: – O senhor explicou a sua saída do
escritório Lefosse e a sua entrada na Cemig, mas eu gostaria que o
senhor fosse mais específico e traçasse uma linha do tempo:

193
quando o senhor saiu, quando o senhor apresentou a sua saída, a
sua entrada na Cemig, enfim, para deixar isso bem claro para esta
CPI.
O Sr. Eduardo Soares: – Tão logo recebi o convite do Dr. Reynaldo
para passar por um processo que poderia culminar na minha eleição
para a diretoria jurídica da Cemig, comuniquei ao Lefosse que
havia essa possibilidade de sair, que eu tinha gostado do convite,
do desafio profissional que representava (...)
O deputado Roberto Andrade: – O senhor tem as datas aí, o mês?
O Sr. Eduardo Soares: – Isso foi em meados de fevereiro. No início
de março, efetivamente aceitei o convite, depois de ter passado pelo
processo de assessment com a Exec. Então, dei início ao processo
regular, legal de averiguação de que eu atendia aos requisitos da
Lei Federal nº 13.303 para ocupar o cargo de diretor. Houve uma
interação minha com a gerente de Compliance da Cemig, à época,
e me foram feitos vários questionamentos, porque eu já tenho uma
longa vida profissional. Eu fui, no passado, procurador de clientes
estrangeiros, fui procurador de outros clientes brasileiros. Isso tudo
fica na Receita Federal, às vezes até de empresas que já foram
extintas. Então, tudo isso é verificado pelo background check. Eles
me perguntaram se eu exercia algum cargo numa empresa que tinha
sido extinta há mais de 25 anos. Então, realmente, eles buscam
todas as informações. Aí, nessa interação, à medida que eram feitos
os questionamentos, eu respondia. Quando foi finalizado o
processo, foi-me informado pela gerente de Compliance que eu
precisava me desligar do Lefosse para que o meu nome pudesse ser
submetido ao conselho de administração. A reunião do conselho de
administração aconteceu no dia 19 de março. Então, eu, uns dias
antes, tive que me afastar do Lefosse, que, em resposta, disse-me:
‘Conforme a nossa conversa sobre o meu afastamento, informamos
que estamos providenciando a formalização perante a Ordem, da

194
alteração contratual’. Acho que isso foi uma troca de e-mails entre
os dias 15 e 18 de março, quando eu, mesmo sem ter certeza de que
seria eleito pelo conselho de administração, tive que me afastar do
Lefosse para que o meu nome pudesse ser indicado. Depois dessa
análise do Compliance, esse trabalho de background check é
levado ao Coaud, que é um comitê de auditoria vinculado ao
conselho de administração, e é quem diz que sou elegível. Não é
nem a área de compliance, é um comitê que assessora o conselho
de administração que diz que eu posso, que o meu nome pode ser
apreciado para a posição.

Indagado pelo deputado relator da CPI, Sávio Souza Cruz, sobre como foi o convite
feito a ele pelo Dr. Reynaldo para ingressar na diretoria jurídica da Cemig, Eduardo Soares
assim respondeu:
O Sr. Eduardo Soares – (…) Ele me procurou e disse que tinha
assumido aqui a presidência da Cemig, que ia fazer algumas
modificações na diretoria, que a diretoria jurídica era uma dessas
diretorias e que, pela minha competência profissional, ele achava
que eu podia ajudá-lo no projeto de fazer essa transformação da
Cemig, o que tem sido tentado por essa administração. E eu discuti
com ele qual era o projeto de trabalho, o projeto a ser executado.
O deputado Sávio Souza Cruz: Ele respondeu? Fiquei curioso.
Qual era o projeto?
(...)
O Sr. Eduardo Soares – Não. O projeto era recuperar a Cemig. A
Cemig vinha de um período difícil, e o projeto era recuperá-la e
transformar a empresa para o futuro, porque nós temos hoje um
mercado de energia em transformação, e isso exige que as
companhias de energia se atualizem, modernizem-se e se preparem
para esse futuro, porque, em 5 ou 10 anos, o mercado de energia
vai ser muito diferente do que é hoje.

195
Diante das informações colhidas no inquérito, apesar de a saída do Sr. Eduardo
Soares do quadro de sócios da Lefosse ter ocorrido em 20/3/2020, foi constatada, por meio
da quebra de sigilo de dados bancários, uma série de pagamentos realizados a ele pela
aludida sociedade de advogados após tal data, ou seja, no período em que ele já figurava
como diretor da Cemig.
Tal fato denota estranheza não apenas pelo vulto dos valores recebidos pelo Sr.
Eduardo Soares, mas também por terem sido tais pagamentos realizados quando o depoente
já havia tomado posse no cargo de diretor da Cemig, o que demonstra, no mínimo, a
existência de conflito de interesses, como se verá adiante.
A situação em questão levanta a suspeita até mesmo de que o ex-sócio do escritório
tenha recebido participações nos honorários cobrados pela Lefosse da Cemig a título de
indicação da contratação por ele realizada, situação essa agravada por força da precariedade
da contratação direta do seu ex-escritório pela Cemig, comandada pelo próprio Sr. Eduardo
Soares.
Sobre tal temática, é importante observar que a Lei das Sociedades Anônimas, em
seu art. 156, dispõe que:
Art. 156 – É vedado ao administrador intervir em qualquer operação
social em que tiver interesse conflitante com o da companhia, bem como
na deliberação que a respeito tomarem os demais administradores,
cumprindo-lhe cientificá-los do seu impedimento e fazer consignar, em
ata de reunião do conselho de administração ou da diretoria, a natureza e
extensão do seu interesse.

Como se observa, o dispositivo veda que o administrador atue em situações nas


quais possa haver interesse conflitante com o da companhia, o que nos parece ter
obviamente ocorrido, já que o Sr. Eduardo Soares passou a defender a contratação do
escritório Lefosse quando já estava ocupando o cargo de diretor jurídico da Cemig e, por
outro lado, continuava a receber valores da mencionada banca de escritório de advocacia.
Dito de outro modo, apesar de a saída do Sr. Eduardo do escritório Lefosse ter
ocorrido formalmente antes de ele ter assumido o cargo de diretor da Cemig, a realidade
dos fatos evidencia que ainda havia entre ele e o aludido escritório uma forte relação,
sobretudo em função dos pagamentos vultosos que lhe foram feitos, conforme demonstrado
nos extratos obtidos com a quebra do sigilo de dados bancários.

196
O depoimento prestado pelo Sr. Eduardo a esta comissão parlamentar também
parece demonstrar que ele agia como um defensor da contratação do escritório Lefosse
pela Cemig, sendo tal fato agravado por ter o escritório iniciado seus trabalhos antes mesmo
de ter sido formalizada a contratação.
Igualmente grave é o fato de o Sr. Eduardo ter apresentado a proposta de deliberação
para contratação do seu ex-escritório Lefosse sem prévio parecer jurídico, sustentando uma
contratação de um fornecedor do qual recebia valores e que, consequentemente, tinha total
interesse que ele recebesse recursos da Cemig. Vejamos:

A deputada Beatriz Cerqueira: – Uma outra pergunta: o senhor é


responsável pelo jurídico da Cemig desde o final de março – não é?
– de 2020. O senhor era sócio do Lefosse até cinco dias antes, não
é? O senhor começou no dia 23, correto?
O Sr. Eduardo Soares: – Sim.
A deputada Beatriz Cerqueira: – O seu desligamento foi
comunicado no dia 18 de março, ou seja, quatro dias foi o intervalo
entre o seu desligamento e o início do seu trabalho como diretor na
área jurídica da Cemig. Três meses depois o senhor indicou o seu
ex-escritório para prestar serviços à Cemig. O senhor negociou
valores, recebeu a proposta comercial. Foi o senhor que recebeu a
proposta comercial mesmo, não foi?
O Sr. Eduardo Soares: – Sim, fui eu que pedi, fui eu que recebi.
A deputada Beatriz Cerqueira: – O senhor, então, foi quem deu o
aceite para o início dos trabalhos sem contrato?
O Sr. Eduardo Soares: – Eu levei esse assunto ao diretor-presidente,
ao diretor de Participações, e foi com base nessas discussões que
nós autorizamos o início dos trabalhos.
A deputada Beatriz Cerqueira: – O senhor, os três juntos... Eu não
compreendi.
O Sr. Eduardo Soares: – Não, eu não tomo decisões, deputada, eu
não tenho prerrogativa de tomar decisões únicas. Eu troquei ideias

197
com o presidente e com o diretor, que é o diretor responsável pelo
contrato, porque a área demandante do trabalho é a DCP, a nossa
Diretoria de Participações, em função da necessidade que nós
tínhamos, porque a situação na Renova, naquele momento, era
muito grave, com um possível prejuízo, se o cenário pior se
materializasse, de R$1.400.000.000,00. Então, foi com base nessas
condições que a Cemig decidiu fazer a contratação, aceitar a
proposta e solicitar o início dos trabalhos, porque nós não tínhamos
tempo para fazer uma seleção de escritórios, fazer uma tomada de
preços, essas coisas. A gente tinha demandas imediatas
extremamente complexas e nós precisávamos que essa contratação
fosse abreviada.
A deputada Beatriz Cerqueira: – A minha pergunta foi: quem
informou ao Lefosse do aceite da contratação?
O Sr. Eduardo Soares: – Fui eu.
A deputada Beatriz Cerqueira: – Exatamente.
O Sr. Eduardo Soares: – Eu sou o diretor jurídico, eu informei ao
Lefosse a contratação.
A deputada Beatriz Cerqueira: – O senhor elaborou a justificativa
para a inexigibilidade, para convalidar esse aceite ou essa
contratação informal?
O Sr. Eduardo Soares: – Desculpe, deputada, eu não entendi a
pergunta.
A deputada Beatriz Cerqueira: – Foi o senhor que elaborou a
justificativa de inexigibilidade para convalidar essa contratação
informal?
O Sr. Eduardo Soares: – Deputada, a senhora me perdoe, eu não
vou ter aqui, de cabeça, exatamente o detalhe do processo. Eu fui
o apresentante – um dos apresentantes, não é? –, como o diretor de
Participações, da proposta de deliberação, a PD, para a contratação.
E, na própria PD... O fato de eu ser um dos subscritos da PD supre

198
a falta do parecer jurídico, porque afinal eu sou advogado,
habilitado; então o fato de eu subscrever a PD supre a conveniência
de se ter uma manifestação jurídica para a contratação.
A deputada Beatriz Cerqueira: – Supre pelo senhor ser advogado?
O Sr. Eduardo Soares: – Sim, eu sou advogado, eu posso...
A deputada Beatriz Cerqueira: – Mas supre a necessidade de haver
um parecer sobre a inexigibilidade num processo de contratação da
Cemig? Supre isso pelo fato de o senhor ser advogado. Isso está
em qual norma interna na Cemig?
O Sr. Eduardo Soares: – Deputada, eu sou diretor jurídico da
Cemig...

Os fatos evidenciados pelos pagamentos feitos pelo Lefosse ao Sr. Eduardo, bem
como o conteúdo do seu depoimento se traduzem na inexorável constatação de ter havido,
no mínimo, o conflito de interesses durante sua atuação como diretor da Cemig.
Sobre isso, é no mínimo curioso que o Sr. Eduardo tendo sido ex-sócio do Lefosse
Advogados e tenha sido o responsável por conduzir e justificar a contratação de tal
escritório por meio de inexigibilidade de licitação.
Mais curioso ainda é o fato de o diretor de regulação e jurídico, Sr. Eduardo Soares,
continuar a receber valores mensais do seu ex-escritório por ele indicado e contratado pela
Cemig, mesmo após a sua saída da banca de advocacia.
Em termos doutrinários, a situação que se apresenta evidencia a existência de um
conflito denominado “formal”, o que significa que não poderia ter o Sr. Eduardo agido na
contratação do escritório Lefosse, seja pelo fato de ter sido sócio de tal firma, seja pelo fato
de ter continuado a receber vultosas quantias em dinheiro daquela banca.
Nesta situação, existindo o conflito formal de interesses, deveria o Sr. Eduardo,
experiente advogado, ter se declarado impedido de atuar na contratação do Lefosse, sendo
este o entendimento esposado por Adamek:
Os que adotam a posição formal creem que se pode apurar o conflito
diante da mera posição do agente, de sua situação, não importando o que
ele pretende fazer. Se o agente não está agindo de forma desinteressada,
se ele tem mais de um interesse, ele deve se abster de realizar o ato ou de
participar da deliberação que vise a alcançá-lo, uma vez que a mera

199
possibilidade de ocorrência do conflito já caracterizaria a existência do
conflito.9

Nesse mesmo sentido, segundo o direito italiano, apenas para exemplificar, o


administrador que, em certas operações, tiver interesse em conflito com a sociedade deve
dar notícia do fato aos demais administradores e ao conselho fiscal, além de abster-se de
participar nas deliberações concernentes à mesma operação, respondendo pelos prejuízos
que causar em virtude do descumprimento dessa regra.
Neste caso, não há qualquer informação sobre o Sr. Eduardo ter alertado aos demais
diretores ou mesmo à companhia quanto ao fato de ainda estar recebendo do escritório
Lefosse vultosos valores, ainda que na condição de “haveres”, como tentou explicar em
seu depoimento. Com efeito, ao se omitir quanto a tal fato, o aludido diretor claramente
descumpriu a regra estampada no art. 153 da Lei das Sociedades Anônimas, que determina
que o administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado
e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus
próprios negócios.
Ora, essa regra, cujo conteúdo é aberto, merece interpretação no sentido de não
poder o administrador de qualquer companhia atuar de forma com a qual sobre suas
condutas pairem dúvidas quanto à sua idoneidade ou com a qual seus atos possam ser tidos
como contrários aos interesses da companhia.
Nesse mesmo contexto, é relevante demonstrar que a Cemig possui regras claras no
que tange a situações envolvendo conflito de interesses, e é fundamental destacar o que
consta em sua Política de Conflito de Interesses, que estabelece critérios objetivos para
pautar a atuação dos profissionais, de forma a mitigar eventuais questionamentos, inclusive
por parte dos órgãos de controle e fiscalização, bem como problemas reputacionais. Tal
política é aplicada a todos os profissionais da Cemig, Cemig Geração e Transmissão S.A.,
Cemig GT, Cemig Distribuição S.A.; Cemig D, demais subsidiárias integrais e controladas.
Ao conceituar o que vem a ser conflito de interesses potencial ou real, o aludido
manual dispõe que os conflitos se caracterizam pela sobreposição de interesses particulares

9
ADAMEK, Marcelo Vieira Von (Coord.). Temas de Direito Societário e Empresarial Contemporâneos.
São Paulo, Malheiros, 2011, p. 411.

200
(financeiros, relacionamentos familiares ou afetivos, entre outros) aos do Grupo Cemig, o
que pode resultar em decisões prejudiciais.
Com efeito, subsumindo o fato de ter o Sr. Eduardo Soares recebido vultosos
valores do Lefosse no período em que já figurava como diretor da Cemig ao conteúdo do
manual, não restam dúvidas quanto ao fato de ter havido potencial conflito de interesses.
Em tal situação, também estabelece o manual que o membro do órgão colegiado do
Grupo Cemig, ao identificar alguma matéria ou situação com a qual possua interesses
conflitantes, deverá imediatamente manifestar seu potencial conflito de interesses,
abstendo-se de participar de qualquer negociação ou processo de discussão ou decisão
sobre o tema, sendo-lhe vedado, sob qualquer hipótese, procurar exercer sua influência
pessoal em relação à matéria em questão dentro e fora da reunião. Em complemento,
também estabelece o manual que a ausência de manifestação voluntária por parte do
membro do Conselho de Administração, da Diretoria Executiva, do Conselho Fiscal e/ou
do Comitê de Auditoria pode ser caracterizada como violação dos deveres de fidúcia,
lealdade, finalidade e informação a que está submetido, cabendo ao órgão estatutário
competente, nesse caso, instaurar processo administrativo para apuração de
responsabilidade e aplicação das sanções cabíveis.
Em outras palavras, era dever do Sr. Eduardo Soares informar à companhia que
ainda continuava a receber valores mensais do seu ex-escritório e se abster de praticar
quaisquer atos que envolvessem o aludido escritório de advocacia.
No entanto, a conduta do depoente foi em sentido totalmente diverso, eis que, além
de não haver qualquer demonstração de ter ele informado que ainda continuava a receber
valores do Lefosse, continuou a atuar em todas as negociações envolvendo a contratação
de tal firma de advogados, apoiando-a e adotando postura de defender a sua realização.
Também merece atenção o fato de ter sido o escritório Lefosse contratado sem que
outros escritórios do mesmo porte sequer tivessem sido consultados acerca da possibilidade
de prestação dos serviços com a mesma qualidade e talvez com a cobrança de valores
menores. Nesse contexto, deve-se perquirir se a conduta do Sr. Eduardo foi capaz de gerar
prejuízos à Cemig e, caso positivo, que a responsabilidade por esse fato lhe seja atribuída
em procedimento destinado a tal fim.

201
Sobre esse aspecto, destaca-se o trecho no qual a deputada Beatriz Cerqueira aponta
dois pontos que sugerem ter havido irregularidades na contratação do escritório Lefosse.
O primeiro está consubstanciado no fato de ter tal escritório iniciado seus trabalhos antes
mesmo de ter sido formalmente contratado. O outro, também levantado nos depoimentos
e que merece acurada análise, diz respeito aos valores cobrados pelo Lefosse à Cemig,
valendo transcrever os trechos em que tais pontos são suscitados. Vejamos.
A deputada Beatriz Cerqueira: – Antes. Eu fiz a pergunta
exatamente... Relator, presidente, demais colegas parlamentares e
todos que nos acompanham, eu tenho aqui uma ata da reunião da
diretoria. Foi lavrada a Ata 145, de 2020. Nessa ata, consta, Sr.
Eduardo, que, quando da reunião da diretoria, que foi no dia
14/7/2020, os escritórios sobre os quais nós estamos conversando
aqui já estavam contratando, ou seja, mesmo antes de a diretoria
aprovar a contratação, alguém já tinha dado o comando para os
escritórios iniciarem os serviços. Eu queria voltar. Foi nessa Ata
145, de 2020, que teria acontecido a convalidação dos atos, uma
vez que já estavam ali as contratações, já estavam as empresas, os
escritórios, prestando os serviços. Por isso a minha pergunta sobre
esse processo de convalidação. Pelo que nós apuramos, os
escritórios começaram a trabalhar antes mesmo da aprovação da
diretoria, conforme documentos da própria diretoria.
O que me chama atenção é o assunto Renova. A sua recuperação
judicial não era um assunto tão novo e imediato que justificasse
contratações imediatas para posterior convalidação. O Lefosse foi
contratado para ter convalidações; R$890.000,00. Thomaz Bastos,
R$1.130.000,00, convalidação. Alvarez & Marsal Assessoria
Financeira, R$3.874.000,00, também por convalidação. Todos os
serviços foram iniciados sem haver os respectivos contratos
formalizados e assinados. Nós estamos falando de quase
R$6.000,000,00 em contratações que foram somente formalizadas
e assinadas posteriormente ao início do trabalho desses escritórios.

202
Isso chama atenção, e essa é a pergunta que eu gostaria de fazer
ao senhor em relação ao Lefosse. Eu tive acesso a uma tabela sobre
os valores que o Lefosse cobrou de outro cliente e os valores
cobrados da Cemig. De acordo com essa tabela, os valores
cobrados da Cemig estariam muito superiores aos praticados
inclusive pelo Lefosse com outros clientes. Vou citar alguns
exemplos. Pela hora do estagiário para o contrato com a Cemig,
Lefosse cobraria R$450,00. De outro cliente, ele cobrou R$217,00;
sócios, R$1.500,00, no contrato com a Cemig, e R$959,00, no
contrato com outro cliente. Trabalhando 8 horas por dia, 22 dias
por mês, um estagiário da Lefosse teria uma remuneração de
R$76.200,00. Eu perguntaria ao senhor se os valores praticados
pela Lefosse, superiores aos de outros clientes, não foram
analisados quando da contratação desse escritório.
O Sr. Eduardo Soares: – Deputada, como eu disse há pouco, os
serviços jurídicos, principalmente esses, os serviços jurídicos
corporativos, têm diferentes formas de cobrança. Então as
comparações têm que ser feitas em situações semelhantes. Os
escritórios... Eu fui sócio do escritório. Eu fui sócio de vários
escritórios. Tive meu próprio escritório. Então há situações em que
se cobra um valor fixo, há situações em que se cobra por uma tabela
de hora específica para aquele cliente, em função de volume e todo.
Então, para que haja comparação efetiva, é necessário que sejam
situações assemelhadas. O escritório tem uma tabela de horas,
todos os escritórios praticamente têm, e essa tabela é uma tabela
que é utilizada pelos escritórios em todas as suas contratações, não
é apenas na contratação da Cemig. As tabelas de horas são
utilizadas para qualquer cliente que seja atendido pelos escritórios.
Eu não tenho aqui condições, deputada, de entrar em detalhes sobre
tabela A ou tabela B, porque precisaria conhecer em detalhes para
poder emitir uma opinião.

203
A deputada Beatriz Cerqueira: – Por isso nós estamos questionando
vários atos, Sr. Eduardo. O Lefosse foi um escritório contratado
com convalidação dos atos. Não houve parecer sobre
inexigibilidade. A PD substituiu o parecer jurídico e a convalidação
dos atos. Então a comparação efetiva fica a cargo da gente aqui, no
trabalho da CPI, porque, em vários contratos com a Cemig, o que
nós identificamos é que são os próprios contratos que justificam os
valores do contrato com a Cemig; e a justificativa dos contratados
para a Cemig tem bastado.

Diante de tais fatos, deve a Cemig instaurar processo administrativo para a apuração
de responsabilidade e, verificando a existência de prejuízos causados pelo Sr. Eduardo
Souza, buscar ressarcimento quanto a tais valores.
Além do flagrante conflito de interesses acima explicado, a conduta do Sr. Eduardo
Soares de participar da contratação do seu ex-escritório na condição de diretor da Cemig
configura ato de improbidade administrativa.
Nos termos do art. 11 da Lei Federal nº 8.429, de 1992:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os
deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada
por uma das seguintes condutas:
(...)
V – frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de
concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, com
vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros;
(...).

Está fora de dúvidas que a conduta do Sr. Eduardo Soares enquadra-se na moldura
de ação ou omissão dolosa que viola os deveres de honestidade, de imparcialidade e de
legalidade.
Ora, afigura-se desonesta e parcial a sua conduta de participar da contratação do
seu ex-escritório pela Cemig, escolhendo-o subjetivamente e recebendo posteriormente
valores da mesma banca mesmo após a sua saída formal do escritório.

204
Ainda que Eduardo Soares tente explicar e argumentar que os valores se referem a
“haveres” de sua saída provenientes de trabalhos realizados enquanto estava no escritório,
a ilegalidade, imoralidade e parcialidade está configurada.
Como se sabe, o recebimento de honorários pelos sócios de um escritório pressupõe
a existência de lucro no exercício financeiro. Obviamente, se o escritório não tivesse lucro
e fluxo de caixa, os seus supostos “haveres” não seriam devidos e muito menos pagos.
Portanto, ainda que os valores recebidos pelo Sr. Eduardo Soares do seu escritório
tenham natureza de “haveres”, sem relação direta com os serviços prestados pela Lefosse
à Cemig, por óbvio a contratação do seu ex-escritório pela companhia lhe beneficiaria a
ponto de viabilizar a lucratividade e o fluxo de caixa necessário ao pagamento da sua
participação societária na banca.

b) Das irregularidades formais da contratação direta dos escritórios Lefosse


Advogados e Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados

As mencionadas bancas foram contratadas sem licitação, por inexigibilidade,


tendo como objeto serviços de consultoria e assessoria jurídica, cuja proposta foi
apresentada de forma conjunta pelos dois escritórios contratados, cujo escopo foi assim
distribuído entre eles:
Para o escritório Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados:
a) representação do cliente nos autos da recuperação judicial da
Renova; b) assessoria e suporte na definição de estratégia relativa
à recuperação judicial da Renova, incluindo estruturação e
negociação do plano de recuperação judicial com acionistas ou
terceiros; c) análise da discussão e definição, em conjunto com o
cliente, das alternativas e estratégias de contencioso e pré-
contencioso disponíveis a serem adotadas em relação a questões
societárias da Renova; d) elaboração, discussão e revisão de
notificações ou documentos relacionados a questões de litígio
societário na Renova;

205
Para o escritório Lefosse Advogados: e) assessoria e suporte na
negociação com credores financeiros no âmbito da recuperação
judicial da Renova; f) assessoria e suporte em aspectos
societários e de mercado de capitais relacionadas à Cemig ou à
Renova; g) elaboração, discussão e revisão de notificações ou
documentos relacionados a questões societárias ou de mercado de
capitais na Renova relacionadas à Cemig ou à Renova.

Os documentos pertinentes às mencionadas contratações foram obtidos após a


aprovação do RQC nº 9.481/2021 e as cópias estão juntadas aos autos do inquérito desta
Comissão Parlamentar de Inquérito no sistema SDS, especificamente na pasta Respostas
aos RQCs, subpasta nº 9.481, arquivo “Resposta ao RQC 9481_2021_CPI_Cemig”.
Da sua análise percebe-se que a remuneração da contratação do escritório Thomaz
Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados foi estipulada por meio de horas efetivamente
trabalhadas de acordo com cada ato praticado pelo escritório para o enfrentamento dos
temas, fixando-se um teto de R$90.000,00 (noventa mil reais) por mês, com o limite global
de R$1.080.000,00 (um milhão e oitenta mil reais).
Já para o escritório Lefosse o limite mensal foi de R$70.000,00 (setenta mil reais),
com o limite global anual de R$840.000,00 (oitocentos e quarenta mil reais), valor bastante
próximo ao que o ex-sócio e atual diretor da Cemig recebeu da banca de advocacia do seu
ex-escritório mesmo após a sua saída e já estando vinculado à companhia.
A tabela de honorários foi contratualmente fixada de acordo com o profissional do
escritório designado para atuar em cada caso específico:

Profissionais do Thomaz Bastos, Valor em R$/Hora


Waisberg, Kurzweil Advogados
Sócios 2.000 a 2.500
Associados Seniores 1.000 a 1.500
Associados Plenos 750 a 900
Associados Juniores 450 a 650
Estagiários 280 a 400

206
Profissionais do Lefosse Advogados Valor em R$/Hora
Sócios 1.500 a 1.800
Counsels 1.300
Associados Seniores 1.200
Associados Plenos 900
Associados Juniores 700
Estagiários 450

Analisando os documentos encaminhados pela Cemig em resposta ao RQC nº


9.481/2021, a contratação em exame possui uma série de irregularidades flagrantes,
conforme se passa a explicar.

b.1) Contratação verbal. Ausência de prévia formalização do procedimento prévio de


inexigibilidade de licitação. Ofensa ao art. 30, § 3º, da Lei Federal nº 13.303, de 2016,
e do art. 22 do Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig

A primeira irregularidade flagrante infelizmente é uma prática constante da atual


gestão da companhia, qual seja, a celebração de contratações verbais fora das hipóteses
expressamente previstas em lei e, consequentemente, sem a necessária instauração do
procedimento prévio de inexigibilidade de licitação.
Esse tema já foi tratado em capítulos anteriores e repete-se aqui nas contratações
desses escritórios de advocacia.
Cabe lembrar que tanto a Lei Federal nº 13.303, de 2016, como o Regulamento
Interno de Licitações e Contratos da Cemig são claríssimos ao estabelecerem que a
contratação direta, por inexigibilidade de licitação, não pode ser realizada de forma verbal
e precária, sem a prévia justificação por meio do devido procedimento administrativo.
Como a realização da licitação para a escolha do fornecedor é a regra consagrada
pela Constituição da República e pela legislação federal que regulamenta as contratações

207
públicas, as contratações diretas devem ser encaradas como exceção, exigindo motivação
suficiente e adequada.
Exatamente por isso, antes da contratação direta, o gestor deve instaurar um
procedimento prévio justificando a não realização da licitação e enquadrando a hipótese
entre aquelas previstas no rol de inexigibilidade previsto na lei.
O procedimento deve ser devidamente instruído com toda a documentação
legalmente estabelecida (art. 22 do Regulamento de Interno de Licitações e Contratos da
Cemig).
No caso da contratação dos escritórios Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil
Advogados e Lefosse Advogados, os gestores responsáveis ignoraram solenemente a
previsão legal, tendo ela sido realizada de forma verbal e precária, sem qualquer
instauração do procedimento de inexigibilidade de licitação e da demonstração do seu
enquadramento nas hipóteses capazes de justificar a ausência da licitação.
A situação é bastante agravada no caso da Lefosse em decorrência do vínculo
anterior existente entre o Sr. Eduardo Soares e a mencionada banca de advocacia, bem
como devido ao fato de ele ter recebido valores mesmo após a sua saída da sociedade.
Frise-se que não há no procedimento de convalidação da contratação qualquer
informação capaz de demonstrar e convencer que o início da execução contratual não
pudesse ser precedida da devida instauração e conclusão do competente processo
administrativo de inexigibilidade de licitação.
Ora, não se trata aqui da contratação de um serviço ou execução de uma obra que
não pudesse aguardar alguns dias, tempo mais do que suficiente para a devida instauração
e conclusão do processo administrativo de inexigibilidade de licitação. A “premência das
providências” mencionada na Proposta de Deliberação não convence quanto à
inviabilidade da devida instauração do procedimento administrativo. Até mesmo porque,
se a situação em questão é delicada e a divulgação de informações relacionadas aos fatos
pode impactar negativamente nos interesses da companhia, não seria razoável a contratação
verbal de um escritório de advocacia sem a conferência prévia de conflitos de interesses de
todos os membros integrantes da banca selecionada, em especial nesse caso em que a
contratação autoriza prestação de serviços não apenas por algum ou alguns sócios do
escritório, mas também por advogados de nível inferior aos dos sócios cuja qualificação

208
foi apresentada como diferencial à contratação e até mesmo por estagiários e advogados
juniores cujos nomes sequer constam no bojo do contrato celebrado para fins de uma
conferência séria e firme de conflito de interesses e controle de vazamento de dados e
informações confidenciais.
Configura-se até mesmo irresponsável a conduta praticada pelos gestores,
consistentes em franquear acesso aos procedimentos com informações sigilosas e sensíveis
aos interesses da companhia sem a prévia apuração de eventuais conflitos de interesse de
todos aqueles que integram a banca do escritório, iniciando-se a prestação de serviços de
representação sem a devida cobertura contratual.
Em tal contexto, não havia qualquer urgência capaz de impedir que, antes dos
escritórios contratados terem iniciado a prestação dos seus serviços, os gestores
responsáveis tivessem providenciado:
a) a descrição do objeto da contratação;
b) a razão da escolha do fornecedor ou do executante;
c) a justificativa do preço, que comprove adequação com os preços praticados no
mercado;
d) o reconhecimento da situação de inexigibilidade de licitação;
e) a comprovação da notória especialização do escritório escolhido.
Com efeito, o Conselho de Administração da Renova aprovou o ajuizamento do
pedido de recuperação judicial da empresa em suas controladas em 16/10/2019 e, segundo
o relatório de horas apresentado pela Lefosse Advogados, os trabalhos tiveram início em
17/6/2020. Ou seja, era perfeitamente possível que a Cemig, ao saber da decisão de
ajuizamento do pedido de recuperação judicial pela Renova, iniciasse o procedimento de
contratação precedida de licitação.
No entanto, em vez de seguirem a lei e adotarem o procedimento prévio, os gestores
preferiram escolher subjetivamente e precariamente um escritório de advocacia, colocando
em risco os interesses da companhia, além de promoverem contratações com valores
vultosos de forma verbal e sem a adoção de qualquer cautela para a preservação do
interesse público. Sobre isso, é importante destacar o trecho do depoimento do Sr. Eduardo
Soares, transcrito na página 193.

209
O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais já se posicionou sobre o tema,
tendo firmado entendimento no sentido de que:
ainda que se trate de dispensa ou de inexigibilidade de licitação, a
administração pública não está autorizada a contratar qualquer
particular e por qualquer via, porquanto a contratação direta deverá
ser precedida, necessariamente, de procedimento administrativo
formal, que evidencie a obediência aos princípios e regras do
regime jurídico administrativo”, in verbis:

Representação. Inspeção extraordinária. Prefeitura municipal.


Superintendência de água e esgoto. Contratações diretas. Dispensa
e inexigibilidade de licitação. Irregularidades na formalização dos
procedimentos. Aplicação de multa aos responsáveis.
Recomendações e determinação ao atual prefeito. 1.a prévia
licitação constitui regra para a realização de contratação pela
Administração Pública e, consequentemente, a contratação direta é
exceção, observadas as hipóteses e regras previstas na legislação
de regência.2.Ainda que se trate de dispensa ou de inexigibilidade
de licitação, a Administração Pública não está autorizada a
contratar qualquer particular e por qualquer via, porquanto a
contratação direta deverá ser precedida, necessariamente, de
procedimento administrativo formal, que evidencie a obediência
aos princípios e regras do regime jurídico administrativo,
sobretudo, o disposto no art. 26 da Lei nº 8.666, de 1993.3.A
inexigibilidade de licitação pressupõe a inviabilidade de
competição, e o inciso II do art. 25, combinado com o art. 13 da
Lei nº 8.666, de 1993, estabelece, como pressuposto da contratação
direta de serviços técnicos profissionais especializados, a presença
simultânea da natureza singular do objeto e da notória
especialização do favorecido.4.O serviço para ser singular deve ter
características que o tornam inconfundível com os outros. É
aspecto inerente ao serviço, e não ao profissional ou sociedade
empresária que o executará. (REPRESENTAÇÃO n. 912263. Rel.
CONS. GILBERTO DINIZ. Sessão do dia 14/3/2019.
Disponibilizada no DOC do dia 26/4/2019).

b.2) Da irregularidade da contratação direta. Inexigibilidade de licitação sem o


preenchimento dos requisitos legais. Improbidade administrativa por ofensa aos
princípios que regem a administração pública. Conduta em tese passível de
enquadramento no crime de contratação direta ilegal (art. 337-E do Código Penal)

b.1) Da ausência de demonstração da notória especialização

210
A contratação dos escritórios Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados e
Lefosse Advogados foi fundamentada essencialmente na pessoa dos sócios. No caso do
Lefosse, os sócios que foram indicados para a condução dos trabalhos foram os Srs. Carlos
Barbosa Mello e Roberto Zarour Filho. No contrato de prestação de serviços em sua
cláusula primeira, parágrafo único, restou estabelecido que os serviços deveriam ser
realizados pelo(s) profissional(is) indicados na proposta do contrato datado de 7/6/2020.
Da análise do relatório de horas trabalhadas pode-se verificar que os trabalhos
foram, em grande parte, desenvolvidos por advogados não sócios, o que inclui advogados
juniores e estagiários, o que se traduz na ausência da notória especialização que justificou
a contratação direta.
Não há também no contrato celebrado qualquer cláusula contratual que exija que
todos os atos praticados pelos demais advogados do escritório sejam devidamente
supervisionados pelo responsável técnico indicado como possuidor da notória
especialização.
Pelo contrário, o contrato ao mesmo tempo que determina que os trabalhos
deveriam ter sido executados pelos sócios mencionados na proposta, quais sejam, o Sr.
Carlos Barbosa Mello e o Sr. Roberto Zarour Filho, também permite a execução de atos de
forma isolada por qualquer advogado, inclusive os de nível inferior aos sócios, e até mesmo
por estagiários.
Ou seja, não há qualquer garantia de que os serviços serão efetivamente prestados
pelo profissional indicado na inexigibilidade de licitação como possuidor da expertise
superior ao padrão comum do mercado.
E de fato isso aconteceu. No relatório de horas dos escritórios contratados a situação
se revela evidente, ou seja, não há qualquer comprovação apta a demonstrar que os
advogados não sócios possuem notória especialização, menos ainda com a qualificação e
experiência anterior suficiente para o enfrentamento do problema.
Nas planilhas de horas é possível constatar que houve faturamentos relevantes de
horas de trabalho executadas por advogados que não figuram como detentores de notória
especialização. E mais, há várias atividades por eles desempenhadas sem a devida
supervisão dos responsáveis técnicos.

211
Em algumas situações há inclusive cobrança por participação em reuniões por
advogados não indicados como responsáveis técnicos, mesmo estando presente o sócio
responsável.
Isso denota a intenção do escritório, permitida em razão da falta de efetiva
fiscalização pelos gestores da Cemig, de promoverem o faturamento do número de horas
máximo por mês.
Para engordar a sua fatura, o escritório inseria em suas planilhas horas supostamente
trabalhadas por estagiários e advogados que não possuem notória especialização, fazendo
assim com que a banca conseguisse alcançar os maiores valores mensais a título de
remuneração.
Em complemento, é necessário considerar que os valores autorizados para esses
níveis de advogados encontram-se em patamares bastante elevados.
Para que se tenha ideia, uma hora de trabalho de um advogado júnior foi contratada
pelo custo entre R$450,00 e 650,00, o que é, para o mercado, um valor bastante elevado
para um advogado sem notória especialização, situação essa agravada pela ausência de
supervisão técnica registrada nos relatórios encaminhados à Cemig.
Conforme já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça:
a notória especialização jurídica é aquela de caráter absolutamente
extraordinário e incontestável, que fala por si. É posição excepcional, que
põe o profissional no ápice de sua carreira e do reconhecimento,
espontâneo, no mundo do direito, mesmo que regional, seja pela longa e
profunda dedicação a um tema, seja pela publicação de obras e exercício
da atividade docente em instituições de prestígio.
A especialidade do serviço técnico está associada à singularidade,
envolvendo serviço específico que reclame conhecimento peculiar do
seu executor e ausência de outros profissionais capacitados no
mercado, daí decorrendo a inviabilidade da competição. (REsp
448.442/MS, rel. ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
24/9/2010).

Se a pretensão fosse comprovar a notória especialização dos escritórios Thomaz


Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados e Lefosse Advogados, além do currículo dos sócios,
deveriam ter sido apresentados e juntados aos autos do procedimento documentos que
comprovassem desempenho anterior, estudos, experiências, publicações dos demais
advogados.

212
Definitivamente não há nos autos comprovação capaz de demonstrar a notória
especialização dos advogados autorizados a trabalharem e que efetivamente trabalharam
segundo os relatórios de horas apresentados, não existindo na minuta contratual celebrada
qualquer previsão que resguarde a atuação e execução em todos os atos contratados do
advogado indicado como detentor da notória especialização.
Cabe lembrar que o art. 78, § 3º, da Lei Federal nº 13.303, de 2016, exige que o
profissional indicado como responsável técnico para fins de comprovação da notória
especialização executem “direta e pessoalmente as obrigações a eles imputadas”.
A autorização da execução de trabalhos por estagiários, ao elevado custo de
R$400,00 (quatrocentos reais), é também uma prova da burla à notória especialização.
Já destacamos em capítulo anterior neste relatório que, nos termos do art. 1º da Lei
Federal nº 11.788, de 2008, o “estágio é ato educativo escolar supervisionado,
desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de
educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação
superior”.
É, portanto, incompatível com a figura da notória especialização a utilização de
estagiários para a prestação de serviços de consultoria, assessoramento e representação da
Cemig em procedimentos judiciais ou administrativos.
Obviamente, se o trabalho contratado possui complexidade técnica capaz de
enquadrá-lo no conceito de singularidade, não é lícita a utilização de estagiários para o seu
enfrentamento, menos ainda mediante a vultosa remuneração de R$400,00 (quatrocentos
reais) por hora dedicada pelo acadêmico.
Portanto, de duas, uma: ou o objeto contratado não possuía qualquer singularidade,
podendo ser executado e enfrentado por advogados recém-formados e até mesmo por
estagiários, não sendo necessária a atuação direta de advogados com notória especialização
em todos os objetos que compõem o escopo contratual; ou a Cemig irresponsavelmente
permitiu que estagiários e advogados sem a notória especialização enfrentassem os serviços
singulares mediante o pagamento de honorários vultosos, comprometendo assim os
interesses da companhia e causando danos patrimoniais consideráveis.
Analisando os documentos, percebe-se que os gestores Eduardo Soares, Douglas
Braga de Oliveira Xavier, Rafael Falcão Noda e Flávio Almeida de Araújo foram os

213
responsáveis pela ilegal apresentação da Proposta de Deliberação contendo a convalidação
da ilegal contratação direta dos escritórios Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados
e Lefosse Advogados, mesmo com os defeitos acima mencionados.
Eduardo Soares e Rafael Falcão Noda foram os responsáveis pela assinatura do
contrato, em que pesem as flagrantes ilegalidades anteriormente apontadas.
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais já reconheceu
como ato de improbidade administrativa a contratação direta, por inexigibilidade de
licitação, sem a prévia comprovação da notória especialização da empresa contratada no
procedimento administrativo prévio:
Apelações Cíveis. Ação Civil Pública por Ato de Improbidade
Administrativa. Ação Popular. Rejeitadas as preliminares de
incompetência absoluta do juízo e de inadequação da via eleita. Sanções
impostas pela Lei de Improbidade Administrativa aos agentes políticos.
Não incidência da Reclamação n. 2138/DF julgada pelo Supremo
Tribunal Federal. Contratação direta de empresa para realização de
concurso público. Inobservância das formalidades exigidas.
Inexigibilidade e dispensa de licitação. Incomprovada a notória
especialização da empresa contratada e a singularidade do objeto.
Nulidade do contrato. Inobservância do procedimento administrativo
previsto no art. 26, da Lei n. 8.666/1992. Dispensa indevida. Ato de
improbidade administrativa previsto no art. 10, inciso VIII, da Lei n.
8.429/1992. Sanção aplicada em conformidade com o art. 12, inciso II,
da Lei n. 8.429/1992. Observância dos princípios constitucionais da
razoabilidade e proporcionalidade. Recursos a que se nega provimento.
(TJMG – Apelação Cível 1.0568.07.005170-7/001, relator(a): des.(a)
Roney Oliveira , 2ª Câmara Cível, julgamento em 15/12/2009,
publicação da súmula em 13/1/2010).

Diante de tudo o que foi anteriormente exposto, a conduta praticada pelos diretores,
gerentes, particulares e escritórios contratados configura, em tese, ato de improbidade
administrativa que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº 8.429,
de 1992, que assim prevê:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa


lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje,
efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres
das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: :
(…)
V – permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
ou serviço por preço superior ao de mercado;

214
VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins
lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda
patrimonial efetiva;
(…)
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de
responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação
específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:
(...)
II – na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos até 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente
ao valor do dano e proibição de contratar com o poder público ou
de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos;
(…)
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber,
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
dolosamente para a prática do ato de improbidade.
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de
pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de
improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se,
comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso
em que responderão nos limites da sua participação.

Sendo assim, há fortes indícios de que Eduardo Soares, Douglas Braga de Oliveira
Xavier, Rafael Falcão Noda e Flávio Almeida de Araújo praticaram atos, em tese, passíveis
de enquadramento na conduta de improbidade administrativa descrita no art. 10, inciso V
e VIII da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em que as pessoas físicas, no exercício
das suas funções desempenhadas na Cemig, contribuíram para a irregular contratação e
aplicação de recursos da companhia, provocando dano ao erário, enquanto as pessoas
jurídicas, Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados e Lefosse Advogados,
configuram-se em tese como particulares beneficiários da ilegalidade.
Por fim, a conduta dos gestores consistentes na realização de contratação direta,
sem o preenchimento dos requisitos legais é, em tese, passível de enquadramento no crime
previsto no art. 337-E do Código Penal, que dispõe: “Admitir, possibilitar ou dar causa à
contratação direta fora das hipóteses previstas em lei: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos,
e multa”.

215
3. Da venda da participação da Light, da qual a Cemig era a maior acionista, na
Renova Energia por apenas R$1,00 e outras operações societárias

A CPI se debruçou sobre as circunstâncias suspeitas em que aconteceram vendas


de ativos em novembro de 2019, época em que a Cemig era a maior acionista da Light, a
principal empresa de energia que atua no Estado do Rio de Janeiro. Antes de adentrar nos
fatos apurados, vejamos um breve histórico da relação da Cemig com a Ligth e a Renova.
A participação da Cemig na Light teve início no ano de 2006, quando foi celebrado
o Contrato de Compra e Venda de Ações entre a EDF International S.A. e a Rio Minas
Energia Participações S.A. – RME –, composta pela Companhia Energética de Minas
Gerais, Andrade Gutierrez Concessões S.A. – AG Concessões –, Pactual Energia
Participações S.A. – Pactual Energia – e Luce Brasil Fundo de Investimentos em
Participações – Luce.10 Já em 2010, a Cemig adquiriu a participação da AG Concessões
na Light, passando a deter uma participação direta de 26,06% da concessionária
fluminense.11
No mesmo ano de 2010, a Cemig anunciou a sua entrada, em conjunto com a Ligth,
na participação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na região amazônica. O acordo
consistiu na aquisição de 9,77% do capital social da Norte Energia S.A. – “Nesa” –,
empresa que detém a concessão para a operação da UHE Belo Monte.12
No ano seguinte, em 2011, a Cemig adquire participação na Renova, empresa de
energia renovável fundada em 2001, por intermédio da Light, de quem a companhia
mineira era a principal acionista. Na época, a Light desembolsou R$400 milhões e passou
a deter 26% do capital total e 50% do bloco de controle da Renova.13
Já em 2013, a Cemig anuncia sua entrada no bloco de controle da Renova,
possibilitando a aquisição de 51% das ações da Brasil PCH e o reforço do caixa da Renova
para ser utilizado em projetos eólicos já contratados e em outros ativos de energia renovável.

10
Acesso disponível em: <http://ri.light.com.br/a-companhia/historico-e-perfil-corporativo/>.
11
Acesso disponível em: <http://ri.light.com.br/a-companhia/historico-e-perfil-corporativo/>.
12
Acesso disponível em: <http://ri.light.com.br/a-companhia/historico-e-perfil-corporativo/>.
13
Acesso disponível em: <https://www.otempo.com.br/politica/Cemig-anuncia-venda-de-participacao-na-
renova-por-r-60-milhoes-1.2569036>.

216
Nos anos seguintes, entretanto, a atuação da Renova se mostrou decepcionante, com
sucessivos atrasos nas entregas que havia planejado, caindo em descrédito no mercado.
Em abril de 2019, a Renova Energia foi alvo da operação “E o vento levou”, da
Polícia Federal. A investigação apura desvios de dinheiro da Cemig Geração e Transmissão
da ordem de R$40 milhões, parte de um aporte de R$810 milhões na Renova feito pela
estatal mineira, segundo a Polícia Federal.14
Feito esse breve histórico, ressaltamos que o pano de fundo da linha da investigação
dessa CPI foi a evidente estratégia de desinvestimento e descrédito da Cemig para torná-la
mais propensa à privatização, o que vem sendo defendido publicamente por representantes
do governo e pelo próprio chefe do Poder Executivo.
De início, não se pode olvidar que a privatização só seria possível, segundo a
Constituição Estadual de 1989, nos termos da Emenda Constitucional nº 50, de 2001, com
a autorização legislativa da ALMG e a realização de referendo popular. Ou seja, o governo
teria de apresentar um projeto de lei específico à Assembleia Legislativa, que teria que ser
aprovado por, no mínimo, três quintos dos deputados estaduais. Após essa votação, a
privatização ou venda de ações ainda deverá ser submetida a referendo popular. Confira-
se o teor das normas da Constituição Mineira:
Art. 14 – (...)
§ 15 – Será de três quintos dos membros da Assembleia Legislativa o
quórum para aprovação de lei que autorizar a alteração da estrutura
societária ou a cisão de sociedade de economia mista e de empresa
pública ou a alienação das ações que garantem o controle direto ou
indireto dessas entidades pelo Estado, ressalvada a alienação de ações
para entidade sob controle acionário do poder público federal, estadual
ou municipal.
§ 16 – A lei que autorizar a alienação de ações de empresa concessionária
ou permissionária de serviço público estabelecerá a exigência de
cumprimento, pelo adquirente, de metas de qualidade de serviço e de
atendimento aos objetivos sociais inspiradores da constituição da
entidade.
§ 17 – A desestatização de empresa de propriedade do Estado prestadora
de serviço público de distribuição de gás canalizado, de geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica ou de saneamento básico,
autorizada nos termos deste artigo, será submetida a referendo popular.

14
Acesso disponível em: <https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/noticias/2019/julho/operacao-
201ce-o-vento-levou-2201d-receita-federal-e-policia-federal-deflagram-a-quinta-fase-da-operacao-
descarte>.

217
Essa intenção de tornar a estatal “privatizável”, sem cumprimento dos pressupostos
da Carta Mineira, é muito grave. Todas as contratações de consultorias por parte da Cemig
com esse objeto são questionáveis, na medida em que, sem a prévia autorização legislativa,
a companhia não poderia sequer cogitar tais operações. Por isso, esta CPI considera que
todos os gastos realizados no intuito de alienar parcela do patrimônio da empresa estatal, à
revelia da autorização legislativa, representaram gastos temerários e sujeitos à
responsabilização dos gestores.
É necessário considerar que os gastos com as contratações de consultorias jurídicas
e econômico-financeiras para a preparação do processo de privatização da Cemig somaram
cifras milionárias, tudo isso antes mesmo de qualquer autorização legislativa e referendo
popular.
Ademais, a forma atabalhoada como tais operações se deram causaram
perplexidade aos membros da CPI. A CPI passou a colher provas sobre diversas operações,
a partir de 2019 e verificou que elas se deram de forma, no mínimo, açodada, em claro
prejuízo da companhia. Um bom exemplo foi a venda da participação da Light na Renova
Energia, pela singela quantia de R$1 (um real), em outubro de 2019, que foi objeto de
intenso debate entre os parlamentes e as testemunhas.
Especificamente sobre tal operação, há que se observar que a Cemig era a
controladora da Light com 49,9% das ações, mas vendeu 27,3% em julho de 2019, e os
22,6% restantes em janeiro de 2021. Em novembro de 2019, a empresa fluminense, ainda
com participação da Cemig de forma majoritária, vendeu por R$1 (um real) os 17,17% de
ações que detinha na Renova, empresa que atua no ramo de energia eólica, a um fundo de
investimentos. Dois dias depois da venda, a Renova entrou com um pedido de recuperação
judicial por não conseguir pagar as dívidas no valor de R$3 bilhões. Além da participação
indireta que tinha via Light, a Cemig ainda detém 27% das ações com direito a voto na
Renova e integra o bloco de controle da empresa. A estatal é a maior acionista individual,
segundo o site da Renova.
O ex-presidente da Light, no período entre 2017 e abril de 2019, Luís Paroli Santos,
confirmou, perante a CPI, que a venda da participação da empresa na Renova Energia por
apenas R$1, no final de 2019, não era a melhor solução e que havia outras opções para
resolver os problemas financeiros da companhia.

218
Durante o depoimento, a CPI mostrou a Paroli durante uma apresentação interna de
slides da Cemig, datada de janeiro de 2019 – já durante o atual governo – mas alguns meses
antes da venda e do pedido de recuperação judicial, em que foram apresentadas sete
alternativas para tentar solucionar os problemas financeiros enfrentados pela Renova
Energia, como venda de ativos e refinanciamentos da dívida. A venda da participação da
Light por apenas R$1 não era uma das opções. Perguntado se essa seria a melhor solução,
Paroli afirmou que não teve acesso aos dados da Renova no momento da venda, já que não
era mais presidente da empresa quando a operação financeira ocorreu, mas que não
concordava com o caminho adotado. A fim de deixar mais clara tal narrativa, veja-se o
seguinte trecho de seu depoimento:
O deputado Professor Cleiton: – Essa era a matéria deliberativa da
reunião. O tema da reunião foi este aqui: "Ratificação da aprovação
e celebração do termo de compromisso Brasil PCH". (...) Esse
arquivo aqui nos chama muito a atenção. Gostaria que os deputados
prestassem atenção nele. Equacionamento financeiro da Renova.
Uma reunião ocorrida em janeiro de 2019, portanto, já na atual
gestão. Vejam só: "Nos slides a seguir são apresentados os
impactos e os resultados da Cemig decorrentes dos cenários de
equacionamento financeiro da Renova".
Primeira opção. Sr. Luís Fernando, o senhor poderia nos explicar,
para nós, que não somos do mercado, qual seria essa primeira
opção, como se daria a venda da Renova ou uma tentativa de
salvação da Renova neste processo aí, por favor?
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Mesmo antes de 2019,
negociávamos esse ativo Alto Sertão III com a AES. Existiam
algumas dívidas da Renova com a Cemig e com a Light que seriam
reperfiladas. Vejam bem, essa decisão é da Cemig. Estou
interpretando o que está no slide. Eu não posso... Estou
simplesmente interpretando o que está no slide.
O deputado Professor Cleiton: – Sim, sim, claro. É isso que
estamos pedindo. Não sei se algum deputado aqui entende disto aí.

219
(– Ri.) Deputado Zé Guilherme e deputada Beatriz? Então,
precisamos de alguém como o senhor aqui para nos esclarecer. Não
sei se o Dr. Hely Tarqüínio entende dessa questão de mercado.
Então, o pedido é este mesmo, Luís Fernando: para nos explicar o
que está presente aí.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Então, seria essa a primeira
opção: vender a Alto Sertão III para a AES e fazer o reperfilamento
da dívida, ou seja, pegar essa dívida que estava vencida junto à
Cemig e reperfilá-la, refinanciar, vamos dizer assim, essa dívida
para o futuro. Embaixo, temos os impactos financeiros que isso
traria para o balanço da Cemig.
O deputado Professor Cleiton: – A segunda opção.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – É a mesma coisa da primeira.
Está acrescentada aí uma conversão de 25%. Acredito que essa
conversão seja parte daquela dívida que seria perfilada e iria se
converter em ações da Renova. Portanto a Cemig passaria a ter um
percentual maior da empresa.
O deputado Professor Cleiton: – Terceira opção.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Realavancagem seria
conseguir financiamentos externos de alguns fundos ou bancos, ou
seja, o que for, fazer uma realavancagem, ou seja, tomar um novo
financiamento, fazer o reperfilamento que já expliquei e, ao mesmo
tempo também, vender a Alto Sertão III para a AES.
O deputado Professor Cleiton: – Quarta opção.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – É a mesma coisa. Além disso,
vender a Alto Sertão III, fazer uma oferta pública de ações e fazer
uma conversão de 100%, ou seja, vamos fazer uma oferta de ações
para ver se o mercado compraria as ações da Renova, e aquelas
dívidas que a Cemig tinha junto à Renova... Ela converteria 100%
dessa dívida para a Equity dentro da Renova. Portanto aumentaria
aí mais ainda a sua participação.

220
O deputado Professor Cleiton: – Quinta opção.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – É a mesma coisa. Já expliquei
os dois: venda de Alto Sertão III mais conversão de 100%
aumentando a participação da Cemig.
O deputado Professor Cleiton: – Sexta opção.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – A recuperação judicial da
empresa e os impactos que isso traria para a Cemig. É um pedido
de recuperação judicial da Renova.
O deputado Professor Cleiton: – Impacto no Lajida. O que seria
Lajida, por favor?
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – São os resultados da empresa,
antes de juros. É o mesmo que Ebitda, antes do pagamento dos
serviços da dívida e impostos. É o resultado da empresa antes disso.
Então, nesse caso, o impacto do Lajida seria de R$607.000.000,00
como parte relacionada, que é a probabilidade de classificação... (–
É interrompido.)
O deputado Professor Cleiton: – Como parte relacionada.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Como parte relacionada e tal.
Na verdade, você tomar essa decisão, a gente... A Cemig era dona
da Renova, certo?
O deputado Professor Cleiton: – Certo.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Como ela é uma parte
relacionada, o voto dela na recuperação judicial seria, vamos dizer
assim, voto não útil, porque ela tinha participação na Renova e, de
alguma forma, tinha responsabilidade por aquela ação.
O deputado Professor Cleiton: – Sétima opção.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Venda da AES, reperfilamento
e conversão de 50%. Só diminuiu o percentual.
O deputado Professor Cleiton: – Oitava opção; não há. Ou seja, são
apresentadas sete opções, isso numa reunião interna da Cemig. A
oitava opção, que seria a venda por R$1,00, não aparece aqui. Duas

221
perguntas acerca dessa apresentação. A primeira delas: o senhor foi
presidente da Light, que era a maior acionista da Renova e tinha o
controle sobre ela. A Renova tinha solução?
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Só vou fazer duas
ponderações. Na verdade, essa decisão são as opções que a Cemig
se colocou. Posso dizer que são soluções que, obviamente, foram
conversadas com a Light também, para a Light poder definir quais
seriam as opções dela também. Então, essas são as opções
colocadas. A Light não era o acionista majoritário. Ela fazia parte
do bloco de controle junto com a Cemig e com os RRs, que o
senhor mencionou aí como sócios da Renova. Então, ela fazia parte
do bloco de controle. Só queria fazer essas correções. Esqueci-me
da pergunta, pois fiquei preocupado em fazer essas ponderações.
O deputado Professor Cleiton: – Se a Renova tinha salvação.
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Acho que as próprias opções
mostram que sim, que a Renova tinha várias opções para serem
solucionadas, obviamente todas tinham prós e contras, todas as
opções tinham vantagens e desvantagens. Mas, sim, a Renova tinha
opções, tanto que ela existe até hoje, as ações estão na bolsa.
Portanto uma solução foi colocada.
O deputado Professor Cleiton: – A venda por R$1,00 era o melhor
desses caminhos? A Cemig não poderia ter exercido os direitos de
compra por R$1,00 da Renova?
O Sr. Luís Fernando Paroli Santos: – Muito bem. Com relação à
venda por R$1,00, não consigo olhar o que estava acontecendo no
futuro da Light, porque eu já tinha saído. Então não consigo olhar
os dados atualizados, vamos pensar assim. No momento em que eu
dirigia a Light, não entendia essa solução – vamos dizer assim –,
como a melhor solução para a empresa, tanto que não a exerci, não
tentei vendê-la por R$1,00 nem nada. Sim, a Cemig poderia ter
comprado por R$1,00.

222
É importante pontuar que o Sr. Paroli é uma pessoa reconhecida do mercado e
coloca em xeque a versão de que tais operações realmente foram necessárias. Com efeito,
na medida em que as alienações das participações societárias se deram abaixo do preço de
mercado, elas geraram, inexoravelmente, prejuízos aos cofres públicos, já que a Cemig faz
parte do patrimônio do povo mineiro.
Apenas quatro meses antes da venda da Renova Energia, a Cemig teria recebido
uma oferta, por meio de membros do Executivo, de compra da empresa de energia
renovável por cerca de R$480 milhões, tendo como parte do “pacote” a venda de ativos
ligados à exploração de nióbio no Estado.
Em janeiro de 2021, a Cemig também vendeu o restante de sua participação na
Light, por R$1,37 bilhão, valor pouco superior a um contrato celebrado no mesmo mês
com a IBM Brasil, sem licitação e pelo prazo inédito de dez anos, para reformular seus
canais de atendimento ao cliente. Tal contratação é objeto de análise em outro tópico deste
relatório, mas o contexto de operações da Cemig no período é revelador.
A Cemig exerceu o controle acionário da Light, com praticamente metade das ações,
por 13 anos, mas reduziu sua participação para em torno de 22% um pouco antes da venda
da Renova Energia, em 2019, primeiro ano do atual governo.
A parte da Cemig na empresa fluminense foi negociada por cerca de R$20 por ação,
que poucos meses antes estavam cotadas por aproximadamente R$24. Percebe-se, ainda,
que a venda do restante da participação na Light se deu no auge da pandemia, em meio a
um dos piores momentos de retração econômica vivida pelo País. Qual o sentido dessas
operações? No entender da CPI, todos os elementos probatórios levam a um mesmo
caminho: a preparação – sem autorização do Poder Legislativo e do referendo popular –
para a privatização da Cemig.
Luís Paroli Santos não foi o único a não concordar com a venda da Renova por R$1.
O ex-presidente da Cemig, Cledorvino Belini, relatou à CPI que renunciou ao cargo de
conselheiro da Light depois de o Conselho de Administração ter aprovado a operação
financeira. Ele disse que se sentiu desconfortável com a decisão e não ficou convencido da
necessidade da operação. Confira-se o seguinte trecho do seu depoimento:

223
O deputado Sávio Souza Cruz: – No dia 14/10/2019, a Light
vendeu a totalidade de suas ações na Renova equivalentes a 17,17%
do capital dessa companhia pelo expressivo valor de R$1,00. Na
época, o senhor era conselheiro da Light. O senhor foi favorável a
essa operação?
O Sr. Cledorvino Belini: – Não.
O deputado Sávio Souza Cruz: – Gentileza nos explicar os motivos
de a Light ter feito essa transição por um valor tão expressivo.
Houve algum acordo extra entre Cemig, Light e Renova nessa
transação?
O Sr. Cledorvino Belini: – Não. Eu não votei nessa operação.
O deputado Sávio Souza Cruz: – O senhor não era favorável.
O Sr. Cledorvino Belini: – Eu não votei.
O deputado Sávio Souza Cruz: – Mas o senhor era favorável ou
não? O senhor estava presente e se absteve?
O Sr. Cledorvino Belini: – Não, eu não estava presente. Eu estava
por telefone e me abstive.
O deputado Sávio Souza Cruz: – Então, pelo menos, o senhor não
estava convencido de que era bom negócio.
O Sr. Cledorvino Belini: – Eu não estava convencido.
O deputado Sávio Souza Cruz: – Ah!!!
(...)
O deputado Sávio Souza Cruz: – Em 25/10/2019, o senhor
renunciou ao cargo de membro do Conselho de Administração da
Light. Qual foi o motivo da sua renúncia?
O Sr. Cledorvino Belini: – Em 2019?
O deputado Sávio Souza Cruz: – Em 25/10/2019.
O Sr. Cledorvino Belini: – Não. Deve ter um erro. Ah! Da Light?
O deputado Sávio Souza Cruz: – Sim.

224
O Sr. Cledorvino Belini: – Ah, sim! Eu não estava me sentindo,
como se diz, confortável com as decisões que o conselho da Light
estava tomando.
O deputado Sávio Souza Cruz: – Será mera coincidência que isso
tenha sido logo após a Light ter vendido as suas ações da Renova
por R$1,00? Na verdade, é um indício de que o senhor não estava
confortável com essa decisão?
O Sr. Cledorvino Belini: – Eu não estava confortável e decidi... (–
É interrompido.)
O deputado Sávio Souza Cruz: – Eu também não estaria.
O deputado Professor Cleiton: – Quais decisões deixaram o senhor
nesse desconforto?
O deputado Sávio Souza Cruz: – Ele já mencionou a venda das
ações da Renova, da Light por R$1,00.
O Sr. Cledorvino Belini: – Foi a venda da Renova.

O testemunho do ex-presidente da estatal, Cledorvino Belini, que revelou ter


discordado da decisão de venda da participação da Light na Renova Energia – motivo pela
qual se absteve de votar para aprovar a operação, quando ainda fazia parte do Conselho de
Administração da Light – corrobora a ingerência indevida de dirigentes do Partido NOVO
que aparelharam a Cemig. Em todas as operações investigadas, evidencia-se que na atual
administração estadual, negócios e política se misturaram na empresa com prejuízos aos
cofres públicos, como na realização de licitações suspeitas ou, pior, na celebração de
contratos sem qualquer concorrência, alguns deles sem nem mesmo a prévia instauração
de processos de inexigibilidade de licitação.
Ironicamente, também em 2021, a Cemig e sua subsidiária Cemig Geração e
Transmissão – Cemig GT – anunciam em novembro a venda da totalidade da participação
mantida pelas empresas na Renova Energia ao fundo AP Energias Renováveis, da Angra
Partners. A transação foi realizada por R$60 milhões e inclui ainda os créditos que a estatal
mantinha na Renova, empresa que está em processo de recuperação judicial.

225
A CPI teve acesso a uma apresentação da consultoria da Boston Consulting Group
– BCG – de 2020 a respeito da revisão da estrutura organizacional da Cemig. Nesse
material, há orientação expressa para a Cemig desinvestir nas empresas Renova, Light,
Santo Antônio, Belo Monte e Taesa. Ainda sobre o material da BCG, há a seguinte
orientação: “Substituir profissionais concursados nos níveis de superintendente e gerente
por profissionais do mercado, além de facilitar a ação da Cemig em outros mercados,
através de abertura de escritório na cidade de São Paulo”. Essas duas orientações – colocar
profissionais sem concurso em cargos gerenciais e constituir escritório em São Paulo –
foram processadas em 2020 pelo presidente Reynaldo Passanezi Filho.
Os desinvestimentos das empresas Renova e Light acabaram acontecendo também,
e, conforme apurado, tais operações se deram de forma açodada, acabando por prejudicar
a Cemig e os cofres públicos.

4. Das práticas de condutas ilegais e imorais na execução contratual

Além dos desvios já apontados, a CPI também investigou uma série de


irregularidades relacionadas à prática de condutas ilegais e imorais na execução contratual.
A comissão recebeu notícias, por exemplo, de que a companhia chegou a condicionar a
liberação de pagamentos de medições contratuais à subcontratação de terceiros por parte
das contratadas pela Cemig e suas subsidiárias, gerando prejuízos ao interesse público.
Como essa situação configura possível prática de advocacia administrativa e
conflito de interesses, pois demanda a participação de diretores e empregados públicos da
Cemig e de suas subsidiárias, além de particulares por ela contratados, a CPI partiu para
essa linha investigatória, a fim de coletar elementos probatórios para a responsabilização
desses agentes.
Ao longo das investigações, constatou-se que a execução dos contratos da Cemig
possui inúmeras fragilidades. No período investigado, depoentes confirmaram que têm
faltado materiais para que as obras contratadas pela Cemig sejam realizadas. Como não
poderia ser diferente, o índice de insatisfação dos consumidores bateu recordes. Todas essas
irregularidades comprovam a estratégia silenciosa do atual governo de “sucatear para

226
privatizar”, isto é, há um claro objetivo de quebra da empresa para convencer a opinião
pública a apoiar a sua venda.
Apesar de a insatisfação com os serviços ser notória e a CPI ter coletado diversas
reclamações durante o seu trabalho, é marcante trazer um exemplo citado pelo próprio
presidente da comissão, na reunião da CPI do dia 30/9/2021, ao relatar a aflição de um
cidadão que lhe procurou na qualidade de parlamentar. Observe-se:
O presidente: – (...) é notório, é muito recorrente chegarem até os
gabinetes dos 77 deputados – eu posso arriscar aqui – pedidos de
clientes para que façam suas intermediações junto à Cemig para
poder acelerar os processos, acelerar os atendimentos, que é tudo
que o governador tem criticado ao longo do tempo, mas o que nós
percebemos é que a melhora na prestação de serviços por parte da
Cemig não acontece, ela não aconteceu. Essa margem que o senhor
diz, eu creio e arrisco aqui a dizer, é uma margem muito grande
para poder melhorar a prestação de serviços para os consumidores.
Eu trago aqui um exemplo que recebi dias atrás, no interior do
Estado, visitando o Município de Guaxupé. Eu fui parado por um
fazendeiro, um produtor rural, que tem duas fazendas, uma delas
no limite do Estado com São Paulo, mas em Minas Gerais, que é
atendido lá, salvo engano, pela CPFL, que é a companhia
energética do Estado de São Paulo; a outra fazenda é num
município mineiro também, mas que é atendida pela Cemig. Ele
precisou do aumento de carga na fazenda dele atendida pela Cemig.
A Cemig foi lá e cobrou R$50.000,00 para a troca do transformador
e levou um ano e meio para poder fazer a obra, depois de já ter
recebido. Quando ele precisou do mesmo serviço na outra fazenda,
que era atendida pela CPFL, ele acionou a empresa, a empresa
chegou lá, para surpresa dele, com um transformador e foram
começando o serviço. Ele falou: "Opa, pera lá, eu não tenho
condição de pagar os R$50.000,00 para a troca do transformador".
Ele foi surpreendido com a resposta da empresa: "Não, o senhor

227
não vai pagar nada por isso, é interessante para nós, que vamos
aumentar a oferta de serviço para o senhor, porque vamos ganhar
com isso, vamos ter lucro com isso". Então, isso tudo é recorrente.
O motivo de existir esta CPI, esta comissão parlamentar, é para que
a gente provoque, fiscalize o que há de errado dentro da Cemig,
para que aí, sim, ela possa se tornar competitiva, eficiente,
melhorando a prestação de serviço para toda a nossa comunidade
mineira, para aquele investidor que precisa aumentar a sua
produção e não tem condições de ter a sua produção aumentada
porque não tem oferta de energia. Isso nos choca, isso nos revolta,
porque nós temos uma empresa lucrativa.

Nessa fase investigativa, a CPI procurou entender, a partir da oitiva de


representantes sindicais, os motivos das reclamações relacionadas à execução dos contratos
celebrados pela Cemig, como também o impacto das medidas que a atual gestão tem
tomado na vida dos trabalhadores da empresa estatal.
Assim, foi ouvido, na condição de testemunha, o presidente do Sindicato das
Indústrias de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias no Estado – Sindimig –,
Márcio Danilo Costa, que abordou os prejuízos que a prática de contratações com
inexigibilidade de licitação adotada pela atual gestão da Cemig trouxe a empresas mineiras
com um histórico de serviços prestados à estatal.
A testemunha confirmou que, a partir da contratação da empresa A.T. Kearney
Consultoria de Gestão Empresarial Ltda., para desenvolver “serviços de consultoria técnica
especializada em revisão de procedimentos e estratégias para a contratação de serviços e
aquisição de materiais e equipamentos”, que se deu no início do exercício de 2021, houve
mudanças dos editais de licitação, prejudicando a efetiva contratação e tornando inviáveis
alguns contratos. Confira-se:
O deputado Sávio Souza Cruz: – O senhor participou de reunião
com a consultoria A.T. Kearney – não sei se a pronúncia é essa –,
contratada por inexigibilidade pela Cemig?

228
O Sr. Márcio Danilo Costa: – Sim, deputado. Eu estive com eles
por duas vezes. Eu acho que, se somarmos o tempo, deve dar algo
em torno de 3 horas.
O deputado Sávio Souza Cruz: – Quais as mudanças nos editais de
redistribuição essa consultoria tem promovido em nome da Cemig?
O Sr. Márcio Danilo Costa: – É uma boa pergunta, deputado. De
uma maneira geral, eu posso afirmar que eles aumentaram muito o
risco para quem toma esse tipo de serviço. Então eles fizeram
muitas modificações dentro dos indicadores, criaram também a
possibilidade de aplicação de multas, o que, no nosso entendimento,
teríamos possibilidades de trabalhar de uma maneira geral. Então,
para quem hoje pretende trabalhar para a Cemig nesses contratos,
o risco está muito alto.

Em outro momento de seu depoimento, a testemunha assim ponderou:

O Sr. Márcio Danilo Costa: – Esse modelo de contratação da Cemig


já existe. Eu posso errar, mas é alguma coisa perto de 20 anos mais
ou menos esse modelo.
O deputado Professor Cleiton: – O.K. Nesses editais feitos pela
consultoria contratada pela Cemig têm ocorrido exigências
desproporcionais que têm desestimulado ou dificultado a
participação das empresas?
O Sr. Márcio Danilo Costa: – Bom, deputado, essa resposta
também é fácil de eu passar ao senhor. Eu vou lhe falar do caso da
minha empresa. Esses editais estão no mercado. Nós nos sentamos,
nós avaliamos, nós fazemos contas – mineiramente dizendo aqui –
e nós entendemos que o risco envolvido é muito alto. Eu até
respeito aqueles empresários que estão vencendo, entendeu? A
gente percebe que cada um tem um perfil: um mais atirado, outro
menos atirado, um com mais disposição de tomar risco e outros

229
com menos. Mas o entendimento nosso lá dentro da empresa é que,
neste momento e na modalidade que está, nós não conseguimos.

O problema é que a política de incremento do risco contratual que vem sendo


realizada pela Cemig e que foi informada pela testemunha acaba proporcionando
contratações desinteressantes ou “impossíveis” de serem realizadas, sem prejuízos dos
trabalhadores das contratadas – houve confirmação no depoimento de que a empresa
responsável pela regional de Ipatinga não aceitou a prorrogação do contrato. Veja-se:
O deputado Professor Cleiton: – A última pergunta aqui, presidente,
para que depois possa retomar. Uma pergunta, diante de uma das
coisas mais escandalosas dos últimos tempos no interior da Cemig:
o senhor disse que a produtividade de um caminhão é de 50 a 60
unidades de serviços, perfeito?
O Sr. Márcio Danilo Costa: – Sessenta unidades de serviço, o
senhor está sendo otimista. Eu diria para o senhor, de 48 a 54.
(...)
O deputado Professor Cleiton: – O senhor saberia me dizer qual foi
a inovação trazida pela Connorte para chegar a produtividades
superiores a 100 unidades de serviços?
O Sr. Márcio Danilo Costa: – A Connorte da qual o senhor está
falando é a empresa – tenho que dizer isso aqui – da região de
Jaboticatubas?
O deputado Professor Cleiton: – Exatamente.
O Sr. Márcio Danilo Costa: – Eu diria para o senhor que é
impossível, é humanamente impossível uma empresa que trabalha
com oito, nove homens fazer 100 US por mês. Essa possibilidade
não existe.
O deputado Professor Cleiton: – Então vou para a próxima
pergunta, porque, para mim, a sua resposta foi perfeita. O senhor
acredita que esse aumento de produtividade pode estar relacionado
diretamente à ocorrência daqueles três acidentes fatais?

230
O Sr. Márcio Danilo Costa: – Olha, deputado, em relação àquele
acidente fatal, nós trabalhamos, dentro do nosso sindicato, muito
voltados para a segurança, oferecendo treinamentos. Eu até quero
aqui prestar uma homenagem, que até já foi prestada, para o meu
amigo Gustavo Charlemont, que era o nosso diretor executivo do
sindicato. Nós acompanhamos as empresas dentro do nosso
sindicato. Nós percebemos e temos o conhecimento daquele
empresário que é voltado para a área de segurança, daquele
empresário que trabalha nisso, que investe nisso. E o que eu quero
dizer ao senhor é o seguinte: a Connorte não estava filiada ao nosso
sindicato, alguma coisa perto de oito anos já. Existe a possibilidade
de se fazer treinamentos fora do nosso sindicato, lembrando que o
nosso sindicato é Senai, o nosso é o selo Senai. Assim, eu acho que
a gente não deve dizer essas coisas, não, mas, quando aconteceu o
acidente com a Connorte, eu tive a oportunidade de conversar com
o Gustavo exatamente 30, 40 minutos após, e ele me disse o
seguinte: "Márcio, infelizmente aconteceu". Porque tem empresas
que acreditam em segurança, acreditam no homem, investem uma
parte nisso, mas há empresários que, infelizmente, não pensam
assim. E eu quero crer que foi o caso de lá, sinceramente.
O deputado Professor Cleiton: – Só a última pergunta: a Connorte
era uma empresa subcontratada quando esses acidentes ocorreram,
perfeito?
O Sr. Márcio Danilo Costa: – É. Subcontratada, me parece, no
contrato da Spin Energy.
O deputado Professor Cleiton: – Do contrato da Spin. Então vejam
só, Sr. Relator, Sr. Presidente: no contrato da Spin Energy – que, eu
tenho certeza, vai ser objeto aqui desta CPI – , ela recebe da Cemig
uma multa milionária na casa dos R$37.000.000,00 e também
recebe um perdão milionário, que cai para menos de
R$4.000.000,00 de multa.

231
Como se pode perceber, caberá ao Ministério Público e ao Ministério Público do
Trabalho apurar a correlação entre a precarização da Cemig, evidenciada por esta CPI, com
o acidente de trabalho fatal ocorrido com três eletricitários da empreiteira Connorte
Construções e Serviços Ltda. – Connorte – no dia 1º/10/2020. Conforme foi amplamente
noticiado, os empregados morreram eletrocutados durante um trabalho na rede da Cemig,
no Km. 75 da Rodovia MG-10, próximo ao acesso a Jaboticatubas, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte.
Essa nova política contratual e de precarização dos serviços da Cemig tem gerado
inúmeras demandas aos sindicados. Os representantes do Sindicato dos Trabalhadores na
Indústria Energética – Sindieletro – e do Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas –
Sindsul – foram convidados para apresentar relatos que receberam de afiliados sobre casos
de assédio. Segundo essas entidades, funcionários da empresa têm se sentido pressionados
e vigiados, como evidenciado em outro tópico deste relatório.
Chegaram diretamente à CPI diversas denúncias de ameaça de retaliações a quem
vazar informações, inclusive aos parlamentares, e de constrangimento de funcionários
concursados, por meio do discurso de membros da alta cúpula de que a contratação de
profissionais do mercado teria trazido organização e eficiência para a companhia. Cabe
lembrar que, em outubro de 2020, o Conselho de Administração da Cemig alterou norma
interna para permitir a ocupação de até 40% das posições gerenciais por profissionais não
concursados, medida que vai ao encontro da estratégia para substituir pessoas com uma
relação identitária com a companhia por profissionais sem o mesmo vínculo.
Ouvido na condição de testemunha, o presidente do Sindsul, João Wayne de
Oliveira Abreu, ressaltou que o momento é de “pavor total” e que a situação teria se
agravado no começo de setembro de 2021, quando a Cemig teria instruído os gerentes a
avaliarem positivamente apenas 20% dos funcionários, deixando a maior parte dos
trabalhadores sem avaliação de desempenho satisfatória e, portanto, sujeitos à demissão.
Veja-se:
O deputado Sávio Souza Cruz: – (...) Inicialmente, eu gostaria que
o senhor nos descrevesse como está hoje o clima interno entre os

232
trabalhadores da Cemig, na região em que o senhor participa, em
relação à atual direção da Cemig.
O Sr. João Wayne de Oliveira Abreu: – (...) A situação da Cemig,
desde 2019, início de 2020, é crítica, há um medo absurdo no
trabalhador. Eu considero o assédio moral coletivo que tem sido
feito aos trabalhadores um crime. Você colocar as pessoas que
trabalham em área de risco na situação em que estão vivendo – eles
vão mostrar o que está sendo feito aqui, eu tenho muita coisa para
mostrar – é um crime. É um crime o que está sendo feito nessa
empresa. Isso tem que cessar imediatamente, principalmente para
quem trabalha na área de risco. As pessoas vão morrer. Nós vamos
ter acidente dentro da Cemig. É absurdo o assédio que as pessoas
têm sofrido diariamente.
O deputado Sávio Souza Cruz: – Essa era a segunda pergunta. O
sindicato que o senhor representa tem recebido denúncias de
assédio moral? Em qual frequência? Essa frequência aumentou
com a atual direção da Cemig?
O Sr. João Wayne de Oliveira Abreu: – Antigamente, isso
praticamente não existia, eram pontuais, hoje são muitas as
denúncias. As pessoas estão ligando de orelhão com medo, ligando
de São Paulo com medo. As pessoas não conseguem falar. Eles
citam... Eu vou citar algumas coisas que estão acontecendo dentro
da Cemig, mas é um medo generalizado, é medo. Eles estão com
medo dessa gestão. Então é uma coisa absurda, sem precedente.
Isso nunca aconteceu na Cemig. Nunca aconteceu isso. Nós vamos
ver casos aqui absurdos.
O deputado Sávio Souza Cruz: – O senhor poderia já trazer alguns
exemplos para ilustrar a sua fala?
O Sr. João Wayne de Oliveira Abreu: – Vamos lá. A Cemig... No
dia 1º de setembro, os gerentes comunicaram aos trabalhadores
sobre a avaliação de desempenho que será feita pelo segundo ano

233
consecutivo. Existe uma ordem expressa – há prova, há e-mail aqui
– para os gerentes terem que avaliar 20% dos trabalhadores com
notas boas, e 80% dos trabalhadores têm que ser mal avaliados.
Isso ela coloca no seu site, está na intranet. A gente não consegue
ter acesso aos computadores e trazer dos computadores o que a
Cemig tem proposto na intranet, dentro dos seus e-mails, então, o
que nós temos são fotos. Eles trazem fotos para a gente. Então, 80%
dos trabalhadores vão ter que ser mal avaliados este ano. Há um e-
mail aqui dizendo para ser feito isso.

O coordenador-geral do Sindieletro, Emerson Andrada Leite, corroborou a fala do


depoente e relatou que o ambiente de trabalho atualmente é marcado por medo e pavor.
Para ele, a pressão psicológica pode levar a acidentes de trabalho, especialmente nas
atividades de alto risco, como a manutenção da rede elétrica. Observe-se:
O Sr. Emerson Andrada Leite: – Boa tarde a todos e a todas que
compõem aqui a Mesa desta CPI; boa tarde aos que nos
acompanham pela TV Assembleia; e boa tarde aos trabalhadores e
trabalhadoras da Cemig, que acompanham a CPI com muito
interesse, principalmente porque talvez, deputado Sávio, nós
estejamos passando, na Cemig, pelo período mais sombrio de sua
história.
Eu trabalho na Cemig desde 1991 e digo para você que não
conheço pior clima dentro da empresa do que o deste momento que
nós estamos atravessando. Eu reforço as palavras do Sr. João
Wayne quando ele disse que os trabalhadores têm medo. E têm
medo de se comunicar, e têm medo de conversar com a gerência, e
têm medo de demissão, e têm medo de transferência, e têm medo
do dia de amanhã.
Isso, tratando-se de uma empresa cuja atividade é intensiva em
risco, traz para nós uma preocupação muito grande. E essa
preocupação é no sentido de que a situação psicológica dos

234
trabalhadores pode fazer com que, no exercício das suas tarefas
diárias, eles se coloquem numa situação talvez não tão segura, que
possa levar a acidente de trabalho.
A gente já vinha apontando isso no ambiente das empreiteiras, onde
a Cemig é pródiga, infelizmente, em matar e mutilar. Até o período
que a gente apurou, por volta de 2014, a Cemig matava e mutilava
pelo menos 10 trabalhadores por ano; e, embora a gente não tenha
uma estatística mais recente, a percepção da gente é que, nos
últimos tempos, isso piorou.
Então a segurança dos trabalhadores terceirizados, a segurança dos
trabalhadores e trabalhadoras do quadro próprio está colocada em
risco por uma direção que não se responsabiliza pela segurança e
pela saúde dos seus trabalhadores e trabalhadoras.

Os dois representantes sindicais confirmaram ainda, em seus depoimentos, o


problema da falta de materiais, corroborando o problema da execução contratual. Confira-
se o que afirmou o coordenador-geral do Sindieletro:
A deputada Beatriz Cerqueira: – Obrigada, Emerson. Quero voltar
a um assunto que tratamos quando o Sr. Márcio estava aqui como
convidado, dando os esclarecimentos solicitados pelos deputados,
que é a questão da falta de materiais. O Sr. Márcio falou muito da
questão das obras, mas queria que você nos explicasse, exatamente
porque vocês estão na ponta, no dia a dia, sobre o caso da
manutenção rotineira da rede. O que a falta de materiais para a
manutenção da rede pode provocar? Também a falta de
equipamentos, se está acontecendo, e o risco para a população. A
minha pergunta, vou justificá-la. Já tivemos aqui, várias vezes,
questões que se relacionam a mudanças de empreiteiras, trazendo
empreiteiras de São Paulo, demora na continuidade ou na
finalização da prestação de serviços, falta de material. Estamos
identificando que isso também tem a ver com a gestão da empresa.

235
Então a minha pergunta, para que as pessoas que estão nos
acompanhando consigam identificar é: qual é o prejuízo para ela
dessa política de gestão da empresa em relação à falta de material
para a rotina da rede?
O Sr. Emerson Andrada Leite: – Vejam vocês, na manutenção
rotineira da rede, temos dois aspectos principais: um é a
manutenção feita nos dias típicos, quando a rede apresenta algum
problema regular; o outro é a manutenção feita do que a gente
chama de dia atípico, que é quando você tem uma grande
tempestade, uma grande ventania, normalmente um evento natural
que provoca uma série de falhas na rede elétrica. Nesse momento,
você precisa de uma quantidade muito grande de equipes
mobilizadas, você precisa de uma quantidade muito grande de
equipamentos disponíveis para atender essas equipes e você precisa
ter uma quantidade muito grande de materiais de segurança, para
que todas essas equipes tenham condições de trabalhar. O que os
trabalhadores têm trazido para a gente neste momento é que a
Cemig, hoje, não possui capacidade técnica de materiais para
atendimento de um dia atípico, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte. O que estou dizendo? Estou dizendo que, se a gente
tiver um dia com forte tempestade, grande em dimensão e grande
na quantidade de falhas na rede, que provoque vários bairros de
Belo Horizonte faltando energia ao mesmo tempo, a Cemig não
tem material suficiente para atender essas falhas. Aí o que a Cemig
tem, hoje, feito quando falta material? Ela recorre... O Sr. Márcio,
que me antecedeu aqui, afirmou isso de alguma forma. Ele disse
que a Cemig tem solicitado às empresas que façam uma reciclagem
dos materiais que já existem, que foram retirados da rede, da sucata
retirada da rede, para reaproveitá-la na rede, porque não existem
materiais novos para suprir essa necessidade. Esse sistema, se bem
feito, pode até gerar certa economia, mas provoca um aumento

236
muito grande no tempo de atendimento, porque aquele material
precisa ser triado se ele não tiver sido separado antecipadamente.
Então, de novo, qual é o risco que isso traz? É que no momento da
falta, no momento em que faltar energia e que precisarem das
equipes com os materiais na mão para atender, vai ser necessário
que os trabalhadores recorram à sucata, para ver se acham um
parafuso, um conector, alguma coisa em condição de fazer o reparo.
O que a gente vai considerar é que, além da gambiarra – vou
chamar assim – que está sendo feita, o consumidor vai ter que ficar
muito mais tempo sem energia, ainda vão colocar na rede um
equipamento que, por conta do tempo de uso, já não tem mais a
garantia de exercer as suas funções da forma como era previsto
quando foi instalado na rede, há 20 anos, e foi retirado agora por
algum motivo, provavelmente porque consideravam que se tratava
de uma sucata.

As novas exigências contratuais acabam gerando uma remuneração baixa aos


contratados, que passam a empregar materiais de baixa qualidade e menos recursos
humanos, o que é, segundo os depoentes, sentido pelos empregados das empresas
prestadoras de serviço para a Cemig e pelos próprios consumidores. Observe-se:
O Sr. Emerson Andrada Leite: – (...) A Cemig tem um sério
problema de atendimento, sim. É difícil a gente negar que o
consumidor mineiro não esteja sendo tratado como merece ser
tratado. O problema de atendimento da Cemig está muito longe de
ser um problema único e exclusivo, ou pelo menos que o maior
problema seja o call center. O maior problema do atendimento da
Cemig é aquele lá na ponta, é a quantidade de trabalhadores
suficiente para atender o consumidor com a rapidez que é
necessária. O Sr. Márcio falou aqui. A forma como a Cemig exige
que as empreiteiras prestem o serviço faz com que o serviço seja
precificado de forma muito baixa e que os trabalhadores não sejam

237
adequadamente qualificados para o exercício daquela função. E
além de mal remunerados, trabalham em condições precárias de
segurança. Quando eu chegava a esta CPI, recebi uma série de
fotografias mostrando os equipamentos de segurança que os
trabalhadores das empreiteiras estão utilizando, com a reutilização
de equipamentos malcuidados, equipamentos já danificados. Do
mesmo jeito que o Sr. Márcio afirmou aqui que a Cemig não faz a
fiscalização dos materiais, o que permite trocar o material ruim por
um material melhor, a empresa também não faz a fiscalização do
material de segurança.

Verifica-se que nova política de precarização da Cemig e o intuito de iminente


privatização – sem a autorização legislativa e o respaldo popular, como exige a
Constituição Mineira, diga-se de passagem – tem criado uma verdadeira “bomba-relógio”,
que explodirá nas mãos dos empregados e dos consumidores. A CPI não pode tolerar tais
condutas e, por isso, contribuiu para evidenciar os caminhos para tal investigação, que,
evidentemente, deverá ser aprofundada pelas instâncias competentes e pela própria ALMG.
Ao final dos trabalhos, serão encaminhadas as notas taquigráficas e este relatório
ao Ministério Público (Estadual e Federal) e ao Ministério Público do Trabalho, para que
esses órgãos apurem as responsabilidades dos atuais diretores e gestores da Cemig
relativamente à precarização da companhia, com a finalidade de evitar que mais vidas
sejam ceifadas pela inoperância da atual gestão da empresa estatal.

238
CONCLUSÃO

A CPI teve por escopo investigar fatos determinados, indicativos de possível prática
de ilegalidades na gestão da Cemig, de 2019 até a presente data, gerando prejuízos ao
interesse público, quais sejam: contratações diretas realizadas desde janeiro de 2019, sem
a prévia realização de licitação, tanto pela Cemig como pelas suas subsidiárias, em
desconformidade com a lei e com a Constituição da República; realização de alienações de
ativos e ações da Cemig, a partir de janeiro de 2019, relacionadas com sua participação
societária na Renova, na Light e na Taesa, em desconformidade com a lei e com a
Constituição da República; prática de condutas ilegais e imorais por parte de diretores e
empregados públicos da Cemig e de suas subsidiárias e de particulares contratados, desde
janeiro de 2019, em questões de execução contratual; e prática ilegal e antieconômica de
transferência de atividades administrativas da Cemig para São Paulo (SP), com prejuízos
para o interesse público estadual.
A partir dos trabalhos da CPI, foram apurados inúmeros indícios de irregularidades
e crimes relacionados aos fatos determinados acima expostos.
Na primeira fase dos trabalhos investigativos, que se concentrou na análise dos
contratos celebrados sem a realização de licitação, após oitivas de testemunhas e
depoimentos de investigados, além de vasta produção de prova documental e quebra de
sigilo, apurou-se uma série de irregularidades e ilegalidades. Em suma, verificou-se o
seguinte:
a) Em relação à contratação da Exec:
– não houve a prestação de serviço de headhunter à Cemig, de modo que o
pagamento pela prestação de um serviço pela estatal sem a comprovação inequívoca da sua
execução configura conduta irresponsável, que prejudicou o interesse público;
– os indícios levam a crer que a contratação da Exec, empresa de titularidade
de sócios filiados ao partido NOVO, não passou de uma forma de retribuí-la pelos trabalhos
voluntários que já havia até então prestado ao citado partido e ao próprio governo do Estado;
– a utilização de recursos da estatal para o custeio de serviços prestados a
partido político por empresa por ele subjetivamente indicada e escolhida e que contém
sócios filiados ao próprio partido NOVO e histórico recente de prestação de serviços

239
voluntários à mencionada agremiação política violou os princípios da impessoalidade,
moralidade, eficiência, probidade administrativa e economicidade;
– há indícios de que Hudson Felix Almeida, Rômulo Provetti, Reynaldo
Passanezi Filho e a empresa Exec Consultoria de Recursos Humanos Ltda. praticaram atos,
em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade administrativa descrita no
art. 10, incisos II e VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em que as pessoas
físicas, no exercício das suas funções desempenhadas na Cemig, contribuíram para a
irregular contratação e aplicação de recursos da companhia, provocando dano ao erário,
enquanto a pessoa jurídica configura-se como particular beneficiário da ilegalidade; o Sr.
Evandro Negrão de Lima Júnior, embora negue participação na contratação, ao ser o
responsável pela indicação da escolha da Exec e pela negociação dos valores dos
honorários, contribuiu para o pagamento da despesa pela Cemig à empresa privada que
possuía e possui fortes vínculos com o partido NOVO (prestadora de serviços voluntários
à agremissão partidária), do qual ele é dirigente partidário;
– há indícios, ainda, de que o particular Evandro Negrão de Lima Júnior,
dirigente partidário, teria usurpado função pública, indicando a escolha e negociando o
valor dos honorários com a Exec, exercendo, assim, atividade privativa de diretor e
conselheiro desta, inclusive recebendo informações sigilosas e confidenciais acerca da
substituição do diretor-presidente, tudo isso às escuras, uma vez que o art. 17, inciso I, da
Lei Federal nº 13.303, de 2016, impedia a ocupação formal e oficial de cargos na estatal,
conduta que, além de configurar ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública em clara violação aos deveres de honestidade,
imparcialidade e legalidade (art. 11 da Lei Federal nº 8.429, de 1992), configura também o
crime tipificado pelo art. 328 do Código Penal;
– caso se confirme que recursos da Cemig foram utilizados para o pagamento
de serviços prestados ao partido NOVO, a conduta, em tese, é passível de configurar desvio
de valores pertencentes a uma empresa estatal para proveito de uma entidade privada
(partido NOVO e Exec), configurando, em tese, o crime de peculato, nos termos do art.
312 do Código Penal;
– especificamente quanto à contratação da Exec para a seleção do diretor-
presidente, os mesmos gestores da Cemig não observaram regras legais e regulamentares,

240
tendo promovido uma contratação verbal, totalmente informal e arbitrária, com escolhas
subjetivas de empresa de titularidade de sócios vinculados ao partido NOVO, sem qualquer
justificativa prévia da escolha do fornecedor, dos valores cobrados e muito menos do
enquadramento da situação na hipótese legal de inexigibilidade de licitação;
– há fortes indícios de que Hudson Felix Almeida, Rômulo Provetti e Reynaldo
Passanezi Filho, ao convalidarem a contratação e autorizarem o pagamento à Exec pelos
supostos serviços prestados, praticaram atos, em tese, passíveis de enquadramento na
conduta de improbidade administrativa descrita no art. 10, incisos V e VIII, da Lei Federal
nº 8.429, de 1992, na medida em que contribuíram para a irregular contratação e aplicação
de recursos da companhia, provocando dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica (Exec)
configura-se como particular beneficiário da ilegalidade; neste ponto também, o Sr.
Evandro Negrão de Lima Júnior, embora negue participação na contratação, ao ser o
responsável pela indicação da escolha da Exec e pela negociação dos valores dos
honorários, contribuiu para o pagamento da despesa pela Cemig à empresa privada que
possuía e possui fortes vínculos com o partido NOVO (prestadora de serviços voluntários
à agremissão partidária), do qual ele é dirigente partidário.
– a realização de contratação direta, sem o preenchimento dos requisitos legais
é, em tese, passível de enquadramento no crime previsto no art. 337-E do Código Penal;
– em relação aos supostos trabalhos prestados para fins de “avaliação e
validação de candidatos a cargos de executivos em empresas do Grupo Cemig, utilizando
técnicas de assessment e de Recrutamento e Seleção”, apurou-se que a citada contratação
e a consequente convalidação da inexigibilidade de licitação encontram-se maculadas por
diversos vícios de ilegalidade;
– finalmente, a convalidação de procedimento sem a devida comprovação da
prestação dos serviços pelo profissional tecnicamente qualificado e responsável pela
execução maculou de ilegalidade e nulidade a contratação, tornando-se nula a convalidação
irregular promovida, motivo pelo qual a conduta praticada pelos diretores, gerentes e
particular contratado, configura, em tese, ato de improbidade administrativa que causa
prejuízo ao erário, nos termos do art. 10, inciso VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, e
preenchem os requisitos para enquadramento no crime previsto no art. 337-E do Código
Penal.

241
b) Em relação à contratação do escritório Terra, Tavares, Ferrari, Elias
Rosa Sociedade de Advogados:

– ocorreu uma irregularidade flagrante – prática comum da atual gestão da


Cemig –, que é a celebração de contratações verbais fora das hipóteses expressamente
previstas em lei e, consequentemente, sem a necessária instauração do procedimento prévio
de inexigibilidade de licitação;
– a contratação violou tanto a Lei Federal nº 13.303, de 2016, como o
Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig, que são claros ao estabelecerem
que a contratação direta, por inexigibilidade de licitação, não pode ser realizada de forma
verbal e precária, sem a prévia justificação, por meio do devido procedimento
administrativo;
– a contratação violou as normas de licitação, uma vez que não se demonstrou
a notória especialização dos advogados autorizados a trabalharem, não existindo na minuta
contratual celebrada qualquer previsão que resguarde a atuação e execução em todos os
atos contratados do advogado indicado como detentor da notória especialização, em afronta
ao art. 78, § 3º da Lei Federal nº 13.303, de 2016, que exige que os profissionais indicados
como responsáveis técnicos para fins de comprovação da notória especialização executem
“direta e pessoalmente as obrigações a eles imputadas”;
– os gestores Eduardo Soares, Luiz Fernando de Medeiros Moreira, Hudson
Felix Almeida e Osias da Silva Galantine foram os responsáveis pela ilegal apresentação
da Proposta de Deliberação contendo a convalidação da ilegal contratação direta do
escritório, mesmo com diversas ilegalidades;
– a contratação do escritório encontra-se com sobrepreço, comparativamente
aos custos pela prestação dos mesmos serviços através de escritórios de advocacia situados
em Belo Horizonte ou até mesmo por escritórios de outras cidades, porém sem a cobrança
de horas de deslocamentos no patamar mínimo de 8 horas, além dos custos com a própria
viagem;
– os preços contratados pela Cemig estão superiores até mesmo aos preços
apresentados pelo Terra Tavares referentes a serviços prestados a outros clientes, não

242
havendo a elevada cobrança das 8 horas mínimas a título de deslocamento;
– os gestores Eduardo Soares, Luiz Fernando de Medeiros Moreira, Hudson
Felix Almeida e Osias da Silva Galantine foram os responsáveis pela ilegal apresentação
da Proposta de Deliberação contendo a convalidação da ilegal contratação direta do
escritório, mesmo com os preços excessivos, diante das condições impostas pelo escritório
no que tange à cobrança de horas pelo deslocamento;
– Eduardo Soares e Henrique Motta Pinto foram os responsáveis pela
assinatura do contrato, em que pese a flagrante antieconomicidade dos valores propostos.
Além disso, Eduardo Soares ratificou a inexigibilidade de licitação, enquanto Henrique
Motta foi responsável pelo reconhecimento da situação de inexigibilidade, mesmo com os
preços exorbitantes, considerando as condições da proposta e da prestação dos serviços;
– há indícios de que Eduardo Soares, Luiz Fernando de Medeiros Moreira,
Hudson Felix Almeida, Osias da Silva Galantine e Henrique Motta Pinto praticaram atos,
em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade administrativa descrita no
art. 10, incisos V e VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992 na medida em que as pessoas
físicas, no exercício das suas funções desempenhadas na Cemig, contribuíram para a
irregular contratação e aplicação de recursos da companhia, provocando dano ao erário,
enquanto a pessoa jurídica Terra Tavares configura-se em tese como particular beneficiário
da ilegalidade;
– por fim, a conduta dos gestores consistentes na realização de contratação
direta sem o preenchimento dos requisitos legais é, em tese, passível de enquadramento no
crime previsto no art. 337-E do Código Penal.

c) Em relação à contratação direta da IBM e à subcontratação da A&C:

– há uma clara e evidente conexão entre os contratos da Audac e da IBM e


indícios de uma simulação de uma parceria estratégica por parte da Cemig, fraudando as
normas da licitação e com a finalidade de beneficiar a A&C, empresa de titularidade de ex-
secretário de estado;
– os indícios e as provas coletadas no âmbito inquisitorial demonstraram que
houve um direcionamento da diretoria da Cemig para a continuidade da prestação de

243
serviço pela A&C, empresa do então secretário de estado, a despeito de ter sido perdedora
da licitação;
– a A&C foi fundada pelo então secretário de Desenvolvimento Econômico do
governo estadual, Cássio Azevedo, que foi doador de campanha do atual governador. Ficou
cristalino como ele exercia um poder de comando de fato na Cemig, a ponto de lograr
manter, de forma transversa, a sua empresa como subcontratada da Cemig;
– a rescisão contratual com a Audac, com graves prejuízos financeiros à
companhia (em razão do dever de indenização), teve como pano de fundo a necessidade de
se criar uma solução arrojada para manter a A&C prestando os serviços de call center;
– o contrato de parceria com a IBM por 10 anos tem previsão de multas de
rescisão lesivas à Cemig, não presentes no contrato com a Audac e em outros contratos da
companhia, imputando obrigações para as próximas gestões, além de prever a redução de
empregados concursados da Cemig na fiscalização e controle dos serviços;
– o ajuste entre a IBM e a Cemig não só garantiu a permanência da perdedora
da licitação, a A&C, empresa de propriedade do ex-secretário de Estado, que chegou a
solicitar uma sala privativa no prédio da Cemig, como incrementou substancialmente os
valores pagos pela prestação dos mesmos serviços;
– o Acordo de Parceria Estratégica, Tecnológica e Operacional celebrado entre
a Cemig e a IBM não passou de um ilegal agrupamento de objetos contratuais licitáveis
relacionados aos serviços de atendimento aos clientes da companhia pelos diversos canais
já existentes, acrescido de um serviço de consultoria técnica de reestruturação de
procedimentos, processos e sistemas para a implantação de novo modelo de atendimento
omnichannel (este sim, em tese, passível de inexigibilidade de licitação caso comprovada
a sua singularidade e a notória especialização);
– a contratação direta da IBM, sem licitação, por R$1,1 bilhão, e por um prazo
de 10 anos, para implantar o atendimento integrado, constitui o contrato de maior vulto na
história da companhia. E o pior: a Cemig montou um plano de negócios onde incluiu um
serviço no qual a empresa contratada (IBM) não tem expertise e que não consta no seu
portfólio nem no objeto social, que é o call center. Se levado ao extremo, esse modelo de
contratação inaugurado com a IBM permitiria fazer um contrato de todas as prestações de
serviço da Cemig, e ela poderia se utilizar do modelo para fraudar todas as licitações. Até

244
mesmo para a IBM, multinacional reconhecida, o contrato celebrado é vultoso e não tem
paralelo no mundo;
– não houve, nas justificativas técnicas elaboradas às pressas pela Cemig para
viabilizar a “parceria estratégica”, um estudo sério e tecnicamente fundamentado capaz de
autorizar o descumprimento do disposto no art. 32, inciso III, da Lei Federal nº 13.303, de
2016, que exige “o parcelamento do objeto, visando a ampliar a participação de licitantes,
sem perda de economia de escala”;
– há indícios de que Hudson Felix Almeida, Rômulo Provetti, Reynaldo
Passanezi Filho, Eduardo Soares e as empresas A&C e IBM praticaram atos, em tese,
passíveis de enquadramento na conduta de improbidade administrativa descrita no art. 10,
inciso VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em que as pessoas físicas, no
exercício das suas funções desempenhadas na Cemig, contribuíram para a irregular
contratação sem a prévia realização de processo licitatório e para a irregular aplicação de
recursos da companhia, provocando dano ao erário, enquanto as pessoas jurídicas
configuram-se como particulares beneficiários da ilegalidade;
– os mesmos agentes praticaram condutas no sentido da realização de
contratação direta, sem o preenchimento dos requisitos legais configurando, em tese, o
crime previsto no art. 337-E do Código Penal;
– como a Audac pleiteia o montante de R$13,5 milhões da Cemig pelo distrato
unilateral, caso a Cemig venha a despender tal relevante monta financeira, a empresa estatal
deverá buscar o seu direito de regresso em face do(s) agente(s) causador(es) do dano, para
reaver a quantia que foi condenada a pagar, conforme disposto no art. 37, § 6º, da
Constituição da República de 1988, que trata da responsabilidade civil da administração
pública;
– da mesma forma, além dos prejuízos envolvendo a rescisão do contrato da
Audac, há também prejuízos decorrentes da rescisão antecipada de diversos outros
contratos de outros fornecedores, em decorrência da contratação da IBM.

d) Em relação à contratação da Wework Serviços de Escritório Ltda.:

– as provas colhidas demonstram a desnecessidade da contratação direta da

245
Wework, por não haver inviabilidade de competição, uma vez que foram apresentadas três
propostas para a escolha da Cemig;
– é fato notório que a cidade de São Paulo possui diversas empresas que
oferecem serviço de coworking, não sendo a Wework fornecedora exclusiva na localidade.
Outro ponto importante é que não há, na justificativa técnica, qualquer razão de interesse
público capaz de comprovar que a localização do imóvel da Wework faça dele o único
capaz de atender a finalidade de sediar uma filial da Cemig. Não há qualquer fator
geográfico mencionado na justificação como condicionante para a escolha do imóvel, mas
apenas a menção vaga e imprecisa de que a localização está situada “em uma das áreas
comerciais mais importantes de São Paulo”;
– agravando a situação, nos documentos encaminhados à CPI, há citação, em
mensagens enviadas ao diretor Maurício Dall’Agnese, informando sobre proposta da
empresa Regus com salas no mesmo padrão e no mesmo local da Wework, no edifício JK
– Iguatemi, com menor preço;
– o § 2º do art. 30 da Lei Federal nº 13.303, de 2016, prevê a responsabilidade
solidária daqueles que decidiram pela contratação direta com sobrepreço ou
superfaturamento. O contrato da Wework apresenta valores muito acima das duas outras
propostas, com fortes indícios de sobrepreço, implicando responsabilização dos envolvidos
no processo de contratação direta;
– há indícios de que Maurício Dall´Agnese, Ronaldo Gomes de Abreu,
Reynaldo Passanezi Filho, Ronaldo Gomes de Abreu e Leonardo George de Magalhães,
responsáveis pela Proposta de Deliberação de contratação direta da Wework, praticaram
atos, em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade administrativa
descrita no art. 10, incisos V e VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em que
contribuíram para a irregular contratação e aplicação de recursos da companhia,
provocando dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica (Wework) configura-se como
particular beneficiário da ilegalidade. Da mesma forma agiram Eron Lopes Pereira,
superintendente responsável por ratificar a inexigibilidade de licitação, Dimas Costa,
Hudson Felix Almeida e Rogério Ferreira Santiago, responsáveis pela assinatura do
contrato como representantes da Cemig;
– na realização de contratação direta sem o preenchimento dos requisitos legais

246
é, em tese, avaliada a conduta individual de cada participante do evento, passível de
enquadramento no crime previsto no art. 337-E do Código Penal.

e) Em relação à contratação da Kroll Associates Brasil Ltda.:

– o comportamento dos gestores responsáveis pela contratação da Kroll


demonstra o seu total desprezo a essa regra básica das contratações públicas, inclusive das
realizadas por estatais. Percebe-se que a contratação verbal e precária com posterior
convalidação se tornou uma rotina, configurando regra e não exceção para os gestores da
Cemig, o que obviamente contribui para a configuração da conduta dolosa ou no mínimo
uma culpa grave pelo descumprimento reiterado das exigências legais de formalização e
justificação das contratações;
– os gestores responsáveis pela contratação da Kroll tentam justificar a
convalidação da contratação, cinco meses após o suposto início da prestação dos serviços,
sob a alegação de que ela estaria fundada em hipótese de inexigibilidade de licitação. O
Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig é bastante claro acerca da
obrigatoriedade da prévia instauração de um procedimento administrativo, devidamente
instruído de informações e documentos capazes de fundamentar a não realização do
processo licitatório;
– relativamente à contratação da Kroll para a prestação dos serviços de
assessoramento forense e econômico-financeiro é fato incontroverso que os gestores não
observaram as regras legais e regulamentares, tendo promovido uma contratação verbal,
totalmente informal e arbitrária, com escolha subjetiva da empresa, sem qualquer
justificativa prévia da escolha do fornecedor, dos valores cobrados e muito menos do
enquadramento da situação na hipótese legal de inexigibilidade de licitação;
– o argumento da urgência chega a ser contraditório à própria natureza do
serviço prestado, que supostamente é complexo, singular e demanda um tempo
considerável para a sua conclusão. A situação é tão grave que a Kroll só veio a assinar um
termo de confidencialidade acerca das informações e dados por ela acessados e recebidos
praticamente cinco meses após o início da prestação dos serviços, conforme se vê do anexo
V do contrato assinado em 23/4/2021;

247
– é inaceitável a alegação de que a urgência de resposta ao Ministério Público
impossibilitou a formalização da inexigibilidade de licitação para a contratação da Kroll,
tornando-a extremamente urgente a ponto de não ser possível aguardar poucos dias de
instauração e conclusão. As informações e documentos requisitados pelo Ministério
Público nos mencionados dois ofícios são bastante simplórias e objetivas, bastando um
simples levantamento nos arquivos da Cemig;
– a conduta adotada pelos gestores responsáveis pela contratação verbal e
precária da Kroll violou o dever de controle de acesso às informações sigilosas (art. 25 da
Lei Federal nº 12.527, de 2011), conferindo-se acesso à empresa privada sem a adoção de
qualquer procedimento prévio de credenciamento com resguardo necessário quanto ao
tratamento e sigilo das informações;
– a postura correta a ser adotada em caso de sigilo jamais seria a contratação
às escuras, por meio verbal e informal, mas sim, nos termos da Lei Federal nº 12.527, de
2011, conferir a adequada oficialidade e formalização do processo de contratação,
promovendo o tratamento da informação com a classificação do grau de sigilo cabível e
adequado;
– quanto à notória especialização da Kroll para a execução dos serviços
contratados, não foram solicitados pela Cemig quaisquer documentos capazes de
comprovar a sua existência; não há nos autos da convalidação qualquer documento que
comprove que a Kroll possua em seus quadros profissionais com toda a qualificação
necessária para desempenhar de forma adequada as investigações contratadas;
– outra exigência clara e expressa constante no art. 22, inciso IV, do
Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Cemig e que foi descumprida pelos
gestores é a de que o processo de contratação direta, por inexigibilidade de licitação, seja
devidamente instruído com a “justificativa do preço, que comprove adequação com os
preços praticados no mercado”. A alegação do sigilo envolvendo o objeto da prestação
dos serviços não é motivo suficientemente válido para justificar a ausência de cotação no
mercado;
– o comparativo por preço de hora apresentados no processo de convalidação
não demonstra a compatibilidade com os preços de mercado. Ficou claro que a Cemig foi
totalmente subserviente ao dimensionamento do quantitativo de horas imposto pela Kroll,

248
pois não foi elaborado termo de referência. Sob o raciocínio inexplicável dos gestores, de
que não poderiam consultar outras empresas em razão do sigilo das investigações, a Cemig
se viu presa e obrigada a se submeter aos preços e condições da proposta de mais de R$3
milhões formulada pela Kroll, em evidente descompasso com o mercado e em prejuízo aos
cofres da companhia;
– os documentos e depoimentos comprovaram que não apenas os preços
contratados para o enfrentamento do objeto são excessivos, alcançando cifras milionárias,
como também a própria Kroll reconhece não estar investigando fatos que fundamentaram
a sua contratação;
– diante de tudo o que foi anteriormente exposto, a conduta praticada pelos
diretores, gerentes, particulares e empresa contratada configura, em tese, ato de
improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10 da Lei
Federal nº 8.429, de 1992;
– há fortes indícios de que Eduardo Soares, Luiz Fernando de Medeiros
Moreira, Hudson Felix Almeida, Osias da Silva Galantine e Reynaldo Passanezi Filho,
praticaram atos, em tese, passíveis de enquadramento na conduta de improbidade
administrativa descrita no art. 10, incisos V e VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na
medida em que as pessoas físicas, no exercício das suas funções desempenhadas na Cemig,
contribuíram para a irregular contratação direta, sem licitação, e aplicação de recursos da
companhia, provocando dano ao erário, enquanto a pessoa jurídica Kroll configura-se, em
tese, como particular beneficiário da ilegalidade;
– a conduta dos mesmos gestores, consistente na realização de contratação
direta sem o preenchimento dos requisitos legais é, em tese, passível de enquadramento no
crime previsto no art. 337-E do Código Penal;
– ficou, ainda, provado que a Kroll, no dia 3/12/2020, após o horário de
expediente normal da Cemig (por volta das 20 horas), promoveu a entrada no prédio da
estatal e a invasão em estação de trabalho de empregado público. As investigações
registraram essa prática no computador do empregado Daniel Polignano Godoy, ex-gerente
de Direito Administrativo da companhia. Contudo, a mencionada empresa privada, na
época dos fatos, sequer possuía cobertura contratual para a prática desse ato, não existindo,
por parte da Cemig, autorização lícita para ela assim proceder;

249
– a autorização para a Kroll invadir computadores foi feita pelos gestores sem
a prévia existência de vínculo jurídico entre a empresa de investigação e a estatal, sem,
portanto, qualquer resguardo acerca da confidencialidade. Quanto ao fato de as
informações armazenadas nos computadores pertencerem à Cemig, isso não legitima a sua
captação por empresa privada sem qualquer cobertura contratual e, menos ainda, com mera
autorização verbal do diretor de Regulação e Jurídico;
– no departamento jurídico há informações de processos de consumidores,
fornecedores e prestadores de serviço, bem como de dados pessoais sensíveis dos clientes
e empregados da empresa, cuja guarda e armazenamento são de responsabilidade da Cemig,
cujo vazamento para terceiros não autorizados pode configurar um incidente de segurança,
conforme previsto na Lei nº 13.709, de 2018, Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais –
LGPD;
– os dados não pertencem ao diretor de Regulação e Jurídico, mas sim à Cemig,
uma pessoa jurídica, integrante da administração indireta do Estado, que possui ações
comercializadas na Bolsa de Valores. E, no caso específico do advogado, a violação à
estação de trabalho pela Kroll conflita com a inviolabilidade prevista no art. 7º, inciso II,
da Lei nº 8.906, de 1994, regulamentada pelo Provimento nº 207/2021 do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil no que tange aos advogados que atuam em empresas
públicas, notadamente aqueles que exercem cargos de gerência. O mencionado provimento
da OAB assegura aos advogados de empresas públicas a inviolabilidade do seu local de
trabalho, inclusive o situado no ambiente empresarial, resguardando também os seus
instrumentos de trabalho, sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática,
além da devida confidencialidade sobre todos os temas e comunicações objeto do exercício
de sua profissão;
– há indícios, portanto, de que, além de ilegal a contratação, a Kroll, mediante
a autorização do Eduardo Soares, mesmo sem vínculo contratual válido com a Cemig,
violou o sigilo do local de trabalho do ex-gerente de Direito Administrativo da companhia,
ofendendo o disposto no art. 7º, inciso II, da Lei nº 8.906, de 1994. Além disso, a conduta
comprometeu o sigilo de dados sensíveis da companhia, quando foi franqueado o acesso a
empresa particular sem vínculo contratual e sem os devidos cuidados relacionados aos

250
compromissos de confidencialidade, em clara ofensa ao art. 25 da Lei Federal nº 12.527,
de 2011.

f) Em relação à contratação da Lefosse Advogados e da Thomaz Bastos,


Waisberg, Kurzweil Advogados:

– apesar de a saída de Eduardo Soares do quadro de sócios da Lefosse ter


ocorrido em 20/3/2020, a alteração do contrato social da referida empresa com a retirada
dele da sociedade só foi averbada em 4/12/2020. Foram constatados, por meio da quebra
de sigilo de dados bancários, uma série de pagamentos realizados a ele pela aludida
sociedade de advogados após tal data, ou seja, no período em que ele já figurava como
diretor da Cemig;
– tal fato denota estranheza não apenas pelo vulto dos valores recebidos pelo
ex-sócio, mas também por terem sido tais pagamentos realizados quando Eduardo Soares
já havia tomado posse no cargo de diretor da Cemig, o que demonstra a existência de
conflito de interesses;
– a Lei das Sociedades Anônimas, em seu art. 156, veda que o administrador
atue em situações nas quais possa haver interesse conflitante com o da companhia, o que
ocorreu, já que Eduardo Soares passou a defender a contratação do escritório Lefosse
quando já estava ocupando o cargo de diretor jurídico da Cemig e, por outro lado,
continuava a receber valores da mencionada banca;
– como se não bastasse, o fato de ter sido o escritório Lefosse contratado sem
que outros escritórios do mesmo porte sequer tivessem sido consultados acerca da
possibilidade de prestação dos serviços com a mesma qualidade e talvez com a cobrança
de valores menores acabou por gerar prejuízos à Cemig;
– quanto à contratação dos escritórios Lefosse e TWK, verificou-se uma
irregularidade flagrante – prática constante da atual gestão da companhia –, qual seja, a
celebração de contratações verbais fora das hipóteses expressamente previstas em lei e,
consequentemente, sem a necessária instauração do procedimento prévio de
inexigibilidade de licitação;
– ademais, a contratação não garantiu que os serviços fossem efetivamente

251
prestados pelo profissional indicado na inexigibilidade de licitação como possuidor da
expertise superior ao padrão comum do mercado. Muito pelo contrário, no relatório de
horas dos escritórios contratados, a situação se revelou evidente, ou seja, houve
faturamentos relevantes de horas de trabalho executadas por advogados que não figuram
como detentores de notória especialização, não havendo qualquer registro da supervisão
de sócios que possuem a devida notória especialização;
– há fortes indícios de que Eduardo Soares, Douglas Braga de Oliveira Xavier,
Rafael Falcão Noda e Flávio Almeida de Araújo praticaram atos, em tese, passíveis de
enquadramento na conduta de improbidade administrativa descrita no art. 10, incisos V e
VIII, da Lei Federal nº 8.429, de 1992, na medida em que as pessoas físicas, no exercício
das suas funções desempenhadas na Cemig, contribuíram para a irregular contratação e
aplicação de recursos da companhia, provocando dano ao erário, enquanto as pessoas
jurídicas Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados e Lefosse Advogados
configuram-se, em tese, como particulares beneficiários da ilegalidade;
– há ainda indícios de que Eduardo Soares, mesmo após a sua saída da Lefosse
Advogados e durante período em que já era diretor da Cemig, recebeu vultosos recursos
do escritório após indicar a sua contratação direta, sem licitação, para prestar serviços à
companhia, o que além de configurar conflito de interesses (art. 156 da Lei Federal nº 6.404,
de 1976), em tese, é capaz de configurar recebimento de vantagem direta ou indireta
indevida, conduta tipificada como corrupção passiva (art. 317 do Código Penal).
– as investigações da CPI deixaram evidente a prática de uma conduta
recorrente da atual gestão da Cemig, consistente em realizar contratações verbais e
precárias de consultorias extremamente caras, especialmente de escritórios e empresas
situadas na cidade de São Paulo, com suposto início de execução de serviços sem a
cobertura contratual.
– a prática da “convalidação” de contratações verbais e precárias tornou-se
regra na atual gestão, sob a alegação de urgência e necessidade de sigilo, dando ensejo a
escolhas subjetivas de fornecedores. Além dos defeitos formais das contratações, a
investigação detectou uma série de conflitos de interesses envolvendo alguns dos contratos,
situações nas quais algumas das inexigibilidades e contratações demonstram-se meros
subterfúgios para estabelecer formalmente o que tinha sido estabelecido verbalmente e

252
previamente entre as empresas envolvidas.
A segunda fase das investigações teve por foco as vendas – e tentativas de
venda – de subsidiárias da Cemig, que evidenciaram a estratégia da diretoria de acelerar a
privatização. Cuida-se de uma estratégia iniciada em 2019, em que diversas práticas
convergiram no sentido de desidratar e desvalorizar a companhia, tais como a retirada de
postos importantes de servidores de carreira e contratação de funcionários advindos de São
Paulo, tudo isso no intuito de quebrar o “telhado de vidro”, isto é, a natural proteção da
companhia por parte dos servidores de carreira.
O relatório demonstrou que a privatização só seria possível, segundo a
Constituição Estadual de 1989, com a autorização legislativa da ALMG. Ou seja, o governo
teria de apresentar um projeto de lei específico à Assembleia Legislativa, que teria que ser
aprovado por, no mínimo, 3/5 dos deputados estaduais. Após essa votação, a privatização
ou venda de ações ainda deverá ser submetida a referendo popular.
Essa intenção de tornar a estatal “privatizável”, sem cumprimento dos
pressupostos da Carta Mineira, é muito grave. Todas as contratações de consultorias por
parte da Cemig com esse objeto são impugnáveis, na medida em que, sem a prévia
autorização legislativa, a companhia não poderia sequer cogitar sobre tais operações. Por
isso, essa CPI considera que todos os gastos realizados no intuito de alienar parcela do
patrimônio da empresa estatal, à revelia da autorização legislativa, representaram gastos
temerários e sujeitos à responsabilização dos gestores.
Nessa fase, apurou-se a venda da participação da Light na Renova Energia, a
situação da recuperação judicial da Renova e a venda da participação da Cemig na Light.
Tal imbróglio gerou prejuízo financeiro que impressionou o mercado corporativo brasileiro.
Com efeito, as vendas das ações da Light se deram em momento de retração econômica,
de pandemia, em que o mercado não aconselhava essa venda. Da mesma forma, causou
perplexidade o ímpeto da Cemig de vender a participação da Taesa.
Com efeito, o mercado não aconselhava essa venda, ainda mais em um período
pandêmico. Além do mais, a participação da Taesa, empresa da qual a Cemig era a maior
acionista e que é sócia da Isa Cteep, de onde veio o atual presidente, o Sr. Reynaldo
Passanezi Filho, poderia ser alienada para essa última, em claro conflito de interesses.
Na terceira fase, a CPI se debruçou sobre a contratação das empreiteiras e a

253
prática de condutas ilegais e imorais na execução contratual da companhia e constatou que
a execução dos contratos da Cemig possui inúmeras fragilidades. No período investigado,
depoentes confirmaram que têm faltado materiais para que as obras contratadas pela Cemig
sejam realizadas. Como não poderia ser diferente, o índice de insatisfação dos
consumidores bateu recordes. Todas essas irregularidades comprovam a estratégia
silenciosa do atual governo de “sucatear para privatizar”, isto é, há um claro objetivo de
quebra da empresa para convencer a opinião pública a apoiar a sua venda. Tais condutas
têm contribuído, ainda, para a prática de abusos e assédio moral dos empregados da
companhia.
A Cemig seguiu o plano de “sucateamento” da qualidade dos serviços prestados e
iniciou o desinvestimento nas empresas Renova, Light, Santo Antônio, Belo Monte e Taesa,
conforme sugestão da consultoria Boston Consulting Group. A empresa de consultoria
sugeriu à Cemig: “Substituir profissionais concursados nos níveis de superintendente e
gerente por profissionais do mercado, além de facilitar a ação da Cemig em outros
mercados, através de abertura de escritório na cidade de São Paulo”.
Estas orientações – colocar profissionais sem concurso em cargos gerenciais e
constituir escritório em São Paulo – foram processadas em 2020, pelo presidente Reynaldo
Passanezi Filho. Essas condutas, somadas à estratégia de afastar os funcionários
concursados e deixar os inquéritos em aberto sem uma solução rápida e eficiente, não só
enfraqueceram a Cemig, mas facilitaram todas as contratações diretas e práticas criminosas
noticiadas e investigadas pela CPI. Basta considerar que, sem a ocupação dos postos de
gerentes, superintendentes e diretores por empregados concursados, a atual diretoria
conseguiu e ainda consegue driblar a fiscalização interna e os procedimentos legais da
companhia, promovendo contratações milionárias, de forma precária, para posterior
convalidação.
Quanto à decisão de contratação de profissionais de mercado, externos aos quadros
de empregados, para posições de gerência, no percentual de até 40%, destaca-se o
açodamento da sua realização por parte da atual diretoria. A sua implantação iniciou-se
mesmo ainda vigente o art. 22, § 4º, alínea “i”, do Estatuto Social da Cemig, que
expressamente prevê que somente empregados próprios da companhia devem ser
designados para o exercício de cargos gerenciais.

254
A pressa na execução dessa diretriz, mesmo contra o texto expresso do Estatuto
Social, denota a clara intenção de “sucateamento” da qualidade dos serviços prestados pela
empresa estatal para reforçar o discurso de necessidade de privatização, mesmo antes da
aprovação de lei autorizativa e referendo popular.
Como já visto, a inserção de figuras estranhas aos quadros dos empregados da
companhia em seus cargos gerenciais foi uma das recomendações indicadas pelas
caríssimas consultorias contratadas pela atual diretoria da Cemig para preparar o terreno e
forçar a privatização da estatal após o sucateamento da sua estrutura de carreira de pessoal.

Recomendações de providências

A partir do que foi constatado pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Cemig,


recomendamos as seguintes providências:
I) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem ao
coordenador do Centro Operacional de Apoio às Promotorias de Justiça Criminal da
Capital, acompanhado de requerimento para a apresentação de denúncia contra Hudson
Felix Almeida, Rômulo Provetti, Luiz Fernando de Medeiros Moreira, Osias da Silva
Galantine, Henrique Motta Pinto, Eduardo Soares, Reynaldo Passanezi Filho, Maurício
Dall´Agnese, Ronaldo Gomes de Abreu, Leonardo George de Magalhães, Eron Lopes
Pereira, Dimas Costa, Rogério Ferreira Santiago, Douglas Braga de Oliveira Xavier, Rafael
Falcão Noda e Flávio Almeida de Araújo pela prática, em tese, do crime de contratação
direta ilegal, em concurso de pessoas e em concurso formal impróprio de crimes (art. 337-
E,15 combinado com o art. 29 e com o art. 70, in fine, do Código Penal).
II) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
ao coordenador do Centro Operacional de Apoio às Promotorias de Justiça Criminal da
Capital, acompanhado de requerimento para a apresentação de denúncia contra Evandro
Negrão de Lima Júnior pela prática, em tese, do crime de usurpação da função pública (art.
328 do Código Penal).

15
Como tal tipo penal foi incluído no Código Penal pela Lei Federal nº 14.133, de 1º/4/2021, caso as
condutas sejam praticadas antes de tal data, aplica-se o tipo penal previsto no art. 89 da Lei Federal nº 8.666,
de 1993, nas hipóteses em que referida lei for mais benéfica aos investigados.

255
III) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
ao coordenador do Centro Operacional de Apoio às Promotorias de Justiça Criminal da
Capital, acompanhado de requerimento para a apresentação de denúncia contra Hudson
Felix Almeida, Rômulo Provetti e Reynaldo Passanezi Filho pela prática, em tese, do crime
de peculato, em concurso de pessoas e em concurso formal impróprio de crimes (art. 312,
combinado com o art. 29 e com o art. 70, in fine, do Código Penal).
IV) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
ao coordenador do Centro Operacional de Apoio às Promotorias de Justiça Criminal da
Capital, acompanhado de requerimento para a apresentação de denúncia contra Eduardo
Soares pela prática, em tese, do crime de corrupção passiva (art. 317 do Código Penal).
V) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
ao coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do
Patrimônio Público de Minas Gerais, acompanhado de requerimento para a propositura de
ação de improbidade administrativa contra Hudson Felix Almeida, Rômulo Provetti,
Evandro Negrão de Lima Júnior, Luiz Fernando de Medeiros Moreira, Osias da Silva
Galantine, Eduardo Soares, Henrique Motta Pinto, Reynaldo Passanezi Filho, Maurício
Dall´Agnese, Ronaldo Gomes de Abreu, Leonardo George de Magalhães, Eron Lopes
Pereira, Dimas Costa, Rogério Ferreira Santiago, Douglas Braga de Oliveira Xavier, Rafael
Falcão Noda e Flávio Almeida de Araújo e contra as sociedades Exec Consultoria de
Recursos Humanos Ltda., Terra, Tavares, Ferrari, Elias Rosa Sociedade de Advogados,
A&C, IBM, Wework Serviços de Escritório Ltda., Kroll Associates Brasil Ltda., Thomaz
Bastos, Waisberg e Kurzweil Advogados e Lefosse Advogados pela prática de atos de
improbidade administrativa previstos no art. 10, caput, e incisos V e VIII, todos da Lei
Federal nº 8.429, de 1992.
VI) Encaminhar cópia deste relatório e de toda a documentação levantada por
esta CPI acerca da matéria investigada à Comissão de Administração Pública da ALMG,
de modo a contribuir para a permanente fiscalização da gestão da Cemig.
VII) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais e ao Ministério Público de Contas,
solicitando, ainda, a inclusão da fiscalização dos contratos da Cemig no Plano Anual de
Controle Externo.

256
VIII) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
à Agência Nacional de Energia Elétrica, ao Ministério Público Federal e ao Ministério
Público do Trabalho, acompanhado de requerimento para apuração das responsabilidades
dos atuais diretores e gestores da Cemig relativamente à precarização da prestação de
serviço da Cemig e das práticas de assédio moral e atos abusivos em desfavor de seus
empregados.
IX) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
ao presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, ao presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais, e à Comissão de Defesa,
Assistência e Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais,
informando os fatos e requerendo a adoção das providências cabíveis em relação à violação
do sigilo dos dados do advogado Daniel Polignano Godoy, em ofensa ao art. 7º, inciso II,
da Lei nº 8.906, de 1994, reiterando os termos dos Requerimentos nºs 10.194 e 10.128, já
encaminhados por esta comissão parlamentar.
X) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem à
Comissão de Valores Mobiliários – CVM –, para que tome conhecimento sobre eventuais
conflitos de interesse nas vendas de participações societárias da Cemig.
XI) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
à Superintendência de Fiscalização – Sufis – da Subsecretaria da Receita Estadual – SRE
– a fim de que tome ciência dos fatos relacionados à contratação da Wework Serviços de
Escritório Ltda. e a intenção de mudança de sede da Cemig para o Estado de São Paulo,
com vistas a evitar planejamentos tributários abusivos no setor de geração e distribuição
de energia elétrica, que têm potencialidade de prejudicar o erário estadual.
XII) Encaminhar cópia deste relatório ao conselheiro representante dos
acionistas minoritários da Cemig.
XIII) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
à Procuradoria-Geral Eleitoral do Ministério Público Federal para apuração das condutas
ilícitas de filiados, doadores de campanha e componentes do partido NOVO.
XIV) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
à Controladoria-Geral do Estado de Minas Gerais para que tome ciência dos indícios de
irregularidades e ilegalidades, adotando as providências legais de sua competência

257
necessárias à defesa do patrimônio público, ao controle interno, à auditoria pública, à
correição, à prevenção e ao combate à corrupção, ao incremento da transparência e do
acesso à informação e ao fortalecimento da integridade e da democracia participativa, nos
termos do Decreto Estadual nº 47.774, de 3/12/2019.
XV) Encaminhar ao Protocolo desta Casa o projeto de lei constante no anexo
deste relatório, objetivando dispor sobre a adoção, pelas empresas estatais, das parcerias
em oportunidade de negócio, no âmbito do Estado.
XVI) Encaminhar cópia deste relatório final e dos documentos que o compõem
ao presidente da Autoridade Nacional de Proteção de Dados – ANPD, para verificar
possível incidente de segurança em que dados pessoais ou informações privadas e sigilosas
foram expostos a terceiros sem autorização.
XVII) Encaminhar cópia deste relatório final ao Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais para conhecimento.
XVIII) Encaminhar à Cemig ofício contendo a recomendação da imediata
adoção das seguintes providências:
a) revogar/anular a decisão da diretoria que autorizou a ocupação de 40% de
cargos de chefia por não concursados, de modo que os cargos de gerentes e
superintendentes sejam ocupados por empregados de carreira;
b) restringir a utilização das convalidações de contratações apenas para as
situações excepcionalíssimas que configurem situações emergenciais, devendo ser
publicamente justificadas;
c) reavaliar a decisão acerca do modelo de contratação da IBM e os termos e
as suas condições;
d) reforçar e aperfeiçoar as normas internas da companhia para garantir o
exercício funcional dos empregados públicos concursados na defesa dos interesses da
estatal.

Sala das Comissões, 17 de fevereiro de 2022.

258
Deputado Sávio Souza Cruz, relator

Deputado Cássio Soares, presidente

Deputado Professor Cleiton, vice-presidente

Deputada Beatriz Cerqueira

Deputado Hely Tarqüínio

Deputado Zé Guilherme

Deputado Zé Reis

259
ANEXOS

ANEXO I
Relação das reuniões realizadas

REUNIÕES
28/6/2021 1ª Reunião Especial
14h Local: Auditório – ALMG
Finalidade: Eleger o presidente e o vice-presidente.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Hely Tarqüínio / PV (presidente ad hoc)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Antonio Carlos Arantes / PSDB
Dep. Ione Pinheiro / DEM
Dep. André Quintão / PT
Dep. Gustavo Valadares / PSDB
Dep. Elismar Prado / PROS
Dep. Mauro Tramonte / REPUBLICANOS
Dep. Guilherme da Cunha / NOVO

Resultado: Eleitos os deputados Cássio Soares e Professor Cleiton como


presidente e vice-presidente, respectivamente.
Designado como relator o deputado Sávio Souza Cruz.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=28&mes=06&ano=2021&hr=14:00&tpCom=5&ab
a=js_tabResultado
1ª Reunião Extraordinária
Local: Auditório José Alencar – ALMG
8/7/2021 Finalidade: Apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
14h proposições da comissão.

Presentes (CPI da Cemig):

260
Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Elismar Prado / PROS
Dep. Mauro Tramonte / REPUBLICANOS
Dep. Guilherme da Cunha / NOVO
Dep. Betão / PT

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=08&mes=07&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
2ª Reunião Extraordinária
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
2/8/2021 Dep. Zé Guilherme / PP
14:30h Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Celise Laviola / MDB
Dep. Carlos Pimenta / PDT
Dep. Elismar Prado / PROS
Dep. Mauro Tramonte / REPUBLICANOS

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=02&mes=08&ano=2021&hr=14:30&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

9/8/2021 3ª Reunião Extraordinária


14h Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar

261
proposições da comissão.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Elismar Prado / PROS
Dep. Mauro Tramonte / REPUBLICANOS

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=09&mes=08&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
4ª Reunião Extraordinária

Local: Auditório José Alencar – ALMG


Finalidade: Ouvir a Sra. Débora Lage Martins, superintendente de
Auditoria Interna da Cemig, para prestar depoimento perante a comissão na
condição de testemunha para esclarecer sobre as contratações diretas
realizadas pela empresa no período apurado.
Presentes (CPI da Cemig):
Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
16/8/2021 Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
14h Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Roberto Andrade / AVANTE
Dep. Tito Torres / PSDB

Convocada ouvida:
● Sra. Débora Lage Martins, superintendente de Auditoria Interna da
Cemig.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht

262
ml?idCom=1215&dia=16&mes=08&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

19/8/2021 5ª Reunião Extraordinária


9h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. Rômulo Provetti, gerente de Provimento e
Desenvolvimento Pessoal da Cemig, a fim de prestar depoimento perante a
comissão, na condição de investigado, para esclarecer sobre as contratações
diretas de empresas de headhunters realizadas pela Cemig no período
apurado.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Carlos Pimenta / PDT
Dep. Elismar Prado / PROS

Convidado ouvido:
✓ Sr. Rômulo Provetti, gerente de Provimento e Desenvolvimento
Pessoal da Cemig

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=19&mes=08&ano=2021&hr=09:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
19/8/2021 6ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. Hudson Felix Almeida, diretor-adjunto de Gestão
de Pessoas da Cemig, a fim de prestar depoimento perante a comissão, na
condição de investigado, a fim de esclarecer as contratações diretas
realizadas pela empresa no período apurado.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT

263
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Convocado ouvido:
● Sr. Hudson Felix Almeida, diretor-adjunto de Gestão de Pessoas da
Cemig.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=19&mes=08&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
7ª Reunião Extraordinária

Local: Auditório José Alencar – ALMG


Finalidade: Ouvir a Sra. Cláudia Campos Faria, advogada na Cemig, a fim
de prestar depoimento perante a comissão, na condição de investigada, para
esclarecer as contratações diretas de empresas de headhunters realizadas
pela Cemig no período apurado e o Sr. Leandro Corrêa de Castro, ex-
gerente de Compras de Materiais e Serviços da Cemig, na condição de
testemunha, para esclarecer sobre as contratações diretas realizadas pela
empresa no período investigado

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
23/8/2021 Dep. Hely Tarqüínio / PV
14h Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Carlos Pimenta / PDT
Dep. Elismar Prado / PROS
Dep. Mauro Tramonte / REPUBLICANOS
Dep. Bartô / sem partido
Dep. Betão / PT

Convidados ouvidos:
● Sra. Cláudia Campos Faria, advogada na Cemig.
● Sr. Leandro Corrêa de Castro, ex-gerente de Compras de Materiais
e Serviços da Cemig.

264
Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=23&mes=08&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
30/8/2021 8ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir a Sra. Sílvia Cristiane Martins Batista, ex-
superintendente de Relacionamento Comercial da Cemig e o Sr. Wantuil
Dionísio Teixeira, superintendente do Centro de Serviços Compartilhados
da Cemig, a fim de prestarem depoimento perante a comissão na condição
de testemunhas para esclarecerem sobre as contratações diretas realizadas
pela empresa no período apurado.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Elismar Prado / PROS
Dep. Roberto Andrade / AVANTE
Dep. Bartô / sem partido

Convocados ouvidos:

⚫ Sra. Sílvia Cristiane Martins Batista, ex-superintendente de


Relacionamento Comercial da Cemig.
⚫ o Sr. Wantuil Dionísio Teixeira, superintendente do Centro de
Serviços Compartilhados da Cemig.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=30&mes=08&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

9/9/2021 9ª Reunião Extraordinária


14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. José Roberto Romeu Roque, representante legal da
empresa Audac Serviços Especializados de Atendimento ao Cliente S.A.,
na condição de testemunha, para prestar esclarecimentos sobre fatos

265
envolvendo o processo licitatório realizado pela Cemig para a contratação
de serviços de call center, a sua contratação e rescisão contratual e a
contratação direta, sem processo licitatório, de outra empresa para o mesmo
serviço e ouvir o do Sr. Daniel Polignano Godoy, ex-gerente de Direito
Administrativo da Cemig, a fim de prestar depoimento perante esta
Comissão Parlamentar de Inquérito na condição de testemunha a fim de
esclarecer sobre as contratações diretas realizadas pela empresa no período
apurado.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Convidados ouvidos:
● Sr. José Roberto Romeu Roque, representante legal da empresa
Audac Serviços Especializados de Atendimento ao Cliente S.A.
● Sr. Daniel Polignano Godoy, ex-gerente de Direito Administrativo
da Cemig

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=09&mes=09&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
13/9/2021 10ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir a Sra. Virginia Kirchmeyer Vieira, assessora da Diretoria
de Regulação e Jurídica da Cemig, na condição de testemunha, para
esclarecer sobre as contratações diretas realizadas pela empresa no período
investigado e o Sr. Thiago Ulhoa Barbosa, ex-superintendente jurídico da
Cemig, na condição de testemunha, para esclarecer sobre as contratações
diretas realizadas pela empresa e sobre o preenchimento de cargos técnicos
por não concursados no período apurado.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

266
Convidada ouvida:
● Sra. Virginia Kirchmeyer Vieira, assessora da Diretoria de
Regulação e Jurídica da Cemig.

Convocado ouvido:
● Sr. Thiago Ulhoa Barbosa, ex-superintendente jurídico da Cemig.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=13&mes=09&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
16/9/2021 11ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir a Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo, gerente de
Compras de Materiais e Serviços da Cemig, a fim de prestar depoimento
perante a comissão na condição de testemunha, para esclarecer sobre as
contratações diretas realizadas pela empresa no período investigado.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo Dep. Zé Reis / PODE)

Convidada ouvida:
● Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo, gerente de Compras de
Materiais e Serviços da Cemig

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=16&mes=09&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
20/9/2021 12ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. Luiz Fernando de Medeiros Moreira, diretor adjunto
de Compliance, Riscos Corporativos e Controles Internos da Cemig, e o Sr.
Eduardo Soares, diretor de Regulação e Jurídico da Cemig, na condição de
testemunhas, para esclarecimentos acerca de fatos envolvendo os processos
de contratação realizados pela Cemig objeto de investigação por esta
Comissão Parlamentar de Inquérito.

267
Presentes (CPI da Cemig):
Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo Dep. Zé Reis / PODE)

Outras presenças:
Dep. Mauro Tramonte / REPUBLICANOS

Convocados ouvidos:
● Sr. Luiz Fernando de Medeiros Moreira, diretor adjunto de
Compliance, Riscos Corporativos e Controles Internos da Cemig.
● Sr. Eduardo Soares, diretor de Regulação e Jurídico da Cemig,

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=20&mes=09&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
23/9/2021 13ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. João Polati Filho, ex-diretor de Suprimentos e
Serviços Compartilhados da Cemig, na condição de testemunha, para
esclarecer sobre as contratações diretas realizadas pela empresa no período
apurado.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo o Dep. Zé Reis / PODE)

Outras presenças:
Dep. João Magalhães / MDB
Dep. Mauro Tramonte / REPUBLICANOS

Convocado ouvido:
● Sr. João Polati Filho, ex-diretor de Suprimentos e Serviços
Compartilhados da Cemig.

268
Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=23&mes=09&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
27/9/2021 14ª Reunião Extraordinária
15h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. Carlos Eduardo Altona, sócio administrador da
empresa Exec Consultoria em Recursos Humanos Ltda., na condição de
testemunha, para esclarecimento sobre fatos envolvendo a contratação da
mencionada empresa pela Cemig para a prestação de serviços de
recrutamento de pessoal.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo Dep. Zé Reis / PODE)

Convidado ouvido:
● Sr. Carlos Eduardo Altona, sócio administrador da empresa Exec
Consultoria em Recursos Humanos Ltda.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=27&mes=09&ano=2021&hr=15:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
30/9/2021 15ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. Márcio Danilo Costa, presidente do Sindmig, na
condição de testemunha, para prestar esclarecimentos sobre os fatos
investigados pela comissão e os Srs. Emerson Andrada Leite, coordenador-
geral do Sindieletro, e João Wayne de Oliveira Abreu, presidente do
Sindsul, como convidados, para prestar esclarecimentos sobre as supostas
práticas de assédio moral contra trabalhadores e trabalhadoras da Cemig.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB

269
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Convidados ouvidos:
● Sr. Márcio Danilo Costa, presidente do Sindimig,
● Srs. Emerson Andrada Leite, Coordenador Geral do Sindieletro
● Sr. João Wayne de Oliveira Abreu, presidente do Sindsul

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=30&mes=09&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

5/10/2021 16ª Reunião Extraordinária


9h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. Marcelo Flores de Moura e a Sra. Thais Lima de
Marca, representantes da empresa IBM Brasil – Indústria Máquinas e
Serviços Ltda., na condição de testemunhas, para esclarecimentos acerca
de fatos envolvendo a celebração e a execução do Acordo de Parceria
Estratégica, Tecnológica e Operacional, cujo objeto é a reestruturação de
procedimentos, processos, sistemas e operação dos atuais serviços de
atendimento aos clientes da Cemig e a implantação de novo modelo de
atendimento nessa estatal.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Convidados ouvidos:
● Sr. Marcelo Flores de Moura representante da empresa IBM Brasil
– Indústria Máquinas e Serviços Ltda.
● Sra. Thais Lima de Marca, representante da empresa IBM Brasil –
Indústria Máquinas e Serviços Ltda.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=05&mes=10&ano=2021&hr=09:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
7/10/2021 17ª Reunião Extraordinária
14h

270
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir, na condição de testemunha, a Sra. Fernanda Barroso
Carneiro, representante legal da Kroll Associates Brasil Ltda. na prestação
dos serviços contratados pela Cemig.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Convidada ouvida:
● Sra. Fernanda Barroso Carneiro, representante legal da Kroll
Associates Brasil Ltda.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=07&mes=10&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
13/10/2021 18 ª Reunião Extraordinária
9:30h
Local: Plenarinho IV – ALMG
Finalidade: Ouvir, em reunião secreta, o Sr. Gabriel Ciríaco Fonseca,
delegado da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo o Dep. Zé Reis / PODE)

Convidado ouvido:
● Sr. Gabriel Ciríaco Fonseca, delegado da Polícia Civil do Estado
de Minas Gerais.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=13&mes=10&ano=2021&hr=09:30&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

18/10/2021 19 ª Reunião Extraordinária


14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG

271
Finalidade: Ouvir o Sr. Cledorvino Belini, ex-diretor-presidente da Cemig,
na condição de testemunha, para esclarecer fatos investigados pela
comissão.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Bartô / sem partido

Convocado ouvido:
● Sr. Cledorvino Belini, ex-diretor-presidente da Cemig

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=18&mes=10&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
21/10/2021 20ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir os Srs. Moisés Pêsso da Silveira, representante da
empresa Engelmig, e Osias Galantine, diretor adjunto de Compras e
Logística da Cemig, para prestarem depoimento perante esta comissão na
condição de testemunhas.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Outras presenças:
Dep. Bartô / sem partido

Convidado ouvido:
● Srs. Moisés Pêsso da Silveira, representante da empresa Engelmig

Convocado ouvido:

272
● Osias Galantine, diretor adjunto de Compras e Logística da Cemig,

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=21&mes=10&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
26/10/2021 21 ª Reunião Extraordinária
9:30h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir o Sr. Luís Paroli Santos, ex-presidente da Light, na
condição de testemunha, para esclarecer os fatos investigados nesta
comissão.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Convidado ouvido:
● Sr. Luís Paroli Santos, ex-presidente da Light

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=26&mes=10&ano=2021&hr=09:30&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
3/11/2021 22 ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=03&mes=11&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab

273
a=js_tabResultado
8/11/2021 23 ª Reunião Extraordinária
14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir, na condição de testemunhas, os Srs. Ricardo Falci Sousa
e João Luiz Noronha, diretores da AEC Centro de Contatos S.A.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Convidados ouvidos:
● Sr. Ricardo Falci Sousa, diretor da AEC Centro de Contatos S.A.
● Sr. João Luiz Noronha, diretor da AEC Centro de Contatos S.A.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=08&mes=11&ano=2021&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado
25/11/2021 24 ª Reunião Extraordinária
9:30h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: Ouvir, na condição de testemunha, o Sr. Márcio Luiz Simões
Utsch, presidente do Conselho de Administração da Cemig.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (vice-presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo Dep. Zé Reis / PODE)

Convocado ouvido:
● Sr. Márcio Luiz Simões Utsch, presidente do Conselho de
Administração da Cemig.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=25&mes=11&ano=2021&hr=09:30&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

274
15/12/2021 25ª Reunião Extraordinária
10h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=15&mes=12&ano=2021&hr=10:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

01/02/2022 1ª Reunião Extraordinária


14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (Presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (Vice-Presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Zé Reis / PODE

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=01&mes=02&ano=2022&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

09/02/2022 2ª Reunião Extraordinária


14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão e realizar audiência de convidados.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (Presidente)

275
Dep. Professor Cleiton / PSB (Vice-Presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo Dep. Zé Reis / PODE)

Convidada ouvida:
● Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo, gerente de compras e materiais
e serviços da Cemig.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=15&mes=12&ano=2021&hr=10:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

10/2/2022 3ª Reunião Extraordinária


14h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão e realizar audiência de convidados.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (Presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (Vice-Presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=10&mes=02&ano=2022&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

11/2/2022 4ª Reunião Extraordinária


10h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão e realizar audiência de convidados.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (Presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (Vice-Presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV

276
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo Dep. Zé Reis / PODE)

Convidado ouvido:
● Sr. Reynaldo Passanezi Filho, diretor-presidente da Cemig.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=11&mes=02&ano=2022&hr=10:00&tpCom=2&ab
a=js_tabResultado

11/2/2022 5ª Reunião Extraordinária


10h
Local: Auditório José Alencar – ALMG
Finalidade: apreciar a matéria constante na pauta, receber, discutir e votar
proposições da comissão e realizar audiência de convidados.

Presentes (CPI da Cemig):


Dep. Cássio Soares / PSD (Presidente)
Dep. Professor Cleiton / PSB (Vice-Presidente)
Dep. Beatriz Cerqueira / PT
Dep. Hely Tarqüínio / PV
Dep. Sávio Souza Cruz / MDB
Dep. Zé Guilherme / PP
Dep. Roberto Andrade / AVANTE (Substituindo Dep. Zé Reis / PODE)

Convidados ouvidos:
● Sr. Maurício Dall’Agnese, diretor da CemigPar.
● Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior.

Link de acesso:
https://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/comissoes/internaPauta.ht
ml?idCom=1215&dia=15&mes=02&ano=2022&hr=14:00&tpCom=2&ab
a=js_tabPauta

277
ANEXO II
Relação dos requerimentos de informações e de providências aprovados pela CPI

Número Ementa Destinatário

Requerem do diretor-presidente da Companhia


Energética de Minas Gerais cópias integrais dos
seguintes documentos, no prazo de cinco dias
úteis: processos nºs 500-TP13490 e 500-R69444
e contratos nºs 4680005131, 4680005132, Diretor-presidente da
RQC
4680005133 e 4680005134 e seus respectivos Companhia Energética
9.480/2021
termos aditivos; Processo Licitatório nº 530- de Minas Gerais
H10176, contrato nº 4680005701 e de eventuais
termos aditivos; Processo de Dispensa nº 530-
A15199 e contrato nº 4680006160; Processo nº
530-H15255.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais – Cemig – cópias integrais, no prazo de 5
dias úteis, dos processos licitatórios ou de
inexigibilidades de licitação, as quais deverão vir
acompanhadas de cópias dos documentos
essenciais à formalização prévia destes processos,
tais como solicitação de contratação e
justificativas/motivações que embasaram essas
solicitações; autorização e aprovação do conselho
da empresa; ordem de serviço, empenhos; notas
fiscais; comprovantes de prestação dos serviços;
Diretor-presidente da
RQC relação dos serviços entregues à empresa;
Companhia Energética
9.481/2021 comprovantes de publicação e; comprovantes de
de Minas Gerais
pagamentos para as empresas abaixo
relacionadas: Inexigibilidade 500-E15374,
contrato nº432000075, firmado com o Escritório
Terra, Tavares, Ferrari, Elias Rosa Advogados em
14/6/2021 e que ratifica o início da prestação dos
serviços em 18/1/2021; Inexigibilidade 510-
E14255, contrato nº 4320000005, firmado com a
empresa França e Nunes Pereira Advogados,
aparentemente firmado em 15/7/2020;
Inexigibilidade 4320000019, firmado com a
empresa Thomaz Bastos Waisberg, Kurzweil
Sociedade de Advogados, firmado em 26/8/2020;

278
Inexigibilidade 500-E14503, contrato nº
4320000023, firmado com Elival da Silva Ramos,
datado de 17/09/2020; Inexigibilidade 500-
E14520, contrato nº 4320000028, firmado com
Gentil Monteiro, Vicentini, Beringhs e Gil
Sociedade de Advogados, datado de 24/9/2020;
Inexigibilidade 500-E14374, contrato nº
4320000015 e 4320000016, firmado com a
empresa Lefosse Advogados; Inexigibilidade
500-E13887, contrato nº 4570018218/500
celebrado com a Empresa Exec Consultoria de
Recursos Humanos Ltda., aparentemente firmado
em 21/1/2020; Inexigibilidade 510-E13995,
contrato nº4570018281/510 celebrado com a
Empresa Heidrick & Struggles Recrutamento &
Consultivo Ltda., aparentemente firmado em
8/4/2020; Inexigibilidade 500-E14119, contrato
nº 4570018322/500,4570018323/510 e
4570018324/530 celebrados com a empresa
Thutor Desenvolvimento Empresarial e
Liderança Eireli, firmados em 10/6/2020;
Inexigibilidade 510-E14318, contrato nº
4320000014/510, celebrado com a empresa Exec
Consultoria de Recursos Humanos Ltda.,
aparentemente em 12/8/2020; Inexigibilidade
500-E14352, contrato nº 4320000011 e
4320000012, celebrado com a empresa Russell
Reynolds Associates Ltda., firmado em 7/8/2020;
Inexigibilidade 510-E14449, Contrato
4320000020a, celebrado com a empresa WeWork
Serviços de Escritório Ltda., firmado em
21/9/2020; m) Inexigibilidade 500-E14506,
contrato nº4320000024/510 e 4320000025/530,
celebrado com a empresa Bain Brasil Ltda.,
assinado em 17/12/2020; Inexigibilidade 500-
E14568, contrato nº 4320000029, firmado com
Wladimir Ganzelevitch Psicologia S/C Ltda.,
datado de 29/9/2020.

279
Requerem sejam requisitadas ao promotor de
justiça da 17ª Promotoria de Justiça de Defesa do
Promotor de justiça da
Patrimônio Público informações e cópias dos
RQC 17ª Promotoria de
Inquéritos Civis MPMG- 0024.20.006632-2;
9.482/2021 Justiça de Defesa do
MPMG-0024.18.016572-2 e MPMG-
Patrimônio Público
0024.21.001920-4, especificando se há
necessidade de sigilo sobre essas informações.

Requerem sejam requisitadas ao diretor-


presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais, no prazo de 5 dias úteis, cópias integrais
dos seguintes processos licitatórios ou
Inexigibilidade de Licitação: a) Inexigibilidade
530-E14994, Contrato 4680006138, firmado com
a empresa IBM do Brasil, acrescido dos estudos
técnicos preliminares, atas, projeto básico e
demais decisões que precederam a formalização
contratual; b) Contrato 4680004808, firmado com
a empresa A & C Centro de Contas S.A., e seus
aditivos a partir de 2019; c) Pregão Eletrônico
530-H13806, cujo objeto era a contratação de
Diretor-presidente da
RQC empresas para serviços de call center; e d)
Companhia Energética
9.483/2021 Contrato 4680005967, firmado com a empresa
de Minas Gerais
Audac Serviços Especializados de Cobrança e
Atendimento S.A., acrescido da ordem de serviço
e eventual termo de rescisão; e sejam as cópias
acompanhadas dos documentos essenciais à
formalização prévia desses processos, tais como,
(i) solicitação de contratação e
justificativas/motivações que embasaram essas
solicitações; (ii) autorização e aprovação do
conselho da empresa; (iii) ordem de serviço,
empenhos; (iv) notas fiscais; (v) comprovantes de
prestação dos serviços; ( vi) relação dos serviços
entregues à empresa; (vii) comprovantes de
publicação e; (viii) comprovantes de pagamentos.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais cópias integrais dos seguintes documentos,
no prazo de cinco dias úteis: a) de toda a Diretor-presidente da
RQC
documentação relacionada ao Contrato Companhia Energética
9.484/2021
4680004428 (Concorrência 530-R01228) firmado de Minas Gerais
com a empresa ABB e respectivos aditivos; b) do
Processo Administrativo Punitivo 003/2014 e de
todo o processo que levou à revisão da punição

280
aplicada à empresa; c) da Inexigibilidade 510-
X1485, Contrato 4310000004, firmado com a
empresa ABB.

Requerem sejam requisitadas ao diretor-


presidente da Companhia Energética de Minas Diretor-presidente da
RQC
Gerais informações sobre quantas e quais foram Companhia Energética
9.487/2021
as alterações estatutárias realizadas pela Cemig ou de Minas Gerais
suas subsidiárias desde janeiro de 2019.

Requerem seja requisitado ao diretor-presidente


da Companhia Energética de Minas Gerais o
organograma completo e atualizado da Cemig e Diretor-presidente da
RQC
de suas subsidiárias integrais, com a descrição de Companhia Energética
9.488/2021
seus órgãos, a data de sua criação, o nome do de Minas Gerais
responsável ou titular e o número de funcionários
correspondentes a cada um deles.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Diretor-presidente da
RQC Gerais – Cemig – informações sobre quais são as
Companhia Energética
9.489/2021 políticas de participação dos lucros ou resultados
de Minas Gerais
aplicáveis aos seus funcionários efetivos, aos
diretores e aos conselheiros.
Requerem seja encaminhado ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais pedido de informações sobre todos os
Diretor-presidente da
RQC escritórios ou representantes da Cemig e de suas
Companhia Energética
9.490/2021 subsidiárias constituídos fora de Minas Gerais,
de Minas Gerais
desde janeiro de 2019, relacionando todos aqueles
que exerçam suas funções no Estado de São
Paulo.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais – Cemig – as cópias das atas de reuniões e
deliberações de acionistas realizadas desde Diretor-presidente da
RQC
janeiro de 2019, com esclarecimentos sobre onde Companhia Energética
9.491/2021
foram decididas e autorizadas as alienações de de Minas Gerais
ativos e ações da Cemig, a partir de janeiro de
2019, relacionadas com sua participação
societária na Renova, Light e Taesa.

281
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais – Cemig – informações sobre o inteiro teor
Diretor-presidente da
RQC dos documentos e estudos que justificaram ou
Companhia Energética
9.492/2021 basearam a tomada de decisão que envolveu as
de Minas Gerais
alienações de ativos e ações da Cemig, a partir de
janeiro de 2019, relacionadas à sua participação
societária na Renova, na Light e na Taesa.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais informações sobre os valores recebidos a Diretor-presidente da
RQC
título de participação nos lucros ou resultados por Companhia Energética
9.493/2021
todos os membros da diretoria, seus assessores e de Minas Gerais
os conselheiros da companhia, desde janeiro de
2019.
Requerem seja encaminhada ao diretor-presidente
da Companhia Energética de Minas Gerais –
Cemig – pedido de informações consubstanciadas
na relação de todos os funcionários contratados
sem concurso público, desde janeiro de 2019, por
Diretor-presidente da
RQC essa empresa e suas subsidiárias, incluindo-se os
Companhia Energética
9.494/2021 membros da diretoria e conselhos, especificando-
de Minas Gerais
se cargo, nome completo, município de domicílio
e residência, órgão em que o funcionário está ou
esteve lotado, qual é ou era a sua remuneração e o
que compõe seus vencimentos e qual a data de sua
admissão e de seu eventual desligamento.
Requerem sejam requisitadas ao procurador-geral
de Justiça cópias dos Inquéritos Civis nºs MPMG
0024.20.006632-2, MPMG 0021.18.016572-2 e
RQC Procurador-geral de
MPMG 0021.21.001920-4, acompanhadas da
9.712/2021 Justiça
informação à comissão sobre a necessidade de
eventual sigilo sobre as informações neles
constantes.
Requerem a intimação do Sr. Hudson Felix
Almeida, diretor adjunto de Gestão de Pessoas da
RQC Cemig, a fim de prestar depoimento perante a Sr. Hudson Felix
9.709/2021 comissão na condição de testemunha para Almeida
esclarecer sobre as contratações diretas realizadas
pela empresa no período apurado.
Requerem seja encaminhado ao delegado
responsável pela Delegacia Especializada de
RQC Combate à Corrupção – Deccor – pedido de
Delegado da Deccor
9.707/2021 fornecimento de cópias de todos os documentos
relacionados às investigações pertinentes às
operações relacionadas à venda da Renova, bem

282
como cópias de eventuais depoimentos gravados,
informando-se sobre eventual necessidade de
sigilo das informações solicitadas.

Requerem a intimação do Sr. João Polati Filho,


ex-diretor de Suprimentos e Serviços
Compartilhados da Cemig, a fim de prestar
RQC
depoimento perante a comissão na condição de Sr. João Polati Filho
9.703/2021
testemunha para esclarecer sobre as contratações
diretas realizadas pela empresa no período
apurado.
Requerem a intimação do Sr. Wantuil Dionísio
Teixeira, superintendente do Centro de Serviços
Compartilhados da Cemig, a fim de prestar
RQC Sr. Wantuil Dionísio
depoimento perante a comissão na condição de
9.691/2021 Teixeira
testemunha para esclarecer sobre as contratações
diretas realizadas pela empresa no período
apurado.
Requerem seja intimada a Sra. Sílvia Cristiane
Martins Batista, ex-superintendente de
Relacionamento Comercial da Cemig, a fim de
RQC Sra. Sílvia Cristiane
prestar depoimento à comissão na condição de
9.690/2021 Martins Batista
testemunha, com vistas a que sejam esclarecidas
as contratações diretas realizadas pela empresa no
período apurado.
Requerem seja intimado o Sr. Anderson Fleming
de Souza, gerente de Governança das
RQC Participações da Cemig, a prestar depoimento à Sr. Anderson Fleming
9.689/2021 comissão na condição de testemunha, com vistas de Souza
a que sejam esclarecidas as contratações diretas
realizadas pela empresa no período apurado.
Requerem a intimação da Sra. Débora Lage
Martins, superintendente de Auditoria Interna da
RQC Cemig, a fim de prestar depoimento perante a Sra. Débora Lage
9.688/2021 comissão na condição de testemunha para Martins
esclarecer sobre as contratações diretas realizadas
pela empresa no período apurado.
Requerem a intimação da Sra. Ivna de Sá
Machado de Araújo, gerente de Compras de
Materiais e Serviços da Cemig, a fim de prestar
RQC Sra. Ivna de Sá Machado
depoimento perante a comissão na condição de
9.687/2021 de Araújo
testemunha, para esclarecer sobre as contratações
diretas realizadas pela empresa no período
investigado.

283
Requerem a intimação do Sr. Eduardo Soares,
diretor de Regulação e Jurídico da Cemig, a fim
RQC de prestar depoimento perante a comissão na
Sr. Eduardo Soares
9.686/2021 condição de testemunha, para esclarecer sobre as
contratações diretas realizadas pela empresa no
período investigado.
Requerem a intimação do Sr. Daniel Polignano
Godoy, ex-gerente de Direito Administrativo da
RQC Cemig, a fim de prestar depoimento perante a Sr. Daniel Polignano
9.685/2021 comissão na condição de testemunha, para Godoy
esclarecer sobre as contratações diretas realizadas
pela empresa no período investigado.
Requerem a intimação do Sr. Leandro Corrêa de
Castro, ex-gerente de Compras de Materiais e
RQC Serviços da Cemig, a fim de prestar depoimento Sr. Leandro Corrêa de
9.684/2021 perante a comissão na condição de testemunha, Castro
para esclarecer sobre as contratações diretas
realizadas pela empresa no período investigado.
Solicita ao senhor Reynaldo Passanezi Filho que
a documentação seja novamente encaminhada à
Reiteração CPI, no prazo de 5 dias úteis, em meio eletrônico Sr. Reynaldo Passanezi
de RQCs pesquisável, em formato PDF, sem o aporte de Filho
marca d'água ou de qualquer outro tipo de marca
que dificulte a pesquisa na documentação.
Requerem a intimação da Sra. Virgínia
Kirchmeyer Vieira, assessora da diretoria de
Regulação e Jurídica da Cemig, a fim de prestar
RQC Sra. Virgínia
depoimento perante a comissão na condição de
9.683/2021 Kirchmeyer Vieira
testemunha, para esclarecer sobre as contratações
diretas realizadas pela empresa no período
investigado.
Requerem seja encaminhada ao diretor-presidente
da Companhia Energética de Minas Gerais
requisição dos seguintes documentos
relacionados aos processos licitatórios e/ou
inexigibilidades de licitação, no prazo de cinco
dias úteis: a) 510-E14877, contrato nº
4320000045, firmado com a empresa Araken de Diretor-presidente da
RQC
Assis Sociedade Individual; b) 510-E14904, Companhia Energética
9.680/2021
contrato nº 4320000048, firmado com a empresa de Minas Gerais
Heleno Torres Advogados Associados; c) 510-
E14908, contrato nº 4320000049, firmado com a
empresa Machado Meyer, Sendacz e Opice
Advogados; d) 510-E14881, contrato nº
4320000046, firmado com a empresa Tavares
Guerreiro Advogados; e) 500-E13857, contrato nº

284
4680005958, firmado com a empresa Bank of
America Merrill Lynch Banco Múltiplo S.A.; f)
510-E14851, contrato nº 4680006128, firmado
com a empresa Banco BTG Pactual S.A.; g) 530-
E14981, contrato nº 4320000056, firmado com a
empresa Renno Penteado Reis e Sampaio
Advogados; h) 500-E14883, contrato nº
4680006126, firmado com a empresa
Pricewaterhousecoopers Contadores Públicos
Ltda. i) 510-E15054, contrato nº 4680006143,
firmado com a empresa Itaca Assessoria
Financeira Ltda.; j) 500-E15124, contrato nº
4320000062, firmado com a empresa Mercer
Human Resource Consulting Ltda.; k) 510-
E15118, contrato nº 4680006150, firmado com a
empresa BR Partners Assessoria Financeira Ltda.;
l) 530-E15139, contrato nº 4680006155, firmado
com a empresa A. T. Kearney Consultoria de
Gestão Empresarial Ltda.; m) 500-E15261,
contrato nº 4320000070, firmado com a empresa
Sampaio Ferraz Sociedade de Advogados; n) 500-
E15249, contrato nº 4320000074, firmado com a
empresa Kroll Associates Brasil Ltda.; o) 530-
E15285, contrato nº 4520000624, firmado com a
empresa Vrinda Inc.; p) 500-E15457, contrato nº
4320000085, firmado com a empresa B3 S.A. –
Brasil, Bolsa, Balcão; q) 500-E15474, contratos
números 4320000086 e 432000008, firmados
com a empresa Falconi Consultores S.A.
Requerem a intimação do Sr. Hudson Felix
Almeida, diretor-adjunto de Gestão de Pessoas da
RQC Cemig, a fim de prestar depoimento perante a Sr. Hudson Felix
9.780/2021 comissão, na condição de investigado, a fim de Almeida
esclarecer as contratações diretas realizadas pela
empresa no período apurado.
Requer a intimação da Sra. Cláudia Campos
Faria, advogada na Cemig, a fim de prestar
RQC depoimento perante a comissão, na condição de Sra. Cláudia Campos
9.779/2021 investigada, a fim de esclarecer as contratações Faria
diretas de empresas de headhunters realizadas
pela Cemig no período apurado.
Requer seja solicitado auxílio ao Tribunal de
Contas do Estado na análise dos aspectos de
RQC Presidente do Tribunal
legalidade e economicidade das contratações
9.750/2021 de Contas do Estado
realizadas pela Cemig que são objeto de
investigação da comissão.

285
Requerem a intimação do Sr. Rômulo Provetti,
gerente de Provimento e Desenvolvimento
Pessoal da Cemig, a fim de prestar depoimento
RQC
perante a comissão, na condição de investigado, Sr. Rômulo Provetti
9.749/2021
para esclarecer sobre as contratações diretas de
empresas de headhunters realizadas pela Cemig
no período apurado.
Requerem seja encaminhado ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais requisição de informações Diretor-presidente da
RQC
consubstanciadas na relação de escritórios Companhia Energética
9.880/2021
jurídicos pré-qualificados a prestarem serviços de Minas Gerais
para a Cemig, selecionados pela empresa através
de processos de licitação pública.
Requer seja requisitada ao diretor-presidente da
Companhia Energética de Minas Gerais cópia do
relatório de auditoria realizada pela
Superintendência da Auditoria Interna da Cemig,
contendo a análise das contratações diretas
promovidas pela empresa no período de janeiro a
Diretor-presidente da
RQC setembro de 2020, cuja existência foi mencionada
Companhia Energética
9.881/2021 pela testemunha Débora Lage Martins em seu
de Minas Gerais
depoimento prestado a essa Comissão, na reunião
do dia 16/8/2021, devendo a referida cópia ser
fornecida em apartado, independentemente da
aprovação de requerimento mais abrangente que
envolva a requisição de cópias de outros
relatórios.
Requer seja encaminhado ao diretor-presidente da
Companhia Energética de Minas Gerais
requisição de cópias de todos os relatórios de
auditorias realizadas pela Superintendência de Diretor-presidente da
RQC
Auditoria Interna da Cemig durante o período de Companhia Energética
9.882/2021
2019 a 2021, relacionadas às contratações diretas de Minas Gerais
(sem licitação) realizadas pela empresa e
envolvendo a apuração de irregularidades
ocorridas na área de suprimentos.
Requer seja intimado o Sr. Evandro Negrão de
Lima, a fim de prestar depoimento perante a
RQC comissão, na condição de testemunha, com o Sr. Evandro Negrão de
9.931/2021 objetivo de esclarecer sobre a contratação da Lima
empresa Exec Consultoria em Recursos Humanos
pela Cemig para seleção de executivos.
Juiz da Vara de
RQC Requerem seja encaminhado ao Juízo da Vara de
Inquéritos de Belo
9.930/2021 Inquéritos da Comarca de Belo Horizonte
Horizonte

286
solicitação de cópia integral do Inquérito nº
0024.17009.894-1.

Requerem seja intimado o Sr. Thiago Ulhoa


Barbosa, ex-superintendente jurídico da Cemig a
fim de prestar depoimento perante a comissão, na
RQC Sr. Thiago Ulhoa
condição de testemunha, com o objetivo de
9.932/2021 Barbosa
esclarecer sobre as contratações diretas realizadas
pela empresa e sobre o preenchimento de cargos
técnicos por não concursados no período apurado.
Requerem seja requisitada ao diretor-presidente
da Companhia Energética de Minas Gerais, para
apresentação, no prazo de cinco dias úteis, toda a
documentação que comprove a efetiva execução
dos serviços de recrutamento e seleção de pessoal
pela empresa Exec Consultoria de Recursos
Humanos Ltda., especialmente todos os
Diretor-presidente da
RQC documentos relativos aos processos de seleção de
Companhia Energética
9.935/52021 candidatos, os relatórios, os termos
de Minas Gerais
circunstanciados de acompanhamento e
fiscalização da prestação de serviços, o termo de
recebimento e quitação definitivo, devendo a
documentação ser encaminhada à comissão por
meio de arquivo eletrônico pesquisável, em
formato PDF, sem o aporte de marca d´água ou de
qualquer tipo de marca que dificulte a pesquisa.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais, para apresentação no prazo de cinco dias
úteis, cópias dos atos normativos internos que
determinam que os diretores da Cemig sejam
selecionados por meio de processo de
Diretor-presidente da
RQC recrutamento de pessoal realizado por empresa
Companhia Energética
9.936/2021 contratada diretamente, por dispensa ou
de Minas Gerais
inexigibilidade de licitação, e que a
documentação seja encaminhada à comissão por
meio de arquivo eletrônico pesquisável, em
formato PDF, sem o aporte de marca d'água ou
qualquer tipo de marca que dificulte a pesquisa na
documentação.

287
Requerem seja requisitada ao diretor-presidente
da Companhia Energética de Minas Gerais, para
apresentação, no prazo de cinco dias úteis, a
documentação relativa aos serviços de
recrutamento e seleção de pessoal prestados por
todas as empresas contratadas pela Cemig
diretamente, por dispensa ou inexigibilidade de
licitação, no período de 2019 a 2021,
especialmente as cópias de todos os documentos Diretor-presidente da
RQC
que compõem os processos de seleção dos Companhia Energética
9.937/2021
candidatos, os relatórios que subsidiaram a de Minas Gerais
escolha dos concorrentes, os termos
circunstanciados de acompanhamento e
fiscalização da prestação dos serviços e os termos
de recebimento e quitação definitivos, devendo a
documentação ser enviada por meio de arquivo
eletrônico pesquisável, em formato PDF, sem o
aporte de marca d´água ou qualquer tipo de marca
que dificulte a pesquisa na documentação.
Requer sejam requisitadas à Ordem dos
Advogados do Brasil, Subseção de São Paulo,
cópias de todos os atos societários registrados
RQC Presidente da Subseção
perante a entidade relativos à Lefosse Advogados,
9.948/2021 de São Paulo da OAB
inscrita sob o nº 1.080, compreendendo o contrato
social e todas as alterações posteriores registradas
e averbadas perante a entidade.
Requerem a intimação do Sr. Marcelo Flores de
Moura e da Sra. Thais Lima de Marca,
representantes da empresa IBM Brasil – Indústria
Máquinas e Serviços Ltda., na condição de
testemunhas, para esclarecimentos acerca de fatos
Sr. Marcelo Flores de
RQC envolvendo a celebração e a execução do Acordo
Moura e Sra. Thais Lima
10.029/2021 de Parceria Estratégica, Tecnológica e
de Marca
Operacional, cujo objeto é a reestruturação de
procedimentos, processos, sistemas e operação
dos atuais serviços de atendimento aos clientes da
Cemig e a implantação de novo modelo de
atendimento nessa estatal.
Requer seja intimado o Sr. José Roberto Romeu
Roque, representante legal da empresa Audac
Serviços Especializados de Atendimento ao
RQC Cliente S.A., na condição de testemunha, para Sr. José Roberto Romeu
10.028/2021 prestar esclarecimentos sobre fatos envolvendo o Roque
processo licitatório realizado pela Cemig para a
contratação de serviços de call center, a sua
contratação e rescisão contratual e a contratação

288
direta, sem processo licitatório, de outra empresa
para o mesmo serviço.

Requer sejam requisitadas ao diretor-presidente


da Companhia Energética de Minas Gerais, a
serem entregues no prazo de cinco dias úteis,
cópias de todos os documentos relacionados ao
faturamento (notas fiscais, notas de empenho, Diretor-presidente da
RQC
etc.) e à gestão e execução do contrato nº Companhia Energética
10.021/2021
4680006138 (relatórios, termos de recebimento de Minas Gerais
do serviço, aditivos, etc.), firmado com a empresa
IBM, e que a documentação seja encaminhada à
comissão, por meio eletrônico pesquisável, em
formato PDF.
Requerem seja requisitada ao diretor-presidente
da Cemig cópia dos vídeos do circuito interno da
empresa com o registro de acesso de
representantes da empresa Kroll a computadores
funcionais de empregados da companhia, em Diretor-presidente da
RQC
especial o que registra o acesso ao computador do Companhia Energética
10.116/2021
advogado Daniel Polignano Godoy, ex-gerente de de Minas Gerais
Direito Administrativo da Cemig, ocorrido em
dezembro de 2020, conforme por ele mencionado
no depoimento que prestou a esta CPI no dia
9/9/2021.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Cemig informações sobre a data de
início da execução das atividades que foram Diretor-presidente da
RQC
objeto do contrato que a Cemig celebrou com a Companhia Energética
10.117/2021
empresa Kroll Associates Brasil Ltda., de Minas Gerais
esclarecendo os motivos que levaram a sua
realização e a forma de contratação.
Requerem seja requisitada ao Sr. Daniel
Polignano Godoy, ex-gerente de Direito
Administrativo da Cemig, para apresentação no
RQC prazo de cinco dias úteis, cópia dos vídeos por ele Sr. Daniel Polignano
10.113/2021 mencionados em depoimento prestado a essa Godoy
comissão no dia 9/9/2021, nos quais foram
registrados acessos de terceiros ao computador
por ele utilizado.
Requerem sejam juntados os documentos
RQC
relativos à prestação de contas de campanha do
10.110/2021
então candidato a governador Romeu Zema que

289
informam a existência de doação do Sr. Evandro
Veiga Negrão, no valor de R$32.000,00.

Requerem, notadamente nos termos do art. 113 do


Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 18 de março de 1952, seja encaminhado
ao diretor-presidente da Companhia Energética de
Minas Gerais, requisição para, no prazo de 5
(cinco) dias úteis, encaminhar cópias integrais dos
processos e contratos indicados a seguir, com seus
respectivos aditivos, prorrogações, reajustes e
demais alterações contratuais: 1) contratação de
serviços de construção e manutenção de redes de
distribuição da regional Paracatu: 1.1) Licitação
530-N09610, Contrato 4680005016, celebrado
com a empresa Potência Medições S.A.; 1.2)
Licitação 530-H15535, Contrato 4680006231,
também celebrado com a empresa Potência
Medições S.A. 2) contratação de serviços de
construção e manutenção de redes de distribuição
da regional Passos: 2.1) Licitação 530-H11456, Diretor-presidente da
RQC
Contrato 4680005168, celebrado com a empresa Companhia Energética
10.121/2021
Engelmig Elétrica Ltda.; 2.2) Licitação 530- de Minas Gerais
H15679, vencido pela empresa Litucera Limpeza
e Engenharia Ltda., cujo contrato ainda não foi
publicado no DOE. 3) contratação de serviços de
construção e manutenção de redes de distribuição
da regional Metalúrgica: 3.1) Licitação 530-
N09074, Contrato 4680005155, celebrado com a
empresa Spin Energy Serviços Elétricos Ltda.;
3.2) Licitação 530-H15418, Contratos
4680006224 e 4680006225, celebrados com a
empresa Provac Terceirização de Mão de Obra
Ltda. 4) contratação de serviços de construção e
manutenção de redes de distribuição da regional
São João Del Rei: 4.1) Licitação 530-N09074,
Contrato 4680005154, celebrado com a empresa
Spin Energy Serviços Elétricos Ltda.; 4.2)
Licitação 530-H15608, cujo pregão foi adiado
sine die.
Requerem especificamente nos termos do art. 113
do Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal
RQC nº 1.579, de 18 de março de 1952, a intimação do Sr. Luiz Fernando de
10.122/2021 Sr. Luiz Fernando de Medeiros Moreira, diretor Medeiros Moreira
adjunto de Compliance, Riscos Corporativos e
Controles Internos da Cemig, na condição de
290
testemunha, para esclarecimentos acerca de fatos
envolvendo os processos de contratação
realizados pela Cemig objeto de investigação por
esta Comissão Parlamentar de Inquérito.

Requerem notadamente nos termos do art. 113 do


Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 18 de março de 1952, seja requisitado
ao diretor-presidente da Companhia Energética
do Estado de Minas Gerais, informações se as
empresas abaixo especificadas figuram ou já
figuraram como inscritas nos cadastros de
fornecedores da Cemig, bem como se já foram
Diretor-presidente da
RQC contratadas por esta empresa, devendo
Companhia Energética
10.123/2021 encaminhar cópias integrais dos contratos e
de Minas Gerais
processos de contratações eventualmente
existentes. Solicitamos, ainda, que a
documentação seja encaminhada a esta CPI por
meio eletrônico pesquisável em formato PDF. a)
PRE 87 Empreendimentos Imobiliários SPE
Ltda., inscrita no CNPJ sob o nº 32.781.185/0002-
96; e b) TRZS Energia Participações Ltda.,
inscrita no CNPJ sob o nº 37.092.125.0001-07.
Requerem notadamente nos termos do art. 113 do
Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 18 de março de 1952, sejam requisitadas
informações à Comissão de Ética da Cemig sobre
RQC a eventual existência de procedimento interno Comissão de Ética da
10.124/2021 instaurado para a apuração de irregularidades Cemig
envolvendo o acesso de computadores funcionais
de empregados da companhia pela empresa
privada Kroll, sem a prévia existência de
contratação devidamente formalizada.
Requer seja encaminhado ofício à Comissão de
Defesa, Assistência e Prerrogativas da Ordem dos
Advogados do Brasil, Seção Minas Gerais,
informando acerca da possível existência de
RQC
violação às prerrogativas de advogados OAB-MG
10.128/2021
empregados públicos da Cemig, notadamente no
que tange ao possível acesso pela empresa privada
Kroll a informações contidas nos seus
computadores funcionais.
Requerem seja requisitado ao diretor-presidente
Diretor-presidente da
RQC da Cemig cópia da ata da reunião do Conselho de
Companhia Energética
10.129/2021 Administração da Cemig que deliberou pela
de Minas Gerais
nomeação de Reynaldo Passanezi Filho para o

291
cargo de diretor-presidente da companhia, bem
como de todos os documentos que instruíram ou
orientaram a deliberação em questão.
Requerem seja requisitado ao Ministério Público
de Contas do Estado de Minas Gerais cópia da
decisão de arquivamento de inquéritos/processos
envolvendo a apuração da legalidade de Ministério Público de
RQC
contratações pela Cemig de empregados Contas de MG e diretor-
10.130/2021
demissíveis ad nutum. Requer-se, ainda, a presidente da Cemig
requisição de cópia da citada decisão ao diretor-
presidente da Cemig para que forneça a esta CPI,
caso a possua.
Requer seja intimada a Sra. Virgínia Kirchmeyer
RQC Vieira para que preste informações, na condição Sra. Virgínia
10.131/2021 de testemunha, em reunião secreta, conforme art. Kirchmeyer Vieira
123 do Regimento Interno.

Requer seja encaminhado ofício ao presidente da


RQC OAB informando acerca de possível existência de
Sr. Felipe Santa Cruz
10.194/2021 violação às prerrogativas de advogados
empregados públicos da Cemig.

Requer ao governador do Estado a tomada de


RQC
providências cabíveis a respeito da proibição da Sr. Romeu Zema
10.192/2021
Cemig aos seus empregados para depor na CPI.

Requer a intimação do Sr. Carlos Eduardo Altona,


sócio administrador da empresa Exec Consultoria
em Recursos Humanos Ltda., na condição de
RQC Sr. Carlos Eduardo
testemunha, para esclarecimentos sobre fatos
10.193/2021 Altona
envolvendo a contratação da mencionada empresa
pela Cemig para prestação de serviços de
recrutamento de pessoal.
Requer ao diretor-presidente da Cemig que
informe no prazo de 5 dias se há registro de
RQC Sr. Reynaldo Passanezi
rejeição de nomes indicados pelo governo do
10.232/2021 Filho
Estado de Minas Gerais para ocupação de cargos
na diretoria da empresa.

292
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
Cemig o encaminhamento, no prazo de 5 dias, dos
RQC Sr. Reynaldo Passanezi
e-mails que comprovem que a Audac foi
10.231/2021 Filho
convidada para participar do PNI em que a IBM
sagrou-se vencedora.

Requer especialmente nos termos do art. 113 do


Regimento Interno e art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 1952, seja requisitado ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais – Cemig –, o encaminhamento, no prazo
de 5 dias, de cópia da decisão proferida pelo
RQC Tribunal Regional do Trabalho relativa à Sr. Reynaldo Passanezi
10.230/2021 reclamação trabalhista do Sr. Leandro Corrêa de Filho
Castro, em que aquele tribunal negou provimento
ao recurso do emprego, que ajuizou ação para
voltar a trabalhar na companhia, após ter sido
afastado de suas funções, sem prejuízo de
vencimentos, em virtude das investigações de
corrupção na área de suprimentos.
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
Cemig o encaminhamento, no prazo de 5 dias, de
RQC Sr. Reynaldo Passanezi
cópia da autorização concedida pela Cemig ao
10.229/2021 Filho
empregado Daniel Rodolfo de acesso às imagens
de circuito interno fechado de TV da Companhia.
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
RQC Cemig cópias de processos licitatórios e Sr. Reynaldo Passanezi
10.228/2021 inexigibilidade de licitação, no prazo de 5 dias, Filho
por meio eletrônico em arquivo PDF pesquisável.
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
Cemig o encaminhamento no prazo de 5 dias de
cópias de todos os documentos relacionados ao
RQC termo de cessão do laboratório de ensaios de alta Sr. Reynaldo Passanezi
10.227/2021 tensão e do laboratório de inspeção e tecnologia Filho
de material do barreiro e comodato pelo prazo de
15 anos. por meio eletrônico em arquivo .PDF
pesquisável.
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
Cemig o encaminhamento de cópias de todos os
RQC relatórios de auditorias elaboradas pela diretoria Sr. Reynaldo Passanezi
10.226/2021 Adjunta de Compliance, Riscos Coorporativos e Filho
Controles Internos da Companhia, de 2019 até a
presente data.
RQC Requerem seja requisitada ao diretor-presidente Sr. Reynaldo Passanezi
10.224/2021 da Companhia Energética de Minas Gerais, para Filho

293
apresentação no prazo de cinco dias úteis, cópia
das instruções jurídicas para contratação por
inexigibilidade e convalidação, vigentes entre
2019 até o momento.
Requerem seja requisitada ao diretor-presidente
da Companhia Energética de Minas Gerais, para
apresentação no prazo de cinco dias úteis, cópia
RQC dos registros de quem acessou os computadores Sr. Reynaldo Passanezi
10.223/2021 dos Srs. Daniel Polignano Godoy e Thiago Ulhoa Filho
Barbosa e dos arquivos e programas que foram
acessados após o expediente do dia 3/12/2020 até
o início do expediente do dia seguinte.
Requerem sejam requisitados ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais, para apresentação, no prazo de cinco dias
RQC úteis, cópia dos registros manuais e gravados no Sr. Reynaldo Passanezi
10.222/2021 sistema de entrada e saída de pessoas e os Filho
formulários de autorização de entrada de pessoas
após o expediente do dia 3/12/2020 até o início do
expediente do dia seguinte.
Requer notadamente nos termos do art. 113 do
Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 1952, a intimação do Sr. Ivanilson
Alencar Maciel, ex-superintendente de Material e
RQC Serviços da Cemig, ex-gerente de Planejamento Sr. Ivanilson Alencar
10.307/2021 em Aquisição de Material e de Relacionamento Maciel
com Fornecedores da Cemig, a fim de prestar
depoimento perante a comissão na condição de
testemunha, para esclarecer sobre contratações
realizadas pela companhia no período apurado.
Requer, notadamente nos termos do art. 113 do
Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 1952, a intimação do Sr. Paulo
Gonçalves Vanelli, ex-superintendente de
RQC Sr. Paulo Gonçalves
Suprimentos e Logística e de Planejamento e
10.306/2021 Vanelli
Estratégia, a fim de prestar depoimento perante a
comissão na condição de testemunha, para
esclarecer sobre contratações realizadas pela
companhia no período apurado.
Requer notadamente nos termos do art. 113 do
Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
RQC 1.579, de 1952, a intimação da Sra. Elaine Maria Sra. Elaine Maria da
10.305/2021 da Costa, empregada do setor de Relacionamento Costa
com Fornecedores da Cemig, a fim de prestar
depoimento perante a comissão na condição de

294
testemunha, para esclarecer sobre contratações
realizadas pela companhia no período apurado.

Requer, notadamente nos termos do art. 113 do


Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 1952, a intimação do Sr. Fernando
Antônio Machado Bueno, ex-gerente de
RQC Planejamento e Estratégia de Materiais e Sr. Fernando Antônio
10.304/2021 Logística e de Planejamento e Estratégia da Machado Bueno
Cemig, a fim de prestar depoimento perante a
comissão na condição de testemunha, para
esclarecer sobre contratações realizadas pela
companhia no período apurado.
Requerem sejam convidados os representantes do
Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na
Indústria Energética de Minas Gerais –
Representantes do
RQC Sindieletro-MG – e do Sindicato dos Eletricitários
Sindieletro-MG e do
10.303/2021 do Sul de Minas Gerais – Sindsul-MG –, para
Sindsul-MG
prestarem esclarecimentos sobre as supostas
práticas de assédio moral contra os trabalhadores
e as trabalhadoras da Cemig.
Requerem que o Sr. Eduardo Soares, diretor de
Regulação e Jurídico da Cemig, deixe a condição
RQC de testemunha, passando a ser investigado acerca
Dr. Eduardo Soares
10.302/2021 de fatos envolvendo os processos de contratação
realizados pela Cemig, objeto de investigação da
comissão.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais, para entrega no prazo de cinco dias úteis,
cópia do plano de trabalho da Kroll Associates
Brasil Ltda. referente ao contrato nº
Diretor-presidente da
RQC 4320000074/500, a lista de custodiantes e a
Companhia Energética
10.301/2021 relação dos empregados da Cemig que tiveram os
de Minas Gerais
dados copiados, especificando-se nome e data da
ocorrência, bem como a proposta enviada pela
referida empresa para a Cemig, devendo a
documentação ser encaminhada à comissão, por
meio eletrônico pesquisável, em formato PDF.
Requerem, notadamente nos termos do art. 113 do
Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº Sr. Gabriel Ciríaco
RQC
1.579, de 18 de março de 1952, seja convidado o Fonseca, delegado de
10.300/2021
Sr. Delegado de Polícia Civil, Gabriel Ciríaco Polícia Civil
Fonseca, para comparecer a esta comissão, com o

295
objetivo de prestar esclarecimentos acerca do
motivo de seu afastamento da Delegacia
Especializada de Combate à Corrupção – Deccor.

Requerem, notadamente nos termos do art. 113 do


Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal nº
1.579, de 18 de março de 1952, seja encaminhado
ao diretor-presidente da Companhia Energética de
Minas Gerais, requisição de cópias de todos os
documentos relacionados à contratação
(processos licitatórios ou procedimentos de
Diretor-presidente da
RQC contratação direta), ao faturamento (notas fiscais,
Companhia Energética
10.296/2021 notas de empenho, etc.) e à gestão e execução dos
de Minas Gerais
contratos firmados com a empresa Boston
Consulting Group Brasil Ltda. (relatórios,
pareceres, estudos e demais documentos inerentes
à execução contratual) a partir do ano de 2019, no
prazo de 5 (cinco) dias. Solicitamos ainda que a
documentação seja encaminhada a esta CPI, por
meio eletrônico pesquisável, em formato PDF.
Requerem, especialmente nos termos do art. 113
do Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal
nº 1.572, de 1952, seja encaminhada ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais, requisição, no prazo de 5 dias, de cópia
integral dos seguintes processos e contratos, com
seus respectivos termos aditivos, prorrogações,
reajustes e demais alterações contratuais: 1)
contratação de serviços de construção e
manutenção de redes de distribuição da regional
Diretor-presidente da
RQC Pouso Alegre, Licitação nº 530-H15604, vencida
Companhia Energética
10.295/2021 pela empresa Provac Terceirização de Mão de
de Minas Gerais
Obra Ltda, cujo contrato ainda não foi publicado
no Diário Oficial do Estado; 2) contratação de
serviços de construção e manutenção de redes de
distribuição da regional Varginha, Licitação nº
530-H15681, vencida pela empresa Litucera
Limpeza e Engenharia Ltda., cujo contrato ainda
não foi publicado no Diário Oficial do Estado.
Solicitamos ainda que a documentação seja
encaminhada a esta CPI por meio eletrônico
pesquisável em formato PDF.
RQC Requerem a intimação do Sr. Geraldo Amarildo Sr. Geraldo Amarildo
10.293/2021 Rocha, superintendente de Expansão de Média e Rocha

296
Baixa Tensão da Cemig, para prestar depoimento
perante esta comissão na condição de testemunha.

Requerem a intimação do Sr. Rafael Rezek


RQC Mohallem, representante da empresa Remo, para Sr. Rafael Rezek
10.292/2021 prestar depoimento perante esta comissão na Mohallem
condição de testemunha.
Requerem a intimação do Sr. Osias Galantine,
RQC diretor adjunto de Compras e Logística da Cemig,
Sr. Osias Galantine
10.291/2021 para prestar depoimento perante esta comissão na
condição de testemunha.
Requerem a intimação do Sr. Márcio Danilo
RQC Costa, presidente do Sindmig, para prestar
Sr. Márcio Danilo Costa
10.290/2021 depoimento perante esta comissão na condição de
testemunha.
Requerem a intimação do Sr. Moisés Pêsso da
RQC Silveira, representante da empresa Engelmig, para Sr. Moisés Pêsso da
10.289/2021 prestar depoimento perante esta comissão na Silveira
condição de testemunha .
Requerem a intimação do Sr. Moisés Pêsso da
RQC Silveira, representante da empresa Engelmig, para Sr. Moisés Pêsso da
10.289/2021 prestar depoimento perante esta comissão na Silveira
condição de testemunha .
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais, para apresentação no prazo de cinco dias
úteis, cópias do inteiro teor do contrato ou
Diretor-presidente da
RQC convênio da Cemig com a Associação Mineira de
Companhia Energética
10.225/2021 Rádio e Televisão – Amirt – , de suas análises e
de Minas Gerais
de suas alterações desde 2019, incluindo
pareceres jurídicos, mensagens, anexos e
apresentações que ampararam as decisões da
diretoria.
Requer seja intimado o Sr. Carlos Eduardo
Altona, sócio administrador da empresa Exec
RQC Sr. Carlos Eduardo
Consultoria em Recursos Humanos Ltda. a fim de
10.325/2021 Altona
prestar novo depoimento à comissão, na condição
de testemunha.
Requer sejam requisitadas ao diretor-presidente
da Companhia Energética de Minas Gerais
informações sobre se as empresas PRE 87 Diretor-presidente da
RQC
Empreendimentos Imobiliários SPE Ltda., Companhia Energética
10.326/2021
inscrita no CNPJ sob o nº 32.781.185/0002-96, e de Minas Gerais
TRZS Energia Participações Ltda., inscrita no
CNPJ sob o nº 37.092.125.0001-07, figuram ou já

297
figuraram como inscritas nos cadastros de
fornecedores da companhia, bem como se já
foram contratadas por subsidiárias da companhia,
devendo ser encaminhadas cópias integrais dos
contratos e processos de contratações
eventualmente existentes, por meio eletrônico
pesquisável, em formato PDF.
Requerem, nos termos do disposto no § 3º do art.
58 da Constituição Federal, do art. 60, § 3º da
Constituição Estadual e do disposto na Lei
Federal nº 1.579, de 1952, bem como nos
dispositivos regimentais aplicáveis à espécie, o
levantamento (quebra) e a transferência para esta
CPI dos sigilos dos dados bancários, dados
telefônicos e dados telemáticos, desde janeiro de
2019 até a presente data, do investigado, Sr.
Eduardo Soares, brasileiro, casado, advogado,
inscrito no CPF sob o nº 085.179.668-05, portador
da identidade nº 14.763.682 SSP/SP, atual diretor
Sr. Roberto Campos
de Regulação e Jurídico da Cemig. A quebra dos
RQC Neto, presidente do
sigilos dos dados abrangerá o fornecimento de
10.327/2021 Banco Central do Brasil,
informações a esta CPI: a) de todas as
e o presidente da Anatel
movimentações realizadas em contas de
depósitos, contas de poupança, contas de
investimento e outros bens, direitos e valores
mantidos em instituições financeiras; b) de todos
os registros de dados telefônicos e dados
telemáticos mantidos pelo investigado em
operadoras de telefonia. Finalmente, requer-se
que as ordens de levantamento e transferência
sejam cumpridas, sob pena de desobediência,
devendo as informações requeridas serem
enviadas por meio eletrônico, no prazo de cinco
dias corridos.
Requerem, nos termos do disposto no § 3º do art.
58 da Constituição Federal, do art. 60, § 3º da
Constituição Estadual e do disposto na Lei
Federal nº 1.579, de 1952, bem como nos
dispositivos regimentais aplicáveis à espécie, o Presidentes do Banco
RQC levantamento (quebra) e a transferência para esta Central do Brasil, Oi,
10.327/2021 CPI dos sigilos dos dados bancários, dados Tim, Vivo, Claro, Algar
telefônicos e dados telemáticos, desde janeiro de e América Net.
2019 até a presente data, do investigado, Sr.
Eduardo Soares, brasileiro, casado, advogado,
inscrito no CPF sob o nº 085.179.668-05, portador
da identidade nº 14.763.682 SSP/SP, atual diretor

298
de Regulação e Jurídico da Cemig. A quebra dos
sigilos dos dados abrangerá o fornecimento de
informações a esta CPI: a) de todas as
movimentações realizadas em contas de
depósitos, contas de poupança, contas de
investimento e outros bens, direitos e valores
mantidos em Instituições Financeiras; b) de todos
os registros de dados telefônicos e dados
telemáticos mantidos pelo investigado em
operadoras de telefonia. Finalmente, requer-se
que as ordens de levantamento e transferência
sejam cumpridas, sob pena de desobediência,
devendo as informações requeridas serem
enviadas por meio eletrônico, no prazo de cinco
dias corridos.
Requerem seja requisitado ao Tribunal Superior
Eleitoral – TSE –, informações sobre os seguintes
sócios da empresa Exec terem feito qualquer
doação para algum partido político, candidato ou
campanha eleitoral nas últimas duas eleições:
Rodrigo Foz Forte, Fabio Bozzo Cassab, Daniel
Bras da Cunha, Paulo Roberto Burgese, Luddie
Anne de Oliveira Bertini, Andre Godoi Freire,
RQC Camila Marion, Carla Morel Rodrigues de Tribunal Superior
10.328/2021 Queiroz, Fabiana Ferreira Homen de Goes, Lucio Eleitoral
Daniel Neto, Mariana de Toledo Villalva Garcia,
Marcus Vinicius Giorgi, Juan Pablo Correa Santa,
Marcio Toshio Murakoshi, Sharleyne Queiroz
Burgarelli, Thais Amadei Pegoraro, Cintia
Bortotto de Decimon, Julia Cunali Melges,
Daniella Stuart Coelho, Ricardo Welikson, Thais
de Paiva Nather Canova, Danielle Borin, Carolina
Costa da Silva.
Requerem seja requisitada à Ouvidoria do Estado
informações sobre a existência de alguma
RQC denúncia referente a casos de não conformidades,
Ouvidoria do Estado
10.329/2021 irregularidades ou ilegalidades, no período entre
2019 e os dias atuais, com relação a contratações
diretas ocorridas na Cemig.
Requer seja requisitada ao diretor-presidente da
Cemig, cópia da Proposta de Deliberação da
diretoria da Prorrogação do Contrato n°
RQC Diretor-presidente da
4680004808, firmado com a A&C, por 12 meses,
10.330/2021 Cemig
bem como toda a documentação relativa ao
cancelamento do pregão do call center, em
setembro de 2019.

299
Requerem sejam encaminhadas as notas
taquigráficas da 14ª Reunião Extraordinária da
CPI da Cemig ao Sr. Carlos Eduardo Altona,
sócio administrador da empresa Exec Consultoria
em Recursos Humanos Ltda., para que forneça a
RQC Sr. Carlos Eduardo
essa comissão todas as informações que ele se
10.331/2021 Altona
comprometeu a apurar internamente após ser
indagado no âmbito da referida reunião. As
informações deverão ser encaminhadas a esta
comissão no prazo de 48 horas após o
recebimento das mencionadas notas taquigráficas.
Requerem seja requisitado ao Sindicato
Intermunicipal dos Trabalhadores da Indústria
Energética de Minas Gerais informações sobre a Sindicato
entidade já ter se reunido com o Poder Executivo Intermunicipal dos
RQC
ou com o Conselho Fiscal da Companhia, ou Trabalhadores da
10.332/2021
denunciado irregularidades ou não conformidades Indústria Energética de
ocorridas na Cemig com relação a contratações Minas Gerais
diretas nessa empresa entre 2019 e setembro de
2021.
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
Cemig o encaminhamento no prazo de 5 dias de
cópias dos documentos relacionados à pesquisa
prévia para contratação da empresa responsável
pela seleção para o cargo do atual diretor-
RQC Diretor-presidente da
presidente da companhia, em especial
10.333/2021 Cemig
informações contendo os nomes das empresas
consultadas a prestar tais serviços e dos valores
por elas apresentados naquela ocasião. Requer-se,
ainda, que as cópias sejam fornecidas por meio de
arquivo digital, formato PDF e pesquisável.
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
Cemig, o encaminhamento no prazo de 5 dias, de
esclarecimento acerca das datas do contrato
firmado entre a empresa Exec Consultoria em
RQC Recursos Humanos, em especial sobre a razão Diretor-presidente da
10.334/2021 pela qual o contrato datado de 20/05/2021 só foi Cemig
assinado pelo Sr. Rodrigo Foz Forte em
26/08/2021. Requer-se, ainda, que as cópias
sejam fornecidas por meio de arquivo digital, em
formato PDF e pesquisável.
Requerem, especialmente nos termos do art. 113
do Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal
RQC Diretor-presidente da
nº 1.572, de 1952, seja requisitado ao diretor-
10.415/2021 Cemig.
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais o fornecimento de informações acerca da

300
estrutura societária da Cemig, contendo nomes,
participação no capital e CPF/CNPJ.

Requerem, especialmente nos termos do art. 113


do Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal
nº 1.579, de 1952, requisitar ao diretor-presidente
da Companhia Energética do Estado de Minas
RQC Diretor-presidente da
Gerais a cópia do Parecer JE/TC nº 27.551/2019,
10.414/2021 Cemig.
que analisou os efeitos do planejamento tributário
sugerido para reduzir o ICMS devido ao Estado
de Minas Gerais, a partir de abertura de uma sede
da companhia no Estado de São Paulo.
Requerem, especialmente nos termos do art. 113
do Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal
nº 1.579, de 1952, seja requisitada ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais cópia de todos os contratos em curso ou
firmados a partir de janeiro de 2019 com as
sociedades listadas adiante: CNPJ
07003112000145 – Uirapuru Transmissora De
Energia S.A.; CNPJ 07003112000226 – Uirapuru
Transmissora De Energia S.A.; CNPJ
10979076000164 – Cutia Empreendimentos
Eólicos S.A.; CNPJ 12053929000168 – Santa
Helena Energias Renováveis S.A.; CNPJ
12723335000117 – GE Farol S.A.; CNPJ
12723384000150 – GE São Bento do Norte S.A.;
CNPJ 12723444000134 – GE Olho d'Água S.A.;
RQC Diretor-presidente da
CNPJ 12802844000135 – Nova Asa Branca II
10.413/2021 Cemig.
Energias Renováveis S.A.; CNPJ
12802855000115 – Nova Asa Branca I Energias
Renováveis S.A.; Central Geradora Eólica São
Miguel S.A. – CNPJ: 21216439000126; Central
Geradora Eólica São Bento do Norte S.A. CNPJ:
21216857000113; Usina de Energia Eólica
Esperança do Nordeste S.A. CNPJ:
21916951000185; Uirapuru Transmissão de
Energia S.A. CNPJ 07003112000226; Usina de
Energia Eólica Maria Helena S.A. CNPJ
21909793000136; Usina de Energia Eólica
Guajiru S.A. CNPJ 21957870000123; TS
Engenharia e Prestação de Serviços Ltda. CNPJ
26676381000117; Nova Asa Branca Energias
Renováveis S.A. CNPJ: 12802835000144; Costa
Oeste Transmissora de Energia S.A. CNPJ:
301
14507191000197. Requer-se, por fim, que as
cópias sejam fornecidas por meio de arquivo
digital, em formato PDF e pesquisável.

Requerem sejam requisitadas ao diretor-


presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais as seguintes informações, a serem
prestadas no prazo de cinco dias: se a escolha de
todos os diretores e diretores adjuntos da
companhia, de suas subsidiárias e empresas
controladas, nomeados de 2019 até setembro de
2021, foi baseada em processo prévio de seleção
ou validação realizado tanto por empresas
terceirizadas como pelo setor interno de
compliance da companhia, devendo declinar
ainda os nomes dos diretores e diretores adjuntos
escolhidos e das respectivas empresas
terceirizadas responsáveis pelo processo de
seleção e validação de cada um dos nomes; se a
RQC Diretor-presidente da
escolha dos diretores Maurício Dall’Agnese e
10.411/2021 Cemig.
Thadeu Carneiro da Silva foi feita com base nos
processos mencionados acima, indicando se
foram avaliados possíveis conflitos de interesses
na nomeação desses diretores e se foi considerada
sua vida pregressa, inclusive a participação em
outras empresas do ramo de energia e a filiação a
determinado partido político, devendo-se
informar ainda eventual existência de apuração de
constatação de vínculo partidário; e sejam
requisitadas à referida autoridade cópias de todos
os documentos envolvendo os processos de
seleção ou validação mencionados anteriormente,
bem como dos termos de posse dos diretores e
diretores adjuntos escolhidos no mencionado
período.

302
Requer sejam requisitadas ao Ministério Público
do Estado do Paraná cópias de todos os inquéritos
e demais procedimentos em tramitação ou já
RQC Ministério Público do
arquivados nesse órgão ministerial que tenham
10.410/2021 Estado do Paraná
como investigado o Sr. Thadeu Carneiro da Silva,
ex-diretor da Companhia Paranaense de Energia –
Copel.

Requer o envio do dossiê contendo as declarações


e documentos necessários à posse dos diretores e
RQC diretores adjuntos da Companhia Energética de Diretor-presidente da
10.409/2021 Minas Gerais, suas subsidiárias e controladas que Cemig
tomaram posse a partir de janeiro de 2019 até
setembro de 2021.

Requerem sejam requisitadas ao diretor-


presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais informações e documentos que
comprovem a realização de background check do
RQC Diretor-presidente da
Sr. Thadeu Carneiro da Silva, diretor de Geração
10.408/2021 Cemig.
e Transmissão dessa empresa, devendo os
referidos documentos serem encaminhados por
meio de arquivo digital pesquisável, em formato
PDF.
Requerem sejam requisitados ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais informações e documentos relacionados à
RQC metodologia utilizada para avaliação de Diretor-presidente da
10.407/2021 desempenho de seus empregados, devendo os Cemig.
referidos documentos serem encaminhados por
meio de arquivo digital pesquisável, em formato
PDF.
Requerem sejam requisitadas ao presidente do
Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas
Gerais – Sindsul-MG – cópias de todos os
comprovantes de cientificação ao governo do
RQC
Estado, inclusive de seus secretários de Estado, de Sindsul-MG
10.406/2021
denúncias envolvendo relatos de assédio moral de
empregados na Companhia Energética de Minas
Gerais, nas suas subsidiárias e nas empresas
controladas.

303
Requerem, especialmente nos termos do art. 113
do Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal
nº 1.579, de 18 de março de 1952, seja requisitado
ao Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas
Gerais – Sindsul – e ao Sindicato Intermunicipal
dos Trabalhadores na Indústria Energética do
RQC Estado – Sindieletro –, o encaminhamento, no Sindsul-MG e
10.405/2021 prazo de 5 dias, de cópias dos documentos Sindieletro
relacionados às denúncias envolvendo assédio
moral contra os empregados da estatal, bem como
outras irregularidades de que tenha conhecimento
o aludido sindicato. Requer-se, ainda, que as
cópias sejam fornecidas por meio de arquivo
digital, em formato PDF e pesquisável.
Requerem, especialmente nos termos do art. 113
do Regimento Interno e do art. 2º da Lei Federal
nº 1.572, de 1952, seja convocada, na condição de
RQC testemunha, para prestar depoimento perante esta Sra. Fernanda Barroso
10.402/2021 Comissão Parlamentar de Inquérito, a Sra. Carneiro
Fernanda Barroso Carneiro, representante legal da
Kroll Associates Brasil Ltda. na prestação dos
serviços contratados pela Cemig.
Requerem sejam requisitadas ao representante
legal da IBM Brasil e ao diretor-presidente da
Companhia Energética de Minas Gerais, para
apresentação no prazo de 5 dias, cópias de todos
os contratos de subcontratação envolvendo os
Representante legal da
objetos do Acordo de Parceria Estratégica,
IBM Brasil e o diretor-
RQC Tecnológica e Operacional celebrado entre a IBM
presidente da
10.449/2021 e a companhia, especialmente os que tenham sido
Companhia Energética
celebrados com a empresa A&C Centro de
de Minas Gerais
Contatos S.A., devendo ser encaminhadas cópias
de todos os documentos relacionados à execução
dos citados contratos de subcontratação,
incluindo notas fiscais e eventuais termos
aditivos.
Requerem sejam requisitadas informações ao
diretor-presidente da Companhia Energética de
Minas Gerais sobre todos os contratos que já
foram e que ainda serão unilateralmente
Diretor-presidente da
RQC rescindidos pela empresa de forma antecipada em
Companhia Energética
10.448/2021 decorrência da assunção dos serviços de
de Minas Gerais
atendimento aos clientes da Cemig pela IBM
Brasil após a celebração do Acordo de Parceria
Estratégica, Tecnológica e Operacional, devendo
ser encaminhadas cópias de todos os

304
procedimentos de rescisão unilaterais
anteriormente mencionados, em arquivo digital
pesquisável, em formato PDF.

Requerem sejam requisitadas ao diretor-


presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais cópias integrais de todas as ações judiciais
nas quais figuram como partes a Cemig e a
empresa Audac Serviços Especializados de
Atendimento ao Cliente S.A. relacionadas à
discussões sobre a rescisão unilateral do contrato
nº 4680005967-530 e seus impactos econômico- Diretor-presidente da
RQC
financeiros, bem como cópias de eventuais pleitos Companhia Energética
10.445/2021
administrativos formulados pela Audac perante a de Minas Gerais
Cemig e de todos os documentos envolvendo
análise e resposta pela companhia relativos à
rescisão unilateral do citado contrato e aos seus
impactos econômico-financeiros, devendo a
documentação ser encaminhada no prazo de cinco
dias, por meio digital pesquisável, em formato
PDF.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais, a serem entregues no prazo de cinco dias
úteis, cópias dos resultados das pesquisas de clima Diretor-presidente da
RQC
organizacional realizadas pela companhia com os Companhia Energética
10.512/2021
seus empregados e colaboradores nos anos de de Minas Gerais
2020 e 2021, devendo a documentação ser
encaminhada à comissão por meio eletrônico
pesquisável, em formato PDF.
Requerem a intimação do Sr. Joaquim Francisco
Neto Silva, chefe da Polícia Civil do Estado de
Minas Gerais, a fim de prestar depoimento
perante a comissão na condição de testemunha,
para esclarecer os fatos investigados pela
RQC Sr. Joaquim Francisco
10.546/2021 comissão; e seja este requerimento tornado Neto Silva
público, nos termos do § 5º do art. 40 do
Regimento Interno, uma vez que não está
relacionado aos dados sigilosos que justificaram
essa reunião secreta.

305
Requerem a intimação do Sr. Luís Paroli Santos,
ex-presidente da Light, a fim de prestar
depoimento perante a comissão na condição de
testemunha, para esclarecer os fatos investigados
RQC
nessa comissão, e seja este requerimento tornado Sr. Luís Paroli Santos
10.545/2021
público, nos termos do § 5º do art. 40 do
Regimento Interno, uma vez que não está
relacionado aos dados sigilosos que justificaram
essa reunião secreta.
Requerem seja reiterado o Requerimento nº
9.930/2021, que solicita informações ao Poder
Judiciário, e seja novamente requisitada, com
RQC urgência, cópia integral dos autos do Inquérito nº
Poder Judiciário
10.544/2021 0098941-80.2017.8.13.0024 à 1ª Vara de
Tóxicos, Organização Criminosa e Lavagem de
Bens e Valores para fornecimento de informações
do referido inquérito.
Requerem a intimação do Sr. Reynaldo Passanezi
Filho, diretor-presidente da Cemig, a fim de
prestar depoimento perante a comissão na
condição de investigado, para esclarecer sobre os
RQC Sr. Reynaldo Passanezi
fatos investigados na comissão; e seja este
10.543/2021 Filho
requerimento tornado público, nos termos do § 5º
do art. 40 do Regimento Interno, uma vez que não
está relacionado aos dados sigilosos que
justificaram essa reunião secreta.
Requerem a intimação do Sr. Cledorvino Belini,
ex-diretor presidente da Cemig, a fim de prestar
depoimento perante a comissão na condição de
testemunha, para esclarecer fatos investigados
RQC
pela comissão; e seja este requerimento tornado Sr. Cledorvino Belini
10.542/2021
público, nos termos do § 5º do art. 40 do
Regimento Interno, uma vez que não está
relacionado aos dados sigilosos que justificaram
essa reunião secreta.

306
Requerem seja convocado o Sr. Eduardo Soares,
diretor de Regulação e Jurídico da Cemig, na
condição de investigado (sub judice por força da
liminar concedida nos autos do Mandado de
Segurança nº 1.0000.21.213258-3/000), a fim de
prestar novo depoimento perante a comissão, para
que possa tecer maiores detalhes sobre sua
RQC atuação no cargo de diretor jurídico da Cemig,
Sr. Eduardo Soares
10.541/2021 esclarecendo melhor as contratações diretas
realizadas pela empresa no período investigado,
sobretudo em razão de contradições e omissões
identificadas no seu depoimento anterior; e seja
este requerimento tornado público, nos termos do
§ 5º do art. 40 do Regimento Interno, uma vez que
não está relacionado aos dados sigilosos que
justificaram essa reunião secreta.
Requerem seja reiterada a solicitação contida no
RQC nº 10.328/2021, direcionada ao Tribunal
Superior Eleitoral, para o fornecimento de
informações sobre a realização de doação, pelos
sócios da empresa Exec a seguir listados, para
algum partido político, candidato ou campanha
eleitoral nas últimas duas eleições: Rodrigo Foz
Forte, Fábio Bozzo Cassab, Daniel Bras da
Cunha, Paulo Roberto Burgese Luddie, Anne de
Oliveira Bertini, André Godoy Freire, Camila
Marion, Carla Morel Rodrigues de Queiroz,
Fabiana Ferreira Homen de Goes, Lucio Daniel
RQC Tribunal Superior
Neto, Mariana de Toledo Villalva Garcia, Marcus
10.605/2021 Eleitoral
Vinicius Giorgi, Juan Pablo Correa Santa, Marcio
Toshio Murakoshi, Sharleyne Queiroz Bulgarelli,
Thais Amadei Pegoraro, Cintia Bortotto
Decimoni, Julia Cunali Melges, Daniella Stuart
Coelho, Ricardo Welikson, Thais de Paiva Nather
Canova, Danielle Borin, Carolina Costa da Silva;
que sejam informados no ofício os números dos
CPFs dos citados sócios, de forma a facilitar a
identificação das pessoas e a resposta; que a
resposta seja encaminhada com urgência, tendo
em vista o prazo exíguo para encerramento dos
trabalhos da comissão.
Requerem seja reiterada solicitação contida no
Requerimento em Comissão nº 9.948/2021,
RQC Ordem dos Advogados
encaminhada à Ordem dos Advogados do Brasil,
10.604/2021 do Brasil
Subseção de São Paulo, requisitando, no prazo de
5 dias, cópias de todos os atos societários

307
registrados e averbados perante a entidade
relativos à Lefosse Advogados, compreendendo o
contrato social e todas alterações posteriores e, em
caso de volume excessivo de documentos, sejam
enviadas com urgência as cópias do contrato
social em vigor e das alterações e demais atos
societários registrados a partir de janeiro de 2017.
Requerem que o Sr. Reynaldo Passanezi Filho,
diretor-presidente da Cemig, deixe a condição de
investigado e seja intimado na condição de
RQC testemunha, a fim de prestar depoimento perante Sr. Reynaldo Passanezi
10.603/2021 a comissão, em especial para prestar Filho
esclarecimentos acerca de fatos envolvendo os
processos de contratação da Cemig, objeto de
investigação da comissão.
Requerem a intimação do Sr. José João Abdalla
RQC Filho, membro do Conselho de Administração da Sr. José João Abdalla
10.601/2021 Cemig, a fim de prestar depoimento perante a Filho
comissão na condição de testemunha.
Requerem a intimação do Sr. Márcio Luiz Simões
RQC Utsch, presidente do Conselho de Administração Sr. Márcio Luiz Simões
10.600/2021 da Cemig, a fim de prestar depoimento perante a Utsch
comissão na condição de testemunha.
Requerem seja encaminhado ao diretor da
Comissão de Valores Mobiliários, em Brasília,
pedido de informações consubstanciadas no nome
completo e no CPF de todos os cotistas do Fundo
de Investimento em Cotas de Fundos de
RQC Diretor da Comissão de
Investimento em Ações, inscrito no CNPJ nº
10.642/2021 Valores Mobiliários
07.663.692/0001-05, administrado pelo
Santander Caceis Brasil Distribuidora de Títulos
e Valores Mobiliários S.A., que adquiriu por
R$1,00 a participação da Light na empresa
Renova.
Requerem sejam requisitados ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais cópias de pareceres, memorandos, notas
jurídicas e congêneres ou atos normativos
internos, contendo orientações internas da
Diretor-presidente da
RQC companhia sobre os limites legais para a
Companhia Energética
10.639/2021 realização de contratações com dispensa de
de Minas Gerais
licitação, na forma prevista no art. 29, inciso I e
II, da Lei Federal nº 13.303, de 2016,
especialmente quanto à configuração de
fracionamentos, considerando-se a vedação de
que as contratações se refiram a parcelas de uma

308
mesma obra ou serviço ou ainda a obras e serviços
de mesma natureza e no mesmo local, que possam
ser realizadas conjunta e concomitantemente, bem
como de compra ou alienação de maior vulto que
possa ser realizado de uma só vez.

Requerem sejam requisitadas à Controladoria-


Geral do Estado de Minas Gerais, à Advocacia-
Geral do Estado de Minas Gerais e ao diretor- Controladoria-Geral do
presidente da Cemig, para apresentação no prazo Estado de Minas Gerais,
RQC de cinco dias, cópias do acordo de leniência Advocacia-Geral do
10.667/2021 celebrado pelo Estado com a empresa Andrade Estado de Minas Gerais
Gutierrez Engenharia S.A., investigada no âmbito e diretor-presidente da
do Inquérito Civil Público nº 0024.16.012774-2, Cemig
que previu o pagamento de R$128,9 milhões a
título de ressarcimento ao erário e multa civil.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Light S.A., para apresentação no
prazo de cinco dias, cópia da ata ou de documento
que contenha a deliberação societária que aprovou
a alienação da participação da Light S.A. na
RQC Diretor-presidente da
Renova, informações sobre a qualificação
10.666/2021 Light S.A
completa dos acionistas ou conselheiros
responsáveis pela decisão de alienação e cópias de
eventuais manifestações contrárias à alienação
apresentadas por acionistas ou conselheiros da
referida companhia.
Requerem seja prorrogado o prazo de duração
RQC
desta comissão por sessenta dias, com base no -
10.663/2021
disposto no art. 112, § 2°, do Regimento Interno.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Cemig informações detalhadas
RQC sobre os gastos com publicidade institucional Diretor-presidente da
10.716/2021 realizados nos últimos dois anos, especificando- Cemig
se os valores, as empresas contratadas e o objeto
resumido das contratações.
Requerem seja convocado o Sr. Hudson Felix
Almeida, diretor-adjunto de Gestão de Pessoas da
Cemig, na condição de testemunha, a fim de
RQC prestar novo depoimento perante a comissão, para Sr. Hudson Felix
10.715/2021 que possa tecer maiores detalhes e esclarecimento Almeida
de fatos envolvendo objetos de investigação,
especialmente sobre documentos e informações
obtidos posteriormente a sua primeira oitiva.

309
Srs. Ricardo Falci
Requerem a convocação das pessoas a seguir Sousa, Gustavo Antônio
indicadas, diretores da AEC Centro de Contratos Wanderley Teixeira,
S.A., na condição de testemunhas, para prestarem João Luiz Noronha,
RQC depoimento perante esta comissão: Ricardo Falci Celso Mateus Raphael
10.714/2021 Sousa, Gustavo Antônio Wanderley Teixeira, Ramiro, Raphael
João Luiz Noronha, Celso Mateus Raphael Ribeiro Dualibi,
Ramiro, Raphael Ribeiro Dualibi, Luciano Luciano Rodrigues da
Rodrigues da Silva e Gustavo Cavalcanti Morais. Silva e Gustavo
Cavalcanti Morais.
Requerem, notadamente nos termos do art. 113 do
Regimento Interno e do art. 2° da Lei Federal n°
1.579, de 1952, a intimação do Sr. Antônio
RQC Sr. Antônio Guilherme
Guilherme Noronha Luz, acionista e fundador da
10.742/2021 Noronha Luz
A&C Centro de Contratos S.A., a fim de prestar
depoimento perante a comissão na condição de
testemunha.
Requerem sejam requisitadas, no prazo de 5 dias,
à Controladoria-Geral do Estado de Minas Gerais
e à Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais,
cópias dos Anexos I, II e III do acordo de
leniência celebrado pelo Estado com a empresa
Andrade Gutierrez Engenharia S.A., investigada Controladoria-Geral do
RQC no âmbito do Inquérito Civil Público nº Estado de Minas Gerais
10.937/2021 0024.16.012774-2, que previu o pagamento de e Advocacia-Geral do
R$128,9 milhões a título de ressarcimento ao Estado de Minas Gerais.
erário e multa civil, especificando-se no ofício de
encaminhamento das cópias dos anexos o
eventual grau de sigilo em que foram
classificados, para sua observância e manutenção
pela CPI.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais cópias, a serem entregues no prazo de
cinco dias úteis, de todas as planilhas de horas
(timesheets), com registro detalhado dos trabalhos
executados e remunerados pela companhia, Diretor-presidente da
RQC
envolvendo a execução do contrato nº Companhia Energética
11.370/2022
4320000075/500, celebrado com o escritório de de Minas Gerais
advocacia Terra, Tavares, Ferrari, Elias Rosa
Advogados, provenientes da Inexigibilidade de
Licitação 500-E15374, devendo a documentação
ser encaminhada à comissão por meio eletrônico
pesquisável, em formato PDF.

310
Requerem a intimação da Sra. Ivna de Sá
Machado de Araújo, gerente de Compras de
Materiais e Serviços da Cemig, a fim de prestar
RQC Sra. Ivna de Sá Machado
novo depoimento perante a comissão, para que
11.369/2022 de Araújo
possa tecer maiores detalhes e esclarecimentos
sobre sua atuação no referido cargo, elucidando
alguns pontos objetos da investigação.

Requerem seja intimada a Sra. Thaís Marca,


RQC gerente Global da IBM, a fim de prestar
Sra. Thaís Marca
11.313/2022 depoimento perante a comissão na condição de
testemunha.
Requerem seja intimado o Sr. Luís Claudio
Corrêa Villani, diretor de Tecnologia da
RQC Sr. Luís Claudio Corrêa
Informação da Cemig, a fim de prestar
11.312/2022 Villani
depoimento perante a comissão na condição de
testemunha.
Requer sejam requisitadas ao diretor-presidente
da Companhia Energética de Minas Gerais cópias
Diretor-presidente da
RQC do relatório da “investigação interna” e dos atos
Companhia Energética
11231/2021 aprovados pelo Conselho Administrativo,
de Minas Gerais
noticiados através do Fato Relevante - NIRE
31300040127, de 20 2 2020.
Requer seja requisitado ao diretor-presidente da
Companhia Energética de Minas Gerais o
relatório da consultoria PricewaterhouseCoopers Diretor-presidente da
RQC
- PWC, denominado Projeto Canastra, conforme Companhia Energética
11230/2021
exposto pelo ex-presidente da Cemig, Cledorvino de Minas Gerais
Belini, em seu depoimento, no dia 18/10/2021, a
essa comissão.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética do Estado de
Minas Gerais - Cemig - a relação de todos os
nomes dos empregados demitidos ou suspensos
Diretor-presidente da
RQC da companhia, de 2019 até a presente data, em que
Companhia Energética
11451/2022 se indiquem os motivos que justificaram a
de Minas Gerais
demissão ou o afastamento, devendo os
documentos ser encaminhados por meio digital e
em formato pdf e pesquisável, com indicação do
grau de sigilo.

311
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética do Estado de
Minas Gerais - Cemig - a relação de todos os
nomes dos empregados demitidos ou suspensos
Diretor-presidente da
RQC da companhia, de 2019 até a presente data, em que
Companhia Energética
11449/2022 se indiquem os motivos que justificaram a
de Minas Gerais
demissão ou o afastamento, devendo os
documentos ser encaminhados por meio digital e
em formato pdf e pesquisável, com indicação do
grau de sigilo.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética do Estado de
Minas Gerais informações sobre o custeio da
defesa dos interesses dos empregados,
administradores e colaboradores da companhia no
âmbito desta Comissão Parlamentar de Inquérito,
Diretor-presidente da
RQC esclarecendo-se se essas despesas foram pagas
Companhia Energética
11449/2022 pela seguradora ou por recursos próprios,
de Minas Gerais
devendo ser enviadas cópias dos documentos que
comprovem tais informações e a cópia integral do
processo de contratação do escritório Marcelo e
Sérgio Leonardo Advogados referentes aos
contratos nºs 4320000147/510, 4320000148/500
e 4320000149/530.
Requerem notadamente nos termos do art. 113 do
Regimento Interno e do art. 2° da Lei Federal n°
1.579, de 1952, sejam requisitadas ao diretor-
Diretor-presidente da
RQC presidente da Companhia Energética de Minas
Companhia Energética
11466/2022 Gerais informações sobre os ganhos financeiros e
de Minas Gerais
de qualidade trazidos pela nova modelagem de
contratação de atendimento aos usuários
celebrada com a IBM.
Requerem sejam requisitadas ao diretor-
presidente da Companhia Energética de Minas
Gerais - Cemig - , para apresentação no prazo de
48 horas, informações sobre todas as operações de
compra, de venda e de desapropriação de imóveis
Diretor-presidente da
RQC realizadas pela companhia durante todo o período
Companhia Energética
11463/2022 em que a empregada Ivna de Sá Machado de
de Minas Gerais
Araújo ocupou a função de gerente de gestão de
imóveis na Cemig, devendo as informações
indicar os nomes ou razões sociais das pessoas
envolvidas nas transações, as datas em que elas
foram realizadas e os valores envolvidos.

312
ANEXO III

Projeto de Lei nº .../2022

Dispõe sobre a adoção de parcerias em


oportunidade de negócio pelas empresas estatais.

A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais decreta:

Art. 1º – A adoção, pelas empresas estatais, das parcerias em oportunidade de


negócio previstas no art. 28, § 4º, da Lei Federal nº 13.303, de 30 de junho de 2016,
observará as seguintes diretrizes:
I – a dispensa da observância de procedimentos licitatórios somente se dará nos
casos em que a escolha do parceiro esteja associada a suas características particulares,
justificada a inviabilidade de procedimento competitivo;
II – a oportunidade de negócio deve ser definida e específica, de modo a
caracterizar uma situação singular propícia à realização do empreendimento, que deverá
ser delimitado em relação ao objeto social da empresa estatal;
III – a formação das parcerias e a escolha do particular ocorrerão mediante
procedimentos mais adaptados às práticas de mercado e em função de características
relacionadas às peculiaridades da oportunidade de negócio;
IV – a modelagem adotada ou a solução organizacional deverá ser eficiente,
eficaz e justificada.
Art. 2º – Para a adoção das parcerias previstas no art. 1º, a empresa estatal
cumprirá os seguintes requisitos:
I – demonstração de que a avença se relaciona com o desempenho de
atribuições inerentes ao objeto social ou à atividade-fim da empresa estatal;
II – demonstração robusta no processo e no contrato da vantajosidade
comercial para a estatal;
III – comprovação de que o parceiro escolhido apresenta condições que
demonstram sua superioridade em relação às demais empresas que atuam naquele mercado;

313
IV – demonstração da inviabilidade jurídica ou fática de procedimento
competitivo.
§ 1º – Para o cumprimento do previsto no inciso III, além do aspecto econômico,
a empresa estatal deverá demonstrar que a escolha favorece o interesse público e o seu
próprio interesse empresarial.
§ 2º – Para o cumprimento do previsto no inciso IV, deverão ser comprovadas
a pertinência e a compatibilidade de projetos de longo prazo, a comunhão de filosofias
empresariais, a complementariedade das necessidades e a ausência de interesses
conflitantes, sem prejuízo de outros requisitos que se fizerem necessários.
Art. 3º – Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Sala das Reuniões ... de ... de 2022.

Justificação: A Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – da Cemig foi instaurada


mediante a aprovação, em 16/6/2021, do Requerimento Ordinário nº 1.047/2021, tendo
como objetivo a apuração de fatos determinados envolvendo a gestão da Companhia
Energética de Minas Gerais – Cemig – nos anos de 2019 a 2021. A investigação da CPI
envolveu a apuração dos seguintes fatos: a) contratações diretas realizadas desde janeiro
de 2019, sem a prévia realização de licitação, em desconformidade com lei e com a
Constituição da República, de serviços de consultoria e assessoramento técnico, tanto pela
Cemig como pelas suas subsidiárias, ocasionando prejuízo ao interesse público; b)
realização de alienações de ativos e ações da Cemig, a partir de janeiro de 2019,
relacionadas à sua participação societária na Renova Energia, Light e Taesa em
desconformidade com a lei e com a Constituição, ocasionando prejuízos econômicos ao
interesse público; c) prática de condutas ilegais e imorais por parte de diretores e
empregados públicos da Cemig e de suas subsidiárias, desde janeiro de 2019, bem como
de particulares por eles contratados, no âmbito da execução contratual, consistente em
condicionar a liberação de pagamentos de medições contratuais à subcontratação de
terceiros por parte das contratadas pela Cemig e suas subsidiárias, configurando possível
prática de advocacia administrativa e conflito de interesses; d) prática ilegal e

314
antieconômica da transferência de atividades administrativas da Cemig para São Paulo (SP),
gerando assim prejuízos ao interesse público estadual.
Um fato grave identificado pela CPI foi a contratação direta, pela Cemig, da IBM,
com fundamento no art. 28, § 3º, inciso II, da Lei das Estatais. Trata-se de um contrato de
R$1,1 bilhão, com vigência de dez anos, com indícios claros de irregularidade.
A fim de contribuir para a necessidade de transparência e de motivação para a
adoção, pelas empresas estatais, das parcerias em oportunidade de negócio, no âmbito do
Estado, a CPI apresenta este projeto de lei. O regramento que ora se propõe tem por
objetivo positivar os requisitos previstos pelo Tribunal de Contas da União (Acórdão nº
2.488/2018 – Plenário, Rel. Min. Benjamin Zymler, Processo nº 022.981/2018-7) para
adoção do referido modelo de contratação.
Em relação ao aspecto da competência legislativa, nos termos do art. 22, inciso
XXVII, da Constituição da República de 1988, compete privativamente à União Federal
editar as normas gerais sobre licitação e contratação para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
Isso significa que compete à União editar apenas as normas gerais que
regulamentam as licitações e contratos administrativos, e ao estado remanesce a
competência suplementar para legislar sobre o assunto (art. 25, § 1º), desde que observadas
as normas gerais federais.
Assim, cada estado, bem como os municípios, possuem a competência para legislar
sobre procedimentos administrativos, sendo a licitação exatamente um deles.
No exercício da sua competência privativa para legislar sobre normas gerais de
licitações e contratos administrativos, a União editou a Lei Federal nº 13.303, de 30/6/2016,
que dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e
de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
Como o Estado possui competência para complementar as normas gerais de
licitações e contratos previstos na lei citada, detalhando-as de forma a conferir maior
aplicabilidade ao princípio da moralidade administrativa, evitando-se fraudes e
consequentes prejuízos ao erário, apresenta-se esta proposição.

315

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