Você É o Placebo - Dr. Joe Dispenza

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1.

PREFÁCIO

Tal como a maioria dos seus fãs, é com grande ansiedade e


prazer que me lanço na leitura das ideias provocadoras de
Joe Dispenza. Aliando sólidas provas científicas a
estimulantes reflexões, Joe expande os horizontes do que é
possível alargando as fronteiras do que é conhecido. Ele leva
a ciência mais a sério do que muitos cientistas e, nesta obra
fascinante, extrapola as mais recentes descobertas nos
domínios da epigenética, da plasticidade neural e da
psiconeuroimunologia até à sua conclusão lógica.

Trata-se de uma conclusão muito excitante: a de que todos


nós, como seres humanos, estamos a moldar o cérebro e o
corpo, com os pensamentos que formulamos, as emoções
que sentimos, as intenções que geramos e os estados
transcendentais que alcançamos. Este livro convida-nos a
aproveitar esse saber para criarmos um novo corpo e uma
nova vida.

não se trata de uma proposta metafísica. Joe explica cada


elo na cadeia da causalidade que começa com um
pensamento e acaba com um facto biológico, como, por
exemplo, um aumento do número de células estaminais ou
de moléculas de proteínas com propriedades imunitárias a
circular na corrente sanguínea.

Como ponto de partida, Joe narra a história do acidente que


lhe desfez seis vértebras. Subitamente, viu-se confrontado
com a necessidade de pôr em prática aquilo em que
teoricamente acreditava: que o nosso corpo possui uma
inteligência inata com um milagroso poder de cura. A
disciplina com que se dedicou a visualizar a medula espinal
a reconstruir-se é um inspirador exemplo de determinação.

As histórias de remissão espontânea e cura “milagrosa" são


sempre muito inspiradoras e, nesta obra, Joe demonstra-nos
que esses “milagres” estão ao alcance de todos. O nosso
corpo integra o seu próprio sistema de regeneração e tanto a
degeneração como a doença são a exceção e não a regra.

Assim que percebermos que o nosso corpo se regenera,


podemos começar a tirar partido desses processos
fisiológicos, influenciando a síntese de hormonas, a produção
de proteínas, de neurotransmissores e de canais neurais
através dos quais as células enviam sinais. A anatomia do
corpo não é estática, muito pelo contrário, muda
constantemente. O nosso cérebro fervilha de atividade,
criando e destruindo continuamente e a cada segundo as
ligações neurais. Joe mostranos
que podemos intervir premeditadamente nesse processo,
assumindo a posição do condutor, em vez de sermos
passageiros passivos.

Nos anos 90, a biologia sofreu uma revolução, com a


descoberta de que o número de ligações num conjunto de
neurônios pode duplicar através da estimulação repetida. Foi
essa conquista que valeu o Prêmio Nobel ao neuropsiquiatra
Eric Kandel. Posteriormente, Kandel ainda viria a descobrir
que basta passarmos três semanas sem utilizar uma ligação
neural para ela começar a regredir. É através dos sinais que
transmitimos pela rede neural que podemos remodelar o
nosso cérebro.

Na mesma década em que investigadores como Kandel


começaram a medir a neuroplasticidade, outros cientistas
descobriram que os genes, em geral, não são estáticos. A
maioria (calcula-se que entre 75 por cento e 85 por cento) é
ativada e desativada por sinais emitidos no nosso meio
ambiente, sendo que este engloba os pensamentos, crenças
e emoções que cultivamos no cérebro. Uma das classes
desses genes, a dos genes de resposta imediata (IEG1), SÓ
precisa de trés segundos para se expressar. Os IEG são
geralmente genes de regulação que controlam a expressão
de centenas de genes e milhares de proteínas em locais
remotos do nosso corpo. Esse gênero de mudança rápida e
difusa fornece uma explicação plausível para algumas das
curas radicais referidas nesta obra.

Joe é um dos poucos autores de ciência que compreende


totalmente a influência das emoções na transformação. As
emoções negativas podem literalmente não passar de uma
adição a níveis elevados das nossas próprias hormonas do
stress, como o cortisol e a adrenalina. Essas hormonas do
stress e as hormonas da descontração, como a DHEA e a
oxitocina, têm valores fisiológicos e é por isso que nos
sentimos desconfortáveis quando temos pensamentos ou
aceitamos ideias que desestabilizam o equilíbrio hormonal.
Este conceito está na fronteira do conhecimento cientifico
sobre os comportamentos aditivos e a abstinência.

Ao alterarmos o nosso estado interior, podemos alterar a


nossa realidade exterior. É com muita perícia que Joe explica
a cadeia de acontecimentos que começa com a criação de
intenções no lóbulo frontal do cérebro e que depois se
converte em mensageiros químicos chamados
neuropeptídeos, que enviam sinais pelo corpo todo, ativando
ou desativando os interruptores genéticos. Algumas dessas
substâncias químicas, como a oxitocina, a “hormona do
amor", estimulada pelo toque, associam-se a sentimentos de
amor e confiança. Com a prática, podemos aprender a
ajustar rapidamente os valores de regulação das hormonas
do stress e regeneradoras.

A noção de que nos podemos curar pura e simplesmente


traduzindo pensamentos em emoções pode parecer
estranha no início. Nem Joe estava ã

espera dos resultados que observou nos participantes dos


seus workshops quando começaram a aplicar essas ideias a
fundo: remissão espontânea de tumores, paraplégicos a
andar e enxaquecas a desaparecer. Foi com o deleite sincero
e a curiosidade ilimitada de uma criança a brincar que Joe
começou a ir mais longe, tentando perceber quão
rapidamente se poderiam curar as pessoas se aplicassem o
efeito placebo do corpo com plena convicção. Assim, o título
deste livro reflete o facto de que são os próprios
pensamentos, emoções e convicções que geram a sucessão
de acontecimentos fisiológicos que ocorrem no corpo.

Por vezes, poderá sentir um certo incomodo, na leitura deste


livro. Mas continue a ler. Esse incômodo é só o seu velho eu
a protestar contra a inevitabilidade da mudança
transformadora e os os valores de regulação alterados. Joe
assegura-nos de que essas sensações de incômodo podem
ser simplesmente a sensação biológica do velho eu a
desaparecer.

A maioria das pessoas não terá tempo ou predisposição para


compreender processos biológicos tão complexos. É por isso
que este livro presta um grande serviço. Joe mergulha a
fundo na ciência por detrás dessas mudanças, explicando-as
de um modo acessível. Faz o trabalho mais duro nos
bastidores para nos apresentar explicações simples e
elegantes. Por meio de analogias e histórias de casos,
demonstra como podemos aplicar exatamente essas
descobertas no nosso dia a dia e dá exemplos de pessoas
que melhoraram extraordinária mente o seu estado de
saúde porque as levavam a sério.

Uma nova geração de investigadores cunhou um termo para


designar a prática que Joe define: neuroplasticidade
autodirigida.2 A noção associada ao termo é a de que somos
nós que dirigimos a formação de novos canais neurais e a
destruição de velhos, através da qualidade das experiências
que cultivamos.

Creio que a SDN se tornará um dos conceitos mais fortes na


área da transformação pessoal e da neurobiologia na
próxima geração e que esta obra estará na vanguarda desse
movimento.

Nos exercícios de meditação da Parte II desta obra, a


metafísica avança para a manifestação concreta. Pode fazer
essas meditações sozinho e sentir em primeira mão as
extraordinárias possibilidades de se curar a si próprio. O

objetivo que aqui se propõe é que modifique as ideias e


convicções que tem acerca da vida a um nível biológico,
para poder acarinhar um novo futuro, trazendo-o para o
plano concreto da existência.

Embarque nesta viagem encantada que irá alargar as


perspetivas que tem do que é possível e o desafiará a
receber de braços abertos um nível radicalmente diferente
de funcionar e de se regenerar. não tem nada a perder por
se entregar a isto com entusiasmo e descartar os
pensamentos, sentimentos e valores fisiológicos que
limitaram o seu passado. Acredite que é capaz de realizar o
seu

potencial máximo e aja com inspiração, para se tornar o


placebo gerador de um futuro pleno de felicidade e saúde
para si e para o nosso planeta.

DAWSON CHURCH

Autor de lhe Genic in Your Genes

2. Despertar

Nunca pensei fazer nada disto. Foi como se o trabalho que


faço atualmente como orador, autor e investigador me
tivesse escolhido. Há pessoas que só despertam com um
susto. Em 1986, tive esse susto. Num belo dia de abril,
estava eu em Palm Springs, no sul da Califórnia, a participar
num triatlo, quando tive o privilégio de ser atropelado. Esse
acontecimento mudou a minha vida e levou-me a encetar
esta viagem. Tinha 23 anos, começara recentemente a
minha carreira de quiroprático em La Jolla, na Califórnia, e
passara meses a treinar para aquele triatlo.

Tinha terminado o segmento de natação e estava no de


ciclismo, quando o acidente aconteceu. Estava a chegar a
uma curva traiçoeira e sabia que ia entrar no trânsito. Um
polícia, que se encontrava de costas voltadas para os carros
que circulavam em sentido contrário, fez-me sinal para virar
à direita e seguir o percurso. Como estava a esforçar-me ao
máximo e concentrado na corrida, não tirei os olhos dele. Ao
ultrapassar dois ciclistas especificamente nessa esquina, um
Bronco de tração às quatro rodas, vermelho, que vinha a
cerca de 90 km/h, bateu na minha bicicleta por trás e fui
projetado no ar, caindo estatelado de costas. Devido ao
excesso de velocidade e aos reflexos lentos da idosa que o
conduzia, o jipe continuou a avançar na minha direção. Com
o para-choques à frente, agarrei-me, para não ser atropelado
e ficar entre o metal e o asfalto.

Assim, fui arrastado pela estrada, até a condutora se


aperceber do que se estava a passar. Quando finalmente fez
uma travagem brusca, andei aos tombos por mais uns 20
metros.

Ainda me lembro do som das bicicletas a passarem, e dos


gritos de horror e asneiras dos ciclistas, sem saber se
deviam parar para me ajudar ou continuar a corrida.
Estendido no chão, só podia desistir. Viria a saber que tinha
partido seis vértebras: sofrerá fraturas de compressão nas
vértebras torácicas 8, 9, 10, 11 e 12, e na lombar 1 (desde
as omoplatas aos rins). As vértebras estão empilhadas como
blocos independentes na coluna vertebral e o impacto da
queda partiu-as e comprimiu-as. A oitava vértebra torácica,
a mais acima que parti, ficou 60 por cento desfeita e o arco
circular que continha e protegia a medula espinal partiu-se e
comprimiu-se como um pretzel. Quando uma vértebra se
comprime e fratura, o osso tem de ir para algum lado. No
meu caso, uma boa quantidade de fragmentos penetrou na
minha medula espinal. não era, de modo algum, uma
perspetiva animadora.

Como se estivesse a viver um pesadelo, na manhã seguinte,


acordei com uma série de sintomas neurológicos: vários
tipos de dor; vários graus de dormência, picadas e uma certa
perda de sensação nas pernas; bem como alguma
dificuldade em controlar os movimentos.

Depois de fazer todas as análises ao sangue, radiografias,


TAC e ressonâncias magnéticas no hospital, o cirurgião
ortopedista mostrou-me os resultados e deu-me a notícia
num tom soturno: para conter os fragmentos ósseos que
tinha na medula espinal, teria de me submeter a uma
cirurgia de implantação de uma haste de Harrington, o que
implicaria cortar a parte de trás das vértebras de dois a três
segmentos acima e abaixo das fraturas e, depois, aparafusar
e fixar duas hastes de aço inoxidável com cerca de 30 cm
em cada lado da coluna vertebral.

Em seguida, raspariam dois fragmentos da anca para


cobrirem as hastes. Seria uma cirurgia grande, mas que me
poderia dar a hipótese de voltar a andar.

Apesar disso, sabia que o mais provável seria ficar com


algum tipo de incapacidade e passar o resto da minha vida a
sofrer de dores crônicas. Escusado será dizer que a ideia não
me agradou.

No entanto, se optasse por não fazer a cirurgia, o mais certo


seria ficar paralisado. O melhor neurologista de Palm
Springs, que concordou com a opinião do primeiro cirurgião,
disseme que não conhecia nenhum paciente nos Estados
Unidos na mesma situação que eu que se recusasse a fazê-
la. O impacto do acidente tinha comprimido a minha
vértebra T-8 num formato que impediria a coluna vertebral
de suportar o peso do corpo em pé: a coluna dorsal
quebraria e os pedaços das vértebras ficariam cravados na
medula espinal, provocando paralisia imediata do peito para
baixo. Também não era uma opção muito agradável.
Fui transferido para um hospital de La Jolla, mais perto de
casa, onde ouvi mais duas opiniões, entre as quais a do
diretor de cirurgia ortopédica do sul da Califórnia. Como
seria de esperar, ambos os médicos achavam que devia
submeter-me à cirurgia de implantação da haste de
Harrington. Era um prognóstico bastante consistente: fazer a
cirurgia ou ficar paralisado e nunca mais poder andar. Se eu
fosse médico, aconselharia a mesma coisa: era a opção mais
segura. Mas não era a opção para mim.

Talvez ainda fosse demasiado jovem e ousado, naquela


altura, mas decidi contrariar o modelo médico e os conselhos
dos especialistas. Acredito que há uma inteligência, uma
consciência invisível, dentro de cada um de nós que dá vida.
Que nos sustenta, mantém, protege e cura constantemente.
Que cria quase 100 mil biliões de células especializadas (a
partir de apenas duas), que faz com que o coração bata
centenas de milhares de vezes por dia e que é capaz de
organizar centenas de milhares de reações químicas numa
só célula, a cada segundo que passa — entre tantas outras
coisas espantosas. Na altura, pensei que, se essa
inteligência fosse real e pudesse mesmo demonstrar tais
capacidades de forma deliberada, consciente e com amor,
talvez pudesse desviar a atenção do mundo exterior e
mergulhar no meu interior para me ligar a essa inteligência e

desenvolver uma relação com ela.

No entanto, se antes compreendia intelectualmente a


capacidade do corpo para se curar, agora, para criar uma
verdadeira experiência de cura, teria de aplicar e expandir
essa filosofia para além de todos os limites. E uma vez que
não podia ir a lado nenhum e só podia estar deitado de
barriga para baixo, decidi fazer duas coisas. Em primeiro
lugar, todos os dias concentraria toda a atenção consciente
nessa inteligência em mim para lhe dar um plano, um
modelo e uma visão com ordens muito específicas,
entregando, depois, a minha cura a essa mente superior com
poder ilimitado, permitindo-lhe fazê-la por mim. Em segundo
lugar, não deixaria nenhum pensamento indesejado invadir a
minha consciência. Parece fácil, não é?

1. Uma decisão radical

Contrariando os conselhos da minha equipa médica, deixei o


hospital numa ambulância com destino à casa de dois
grandes amigos, onde fiquei nos três meses seguintes,
concentrado na minha cura. Tinha uma missão a cumprir.

Decidi que começaria todos os dias por reconstruir a minha


coluna, vértebra a vértebra, e mostraria a essa consciência,
se ela prestasse atenção aos meus esforços, o que queria.
Sabia que para isso precisaria da minha presença total...

ou seja, precisaria de estar presente no momento — sem


pensar no passado ou sentir arrependimentos, sem me
preocupar com o futuro, obsessivamente centrado nas
condições da minha vida exterior, na dor ou nos sintomas.
Tal como em qualquer relação humana, sabemos quando a
outra parte está presente ou ausente, não é? Uma vez que a
consciência é um estado de alerta em que prestamos
atenção e prestar atenção é estar presente e reparar nas
coisas, essa consciência saberia se eu estava presente ou
ausente. Teria de estar totalmente presente nas minhas
interações com essa mente; a minha presença teria de
acompanhar a sua presença, a minha vontade teria de
acompanhar a sua vontade e a minha mente teria de
acompanhar a sua mente.

Assim, todos os dias, duas vezes por dia, passava duas horas
mergulhado no meu interior a criar a imagem do resultado
que pretendia obter: uma coluna totalmente restabelecida.
Naturalmente, ganhei consciência do quanto era disperso e
desconcentrado. Ê irônico. Foi então que me apercebi de
que, quando ocorre uma crise ou um trauma, damos
demasiada atenção e despendemos demasiada energia a
pensar no que não queremos e não no que queremos. Nas

primeiras semanas, ainda tinha essa tendência para viver de


momento em momento.

Durante a minha meditação para criar a vida que queria com


uma coluna totalmente recuperada, de repente apercebia-
me de que tinha estado inconscientemente a pensar no que
me tinham dito os cirurgiões algumas semanas antes: que o
mais provável seria nunca mais andar. Estaria a meio da
reconstrução interna da coluna e ficava nervoso, a tentar
decidir se não seria melhor vender o meu consultório de
quiroprática. Enquanto treinava mentalmente passo a passo
o ato de andar, dava por mim a imaginar como seria passar
o resto da vida sentado numa cadeira de rodas — já está a
ver, não é?

De cada vez que perdia a atenção e deixava a mente


vaguear por pensamentos estranhos, tinha de recomeçar
lodo o esquema da criação de imagens. Era entediante,
frustrante e, muito sinceramente, uma das coisas mais
difíceis que já alguma vez fizera. Mas pensava para comigo
que a imagem final que queria que o observador em mim
visse teria de ser nítida, limpa e contínua.

Para que essa inteligência conseguisse fazer o que eu


esperava — o que eu sabia

— que seria capaz de fazer, do princípio ao fim, teria de me


manter consciente e evitar a dispersão inconsciente.

Por fim, após seis semanas a lutar comigo próprio e a


esforçar-me por me manter presente com essa consciência,
consegui passar a entrar no processo de reconstrução
interior sem paragens e sem ter de recomeçar sempre do
início.

Lembro-me do dia em que o fiz pela primeira vez: foi como


bater na bola de tênis exatamente no sitio certo. Senti que
qualquer coisa estava bem. Fez um clique. Fiz um clique.
Sentime mais completo, satisfeito e pleno. Pela primeira vez,
estava verdadeiramente descontraído e presente — de corpo
e mente. não ouvia o constante diálogo mental, não
analisava nada, não pensava, não estava obcecado com
nada, nem tentava fazer nada; desaparecera qualquer coisa,
dando lugar a uma espécie de paz e silêncio. Era como se já
não me importasse com nada daquilo com que me
preocupava no passado e que me inquietava no futuro.

E essa noção consolidou a minha viagem interior, porque,


mais ou menos nessa altura, criar a visão daquilo que
queria, da reconstrução das minhas vértebras, começou a
tornar-se mais fácil de dia para dia. Mais importante:
comecei a reparar em mudanças psicológicas bastante
significativas. Foi nesse momento que comecei a
correlacionar o que estava a fazer dentro de mim para criar
essa mudança com o que estava a ocorrer fora de mim — no
meu corpo.

Assim que fiz essa correlação, comecei a prestar mais


atenção ao que estava a fazer e a fazê-lo com mais
convicção; e fi-lo repetidamente. Consequentemente,
continuei a fazê-lo com alegria e inspiração e não com a
sensação de estar a fazer um esforço terrível e pesado. De
repente, passei a conseguir realizar em

menos tempo o que antes demorava duas a três horas a


realizar numa sessão.

Tinha mais tempo disponível, por isso, comecei a pensar em


como seria ver novamente o pôr do sol à beira da água ou
almoçar com os meus amigos na mesa de um restaurante, e
pensei que nunca mais tomaria nada disso como garantido.

Imaginei-me a tomar um duche e a sentir a água na cara e


no corpo, ou simplesmente a usar a casa de banho ou a
caminhar na praia em San Diego, com o vento a bater-me no
rosto. Coisas a que nunca dera o devido valor antes do
acidente, mas que ganhavam agora importância — e levei
algum tempo até as sentir emocionalmente como se
estivesse mesmo a vivê-las.

Na altura, não sabia bem o que fazia, mas agora sei:


começava a pensar em todos os futuros possíveis que
existiam no plano quântico e sentia cada um deles
emocionalmente. E ao selecionar esse futuro intencional com
o qual me fundia, com a elevação emocional do que seria
estar efetivamente lá, no momento presente, o meu corpo
começou a acreditar que estava mesmo nesse futuro.

Quanto mais a minha capacidade para observar o destino


que desejava se apurava, mais as minhas células se
reorganizavam. Passei a assinalar os genes de formas
diferentes e o meu corpo começou realmente a melhorar
com maior rapidez.

Estava a aprender um dos mais importantes princípios da


física quântica: a mente e a matéria não são elementos
independentes, e os nossos pensamentos e sentimentos
conscientes e inconscientes são os mapas que controlam o
destino.

A persistência, a convicção e o enfoque necessários para


expressar qualquer potencial futuro estão presentes na
mente humana e na mente de infinito potencial do plano
quântico. Ambas as mentes devem trabalhar em conjunto
para fazer surgir qualquer realidade futura que já exista
potencialmente. Apercebi-me de que, nesse sentido, somos
todos divinos criadores, independentemente de raça,
cultura, estatuto social, formação, crenças religiosas ou, até,
erros passados.

Pela primeira vez na vida, sentí-me realmente abençoado.

Tomei outra decisão fundamenta) em relação à minha cura.


Estabeleci um regime completo (descrito em pormenor na
obra Evolve Your Brain [Desenvolva o seu cérebro]) que
incluía alimentação, visitas de amigos que praticavam cura
energética e um elaborado programa de reabilitação. Mas,
nessa altura, nada era mais importante do que entrar em
contacto com essa inteligência dentro de mim e, através
dela, utilizar a mente para curar o corpo.

Nove semanas e meia após o acidente, levantei-me e


retomei a minha vida sem gesso ou qualquer tipo de
cirurgia. Tinha conseguido recuperar totalmente.

As dez semanas, recomecei a receber pacientes e, às 12, a


treinar com pesos, enquanto continuava o trabalho de
reabilitação. Agora, cerca de 30 anos depois, posso dizer
com toda a sinceridade que quase nunca mais senti dores
nas costas.

2. A investigação começa a sério

A minha aventura, porém, não ficou por aí. Como seria de


esperar, já não era a mesma pessoa. Tinha mudado em
muitos aspetos. Iniciara-me numa realidade que ninguém
que conhecia conseguia realmente entender. não me
identificava com muitos dos meus amigos e de forma
alguma seria capaz de retomar a mesma vida que tinha
antes do acidente. Tudo aquilo a que dava mais importância
deixara de me importar. E na minha cabeça surgiam grandes
questões, como: “Quem sou eu?”; “Qual é o sentido da
vida?”; “O que faço aqui?”; “Qual é o meu propósito?”; e “O
que ou quem é Deus?” não tardei a deixar San Diego e a
mudar-me para o noroeste do Pacifico, onde acabei por abrir
uma clinica de quiroprática perto de Olympia, em
Washington. Contudo, no início, mantive-me bastante
recolhido e estudei espiritualidade.

Com o tempo, também ganhei interesse pelas remissões


espontâneas: quando as pessoas se curavam de uma doença
ou condição grave consideradas terminais ou permanentes,
sem recorrerem a intervenções da medicina convencional,
como cirurgias ou fármacos. Nas longas e solitárias noites do
período de recuperação em que não conseguia dormir, tinha
feito um pacto com a tal consciência: se voltasse a andar,
passaria o resto da vida a investigar e a estudar a ligação
mente-corpo e o conceito de mente sobre a matéria. E é
praticamente só isso que tenho feito nas últimas três
décadas.

Viajei por vários países à procura de pessoas que tivessem


estado doentes e que, após terem recebido tratamentos
convencionais ou não convencionais sem qualquer êxito,
tendo ficado na mesma ou até piorado, de repente,
melhoraram.

Comecei a entrevistá-las para descobrir o que tinham em


comum, e tentar perceber e registar o que as fizera
melhorar, pois a minha paixão era unir a ciência à
espiritualidade. O que apurei foi que todos esses casos
milagrosos se apoiavam numa forte componente mental.

O cientista em mim começou a ficar muito ansioso e cada


vez mais inquisitivo. Regressei à universidade para estudar
as mais recentes investigações realizadas

no

campo
da

neurociência

estudei

neuroimagiologia,

neuroplasticidade, epigenética e psiconeuroimunologia.


Então, pensei para comigo que, sabendo o que essas
pessoas tinham feito para melhorar e sabendo tudo o que já
aprendera sobre a ciência de alterar a mente (ou que pelo
menos pensava saber), seria capaz de reproduzir esse
fenômeno tanto em pessoas

doentes como em pessoas sãs que quisessem fazer


mudanças para melhorar o estado de saúde, das relações,
das carreiras profissionais, das famílias e das suas vidas em
geral.

Nessa altura, fui convidado para fazer parte do grupo de 14


cientistas e investigadores apresentados no documentário O
Que Raio Sabemos Nós?, de 2004, que se tornou um êxito da
noite para o dia. O filme convida-nos a questionar a natureza
da realidade e, depois, a verificar se as nossas observações
são ou não matéria de substância ou, melhor ainda, se as
mesmas se consubstanciam em matéria ou não. O filme e os
conceitos que expunha andavam na boca do mundo inteiro.
Foi mais ou menos nesse contexto que, em 2007, publiquei o
meu primeiro livro — Evolve Your Brain: The Science of
Changing Your Mind. Depois do lançamento, as pessoas
começaram a perguntar-me: “Como é que consegue? Como
muda e como cria a vida que deseja?" Essas não tardaram a
ser as perguntas mais frequentes.
Assim, reuni uma equipa para começar a organizar
workshops nos Estados Unidos e noutros países sobre o
funcionamento do cérebro e como podemos reprogramar o
pensamento, recorrendo aos princípios neurofisiológicos. A
princípio, esses workshops baseavam-se sobretudo na
partilha de informações, mas as pessoas queriam mais e
acabei por acrescentar meditações para complementar e
consolidar a informação. Passei a ensinar um método prático
e passo a passo para mudar a mente e o corpo e,
consequentemente, a vida das pessoas. Depois de fazer os
meus primeiros workshops em diferentes partes do mundo,
começaram a perguntar-me: “E a seguir?" Então, criei um
segundo nível de workshops. Depois desse, pediram-me para
criar outro — um workshop ainda mais avançado. E era isso
que acontecia quase sempre, onde quer que fizesse as
minhas apresentações.

Quando julgava que já tinha acabado, que ensinara tudo


quanto tinha a ensinar, pediam-me mais, por isso, linha de
aprender mais para criar mais apresentações e meditações.
Desenvolveu-se uma dinâmica e recebi feedback muito
positivo; as pessoas conseguiam eliminar alguns hábitos
autodestrutivos que as impediam de ser mais felizes.

Apesar de, até àquela data, eu e os meus sócios só termos


assistido a pequenas mudanças — nada de muito
significativo as pessoas adoravam a informação que lhes
passávamos e queriam continuar a praticar. Por essa razão,
ia sempre onde me convidavam. Pensava para comigo que
havia de chegar uma altura em que deixariam de me
convidar e em que ficaria a saber que já não tinha mais nada
a ensinar nessa área.

Cerca de um ano e meio depois do nosso primeiro workshop,


eu e a minha equipa começamos a receber vários e-mails
dos nossos participantes sobre as
mudanças positivas que sentiam, por fazerem as meditações
regularmente. Uma onda de mudança começara a
manifestar-se nas vidas das pessoas, fazendo-as transbordar
de alegria. O feedback que recebemos no ano seguinte
chamou-nos a atenção. Os participantes começavam a
relatar não só mudanças subjetivas na sua saúde física, mas
também melhorias nas avaliações objetivas dos exames
clínicos. Nalguns casos, os exames até apresentavam
resultados perfeitamente normais! Essas pessoas tinham
conseguido reproduzir exatamente as mudanças físicas,
mentais e emocionais que eu estudara, observara e
descrevera na minha obra Evolve Your Brain.

Era uma grande excitação para mim testemunhar tal


fenômeno, porque sabia que tudo o que se repete se pode
tornar uma lei científica. Muitas pessoas enviavam-nos e-
mails a começar com a mesma expressão: “Nem vão
acreditar...” E essas mudanças deixavam de ser mera
coincidência.

Foi então que, pouco depois, ainda nesse ano, no decorrer


de dois eventos em Seattle, começaram a acontecer coisas
extraordinárias. No primeiro evento, uma mulher com
esclerose múltipla (EM) chegou ao workshop apoiada num
andarilho e saiu a caminhar sem ele. No segundo evento
desse ano em Seattle, outra mulher que sofria de EM há dez
anos começou a dançar, declarando que deixara
completamente de sentir a paralisia e a dormência que
antes sentia no pé esquerdo. (Lerá mais sobre essas
mulheres e outras pessoas como elas nos próximos
capítulos.) Em 2010, pediram-me para dar um workshop
mais progressivo no Colorado, onde as pessoas começaram
logo a sentir melhorias no bem-estar, durante o próprio
evento. Muitas levantaram-se e pediram o microfone, para
nos contarem histórias muito inspiradoras.
Por volta dessa altura, também me convidaram para falar
com vários líderes empresariais acerca da biologia da
mudança, da neurociência da liderança e do conceito de
transformar as pessoas para transformar a cultura. Depois
de um discurso de apresentação a um grupo, vários
executivos vieram ter comigo e pediram-me para adaptar as
minhas ideias a um modelo de transformação empresarial.
Então, criei um curso de oito horas adaptado às empresas e
organizações — tal foi o nosso êxito que criamos o programa
empresarial 30

Days to Genius. Dei por mim a trabalhar com clientes do


mundo dos negócios, como a Sony Entertainment Network, a
Gallo Family Vineyards, a companhia de telecomunicações
wow! (inicialmente chamada Wide Open West), entre muitos
outros, e, a partir dai, passei a oferecer sessões particulares
de coaching aos quadros superiores das empresas. A procura
pelos nossos programas empresariais era tanta que tive de
começar a formar pessoal em coaching-, já tenho mais de 30
formadores ativos, incluindo ex-CEO, consultores
empresariais, psicoterapeutas, advogados, físicos,
engenheiros e médicos, que

trabalham por todo o lado, a ensinar esse modelo de


transformação em diversas empresas. (Já temos planos para
começar a certificar coaches independentes para utilizarem
o modelo de mudança com os seus próprios clientes.)
Jamais, em tempo algum, imaginei este tipo de futuro para
mim.

O meu segundo livro, Como Criar Um Novo Eu, foi publicado


em 2012, como complemento prático para o Evolve Your
Brain. Nessa obra, não só explico mais sobre a neurociência
da mudança e a epigenética, como também incluo um
programa de quatro semanas baseado nos workshops que
dava na época com instruções passo a passo para
implementar essas mudanças.

Quando organizei um evento mais avançado no Colorado,


assistimos a sete remissões espontâneas de diferentes
condições. Nesse fim de semana, uma mulher que se
alimentava de alface por sofrer de várias alergias
alimentares graves curouse. Outras pessoas curaram-se de
intolerância ao glúten, de doença celíaca, de problemas na
tiroide, de dores crônicas acentuadas e outros estados.

De repente, comecei a testemunhar mudanças realmente


significativas na saúde e na vida das pessoas, enquanto elas
se recolhiam da sua realidade para criarem outra. Estava a
acontecer mesmo à minha frente.

3. Da informação à transformação

Esse evento no Colorado, em 2012, marcou o ponto de


viragem na minha carreira, porque me permitiu finalmente
constatar que estava a ajudar as pessoas não só a mudar o
modo como encaravam o seu bem-estar, mas também a
assinalar novos genes de novas formas ali mesmo, durante
as meditações, em tempo real e em grande. Se alguém que
tinha passado anos doente com um problema de saúde
como lúpus ficava bem com uma hora de meditação, só
podia ser porque alguma coisa importante tinha ocorrido na
mente e no corpo dessa pessoa.

Queria descobrir uma forma de medir essas mudanças


enquanto elas ocorriam nos workshops, para percebermos o
que se estava a passar exatamente.

Foi por isso que, no início de 2013, comecei a oferecer um


novo tipo de evento que lançou os nossos workshops para
um nível bastante superior. Para esse workshop de quatro
dias que se realizou no Arizona com mais de 200
participantes, convidei uma equipa de investigadores
composta por neurocientistas, técnicos e físicos quânticos
com instrumentos especializados. Os especialistas utilizaram
o seu equipamento para medir o campo eletromagnético do
ambiente da sala para verificar se a energia se ia alterando à
medida que o workshop avançava. Além disso, mediam o
campo de energia em torno de cada participante e os
centros de energia dos seus corpos (também denominados
chakras) para verificar se eles os conseguiam influenciar.

Para fazer essas medições, utilizaram instrumentos muito


sofisticados, tais como eletroencefalograma (EEG) para
controlar a atividade elétrica do cérebro,
eletroencefalograma quantitativo (EEGQ) para fazer uma
análise computorizada dos dados do EEG, variação da
frequência cardíaca (VFC) para documentar a variação dos
intervalos de tempo entre as batidas cardíacas e a coerência
cardíaca (uma medição do ritmo cardíaco que reflete a
comunicação entre o coração e o cérebro), e visualização por
descarga de gás (VDG) para medir as mudanças nos campos
bioenergéticos.

A experiência consistiu em analisar imagens cerebrais de


vários participantes: umas realizadas antes e depois do
evento, para podermos entender o que se passava no
mundo interno do cérebro humano, e outras durante o
evento, para tentar medir eventuais mudanças nos padrões
cerebrais em tempo real, durante as três meditações que
orientei todos os dias. Foi um grande evento.

Uma pessoa com a doença de Parkinson deixou de sofrer de


tremores. Outra curou a lesão cerebral resultante de um
trauma. Pessoas com tumores no cérebro e no corpo
descobriram que estes tinham desaparecido. Muitas que
padeciam de artrite sentiram um alívio da dor pela primeira
vez em vários anos. Todas essas ocorrências foram só
algumas das muitas mudanças profundas que ocorreram
nesse workshop.

Foi no decorrer desse evento fantástico que conseguimos


finalmente captar mudanças objetivas no domínio científico
da medição e documentar mudanças subjetivas que os
participantes relatavam na sua saúde. não me parece ser
exagerado dizer que o que observamos e registramos fez
história. Mais adiante, nesta obra, demonstro o que somos
capazes de fazer, através de algumas histórias — histórias
de pessoas vulgares a fazerem coisas extraordinárias.

Era esta a minha intenção ao desenvolver esse workshop:


queria dar às pessoas informação científica e ensiná-las a
aplicar essa informação para conseguirem realizar
importantes transformações. Afinal, a ciência é a linguagem
contemporânea do misticismo. Aprendi que assim que
começamos a falar na linguagem da religião ou da cultura e
que começamos a citar a tradição, dividimos o público. Mas
a ciência une as pessoas e desmistifica o místico.

Além disso, descobri que se conseguisse ensinar o modelo


científico de transformação (com um pouco de física
quântica à mistura para ajudar compreender a ciência da
possibilidade), combinando-o com as mais recentes
descobertas da neurociência, da neuroendocrinologia, da
epigenética e da psiconeuroimunologia, as instruções mais
adequadas e a oportunidade de aplicar essa informação, as
pessoas conseguiriam concretizá-la. É se o pudesse fazer
medindo a transformação enquanto esta estivesse a
acontecer, poderia utilizar essa medição como complemento
para esclarecer os participantes sobre a

transformação que tinham acabado de sentir. Com essa


informação, poderiam fazer outra transformação e daí por
diante, num processo cada vez mais fácil. As pessoas iriam
fechando o fosso entre quem pensam que são e quem
realmente são: divinos criadores. Chamo a esse conceito “da
informação à transformação”

e tornou-se a minha nova paixão.

Agora, ofereço um curso online intensivo de sete horas e


também dou pessoalmente nove ou dez workshops
progressivos de três dias por ano, por todo o mundo, mais
um ou dois workshops avançados de cinco dias, com a
presença dos cientistas que referi e o seu equipamento para
medir as mudanças ocorridas no cérebro, na função
cardíaca, na expressão genética e na energia em tempo real.
Os resultados são espantosos e é neles que se baseia este
livro.

3. INTRODUÇÃO

Dar importância à mente

Os incríveis resultados a que assisti nos workshops


avançados que ofereço e que verifiquei nos dados científicos
que deles resultaram conduziram-me à ideia de placebo:
como as pessoas podem tomar um comprimido de açúcar ou
levar uma injeção de soro e, de seguida, melhorar apenas
por acreditarem em algo exterior.

Comecei a perguntar-me: “E se as pessoas começarem a


acreditar nelas próprias e não em algo que lhes é exterior? E
se acreditarem ser capazes de mudar o interior e passar ao
mesmo estado de ser de alguém que toma um placebo? não
é exatamente isso que têm feito os participantes dos nossos
workshops para melhorarem? Precisarão mesmo de um
comprimido ou de uma injeção para alterarem o seu estado
de ser? Será que podemos ensinar as pessoas a
conseguirem o mesmo, explicando-lhes como funciona na
realidade o placebo?”
Afinal, o pregador manipulador de serpentes que bebe
estricnina sem sofrer efeitos biológicos só pode ter alterado
o seu estado de ser, não é? (Lerá mais acerca disto no
primeiro capítulo.) Então, se pudermos passar a medir o que
ocorre no cérebro e analisar toda essa informação, será que
podemos ensinar as pessoas a fazê-lo sozinhas, sem
precisarem de algo exterior — de um placebo?

Seremos capazes de lhes explicar que elas são o placebo?


Por outras palavras, seremos capazes de as convencer de
que, em vez de acreditarem no conhecido, como um
comprimido de açúcar ou uma injeção de soro, poderão
acreditar no desconhecido e torná-lo conhecido?

Na verdade, é sobre isso que versa este livro: assimilar e


aplicar a noção de que tem em si as engrenagens biológicas
e neurológicas para isso. O meu objetivo é desmistificar
esses conceitos da nova ciência que explica como as coisas
realmente são e colocá-los ao alcance de mais e mais
pessoas que precisem deles para alterar os seus estados,
pela criação de mudanças positivas na sua saúde e no seu
mundo exterior. Se isso lhe parece demasiado espantoso
para ser verdade, então, como já referi, mais para o final do
livro, encontra parte dos resultados das investigações feitas
nos nossos workshops, demonstrando precisamente como é
possível.

1. O que este livro não é

Quero dedicar algumas linhas ao que não é tratado neste


livro, para esclarecer, desde já, eventuais mal-entendidos.
Para começar, não encontra nada aqui sobre a ética da
utilização de placebos nos tratamentos clínicos. Há um
grande debate sobre a moralidade de tratar um paciente que
não participe num ensaio clinico com uma substância inerte.
Embora talvez fosse útil perceber se o fim justifica tais meios
num diálogo mais alargado sobre os placebos, essa questão
nada tem que ver com o âmbito da mensagem que aqui se
pretende passar. Este livro visa colocá-lo ao volante da
criação da sua própria mudança e não saber se está certo ou
errado iludirem-no para o levarem a fazer isso.

Também não é sobre a negação. Nenhum dos métodos aqui


expostos implica negar eventuais estados de saúde que
possa apresentar. Muito pelo contrário, neste livro pretende-
se transformar maleitas e doenças. Interessa-me medir as
mudanças que as pessoas fazem, ao passarem da doença
para a saúde.

Em vez de se procurar rejeitar a realidade, pretende-se


demonstrar o que é possível fazer, quando se acede a uma
nova realidade.

Constatará que o feedback dos ensaios clínicos lhe dirá se o


método que utiliza está a funcionar ou não. Assim que vir os
efeitos que criou, poderá prestar atenção ao que fez para
chegar a esse fim e repeti-lo. E se o método que utiliza não
estiver a funcionar, altere-o até conseguir. Estará a combinar
a ciência com a espiritualidade. A negação, por sua vez,
ocorre quando não vê a realidade do que está a acontecer
dentro e fora de si.

Este livro também não põe em causa a eficácia das diversas


modalidades de cura. são inúmeras e muitas funcionam
bastante bem. Todas têm um efeito benéfico mensurável
pelo menos nalgumas pessoas, mas o meu objetivo não é
fazer um catálogo completo desses métodos. O que
pretendo é apresentar-lhe uma modalidade especifica que
me chamou a atenção: a cura somente pelo pensamento.
não deixe de recorrer aos métodos de cura que resultem no
seu caso, sejam fármacos, cirurgias, acupunctura,
quiroprática, biofeedback, massagem terapêutica,
suplementos nutricionais, yoga, reflexologia, medicina
energética, terapia sonora e daí por diante. Este livro não
pretende rejeitar nada, a não ser as limitações que impõe a
si mesmo.

2. O que contém este livro

O livro divide-se em duas partes:

A Parte I fornece-lhe todos os conhecimentos e informações


necessários para compreender o que é o efeito placebo e
como funciona no cérebro e no corpo, assim como lhe ensina
a criar o mesmo tipo de mudanças milagrosas no cérebro e
no corpo, sozinho e somente com o pensamento.

O Capítulo 1 começa com a partilha de histórias incríveis que


comprovam o poder espantoso da mente humana. Algumas
relatam casos de pessoas que foram curadas pelos seus
pensamentos e outras mostram como os pensamentos as
fizeram adoecer (e por vezes levaram a morte prematura).
Lerá sobre um homem que morreu depois de saber que
sofria de cancro, embora a autópsia tenha revelado que o
diagnóstico estava errado; uma mulher atormentada pela
depressão há décadas que melhorou drasticamente durante
um ensaio clinico com antidepressivos, apesar de pertencer
ao grupo que recebia um placebo; e um grupo de veteranos
coxos por causa de osteoartrite que ficou milagrosamente
curado depois de uma falsa cirurgia ao joelho. Lerá até
algumas histórias inquietantes sobre maldições de vudu e
manipulação de serpentes. Ao partilhar essas histórias
dramáticas, pretendo mostrar a vasta gama de capacidades
que a mente humana tem ao seu dispor e que dispensam a
ajuda da medicina moderna.

E espero conseguir levá-lo a perguntar: “Como é possível?’'

O Capítulo 2 apresenta-lhe uma breve história do placebo,


fornecendo-lhe relatos de descobertas científicas feitas
desde 1770 (quando um médico vienense utilizou ímanes
para induzir o que julgava ser convulsões terapêuticas) até
aos dias de hoje (com os neurocientistas a resolverem
mistérios excitantes sobre o complexo funcionamento da
mente). Conhecerá um médico que desenvolveu técnicas de
hipnose depois de ter chegado atrasado a uma consulta e ter
encontrado o paciente fascinado, a fixar a chama de um
candeeiro; um cirurgião da Segunda Guerra Mundial que
utilizava com êxito injeções de soro como analgésico em
soldados feridos quando lhe acabara a morfina; e os
primeiros investigadores de psiconeuroimunologia no Japão
que substituíram folhas de sumagre venenoso por folhas
inócuas e descobriram que os participantes do ensaio
reagiam mais ao que lhes diziam que estavam a sentir do
que ao que realmente estavam a sentir.

Ficará também a conhecer o caso de Norman Cousins, que


melhorou a sua saúde a rir; de Herbert Benson, investigador
de Harvard, que reduziu os fatores de risco de doença
cardíaca nos pacientes através da descoberta da Meditação
Transcendental; e do neurocientista italiano Fabrizio
Benedetti, que preparou sujeitos a quem tinham dado um
fármaco que depois trocou por um placebo — e observou
que o cérebro continuava a produção das mesmas
substâncias

neuroquímicas que o fármaco produzia, sem interrupção. E


lerá sobre um estudo impressionante que vem mudar tudo,
ao demonstrar uma melhoria considerável dos sintomas de
pacientes com síndrome do cólon irritável (SCI) que tomaram
placebos, sabendo perfeitamente que se tratava de um
placebo e não de um fármaco ativo.

O Capítulo 3 guia-o pela fisiologia do que acontece no


cérebro com o efeito placebo a funcionar. Lerá que, de certa
forma, o placebo só funciona, porque somos capazes de
aceitar ou assimilar a ideia de que podemos ficar bem e
utilizá-la para substituir a ideia de que estaremos sempre
doentes. Tal significa que podemos mudar o nosso
pensamento, deixando de prever inconscientemente um
futuro igual ao passado que conhecemos, passando a
esperar e a contar com um resultado potencial diferente. Se
concorda com essa noção, terá de analisar a sua forma de
pensar, o que é a mente e como isso afeta o corpo.

Demonstrarei que a persistência de um tipo de pensamento


gera sempre o mesmo tipo de escolha e, consequentemente,
os mesmos tipos de comportamento, de experiências e
emoções, num círculo vicioso — deste modo, em termos
neuroquímicos, permanecemos na mesma. Com efeito, está
a lembrar-se de quem julga ser. Mas espere, porque não foi
feito para se manter sempre igual. Explicarei o conceito de
neuroplasticidade e o facto de sabermos como o cérebro
pode mudar, ao longo da vida, criando novos canais neurais
e ligações.

O Capítulo 4 discute o efeito do placebo no corpo, explicando


o passo seguinte da fisiologia da resposta do placebo.
Começa por contar a história de um grupo de homens idosos
que frequentaram um retiro de uma semana organizado por
investigadores de Harvard, onde lhes pediram para fingir
que eram 20 anos mais jovens. No fim da semana, os
homens tinham apresentado inúmeras mudanças fisiológicas
mensuráveis e recuado no tempo nos seus corpos. Saberá o
segredo por detrás desse feito.

Para completar o esclarecimento, o capitulo explica também


o que são os genes e como se apresentam no corpo. Saberá
como a relativamente nova e excitante ciência da
epigenética praticamente dizimou a velha noção de que os
genes traçam o destino, mostrando-nos que a mente pode
efetivamente ensinar novos genes a comportarem-se de
formas diferentes. Descobrirá como o corpo possui
mecanismos elaborados para ativar uns genes e desativar
outros, o que significa que não está condenado a expressar
quaisquer genes que tenha herdado.

Tal implica que pode aprender a mudar a sua estrutura


neural para selecionar novos genes e criar mudanças físicas
tangíveis. Também constatará que o organismo pode aceder
às células estaminais — a matéria física por detrás de muitos
milagres do efeito placebo — para criar novas células sãs em
zonas

danificadas.

O Capitulo 5 une os dois capítulos anteriores, explicando a


forma como os pensamentos mudam o cérebro e o corpo.
Começa por colocar a seguinte pergunta: “Se o nosso
ambiente muda e nos permite assinalar novos genes de
maneiras diferentes, será possível assinalar o novo gene
antes de a mudança de ambiente ocorrer?” Então, explicarei
como pode utilizar uma técnica denominada ensaio menta/,
que combina uma intenção clara com uma emoção elevada
(dando ao corpo uma amostra da experiência futura) para o
fazer sentir o novo evento futuro no presente.

O segredo é tornar os seus pensamentos mais reais do que o


ambiente exterior, porque, nessa altura, o seu cérebro não
distinguirá uma coisa da outra e mudará para que pareça
que o evento teve lugar. Se conseguir fazer isso as vezes
suficientes, transformará o seu corpo e começará a ativar
novos genes de maneiras diferentes, produzindo mudanças
epigenéticas — como se o evento futuro imaginado fosse
real. Assim, poderá aceder diretamente a essa nova
realidade e tornar-se o placebo. Este capítulo não só define a
ciência desse processo, como também apresenta histórias
de diversas figuras públicas, de diferentes classes sociais,
que utilizaram essa técnica (conscientes ou não do que
estavam a fazer no momento) para concretizar os sonhos
mais fantásticos.

O Capítulo 6 centra-se no conceito de sugestibilidade e


começa com uma história fascinante mas arrepiante sobre
uma equipa de investigadores que tentaram provar que uma
pessoa vulgar, cumpridora da lei e mentalmente sã muito
vulnerável à hipnose poderia ser programada para fazer uma
coisa que normalmente consideraria impensável: alvejar um
desconhecido com a intenção de o matar.

Verá que as pessoas têm diferentes graus de sugestibilidade


e que quanto mais sugestionáveis forem, mais facilmente
acedem à mente subconsciente. Esta questão é fundamental
para se compreender o efeito placebo, porque a mente
consciente constitui apenas 5 por cento de quem somos. Os
outros 95 por cento consistem num conjunto de estados
subconscientes programados em que o corpo se torna a
mente. Aprenderá que, para fazer com que os seus novos
pensamentos produzam novos resultados e mudem o seu
destino genético, deve ir para além da mente analítica e
entrar no sistema operativo dos seus programas
subconscientes, e que a meditação é uma poderosa
ferramenta para isso. O

capítulo termina com uma breve discussão sobre diferentes


estados de ondas mentais e quais lhe permitem tornar-se
mais sugestionável.

O Capítulo 7 explica como as atitudes, crenças e percepções


mudam o estado de ser e criam a personalidade — a sua
realidade pessoal -, e como as pode alterar para criar uma
nova realidade. Ficará a conhecer o poder que as

crenças inconscientes exercem e terá a hipótese de


identificar algumas que tenha sem se aperceber disso. Verá
igualmente como o ambiente e as suas memórias
associativas podem sabotar a capacidade para mudar as
crenças.

Explicarei melhor que para mudar as crenças e percepções,


lerá de combinar uma intenção clara com uma emoção
elevada que leve o corpo a acreditar que o potencial futuro
que selecionou do domínio quântico já aconteceu. A emoção
elevada é vital, porque só com uma escolha
energeticamente superior aos programas integrados no
cérebro e à adição emocional no corpo é que poderá mudar
a estrutura de circuitos do cérebro e a expressão genética do
corpo, assim como recondicionar o organismo a uma nova
mente (eliminado quaisquer vestígios das velhas estruturas
de circuitos neurais e condicionamentos).

No Capítulo 8 mostrar-lhe-ei o universo quântico — o mundo


imprevisível da matéria e da energia que constitui os átomos
e as moléculas de tudo o que existe no universo e que revela
ser mais energia (que parece espaço vazio) do que matéria
sólida. O modelo quântico, segundo o qual existem todas as
possibilidades agora mesmo, é a chave para utilizar o efeito
placebo para a cura, porque permite escolher um novo
futuro e observá-lo a tornar-se efetivamente realidade.
Então, poderá compreender que é possível atravessar o rio
da mudança e tornar o desconhecido conhecido.

O Capítulo 9 apresentar-lhe-á três pessoas dos meus


workshops que relataram resultados verdadeiramente
notáveis com a utilização destas mesmas técnicas para
mudarem a saúde para melhor. Primeiro, conhecerá Laurie,
que, aos 19 anos, foi diagnosticada com uma doença óssea
degenerativa rara que os médicos lhe disseram ser
incurável. Embora tenha sofrido 12 fraturas graves nos ossos
da perna e da anca esquerdas ao longo de várias décadas,
deixando-a dependente de muletas para se deslocar, hoje,
Laurie anda normalmente, sem precisar de uma bengala. As
radiografias nem sequer apresentam vestígios de fraturas
nos ossos.

Depois, apresentar-lhe-ei Candace, a quem diagnosticaram


doença de Hashimoto — um problema grave de tiroide que
implica uma série de complicações — numa época da sua
vida em que se sentia cheia de ressentimentos e revolta. O
médico de Candace disselhe que ela teria de tomar
medicação para o resto da vida, mas ela provou-lhe o
contrário, acabando por conseguir dar a volta ao seu
problema de saúde. Hoje, Candace está completamente
apaixonada por uma nova vida e não toma qualquer
medicação para a tiroide, que, de acordo com as análises ao
sangue, está normal.

Finalmente, conhecerá Joann (a mulher referida no Prefácio),


mãe de cinco filhos e empresária de êxito, que muitos
consideravam uma supermulher — até

ter cedido subitamente e sido diagnosticada com uma forma


avançada de esclerose múltipla. O estado de saúde de Joann
degenerou rapidamente, impedindo-a de mover as pernas.
Quando começou a participar nos meus workshops, só fazia
pequenas mudanças — até ao dia em que a mulher que não
movia as pernas há anos desatou a andar pela sala sem
qualquer ajuda, ao fim de apenas uma hora de meditação!

O Capítulo 10 partilha mais histórias extraordinárias de


participantes do workshop, bem como as suas imagens
cranioencefálicas. Conhecerá Michelle, que se curou
totalmente da doença de Parkinson, e John, um paraplégico
que se levantou da cadeira de rodas após meditação. Verá
como Kathy (uma CEO que vive a um ritmo acelerado)
aprendeu a encontrar o momento presente e como Bonnie
se curou da fibrose e de pesadas hemorragias menstruais.
Por fim. conhecerá Genevieve, que acedia a tais estados de
beatitude durante a meditação que lhe corriam lágrimas de
felicidade pela cara, e Maria, cuja experiência só pode ser
descrita como um orgasmo cerebral.

Mostrar-lhe-ei os dados que a minha equipa de cientistas


reuniu a partir das imagens cranioencefálicas dessas
pessoas, para que possa verificar as mudanças a que
assistimos nos workshops. O melhor de todos esses dados é
o facto de lhe provarem que não tem de ser monge ou freira,
acadêmico, cientista, ou líder espiritual para conseguir feitos
semelhantes. não precisa de um doutoramento ou de uma
licenciatura em medicina. As pessoas que são referidas
neste livro são pessoas vulgares. Depois de ler este capítulo,
compreenderá que o que elas fizeram não é mágico nem
sequer milagroso; elas simplesmente aprenderam e
aplicaram competências que lhes foram ensinadas. E se
praticar as mesmas competências, poderá fazer mudanças
idênticas.

A Parte II do livro é totalmente dedicada à meditação. Inclui


o Capítulo 11, que apresenta alguns passos de preparação3
para a meditação e ensina técnicas úteis, e o Capítulo 12,
que lhe dá instruções passo a passo para utilizar as técnicas
de meditação que ensino nos meus workshops — as mesmas
técnicas que os participantes utilizaram para produzir os
resultados espantosos sobre os quais já leu neste livro.

É com prazer que digo que, embora ainda não tenhamos


todas as respostas sobre o domínio do poder do placebo,
todos os tipos de pessoas estão a utilizar agora mesmo estas
ideias para fazerem mudanças extraordinárias nas suas
vidas —

mudanças que muita gente considera impossíveis. As


técnicas que partilho neste livro não têm de se limitar à cura
de um problema físico; também podem ser
aplicadas à melhoria de qualquer aspeto da vida. Espero
com esta obra motivá-lo a experimentar também estas
técnicas e a tornar possíveis na sua vida mudanças
aparentemente impossíveis.

Nota do autor: Embora as histórias dos participantes dos


meus workshops sejam reais, os seus nomes e alguns
pormenores identificativos foram alterados para proteger a
sua privacidade.

4.

PARTE 1

INFORMAÇÃO

5. CAPÍTULO 1

Será possível?

Sam Londe, um vendedor de sapatos reformado que vivia


nos arredores de St Louis no início dos anos 70, começou a
sentir dificuldade em engolir. A certa altura, decidiu
consultar um médico, que descobriu que Londe tinha cancro
no esôfago, já metastático. Nessa época, um cancro
metastático no esôfago seria considerado incurável; não
havia casos de sobreviventes. Era uma sentença de morte e
o médico de Londe deu-lhe a notícia num tom de voz
adequadamente sombrio.

Para dar a Londe o máximo de tempo de vida possível, o


médico recomendou-lhe uma cirurgia para remover o tecido
canceroso do esôfago e do estômago, onde o cancro se tinha
espalhado. Londe confiou no médico e aceitou submeter-se à
cirurgia, que correu como se esperava. Mas, depois, a
situação foi-se deteriorando. Um exame de imagiologia ao
fígado revelou mais más notícias: o cancro espalhara-se por
todo o lóbulo esquerdo do fígado. O médico informou Londe
de que, infelizmente, ele só teria, na melhor das hipóteses,
alguns meses de vida.

Londe e a mulher, ambos septuagenários, trataram de se


mudar para Nashville, a cerca de 480 km, onde viviam
familiares dela. Pouco depois da mudança para o Tennessee,
Londe foi internado no hospital e ficou a cargo do médico de
clínica geral Clifton Meador. Ao entrar pela primeira vez no
quarto de Londe, o Dr. Meador encontrou um homem
enfezado, com a barba por fazer, todo aninhado debaixo de
um monte de cobertores, e que parecia quase morto.

Mostrava-se agreste e pouco comunicativo, e as enfermeiras


explicaram que já chegara assim ao hospital.

Embora Londe apresentasse níveis elevados de glicemia, por


sofrer de diabetes, os restantes valores das análises ao
sangue eram bastante normais, com a exceção dos níveis
ligeiramente elevados de enzimas hepáticas — um quadro
normal para alguém com cancro do fígado. Os outros
exames clínicos não acusaram mais nada de anormal, o que
era uma bênção, tendo em conta o estado desesperado do
paciente. Sob as ordens do novo médico, Londe teve de
fazer, ainda que com alguma renitência, fisioterapia, seguir
uma dieta líquida fortalecedora, e receber muitos cuidados
médicos e atenção. Ao fim de alguns dias, já estava um
pouco mais forte e menos rabugento. Foi então que começou
a falar sobre a sua vida ao Dr. Meador.

Londe já tinha sido casado com outra mulher, que fora a sua
alma gêmea.

Apesar de nunca terem conseguido ter filhos, partilhavam


uma boa vida juntos.
Como adoravam andar de barco, quando se reformaram,
compraram uma casa nas margens de um grande lago
artificia). Certa noite, já tarde, a barragem de aterro próxima
rebentou, deixando passar uma massa de água que lhes
destruiu e levou a casa. Londe sobreviveu milagrosamente,
agarrado a destroços, mas a mulher não e nunca
encontraram o corpo.

“Perdi tudo aquilo que prezava", contou ao Dr. Meador. “Perdí


o coração e a alma nessa enchente."

Seis meses depois da morte da primeira mulher, ainda de


luto e nas garras de uma terrível depressão, Londe foi
diagnosticado com cancro do esôfago e operado. Foi nessa
altura que conheceu e se casou com a segunda mulher, uma
pessoa amável, que sabia da sua doença e aceitou cuidar
dele no tempo de vida que ainda lhe restava. Alguns meses
depois de se terem casado, mudaram-se para Nashville e o
Dr. Meador já sabia o resto da história.

Depois de Londe terminar a história, o médico, espantado


com o que tinha acabado de ouvir, perguntou com
compaixão:

“O que quer que faça por si?”

O moribundo refletiu por uns momentos.

“Gostaria de ainda estar vivo no Natal, para o poder passar


com a minha mulher e a família dela. Foram muito bons para
mim”, acabou por responder.

“Quero que me ajude a estar vivo no Natal. É só isso que


quero.”

O Dr. Meador assegurou a Londe que faria os possíveis.


Quando recebeu alta no final de outubro, Londe já estava em
muito melhores condições do que quando entrara. O Dr.
Meador estava surpreendido mas satisfeito com o estado de
saúde do seu paciente. Depois disso, o médico observou-o
cerca de uma vez por mês e Londe pareceu-lhe bem.
Contudo, exatamente uma semana depois do Natal (no Dia
de Ano Novo), a mulher levou-o para o hospital.

O Dr. Meador ficou espantado ao constatar que Londe


parecia novamente às portas da morte. Só lhe notava uma
leve febre e uma mancha de pneumonia na radiografia ao
tórax, muito embora Londe não revelasse dificuldades
respiratórias. Todas as análises ao sangue pareciam bem e
não havia sinais de outras doenças. Desse modo, o Dr.
Meador receitou-lhe antibióticos e mandou colocar-lhe um
ventilador, na esperança de obter bons resultados, no
entanto, 24

horas depois, Sam Londe morreu.

À primeira vista, esta história relata um típico diagnóstico de


cancro, seguido de uma morte infeliz causada por uma
doença fatal, certo?

Vamos mais devagar.

Aconteceu uma coisa engraçada, quando o hospital fez a


autópsia. Na

verdade, tinha o fígado cheio de cancro; só tinha dois


pequenos nódulos cancerígenos no lóbulo esquerdo do
fígado e num pulmão. Nenhum era suficientemente grande
para o matar. Aliás, a zona em torno do esôfago não
apresentava quaisquer sinais da doença. Tudo indicava que o
exame de imagiologia ao fígado feito no hospital de St. Louis
com resultados anormais fora um falso positivo.
Sam Londe não morreu de cancro do esôfago, nem de cancro
do fígado.

Como também não morreu do ligeiro caso de pneumonia


com que tinha chegado ao hospital. Morreu pura e
simplesmente porque todas as pessoas que o rodeavam
julgavam que ele estava a morrer. O médico de St. Louis
pensava que Londe estava a morrer e, depois, o Dr. Meador,
em Nashville, também. A mulher e a família pensavam que
ele ia morrer. Mais importante ainda, o próprio Londe achava
que estava a morrer. Será possível que Sam Londe tenha
morrido só por causa do pensamento? Poderá o pensamento
ser assim tão poderoso? E se for, será este um caso único?

1. É possível ter uma overdose de placebo?

Fred Mason (nome fictício), estudante universitário de 26


anos, ficou deprimido quando a namorada terminou a
relação. Nessa altura, viu o anúncio de um ensaio clínico de
um novo medicamento antidepressivo e decidiu inscrever-se.
Ao sofrer um episódio de depressão quatro anos antes, o
médico receitara-lhe o antidepressivo amitriptilina (Elavil),
mas Mason vira-se obrigado a interromper o tratamento por
se sentir demasiado sonolento e apático. Tinha achado o
fármaco demasiado forte para ele e esperava que o novo
tivesse menos efeitos secundários.

Mason encontrava-se a participar no estudo há cerca de um


mês, quando decidiu telefonar à ex-namorada. Discutiram e,
depois de desligar, num impulso, agarrou no frasco dos
comprimidos do ensaio e engoliu os 29 que continha,
tentando suicidar-se. Arrependendo-se logo, foi a correr para
o corredor do prédio, a pedir ajuda, e caiu. Uma vizinha
ouviu-o e encontrou-o no chão.

A contorcer-se, Mason contou à vizinha que tinha cometido


um erro terrível e tomara todos os comprimidos, mas não
queria realmente morrer. Então, pediu-lhe que o levasse ao
hospital e ela disse que sim. Quando chegou às urgências,
estava pálido e a suar, e tinha a tensão a 80/40 com uma
pulsação de 140. Entre fôlegos rápidos e superficiais,
repetia: “não quero morrer."

Quando o examinaram, os médicos não notaram nada de


errado, além da tensão baixa, do pulso acelerado e da
respiração rápida. Apesar disso, ele mostrava-se letárgico e
arrastava a fala. A equipa médica colocou-o a soro, colheu
amostras de sangue e urina, e perguntou-lhe que fármaco
tomara.

Mason não se lembrava do nome, mas explicou que estava a


participar num ensaio clínico de um fármaco antidepressivo.
Nessa altura, entregou-lhes o frasco vazio que tinha a
informação sobre o ensaio clinico no rótulo, mas não
ostentava o nome do fármaco. não havia nada a fazer, senão
esperar pelos resultados, controlar-lhe os sinais vitais para
evitar que piorasse e esperar que o pessoal administrativo
conseguisse entrar cm contacto com os investigadores
responsáveis pelo ensaio.

Quatro horas depois, e tendo os exames apresentado


resultados perfeitamente normais, chegou um médico que
tinha colaborado no ensaio clinico. Após ter verificado o
código no rótulo do frasco vazio de Mason e consultado os
registos do ensaio, o investigador anunciou que Mason
estivera a tomar um placebo e que os comprimidos que
tinha tomado não eram fármacos.

Minutos depois, a tensão e o pulso de Mason ficaram


milagrosamente normais.

E, como que por magia, também já não se sentia sonolento.


Mason tinha sido vítima do nocebo: uma substância inócua
que, combinada com fortes expectativas, provoca efeitos
nocivos.

Será mesmo possível que os sintomas de Mason tenham sido


unicamente criados pela expectativa que ele tinha das
consequências de engolir uma grande quantidade de
antidepressivos? Poderia a mente de Mason, como no caso
de Sam Londe, impelida pelas expectativas do que parecia
ser o futuro mais provável, ter-se apoderado do corpo e
criado esse cenário? Poderia isso acontecer mesmo que tal
significasse que a mente passaria a dominar funções que
normalmente não se submetem ao nosso controlo
consciente? E sendo isso possível, será verdade que se os
nossos pensamentos nos podem pôr doentes, também nos
podem restabelecer?

2. Desaparecimento mágico da depressão crônica

Janis Schonfeld, decoradora de interiores de 46 anos,


residente na Califórnia, sofria de depressão desde a
adolescência. Nunca tinha procurado ajuda, até encontrar
um anúncio num jornal, em 1997. O Instituto
Neuropsiquiátrico da ULCA procurava voluntários para se
submeterem ao ensaio clinico de um novo antidepressivo
chamado venlafaxina (Etfexor). Schonfeld, esposa e mãe,
cuja depressão já chegara ao ponto de a levar a pensar no
suicídio, agarrou com ambas as mãos a hipótese de
participar no ensaio.

Ao chegar ao instituto pela primeira vez, um técnico ligou-a


a um eletroencefalógrafo (EEG) para verificar e registar a
sua atividade cerebral durante 45 minutos. Pouco depois,
Schonfeld já saía da farmácia do hospital com um frasco de
comprimidos. Sabia que cerca de metade do grupo de 51
participantes receberia o fármaco e cerca de metade
receberia um placebo, embora nem ela nem os médicos
responsáveis pelo estudo soubessem a que grupo é que ela
pertencia. Aliás, essa informação só seria revelada no fim do
estudo. Naquela altura, Schonfeld não queria saber. Estava
entusiasmada e tinha esperança de finalmente conseguir
ajuda para tratar a depressão clínica com que se debatia há
décadas e que tantas vezes a fazia desatar a chorar sem
motivo aparente.

Schonfeld comprometeu-se a ir ao hospital semanalmente,


durante as oito semanas do estudo. Sempre que lá ia,
respondia a um questionário sobre como se sentia e, por
vezes, fazia um EEG. não muito tempo depois de ter
começado a tomar os comprimidos, Schonfeld começou a
sentirse notoriamente melhor pela primeira vez na vida.
Ironicamente, também sentia náuseas, mas isso era bom
sinal, porque sabia que a náusea era um dos efeitos
secundários mais vulgares do fármaco testado. Estava
convencida de que estava a tomar o fármaco, porque sentia
não só a depressão desaparecer, como também efeitos
secundários. Até a enfermeira com quem falava todas as
semanas estava certa de que Schonfeld estava a tomar o
fármaco, porque só isso explicava as mudanças que
apresentava.

Por fim, terminadas as oito semanas do estudo, um dos


investigadores revelou a chocante verdade: Schonfeld. que
já não tinha ideação suicida e se sentia outra pessoa a tomar
os comprimidos, fora colocada no grupo do placebo.

Schonfeld ficou chocada. O médico só podia estar enganado.


não podia crer que se pudesse sentir tão bem, depois de
tantos anos sufocada pela depressão, apenas por tomar um
frasco de comprimidos de açúcar. E até sentira os efeitos
secundários! Tinha de haver algum erro. Quando pediu ao
médico para verificar novamente os registos, ele riu-se e,
muito bem-disposto, garantiu-lhe que o frasco que ela tinha
levado para casa e que lhe devolvera a vida só continha
comprimidos de placebo.

Em choque, Schonfeld ouviu o médico explicar-lhe que o


facto de não ter tomado medicação não significava que não
sofresse de depressão ou que não sentisse melhorias;
apenas significava que não fora o Etfexor que a fizera
sentirse melhor.

E não era a única: os resultados do ensaio depressa


revelariam que 38 por cento dos participantes do grupo do
placebo se sentiam melhor, comparados com os 52 por
cento que recebiam Etfexor. Mas quando saíram todos os
dados, os mais surpreendidos foram os investigadores: os
pacientes como Schonfeld, que

tinham melhorado com os placebos, não estavam apenas a


imaginar que se sentiam melhor; tinham mesmo alterado os
padrões das ondas cerebrais. Os registos dos EEG que
tinham sido feitos com tanta precisão durante o ensaio
apresentavam um aumento significativo da atividade no
córtex pré-frontal que, nos pacientes deprimidos, tende a
registar muito pouca atividade.

Assim, o efeito placebo não se limitou a alterar a mente de


Schonfeld —

também provocou mudanças físicas reais na sua biologia.


Por outras palavras, as coisas não aconteceram só na mente
dela; aconteceram também no cérebro dela.

Ela não se sentia apenas bem — ela estava bem. No fim do


ensaio. Schonfeld tinha literalmente um cérebro diferente,
sem ter tomado quaisquer fármacos ou feito algo diferente.
A mente mudara-lhe o corpo. Passada mais de uma década,
Schonfeld ainda se sentia muito melhor.
Como será possível que um comprimido de açúcar pudesse
não só eliminar os sintomas de uma profunda depressão,
mas também provocar autênticos efeitos secundários como
náusea? E o que significa o facto de a mesma substância
inerte ter efetivamente o poder de mudar a ativação das
ondas cerebrais, aumentando a atividade precisamente na
parte do cérebro mais afetada pela depressão? Poderá a
mente subjetiva realmente criar esse tipo de mudanças
fisiológicas objetivamente mensuráveis? O que é que ocorre
na mente e no corpo que permite que um placebo imite um
fármaco real na perfeição? Poderia o mesmo efeito
fenomenal de cura ocorrer não só com a doença mental
crônica, mas também com condições de saúde fatais como
as do cancro?

3. Uma cura “milagrosa”: Agora vê, agora não vê

Em 1957, o psicólogo da UCLA Bruno Klopfer publicou um


artigo num jornal da especialidade a relatar a história de um
homem a que chamava “Sr. Wright” e que sofria de linfoma
em estado avançado — cancro das glândulas linfáticas. O

homem tinha tumores enormes, alguns do tamanho de


laranjas, no pescoço, nas virilhas e nas axilas, e o cancro não
respondia aos tratamentos convencionais.

Passava semanas de cama, “febril, com dificuldades


respiratórias e completamente imobilizado” O médico, Philip
West, já tinha perdido a esperança — mas o próprio Wright
não perdera. Ao descobrir que o hospital onde era tratado
(em Long Beach, na Califórnia) era um dos dez hospitais e
centros de investigação do pais que estavam a avaliar um
fármaco experimental extraído de sangue de cavalo
chamado Krebiozen, Wright ficou muito

entusiasmado. Passou dias a insistir com o Dr. West para que


lhe desse o novo remédio e conseguiu convencê-lo (apesar
de Wright não poder participar oficialmente no ensaio, que
exigia pacientes com uma esperança de vida mínima de três
meses).

Wright recebeu a injeção de Krebiozen numa sexta-feira e,


na segunda-feira seguinte, já andava, ria e brincava com as
enfermeiras, parecendo um homem novo. O Dr. West relatou
que os tumores “tinham derretido como bolas de neve num
fogão quente”. Em três dias, os tumores passaram a metade
do tamanho original. Dez dias depois, Wright foi mandado
para casa — estava curado.

Parecia um milagre.

Mas, dois meses mais tarde, os meios de comunicação social


divulgaram que, nos dez ensaios, o Krebiozen se tinha
revelado um fracasso. Assim que leu as notícias, Wright
convenceu-se de que o fármaco não prestava e teve
imediatamente uma recaída, seguida do reaparecimento dos
tumores.

Suspeitando de que a resposta positiva inicial de Wright se


tinha devido ao efeito placebo e sabendo que o paciente
estava num estado terminal, o Dr. West considerou que
pouco tinha a perder — e que Wright tudo tinha a ganhar —
se testasse a sua teoria. Assim, disse a Wright para não
acreditar no que diziam os jornais e que ele só sofrerá uma
recaída porque o Krebiozen que lhe tinham dado provinha de
um lote defeituoso. Estava a chegar ao hospital aquilo a que
o Dr.

West chamava “uma nova versão aperfeiçoada e


duplamente reforçada" do fármaco e Wright poderia começar
a tomá-la imediatamente.

Wright ficou animado com a expectativa da cura e, uns dias


depois, recebeu a injeção. Mas, dessa vez, a seringa que o
Dr. West utilizou não continha qualquer fármaco, nem sequer
experimental. Apenas continha água destilada.

Mais uma vez, os tumores desapareceram como por magia.


Feliz da vida, Wright voltou para casa e passou dois meses
muito bem, sem tumores no corpo.

Foi então que a American Medical Association anunciou que


o Krebiozen era efetivamente um fracasso. A instituição
médica fora ludibriada. O “fármaco milagroso” não passava
de um embuste: nada mais do que óleo mineral acrescido de
um simples aminoácido. Os fabricantes acabaram por ser
indiciados. Ao ouvir a notícia, Wright recaiu pela última vez
— já sem acreditar na possibilidade de restabelecer a saúde.
Sem qualquer esperança, voltou para o hospital e morreu
dois dias depois.

Será possível que Wright tenha, de alguma forma, alterado o


seu estado de ser, não uma mas duas vezes, para o de um
homem que simplesmente não tinha cancro, no espaço de
alguns dias? Terá o seu corpo respondido automaticamente a
uma nova mente? E poderia ele ter alterado novamente o
estado para o de um homem com cancro, depois de ouvir
dizer que o fármaco era considerado um

fracasso, com o corpo a criar exatamente a mesma química


e a regressar ao familiar estado de doença? Será possível
conseguir alcançar um novo estado bioquímico não só
através de um comprimido ou de uma injeção, mas também
de um procedimento tão invasivo como a cirurgia?

1. A cirurgia ao joelho que nunca aconteceu

Em 1996, o cirurgião ortopédico Bruce Moseley, na altura do


Baylor College of Medicine e um dos principais especialistas
em ortopedia desportiva de Houston, publicou um estudo
experimental baseado na sua experiência com dez
voluntários — homens que tinham servido no exército e que
sofriam de osteoartrite do joelho. Dada a gravidade do seu
estado, muitos coxeavam, caminhavam apoiados numa
bengala, ou precisavam de algum tipo de assistência para se
deslocarem.

O estudo visava observar a cirurgia artroscópica, uma


intervenção popular que implicava anestesiar o paciente
antes de se fazer uma pequena incisão para inserir um
instrumento de fibra ótica chamado artroscópio e que o
cirurgião utilizaria para ver bem a articulação do paciente.
Na cirurgia, o médico rasparia e limparia a articulação para
remover fragmentos de cartilagem degenerada, que muito
provavelmente seriam a causa da inflamação e da dor.
Nessa época, cerca de 750 mil pacientes eram submetidos a
essa cirurgia todos os anos.

No estudo do Dr. Moseley, dois dos dez homens iam fazer a


cirurgia padrão, chamada desbridamento (em que o
cirurgião raspa pedaços de cartilagem da articulação do
joelho); três iam submeter-se a um procedimento chamado
lavagem (em que se injeta água em alta pressão pela
articulação do joelho, lavando e arrastando com ela o
material artrítico decadente); e cinco iam fazer uma cirurgia
fictícia, em que o Dr. Moseley cortaria sabiamente a pele
com um bisturi, suturando-a depois, sem realizar nenhum
procedimento médico.

Esses cinco homens não teriam direito a artroscopia,


raspagem da articulação, remoção ou lavagem de
fragmentos ósseos — só a uma incisão e pontos.

O início de cada uma das dez intervenções era exatamente o


mesmo: o paciente era levado para a sala de operações,
onde recebia uma anestesia geral, e o Dr. Moseley
preparava-se. Ao entrar na sala de operações, o cirurgião
encontrava um envelope selado com a informação do grupo
que fora aleatoriamente atribuído ao paciente. Assim, o Dr.
Moseley só saberia o conteúdo do envelope depois de o
abrir.

Após a cirurgia, os dez pacientes do estudo relataram mais


mobilidade e menos dor. Aliás, os que foram submetidos à
cirurgia “a fingir” estavam tão bem como aqueles a quem
tinham feito desbridamento ou lavagem. não se notava

diferença nos resultados — nem seis meses mais tarde. E


seis anos depois, quando foram entrevistados, dois dos
homens que tinham sido submetidos à cirurgia placebo
disseram que ainda caminhavam normalmente, sem dores e
com maior amplitude de movimento. Além disso, afirmavam-
se capazes de realizar as atividades quotidianas que antes
da cirurgia, seis anos antes, se viam impossibilitados de
fazer. Os dois homens sentiam que tinham recuperado a
vida.

Fascinado com os resultados, o Dr. Moseley publicou outro


estudo em 2002, com a participação de 180 pacientes que
tinham sido seguidos durante dois anos, após as cirurgias.
Mais uma vez, os três grupos apresentaram melhorias, com
os pacientes a voltarem a andar sem coxear nem sentir
dores, logo após a cirurgia. Mas, mais uma vez também,
nenhum dos dois grupos de pacientes que realmente fizeram
a cirurgia melhorou mais do que os pacientes que receberam
a cirurgia placebo — e esse cenário ainda se mantinha ao
fim de dois anos.

Seria possível que esses pacientes tivessem melhorado


apenas por terem fé e acreditarem no poder de cura do
cirurgião, do hospital e, até, da resplandecente e moderna
sala de operações? Teriam eles de alguma forma visualizado
a vida com um joelho totalmente recuperado, rendendo-se a
esse possível resultado e acabando por entrar literalmente
por ele dentro? não seria o Dr. Moseley um mero feiticeiro
dos dias modernos disfarçado com uma bata de laboratório?
E

será possível obter o mesmo grau de cura perante um


estado mais grave que implique, por exemplo, uma cirurgia
ao coração?

4. A cirurgia ao coração que não aconteceu

No final dos anos 50, dois grupos de investigadores


realizaram estudos em que compararam a cirurgia à angina
de peito que era padrão na altura com um placebo. Isso
aconteceu bem antes da ponte de safena, a cirurgia que
mais se utiliza hoje. Na época, a maioria dos doentes
cardíacos submetia-se a um procedimento conhecido como
ponte mamária interna, que implicava expor e laquear
intencionalmente as artérias danificadas. Assim, se os
cirurgiões bloqueassem o fluxo sanguíneo, o corpo seria
forçado a criar novos canais vasculares, aumentando o fluxo
sanguíneo para o coração. A cirurgia foi muito bem-sucedida
para a maioria dos pacientes visados, embora os médicos
não tivessem provas concretas da criação de novos vasos
sanguíneos — daí a

motivação para os dois estudos.

Esses grupos de investigadores, um de Kansas City e outro


de Seattle, seguiram o mesmo procedimento, dividindo os
sujeitos do estudo em dois grupos. Um recebia a laqueação
mamária interna normal e o outro, uma cirurgia fictícia, em
que os cirurgiões fariam as mesmas incisões de uma cirurgia
verdadeira, expondo as artérias e suturando-as depois, sem
realizarem mais nenhum procedimento.

Os resultados de ambos os estudos foram muito


semelhantes: 67 por cento dos pacientes submetidos à
verdadeira cirurgia e 83 por cento dos pacientes submetidos
à cirurgia fictícia sentiam menos dores e precisavam de
menos medicamentos. A cirurgia placebo obtivera melhores
resultados do que a verdadeira!

Seria possível que os pacientes submetidos à cirurgia fictícia


acreditassem tanto que se sentiriam melhor a ponto de
melhorarem mesmo — apenas por terem boas expectativas?
E sendo possível, o que revela isso acerca dos efeitos que os
pensamentos, positivos ou negativos, têm sobre o corpo e a
saúde?

5. A atitude é tudo

Muitos estudos demostram que a atitude afeta efetivamente


a saúde e, até, a esperança de vida. Por exemplo, a Mayo
Clinic publicou um estudo em 2002 que seguiu 447 pessoas
durante mais de 30 anos e que revelou que os otimistas
eram física e mentalmente mais saudáveis. Otimista significa
literalmente “o melhor”, o que sugere que essas pessoas
centram a atenção no melhor cenário futuro.

Mais especificamente, os otimistas tinham menos


dificuldades nas atividades diárias, devido à sua saúde física
ou ao seu estado emocional; sentiam menos dores; eram
mais enérgicos; lidavam melhor com as atividades sociais; e
passavam uma boa parte do tempo mais felizes, calmos e
tranquilos. Essa conclusão está alinhada com outro estudo
da Mayo Clinic que seguiu mais de 800 pessoas durante 30
anos e que demonstrou que os otimistas vivem mais tempo
do que os pessimistas.

Investigadores de Yale seguiram 660 pessoas, com idade


igual ou superior a 50 anos, durante 23 anos, e descobriram
que as que tinham uma atitude positiva sobre o
envelhecimento viviam pelo menos mais sete anos do que
as que tinham atitudes negativas. A atitude influenciava
mais a longevidade do que a tensão arterial, os níveis de
colesterol, o vício do tabaco, o peso corporal, ou a prática

de exercício físico.

Outros estudos observaram mais concretamente a saúde


cardíaca e a atitude. Mais ou menos na mesma época, um
estudo da Duke University que acompanhou 866 pacientes
com problemas de coração concluiu que os que sentiam
regularmente mais emoções positivas tinham mais 20 por
cento de hipóteses de ainda estar vivos onze anos depois do
que os que tendiam a sentir mais emoções negativas. Mais
impressionantes ainda foram os resultados de um estudo de
255 estudantes da Escola de Medicina de Georgia que
tinham acompanhados durante 25 anos: os mais hostis
acusaram uma incidência cinco vezes superior de doença
cardíaca. E um estudo do Johns Hopkins apresentado nas
Sessões Científicas da American Heart Association em 2001
demonstrou que manter uma atitude positiva pode ser a
proteção mais forte até agora conhecida contra a doença
cardíaca nos adultos de risco por questões genéticas. Esse
estudo sugere ainda que ter a atitude mais correta pode ser
tão ou mais importante do que comer bem, praticar exercício
físico adequado e controlar o peso.

Como poderá o nosso estado de espírito diário — seja ele


mais alegre e amável ou mais hostil e negativo — contribuir
para a nossa esperança de vida?

Poderemos alterá-lo? E, nesse caso, poderá o novo estado de


espirito anular o condicionamento da nossa mente pelas
experiências passadas? Ou poderá a expectativa de uma
coisa negativa contribuir para que ela aconteça mesmo?

6. Enjoo antes da agulha


Segundo o National Cancer Institute, cerca de 29 por cento
dos pacientes que fazem quimioterapia sofrem de um
problema chamado náusea antecipatória quando são
expostos a cheiros e imagens que lhes recordem os
tratamentos.

Cerca de 11 por cento sentem-se tão mal antes dos


tratamentos que chegam a vomitar. Enquanto alguns
pacientes de cancro começam a sentirse enjoados no carro,
a caminho dos tratamentos e ainda antes de entrarem no
hospital, outros vomitam na sala de espera.

Um estudo de 2001 do Cancer Center da Universidade de


Rochester publicado no Journal of Pain and Symptom
Management concluiu que a expectativa da náusea era o
indicador mais forte de que os pacientes a sentiriam.

Os dados dos investigadores revelaram que 40 por cento dos


pacientes de quimioterapia que pensavam que se sentiriam
mal — porque os médicos os tinham alertado para a
possibilidade de se sentirem mal depois do tratamento —

começaram a sentir náuseas antes da administração do


tratamento. Mais 13 por cento dos que diziam não saber
bem o que esperar também se sentiram mal. Já de entre os
pacientes que não esperavam ter náuseas nenhum se sentiu
mal.

Como é que algumas pessoas se convencem tanto de que se


sentirão mal com os fármacos da quimioterapia que acabam
por se sentir mal ainda antes de Ihos administrarem? Será
possível que seja o poder dos seus pensamentos o que as
faz sentirse mal? E, sendo assim, esses 40 por cento dos
pacientes de quimioterapia não poderíam, pelo contrário,
sentirse bem, alterando simplesmente as expectativas que
têm sobre o estado de saúde ou de como será o seu dia? não
poderia esse pensamento de que a pessoa aceita fazê-la
sentirse melhor?

7. Desaparecimento dos problemas digestivos

Há não muito tempo, quando estava prestes a sair do avião


em Austin, conheci uma mulher que estava a ler um livro
que me chamou a atenção.

Estávamos de pé, ã espera de que nos deixassem


desembarcar, quando vi o livro no saco dela; o titulo
continha a palavra crença. Sorrimos um para o outro e
perguntei-lhe de que tratava o livro.

“Cristianismo e fé”, respondeu. “Porque pergunta?”

Expliquei-lhe que estava a escrever um livro sobre o efeito


placebo e que era sobre a crença.

“Vou contar-lhe uma história", disse ela.

Começou por me contar que, anos antes, lhe tinham


diagnosticado intolerância ao glúten, doença celíaca, colite e
diversas patologias, entre as quais, dores crônicas. Tinha lido
sobre todas essas doenças e consultado diferentes
profissionais de saúde. Aconselharam-na a evitar
determinados alimentos e receitaram-lhe alguns
medicamentos. Ela seguira todos os conselhos e tomara
todos esses medicamentos sem, contudo, deixar de sentir
dores em todo o corpo. Além disso, não conseguia dormir,
tinha urticaria, graves problemas digestivos e sofria de
diversos sintomas desagradáveis. Então, passados alguns
anos, consultou um novo médico, que a mandou fazer
análises ao sangue. E os resultados das análises foram
negativos para todas essas doenças.
“No dia em que descobri que. afinal, era uma pessoa normal,
sem qualquer problema de saúde, pensei para comigo estou
ótima e deixei de sentir todos os sintomas que até então
sentia. Passei imediatamente a sentir-me em excelentes
condições e a poder comer o que quisesse", contou-me,
entusiasmada. Sorrindo, acrescentou: “Acredita nisso?"

Se é verdade que aprender nova informação que nos leva a


dar uma volta de

180 graus no que acreditamos sobre nós próprios contribui


para o desaparecimento dos nossos sintomas, então, o que é
que se altera no nosso organismo e faz com que isso
aconteça? Qual é. mais precisamente, a relação, entre a
mente e o corpo? Poderiam essas novas crenças mudar
realmente as químicas cerebrais e corporais, reorganizando
fisicamente a estrutura neurológica da noção que temos de
nos próprios e alterar-nos a expressão genética? Poderíamos
tornar-nos efetivamente outras pessoas?

8. Parkinson versus placebo

A doença de Parkinson é um distúrbio neurológico


caracterizado pela degeneração gradual dos neurônios numa
zona do mesencéfalo que se chama gânglios de base, que
controlam os movimentos corporais. O cérebro de quem
sofre desta desoladora doença não produz quantidades
suficientes do neurotransmissor dopamina, de que os
gânglios de base necessitam para o seu normal
funcionamento. De entre os primeiros sintomas da doença
de Parkinson, atualmente considerada incurável, destacam-
se dificuldades motoras, como rigidez muscular, tremores e
alterações incontroláveis nos padrões de marcha e discurso.

Num estudo, uma equipa de investigadores da Universidade


da Columbia Britânica em Vancouver informou um grupo de
pacientes de Parkinson de que lhes iriam dar um fármaco
que aliviaria significativamente os sintomas. Na verdade, os
pacientes receberam um placebo — nada mais do que uma
injeção de soro. Apesar disso, depois de receberem uma
injeção sem qualquer medicamento, metade passou a sentir
mais controlo motor.

Ao realizarem exames de imagiologia aos cérebros dos


pacientes para perceberem melhor o que tinha acontecido,
os investigadores descobriram que as pessoas que
responderam positivamente ao placebo estavam a produzir
dopamina no cérebro — até 200 por cento mais do que
antes. Para conseguir um efeito equivalente com um
fármaco, teriam de receber quase uma dose completa de
anfetamina — um fármaco psicotrópico que também
aumenta a produção de dopamina.

Aparentemente, a simples expectativa de melhoria libertou


um qualquer poder até ali dormente nos pacientes de
Parkinson que espoletou a produção de dopamina —
exatamente aquilo de que o organismo precisava para
melhorar. E, sendo isso verdade, qual é o processo que leva
a que o pensamento por si só

produza dopamina no cérebro? Poderá esse novo estado


interior, provocado pela combinação da intenção clara e de
um estado emocional acentuado, tornar-nos mesmo
invencíveis em determinadas situações, ativando o nosso
armazenamento interno de farmácia e anulando as
circunstâncias genéticas da doença que antes
considerávamos escapar-nos ao controlo consciente?

9. Das serpentes mortíferas e da estricnina

Em certas zonas dos Apalaches existem bolsas de um ritual


religioso centenário conhecido como manipulação de
serpentes, ou “pegar em serpentes” Embora o Virgínia
Ocidental seja o único estado onde essa prática continua a
ser legal, nada impede os fiéis de outros estados de a
seguirem e sabe-se até que a policia lhe faz vista grossa.
Nessas pequenas e modestas igrejas, quando as
congregações se juntam para o culto, o pregador entra com
uma ou mais caixas de madeira em forma de pastas, com
portas de plástico perfuradas para ventilação, e pousa-as
cuidadosamente diante do santuário ou da sala, perto do
púlpito. Pouco depois, começa a música, normalmente uma
mistura mexida de melodias country/western e bluegrass
com letras profundamente religiosas sobre a salvação e o
amor de Jesus. Os músicos cantam e tocam teclados,
guitarras elétricas e até baterias que fariam inveja a
qualquer banda de adolescentes, enquanto os paroquianos
tocam pandeiretas, movidos pelo espírito. Com a energia a
aumentar, o pregador pode acender uma vela em cima do
púlpito e pôr a mão na chama, passando-a pela palma da
mão antes de percorrer lentamente com ela os braços
despidos. Está apenas a “aquecer”.

Os congregantes depressa começam a sacudir o corpo e a


pousar as mãos uns nos outros, falando noutras línguas e
saltando, dançando ao som da música, louvando o seu
salvador. Tomados pelo espírito, passam a “estar ungidos'*,
como lhe chamam. Nessa altura, o pregador abre uma das
caixas, enfia a mão lá dentro e retira uma serpente mortífera
— normalmente uma cascavel, uma víbora boca-de-algodão
ou cabeça-de-cobre. Também ele dança e sua bastante,
pegando na serpente pelo meio, de modo a ter a cabeça
dela assustadoramente perto da sua cabeça e do seu
pescoço.

Pode levantar a serpente no ar e fazê-la descer bem junto do


corpo, enquanto dança, permitindo-lhe enrolar a parte
inferior no braço e girar a parte
superior no ar, à sua vontade. Depois, pode ir buscar uma
segunda ou terceira serpentes e os congregantes, homens e
mulheres, juntam-se a ele, manuseando as serpentes
enquanto sentem a unção apoderar-se deles. Nalguns cultos,
o pregador chega a ingerir veneno, como estricnina, de um
copo, sem sofrer quaisquer efeitos nocivos.

Muito embora os manuseadores de serpentes sejam por


vezes mordidos, tendo em conta os milhares de cultos em
que os crentes fervorosos metem as mãos nessas caixas
sem qualquer hesitação ou receio, podemos dizer que não é
frequente. E mesmo quando acontece, nem sempre morrem
— apesar de não irem a correr para o hospital, preferindo
juntar a congregação ao seu redor a rezar. Como é que essas
pessoas não são mordidas mais vezes? E porque é que não
morrem mais quando são mordidas? Como conseguem
aceder a um estado mental que lhes elimina o receio dessas
criaturas venenosas cuja mordedura é notoriamente
mortífera e como pode esse estado mental protegê-las?

Em situações de emergência, podem ocorrer demonstrações


de uma força extraordinária conhecida como “força
histérica". Em abril de 2013, por exemplo, Hannah Smith, de
16 anos, e a irmã Haylee, de 14. de Lebanon, no Oregon,
levantaram um trator de 1300 kg debaixo do qual o pai. Jeff
Smith, tinha ficado preso. E caminhar sobre o fogo, ou seja,
sobre brasas incandescentes — um ritual sagrado de
algumas tribos indígenas que se ensina em workshops aos
ocidentais? Ou os homens do carnaval ou que praticam uma
dança javanesa tradicional que os põe em transe e os faz
sentirse compelidos a mastigar e engolir vidro (um distúrbio
conhecido como hilofagia)?

Como serào possíveis esses feitos aparentemente sobre-


humanos? Terão eles alguma coisa de vital em comum? Será
que» no auge da inabalável crença, essas pessoas de
alguma forma mudam o corpo, tornando-se imunes aos seus
ambientes? E poderá a mesma crença firme que tanto poder
dá a quem manuseia serpentes e caminha sobre as brasas
funcionar no sentido inverso, prejudicando-nos — e, até,
matando-nos sem que estejamos cientes do que fazemos?

10. Vitória sobre o vudu

Em 1938, um homem de 60 anos que vivia numa zona rural


do Tennessee passou quatro meses a adoecer cada vez mais,
até que a mulher o levou a um pequeno hospital da cidade.
Nessa altura, Vance Vanders (nome fictício) já tinha perdido
mais de 22 kg e parecia estar a morrer. O médico, o Dr.
Drayton Doherty,

desconfiava de que Vanders sofria de tuberculose ou, até, de


cancro, mas os vários exames e radiografias que mandou
fazer não acusaram nada. não havia qualquer indício do que
poderia estar a provocar aqueles problemas. Como Vanders
se recusava a comer, tiveram de lhe introduzir um tubo para
o alimentar, mas ele teimava em vomitar tudo o que lhe
dessem. Convencido de que ia morrer, continuava a piorar e,
a certa altura, já mal falava. O fim parecia estar próximo e o
Dr. Doherty não tinha ideia do que poderia estar a motivar
aquele estado.

Perturbada, a mulher de Vanders pediu para ter uma


conversa em particular com o Dr. Doherty e, pedindo-lhe
discrição, informou-o de que o problema do marido era ter
sido vítima de “vudu”. Aparentemente, Vanders, que vivia
numa comunidade onde o vudu era uma prática corrente,
tivera uma discussão com um padre de vudu local. Ora, esse
mesmo padre pedira a Vanders para ir ter com ele ao
cemitério a altas horas da noite e lançara-lhe um feitiço,
agitando uma garrafa com um líquido fétido diante da cara
dele. Depois, disselhe que ele não tardaria a morrer sem que
ninguém o pudesse salvar. Era isso. Convencido de que tinha
os dias contados, Vanders passara a crer numa sombria
realidade futura. Ao regressar a casa, o homem, derrotado,
continuava a não querer comer e a mulher acabou por ter de
o levar novamente ao hospital.

Depois de ouvir aquela história, o Dr. Doherty lembrou-se de


uma estratégia muito pouco ortodoxa para tratar o paciente.
De manhã, reuniu a família de Vanders à volta da cama dele
e informou-a de que já sabia exatamente como curar o
homem doente. Todos escutaram com atenção a história que
inventara. O Dr. Doherty explicou que, na noite anterior,
tinha encontrado um estratagema para fazer com que o
padre de vudu se encontrasse consigo no cemitério e lhe
revelasse o feitiço que lançara a Vanders. não fora fácil;
como seria de esperar, o padre não queria colaborar. Só
tinha cedido porque o Dr.

Doherty o encostara a uma árvore e lhe apertara o pescoço.

O padre dissera ao médico que esfregara ovos de lagarto na


pele de Vanders e que esses ovos lhe tinham chegado ao
estômago, onde tinham chocado. A maioria dos lagartos
tinha morrido, contudo, sobrevivera um enorme, que estava
a comer o corpo de Vanders de dentro para fora. Assim, o Dr.
Doherty queria anunciar-lhes que bastava retirar o lagarto do
corpo de Vanders para o curar.

Em seguida, chamou a enfermeira, que lhe trouxe uma


grande seringa com o que o Dr. Doherty afirmava ser um
potente medicamento. Na verdade, a seringa continha um
medicamento de indução do vômito. Depois de verificar
cuidadosamente a seringa para se certificar de que estava
tudo em ordem, o médico administrou cerimoniosamente a
injeção. De seguida, para grande espanto da família, saiu da
sala em silêncio.
Pouco depois, o paciente começou a vomitar. Então, a
enfermeira trouxe-lhe uma bacia sobre a qual Vanders se
curvou a gemer. Quando achou que ele já estaria prestes a
deixar de vomitar, o Dr. Doherty voltou a entrar
confiantemente no quarto. Aproximando-se da cama, retirou
um lagarto verde da mala e escondeu-o na palma da mão.
Assim que Vanders vomitou outra vez, o médico largou sub-
repticiamente o réptil na bacia.

“Veja, Vance!” gritou ele no tom mais dramático que


conseguia. “Veja só o que saiu de dentro de si. Está curado.
O feitiço do vudu foi-lhe retirado!”

O quarto estava num grande alarido. Alguns familiares


caíram a gemer. O

próprio Vanders se afastou da bacia com os olhos


arregalados. Minutos depois, adormeceu profundamente e
dormiu mais de 12 horas.

Quando finalmente acordou, Vanders tinha muita fome e


comeu tanto que o médico até tinha medo que lhe
rebentasse o estômago. Uma semana depois, o paciente já
tinha recuperado o peso e as forças. Saiu do hospital de boa
saúde e ainda viveu mais dez anos.

Será possível que um homem se possa deixar morrer,


simplesmente por se julgar enfeitiçado? Poderá o curandeiro
contemporâneo, de estetoscópio ao pescoço e bloco de
receitas em riste, falar conosco com a mesma convicção com
que o padre de vudu falara a Vanders — e poderemos nós ter
a mesma crença? E

se uma pessoa pode, em certa medida, decidir


simplesmente morrer, não poderá também outra que sofra
de uma doença terminal decidir viver? Poderá uma pessoa
alterar permanentemente o seu estado interior —
descartando-se da sua identidade de vítima de cancro ou
artrite, de doença cardíaca ou de Parkinson —

e pura e simplesmente reentrar num corpo saudável, com a


mesma facilidade com que se despe uma roupa e se veste
outra? Nos próximos capítulos, exploramos o que é
realmente possível e como isso se aplica ao seu caso.

6. CAPITULO 2

Breve história do placebo

Como se costuma dizer, “para grandes males, grandes


remédios" Quando servia na Segunda Guerra Mundial, Henry
Beecher, cirurgião americano formado em Harvard, ficou
sem morfina. Perto do fim da guerra» era frequente isso
acontecer nos hospitais de campanha. Na altura, Beecher
estava prestes a operar um soldado gravemente ferido e
receava que, sem analgésicos, ele pudesse entrar em estado
de choque. O que aconteceu a seguir surpreendeu-o.

Sem perder tempo, mandou uma das enfermeiras encher


uma seringa com soro fisiológico e injetá-la no soldado,
como se fosse morfina. O soldado acalmou-se logo, reagindo
como se tivesse recebido morfina, apesar de só ter recebido
água salgada. Beecher procedeu à operação, cortando a pele
do solado, fazendo os devidos tratamentos e cosendo-o —
tudo sem anestesia. O soldado não sentiu muitas dores nem
entrou em estado de choque. Como poderia água salgada
substituir morfina?, pensou Beecher.

Depois desse incrível êxito, sempre que o hospital de


campanha ficava sem morfina, Beecher fazia o mesmo:
injetava soro, como se estivesse a injetar morfina.
Convencido do poder dos placebos, quando regressou aos
Estados Unidos, depois da guerra, começou a estudar o
fenômeno.
Em 1955, Beecher tez história, ao fazer uma análise clinica
de 15 estudos publicados pelo Journal of the American
Medical Association que não só abordavam a enorme
importância dos placebos, como também apelavam a um
novo modelo de investigação médica que nomeasse
aleatoriamente voluntários para receberem medicamentos
ativos ou placebos — aquilo a que já chamava ensaios
clínicos controlados aleatórios evitando assim que o potente
efeito placebo distorcesse os resultados.

A noção de que podemos alterar a realidade física


exclusivamente através do pensamento, da crença e da
expectativa (estejamos ou não conscientes disso)
certamente que não começou nesse hospital de campanha
da Segunda Guerra Mundial. A Bíblia está repleta de histórias
de curas milagrosas e é frequente, nos tempos modernos, as
pessoas acorrerem em massa a locais como Lourdes no sul
de França (onde uma camponesa de 14 anos chamada
Bernadette teve uma visão da Virgem Maria em 1858),
deixando para trás muletas, aparelhos e cadeiras de rodas
como prova da sua cura. Há relatos de milagres idênticos em
Fátima, Portugal (onde três crianças pastoras viram uma
aparição da Virgem Maria em 1917), e associados a uma
estátua itinerante de Maria, talhada para o 30.o

aniversário da aparição. A estátua foi baseada na descrição


feita pela criança mais velha que, na época, já se tornara
freira, e foi abençoada pelo Papa Pio XII, antes de ser
enviada para o mundo.

A cura pela fé não se limita, de forma alguma, à tradição


cristã. O falecido guru indiano Sathya Sai Baba, considerado
por muitos como um avatar — a manifestação de uma
divindade era famoso por manifestar uma cinza sagrada
chamada vibhuti nas palmas das mãos. Diz-se que,
consumida ou aplicada como unguento na pele, essa fina
cinza curava muitos males físicos, mentais e espirituais. Diz-
se também que os lamas tibetanos têm poderes de cura,
sendo possível tratar os doentes com o hálito.

Até os reis franceses e ingleses que reinaram entre os


séculos IV e IV

curavam os súbditos, encostando-lhes apenas as mãos. O


Rei Carlos II de Inglaterra era particularmente famoso por
isso, tendo-o feito cerca de 100 mil vezes.

O que é que provocará esses eventos chamados milagrosos,


independentemente de o instrumento de cura ser a fé numa
divindade ou os poderes extraordinários de uma pessoa, um
objeto, ou, até, um local considerado sagrado ou santo?
Através de que processo podem a fé e a crença produzir
esses efeitos tão profundos? Poderá a forma como
atribuímos significado a um ritual

— seja ele rezar o terço, esfregar um pouco de cinza sagrada


na pele ou tomar um novo fármaco milagroso receitado por
um médico de confiança — contribuir para o fenômeno do
placebo? O que é que no estado mental interior das pessoas
que recebem essas curas foi influenciado ou alterado por
determinadas condições do ambiente exterior (uma pessoa,
local ou coisa no momento certo), a ponto de o novo estado
mental daí resultante produzir mudanças físicas reais?

1. Do magnetismo à hipnose

Na década de 1770, o médico vienense Franz Anton Mesmer


ganhou uma boa reputação ao desenvolver e demonstrar o
que na época se considerava ser um modelo médico de cura
milagrosa. A partir de uma ideia de Sir Isaac Newton acerca
do efeito da gravidade planetária sobre o corpo humano,
Mesmer começou a crer que o corpo continha um fluido
invisível que poderia ser manipulado para curar as pessoas,
recorrendo a uma força a que chamava

“magnetismo animal”.

A sua técnica consistia em pedir aos pacientes que fixassem


atentamente os

olhos dele, antes de passar ímanes sobre os seus corpos


para dirigir e equilibrar esse fluido magnético.
Posteriormente, descobriu que podia produzir o mesmo
efeito só com as mãos (sem os ímanes). Pouco depois do
início de cada sessão, os pacientes começavam a tremer e a
contorcer-se, com convulsões que Mesmer considerava
terapêuticas. O médico continuava a equilibrar-lhes os
fluidos até eles acalmarem. Utilizava essa técnica para curar
diversas maleitas, desde perturbações graves como paralisia
e distúrbios convulsivos, a dificuldades menores, como
problemas menstruais e hemorroidas.

No seu caso mais famoso, Mesmer curou parcialmente a


pianista Maria Theresia von Paradis de “cegueira histérica”,
um problema psicológico de que sofria desde os trés anos. A
doente passou semanas em casa de Mesmer para ele a
tratar. Por fim, o médico conseguiu fazê-la ver movimentos e
distinguir cores.

Os pais dela, contudo, não ficaram muito contentes com os


progressos, porque corriam o risco de perder a pensão
principesca que recebiam devido à doença da filha. Além
disso, ao recuperar a visão, o talento como pianista começou
a deteriorar-se, porque ela Já podia ver os dedos no teclado.
Corriam rumores nunca consubstanciados de que Mesmer
mantinha uma relação indecente com a pianista. Os pais
dela retiraram-na à força da casa do médico, a cegueira
voltou e a boa reputação de Mesmer diminuiu
consideravelmente.
Depois de observar atentamente Mesmer, Armand-Marie-
Jacques de Chastenet, o aristocrata francês conhecido como
Marquis de Puységur, pegou nas ideias dele e levou-as mais
longe. Puységur induzia um profundo estado de transe a que
chamava "sonambulismo magnético” (idêntico ao
sonambulismo), em que os sujeitos acediam a pensamentos
profundos e, até, intuitivos, sobre a própria saúde e a saúde
dos outros. Nesse estado, ficavam extremamente suscetíveis
a sugestões e cumpriam ordens, mas não se lembravam de
nada do que tinham feito, depois de despertarem. Enquanto
Mesmer pensava que era o profissional que exercia poder
sobre o sujeito, Puységur acreditava que era o pensamento
do sujeito que exercia poder sobre o próprio corpo (orientado
pelo praticante); talvez tenha sido uma das primeiras
tentativas de exploração terapêutica da relação corpo-
mente.

Na primeira década de 1800, o cirurgião escocês James Braid


levou a ideia do fascínio ainda mais longe, desenvolvendo
um conceito a que chamou

“neurohipnose” (aquilo a que atualmente chamamos


hipnose). Braid passou a interessar-se pelo tema quando, em
certa ocasião, chegou atrasado a uma consulta e deu com o
paciente calmamente sentado, a fitar, fascinado, a chama de
um candeeiro a petróleo. Foi então que percebeu que, com a
atenção tão

cativada, o paciente ficava num estado extremamente


sugestionável, “cansando”

determinadas zonas do cérebro.

Depois de muitas experiências, Braid aprendeu a fazer com


que os seus sujeitos se concentrassem numa única ideia,
enquanto fitavam um objeto, entrando numa espécie de
estado de transe em que ele acreditava poder curar-lhes
problemas de saúde, incluindo artrite reumatoide crônica,
incapacidades sensoriais e diferentes complicações
resultantes de lesões na coluna vertebral e de enfarte. O
livro de Braid intitulado Neuropsycology narra muitos dos
seus êxitos em pormenor, entre eles a cura de uma mulher
de 33 anos com as pernas paralisadas e de outra de 54 anos
com problemas de pele e intensas cefaleias.

Foi então que o estimado neurologista francês Jean-Martin


Charcot interferiu no trabalho de Braid, afirmando que só os
doentes de histeria — que considerava ser um distúrbio
neurológico hereditário e irreversível —

conseguiam entrar nesse tipo de estado de transe. Utilizava


a hipnose não para curar os pacientes, mas para estudar os
seus sintomas. Por fim, um médico rival de Charcot,
chamado Hippolyte Bernheim, da Universidade de Nancy,
começou a insistir em que a suscetibilidade à sugestão tão
vital na prática da hipnose não se restringia apenas aos
histéricos, sendo natural em todos os seres humanos.

Bernheim implantava ideias nos seus sujeitos, dizendo-lhes


que, quando acordassem do transe, se sentiriam melhor e
sem sintomas; assim, servia-se do poder da sugestão como
ferramenta terapêutica. O trabalho de Bernheim ainda
chegou à primeira década do século XX.

Muito embora cada um deles tivesse enfoques e técnicas


diferentes, todos esses primeiros exploradores do poder da
sugestão ajudaram centenas e centenas de pessoas a curar
uma ampla variedade de problemas físicos e mentais,
alterando o que pensavam sobre as maleitas e as respetivas
formas de expressão corporal.

Nas duas primeiras grandes guerras, os médicos militares e,


nomeadamente, o psiquiatra militar Benjamin Simon
utilizaram o conceito de sugestão hipnótica (de que falarei
mais adiante) para ajudar os soldados retornados que
sofriam do trauma que começou por ser chamado de
“neurose de guerra”, mas que passou a ser conhecido como
perturbação de stress pós-traumâtico (PTSP). Esses
veteranos tinham vivido experiências de guerra tão horríveis
que muitos se tinham deixado entorpecer intencionalmente
pelas emoções para se protegerem, desenvolvido amnésia
em relação aos acontecimentos mais horrendos ou, pior
ainda, reviviam constantemente essas experiências em
flashbacks — condições que podem provocar doenças físicas
induzidas pelo stress. Simon e os seus colegas consideravam
a hipnose extremamente útil para ajudar os veteranos a
enfrentar

os seus traumas e a lidar com eles, impedindo-os de se


traduzirem em ansiedade e problemas físicos (como
náuseas, hipertensão e outros problemas cardiovasculares
ou, até, depressão imunitária). À semelhança dos médicos
do século anterior, os médicos militares que utilizavam a
hipnose ajudaram os pacientes a alterar os seus padrões de
pensamento para se restabelecerem e recuperarem a saúde
mental e física.

Essas técnicas de hipnose tiveram tanto êxito que os


médicos civis começaram a interessar-se pelo poder da
sugestão, embora muitos não chegassem a induzir o estado
de transe nos pacientes e optassem por lhes dar
ocasionalmente comprimidos de açúcar e outros placebos,
assegurando-lhes que esses “medicamentos” lhes fariam
bem. Muitos pacientes melhoravam efetivamente, reagindo
à sugestão como os soldados feridos de Beecher haviam
reagido à crença de que estavam a receber injeções de
morfina. Tratava-se, aliás, da era de Beecher e, depois de
este ter escrito o seu estudo revolucionário de 1955
apelando à utilização de ensaios clínicos controlados e
aleatórios com placebos para testar fármacos, o placebo
passou a ser parte integrante da investigação médica.

As ideias de Beecher ficaram bem assentes. Inicialmente, os


investigadores esperavam que o grupo de controlo de um
ensaio (o grupo que tomava o placebo) permanecesse
neutro e que as comparações com o grupo que se
encontrava a tomar o tratamento ativo demonstrasse a
eficácia deste. Porém, em muitos ensaios. os participantes
do grupo de controlo apresentava claras melhorias — por si
só e devido à expectativa e à crença de estarem a tomar um
fármaco ou a receber um tratamento que os ajudaria. O
placebo em si poderia ser inerte, mas o efeito não era de
modo algum inerte e essas crenças e expectativas
revelavam-se extremamente poderosas! Desse modo, para
que os dados pudessem ser verdadeiramente significativos,
esse efeito teria de ser comprovado de alguma forma.

Para isso, e acedendo ao pedido de Beecher, os


investigadores fizeram dos ensaios duplo-cegos aleatórios a
norma, nomeando aleatoriamente sujeitos dos dois grupos
para receberem tratamento ativo ou de placebo e
certificando-se de que nenhum dos intervenientes, sujeitos
ou investigadores, soubesse quem tomava o quê. Assim, os
dois grupos poderiam ter sujeitos a receber o placebo e
nenhum dos investigadores teria a possibilidade de tratar os
dois grupos distintamente. (Atualmente, já se fazem ensaios
triplo-cegos, o que significa que a informação sobre quem
toma o quê fica inacessível até ao fim do estudo não só para
os participantes e os investigadores, mas também para os
estatísticos que analisam os dados.)

2. Explorar o efeito nocebo

Claro que há sempre o reverso da medalha. Embora o poder


da sugestão captasse mais atenção devido ao seu potencial
de cura, também se tornou evidente que poderia ser
utilizado para prejudicar. As práticas como os feitiços e
maldições do vudu eram bem ilustrativas do lado negativo
do poder da sugestão.

Na década de 40, Walter Bradford Cannon, fisiólogo de


Harvard (que, em 1932, cunhara o termo luta ou fuga),
estudou a máxima reação nocebo — um fenômeno a que
chamou “morte por vudu”. Cannon analisou uma série de
relatos anedóticos de pessoas com a firme crença cultural do
poder dos feiticeiros-curandeiros ou padres de vudu que
tinham adoecido ou morrido subitamente — sem sofrerem
aparentes lesões, envenenamento ou infecções —

depois terem sido alvo de um feitiço ou de uma maldição. A


sua investigação estabeleceu os alicerces para muito do
conhecimento que temos hoje acerca da forma como os
sistemas de resposta fisiológica ativam as emoções
(sobretudo o medo), gerando a doença. Cannon afirmava
que a convicção da vítima de que a maldição tinha o poder
de a matar era só um dos ingredientes da sopa psicológica
que acabaria por lhe provocar a morte. Outro fator era o
efeito de ser socialmente ostracizado e rejeitado,
inclusivamente pela família. Essas pessoas depressa se
tornavam autênticos mortos-vivos.

Os efeitos nocivos com origens inócuas não se restringem ao


vudu. Nos anos 60, os cientistas cunharam o termo nocebo
(“farei mal" em Latim, por oposição a “agradarei”, a
tradução latina de placebo), para se referirem a uma
substância inerte que provoca um efeito nocivo —
simplesmente por alguém acreditar que lhe faça mal ou
espere mesmo que isso aconteça. O efeito nocebo surge
vulgarmente nos estudos farmacológicos, sempre que os
sujeitos que tomam placebos esperam efeitos secundários
do fármaco em avaliação, ou são especificamente alertados
para eventuais efeitos secundários. Nesse caso, mesmo não
tomando qualquer fármaco, sentem os efeitos secundários,
porque estabelecem uma associação à noção do fármaco
com os potenciais riscos que lhe estão associados.

Por motivos éticos óbvios, poucos estudos são concebidos


especificamente para observar esse fenômeno, embora se
realizem alguns. Um famoso exemplo foi um estudo
realizado no Japào, em 1962, com um grupo de crianças
extremamente alérgicas ao sumagre venenoso. Os
investigadores esfregaram uma folha de sumagre venenoso
num braço de cada criança, dizendo-lhes que

era uma folha normal. Como medida de controlo,


esfregavam uma folha inócua no outro braço, dizendo-lhes
que era sumagre venenoso. Todas as crianças
desenvolveram urticária no braço esfregado com a folha
inócua, que julgavam ser sumagre venenoso. E onze das 13
crianças não desenvolveram nada na zona realmente
esfregada com sumagre venenoso.

Foi uma descoberta espantosa: como podiam crianças


altamente alérgicas a sumagre venenoso não desenvolver
urticária ao estarem em contacto com a planta? £ como
podiam desenvolver urticária em contacto com uma folha
totalmente inócua? A nova noção de que a folha não era
nociva dominou-lhes a memória e a convicção de serem
alérgicas, tornando a planta inócua. E o inverso também
ocorreu na segunda parte da experiência: o pensamento
tornou uma folha inócua tóxica. Em ambos os casos, tudo
indicava que os corpos das crianças respondiam
instantaneamente a uma nova mente.

Neste caso, poderíamos dizer que, em certa medida, as


crianças se libertaram da futura expectativa de reação física
à folha tóxica, baseada nas suas experiências passadas de
alergia. Com efeito, de algum modo, transcenderam uma
linha de tempo previsível, o que sugere igualmente que, de
alguma forma, superaram as condições do seu meio
ambiente (a folha de sumagre venenoso).

Por fim, as crianças conseguiram alterar e controlar a


fisiologia, com uma simples mudança de pensamento. Essa
prova extraordinária de que o pensamento (na forma de
expectativa) poderia ter maior influência sobre o corpo do
que o ambiente físico “real" facilitou a chegada de uma nova
era de investigação científica chamada
psiconeuroimunologia — o efeito dos pensamentos e
emoções sobre o sistema imunitário um importante
segmento da ligação mente-corpo.

Outro notável estudo do nocebo também realizado na


década de 60

observou pessoas com asma. Os investigadores deram a 40


pacientes com asma inaladores contendo apenas vapor de
água, mas disseram-lhes que continham uma substância
alergênica ou irritativa — 19 (48 por cento) tiveram sintomas
de asma, tais como dificuldades respiratórias e 12 (30 por
cento) sofreram verdadeiros ataques de asma. Em seguida,
os investigadores deram aos sujeitos inaladores, dizendol-
hes que continham um medicamento que aliviaria os
sintomas e todos eles sentiram as vias respiratória a
expandir — embora, mais uma vez, os inaladores só
contivessem vapor de água.

Nas duas situações — provocar os sintomas de asma e,


depois, revertê-los dramaticamente -, os pacientes só
respondiam à sugestão, ao pensamento que os
investigadores lhes tinham implantado na mente e que
cumpriu à risca o papel que eles esperavam. Quando
julgavam ter inalado um produto nocivo, eram
negativamente afetados, e quando julgavam ter recebido um
medicamento,
melhoravam — e esses pensamentos superaram o ambiente
e a realidade.

Podemos dizer que os seus pensamentos criaram uma


realidade novinha cm folha.

O que diz isso sobre as crenças que temos e os pensamentos


que formulamos todos os dias? Seremos mais suscetíveis de
apanhar gripe, por passarmos o inverno inteiro a ler artigos
sobre gripe e a ver cartazes sobre a vacinação antigripal —
tudo a lembrar-nos de que ficaremos doentes se não
levarmos a vacina? Será possível que só o facto de vermos
uma pessoa com sintomas semelhantes aos da gripe nos faz
adoecer, por pensarmos como as crianças no estudo do
sumagre venenoso que desenvolveram urticaria com a folha
inerte, ou por pensarmos como os asmáticos que sofreram
reações brônquicas violentas depois de inalarem simples
vapor de água?

Estaremos mais propensos a sofrer de artrite, rigidez


articular, má memória, pouca energia e libido inibida com a
idade, apenas por ser essa a versão da verdade com que nos
bombardeiam os anúncios, a publicidade, os programas
televisivos e os relatos dos meios de comunicação? Que
outras profecias autoconcretizantes estamos a criar nas
nossas mentes sem nos darmos conta disso? E que
“verdades inevitáveis" podemos reverter com êxito,
formulando novos pensamentos e escolhendo novas
crenças?

3. As primeiras grandes conquistas

Um estudo pioneiro realizado no final dos anos 70


demonstrou pela primeira vez que um placebo poderia
desencadear a libertação de endorfinas (os analgésicos
naturais do corpo), da mesma maneira que o fazem algumas
substâncias ativas.
No estudo, o Dr. Jon Levine, da Universidade da Califórnia,
em são Francisco, deu placebos, em vez de medicação
analgésica, a 40 pacientes de estomatologia a quem tinham
acabado de extrair os dentes do sizo. Como seria de esperar,
uma vez que os pacientes julgavam estar a receber
analgésicos, a maioria relatou sentir alívio. Mas, em seguida,
os investigadores deram-lhes um antídoto para a morfina
chamado naloxone, que bloqueia quimicamente os locais
receptores para a morfina e as endorfinas (a morfina
endógena) no cérebro. Quando os investigadores o
administraram, os pacientes começaram a sentir novamente
dores! Isso provou que. ao tomarem os placebos, os
pacientes criavam as suas próprias endorfinas — os seus
próprios analgésicos. Esta descoberta foi um

marco na investigação do placebo, porque mostrou que o


alívio sentido pelos sujeitos do estudo teve origem na mente
e se refletiu no corpo — no estado de ser.

Se o corpo humano pode funcionar como a sua própria


farmácia, produzindo os seus próprios analgésicos, então,
não poderá ser igualmente capaz de dispensar outros
fármacos naturais quando necessário, a partir da infinita
mistura de substâncias químicas e combinações de cura que
acolhe — fármacos que funcionam como os que os médicos
receitam ou, até, melhor?

Um outro estudo realizado nos anos 70 pelo Doutor Robert


Ader, na Universidade de Rochester, trouxe uma fascinante
nova dimensão ao debate em torno do placebo: o elemento
do condicionamento. Noção celebrizada pelo psicólogo russo
Ivan Pavlov, o condicionamento consiste na associação de
uma coisa a outra — os cães de Pavlov associavam o som da
campainha à comida, depois de Pavlov ter começado a tocar
uma campainha, todos os dias, antes de os alimentar. Com o
tempo, os cães ficaram condicionados e passaram a salivar
automaticamente com a expectativa de uma refeição, assim
que ouviam uma campainha tocar. Com este tipo de
condicionamento, os seus corpos ficaram treinados para
responder fisiologicamente a um novo estimulo no ambiente
(neste caso, a campainha), mesmo sem a presença do
estímulo original que suscitava a resposta (a comida).

Poderíamos, então, dizer que na resposta condicionada, o


corpo ativa um programa subconsciente (falarei melhor
sobre isso nos próximos capítulos) que se sobrepõe à mente
consciente e assume o controlo. Desse modo, o corpo fica
efetivamente condicionado a tornar-se a mente, porque o
pensamento consciente deixa de ter todo o controlo.

No caso de Pavlov, os cães passavam repetidamente pelo


processo de serem expostos, primeiro, ao aroma, à visão e
ao sabor da comida, e, depois, ao som de uma campainha.
Com o tempo, bastava ouvirem o som da campainha para
alterarem automaticamente de estado químico e fisiológico,
sem pensarem conscientemente nisso. O seu sistema
nervoso autônomo — o sistema subconsciente do corpo que
funciona sem a nossa tomada de consciência —

passou a dominar. Assim, o condicionamento cria mudanças


internas subconscientes no corpo, associando memórias
passadas à expectativa de efeitos internos (aquilo a que
chamamos memória associativa) até ocorrerem os
resultados esperados ou previstos. Quanto maior for o nosso
condicionamento, menor será o nosso controlo consciente
sobre esses processos e mais automática será a nossa
programação subconsciente.

Ader começou por tentar estudar a duração dessas


respostas. Para tal, deu a cobaias água adoçada com
sacarina, à qual adicionou um fármaco chamado
ciclofosfamida, que provoca dores de estômago.
Condicionando as cobaias a associar o sabor doce da água à
dor nas entranhas, esperava que elas não tardassem a
rejeitar a água adocicada. A sua intenção era ver quanto
tempo continuariam a rejeitar a água, para poder medir a
duração da resposta condicionada à água adoçada.

Mas Ader não sabia à partida que a ciclofosfamida também


deprime o sistema imunológico e ficou surpreendido ao ver
as suas cobaias morrerem inesperadamente com infecções
bacteriológicas e virais. Mudando de estratégia na
investigação, continuou a dar às cobaias água com sacarina
(alimentando-as à força com um conta-gotas), mas sem
ciclofosfamida. Embora já não recebessem o fármaco
imunodepressor, as cobaias continuaram a morrer com
infecções (enquanto o grupo de controlo, que só recebera a
água adoçada, continuava bem de saúde). Em parceria com
o imunologista, o Doutor Nicholas Cohen, da Universidade de
Rochester, Ader descobriu ainda que quando as cobaias
tinham sido condicionadas a associar o sabor da água
adoçada com o efeito do fármaco imunodepressor, a
associação fora tão forte que o simples facto de beber água
adoçada produzia o mesmo efeito fisiológico que o fármaco
— dizendo ao sistema nervoso para deprimir o sistema
imunitário.

À semelhança do que acontecera a Sam Londe, que


conhecemos no Capitulo 1, as cobaias de Ader morreram
única e exclusivamente por causa dos seus pensamentos. Os
investigadores começavam a constatar que a mente era
claramente capaz de ativar subconscientemente o corpo
com um poder que nunca poderiam ter imaginado.

O Ocidente une-se ao Oriente Por esta altura, a prática


oriental da Meditação Transcendental (MT), ensinada pelo
guru indiano Maharishi Mahesh Yogi, já tinha sido adotada
nos Estados Unidos, promovida pela entusiástica
participação de várias celebridades (a começar pelos Beatles
nos anos 60). O objetivo desta técnica em que se aquieta a
mente, repetindo um mantra em duas sessões diárias de 20
minutos de meditação, é o esclarecimento espiritual. Mas a
prática captou a atenção de Herbert Benson, cardiologista de
Harvard, que quis descobrir de que forma é que ela poderia
reduzir o stress e minorar os fatores de risco para a doença
cardíaca. Desmistificando o processo, Benson desenvolveu
uma técnica semelhante, a que chamou “resposta
descontraída” e que descreveu na obra lançada em 1975
com o mesmo título. Benson verificou que alterando os

padrões de pensamento, as pessoas poderiam desativar a


resposta do stress e, assim, reduzir a tensão arterial,
normalizar a batida cardíaca e alcançar estados de profundo
relaxamento.

Embora a meditação consista em manter uma atitude


neutra, a verdade é que gera efeitos benéficos, como a
vontade de se assumir uma atitude mais positiva que, por
sua vez, favorece emoções mais positivas. O caminho fora
definido em 1952, quando o ex-ministro Norman Vincent
Peale publicou o livro O Poder do Pensamento Positivo,
popularizando a noção de que os nossos pensamentos
podem ter efeitos reais, negativos e positivos, nas nossas
vidas. E

foi essa ideia que captou a atenção da comunidade médica


em 1976, quando Norman Cousins, analista político e editor,
publicou um artigo no New England Journal of Medicine sobre
a utilização que fizera do riso para reverter os efeitos de
uma doença potencialmente fatal. Cousins também conta a
sua história no seu best-seller Anatomy of an Illness,
publicado alguns anos depois.

O médico de Cousins diagnosticara-lhe um distúrbio


degenerativo chamado espondilite anquilosante — uma
forma de artrite que provoca a quebra da produção de
colágeno, constituído pelas proteínas fibrosas que unem as
células

— e informara-o de que as hipóteses de recuperação eram


de 1 em 500. Cousins sofria dores tão fortes e tinha tanta
dificuldade em mover os membros que mal conseguia virar-
se na cama. Apareciam-lhe nódulos granulosos sob a pele e,
no auge da doença, os maxilares ficaram praticamente
bloqueados.

Convencido de que a doença fora gerada por um persistente


estado emocional negativo, convenceu-se de que a poderia
reverter, criando um estado emocional positivo. Sem deixar,
porém, de consultar o médico. Cousins iniciou um regime de
doses maciças de vitamina C e filmes dos Irmãos Marx (bem
como outros filmes de humor e programas de comédia).
Descobriu que dez minutos a rir às gargalhadas lhe
proporcionavam duas horas de sono sem dores.

A certa altura, já estava completamente recuperado. Cousins


recuperou-se literalmente a rir.

Como? Embora, na época, os cientistas não tivessem como


compreender ou explicar uma recuperação tão milagrosa, as
investigações mais recentes dizem-nos que o mais provável
será terem ocorrido processos epigenéticos. A mudança de
atitude de Cousins provocou alterações na química do seu
corpo que, por sua vez, alterou o estado interior, permitindo-
lhe programar novos genes de diferentes formas; ele
simplesmente infrarregulou (ou desativou) os genes que lhe
provocavam a doença e suprarregulou (ou ativou) os genes
responsáveis pela sua recuperação. (Explicarei
detalhadamente o processo de ativação e desativação dos
genes nos próximos capítulos.)

Muitos anos depois, as investigações do Doutor Keiko


Hayashi, da
Universidade de Tsukuba, no Japão, apresentaram os
mesmos resultados. Nesse estudo, os pacientes diabéticos
que viam um programa de comédia de uma hora
suprarregularam um total de 39 genes, 14 dos quais
relacionados com as atividades das células exterminadoras
naturais. Embora nenhum desses genes estivesse
diretamente implicado na regulação da glicose no sangue, os
níveis de glicemia dos pacientes revelaram-se mais
controlados do que depois de terem estado a ouvir uma
palestra sobre diabetes noutro dia. Os investigadores
deduziram que o ato de rir influencia muitos genes
implicados na resposta imunitária que, por sua vez,
contribuirá para um melhor controlo da glicose no sangue. A
emoção elevada desencadeada pelos cérebros dos pacientes
ativava as variações genéticas que ativavam as células
exterminadoras naturais e, de alguma forma, melhorava a
resposta da regulação da glicose — provavelmente em
conjunto com muitos outros efeitos benéficos.

Tal como Cousins disse acerca dos placebos, em 1979, “o


processo não funciona pelo facto de os comprimidos terem
um qualquer ingrediente mágico, mas porque o corpo
humano é o seu melhor farmacêutico e as receitas mais
eficazes são as que o próprio corpo prescreve.

Inspirado pela experiência de Cousins e já com o fármaco


alternativo mente-corpo em plena ação, Bernie Siegel,
cirurgião da Universidade de Yale, começou a tentar
perceber por que razão alguns dos seus pacientes
oncológicos com poucas hipóteses de sobrevivência
acabavam por superar a doença, enquanto outros com
melhores hipóteses acabavam por morrer. O trabalho de
Siegel definiu os sobreviventes oncológicos em termos
gerais como pacientes com um espirito lutador e
determinado, concluindo que não existiam doenças
incuráveis, só pacientes incuráveis. Siegel também começou
a escrever sobre a esperança como poderosa força de cura e
sobre o amor incondicional com a sua farmácia natural de
elixires como o melhor estimulante para o sistema
imunitário.

4. Os placebos superam os antidepressivos

A profusão de novos antidepressivos que surgiram por volta


do final dos anos 80, princípios dos anos 90, originaria uma
controvérsia que acabaria (embora não imediatamente) por
tornar os placebos mais dignos de respeito. Ao estudar uma
meta-análise de 1998 que reuniu estudos publicados sobre
os fármacos antidepressivos, o psicólogo Irving Kirsch, na
altura da Universidade do

Connecticut, ficou chocado com a constatação de que, em


19 ensaios clínicos duplo-cegos aleatórios com mais de 2300
pacientes, uma grande parte das melhorias não se devia aos
fármacos antidepressivos mas sim ao placebo.

Kirsch decidiu servir-se da legislação Freedom of Information


Act4 para aceder aos dados dos ensaios clínicos não
publicados conduzidos pelos fabricantes dos fármacos que,
por lei, tinham de ser transmitidos à Food and Drug
Administration5. Kirsch e os colegas fizeram uma segunda
meta-análise, dessa vez dos 35 ensaios clínicos realizados
para seis dos antidepressivos mais receitados e aprovados
entre 1987 e 1999. Analisando os dados de mais de 5000

pacientes, os investigadores concluíram novamente que, em


81 por cento dos casos, os placebos funcionavam tão bem
como os populares fármacos antidepressivos Prozac, Etfexor,
Serzone e Paxil. Na maioria dos casos em que o fármaco
tinha funcionado mesmo melhor, os benefícios eram tão
insignificantes que nem chegavam a ter relevância
estatística. Os fármacos só se revelaram mais eficazes do
que o placebo nos casos de depressão grave.
Como seria de esperar, o estudo de Kirsch provocou
bastante alarido, embora muitos dos investigadores
parecessem dispostos a rejeitar o placebo por razões
acessórias. Apesar de uma boa parte da discórdia se centrar
no facto de esses fármacos não serem muito melhores do
que o placebo, a verdade é que os pacientes que
participaram nos ensaios melhoraram com os
antidepressivos. Os fármacos funcionaram. Mas os pacientes
que tomaram placebos também melhoraram. Em vez de
entenderem o trabalho de Kirsch como prova de que os
antidepressivos falhavam, alguns investigadores preferiram
ver o copo meio cheio e entenderam os dados como prova
de que os placebos funcionavam.

Afinal, os ensaios proporcionaram provas impressionantes de


que o ato de pensar que podemos melhorar de depressão
pode realmente curá-la como um fármaco. Na realidade, os
participantes do estudo que melhoraram com placebos
estavam a produzir os seus próprios antidepressivos
naturais, tal como, nos anos 70, os pacientes de Levine, a
quem extraíram os sizos, tinham produzido os seus próprios
analgésicos. Kirsch limitara-se a trazer à luz do dia provas de
que o corpo possui uma inteligência inata que lhe permite
produzir uma vasta gama de complexos químicos naturais
para se curar. É interessante constatar que a percentagem
de pessoas que melhoram a tomar placebos nos ensaios dos
tratamentos para a depressão foi aumentando com o tempo,
tal como a resposta aos fármacos ativos; alguns
investigadores sugeriram que isso se deve ao facto de o
público ter maiores expectativas em relação à medicação
antidepressiva, o que, por sua vez, torna os placebos mais
eficazes nos ensaios duplo-cegos.

5. A neurobiologia do placebo
Era só uma questão de tempo até que os neurocientistas
começassem a utilizar sofisticados exames imagiológicos ao
cérebro para observar em pormenor o que acontece a nível
neuroquímico quando se administra um placebo. Um
exemplo é um estudo realizado em 2001 com pacientes de
Parkinson que recuperaram capacidades motoras depois de
receberem uma injeção de soro fisiológico que julgavam ser
de medicação (descrito no Capítulo 1). O investigador
italiano Fabrizio Benedetti, pioneiro na investigação do
placebo, realizou um estudo idêntico da doença de Parkinson
alguns anos depois, em que se conseguiu demonstrar pela
primeira vez o efeito do placebo em determinados
neurônios.

Os seus estudos exploraram não só a neurobiologia da


expectativa, como no caso dos doentes de Parkinson, mas
também a neurobiologia a funcionar com o condicionamento
clássico — o que Ader conseguira brevemente vislumbrar
anos antes com as suas cobaias indispostas. Numa
experiência, Benedetti deu aos sujeitos o fármaco
sumatriptan para estimular a hormona de crescimento e
inibir a secreção de cortisol, mas, a certa altura, sem os
pacientes saberem, começou a substituí-lo por um placebo.
O investigador concluiu que, nos exames de imagiologia, o
cérebro dos pacientes continuava a ativar-se nos mesmos
locais em que se ativava quando eles tomavam sumatriptan,
o que provava que o cérebro produzia efetivamente e por si
só a mesma substância — neste caso, a hormona de
crescimento.

O mesmo se verificou com outras combinações de fármaco e


placebo — as substâncias químicas produzidas no cérebro
eram praticamente iguais âs que os sujeitos começaram por
receber na medicação para tratamento de problemas
imunitários, distúrbios motores e depressão. Aliás, Benedetti
até demonstrou que os placebos provocavam os mesmos
efeitos secundários que os fármacos. Por exemplo, num
estudo de placebo que utilizava narcóticos, os sujeitos que
tomaram o placebo sofreram os mesmos efeitos secundários
de respiração lenta e superficial, porque o efeito placebo
imitou muito bem os efeitos fisiológicos do fármaco.

Em bom rigor, o nosso corpo é efetivamente capaz de criar


um vasto leque de substâncias químicas que nos podem
curar, proteger da dor, ajudar a dormir profundamente,
melhorar o sistema imunitário, fazer sentir prazer e, até,
encorajar a apaixonar-nos. Pense no seguinte: se um
determinado gene que já se tenha expressado, fazendo-nos
produzir determinadas substâncias químicas em dada altura
da vida, entretanto tenha sido desativado, devido a um
problema de stress ou a uma doença, levando-nos a deixar
de as produzir, talvez seja possível ativar novamente esse
gene, porque o corpo já sabe como fazer. (não saia daí, para
conhecer as investigações que o comprovam.)

Observemos esse processo. Os estudos neurológicos


demonstram uma coisa extraordinária: enquanto se tomar a
mesma substância, o cérebro ativará os mesmos circuitos da
mesma forma — memorizando o que a substância faz. A
pessoa facilmente fica condicionada ao efeito de um
comprimido ou de uma injeção específicos, por os associar a
uma mudança interna que lhe é familiar por experiência. Em
virtude desse tipo de condicionamento, o placebo ativa os
mesmos circuitos integrados que o fármaco ativaria. Uma
memória associativa suscita um programa subconsciente
que estabelece uma ligação entre o comprimido ou a injeção
e a alteração hormonal no organismo; então, o programa
pede automaticamente ao corpo que produza as substâncias
químicas idênticas às do fármaco. não é espantoso?

As investigações de Benedetti esclarecem ainda outra


questão: diferentes tipos de tratamento com placebo
funcionam melhor com diferentes objetivos.

Por exemplo, no estudo do sumatriptan, as sugestões


verbais iniciais de que o placebo funcionaria em nada
afetaram a produção da hormona de crescimento.

Se utilizarmos os placebos para provocar respostas


psicológicas inconscientes pela memória associativa (como,
por exemplo, a secreção de hormonas ou a alteração do
funcionamento do sistema imunitário), precisamos do
condicionamento, mas, se utilizarmos placebos para alterar
respostas mais conscientes (tais como o alívio da dor ou da
depressão), basta uma simples sugestão ou expectativa.
Assim, Benedetti insistiu no facto de que não existe uma só
resposta de placebo, mas várias.

6. O domínio da mente sobre a matéria

Em 2010, a investigação do placebo registou uma


extraordinária reviravolta com um estudo piloto conduzido
por Ted Kaptchuk, da Universidade de Harvard,
demonstrando que os placebos funcionavam até quando as
pessoas sabiam que estavam a tomar um placebo. No
estudo, Kaptchuk e colegas deram um placebo a 40
pacientes com síndrome de cólon irritável (SEI). Cada um
recebeu um frasco cujo rótulo dizia claramente
“comprimidos de placebo” e foi informado de que este
continha “comprimidos de placebo feitos com uma
substância inerte, como açúcar, com resultados
comprovados noutros estudos clínicos, nomeadamente, a
melhoria dos sintomas da sei, através de processos de
autocura mente-corpo”. O

grupo de controlo consistia em 40 pacientes com sei que não


receberam comprimidos.
Passadas três semanas, o grupo que tomava os placebos
relatou duas vezes mais alivio dos sintomas do que o grupo
sem tratamento — diferença que Kaptchuk referiu ser
comparável ao desempenho dos melhores fármacos reais

para o tratamento da sei. Esses pacientes não tinham sido


induzidos a curar-se com base numa ilusão. Sabiam muito
bem que não estavam a receber qualquer medicação —
tendo ouvido a sugestão de que os placebos poderiam aliviar
os sintomas e acreditado num resultado independente da
causa, os corpos foram influenciados a fazer com que os
placebos funcionassem.

Entretanto, uma versão paralela dos estudos que avalia o


efeito da atitude, das percepções e das crenças abre
caminho na atual investigação mente-corpo, demonstrando
que algo aparentemente tão concreto como o benefício físico
do exercício pode ser afetado pela crença. Um estudo
realizado pelas psicólogas Alia Crum e Ellen Langer, da
Universidade de Harvard, em 2007, com a participação de
84 camareiras de hotel é um exemplo perfeito.

No início do estudo, nenhuma das camareiras tinha


conhecimento de que as funções que desempenhavam no
seu emprego excediam as recomendações da Direção-Geral
de Saúde para uma prática diária de exercício físico saudável
(30

minutos). Aliás, 67 por cento das mulheres disseram às


investigadoras que não praticavam exercício físico
regularmente e 37 por cento disseram que não praticavam
nenhum tipo de exercício físico. Depois da avaliação inicial,
Crum e Langer dividiram as camareiras em dois grupos. Ao
primeiro, explicaram não só a relação entre a atividade que
praticavam e o número de calorias que queimavam, mas
também que praticavam exercício físico mais do que
suficiente só no cumprimento das suas funções laborais. Ao
segundo grupo (camareiras que não trabalhavam nos
mesmos hotéis onde trabalhavam as do primeiro grupo e
que, portanto, não poderiam obter nenhum benefício em
termos de informação) não explicaram nada.

Um mês depois, as investigadoras concluíram que o primeiro


grupo registara reduções de peso numa média de 900 g, de
percentagem de gordura corporal, e de tensão sistólica,
numa média de 10 pontos — muito embora as camareiras
não tivessem praticado exercício físico adicional, fora do
local de trabalho, nem alterado os hábitos alimentares. O
outro grupo, que cumpria as mesmas funções que o
primeiro, não registou praticamente nenhuma alteração.

Essa investigação fazia eco de outra anterior, realizada no


Quebeque, onde um grupo de 48 jovens adultos participou
num programa de dez semanas em que praticava exercício
físico aeróbico três vezes por semana, em sessões de 90

minutos.

O grupo foi dividido em dois. À primeira metade de sujeitos,


os instrutores disseram que o estudo visava especificamente
melhorar as suas capacidades aeróbicas e o bem-estar
psicológico. À segunda metade, que constituía o grupo de
controlo, referiram apenas os benefícios físicos da aeróbica.
No fim das dez semanas, os investigadores concluíram que
ambos os grupos tinham aumentado

as capacidades aeróbicas, mas que, ao contrário do grupo de


controlo, os sujeitos do teste também tinham registado um
aumento significativo da autoestima (uma medida do bem-
estar).

Tal como demonstram estes estudos, a nossa tomada de


consciência por si só pode produzir efeitos físicos
significativos no corpo e na saúde. O que sabemos, a
linguagem utilizada para definir o que iremos sentir e a
forma como atribuímos significado às explicações que nos
dão afetam a nossa intenção — e quanto mais forte for a
nossa intenção em relação ao que fazemos, melhores serão
os resultados.

Em suma, quanto mais aprender sobre o “o quê” e o


“porquê”, mais fácil e eficaz se tomará o “como”. (A minha
esperança é de que este livro faça o mesmo por si; quanto
mais souber o que faz e porque o faz, melhores resultados
tenderá a obter.)

Também atribuímos significado a fatores mais subtis, tais


como a cor dos medicamentos que tomamos e a quantidade
de comprimidos que ingerimos, como demonstra um estudo
mais antigo mas clássico da Universidade de Cincinnati.
Nesse estudo, os investigadores deram a 57 estudantes de
medicina uma ou duas cápsulas cor-de-rosa ou azuis — todas
inertes, embora informassem os alunos de que as cápsulas
cor-de-rosa eram estimulantes e as azuis, sedativos.

Os investigadores relataram o seguinte: “Duas cápsulas


produziram mais mudanças visíveis do que uma e as azuis
estavam associadas a mais efeitos sedativos do que as cor-
de-rosa.” Com efeito, os estudantes consideraram as
cápsulas azuis duas vezes e meia mais eficazes como
sedativos do que as cor-derosa — apesar de todas as
cápsulas serem placebos.

Investigações mais recentes demonstram que as crenças e


percepções também podem afetar as taxas de desempenho
mental em testes normalizados.

Num estudo realizado no Canadá em 2006, 220 estudantes


femininas leram relatórios falsos dizendo que os homens
tinham mais 5 por cento de vantagem sobre as mulheres em
matemática. O grupo foi dividido em duas partes; uma leu
que a vantagem derivava de fatores genéticos recém-
descobertos e a outra, que resultava do facto de os
professores do primeiro ciclo tenderem a estereotipar os
meninos e as meninas. Então, os sujeitos receberam um
teste de matemática. As mulheres a quem fora dada a
informação de que os homens tinham uma vantagem
genética obtiveram pontuações mais fracas do que as
mulheres a quem fora dito que a vantagem masculina se
devia à estereotipagem. Por outras palavras, impulsionadas
a pensar que a sua desvantagem era inevitável, as mulheres
funcionavam como se de facto estivessem em desvantagem.

Um efeito semelhante foi documentado com estudantes afro-


americanos, conhecidos por terem piores classificações do
que os brancos tanto nos testes de

vocabulário, leitura e matemática, como no Scholastic


Aptitude Test (SAT)6, mesmo sem a intervenção do fator
socioeconômico. Na verdade, o estudante negro médio
obtém resultados 70 por cento a 80 por cento inferiores aos
dos estudantes brancos da mesma idade, nos testes
padronizados. O psicólogo social Claude Steele, da
Universidade de Stanford, explica que isso se deve a um
efeito chamado “ameaça do estereótipo”. As suas pesquisas
indicam que os estudantes que pertencem a grupos
negativamente estereotipados demonstram pior
desempenho se estiverem convencidos de que serão
avaliados à luz desse estereótipo do que se não sentirem
esse tipo de pressão.

No estudo pioneiro de Steele, conduzido com Joshua


Aronson, os investigadores deram uma série de testes de
raciocínio verbal a estudantes do segundo ano de Stanford.
Uns receberam instruções que impulsionavam o estereótipo
de que os negros têm piores classificações do que os
brancos, dizendo que o teste visava avaliar-lhes as
capacidades cognitivas, enquanto os outros foram
informados de que o teste não passava de uma ferramenta
de pesquisa insignificante. No grupo em que se impulsionara
o estereótipo, os negros obtiveram classificações inferiores
às dos brancos com as mesmas classificações nos SAT.
Quando o estereótipo «do era impulsionado, o desempenho
dos negros e dos brancos com as mesmas classificações nos
SAT era igual — prova de que a sugestão fazia uma diferença
substancial.

Impulsionar é, essencialmente, quando alguém, algum lugar


ou alguma coisa no nosso ambiente (por exemplo, fazer um
teste) desencadeia todos os tipos de associações que temos
integrados no cérebro (que as pessoas que classificarão esse
teste pensam que os estudantes negros têm piores
classificações do que os brancos), levando-nos a agir de
determinadas formas (não ter uma classificação tão elevada)
sem estarmos cientes do que fazemos.

Chama-se “impulsionar”, porque funciona como impulsionar


uma bomba. O

sistema precisa de já conter água para a poder fazer sair por


impulsão. Assim, neste exemplo, a ideia ou crença de os
outros esperarem que os estudantes negros tenham uma
classificação inferior à dos brancos é como a água que já
está no sistema — está lá sempre. Quando fazemos qualquer
coisa para estimular o sistema (agarrar na pega da bomba
ou fazer o teste), estimulamos todos os pensamentos,
emoções e comportamentos relacionados, e provocamos
precisamente a saída daquilo que sempre esteve à espera
de sair — seja a água, no caso de uma bomba, ou piores
classificações, no caso de um teste.

Pondere um pouco. A maioria dos comportamentos


automáticos que a impulsão suscita é produzida por
programação inconsciente ou subconsciente que, em geral,
acontece nos bastidores da nossa consciência alerta.
Seremos nós, então, impulsionados inconscientemente o dia
inteiro — sem sequer o sabermos?

Steele também reproduziu esse efeito com outros grupos


estereotipados.

Quando deu um teste de matemática a um grupo de homens


brancos e asiáticos bons nessa disciplina, com efeito, os
brancos a quem foi transmitido que os asiáticos se saem
ligeiramente melhor do que os brancos no teste não
obtiveram tão bons resultados como os brancos do grupo de
controlo, a quem não foi transmitido nada. As experiências
de Steele com estudantes femininas com fortes
competências a matemática apresentaram resultados
idênticos. Mais uma vez, sempre que os estudantes tinham a
expectativa inconsciente de obterem piores classificações,
era de facto isso que acontecia.

A grande questão por detrás da investigação de Steele


acaba, então, por ser bastante profunda: a noção de nós
próprios que fomos condicionados a ter e a ideia que os
outros fazem a nosso respeito que nos programaram para
ter afetam o nosso desempenho e, até, a nossa taxa de
êxito. O mesmo se aplica aos placebos: tudo aquilo que nos
condicionaram a acreditar que acontecerá, acontecerá
quando tomarmos um comprimido, e tudo aquilo que
julgamos que as pessoas que nos rodeiam (incluindo os
médicos) esperam acontecer quando o fazemos influencia a
resposta do nosso corpo ao comprimido. Será possível que
muitos comprimidos ou até cirurgias possam funcionar
mesmo melhor por sermos repetidamente impulsionados,
formados e condicionados a acreditar nos seus efeitos —
quando, se não fosse o efeito placebo, esses fármacos
poderiam não funcionar tão bem ou nem sequer funcionar?

7. Será que podemos ser os nossos próprios placebos?


Dois estudos recentes da Universidade de Toledo talvez
sejam os que mais nos ajudam a perceber a forma como a
mente por si só pode determinar o que uma pessoa sente e
percepciona. Em cada estudo, os investigadores dividiram
um grupo de voluntários saudáveis em duas categorias — os
otimistas e os pessimistas de acordo com as respostas
fornecidas num questionário de diagnóstico. No primeiro dia,
deram aos sujeitos um placebo, mas disseram-lhes que se
tratava de um fármaco que os faria sentirse mal. Os
pessimistas tiveram reações mais negativas do que os
otimistas. No segundo estudo» os investigadores também
deram um placebo aos sujeitos, mas disseram-lhes que este
os ajudaria a dormir melhor. Os otimistas relataram dormir
muito melhor do que os pessimistas.

Desse modo, os otimistas tendiam mais a responder


positivamente à sugestão de que uma determinada coisa os
faria sentirse melhor, porque eram impulsionados a esperar
o melhor cenário futuro possível, e os pessimistas tendiam
mais a responder negativamente à sugestão de que uma
determinada

coisa os faria sentirse pior, por esperarem consciente ou


inconscientemente o pior resultado possível. Era como se os
otimistas estivessem inconscientemente a produzir as
substâncias químicas necessárias para os ajudar a dormir e
os pessimistas estivessem inconscientemente a produzir
uma autêntica farmácia de substâncias que os faziam
sentirse mal.

Por outras palavras, no mesmo ambiente, as pessoas com


uma mentalidade positiva tendem a gerar situações
positivas, enquanto as pessoas com uma mentalidade
negativa tendem a gerar situações negativas. É o milagre da
nossa própria engenharia biológica deliberada e individual.
Muito embora possamos não saber exatamente de que
maneira é que o efeito placebo gera tantas curas médicas (o
estudo de Beecher, de 1955, referido anteriormente neste
capítulo, aponta para 35 por cento, mas as investigações
modernas demonstram que podem ser de 10 por cento a
100 por cento), o número total é, sem dúvida alguma,
extremamente significativo. Sabendo isso, devemos
perguntar-nos: Que percentagem de doenças e maleitas se
deverá aos efeitos dos pensamentos negativos no nocebo?
Tendo em conta que as mais recentes investigações
cientificas na área da psicologia calculam que cerca de 70

por cento dos nossos pensamentos são negativos e


redundantes, o número de doenças de tipo nocebo
inconscientemente geradas poderá ser impressionante —

certamente muito superior ao que julgamos. Essa ideia faz


muito sentido, dado que tantos problemas mentais, físicos e
emocionais parecem surgir do nada.

Por mais incrível que nos possa parecer o facto de a mente


poder ser assim tão poderosa, a verdade é que as
investigações realizadas nas últimas décadas apontam
claramente para alguns pontos bem assentes: que o que
pensamos é o que sentimos e que, no que respeita à saúde,
isso se deve à espantosa farmacopeia que temos no
organismo, automática e perfeitamente alinhada com os
nossos pensamentos. Esse milagroso dispensário ativa
moléculas de cura naturalmente produzidas e que já existem
no corpo — fornecendo vários complexos concebidos para
suscitar diferentes efeitos nas mais diversas circunstâncias.
É claro que isto levanta a questão: Como é que fazemos
isso?

Os próximos capítulos explicam como tudo isso acontece a


nível biológico e como pode aplicar essa capacidade inata na
criação consciente e intencional da saúde — e da vida — que
deseja.

7. CAPÍTULO 3

O efeito placebo no cérebro

Caso tenha lido o meu livro anterior. Como Criar Um Nov*o


FM. verá que este capitulo faz uma revisão da informação
que ai exponho. Se sente que já a domina bem. pode optar
por passar à frente deste capitulo ou por o ir consultando
para relembrar os conceitos sempre que precisar. Na dúvida,
aconselho-o a ler este capitulo, porque precisa de
compreender bem o que aqui se apresenta para poder
entender os capítulos que se seguem.

Tal como as histórias apresentadas nos últimos dois capítulos


ilustram, quando realmente mudamos o nosso estado de ser.
o corpo pode passar a responder a uma nova mente. E
mudar o nosso estado de ser começa com a mudança dos
pensamentos. Uma vez que os seres humanos têm um
prosencéfalo enorme, temos o privilégio de ser quem mais
pode concretizar os pensamentos -

cê assim que funciona o placebo. Para ver como se dá este


processo, é importante analisar e rever três elementos
fundamentais: o condicionamento, a expectativa e o
significado. Como constatará, esses três conceitos parecem
funcionar todos em conjunto na resposta do placebo.

Já expliquei o que é o condicionamento, o primeiro elemento,


quando falei de Pavlov no capitulo anterior. Para recapitular,
o condicionamento ocorre quando associamos a memória de
um acontecimento passado (por exemplo, tomar uma
aspirina) a uma mudança fisiológica (livrarmo-nos da dor de
cabeça), por a termos vivido tantas vezes. Pense no
seguinte: se sentir uma dor de cabeça, torna-se ciente de
uma mudança fisiológica no seu ambiente interior (sente
dor).

Automaticamente, procura qualquer coisa no seu mundo


exterior (neste caso, uma aspirina) para criar uma mudança
no seu mundo interior. Podemos dizer que foi o seu estado
interior (ter dores) que o levou a lembrar-se de uma escolha
já feita no passado, de uma ação ou de uma experiência na
realidade exterior que alterou a sua forma de sentir (tomar
uma aspirina e sentir alivio).

Assim sendo, o estimulo ou a dica do ambiente exterior,


neste caso, a aspirina, cria uma experiência específica.
Sempre que produz uma resposta ou

recompensa fisiológica, essa experiência altera o seu


ambiente interior. Ao reparar numa mudança no seu
ambiente interior, passa a prestar atenção àquilo que. no
seu ambiente exterior, lhe provocou a alteração. Esse
acontecimento —

em que algo fora de si muda algo dentro de si — chama-se


memória associativa.

Se repetirmos o processo vezes sem conta, a associação do


estimulo exterior pode ser tão forte ou reforçada que
podemos substituir a aspirina por um comprimido de açúcar
igual à aspirina e teremos a mesma resposta interior
automática (diminuição da dor de cabeça). Essa é uma
forma de o placebo funcionar. As Figuras 3.1 A. 3.1B e 3.1C
ilustram o processo de condicionamento.

O segundo elemento, a expectativa, entra em jogo quando


temos razões para esperar um resultado diferente. Desse
modo, por exemplo, se tivermos dores crônicas de artrite e o
médico nos receitar uma nova medicação, explicando-nos.
entusiasmado, que nos vai aliviar a dor, aceitamos a
sugestão e ficamos à espera de que aconteça uma coisa
diferente, quando começarmos a tomá-la (deixamos de ter
dores). Nesse caso, o médico influenciou-nos efetivamente o
nível de sugestionabilidade.

Mais suscetíveis à sugestão, associamos naturalmente uma


coisa fora de nós (a nova medicação) à seleção de uma
possibilidade diferente (não ter dores). Na nossa mente,
escolhemos outro potencial futuro e esperamos, com
esperança e expectativa,

obter

outro

resultado.

Se

aceitarmos

assimilarmos

emocionalmente o novo resultado escolhido e as nossas


emoções forem intensas, o cérebro e o corpo não
distinguirão a ideia de mudarmos para um estado de ser
sem dores do acontecimento em si que provocou essa
mudança. Para o cérebro e o corpo, são a mesma coisa.

Consequentemente, o cérebro ativa os mesmos circuitos


neurais como se o nosso estado tivesse mudado (como se o
fármaco estivesse a funcionar para aliviar a dor), libertando
substâncias químicas idênticas no organismo. É então que o
que esperamos (não ter dores) acontece, porque o cérebro e
o corpo criam a farmácia perfeita para alterar a condição
interna. Passamos a um novo estado de ser — ou seja, a
mente e o corpo passaram a trabalhar em uníssono. Temos
esse poder.

FIGURA 3.1A

FIGURA 3.1B
FIGURA 3.1C

Na Figura 3.1 A. um estimulo produz uma mudança


fisiológica chamada resposta ou recompensa.

A Figura 3.1B demonstra que se juntarmos o estimulo, a um


estimulo condicionado vezes e vezes, não deixaremos de
obter uma resposta.

A Figura 3.1C mostra que se eliminarmos o estimulo e o


substituirmos por um estimulo condicionado, como um
placebo, podemos obter a mesma resposta fisiológica.

O terceiro elemento consiste em atribuir significado a um


placebo e ajuda-o a funcionar, porque quando damos um
novo significado a uma ação, imbuímo-la de intenção. Por
outras palavras, quando aprendemos a compreender uma
coisa nova, aplicamos-lhe mais energia consciente e
determinada. Assim sendo, por exemplo, no estudo acerca
das camareiras de hotel mencionado no capitulo anterior,
assim que perceberam que faziam muito exercício físico por
dia no cumprimento das suas funções e conheceram os
benefícios associados, passaram a atribuir mais sentido às
suas ações. não se limitavam a aspirar, limpar e arrumar;
deram-se conta de que trabalhavam os músculos,
aumentavam a força e queimavam calorias. A partir do
momento em que aspirar, limpar e arrumar adquiriram outro
significado depois de os investigadores lhes terem ensinado
as vantagens do exercício físico, a intenção ou o objetivo das
camareiras no seu trabalho deixou de ser apenas cumprir as
suas tarefas — passou a ser também uma forma de fazer
exercício físico e de ser mais saudável.

E foi precisamente isso que aconteceu. Os membros do


grupo de controlo não atribuíram o mesmo significado às
suas tarefas, porque não sabiam que o

que faziam lhes trazia benefícios para a saúde, portanto,


também não os obtiveram — apesar de fazerem exatamente
o mesmo trabalho.

O placebo funciona assim. Quanto mais acreditar no êxito de


uma substância, um procedimento ou uma cirurgia em
particular por lhe terem falado nos seus benefícios, melhor
serão as hipóteses de responder ao pensamento de melhorar
a saúde e de se restabelecer. Por outras palavras, se der
mais sentido a uma possível experiência com uma pessoa,
um local ou uma coisa no ambiente exterior, acreditando
que isso pode mudar o ambiente interior, é provável que
consiga mudar intencionalmente o estado interior só com o
pensamento. Além disso, quanto mais aceitar um novo
resultado relacionado com a sua saúde —
por ter aprendido as possíveis recompensas do que faz -,
mais nítido será o modelo que cria na mente, e melhor
conseguirá preparar o cérebro e o corpo para o reproduzir.
Para simplificar, quanto mais acreditar na causa, melhor será
o efeito.

1. O placebo: anatomia de um pensamento

Se o efeito placebo for prova da capacidade de um


pensamento para mudar a fisiologia — podemos chamar-lhe
mente sobre a matéria -, talvez devêssemos analisar os
pensamentos e ver como interagem com o cérebro e o
corpo.

Comecemos com os nossos pensamentos diários.

Somos criaturas de hábitos. Formulamos entre 60 mil e 70


mil pensamentos num dia. 90 por cento dos quais são
exatamente iguais aos que formulamos na véspera.
Levantamo-nos no mesmo lado da cama, fazemos sempre as
mesmas coisas na casa de banho, penteamos o cabelo da
mesma maneira, sentamo-nos na mesma cadeira para tomar
o pequeno-almoço e pegamos na caneca com a mesma mão,
fazemos o mesmo trajeto para o mesmo emprego, e
fazemos sempre as mesmas coisas que sabemos fazer tão
bem com as mesmas pessoas (que nos tocam
emocionalmente da mesma forma) todos os dias. Depois,
vamos a correr para casa para ver os e-mails, jantar, ver o
programa preferido na televisão, lavar os dentes, conforme a
rotina habitual antes de ir para a cama, à mesma hora, e
fazemos tudo igual, mais uma vez, no dia seguinte.

Se lhe parece que estou a dizer que vivemos uma grande


parte da vida em piloto automático, tem toda a razão.
Formular os mesmos pensamentos leva-nos a fazer as
mesmas escolhas. Fazer as mesmas escolhas leva-nos a
assumir os mesmos comportamentos. Assumir os mesmos
comportamentos leva-nos a criar

as mesmas experiências. Criaras mesmas experiências leva-


nos a sentir as mesmas emoções. E essas mesmas emoções
motivam os mesmos pensamentos.

Observe na Figura 3.2 a sequência dos nossos pensamentos


na criação da mesma realidade de sempre.

O resultado desse processo consciente ou inconsciente é que


a nossa biologia permanece igual. Nem o cérebro nem o
corpo mudam, porque formulamos os mesmos pensamentos,
agimos da mesma maneira e somos movidos pelas mesmas
emoções «* mesmo que estejamos â espera de que a vida
mude. Criamos a mesma atividade cerebral, que ativa os
mesmos circuitos cerebrais e reproduz a mesma química
cerebral, que afeta a química corporal da mesma forma. E
essa mesma química ativa os genes da mesma forma. E a
mesma expressão dos genes gera as mesmas proteínas, a
base das células, mantendo o corpo igual (mais sobre
proteínas nos capítulos seguintes). E uma vez que a
expressão das proteínas é a expressão da vida e da saúde, a
sua vida e a sua saúde permanecem iguais.

Agora, pare e pense um pouco na sua vida. O que significa


isso para si? Se tem os mesmos pensamentos que tinha
ontem, o mais certo é também fazer as mesmas escolhas
hoje. Essas mesmas escolhas hoje conduzem aos mesmos
comportamentos amanha. Os comportamentos habituais
amanhã produzem as mesmas experiências no futuro. Os
mesmos acontecimentos na nossa futura realidade criam
sempre as mesmas emoções previsíveis em nós. E,
consequentemente, sentimo-nos na mesma todos os dias. O
nosso ontem torna-se o nosso amanhã — por isso, na
realidade, o nosso passado é o nosso futuro.
MESMO ESTADO DE SER DE SEMPRE

FIGURA 3.2

Como criamos a mesma realidade só com o


pensamento.

Se concorda comigo até aqui, podemos dizer que o


sentimento familiar que acabei de descrever é o seu “eu" —
a sua identidade ou a sua personalidade. É o seu estado de
ser. É confortável, automático e não exige esforço. É o seu
eu conhecido que, muito sinceramente, está a viver no
passado. Se mantiver esse

processo em andamento todos os dias (porque acorda de


manhã, recordando e contando com a sensação do seu “eu"
todos os dias), com o tempo, esse estado de ser conhecido
só poderá motivar os mesmos pensamentos que o
influenciam a desejar o mesmo ciclo automático de escolhas,
comportamentos e experiências para voltar a esse
sentimento familiar que considera ser o seu “eu” Assim
sendo, tudo em si permanece na mesma.
Se essa for a sua personalidade, então, a sua personalidade
cria a sua realidade pessoal. É tão simples como isso. E a
sua personalidade consiste na sua forma de pensar, de agir e
de sentir. Desse modo, a personalidade presente que está a
ler esta página criou a realidade pessoal presente a que
chama vida, e isso também significa que se quiser criar uma
nova realidade pessoal — uma nova vida -, deve começar a
analisar ou a refletir sobre os pensamentos que tem
formulado para os mudar. Deve ganhar consciência dos
comportamentos inconscientes que tem escolhido assumir e
que o têm levado às mesmas experiências, para, depois,
fazer novas escolhas, agir de outra maneira e criar novas
experiências. A Figura 3.3 mostra como a personalidade
influencia a realidade pessoal

Deve observar e prestar atenção a todas as emoções que


memorizou e segue diariamente, para decidir se revivê-las
vezes sem conta é ou não benéfico para si.

A maioria das pessoas tenta criar a nova realidade pessoal


como a velha e isso não funciona. Para mudar a sua vida,
tem de se tornar literalmente outra pessoa.

não saia daí para ler mais factos científicos que comprovam
esse processo.

Observe a Figura 3.4 e siga novamente a sequência.

FIGURA 3.3

A nossa personalidade consiste na nossa forma de pensar,


agir e sentir. É o nosso estado de ser. Assim, os mesmos
pensamentos, ações e sentimentos mantém-nos
acorrentados à mesma realidade pessoal do passado.
Quando, como personalidade, assimilamos novos
pensamentos, ações c sentimentos, coamos inevitavelmente
uma nova realidade pessoal no futuro.
Assim, se compreende este modelo, sabe que os seus novos
pensamentos devem levar a novas escolhas. As novas
escolhas devem levar a novos comportamentos. Os novos
comportamentos devem levar a novas experiências.

As novas experiências devem criar novas emoções e tanto


as novas emoções como os novos sentimentos devem
inspirá-lo a pensar de forma diferente.

Chama-se a isso “evolução”. A sua realidade pessoal e a sua


biologia — os seus circuitos cerebrais, química interior,
expressão genética e, em última análise, a sua saúde —
devem mudar em resultado dessa nova personalidade e
desse novo estado de ser. Tudo parece começar com um
pensamento.
FIGURA 3.4

Como criamos uma nova realidade só com o pensamento


2. Um breve olhar sobre o funcionamento do cérebro
Até aqui, apenas mencionei rapidamente termos como
circuitos cerebrais, redes neurais, química cerebral e
expressão genética, sem dar grandes explicações sobre o
que significam. No resto do capítulo, defino conceitos
científicos simples para explicar o funcionamento conjunto
do cérebro e do corpo na

construção de um modelo completo, para perceber como se


pode tornar o seu próprio placebo.

O cérebro, com pelo menos 75 por cento de água e a


consistência de um ovo mal cozido, é composto por cerca de
100 mil milhões de células nervosas, chamadas neurônios,
impercetivelmente organizadas e suspensas nesse ambiente
aquoso. Cada qual idêntica a um carvalho despido mas
elástico, com ramos que se contorcem e sistemas de raízes
que se ligam e desligam de outras células nervosas. O
número de ligações possíveis de uma dada célula varia entre
1000 e mais de 100 mil, consoante a sua localização no
cérebro. Por exemplo, o neocórtex — o cérebro pensante —
tem cerca de 10 mil a 40 mil ligações por neurônio.

Julgava-se que o cérebro era como um computador e,


embora as semelhanças sejam muitas, agora sabemos que é
muito mais do que isso. Cada neurônio constitui o seu
próprio e único biocomputador, com mais de 60

megabytes de RAM. É capaz de processar enormes


quantidades de dados — até centenas de milhares de
funções por segundo. Ao aprendermos coisas novas e
vivermos novas experiências, os neurônios estabelecem
novas ligações, trocando informação eletroquímica entre si.
são as chamadas ligações sinápticas, porque o local onde as
células trocam informação — o espaço entre o ramo de um
neurônio e a raiz do outro — se chama sinapse.
Se aprender é estabelecer novas ligações sinápticas,
recordar é mantê-las juntas. Assim, uma memória é uma
relação ou ligação de longo prazo entre as células nervosas.
A criação dessas ligações e as mudanças que sofrem com o
tempo alteram a estrutura física do cérebro.

Quando o cérebro faz essas mudanças, os nossos


pensamentos produzem uma mistura de várias substâncias
químicas chamadas neurotransmissores (a serotonina. a
dopamina e a acetilcolina são alguns exemplos que talvez
reconheça). Sempre que formulamos um pensamento, os
neurotransmissores no ramo de uma árvore neural
atravessam o intervalo sináptico para chegarem à raiz de
outra árvore neural. Ao atravessarem esse espaço, o
neurônio ativa-se com uma corrente elétrica de informação.
Se continuarmos a formular os mesmos pensamentos, o
neurônio continua a ativar-se da mesma forma, consolidando
a relação entre as duas células, para que elas possam passar
cada vez melhor o sinal de ativação para ativação. Em
resultado, o cérebro revela provas físicas de que não só se
aprendeu, como também se recordou uma coisa. Esse
processo de consolidação seletiva chama-se potenciação
siniiptica.

Quando selvas de neurônios se ativam em uníssono para


apoiar um novo

pensamento, a célula nervosa cria outra substância química


(uma proteína) que vai para o seu centro, ou núcleo, onde se
fixa no ADN e passa a ativar diversos genes. Uma vez que a
tarefa dos genes é gerar proteínas para manter a estrutura e
a função do corpo, a célula nervosa apressa-se a produzir
uma nova proteína para criar novos ramos entre as células
nervosas. Desse modo, se repetirmos um pensamento ou
uma experiência vezes suficientes, as nossas células
cerebrais não só consolidam as ligações existentes entre
elas (o que afeta as funções fisiológicas), mas também criam
mais (o que afeta a estrutura física do corpo). O

cérebro enriquece a nível microscópico.

Assim sendo, quando formulamos um novo pensamento,


mudamos — em termos neurológicos, químicos e genéticos.
Aliás, podemos ganhar milhares de novas ligações numa
questão de segundos com novas aprendizagens, novas
formas de pensar e novas experiências. Isso significa que
podemos ativar logo e pessoalmente novos genes só com o
pensamento. Basta mudarmos de opinião; mente sobre a
matéria.

O Dr. Eric Kandel, vencedor de um prêmio Nobel,


demonstrou que quando se formam novas memórias, o
número de ligações sinápticas nos neurônios sensoriais
estimulados duplica para 2600. Se, contudo, a experiência
de aprendizagem original se repetir vezes sem conta, o
número de novas ligações volta aos 1300 iniciais em apenas
três semanas.

Desta forma, se repetirmos suficientemente o que


aprendemos, consolidamos as comunidades de neurônios
que nos ajudam a recordá-lo na vez seguinte. Caso contrário,
as ligações sinápticas não tardam a desaparecer e a
memória é apagada. É por isso que, se quisermos consolidar
os nossos cérebros, é tão importante estarmos sempre a
atualizar, a rever e a recordar os novos pensamentos,
escolhas, comportamentos, hábitos, crenças e experiências.
A Figura 3.5 ajuda-o a perceber as redes neurais e os
neurônios.

Para ter uma ideia da vastidão de tudo isto, imagine uma


célula nervosa ligada a outras 40 mil. Digamos que processa
100 mil excertos de informação por segundo e partilha essa
informação com outros neurônios, que estão igualmente a
processar 100 mil funções por segundo. Formada por
camadas de neurônios a trabalhar em conjunto, essa rede
chama-se rede neural. As redes neurais formam
comunidades de ligações sinápticas. Também lhes podemos
chamar circuitos neurais.

FIGURA 3.5
Simples representação gráfica dos neurônios numa rede
neural O espaço diminuto entre os ramos dos neurônios, que
facilita a comunicação entre eles, chama-se fenda sináptica.
Cabem cerca de 100 mil neurônios no mesmo espaço, do
tamanho de um grão de areia, e haverá mais de 11 milhões
de ligações entre eles.

Da mesma maneira que as mudanças físicas nas células


nervosas compõem a massa cinzenta do cérebro e os
neurônios são selecionados e instruídos para se organizarem
nessas vastas redes capazes de processar centenas de
milhões de pedaços de informação, o hardware físico do
cérebro muda, adaptando-se à informação que recebe do
ambiente. Com o tempo, tal como as redes se ativam
continuamente — convergindo e divergindo em propagações
de atividade

elétrica como uma trovoada louca em nuvens espessas o


cérebro utiliza continuamente os mesmos sistemas de
hardware (as redes neurais físicas) e ainda cria um programa
de software (uma rede neural automática). É assim que os
programas são instalados no cérebro. O hardware cria o
software, e o sistema de software está integrado no
hardware — e sempre que é utilizado, o software consolida o
hardware.

Então, se estivermos sempre a formular os mesmos


pensamentos e a formar os mesmos sentimentos por não
estarmos a aprender ou a fazer nada de novo, o cérebro
ativa os neurônios e as redes neurais exatamente nos
mesmos padrões, sequências e combinações. Tornam-se os
programas automáticos que utilizamos inconscientemente
todos os dias. Temos uma rede neural automática para
falarmos uma língua, para fazermos a barba ou nos
maquilharmos, para escrevermos no computador, para
julgarmos um colega e daí por diante, porque já praticamos
esses ações tantas vezes que as tornamos praticamente
inconscientes. Já não temos de pensar conscientemente
nelas. Realizamo-las sem qualquer esforço.

Consolidamos tantas vezes esses circuitos que os


integramos. As ligações entre os neurônios tornam-se mais
coesas, formam-se mais circuitos e os ramos chegam
mesmo a expandir-se e a espessar — da mesma maneira
que podemos consolidar e reforçar uma ponte, construir
novas estradas ou alargar uma autoestrada para acomodar
mais trânsito.

Um dos princípios mais básicos da neurociência afirma que


“as células nervosas que se ativam juntas conectam-se”.
Com o cérebro a ativar repetidamente e da mesma forma,
reproduzimos o mesmo nível mental. Segundo a
neurociência, a mente é o cérebro em ação ou
funcionamento. Assim, podemos dizer que se nos
lembrarmos diariamente de quem julgamos ser,
reproduzindo a mesma mente, levamos o cérebro a ativar-se
da mesma forma e ativamos as mesmas redes neurais,
durante anos a fio. Aos 35 anos, o cérebro já se organizou
num conjunto muito finito de programas automáticos — e a
esse padrão fixo chama-se identidade.

Pense nisso como se tivesse uma caixa dentro do cérebro, É


claro que não tem nenhuma caixa a sério no cérebro. Mas
podemos dizer com segurança que pensar dentro da caixa
significa que estruturamos fisicamente o cérebro num
padrào limitado, tal como ilustra a Figura 3.6. Ao reproduzir
vezes sem conta o mesmo nível mental, o conjunto de
circuitos neurologicamente integrado que mais foi ativado
passou a determinar o que somos como resultado da nossa
própria evolução.
FIGURA 3.6

Figura 3.7
Se os nossos pensamentos, escolhas, comportamentos,
experiências e estados emocionais não mudarem, durante
anos a fio — e os mesmos pensamentos equivalerem sempre
aos mesmos sentimentos, alimentando o mesmo círculo
vicioso -.o cérebro passa a seguir uma sequência fixa. Isso
acontece porque recriamos todos os dias a mesma mente,
levando o cérebro a ativar os mesmos padrões de sempre.
Com o tempo, consolidamos biologicamente um conjunto
limitado de redes neurais especificas que tomam o cérebro
fisicamente propenso a criar o mesmo nível mental —
passamos a pensar dentro da caixa. A totalidade desses
circuitos fixos chama-se identidade.

3. A neuroplasticidade

O nosso objetivo tem de ser pensar fora da caixa e levar o


cérebro a fazer ativações diferentes, tal como ilustra a Figura
3.7. É isso que significa ter unia mente aberta, porque,
sempre que põe o cérebro funcionar de um modo diferente,
está literal — mente a mudar a mente.

As investigações demonstram que, ao utilizarmos o cérebro,


fazêmo-lo crescer e mudar, graças à neuroplasticidade — a
capacidade do cérebro para se adaptar e mudar, quando
recebemos novas informações. Por exemplo, quanto mais os
matemáticos estudam matemática, mais ramos neurais
surgem na zona do cérebro utilizada para a matemática. E,
nos anos que passam a tocar em orquestras sinfônicas, os
músicos profissionais expandem a parte do cérebro
associada às línguas e às capacidades musicais.

Os termos científicos oficiais para designar o funcionamento


da neuroplasticidade são poda e germinação, e significam
exatamente isso: a eliminação de conexões, padrões e
circuitos neurais antigos e a criação de novos.
Num cérebro em bom funcionamento, esse processo pode
acontecer em segundos. Os investigadores da Universidade
da Califórnia em Berkeley demonstraram esse facto num
estudo realizado com cobaias, descobrindo que as cobaias
que viviam num ambiente rico (que partilhavam a gaiola
com irmãos e filhos, e que tinham acesso a muitos
brinquedos) apresentavam cérebros maiores, com mais
neurônios e conexões neurais do que as cobaias em
ambientes menos ricos. Mais uma vez se prova que, quando
aprendemos coisas novas e vivemos experiências novas,
alteramos literalmente o cérebro.

Para se libertar dos grilhões da programação fixa e do


condicionamento que o mantêm sempre igual, tem de fazer
um grande esforço. Também precisa de muito conhecimento,
porque é ao aprender informações vitais sobre si próprio e a
sua vida que pode aplicar um novo padrão ao bordado
tridimensional que constitui a sua matéria cinzenta. Já tem
mais matéria-prima para pôr o cérebro a funcionar de outras
formas. Começa a pensar e a observar distintamente a
realidade, porque passa a ver a vida pelo olhar de uma nova
mente.
FIGURA 3.7

Quando aprendemos coisas novas e começamos a pensar de


outra forma, o cérebro ativa sequências, padrões e
combinações diferentes. Ou seja, atiramos distintamente
diversas redes de neurônios. E sempre que fazemos com que
o cérebro trabalhe de outro modo, mudamos a mente. Ao
começarmos a pensar fora da caixa, os novos pensamentos
criam novos comportamentos, escolhas, experiências e
emoções. Nessa altura. a identidade muda.

4. A travessia do rio da mudança

Nesta altura, já entende que, para mudar, tem de tomar


consciência do seu eu inconsciente (que não passa de um
conjunto de programas fixos).

O mais difícil na mudança é não fazermos as mesmas


escolhas que fizemos na véspera. Se é tão difícil é porque
deixar de formular os mesmos pensamentos

que levam às mesmas escolhas de sempre — que nos fazem


agir automaticamente, como é habitual, para vivermos as
mesmas experiências que nos confirmam as mesmas
emoções da nossa identidade — nos incomoda. É um novo
estado de ser estranho; é desconhecido. não nos parece
“normal”. Já não nos sentimos nós próprios — porque já não
somos nós próprios. E porque tudo parece incerto já não
conseguimos prever a sensação do eu familiar e o seu
reflexo na nossa vida.

Por mais incômodo que isso possa ser inicialmente, pelo


menos é uma indicação clara de que entramos no rio da
mudança. Entramos no desconhecido.

Quando deixamos de ser o nosso velho eu, temos de


atravessar o fosso que o separa do novo eu e que a Figura
3.8 ilustra tão bem. Por outras palavras, não assumimos a
nova personalidade de um momento para o outro. É um
processo que leva o seu tempo.
Em geral, quando entram no rio da mudança, as pessoas
sentem-se tão incomodadas no vazio entre o velho e o novo
eu que retomam imediatamente os seus velhos eus.
Inconscientemente, pensam: isto não me parece bem, sinto-
me mal, ou não me sinto muito bem. Assim que aceitam
esse pensamento, ou autossugestão (e se tornam
suscetíveis aos próprios pensamentos), repetem
inconscientemente as mesmas velhas escolhas, que geram
os mesmos comportamentos habituais, que conduzem às
mesmas experiências, que retorçam automaticamente os
mesmos sentimentos e emoções. Depois, dizem para si
próprias: Assim, já me sinto bem. Mas o que querem dizer é
que se sentem familiarizadas.

Se compreendermos que o incômodo que sentimos na


travessia do rio da mudança é a morte biológica,
neurológica, química e, até, genética do velho eu, ganhamos
poder sobre a mudança e já podemos contemplar o outro
lado do rio.

Se aceitarmos o facto de que a mudança é a desnaturação


dos circuitos fixos de anos a pensar inconscientemente da
mesma maneira, já podemos persistir. Se entendermos que o
incômodo que sentimos se deve ao desmantelamento de
velhas atitudes, crenças e noções que fixamos
repetidamente à nossa arquitetura cerebral, conseguimos
aguentar. Se conseguirmos perceber que os desejos com que
nos debatemos no processo da mudança são sintomas de
privação das adições emocionais e químicas do corpo,
podemos avançar. Se formos capazes de entender que os
nossos hábitos e comportamentos subconscientes se estão a
transformar, num verdadeiro processo de variação biológica
que nos permite mudar o corpo a nível celular, conseguimos
investir. E se conseguirmos recordar que estamos a
modificar os próprios genes desta vida e de incontáveis
gerações anteriores, podemos manter-nos inspirados e
concentrados no nosso objetivo.

FIGURA 3.8

Para fazer a travessia do rio da mudança, tem de deixar para


trás o mesmo eu previsível de sempre — associado aos
mesmos pensamentos, escolhas, comportamentos e
sentimentos — e entrar no vazio ou desconhecido. O tosso
entre o velho e o novo eu i a morte biológica da sua velha
personalidade. Se o eu de sempre morre, terá de criar um
novo, com novos pensamentos, escolhas, comportamentos e
emoções. Entrar nesse rio i avançar para um novo eu
imprevisível e estranha O desconhecido é o único espaço
onde pode criar * não pode criar nada de novo a partir do
que conhece

Há quem chame a esta experiência a noite escura da alma. É


a fênix a arder e a reduzir-se a cinzas. O velho eu tem de
morrer para que um novo possa nascer. É claro que isso
incomoda!
Mas não faz mal, porque o desconhecido é o sitio indicado
para a criação

— é onde existem todas as possibilidades. Haverá melhor do


que isso? Uma vez que a maioria das pessoas foi
condicionada a fugir do desconhecido, agora temos de
aprender a sentir-nos bem no vazio ou desconhecido, em vez
de o temer.

Se me dissesse que não gostava de estar nesse vazio por ele


ser tão desorientador e por não conseguir avistar o que tem
pela frente, porque não prevê o futuro, diria que isso é
excelente, pois a melhor forma de prever o futuro é criá-lo —
não a partir do conhecido, mas a partir do desconhecido.

Para o novo eu nascer, também temos de ser biologicamente


diferentes. A escolha consciente de pensar e agir de outra
maneira todos os dias deve fazer germinar e selar novas
conexões neurais. Para as consolidarmos, temos de criar
repetidamente as mesmas experiências até fazermos delas
um hábito. Devemos

familiarizar-nos com os novos estados químicos das emoções


que advêm de novas experiências. Novos genes devem ser
incumbidos de criar proteínas que alterem o estado de ser
de outras formas. E se, tal como já constatamos, a expressão
das proteínas é a expressão da vida, e a expressão da vida
se equaciona com a saúde do corpo, segue-se um novo nível
de saúde estrutural e funcional. Surgem então uma mente e
um corpo renovados.

Quando nasce um novo dia, depois de uma longa e escura


noite, e a fênix renasce das cinzas, inventamos um novo eu.
A expressão física e biológica do novo eu é literalmente
outra pessoa. Deu-se uma verdadeira metamorfose.

5. Superar o ambiente
Podemos dizer que o cérebro está organizado para refletir
tudo o que sabemos e experienciamos na vida. Já sabe que
foram os acontecimentos das suas interações com o mundo
exterior que moldaram a sua personalidade. As redes
complexas de neurônios que se ativaram e fixaram em
conjunto nos dias que já passamos na Terra formaram
milhares de milhões de conexões, porque aprendemos e
formamos memórias. Como cada conexão de um neurônio a
outro é uma “memória”, o cérebro é um registo vivo do
nosso passado. As experiências que viveu com todas as
pessoas e coisas em diferentes alturas e locais do seu
ambiente exterior ficaram gravadas nos cantos recônditos da
sua massa cinzenta.

Assim, por natureza, a maioria das pessoas pensa no


passado, porque utiliza o mesmo hardware e software das
memórias passadas. Se vivermos a mesma vida, todos os
dias, fazendo as mesmas coisas, às mesmas horas, vendo as
mesmas pessoas nos mesmos sítios e criando as mesmas
experiências da véspera, aprisionamo-nos num ciclo
perpétuo de influência dos mundos exteriores sobre os
mundos interiores. É o ambiente que controla a nossa forma
de pensar, agir e sentir. Somos vitimas da nossa realidade
pessoal, porque é ela que cria a nossa personalidade — e
isso tornou-se um processo inconsciente.

Depois, reforçamos as mesmas formas de pensar e sentir e,


nos tangos que dançam ou nas batalhas que travam, os
mundos exteriores e interiores fundem-se e formam um só.

Se o ambiente regula diariamente a nossa forma de pensar e


sentir, para mudar, alguma coisa de nós ou da nossa vida
teria de superar as circunstâncias presentes nesse ambiente.
DADOS DE ODINRIGHT
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6. Pensar e sentir, e sentir e pensar Se os pensamentos
são a linguagem do cérebro, os sentimentos são a linguagem
do corpo. A forma como pensamos e sentimos cria um
estado de ser, em que a mente e o corpo funcionam em
conjunto. Na realidade, o seu estado de ser atual é a sua
conexão mente-corpo.

Sempre que formula um pensamento, além de gerar


neurotransmissores, o cérebro produz outra substância
química — uma pequena proteína chamada neuropeptídeo,
que envia uma mensagem ao corpo. O corpo reage,
formando um sentimento. O cérebro repara que o corpo
forma um sentimento e gera outro pensamento que se lhe
adequa perfeitamente e que produzirá mais mensagens
químicas que lhe permitem pensar de acordo com o que está
a sentir.

Sendo assim, o pensamento cria um sentimento, e o


sentimento cria um pensamento que lhe corresponde. Ê um
círculo vicioso (que, para a maioria das pessoas, pode durar
anos a fio). Uma vez que o cérebro reage aos sentimentos do
corpo, gerando os pensamentos que criam as mesmas
emoções, torna-se evidente que os pensamentos
redundantes estruturam o cérebro num padrão fixo de
circuitos neurais.

Mas o que acontece no corpo? Como modus operandi do


corpo, as emoções que sentimos continuamente baseadas
nos nossos pensamentos automáticos condicionam o corpo a
memorizar os sentimentos que correspondem à mente e ao
cérebro inconscientes estruturalmente fixos. Ou seja, a
mente consciente não manda em nada. O corpo foi
inconscientemente programado e condicionado de forma
muito concreta para se tornar a sua própria mente.
A certa altura, esse círculo vicioso de pensamento e
sentimento e de sentimento e pensamento já se
automatizou e faz com que o corpo memorize as emoções
que o cérebro o mandou sentir. O círculo torna-se tão
estabelecido e integrado que cria um estado de ser assente
em velhas informações em perpétua reciclagem. Essas
emoções, que não passam de registos químicos de
experiências passadas, motivam os pensamentos e repetem-
se infinitamente.

Enquanto esse ciclo persistir, viveremos no passado. não


admira, pois, que tenhamos tanta dificuldade em mudar o
nosso futuro!

Quando os neurônios são ativados da mesma forma,


desencadeiam a libertação dos mesmos neurotransmissores
químicos e neuropeptídeos no cérebro e no corpo que, por
sua vez, começam a treinar o corpo para continuar a
lembrar-se dessas emoções, alterando-o fisicamente outra
vez. As células e os

tecidos recebem essas ordens químicas muito especificas


em determinados locais receptores. Os locais receptores são
como estações de atracagem dos mensageiros químicos. Os
mensageiros encaixam-se perfeitamente, como um puzzle
infantil, em que peças com a forma de círculo, triângulo ou
quadrado se encaixam nos de\idos espaços.

Pense que esses mensageiros químicos, que, na realidade,


são moléculas de emoção, têm códigos de barras que
permitem que os receptores leiam a sua energia
eletromagnética. Quando surge uma correspondência exata,
o local receptor prepara-se. O mensageiro atraca, a célula
recebe as mensagens químicas e cria ou altera uma
proteína. A nova proteína ativa o ADN da célula no seu
núcleo.
O ADN abre-se e desenrola-se, o gene é lido de acordo com a
mensagem correspondente do exterior da célula e a célula
produz uma nova proteína a partir do seu ADN (por exemplo,
uma determinada hormona) que liberta no corpo.

Agora, é a mente que instrui o corpo. Se esse processo


continuar durante anos e anos, porque os mesmos sinais do
exterior da célula vêm do mesmo nível mental no cérebro
(porque pensamos, agimos e sentimos da mesma maneira,
todos os dias), é normal que se ativem os mesmos genes da
mesma forma, porque o corpo recebe os mesmos dados do
ambiente. não há novos pensamentos, não se fazem novas
escolhas, não se demonstram novos comportamentos, não
se aceitam novas experiências e não se criam novos
sentimentos. Se forem repetidamente ativados pela mesma
informação proveniente do cérebro, os genes são engatados
vezes sem conta e, como a embraiagem de um carro,
desgastam-se. O corpo produz proteínas com estruturas
mais frágeis e menos funções. Adoecemos e envelhecemos.

Com o tempo, pode ocorrer um de dois cenários. A


inteligência da membrana celular que recebe
insistentemente a mesma informação pode adaptar-se às
necessidades e exigências do corpo, modificando os locais
receptores para acomodar mais substâncias químicas. O que
faz essencialmente é criar mais estações de atracagem para
satisfazer a procura — tal como os supermercados abrem
mais caixas quando as filas começam a crescer. Se o negócio
se mantiver próspero (se os mesmos químicos continuarem
a aparecer), será preciso contratar mais funcionários e
manter mais caixas abertas. O corpo passa a corresponder à
mente e torna-se a mente.

No outro cenário, a célula fica tão assoberbada com o


contínuo bombardeamento de sentimentos e emoções a
toda a hora que já não permite a atracagem de todos os
mensageiros químicos. Habituada à presença contínua dos
mensageiros às portas da sua estação de atracagem, a
célula já só se dispõe a deixá-los entrar quando o cérebro
produz uma quantidade muito superior de emoções mais
intensas. Quando aumenta a intensidade da emoção, a
célula

recebe estimulo suficiente para abrir as portas da estação e


para se ativar.

(Informações sobre a importância das emoções mais


adiante; esta é uma parte fundamental da equação do
placebo.)

No primeiro cenário, quando a célula cria novos locais


receptores, o corpo passa a ter carência dessas substâncias
químicas especificas se o cérebro não produzir uma
quantidade suficiente e, consequentemente, os sentimentos
determinarão os pensamentos — o corpo controlará a
mente. É isso que quero dizer quando afirmo que o corpo
memoriza a emoção. Alterou-se e tornou-se biologicamente
condicionado a refletir a mente.

No segundo cenário, se a célula ficar assoberbada com o


bombardeamento e os receptores se dessensibilizarem, tal
como um toxicodependente, o corpo exigirá um estimulo
químico superior para ativar a célula. Por outras palavras,
para o corpo se estimular e obter a sua dose, temos de nos
irritar, preocupar, culpabilizar ou baralhar mais do que antes.
Assim, talvez sintamos necessidade de fazer uma cena,
desatando a gritar com o nosso cão sem motivo, só para
darmos ao corpo a sua droga de eleição. Ou talvez
comecemos a dizer o quanto odiamos a nossa sogra, para
que o corpo tenha mais substâncias químicas com força
suficiente para excitar a célula. Ou podemos ficar obcecados
por um qualquer resultado horrível que imaginamos para
podermos proporcionar um surto de adrenalina ao corpo.
Quando o corpo não recebe as substâncias químicas
emocionais de que precisa, manda o cérebro produzir mais
— o corpo controla a mente. Parece mesmo uma adição;
portanto, quando utilizo o termo adição emocional, já sabe o
que quero dizer.

Quando os sentimentos se tornam o meio através do qual


pensamos desta forma — ou não conseguimos superar o que
sentimos com os pensamentos é porque estamos no
programa. A nossa maneira de pensar é a nossa maneira de
sentir e os nossos sentimentos são os nossos pensamentos.
O que sentimos é como uma fusão de pensamentos e
sentimentos — sensar ou pentir. Uma vez apanhados neste
ciclo, tal como a mente inconsciente, os nossos corpos
passam efetivamente a acreditar que vivem na mesma
experiência passada, 24 horas por dia, sete dias por semana
e 365 dias por ano. A mente e o corpo são um só organismo
cujo destino é predeterminado pelos nossos programas
inconscientes.

Desse modo, para mudar, temos de superar o corpo e as


suas memórias emocionais, as suas adições e os seus
hábitos inconscientes — ou seja, não podemos deixar que o
corpo nos defina como se fosse a mente.

A repetição do ciclo de pensar e sentir e, depois, sentir e


pensar é o processo de condicionamento do corpo que a
mente consciente produz. Quando o corpo se torna a mente
estamos na presença de um hábito — ou seja, quando o
corpo é a mente. Noventa e cinco por cento de quem somos
aos 35 anos

corresponde a um conjunto memorizado de


comportamentos, capacidades, reações emocionais, crenças,
noções e atitudes que funciona como um programa
informático automático e subconsciente.
Assim, 95 por cento de quem somos corresponde a um
estado de ser subconsciente ou. até, inconsciente. Isso
significa que os 5 por cento de mente consciente trabalham
contra os 95 por cento do que memorizamos
subconscientemente. Por mais otimistas que sejamos, esses
5 por cento de mente consciente nunca deixam de se sentir
a nadar contra a corrente dos outros 95 por cento que
constituem a mente — a química corporal do inconsciente
que se lembra e memoriza tudo o que temos estado a
recolher, nos últimos 35 anos; é a mente e o corpo a
trabalharem em posições opostas. não admira que não
cheguemos muito longe, sempre que tentamos lutar contra
essa corrente!

É por esse motivo que intitulei o meu último livro Como Criar
Um Novo Eu, porque esse é o maior hábito que temos de
quebrar — o de formular pensamentos, formar sentimentos e
assumir comportamentos que promovam o programa
inconsciente que reflete a nossa personalidade e a nossa
realidade pessoal. não podemos criar um novo futuro se
continuarmos a viver no passado.

É simplesmente impossível.

7. O que precisa de fazer para ser o seu próprio


placebo Segue-se um exemplo que vai colocar tudo em
perspetiva. Escolho intencionalmente um acontecimento
negativo, porque esse tipo de acontecimento tende a
manter-nos limitados, enquanto os acontecimentos bem-
sucedidos, inspiradores e animadores tendem a ajudar-nos a
criar um futuro melhor. (Esse processo não tardará a ficar
esclarecido.)

Supúnhamos que viveu uma experiência terrível numa


situação em que tinha de falar para um público que o
marcou emocionalmente. (Pode substituir este por qualquer
outro trauma emocional que tenha sofrido.) Devido a essa
experiência, agora, tem receio de falar para um público.
Sente-se inseguro, ansioso e pouco confiante nessas
situações. Basta pensar numa sala com 20

pessoas para sentir um nó na garganta, as mãos frias e


úmidas, o coração acelerado, a cara e o pescoço quentes, o
estômago às voltas e o cérebro paralisado.

Todas essas reações estão sob a jurisdição do sistema


nervoso autônomo, que funciona subconscientemente —
fora do controlo consciente. Pense em autônomo como
automático — é a parte do sistema nervoso que regula a
digestão, as hormonas, a circulação, a temperatura corporal
e daí por diante, sem

o seu controlo consciente. não pode decidir e mandar


acelerar o ritmo cardíaco, aumentar o fluxo sanguíneo para
arrefecer as extremidades, aquecer a cara e o pescoço,
alterar as secreções metabólicas das enzimas digestivas, ou
impedir milhões de células nervosas de se ativarem. Por
mais que tente, o mais provável é não ser capaz de alterar
conscientemente nenhuma dessas funções.

Quando o corpo faz essas mudanças fisiológicas autônomas,


é porque associamos o pensamento futuro de estar diante
de um público a fazer uma apresentação à memória
emocional passada da nossa experiência falhada numa
situação semelhante. Quando esse pensamento, essa ideia
ou possibilidade futuros são consistentemente associados
aos sentimentos passados de ansiedade, fracasso ou
embaraço, com o tempo, a mente condicionará o corpo a
responder automaticamente a tais sentimentos, É assim que
entramos continuamente em estados de ser familiares — os
nossos pensamentos e sentimentos fundem-se com o
passado, porque não conseguimos formular pensamentos
que superem os nossos sentimentos.
Vejamos agora melhor como isso funciona no cérebro. O
acontecimento específico que foi neurologicamente gravado
e padronizado como memória passada (lembre-se de que a
experiência enriquece os circuitos cerebrais) fixa-se
fisicamente no cérebro, como uma pegada. Em
consequência, pode recordar a experiência negativa de falar
em público como um pensamento. Para a recordar quando
quer, a experiência tem de ter também uma carga
emocional significativa. Pode trazer emocionalmente à
mente todos os sentimentos relativos â sua tentativa falhada
como orador de êxito, porque é como se a experiência o
tivesse alterado a nível químico.

Quero salientar que os sentimentos e emoções são o


resultado final das experiências passadas. Ao viver uma
experiência, os seus sentidos captam o acontecimento e
transmitem toda a informação ao cérebro, através de cinco
canais sensoriais. Quando esses novos dados chegam ao
cérebro, multidões de células nervosas organizam-se em
novas redes, que refletem esse acontecimento exterior.
Assim que esses circuitos se consolidam, o cérebro produz
uma substância química para mandar o corpo alterar a sua
fisiologia. Essa substância chama-se sentimento ou emoção.
Desse modo, lembramo-nos de acontecimentos passados,
porque podemos recordar o que nos fizeram sentir.

Quando a palestra correu mal, toda a informação que os


cinco sentidos captaram no ambiente exterior mudou a
forma como se sentia interiormente. A informação que os
sentidos processaram — as caras das pessoas, a imponência
da sala e as luzes intensas acima da sua cabeça; o som
ecoante do microfone e o silêncio de morte depois de contar
a primeira anedota; a subida imediata da temperatura da
sala quando começou a falar; o aroma da água-de-colônia a
evaporar com a transpiração — mudou o seu estado de ser
interior. E quando correlaciona esse acontecimento singular
no mundo exterior dos sentidos (a causa) com as mudanças
que estão a ocorrer no mundo interior dos pensamentos e
sentimentos (o efeito), cria uma memória. Associou uma
causa a um efeito —

e deu inicio ao seu próprio processo de condicionamento.

Depois da tortura autoinfligida desse dia que, felizmente,


acabou sem que ninguém lhe lançasse legumes ou frutas
podres, foi para casa. No caminho, dentro do carro, não
parava de relembrar o que tinha acontecido. E, em
diferentes medidas, sempre que recordava (e é exatamente
isso: reproduzir o mesmo nível mental) a experiência,
produzia as mesmas mudanças químicas no cérebro e no
corpo. De certa forma, confirmava repetidamente o passado
e agravava o processo de condicionamento.

Uma vez que funciona como a mente inconsciente, o corpo


não soube distinguir o acontecimento concreto que criou o
estado emocional das emoções que foram criadas só com o
poder do pensamento, ao recordar o que tinha acontecido. O
corpo acreditou que estava a viver repetidamente a mesma
experiência, apesar de estar sozinho, no conforto do carro, e
respondeu fisiologicamente como se estivesse a reviver a
experiência no presente. Ao ativar e fixar os circuitos
cerebrais provenientes dos pensamentos decorrentes dessa
experiência, estava a manter fisicamente as conexões
sinápticas e a criar ainda mais conexões duradoras nesses
redes — estava a criar uma memória de longo prazo.

Assim que chegou a casa, contou o que tinha acontecido ao


seu companheiro, aos seus amigos e talvez, até, à sua mãe.
Ao descrever pesarosamente o trauma em grande detalhe,
fez efervescência emocional e, ao reviver essas emoções do
incidente, condicionou quimicamente o corpo ao evento
passado desse dia. Treinou fisiologicamente o corpo a tornar-
se a sua história pessoal — a nível subconsciente,
inconsciente e automático.

Nos dias seguintes, esteve mal-humorado. As pessoas


repararam e, sempre que alguém lhe perguntava “O que
foi?", não conseguia e aproveitava para alimentar o vício ao
surto químico do passado. O estado de espírito criado por
essa experiência foi uma reação emocional que durou dias.
Quando passou a ficar nesse estado durante semanas,
meses e, até, anos a fio, a sua reação emocional tornou-se
prolongada. Já faz parte não só do seu temperamento, do
seu carácter e da sua natureza, mas também da sua
personalidade — de quem é.

Se lhe pedirem novamente para falar para um grupo, recua


automaticamente, encolhe-se e fica ansioso. O ambiente
exterior controla o ambiente interior e não há como evitar.
Uma vez que o pensamento de que o futuro (falar em
público numa inauguração) será parecido com a sensação do

passado (tormento insustentável), como por magia, à


semelhança da mente, o corpo responde de forma
automática e subconsciente. Por mais que tente, parece que
a mente consciente não controla. Em segundos, começa a
manifestar-se uma série de respostas condicionadas da
farmácia do cérebro e do corpo —

transpiração abundante, boca seca, joelhos tremelicantes,


enjoo, tonturas, falta de ar e fadiga incontrolável tudo por
causa de um só pensamento que altera a fisiologia. Parece-
me o placebo.

Se pudesse, rejeitaria essa oportunidade de falar, dizendo


qualquer coisa como “Sou uma nulidade a falar em público”,
“Fico inseguro diante das pessoas", “Sou péssimo a fazer
apresentações", ou “Sou incapaz de enfrentar um público
grande". Sempre que diz “Sou..." (insira aqui o resto), está a
declarar que a mente e o corpo se alinham com um
determinado futuro ou que os pensamentos e sentimentos
estão fundidos com o destino. Está a reforçar um estado de
ser memorizado.

Se, por acaso, lhe perguntassem porque se deixa definir pelo


passado e pelas suas próprias limitações, certamente que
contaria uma história igual às suas memórias e emoções
passadas — reafirmando-o como a pessoa que é.

Provavelmente, até a embelezaria um pouco. Do ponto de


vista biológico, o que estaria na realidade a proclamar era o
facto de esse acontecimento passado o ter alterado a nível
físico, químico e emocional, e não ter mudado muito desde
então. Optou por se deixar definir pelas suas próprias
limitações.

Neste exemplo, poderia dizer que o corpo o escravizou


(porque se tornou a mente), que as condições do ambiente o
aprisionaram (porque a experiência com as pessoas e com
as coisas num determinado sítio e período de tempo
influenciou o seu modo de pensar, agir e sentir) e que se
perdeu no tempo (porque ao viver no passado, sempre à
espera do mesmo futuro, a mente e o corpo nunca estão no
momento presente). Assim sendo, para alterar o seu estado
de ser atual, teria de superar três elementos: o corpo, o
ambiente e o tempo.

Desse modo, tendo em conta o início deste capítulo, onde se


referem os três elementos que dão origem ao placebo — o
condicionamento, a expectativa e o significado -, já deve
saber que é o seu próprio placebo. Porquê? Porque esses três
elementos entram em jogo no exemplo anterior.

Primeiro, como um talentoso domador de animais,


condicionou o corpo a permanecer num estado de ser
subconsciente em que a mente e o corpo são um só
organismo — os pensamentos e sentimentos fundiram-se —
e, só pelo poder do pensamento, o corpo passou a estar
automática, biológica e fisiologicamente programado para
ser a mente. Ou seja, da mesma forma que Pavlov
condicionou os seus cães, condiciou ocorpo a dar a mesma
resposta automática e subconsciente à mente da
experiência passada, sempre que se vê confrontado

com um estímulo do ambiente exterior, como uma


oportunidade para ensinar.

A maioria dos estudos sobre o placebo demonstra que um só


pensamento pode ativar o sistema nervoso autônomo e
produzir mudanças fisiológicas significativas, o que significa
que regula o seu mundo interior simplesmente associando
um pensamento a uma emoção. Os sentimentos familiares e
sensações corporais relacionados com o temor reforçam
neuroquimicamente todos os sistemas subconscientes e
autônomos — e a biologia reflete-o na perfeição.

Segundo, se tiver como expectativa que o futuro será igual


ao passado, isso significa que não só está a pensar no
passado, como também está a selecionar um futuro
conhecido, apenas com base no passado, e a aceitar
emocionalmente esse acontecimento até que o corpo (no
papel de mente inconsciente) passa a crer que está a viver
nesse futuro no momento presente. Centra toda a atenção
numa realidade conhecida e previsível que o faz limitar
novas escolhas, novos comportamentos, experiências e
emoções. Prevê inconscientemente o futuro agarrando-se
fisiologicamente ao passado.

Terceiro, se atribuir significado ou intenção consciente a um


ato, amplifica o resultado. O que diz a si próprio todos os
dias (neste caso, que não é bom orador e que falar em
público lhe provoca uma reação de pânico) é aquilo a que
atribui significado. Torna-se suscetível às suas próprias
autossugestões. E se o presente conhecido se baseia nas
conclusões que tirou das experiências passadas, então, sem
novos conhecimentos, não deixará de criar resultados que
correspondam à sua mente. Se alterar o significado e a
intenção, tal como as camareiras de hotel no estudo referido
no capítulo anterior, altera os resultados.

Se der por si a funcionar em piloto automático, acorrentado


ao mesmo velho estado de ser, mas quer fazer mudanças
positivas e criar um novo estado de ser, só tem de perceber
que é sempre o seu próprio placebo.

8. CAPÍTULO 4

O efeito placebo no corpo

Num dia fresco de setembro de 1981. um grupo de oito


homens septuagenários e octogenários viajou de carrinha,
durante duas horas, de Boston para um mosteiro em
Peterborough. Nova Hampshire. Os homens iam participar
num retiro de cinco dias onde tinham de simular que eram
jovens outra vez — ou, pelo menos, 22 anos mais novos do
que eram na altura. O retiro foi organizado por uma equipa
de investigadores liderada pela Doutora Ellen Langerde,
psicóloga de Harvard, que levaria outro grupo de seis idosos
para o mesmo local, mas uma semana depois. Os homens do
segundo grupo, que correspondia ao grupo de controlo,
tinham de recordar ativamente como eram há 22 anos, mas
sem fazer de conta que tinham essa idade.

Quando o primeiro grupo chegou ao mosteiro, os homens


deram por si rodeados por todo o gênero de estímulos
ambientais que propiciavam a recriação de uma idade mais
jovem. Tinham números antigos da Life e do Saturday
Evening Post, filmes e programas de televisão que tinham
sido populares em 1959, bem como música de Perry Como e
Nat King Cole a passar na rádio.

Também falavam de acontecimentos “atuais", como a


ascensão de Fidel Castro ao poder, em Cuba, a visita do
primeiro-ministro russo Nikita Khrushchev aos Estados
Unidos e, até. os feitos da estrela do basebol Mickey Mantle
e do campeão de pugilismo Floyd Patterson. Todos esses
elementos foram cuidadosamente estudados para os ajudar
a imaginar que realmente tinham menos 22 anos.

Depois de cada retiro de cinco dias, os investigadores faziam


várias medições e comparavam-nas com os valores
registados antes do início do estudo. Os corpos dos homens
de ambos os grupos apresentavam-se fisiologicamente mais
jovens, a nível estrutural e funcional, mas os do primeiro
grupo (que faziam de conta que eram mais jovens)
revelaram melhorias significativamente superiores às do
grupo de controlo, que se limitara a recordar.

Os investigadores descobriram melhorias em termos de


altura, peso e porte.

Os homens ficaram mais altos, porque assumiram uma


postura mais ereta, as articulações ficaram mais flexíveis e
os dedos mais compridos, porque a artrite diminuiu. A visão
e a audição apuraram-se. A força de preensão aumentou. A
memória tornou-se mais aguçada e a cognição mental
avaliada em testes, mais apurada (o primeiro grupo registou
um acréscimo de 63 por cento, em comparação com o grupo
de controlo, que registou 44 por cento). Naqueles

cinco dias, os homens rejuvenesceram literalmente, sob o


olhar atento dos investigadores.

Segundo Langer, “no fim do estudo, já jogava futebol


americano com esses homens (só de toque, mas mesmo
assim) e alguns deles deixaram de usar bengala.”

Como é que isso pôde acontecer? Os homens conseguiram


ativar os circuitos cerebrais que os recordavam de como
eram 22 anos antes, fazendo reagir, assim» de alguma
forma e como que por magia, a química corporal. não se
sentiam apenas mais jovens; tornaram-se fisicamente mais
jovens, como comprovaram as inúmeras medições. A
mudança não ocorreu apenas nas suas mentes, ocorreu
igualmente nos seus corpos.

Mas o que terá feito com que os seus corpos produzissem


transformações físicas tão impressionantes? Qual seria a
causa dessas mudanças mensuráveis na estrutura e na
função física? A resposta é: os genes — que não são tão
imutáveis como se pensa. Observemos agora com maior
detalhe o que são exatamente os genes e como funcionam.

1. Desmistificar o ADN

Imagine uma escada ou um fecho éclair numa espiral, para


ter uma ideia de como é o ácido desoxirribonucleico (mais
conhecido como ADN). Armazenado no núcleo de todas as
células vivas do nosso corpo, o ADN contém a informação
pura, ou as instruções elementares que fazem de nós aquilo
que somos (embora, como não tardaremos a ver, essas
instruções não sejam um mapa imutável que as nossas
células têm de seguir para sempre). Cada metade desse
fecho de ADN

contém ácidos nucleicos correspondentes que, em conjunto,


se chamam pares de bases, na ordem dos três mil milhões
por célula. Os grupos de sequências longas desses ácidos
nucleicos chamam-se genes.

Os genes são estruturas pequenas e singulares. Se


retirássemos o ADN do núcleo de uma só célula do corpo e o
esticássemos bem, ele mediria cerca de 1,80 m. Se
extraíssemos todo o ADN do corpo e o esticássemos, ele iria
e viria do Sol 150 vezes. Mas, se retirássemos todo o ADN
dos quase sete mil milhões de pessoas que habitam o
planeta e o juntássemos, ele caberia num espaço
equivalente a um grão de arroz.

O nosso ADN utiliza as instruções gravadas nas suas


sequências individuais para produzir proteínas. A palavra
proteína deriva do termo grego protas, que significa “de
importância primordial". As proteínas são a matéria-prima
que o corpo utiliza para construir não só estruturas
tridimensionais coerentes (a nossa anatomia física), mas
também as funções intricadas e as interações complexas

que constituem a nossa fisiologia. Na verdade, o corpo é


uma máquina de proteínas. As células musculares produzem
actina e miosina; as células dérmicas produzem colagênio e
elastina; as células imunitárias produzem anticorpos; as
células da tiroide produzem tiroxina; algumas células
oculares produzem queratina; as células da medula óssea
produzem hemoglobina; e as células pancreáticas produzem
enzimas como a protéase, a lipase e a amílase.

Todos os elementos produzidos por essas células são


proteínas que controlam o sistema imunológico, digerem os
alimentos, saram as feridas, catalisam as reações químicas,
apoiam a integridade estrutural do corpo, proporcionam
moléculas elegantes para a comunicação celular e fazem
muito mais. Em suma, as proteínas são a expressão da vida
(e a saúde do corpo).

Observe a Figura 4.1, que apresenta uma noção simplificada


dos genes.

Nos 60 anos que passaram desde que os Doutores James


Watson e Francis Crick descobriram a hélice dupla do ADN,
mantém-se o “dogma central” de que os genes determinam
tudo numa pessoa — tal como disse Watson numa edição da
Nature dos anos 70. Com o surgimento de evidências
contraditórias, muitos investigadores passaram a rejeitá-lo
como mera anomalia num sistema complexo.

FIGURA-4.1

Esta é uma representação muito simplista de uma célula


com ADN conluio no núcleo celular. Esticado em tiras
individuais. o material genético parece um fecho éclair ou
uma escada e chama-se hélice de ADN. Os degraus da
e$u<ta são os pares de áddos nuclêicos. que funcionam
como códigos para fazer proteínas. Chama-se gene a uma
sequência e a uma medida de comprimento da tira de ADN.
O gene expressa-se quando produz uma proteína. As várias
células do corpo produzem diferentes proteínas para a
estrutura e a função.

Cerca de 40 anos depois, ainda predomina o conceito de


determinismo genético. A maioria das pessoas acredita na
noção errada de que temos o destino predeterminado e que.
tal como herdamos a forma do nariz ou a cor dos olhos,
também herdamos os genes de certos cancros, doenças
cardíacas, diabetes ou

outras condições e nada podemos fazer em relação a isso


(apesar de podermos colocar lentes de contacto de outra cor
ou fazer uma rinoplastia).

Os meios de comunicação reforçam essa noção, insistindo


em que determinados genes provocam doenças.
Programam-nos para nos fazer acreditar que somos vítimas
da nossa biologia e que os genes têm um poder supremo
sobre a saúde, o bem-estar e a personalidade de cada um —
e que até ditam as questões humanas, determinam as
relações interpessoais e preveem o futuro.

Mas será que somos quem somos e fazemos o que fazemos


por termos nascido assim? Isso significaria que o
determinismo genético está profundamente enraizado na
nossa cultura e que existem genes para a esquizofrenia,
genes para a homossexualidade, genes para a liderança e
daí por diante.

Não passam de crenças ultrapassadas, baseadas em


informações fora de prazo. Em primeiro lugar, não existem,
por exemplo, genes para a dislexia, o défice de atenção ou o
alcoolismo, pelo que nem todos os problemas de saúde ou
variações físicas se associam a um gene. E menos de 5 por
cento das pessoas no planeta nascem com problemas
genéticos — como diabetes de tipo 1, síndrome de Down, ou
anemia falciforme. Os outros 95 por cento podem
desenvolver esses problemas, adquirindo-os devido ao estilo
de vida ou ao comportamento. O

contrário também se aplica: nem todas as pessoas com


genes associados a um problema (como doença de
Alzheimer ou cancro da mama) acabam por o desenvolver.
Os genes não são propriamente ovos a chocar qualquer
coisa. não é assim que as coisas funcionam. A verdadeira
questão é saber se um dos nossos genes já se expressou ou
não e perceber se estamos a fazer alguma coisa passível de
o ativar ou desativar.

Quando os cientistas conseguiram finalmente traçar o mapa


do genoma humano, deu-se uma enorme mudança na forma
como encaramos os genes. Em 1990, no início do projeto, os
investigadores calculavam vir a descobrir em nós 140 mil
genes diferentes. Chegaram a esse número porque os genes
fabricam (e controlam a produção das) proteínas — o corpo
humano fabrica 100 mil proteínas diferentes e são
necessárias mais 40 mil proteínas regulatórias para produzir
outras proteínas. Então, os cientistas que traçavam o mapa
do genoma humano esperavam encontrar um gene por
proteína, mas. no fim do projeto, em 2003, ficaram
surpreendidos: afinal, os seres humanos só têm 23 688
genes.

De acordo com a perspetiva do dogma central de Watson,


esse número de genes é insuficiente não só para criar o
corpo, que é complexo, e mantê-lo a funcionar, mas também
para garantir o funcionamento do cérebro. Assim, impõe-se a
seguinte pergunta: se não está contida nos genes, de onde
vem toda a informação necessária para criar tantas
proteínas e sustentar a vida?

2. O gênio dos genes

A resposta a essa pergunta levou a uma nova teoria: os


genes devem funcionar em conjunto numa colaboração
sistêmica uns com os outros, sendo que se expressam
(ativam) ou suprimem (desativam) em grupos,
simultaneamente, na célula; é a combinação desses genes
ativados em determinada altura que produz as diferentes
proteínas de que dependemos para viver. Imagine um fio de
luzes intermitentes de Natal, em que um grupo se apaga
quando o outro se acende. Ou imagine o horizonte noturno
de uma cidade — com as luzes das várias divisões de cada
edifício a acender e a apagar, pela noite fora.

É evidente que não se trata de um processo aleatório. O


genoma, ou a tira de ADN na sua totalidade, sabe o que
fazem todas as suas partes que, interligadas.

funcionam numa sequência estritamente coreografada.


Todos os átomos, moléculas, tecidos celulares e sistemas do
corpo funcionam a um nível de coerência energética que
corresponde ao estado de ser intencional ou não intencional
(consciente ou inconsciente) de personalidade de cada
indivíduo.

Desse modo, faz sentido que os genes possam ser ativados


(ligados) ou desativados (desligados) pelo ambiente exterior
à célula que, umas vezes, é o ambiente interior do corpo (os
estados de ser emocionais, biológicos, neurológicos,
mentais, energéticos e, até, espirituais) e, outras vezes, é o
ambiente exterior ao corpo (trauma, temperatura, altitude,
toxinas, bactérias, vírus, alimentos, álcool e daí por diante).
Em bom rigor, os genes são classificados consoante o tipo de
estimulo que os ativa ou desativa. Por exemplo, os genes
dependentes da experiência ou dependentes da atividade
ativam-se quando vivemos novas experiências, aprendemos
nova informação e nos curamos de qualquer coisa. Esses
genes geram a síntese proteica e fazem com que os
mensageiros químicos deem ordem às células estaminais
para se transformarem nos tipos de células que forem
necessários para a cura nesse momento (lerá mais sobre
células estaminais e o seu papel na cura em breve).

Os genes dependentes do comportamento ativam-se em


períodos de elevada excitação emocional, stress, ou em
diferentes níveis de consciência (incluindo os sonhos),
estabelecendo um elo entre os pensamentos e o corpo — ou
seja, são a ligação mente-corpo. Esses genes permitem-nos
compreender como podemos influenciar a saúde, acedendo
a estados de mente e corpo que promovam o bem-estar, a
resistência física e a cura.

Os cientistas já acreditam na possibilidade de a nossa


expressão genética flutuar de acordo com cada momento. As
investigações revelam que tanto os nossos pensamentos e
sentimentos como as nossas atividades — ou seja, as nossas
escolhas, atitudes e experiências — exercem um profundo
efeito de cura e regeneração sobre o corpo, tal como
constataram os homens do estudo realizado no mosteiro.
Isso significa que as suas interações com a família, os
amigos e os colegas, as suas práticas espirituais, os seus
hábitos sexuais, o exercício físico que pratica e o detergente
que usa afetam os seus genes. As investigações mais
recentes demonstram que aproximadamente 90 por cento
dos genes cooperam com diversos sinais do ambiente. E se a
nossa experiência ativa uma parte significativa de genes,
então, a nossa natureza sofre a influência da forma como
nos criaram. Nesse caso, porque não pegamos nessas
noções e fazemos tudo o que pudermos para maximizar a
nossa saúde e minimizar a nossa dependência no bloco de
receitas do médico?

Como escreve o Doutor Ernest Rossi, no livro The


Psychobiology of Gene Expression (A Psicobiologia da
Expressão dos Genes), “os nossos estados mentais
subjetivos, atitudes de motivação consciente e concepção de
livre-arbítrio podem modelar a expressão dos nossos genes
para otimizar a saúde”. O

atual pensamento científico alinha-se com a teoria de que as


pessoas podem alterar os genes numa só geração. Embora o
processo de evolução genética demore milhares de anos,
bastam minutos para que um gene altere a sua expressão,
através de uma mudança de atitude ou de uma nova
experiência —

podendo transmitir essa alteração à geração seguinte.

É bom pensar nos genes menos como tabuletas de pedra em


que gravaram cerimoniosamente o nosso destino e mais
como armazéns com uma enorme quantidade de informação
codificada ou, até, intermináveis bibliotecas de
possibilidades para a expressão das proteínas. Mas não
podemos simplesmente recolher a informação armazenada
para a utilizar da mesma maneira que uma empresa manda
ir buscar qualquer coisa ao armazém. É como se
desconhecêssemos o que está armazenado ou como lhe
aceder, acabando por só utilizar uma pequena parte do que
realmente dispomos. Aliás, só chegamos a expressar cerca
de 1,5 por cento do nosso ADN, deixando os outros 98,5 por
cento latentes no organismo. (Os cientistas chamaram-lhe
"ADN lixo", mas não se trata realmente de lixo — apesar de
ainda não saberem como é utilizado todo esse material, já
sabem que pelo menos uma parte é responsável pela
produção das proteínas regulatórias.)
“Na verdade, os genes contribuem para a formação das
características de uma pessoa, mas não as determinam”
escreve o Doutor Dawson Church no livro The Genie in Your
Genes (O Gênio dos Sous Genes). “As ferramentas da

consciência — incluindo crenças, orações, pensamentos,


intenções e fé —

correlacionam-se amiúde muito mais com a saúde, a


longevidade e a felicidade do que os genes”. A verdade é
que, da mesma maneira que o corpo é muito mais do que
um saco de ossos e carne, os genes são muito mais do que
simples informação armazenada.

3. A biologia da expressão do gene

Observemos agora atentamente a forma como os genes são


ativados. (Podem intervir vários fatores distintos, mas, para
refletirmos melhor acerca da questão aqui explorada da
ligação mente-corpo, preferimos simplificar.) Assim que se
fixa na estação de atracagem da célula e passa pela
membrana celular, o mensageiro químico (por exemplo, um
neuropeptídeo) exterior à célula (do ambiente) dirige-se ao
núcleo, onde encontra o ADN. AÍ, modifica ou cria uma nova
proteína e o sinal que traz com ele traduz-se em informação
já no interior da célula. Depois, penetra no núcleo celular
através de uma janelinha e, dependendo do conteúdo da
mensagem proteica, procura um cromossoma específico
(uma só componente de ADN em espiral contendo inúmeros
genes) no núcleo — do mesmo modo que procuraríamos um
livro especifico nas prateleiras de uma biblioteca.

Cada tira de ADN está coberta por uma manga de proteína


que funciona como filtro entre a informação aí contida e o
restante ambiente intracelular do núcleo.
Para que o código de ADN seja selecionado, é preciso
remover ou desenrolar a manga de modo a que este se
possa manifestar (tal como o livro retirado da prateleira da
biblioteca só pode ser lido se o abrirem). O código genético
de ADN

contém informação à espera de ser lida e ativada para criar


uma determinada proteína. Enquanto essa informação não
se manifestar no gene, depois de removida a manga de
proteínas, o ADN fica latente. É um armazém de informação
codificada à espera de ser aberto ou destrancado. Pode ver o
ADN como uma lista de peças com potencialidades que
aguardam instruções para construir proteínas, que por sua
vez regulam e mantém todos os aspetos da vida.

Depois de selecionar o cromossoma, a proteína abre-o


removendo a cobertura exterior do ADN. Então, uma outra
proteína regula e prepara toda a sequência genética no
cromossoma (como se fosse o capitulo de um livro) para ser
lida, do princípio ao fim. Assim que o gene é exposto e a
manga proteica é

extraída e lida, a proteína regulatória que o lê produz um


outro ácido nucleico chamado ácido ribonucleico (ADN).

Agora, o gene é expressado ou ativado. O ADN sai do núcleo


celular para se conjuntar numa nova proteína a partir do
código que contém em si. Passou de mapa de potencial
latente a expressão ativa. O gene proteico já pode construir,
reunir, restaurar, manter, influenciar e interagir com vários
aspetos diferentes da vida, tanto na célula como fora dela. A
Figura 4.2 apresenta um resumo do processo.

Da mesma forma que um arquiteto obtém toda a informação


necessária para construir uma estrutura a partir de um
plano, o corpo obtém todas as instruções de que necessita
para criar moléculas complexas que o mantêm vivo e a
funcionar a partir dos cromossomas no ADN. Mas antes de
ler o plano, o arquiteto tem de o retirar do tubo de cartão e
desenrolar. Antes disso, o plano não passa de informação
latente à espera de que a leiam. Com a célula é igual: o gene
permanece inerte até que a cobertura proteica seja extraída
e a célula decida ler a sequência genética.

Figura 4.2A
Mostra o sinal epigenético a entrar na zona receptora da
célula. Quando o mensageiro químico começa a interagir ao
nível da membrana celular. é enviado outro sinal sob a forma
de nova proteína para o núcleo da célula para selecionar
uma sequência genética. O gene ainda está protegido do
ambiente exterior por uma cobertura proteica. que tem de
ser extraída para aquele poder ser lido.
A Figura 4.2B ilustra a forma coma a manga proteica em
tomo da sequência genética do ADN e aberta para que uma
outra proteína chamada proteína regulatória possa abrir e ler
o gene numa localização específica.
A Figura 4.2C demonstra como a proteína regulatória cria
outra molécula chamada ARN. que organiza a tradução c a
transcrição do material geneticamente codificado numa
proteína
A Figura 4.2D apresenta o processo de produção da proteína.
O A RN constitui uma nova proteína a partir dos blocos de
proteínas, chamados aminoácidos.
Os cientistas acreditavam que o corpo só precisava da
informação em si (o plano) para começar a construir e foi
nisso que mais se centraram. Prestaram pouca atenção ao
facto de a sequência de acontecimentos começar com o
sinal exterior à célula, que é, aliás, responsável pelos genes
da sua biblioteca que a célula escolher ler. Tal como já
constatamos, esse sinal inclui pensamentos, escolhas,
comportamentos, experiências e sentimentos. Assim, faz
sentido que, caso deseje alterar esses elementos, também
possa determinar a sua expressão

genética.

4. Epigenética: como nós, meros mortais, podemos


armar-nos em Deus Se os genes não determinam o
destino e até contêm uma enorme biblioteca de
possibilidades mesmo à espera de serem retiradas das
prateleiras e lidas, então, o que nos dá acesso a esses
potenciais — potenciais que poderiam exercer um efeito
significativo sobre a saúde e o bem-estar? Os homens do
estudo realizado no mosteiro conseguiram esse acesso, mas
como? Encontramos a resposta numa área de estudo
relativamente recente chamada epigenética.

A palavra epigenética significa literalmente “acima do gene”


e refere-se ao controlo dos genes não de dentro do próprio
ADN, mas das mensagens que chegam do exterior da célula
— por outras palavras, do meio ambiente. Esses sinais levam
um metilo (um átomo de carbono agarrado a três de
hidrogênio) a aderir a um ponto específico do gene, sendo
esse um dos principais processos (metilação do ADN) que
ativam ou desativam os genes. (Dois outros processos, a
modificação covalente das histonas e o ARN não codificante,
também ativam e desativam os genes, mas aqui dispensam-
se os seus pormenores.)
A epigenética ensina-nos que os nossos genes não nos
condenam a nada e que as mudanças da consciência
humana podem produzir alterações estruturais e físicas no
corpo humano. Podemos modificar o nosso destino genético
ativando os genes que queremos e desativando os que não
queremos, trabalhando com os diversos fatores do meio
ambiente que programam os genes. Alguns desses sinais
provém do corpo, como os sentimentos e pensamentos,
enquanto outros provêm da resposta do interior do corpo ao
ambiente exterior, como a poluição ou a luz do sol.

A epigenética estuda todos os sinais externos que dizem à


célula o que fazer e quando, observando as duas fontes que
ativam ou ligam a expressão genética (suprarregulação) e
que suprimem ou desativam a expressão genética
(infrarregulação) — bem como a dinâmica da energia que
ajusta o processo da função celular a cada momento.
Segundo a epigenética, apesar de o nosso código de ADN ser
imutável, é possível fazer milhares de combinações,
sequências e variações padronizadas (tal como é possível
fazer milhares de combinações, sequências e padrões de
redes neurais no cérebro).

Se observarem o genoma humano na totalidade, os


cientistas ficam com a cabeça a andar à roda, com os
milhões de variações genéticas possíveis que

encontram. Os cientistas referiram que o Projeto Epigenoma


Humano, que teve início em 2003, quando o Projeto Genoma
Humano chegava ao fim, e que decorre atualmente na
Europa, “fará com que o Projeto Genoma Humano pareça os
trabalhos de casa que os meninos do século xv faziam com
um ábaco”. No modelo do plano arquitetônico já referido, se
estivermos a construir um edifício, podemos alterar a cor, os
materiais que o constituem, a escala e, até, o
posicionamento da estrutura — as variações possíveis são
praticamente infinitas

-, sem mudar o plano.

Para percebermos melhor como funciona a epigenética,


pensemos no exemplo de gêmeos idênticos que partilham o
mesmo ADN. Se aceitarmos a noção de predeterminismo
epigenético — segundo a qual todas as doenças são
genéticas os gêmeos idênticos terão precisamente a mesma
expressão genética.

Mas a verdade é que os gêmeos idênticos nem sempre


manifestam as mesmas doenças da mesma forma e, com
efeito, muitos são os casos em que só um deles manifesta
uma doença genética. Podem ter os mesmos genes, mas os
resultados não serão necessariamente os mesmos.

Um estudo espanhol ilustra perfeitamente essa situação. Os


investigadores do Laboratório de Epigenética Oncológica do
Instituto Espanhol de Oncologia de Madrid estudaram 40
pares de gêmeos idênticos, com idades compreendidas entre
os três e os 74 anos, e descobriram que os mais jovens, com
estilos de vida semelhantes e que passavam mais anos
juntos apresentavam padrões epigenéticos idênticos,
enquanto os mais velhos, sobretudo aqueles que tinham
estilos de vida diferentes e tinham passado menos anos
juntos, apresentavam padrões epigenéticos muito diferentes.
Por exemplo, os investigadores identificaram quatro vezes
mais genes de expressão diversa entre um par de gêmeos
com 50 anos do que entre um par de gêmeos com três anos.

Os gêmeos nasceram exatamente com o mesmo ADN» mas


os que levavam estilos de vida (e vidas) diferentes acabaram
por expressar os genes de forma muito diferente —
sobretudo com o tempo. Recorrendo a outra analogia, os
pares de gêmeos mais velhos eram como cópias exatas do
mesmo modelo de um computador. Os computadores
vinham carregados com o mesmo software inicial, mas, com
o tempo, cada um foi descarregando outros programas. O

computador (o ADN) permanece o mesmo, mas as ações e o


funcionamento do computador variam consoante o software
que o indivíduo descarregou (as variações epigenéticas).
Desse modo, os nossos pensamentos e sentimentos levam o
corpo a reagir numa fórmula complexa de alterações e
desvios biológicos; cada experiência aciona mudanças
genéticas reais nas nossas células.

A velocidade dessas mudanças pode ser verdadeiramente


extraordinária.

Em apenas três meses, 31 homens com cancro da próstata


de risco reduzido

conseguiram suprarregular 48 genes (na sua maioria ligados


à supressão de tumores) e infrarregular 453 genes
(maioritariamente ligados à promoção de tumores),
sujeitando-se a regimes de nutrição e estilo de vida
intensivos. Durante o estudo conduzido pelo Dr. Dean Ornish,
na Universidade da Califórnia, em são Francisco, esses
homens perderam peso, reduziram as taxas de obesidade
abdominal e tensão arterial, bem como o perfil lipídico.
Ornish observa: “não tem tanto que ver com a redução dos
fatores de risco ou com a prevenção de qualquer coisa muito
má. Essas mudanças podem ocorrer tão depressa que nem
temos de esperar anos para ver os benefícios."

Ainda mais impressionante é o número de mudanças


epigenéticas ocorridas num período de seis meses, num
estudo suíço de 23 homens saudáveis e com um ligeiro
excesso de peso, que passaram de pessoas relativamente
sedentárias a áridos frequentadores de aulas de spinning e
aeróbica, numa média de quase duas vezes por semana. Os
investigadores da Universidade de Lund descobriram que os
homens tinham registado alterações epigenéticas de 7 mil
genes — quase 30 por cento da totalidade de genes em todo
o genoma humano!

Esse tipo de variações epigenéticas pode ser herdado pelos


nossos filhos e transmitido aos nossos netos. O primeiro
investigador a prová-lo foi o Doutor Michael Skinner, diretor
do Centro de Biologia da Reprodução da Universidade do
Estado de Washington. Em 2005, Skinner liderou um estudo
em que expôs fêmeas grávidas de ratos a pesticidas. As
crias macho da mãe exposta apresentavam taxas mais
elevadas de infertilidade e de redução da produção de
espermatozoides, com alterações epigenéticas em dois
genes. Essas alterações também estavam presentes em
cerca de 90 por cento dos machos das quatro gerações
seguintes, apesar de nenhum desses ratos ter sido exposto a
pesticidas.

As experiências que derivam do ambiente exterior, são,


contudo, apenas uma parte desta história. Tal como temos
estado a aprender, ao atribuirmos significado a essas
experiências, em ondas de respostas físicas, mentais,
emocionais e químicas, também ativamos genes. A forma
como vemos e interpretamos os dados dos sentidos como
informação factual — para perceber se essa informação é ou
não verdadeira — e o significado que lhes atribuímos
produzem mudanças biológicas significativas a nível
genético. Assim, os genes interagem com a nossa
consciência alerta em relações complexas. Poderíamos dizer
que o significado afeta continuamente as estruturas neurais,
que influenciam a identidade microscópica, que, por sua vez,
influencia a identidade macroscópica.

O estudo da epigenética também suscita algumas questões:


e se nada mudar no ambiente exterior? E se fizermos as
mesmas coisas, com as mesmas pessoas, ao mesmo tempo,
todos os dias — coisas que levem às mesmas experiências,

produtoras das mesmas emoções, que comunicam da


mesma forma com os mesmos genes?

Poderíamos dizer que, enquanto vir a sua vida sob a


perspetiva do passado e reagir às condições em que se
encontra com a mesma arquitetura neural e ao mesmo nível
mental, segue na direção de um destino genético muito
específico e predeterminado. Além disso, tanto as crenças
que tem acerca de si próprio e da sua vida como as escolhas
que faz por causa dessas crenças enviam sempre as
mesmas mensagens aos mesmos genes.

Se for ativada de outra forma, com nova informação, a célula


pode criar milhares de variações do mesmo gene, para
reescrever uma nova expressão de proteínas — que altera o
organismo. Talvez não possa controlar todos os elementos
que formam o seu mundo exterior, mas consegue gerir
muitos do seu mundo interior. Aquilo em que acredita, a sua
forma de ver as coisas e as suas interações com o mundo
exterior influenciam o seu ambiente interior, que é o
ambiente exterior da célula. Isso significa que somos nós —
e não a nossa biologia pré-programada — que temos as
chaves do nosso destino genético.

Basta-lhe encontrar a chave certa para a fechadura que lhe


abrirá as portas do seu potencial. Porque não há de entender
os genes tal como eles são? Fontes de possibilidade,
recursos de potencial ilimitado, sistema codificado de
comandos pessoais. Na verdade, não passam de
ferramentas de transformação, que significa literalmente
mudança de forma.

5. O stress faz-nos viver em modo de sobrevivência O


stress é uma das maiores causas de mudança epigenética,
porque desequilibra o corpo. Assume três formas: stress
físico (trauma), stress químico (toxinas) e stress emocional
(medo, preocupação, aflição, etc.). Cada um destes tipos de
stress pode desencadear mais de 1400 reações químicas e
produzir mais de 30

hormonas e neurotransmissores. Face a essa torrente de


hormonas do stress, a mente influencia o corpo através do
sistema nervoso autônomo e sentimos a suprema ligação
mente-corpo.

Ironicamente, o stress tem uma função adaptativa. Todos os


organismos da natureza, incluindo os seres humanos, são
programados para lidar com o stress de curto prazo para que
possam enfrentar situações de emergência. Quando
sentimos uma ameaça que vem do exterior, o sistema
nervoso simpático (subsistema do sistema nervoso
autônomo) ativa a resposta de luta ou fuga: o

débito cardíaco e a tensão arterial aumentam, os músculos


contraem-se e o corpo produz um surto de hormonas, como
a adrenalina e o cortisol, que nos prepara para fugirmos ou
enfrentarmos o perigo.

Se for perseguido por uma alcateia de lobos famintos ou um


bando de guerreiros sanguinários e conseguir escapar-lhes, o
seu corpo retomará a homeostase (o estado normal e
equilibrado) pouco depois de se sentir em segurança. O
corpo foi concebido para funcionar assim no modo de
sobrevivência — fica desequilibrado, mas sô durante um
curto espaço de tempo, até o perigo passar. Pelo menos, era
esse o objetivo original.

O mesmo acontece no mundo moderno, mas num contexto


geralmente diferente. Se alguém fizer uma ultrapassagem
perigosa na autoestrada, talvez fique assustado durante
algum tempo, mas assim que se apercebe de que está tudo
bem e de que não há perigo de acidente, o seu corpo volta
ao normal (a não ser que tenha tido muitas outras situações
de stress nesse dia).

Se for como a maioria das pessoas, enfrenta uma série de


incidentes que o enervam e o mantêm uma boa parte do
tempo no modo de luta ou fuga — fora da homeostase. A
manobra perigosa do outro condutor na autoestrada talvez
tenha verdadeiramente posto a sua vida em perigo nesse
dia, mas os outros incidentes que não o fizeram, como o
trânsito que apanhou a caminho do emprego, a pressão que
sentiu por ter de fazer uma importante apresentação, a
discussão que teve com o seu cônjuge, a conta do cartão de
crédito que recebeu, a avaria do disco rígido do computador
e o novo cabelo branco que descobriu, também mantêm
constantemente a circulação das hormonas do stress no seu
corpo.

Ao recordar as experiências estressantes do passado e


prever outras estressantes no futuro, está a gerar em si uma
fórmula de stress de longa duração.

Bem-vindo à versão do modo de sobrevivência do século


XXI.

No modo de luta ou fuga, o organismo mobiliza a energia


que sustenta a vida para nos fazer fugir ou lutar. Mas quando
não retomamos a homeostase (porque estamos sempre a
sentir-nos ameaçados), a energia perde-se no sistema.

Ficamos com menos energia no ambiente interior para o


crescimento e a reparação celulares, os projetos celulares de
longa duração e a cura, porque lhe damos outro destino. As
células deixam de funcionar e de comunicar entre si,
tornando-se “egoístas". Deixa de se fazer manutenção
regular (quanto mais melhorias), porque é preciso reforçar a
defesa. Se for cada célula por si, a comunidade coletiva das
células que trabalham em conjunto fratura-se. Os sistemas
imunitário e endócrino (entre outros) enfraquecem, porque
se as células deixarem de transmitir informação entre si. os
seus genes ficam comprometidos.

É como viver num pais onde 98 por cento dos recursos são
canalizados para

a defesa e não resta nada para as escolas, as bibliotecas, a


construção e manutenção das estradas, os sistemas de
comunicação, a produção alimentar e daí por diante. Os
buracos nas estradas ficam por tapar. As escolas sofrem
cortes orçamentais e, consequentemente, os alunos
aprendem menos. Os programas de assistência social que
cuidavam dos pobres e dos idosos têm de fechar. F. deixa de
haver comida suficiente para alimentar as massas.

não será de admirar, pois, que o stress de longa duração


lenha sido associado a ansiedade, depressão, problemas
digestivos, perda de memória, insônia, hipertensão, doença
cardíaca, enfartes, cancro, úlceras, artrite reumatoide.
constipações. gripes, envelhecimento precoce, alergias,
dores no corpo, fadiga crônica, infertilidade, impotência,
asma, problemas hormonais, erupções cutâneas, queda de
cabelo, espasmos musculares e diabetes — e não só (aliás,
todos estes problemas resultam de mudanças epigenéticas).
não há organismo na natureza capaz de resistir aos efeitos
do stress de longa duração.

Vários estudos apresentam provas sólidas de que as


instruções epigenéticas para a cura cessam quando há uma
emergência. Por exemplo, os investigadores do Centro de
Medicina da Universidade do Estado do Ohio concluíram que
mais de 170 genes são afetados pelo stress, sendo que 100
deixam completamente de funcionar (muitos desses genes
são os que produzem proteínas para facilitar o tipo de cura
apropriado). Os investigadores relataram que as feridas dos
pacientes estressados demoravam mais 40 por cento de
tempo a sarar e que “o stress fazia pender o prato da
balança genética para genes [que} codificavam proteínas
responsáveis por paralisação do ciclo celular, morte e
inflamação". Um outro estudo realizado com base nos genes
de 100 cidadãos de Detroit identificou 23 sujeitos que
sofriam de distúrbio de stress pós-traumático. Essas pessoas
acusavam seis a sete vezes mais variações epigenéticas
que, na sua maioria, comprometiam o sistema imunitário.

Os investigadores do Instituto da SIDA da ucu observaram


não só que o vírus HIV se espalhava mais depressa nos
pacientes mais estressados. mas também que quanto mais
estressado estivesse o paciente, menos respondia ao
tratamento antirretroviral. Os fármacos eram muito mais
eficazes nos pacientes que se mantinham relativamente
calmos do que nos pacientes cuja tensão arterial, umidade
da pele e taxa cardíaca em repouso eram indicadores de
maior stress.

Com base nessas descobertas, os investigadores concluíram


que o sistema nervoso influencia diretamente a reprodução
viral.

Embora a resposta de luta ou fuga seja altamente adaptativa


por natureza (porque garantia a sobrevivência dos primeiros
seres humanos), tornou-se evidente que quanto mais tempo
esse sistema de sobrevivência se mantiver ativado, mais
tempo o organismo demora a mobilizar os recursos
necessários

para manter a saúde perfeita e mais inadaptado se torna o


sistema.

6. O legado das emoções negativas


Se estivermos sempre a produzir hormonas do stress,
criamos uma série de emoções negativas e altamente
aditivas, como revolta, hostilidade, agressividade,
competitividade, ódio, frustração, medo, ansiedade, ciúme,
insegurança, culpabilidade, vergonha, tristeza, depressão,
desespero e desamparo, entre muitas outras. Se só
formularmos pensamentos relativos a amarguras do passado
ou a imagens horrendas do futuro, impedimos que o corpo
retome a homeostase. Na verdade, podemos ativar a
resposta ao stress só com os nossos pensamentos. Se o
acionarmos e depois formos incapazes de o desativar, o mais
certo é desenvolvermos doenças ou problemas de saúde —
constipações ou cancros porque infrarregulamos cada vez
mais genes, num efeito dominó, até chegarmos ao nosso
destino genético.

Por exemplo, se estivermos a fazer previsões sobre um


futuro conhecido e nos centrarmos nesse pensamento,
excluindo todos os outros, o corpo começará a mudar
fisiologicamente para se preparar para o enfrentar. O corpo
passa a viver esse futuro conhecido no momento presente.
Em consequência desse fenômeno, o processo de
condicionamento começa a ativar o sistema nervoso
autônomo e cria automaticamente as substâncias químicas
de stress correspondentes, É assim que a ligação entre a
mente e o corpo pode funcionar contra nós.

Sempre que isso acontece, apresentamos os três elementos


do efeito placebo em perfeita simetria. Primeiro, começamos
a condicionar o corpo ao surto de química adrenal, que nos
faz sentir um impulso energético. Se associarmos uma
pessoa, coisa ou experiência, num determinado momento e
num dado local da nossa realidade exterior, a esse surto
químico no nosso interior, passaremos a condicionar o corpo
a acionar a resposta sempre que pensarmos nesse estímulo.
Com o tempo, bastará formular um simples pensamento
para condicionar o corpo a corresponder à mente desse
estado emocional excitado — o pensamento de uma
experiência potencial com uma pessoa e uma coisa num
dado momento e num determinado local. Se estamos à
espera de um resultado futuro com base na experiência
passada, a emoção que essa expectativa desperta em nós
altera a fisiologia do corpo. E ao atribuirmos significado às
atitudes e experiências, dirigimos a nossa intenção
consciente ao resultado, levando o corpo a mudar ou não,
para corresponder àquilo que pensamos saber sobre a nossa
realidade e nós próprios.

Mas quer acreditemos ou não que o stress se justifica ou é


válido, os seus efeitos sobre o organismo nunca são
vantajosos nem benéficos para a saúde. O

corpo acredita que está a ser perseguido por um leão, que


se encontra à beira de uma perigosa ravina ou foge de um
grupo de violentos canibais. Eis alguns

exemplos de estudos científicos que demonstram os efeitos


do stress sobre o corpo.

Os investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade


do Estado do Ohio confirmaram que as emoções
estressantes desencadeiam respostas hormonais e
genéticas, avaliando a forma como o stress afeta a
velocidade de cicatrização de pequenos ferimentos na pele
— um marcador significativo de ativação dos genes.
Provocaram-se pequenas bolhas de sucção a um grupo de
42

casais e, durante três semanas, controlou-se o nível de três


proteínas vulgarmente expressas na cicatrização das feridas
dessas pessoas. Pediu-se aos casais que passassem meia
hora a ter uma discussão neutra e, depois, conversassem
sobre um anterior desentendimento conjugal.
Os investigadores constataram que depois de falarem no
desentendimento, os casais apresentavam níveis
ligeiramente inferiores de proteínas associadas à
cicatrização (prova de infrarregulação dos genes). Essa
redução acentuou-se —

cerca de 40 por cento — nos casais cuja discussão


degenerou num conflito mais grave, com comentários
sarcásticos, censuras e humilhações.

Os estudos apontam também para o efeito contrário —


reduzir o stress com emoções positivas espoleta mudanças
epigenéticas promotoras da saúde. Dois estudos
fundamentais realizados pelos investigadores do Instituto
Benson-Henry de Medicina Mente-Corpo do Hospital Geral de
Massachusetts, em Boston, observaram os efeitos da
meditação — uma prática conhecida por conduzir a estados
de paz e, até, de beatitude — sobre a expressão genética.
No primeiro estudo, conduzido em 2008,20 voluntários
receberam oito semanas de formação em várias práticas
associadas à ligação mente-corpo (incluindo diferentes tipos
de meditação, yoga e entoação repetitiva de orações) e
conhecidas por ativar a resposta do relaxamento — um
estado fisiológico de profundo repouso (referido no Capítulo
2). Os investigadores também seguiram diariamente 19
praticantes dessas técnicas de longa data.

No fim do período abrangido pelo estudo, os iniciantes


revelaram mudanças em 1561 genes (874 suprarregulados
para a saúde e 687 infrarregulados para o stress), bem como
uma redução tanto da tensão arterial como das taxas
cardíaca e respiratória, enquanto os praticantes experientes
expressaram 2209 genes novos. A maioria das mudanças
genéticas promovia a resposta ao stress psicológico crônico.

O segundo estudo, realizado em 2013, concluiu que ao


gerarem a resposta de relaxamento, os iniciantes e os
praticantes experientes produziram mudanças na expressão
genética com uma única sessão de meditação (mas os
praticantes de longa data beneficiaram mais, como seria de
esperar). Os genes suprarregulados intervinham na função
imunitária, no metabolismo da energia e

na secreção da insulina, enquanto os genes infrarregulados


contribuíam para o processo inflamatório e o agravamento
do stress.

Estudos como estes demonstram bem a velocidade com que


podemos alterar os nossos próprios genes. É por isso que a
resposta placebo pode produzir mudanças físicas em muito
pouco tempo. Nos workshops que realizo pelo mundo, eu e
os meus colegas testemunhamos a ocorrência imediata de
mudanças significativas na saúde dos participantes, após
uma única sessão de meditação.

Transformaram-se e ativaram novos genes de diferentes


formas só com o pensamento. (Ficará a conhecer alguns
muito em breve.) Quando vivemos no modo de
sobrevivência, com a resposta do stress sempre acionada,
podemos realmente centrar-nos em apenas três coisas:
corpo físico (será que estou bem), o ambiente (onde estarei
seguro) e tempo (durante quanto tempo terei de enfrentar
esta ameaça). O enfoque constante nestes três elementos
torna-nos menos espirituais, menos conscientes e menos
alerta, porque nos faz centrar mais em nós próprios e no
nosso corpo, assim como em coisas materiais (aquilo que
temos, onde vivemos, quanto dinheiro temos, etc.), além de
todos os problemas com que lidamos no mundo exterior.
Esse enfoque também nos leva a ficar obcecados com o
tempo — constantemente à espera dos piores cenários
futuros, com base nas experiências traumáticas do passado
porque sentimos que nunca temos tempo para nada e que
tudo demora sempre imenso tempo.
Podemos então dizer que, da mesma maneira que fazem as
células do corpo egoístas para garantir a nossa
sobrevivência, as hormonas do stress também nos
promovem o ego e nos tornam mais egocêntricos —
passamos a ser materialistas e a definir a realidade através
dos sentidos. Acabamos por nos sentir alheados de
quaisquer novas possibilidades, pois, enquanto não sairmos
desse estado de emergência crônico, permitimos que essa
mentalidade de "eu primeiro”, que nos domina o
pensamento, se consolide e perdure, levando-nos a ser
indulgentes conosco próprios, apenas atentos aos nossos
próprios interesses e a ser arrogantes. Em última análise, o
eu passa a definir-se como corpo a viver no ambiente e no
tempo.

Tal como acaba de ler, a realidade é que temos,


efetivamente, um certo grau de controlo sobre a nossa
própria engenharia genética — por meio dos nossos
pensamentos, escolhas, atitudes, experiências e emoções. À
semelhança de Dorothy, em O Feiticeiro de Oz, que sempre
teve o poder que procurava, sem o saber, nós também
possuímos um poder que talvez nos passe despercebido —
as chaves para nos libertar dos grilhões das limitações
impostas pela nossa própria expressão genética.

9. CAPÍTULO 5

Como os pensamentos mudam o cérebro e o corpo

Já sabe que todos os pensamentos que formula, todas as


emoções que sente e todos os acontecimentos que
experiencia, sejam eles alegres ou estressantes, o tornam
engenheiro epigenético das suas próprias células. Somos nós
que controlamos o nosso destino. £ aqui que surge outra
questão: se o seu ambiente mudar e o levar a programar os
genes de outra forma, será possível — com base no que vê e
naquilo em que acredita — programar o gene antes de a
mudança no ambiente ocorrer? Os sentimentos e emoções
são normalmente os produtos finais das experiências, mas
será possível combinar uma intenção bem definida com uma
emoção para começar a dar ao corpo uma ideia da
experiência futura, antes da sua manifestação?

Quando se concentra a sério numa intenção para obter um


resultado futuro, se puder tornar o pensamento interior mais
real do que o ambiente exterior nesse processo, o cérebro
não saberá diferenciar uma coisa da outra. Nessa altura,
como a mente inconsciente, o corpo começará a vivenciar o
novo acontecimento futuro no momento presente.
Transmitirá informação a novos genes, de outra forma, que
se estão a preparar para esse acontecimento futuro
imaginado.

Se continuar a praticar mentalmente essas escolhas,


comportamentos e experiências que deseja, reproduzindo o
mesmo novo nível mental vezes sem conta, o cérebro
começará a mudar fisicamente — instalando novas
estruturas neurológicas que se equiparem a esse nível de
modo que a experiência pareça já ter acontecido. Só com o
pensamento, produzirá variações epigenéticas que
conduzem a verdadeiras mudanças estruturais e funcionais
no corpo — tal como acontece a quem reage a um placebo.
O corpo e o cérebro deixarão de viver no mesmo passado e
passarão a viver no novo futuro que criou na sua mente.

Tudo isto é possível através da técnica do ensaio mental, que


consiste essencialmente cm fechar os olhos, imaginar-se a
fazer qualquer coisa repetidamente e rever mentalmente o
futuro que deseja, enquanto pensa na pessoa que já não
quer ser (o eu de sempre) e na pessoa que quer ser. Para tal,
tem de pensar nas suas futuras ações, planear mentalmente
as suas escolhas e concentrar a mente numa nova
experiência.
Analisemos esta sequência mais a fundo, para que possamos
entender

melhor o que acontece precisamente no ensaio mental e


como é que isso funciona. Quando ensaiamos mentalmente
um destino ou sonho sobre um novo resultado, imaginamo-lo
vezes sem conta, até ele se tornar familiar. Quanto mais
conhecimento e experiência sobre a nova realidade desejada
tivermos instalados no cérebro, mais recursos obteremos
para criar um modelo superior no processo de visualização
mental e mais fortes serão as nossas intenções e
expectativas (tal como aconteceu com as camareiras de
hotel). Estamos a “lembrar-nos" de como será a nossa vida e
de como nos sentiremos, se conseguirmos alcançar o que
queremos. Isso significa que estamos a concentrar a atenção
numa intenção.

A partir daí, juntamos conscientemente os pensamentos e as


intenções a um estado emocional superior, como a alegria
ou a gratidão. (Mais sobre os estados emocionais superiores
em breve.) Ao assimilarmos essa nova emoção e ao
sentirmo-nos mais empolgados, mergulhamos o corpo na
neuroquímica que estaria presente caso esse futuro
acontecimento estivesse mesmo a ocorrer. Uma
possibilidade seria estarmos a dar ao corpo um sabor da
futura experiência. O

cérebro e o corpo não distinguem a experiência concreta que


está a decorrer da experiência pensada — uma e outra são a
mesma coisa em termos neuroquímicos. O cérebro e o corpo
começam a acreditar que estão realmente a vivenciar a nova
experiência no momento presente.

Mantendo o enfoque nesse acontecimento futuro, sem


deixar que outros pensamentos nos distraiam, no espaço de
minutos, reduzimos o volume de circuitos neurais ligados ao
eu de sempre e desativamos os velhos genes, passando a
ativar e a instalar novos circuitos neurais, iniciando, assim, a
emissão de sinais diferentes para ativar novos genes. Graças
à já referida neuraplasticidade, os circuitos cerebrais
começam a reorganizar-se para refletir aquilo que estamos a
ensaiar mentalmente. E, se continuarmos a acoplar os novos
pensamentos e imagens mentais a essa emoção positiva,
pomos a mente e o corpo a trabalhar em conjunto — e
passamos a um novo estado de ser.

Nessa altura, o cérebro e o corpo deixam de registar o


passado e passam a ser um mapa do futuro — um futuro que
criamos mentalmente. Os pensamentos tornaram-se a
experiência em si e nós tornamo-nos o placebo.

1. Algumas histórias de ensaios mentais bem-


sucedidos Talvez tenha ouvido há algum tempo a história
de um major que foi preso num campo de concentração do
Vietname e que jogava golfe mentalmente, num

determinado campo, para manter a sanidade mental — e


que conseguiu uma pontuação perfeita quando finalmente o
libertaram e foi para casa. Ou talvez tenha ouvido a história
de Anatoly Shcharansky, ativista dos direitos humanos
soviético, posteriormente conhecido como Natan Sharansky,
que passou mais de nove anos preso na União Soviética,
depois de o terem falsamente acusado de espiar para os
Estados Unidos nos anos 70. Sharansky — que passou 400
dias da sua pena numa diminuta cela escura e gelada, de
castigo — fazia um jogo mental de xadrez contra si próprio
todos os dias, memorizando as coordenadas do tabuleiro e
as posições de cada peça. Foi assim que Sharansky
conseguiu manter muitos dos mapas neurais (que
normalmente requerem estímulos exteriores para
permanecerem intactos). Depois de o libertarem, imigrou
para Israel e chegou a ministro. Quando o campeão mundial
de xadrez Gary Kasparov foi a Israel em 1996 participar num
desafio da modalidade simultaneamente contra 25

israelitas» Sharansky venceu-o.

Aaron Rodgers, quarterback dos Green Bay Packers, também


imagina passes que depois executa com precisão no campo.
Na Supertaça de 2011, num jogo eliminatório, em que os
Packers, que estavam em sexto lugar, ganharam 48

a 21 aos Atlanta Falcons, que estavam em primeiro, Rodgers


completou 31 dos 36 passes (86,1 por cento), sendo essa a
quinta melhor percentagem pós-época de passes completos
de todos os tempos.

"No sexto ano, um treinador explicou-nos a importância da


visualização", contou Rodgers a um repórter desportivo do
USA Today. “Quando estou numa reunião, a ver um filme, ou
[deitado] na cama antes de adormecer, visualizo-me sempre
a fazer esses passes. Muitos dos que faço no jogo já tinham
sido pensados. [Deitado] no sofá, visualizei-me a fazê-los.”
Rodgers também conseguiu evitar três sacks nesse jogo,
comentando mais tarde: “Visualizei a maioria das situações.”

Inúmeros atletas profissionais também utilizaram o ensaio


mental e obtiveram resultados espantosos, entre os quais, o
jogador de golfe Tiger Woods, as estrelas de basquetebol
Michael Jordan, Larry Bird e Jerry West, bem como o lançador
de basebol Roy Halladay. O campeão de golfe Jack Nicklaus
escreveu o seguinte no seu livro Golf My Way:

Nunca fiz uma jogada, nem nos treinos, sem formular uma


imagem bem clara na mente. É como um filme a cores.
Primeiro, “vejo” a bola onde quero acabar, direitinha, branca
e bem acima da relva verde.
Depois, a cena muda e passo a “ver” a bola a chegar lá: o
caminho, a trajetória, o formato e, até, o comportamento
quando aterra. Dá-se

então uma espécie de fadeout e, na cena seguinte, apareço


eu a fazer a tacada que concretiza as imagens anteriores. Só
no fim desse curto espetáculo privado é que seleciono um
taco e me aproximo da bola.

Como podemos constatar apenas com estes exemplos (e


existem muitos mais idênticos), o que não faltam são provas
de que o ensaio mental é extremamente eficaz para
aprender uma nova capacidade física com uma prática real
mínima.

Não resisto à tentação de acrescentar mais um exemplo,


desta vez de Jim Carrey, que conta uma história fantástica
sobre o que fez quando chegou a Los Angeles pela primeira
vez, no final dos anos 80, à procura de trabalho como ator.

Escrevera uma enorme afirmação, com o tamanho de um


parágrafo, num papel, em que dizia que encontraria as
pessoas certas, arranjaria os papéis certos, trabalharia no
filme certo com a equipa certa, teria êxito e contribuiria para
marcar uma diferença significativa no mundo.

Ia todas as noites a Mulholland Drive, nas colinas de


Hollywood, recostava-se no descapotável e ficava a admirar
o céu. Diria esse parágrafo para si próprio, memorizando-o,
enquanto imaginava que o que descrevia estava mesmo a
acontecer. E só voltava desse famoso miradouro de
Hollywood quando sentisse que era a pessoa que imaginava
ser e que tudo o que visualizava era real. Chegou mesmo a
passar um cheque de 10 milhões de dólares a si próprio, com
a descrição “por prestação de serviços de ator”, com a data
“Dia de Ação de Graças de 1995". Passou anos com esse
cheque na carteira.
Por fim, em 1994, foram lançados três filmes que fizeram de
Carrey uma estrela. Primeiro, Ace Ventura — Detetive
Animal, em fevereiro, seguido de A Máscara, em julho. Pelo
papel no terceiro filme. Doidos á Solta, lançado em
dezembro, Carrey recebeu um cheque de precisamente 10
milhões de dólares.

Tinha criado exatamente o que visualizara para si próprio.

O que essas pessoas têm em comum é o facto de terem


eliminado o ambiente exterior, ido para além do corpo e
transcendido o tempo, fazendo mudanças neurológicas
significativas nelas próprias. Quando se apresentaram ao
mundo, eram capazes de levar a mente e o corpo a trabalhar
em conjunto e criaram no mundo material o que tinham
começado por conceber no domínio mental.

Os estudos científicos comprovam-no. Para começar, muitas


experiências de ensaio mental demostram que quando nos
concentramos numa determinada região do corpo, os
pensamentos estimulam a região no cérebro que a controla

— e, se persistirmos, produzimos mudanças físicas na zona


sensorial do cérebro.

Faz sentido, porque se continuarmos a dirigir a nossa


atenção para o mesmo propósito, ativamos e instalamos as
mesmas redes de neurônios e construímos mapas cerebrais
mais robustos nessa zona.

Segundo um estudo de Harvard, pessoas que nunca tinham


tocado piano, praticaram mentalmente um simples exercício
a uma mão, duas horas por dia, durante cinco dias — e
fizeram as alterações cerebrais idênticas às das pessoas que
praticaram fisicamente as mesmas atividades, sem levantar
um só dedo. A região do cérebro que controla o movimento
dos dedos aumentou dramaticamente, permitindo que a
experiência imaginada parecesse realmente concretizada a
nível cerebral. Instalaram o hardware (os circuitos) e o
software (os programas) neurológicos, criando novos mapas
cerebrais só com o pensamento.

Noutro estudo com 30 pessoas, durante um período de 12


semanas, algumas exercitaram regularmente os dedos
mindinhos e outras só imaginaram fazê-lo. O

grupo que realmente realizou o exercício aumentou a força


dos mindinhos em 53

por cento e o grupo que só imaginou aumentou a força em


35 por cento. O corpo mudou para parecer que tinha
vivenciado a experiência física, vezes sem conta

— mas a experiência deu-se apenas na mente. A mente


mudou o corpo.

Numa experiência semelhante, dez voluntários imaginaram


que contraíam ao máximo um bicípite, cinco vezes por
semana. Durante essas sessões, os investigadores
registaram a atividade elétrica cerebral dos sujeitos e
mediram-lhes a força muscular de duas em duas semanas.
Os que só tinham imaginado que contraiam o bicípite
aumentaram a força muscular em 13,5 por cento no espaço
de poucas semanas e continuaram a ganhar força ao mesmo
ritmo durante três meses, depois de pararem. O corpo
respondeu a uma nova mente.

Um último exemplo é o estudo francês que comparou


sujeitos que levantavam ou imaginavam levantar halteres de
diferentes pesos. Os que imaginavam levantar pesos
superiores ativaram mais os músculos dos que os que
imaginavam levantar pesos inferiores. Nos três estudos
sobre ensaio mental aqui referidos, os sujeitos registaram
aumentos mensuráveis na força muscular, servindo-se
apenas dos pensamentos.

É bem capaz de se perguntar se existem estudos que


demonstrem o que acontece quando seguimos a sequência
toda — quando não só imaginamos o que queremos criar,
mas também nos ligamos a uma forte emoção positiva. Por
acaso, existem. E não tardará a ler sobre eles.

2. Emitir sinais a novos genes do corpo com uma nova


mente Para perceber melhor porque é que o ensaio mental
funciona, é preciso observar alguns elementos da anatomia
cerebral e, depois, entrar um pouco no domínio da
neuroquímica. Comecemos por explicar que o lóbulo frontal,
que se situa mesmo atrás da testa, é o nosso centro criativo.
É a parte do cérebro que aprende coisas novas, sonha com
novas possibilidades, toma decisões conscientes, fixa
intenções e daí por diante. É o CEO, por assim dizer. Mais
especificamente, o lóbulo frontal permite-nos observar quem
somos, e avaliar o que fazemos e como nos sentimos. É
onde habita a consciência. É importante perceber isto,
porque ao tomar consciência dos pensamentos, poderá
direcioná-los.

Se praticar o ensaio mental e se concentrar realmente no


resultado pretendido, o lóbulo frontal é um bom aliado,
porque também reduz o volume no mundo exterior para
impedir que a informação recebida pelos cinco sentidos o
distraia tanto. A imagiologia cerebral demonstra que, num
estado de alta concentração, como o do ensaio mental, a
noção do tempo e do espaço diminui.

Isso acontece porque o lóbulo frontal diminui os estímulos


dos centros sensoriais (que permitem “sentir” o corpo no
espaço), motores (responsáveis pelo movimento físico) e
associativos (onde residem os pensamentos sobre a
identidade e a personalidade), bem como os circuitos do
lóbulo parietal (onde processamos o tempo). Quando
transcende o meio ambiente, o corpo, e até o tempo, tem
mais capacidade para tornar o pensamento que formula
mais real.

Assim que imagina um novo futuro para si próprio, que


pensa numa nova possibilidade e começa a fazer perguntas
específicas — por exemplo, Corno seria viver sem esta dor e
esta limitação? -, o lóbulo frontal põe-se em sentido.

Em segundos, cria a intenção de ser saudável (para


esclarecer bem o que quer criar e o que já não quer
experienciar) e a imagem mental de ser saudável para que
possa imaginar como será.

Como CEO, o lóbulo central está ligado a todas as outras


partes do cérebro e começa a selecionar redes de neurônios
para criar um novo estado mental em resposta a essa
pergunta. Podemos dizer que se torna maestro de uma
sinfonia, silenciando as velhas instalações (a função de poda
da neuroplasticidade) e diferentes redes de neurônios de
partes distintas do cérebro, para as instalar juntas e criar um
novo nível mental que reflita aquilo que imagina. É o lóbulo
frontal que altera a mente — ou seja, que leva o cérebro
funcionar em sequências, padrões e combinações diferentes.
Assim que o lóbulo frontal seleciona redes distintas de
neurônios e as aciona em conjunto para criar um novo nível
mental, surge uma imagem ou uma representação interna
no olho da mente ou lóbulo frontal.

Vamos agora adicionar um pouco de neuroquímica a esta


mistura. Se o lóbulo frontal levar um número suficiente de
redes neurais a ativar-se em uníssono, quando nos
concentramos numa intenção clara, o pensamento acabará
por se tornar a experiência em si na mente — nessa altura, a
realidade interior torna-se mais real do que a realidade
exterior. Quando o pensamento passa a experiência,
começamos a sentir a emoção que sentiríamos perante esse
acontecimento ocorrido na vida real (lembre-se de que as
emoções são as assinaturas químicas das experiências). O
cérebro produz um tipo diferente de mensageiro químico —
um neuropeptídeo -, que envia às células do corpo. O

neuropeptídeo procura os locais receptores ou estações de


atracagem apropriados em várias células, para entregar a
mensagem aos centros hormonais do corpo e, por fim, ao
ADN celular — e as células recebem uma nova mensagem
com a informação de que o acontecimento ocorreu.

Ao receber essa informação do neuropeptídeo, o ADN


responde, ativando (ou suprarregulando) uns genes e
desativando (ou infrarregulando) outros, para apoiar o novo
estado de ser. Pense na suprarregulação e na infrarregulação
como luzes que aquecem e aumentam de intensidade, ou
arrefecem e diminuem de intensidade. Quando um gene se
liga, ativa-se para produzir uma proteína.

Quando um gene se desliga, desativa-se c perde intensidade


ou enfraquece — e não produz tantas proteínas.
Constatamos os efeitos nas mudanças palpáveis que se dão
no corpo físico.

Observe as Figuras 5.1A e 5.1B para entender melhor a


sequência da mudança que o pensamento produz no corpo.
FIGURA 5.1A

O desenho da Figura 5.1A mostra como os pensamentos


progridem em reações químicas e mecanismos simples que
se encadeiam numa sequência causa) descendente para
alterar o corpo Deduz-se que. se os novos pensamentos
criam uma nova mente, ativando novas redes neurais.
criando neuropeptídeos e hormonas mais saudáveis (que
fazem novos sinais às células e ativam epigeneticamente
novos genes para produzirem novas proteínas), e se a
expressão das proteínas é a expressão da vida e
corresponde ã saúde do corpo, então, a Figura 5.1B ilustra
como os pensamentos podem curar o corpo.

3. Células estaminais: o nosso potente reservatório de


potenciais As células estaminais são a próxima camada que
temos de entender para fazer este puzzle. são, no mínimo,
parcialmente responsáveis por tornar possível o que é
aparentemente impossível. Oficialmente, são células
biológicas indiferenciadas que se especializam. são potencial
puro. Quando ativadas, estas tábuas rasas transformam-se
no tipo de células que o corpo precisar — musculares,
ósseas, dérmicas, imunitárias e, até, nervosas no cérebro —
para substituir células feridas ou danificadas nos tecidos,
órgãos e sistemas do organismo. Pense nas células
estaminais como gelado num cone, antes de lhe deitarem o
xarope com sabor por cima; pedaços de argila na roda do
oleiro à espera de se tornarem pratos, tigelas, jarros ou
canecas; ou talvez, até, um rolo de fita isolante prateada
que, num dia, serve para reparar um cano roto e, noutro»
para fazer um elegante acessório de moda.

Segue-se um exemplo do funcionamento das células


estaminais. Quando corta um dedo, o corpo precisa de
reparar o golpe na pele. O trauma físico localizado envia um
sinal aos genes no exterior da célula. O gene ativa-se e
produz as proteínas necessárias que» depois, dão ordem às
células estaminais para se transformarem em células
dérmicas saudáveis e em pleno funcionamento. O sinal
traumático é a informação de que a célula estaminal precisa
para se diferenciar numa célula dérmica. Milhões de
processos destes ocorrem constantemente no corpo. Tem
sido documentadas curas atribuídas a esse tipo de
expressão genética no fígado, nos músculos, na pele, nos
intestinos, na medula óssea e, até, no cérebro e no coração.

Nos estudos sobre a cicatrização dos ferimentos em que o


sujeito se

encontra num estado emocional altamente negativo, como a


revolta, as células estaminais não recebem bem a
mensagem. Sempre que algo interfere no sinal, como a
estática da rádio, a célula potencial deixa de receber o
estímulo certo de uma forma coerente que lhe permita
transformar-se numa célula útil. Como já sabe, depois de ter
lido a secção sobre a resposta ao stress e a vida no modo de
sobrevivência, a cicatrização demora mais, porque a maior
parte da energia do corpo é mobilizada para lidar com a
emoção negativa e os respetivos efeitos químicos.
Simplesmente, não é a melhor altura para a criação, o
crescimento e o desenvolvimento — o corpo encontra-se em
estado de emergência.

Quando o efeito placebo está a funcionar, criamos o nível


mental certo com uma intenção clara e combinamo-lo com
uma emoção elevada de cuidado, permitindo que o sinal
adequado chegue ao ADN das células. Essa mensagem não
só influencia a produção de proteínas saudáveis para
promover a estrutura e o funcionamento do corpo, como
também produz células saudáveis novinhas em tolha a partir
de células estaminais latentes que apenas aguardam a
mensagem certa para se ativarem.

não seria possível conceber essas células estaminais como


cartões “você está livre da cadeia”, como os do Monopólio,
porque, uma vez identificadas e ativadas, elas substituem as
células das zonas danificadas do corpo e permitem começar
de novo, sem defeitos. Na verdade, as células estaminais
ajudam a explicar a cura em, pelo menos, metade dos casos
de placebo que implicam falsa cirurgia, seja para tratar
artrite no joelho, seja para fazer um bypass cardíaco (tal
como é referido no Capítulo I).

Como a intenção e as emoções elevadas alteram a


biologia Já falamos nas emoções e no quanto contribuem
para a cura do corpo; passemos agora a analisar essa
questão mais a fundo. Se tivermos uma resposta emocional
intensa perante os novos pensamentos em que nos
concentramos no ensaio mental, damos potência máxima
aos nossos esforços, porque as emoções nos ajudam a fazer
mudanças epigenéticas muito mais depressa. não
precisamos da componente emocional: afinal, os sujeitos
que fortaleceram os músculos, imaginando que levantavam
pesos, não precisaram de alcançar estados de beatitude
para alterar os genes. Mas inspiraram-se, utilizando a
imaginação, a cada levantamento mental, e dizendo: “Força!
Força! Força!” A emoção consistente foi o catalisador
energético que realmente otimizou todo o processo.

Manter emoções tão elevadas permite-nos obter resultados


grandiosos, com

maior rapidez — o mesmo tipo de resultados espantosos que


vemos na resposta do placebo.

Lembra-se do estudo do riso referido no Capítulo 2? Os


investigadores japoneses concluíram que ver um programa
cômico durante uma hora suprarregulava 39 genes, 14 dos
quais associados à atividade das células exterminadoras
naturais do sistema imunitário. Vários outros estudos
demonstraram o aumento de vários anticorpos, depois de os
sujeitos terem visto um vídeo de humor. As investigações
realizadas na Universidade da Carolina do Norte em Chapel
Hill revelaram ainda que o acréscimo das emoções positivas
produzia aumentos no tônus vagal, uma medida de saúde do
nervo vago extremamente importante na regulação do
sistema nervoso autônomo e da homeostase. Num estudo
japonês, depois de fazerem cócegas a ratos bebês, durante
cinco minutos, diariamente, ao longo de cinco dias seguidos,
para estimular as emoções positivas, os cérebros dos
animais começaram a gerar novos neurônios.

Nestes casos, as emoções positivas intensas ajudaram os


sujeitos a desencadear mudanças físicas reais que
melhoraram a sua saúde. As emoções positivas levam o
corpo e o cérebro a florescer.

Agora, observe o padrão de muitos estudos de placebo:


assim que alguém começa a formular a intenção clara de um
novo futuro (a vontade de viver sem dor ou doença) e a
combina com uma emoção intensa (excitação, esperança e
expectativa de viver realmente sem dor ou doença), o corpo
deixa de estar no passado e passa a viver nesse novo futuro,
porque, como já constatamos, não distingue a emoção
criada por uma experiência realmente vivida de uma
experiência mentalmente vivida. Isso faz desse estado
emocional intenso em resposta ao novo pensamento uma
componente vital do processo, porque se trata de nova
informação que vem do exterior da célula — e, para o corpo,
a experiência do ambiente exterior é igual à experiência do
ambiente interior.

Lembra-se do Sr. Wright, do Capítulo 1? Ficou muito


entusiasmado quando pensou em tomar o potente fármaco
novo de que ouvira falar e imaginou que este o poderia
curar. Tal era o entusiasmo, que insistiu com o médico para
Iho receitar. não percebeu que o médico lhe deu uma
substância inerte, mas o cérebro não fez a distinção entre as
imagens mentais com uma elevada carga emocional que
formulou de si próprio bem de saúde e a realidade de estar
bem de saúde. Em consequência, o corpo respondeu
emocionalmente, como se o que ele imaginara tivesse
mesmo acontecido. A mente e o corpo trabalharam em
conjunto para enviar sinais diferentes a novos genes; foi
isso, e não o “potente fármaco novo" que tomou, que fez
com que os tumores desaparecessem e lhe devolveu a
saúde. Foi isso que gerou nele o novo estado de ser.

Quando soube que os ensaios clínicos tinham concluído que


o fármaco não funcionava, o Sr. Wright retomou os velhos
pensamentos e emoções — a velha programação — e, como
seria de esperar, os tumores reapareceram. O estado de ser
mudou novamente. Quando os médicos o informaram de que
poderia obter uma versão melhorada e funcional do fármaco,
sentiu-se entusiasmado outra vez.
Acreditou mesmo que a nova versão do fármaco funcionava,
porque já tinha experienciado isso antes (ou, pelo menos,
pensou que sim).

Naturalmente que, ao retomar a intenção de saúde e ao


começar a formular novos pensamentos de outras
possibilidades, o cérebro voltou a acionar e a instalar novas
ligações neurais e criou uma nova mente. A excitação e a
esperança regressaram e essa emoção gerou as substâncias
químicas do organismo que promoviam os novos
pensamentos. Mais uma vez. o corpo não fez a distinção
entre a convicção de bem-estar dos pensamentos e
sentimentos e o bem-estar real. E, mais uma vez, o corpo e o
cérebro responderam como se o que ele imaginara já tivesse
acontecido — os tumores desapareceram de novo.

Ao ler nas notícias que o “fármaco milagroso" era realmente


um embuste, reverteu pela última vez para o velho
pensamento e as velhas emoções — e.

juntamente com a velha personalidade, voltaram os


tumores. não existia nenhum fármaco milagroso — o milagre
era ele próprio. E não havia nenhum placebo —

o placebo era ele próprio.

Desse modo, devemos concentrar-nos não só em evitar as


emoções negativas, como o medo e a revolta, mas também
em cultivar conscientemente emoções positivas e genuínas,
como a gratidão, a alegria, a excitação, o entusiasmo, o
fascínio, o espanto, a inspiração, a confiança, a apreciação, a
bondade, a compaixão e a capacitação, para termos todas
as vantagens na maximização da saúde.

Os estudos demonstram que o contacto com emoções


positivas e expansivas como a bondade e a compaixão —
emoções que, por acaso, são um direito inato
— gera a libertação de um neuropeptídeo diferente
(chamado oxitocina) que desativa naturalmente os
receptores da amígdala, a parte do cérebro que gera medo e
ansiedade. Sem o medo no caminho, podemos sentir
infinitamente mais confiança, perdão e amor. Passamos de
egoístas a altruístas. E, quando incorporamos esse novo
estado de ser, os circuitos neurais abrem-se a um leque
infinito de possibilidades que jamais imaginaríamos antes,
porque já não estamos a despender toda a nossa energia na
tentativa de sobreviver.

Os cientistas identificam zonas do corpo — como os


intestinos, o sistema imunitário, o fígado e muitos outros
órgãos — que contém pontos de recepção para a oxitocina.
Trata-se de órgãos altamente receptivos ao maior efeito de
cura da oxitocina, associado à produção acrescida de vasos
sanguíneos no coração, ao

estímulo da função imunitária, ao aumento da motilidade


gástrica e à normalização dos níveis de glicemia.

Regressemos ao ensaio mental. Lembra-se de que o lóbulo


frontal é um bom aliado no ensaio mental? É verdade,
porque, como já constatamos, o lóbulo frontal ajuda-nos a
desligar do corpo, do ambiente e do tempo — os três
principais enfoques das pessoas que vivem no modo de
sobrevivência. Ajuda-nos a transcender o que somos e a
alcançar um estado de pura consciência, onde não existe
ego.

Nesse novo estado, visualizando o que desejamos, o coração


abre-se mais e permite-nos ser invadidos por emoções
positivas, de modo que a espiral de sentimentos que
pensamos e de pensamentos que sentimos começa
finalmente a funcionar em nosso favor. A mentalidade
egoísta que tínhamos no modo de sobrevivência deixa de
existir, porque a energia que canalizávamos para suprir as
necessidades de sobrevivência passou a estar livre e
disponível para a criação. É

como se alguém nos pagasse a renda num determinado mês


e nós ficássemos com esse dinheiro a mais para gastar onde
quiséssemos.

Já entendemos bem que se fixarmos a intenção clara de um


novo futuro, a juntarmos a um estado emocional elevado e
expansivo, e repetirmos esse processo vezes sem conta, até
criarmos um novo estado de ser, esses pensamentos tornar-
se-ão mais reais do que a nossa anterior visão limitada da
realidade. Estamos finalmente livres. E, assimilando essa
emoção, mais facilmente nos apaixonamos pela
possibilidade que visualizamos.

O maestro da sinfonia (o lóbulo frontal) sente-se como uma


criança numa loja de doces — cheio de excitação e alegria, a
admirar a enorme variedade de novas combinações de
ligações neurais possíveis para formar novas redes neurais.
E, quando o maestro nos desliga do velho estado de ser,
acionando os circuitos do novo estado de ser, as substâncias
neuroquímicas começam a entregar novas mensagens às
células que, por sua vez, já estão preparadas para fazer
mudanças epigenéticas para emitir sinais eficazes a novos
genes — e, ao servirmo-nos das emoções intensas para
simular que as coisas já aconteceram, enviamos os sinais ao
gene antes de o ambiente existir. Já não aguardamos a
mudança nem temos esperança de que esta ocorra — somos
a esperança.

4. De volta ao mosteiro

Retomemos o estudo do início do capítulo anterior, em que


vários homens idosos
fingiram ser mais jovens e rejuvenesceram mesmo
fisicamente. Já vimos como o fizeram, resolvendo o mistério.

Quando chegaram ao mosteiro, os homens recolheram-se da


vida que lhes era familiar. Já não tinham nada que lhes
evocasse a pessoa que pensavam ser com base no ambiente
exterior. Então, começaram o retiro, fixando uma intenção
muito clara: fingir que eram novamente jovens (utilizando os
ensaios físico e mental, porque ambos alteram o corpo e o
cérebro) da forma mais real possível.

Ao verem filmes, lerem revistas e ouvirem programas de


rádio ou verem programas televisivos de quando tinham
menos 22 anos, sem as interrupções da vida moderna,
conseguiram libertar-se da realidade de serem
septuagenários e octogenários.

Esses homens começaram mesmo a viver como se fossem


novamente jovens. Ao experienciarem novos pensamentos e
sentimentos sobre a juventude renovada, o cérebro começou
a ativar neurônios em novas sequências, novos padrões e
novas combinações — alguns dos quais não eram ativados
há 22 anos.

Com o ambiente exterior e o ambiente interior da


imaginação de cada um a ajudá-los a sentir a experiência
como verdadeira, o cérebro não distinguiu ter de facto
menos 22 anos do ato de fingir ser mais jovem. Então, em
poucos dias, os homens começaram a emitir sinais para as
mudanças genéticas que refletiriam o estado em que
sentiam estar.

Assim, o corpo produziu neuropeptídeos para corresponder


às emoções que, ao serem libertados, enviaram novas
mensagens às células. Depois de permitirem a entrada
desses mensageiros químicos, as células dirigiram-se ao
ADN, nas suas profundezas. Uma vez lá, criaram-se novas
proteínas que, por sua vez, procuraram novos genes em
concordância com a informação que transportavam.

Ao encontrarem o que procuravam, as proteínas


desembrulharam o ADN, acionando o gene que estava à
espera e desencadeando mudanças epigenéticas. Essas
mudanças epigenéticas resultaram na produção de novas
proteínas semelhantes às proteínas dos homens quando eles
tinham menos 22 anos. Se o corpo deles não tivesse as
peças necessárias para criar as mudanças epigenéticas em
questão, o epigenoma mobilizaria simplesmente células
estaminais para fazer o que precisasse.

Seguiu-se uma série de melhorias físicas, com os homens a


fazerem mais mudanças epigenéticas e a acionarem mais
genes. Por fim, os que saíram do mosteiro a dançar já não
eram os que tinham entrado a arrastar-se apenas uma
semana antes.

Se o processo funcionou com estes homens, garanto-lhe que


também pode funcionar consigo. Em que realidade escolhe
viver e quem finge ser (ou não ser)? Poderá ser assim tão
simples?

10. CAPÍTULO 6

Sugestibilidade

Ivan Santiago, de 36 anos, esperava pacientemente numa


rua de Nova Iorque com meia dúzia de paparazzi, atrás da
corda de veludo no exterior da porta de serviço de um hotel
de quatro estrelas de Lower East Side. Esperavam um
dignitário estrangeiro que estava prestes a sair e a saltar
para dentro de uma das duas limusinas pretas paradas na
berma. Mas Santiago não tinha uma câmara nas mãos. Tinha
uma mão a segurar uma mochila vermelha novinha em folha
com o fecho semiaberto e a outra metida na mochila, a
agarrar uma pistola com um silenciador encaixado.
Imponente guarda prisional da Pensilvânia, com uma careca
que encheria Vin Diesel de orgulho, Santiago percebia
alguma coisa sobre armas mortíferas. Nunca tivera de
disparar nenhuma em serviço, mas, naquele dia, estava
disposto a fazê-lo.

Momentos antes, estava a caminho de casa, sem pensar em


armas, mochilas, dignitários estrangeiros, ou assassinatos.
Mas ali estava ele, com o dedo no gatilho, as sobrancelhas
franzidas numa expressão facial intimidante e a poucos
segundos de se transformar num homicida. A porta abriu-se
e o alvo saiu do hotel a passo descontraído, envergando uma
túnica branca, de óculos escuros e com uma pasta de couro
na mão. Bastou dar dois ou três passos na direção da
limusina para que Santiago sacasse da arma e a disparasse
três vezes. O homem caiu no passeio, imóvel e com a túnica
manchada de sangue.

Segundos depois, um homem chamado Tom Silver apareceu


do nada, pousou calmamente uma mão no ombro de
Santiago, encostou a outra à testa dele e disse: “Ao contar
até cinco, direi ‘totalmente renovado'. Abre os olhos e
desperta. Um. dois, três, quatro, cinco! Totalmente
renovado!"

Santiago tinha sido hipnotizado para matar um desconhecido


(na realidade, um duplo profissional) utilizando o que não
passava, afinal, de uma arma falsa numa experiência
realizada por um grupo de investigadores que decidiram
testar o impensável: servindo-se da hipnose, seria possível
programar um cidadão cumpridor da lei e boa pessoa para o
tornar um implacável assassino?

Escondidos na limusina, a observar o que estava a


acontecer, encontravam-se os investigadores que estavam a
trabalhar com Silver: Doutora Cynthia Meyersburg, na altura
bolseira dc pós-doutoramento de Harvard, especialista em
psicopatologia experimental; Doutor Mark Stokes,
neurocientista de Oxford que estuda as vias neurais do
processo de tomada de decisão; e Doutor Jeífery
Kteliszewski, psicólogo forense dos Human Resource
Associates de Grand

Rapids. Michigan, que trabalhou cm prisões de alta


segurança e hospitais para criminosos com alegada ou
comprovada insanidade mental.

Na véspera, os investigadores tinham começado com um


grupo de 185

voluntários. Silver (hipnoterapeuta clínico credenciado e


especialista em hipnose forense de investigação, que já
ajudou o Ministério da Defesa de Taiwan a revelar um
escândalo de tráfico internacional de armas no valor de 2.4
mil milhões de dólares) testou os 185 participantes para
determinar o grau de sugestibilidade de cada um à hipnose.
Apenas cerca de 5 por cento a 10 por cento da população é
considerada muito suscetível à hipnose. No restante grupo.

16 passaram a revista com êxito e foram submetidos a uma


avaliação psicológica para determinar quais poderiam sofrer
danos psicológicos permanentes com a experiência. Onze
passaram ao teste seguinte, que determinava se, sob
hipnose, rejeitariam normas sociais profundamente
arreigadas; assim, ficariam a saber em que aspetos seriam
mais sugestionáveis.

Divididos em grupos mais pequenos, os sujeitos foram


levados a almoçar a um restaurante relativamente
movimentado, mas sem terem conhecimento de que lhes
tinham feito uma sugestão pós-hipnótica para, assim que se
sentassem, sentirem as cadeiras muito quentes, a ponto de
ficarem com tanto calor que se despiriam todos para ficar de
roupa interior — ali mesmo, no restaurante.

Enquanto os sujeitos cumpriam as instruções em diferentes


graus, os investigadores eliminaram sete que lhes
pareceram estar a fingir ou não ser suficientemente
sugestionáveis para seguir o estímulo como seria de esperar.
Os outros despiram-se e ficaram de roupa interior no espaço
de alguns segundos; pensavam mesmo que as cadeiras
estavam extremamente quentes.

Os quatro que passaram ao nível seguinte foram convidados


a fazer um teste que ninguém seria capaz de falsear. Tinham
de entrar numa banheira de metal funda cheia de água fria a
1,6 °C, um pouco menos que gelada. Um de cada vez,
colocaram-lhes fios ligados a dispositivos para controlar a
taxa cardíaca, a taxa respiratória e o pulso, enquanto uma
câmara de imagem termal vigiava a temperatura corporal e
a temperatura da água. Ao hipnotizá-los, Silver disse aos
sujeitos que não sentiriam desconforto com a água fria e
que, pelo contrário, se sentiriam como se estivessem a
entrar numa banheira com água agradavelmente quente. O
anestesiologista Sekhar Upadhyayula fez o teste, com
técnicos de medicina de urgência a assisti-lo.

O teste viabilizaria ou impossibilitaria a experiência. Em


geral, expostas a uma água tão fria, as pessoas sofrem um
reflexo involuntário que as faz arquejar quando a água chega
ao nível dos mamilos. Os ritmos cardíaco e respiratório
disparam, as pessoas começam a tremer e os dentes a
bater. É o sistema nervoso autônomo a dominar o corpo, na
tentativa de manter o equilíbrio interno — algo

que não está sob o controlo consciente. Mesmo que alguém


se encontre num profundo estado de hipnose, a quantidade
de sensações enviada ao cérebro nessas condições extremas
seria demasiado assoberbante e quebraria esse estado.
Os sujeitos que passassem no teste teriam de ser mesmo
muito sugestionáveis.

Três dos sujeitos entraram em profundos estados de hipnose,


mas não o suficiente para aguentar tanto frio, sem perderem
a homeostase do corpo. A permanência máxima na água foi
de 18 segundos. Mas o quarto sujeito, Santiago, já estava há
dois minutos dentro de água, quando o Dr. Upadhyayula
interrompeu o teste.

Embora Santiago apresentasse uma taxa cardíaca elevada


antes da experiência, ao entrar na água, a taxa acalmou
imediatamente. O ecocardiograma e a taxa respiratória não
revelaram quaisquer variações. Santiago mantinha-se
sentado entre cubos de gelo como se estivesse
descontraidamente mergulhado numa banheira de água
quente; com efeito, era exatamente assim que julgava estar.
Quando verificaram que o homem não demonstrava
qualquer hesitação e não entrava em hipotermia, os
investigadores perceberam que tinham encontrado o sujeito
que procuravam.

Por ser tão sugestionável à hipnose a ponto de o corpo poder


resistir a um ambiente tão extremo por tanto tempo e de a
mente poder controlar as funções autônomas, Santiago
estava pronto para o teste final.

Ao estudarem o historiai de Santiago, os investigadores


constataram que era uma excelente pessoa — funcionário de
confiança, filho dedicado e tio carinhoso. não era, de modo
algum, o tipo de homem que aceitaria matar alguém a
sangue frio. Conseguiria Silver levar um homem assim a
tornar-se assassino?

Para validar a fase seguinte da experiência, Santiago não


poderia ter conhecimento do que se estava a encenar; não
poderia estabelecer qualquer tipo de associação entre as
experiências em que participava e o cenário diante do hotel
ao lado do qual se realizava o estudo. Segundo o plano
traçado, os produtores de televisão responsáveis por filmar
as experiências disseram-lhe que não tinha sido selecionado
para continuar no programa, mas que queriam que
regressasse no dia seguinte para uma curta entrevista de
saída. Antes de Santiago se ir embora, disseram-lhe que não
voltariam a hipnotizá-lo.

No dia seguinte. Santiago voltou. Enquanto conversava com


uma produtora, a equipa começou a preparar o cenário no
exterior. O duplo prendeu sacos com sangue ao corpo; a
arma falsa (com o som e o comportamento de uma
verdadeira) foi colocada numa mochila vermelha deixada
numa mota estacionada mesmo à frente da entrada do
edifício. Prenderam um cordão de veludo diante da porta de
serviço do hotel no prédio ao lado e encenaram tudo, com
um grupo de pretensos paparazzi empunhando câmaras de
vídeo e

fotográficas. Na rua, estavam estacionadas duas limusinas,


aparentemente prontas para arrancar com o “dignitário
estrangeiro” e a sua comitiva.

Dentro do edifício, Santiago respondia alegremente às


perguntas que lhe faziam na “entrevista de saída", quando a
produtora pediu licença para sair, explicando que não
demoraria. Pouco depois de sair da sala, entrou Silver a dizer
que se queria despedir dele. Ao apertar a mão de Santiago,
Silver deu-lhe um pequeno puxão no braço e disselhe para
cair imediatamente num transe hipnótico. Santiago afundou-
se no sofá.

Então, Silver disselhe que estava “um vilão” na rua,


acrescentando: “Tem de ser eliminado. Temos de nos livrar
dele e és a pessoa certa para o fazer.”
Explicou-lhe que, quando saísse do edifício, veria uma
mochila vermelha numa mota, que tinha no interior uma
arma de fogo. Mandou-o agarrar a mochila, dirigir-se ao
cordão de veludo e esperar pelo dignitário, que havia de sair
do hotel com uma pasta na mão. E continuou: “Assim que ele
sair, apontas-lhe a arma ao peito e disparas: Pum! Pum!
Pum! Pum! Pum! Depois, esqueceste completamente do
sucedido."

Por fim, Silver implantou um desencadeador sonoro e físico


que faria Santiago entrar num estado hipnótico sob o qual
seguiria a sugestão pós-hipnótica que aquele lhe dera:
informou Santiago de que ele reconheceria um produtor à
porta do edifício, que lhe apertaria a mão e lhe diria: “Fizeste
um trabalho espetacular, Ivan.” Silver disse a Santiago que
anuísse afirmativamente caso tencionasse cumprir as ordens
que lhe dera e assim foi. Em seguida, fê-lo sair do estado de
transe e agiu como se realmente só estivesse ali para se
despedir dele.

A produtora regressou depois de Silver sair e agradeceu a


Santiago, informando-o de que a entrevista tinha terminado
e que já podia ir embora.

Pouco depois, Santiago saiu do edifício, convencido de que ia


para casa.

Uma vez na rua, apareceu o tal produtor que lhe apertou a


mão, dizendo:

“Fizeste um trabalho espetacular, Ivan.” Era esse o


desencadeante. Nessa altura, Santiago olhou ao seu redor,
viu a mota, dirigiu-se a ela e agarrou calmamente na
mochila que estava em cima do assento. Ao avistar o cordão
de veludo e os paparazzi, aproximou-se, abrindo lentamente
a mochila.
Momentos depois, saiu do hotel um homem com uma pasta
na mão. Sem hesitar, Santiago sacou da arma e alvejou o
homem várias vezes no peito. Os sacos de sangue sob a
túnica do “dignitário” rebentaram e ele caiu com grande
aparato no chão.

Silver apareceu quase imediatamente e levou Santiago a


fechar os olhos. O

duplo apressou-se a sair dali, enquanto Silver retirava


Santiago do transe. O

psicólogo Jeffery Kieliszewski apareceu e pediu a Santiago


que o acompanhasse

para se fazer um breve relatório. Os investigadores contaram


a Santiago o que acontecera e perguntaram-lhe se tinha
alguma memória do que fizera ou do que acabara de
acontecer na rua. Surpreendido, Santiago disse que não se
lembrava de nada — ou seja, até Silver lhe ter sugerido que
se lembrasse.

1. Programar o subconsciente

Nos primeiros capítulos, pode ler sobre muitas pessoas


diferentes que aceitaram um possível cenário imaginado e,
como por magia, os corpos responderam a essa imagem
mental: pessoas que passaram anos imobilizadas pelos
tremores involuntários da doença de Parkinson, aumentaram
os níveis de dopamina só com o pensamento e fizeram
desaparecer a paralisia espasmódica; uma mulher com
depressão crônica que, com o tempo, alterou fisicamente o
cérebro e transmutou o estado emociona! debilitado para
um estado de alegria e bem-estar; asmáticos que sofreram
um episódio de bronquite asmática desencadeado apenas
por vapor de água, mas reverteram a obstrução bronquial
em segundos, inalando exatamente o mesmo vapor de água;
e, é claro, os homens com dores incapacitantes nos joelhos e
o movimento articular comprometido que melhoraram
milagrosamente, após uma cirurgia falsa ao joelho,
permanecendo assim durante anos.

Em todos estes casos e em muitos outros, podemos dizer


que cada sujeito começou por aceitar e, depois, passou a
acreditar na sugestão de melhores condições de saúde,
acabando por se render ao resultado sem mais análise. Ao
aceitarem o potencial de recuperação, essas pessoas
alinharam-se com uma possível futura realidade — e
mudaram a mente e o cérebro no processo.

Acreditando no resultado, assimilaram emocionalmente a


ideia de melhores condições de saúde e, em resultado, corpo
e mente inconsciente passaram a viver nessa futura
realidade no momento presente.

Condicionaram o corpo a uma nova mente e, assim,


passaram a emitir sinais diferentes a novos genes e a
expressar novas proteínas benéficas para a saúde — e
mudaram para um novo estado de ser. Quando se renderam
a um novo cenário possível, deixaram de analisar o como e o
quando da manifestação; confiaram simplesmente num
estado de ser melhor e mantiveram esse novo estado
mental e corporal por um período de tempo alargado. Foi
esse estado de ser sustentado que ativou os genes certos e
os programou para assim permanecerem.

Quer tenham cumprido um regime diário de toma de


comprimidos de açúcar durante semanas, ou até meses, ou
recebido uma única injeção de soro fisiológico, quer se
tenham submetido a uma falsa cirurgia, essas pessoas
mostraram aceitação, crença e entrega para com o estudo
em que participaram.
Se tomaram um comprimido todos os dias para aliviar dor ou
depressão, esse comprimido foi um lembrete constante para
que condicionassem, esperassem e atribuíssem significado à
atividade intencional que praticavam, consolidando assim o
processo interno vezes sem conta. Se se deslocaram
semanalmente ao hospital para os questionarem sobre as
melhorias, a simples interação com médicos, enfermeiras,
equipamento e salas de espera num determinado ambiente,
por escolha própria, desencadeou uma série de respostas
sensoriais que, pela memória associativa, recordavam os
sujeitos do possível futuro novo ao seu alcance. As pessoas
estavam condicionadas pelas experiências passadas a
considerar que o local a que chamavam “hospital” era onde
se ia para melhorar a saúde. Assim, começaram a contar
com as futuras melhorias e, portanto, a fixar uma intenção
em todo o processo de cura. A partir do momento em que
ganharam significado, todos esses fatores passaram a
contribuir para tornar os pacientes do placebo mais
sugestionáveis aos resultados que sentiam.

Passemos agora ao elefante na sala: nenhuma destas


mudanças ocorreu graças a um qualquer mecanismo físico,
químico ou terapêutico. Nenhuma destas pessoas fez uma
verdadeira cirurgia, tomou medicação ativa, ou recebeu
qualquer tratamento real para criar alterações tão
significativas de saúde. O

poder da mente influenciou de tal modo a fisiologia do corpo


que se curaram.

Podemos dizer com segurança que a verdadeira


transformação se deu à revelia da mente consciente. A
mente consciente talvez tenha iniciado o curso da ação, mas
o verdadeiro trabalho aconteceu ao nível do subconsciente,
sendo a forma como ocorreu totalmente desconhecida para
os sujeitos.
O mesmo se aplica a Ivan Santiago. O poder da mente sob
hipnose influenciou de tal modo a sua fisiologia que nem
sequer o facto de estar mergulhado numa banheira de água
gelada fez qualquer diferença. Esse feito, porém, deveu-se à
mente subconsciente alterada por uma simples sugestão e
não à mente consciente. Se ele não tivesse aceitado a
sugestão, o resultado teria sido muito diferente. Além disso,
fez o que fez sem pensar em como seria capaz de o fazer;
aliás, mentalmente, não estava mergulhado em água gelada
mas sim sentado numa agradável banheira de água quente.

Desse modo, tal como acontece com a hipnose, o efeito


placebo deve-se à interação que, de alguma forma, ocorre
entre a consciência de uma pessoa e o seu sistema nervoso
autônomo. O que acontece é, muito simplesmente, uma
fusão da mente consciente com a mente inconsciente. Assim
que aceitam um

pensamento como sendo uma realidade, passando a crer e a


confiar emocionalmente no resultado final, os pacientes de
placebo curam-se.

Os diversos acontecimentos fisiológicos levam


automaticamente a cabo todo o processo de mudança
biológica — sem o envolvimento da mente consciente.

Penetram no sistema operativo onde essas funções já


ocorrem regularmente e, ao fazê-lo, é como se plantassem
uma semente em solo fértil. O sistema toma
automaticamente o controlo. Na verdade, ninguém tem de
fazer nada. As coisas simplesmente acontecem.

Nenhum dos sujeitos poderia fazer conscientemente disparar


os níveis de dopamina num aumento de 200 por cento e
controlar tremores involuntários com a mente, fabricar novos
neurotransmissores para combater a depressão, emitir sinais
para que as células estaminais se transformassem em
leucócitos para reforçar a resposta imunitária, nem reparar a
cartilagem do joelho para reduzir a dor — tal como Santiago
não poderia conscientemente controlar-se para não hesitar
ao mergulhar o corpo naquela banheira. Ninguém
conseguiria fazer nenhuma dessas coisas. Seria preciso o
auxílio de uma mente que já soubesse iniciar todos esses
processos. Só seria possível, se as pessoas conseguissem
ativar o sistema nervoso autônomo e a mente
subconsciente, para os levar a produzir novas células e
proteínas saudáveis.

2. Aceitação, crença e entrega

Ao longo desta obra, refiro-me a sugestibilidade como se nos


pudéssemos todos tornar sugestionáveis como facilidade e
quando quiséssemos. Depois de ler a história narrada no
início do capítulo, já deve ter percebido que não é nada fácil.

Temos de aceitar que algumas pessoas — sem dúvida


alguma Ivan Santiago —

são mais sugestionáveis do que outras. E mesmo as pessoas


mais sugestionáveis respondem melhor a umas sugestões
do que a outras.

Por exemplo, alguns dos sujeitos do teste de hipnose não


sentiram qualquer dificuldade em despir-se e ficar de roupa
interior em público, com uma sugestão pós-hipnótica, mas
mostraram-se subconscientemente incapazes de aceitar que
uma banheira de água gelada fosse um jacuzzi bem
quentinho. Assim aconteceu, apesar de as sugestões pós-
hipnóticas (entre as quais, a sugestão para que Santiago
alvejasse um desconhecido) serem geralmente menos
eficazes, quando comparadas com as sugestões que alteram
temporariamente o estado de alguém,

durante o transe hipnótico em si.


E, à semelhança da hipnose, a resposta do placebo não
funciona com toda a gente. Os pacientes do placebo que
aqui refiro e que conseguiram fazer e manter mudanças
positivas durante anos (como os homens submetidos à falsa
cirurgia ao joelho) respondem mais ou menos como os
sujeitos da hipnoterapia que receberam sugestões pós-
hipnóticas. Para algumas pessoas, como estes homens, tais
sugestões funcionam muito bem; para outras, não acontece
nada de especial.

Por exemplo, se estiverem mal de saúde ou sofrerem de


alguma doença, muitas pessoas são simplesmente incapazes
de aceitar a ideia de que que um fármaco, uma intervenção,
um tratamento, ou uma injeção as possa ajudar —

quanto mais um placebo. Porque não? Porque é preciso


superar o que sentem com pensamentos — permitindo, por
sua vez, que esses pensamentos novos motivem novas
formas de sentir que, depois, os consolidem até criarem um
novo estado de ser. Mas se os pensamentos assentarem
sempre em sentimentos familiares e a pessoa não for capaz
de transcender essa habituação, mantém-se o mesmo
estado mental e corporal que já vem do passado e nada
muda.

Se, no entanto, essa mesma pessoa que não consegue


aceitar que um fármaco ou uma intervenção a possa curar
for capaz de alcançar um outro nível de aceitação e crença,
entregando-se a esse fim sem estar sempre enervada,
preocupada e a analisar tudo, as recompensas serão
enormes. A sugestibilidade é isso: fazer com que um
pensamento se torne uma experiência virtual e,
consequentemente, levar o corpo a responder de outra
maneira.

A sugestibilidade combina três elementos: aceitação, crença


e entrega.
Quanto maior for a nossa aceitação, a nossa crença e a
nossa entrega ao que quer que estejamos a fazer para
alterar o estado interior, melhores serão os resultados.

Da mesma forma, quando estava hipnotizado e sob o


controlo da mente subconsciente, Santiago aceitou
totalmente que Silver lhe dissesse que era preciso eliminar o
“vilão”, acreditou nele e entregou-se à tarefa de que ele o
tinha incumbido, sem sequer analisar ou pensar com sentido
crítico no que estava prestes a fazer. não se enervou nem
pediu provas. não pensou duas vezes.

Limitou-se a fazer o que tinha de fazer.

3. Juntar a emoção

Assim, perante a ideia de melhoria de saúde e associando


essa esperança ou pensamento — que algo que nos é
exterior mudará algo no nosso interior — à

expectativa emocionai da experiência, tornamo-nos


sugestionáveis a esse resultado final. Condicionamos,
esperamos e atribuímos significado ao sistema que nos trará
os resultados.

Mas a componente emocional é vital nesta experiência; a


sugestibilidade não é um processo estritamente intelectual.
Muitas pessoas podem intelectualizar a noção de melhorar,
mas se não assimilarem emocionalmente o resultado, não
conseguirão aceder ao sistema nervoso autônomo (como fez
Santiago sob hipnose), o que é fulcral, porque é ai que se
processa a programação subconsciente que manda em tudo
(tal como é referido no Capítulo 3). Aliás, em psicologia é
geralmente aceite que a pessoa que sente emoções intensas
tende a ser mais receptiva às ideias, sendo, por isso, mais
sugestionável.
O sistema nervoso autônomo é controlado pelo cérebro
límbico, que também é conhecido como “cérebro emocional”
ou “cérebro químico”.

Representado na Figura 6.1, o cérebro límbico é responsável


por funções subconscientes como a ordem química e a
homeostase, mantendo o equilíbrio fisiológico natural do
corpo. É o centro emocional. Ao sentirmos diferentes
emoções, ativamos esta parte do cérebro e fazemo-la criar
as moléculas químicas correspondentes à emoção. E uma
vez que esse cérebro emocional foge ao controlo da mente
consciente, quando sentirmos emoções, ativamos o sistema
nervoso autônomo.
FIGURA 6.1

Ao sentir uma emoção, contorna o neocórtex — onde fica a


mente consciente —

e ativa o sistema nervoso autônomo. Desse modo, ao ir para


além do cérebro pensante, acede a uma região do cérebro
que regula, mantém e executa a saúde.

Desse modo, se o efeito placebo requer que assimilemos


uma emoção elevada antes da experiência de cura em si,
então, se amplificarmos a resposta emocional (e sairmos do
nosso estado de repouso normal), ativamos o sistema
subconsciente. Quando sente emoções, acede ao sistema
operativo e programa uma mudança, porque passa a instruir
automaticamente o sistema nervoso autônomo para
começar a criar a química correspondente ao estado real de
melhoria de saúde. Assim, o corpo recebe uma mescla
desses elixires alquímicos naturais enviados pelo cérebro e a
mente; o corpo torna-se emocionalmente mente.

Tal como vimos, não pode ser qualquer tipo de emoção. As


emoções de

sobrevivência que já analisamos no último capítulo


desequilibram o corpo e o cérebro e infrarregulam (ou
desligam) os genes necessários para a saúde perfeita.

O medo, a futilidade, a revolta, a impaciência, o pessimismo,


a competitividade e a preocupação não emitem sinais aos
genes que promovem a saúde. Fazem o oposto — acionam o
modo de luta ou fuga do sistema nervoso e preparam o
corpo para uma emergência, que assim perde energia vital
para a cura.

O mesmo acontece quando tentamos forçar qualquer coisa.


Tentamos forçar um resultado, sem nos apercebermos do
que estamos a fazer. Assim, desequilibramo-nos, tal como as
emoções do modo de sobrevivência nos desequilibram, e
quanto mais frustração e impaciência sentirmos, maior será
o desequilíbrio. Lembra-se de O Império Contra-Ataca,
quando Yoda diz a Luke Skywalker que não existe tentar, só
fazer (ou não fazer)? O mesmo se aplica à resposta do
placebo: não se tenta, só se permite.

Todas essas emoções negativas e de stress tornam-se


familiares e associam-se a acontecimentos passados que
mantêm o corpo ligado às mesmas condições de sempre — o
que, neste caso, são más condições de saúde. Então, não
recebemos informação nova para programar os genes de
diferentes formas. O

nosso passado consolida-se no nosso futuro.

Por outro lado, as emoções como a gratidão e a apreciação


abrem-nos o coração e elevam a energia do corpo a novas
alturas — para longe dos centros hormonais inferiores. A
gratidão é uma das emoções que mais aumentam o nível de
sugestibilidade. Ensina emocionalmente ao corpo que o
acontecimento pelo qual estamos gratos já ocorreu, porque
tendemos a agradecer depois de obtermos o que desejamos.

Se convocarmos a emoção da gratidão antes do futuro


acontecimento em si» o corpo (tal como a mente
inconsciente) começará a acreditar que este já ocorreu — ou
está a ocorrer no presente, pelo que a gratidão é o estado
máximo do ato de receber. Observe a Figura 6.2 para ver a
diferença entre a expressão das emoções inferiores do modo
de sobrevivência e a expressão das emoções elevadas.
FIGURA 6.2

As emoções do modo dc sobrevivência derivam sobretudo


das hormonas do stress. que tendem a promover estados
corporais e mentais mais limitados c egoístas. Ao assimilai
mo» emoções elevadas e mais criativas, devamos a nossa
energia a outro centro hormonal, começamos a abrir o
coração e sentimo-nos mais altruístas, isso acontece quando
o corpo começa a responder a uma nova mente.
Se conseguir convocar a emoção da valorização ou da
gratidão e combiná-la com uma intenção clara, começa a
encarnar emocionalmente o acontecimento. Começa a
mudar o cérebro e o corpo. Mais concretamente, ensina o
corpo a perceber a nível químico aquilo que a mente
entende a nível filosófico. Poderíamos dizer que se situa num
novo futuro, no momento

presente. Deixa de utilizar emoções primitivas familiares


para se manter preso ao passado e passa a servir-se de
emoções elevadas para se lançar num novo futuro.

4. As duas facetas da mente analítica

Recuemos à noção já abordada de que cada um de nós tem


uma certa medida de capacidade para aceitar uma sugestão
que resulte num campo de sugestibilidade.

Temos o nosso próprio nível de suscetibilidade aos


pensamentos, às sugestões e às ordens — das realidades
interior e exterior o que depende de muitas variáveis.

Pense na sugestibilidade como se esta estivesse


inversamente relacionada com o pensamento analítico
(como ilustra a Figura 6.3): quanto mais forte for a mente
analítica (quanto mais analisarmos as coisas), menos
sugestionáveis seremos; e quanto menos analítica for a
nossa mente, mais sugestionáveis seremos.

FIGURA 6.3

Relação inversa entre a mente analítica e a sugestibilidade.

A mente analítica (ou mente crítica) é a parte da mente que


utilizamos conscientemente e da qual estamos cientes. É a
função do neocórtex pensante —

a região do cérebro onde se encontra a consciência alerta;


que pensa, observa e recorda coisas; e que resolve
problemas. Analisa, compara, julga, repensa, examina,
questiona, polariza, escrutina, raciocina, racionaliza e reflete.
Pega no que aprendeu com a experiência passada e aplica
esse conhecimento a um futuro ou a qualquer coisa que
ainda não experienciou.

Na experiência da hipnose descrita no início deste capítulo,


por exemplo, sete dos onze sujeitos que receberam a
sugestão pós-hipnótica para se despirem em público num
restaurante não a cumpriram a 100 por cento. A mente
analítica fê-los “cair em si”. Assim que começaram a analisar
— Estará certo? Será que devo fazer isto? Que figura farei?
Quem está a ver? O que pensaria o meu namorado? a
sugestão perdeu poder e retomaram o velho e familiar
estado de ser. As quatro pessoas que se despiram
imediatamente e ficaram de roupa interior, por sua vez,
fizeram-no sem pôr nada em causa. Eram menos analíticas
(e, portanto, mais sugestionáveis) do que as outras sete.

Uma vez que o neocórtex se divide em duas metades


chamadas hemisférios, faz sentido que analisemos e
despendamos muito tempo a pensar em dualidade: ou seja,
bem ou mal, certo ou errado, positivo ou negativo, masculino
ou feminino, heterossexual ou homossexual, democrata ou
republicano, passado ou futuro, lógica ou emoção, velho ou
novo, cabeça ou coração, etc. Se vivermos em stress, as
substâncias químicas que lançamos no sistema tendem a
fazer o processo analítico correr bem mais depressa.
Analisamos ainda mais, na tentativa de prever resultados
futuros, para nos precavermos contra cenários
potencialmente piores que deduzimos com base na nossa
experiência passada.

É claro que a mente analítica não tem nada de mal. Tem-nos


sido muito útil, na vida consciente e desperta. É o que nos
faz humanos. A sua função é criar sentido e coerência entre
o mundo exterior (as experiências combinadas com pessoas
e coisas, em diferentes locais e momentos) e o mundo
interior (os pensamentos e sentimentos).

A mente analítica funciona melhor se estivermos calmos,


descontraídos e centrados. É então que funciona para nós.
Revê simultaneamente vários aspetos da vida e fornece
respostas com sentido. Ajuda-nos a escolher entre várias
opções, para tomarmos decisões, aprendermos coisas novas,
percebermos se devemos ou não acreditar nalguma coisa,
julgarmos situações sociais com base na nossa própria ética,
esclarecermos o nosso propósito na vida: distinguirmos
moralidade de convicção e avaliarmos dados sensoriais
importantes.

Como extensão do ego, a mente analítica também nos


protege para lidarmos melhor com o ambiente exterior que
nos rodeia e sobrevivermos. (Aliás, uma das principais
funções do ego é proteger.) Está sempre a avaliar as
situações que se passam no ambiente exterior e a estudar a
paisagem, à procura dos resultados mais vantajosos. Cuida
do eu e lenta preservar o corpo. O ego informa-nos de
potenciais perigos e leva-nos a reagir. Por exemplo, se vai a
caminhar pela rua e vê que os carros que circulam na sua
direção estão demasiado próximos da berma ou do passeio,
talvez prefira atravessar para o outro lado, para ficar em
segurança — é o ego que lhe dá essa orientação.

Mas quando o ego se desequilibra inundado por uma


torrente de hormonas do stress, a mente analítica pisa no
acelerador e fica demasiado estimulada. É

então que deixa de trabalhar por nós e passa a trabalhar


contra nós. Tornamo-nos excessivamente analíticos e o ego
torna-se extremamente egoísta, certificando-se de que
ficamos sempre em primeiro lugar, porque é essa a sua
função. Pensa e sente como se precisasse de controlar tudo
para poder proteger a identidade.

Tenta dominar os resultados; prevê o que necessita para


criar uma determinada situação segura; agarra-se com
unhas e dentes ao que lhe é familiar — portanto, guarda
rancor, sente dor e sofre, ou não consegue deixar de se
sentir uma vítima.

Evita sempre o desconhecido, que considera potencialmente


perigoso — para o ego, o desconhecido não inspira
confiança.

E o ego fará tudo para ganhar poder, porque procura o surto


de emoções aditivas que ele implica. Quer o que quer e fará
o que for preciso para ser o primeiro, avançando à força para
a frente. Pode ser astuto, competitivo e enganador na
tentativa de proteger.

Desse modo, quanto mais estressante for a situação em que


nos encontramos, mais a mente analítica é levada a analisar
a nossa vida, imersa na emoção que sentimos num
determinado momento. Nessas condições, afastamos a
consciência do sistema operativo da mente subconsciente,
onde pode ocorrer a verdadeira mudança. Estamos a
analisar a vida consoante o nosso passado emocional, ainda
que as soluções para os nossos problemas não estejam
contidas nessas emoções que nos levam a pensar cada vez
mais, imersos num estado químico familiar e limitado.
Estamos a pensar dentro da caixa.

Então, devido à espiral de pensamentos e sentimentos que


já mencionamos, esses pensamentos recriam as mesmas
emoções, desordenando cada vez mais o cérebro e o corpo.
Poderá ver as respostas com maior facilidade se ultrapassar
a emoção estressante e observar a sua vida num estado
mental diferente. (Preste atenção.)

Quanto mais força ganhar a mente analítica, mais fraca se


torna a sua sugestibilidade a novos resultados. Porquê?
Porque a melhor altura para abrirmos a mente não é quando
estamos diante de uma emergência iminente: ponderar
novas possibilidades e aceitar novos potenciais. não é o
momento mais indicado para acreditarmos em novas ideias,
largarmos tudo e entregarmo-nos.

não é a melhor ocasião para confiarmos; pelo contrário,


devemos proteger-nos, estabelecendo um equilíbrio entre o
que sabemos e o que não sabemos, para garantir as
melhores hipóteses de sobrevivência. É quando devemos
fugir do desconhecido. Faz todo o sentido, portanto, que
quando as hormonas do stress promovem a mente analítica,
a nossa visão se estreite, tenhamos mais dificuldade em
acreditar no que é novo, e sejamos menos sugestionáveis e

passíveis de acreditar só no pensamento ou de tornar


conhecido um pensamento desconhecido. Em suma, pode
usar a mente analítica ou o ego tanto a seu favor como
contra si.

5. O funcionamento interno da mente


Pense na mente analítica como uma parte isolada da mente
consciente que a separa da mente subconsciente. Uma vez
que o placebo só funciona com a mente analítica silenciada
para que a consciência possa interagir antes com a mente
subconsciente — o domínio onde ocorre a verdadeira
mudança a resposta do placebo só é possível quando vamos
para além do nosso eu e substituímos a mente consciente
pelo sistema nervoso autônomo.

Observe a Figura 6.4, que ilustra com simplicidade esta


situação. Pense que o círculo da figura representa a mente
na sua totalidade. A mente consciente só abrange cerca de 5
por cento do total da mente. Consiste não só na lógica e no
raciocínio, mas também nas nossas capacidades criativas.
Esses são os aspetos que constituem o livre-arbítrio. Os
outros 95 por cento da mente total são compostos pela
mente subconsciente. Esta é o sistema operativo, onde
todos os hábitos, capacidades, reações emocionais,
comportamentos de base, respostas condicionadas,
memórias associativas, bem como pensamentos e
sentimentos de rotina criam em nós as atitudes, crenças e
noções.
FIGURA 6.4

Panorâmica geral da mente consciente, da mente analítica e


da mente subconsciente.
É na mente consciente que armazenamos as memórias
explícitas ou declarativas. Desse modo, as memórias
declarativas são as que podemos declarar; são o
conhecimento que adquirimos (as memórias semânticas) e
as experiências que tivemos na vida (memórias episódicas).
Pode ser uma mulher que cresceu no Tennessee; que andava
de cavalo na infância até ter caído e

partido o braço; cuja tarântula de estimação fugiu da gaiola,


obrigando-a a si à sua família a dormir dois dias num hotel
quando tinha dez anos; que venceu o concurso de soletração
aos 14 anos e, agora, não dá um só erro ortográfico; que
estudou contabilidade numa universidade do Nebraska; que
vive atualmente em Atlanta para poder estar perto da irmã
(que trabalha para uma grande empresa); e que está agora
a fazer um mestrado em finanças online. As memórias
declarativas são o eu autobiográfico.

O outro tipo de memórias são as memórias implícitas, ou não


declarativas, por vezes também denominadas memórias
procedimentais. É o tipo de memória que entra em ação
quando faz uma coisa tantas vezes que deixa de ter
consciência de como a faz. Repetiu-a com tanta frequência
que o corpo passou a conhecê-la tão bem como o cérebro.
Pense em atividades como andar de bicicleta, usar a
embraiagem, atar os sapatos, digitar um número de telefone
ou um PIN e, até, ler ou falar. são programas automáticos de
que falamos neste livro.

Podemos dizer que deixa de analisar ou de pensar


conscientemente na capacidade ou no hábito que já domina,
porque já é subconsciente. Trata-se do sistema operativo
programado, que é apresentado na Figura 6.5.

Quando domina qualquer atividade a ponto de a integrar nos


circuitos cerebrais e de a condicionar emocionalmente ao
corpo, este passa a saber executá-la tão bem como a mente
consciente. Memorizou uma ordem neuroquímica interna
que passou a ser inata. A razão é simples: a experiência
repetida enriquece as redes neurais do cérebro e torna-se
ponto assente quando treina emocionalmente o corpo. Se o
acontecimento for incorporado vezes suficientes pela
experiência a nível neuroquímico, pode acionar o corpo e o
respetivo programa automático, acedendo simplesmente a
um pensamento ou sentimento subconsciente familiar — e,
então, passa momentaneamente a um determinado estado
de ser que executa o comportamento automático.
FIGURA 6.5

Os sistemas da memória dividem-se em duas categorias:


memórias declarativas (explicitas) e memórias não
declarativas (implícitas) Uma vez que as memórias implícitas
se desenvolvem a partir das emoções da experiência,
podemos explicar esse processo através de dois cenários
possíveis: (1) Um acontecimento emocional altamente
intenso e pontual pode ser imediatamente classificado e
armazenado no subconsciente (por exemplo, a memória de
infância de estar numa loja enorme e se perder da sua mãe),
ou (2) a

redundância das emoções que resultam da experiência


consistente também será repetidamente registada aqui.

Uma vez que as memórias implícitas fazem parte do sistema


subconsciente da memória e aí se enraízam pela experiência
repetida ou devido a acontecimentos com uma carga
emocional elevada, quando mobilizamos uma emoção ou um
sentimento, abrimos a porta à mente subconsciente. Como
os pensamentos são a linguagem do cérebro e os
sentimentos a linguagem do corpo, ao termos um
sentimento, acionamos o processo mente-corpo (porque o
corpo se tornou a mente subconsciente). Acabamos de
entrar no sistema operativo.

Pense assim: quando temos sensações que nos são


familiares, acedemos subconscientemente a uma série de
pensamentos que resultam dessas sensações em particular.
Estamos a autossugerir-nos todos os dias pensamentos que
se equiparam ao que sentimos. são os pensamentos que
aceitamos, nos quais acreditamos e a que nos entregamos
como se fossem reais. Assim, só somos mais sugestionáveis
aos pensamentos que correspondem exatamente ao mesmo
sentimento.

Consequentemente,

os

pensamentos
que

formulamos

inconscientemente são aqueles que aceitamos, nos quais


acreditamos e a que nos entregamos vezes sem conta.

Em contrapartida, também poderíamos dizer que somos


muito menos sugestionáveis a quaisquer pensamentos que
não se equiparem aos nossos sentimentos memorizados.
Qualquer pensamento novo que reflita uma possibilidade
desconhecida simplesmente não nos parecerá bem. A nossa
autoconversação (os pensamentos que ouvimos todos os
dias) contorna continuamente a consciência alerta e
estimula tanto o sistema nervoso autônomo como o fluxo de
processos biológicos, reforçando o sentimento programado
de quem pensamos que somos. Lembre-se do estudo
referido no Capitulo 2, em que os investigadores concluíram
que os otimistas respondiam mais favoravelmente às

sugestões

positivas,

enquanto

os

pessimistas

respondiam

mais

desfavoravelmente às sugestões negativas.

Da mesma forma, para mudar o que sente, seria capaz de se


tornar mais sugestionável a uma nova série de
pensamentos? Sem dúvida! Se, ao sentir uma emoção
elevada, permitisse que esse sentimento motivasse todo um
novo conjunto de pensamentos, aumentaria o nível de
sugestibilidade para com o que sentia e depois pensava.
Passaria a outro estado de ser e os seus novos pensamentos
tornar-se-iam as autossugestões correspondentes a esse
sentimento.

E quando sente emoções, ativa naturalmente o sistema de


memória implícita e o sistema nervoso autônomo. Pode
simplesmente permitir que o sistema nervoso autônomo faça
aquilo que melhor sabe fazer: restaurar o equilíbrio, a saúde
e a ordem.

Não foi isso que fizeram muitas pessoas nos estudos de


placebo já referidos? não foram elas capazes de mobilizar
uma emoção elevada, como esperança, inspiração ou alegria
de bem-estar? E assim que viram uma nova possibilidade
sem sequer a analisarem, não influenciaram com esses
sentimentos o nível de sugestibilidade? Quando sentiram as
emoções correspondentes, não acederam ao sistema
operativo e reprogramaram o sistema nervoso autônomo
com novas ordens de comando — só com o pensamento -,
fazendo autossugestões correspondentes às emoções?

6. Abrir a porta para a mente subconsciente

Para provar a existência de diferentes graus de


sugestibilidade, podemos recorrer às diferentes espessuras
da mente analítica. Quanto mais espessa for a barreira entre
a mente consciente e a mente subconsciente, mais
dificuldade teremos em aceder ao sistema operativo.

Observe as Figuras 6.6 e 6.7, que representam duas pessoas


com tipos de mente diferentes.
A pessoa da Figura 6.6 tem um véu muito fino a separar a
mente consciente da subconsciente, sendo, por isso, muito
aberta à sugestão (tal como Ivan Santiago no início do
capítulo). Essa pessoa aceitará, acreditará e entregar-se-á
naturalmente a um resultado, porque não analisa nem
intelectualiza muito. Esse tipo de pessoas pode ter uma
propensão inata para aceitar que um pensamento seja uma
experiência potencial, de modo que o pacote se imprime no
sistema nervoso autônomo, pronto para ser executado como
realidade. Essas pessoas não passam muito tempo a tentar
perceber as coisas que lhes acontecem na vida, nem
pensam demasiado em nada. Se alguma vez assistiu a um
espetáculo de hipnose, já terá visto que os sujeitos que
chegam ao palco tendem a inserir-se nesta categoria.

Agora, compare isto com a Figura 6.7. Se observar a mente


analítica mais espessa, que separa a mente consciente da
subconsciente, facilmente repara que esta pessoa é menos
propensa a aceitar sugestões à primeira, porque tem sempre
a mente intelectual, em maior ou menor medida, a avaliar, a
processar, a planear e a rever tudo. Estas pessoas são
altamente criticas e, para confiarem nalguma coisa ou se
entregarem ao que quer que seja, têm de analisar tudo
muito bem.
FIGURA 6.6

Uma mente menos analítica (representada na ilustração pela


camada mais fina) é mais sugestionável.

não se esqueça de que algumas pessoas têm mentes mais


analíticas por natureza e não por estarem sempre inundadas
de hormonas do stress. Talvez tenhamos estudado sujeitos
diferentes na faculdade ou vivido com pais que nos
reforçaram os mecanismos do pensamento racional quando
éramos pequenos, ou talvez sejamos assim por natureza.
(Pode até ter uma mente significativamente analítica, mas
conseguir aprender a contorná-la — foi o meu caso por isso,
não perca a esperança.)
FIGURA 6.7

Uma mente analítica mais desenvolvida (representada na


ilustração pela camada mais espessa) é menos
sugestionável.
Como já referi, nenhum destes tipos é mais vantajoso do que
o outro. Penso que funciona muito bem ter um equilíbrio
saudável entre os dois. Quem é demasiado analítico tende
menos a confiar na sua vida e a deixar-se ir. A pessoa

demasiado sugestionável pode ser excessivamente crédula e


menos funcional. O
que quero dizer é que se estiver constantemente a analisar a
vida, a julgar-se e obcecado com todos os aspetos da sua
realidade, jamais acederá ao sistema operativo onde pode
reprogramar esses programas velhos. A porta entre a mente
consciente e a mente subconsciente só se abre quando a
pessoa aceita, acredita e se entrega a uma sugestão.
Quando consegue fazer isso, a informação emite sinais ao
sistema nervoso autônomo e — já está! — este assume o
controlo.

Agora, observe a Figura 6.8. A seta representa a passagem


da consciência, da mente consciente para a mente
subconsciente, onde a sugestão fica biologicamente gravada
no sistema de programação.

FIGURA 6.8

Esta figura ilustra a relação entre estados de ondas cerebrais


e a passagem da mente consciente para a mente
subconsciente, contornando a mente analítica durante a
prática da meditação.

Há mais alguns elementos que podem silenciar a mente


analítica e abrir a porta à mente subconsciente, para
aumentar o nível de sugestibilidade. Por exemplo, a fadiga
física ou mental aumenta a sugestibilidade. Alguns estudos
demonstram que a exposição limitada a estímulos sociais,
físicos e ambientais devido a uma privação sensorial pode
provocar um aumento da suscetibilidade.

A fome extrema» o choque emocional e o trauma também


enfraquecem as faculdades analíticas, tornando-nos,
portanto, mais sugestionáveis à informação.

7. A meditação desmistificada
À semelhança da hipnose, a meditação também nos
contornar a mente crítica e aceder ao sistema de
programação subconsciente. O objetivo da meditação é,
desde logo, fazer com que a consciência supere a mente
analítica — desviando a atenção do mundo exterior, do
corpo e do tempo — e preste atenção ao mundo interior dos
pensamentos e sentimentos.

A palavra meditação é alvo de vários estigmas. A maioria


das pessoas imagina logo um guru barbudo sentado e
absolutamente imóvel, no cume de uma montanha, imune
aos elementos; um monge envergando um hábito simples e
ostentando um enorme e misterioso sorriso; ou, até, uma
bela jovem, com uma pele impecável, na capa de uma
revista, elegantemente vestida com roupa de yoga,
apresentando o ar sereno e feliz de quem está livre de todas
as exigências da rida diária.

Perante tais imagens, muitas pessoas julgam que é


demasiado complicado manter a disciplina necessária — que
está fora do seu alcance e muito para além das suas
capacidades. Talvez umas entendam a meditação como uma
prática espiritual que não se coaduna com as suas crenças
religiosas e outras se sintam simplesmente assoberbadas
com as variedades aparentemente infinitas que existem e
nem saibam por que ponta lhe pegar. Mas não tem de ser
tão difícil, “

rebuscado” ou confuso. De acordo com o que tem sido


abordado, digamos que o propósito da meditação é,
sobretudo» fazer com que a consciência contorne a mente
analítica e aceda a níveis superiores de consciência.

Na meditação, não passamos apenas da mente consciente


para a
subconsciente, mas também do egoísmo para o altruísmo,
de ser alguém ou uma pessoa para ser ninguém e nenhuma
pessoa, de materialista para imaterialista, de estar num sítio
para estar em sitio nenhum, de estar num tempo para estar
em tempo nenhum, de acreditar que o mundo exterior é a
realidade e definir a realidade com os sentidos para acreditar
que o mundo interior é a realidade e que, uma vez aí,
acedemos ao “não ser”: o mundo do pensamento para além
dos sentidos. A meditação leva-nos da sobrevivência para a
criação; da separação para a união; do desequilíbrio para o
equilíbrio; do modo de emergência para o modo de
crescimento e reparação; e das emoções limitadoras do
medo, da revolta e da tristeza para as emoções expansivas
da alegria, da liberdade e do amor. Deixamos
essencialmente de nos agarrar ao conhecido e passamos a
acolher o desconhecido.

Reflitamos um pouco sobre isto. Se é no neocórtex que


habita a nossa consciência alerta e onde construímos
pensamentos, utilizamos o raciocínio analítico, exercemos o
intelecto e demonstramos os processos racionais, então,
para meditar, temos de levar a consciência a superar (ou a
sair) do neocórtex. Ela teria, basicamente, de passar do
cérebro pensante para o cérebro límbico. Por outras
palavras, para abrandar o neocórtex e toda a atividade
neural diariamente, teríamos de parar de pensar
analiticamente e dispensar as faculdades da razão, da
lógica, da intelectualização. da previsão, da antevisão e da
racionalização —

pelo menos temporariamente, É isso que significa “aquietar


a mente". (Observe novamente a Figura 6.1, se for
necessário.)

Segundo o modelo neurocientífico que defini nos capítulos


anteriores, para aquietar a mente, teria de declarar um
“cessar-fogo” a todas as redes neurais automáticas do
cérebro pensante que tem por hábito ativar regularmente.
Ou seja, teria de parar de se lembrar de quem julga ser,
reproduzindo repetidamente o mesmo nível mental.

Sei que parece uma tarefa hercúlea e, talvez, assoberbante,


mas existem formas práticas e cientificamente comprovadas
para a conseguirmos realizar e dominar. Nos workshops que
ensino pelo mundo, muitas pessoas vulgares que nunca
tinham meditado passaram a fazê-lo muito bem — bastou-
lhes aprender como. No capítulo seguinte, explico-lhe os
métodos, mas, primeiro, deve aumentar o nível de intenção
para, quando chegar à questão de saber como fazer,
conseguir obter maiores recompensas (tal como fizeram os
praticantes de aeróbica do Quebeque, apresentados no
Capítulo 2, a quem foi dito que os esforços eram promotores
de bem-estar e que, assim, puderam atribuir um sentido ao
que faziam — e obter melhores resultados).

8. Porque pode a meditação ser um desafio É através


dos cinco sentidos que o neocórtex analítico determina a
realidade.

Preocupa-se muito em centrar toda a atenção no corpo, no


ambiente e no tempo.

E basta estar um pouco estressado para focar toda a


atenção nesses três elementos, intensificando as suas
influências. Quando se encontra pressionado pelo sistema de
emergência de luta ou fuga e aciona a adrenalina, tal como
um animal ameaçado num meio selvagem, toda a sua
atenção se centra nos cuidados a ter com o corpo, na
procura de saídas de emergência no ambiente e no cálculo
do tempo necessário para chegar a um local seguro. Centra-
se excessivamente nos problemas, fica obcecado com a
aparência, mergulha na dor, pensa no pouco tempo que tem
para fazer o que tem para fazer e apressa-se para conseguir
dar conta do recado. Parece-lhe familiar?

Quando estamos tão centrados no mundo exterior e nos


problemas que ele nos apresenta, no modo de
sobrevivência, é fácil pensarmos que só existe aquilo que
vemos e experienciamos. E, sem o mundo exterior, além de
sermos ninguém.

espiritual que não se coaduna com as suas crenças religiosas


e outras se sintam simplesmente assoberbadas com as
variedades aparentemente infinitas que existem e nem
saibam por que ponta lhe pegar. Mas não tem de ser tão
difícil,

“rebuscado" ou confuso. De acordo com o que tem sido


abordado, digamos que o propósito da meditação é,
sobretudo, fazer com que a consciência contorne a mente
analítica e aceda a níveis superiores de consciência.

Na meditação, não passamos apenas da mente consciente


para a subconsciente, mas também do egoísmo para o
altruísmo, de ser alguém ou uma pessoa para ser ninguém e
nenhuma pessoa, de materialista para imaterialista, de estar
num sítio para estar em sitio nenhum, de estar num tempo
para estar em tempo nenhum, de acreditar que o mundo
exterior é a realidade e definir a realidade com os sentidos
para acreditar que o mundo interior é a realidade e que, uma
vez aí, acedemos ao “não ser": o mundo do pensamento
para além dos sentidos. A meditação leva-nos da
sobrevivência para a criação; da separação para a união; do
desequilíbrio para o equilíbrio; do modo de emergência para
o modo de crescimento e reparação; e das emoções
limitadoras do medo, da revolta e da tristeza para as
emoções expansivas da alegria, da liberdade e do amor.
Deixamos essencialmente de nos agarrar ao conhecido e
passamos a acolher o desconhecido.
Reflitamos um pouco sobre isto. Se é no neocórtex que
habita a nossa consciência alerta e onde construímos
pensamentos, utilizamos o raciocínio

analítico, exercemos o intelecto e demonstramos os


processos racionais, então, para meditar, temos de levar a
consciência a superar (ou a sair) do neocórtex. Ela teria,
basicamente, de passar do cérebro pensante para o cérebro
límbico. Por outras palavras, para abrandar o neocórtex e
toda a atividade neural diariamente, teríamos de parar de
pensar analiticamente e dispensar as faculdades da razão,
da lógica, da intelectualização, da previsão, da antevisão e
da racionalização —

pelo menos temporariamente. É isso que significa “aquietar


a mente”. (Observe novamente a Figura 6.1, se for
necessário.)

Segundo o modelo neurocientífico que defini nos capítulos


anteriores, para aquietar a mente, teria de declarar um
“cessar-fogo" a todas as redes neurais automáticas do
cérebro pensante que tem por hábito ativar regularmente.
Ou seja, teria de parar de se lembrar de quem julga ser,
reproduzindo repetidamente o mesmo nível mental.

Sei que parece uma tarefa hercúlea e, talvez, assoberbante,


mas existem formas práticas e cientificamente comprovadas
para a conseguirmos realizar e dominar. Nos workshops que
ensino pelo mundo, muitas pessoas vulgares que nunca
tinham meditado passaram a fazê-lo muito bem — bastou-
lhes aprender como. No capítulo seguinte, explico-lhe os
métodos, mas, primeiro, deve aumentar o nível de intenção
para, quando chegar à questão de saber como fazer,
conseguir obter maiores recompensas (tal como fizeram os
praticantes de aeróbica do Quebeque, apresentados no
Capítulo 2, a quem foi dito que os esforços eram promotores
de bem-estar e que, assim, puderam atribuir um sentido ao
que faziam — e obter melhores resultados).

9. Porque pode a meditação ser um desafio

É através dos cinco sentidos que o neocórtex analítico


determina a realidade.

Preocupa-se muito em centrar toda a atenção no corpo, no


ambiente e no tempo.

E basta estar um pouco estressado para focar toda a


atenção nesses três elementos, intensificando as suas
influências. Quando se encontra pressionado pelo sistema de
emergência de luta ou fuga e aciona a adrenalina, tal como
um animal ameaçado num meio selvagem, toda a sua
atenção se centra nos cuidados a ter com o corpo, na
procura de saídas de emergência no ambiente e no cálculo
do tempo necessário para chegar a um local seguro. Centra-
se excessivamente nos problemas, fica obcecado com a
aparência, mergulha na dor, pensa no pouco tempo que tem
para fazer o que tem para fazer e apressa-se para conseguir
dar

conta do recado. Parece-lhe familiar?

Quando estamos tão centrados no mundo exterior e nos


problemas que ele nos apresenta, no modo de
sobrevivência, é fácil pensarmos que só existe aquilo que
vemos e experienciamos. E, sem o mundo exterior, além de
sermos ninguém.

medem na imagiologia cerebral (como o


eletroencefalograma, ou EEG). OS seres humanos têm várias
frequências cerebrais mensuráveis e, quanto mais lento for o
nosso estado mental, mais profundamente penetramos no
mundo interior da mente subconsciente. Por ordem de
rapidez, os estados de ondas cerebrais são o delta (sono
profundo restaurador — totalmente inconsciente), o teta
(estado entre o sono profundo e a vigília), o alfa (estado
criativo e imaginativo), o beta (pensamento consciente) e o
gama (estados superiores de consciência).

O beta é o nosso estado de vigília diário. Em beta, o cérebro


pensante, ou neocórtex, processa todos os dados sensoriais
que entram e cria significado entre os nossos mundos
exterior e interior. não é o melhor estado para a meditação,
porque, em beta, o mundo exterior parece mais real do que
o interior. são três os níveis de padrões de ondas cerebrais
que constituem este espetro: beta de curto alcance
(descontraído e interessado, como quando lê um livro), beta
de médio alcance (atenção centrada num estímulo que está
a decorrer fora do corpo, como aprender e, depois, recordar)
e beta de grande alcance (altamente concentrado, com a
atenção em modo de crise, quando se produzem as
substâncias químicas do stress). Quanto mais elevadas
forem as ondas cerebrais beta, menos acesso temos ao
sistema operativo.

Em geral, estamos constantemente a sair e a entrar dos


estados alfa. O

estado alfa é o do relaxamento, em que prestamos menos


atenção ao mundo exterior e começamos a prestar mais
atenção ao mundo interior. Em alfa, estamos num ligeiro
estado meditativo; podemos dizer que é quando nos
perdemos nas nossas fantasias ou sonhamos acordados.
Neste estado, o nosso mundo interior torna-se mais real do
que o exterior, porque é àquele que prestamos mais
atenção.

Quando passamos do beta de alta frequência para o alfa


mais lento, prestando atenção, concentrando-nos e
permanecendo assim mais descontraídos, ativamos
automaticamente o lóbulo frontal. Tal como já se
demonstrou, o lóbulo frontal reduz o volume dos circuitos
cerebrais que processam o tempo e o espaço. Deixamos de
estar no modo de sobrevivência e passamos a um estado
mais criativo, que faz com que fiquemos mais sugestionáveis
do que quando estávamos no estado beta.

Mais desafiante é aprender a mergulhar ainda mais fundo no


teta, que é uma espécie de estado de transição, em que
estamos semidespertos e semiadormecidos (frequentemente
descrito como “mente desperta, corpo

adormecido"). É a esse estado que pretendemos chegar na


meditação, porque é nesse padrão de ondas cerebrais que
somos mais sugestionáveis. Em teta, acedemos ao
subconsciente, porque a mente analítica não funciona —
estamos sobretudo imersos no nosso mundo interior.

Pense no teta como a chave para o seu próprio reino


subconsciente.

Observe mais atentamente a Figura 6.8, que apresenta os


estados de ondas cerebrais, mostrando as suas correlações
com a mente consciente e a mente subconsciente. Depois,
observe melhor a Figura 6.9, que ilustra as diferentes
frequências das ondas cerebrais.

Esta breve viagem pelos padrões das ondas cerebrais ser-


lhe-á ainda mais útil quando chegar à prática da meditação,
mais adiante, no livro. É claro que não deve estar à espera
de conseguir mergulhar no teta quando lhe apetecer, mas
ajuda ter algum conhecimento do que são os vários estados
cerebrais e dos efeitos que cada um exerce no que respeita
ao que está a tentar fazer.
FIGURA 6.9
Esta ilustração apresenta os vários estados de ondas
cerebrais (durante um intervalo de um segundo). Incluem-se
os padrões de ondas cerebrais gama, por representarem um
nível de supraconsciência que reflete um estado superior de
consciência.

10. Anatomia de um “assassinato”

Voltemos agora à história de Ivan Santiago e dos outros


sujeitos de hipnose apresentados no início deste capítulo.
Como é evidente, essas pessoas têm maior facilidade em
superar a mente analítica do que a maioria de nós. Parecem
ter a neuroplasticidade e a plasticidade emocional
necessárias para tornarem o mundo interior mais real do que
o exterior. No estado normal de vigília, é provável que
passem mais tempo em alfa do que em beta, tendo, por isso,
menos hormonas do stress a circular e correndo menos risco
de sair da homeostase. O estado altamente sugestionável
permite que a mente consciente controle com maior
facilidade as funções autônomas da mente subconsciente.

não são, contudo, todas iguais; este estudo identificou


diferentes graus de sugestibilidade. As 16 pessoas que
passaram na avaliação inicial eram certamente
sugestionáveis, mas não tanto como as que passaram o
teste seguinte, despindo-se em público depois de lhes terem
dado uma sugestão pós-hipnótica para o fazerem,
contrariando normas sociais arreigadas. As quatro que
passaram esse teste eram, sem dúvida alguma, muito
sugestionáveis, capazes de ser superiores ao ambiente
social. Mas, quando foi preciso mergulhar na água gelada,
três não conseguiram; não foram capazes de ser superiores
ao ambiente físico.

Apenas Santiago, que permaneceu superior ao ambiente


físico, dominando o corpo nas condições extremas em que
se encontrava durante bastante tempo, demonstrou o nível
mais elevado de sugestibilidade. Foi capaz não só de
aguentar o banho gelado, mas também de ser superior ao
ambiente moral, seguindo a sugestão pós-hipnótica para
alvejar o “dignitário estrangeiro” e contrariando a
personalidade da sua consciência, que dificilmente
corresponde à de um assassino implacável.

Em termos de efeito placebo, é preciso um grau igualmente


elevado de sugestibilidade para se superar o corpo e o
ambiente, durante um período alargado de tempo — ou seja,
para aceitar, acreditar e se entregar à ideia de que o mundo
interior é mais real do que o exterior. Mas, em poucos
capítulos, aprenderá não só a alterar as suas crenças e a
tornar-se mais sugestionável, mas também a servir-se desse
estado para programar a mente subconsciente — não para
alvejar um duplo com uma arma falsa, felizmente, mas para
vencer quaisquer problemas de saúde, traumas emocionais,
ou outras questões pessoais com que se possa debater.

11. CAPÍTULO 7

Atitudes, crenças e percepções

Um menino indonésio de 12 anos e o olhar perdido no


infinito abre a boca para aceitar voluntariamente cacos de
vidro de uma multidão reunida num parque de Jakarta, para
assistir à dança de transe tradicional javanesa Kuda Kepang.
O

menino mastiga o vidro e engole-o, como se se tratasse de


pipocas ou biscoitos, sem apresentar quaisquer problemas.
Praticante de Kuda Kepang de terceira geração, desde os
nove anos que ingere vidro em atuações místicas como essa.

Ele e outros 19 membros do grupo de dança tradicional


recitam um feitiço javanês, antes de cada atuação,
convocando os espíritos dos mortos a habitar num deles
durante as danças desse dia, protegendo-o da dor.

Em certos aspetos, o menino e os outros dançarinos não


diferem dos pregadores dos Apalaches descritos no Capítulo
1 que, tomados pelo espírito, dançam fervorosamente com
serpentes venenosas enroladas nos braços e ombros.
Aproximam-nas perigosamente da cara e muitos dos que são
mordidos parecem até ser imunes ao veneno. Os dançarinos
também se assemelham aos membros da tribo Sawau, da
ilha de Bega, nas Fiji, que caminham sem hesitações sobre
pedras a escaldar que estiveram horas cobertas de lenha e
carvão em brasa — diz-se que essa capacidade foi dada a
um dos antepassados da tribo por um deus e passada aos
descendentes.

O menino que come vidro, o pregador que maneja serpentes


e o homem das Fiji que caminha sobre pedras a escaldar não
param um só momento para pensar: Será que também vai
funcionar desta vez? não têm qualquer sombra de dúvida.

A decisão de mastigar vidro ou manejar cascavéis ou


caminhar sobre pedras a escaldar transcende-lhes o corpo, o
ambiente e o tempo, alterando a sua biologia para lhes
permitir fazer aquilo que é aparentemente impossível. A
firme crença na proteção dos deuses não os deixa pensar
duas vezes.

O efeito placebo é idêntico pelo fado de também exigir uma


forte crença.

Mas ainda não se analisou muito essa componente, porque,


até à data, a maioria dos estudos na área da ligação mente-
corpo só avaliou os efeitos do placebo e não a causa. Quer a
mudança no estado interior de uma pessoa lenha resultado
de uma cura pela fé, quer de um condicionamento, da
libertação de emoções reprimidas, de uma crença em
símbolos, ou de uma prática espiritual específica, persiste a
questão: o que criou alterações tão profundas no corpo — e,
se descobrirmos o que aconteceu, como o poderemos nós
implantar?

1. A origem das nossas crenças

As nossas crenças não são sempre tão conscientes como


julgamos. Podemos muito bem aceitar uma ideia
superficialmente, sem acreditarmos interiormente que seja
mesmo possível. Nesse caso, a nossa aceitação não passa
de um processo intelectual. Uma vez que o efeito placebo
exige uma verdadeira mudança das crenças que temos
sobre nós próprios e sobre o que é possível ou não para o
nosso corpo e a nossa saúde, temos de as identificar e
perceber de onde vêm.

Suponhamos que alguém vai ao médico com determinados


sintomas e este lhe diagnostica uma qualquer condição, com
base nas suas próprias descobertas objetivas. O médico
apresenta um diagnóstico, um prognóstico e opções de
tratamento assentes num resultado normal. Ao ouvir o
médico dizer “diabetes",

“cancro”, “hipotiroidismo” ou “síndrome de fadiga crônica”,


a pessoa é invadida por uma série de pensamentos, imagens
e emoções baseadas na sua experiência passada. Os pais
podem ter sofrido desse problema, a pessoa pode ter visto
um programa de televisão em que uma das personagens
tinha morrido com essa doença, ou até ter lido algo na
Internet que a assustou em relação ao diagnóstico.

Quando recebe a opinião de um profissional, o paciente


aceita automaticamente a condição, acredita nas palavras
confiantes do médico e acaba por se entregar ao tratamento
e aos possíveis resultados — e fá-lo sem fazer uma
verdadeira análise. O paciente é sugestionável (e suscetível)
em relação ao que o médico lhe diz. Se assimilar as emoções
do medo, da preocupação e da ansiedade juntamente com a
da tristeza, os únicos pensamentos (ou autossugestões)
possíveis terão de corresponder ao que sente.

O paciente pode tentar formular pensamentos positivos


sobre vencer a doença, mas o corpo dele ainda se sente mal,
porque lhe deram o placebo errado, o que faz com que
esteja no estado de ser errado, emita sinais aos mesmos
genes e seja incapaz de ver ou percepcionar quaisquer
possibilidades novas. Fica bastante à mercê das crenças que
tem (e das crenças que o médico tem) acerca do
diagnóstico.

Desse modo, o que fazem de diferente as pessoas que se


curam com o efeito placebo, que conhecerá nos próximos
capítulos? Primeiro, não aceitam a finalidade do diagnóstico,
prognóstico ou tratamento. Também não acreditam no
resultado ou futuro destino mais provável que o médico
define autoritariamente.

Por fim, não se entregam ao diagnóstico, ao prognóstico ou


ao tratamento sugerido. Com essa atitude, diferente da
atitude de quem efetivamente aceita,

acredita e se entrega, acedem a um novo estado de ser.

não são sugestionáveis em relação aos conselhos e opiniões


dos médicos, porque não se sentem assustadas, vitimizadas
ou tristes. O otimismo e o entusiasmo que continuam a
sentir conduzem a um novo conjunto de pensamentos que
lhes permite ver novas possibilidades. Tendo diferentes
ideias e crenças sobre o que é ou não possível, não
condicionam o corpo ao pior cenário, não esperam o mesmo
resultado previsível como as outras que receberam o mesmo
diagnóstico e não atribuem o mesmo significado ao
diagnóstico que atribuem todas as outras pessoas nas
mesmas condições. Atribuem outro significado ao seu futuro
e, portanto, fixam outra intenção. Uma vez que
compreendem a epigenética e a neuroplasticidade, em vez
de se aceitarem passivamente como vítimas da doença,
utilizam esse conhecimento para serem pró-ativas,
motivadas por aquilo que aprendem nos meus workshops e
eventos.

Consequentemente, também obtêm resultados diferentes e


melhores do que os de outras pessoas com o mesmo
diagnóstico — tal como as camareiras de hotel obtiveram
melhores resultados depois de os investigadores lhes terem
dado mais informação.

Agora, pense na pessoa vulgar que recebe um diagnóstico e


se apressa a anunciar: “Vou vencer isto.” Pode não aceitar a
condição e o resultado que o médico lhe expõe, mas a
diferença é que a maioria das pessoas não muda
verdadeiramente a crença sobre não estar doente. Para
alterar uma crença é preciso alterar um programa
subconsciente — isto porque uma crença, tal como irá
constatar, é um estado de ser subconsciente.

As pessoas que utilizam a mente consciente para mudar


nunca saem do estado de repouso para reprogramar os
genes, porque não o sabem fazer. É então que a cura cessa.
não conseguem entregar-se à possibilidade, porque não são
realmente capazes de se tornar sugestionáveis àquilo que
possa contradizer o que o médico lhes diz.

Será possível que pessoa não responda a um tratamento, ou


que o seu estado de saúde não se altere pelo facto de ela
estar seguir o mesmo estado emocional todos os dias,
aceitando, acreditando e entregando-se ao modelo médico
sem grande análise, com base na consciência social de
milhões de pessoas que fizeram exatamente o mesmo? Pode
o diagnóstico de um médico tornar-se o equivalente
moderno de uma maldição do vudu?

Vamos dissecar um pouco mais a crença, recuando


ligeiramente e começando com a seguinte ideia: quando
encadeamos uma série de pensamentos e sentimentos
tornando-os habituais ou automáticos, estamos a formar
uma atitude. E, uma vez que o modo como pensamos e
sentimos cria um estado de ser, as atitudes acabam por não
passar de estados de ser abreviados. Assim,

podem flutuar a cada momento, consoante alteramos o que


pensamos e sentimos.

Qualquer atitude pode durar minutos, horas, dias ou, até,


uma ou duas semanas.

Por exemplo, se tivermos uma série de bons pensamentos


alinhada com uma série de bons sentimentos, talvez
digamos: “Hoje tenho uma boa atitude." E se tivermos uma
sequência de pensamentos negativos aliada a uma
sequência de sentimentos negativos, talvez digamos: “Hoje
tenho uma má atitude.” Ao repetirmos a mesma atitude
vezes suficientes, tornamo-la automática.

Se repetirmos ou mantivermos determinadas atitudes tempo


suficiente e as encadearmos, geramos uma crença. A crença
é apenas um estado de ser alargado

— as crenças são essencialmente pensamentos e


sentimentos (atitudes) que pensamos e sentimos vezes sem
conta, a ponto de as integrarmos no cérebro e de lhes
condicionarmos emocionalmente o corpo. Poderíamos dizer
que nos viciamos nelas, sendo essa a razão pela qual é tão
difícil alterá-las e por que não nos sentimos bem no nosso
âmago quando as desafiam. Uma vez que as experiências
estão neurologicamente talhadas no cérebro (fazendo-nos
pensar) e quimicamente incorporadas como emoções
(fazendo-nos sentir), a maioria das nossas crenças baseia-se
nas memórias passadas.

Desse modo, quando reproduzimos repetitivamente os


mesmos pensamentos, pensando e analisando as memórias
do passado, estes ativam-se e fixam-se num programa
inconsciente automático. E se cultivarmos os mesmos
sentimentos baseados nas experiências passadas e
sentirmos o mesmo que sentimos quando o acontecimento
original ocorreu, condicionamos o corpo a tornar-se
subconscientemente a mente dessa emoção — e o corpo
passará a viver inconscientemente no passado.

E se, com o tempo, a redundância da nossa forma de pensar


e sentir nos condicionar o corpo a tornar-se mente, ficando
esta subconscientemente programada, então, as crenças são
estados de ser subconscientes e também inconscientes que
derivam do passado. Além disso, as crenças são mais
permanentes do que as atitudes; podem durar meses ou,
até, anos. E, uma vez que duram mais, ficam mais
programadas no nosso interior.

Um caso que ilustra bem esta questão é uma história da


minha infância que me ficou marcada na memória. Cresci
numa família italiana e quando passei para o quarto ano,
mudamo-nos para outras cidade, que tinha italianos e
judeus.

No primeiro dia de escola, a professora mandou*me sentar


num grupo de seis secretárias, ao lado de três meninas
judias. Foi nesse dia que elas me deram a notícia de que
Jesus não era italiano. Foi um dos dias mais memoráveis da
minha vida.

Quando cheguei a casa, naquela tarde, a minha pequenina


mãe italiana começou a perguntar-me como tinha sido o
meu dia na escola, mas, por mais que

insistisse, não conseguia que lhe contasse nada. Depois de a


ter ignorado várias vezes, ela lá me agarrou num braço e
mandou-me dizer-lhe o que se passava.

- Pensava que Jesus era italiano! — respondi, zangado.

- O que dizes? — perguntou. — É judeu!

- Judeu? — inquiri rapidamente. — Como assim? Ele não


parece italiano naquelas imagens todas? A avó passa o dia a
falar italiano com ele. Então e o Império Romano? Roma não
fica em Itália?

A crença que eu tinha — de que Jesus era italiano —


baseava-se nas minhas experiências passadas; o que
pensava e sentia acerca de Jesus tornara-se o meu estado de
ser automático. Tive alguma dificuldade em livrar-me dessa
crença, porque não é nada fácil alterar crenças enraizadas.
Desnecessário será dizer que consegui

Elaboremos um pouco mais este conceito. Quando


encadeamos um conjunto de crenças relacionadas,
formamos a percepção. Então, a nossa percepção da
realidade é um estado de ser sustentado que se baseia nas
nossas crenças, atitudes, pensamentos e sentimentos de
longa data. E, uma vez que as nossas crenças se tornam
estados de ser subconscientes e inconscientes (ou seja, nem
sequer sabemos porque acreditamos em determinadas
coisas, ou se estamos conscientes das crenças que temos
até as testarem), as nossas percepções — a nossa visão
subjetiva das coisas em geral, tornam-se a nossa perspetiva
subconsciente e inconsciente da realidade do passado.

Na verdade» as experiências científicas demonstram que


não vemos a realidade tal como ela é. Preenchemo-la
inconscientemente com a nossa realidade» baseada nas
memórias do passado, neuroquimicamente preservadas no
cérebro. Quando se tornam implícitas ou não declarativas
(tal como foi referido no capítulo anterior), as percepções
tornam-se automáticas ou subconscientes, levando-nos a
editar automática e subjetivamente a realidade.

Por exemplo, sabemos que o nosso carro é o nosso carro,


porque o conduzimos muitas vezes. Temos a mesma
experiência do nosso carro diariamente, porque nada muda.
Pensamos e sentimos o mesmo acerca dele quase todos os
dias. A nossa atitude para com o carro criou uma crença
acerca dele que, por sua vez, formou uma determinada
percepção dele — que é um bom carro, digamos, porque
raramente se avaria. E embora aceitemos automaticamente
essa percepção, ela não deixa de ser subjetiva, porque outra
pessoa pode ter um carro igualzinho ao nosso mas que está
sempre a avariar, levando-a a ter uma crença e uma
percepção diferentes acerca do mesmo veículo» com base
numa experiência pessoal.

Na verdade, a maioria das pessoas só prestaria atenção a


vários aspetos do carro se alguma coisa corresse mal.
Esperamos que funcione hoje como

funcionou ontem; esperamos naturalmente que a nossa


futura experiência de conduzir o carro seja igual à nossa
experiência passada» de ontem e de anteontem — essa é a
nossa percepção. Quando, porém, o carro avaria, temos de
lhe prestar mais atenção (como ouvir melhor o som que o
motor produz) e tomar consciência da percepção
inconsciente que temos dele.

A percepção que temos do nosso carro alterou-se devido a


uma mudança no seu funcionamento. O mesmo se aplica às
relações que mantemos com cônjuges e colegas, cultura e
raça — até com o corpo e a dor. Na realidade» é assim que
funciona a maioria das percepções da realidade.

Agora, se quiser mudar uma percepção implícita ou


subconsciente, tem de ter mais consciência e menos
inconsciência. Na verdade, teria de aumentar o nível de
atenção em todos os aspetos da sua personalidade e da sua
vida a que já deixou de prestar muita atenção. Melhor ainda,
teria de despertar, alterar o seu nível de consciência alerta e
tornar-se consciente daquilo em relação ao qual era
inconsciente.

Mas raramente é assim tão fácil, porque se experiencia a


mesma realidade vezes sem conta, por isso, os pensamentos
e sentimentos que tem em relação ao mundo atual
continuarão a desenvolver-se nas mesmas atitudes, que
inspirarão as mesmas crenças, que se manifestarão nas
mesmas percepções (como mostra a Figura 7.1).

Quando a sua percepção se torna tão natural e automática


que deixa de prestar atenção à realidade tal como ela é
(porque espera automaticamente que tudo seja igual), passa
a aceitar inconscientemente essa realidade e a concordar
com ela — da mesma forma que a maioria das pessoas
aceita e concorda inconscientemente com o que o modelo
médico diz a propósito de um diagnóstico.

Assim sendo, só pode alterar as suas crenças e percepções


para criar uma resposta de placebo, se mudar o seu estado
de ser. Tem de ver, por fim, as suas velhas crenças limitadas,
tal como elas são — registos do passado — e dispor-se a
libertar-se delas para assimilar novas crenças sobre si
próprio que o possam ajudar a criar um novo futuro.
FIGURA 7.1

Os seus pensamentos e sentimentos derivam dos memórias


do passado. Se pensar e sentir de determinada forma,
começa a criar uma atitude. A atitude é um ciclo de
pensamentos e sentimentos de curto prazo que experiencia
vezes sem conta. As atitudes são estados de ser abreviados.
Quando encadeia uma série de atitudes, ena uma crença. As
crenças são estados de ser mais alongados e tendem a
tornar-se subconscientes. Ao juntar crenças, cria uma
percepção. As suas percepções têm que vir com as escolhas
que faz, os comportamentos que assume, as relações que
escolhe e as realidades que cria.
2. Mudar as crenças

Pergunte-se: Com que crenças e percepções de si próprio e


da sua vida tem estado inconscientemente de acordo que
tenha de mudar para criar este novo estado de ser? Esta
pergunta requer alguma ponderação, porque, como já referi,
nalguns casos, são crenças que temos sem sequer termos
consciência disso.

É frequente aceitarmos determinados estímulos do ambiente


que nos preparam para aceitar certas crenças que podem ou
não ser verdadeiras. Seja como for, assim que aceitamos
uma crença, esta passa a afetar não só o nosso
desempenho, mas também as escolhas que fazemos.

Lembra-se do estudo referido no Capítulo 2 acerca das


mulheres que fizeram um teste de matemática, depois de
lerem relatórios de investigação falsos dizendo que os
homens eram melhores do que as mulheres nessa área? As
que tinham lido que a vantagem se devia à genética tiveram
pontuações inferiores às das que tinham lido que a
vantagem se devia à estereotipagem.
Embora ambos os relatórios fossem falsos — os homens não
são melhores do que as mulheres a matemática as mulheres
do grupo que leram sobre a desvantagem genética das
mulheres acreditaram nisso e tiveram uma classificação pior.
O mesmo se passou com os homens brancos a quem
disseram que os asiáticos tinham pontuações ligeiramente
mais elevadas num teste que estavam prestes a fazer. Em
ambos os casos, quando os estudantes eram preparados
para acreditar inconscientemente que não teriam tão boa
pontuação, acabavam mesmo por não ter — apesar de lhes
terem dado uma informação totalmente falsa.

Tendo isso em conta, observe, de seguida, uma lista de


algumas das crenças mais limitadoras e identifique quais
pode ter, sem estar plenamente consciente disso:

não sou muito bom a matemática. Sou tímido. Tenho mau


feitio. não sou inteligente ou criativo. Sou bastante parecido
com os meus pais.

Os homens não choram nem são vulneráveis. não encontro


um parceiro. As mulheres são inferiores nos homens. A
minha raça ou cultura é superior. A vida é séria. A vida é
difícil c ninguém quer saber. Nunca terei êxito. Tenho de
trabalhar muito para vingar na vida. Nunca me acontece
nada de bom. não tenho sorte nenhuma. As coisas nunca me
correm de feição. Nunca tenho tempo para nada. É

outra pessoa que tem de me fazer feliz. Só serei feliz quando


tiver determinada coisa. Ê difícil mudar a realidade. A
realidade é um processo linear. Os micróbios põem-me
doente. Ganho peso facilmente. Preciso de dormir oito horas.
A dor que sinto é normal e nunca passará. O meu relógio
biológico está a soar. A beleza é assim.
A diversão é uma frivolidade. Deus é-me exterior. Sou má
pessoa, por isso. Deus não me ama...

A lista pode continuar indefinidamente, mas creio que já


percebeu aquilo a que me refiro.

Uma vez que as crenças e percepções se baseiam nas


experiências passadas, qualquer uma das que por acaso
possa ter acerca de si próprio vem do passado.

Nesse caso, serào verdadeiras, ou acaba de as inventar?


Mesmo que tenham sido verdadeiras algures no tempo, isso
não significa necessariamente que o sejam agora.

É evidente que vemos as coisas sob essa perspetiva, porque


estamos viciados nas nossas crenças; estamos viciados nas
emoções do passado.

Consideramos que as nossas crenças são verdades e não


ideias que podemos mudar. Se tivermos crenças muito
sólidas sobre qualquer coisa, até podemos ter provas em
contrário bem diante do nariz que não as veremos, porque a
nossa percepção é completamente diferente. Na realidade,
condicionamo-nos a acreditar em todo o tipo de coisas que
não correspondem necessariamente à verdade — e muitas
exercem um impacto negativo na nossa saúde e na nossa
felicidade.

Algumas crenças culturais são um bom exemplo. Lembra-se


da história sobre a maldição de vudu apresentada no
Capítulo 1? O paciente estava convencido de que ia morrer,
porque o padre de vudu lhe lançara um feitiço.

Esse feitiço só funcionava porque ele (e outros da sua


cultura) acreditavam que o vudu funcionava mesmo — o que
o tinha enfeitiçado não fora o vudu, mas sim a crença no
vudu.
Há outras crenças culturais que podem provocar mortes
prematuras. Por exemplo, de acordo com os investigadores
da Universidade de Califórnia em San Diego que estudaram
os registos dos óbitos de quase 30 mil sinoamericanos, as
pessoas desse grupo que sofrem de uma determinada
doença morrem até cinco anos mais cedo, se o ano em que
nasceram for considerado nefasto pela astrologia e a
medicina chinesas. O efeito era tanto mais forte quanto
maior fosse a ligação da pessoa às tradições e crenças
chinesas e os resultados foram consistentes para quase
todas as principais causas de morte estudadas. Por exemplo,
os sinoamericanos nascidos em anos associados a uma
predisposição para doenças que implicassem quistos e
tumores morreram de cancro linfático, quatro anos mais
jovens do que os sinoamericanos nascidos noutros anos ou
do que os americanos com cancros semelhantes.

Tal como demonstram estes exemplos, só somos


sugestionáveis àquilo em que acreditamos como verdadeiro
a nível consciente ou inconsciente. Um esquimó que não
acredita na astrologia chinesa não é mais sugestionável à
ideia de ser vulnerável a uma determinada doença por ter
nascido no ano do tigre ou

no ano do dragão do que um episcopaliano à ideia de que


um feitiço lançado por um padre de vudu o poderia matar.

Mas qualquer pessoa que aceite, acredite e se entregue a


um resultado sem pensar conscientemente na questão e
sem a analisar torna-se sugestionável a essa realidade. Na
maioria dos casos, essa crença fica implantada bem para lá
da mente consciente, no sistema subconsciente, que é o que
cria a doença. Então, deixe-me fazer-lhe outra pergunta:
Quantas crenças pessoais baseadas em experiências
culturais tem que possam não corresponder à verdade?
Pode ser difícil mudar uma crença, mas não é impossível.
Pense só o que aconteceria se pudesse desafiar as suas
crenças inconscientes. Se, em vez de pensar e sentir Nunca
tenho tempo suficiente para fazer tudo o que tenho para
fazer, pensasse e sentisse Vivo em "tempo nenhum" e
consigo fazer tudo? E se em vez de acreditar O universo
conspira contra mim, passasse a acreditar que O

universo é simpático e funciona a meu favor? Que excelente


crença! Como pensaria, vivería e andaria pela rua se
acreditasse que o universo funciona a seu favor? Como é
que isso lhe mudaria a vida?

Para mudar uma crença, temos de começar por aceitar que é


possível e, depois, mudar o nível energético com a emoção
intensificada que já referi e, por fim, permitir que a nossa
biologia se reorganize. não é preciso pensar em como essa
reorganização biológica irá acontecer; isso é a mente
analítica a funcionar, fazendo-nos recuar para o estado de
ondas cerebrais beta e tornando-nos menos sugestionáveis.
Pelo contrário, basta-nos tomar uma decisão com uma
finalidade.

Assim que a amplitude ou a energia dessa decisão superar


os programas integrados no cérebro e o vício emocional do
corpo, tornamo-nos superiores ao nosso passado, o corpo
responde a uma nova mente e já podemos fazer uma
mudança verdadeira.

Já sabe fazer isso. Pense numa altura do passado em que


decidiu mudar qualquer coisa em si próprio e na sua vida. Há
de ter chegado um momento em que disse a si próprio: não
me importa o que sinto [corpo]/ não interessa o que se passa
na minha vida [ambiente]/ E não quero saber quanto demora
[tempo]/

Vou fazê-lo!
Quando, nessas alturas, sentimos pele de galinha, é porque
passamos a um estado de ser alterado. Assim que sentimos
essa energia, enviamos nova informação ao corpo. Sentimo-
nos inspirados e saímos do estado de repouso que nos é tão
familiar. Isso acontece porque o corpo deixou de viver no
mesmo passado e passou a viver num novo futuro, só com o
pensamento. Na realidade, o corpo já não é a mente; nós é
que somos a mente. Estamos a mudar uma crença.

3. O efeito da percepção

À semelhança das crenças, as percepções das experiências


passadas — sejam elas positivas ou negativas — afetam
diretamente o estado de ser subconsciente e a saúde. Em
1984, a Dr.a Gretchen van Boemel, então diretora adjunta do
departamento de eletrofisiologia clínica do Instituto Doheny
Eye de Los Angeles, descobriu um exemplo impressionante
desta realidade, ao reparar numa tendência perturbadora
das mulheres cambojanas chamada Doheny. Nas
proximidades de Long Beach, na Califórnia (num local
conhecido como Little Phnom Penh, por ter quase 50 mil
residentes cambojanos), um número
desproporcionadamente elevado de mulheres, todas com
idades compreendidas entre os 40 e os 60 anos, sofria de
graves problemas de visão, incluindo cegueira.

Fisicamente, os olhos delas estavam impecáveis. Depois de


fazer exames de imagiologia cerebral para avaliar o
funcionamento dos sistemas visuais e compará-los com o
funcionamento dos olhos, a Dra. van Boemel descobriu que
todas tinham uma acuidade visual perfeitamente normal,
maioritariamente de 20/20 ou 20/40, mas, quando tentavam
ler um quadro de teste da visão, revelavam cegueira.
Algumas delas não tinham qualquer percepção da luz e nem
sequer conseguiam distinguir sombras — apesar de não
terem qualquer problema físico nos olhos.
Quando a Dra. van Boemel se juntou à Doutora Patricia
Rozée, da Universidade do Estado da Califórnia, em Long
Beach, para estudar o caso daquelas mulheres, ambas
descobriram que as que viam pior eram as que tinham vivido
mais tempo sob o regime dos Khmer Vermelhos ou em
campos de refugiados, quando o comunista Pol Pot estava no
poder. O genocídio perpetrado pelos Khmer Vermelhos
resultou na morte de pelo menos 1,5 milhões de
cambojanos, entre 1975 e 1979.

Das mulheres estudadas, 90 por cento tinham perdido


familiares (algumas, dez) nessa época e 70 por cento tinham
sido obrigadas a assistir ao assassínio brutal dos entes
queridos (algumas, da família inteira). “Aquelas mulheres
viram coisas que a mente não era capaz de aceitar”,
explicou Rozée ao Los Angeles Times. “A mente
simplesmente encerrou e elas recusaram-se a ver mais —

recusaram-se a ver mais morte, tortura, violação ou fome.”

Uma delas perdera a visão logo após ter sido forçada a ver o
marido e os quatro filhos serem assassinados. Outra tinha
visto um soldado dos Khmer

Vermelhos espancar o irmào e os três filhos até à morte,


tendo o seu sobrinho com três meses sido atirado contra
uma árvore até morrer. Começara a perder a visão pouco
depois. As mulheres também sofreram espancamentos,
fome, humilhações indescritíveis, abuso sexual, tortura e 20
horas por dia de trabalhos forçados. Embora já estivessem
em segurança, muitas disseram às investigadoras que
preferiam ficar em casa, onde tinham de reviver as
memórias das atrocidades vezes sem conta, em pesadelos e
pensamentos intrusivos recorrentes.

Depois de terem documentado um total de 150 casos de


cegueira psicossomática nas mulheres cambojanas a viver
em Long Beach — o maior grupo de que se tem
conhecimento de vítimas deste gênero em todo o mundo -,
van Boemel e Rozée apresentaram a investigação na reunião
anual da Associação Americana de Psicologia de 1986, em
Washington, D.C. O público ficou fascinado.

Se as mulheres deste estudo cegaram não foi por causa de


uma doença do olho ou de um problema físico, mas sim
porque os acontecimentos que viveram tiveram um tal
impacto emocional nelas que as fizeram literalmente “chorar
atê deixarem de ver”. A amplitude emocional intensificada
pelo facto de serem forçadas a testemunhar o insuportável
fez com que não quisessem ver mais. O

acontecimento criou alterações físicas na biologia delas —


não nos olhos, mas, mais provavelmente, no cérebro — que
lhes alteraram a percepção da realidade para o resto da
vida. E uma vez que continuavam a reviver as cenas
traumatizantes na cabeça, a visão nunca melhorava.

Muito embora este seja certamente um exemplo extremo, as


nossas experiências traumáticas também devem produzir
em nós efeitos semelhantes.

Se tem problemas de visão, que coisas poderá ter escolhido


deixar de ver, devido a experiências dolorosas ou
assustadoras do passado? Da mesma forma, se sofre de
problemas auditivos, o que será que não quer ouvir?

A Figura 7.2 mostra como tudo isto acontece. A linha do


gráfico reflete a avaliação relativa do estado de ser de uma
pessoa, que começa a um nível mais ou menos normal ou de
base, antes da ocorrência do acontecimento. Quando
dispara, a linha indica uma forte reação emocional a um
acontecimento — tal como quando as mulheres viveram as
atrocidades dos soldados dos Khmer Vermelhos. Essa
experiência horrenda fez com que ficassem com marcas
neurológicas no cérebro e com alterações químicas no corpo,
mudando também o estado de ser — os pensamentos, os
sentimentos, as atitudes, as crenças e, por fim, as
percepções.

Mais especificamente, as mulheres já não queriam olhar


para o mundo e a biologia obedeceu, com modificações
neurológicas e químicas.

FIGURA 7.2

Uma experiência muito intensa na realidade exterior


imprime-se nos circuitos cerebrais e marca emocionalmente
o corpo. Consequentemente, o cérebro e o corpo vivem no
passado e o acontecimento altera nos tanto o estado de ser
como a percepção da realidade. Deixamos de ler a mesma
personalidade.
Embora a linha do gráfico acabe por cair e estabilizar, o
ponto final é diferente do inicial — indicando que a pessoa
permanece química e neurobiologicamente alterada pela
experiência. Nesse ponto, as mulheres cambojanas viviam
efetivamente no passado, porque continuavam a sofrer os
afeitos pela marcação neurológica e química da experiência.
Já não eram as mesmas mulheres; o acontecimento mudou o
seu estado de ser.

4. O poder do ambiente

Não basta mudar as crenças e as percepções uma só vez. É


preciso continuar a

reforçar essa mudança. Para perceber porquê, regressemos


um pouco aos pacientes de Parkinson que melhoraram a
capacidade motora depois de receberem uma injeção de
soro fisiológico que julgavam ser um fármaco potente.

Como deve recordar, assim que passaram para um estado


de saúde melhorado, o sistema nervoso autônomo começou
a apoiar esse novo estado, através da produção de
dopamina no cérebro. Isso não se deveu ao facto de terem
rezado, esperado ou desejado que o corpo produzisse
dopamina; aconteceu porque se tornaram pessoas que
produziam dopamina.

Infelizmente, contudo, o efeito não permanece em toda a


gente. Na verdade, nalguns casos, o efeito placebo só dura
um determinado período de tempo, porque as pessoas
voltam a ser quem eram antes: retomam o antigo estado de
ser. Nesse caso, quando os pacientes de Parkinson
regressaram a casa e riram as pessoas que cuidavam deles
e os cônjuges, dormiram nas suas camas, comeram a
mesma comida de sempre e, quem sabe, jogaram xadrez
com os mesmos amigos que se queixavam das dores, o
velho ambiente recordou-lhes a velha personalidade e o
velho estado de ser. Todas as condições da vida familiar
fizeram com que recordassem quem eram antes, por isso,
retomaram essas identidades e os diversos problemas
motores regressaram. Reidentificaram-se com o ambiente. O
ambiente tem mesmo essa força.

O mesmo acontece aos toxicodependentes que passam


muitos anos sem consumir. Se os colocarmos no mesmo
ambiente em que habitualmente consumiam, mesmo sem
consumirem nada, só a presença deles nesses locais faz
acionar os mesmos pontos receptores nas células que
acionavam as drogas quando eles as consumiam — e isso,
por sua vez, cria mudanças fisiológicas no corpo, como se
eles consumissem, aumentando-lhes o desejo. A mente
consciente não controla isso. É automático.

Analisemos um pouco melhor este conceito. Já sabe que o


processo de condicionamento cria fortes memórias
associativas. Também aprendeu que as memórias
associativas estimulam as funções fisiológicas automáticas
subconscientes, ativando o sistema nervoso autônomo.
Pense outra vez nos cães de Pavlov. Depois de Pavlov os ter
condicionado a associar a campainha à alimentação, o corpo
deles mudou logo fisiologicamente, à revelia da mente
consciente. Foi o estímulo do ambiente que (por meio da
memória associativa) alterou automática, autonômica,
subconsciente e fisiologicamente o estado interior dos cães.
Estes começavam a salivar e a produzir sucos digestivos, só
com a expectativa de receberem uma recompensa. A mente
consciente dos cães não seria capaz disso. Foi o estimulo do
ambiente que criou a memória associativa da resposta
condicionada.

Analisemos novamente os pacientes de Parkinson e os ex-


toxicodependentes. Podemos dizer que, assim que qualquer
um deles voltasse ao ambiente familiar, o corpo retomaria
automática e fisiologicamente o antigo estado de ser — à
revelia da mente consciente. Na verdade, esse estado de ser
passado, que pensa e sente da mesma forma há uma
infinidade de anos, condicionou o corpo a tornar-se a mente.
Ou seja, o corpo é a mente que responde ao ambiente. É por
isso que qualquer pessoa nessa situação tem tanta
dificuldade em mudar.

E quanto mais forte for o vício da emoção, maior será a


resposta condicionada ao estímulo do ambiente. Por
exemplo, digamos que éramos viciados em café e queríamos
deixar de o ser. Se fôssemos a casa de alguém e essa pessoa
começasse a fazer um café de java, ouvíssemos a máquina
expresso a funcionar, cheirássemos o aroma do cate e o
víssemos a bebê-lo, eis o que aconteceria: assim que os
sentidos apanhassem esses estímulos do ambiente, o corpo,
como mente, responderia logo subconscientemente, sem
grande intervenção da mente consciente — porque o
condicionamos dessa forma. A nossa ligação corpo-mente
passaria a desejar a recompensa fisiológica, lançando guerra
contra a mente consciente e tentando convencer-nos a
beber um ou dois golos.

Mas se realmente tivéssemos rompido com o vício do café e


alguém nos pusesse uma chávena à frente, poderíamos
beber ou não, porque não teríamos a mesma resposta
fisiológica de antes. Já não estaríamos condicionados (o
corpo já não seria a mente) e a memória associativa do
ambiente já não produziria o mesmo efeito em nós.

O mesmo se aplica aos vícios emocionais. Por exemplo, se


memorizou culpa das experiências passadas e viver
inconscientemente assim, todos os dias, no presente, então,
tal como a maioria das pessoas, usará alguém ou alguma
coisa, nalgum local do seu ambiente exterior, para reafirmar
o seu vício na culpa.
Por mais que tente ser-lhe conscientemente superior, assim
que vir a sua mãe (que utiliza para sentir culpa) na casa
onde cresceu, o seu corpo regressará automática, química e
fisiologicamente ao mesmo estado de culpa passado no
momento presente, sem a intervenção da mente consciente.
O corpo, que foi subconscientemente programado para ser a
mente da culpa, já vive no passado, nesse momento
presente. Desse modo, é mais natural sentir culpa quando
está com a sua mãe do que sentir algo diferente. E, tal como
no caso do toxicodependente, uma resposta condicionada
alterou o seu estado interior, com base na sua associação
com a realidade exterior presente-passado. Quebre o vício
da culpa, alterando a programação subconsciente, e já
poderá estar na presença das mesmas condições, livre da
sua realidade presente-passado.

Os investigadores da Universidade de Victoria, em


Wellington, na Nova Zelândia, analisaram os efeitos do
ambiente, com um grupo de 148 estudantes universitários
convidados a participar num estudo montado na atmosfera
de um bar. Os investigadores disseram a uma metade que
receberia vodka tônica e a outra que só receberia água
tônica. Na realidade, os barmen do estudo não deitaram
uma só gota de vodka nos copos e todos os estudantes
receberam simplesmente água tônica. A atmosfera de bar
que os investigadores criaram era bastante realista,
chegando mesmo a vender garrafas de vodka cheias de
água tônica sem gás. Os barmen enchiam os copos com
rodelas de lima embebidas em vodka, para dar um efeito
mais realista, antes de misturarem e deitarem as bebidas
como se estivessem a servir o produto em si.

Os sujeitos ficaram tontos e agiram como se estivessem


embriagados —
alguns até apresentaram sinais de intoxicação. não ficaram
embriagados por beberem álcool, mas sim por causa do
ambiente, porque a memória associativa instruiu o cérebro e
o corpo para responderem como era costume.

Quando os investigadores disseram finalmente a verdade


aos estudantes, muitos ficaram espantados e insistiram que
se tinham mesmo sentido embriagados na altura.
Acreditaram que estavam a beber uma bebida alcoólica e
essa crença traduziu-se em neuroquímicos que alteraram o
estado de ser.

Por outras palavras, só a crença foi suficiente para ativar


uma mudança bioquímica no corpo que equivalia à
embriaguez, porque os estudantes se condicionaram vezes
suficientes para associar a bebida alcoólica a uma mudança
no estado químico interno. Uma vez que esperavam ou
previam a mudança futura no estado interior, com base nas
memórias passadas associativas de beber, os estudantes
foram estimulados pelo ambiente a mudar fisiologicamente,
tal como os cães de Pavlov.

É claro que existe o reverso da medalha. O ambiente


também pode emitir sinais para a cura. Os pacientes de um
hospital da Pensilvânia que recuperaram de uma cirurgia
num quarto com vista para um arvoredo num cenário natural
dos subúrbios precisaram de analgésicos menos potentes e
receberam alta sete a nove dias mais cedo do que os
pacientes internados em quartos com vista para uma parede
de tijolo. Criado pelo ambiente, o estado da mente pode,
sem dúvida alguma, contribuir para a cura do cérebro e do
corpo.

Assim, precisa de um comprimido de açúcar, de uma injeção


de soro fisiológico, de uma cirurgia falsa ou de uma janela
com vista panorâmica — de alguma coisa, de alguma pessoa
ou de algum local no ambiente exterior — para aceder a
outro estado de ser? Ou pode fazê-lo mudando apenas a
forma de pensar e sentir? Pode simplesmente acreditar
numa nova possibilidade de saúde, sem depender de
estímulos externos» e tornar o pensamento no cérebro uma

nova experiência emocional suficientemente intensa para


mudar o corpo e o fazer superar o condicionamento no seu
ambiente exterior?

Nesse caso, o que acaba de ler sugere que seria boa ideia
mudar o estado interior todos os dias — antes de se levantar
e enfrentar o mesmo velho ambiente, para o impedir de o
puxar, como aconteceu aos doentes de Parkinson, para o seu
velho estado de ser. Lembra-se de Janis Schonfeld, que
conheceu no Capítulo 1, que fez mudanças físicas no
cérebro, pensando que estava a tomar um antidepressivo?
Se o placebo funcionou tão bem para ela, foi, em parte,
porque a toma diária do comprimido a lembrava diariamente
de alterar o estado de ser (porque o associava aos
pensamentos e sentimentos otimistas relacionados com a
melhoria do seu estado de saúde — como fazem mais de 80
por cento das pessoas que tomam um placebo
antidepressivo).

Se pudesse aceder a um novo estado de ser pela meditação,


associando uma intenção clara ao já referido estado de
emoção intensificado, e se levantasse animado e cheio de
entusiasmo com o que estava a criar todos os dias, acabaria
por começar finalmente a sair do estado de repouso.
Passaria a estar num novo estado de ser, com uma atitude,
uma crença e uma percepção diferentes, sem reagir mais às
mesmas coisas, da mesma maneira, porque o seu ambiente
já não controlaria os seus pensamentos e sentimentos.
Então, passaria a fazer novas escolhas e a demonstrar novos
comportamentos, que levariam a novas experiências e novas
emoções. E, nessa altura, transformar-se-ia numa pessoa
nova e diferente — sem a dor da artrite, os problemas
motores da doença de Parkinson, a infertilidade ou qualquer
outra condição que quisesse mudar.

Quero aproveitar para dizer que nem todos os males e


doenças começam na mente. Certamente que alguns bebes
nascem com problemas e defeitos genéticos que, de modo
algum, foram desencadeados pelos pensamentos,
sentimentos, atitudes e crenças. E tanto os traumas como os
acidentes acontecem. Além disso, a exposição às toxinas
ambientais pode, sem dúvida nenhuma, semear o caos no
corpo humano. Quero esclarecer que não digo que estas
coisas só acontecem porque, de alguma maneira, estávamos
a pedi-las — embora seja verdade que as hormonas do
stress podem enfraquecer o corpo físico e torná-lo mais
suscetível à doença, provocando o colapso do sistema
imunitário. O que quero dizer é que, seja qual for a fonte dos
males, há sempre a possibilidade de alterarmos a nossa
condição.

5. Mudar a energia

Já sabemos que se queremos mudar as nossas crenças e


criar um efeito placebo para melhorar a saúde e a rida,
temos de fazer exatamente o contrário do que fizeram as
mulheres cambojanas por defeito. Com uma intenção clara e
firme, e intensificando a energia emocional, temos de criar
uma nova experiência interior na mente e no corpo que
supere a experiência exterior do passado. Por outras
palavras, quando decidimos criar uma nova crença, a
amplitude ou energia dessa escolha pode ser
suficientemente elevada para superar os programas
integrados e o condicionamento emocional do corpo.

Para ver o que acontece quando fazemos precisamente isso,


observe a Figura 7.3. A energia da escolha nessa nova
experiência é superior à energia do trauma da experiência
passada (tal como vimos na Figura 7.2) e é por isso que o
pico do gráfico é superior ao pico do primeiro gráfico. Por
isso, os efeitos dessa nova experiência sobrepõem-se ao
resíduo da programação neural e do condicionamento
emocional da experiência passada.

Se o executarmos bem, este processo refaz os padrões


cerebrais e muda a biologia; a nova experiência reorganiza a
velha programação e, ao fazê-lo, remove as provas
neurológicas da experiência passada. (Como uma onda
maior que, ao rebentar mais acima, na praia, apaga
quaisquer vestígios de conchas, algas, espuma, ou marcas
na areia que lá pudessem ter estado.) As experiências
emocionais intensas criam novas memórias de longo prazo,
que se sobrepõem às antigas memórias de longo prazo, e a
escolha passa a ser uma experiência inesquecível.
FIGURA 7.3

Para mudar uma crença ou percepção acerca de si próprio e


da sua vida, tem de tomar uma decisão com uma intenção
tão firme que a escolha contenha uma amplitude de energia
superior aos programas integrados no cérebro e A adição
emocional do corpo, e o corpo tem de responder a uma nova
mente Quando ena uma nova experiência interior que se
toma superior à antiga experiência exterior, a escolha
reescreve os circuitos cerebrais e reenvia novos sinais
emocionais ao corpo. Uma vez que as experiências criam
memórias de longo prazo, quando a escolha se toma uma
experiência inesquecível, mudamos. Biologicamente, o
passado deixou de existir. Podemos dizer que o corpo Desse
momento presente está num novo futuro.

O cérebro e o corpo já não deverão ter provas do nosso


passado e o novo sinal passa a reescrever o programa
neurológico, mudando geneticamente o corpo.

Observe a Figura 7.3 outra vez e repare como a inclinação da


linha do gráfico volta totalmente para baixo (enquanto na
Figura 7.2 descia sem deixar de ser superior ao que era no
ponto de partida). Isso demonstra que não restam vestígios
da antiga experiência; já não existe neste novo estado de
ser.

Além de reorganizar os circuitos neurais. esse novo sinal


também começa a reescrever o condicionamento do corpo,
rompendo os laços emocionais com o passado. Quando tal
acontece, nesse momento, o corpo passa a viver totalmente
no presente e deixa de ser refém do passado. Essa energia
intensificada repercute-se no corpo e traduz-se como nova
emoção (que é apenas outra maneira de dizer “energia em
movimento" ou “emoção”), como sentirse invencível,
corajoso, poderoso, compassivo, inspirado ou outra coisa
qualquer. E

é a energia que nos muda a biologia, os circuitos neurais e a


expressão genética

— não a química.

Acontece mais ou menos o mesmo com as pessoas que


caminham sobre brasas, que mastigam vidro e com os
domadores de cobras. Sabem claramente que vào entrar
noutro estado de mente e corpo. E com a forte intenção de
fazer a mudança, a energia dessa decisão cria mudanças
internas no cérebro e no corpo que as tornam imunes às
condições externas no ambiente, durante um largo período
de tempo. A energia passa a protegê-las de uma forma que,
nesse momento, lhes transcende a biologia.

Por acaso, a nossa neuroquímica não é a única coisa que


responde a estados de energia intensificados. Os pontos
receptores do exterior das células do organismo são cem
vezes mais sensíveis à energia e à frequência do que aos
sinais físicos e químicos, como os neuropeptídeos, que têm
acesso ao ADN das células. As investigações revelam
consistentemente que as forças invisíveis do campo
eletromagnético influenciam todos os aspetos da biologia
celular e da regulação genética. Os receptores celulares
especificam as frequências dos sinais de energia que lhes
chegam. De entre as energias do campo eletromagnético,
destacam-se as micro-ondas, as ondas de rádio, os raios X,
as ondas de frequência extremamente baixa, frequências de
som harmônicas, raios ultravioleta e, até, ondas
infravermelhas. Há determinadas frequências de energia
eletromagnética que podem influenciar o comportamento do
ADN, do ARN e da síntese proteica; alterar a forma e a
função das proteínas; controlar a regulação e a expressão
dos genes; estimular o crescimento das células nervosas; e
influenciar a divisão celular e a diferenciação celular, bem
como instruir células específicas para se organizarem em
tecidos e órgãos. Todas essas atividades celulares
influenciadas pela energia fazem parte da expressão da vida.

E se isso é verdade, tem de ser por alguma razão. Lembra-se


dos 98,5 por

cento do nosso ADN a que os cientistas chamam “ADN lixo”,


por parecer que não serve para nada? Certamente que a
Mãe Natureza não colocaria tanta informação codificada nas
nossas células, à espera de ser lida, sem nos dar a
capacidade para criar algum tipo de sinal para a
desbloquear; afinal, a natureza não desperdiça nada.
Será possível que a nossa própria energia e consciência
sejam aquilo que cria o tipo certo de sinal exterior às células
para lhe permitir aceder a essa enorme “lista de peças” de
potenciais? E, sendo isso verdade, se alterasse a energia, tal
como leu mais atrás neste capítulo, poderia isso ajudá-lo a
aceder à sua verdadeira capacidade para curar
verdadeiramente o corpo? Quando muda a sua energia,
muda o seu estado de ser. Além disso, a restruturação do
cérebro e as novas emoções químicas do corpo
desencadeiam mudanças epigenéticas. Em resultado, torna-
se bastante literalmente uma pessoa nova. A pessoa que era
antes passou à história; uma parte dessa pessoa
simplesmente desapareceu, juntamente com os circuitos
neurais, os vícios neuroquímicos e a expressão genética que
lhe sustentavam o antigo estado de ser.

12. CAPÍTULO 8

A mente quântica

A realidade pode ser uma espécie de alvo em movimento —


literalmente.

Estamos habituados a considerá-la fixa e certa, mas, como


não tardará a ler neste capítulo, ela não é realmente como
sempre nos disseram que era. E para aprender a ser o seu
próprio placebo, utilizando a mente para influenciar a
matéria, tem de compreender a verdadeira natureza da
realidade, como a mente e a matéria se relacionam, e como
a realidade se altera — se não souber como e porque é que
essas mudanças ocorrem, não poderá orientar os resultados
de acordo com as suas intenções.

Antes de mergulharmos no universo quântico, veiamos de


onde é que as ideias que temos sobre a realidade vieram e
até onde nos trouxeram. Graças a René Descartes e Sir Isaac
Newton, há séculos que se dividiu o estudo do universo em
duas categorias: matéria e mente. O estudo da matéria
(mundo material) foi inserido no domínio da ciência, porque,
na sua maioria, as leis do universo que governam o mundo
exterior objetivo podem ser calculadas e, portanto, previstas.
Mas considerou-se que o domínio interior da mente era
demasiado imprevisível e complicado, ficando, por isso,
melhor sob os auspícios da religião. Com o tempo, mente e
matéria tornaram-se entidades isoladas e nasceu o
dualismo.

A física newtoniana (também conhecida como física clássica)


lida com os mecanismos do funcionamento dos objetos no
espaço e no tempo, incluindo as suas interações no mundo
físico material. As leis de Newton permitem-nos medir e
prever a rota dos planetas em torno do sol, a velocidade a
que uma maça acelera ao cair da árvore e o tempo que
demora ir de Seattle para Nova Iorque de avião. A física
newtoniana tem que ver com o previsível.

Sob essa perspetiva, o universo funciona como uma enorme


máquina ou um relógio colossal.

Mas a física clássica tem as suas limitações no que se refere


ao estudo da energia, às ações do mundo imaterial, para
além do tempo e do espaço, e ao comportamento dos
átomos (os alicerces de tudo no universo físico). Esse
domínio pertence à física quântica. E parece que esse
mesmo diminuto mundo subatômico de eletrões e fotões não
se comporta nada como o mundo muito maior dos planetas,
das maças e dos aviões que conhecemos muito melhor.

À medida que a física quântica foi observando aspetos cada


vez mais pequenos do átomo, tal como a constituição do
núcleo, constatou-se que quanto

mais longe se chegava, menos distinto e claro se tornava o


átomo, que acabava mesmo por desaparecer
completamente. Segundo nos dizem, os átomos parecem ser
um espaço 99,999999999999 por cento vazio. Mas esse
espaço não está realmente vazio. Na verdade, está
preenchido com energia. Mais especificamente, é feito de
uma vasta gama de frequências energéticas que formam
uma espécie de campo de informação invisível e interligada.
Desse modo, se um átomo é 99,999999999999 por cento de
energia ou informação, isso significa que o nosso universo
conhecido e todas as coisas nele contidas —

por mais sólida que nos passa parecer a matéria — são


essencialmente mera energia e informação. É um facto
científico.

Os átomos contém efetivamente luzes de matéria, mas,


quando tentaram estudá-lo, os físicos quânticos descobriram
uma coisa muitíssimo estranha: a matéria subatômica no
mundo quântico não se comporta nada como a matéria com
que estamos habituados a lidar. Em vez de cumprir as leis da
física newtoniana, parece algo caotica e imprevisível,
totalmente alheia aos limites do tempo e do espaço. Aliás,
ao nível da quântica subatômica, a matéria é um fenômeno
momentâneo; presente num momento, ausente no outro. Só
existe como tendência. probabilidade ou possibilidade. Na
quântica, não existem coisas físicas absolutas.

Essa não foi a única descoberta estranha que os cientistas


fizeram sobre o universo quântico. Descobriram igualmente
que, ao observarem partículas de matéria subatômica,
podiam influenciar ou alterar-lhes o comportamento. Se ora
estão presentes, ora estão ausentes (e, depois, presentes e
ausentes outra vez, a todo o momento), é porque todas
essas partículas existem mesmo em simultâneo, numa gama
infinita de possibilidades ou probabilidades, no campo
quântico invisível e infinito da energia. Só quando o
observador centra a atenção na localização de um dado
eletrào é que este realmente aparece nesse local. Se
desviarmos o olhar, a matéria subatômica desaparece,
dissolvendo-se em energia.

Assim sendo, de acordo com esse "efeito do observador”, a


matéria física só pode existir ou manifestar-se se a
observarmos — se repararmos nela e lhe dermos atenção. E
quando deixamos de lhe prestar atenção, desaparece,
voltando para o sítio de onde veio. A matéria encontra-se em
constante transformação, ora manifestando-se em matéria,
ora dissolvendo-se em energia (cerca de 7,8 vezes por
segundo, aliás). Então, uma vez que a mente humana (o
observador) está intimamente ligada ao comportamento e
ao aparecimento da matéria, podemos dizer que sobrepor a
mente à matéria é uma realidade quântica. Outra
perspetiva: no minúsculo mundo quântico, a mente subjetiva
influencia a realidade objetiva.

A mente pode tornar-se matéria, o que significa que


podemos transformar a

mente em matéria.

Se a matéria subatômica compõe tudo o que vemos, em que


tocamos e experienciamos no nosso macromundo, de certa
forma, toda a gente — e tudo o que existe no mundo —
também desaparece e reaparece a toda a hora. E se as
partículas subatômicas existem num número infinito de
locais, simultaneamente, então, de alguma forma, nós
também. Tal como essas partículas passam de existir em
todo o lado, simultaneamente (onda, ou energia), a existir
precisamente onde o observador as procura, no momento
em que ele lhes presta atenção (partícula,

ou matéria), também somos potencialmente capazes de


provocar o colapso de um número infinito de realidades
potenciais na existência física.
Por outras palavras, se imagina um determinado
acontecimento futuro que quer vivenciar, essa realidade
passa a existir como possibilidade, algures, no domínio
quântico — para lá deste tempo e deste espaço -, mesmo à
espera de que o observe. Se a mente (pelos pensamentos e
sentimentos) pode influenciar o momento e o local em que
um eletron aparece, vindo do nada, então, teoricamente,
devemos ser capazes de influenciar o aparecimento de
quaisquer possibilidades que imaginemos.

Do ponto de vista quântico, se se observasse num


determinado futuro diferente do passado, esperasse que
essa realidade ocorresse e, depois, assimilasse
emocionalmente o resultado, passaria — por momentos — a
river nessa realidade futura e condicionaria o corpo a
acreditar que já estava nesse futuro, sem sair do momento
presente. Assim sendo, o modelo quântico segundo o qual,
neste momento, existem todas as possibilidades permite-nos
escolher um novo futuro e observá-lo na realidade. Uma vez
que o universo é feito de átomos e 99 por cento do átomo
são constituídos por energia ou possibilidade, existem
muitos potenciais por aí que podemos estar a perder.

Contudo, isso significa igualmente que também criamos por


defeito. Se, enquanto observadores quânticos, olharmos
para a nossa vida sempre a partir do mesmo nível mental,
segundo o modelo quântico de realidade, provocamos o
colapso de infinitas possibilidades nos mesmos padrões de
informação, dia após dia. Esses padrões, que consideramos
ser a nossa vida, nunca mudam e, portanto, nunca nos
permitem fazer mudanças.

Nesse caso, o ensaio mental de que já falei não é, de modo


algum, simplesmente sonhar acordado ou desejos
imaginados. É, num sentido muito real, a forma como
manifestamos intencionalmente a realidade que queremos,
incluindo uma vida sem dor ou doença. Centrando-se mais
no que quer e menos no que não quer, pode trazer à
existência o que quer que deseje e simultaneamente “fazer
desvanecer" o que não quer, deixando de lhe dar

atenção. A sua atenção recai sobre o enfoque da sua


energia. Fixando a atenção, a consciência alerta ou a mente
na possibilidade, também canaliza a energia nessa direção.
Consequentemente, influencia a matéria, prestando atenção
ou observando. O efeito placebo, por conseguinte, não é
fantasia — é realidade quântica.

1. A energia a nível quântico

Todos os átomos no mundo elementar emitem diversas


energias eletromagnéticas. Por exemplo, um átomo pode
transmitir campos de energia invisíveis, em diferentes
frequências que incluem raios X, raios gama, raios
ultravioleta e raios infravermelhos, bem como raios de luz
visíveis. E da mesma forma que as ondas de rádio invisíveis
transportam com elas informação específica codificada (seja
98,6 ou 107,5 hertz), cada frequência transporta também
diversos tipos de informação específica, como demonstra a
Figura 8.1.

Por exemplo, os raios x transportam informação muito


diferente da que os raios infravermelhos contêm, porque se
trata de frequências diferentes. Todos esses domínios são
padrões de energia diferentes que estão sempre a dar
informação a nível atômico.
FIGURA 8.1

Este gráfico apresenta duas frequências diferentes que


contém informações distintas e. portanto, de qualidades
diversas. Os raios X agem como as ondas de rádio, pelo que
têm diferentes características inerentes.

Pense nos átomos como campos de energia vibrante ou


pequenos vórtices constantemente a girar. Para
compreender melhor como funciona, vamos recorrer à
analogia de uma ventoinha. Da mesma forma que uma
ventoinha circular gera vento (um vórtice de ar) quando a
ligam, cada átomo, ao girar, irradia um campo de energia de
modo semelhante. E, da mesma forma que a ventoinha gira
a diferentes velocidades, criando um vento mais ou menos
forte, os átomos vibram em frequências diferentes, que
criam campos mais ou menos fortes. Quanto mais depressa
o átomo vibra, mais potente é a energia e a frequência que
emite. Quanto mais devagar for a vibração ou o vórtice do
átomo, menos potente é a energia que emite.

Quanto mais devagar giram as pás da ventoinha, menos


vento (ou energia)

se cria e mais fácil é ver as suas componentes como objetos


materiais na realidade física. Por outro lado, quanto mais
depressa giram as pás, mais energia se cria e menos
conseguimos ver as suas componentes físicas; as pás
parecem imateriais. O sítio onde as pás da ventoinha podem
potencialmente aparecer (como as partículas subatômicas
que os cientistas quânticos tentavam observar que não
paravam de aparecer e desaparecer) depende da sua
observação — onde e como as procura. O mesmo se aplica
aos átomos. Analisemos melhor esta questão.

Na física quântica, a matéria define-se como partícula sólida


e o campo energético imaterial da informação pode definir-
se como onda. Se estudarmos as propriedades físicas dos
átomos, como a massa, os átomos parecem matéria física.
Quanto mais lenta for a frequência a que vibra um átomo,
mais tempo ele perdura na realidade física e mais parece
uma partícula que podemos ver como matéria sólida. A
matéria física parece-nos sólida, apesar de ser sobretudo
constituída por energia, porque todos os átomos vibram à
mesma velocidade que nós.

No entanto, os átomos também revelam muitas


propriedades de energia ou ondas (incluindo luz,
comprimentos de onda e frequência). Quanto mais depressa
vibrar e mais energia gerar um átomo, menos tempo passa
na realidade física; aparece e desaparece com demasiada
rapidez para que o possamos ver, porque vibra a uma
velocidade muito superior à nossa. Mas, muito embora não
possamos ver a energia em si, podemos, por vezes, ver
provas físicas de determinadas frequências de energia,
porque o campo físico dos átomos pode criar propriedades
físicas, tal como as ondas infravermelhas aquecem as coisas.

Se comparar a Figura 8.2A com a Figura 8.2B, verá como as


frequências mais lentas passam mais tempo no mundo
material e, portanto, parecem matéria.

FIGURA 8.1A
FIGURA 8.2B

Quando a energia vibra mais devagar. as partículas


permanecem mais tempo visíveis na realidade física,
parecendo, por isso, matéria sólida. A Figura 8.2A mostra a
manifestação da matéria a partir de uma frequência mais
baixa com um comprimento de onda maior. A Figura 8.2R
mostra as partículas a passarem menos tempo na realidade
física, sendo, por isso, mais energia e menos matéria.

Isso acontece por terem comprimentos de onda mais curtos,


bem como frequências e vibrações mais altas.
Desse modo, o universo físico pode parecer unicamente feito
de matéria material, mas, na verdade, partilha um campo de
informação (o domínio

quântico) que une tão intimamente a matéria e a energia


que se torna impossível considerá-las entidades isoladas.
Isso porque todas as partículas estão ligadas num campo
imaterial invisível de informação, para além do tempo e do
espaço

— e esse domínio é feito de consciência (pensamento) e


energia (frequência, a velocidade a que as coisas vibram).

Uma vez que cada átomo tem o seu próprio campo de


energia ou a sua própria assinatura energética, quando se
reúnem coletivamente para formar moléculas, os átomos
partilham os campos de informação uns com os outros e
irradiam os seus próprios padrões energéticos combinados.
Se tudo o que é material no universo irradia uma única
assinatura energética específica, porque tudo é feito de
átomos, nós também irradiamos as nossas próprias
assinaturas energéticas. Estamos sempre a emitir
informação como energia eletromagnética

— baseada no nosso estado de ser.

Ao alterarmos a nossa energia para alterarmos uma crença


ou percepção acerca de nós próprios ou da nossa vida,
aumentamos a frequência dos átomos e moléculas do corpo
físico, ampliando o campo energético (como mostra a Figura
8.3). Aumentamos a velocidade das ventoinhas atômicas
que compõem o nosso corpo. Quando assimilamos um
estado criativo emocional intensificado, como os da
inspiração, do poder, da gratidão, ou da invencibilidade, os
átomos giram mais depressa, tal como as pás de uma
ventoinha, e emitem um campo energético mais forte em
torno do corpo, influenciando a sua matéria física.
Assim, as partículas físicas que constituem o corpo já
respondem a uma energia elevada. Tornamo-nos mais
energia e menos matéria. Já somos mais onda e menos
partícula. Servindo-nos da consciência, geramos mais
energia, permitindo que a matéria seja elevada a uma nova
frequência, e levamos o corpo a responder a uma
novamente.
FIGURA 8.3

Ao alterarmos a nossa energia, elevamos a matéria a uma


nova mente e taremos com que o corpo vibre a uma
frequência mais alia. Tornamo-nos mais energia e menos
matéria • mais onda e menos partícula. Quanto mais
elevada for a emoção ou mais elevado for o estado mental
criativo, mais energia leremos para reescrever os programas
do corpo. Nessa altura, o corpo passa a responder a uma
nova mente.

2. Receber o tipo certo de sinal energético

Como é que se eleva a matéria a uma nova mente? Pense no


pregador que passa a um estado de êxtase religioso e bebe
estricnina, sem sofrer quaisquer efeitos biológicos. Como é
que ele superou essa química que envenenaria a
generalidade das pessoas? Foi esse nível de energia que
transcendeu os efeitos da matéria. Ele tomou a decisão com
uma intenção tão firme que a escolha assumiu uma
amplitude energética que transcendeu as leis do ambiente,
os efeitos no corpo e o tempo linear. Nesse momento,
passou a ser mais energia e menos matéria e uma nova
energia reescreveu os circuitos cerebrais, a química do
organismo e a expressão genética. Nesse momento
presente, não era a sua

identidade ligada ao ambiente familiar, não era o corpo


físico, nem vivia no tempo linear. A consciência e a energia
elevadas eram o epifenômeno da matéria.

Por outras palavras, os planos da matéria surgem da


informação e da frequência.

E quando demonstramos um nível elevado de consciência e


energia, esses elementos influenciam a matéria — porque a
matéria é criada a partir de uma redução da frequência e da
informação.

É muito possível que os pontos receptores das células do


pregador não tivessem sido abertas para a estricnina; as
portas das células fecharam-se ao veneno e ficaram imunes
aos seus efeitos. Movido pelo espírito — ou seja, pela
energia -, ele suprarregulou instantaneamente as células do
corpo para ter imunidade e infrarregulou as células do corpo
para o veneno. O mesmo acontece com as pessoas que
caminham sobre brasas — ao alterarem o estado de ser, os
receptores celulares deixam de estar abertos aos efeitos do
calor. Foi também isso que permitiu que as adolescentes
levantassem um trator com 1360 kg para libertarem o pai,
como leu no Capítulo 1. Quando viram o pai entalado e a
correr risco de vida, o estado energético intensificado
desativou os receptores celulares que diriam normalmente
ao corpo que o trator é demasiado pesado para levantar e
ativou os recetores das células musculares, programando-os
para aguentarem, e para os músculos responderem e elas
serem capazes de libertar o pai. não foi a matéria (o corpo)
que deslocou matéria (o trator); foi a energia que influenciou
a matéria.

Terá de concordar comigo: o corpo é composto por uma


vasta gama de átomos e moléculas, que produzem
substâncias químicas. Essas substâncias químicas, por sua
vez, organizam-se em células, que formam tecidos, que se
organizam em órgàos, que criam vários sistemas no seu
organismo. Por exemplo, a célula muscular consiste em
diferentes substâncias químicas (proteínas, iões, citocinas,
fatores de crescimento), que resultam de diferentes
interações entre moléculas compostas por vários elos
atômicos, sendo que esses átomos partilham um campo de
informação invisível para formar moléculas.
As substâncias químicas que compõem as células também
partilham um campo de informação. É esse campo de
informação invisível que orquestra as centenas de milhares
de funções da célula a cada segundo. Os cientistas começam
a aperceber-se de que existe um campo de informação
responsável por diversas funções celulares que existem para
além dos limites da matéria.

É esse campo de consciência invisível que orquestra todas


as funções das células, dos tecidos, dos órgãos e dos
sistemas do corpo. Como é que determinadas substâncias
químicas e moléculas celulares sabem o que fazer e como
interagir com essa precisão? A célula é rodeada por um
campo energético, que é a soma da energia dos átomos,
moléculas e substâncias químicas, que

funcionam em conjunto e equilíbrio para gerar a matéria — a


matéria advém desse campo de informação vital.

As células musculares do exemplo anterior podem organizar-


se mais e especializar-se em tecidos musculares. Digamos
que o tipo particular de músculo neste exemplo se chama
“músculo cardíaco”. Este forma um órgão que se chama

“coração". Compostos por células, os tecidos partilham um


campo de informação que permite ao coração funcionar
coerentemente. O coração faz parte do sistema
cardiovascular do corpo. Ao partilhar esse campo de
informação, organiza a matéria, para que esta funcione de
modo holístico e harmonioso. Assim, o campo criado que
gera a matéria é o que controla a matéria. Quanto maior for
o campo, mais depressa vibram os átomos — ou mais
depressa giram as pás da sua ventoinha subatômica.

O modelo newtoniano de biologia baseia-se em eventos


lineares que sofrem reações químicas numa sequência de
passos. Mas não é realmente assim que funciona a biologia;
não é possível explicar algo tão simples como a cicatrização
de um golpe, sem compreender as vias interligadas de
informação coerente sobre as quais acabou de ler. As células
partilham a intercomunicação da informação de uma forma
não linear. O universo e todos os sistemas biológicos nele
contidos partilham um conjunto integrado de campos
energéticos independentes e emaranhados que, por sua vez,
partilham informação para além do espaço e do tempo, a
cada momento.

As investigações confirmam que a maioria das interações é


mais veloz do que a luz — e uma vez que o limite dessa
realidade física é a velocidade da luz, isso significa que as
células têm de comunicar através do domínio quântico. As
interações entre os átomos e as moléculas formam uma
intercomunicação que une o mundo físico material e os
campos energéticos que compõem o mundo. Na quântica, as
características lineares e previsíveis do mundo newtoniano
não existem. As coisas interagem de forma holística e num
ambiente de cooperação.

Desse modo, de acordo com o modelo quântico da realidade,


podemos dizer que todas as doenças correspondem a uma
redução das frequências. Pense nas hormonas do stress.
Quando o sistema nervoso está no modo de luta ou fuga, as
substâncias químicas da sobrevivência podem fazer com que
sejamos mais matéria e menos energia. Tornamo-nos
materialistas, porque definimos a realidade com os sentidos,
utilizamos demasiado a energia vital que rodeia a célula,
mobilizando-a para uma emergência, e centramos a atenção
no mundo exterior do ambiente, do corpo e do tempo. Se
mantivermos a resposta do stress ativada por muito tempo,
os efeitos de longo prazo abrandam a frequência do corpo,
tornando-o cada vez mais partícula e cada vez menos onda.
Isso significa que há menos consciência, energia e
informação disponível para os átomos, as
moléculas e as substâncias químicas partilharem, o que leva
a que nos tornemos matéria a tentar mudar matéria em vão
— somos um corpo a tentar inutilmente alterar um corpo.

Todas as pás da ventoinha subatômica que é o seu corpo


começam a girar não só mais devagar, mas também a
ritmos diferentes. Essa incoerência entre os átomos e as
moléculas do corpo enfraquece o sinal de comunicação e,
em consequência, leva ao colapso do corpo. Quanto mais o
corpo for matéria e quanto menos for energia, mais à mercê
ficamos da segunda lei da termodinâmica — a lei da entropia
em que as coisas materiais do universo tendem a avançar
para a desordem e o colapso.

Pense no que aconteceria se tivesse centenas de pás de


ventoinha numa sala enorme, todas juntas, a girar em
harmonia e total união. O som desse movimento conjunto
seria como música para os seus ouvidos, porque seria
rítmico e consistente. É o que se passa no corpo, quando os
sinais entre os átomos, as moléculas e as células são sólidos
e coerentes.

Agora, imagine a diferença que seria se as pás da ventoinha


não recebessem eletricidade (energia) suficiente: cada uma
giraria a uma velocidade ou frequência diferente. A sala
encher-se-ia de uma cacofonia de sons metálicos
incoerentes, traduzindo oscilação, paragem e arranque. É o
que acontece quando os sinais entre os átomos, as
moléculas e as células do organismo enfraquecem e se
tornam incoerentes.

Sempre que troca energia, por tomar uma decisão com uma
intenção firme, aumenta a frequência da estrutura
subatômica e cria uma assinatura eletromagnética mais
intencional e coerente (como representa a Figura 8.4).
Passa a afetar a matéria física do corpo. Aumentando a
energia, aumenta a eletricidade que flui para as pás da
ventoinha atômica. A frequência elevada começa a orientar
ou a organizar as células do corpo, tornando-as menos
partícula (matéria) e mais onda (energia). Dito por outras
palavras, toda a sua matéria passa a ter mais energia — ou
mais informação. Pense na coerência como ritmo ou ordem e
na incoerência como falta de ritmo, falta de ordem ou falta
de sincronia.

Imagine um grupo de cem percussionistas a bater nos


tambores, todos ao mesmo tempo e cada qual ao seu ritmo.
Isso é incoerência. Agora, imagine que um grupo de cinco
percussionistas profissionais aparece no meio da multidão de
amadores, se espalha no meio deles e começa a criar uma
batida cheia de ritmo.

Com o tempo, esses cinco profissionais acabariam por


orientar os cem amadores para que todos passassem a
percutir os tambores num ritmo, numa ordem e numa
sincronia perfeitos.

É precisamente isso que acontece quando o corpo responde


a uma nova
mente e sentimos o cabelo da nuca eriçar-se por sentirmos
mais energia e menos matéria. Nesse momento, elevamos a
matéria a uma nova mente. Orientamos a doença existente
como frequência reduzida para frequência elevada. Ao
mesmo tempo, fazemos com que a informação incoerente
entre os átomos e as moléculas, as substâncias químicas e
as células, os tecidos e os órgãos, bem como os sistemas do
corpo, passem a funcionar num domínio de informação mais
organizada.

FIGURA 8.4

Segundo a perspectiva química, uma frequência mais


elevada e coerente traduz-se em saúde, enquanto uma
frequência mais baixa e incoerente se traduz cm

doença Todas as doenças revelam uma redução da


frequência, bem como uma expressão de informação
incoerente.

É como ouvir estática no rádio e sintonizar o aparelho até


obtermos um sinal claro, sem qualquer interferência, em que
podemos ouvir música. O cérebro e o sistema nervoso fazem
o mesmo, sintonizando frequências mais elevadas e
coerentes. Quando isso ocorre, deixamos de estar sujeitos à
lei da entropia.

Sentimos a entropia inversa e a assinatura coerente do


campo energético que nos envolve o corpo imuniza-nos
contra as leis típicas da realidade física. Todas as pás da
ventoinha atômica passam a girar a uma frequência mais
rápida e coerente, e as moléculas, substâncias químicas e
células físicas que compõem o corpo passam a receber nova
informação, fazendo com que a energia tenha um efeito
positivo no corpo.

FIGURA 8.5A
FIGURA 8.5B

FIGURA 8.5C

Ao interagir com energia inferior e mais incoerente, a


energia superior e coerente começa a orientar a matéria
para um estado mais organizado.

As Figuras 8.5A, 8.5B e 8.5C ilustram o modo como uma


frequência superior e coerente orienta uma frequência
inferior e incoerente da matéria, elevando a matéria a uma
nova mente.

Quanto mais organizada e coerente for, mais a energia


orienta a matéria para uma frequência organizada, e quanto
mais rápida for a frequência, melhor e mais profundo será o
sinal eletromagnético enviado à célula. (Lembre-se do que
falamos no capítulo anterior sobre o facto de as células
serem cem vezes mais sensíveis aos sinais eletromagnéticos
— à energia — do que aos químicos e serem esses os sinais
que alteram a expressão do ADN.) Em contrapartida, quanto
mais incoerente e dessincronizada for a energia, menos
capacidade têm as

células para comunicar entre si. não tardará a saber como


criar coerência.

3. Do lado de lá da porta quântica

Sendo o domínio quântico um campo de informação


invisível, frequência para além do espaço e do tempo de
onde vêm todas as coisas materiais e composto de
consciência e energia, então, tudo o que é físico no universo
se une e se liga no seu interior. E uma vez que todas as
coisas materiais se compõem de átomos ligados entre si
para lá do espaço e do tempo, nós, assim como todas as
coisas do universo, estamos ligados por esse campo de
inteligência — pessoal e universal, em nós e à nossa volta -,
que dá vida, energia e consciência a todas as coisas.

Chame-lhe o que quiser, mas o facto é que é essa


inteligência universal que lhe dá vida neste momento.
Organiza e orquestra as centenas de milhares de notas da
sinfonia harmoniosa que é a sua fisiologia — as coisas que
fazem parte do seu sistema nervoso autônomo. É essa
inteligência que faz com que o seu coração bata mais de 101
mil vezes por dia, para bombear mais de 7,5 litros de sangue
por minuto, percorrendo mais de 96 550 000 quilômetros por
dia.

Quando acabar de ler esta frase, o seu corpo terá produzido


25 mil biliões de células. E cada uma das 70 mil biliões de
células do seu corpo executa algures entre 100 mil a seis mil
biliões de funções por segundo. Ao longo do dia de hoje,
inalará dois milhões de litros de oxigênio, e sempre que
inspirar, esse oxigênio será distribuído pelo corpo, em
segundos.

Controla conscientemente isso tudo? Ou não será algo com


uma mente e uma vontade muito superiores que o faz por
si? Isso é amor! Na verdade, essa inteligência ama-o tanto
que até lhe dá vida. É a mesma mente universal que anima
todos os aspetos do universo material. Esse domínio de
inteligência invisível existe para além do espaço e do tempo
e é a origem de todas as coisas materiais.

Faz nascer supernovas em galáxias distantes e desabrochar


rosas em Versalhes. Faz o planeta girar em torno do Sol e as
marés subir e descer em Malibu. É por existir em todo o lado
e a todo o momento, e por existir em nós e à nossa volta,
que essa inteligência só pode ser pessoal e universal. Dessa
forma, existe uma consciência subjetiva e livre (a
consciência de cada um) chamada

“nós” e uma consciência objetiva (a consciência universal)


responsável por toda a vida.

Se tivesse de fechar os olhos e não pudesse prestar atenção


ao seu corpo e a todas as pessoas, coisas e acontecimentos
que estivessem a surgir em momentos e locais diferentes, no
ambiente exterior, libertando-se momentaneamente dos
grilhões do tempo, como observador quântico, extrairia
energia da sua rida familiar e investiria a consciência alerta
no domínio desconhecido das possibilidades. Uma vez que
centra a atenção onde centra a energia, se continuar a
orientar a consciência para a rida que conhece, é nessa rida
familiar que investe energia. Mas se a investisse no domínio
desconhecido das possibilidades, para lá do espaço e do
tempo, e se se tornasse antes consciência (um pensamento
no potencial quântico), extrairia uma nova experiência para
si próprio. Quando acede a um estado meditativo, a
consciência subjetiva e livre funde-se com a consciência
universal e objetiva, e planta uma semente num solo de
possibilidades.

O sistema nervoso autônomo, que se auto-organiza, é o elo


de ligação com essa inteligência inata, que executa todas as
funções automáticas que já referi. O

neocórtex não é, de modo algum, o responsável por essas


funções. são os centros inferiores do cérebro abaixo do
neocórtex que gerem tudo subconscientemente.

É com essa inteligência plena de amor que se funde, na


meditação, quando depõe o ego e passa do egoísmo para o
altruísmo, tornando-se pura consciência

— deixa de ser um corpo no ambiente ou no tempo linear e


passa a ser corpo nenhum, pessoa nenhuma, coisa
nenhuma, em lado nenhum e em tempo nenhum. É quando
se torna simplesmente consciência num campo infinito de
possibilidades.

Está no desconhecido. E é no desconhecido que se criam


todas as coisas.

Encontra-se no domínio quântico. Já temos toda a


maquinaria biológica de que precisamos para conseguir esse
feito de nos tornarmos pura consciência.

4. CAPÍTULO 9

Três histórias de transformação pessoal Neste capítulo,


conhecerá algumas pessoas que canalizaram a energia da
consciência para o mundo imaterial para além dos sentidos e
assimilaram repetidamente uma possibilidade, até esta se
materializar nas suas vidas.

5. A história de Laurie
Aos 19 anos. Laurie recebeu o diagnóstico de uma rara
doença degenerativa dos ossos chamada displasia fibrosa
poliostótica, que faz com que o corpo substitua osso normal
por um tecido fibroso mais reles e que torna a estrutura
proteica que protege o esqueleto incaracteristicamente fina
e irregular. O processo de crescimento atípico associado â
síndrome faz com que os ossos inchem, enfraqueçam e,
depois, fraturem. A displasia fibrosa pode ocorrer em
qualquer parte do esqueleto e, no corpo de Laurie,
manifestou-se no fêmur direito, no encaixe da anca direita,
na tíbia direita e nalguns ossos do pé direito. Os médicos
disseram-lhe que não havia cura.

A displasia fibrosa é uma condição genética que, em gerai,


só se manifesta na adolescência. No caso de Laurie, antes de
surgirem os sinais da doença, passou um ano inteiro a
coxear com dores pelo campus universitário, até descobrir
que se tratava de uma fratura femoral. Ficou chocada
quando a informaram de que tinha um osso fraturado,
porque não sofrerá qualquer trauma.

Além de ter um pé anatomicamente maior do que o outro,


até àquela altura, Laurie nunca tinha tido quaisquer
problemas. Levava uma vida relativamente ativa, cheia de
atividades, como corrida, dança e tênis. Quando começou a
coxear, até estava a treinar culturismo.

Após o diagnóstico, a vida de Laurie mudou do dia para a


noite. O cirurgião ortopédico avisou-a de que era frágil e
extremamente vulnerável, e insistiu com ela para que só
andasse com muletas até à cirurgia: um enxerto ósseo,
seguido da inserção de uma haste no osso. Quando
receberam a notícia, Laurie e a mãe passaram uma hora a
chorar na cafeteria do hospital. Era um autêntico pesadelo;

a vida de Laurie, tal como ela a conhecia, parecia ter


acabado abruptamente.
A perceção que Laurie tinha das suas limitações — reais e
imaginárias —

começou a dominar-lhe a vida. Para evitar mais fraturas,


cumpria as ordens do cirurgião à risca e só andava apoiada
em muletas. Teve de desistir do estágio em marketing, que
começara recentemente com um importante fabricante de
Manhattan, e começou a passar os dias em consultas
médicas. O pai insistia que consultasse o máximo de
ortopedistas que pudesse e a mãe, desgostosa, passou
várias semanas a levar Laurie a diferentes médicos.

De cada vez que consultava um médico novo, Laurie


esperava pacientemente por uma opinião médica diferente,
mas acabava sempre por receber a mesma. Em poucos
meses, foi avaliada por dez cirurgiões. O último que
consultou, no entanto, tinha uma opinião diferente: disse a
Laurie que a cirurgia recomendada pelos outros médicos não
ajudaria nada, porque a inserção da haste só reforçaria o
osso afetado na zona mais fraca e acabaria por provocar
mais fraturas na segunda zona mais frágil, acima ou abaixo.
Aconselhou-a a esquecer a cirurgia e a continuar a usar
muletas ou uma cadeira de rodas — ou, simplesmente, a
passar o resto da vida imóvel.

A partir de então, Laurie passava a maior parte do tempo


imóvel, com medo de partir algum osso. Sentia-se
impotente, pequena e frágil, o que lhe provocava muita
ansiedade e a mergulhava numa atitude de
autocomiseração. Um mês depois, voltou para a
universidade, mas manteve-se quase sempre isolada num
apartamento que partilhava com mais cinco mulheres,
cultivando uma impressionante capacidade para disfarçar
uma grave e crescente depressão clínica.

1. Medo do pai
Para Laurie, o pai sempre fora um homem violento. Mesmo
depois de os filhos crescerem, não havia quem escapasse à
sua ira e aos seus punhos rápidos, nos momentos mais
inesperados. Todos se mantinham atentos, com medo das
suas explosões iminentes. Embora Laurie não o soubesse na
altura, o comportamento do pai estava intrinsecamente
associado ao seu estado de saúde.

Os recém-nascidos passam grande parte do tempo no


estado de ondas cerebrais delta. Nos primeiros 12 anos, as
crianças progridem gradualmente para o estado teta e,
depois, para o alfa, antes de alcançarem o beta, que será
dominante na vida adulta. Como já se referiu, os estados de
ondas cerebrais teta

e alfa são altamente sugestionáveis. Como ainda não têm


uma mente analítica para editar ou entender o que lhes
acontece, as crianças pequenas absorvem toda a informação
que recebem das experiências que vivem e codificam-na
diretamente na mente subconsciente. Com essa
sugestibilidade acrescida, quando se sentem
emocionalmente alteradas com alguma experiência, passam
a prestar atenção à causa, seja ela uma pessoa ou uma
coisa, e ficam condicionadas a formar memórias associativas
que ligam a causa à emoção da experiência em si.

Se a causa for um dos pais, com o tempo, a criança


começará a associar as emoções da experiência a essa
pessoa e a considerá-las normais, pois ainda não é capaz de
analisar a situação. É assim que as experiências da infância
precoce se tornam estados de ser subconscientes.

Embora Laurie não o soubesse, quando lhe diagnosticaram a


sua condição, os acontecimentos emocionalmente
carregados que viveu com o pai durante o crescimento
implantaram-se no sistema da memória implícita fora do
alcance da mente consciente e passaram a programar-lhe a
biologia. A reação à ira do pai —

fraqueza, impotência» vulnerabilidade, stress e medo


constantes — passou a fazer parte do sistema nervoso
autônomo, sendo que o corpo memorizou quimicamente as
emoções e o ambiente emitiu sinais para ativar os genes
associados à condição genética. Uma vez que essa resposta
era automática, ela não a podia mudar enquanto
permanecesse encurralada no corpo emocional. Só podia
analisar o estado de ser igual às emoções do passado,
apesar de as respostas necessárias existirem para lá dessas
emoções.

Assim que Laurie recebeu o diagnóstico de displasia fibrosa,


a mãe anunciou à família inteira que a medicina moderna
tinha declarado a filha oficialmente “frágil" — e ela passava
a estar a salvo da violência física do pai.

Embora persistissem os maus-tratos verbais e emocionais


(até o pai morrer, 15

anos depois), ironicamente, a doença protegeu Laurie dos


maus-tratos físicos.

2. Uma identidade cimentada na doença

Essa perversa sensação de segurança que Laurie criou


tornou-se um veículo de sobrevivência para si. Em resultado,
começou a beneficiar de tratamento especial (de que
precisava quase sempre) — cediam-lhe um banco no
autocarro ou no metro em hora de ponta, os amigos ficavam
por ela na fila nos eventos, enquanto ela esperava
calmamente sentada, davam-lhe logo mesa num restaurante
cheio
— e apercebeu-se de que a doença começava a funcionar a
seu favor. A certa altura, recorria muito à sua maleita para
conseguir o que queria. Já era capaz de lidar melhor com um
mundo que antes considerava inseguro. Os benefícios
emocionais de manipular a realidade para obter o que queria
daquele modo tornaram-se muito convenientes e Laurie
recebia muito mais do que realmente precisava para aliviar o
stress do corpo e prevenir lesões. não tardou que a doença
se tornasse a sua identidade.

Em seguida, como que numa adolescência tardia, Laurie


revoltou-se contra a vida que considerava ter-lhe sido
imposta pelos médicos, pelos pais e pelo destino. No
semestre seguinte, após o diagnóstico, entrou num perfeito
estado de negação relativamente à doença. Decidindo
tornar-se a primeira culturista

“manca*, voltou a praticar desporto com total dedicação.


Cegamente obcecada, com enorme esforço e impondo uma
atitude consciente apenas à mente consciente, Laurie
encontrou formas criativas de levantar pesos que não lhe
torceriam os membros.

Julgava que tentando aguentar a dor, melhoraria o estado de


saúde ~

embora, na realidade, o feitiço se tenha voltado contra o


feiticeiro, porque se sentia quase sempre muito mal e com
mais dores. Tal como por vezes acontece com os pacientes
de displasia fibrosa poliostótica, Laurie também desenvolveu
escoliose e sofria diariamente de terríveis dores nas costas.
Com cerca de 20

anos, começou a desenvolver artrite na coluna e não só.

Depois de se formar, apesar do percurso entre a nova casa e


o novo emprego, Laurie tornou-se muito sedentária e ainda
mais isolada. O medo, a ansiedade e a depressão persistiam.
Invejava a maioria dos seus colegas e perdeu amizades e
interesses românticos por viver como os pais idosos e não
como uma jovem adulta.

Com 20 e muitos anos, Laurie apoiava-se numa bengala para


andar, mesmo quando não tinha uma das 12 fraturas graves
que riria a sofrer. Como se não bastasse, também sofreu
microfraturas perigosas. Tinha os ossos tão fracos que
surgiam fraturas mais estressantes por baixo das fissuras
microscópicas, ligando-se a outras zonas de osso
enfraquecido e formando fraturas ainda maiores risíveis em
radiografias.

Aos 30 anos, Laurie já tinha mais problemas na coluna do


que o pai com 72

anos e acabou por envelhecer antes do tempo. Passava dias


a fio na cama e perdia tantos dias de trabalho que foi
obrigada a demitir-se. Deixou os estudos pós-graduados para
depois, porque a escola que a aceitou não tinha um elevador
que funcionasse. Tinha de abdicar de festas, visitas a
museus, compras, viagens, concertos e outras atividades em
que tivesse de andar muito ou estar muito tempo em pé.
Assim, caiu na espiral de pensamento e sentimento de que
já falei:

pensava que era limitada e frágil por dentro e o corpo


manifestava limitação e fragilidade por fora. Quanto mais
vulnerável e fraca se sentia, mais vulnerável e fraca se
tornava — continuando a sofrer fraturas que lhe
consolidavam a crença de ser frágil, reafirmavam a
identidade e validavam o estado de ser.

Além de seguir um regime alimentar adaptado, Laurie


tomava vários suplementos, vitaminas e fármacos para
fortalecer os ossos, mas nada parecia travar as fraturas.
Bastava um passo em falso a subir um lance de escadas ou a
descer do passeio para fraturar um osso. Era como esperar
pelo pesadelo seguinte da série.

Ironicamente, quando não usava muletas nem coxeava,


Laurie parecia perfeitamente saudável. A maioria das
pessoas presumia que a bengala fosse uma excentricidade
sua e muitas não acreditavam que ela realmente sofresse de
uma condição debilitante, o que fazia com que lhe fosse
ocasionalmente mais difícil e frustrante receber o tratamento
especial de que tantas vezes necessitava.

Ao tentar convencer as pessoas de que sofria mesmo de


uma doença, consolidava mais a identidade de pessoa
doente, fixava a intenção de provar que sofria de
incapacidade e ancorava a crença no estatuto de deficiente.
Enquanto todas as outras pessoas pareciam esforçar-se
muito por esconder as suas fraquezas e vulnerabilidades,
Laurie anunciava constantemente as suas.

Despendia muita energia a tentar controlar ao máximo o


ambiente. Prestava muita atenção a tudo o que comia e
bebia, calculando tudo o que consumia.

Media todos os passos que dava ao percorrer o bairro. Até


pesava as compras que trazia do supermercado: 4,5 kg no
máximo, que era também o limite de peso que podia ganhar
sem agravar o problema ósseo.

Era extremamente cansativo, mas era tudo o que Laurie


sabia fazer. O leque de opções ia-se reduzindo, à medida que
Laurie aumentava as suas limitações físicas, na tentativa de
não fraturar mais ossos. Com um estilo de vida cada vez
mais restringido, a mente restringia-se cada vez mais. Os
medos aumentaram, a depressão agravou-se e, a certa
altura, já nem um emprego era capaz de manter.
A mulher que antes corria, dançava e entrava em
competições de culturismo já só podia fazer yoga para
manter a forma e, com 30 e muitos anos, até o hatha yoga
se tornara demasiado intenso para ela. Durante anos, o
exercício físico resumia-se a sentar-se numa cadeira a fazer
exercícios respiratórios (embora, com 40 e poucos anos, o
médico lhe tenha finalmente permitido nadar).

Laurie tentou tratar-se com várias terapias, medicina


holística, cura energética, cura sonora e homeopatia —
sempre em busca de soluções que lhe eram exteriores.
Houve ocasiões em que se sentiu melhor depois de uma
sessão de cura energética e foi direita ao ortopedista pedir
para fazer radiografias —

mas acabava sempre por receber os mesmos resultados e


sofrer uma desilusão.

Pensava: Talvez nunca consiga melhor do que isto. Todas as


manhãs acordava assoberbada, atemorizada e convencida
de que não seria capaz de enfrentar o que o futuro lhe
reservava.

2. Laurie descobre o que é possível

Conheci a Laurie em 2009, depois de ela ter visto O Que


Raio Sabemos Nós? e ter ficado fascinada com a ideia de
uma pessoa poder criar uma vida totalmente nova. Estava a
jantar antes de um workshop que ia fazer num centro de
retiro perto de Nova Iorque e começamos a falar sobre os
cursos que eu organizava sobre mudança pessoal. Ela
inscreveu-se logo no próximo, que teria lugar em agosto
desse ano.

Quando foi pela primeira vez a um desses eventos, Laurie


ouviu dizer que era totalmente possível alterar o cérebro, os
pensamentos, o corpo, o estado emocional e a expressão
genética. No workshop, falava sobre mudança física, mas
Laurie tinha fortes crenças sobre a sua doença e o seu corpo,
e as emoções bem ancoradas no passado. não tinha
intenção de curar o corpo, sobretudo porque nem sequer
acreditava nessa possibilidade. Só estava ali para se sentir
melhor por dentro.

Laurie aplicou imediatamente os princípios que eu ensino o


melhor que podia, apesar de aparentemente não pode
sentirse diferente por sua própria escolha. A primeira coisa
que fez, quase logo a seguir a esse primeiro curso de fim de
semana, foi deixar de partilhar o seu diagnóstico com as
outras pessoas.

Muito embora não fosse capaz de controlar as emoções,


percebeu que ainda controlava o que dizia em voz alta.
Desse modo, passou a só reconhecer o seu estado em último
caso, se tivesse de pedir uma cadeira numa festa ou de
explicar a um potencial namorado porque não podia ir
passear com ele a pé. Laurie preferiu centrar a atenção no
seu futuro rumo: na direção de um eu interior feliz, de uma
profunda ligação a uma fonte divina que desconhecia, de um
maravilhoso emprego em que era eximia, de um parceiro
para a vida e de relações íntimas e saudáveis com amigos e
familiares.

Em seguida, Laurie concentrou-se na tarefa de alterar


simples comportamentos. Estava atenta aos pensamentos e
às palavras, fazendo por rejeitar continuamente os padrões
velhos e repetitivos que até então seguira.

Praticava as meditações e fazia os meus cursos. Para atribuir


significado ao que fazia, relia religiosamente os
apontamentos que tomava nos cursos e mantinha o

contacto com o maior número de colegas possível. Com o


tempo, Laurie começou a sentirse melhor, mais firme, mais
capaz e mais forte durante uma pequena parte do dia. Dizia
para si própria “muda” 20 vezes por dia, sempre que
começava a recuar ao passado. Embora ainda fosse
assaltada centenas de vezes por pensamentos negativos,
durante o dia, aos poucos, Laurie foi criando novos
pensamentos que escrevia e em que tentava acreditar
piamente.

Esforçou-se muito, mas foram precisos quase dois anos para


realmente sentir esses novos pensamentos. Em vez de se
entregar à frustração inerente a essa espera, Laurie
recordava-se de que se tinha demorado tanto tempo a criar
a doença pelo estado emocional, certamente também
demoraria algum tempo para a descriar. Além disso, sabia
que teria de passar pela morte biológica, neurológica,
química e genética do velho eu, antes de ver surgir o novo
eu.

Antes de melhorarem, as circunstâncias do seu ambiente


exterior pioraram.

Uma inundação em casa e outras situações que surgiram no


prédio onde vivia deram origem a novos problemas de
saúde. Laurie contou-me que sempre que se sentava para
meditar e ensaiar a vida ideal, sentia que estava a mentir a
si própria

— e, depois, ao abrir os olhos, sentia-se esbofeteada pelas


circunstâncias em que vivia. Aconselhei-a a deixar de definir
a realidade com os sentidos e a persistir na travessia do rio
da mudança.

Laurie aparecia nos workshops ainda a coxear, umas vezes


rabugenta, outras grata, mas sempre esforçada. Além disso,
reunia o máximo de colegas possível para meditar com eles.
Sem ter praticamente nada de agradável na rida, Laurie
pensava: não quero saber! não me custa nada passar uma
hora por dia refugiada por detrás das minhas pálpebras,
onde a realidade é diferente, o meu corpo não sente dores,
tenho um lar seguro e tranquilo e mantenho uma relação
plena c de amor com o mundo exterior, os meus amigos e a
minha família.

No início de 2012, durante um dos meus workshops


progressivos, Laurie sentiu um aprofundamento significativo
na experiência de meditação. Sentiu um abalo literal e
figurativo no âmago. Fisicamente, começou por ser
perturbador, mas acabou por ser um alívio. Tentando
manter-se sentada na cadeira, sentia o corpo a estremecer,
o rosto a contorcer-se e os braços a erguer-se.

Emocionalmente, sentiu-se percorrida por uma alegria


inexplicável. Chorou, riu-se e deu por si a emitir sons sem
saber como. O medo e o controlo de que antes se servia
para manter a compostura estavam a desaparecer. Pela
primeira vez, sentiu uma presença divina e percebeu que já
não estava sozinha.

Contou-me: “Senti uma coisa, uma pessoa, uma presença


divina. Era uma consciência que, ao contrário do que
julgava, tinha pleno conhecimento da minha existência e se
preocupava com o meu bem-estar. Tinha estado sempre
atenta a mim. Essa noção representou uma mudança
avassaladora.” Toda a

energia que antes mobilizava para controlar os movimentos


físicos e a vida em geral tinha finalmente começado a
descontrair e a soltar-se, e a energia que antes canalizava
para manter o controlo começou a libertar-se.

No evento seguinte, reparei que Laurie já caminhava sem


coxear e sem a ajuda de uma bengala. Estava feliz,
sorridente e bem-disposta, em vez de irritada, carrancuda e
a contorcer-se com dores. Transmutava o medo em coragem,
a frustração em paciência, a dor em alegria e a fraqueza em
força.

Começava a mudar — por dentro e por fora. Livre do vício


dessas emoções limitadoras» o corpo já vivia menos no
passado e permitia-lhe avançar para um novo futuro.

No início da primavera de 2012, numa consulta de rotina, o


ortopedista de Laurie informou-a de que cerca de dois terços
do comprimento de uma fratura que ela tinha no fêmur
desde os 19 anos (uma fratura que aparecia sempre nas
centenas de radiografias que já tinha feito) desaparecera.
não tinha explicação para esse fenômeno e aconselhou-a a
começar a andar numa bicicleta fixa dez minutos por dia,
duas vezes por semana. Era música para os seus ouvidos;
Laurie assim fez.

3. Êxitos e reveses

Todo o esforço de Laurie para fazer a travessia do rio da


mudança começava a dar os seus frutos. Finalmente, recebia
notícias reveladoras de que estava a fazer progressos físicos.
Todos os dias, ao superar o corpo, o ambiente e o tempo,
Laurie superava também a personalidade que a prendia à
realidade exterior presente e passada, o corpo com vícios e
hábitos emocionais enraizados, e o futuro previsível que
sempre esperara com base nas memórias do passado. Todo
o empenho para superar a mente analítica, alterar as ondas
cerebrais e chegar a um estado mais sugestionável»
encontrar o momento presente e aceder ao sistema de
programação que a alterou emocionalmente no início da sua
vida estava por fim a traduzir-se na sua mudança.

Laurie começou a acreditar realmente que a mente lhe


curava o corpo só com o poder do pensamento. E a velha
fratura que antes se associava ao velho eu estava a
cicatrizar, porque ela se estava a transformar literalmente
noutra pessoa, lá não ativava e integrava os circuitos
cerebrais ligados à velha personalidade, porque já não
pensava nem agia da mesma forma. Deixou de condicionar o
corpo à mesma mente, revivendo o passado com as mesmas
emoções. Estava a

“desmemorizar" o seu velho eu e a recordar um novo — ou


seja, a ativar e a integrar novos pensamentos e ações no
cérebro, alterando a mente e ensinando emocionalmente o
seu futuro eu ao corpo.

Laurie emitia sinais diferentes a novos genes na sua


meditação diária, alterando simplesmente o estado de ser.
Esses genes produziam novas proteínas que curavam as
proteínas responsáveis pelas fraturas da sua “doença”. Com
o que aprendeu nos workshops, percebeu que as células
ósseas precisavam de receber os sinais certos da mente,
para poderem desativar o gene da displasia fibrosa e ativar o
gene que produzia uma matriz óssea normal.

Laurie explicou:

Sabia que, com os anos, todas as fraturas se tinham


manifestado estruturalmente a partir da expressão proteica
mórbida das minhas células ósseas, porque vivia com as
emoções do modo de sobrevivência, como o medo, a
vitimização e o sofrimento — e sentia-me fraca. Tinha poder
suficiente para manifestar perfeitamente a fraqueza no
corpo. Programara os genes para se manterem ativos,
porque memorizara subconscientemente essas emoções no
corpo. E, tal como a mente, o corpo vivia sempre no
passado. Então, apercebi-me de que, uma vez que os ossos
são feitos de colagênio — uma proteína -, se quisesse que as
minhas células ósseas produzissem colagênio saudável, teria
de aceder ao sistema nervoso autônomo, superar a mente
analítica, penetrar na mente subconsciente, reprogramar
repetidamente o corpo com nova informação e permitir-lhe
receber novas ordens todos os dias. Quando recebi boas
notícias, senti que já estava a meio do rio da mudança.

Laurie continuou a fazer meditação e a frequentar os meus


workshops. não deixava de ter dores físicas, mas a
frequência, a intensidade e a duração da dor reduziram
consideravelmente. Mudou tanto quanto pôde. Mudou de
ginásio para mudar de ambiente. Sempre que se lembrava,
punha o desodorizante primeiro do lado direito e não do
esquerdo ou dobrava os braços com o esquerdo à frente e
não o direito, como era hábito. Passou a sentar-se noutra
cadeira em casa; a dormir no outro lado da cama (apesar de
assim se ver obrigada a atravessar o quarto para se deitar e
levantar).

E relatou: “Por mais ridículo que possa parecer, decidi


simplesmente dar ao corpo o máximo de sinais novos e
diferentes que pudesse e, não sendo muito realista pensar
que poderia mudar para um casarão nos Hamptons, tinha de
me contentar com essas pequenas coisas.”

Laurie chegou mesmo a espalhar mensagens por todo o seu


ambiente para se lembrar a si própria de que tinha de se
manter consciente e de convocar pensamentos e
sentimentos sobre o futuro. Escrevia coisas como “Sou
grata"

“Ergue-te!” e “Ama!" em fita de pintor, que colava nas


costas das portas. Fixou um post-it no painel do carro a dizer:
“Os teus pensamentos têm um poder incrível. Escolhe-os
bem.” Já conhecia bem o poder das notas e afirmações
encorajadoras, mas nunca foi capaz de acreditar nelas,
porque não sabia mudar as crenças.

No final de janeiro de 2013. numa nova consulta de rotina, o


ortopedista disselhe pela primeira vez em 28 anos que ela
mio apresentava quaisquer vestígios de fraturas — nenhum.
Tinha os ossos inteiros e impecáveis. Laurie escreveu-me a
dizer: “não tenho palavras para descrever a alegria que isto
me deu. Já me sentia animada e cheia de poder. Sei que já
fiz mais de meio caminho do rio da mudança.”

As células ósseas já estavam programadas para produzir


novas proteínas saudáveis. O sistema nervoso autônomo
restaurava o equilíbrio físico, químico e emocional no corpo.
Fazia o trabalho de cura por ela, através de uma inteligência
superior em que sabia poder confiar plenamente e à qual já
se entregava. O

corpo continuava a responder a uma nova mente.

Um mês depois da consulta de ortopedia, Laurie foi ao


Arizona fazer um dos meus workshops avançados. Uma hora
depois de chegar, recebeu um telefonema do assistente do
médico a dizer-lhe que, segundo as análises de sangue e
urina, a doença ainda estava bastante ativa. Pela primeira
vez em muitos anos, o médico aconselhava-a a retomar a
terapia de bifosfonato intravenoso.

Laurie ficou despedaçada. A radiografia dera-lhe a impressão


de que estava novamente bem, mas as análises indicavam o
contrário. Em poucos segundos, perdeu a perspetiva e
convenceu-se de que tinha fracassado. Quando me deu a
notícia, tranquilizei-a, garantindo-lhe que o corpo ainda vivia
no passado e só precisava de mais algum tempo para
apanhar a mente. Aconselhei-a a continuar a fazer o seu
trabalho durante mais uns meses e, depois, a repetir as
análises.

Inspirada por algumas pessoas dos nossos workshops que


tinham mudado o estado de saúde, Laurie foi para casa e
dedicou-se à sua prática com sinceridade, sentindo mais
nítida e intensamente a vida que poderia ter na meditação.
Deixou de se imaginar com ossos cicatrizados, passando
apenas a imaginar-se bem, no geral — com vitalidade, brilho,
resiliência, juvenilidade e energia. Ensaiou mentalmente e
assimilou emocionalmente ter tudo o que desejava, como
um corpo funcional e capaz de se deslocar bem. Disse a si
própria que a velhota que fora dos 19 aos 47 anos não
passava de uma história antiga.

4. Mente nova, corpo novo

Nos meses seguintes, Laurie começou simplesmente a


sentirse mais feliz, alegre, livre e saudável. Já pensava mais
claramente sobre o futuro. Raramente sentia dores no corpo
e caminhava sem apoios.

Em maio de 2013, sentia-se apreensiva perante a


possibilidade de repetir as análises e adiou a consulta para
junho. Ao conversar sobre as suas hesitações e ansiedades
com uma colega experiente dos workshops, esta pediu-lhe
que pensasse em coisas boas que pudesse imaginar
relacionadas com a ida ao hospital para fazer as análises.
Nessa altura, Laurie apercebeu-se de que tinha muitos
recursos emocionais positivos e animadores em que se
apoiar. Então, começou a recitar uma longa lista em que
referia coisas como a limpeza do hospital, a amabilidade do
pessoal e o facto de ser um local agradável para receber
cuidados. Era precisamente dessa mudança que estava a
precisar.

No dia da consulta, a caminho do hospital, Laurie agradeceu


a luz do sol, a fluidez do trânsito, o carro, a perna que lhe
permitia conduzir, a visão perfeita, a facilidade com que
encontrou lugar para estacionar, e daí por diante. Tal como
me descreveu posteriormente, “entrei, dei o meu nome,
fechei os olhos e sentei-me na sala de espera a meditar até
me chamarem. Urinei para um boião, que entreguei à
enfermeira, e saí, dando graças pelo simples facto de
caminhar. E
desapeguei-me do resultado — completamente. Sentia-me
em paz, bem no fundo de mim, em relação a qualquer
resultado. O que me permitia esquecer-me totalmente disso
era o facto de não esperar nada. Sentia-me não só feliz, mas
sobretudo obsessivamente grata. Deixei de analisar e passei
apenas a confiar.”

Lembrava-se de eu lhe ter dito que, se começasse a analisar


como e quando a cura ocorreria, retomaria o velho eu,
porque o novo eu jamais teria essa insegurança. Laurie
continuou: “E, então, sem motivo algum, sentia-me
simplesmente grata no momento presente antes da
experiência em si. não estava à espera dos resultados para
me sentir feliz ou grata; encontrava-me num estado de
autêntica gratidão e apaixonada pela vida como se isso já
tivesse acontecido.

Já não precisava de uma coisa exterior a mim para me sentir


feliz. Já me sentia bem e feliz, porque qualquer coisa no meu
interior estava melhor e mais completa.”

Já não media o êxito, a satisfação ou a segurança por


parâmetros externos em “grande escala” — um rendimento,
uma casa, um companheiro, um negócio,

um filho, nem sequer um trabalho voluntário de que se


sentisse particularmente orgulhosa. Mas contava com o
amor dos amigos e familiares com quem tinha afinidade. E
sentia um amor renovado por si própria. Apercebera-se de
que antes não tinha autoestima — apenas autointeresse.
Mais tarde, disseme que nunca teria conseguido fazer essa
distinção no anterior estado mental limitado. Sentia-se
bastante contente com ela própria e com a vida. “E pela
primeira vez desde que me lancei nesta viagem, não queria
saber das análises. Sentia-me feliz comigo própria.”
Duas alegres semanas depois, chegaram os resultados. O
assistente do médico informou Laurie: uOs seus resultados
são perfeitamente normais. Obteve um 40. Os valores estão
abaixo do nível elevado e anormal de 68 de há cinco meses.”

Laurie atravessara o rio e estava na margem de uma vida


nova. Já não tinha quaisquer vestígios do passado no corpo.
Estava livre — renascida.

Tal como me viria a contar:

De repente, percebi que a minha identidade como


“paciente” e

“pessoa com uma doença” se tinha tornado mais forte do


que qualquer outro papel que tivesse desempenhado na
vida. Fingia ser essa pessoa, apesar de saber que não era.
Mobilizava toda a atenção e energia nessa identidade de
paciente e não na identidade de mulher, namorada, filha,
funcionária ou, até, de pessoa feliz e saudável. Agora sei que
não tinha energia para ser outra pessoa, se não desviasse a
atenção do eu antigo, com a sua velha personalidade, e o
reinvestisse num eu novo, com uma personalidade diferente.
Sinto-me muito grata por já ser eu e não essa pessoa!

Laurie já não tem remorsos ou ressentimentos significativos,


nem sente perda em relação ao passado. Segundo diz: “não
gostaria de julgar o meu passado, ter rancor dele ou sentir-
me desprezada por ele, porque, se o fizesse, não me sentiría
tão bem como me sinto agora. É como se a minha antiga
condição até fosse uma bênção, porque me fez ultrapassar
as minhas limitações e apaixonar-me por quem sou agora.
Estou em paz. Estou realmente mudada a nível biológico e
celular. Sou a prova viva de que a mente pode curar o corpo
e podem acreditar que ninguém ficou mais surpreendido do
que eu.”
6. A história de Candace

Com menos de um ano, a relação de Candace não estava a


funcionar. Ao fim de alguns meses juntos, ela e o namorado
já não faziam outra coisa senão discutir, acusar-se e culpar-
se mutuamente, e desconfiar um do outro. Sempre com
ciúmes e insegurança, a comunicação entre eles era, na
melhor das hipóteses, frustrante. Ambos eram perseguidos
por expectativas que o outro jamais poderia satisfazer.
Sofrendo acessos de raiva como nunca tivera antes,
Candace deu por si em violentas disputas, aos berros e com
ataques de fúria incontroláveis. Esses ataques faziam-na
sentirse com menos valor, mais vitimizada e insegura. Era
um comportamento totalmente novo para ela; até então,
nunca fora uma pessoa revoltada, frustrada ou transtornada
e, nos seus 28 anos de rida, nunca tinha tido nenhum ataque
de fúria.

Embora soubesse no seu intimo que manter-se naquelas


circunstâncias não a favorecia nada, Candace era incapaz de
se libertar emocionalmente daquela relação tão pouco
saudável. Contudo, viciada nas emoções de stress, deixou
que essa se tornasse a sua identidade. Era a sua realidade
pessoal que criava essa nova personalidade. O ambiente
exterior de Candace controlava-lhe os pensamentos, as
ações e os sentimentos. Passara a ser uma vitima apanhada
nas teias da sua própria vida.

Permeada da potente energia das emoções do modo de


sobrevivência, Candace começou a funcionar como um
viciado, sempre a precisar do surto emocional daqueles
sentimentos e convicta de que o que a fazia sentir, pensar e
reagir de determinada forma era qualquer coisa externa. Era
incapaz de pensar ou agir independentemente do que
sentia. Aprisionada naquele estado emocional» recriava os
mesmos pensamentos, escolhas, comportamentos e
experiências vezes sem conta.

Na verdade, Candace utilizava o namorado e todas as


condições do mundo exterior para confirmar a pessoa que
julgava ser. A necessidade de sentir revolta, frustração,
insegurança, desmerecimento, medo e vitimização
associava-se àquela relação. Apesar de não lhe servir os
grandes ideais, tinha demasiado medo da mudança para
resolver o problema. Aliás, de tal modo se acorrentou a
essas emoções que lhe confirmavam a identidade, que
preferia lidar constantemente com os seus sentimentos
tóxicos do que abandonar o conhecido para se lançar no
desconhecido. Candace começou a crer que ela era as suas
emoções e memorizou uma personalidade baseada no
passado que criara.

Cerca de três meses depois de as coisas começarem


realmente a descambar, o corpo de Candace deixou de
conseguir aguentar o stress desse estado

emocional intensificado e o cabelo começou a cair-lhe em


tufos; passadas algumas semanas, já tinha perdido quase
um terço. Além disso, sofria de enxaquecas acentuadas,
fadiga crônica, problemas gastrointestinais, falta de
concentração, insônia, acréscimo de peso, dores constantes
e muitos outros sintomas debilitantes — todos a destruí-la
pela calada.

Jovem intuitiva, Candace sentia que aquela “doença” era


autoinfligida e resultava dos seus problemas emocionais.
Bastava pensar na relação para ficar fisiologicamente
desequilibrada, como que preparando-se para outro conflito.

Candace ativava as hormonas do stress e o sistema nervoso


autônomo só com o poder do pensamento. E quando
pensava no parceiro, falava ou se queixava da relação com a
família e os amigos, condicionava o corpo ã mente dessas
emoções. Era a suprema ligação corpo-mente e, uma vez
que não conseguia desativar a resposta do stress, começou
a infrarregular os genes. Os pensamentos punham-na
literalmente doente.

Aos seis meses de relação, Candace ainda vivia mergulhada


na mais profunda disfuncionalidade, com níveis de stress
muito elevados. Muito embora já soubesse que os sintomas
do corpo eram um alerta, continuou subconscientemente a
escolher a mesma realidade, que já era o seu estado de ser
normal. Fustigando o corpo com as emoções negativas do
modo de sobrevivência, Candace emitia os piores sinais aos
genes errados. Sentia que estava a morrer lentamente de
dentro para fora e sabia que tinha de tomar as rédeas da
vida, mas não fazia ideia de como o fazer. Como não tinha
coragem para abandonar a relação, permaneceu nela mais
de um ano, vivendo continuamente atolada em
ressentimento e revolta. Tivesse ou não razão para tais
sentimentos, quem pagou foi o corpo de Candace.

3. Candace paga o preço

Em novembro de 2010, Candace acabou por consultar o


médico que lhe diagnosticou a doença de Hashimoto
(também conhecida como tiroidite de Hashimoto ou tiroidite
linfócita crônica), uma doença autoimune em que o sistema
imunitário ataca a glândula da tiroide.

Marcada por um quadro de hipotiroidismo (tiroide subativa),


a doença provoca também acessos de hipertiroidismo
(tiroide superativa) e pode provocar os seguintes sintomas:
aumento de peso, depressão, mania, sensibilidade ao calor e
ao frio, dormência, fadiga crônica, ataques de pânico, ritmo
cardíaco anômalo, colesterol elevado, hipoglicemia,
obstipação, enxaquecas, fraqueza muscular, rigidez
articular, cãibras, perda de memória, problemas de visão,
infertilidade e queda de cabelo — e Candace tinha muitos
deles.

Na consulta, o endocrinologista disselhe que se tratava de


uma condição genética e que não se podia fazer nada.
Passaria o resto da vida a sofrer da doença de Hashimoto e
precisaria de tomar medicação para a tiroide
indefinidamente, pois a contagem de anticorpos nunca se
alteraria. Embora Candace viesse a descobrir que essa
doença não existia no historiai da família, o seu destino
parecia traçado.

Ter um diagnóstico concreto foi para Candace uma dádiva


inesperada de consciencialização. Precisava claramente de
despertar e aquele era o sinal. O

colapso físico do corpo fizera-a refletir sobre o passado e


discernir a verdade da pessoa que era naquele momento.
Apercebeu-se de que era a única responsável para a doença
autoimune que a destruía aos poucos, física, emocional e
mentalmente. Levava a rida em constante estado de sítio. A
energia do corpo era totalmente mobilizada para a
segurança no ambiente exterior e não sobrava nada para o
ambiente interior. O sistema imunitário já não conseguia
suster-se.

Apesar do terrível medo da mudança e do desconhecido que


sentia, cinco meses depois, Candace abandonou a relação.
Estava plenamente ciente de que era uma relação mórbida
que não a beneficiava em nada. Perguntava-se: Quais são as
minhas opções? Ficar na disfunção e mergulhar ainda mais
nas trevas?

Ou abrir-me à liberdade e à possibilidade? £ a minha


oportunidade para ter uma vida nova e diferente.
A adversidade de Candace tornou-se a gênese do seu
processo pessoal de evolução, reflexão e expansão. Deu por
si ã beira do abismo» com vontade de saltar para o
desconhecido. A decisão de saltar e mudar tornou-se uma
experiência apaixonante. E foi o que fez: saltou para o que
entendia ser um poço sem fundo de possibilidades e
potenciais, compelida pelo desejo de deixar finalmente de
fazer o que não a beneficiava para poder reescrever o código
biológico.

Foi um ponto de viragem na vida de Candace. Uma vez que


tinha lido os meus dois livros anteriores e frequentado um
dos meus workshops iniciais, sabia que se assimilasse o
diagnóstico e as emoções de medo, preocupação, ansiedade
e tristeza que ele inspirava, passaria a autossugestionar-se e
a acreditar unicamente em pensamentos equiparáveis a
esses sentimentos. Podia tentar ter pensamentos positivos,
mas o corpo não estava bem e isso acarretava
consequências reais. Essa escolha seria o placebo errado e o
estado de ser errado.

Assim, Candace preferiu não aceitar a doença. Rejeitou


educadamente o diagnóstico, recordando-se de que a mente
que cria a doença é a mente que cria a saúde. Sabia que
tinha de alterar as suas crenças acerca da condição que a
comunidade médica lhe atribuíra. Candace optou por não ser
sugestionável relativamente aos conselhos e pareceres do
médico, porque não se sentia

atemorizada, vitimizada nem triste.

Pelo contrário, sentindo-se otimista e entusiasmada,


começou a formular novos pensamentos que lhe permitiam
discernir novas possibilidades. não aceitou o diagnóstico, o
prognóstico, nem o tratamento; não acreditou
precipitadamente no resultado ou destino mais prováveis;
nem se entregou permanentemente ao diagnóstico ou ao
plano de tratamento. não condicionou o corpo a esse pior
cenário futuro, não esperou o mesmo resultado que todas as
outras pessoas esperavam, nem atribuiu o mesmo
significado que todas as outras pessoas atribuíam àquela
doença. Tinha outra atitude, portanto, estava noutro estado
de ser.

4. Candace arregaça as mangas

Muito embora não aceitasse a doença, Candace ainda tinha


muito trabalho pela frente. Sabia que para alterar a crença
sobre o estado de saúde, teria de fazer uma escolha com
uma amplitude energética superior aos programas
integrados no cérebro e aos vícios emocionais do organismo,
para que o corpo pudesse responder a uma nova mente. Só
então poderia sentir a mudança energética que lhe
permitiría reescrever os programas subconscientes e apagar
o passado a nível genético e neurológico — e foi
precisamente isso que começou a acontecer.

Candace já me tinha ouvido dizer tudo isso e conhecia


intelectualmente o material, mas nunca assimilara a
informação pela experiência pessoal. No primeiro workshop
que frequentou, depois de receber o diagnóstico, parecia
exausta e estava sempre a adormecer na cadeira. Percebia
que estava com dificuldade.

No workshop seguinte, há mais de um mês que já tomava


medicação para regular o desequilíbrio químico provocado
pela disfunção da tiroide e mostrava-se mais alerta e
interessada. Ficou muito inspirada com as histórias que
contei nesse fim de semana. Quando me ouviu dizer que
ninguém é vítima das circunstâncias do mundo exterior e
que efetivamente ocorrem curas invulgares, decidiu tornar-
se o sujeito do seu próprio projeto científico.
Candace embarcou nesta viagem. Com os conhecimentos de
epigenética e neuroplasticidade que adquiriu nos meus
workshops, percebeu que não era vítima da doença e decidiu
ser pró-ativa. Atribuiu outro significado ao futuro e fixou uma
intenção diferente. Acordava todos os dias às 4h30 para
meditar e começou a condicionar emocionalmente o corpo a
uma nova mente. Empenhou-se na busca do momento
presente, do qual sentiu falta.

Com vontade de ser feliz e saudável, Candace esforçou-se


muito para recuperar a vida. Debateu-se com algumas
dificuldades iniciais, sentindo-se

muito frustrada por não conseguir permanecer muito tempo


quieta. Treinado para ser a mente da frustração, da revolta,
da impaciência e da vitimização, é evidente que o corpo se
rebelava. Como se estivesse a domar um animal
indisciplinado, Candace insistia em mantê-lo ancorado no
momento presente e, ao fazê-lo, recondicionava-o a uma
nova mente e libertava-se mais um pouco dos grilhões do
vício emocional.

Nas suas meditações diárias, Candace esforçava-se por


superar o corpo, o ambiente e o tempo. Quando terminava,
recusava-se a ser a mesma pessoa que era quando se
sentara a meditar, porque a velha Candace era
quimicamente viciada nas circunstâncias exteriores, estava
sempre revoltada e frustrada. Já não queria ser essa pessoa.
Ouvia as meditações, copiava um novo estado de ser e não
parava enquanto não se sentisse apaixonada pela vida —
num verdadeiro estado de gratidão sem um motivo
específico.

Candace aplicava todo o conhecimento que tinha adquirido


nos meus workshops, ouvido nos meus CD, lido nos meus
livros (leu-os todos mais do que uma vez) e estudado a partir
dos apontamentos que tirara. Integrava novas informações
no cérebro em preparação para uma nova experiência de
cura. A certa altura, sentia que tinha cada vez mais
capacidade não só para parar de ativar e integrar as velhas
ligações neurais de revolta, frustração, ressentimento,
arrogância e desconfiança, mas também para começar a
ativar e a integrar novas ligações neurais de amor, alegria,
compaixão e bondade. Assim, sabia que podava as velhas
ligações e fazia crescer novas. E quanto mais força mental
aplicava, mais se transformava.

Com o tempo, começou a sentirse incrivelmente grata por


estar viva, apercebendo-se de que onde existisse harmonia,
não poderia subsistir incoerência. Dizia para si própria: não
sou a velha Candace, nem confirmo mais essa existência.
Persistiu meses a fio. Se desse consigo a resvalar para esse
menor denominador comum, revoltada ou frustrada com as
condições do mundo exterior, doente ou infeliz, apressava-se
a fazer uma mudança consciente. Com essa célere mudança
de estado de ser, encurtava os períodos em que essas
emoções se apoderavam dela, para se sentir menos
temperamental, melancólica e parecida com a velha
personalidade.

Por vezes, Candace sentia-se tão mal que nem tinha vontade
de sair da cama, mas, mesmo assim, levantava-se e
meditava. Convencia-se de que sempre que transmutava
essas emoções inferiores em emoções superiores» afastava-
se biologicamente do passado e preparava o cérebro e o
corpo para um novo futuro.

A certa altura, apercebeu-se do valor do seu trabalho interior


e passou a fazê-lo com menos esforço, por o considerar uma
dádiva.

Graças à sua persistência diária» Candace depressa verificou


uma enorme
mudança e melhoria. Deixando de ver o mundo com uma
mente cheia de medo e frustração, para passar a vê-lo pelas
lentes da compaixão, do amor e da gratidão, começou a
comunicar de outra forma com as pessoas. Além disso,
começou a ter mais energia e a pensar com mais clareza.

Candace apercebeu-se de que já não reagia do mesmo modo


às condições habituais da sua vida, porque já não tinha no
corpo as velhas emoções baseadas no medo. Superava as
reações instintivas, porque já entendia que o que a
perturbava não eram as pessoas ou as condições, mas sim o
que ela própria sentia em relação às mesmas. Estava a
libertar-se.

O processo de mudança implicou, em certa medida, uma


tomada de consciência dos pensamentos inconscientes que
se esgueiravam sem ela se aperceber, durante o dia. Nas
meditações, tomou a firme decisão de não os deixar mais
passar despercebidos. Nunca mais se permitiria reassumir os
comportamentos e hábitos do seu velho eu. Apagou o
quadro negro a nível biológico, neurológico e genético,
deixando-o limpo para receber um novo eu, e o corpo
começou a libertar energia. Por outras palavras, passava de
partícula a onda, libertando as emoções armazenadas como
energia no organismo. O corpo já não vivia no passado.

Com essa energia que libertara, Candace começou a ver a


paisagem de um novo futuro. E perguntou-se: Como me
quero comportar? Como me quero sentir? Como quero
pensar? Levantando-se todos os dias, durante meses, num
estado de graça, dizia emocionalmente ao corpo que o novo
futuro já tinha chegado, emitindo sinais diferentes a novos
genes e restabelecendo a homeostase. No extremo oposto
da revolta, Candace encontrou compaixão; no extremo
oposto da frustração» paciência e gratidão; e no extremo
oposto da vitimização» uma criadora, à espera de que lhe
permitissem criar alegria e bem-estar. Tinha a mesma
energia intensa de ambos os lados, mas já era capaz de a
libertar, passando de partícula a onda e de sobrevivente a
criadora.

5. Êxito, doce êxito

Sete meses depois do diagnóstico, Candace foi a uma


consulta e o médico ficou espantado com a mudança que
testemunhou. As análises ao sangue estavam ótimas. Na
fase inicial de exames que tinha feito em fevereiro de 2011,
a hormona estimulante da tiroide (HET) estava nos 3,61 (um
valor elevado) e a contagem dos anticorpos nos 638 (um
grande desequilíbrio). Em setembro de

2011, a HET caíra para os 1,15 (um valor normal) e a


contagem dos anticorpos para 450 (um valor saudável),
apesar de ela já não tomar medicação. Candace curara-se
em menos de um ano.

O médico queria saber o que é que ela tinha feito para


conseguir resultados tão bons. Parecia demasiado bom para
ser verdade. Candace explicou que sabia que tinha sido ela
quem criara o seu estado de saúde e que, por isso, decidira
fazer uma experiência em si própria para o descriar. Disse ao
médico que, meditando e mantendo um estado emocional
elevado todos os dias, tinha emitido epigeneticamente sinais
a novos genes, em vez de deixar que as suas emoções
mórbidas continuassem a emitir sinais aos velhos genes.
Explicou que trabalhara regularmente na pessoa que queria
ser e que deixara de responder a todos os estímulos do
ambiente exterior, como um animal no modo de
sobrevivência: a lutar, a fugir, aos murros e pontapés. À sua
volta, tudo se mantinha essencialmente igual; ela apenas
tinha passado a responder de uma forma que lhe era mais
benéfica.
Abismado, o médico comentou: “Quem me dera que todos
os meus pacientes fossem assim, Candace. A sua história é
absolutamente incrível.”

Candace não sabe realmente como se deu a cura. Nem


precisa. Sabe apenas que se tornou outra pessoa.

Pouco depois disso, jantei com Candace, já ela não tomava


medicação nem sentia quaisquer sintomas há meses. Tinha
uma saúde fantástica, o cabelo crescera novamente e
sentia-se muito bem consigo própria. não parava de dizer o
quanto se sentia apaixonada pela vida presente.

Ri-me e observei: “Estás apaixonada pela rida e ela


corresponde-te. Deves estar apaixonada pela rida — foste tu
que a criaste, para ser assim, todos os dias, durante meses!”

Candace explicou-me que se tinha limitado a confiar num


domínio infinito de possibilidades, plenamente consciente de
que qualquer coisa para além dela a ajudava a curar-se.
Bastava-lhe ir para além dela e aceder ao sistema nervoso
autônomo, para aí plantar insistentemente as sementes da
sua nova vida. Sem saber como, as coisas aconteceram — c
quando aconteceram, passou a sentirse melhor do que
nunca.

A nova rida de Candace era completamente diferente da


vida que tinha, quando lhe haviam diagnosticado a doença
de Hashimoto. É sócia num programa de desenvolvimento
pessoal que ensina as pessoas a desenvolverem-se e
trabalha numa empresa. Tem uma relação de amor, fez
novas amizades e conseguiu novas oportunidades
profissionais. Uma nova personalidade acaba por dar origem
a uma nova realidade pessoal.

O estado de ser é uma força magnética que atrai eventos ao


seu nível,
portanto, quando se apaixonou por si própria, Candace
atraiu uma relação de amor. Como se sentia cheia de valor,
tinha respeito por si e pela vida na sua totalidade,
começaram a surgir as condições necessárias para poder
contribuir, ser respeitada e marcar uma diferença no mundo.
E quando assumiu uma nova personalidade, a velha passou
à história. A nova fisiologia conduziu-a a níveis superiores de
alegria e inspiração — e a doença passou a pertencer à
velha personalidade. Candace era outra pessoa.

Ela não ficou viciada na alegria, deixou apenas de estar


viciada na infelicidade. Quando começou a sentir mais
felicidade, percebeu que há sempre mais beatitude, mais
alegria e mais amor para viver, porque todas as experiências
geram uma mistura diferente de emoções. Candace passou
a acolher os desafios da vida de braços abertos, pois
aplicava a informação que lhe transmitiam na sua
transformação.

A lição mais importante para Candace foi a de que a doença


e os desafios nunca poderiam vir de outra pessoa — eram
sempre seus. No velho estado de ser, acreditava piamente
que era vítima da sua relação e das circunstâncias externas;
que a vida lhe estava sempre a acontecer. Ganhar
consciência desse trabalho e assumir a responsabilidade por
si própria e pela sua vida — aperceber-se de que o que lhe
acontecera nunca tivera nada que ver com o que lhe era
exterior — tinha sido não só uma experiência de grande
capacitação, mas também uma das maiores dádivas que
alguma vez poderia receber.

7. A história de Joann

Joann passou a maior parte da sua vida na via rápida. Com


59 anos, mãe de cinco filhos, esposa dedicada e empresária
de êxito, equilibrava o lar, a dinâmica familiar, uma carreira
em ascensão e um negócio próspero. Embora tivesse por
ambição manter-se lúcida, saudável e equilibrada, não
imaginava uma vida que não fosse intensa, acelerada e
atarefada; vivia no limite e provava a todos que tinha uma
mente ativa e aguçada. Esforçava-se constantemente por
fazer tudo e mais alguma coisa com a máxima perfeição. Era
uma líder, admirada e procurada por muitos pelos seus
conselhos. Os pares chamavam-lhe

“supermulher" e era verdade — ou julgava ela.

Tudo acabou abruptamente em janeiro de 2008, quando


Joann estava a sair do elevador do prédio e caiu no chão, a
15 metros da porta de casa. Como se tinha sentido mal
durante o dia, vinha de uma clínica onde tinha ido ver o que
se

passava. Num curto espaço de tempo, o mundo mudara e


Joann dava por si a lutar pela vida.

Após oito meses de exames, os médicos tinham-lhe


diagnosticado esclerose múltipla secundária progressiva
(EMSP), um estado avançado de esclerose múltipla (LM), que
consiste numa doença crônica em que o sistema imunitário
ataca o sistema nervoso central. A sintomatologia varia
muito, consoante a pessoa, mas pode começar por
dormência numa perna ou num braço e chegar à paralisia e,
até, à cegueira. Os sintomas podem ser não só físicos, mas
também cognitivos e psiquiátricos.

Os sintomas de Joann tinham sido tão vagos e esporádicos


nos últimos 14

anos que ela os considerara sempre simples problemas


relacionados com a vida caótica que levava. Mas. agora, o
seu estado de saúde tinha um rótulo que mais parecia uma
condenação de prisão perpétua — sem hipótese de liberdade
condicional. A certa altura, deu por si mergulhada nas
profundezas do mundo da medicina ocidental, confrontada
com a firme crença de que a EM é uma doença incurável.

Alguns anos antes do diagnóstico, Joann fizera uma pausa no


negócio de família em Calgary e mudara de vida, mudando-
se para Vancouver, na costa ocidental do Canadá, cumprindo
o desejo que a família sempre tivera. Depois da mudança,
Joann enfrentou uma série de desafios relacionados com as
finanças e os recursos da família, que se esgotavam e os
deixavam numa situação muito precária. A autoestima, a
confiança e a saúde caíram a pique. Incapaz de superar o
ambiente, os estados mental e físico começaram a
desmoronar. A par da falta de dinheiro, aumentavam outros
fatores de stress — a ponto de, a certa altura, a família já
nem conseguir suprir as necessidades básicas de
alimentação e abrigo.

No início de 2007, a mulher que todas as pessoas


consideravam uma supermulher bateu no fundo e, antes de
o ano acabar, a família regressou a Calgary.

A EM é uma doença inflamatória em que a cobertura isolante


e as próprias fibras das células nervosas do cérebro e da
medula espinal se danificam.

Consequentemente, o sistema nervoso deixa de conseguir


comunicar bem e de enviar sinais a diversas partes do corpo.
O tipo de EM de Joann é progressivo e desenvolve-se com o
tempo, provocando frequentemente lesões neurológicas
permanentes, sobretudo com a progressão. Os médicos
informaram-na de que era incurável.

Inicialmente, Joann decidiu não permitir que a EM a


definisse, mas depressa resvalou para um estado de
incapacidade física e declínio cognitivo. Com o acréscimo
das limitações, passou a depender dos outros para os
cuidados básicos. Os problemas sensoriais e motores foram-
na obrigando a deslocar-se

com a ajuda de muletas, de um andarilho, de uma cadeira


de rodas e, por fim, de uma scooter de mobilidade.

não é muito surpreendente que se tenha ido abaixo quando


a sua vida se desmoronou. O corpo de Joann acabou por lhe
fazer o favor que ela não fazia a si própria — ou seja, parar e
dizer “Chega!”. Esforçara-se demasiado. Apesar do êxito que
tivera nos primeiros anos, bem no fundo do seu ser, sentia-
se quase sempre um fracasso, porque estava
constantemente a julgar-se e pensava que podia fazer
melhor do que fazia. Nunca estava satisfeita. Fizesse o que
fizesse, ou conseguisse o que conseguisse, nunca era
suficientemente boa.

Acima de tudo, Joann não queria parar, porque, se o fizesse,


teria de lidar com essa sensação de fracasso. Mantinha-se
atarefada e concentrava toda a sua atenção no mundo
exterior — em várias experiências com pessoas e coisas, em
diferentes locais e alturas — para não ter de prestar atenção
ao mundo interior dos pensamentos e sentimentos.

Joann tinha passado uma boa parte da vida a apoiar os


outros, celebrando-lhes os sucessos e incentivando-os, mas
não permitia que alguém reparasse no que lhe faltava na
vida. Escondia o sofrimento. Estava sempre a dar, mas
nunca recebia — porque não se permitia receber -, portanto,
passara a vida inteira a negar a si própria a evolução
pessoal, abstendo-se de se expressar. É evidente que se
tentasse mudar o mundo interior, servindo-se das condições
do mundo exterior, só poderia manifestar fracasso.

Quando finalmente sofreu um colapso, Joann estava tão


fraca e derrotada que mal tinha forças para lutar pela vida.
Aqueles anos todos a viver em modo de emergência,
constantemente a reagir às condições do mundo exterior,
fizeram com que ficasse desprovida da força vital e drenasse
toda a energia do mundo interior — onde o corpo se
conserta e cura. Joann estava simplesmente esgotada.

Joann muda de mente Se havia uma coisa que Joann sabia,


sem sombra de dúvida, era que os danos que estavam a
tolher-lhe o cérebro e a medula espinal apresentados nas
ressonâncias magnéticas não tinham aparecido do dia para a
noite. O seu corpo tinha sido consumido lentamente no seu
interior — o sistema nervoso central. Ao fim de tantos anos a
ignorar os sintomas, ficara desalentada e tinha medo de ver
o que se passava no seu interior. A dose diária de
substâncias tóxicas a bater repetidamente à porta das
células fizera com que o gene da doença acabasse por abrir
a dele e se ativar.

Acamada, Joann estabeleceu o primeiro objetivo, que era


abrandar a progressão da EM no corpo. Depois de ler o meu
primeiro livro, ficou a saber

que o corpo não faz a distinção entre aquilo que ela poderia
tornar real internamente com o poder do pensamento e a
verdadeira experiência exterior.

Ciente de que a prática mental lhe poderia alterar o cérebro


e o corpo, começou a ensaiar mentalmente a prática do
yoga e, passadas poucas semanas de prática diária, já
conseguia assumir fisicamente algumas posições — umas
quantas de pé. Esses resultados motivaram-na muito.

Joann preparava o cérebro e o corpo diariamente só com o


poder do pensamento. Tal como os pianistas do Capítulo 5,
que ensaiaram mentalmente e desenvolveram os mesmos
circuitos neurológicos dos sujeitos que praticaram
fisicamente os exercícios, Joann instalava os circuitos
cerebrais para parecer que já se deslocava e movia
fisicamente. Lembra-se dos sujeitos dos diversos estudos de
levantamento de pesos que aumentaram a força praticando
mentalmente o levantamento de pesos ou contraindo os
bicípites? Tal como eles, Joann sabia que podia fazer com
que parecesse que a experiência da cura já tinha começado
a acontecer no corpo — mudando literalmente a mente.

Muito em breve, já se mantinha de pé por breves momentos


e pouco depois já caminhava sem apoio. Cambaleava
bastante e ainda dependia da scooter de mobilidade, mas,
pelo menos, já não estava acamada nem sentia pena de si
própria. Dobrara uma esquina.

Quando começou a meditar com regularidade, simplesmente


para acalmar o incessante diálogo mental, Joann tomou
consciência da tristeza e revolta que realmente sentia. Abriu
as comportas e apercebeu-se de que se sentia quase sempre
fraca, isolada, rejeitada e sem valor. Desequilibrada,
desamparada e desligada, sentia como se tivesse perdido
uma parte vital de si. Via que se negava a si própria,
preferindo agradar aos outros, e que era incapaz de se
valorizar sem sentir culpa. Reconhecia que estava sempre a
tentar controlar a espiral de caos em que se via sem nunca
conseguir. A um nível mais profundo, sempre soubera todas
essas coisas, mas tinha preferido ignorá-las, esforçando-se
incansavelmente e fingindo que estava tudo bem.

Apesar de ser doloroso, Joann compreendeu que tinha sido


ela a criar a sua doença e decidiu tomar consciência de
todos os pensamentos, ações e emoções subconscientes que
a definiam como a personalidade que lhe criara aquela
realidade pessoal em concreto. Sabia que se conseguisse
encarar a pessoa que era, seria capaz de mudar esses
aspetos. Quanto mais consciente ficava do seu eu
inconsciente e do seu estado de ser, mais domínio ganhava
sobre aquilo que escondia.
No início de 2010, Joann já sentia um abrandamento na
progressão da EM.

Nessa altura, fixou o objetivo de a travar completamente.


Em maio, quando referiu essa ideia a um neurologista que
lhe perguntou que objetivos tinha em

relação à doença, este pós imediatamente fim à consulta.


Em vez de se deixar desanimar com o incidente, Joann
tornou-se ainda mais decidida.

6. Levar a cura para o nível seguinte

Quando foi a um workshop em Vancouver, Joann não


caminhava sozinha. Nesse fim de semana, pedi aos
participantes que fixassem uma intenção firme na mente e a
combinassem com uma emoção elevada no corpo. O
objetivo era condicionar o corpo a uma nova mente, em vez
de continuar a condicioná-la com emoções de sobrevivência.
Queria que os participantes abrissem o coração e
ensinassem emocionalmente ao corpo como seria a
experiência do futuro.

Era o ingrediente em falta na prática diária de Joann.


Assimilar pensamentos em que caminhava seis a sete
metros só com a bengala era incrivelmente excitante. Já
adicionava o segundo elemento do efeito placebo â equação:
expectativa sem emoção.

Era essa combinação — convencer emocionalmente o corpo


que a cura que teria no futuro estava a acontecer no
presente — que levaria Joann ao nível seguinte. Tal como a
mente inconsciente, o corpo tinha de acreditar para que
assim fosse. Se queria assimilar a alegria de estar bem e dar
graças antes de a cura ocorrer, o corpo teria de receber uma
amostra desse futuro no presente.
Aconselhei-a a prestar muita atenção aos pensamentos,
porque eram eles que a punham doente. Motivei-a a superar
a personalidade que a associava ao seu estado de saúde,
porque só assim poderia criar uma nova personalidade e
uma nova realidade pessoal. Agora, poderia aplicar
significado e intenção ao que fazia.

Dois meses depois desse workshop, Joann participou noutro


mais avançado que teve lugar em Seattle. Como a scooter
se avariara na véspera, deslocava-se numa cadeira de rodas
motorizada. Muito embora tenha começado por se sentir
mais vulnerável por causa disso, no workshop, Joann não
tardou a conseguir mover-se melhor. A memória associativa
relacionada com a experiência positiva do evento anterior e
a expectativa de melhorar no evento atual tinham dado
início a esse processo. Se 29 por cento dos pacientes de
quimioterapia podem sentir náuseas antes de receberem os
tratamentos (como leu no Capitulo 1), então, alguns
participantes do workshop também se podem sentir melhor
por antecipação, assim que regressam ao mesmo cenário.
Seja qual for o fator de desencadeamento, entusiasmada
com a nova possibilidade que identificava,

Joann recomeçou a assimilar emocionalmente esse futuro no


presente.

Na última meditação desse workshop, aconteceu-lhe pura


magia. Joann sentiu uma enorme mudança interior e que
algo a tocara profundamente. Sentiu o corpo mudar
automaticamente, assim que acedeu ao sistema nervoso
autônomo, lhe deu novas instruções e este assumiu as
rédeas. Sentiu-se elevada, esfusiante e livre. Depois da
meditação, a Joann que se levantou da cadeira era diferente
da Joann que se sentara — estava noutro estado de ser. Em
seguida, caminhou para a parte da frente da sala — sem
sequer precisar da bengala.
Caminhou segura pela sala, de olhos arregalados, a rir-se
como uma criança.

Sentia e mexia as pernas, que estavam dormentes há anos.

Desobstruíra o caminho — e sentia-se incrível! Para meu


espanto, Joann tinha emitido sinais diferentes a novos genes
durante aquela meditação. Tinha mudado mesmo o estado
de saúde apenas numa hora!

Ao superar a identidade da EM, tornou-se outra pessoa e foi


então que parou de tentar abrandar, travar ou reverter a EM.
Já não tentava provar nada a si própria, à família, aos
médicos ou a quem quer que fosse. Compreendia e sentia
pela primeira vez que a sua verdadeira viagem era de
plenitude — e é sempre nisso que consiste a cura que se
pode verificar. Esqueceu-se de que tinha uma doença oficial
e dissociou-se momentaneamente dessa identidade. A
liberdade de o fazer e a amplitude dessa emoção elevada
foram suficientemente fortes para acionar um novo gene.
Joann sabia que a EM não passava de um rótulo, como o de
“mãe”, “esposa" ou “patroa". Bastou-lhe simplesmente
abdicar do passado para mudar esse rótulo.

7. Mais milagres

Quando Joann voltou para casa trés dias depois, sem se


aperceber, o milagre continuou a acontecer. Ao praticar
yoga, o que já começara a fazer fisicamente

— e não apenas mentalmente — depois de participar no


segundo workshop, reparou que já conseguia levantar um pé
do chão. Tentou levantar o outro — e conseguiu! Depois,
reparou que conseguia fletir os pés pela primeira vez em
anos. E era capaz de mexer os dedos dos pés, o que já não
fazia há muito tempo.
Estava espantada e completamente estupefata, lavada em
lágrima de alegria. Soube imediatamente que tudo era
possível, não graças a um qualquer medicamento ou
procedimento externo, mas graças às mudanças internas
que fizera. Joann sabia que podia ser o seu próprio placebo.

Em muito pouco tempo. Joann ensinou-se a caminhar


novamente. Dois anos depois, ainda caminha sem apoios e é
uma pessoa mais viva e bem-disposta. A força corporal
melhorou e já lhe permite fazer muitas coisas que julgava
nunca mais poder fazer. Acima de tudo, sente-se viva e cheia
de alegria.

Sente-se plena e, uma vez que já consegue receber,


continua a receber cura.

Recentemente, disseme: “A minha vida é mágica, cheia de


sinergias incríveis, abundância e lodo o gênero de dádivas
inesperadas. Borbulha, agita-se e pisca com um novo reflexo
mais leve de mim própria. Ê o novo eu — na verdade, o eu
verdadeiro, que tentei subjugar e esconder uma boa parte
da minha vida!"

Agora, Joann vive quase diariamente em estado de graça.


Ainda arranja tempo para ganhar consciência dos
pensamentos e sentimentos; ou seja, cultiva o estado de ser
todos os dias, prestando atenção ao que diz a si própria e,
também, ao que pensa dos outros. Nas meditações, observa-
se e familiariza-se com a sua forma de agir. É muito raro
deixar um pensamento indesejado atravessar-lhe a mente
consciente.

A atual neurologista de Joann apoia as suas escolhas e


sente-se abismada com o que observa. A médica viu-se
obrigada a reconhecer o poder da mente, pois Joann
demonstrou-o nos vários relatórios e análises que não
acusam quaisquer sinais de EM.
Laurie, Candace e Joann conseguiram remissões grandiosas
sem recorrer a nada que estivesse fora delas. Mudaram o
estado de saúde de dentro para fora, sem medicação,
cirurgias, terapias — nada, a não ser a própria mente. Todas
se tornaram o próprio placebo.

Observemos agora cientificamente o cérebro de outros


participantes dos meus workshops que conseguiram fazer
mudanças igualmente grandiosas, para podermos ver o que
se passa concretamente no processo dessas transformações
tão extraordinárias.

8. CAPÍTULO 10

Da informação à transformação: a prova de que somos


mesmo o placebo Este livro ensina-o a tornar a mente
matéria. Já sabe que o placebo funciona porque alguém
aceita e acredita num remédio conhecido — comprimidos,
injeções ou intervenções falsos a substituir os verdadeiros -,
entregando-se ao resultado sem analisar excessivamente o
que irá acontecer. Podemos dizer que há uma associação de
uma experiência futura de uma pessoa específica conhecida
(um médico, por exemplo) ou de uma coisa (um
medicamento ou uma intervenção), num momento e num
local específicos do ambiente exterior, a uma mudança no
ambiente interior — e isso altera o estado de ser. Após
algumas experiências consistentes, espera-se que o futuro
seja exatamente igual ao passado. Uma vez estabelecido o
elo, o processo torna-se altamente eficaz, É um estímulo
conhecido que produz automaticamente uma resposta
conhecida.

A questão de fundo é a seguinte: no efeito placebo clássico,


a crença reside em algo que nos é exterior. Damos poder ao
mundo material, onde os sentidos definem a realidade. Mas
poderá o placebo funcionar, a partir do mundo imaterial do
pensamento, transformando a possibilidade desconhecida
numa nova realidade? Seria uma utilização mais prudente do
modelo quântico.

As três participantes dos meus workshops que referi no


capitulo anterior conseguiram esse feito. Todas escolheram
acreditar mais em si próprias do que noutra coisa qualquer.
Mudaram a partir do interior e passaram ao mesmo estado
de ser de alguém que toma um placebo — sem que algo
material o provocasse. É o que fazem muitos dos meus
alunos para melhorarem. Quando percebem como funciona
realmente o placebo, podem obter os mesmos resultados,
dispensando comprimidos, injeções ou intervenções.

Com base nas investigações que faço nestes workshops e


nos testemunhos que recebo constantemente de pessoas de
todo o mundo, sei que nós somos o placebo. Os meus alunos
demonstram que em vez de investirem a crença no
conhecido, podem aplicá-la no desconhecido e torná-lo
conhecido.

Pense um pouco nisso. A ideia de cura verificável existe


como realidade potencial no domínio quântico, até ser
observada, realizada e, por fim, materializada. Existe como
possibilidade num domínio de informação infinito, definido
fisicamente como coisa nenhuma mas todas as
possibilidades materiais combinadas. Desse modo, o futuro
potencial de ter a remissão espontânea de uma doença
existe como desconhecido localizado para lá do tempo e do
espaço, até ser pessoalmente vivido e conhecido neste
tempo e espaço. Quando o desconhecido para lá dos
sentidos se tornar uma experiência conhecida com os
sentidos, entramos no caminho da evolução.

Assim sendo, com o tempo, a cura que vive insistentemente


no mundo
interior dos pensamentos e sentimentos deverá acabar por
se manifestar como experiência exterior. E se tornar um
pensamento tão real como a experiência num ambiente
exterior, o corpo e o cérebro não deverão dar provas disso
mais cedo ou mais tarde? Por outras palavras, se ensaia
mentalmente esse futuro desconhecido com uma intenção
clara e uma emoção elevada, vezes sem conta, com base
naquilo que aprendeu, deverá sofrer mudanças
neuroplásticas efetivas no cérebro e mudanças epigenéticas
efetivas no corpo.

E se continuar a passar para um novo estado de ser todos os


dias, recordando o cérebro e condicionando o corpo a esse
estado de ser, deverá ver no seu interior as mudanças
estruturais e funcionais de quem toma um placebo.
A Figura 10.1 apresenta um gráfico que ilustra este processo
com simplicidade.

Então, será que se alinharmos a fé (que defino como


acreditar num pensamento acima de tudo o resto) e a crença
em algo conhecido, podemos centrar a atenção numa
possibilidade desconhecida e, seguindo os princípios
expostos nesta obra, tornar conhecida uma realidade
desconhecida? Será que se assimilarmos emocionalmente a
experiência na mente vezes suficientes podemos passar do
iinaterial para o material — do pensamento para a realidade?

FIGURA 10.1

A maioria das mudanças começa com o simples processo de


algo que nos é exterior a alterar algo que nos é interior. Sc
iniciarmos a nossa viagem interior e começarmos a mudar o
mundo interior dos pensamentos c sentimentos, deveremos
criar um estado de ser elaborado. Se insistirmos em repetir o
processo durante a meditação, com o tempo, a nossa
apresentação exterior deverá começar a sofrer mudanças
epigenéticas — e nós tornamo-nos o nosso próprio placebo.

Neste momento, já deve ter percebido que não precisa de


comprimidos falsos, santuários, símbolos antigos,
curandeiros (sejam eles modernos ou tradicionais), cirurgias
falsas, ou terra santa para se curar. Este capítulo apresenta
as provas científicas de como os nossos alunos o fizeram.
Mudaram a biologia só com o poder do pensamento. O
processo não se deu apenas na mente — também ocorreu no
cérebro.

Todas as provas apresentadas neste capítulo servem, desde


logo, para o levar a constatar o poder da meditação.
Gostaria que, vendo provas do que é possível fazer,
aplicasse os mesmos princípios à sua própria transformação
pessoal e colhesse os benefícios em todas as áreas da sua
vida. Depois de ler estas histórias, quando chegar à Parte II,
realizará a sua viagem interior com uma maior intenção,
porque atribuirá mais significado ao que faz — e, portanto,
obterá melhores resultados.

9. Do conhecimento à experiência

Ao ensinar este trabalho, aprendi uma coisa muito


importante. Apercebi-me de que todas as pessoas acreditam
secretamente na sua grandeza. No fim de contas, em certa
medida, todas as pessoas — seja um CEO, O contínuo de
uma escola, uma mãe solteira de três filhos, ou um recluso
— acreditam naturalmente nelas próprias.

Todos acreditamos na possibilidade. Todos imaginamos um


futuro melhor para nós próprios do que a realidade em que
vivemos atualmente. Desse modo, pareceu-me que se
pudesse oferecer informação vital e as instruções
necessárias para a aplicar, as pessoas poderiam beneficiar
de transformações pessoais, em diferentes graus. Afinal, a
ciência é a linguagem contemporânea do misticismo.

Transcende a religião, a cultura e a tradução. Desmistifica o


místico e une a comunidade. Testemunhei-o vezes sem conta
nos seminários que organizei em todo o mundo.

Nos workshops avançados, em que eu e os meus colegas


medimos as mudanças biológicas e energéticas dos
participantes, tanto a nível individual como coletivo do grupo
no seu todo, aplico vários dos princípios definidos neste livro
(e muitos outros) para ensinar o modelo científico da
transformação. O

modelo vai evoluindo à medida que os alunos vão


desenvolvendo as suas capacidades. Associo
constantemente mais física quântica para ajudar as pessoas
a compreenderem a possibilidade. Depois, combino-a com as
mais recentes informações da neurociência, da
neuroendocrinologia, da epigenética, da biologia celular, da
ciência das ondas cerebrais, da psicologia da energia e da
psiconeuroimunologia. Vemos novas possibilidades
manifestarem-se em resultado da informação que
aprendemos.

Depois de aprenderem a assimilar a informação, os alunos


podem atribuir mais significado às práticas de meditação e
contemplação. Mas não basta compreenderem a informação
a nível intelectual e conceituai. Têm de ser capazes de
repetir o que aprenderam sempre que lhes pedirem. Se
forem capazes de explicar esses conhecimentos avançados,
fixam melhor o modelo progressivo ao cérebro — e já podem
instalar o hardware neurológico. Repetindo o que
aprenderam vezes suficientes, criam um programa de
software integrado. Se for bem aplicado, o novo
conhecimento pode tornar-se o precursor de uma nova
experiência.

Dito de outra forma, se alinharem a mente e o corpo,


adquirem o conhecimento de uma experiência nova,
assimilando a nova emoção que lhe está associada. A partir
daí, começam a incorporar a informação, porque instruem
quimicamente o corpo a compreender emocionalmente o
que a mente compreende intelectualmente. Nessa altura,
passam a crer e a saber que essa é a verdade. Mas o meu
desejo é que, em vez de a realizarem uma só vez, os meus
alunos repitam muito a experiência, até a tornarem uma
nova capacidade, um novo hábito ou um novo estado de ser.

Com a consistência, aproximamo-nos de um novo paradigma


científico —

porque tudo o que se repete é ciência. Se alcançarmos um


nível de competência em que não só conseguimos mudar o
estado interior com o poder do pensamento, mas também
observar, medir e documentar repetidamente esse processo,
aproximamo-nos de uma nova lei científica. Já podemos
fornecer novos conhecimentos acerca da natureza da
realidade ao modelo cientifico geral que o mundo aceita
presentemente para podermos capacitar mais pessoas. £
essa a ambição que tenho há anos.

Tenho procurado ensinar aos participantes dos workshops


como as prática internas provocam alterações biológicas no
corpo e no cérebro, para que eles possam compreender
explicitamente o que estão a fazer. Esgotados os temas

sujeitos a conjeturas, dogmas ou suposições, ficamos mais


sugestionáveis a uma possibilidade quântica. E é dos
grandes esforços que resultam os grandes resultados. não
obstante, as medições são tão boas como as capacidades
dos participantes.

Nos meus workshops, os participantes passam três a cinco


dias retirados das suas vidas, para não se poderem definir
mais pela realidade pessoal presente-passado. Praticam a
passagem para novos estados de ser. Ao deixarem de
confirmar aspetos do eu que não pertencem ao futuro com a
velha personalidade e ao fingirem ser outra pessoa — ou ao
reinventarem um novo eu com uma personalidade diferente
-, tornam-se o novo eu que imaginam, devendo, por isso,
produzir mudanças epigenéticas, tal como fizeram os idosos
referidos no Capítulo 4, que simularam ter menos 22 anos.

Gostaria que os participantes dos meus workshops se


superassem — e superassem as suas identidades — nas
meditações, para se tornarem corpo nenhum, pessoa
nenhuma, e coisa nenhuma, em lado nenhum e em tempo
nenhum — para se tornarem pura consciência. Quando isso
acontece, mudam o cérebro e o corpo antes de o ambiente
(a vida familiar) se alterar e, ao retomarem as suas vidas,
depois do workshop, já não são vítimas do condicionamento
inconsciente imposto pelo mundo exterior. É nesse domínio
que o invulgar acontece e os milagres ocorrem.

Como pretendo dar aos alunos a instrução mais correta e


proporcionar-lhes oportunidades para personalizarem todas
as informações novas que aprendem e, assim, produzir um
qualquer tipo de transformação pessoal, criei um novo tipo
de evento em 2013. Talvez se lembre do Prefácio, onde falo
na evolução dessa ideia. Com essa nova oferta (que fiz pela
primeira vez num workshop em fevereiro desse ano, em
Carefree, no Arizona, e uma segunda vez num workshop em
julho, em Englewood, no Colorado), queria medir a
transformação que ocorria em tempo real.

A minha intenção era usar os dados dessas medições para


informar melhor os participantes acerca da transformação
por que passam. E, com essa informação mais completa,
poderiam fazer outra transformação que seria medida e, dai
por diante, fechando-se o fosso entre o mundo do
conhecimento e o mundo da experiência. Chamo a esses
workshops “Da informação à transformação”. É a minha
paixão.

10. Medir a mudança

No inicio desta viagem, descobri um neurocientista brilhante


e talentoso, o Doutor Jeffrey Fannin, que resolveu
desinteressadamente ajudar-me a medir a atividade cerebral
dos alunos. Fundador e diretor executivo do Center for
Cognitive Enhancement em Glendale, no Arizona, o Doutor
Fannin trabalhou mais de 15 anos no domínio da
neurociência e tem uma vasta experiência no treino para
otimizar o desempenho cerebral. É especialista nas áreas da
lesão cerebral, do enfarte, da dor crônica, dos distúrbios de
défice de atenção com e sem hiperatividade (PPA e PPAH),
dos distúrbios da ansiedade, da depressão, da recuperação
do trauma, bem como do treino de alto desempenho que
inclui a construção de mapas cerebrais para o desporto, a
melhoria das capacidades de liderança pelo treino das ondas
cerebrais, a melhoria da função cerebral, a melhoria da
destreza mental e emocional, e a transformação pessoal.

Ao longo dos anos, esteve envolvido em investigações ao


mais alto nível, utilizando a tecnologia do
eletroencefalograma (que mede a atividade elétrica dos
neurônios) para avaliar com precisão o equilíbrio da energia
das ondas cerebrais, chamando a essa medida estado
integral do cérebro. As suas investigações centram-se nos
padrões de crença subconscientes e na fusão do êxito
pessoal com um desempenho cerebral equilibrado.

O Doutor Fannin também colaborou numa equipa de


investigação da Universidade do Estado do Arizona,
estudando neurociência e liderança com base em dados
reunidos na Academia Militar dos Estados Unidos em West
Point.

Essa investigação permitiu-lhe codesenvolver e colecionar


uma disciplina única na Universidade do Estado do Arizona:
“Neurociência da Liderança". Também trabalhou vários anos
na Universidade de Walden, perto de Phoenix, lecionando
neurociência cognitiva a cursos de mestrado e de
doutoramento.

Convidei o Doutor Fannin e a sua equipa para esses novos


workshops, onde medimos qualidades cerebrais e elementos
específicos, como a coerência por oposição à incoerência (a
ordem ou a desordem das ondas cerebrais, sobre as quais
lerá mais no próxi mo capitulo), a amplitude (a energia das
ondas cerebrais), a organização das fases (o grau a que
diferentes partes do cérebro funcionam juntas, em
harmonia), o tempo relativo que se demora até entrar num
estado meditação profunda (o tempo necessário para mudar
as ondas cerebrais e a passar a um estado mais
sugestionável), o rácio teta/alfa (o grau a que o cérebro
funciona num estado holístico e como os seus diferentes
compartimentos comunicam entre si, através de regiões
inteiras — a parte da frente com a de trás c o lado esquerdo
com o direito), o rácio delta/teta (a capacidade para regular
e controlar o diálogo mental e os pensamentos intrusivos) e
a sustentabilidade (a capacidade do cérebro para manter
consistentemente um estado de meditação, ao longo do
tempo).

Também criamos quatro estações de imagiologia cerebral


com sistemas de EÍG para medir os participantes antes e
depois do workshop, permitindo-nos observar a mudança
dos padrões cerebrais. Examinamos mais de cem
participantes em cada evento. Além disso, selecionei
aleatoriamente quatro para examinar durante cada uma das
três sessões de meditação diárias, observando-lhes o
cérebro em tempo real. No seu todo, nos dois workshops de
2013.

registramos 402 EEG. Trata-se de uma intervenção segura e


não invasiva que mede a partir de 20 localizações do
exterior da cabeça. Essas medições das ondas cerebrais
proporcionam uma série de informações relativamente à
capacidade atual de desempenho do cérebro.

Em seguida, convertiam-se os EEU em EEG quantitativos


(EEGQ), que consistem em análises estatísticas e
matemáticas da atividade do EEG representadas como
gráficos dos mapas cerebrais. Trata-se de um gráfico com
gradações de cores que indicam como a atividade registada
no EEG se compara a uma atividade de base normal. As
diversas cores e os vários padrões representados em
diferentes frequências oferecem mais informação sobre a
forma como os padrões das ondas cerebrais afetam os
pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos.
Para começar, de um modo geral, os dados revelaram que
91 por cento das pessoas analisadas apresentavam um
estado significativamente melhorado da função cerebral. No
fim das sessões de meditação transformadora, a maioria dos
alunos tinha passado de um estado menos coerente (ou
menos ordenado) para um estado mais coerente. Além disso,
mais de 82 por cento dos mapas cerebrais dos EEGQ
registados em ambos os eventos demonstraram que os
participantes estavam a funcionar dentro dos parâmetros
normais da atividade cerebral.

Percebi que quando o cérebro funciona bem, nós


funcionamos bem.

Quando o cérebro é mais coerente, somos mais coerentes.


Quando o cérebro está num estado mais integral e
equilibrado, estamos num estado mais integral e equilibrado.
Quando somos capazes de regular os pensamentos
negativos e intrusivos todos os dias, tornamo-nos menos
negativos e intrusivos. E foi precisamente isso que
observamos nos participantes desses eventos.

A média para se entrar num estado meditativo e o manter é


pouco superior a um minuto e meio. Isso significa que a
maioria das pessoas demora a mudar as ondas cerebrais e a
entrar num estado meditativo. O tempo médio que os nossos
alunos levam a entrar num estado meditativo e a mantê-lo
nos 402 casos avaliados é de apenas 59 segundos. £ menos
de um minuto. Alguns conseguiram alterar as ondas
cerebrais (e o estado de ser) em quatro, cinco ou nove
segundos.

Quero esclarecer que não pretendo fazer disto uma


competição (ou estaria a contradizer-me). Estes dados,
porém, ilustram dois aspetos importantes.
Primeiro, ultrapassar a mente analítica das ondas cerebrais
beta e entrar num

estado mais sugestionável é uma capacidade que podemos


melhorar com uma prática regular. Segundo, os alunos
conseguem utilizar os métodos que eu e os meus colegas
ensinamos para ultrapassarem os cérebros pensantes e
acederem ao sistema operativo da mente subconsciente
com relativa facilidade.

É interessante constatar que as nossas investigações


também revelam uma padronização consistente e notória do
funcionamento holístico dos cérebros dos nossos alunos.
Observamos padrões significativos de alternância alfa/beta
(como diferentes compartimentos cerebrais comunicam
entre si) nos lóbulos frontais, quando a pessoa medita. Isso
significa que as duas metades do cérebro estão a comunicar
de forma mais equilibrada e una. O rácio dos padrões duplos
dos lóbulos frontais que observamos repetidamente parece
produzir a experiência de um alto nível de gratidão que
surge vezes sem conta, num determinado ritmo e por ondas.
Assim sendo, segundo sugerem os dados, quando se
encontram nesse estado intensificado de gratidão no ensaio
mental, a experiência interior é tão real que os alunos
acreditam estar mesmo a viver os acontecimentos em
tempo real — ou já os ter vivido. Sentem-se gratos, porque é
essa a emoção que sentimos quando nos acontece o que
queremos.

Os praticantes de meditação mais experientes também


acusaram um aumento nos rácios das ondas cerebrais teta e
alfa de baixo alcance, o que significa que podem passar
bastante tempo em estados alterados. Particularmente
significativo foi o aumento da regulação da onda lenta; num
estado de onda cerebral teta, esses alunos apresentam
níveis acima do normal de coerência ou de ordem das ondas
cerebrais, entre a atividade da parte frontal e das regiões da
parte de trás do cérebro. Observamos a região frontal
esquerda, associada à emoção positiva, ativar-se
repetidamente, correspondendo à indução de um estado de
beatitude meditativa.

Por outras palavras, quando começavam a meditar, essas


pessoas produziam ondas cerebrais mais lentas e coerentes,
o que sugere que estavam a aceder a estados mais
profundos de relaxamento e de consciência aumentada.
Além disso, a união entre a parte da frente e a parte de trás,
assim como entre a parte esquerda e a parte direita do
cérebro, indica que se sentiam mais felizes e plenas.

11. Tenho uma tempestade cerebral

Por fim, enquanto observava uma aluna a quem se estava a


fazer o mapa cerebral em tempo real durante uma
meditação do primeiro evento, percebi algo

espantoso. Ao analisar o cérebro dela, percebi o quanto se


estava a esforçar e o quanto o cérebro se afastava cada vez
mais do equilíbrio e dos estados meditativos mais profundos
alfa e teta. A emoção que sentia naquele momento permitia-
me ver o quanto estava a analisar e a julgar-se a si própria e
à sua vida

— tal como evidenciavam as ondas cerebrais mais elevadas


e incoerentes associadas a um estado beta de alto alcance
(revelador de muito stress, muita ansiedade, muita
excitação, emergência e desequilíbrio generalizado).

Vi-a tentar futilmente usar o cérebro para mudar o cérebro —


sem conseguir. Sabia que estava igualmente a usar o ego
para tentar mudar o ego e que também não estava a
conseguir nada. Ao usar um programa para tentar mudar
outro, promovia-o em vez de o reescrever. Ainda estava na
mente consciente, a tentar mudar a mente subconsciente,
pelo que se mantinha afastada do sistema operativo, onde
reside a verdadeira mudança. Quando a abordei mais tarde e
conversámos durante alguns minutos, confessou-me que
estava a passar por um período difícil. Naquele momento,
percebi logo o que tinha de lhe ensinar a seguir.

Para mudar o corpo, teria de se destacar dele e de o superar;


para mudar o ego, teria de o superar; para mudar o
programa, teria de o superar; e para mudar a mente
consciente, teria de a superar. Para criar o desconhecido,
teria de se tornar o desconhecido. Para criar materialmente
uma nova experiência, teria de se tornar um novo
pensamento imaterial sobre coisa nenhuma material. Para
mudar o tempo e o espaço, teria de os superar.

Ela teria de se tornar pura consciência. Teria de superar as


associações que fazia a uma identidade que se associava ao
ambiente conhecido (a casa, o emprego. o cônjuge, os filhos
e os problemas), superar o corpo (o rosto, o gênero, a idade,
o peso e a aparência) e superar o tempo (o previsível hábito
de viver no passado ou no futuro, sempre a perder o
momento presente). Para criar um novo eu, teria de superar
o eu atual. Teria de desobstruir o próprio caminho, para
deixar passar qualquer coisa nova.

Nunca funciona se formos matéria a tentar mudar matéria.


Nada acontecerá se formos partícula a tentar mudar
partícula, porque se vibramos à mesma velocidade a que
vibra a matéria, não podemos exercer um efeito significativo
sobre ela. É a nossa consciência (o pensamento interior) e a
nossa energia (a emoção elevada) que influenciam a
matéria. Só podemos alterar o cérebro, o corpo e a vida para
criar um novo futuro no tempo, se estivermos conscientes.

E uma vez que é a consciência que dá forma a todas as


coisas e que utiliza o cérebro e o corpo para produzir
diferentes níveis mentais, se nos tornarmos pura
consciência, lornamo-nos livres. Então, comecei a deixar os
meus alunos meditarem mais tempo, tornando-se pessoa
nenhuma, corpo nenhum, coisa

nenhuma, em tempo nenhum e lado nenhum, até se


sentirem bem no domínio infinito das possibilidades.

Queria que a consciência subjetiva dos alunos passasse mais


tempo fundida com a consciência objetiva do domínio.
Tinham de encontrar o melhor ponto do momento presente e
investir a energia e a consciência num vazio que não é
realmente um espaço oco, mas sim um espaço preenchido
de um número infinito de possibilidades, até se sentirem
bem no desconhecido. Só podiam começar a criar quando
estivessem verdadeiramente presentes nesse local poderoso
para lá do tempo e do espaço — de onde vêm materialmente
todas as coisas. Foi então que começaram a dar-se
mudanças reais nos workshops.

12. Breve panorâmica dos aparelhos de imagiologia


cerebral utilizados Quero apresentar-lhe dois tipos de
leitura das imagens do cérebro para que possa ver e
compreender as mudanças que estou prestes a mostrar.
Simplifiquemos. O

primeiro tipo de exame que utilizamos mede os graus de


atividade entre as áreas cerebrais (observe a Figura 10.2,
junto das restantes figuras deste capítulo, nas páginas a
cores). As imagens apresentam os mapas de dois tipos
relativos dessa atividade. A hiperatividade (ou
suprarregulação) é representada por linhas vermelhas, que
ligam diferentes pontos do cérebro. Imagine linhas
telefônicas a ligar dois locais, para estabelecer a
comunicação entre essas duas áreas.
Demasiadas linhas vermelhas numa determinada altura
indicam demasiada ação a ocorrer no cérebro. A
hipoatividade (falta de regulação) é representada por linhas
azuis, que indicam a comunicação mínima de informação
entre duas áreas diferentes do cérebro.

A espessura das linhas representa o desvio-padrão, ou a


quantidade de desregulação ou regulação anômala)
existente entre os dois pontos que a linha une. Por exemplo,
as linhas vermelhas finas indicam que o nível de atividade
entre esses pontos é 1,96 desvios-padrões (DP) acima do
normal. As linhas azuis finas indicam que o nível de atividade
entre esses dois pontos é de 1,96 DP abaixo do normal. As
linhas médias indicam 2,58 DP, ou acima (vermelhas) ou
abaixo (azuis) do normal. E as linhas espessas indicam 3,09
DP acima ou abaixo do normal. Desse modo, a presença de
muitas linhas vermelhas espessas numa imagem indica que
o cérebro está a esforçar-se demasiado. A presença de
muitas linhas azuis espessas sugere comunicação reduzida
entre as diferentes áreas do cérebro e, por conseguinte,
pouca atividade cerebral. Pense assim: quanto mais

espessa for a linha vermelha, mais elevado é o volume de


dados que o cérebro processa, e quanto mais espessa for a
linha azul, mais reduzido é o volume de dados que o cérebro
processa.

O segundo tipo de exame que utilizamos deriva da análise


do EZGQ e chama-se relatório de Z-Scorc. A Z-Score é uma
medida estatística que nos diz não só se um ponto está
acima ou abaixo da média, mas também a que distância se
encontra dos valores normais. A escala deste relatório varia
entre -3 e +3 DP. OS

azuis mais escuros representam 3 ou mais DP acima do


normal, enquanto os azuis mais claros variam entre cerca de
2,5 e 1 DP abaixo do normal. O azul-esverdeado é
aproximadamente 0 a 1 DP abaixo do normal, enquanto o
verde é o normal de base. O verde-claro aponta para valores
à margem do normal, mas considera-se 0

a 1 DP acima do normal, enquanto o amarelo e o laranja-


daro são aproximadamente 1 a 2 DP acima do normal, o
laranja mais escuro cerca de 2 a 2,5 DP acima do normal e o
vermelho 3 ou mais DP acima do normal. (Observe a Figura
10.3.)

O relatório Z-Score que utilizamos foi o do poder relativo,


que apresenta informação acerca da quantidade de energia
no cérebro em diferentes frequências. Uma vez que o verde
indica a amplitude normal, quanto mais verde for uma
imagem, mais a pessoa está em conformidade com a
atividade normal das ondas cerebrais. Cada círculo colorido
(semelhante a uma cabeça vista de cima) representa o que o
cérebro faz em cada frequência de ondas cerebrais. O

círculo na região superior esquerda da imagem apresenta a


frequência mais baixa de ondas cerebrais (em ondas
cerebrais delta) e cada círculo que se segue representa um
estado de ondas cerebrais cada vez mais elevado,
avançando progressivamente até às ondas cerebrais beta
mais elevadas na região inferior direita. Os ciclos por
segundo na frequência de ondas cerebrais são conhecidos
como hertz, ou Hz. Da esquerda para a direita e de cima
para baixo, a progressão é de 1 a 4 ciclos por segundo
(delta) para 4 a 8 ciclos por segundo (teta), para 8 a 13
ciclos por segundo (alfa), e para 13 a 30 e muitos ciclos por
segundo (beta de alcance baixo-médio a elevado). Podemos
dividir a atividade beta em diferentes bandas de frequência,
tais como 12 a 15 Hz, 15 a 18 Hz, 18 a 25 Hze 25 a 30 Hz.

Assim, as cores relativas de cada área demonstram o que


está a ocorrer nos diferentes estados de ondas cerebrais. Por
exemplo, predominância de azul no cérebro durante o ciclo
delta de um por segundo sugere pouca atividade no cérebro
nessa amplitude deita. E muito vermelho em alfa 14 Hz no
lóbulo frontal significa atividade alfa acrescida nessa zona do
cérebro.

Ê necessário compreender também que estas medições


podem ter outras interpretações, consoante o que o sujeito
esteja a fazer quando é realizado o exame de imagiologia.
Por exemplo, se a delta 1 Hz estivesse representada pela

cor azul, isso poderia sugerir que a energia do cérebro nessa


frequência é 3 DP

abaixo do normal. Em termos clínicos, pode ser considerado


anormalmente baixo. .Mas uma vez que o registo foi feito
quando o sujeito estava a meditar, a imagem passa a sugerir
que a delta 1 Hz abriu a porta a uma ligação mais forte com
o campo energético da consciência coletiva. Por outras
palavras, quanto mais reduzida for a energia do neocórtex,
mais acessível se torna o sistema nervoso autônomo. não
tardará a conhecer mais exemplos que esclarecerão bem
esta questão. Entretanto, observe novamente a Figura 10.3
para ter uma visão global daquilo que acabo de explicar.

13. Coerência versus incoerência

Observe agora a Figura 10.4. A imagem à esquerda (“antes


da meditação”) representa um cérebro com muito diálogo.
Funciona a um nível elevado de excitação (beta de alto
alcance) e é bastante incoerente. A espessura das linhas
vermelhas demonstra que este cérebro está 3 DP acima do
normal (porque quanto mais espessa for a linha vermelha,
mais acelerado e desequilibrado está o cérebro). As linhas
vermelhas indicam a ocorrência excessiva e incoerente de
atividade em todo o cérebro. O azul na parte frontal
representa hipoatividade (2 a 3 DP abaixo do normal) nos
lóbulos frontais, o que indica que estes se encontram
desativados ou desligados, não estando, por isso, a restringir
a hiperatividade no resto do cérebro.

Este é um cérebro com problemas de atenção; está tão


sobrecarregado que não tem um líder para controlar o
diálogo incessante. É como um sistema de televisão por
satélite com 50 canais, volume muito elevado e os canais a
mudarem a cada segundo. A catadupa de mudanças rápidas
entre pensamentos no raio da atenção deixa o cérebro num
estado de vigilância e excitação elevadas, sobrecarga e
sobrerregulação. É aquilo a que chamamos padrão cerebral
incoerente, porque as diferentes partes do cérebro não estão
a trabalhar em conjunto.

Observe agora a segunda imagem (“depois da meditação”).


não é preciso ser-se neurocientista para reparar nas
diferenças entre a primeira e a segunda imagens. Nesta mal
se distinguem as linhas azuis ou vermelhas, o que significa
que a atividade cerebral decorre normalmente — com muito
pouca hiper ou hipoatividade. O diálogo interrompeu-se e o
cérebro passou para um modo de funcionamento mais
holístico. Este cérebro está equilibrado, pelo que podemos

dizer que o cérebro demonstra um padrão mais coerente. (A


restante atividade a azul e vermelho, como indica a seta,
representa a atividade sensorial e motora, o que
provavelmente significa que a pessoa está a contrair ou a
piscar os olhos com movimentos oculares rápidos, no estado
REM, que é típico do sono muito leve.) Essa mudança
ocorreu num dos alunos depois de uma só sessão de
meditação.

Analisemos agora mais estudos de caso de alunos dos


workshops. Começo por apresentar um pouco do historiai de
cada um para perceber qual era o seu estado de ser no inicio
do workshop. Em seguida, explico o que revelaram as
imagens e, por fim, descrevo o novo estado de ser que cada
aluno criou.

14. Curar a doença de Parkinson sem placebos ou


medicamentos O velho eu de Michelle: Michelle é
sexagenária e diagnosticaram-lhe doença de Parkinson em
2011, depois de ela ter notado uma progressão de tremores
involuntários no braço, na mão e no pé esquerdos. Em
novembro de 2012, começou a ser seguida no Instituto de
Neurologia de Barrow, em Phoenix. O

médico assistente disselhe que ela já teria Parkinson há dez


ou 15 anos e que teria de river com os sintomas para
sempre. Mentalizando-se de que teria de lidar com cada vez
mais limitações físicas, à medida que os anos fossem
passando, Michelle começou a tomar Azilect (rasagilina,
mesilato) — um fármaco receitado para a doença de
Parkinson que trava a absorção da dopamina ao nível dos
pontos receptores, abrandando a sua decomposição no
organismo. O

fármaco produziu muito poucas mudanças palpáveis.

Michelle começou a participar nos workshops em novembro


de 2012.0 mês de dezembro foi extraordinário. A sensação
de paz e alegria que a meditação diária lhe proporcionou
começou a reduzir-lhe visivelmente os sintomas. Estava
certa de que assim conseguiría superar a doença de
Parkinson.

Em inícios de fevereiro de 2013, as sessões de meditação


iam de vento em popa. Mas em meados desse mês, a mãe
foi internada na unidade de cuidados intensivos em
Sarasota, na Florida, e ela teve de ir para junto dela. Quando
voltou para o Arizona, para participar no nosso workshop de
fevereiro de 2013, a mãe ficou internada. O avião aterrou em
Phoenix, cerca de uma hora e meia antes do primeiro exame
de imagiologia cerebral. Desnecessário será dizer que
Michelle estava exausta a nível físico e emocional quando o
fez e os resultados revelaram o nível extremo de stress que
sentia.

No fim do workshop, estava certamente num estado de ser


mais calmo e positivo, com os sintomas de Parkinson muito
pouco perceptíveis. Depois do workshop, Michelle regressou
à Florida para acompanhar a mãe. Embora as duas nunca se
tivessem dado muito bem, devido aos seus esforços no
workshop, Michelle sentiu força suficiente para dar apoio e
amor à mãe, sem se deixar enredar nos problemas antigos
que tinha com ela.

A mãe acabaria por morrer e a irmã que vivia no Texas


sofreria um grave enfarte. Entre a doença e morte da mãe e
o enfarte da irmã, Michelle viu-se obrigada a viajar
constantemente da Florida para o Texas, para lidar com os
desafios que a família enfrentava. A rotina dela sofreu muito
com isso e, em junho, já não meditava. A vida atrapalhara-
lhe os planos e deixara-a cheia de responsabilidades. Deixar
de fazer a meditação era como deixar de tomar o placebo.
Quando os sintomas reapareceram, retomou a meditação e
fez grandes progressos.

Os exames de imagiologia cerebral de Michelle: uma vez que


Michelle vive muito perto da clinica do Doutor Fannin no
Arizona, conseguimos seguir-lhe os progressos durante mais
de cinco meses, fazendo-lhe uma série de seis exames
periódicos de imagiologia cerebral. Passo a relatar a sua
evolução nesse período.

Observe a parte “antes da meditação” da Figura 10.5. Trata-


se do exame que ela fez no evento de fevereiro de 2013,
depois de regressar da Florida, estressada e exausta por
causa da doença da mãe. As linhas vermelhas espessas
indicam que todas as áreas do cérebro se encontram a 3 DP
do normal. A imagem revela um quadro bastante vulgar na
doença de Parkinson, caracterizado por demasiada atividade
cerebral, hiperincoerência e suprarregulação. A falta dos
devidos neurotransmissores (mais especificamente, de
dopamina) faz com que os neurônios apresentem um
sistema de comunicação errático entre cada região do
cérebro, com as redes neurais descontroladas. O resultado é
um tipo de ativação neural espasmódico ou hiperativo, que
afeta o cérebro e o corpo.

Consequentemente, o movimento normal sofre a


interferência de funções motoras involuntárias.

Agora, observe a parte que corresponde a “depois da


meditação” da mesma figura. É o cérebro de Michelle depois
de ela ter passado quatro dias a mudar o estado de ser pela
meditação. A imagem assemelha-se muito à de um cérebro
normal, com muito pouca hiperatividade, incoerência ou
suprarregulação. No fim do nosso evento, já não sofria de
tremores e contrações involuntários, nem de quaisquer
problemas motores — e o exame de imagiologia cerebral
comprova

essa mudança.

Passemos à leitura do EEGQ da Figura 10.6A, “antes da


meditação”. Se olhar do meio da segunda fila até à última —
as imagens a azul -, verá que o cérebro de Michelle não
revela quaisquer ondas cerebrais alfa ou beta em
funcionamento.

Lembre-se de que o azul representa uma atividade cerebral


serenada. A doença de Parkinson caracteriza-se tipicamente
por uma redução da atividade cognitiva, interferências na
capacidade de aprendizagem e perda de funcionamento.
Neste caso, notamos que Michelle não consolida nova
informação. não consegue manter uma imagem interna,
porque não produz ondas cerebrais alfa. Os padrões beta de
muito curto alcance também revelam que tem dificuldade na
manutenção de certos níveis de consciência. Toda a energia
do cérebro é canalizada para a gestão da hiperincoerência,
sendo por isso como uma lâmpada que passa dos 50 watts
para os 10 watts. O volume de energia do cérebro é
reduzido.

Se observar a parte que corresponde a “depois da


meditação", verá o que parece ser um cérebro muito
melhorado e equilibrado. Todas essas áreas verdes, na
maioria das imagens indicadas com setas, representam uma
atividade cerebral normal e equilibrada. O cérebro dela já
pode funcionar em alfa e permitir-lhe passar para estados
interiores com maior facilidade, lidar melhor com o stress e
aceder ao sistema operativo subconsciente para influenciar
as funções autônomas. Até a atividade beta normalizou
(verde), o que indica que ela está mais consciente, alerta e
atenta. A atividade equilibrada resultou em muito poucos
problemas motores.

As áreas vermelhas circundadas na base em beta de alto


alcance significam ansiedade. É a atitude com que Michelle
se debate e que tenta mudar a partir de uma perspetiva
interna. Por coincidência, foi precisamente a ansiedade que
lhe agravou os sintomas de Parkinson. Ao reduzir a
ansiedade, reduz os sintomas da doença. Para ela, os
tremores representam desequilíbrio na sua vida. Quando
regula os estados interiores, produz mudanças na realidade
exterior.

Três meses depois, Michelle repetiu o exame de imagiologia


cerebral no consultório do Doutor Fannin. O exame de 9 de
maio de 2013, representado na Figura 10.6B, apresenta o
cérebro em processo de melhoria e foi precisamente isso que
Michelle relatou sentir. Ela continua a melhorar, apesar de
todos os fatores de stress da sua vida. Fazendo as
meditações diárias (considere que é a sua toma diária de
placebo), Michelle está constantemente a mudar o cérebro e
o corpo para superar as condições do seu ambiente. O
exame mostra que caiu quase outro desvio-padrão em
relação ao anterior, apresentado na base do gráfico. Vê-se
claramente que a ansiedade ainda está a melhorar e,

consequentemente, o estado de saúde. Menos ansiedade


traduz-se em menos tremores. Ao manter e memorizar esse
estado de ser por um período de tempo mais alargado, o
cérebro apresenta as mudanças.

Se observarmos o exame que Michelle fez no workshop de 3


de junho de 2013, na Figura 10.6C, notamos uma ligeira
regressão no progresso — embora ainda esteja melhor do
que quando começou. Aqui, como tinha parado de fazer a
meditação (e, portanto, de tomar o placebo), o cérebro
regrediu ligeiramente para o estado anterior. O cérebro com
a seta na área azul de 13 Hz significa que ela está hipoativa
na região sensorial e motora, e que, por isso, tem menos
capacidade para controlar os tremores involuntários. Neste
padrão de ondas cerebrais, Michelle tem menos energia para
dominar o corpo. A ansiedade está patente nas áreas
vermelhas novamente circundadas na base da imagem em
beta de alto alcance.

No exame de 27 de junho de 2013, representado na Figura


10.6D, Michelle retomara a prática da meditação no inicio do
mês e as melhorias eram visíveis.

Sentia menos ansiedade generalizada, tal como demonstra o


vermelho na fila de baixo, entre 17 e 20 Hz. Comparemos
agora esse exame com o seguinte, de 13

de julho de 2013, depois do nosso workshop, representado


na Figura 10.6E.
Ainda se nota menos vermelho e o azul do primeiro exame
de fevereiro em alfa (indicador de hipoatividade)
desapareceu completamente. Michelle continua a melhorar e
as mudanças tornam-se mais consistentes.

O novo eu de Michelle: hoje em dia, Michelle quase não tem


sintomas motores involuntários associados à doença de
Parkinson. Sente efetivamente pequenas contrações quando
está estressada ou cansada, mas, em geral, encontra-se
num estado normal e funcional. Quando está equilibrada e
alegre nas meditações diárias, o cérebro funciona bem — e
ela também. De acordo com os nossos exames e os seus
próprios relatos, Michelle não se limita a manter a condição;
continua a melhorar cada vez mais. Persiste na meditação,
porque sabe que tem de ser o seu próprio placebo todos os
dias.

15. Alterar a lesão cerebral e espinal só com o poder


do pensamento O velho eu de John: em novembro de 2006,
John partiu o pescoço na sétima vértebra cervical e na
primeira torácica quando seguia como passageiro num

carro que se descontrolou a alta velocidade. Com o impacto,


também sofreu um grave traumatismo craniano. Os médicos
não tinham quaisquer dúvidas quanto ao prognóstico: seria
tetraplégico para sempre. Jamais voltaria a andar e teria
uma utilização muito limitada dos braços e das mãos. Tinha
as vértebras completamente deslocadas, provocando-lhe
danos na medula espinal. Só com a cirurgia é que os
médicos puderam constatar a extensão das lesões. Dois dias
depois, o neurologista informou a mulher de John de que ele
tinha a medula espinal mais ou menos “intacta", mas que
aquele tipo de lesão poderia ter o mesmo resultado de um
corte. Tal como em todas as lesões da medula espinal, só se
podia esperar.
Apanhados na realidade diária da unidade de cuidados
intensivos, podemos ter muita dificuldade em resistir à
mentalidade convencional. Quando John e a família
inquiriram sobre uma eventual recuperação, os médicos
disseram que dado o estado da lesão e o facto de até àquela
data a medula espinal não ter recuperado o funcionamento
normal, deviam preparar-se para aceitar o inevitável. John
ficaria fisicamente incapacitado para o resto da vida. Os
médicos insistiram em passar essa mensagem para os
incentivar a “seguir em frente". Mas, de alguma forma, John
e a mulher não conseguiam aceitar tal cenário.

Quando o conheci em 2009, John deslocava-se numa cadeira


de rodas.

Conheci também a mulher, a família e uma fisioterapeuta


fantástica que percebia de neuroplasticidade. são das
pessoas mais enérgicas e otimistas que alguma vez conheci
e foi com alegria que encerramos a nossa viagem juntos.

Os exames de imagiologia de John: observe o cérebro de


John “antes da meditação" na Figura 10.7. A primeira
imagem apresenta bastante hipoatividade.

É mais de 3 DP abaixo do normal. Com espessas linhas azuis,


os valores da coerência são o oposto dos da doença de
Parkinson de Michelle, cujo estudo apresentava espessas
linhas vermelhas. Este exame revela menos capacidade para
as diferentes partes do cérebro funcionarem bem em
conjunto. Aqui, o cérebro está em ponto-morto, sem energia,
o que faz com que John não consiga responder a nada por
muito tempo. não se mantinha nem muito atento nem muito
alerta. Devido à lesão sofrida, o cérebro encontrava-se num
estado de excitação suprarreduzida, revelando um elevado
grau de incoerência.
Atente agora neste exame feito depois de quatro dias de
meditação regular.

Na primeira imagem na margem superior esquerda em delta


a 1 Hz, tem mais atividade assinalada a vermelho. É bom
sinal, porque indica mais coerência em

delta nos dois hemisférios. John começa a apresentar um


processamento dual mais equilibrado. Uma vez que a lesão
cerebral é mais visível em delta e teta, a hiperatividade em
delta sugere que o cérebro está a despertar. O resto do
cérebro em alfa e beta revela uma atividade mais
equilibrada e uma função cognitiva melhorada. Isso significa
que já controla mais a mente e o corpo.

Observe agora a Figura 10.8. A cor azul que começa mais ou


menos a meio da segunda fila e vai até à fila de baixo indica
novamente que John não tem ondas cerebrais alfa ou beta.
Essa cor azul distribuída pelos domínios alfa e beta nos
hemisférios esquerdo e direito sugere que está a vegetar e a
funcionar com recursos limitados. O azul demonstra menos
capacidade cognitiva e menos capacidade para controlar o
corpo. A mente de John não está pura e simplesmente
presente.

Tal como o verde indica, depois de meditar regularmente


durante quatro dias, 90 por cento do cérebro de John
voltaram ao normal. É excelente! Ainda apresenta alguma
hipoatividade no hemisfério esquerdo, para onde apontam
as setas, o que indica problemas com as capacidades
verbais e a expressão, mas não deixa por isso de ser muito
melhor do que no primeiro exame. John continua a fazer as
meditações e o cérebro apresenta cada vez mais energia,
equilíbrio e coerência.

John recuperou o acesso às vias neurais latentes que tinha


anteriormente. O
cérebro despertou, recordou o seu funcionamento e
recuperou energia suficiente para melhorar.

O novo eu de John: no fim do nosso evento de fevereiro de


2013, John levantou-se. Já recuperou totalmente o controlo
dos intestinos e da bexiga, já se mantém em pé com uma
postura mais normal e integrada, e já faz movimentos mais
coordenados. A frequência, a intensidade e a duração dos
tremores espasmódicos diminuíram consideravelmente. Até
já treina regularmente no ginásio, graças à ajuda da
fantástica fisioterapeuta B. Jill Runnion (diretora do Synapse
— Center for Neuro Re-Activation em Driggs, no Idaho), que
também estuda o meu trabalho e que, com as capacidades
necessárias e uma mente ilimitada, desafia John,
proporcionando-lhe as condições adequadas. Nos exercícios
de agachamento vertical sem apoio, passou de um ângulo
de 10 graus para um ângulo de 45 graus.

John já consegue sentar-se com total controlo. É também


capaz de realizar um exercício de fisioterapia em que tem de
afastar um elemento móvel do corpo com os músculos das
pernas e do torso, com resistência. Já se sustém
completamente de gatas e começa deslocar-se assim.

Poucos meses depois do workshop, John surpreendeu a


equipa médica com todas as suas melhorias em termos de
funcionamento cognitivo. Os progressos

que fez superaram tudo o que especialistas tinham visto


noutros pacientes com lesões na medula espinal. Foi como
se John tivesse por fim despertado; os exames de
imagiologia demonstram que já tem mais acesso ao cérebro
e ao corpo. Ainda revela mais controlo sobre áreas do
cérebro que se encontram dormentes, porque já tem mais
capacidade para regular o corpo.
A integração geral e os padrões de movimento coordenado
de John evoluíram consideravelmente, permitindo-lhe sentar-
se à mesa sem ajuda, com os pés firmemente apoiados no
chão. As capacidades motoras finas melhoraram a ponto de
poder pegar numa caneta e assinar um papel, utilizar um
smartphone para enviar uma mensagem, agarrar no volante
para conduzir e segurar na escova de dentes. As mudanças
cognitivas demonstram mais autoconfiança e alegria interior.
Tem muito mais sentido de humor e está mais alerta do que
nunca.

No verão de 2013, John pôde fazer rafting, aguentando-se


seis horas num barco sem ajuda e dormindo numa tenda no
chão. Conseguiu viver no meio da natureza de Idaho, sem
contacto com o mundo exterior, durante sete dias e seis
noites. Um ano antes não seria capaz. Sempre que falo com
ele, John diz-me:

“Dr. Joe, não faço ideia do que se está a passar.” tempo. não
se mantinha nem muito atento nem muito alerta. Devido à
lesão sofrida, o cérebro encontrava-se num estado de
excitação suprarreduzida, revelando um elevado grau de
incoerência.

Atente agora neste exame feito depois de quatro dias de


meditação regular.

Na primeira imagem na margem superior esquerda em delta


a 1 Hz, tem mais atividade assinalada a vermelho. £ bom
sinal, porque indica mais coerência em delta nos dois
hemisférios. John começa a apresentar um processamento
dual mais equilibrado. Uma vez que a lesão cerebral é mais
risível em delta e teta, a hiperatividade em delta sugere que
o cérebro está a despertar. O resto do cérebro em alfa e beta
revela uma atividade mais equilibrada e uma função
cognitiva melhorada. Isso significa que já controla mais a
mente e o corpo.
Observe agora a Figura 10.8. A cor azul que começa mais ou
menos a meio da segunda fila e vai até à fila de baixo indica
novamente que John não tem ondas cerebrais alfa ou beta.
Essa cor azul distribuída pelos domínios alfa e beta nos
hemisférios esquerdo e direito sugere que está a vegetar e a
funcionar com recursos limitados. O azul demonstra menos
capacidade cognitiva e menos capacidade para controlar o
corpo. A mente de John não está pura e simplesmente
presente.

Tal como o verde indica, depois de meditar regularmente


durante quatro dias, 90 por cento do cérebro de John
voltaram ao normal. £ excelente! Ainda apresenta alguma
hipoatividade no hemisfério esquerdo, para onde apontam
as

setas, o que indica problemas com as capacidades verbais e


a expressão, mas não deixa por isso de ser muito melhor do
que no primeiro exame. John continua a fazer as meditações
e o cérebro apresenta cada vez mais energia, equilíbrio e
coerência.

John recuperou o acesso às vias neurais latentes que tinha


anteriormente. O

cérebro despertou, recordou o seu funcionamento e


recuperou energia suficiente para melhorar.

O novo eu de John: no fim do nosso evento de fevereiro de


2013, John levantou-se. Já recuperou totalmente o controlo
dos intestinos e da bexiga, já se mantém em pé com uma
postura mais normal e integrada, e já faz movimentos mais
coordenados. A frequência, a intensidade e a duração dos
tremores espasmódicos diminuíram consideravelmente. Até
já treina regularmente no ginásio, graças à ajuda da
fantástica fisioterapeuta B. Jill Runnion (diretora do Synapse
— Center for Neuro Re-Activation em Driggs, no Idaho), que
também estuda o meu trabalho e que, com as capacidades
necessárias e uma mente ilimitada, desafia John,
proporcionando-lhe as condições adequadas. Nos exercícios
de agachamento vertical sem apoio, passou de um ângulo
de 10 graus para um ângulo de 45 graus.

John já consegue sentar-se com total controlo. É também


capaz de realizar um exercício de fisioterapia em que tem de
afastar um elemento móvel do corpo com os músculos das
pernas e do torso, com resistência. Já se sustém
completamente de gatas e começa deslocar-se assim.

Poucos meses depois do workshop, John surpreendeu a


equipa médica com todas as suas melhorias em termos de
funcionamento cognitivo. Os progressos que fez superaram
tudo o que especialistas tinham visto noutros pacientes com
lesões na medula espinal. Foi como se John tivesse por fim
despertado; os exames de imagiologia demonstram que já
tem mais acesso ao cérebro e ao corpo. Ainda revela mais
controlo sobre áreas do cérebro que se encontram
dormentes, porque já tem mais capacidade para regular o
corpo.

A integração geral e os padrões de movimento coordenado


de John evoluíram consideravelmente, permitindo-lhe sentar-
se à mesa sem ajuda, com os pés firmemente apoiados no
chão. As capacidades motoras finas melhoraram a ponto de
poder pegar numa caneta e assinar um papel, utilizar um
smartphone para enviar uma mensagem, agarrar no volante
para conduzir e segurar na escova de dentes. As mudanças
cognitivas demonstram mais autoconfiança e alegria interior.
Tem muito mais sentido de humor e está mais alerta do que
nunca.

No verão de 2013. John pôde fazer rafting, aguentando-se


seis horas num barco sem ajuda e dormindo numa tenda no
chão. Conseguiu viver no meio da
natureza de Idaho, sem contacto com o mundo exterior,
durante sete dias e seis noites. Um ano antes não seria
capaz. Sempre que falo com ele, John diz-me:

“Dr. Joe, não faço ideia do que se está a passar.**

(original escaneado com página faltando aqui)

monstram níveis de ansiedade muito elevados (beta de alto


alcance) e análise excessiva, porque as ondas cerebrais das
frequências mais elevadas (21 a 30 Hz) estão hiperativas —
o cérebro estava a trabalhar demasiado. No início de abril
(como se vê na Figura 10.13), o cérebro de Kathy já se
mostra equilibrado, coerente e muito mais sincronizado. Hoje
em dia, Kathy tem um cérebro muito diferente e diz que se
sente realmente outra pessoa.

O novo eu de Kathy: Kathy diz que viveu inúmeras mudanças


positivas, em termos de carreira, vida diária e relações.
Medita todos os dias e se começa a achar que não tem
tempo para isso, faz questão de o arranjar. Sabe que a
atitude que lhe criou o desequilíbrio mental e cerebral está
relacionada com o tempo e as condições do ambiente
exterior. Kathy diz que obtém mais facilmente e com muito
menos esforço as respostas para as suas perguntas. Ouve
mais o coração e não se permite entrar em ciclos de
vigilância. Raramente se deixa arrastar para essas espirais e
considera que se tornou uma pessoa mais bondosa e
paciente.

Kathy está mais feliz de dentro para fora.

16. Curar quistos fibrosos mudando a energia

O velho eu de Bonnie: em 2010, Bonnie começou a sentir


muito mais dores e a ter muito mais hemorragia no ciclo
menstruai. Quando procurou ajuda, diagnosticaram-lhe
produção excessiva de estrogênio e incentivaram-na a
começar um tratamento de reposição hormonal bioidêntica.
Com 40 anos, aquela solução parecia-lhe muito radical.

Bonnie lembrava-se de que a mãe tivera os mesmos


sintomas com essa idade, fizera um tratamento hormonal e
acabara por morrer com cancro na bexiga. Muito embora
possa não existir um elo específico entre a terapia hormonal
e o cancro na bexiga, o que chamou a atenção de Bonnie foi
o facto de ter os mesmos sintomas físicos que a mãe tinha.
não queria desenvolver o mesmo resultado.

A hemorragia vaginal começou a durar mais (por vezes, duas


semanas),

tornando-a anêmica e letárgica. Por causa disso, Bonnie


engordou 9 kg. Perdia uma média de dois litros de sangue
por mês no ciclo menstrual. A ecografia pélvica confirmou a
existência de quistos fibrosos. Depois de fazer uma série de
análises ao sangue, informaram-na de que era
perimenopáusica e o mais certo seria ter um quisto no
ovário. O especialista que lhe recomendou a terapia
hormonal disselhe que esses quistos não desaparecem e que
não havia forma de travar a hemorragia.

Selecionei aleatoriamente Bonnie para lhe fazer um mapa


cerebral no evento de Englewood, no Colorado, em julho de
2013. Ficou mortificada quando lhe disse que tinha sido
selecionada. O ciclo menstruai começara na véspera do
workshop e ela tinha de usar uma fralda enorme para
absorver a quantidade de sangue que perdia. Quando, após
várias meditações, pedi aos alunos para se deitarem, Bonnie
tinha receio de se sujar de sangue. Ficar sentada também
não era cômodo, por causa das dores que sentia.

Apesar disso, Bonnie queria continuar a praticar as técnicas


de meditação todos os dias, para pacificar a mente. Na
primeira meditação, quando lhe traçávamos o mapa
cerebral, Bonnie teve uma experiência que só consegue
descrever como sendo mística. Sentiu o coração abrir e
expandir. A cabeça foi para trás e a respiração alterou-se.
Bonnie viu o corpo inundar-se de luz, sentiu uma tremenda
sensação de paz e ouviu dizer: “Sou amada, abençoada e
lembrada." Desatou a chorar durante a meditação e o exame
cerebral revelou que estava num estado de beatitude.

Os exames de imagiologia de Bonnie: observe o EEG de


Bonnie na Figura 10.14.

Tivemos a sorte de captar toda a experiência em tempo real


O primeiro gráfico apresenta uma atividade das ondas
cerebrais normal. Está tudo equilibrado e tranquilo. Se
observar os três exames de Bonnie na Figura 10.15. que
captam o que lhe estava a acontecer em diferentes
momentos da meditação, verá amplitude e energia elevada
nos lóbulos frontais, indicando que estava a processar
bastante informação e emoção. Encontrava-se num estado
de consciência expandido e experienciava picos em
intervalos distintos. A maior parte da atividade ocorreu nas
ondas cerebrais teta, o que significa que ela se encontrava
na mente subconsciente. A vivência interior era muito real
para ela nesse momento. Estava tão centrada no
pensamento que este se tornou experiência. O quociente
emocional é representado pela quantidade de energia
(amplitude) que o cérebro estava a processar. Repare no
comprimento vertical das linhas para onde apontam as
setas. É uma energia muito coerente. Bonnie

encontrava-se num estado superior de consciência.

Agora, observe a Figura 10.16. O exame de EEGQ de Bonnie


feito em tempo real tem uma seta a apontar para 1 Hz nas
ondas cerebrais delta, ilustrando a ligação dela ao domínio
quântico (a azul). Bonnie também apresentava mais energia
no lóbulo frontal nas ondas cerebrais teta (a vermelho),
correspondendo exatamente ao que acontecia no EEG.
Repare no círculo vermelho a assinalar os lóbulos frontais e
na seta a apontar para a vista de cima do lóbulo frontal
mesmo abaixo. A imagem que vê retrata a atividade cerebral
de Bonnie durante toda a meditação. Dado que uma das
funções do lóbulo frontal é tornar os pensamentos reais, o
que ela experienciou em teta com os olhos fechados
pareceu-lhe muito real. Podemos dizer que a experiência
interior de Bonnie se assemelhou à de um sonho muito nítido
e lúcido. A seta vermelha a 12 Hz em alfa — isolando a zona
vermelha no centro do cérebro — revela a tentativa de
Bonnie de entender a experiência interior e processar o que
via com a visão mental. O resto do cérebro estava saudável
e equilibrado (a verde).

O novo eu de Bonnie: a experiência de Bonnie nesse dia


mudou-a para sempre.

A amplitude de energia relacionada com a experiência


interior superou qualquer experiência passada do ambiente
exterior e, portanto, fez com que o passado fosse
biologicamente removido. A energia do pico momentâneo da
meditação ultrapassou os programas integrados do cérebro
e o condicionamento emocional do corpo — e o corpo
respondeu instantaneamente a uma nova mente e a uma
nova consciência. Bonnie alterou o estado de ser. Em menos
de 24 horas, a hemorragia parou completamente. Deixando
de ter sintomas dolorosos, percebeu instintivamente que
estava curada. Nos meses que se seguiram ao evento,
Bonnie só teve ciclos menstruais normais. Desde o workshop
que nunca mais sofreu dores ou hemorragias excessivas.
17. Sentir êxtase

O velho eu de Genevieve: artista e música com 45 anos,


Genevieve reside atualmente na Holanda e viaja muito por
causa da sua vocação. No evento de fevereiro, eu e o Doutor
Fannin analisamos-lhe o cérebro durante a meditação. A

meio da sua viagem interior, começamos a reparar em


mudanças significativas na energia dela. Ao fazermos a
mesma leitura do seu exame, olhamos um para o outro, à
espera de que acontecesse qualquer coisa. Momentos
depois, quando olhamos para ela, vimos lágrimas de alegria
a deslizarem-lhe pela face.

Genevieve estava em êxtase. Estava no auge do prazer e o


corpo respondia prontamente. Nunca tínhamos visto nada
assim.

Os exames de imagiologia de Genevieve: se observar a


Figura 10.17, verá a imagem de um cérebro relativamente
normal, captada antes de Genevieve começar a meditar. As
zonas verdes espalhadas pelo cérebro revelam uma mulher
saudável e bem adaptada com um cérebro equilibrado. As
zonas azuis, de menor atividade sensorial e motora antes do
início da meditação, em alfa, de 13

a 14 Hz, onde vê as setas, indicam provavelmente jet-lag,


porque chegara nesse mesmo dia da Europa. Se observar o
cérebro de Genevieve durante a meditação, notará um
aumento generalizado no equilíbrio. O que aconteceu a
seguir foi absolutamente espantoso. Quando a vimos
alcançar esse pico, no fim da meditação, percebemos, com
base na análise dos seus exames, que ela tinha bastante
energia no cérebro.
Agora observe a Figura 10.18. O tipo de atividade
representado a vermelho, demonstrando grandes
quantidades de energia em todas as frequências de ondas
cerebrais, sugere que Genevieve se encontra num estado
altamente alterado.

Quem não soubesse que ela estava a meditar e só visse o


exame diria que ela estava a sentir um nível muito elevado
de ansiedade ou psicose. Mas uma vez que no testemunho
pessoal se descrevia como estando em puro êxtase,
sabemos que o vermelho representa uma enorme
quantidade de energia no cérebro que está 3 DP acima do
normal. A energia na forma de emoção armazenada no corpo
como mente é libertada e regressa ao cérebro.

A Figura 10.19, que apresenta a leitura do EEG, confirma-o.


Se observar as linhas roxas, onde se encontra a seta, verá
que essa parte do cérebro está a processar dez vezes mais
energia do que o normal. A zona circundada a vermelho diz-
nos que a experiência é tão profunda a nível emocional que
ficará armazenada na memória de longo prazo de
Genevieve. Ao mesmo tempo, ela também tenta
compreender verbalmente o que lhe está a acontecer nesse
momento. Poderá dizer qualquer coisa para si própria, como:
Oh, meu Deus! Ê

espantoso. Sinto-me tão bem! O que estou a sentir? A


experiência interior é tão real como um acontecimento
exterior e ela não está a tentar fazê-la acontecer —

está simplesmente a acontecer-lhe. não está a visualizar;


está a viver uma

experiência muito intensa.

Em julho, no evento que realizamos no Colorado, fizemos


outro exame a Genevieve e foi muito interessante constatar
que ela continuava a apresentar as mesmas mudanças
energéticas. Quando lhe passamos o microfone nos dois
eventos, a única coisa que conseguia dizer era que se sentia
tão apaixonada pela vida que tinha o coração escancarado e
se sentia ligada a algo que a transcendia.

Encontrava-se num estado de graça e sentia-se tão bem,


que queria ficar no presente. Se observar a Figura 10.20,
verá que, em julho, o cérebro dela demonstrava os mesmos
padrões e efeitos que apresentara em fevereiro. A
experiência ainda persistia meses depois. Ficara realmente
alterada com a sua transformação pessoal.

O novo eu de Genevieve: quando falei com ela, várias


semanas depois do evento de julho, Genevieve disseme que
não era a mesma pessoa que tinha sido no início do ano.
Tinha uma mente mais profunda, estava mais presente e
sentia-se muito mais criativa. Estava profundamente
apaixonada por todas as coisas e, acima de tudo, sentia-se
tão elevada que já não sentia necessidade ou vontade de
nada. Sentia-se plena.

18. Beatitude: fazer a mente sair do corpo

O velho eu de Maria: Maria é uma mulher altamente


funcional com uma atividade cerebral normal. Na primeira
meditação do dia, num exercício de 45

minutos, não tardou a sentir uma mudança significativa nas


ondas cerebrais.

Os exames de imagiologia de Maria: observe a Figura 10.21


e repare na diferença entre as ondas cerebrais normais e o
estado de êxtase de Maria.

Quando a observei a alcançar um estado superior de


energia, ela parecia estar a ter um orgasmo no cérebro. A
imagem mostra um cérebro plenamente ativo a viver uma
experiência completa de kundalini (uma energia latente
armazenada no corpo que, quando estimulada, conduz o
cérebro a estados superiores de

consciência e energia). Olhando para os exames de Maria,


vemos que todas as zonas do cérebro estavam a ser
invadidas por uma energia muito acentuada.

Quando é despertada, a energia da kundalini pode subir da


base da coluna ao topo do cérebro, onde pode produzir uma
experiência mística extremamente profunda. Muitos dos
meus alunos atingem esses orgasmos cerebrais. No exame
de Maria, todas as zonas do cérebro se enchem de energia e
as ondas cerebrais demonstram uma amplitude quatro vezes
superior à normal. Ela tem o cérebro coerente e muito
sincronizado. Se analisarmos os exames, perceberemos que
o êxtase ocorre em ondas, tal como um orgasmo. Maria não
fazia por isso; acontecia-//ie simplesmente. Todo o seu
cérebro estava envolvido no acontecimento interior e, em
resultado, ela estava profundamente permeada de energia.

O novo eu de Maria: Hoje em dia, Maria continua a ter


experiências místicas semelhantes. Sempre que ocorrem,
sente-se mais descontraída, consciente, alerta e inteira.
Espera sempre pelo momento seguinte.

19. Chegou a sua vez

Estes exemplos (entre tantos que documentamos) provam


que é efetivamente possível ensinar o efeito placebo. Agora
que recebeu toda a informação, que leu todas estas histórias
e conheceu todas as provas do que é possível fazer, está na
altura de aprender as técnicas para poder vivenciar a sua
própria transformação.
Nos próximos dois capítulos, explico os passos que deve
seguir para dar início ao seu processo pessoal de meditação.
Quero que ponha em prática todo o conhecimento que
adquiriu até aqui, para poder colher os frutos dos seus
esforços. Uma vez que já tem as ferramentas necessárias
para atravessar o rio da mudança, espero vê-lo do outro
lado.

PARTE 2

TRANSFORMAÇÃO

13. CAPÍTULO 11

Preparação para a meditação

Agora que leu e assimilou toda a informação da Parte I, já


está pronto para a transformação. Neste capítulo, explico o
que precisa de saber para se preparar para a meditação
guiada do capítulo seguinte. Todos os participantes deste
livro que mudaram qualquer coisa neles próprios tiveram de
começar por mergulhar no seu interior e mudar o estado de
ser. Pense na prática da meditação como a toma diária do
placebo. Mas, em vez de tomar um comprimido, mergulha
no seu interior. Com o tempo, a meditação terá a força da
sua crença na medicação.

1. Quando meditar

Há dois momentos do dia mais propícios para a meditação:


mesmo antes de se ir deitar à noite e logo após se levantar
de manhã. Isto porque, ao adormecer, atravessa
naturalmente todos os estados de ondas cerebrais —
começa no de vigília, passa pelo beta e o alfa mais lento ao
fechar os olhos, pelo ainda mais lento teta entre o dormir e o
acordar, e alcança o profundo estado delta ao adormecer. Ao
acordar de manhà, faz o mesmo, no sentido inverso: do delta
para o teta; do teta para o alfa; e do alfa para o beta, já
desperto e consciente.

Se meditar antes de dormir ou logo depois de acordar, terá


mais facilidade em aceder às ondas cerebrais alfa ou teta;
está mais preparado para entrar num estado alterado,
porque ou acaba de sair dele ou está prestes a aceder-lhe.

Podemos dizer que a porta para a mente subconsciente se


abre nesses dois momentos. Pessoalmente, prefiro meditar
de manhã, mas funciona nesses dois momentos. Escolha o
que mais lhe convier e persista. Meditar todos os dias é um
bom hábito que acabará por ter muita vontade de praticar.

2. Onde meditar

O fator mais importante a ter em conta na seleção de um


locai para meditar é a distração. Para se desligar do mundo
físico exterior, deve escolher um local

tranquilo, onde possa ficar sozinho sem que o interrompam


(nem pessoas nem animais de estimação) — onde possa
estar todos os dias e que possa considerar um local sagrado
de meditação.

não o aconselho a meditar na cama, porque a associamos ao


sono. (Por essa mesma razão, também não o aconselho a
deitar-se ou a sentar-se numa cadeira reclinável para
meditar.) Escolha uma cadeira ou um local no chào onde
possa estar cerca de uma hora — longe de correntes de ar e
com uma temperatura agradável.

Se preferir meditar com música, escolha temas


instrumentais suaves, relaxantes, indutores de transe ou
mantras sem letra. (Aliás, é bom ter música a disfarçar o
ruído de fundo, caso esteja num ambiente barulhento.) não
ponha música que evoque memórias associativas de eventos
passados ou que possam, por algum motivo, distraí-lo.
Desligue o computador e o telemóvel se os tiver consigo. E
tente evitar aromas a café ou a comida. Talvez lhe convenha
utilizar uma venda ou tampões nos ouvidos, para aumentar
o efeito da privação sensorial, uma vez que o seu objetivo é
eliminar o máximo de estímulos exteriores possível.

3. Conforto

Escolha roupa larga e confortável. Retire o relógio e


quaisquer acessórios que o possam distrair. Se usa óculos,
tire-os também. Beba um pouco de água antes de se sentar
e ponha um copo ao seu alcance, para o caso de ter sede. Vá
à casa de banho antes de começar e tente tratar de
quaisquer questões que o possam distrair durante a
meditação.

Quer esteja sentado numa cadeira, quer esteja sentado de


pernas cruzadas no chão, mantenha as costas direitas. Deve
ter o corpo relaxado mas a mente centrada, por isso, não se
descontraia a ponto de adormecer. Sentir a cabeça a
balançar durante a meditação significa que está a entrar
num estado de ondas cerebrais mais lentas, portanto, não se
preocupe. Com a prática, o corpo habitua-se e não se deixa
adormecer.

Ao começar a meditar, feche os olhos e respire profunda e


lentamente. não tardará a passar do estado beta para o alfa.
Mais repousado mas ainda assim centrado, o estado alfa
ativa o lóbulo frontal que, como já viu, reduz o volume dos
circuitos cerebrais que processam o tempo e o espaço.
Embora, inicialmente, possa não se sentir capaz de passar
para o estado seguinte mais lento, que é o teta, verá que
com a prática conseguirá abrandar ainda mais as ondas
cerebrais.
O teta é o estado em que o corpo adormece mas a mente se
mantém desperta, e é aquele em que mais facilmente altera
os programas automáticos do corpo.

4. Quanto tempo

Apesar de a meditação durar geralmente entre 45 minutos e


uma hora, demore o tempo que precisar para acalmar a
mente, antes de começar. Sc necessitar de acabar a uma
certa hora, programe o alarme para dez minutos antes do
fim da meditação, para não terminar abruptamente a
sessão. Mas não deixe que o tempo o distraia. Lembre-se de
que convém afastar não só os estímulos sensoriais, mas
também a consciência do tempo, para não estar
constantemente preocupado com as horas, pois isso seria
contraproducente. Se precisa de mais minutos do seu dia
para meditar sem distrações, pondere levantar-se mais cedo
ou deitar-se mais tarde.

5. Dominar a vontade

Quero alertá-lo para um obstáculo muito vulgar com que


lidam as pessoas que começam a prática da meditação.
Sempre que começar a mudar qualquer coisa na sua rida, o
corpo, como mente, emitirá sinais ao cérebro para recuperar
o controlo. Quando der por si, já está a ouvir vozes negativas
na cabeça, do gênero: Porque não começas amanhã? És
muito parecido com a tua mãe! O que se passa contigo?
Nunca mudarás. Isto não me parece bem. É o corpo a tentar
desestabilizá-lo, para poder ser outra vez a mente. Talvez o
tenha inconscientemente condicionado a ser impaciente,
frustrado, infeliz, vitimizado ou pessimista, para dar apenas
alguns exemplos. E é assim que ele se quer comportar
subconscientemente.

Se respondermos a essa voz como se o que ela nos diz fosse


verdade, a consciência mergulha no programa automático e
voltamos a formular os mesmos pensamentos, a realizar as
mesmas ações e a seguir as mesmas emoções — mas
sempre à espera de mudar a vida. Se utilizarmos esses
sentimentos e emoções como barômetro para a mudança,
acabaremos sempre por nos desconvencer da possibilidade.
Se, pelo contrário, libertarmos o corpo dos grilhões dessas
emoções, não só nos descontraímos e nos estabelecemos no
presente (falarei sobre isso mais adiante), como também
libertamos energia do corpo — passando

de partícula a onda — para que ela nos possa criar um novo


destino. Para aí chegarmos, para ensinarmos uma nova
forma de ser ao corpo, temos de nos sentar para lhe mostrar
quem manda.

Tenho um rancho com 18 cavalos e dominar a vontade para


me focar na meditação lembra-me de como é montar o meu
garanhão preferido depois de uma longa temporada sem o
fazer. Quando me sento na sela, ele parece estar-se nas
tintas para mim. Cheira as éguas que estão do outro lado da
propriedade e é a isso que presta atenção. É como se me
dissesse: “Onde estiveste nos últimos oito meses? Ganhei
maus hábitos na tua ausência, as miúdas estão ali e não me
interessa o que queres fazer, por isso, vou-te atirar ao chão.
Quem manda aqui sou eu." Temperamental e controlador,
revolta-se e tenta atirar-me para a arena.

Mas presto-lhe atenção e quando o vejo voltar a cabeça na


direção das éguas, controlo-o.

Assim que o vejo começar a desviar a atenção de mim,


agarro lenta mas firmemente as rédeas, puxo-as e espero.
Ele não tarda a parar e a resfolegar.

Nessa altura, afago-o de lado e digo-lhe: “É isso." Damos


dois passos e, quando vejo que a cabeça dele começa a
virar-se lentamente, travo-o — e espero. Ele resfolega outra
vez e, quando der sinal de que me reconhece a autoridade,
retomamos a marcha. Faço sempre isto até ele acabar por se
render.

É precisamente esse o tipo de redirecionamento suave mas


firme que utilizamos com o corpo, quando nos sentamos
para meditar. Pense no corpo como o animal que nós, como
consciência, estamos a domar. Sempre que tomarmos
consciência de que a atenção se desviou e a trouxermos de
volta dessa forma, recondicionamos o corpo a uma nova
mente. Dominamo-nos a nós próprios e ao nosso passado.

Digamos que acordamos de manhã e temos uma lista de


pessoas a quem ligar e uma lista de tarefas a cumprir, bem
como 35 mensagens escritas e não sei quantos e-mails a
que responder. Se começarmos a pensar em todas as coisas
que temos de fazer assim que nos levantamos, projetamos o
corpo no futuro. Quando nos sentamos a meditar, a mente
talvez queria naturalmente seguir nessa direção.

Se permitirmos, o cérebro e o corpo passam para esse futuro


previsível, porque estamos à espera de um determinado
resultado com base na experiência do dia anterior.

Desse modo, assim que perceber que a mente quer seguir


nessa direção, só tem de puxar as rédeas, estabilizar o corpo
e trazê-lo para o momento presente

— tal como eu faço com o meu garanhão. Então, em


seguida, se começar a pensar Pois, mas tens de fazer isto,
esqueceste-te daquilo e precisas de fazer aquela coisa que
não conseguiste fazer ontem, limite-se a trazer a mente
novamente para o momento presente. Caso persista e isso
lhe cause frustração,

impaciência, preocupação e daí por diante, lembre-se de que


qualquer emoção que sinta pertence simplesmente ao
passado. Limite-se a reparar nela; torne-se consciente: Ah, o
meu corpo-mente quer que volte ao passado. Está bem.
Vamos deixar-nos estar descontraidamente no presente.

não é só a mente que o quer distrair; o corpo também.


Talvez queira ficar enjoado, criar dor ou fazer surgir
comichão bem no meio das costas. Se isso acontecer,
lembre-se de que é só o corpo a tentar ser a mente. Ao
dominá-lo, supera-o. Se o dominar sempre na meditação,
retomará a vida mais presente, alerta e consciente — e
menos inconsciente.

Mais cedo ou mais tarde, tal como o meu garanhão se rende


e passa a seguir as minhas ordens sem se deixar distrair
pelas éguas ou pelo que quer que seja, o corpo acatará a
mente durante a meditação, sem se deixar desviar por
pensamentos perdidos. não há nada melhor do que o
momento em que o cavalo e o cavaleiro se tornam um só e
em que a mente e o corpo passam a funcionar em conjunto
— quando passa a um novo estado de ser. É uma
extraordinária sensação de poder.

6. Passar para um estado alterado

A meditação pela qual o vou guiar no próximo capitulo


começa com uma técnica a que os budistas chamam
enfoque aberto. É muito útil para aceder ao estado alterado
que queremos alcançar, porque na nossa existência
quotidiana, ao vivermos no modo de sobrevivência, a
marinar em hormonas do stress, estreitamos naturalmente o
enfoque. Concentramos toda a atenção em coisas, pessoas e
problemas (centrando-nos na partícula ou na matéria e não
na onda ou na energia) e definimos a realidade pelos
sentidos. Chamamos a esse tipo de atenção enfoque no
objeto.
Com toda a atenção no mundo exterior, que, neste estado,
nos parece mais real do que o mundo interior, o cérebro
permanece praticamente no estado de ondas cerebrais beta
de alto alcance — o padrão de ondas cerebrais mais reativo,
instável e volátil de todos. Em alerta máximo, não podemos
criar, fantasiar, resolver problemas, aprender coisas novas
nem curar. não é de modo algum um estado que propicie a
meditação. A atividade elétrica no cérebro aumenta e,
graças à resposta de luta ou fuga, os ritmos cardíaco e
respiratório aumentam

naturalmente. O corpo não pode mobilizar muitos ou mesmo


nenhuns —

recursos para o crescimento e a saúde, porque está sempre


na defensiva, a tentar proteger-nos e a ajudar-nos a
sobreviver mais um dia.

Nessas condições menos favoráveis, o cérebro tende a


compartimentar-se, o que significa que algumas regiões
começam a funcionar isoladamente ou por oposição a outras
— é como pisar no travão e no acelerador ao mesmo tempo.
É

uma casa dividida contra si própria.

Além do facto de algumas partes do cérebro deixarem de


comunicar bem, o cérebro deixa de comunicar de forma
eficiente e ordenada com o resto do corpo.

Uma vez que o cérebro e o sistema nervoso central


controlam e coordenam todos os outros sistemas do corpo —
mantendo o coração a bater e os pulmões a respirar,
digerindo os alimentos e eliminando os dejetos, controlando
o metabolismo, regulando o sistema imunitário, equilibrando
as hormonas e mantendo inúmeras funções -, ficamos em
desequilíbrio. O cérebro envia mensagens muito
desordenadas e “desintegradas” pela medula espinal para o
resto do corpo. Em consequência, nenhum dos sistemas do
organismo recebe uma mensagem clara — todos recebem
mensagens incoerentes.

Imagine o sistema imunitário a responder: “não sei fazer um


linfócito com essas instruções.” E o sistema digestivo: “não
sei se devo segregar ácido primeiro no estômago ou no
intestino delgado. Estas ordens são bastante confusas.”

Ao mesmo tempo, o sistema cardiovascular queixa-se: “não


sei se o meu coração deve manter o ritmo ou não, porque o
sinal que recebo está bastante fora de ritmo. não me digam
que anda aí outra vez um leão ao dobrar da esquina?”

Esse estado de desequilíbrio mantém-nos fora da


homeostase ou do equilíbrio, gerando facilmente doenças,
produzindo arritmias ou hipertensão (sistema cardiovascular
desequilibrado), indigestão e refluxo ácido (sistema digestivo
desequilibrado), bem como constipações, alergias, cancro,
artrite reumatoide e outras condições (função imunitária
desequilibrada) — para dar apenas alguns exemplos.

É a esse estado — com as ondas cerebrais baralhadas e


cheias de estática —

que chamo estado de incoerência no capítulo anterior. As


ondas cerebrais e as mensagens que o cérebro envia ao
corpo não seguem qualquer ritmo ou ordem

— é uma perfeita cacofonia.

Na técnica do enfoque aberto, por outro lado, fechamos os


olhos, desviamos a atenção do mundo exterior e das suas
atrações, e expandimos o enfoque para prestar atenção ao
espaço que nos rodeia (na onda e não na partícula). Se
funciona é porque quando sentimos esse espaço, não
prestamos atenção a nada de material e não pensamos. Os
padrões de ondas cerebrais passam para um

estado alfa mais repousante e criativo (e acabam por chegar


ao teta). Nesse estado, o mundo interior torna-se mais real
do que o exterior, o que significa que temos mais facilidade
em fazer as mudanças que desejarmos.

Segundo as investigações, quando utilizamos bem a técnica


do enfoque aberto, o cérebro começa a organizar-se e a
sincronizar-se, e os diferentes compartimentos funcionam
conjuntamente de um modo mais ordenado. E o que se
sincroniza une-se. Nesse nível de coerência, o cérebro já
pode enviar mais sinais coerentes por todo o sistema
nervoso para o resto do corpo, levando a que tudo comece a
funcionar dentro do ritmo e em conjunto. Em vez de
cacofonia, o cérebro e o corpo tocam uma bela sinfonia. O
resultado final é sentirmo-nos mais plenos, integrados e
equilibrados. Eu e os meus colegas assistimos a esse tipo de
mudanças consistentes no cérebro da maioria dos alunos a
quem fizemos exames de imagiologia cerebral nos nossos
workshops, por isso, sabemos que esta técnica funciona.

7. O seu lugar no momento presente

Depois de passar pelo enfoque aberto, a meditação fá-lo


adquirir a prática de encontrar o momento presente. Quando
estamos presentes, passamos a ter acesso às possibilidades
a nível quântico a que não tínhamos acesso. Lembra-se de
lhe ter dito que no domínio quântico as partículas
subatômicas existem simultaneamente numa gama infinita
de possibilidades? Para que isso seja verdade, o universo
quântico não pode ter uma só linha temporal. Só pode ter
um número infinito de linhas temporais, contendo
simultaneamente todas essas possibilidades empilhadas
umas sobre as outras. Aliás, todas as experiências —
passadas, presentes e futuras -, de todas as coisas, do mais
diminuto microrganismo à mais avançada cultura do
universo, existem no domínio da informação ilimitada
chamado “domínio quântico” Disse que o mundo quântico
não tem tempo, mas a verdade é que tem todo o tempo em
simultâneo — apenas não tem tempo linear, que é a forma
como geralmente pensamos no tempo.

Tal como indica o modelo quântico da realidade, todas as


possibilidades existem no momento presente. Mas se acorda
todas as manhãs e segue sempre a mesma sequência — as
mesmas escolhas, que levam aos mesmos comportamentos,
que criam as mesmas experiências, que produzem os
mesmos resultados emocionais -, é porque não está aberto a
nenhuma dessas outras possibilidades e não se dirige para o
que pode representar uma novidade.

Observe a Figura 11.1.0 círculo representa-o no momento


presente, numa dada linha temporal. A linha à esquerda
representa o passado e a linha à direita, o futuro. Digamos
que, todos os dias, acorda, vai à casa de banho, lava os
dentes,
leva o ção à rua, bebe café ou chá, toma o mesmo pequeno-
almoço, veste-se seguindo a mesma rotina, vai de carro para
o trabalho por um caminho conhecido e daí por diante. Cada
um desses acontecimentos é representado por um ponto na
linha temporal do seu futuro imediato.

FIGURA 11.1

Cada ponto na linha temporal representa o mesmo


pensamento, a mesma escolha, o mesmo comportamento, a
mesma experiência e a mesma emoção de há dias,
semanas, meses e, até. anos. Assim, u passado torna-se o
futura Como um hábito é um conjunto redundante de
pensamentos. ações e sentimentos automáticos adquiridos
por repetição frequente — ou seja, quando o corpo se torna
a mente -. então, na maioria dos casos, o corpo já está
programado para estar no mesmo futuro previsível, com
base no estado de ser passado da pessoa

F. se memorizarmos as emoções que nos ligam ao passado e


esses sentimentos motivarem os nossos pensamentos, o
corpo fica literalmente a viver no passado.

Raramente estamos no momento presente.

Digamos, pois, que há dez anos que segue essa mesma


sequência. O corpo já está programado por hábito a estar no
futuro, com base no passado, porque, quando começa a
antever emocionalmente cada um desses acontecimentos na
linha temporal, o corpo (como mente inconsciente) acredita
que se encontra nessa mesma realidade previsível. E a
mesma emoção faz os mesmos sinais aos mesmos genes,
deixando-o nessa linha temporal do futuro previsível. Na
verdade, podia pegar nessa linha temporal do passado e
colocá-la simplesmente no futuro, porque, neste cenário, o
seu passado é o seu futuro. É como os pianistas que
instalaram os circuitos no cérebro, pensando apenas em
tocar a mesma sequência de teclas, vezes sem conta, e
como as pessoas que faziam exercício com os dedos e
mudaram o corpo só com o poder do pensamento; ao
ensaiar mentalmente o mesmo cenário diário previsível de
ontem na sua cabeça, está a preparar o cérebro e a
condicionar o corpo para o mesmo futuro.

não podemos encontrar o momento presente, porque o


cérebro e o corpo já vivem numa futura realidade conhecida
baseada no passado. Agora, observe todos os pontos da sua
linha temporal que representam escolhas, hábitos, ações e
experiências que criam as mesmas emoções para o lembrar
da sensação de si mesmo. não há espaço para que o novo
ou o desconhecido, o invulgar ou o milagroso, surjam na sua
vida, porque esses pontos estão intimamente ligados.

Seria demasiado inconveniente e, muito sinceramente,


perturbador para a sua rotina. Que transtorno seria ver
aparecer algo novo na vida de uma personalidade que
espera inconscientemente um futuro baseado no passado!

Devo desde já avisá-lo de que, quando começar a praticar,


se inserir a meditação como mais uma experiência na sua
linha temporal, corre o risco de só estar a acrescentar mais
um item à sua lista de afazeres. E se for essa a sua
abordagem, não encontrará o momento presente. Para
conseguir o que pretende

— cura e mudanças duradoras -, tem de estar com os pés


bem assentes no momento presente, sem estar preocupado
com qual será o próximo acontecimento previsível da sua
linha temporal.

É verdade, porque direciona a energia para onde direcionar a


atenção. Basta prestar um pouco de atenção a uma coisa, a
uma pessoa, a um local ou a um acontecimento no ambiente
exterior para confirmar essa realidade. E se habitualmente
estiver obcecado com o tempo — a pensar apenas no
passado (o conhecido) ou no futuro que se baseia no
passado (sendo por isso igualmente

conhecido) está a perder o momento presente, onde existem


todas as possibilidades. Ao centrar-se no conhecido, como
observador quântico, só pode obter mais do mesmo. Faz com
que todas as possibilidades do domínio quântico
desapareçam perante os mesmos padrões de informação
que constituem a sua vida.

Para aceder ao potencial ilimitado que o espera no domínio


quântico, tem de esquecer o conhecido (o corpo, a cara, o
gênero, a raça, a profissão e, até, o conceito daquilo que tem
de fazer hoje), para permanecer algum tempo no
desconhecido — onde é corpo nenhum, pessoa nenhuma,
coisa nenhuma, em tempo e lado nenhum. Tem de se tornar
pura consciência (nada mais do que um pensamento ou a
consciência de que se reconhece num vazio de potenciais)
para que o cérebro se possa calibrar.

E quando o corpo quiser distrai-lo, se continuar a dominá-lo


e a estabilizá-lo no momento presente, vezes sem conta, até
ele acatar as suas ordens, tal como já lhe expliquei, essa
linha que avança para o futuro deixa de existir, porque o
corpo já não vive nesse destino previsível. Destaca-se dele
ou desliga os seus circuitos energéticos.

Da mesma forma, quando o corpo está condicionado e


viciado nas emoções que memorizou e que o mantêm ligado
ao passado, se conseguir trazê-lo de volta e estabilizá-lo
sempre que se sentir revoltado e frustrado, até o corpo se
render ao momento presente, essa linha que recua ao
passado também deixa de existir.

Também se desliga dessa linha. E quando as linhas do


passado e do futuro desaparecem, o seu destino genético
previsível desaparece com elas.

Doravante, deixa de haver passado para motivar o futuro, e


deixa de existir um futuro previsível baseado no passado.
Está apenas no presente, onde tem acesso a todos os
potenciais e possibilidades. E quanto mais tempo apostar no
desconhecido, desligando-se dessas linhas temporais e
permanecendo junto dessas possibilidades, mais energia
liberta do corpo e disponibiliza para criar algo novo. A Figura
11.2 demonstra como o passado e o futuro deixam de existir
quando o cérebro e o corpo se encontram totalmente
assentes no momento presente. A realidade previsível dos
factos conhecidos não existe, portanto, encontra-se no
domínio desconhecido das possibilidades.

A meditação descrita no próximo capítulo inclui um período


em que permanece nesse poderoso desconhecido, na
penumbra da possibilidade, e investe a energia no vazio de
potenciais que existe no momento presente.

Lembre-se de que por mais que lhe pareça que não há lá


nada, não é realmente um vazio escuro; é o domínio
quântico a fervilhar de energia e possibilidade.
FIGURA 11.2

Quando encontra o seu lugar no momento presente e se


esquece de si próprio, pode aceder a outras possibilidades
que existem no domínio quântico Uso acontece porque deixa
de estar ligado ao mesmo corpo-mente. à mesma
identificação com o ambiente e à mesma linha temporal
previsível. No momento, o passado e o futuro que lhe são
familiares deixam de existir literalmente e torna-se pura
consciência — um só pensamento E então que pode mudar o
corpo, alterar algo no ambiente e criar uma nova linha
temporal

Quando eu e os meus colegas examinamos os alunos do


nosso workshop avançado que eram capazes de se tornar
pura consciência — um pensamento isolado desta realidade
conhecida —, vimo-los fazer grandes progressos na
capacidade para mudar o cérebro, o corpo e a vida. Se o
placebo consiste em mudar o corpo só com o poder do
pensamento, então, é extremamente importante que nos
tornemos um pensamento — um só pensamento.

8. Ver sem os olhos

Segue-se um dos meus exemplos favoritos do que pode


acontecer quando nos centramos no desconhecido na
meditação. Recentemente, estava a fazer um workshop em
Sydney, na Austrália, em que orientava uma meditação e
pedia aos participantes para serem corpo nenhum, pessoa
nenhuma, coisa nenhuma, em tempo e lado nenhum — para
se tornarem pura consciência, permanecendo no
desconhecido (tal como está prestes a fazer no próximo
capítulo).

Enquanto observava o grupo a meditar, reparei numa


mulher, chamada Sophia, sentada na terceira fila, a meditar
com os olhos fechados como todas as outras pessoas. De
repente, vi a energia dela mudar. Alguma coisa me disse
para lhe acenar e foi o que fiz. Ainda com os olhos fechados,
Sophia acenou-me de volta! Fiz sinal a dois dos meus
formadores que estavam do outro lado da sala para que
viessem ter comigo. Chegaram ao pé de mim, apontei
diretamente para Sophia e ela acenou-me outra vez — sem
nunca abrir os olhos.
“O que se passa?” perguntaram os formadores, sussurrando.

“Está a ver sem os olhos" expliquei-lhes.

Como referi, quando nos centramos no desconhecido,


obtemo-lo. Uma semana depois de o evento terminar em
Sydney, fizemos um workshop ainda mais avançado em
Melbourne, no qual Sophia também participou.

“Vi-o e vi os formadores”, contou-me» passando a descrever


tudo o que acontecera na sala durante a meditação, quando
ela tinha os olhos fechados. Foi muito precisa. Depois do
workshop, Sophia decidiu candidatar-se a ser uma das
minhas formadoras e eu selecionei-a por causa das suas
capacidades. Uns meses depois, foi a uma ação de
formação.

No final do dia de cada formação, peço sempre aos novos


formadores para fecharem os olhos enquanto resumo toda a
lição do dia em 30 minutos, só para reativar novos circuitos
nas suas memórias de longo prazo. Sophia, que estava

sentada com os olhos fechados, abriu-os de repente, sacudiu


a cabeça, fechou novamente os olhos, voltou-se para trás,
para a frente e diretamente na minha direção, com uma
expressão de espanto. Depois de a ver fazer isso umas
quantas vezes» fiz-lhe sinal para manter a meditação e falei
com ela depois.

Sophia não só via o que estava à sua frente com os olhos


fechados durante a meditação, como também tinha uma
amplitude de visão de 360 graus. Via o que tinha à frente,
atrás e à sua volta, ao mesmo tempo. Como tinha passado a
vida a ver com os olhos abertos, Sophia estava sempre a
abri-los e a fechá-los, na tentativa de ver o que já estava a
ver.
O Doutor Fannin estava conosco nessa formação para
examinarmos o cérebro de alguns formadores e podermos
planear que padrões de ondas cerebrais medir nos alunos do
nosso primeiro workshop avançado no Arizona.

Quando chegou a vez de Sophia, não comentei nada sobre o


que tinha acontecido ao Doutor Fannin. Ele ligou-a ao
sistema de EEG e nós sentamo-nos atrás dela, a uns dois
metros de distância, para analisar os dados no monitor. De
repente, a parte de trás do cérebro de Sophia, que é o córtex
visual, iluminou-se no ecrã.

“ Olha!”, sussurrou-me o Doutor Fannin. “Está a visualizar!"

“não", respondi em voz baixa, abanando a cabeça, “não


está."

“O que queres dizer?" perguntou.

“Está a ver", expliquei.

“Como assim?” insistiu, confuso.

Então, acenei a Sophia, que» ainda de costas voltadas para


nós, levantou o braço acima da cabeça, voltou a mão para
trás e também me acenou. Foi espantoso. A prova estava
marcada no exame: Sophia via sem os olhos. O córtex visual
processava informação, tal como se ela estivesse a ver, mas
era o cérebro que via — e não os olhos.

Como já referi, se nos centrarmos no desconhecido, obtemo-


lo. Está pronto para o ver por si próprio?

14. CAPÍTULO 12

Meditação para mudar crenças e percepções Neste capítulo,


vou guiá-lo por uma meditação concebida para o ajudar a
mudar algumas crenças ou percepções acerca de si e da sua
vida. Aconselho-o a meditar enquanto escuta uma gravação
desta meditação (que o ajuda a mudar duas crenças ou
percepções e dura cerca de uma hora) ou de uma versão
ligeiramente mais breve (que o ajuda a mudar uma crença
ou percepção e dura 45 minutos).

Encontrará ambas as meditações à venda em co ou MP3 no


meu site . A versão de uma hora intitula-se You Are the
Placebo Book Meditation: Changing Two Beliefs and
Perceptions, e a versão de 45 minutos, You Are the Placebo
Book Meditation: Changing One Belief and Perception. Ou
pode fazer a sua própria gravação, lendo o texto de qualquer
uma das versões (que encontra no apêndice).

Lembre-se de que as crenças e as percepções são estados


de ser subconscientes. Começam com pensamentos e
sentimentos que pensa e sente vezes sem conta e tornam-se
habituais ou automáticos — formando uma atitude.

Conjuntos de atitudes relacionadas tornam-se crenças e


conjuntos de crenças relacionadas tornam-se percepções.
Com o tempo, esta redundância cria uma visão do mundo e
de si próprio predominantemente subconsciente, o que afeta
as suas relações, os seus comportamentos e tudo na sua
vida.

Para mudar uma crença ou percepção, tem de começar por


mudar o estado de ser. £ para mudar o estado de ser, tem
de mudar a energia, porque para influenciar a matéria, tem
de se tornar mais energia e menos matéria, mais onda e
menos partícula. Para isso, tem de combinar uma intenção
clara com uma emoção elevada — esses são os dois
ingredientes.

Como já leu, esse processo implica tomar uma decisão com


energia suficiente para tornar o seu pensamento acerca da
nova crença uma experiência com uma forte assinatura
emocional capaz de o alterar, em certa medida, nesse
momento. É assim que altera a biologia, se torna o seu
próprio placebo e faz da sua mente matéria. Todos tivemos
experiências que nos afetaram, de uma forma ou de outra, a
biologia. Lembra-se das mulheres cambojanas do Capítulo 7,
que desenvolveram problemas de visão por causa dos
horrores que foram obrigadas a testemunhar, quando os
Khmer Vermelhos estavam no poder? É evidente que esse é
um exemplo radical, mas pode aplicar o mesmo princípio
para fazer uma mudança positiva.

Para que isso funcione, a nova experiência tem de ser


superior à experiência passada. Por outras palavras, a
amplitude — a energia — da experiência interior

na meditação tem de ser superior à experiência exterior


passada que gerou a crença e a percepção que deseja
mudar. O corpo tem de responder a uma nova mente. Tal
significa que tem de investir o coração nessa emoção
elevada; precisa efetivamente de sentir pele de galinha. Tem
de se sentir elevado, inspirado, invencível e cheio de poder.

Dou-lhe a oportunidade de mudar duas crenças e


percepções acerca de si próprio, nesta meditação. Assim,
antes de começar, tem de decidir o que deseja mudar. Pode
selecionar uma das crenças limitadoras mais vulgares
listadas no Capítulo 7, ou pode identificar outra — por
exemplo: Terei sempre esta dor ou este problema de saúde;
A vida c demasiado difícil; As pessoas são hostis; O

êxito dá muito trabalho; ou Nunca serei capaz de mudar.

Quando decidir, pegue numa folha e trace uma linha vertical


no meio. Do lado esquerdo, escreva duas crenças c
percepções que deseja mudar, em linhas separadas.
Pare um pouco para pensar: se não quer continuar a ter
essas crenças e percepções, que crenças e percepções
deseja então efetivamente ter acerca de si e da sua vida? E
como se sentiria se efetivamente tivesse essas crenças e
percepções novas? Escreva as novas crenças e percepções
que deseja ter na coluna da direita.

Como constatará muito em breve, esta meditação divide-se


em três partes:

> A primeira parte é a indução, em que utiliza a técnica do


enfoque aberto, apresentada no capitulo anterior, para
aceder a estados de ondas cerebrais mais coerentes, alfa ou
teta, em que se torna mais sugestionável. Ê fundamental
que o faça, porque só poderá influenciar realmente a saúde
e ser o seu próprio placebo se se tornar mais sugestionável.

> Na segunda parte, encontra o momento presente e


permanece no vazio quântico. onde existem todas as
possibilidades.

> E na terceira parte, altera as suas crenças e percepções.

Para lhe explicar melhor o que deve fazer quando estiver


sentado a meditar, dou-lhe algumas orientações para o início
de cada parte, seguindo-se o texto da meditação, em itálico.

Se já é experiente na meditação, sinta-se à vontade para


realizar a meditação completa, até ao fim. logo à primeira.
Se ainda é principiante, talvez lhe convenha mais praticar só
a primeira parte todos os dias durante uma semana, passar
às duas partes na semana seguinte e avançar para as três
na terceira semana. Seja como for, deve fazer a meditação
todos os dias, sem

interrupções, até começar a identificar mudanças na sua


vida.
Se já pratica a meditação que ensino em Como criar um
novo eu, aviso-o de que a deste livro é completamente
diferente, ainda que possa identificar algumas semelhanças
na forma como ambas iniciam (na fase de indução). Sc só
conseguir fazer uma meditação por dia, aconselho-o a
praticar esta que aqui lhe apresento durante alguns meses,
para que possa aproveitar plenamente os seus benefícios.
Depois, pode optar pela outra, ou alternar as duas, conforme
desejar.

1. Indução: criar coerência cerebral e ondas cerebrais


mais lentas através do enfoque aberto

Na meditação do enfoque aberto, passa de partícula a onda,


do enfoque estreito que normalmente tem em relação às
pessoas, aos locais e às coisas do mundo exterior, para um
enfoque mais aberto — em que não se concentra numa
coisa, mas no espaço. Afinal, se um átomo é cerca de 99.9
por cento energia e estamos sempre focados nessa
partícula, talvez já esteja na altura de prestar atenção à
onda, porque a nossa consciência e a nossa energia estão
intrinsecamente combinadas — o que amplifica a energia é a
atenção que lhe damos.

Com esta técnica, calibra naturalmente o cérebro, porque,


para a executar corretamente, tem de se libertar da mente
analítica (sempre muito ocupada a pensar como identidade
na frequência elevada de beta). Essa identidade em que se
reconhece está ligada ao ambiente exterior, aos vícios e
hábitos emocionais, e ao tempo. Superando esses
elementos, toma-se única e exclusivamente pura
consciência. Nessa altura, como já referi, os diferentes
compartimentos do cérebro começam a comunicar melhor e
as ondas cerebrais tomam-se muito ordenadas — começam
a enviar um sinal coerente ao resto do corpo, tal como se
verificou nos participantes do workshop.
Mantenha-se presente na meditação: não tente perceber
nem visualizar nada. Limite-se a deixar fluir sentimentos e
sensações. Se sente onde estão o tornozelo, o nariz e o
espaço entre o esterno e o peito, é porque está a repousar a
consciência e a atenção nesses locais. Talvez lhe surjam
imagens na cabeça (por exemplo, do peito ou do coração),
mas não tem de se esforçar por isso; só tem de ter
consciência do espaço interior e em torno do seu corpo no
espaço.

Esta primeira parte da meditação deve durar entre dez a 15


minutos.

Meditação: primeira parte

Agora... consegue repousar a consciência... no espaço...


entre os olhos... no espaço?

E sente... a energia do espaço... entre os olhos... no espaço?

E agora... consegue ter consciência... do espaço... entre as


têmporas... no espaço?

E sente... o volume do espaço... entre as têmporas... no


espaço?

E agora... consegue ter consciência... do espaço... que as


narinas... ocupam no espaça?

E sente... o volume do espaço... que o interior do nariz


ocupa... no espaço?

E agora... consegue ter consciência do espaço... entre a


língua e a parte de trás da garganta... no espaço?

E sente... o volume do espaço... que a parte de trás da


garganta ocupa... no espaço?
E agora... sente... a energia do espaço... que envolve as
orelhas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá das orelhas... no


espaço?

E consegue ter consciência... do espaço... abaixo do queixo...


no espaço?

E sente... o volume do espaço... que envolve o pescoço... no


espaço?

E agora… sente... o espaço... para lá do peito... no espaço?

E sente... a energia do espaço... que envolve o peito... no


espaço?

E agora... consegue ter consciência... do volume do espaço...


para lá dos ombros... no espaço?

E sente... a energia do espaço... que envolve os ombros... no


espaço?

E agora... consegue ter consciência... do espaço... atrás das


costas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá da coluna... no


espaço?

E agora... consegue repousar... a consciência... no espaço...


entre as coxas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... a ligar-se aos joelhos... no


espaço?

E agora... sente o volume do espaço... que envolve os pês...


no espaço?
E sente... a energia do espaço... para lá dos pês... no
espaço?

E consegue ter consciência... do espaço... que envolve o


todo o corpo... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá do corpo... no


espaço?

E agora... consegue ter consciência... do espaço entre o


corpo e as paredes da sala... no espaço?

E sente... o volume do espaço... que toda a sala ocupa... no


espaço?

E agora... consegue ler consciência... do espaço... que todo o


espaço ocupa... no espaço?

E sente... o espaço... que todo o espaço assume... no


espaço?

2. Tornar-se possibilidade: encontrar o momento


presente e permanecer no vazio

Na parte que se segue da meditação, encontra o seu lugar


no momento presente, onde todas as coisas são possíveis.
Para isso, tem de abandonar a sua identidade e desligar-se
do corpo, do ambiente e do tempo, porque quanto mais
tempo permanecer no desconhecido, mais o atrai para si. E
se as células nervosas que já não se ativam em conjunto já
não se integrarem num circuito, silencia os circuitos do
cérebro que estão ligados ao velho eu. Tal como já referi,
esses circuitos mantém um programa integrado, e se
conseguir desligar-se deles, consegue desligar-se do
programa. Deixa de emitir emocionalmente os mesmos
sinais aos mesmos genes. E com o corpo num estado mais
equilibrado e harmonioso, dá por si no seu lugar no
momento presente, onde existem todas as

possibilidades.

Se a mente começar a divagar, enchendo-se de


pensamentos sobre as pessoas que conhece, os problemas
que tem, os acontecimentos passados ou futuros, o corpo, o
peso, a dor, a fome ou, até, a duração da meditação,
reconheça-os simplesmente e traga a consciência para a
penumbra ou para o vazio quântico da possibilidade. Depois,
renda-se outra vez ao nada.

Esta segunda parte da meditação deve durar cerca de dez a


15 minutos.

Meditação: segunda parte

E agora... está na altura... de se tornar corpo nenhum...


pessoa nenhuma... coisa nenhuma... em lado nenhum... em
tempo nenhum... para se tomar... pura consciência... para
ser uma consciência no campo infinito dos potenciais... e
direcionar a energia para o desconhecido... E quanto mais
tempo permanecer no desconhecido... mais atrai para si
uma nova vida... Torne-se um simples pensamento na
penumbra do infinito... e direcione a atenção — a coisa
nenhuma... corpo nenhum... tempo nenhum...

E se... como observador quântico... der pela mente a


regressar ao conhecido...

ao familiar... às pessoas... às coisas... ou aos locais da sua


realidade familiar...

ao seu corpo... à sua identidade e às suas emoções... ao


tempo... ao passado...
ou ao futuro previsível... reconheça simplesmente que está a
observar o conhecido... e devolva a consciência ao vazio das
possibilidades... e tome-se pessoa nenhuma... corpo
nenhum... coisa nenhuma... em lado nenhum... em tempo
nenhum... Abra-se ao domínio imaterial dos potenciais
quânticos...

Quanto mais se reconhecer na possibilidade... mais


possibilidade e oportunidade cria na sua vida... Mantenha-se
presente...

[Permaneça neste estado entre 10 a 15 minutos.]

3. Mudar crenças e percepções sobre si e a sua vida


Na última secção da meditação, deve considerar a primeira
crença ou percepção sobre a rida que deseja mudar.
Pergunto-lhe se quer continuar a ter essa crença ou essa
percepção. Se responder que não, convido-o a tomar uma
decisão com uma intenção tão firme que a amplitude de
energia que lhe está relacionada

possa superar os programas integrados no cérebro e os


vícios emocionais do corpo. Nessa altura, o corpo responde a
uma nova mente — a uma nova consciência.

Depois, pergunto-lhe: “Que crença e percepção deseja ter


sobre si e a sua rida e como passaria a sentirse?” A sua
tarefa será passar para um novo estado de ser. Terá de
mudar a energia, combinando uma intenção clara com uma
emoção elevada — e de elevar a matéria a uma nova mente.
Ao levantar-se, deve sentirse diferente de como se sentia ao
sentar-se. Se assim for. é porque mudou biologicamente.

Nessa altura, o passado já não existe, porque essa


experiência de amplitude superior ter-se-á sobreposto ao
programa da velha experiência. É por isso que fazer essa
escolha se torna uma experiência inesquecível, porque passa
a ser uma memória de longo prazo. Torna conhecida uma
possibilidade desconhecida, saindo assim do agora-passado
e entrando no agora-futuro, onde o acontecimento já
ocorreu. Lembre-se de que não tem de perceber quando,
onde ou como vai acontecer. Só tem de passar a um novo
estado de ser e ver o futuro que está a criar.

Então, será orientado para mudar a segunda crença ou


percepção e terá de repetir todo o processo.

Esta última parte da meditação dura entre 20 a 30 minutos.

Meditação: terceira parte

Agora... qual era a primeira crença... ou percepção... que


queria mudar em si e na sua vida?

Quer manter essa crença e essa percepção?

Se não quer... fome uma decisão... com uma intenção tão


firme... que leve a que a amplitude dessa decisão... tenha
uma energia superior aos programas integrados no
cérebro... e aos vícios emocionais do corpo... e permita que
o corpo responda a uma nova mente...

E permita que a escolha se torne uma experiência


inesquecível... e deixe que a experiência... produza uma
emoção com uma energia... capaz de reescrever os
programas... e de mudar a biologia.... Deixe o estado de
repouso e mude a energia... para que a sua própria energia
possa alterar a sua biologia...

Está na altura de devolver o passado a possibilidade... e de


permitir que o

domínio infinito das possibilidades o resolva da melhor forma


para si....
Abdique dele.

Agora... que crença e percepção deseja ter sobre si e a sua


vida... e como passaria a sentirse?

Vamos... está na altura de passar para um novo estado de


ser... e de permitir que o corpo responda a uma nova
mente... mude a energia, combinando uma intenção clara
com uma emoção elevada, para que a matéria se deve a
uma nova mente...

E deixe a escolha... ter uma amplitude energética... superior


a qualquer experiência do passado... e permita que a
consciência e a sua própria energia alterem o seu corpo... e
passe para um novo estado de ser... e faça-se definir por
este momento... e deixe esse pensamento intencional tomar-
se uma intensa experiência interior... com uma energia
emocional elevada que se torna uma memória
inesquecível... substituindo a memória passada por uma
nova memória no cérebro e no corpo.... Vamos! Ganhe
poder.... Inspire-se.... Faça da escolha uma decisão que
Jamais possa esquecer...

Agora... dê ao corpo um sabor do futuro, mostrando-lhe o


que sentirá com essa crença... e deixe o corpo responder a
uma nova mente...

E como viverá nesse estado de ser?... Que escolhas fará?...


Como se comportará?... Que experiências terá no futuro?...
Como viverá?... Como se sentirá?... Como amará?... e
permita que ondas infinitas de possibilidade se transformem
numa experiência na sua vida...

E pode ensinar emocionalmente ao corpo como ê estar


nesse novo futuro?...
Vamos... abra o coração... e acredite na possibilidade...
Eleve-se... apaixone-se pelo momento... e vivencie esse
futuro agora...

E, agora, entregue a sua criação a uma mente superior...


porque o que pensa e vivência neste domínio da
possibilidade... se for realmente sentido... manifesta-se num
qualquer tempo futuro... de ondas de possibilidades para
partículas na realidade... do imaterial para o material... do
pensamento na energia para a matéria...

Agora... entregue-se à nova crença num campo de


consciência que já sabe organizar o resultado perfeito para
si... plante uma semente na possibilidade.

Agora... qual era a segunda crença ou percepção que queria


mudar em si e na

sua vida?... E vale a pena manter essa crença ou


percepção... dessa forma?

Senão vale a pena, está na altura de tomar uma decisão


com uma intenção firme... cuja amplitude... tenha uma
energia capaz de levar o corpo a responder a WM nova
mente... e que a escolha que faça seja final... e que n
decisão se tome uma experiência inesquecível... Saia do
familiar estado de repouso e mude a energia para elevar a
matéria a uma nova mente... Vamos! Ganhe poder...

Deixe-se levar pela sua própria energia...

E deixe que a energia da escolha... reescreva


neurologicamente os programas subconscientes no
cérebro... e emocionalmente e geneticamente no corpo... e
escolha superar o passado... e deixe que a sua energia mude
a sua biologia...
Inspire-se...

E agora... entregue essa crença a uma inteligência superior...


abdique simplesmente dela... e liberte-a... no campo das
possibilidades... devolvendo-a à energia...

Agora... que crença e percepção sobre si e a sua vida


deseja?... E como se sentiria?

Vamos, passe para um novo estado de ser... e permita que o


corpo se eleve a uma nova mente.., e deixe a energia dessa
escolha... reescrever os circuitos cerebrais... e os genes do
corpo... e liberte o corpo num novo futuro... Tem de sentir
uma nova energia... para se tornar superior ao corpo, ao
ambiente e ao tempo... para poder dominar o corpo, o
ambiente e o tempo... Tome-se um pensamento que afeta a
matéria...

E pode ensinar emocionalmente o corpo... como se sentiria


se tivesse essa crença... ter o poder... para se deixar levar
pela sua grandeza... ter coragem...

ser invencível... estar apaixonado pela vida... sentirse


ilimitado... viver como se as suas preces já tivessem sido
atendidas?... Vamos, dê ao corpo, como mente inconsciente,
um sabor do futuro... sinalizando novos genes de diferentes
formas... A sua energia è o epifenômeno da matéria... ajude
a sua energia para mudar o corpo... Vamos, tome a sua
mente matéria...

E como viverá nesse estado de ser?... E que escolhas fará


com essa crença?...

Que comportamentos assumirá?... E que experiências


observa nesse estado de ser?... E como se sentirá com elas...
estar curado, ser livre, acreditarem si próprio e na
possibilidade?... Liberte-se...
Abençoe esse futuro com a sua própria energia... Isso
significará... que se uniu a

um novo destino... porque direciona a energia para onde


direciona a atenção...

Invista no futuro.... E defina-se pelo futuro e não pelo


passado... Abra o coração e permita que o corpo se deixe
levar pela sua própria experiência interior... e lembre-se de
que o que quer que realmente vivencie no desconhecido... e
assimile emocionalmente.... acabará por abrandar de
frequência cm energia...

em três dimensões como matéria...

E agora liberte-se e abdique dele... e permita que uma


inteligência superior o realize da melhor forma para si...

E agora... pouse a mão esquerda sobre o coração... e


abençoe o corpo... que ele se eleve a uma nova mente... e
abençoe a sua vida... que seja uma extensão da sua mente...
para abençoar o seu futuro... que nunca seja o seu
passado... para abençoar o seu passado... que se tome
sabedoria... para abençoar a adversidade na sua vida... que
o inicie na grandeza... e que lhe permita vislumbrar o
significado oculto em Iodas as coisas... para abençoara sua
alma... que o desperte deste sonho... e que abençoe o divino
em si... que o permeie... que o atravesse... e que o envolva...
que lhe mostre um propósito na vida...

E por fim... dê graças por uma nova vida antes de ela se


manifestar... paru que o corpo, como mente inconsciente,
comece a vivenciar já esse futuro... Porque a assinatura
emocional da gratidão significa que o evento já ocorreu...
Porque a gratidão é.... O supremo estado do recebimento...
E memorize simplesmente essa sensação... Traga a
consciência... para um novo corpo... para um novo
ambiente... e para um tempo totalmente novo... e quando
estiver pronta abra os olhos.

15. POSFÁCIO

Torne-se sobrenatural

Alguns críticos podem categorizar este corpo de trabalho


como cura pela fé.

Nesta fase da vida, não me choca essa acusação, porque o


que é a fé senão acreditar no pensamento acima de tudo?
Afinal, ter fé não é aceitar um pensamento —
independentemente das condições do nosso ambiente — e
entregarmo-nos ao resultado de tal forma que vivemos como
se as nossas preces já tivessem sido atendidas? Parece-me a
fórmula do placebo. Sempre fomos o placebo.

Talvez mais importante do que rezar todos os dias, sem falta,


para que as nossas preces sejam atendidas, seja
levantarmo-nos das meditações como se as nossas preces já
tivessem sido atendidas. Se conseguirmos fazer isso todos
os dias, alcançamos um nível mental em que estamos a
viver realmente no desconhecido, sempre a contar com o
inesperado. E é então que o misterioso nos vem bater à
porta.

A resposta do placebo é a cura pelo poder do pensamento. O


pensamento por si só, contudo, é emoção não manifestada.
Se o assimilarmos emocionalmente, esse pensamento
começa a tornar-se real — ou seja, a tornar-se realidade.
Sem uma assinatura emocional, o pensamento é desprovido
de experiência, estando, por isso, latente e à espera de se
tornar conhecido a partir do desconhecido. Fazer de um
pensamento uma experiência e. depois, torná-lo sabedoria, é
evoluir como ser humano.

Quando se olha ao espelho, vê o seu reflexo e sabe que o


que está a ver é o seu eu físico. Mas como é que o
verdadeiro eu, o ego e a alma se veem a eles próprios? A
nossa vida é a imagem espelhada da nossa mente, da nossa
consciência e de quem realmente somos.

não há escolas de sabedoria espiritual antiga no cume dos


Himalaias que façam de nós místicos e santos. As nossas
vidas é que nos dão a grandeza.

Talvez devêssemos ver a vida como uma oportunidade para


alcançar níveis cada vez mais elevados do eu e para
superarmos as nossas próprias limitações com níveis mais
alargados de consciência. Em vez de sermos vítimas,
devemos ser pragmáticos e assumir essa perspetiva.

não é nada fácil abandonar a forma familiar e habitual de


pensar na vida, para adotar novos paradigmas. Na verdade,
custa muito — e é desagradável.

Porquê? Porque, quando mudamos, deixamos de nos sentir


nós próprios. A minha definição de gênio é, pois, aguentar o
desagradável e aceitá-lo.

Quantos indivíduos admiráveis na história não lutaram


contra crenças ultrapassadas, vivendo fora das suas zonas
de conforto e sendo considerados hereges e loucos, para,
mais tarde, surgirem como gênios, santos ou mestres?

Com o tempo, tornaram-se sobrenaturais.

Mas como é que nos tornamos sobrenaturais? Temos de


começar por fazer o que ê contranatura — ou seja, dar no
meio das crises, quando todos sentem carência e pobreza;
amar quando todos se revoltam e julgam os outros;
demonstrar coragem e paz, quando todas as outras pessoas
têm medo; mostrar bondade, quando os outros mostram
hostilidade e agressividade; ceder à possibilidade, quando o
resto do mundo se acotovela para chegar em primeiro lugar,
tentando controlar resultados, e compete ferozmente numa
luta sem fim para chegar ao topo; sorrir com confiança, face
à adversidade; e cultivar a sensação de plenitude, quando
nos diagnosticam uma doença.

Parece contranatura fazer essas escolhas em condições tão


adversas, mas se persistirmos, com o tempo, transcendemos
a norma — e também nos tornamos sobrenaturais. Acima de
tudo, ao sermos sobrenaturais, damos aos outros
autorização para fazer o mesmo. Os neurônios-espelho
ativam-se sempre que observamos alguém em ação. Os
nossos neurônios espelham os neurônios dessa outra
pessoa, como se estivéssemos a fazer o mesmo que ela. Por
exemplo, quando vê um bailarino profissional a dançar salsa,
passa a dançar melhor salsa.

Se vir a Serena Williams a bater uma bola de tênis, passará a


bater melhor a bola. Se observa alguém a liderar uma
comunidade com amor e compaixão, passará a liderar a sua
vida da mesma forma. E se vir alguém curar-se de uma
doença, mudando os seus processos de pensamento,
tenderá a fazer o mesmo.

Espero que, depois de ler este livro, se aperceba de que a


maior crença de todas é a crença que tem em si próprio e no
campo das infinitas possibilidades

— e ao fundir a crença em si próprio como consciência


subjetiva com a crença numa consciência objetiva, equilibra
intenção com entrega. Mas é complicado.
Se a intenção for excessiva (chama-se a isso “tentar"),
obstrui o seu próprio caminho e nunca alcançará a sua visão.
Se a entrega for excessiva, torna-se demasiado preguiçoso,
apático e pouco inspirado. Mas se combinar uma intenção
clara com uma confiança inabalável na possibilidade,
penetrará no desconhecido e deixará o sobrenatural
acontecer. Penso que é nesse estado de ser que somos o
nosso melhor.

Na fusão desses dois estados, bebemos de um poço mais


profundo. E

quando a plenitude, a autossatisfação e a autoestima vêm


realmente do interior, porque nos aventuramos para lá do
que acreditávamos ser possível e superamos as nossas
próprias limitações autoimpostas, o invulgar acontece. A
melhor receita para a manifestação consiste em sentirse
feliz consigo próprio no momento presente, alimentando o
sonho de um futuro.

Quando nos sentimos tão plenos a ponto de não nos


interessarmos se “isso”

irá ou não acontecer, materializam-se diante de nós coisas


fantásticas. Percebi que o estado perfeito da criação é o da
plenitude. Comprovei-o vezes sem conta, ao assistir à
verdadeira cura de muitas pessoas por todo o mundo.
Sentem-se tão completas que já não querem, já não sentem
carência e já não tentam fazer nada.

Deixam-se levar e, para seu espanto, recebem a resposta de


algo que lhes é superior — e a simplicidade do processo é tal
que até lhes dá vontade de rir.

Espero que este livro e a minha investigação sejam um


princípio e não um fim. Serei certamente o primeiro a
confessar que não sei tudo. A minha maior alegria, no
entanto, é poder contribuir de alguma forma para o
crescimento de outra pessoa. Vi a transformação ocorrer em
muitos rostos e posso dizer que, independentemente da
cultura, da raça, ou do gênero, somos semelhantes quando
nos libertamos do elo que nos prende às nossas próprias
crenças autolimitadoras.

Há um princípio na biologia que adoro, chamado


emergência. Já alguma vez viu um cardume com os peixes a
seguirem na mesma direção, ao mesmo tempo? Ou um
bando, com os pássaros a voarem juntos, como uma só
consciência — como uma só mente? Se observarmos esse
fenômeno, podemos pensar que todos os seres individuais
do grupo seguem um líder que lhes mostra o caminho.

Pensamos que os movimentos sincronizados de centenas ou,


até, milhares de organismos independentes a fazer a mesma
coisa, ao mesmo tempo, fazem parte de um fenômeno que
ocorre num sentido descendente. Mas não.

Ao que tudo indica, esse nível de união faz parte de um


fenômeno que ocorre num sentido ascendente. O grupo não
tem qualquer líder; todos lideram.

Pertencem todos à mesma consciência coletiva e, por isso,


fazem a mesma coisa, ao mesmo tempo. É como se o todo
estivesse ligado num campo de informação para lá do tempo
e do espaço. É uma comunidade que se apresenta como
uma só mente. É um organismo criado por cada indivíduo
que se torna um só. A união faz a força.

Fomos programados e condicionados à crença subconsciente


de que se liderarmos com demasiada paixão e mudarmos o
mundo, seremos certamente assassinados. Os grandes
líderes que alteraram o rumo da história com uma
mensagem profunda acabaram, na sua maioria, por “o
conseguir”. Estejamos nós a falar de Martin Luther King, Jr.,
Mahatma Gandhi, John Lennon, Joana d'Arc, William Wallace,
Jesus de Nazaré ou Abraham Lincoln, persiste esse estigma
inconsciente de que todos os líderes visionários têm de dar a
vida pela verdade.

Mas talvez tenhamos finalmente chegado a um momento da


história em que passou a ser mais importante viver pela
verdade do que morrer por ela.

Se centenas, milhares ou, até, milhões de pessoas


assimilarem uma nova consciência baseada na possibilidade,
alinharem os ações com as intenções e viverem de acordo
com as grandes leis universais do amor, da bondade e da
compaixão, uma nova consciência emergirá — e
vivenciaremos a verdadeira unicidade. Nessa altura, talvez
tenhamos demasiados lideres para eliminar.

Desse modo, o seu compromisso diário é demonstrar o seu


melhor para superar os estados egoístas da mente movida
pelas hormonas do stress. Também o faço. Fazemo-lo juntos
e, quando nos mudamos, mudamos o mundo. E se mais
pessoas se aperfeiçoarem em seres humanos mais plenos,
as nossas comunidades começarão a emergir pelo mundo
fora, consumindo a presente mentalidade de uma realidade
baseada no medo, na competitividade, na carência, na
hostilidade, na ganância e na mentira. Com o tempo, o novo
consumirá completamente o velho. Uma das minhas
preocupações é o facto de vivermos num nundo em que a
investigação científica se mistura com interesses pessoais e
se deixa influenciar pelo lucro, por isso, pergunto-me se nos
estarão ou não a dizer a verdade sobre como as coisas
realmente são. Incumbe-nos então a missão de descobrir a
verdade por nós próprios.
Imagine um mundo habitado por milhares de milhões de
pessoas, como os peixes, em cardume, a viverem em
unicidade, assimilando todas os mesmos pensamentos
animadores associados à possibilidade infinita. Imagine que
esses pensamentos lhes permitiam fazer escolhas mais
inspiradas, ser mais altruístas e criar experiências mais
esclarecedoras. Nessa altura, as pessoas deixariam de viver
dependentes das emoções do modo de sobrevivência que
tão bem conhecemos e que nos faz sentir mais matéria do
que energia, isolados da possibilidade. Viveriam antes com
as emoções mais expansivas, altruístas e profundas, que nos
fazem sentir mais energia do que matéria, ligados a algo
superior.

Se pudermos concretizar essa imagem, faremos emergir um


mundo totalmente diferente, onde passaremos a viver de
coração aberto. É isso que eu vejo, quando fecho os olhos
para meditar.

DR. JOE DISPENZA

1. APÊNDICE

Guião da meditação para mudar crenças e percepções Caso


queira fazer a sua própria gravação com a meditação
guiada, em vez de comprar as versões em CD ou MP3 no
meu site» siga um dos guiões que apresentarei de seguida.
O primeiro é para uma meditação de uma hora, que visa
alterar duas crenças ou percepções. O segundo é para uma
meditação de 45

minutos, que visa mudar apenas uma crença ou percepção.

Se pretender fazer a sua própria meditação, faça uma pausa


de um ou dois segundos nas reticências e de, pelo menos,
cinco segundos entre cada frase.
Como constatará, adicionei uma nota depois da segunda
parte de cada meditação, para considerar um período de
silêncio na gravação, para que possa permanecer no
desconhecido, antes de começar a última parte da
meditação, em que mudará uma ou duas crenças, ou
percepções.

Uma hora de meditação (para mudar duas crenças e


percepções) Agora... consegue repousar a consciência... no
espaço... entre os olhos... no espaço?

E sente... a energia do espaço... entre os olhos... no espaço?

E agora... consegue ler consciência... do espaço... entre tu


têmporas... no espaço?

E sente... o volume do espaço... entre as têmporas... no


espaço?

E agora...consegue ter consciência... do espaço... que as


narinas... ocupam no espaço?

E sente... o volume do espaço... que o interior do nariz


ocupa... no espaço?

E agora... consegue ter consciência do espaço... entre a


língua e a parte de trás da garganta... no espaço?

E sente... o volume do espaço... que a parte de trás da


garganta ocupa... no espaço?

E agora... sente... a energia do espaço... que envolve as


orelhas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá das orelhas... no


espaço?
E consegue ler consciência... do espaço... abaixo do queixo...
no espaço?

E sente... o volume do espaço... que envolve o pescoço... no


espaço?

E agora... sente... o espaço... para lá do peito... no espaço?

E sente... a energia do espaço... que envolve o peito... no


espaço?

E agora... consegue ter consciência... do volume do espaço...


para lá dos ombros... no espaço?

E sente... a energia do espaço... que envolve os ombros... no


espaço?

E agora... consegue ler consciência... do espaço... atrás das


costas... no espaço?

E agora... consegue repousar... a consciência... no espaço...


entre as coxas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... a ligar-se aos joelhos... no


espaço?

E agora... sente o volume do espaço... que envolve os pés...


no espaço?

E sente... «energia do espaço... para lá dos pés... no espaço?

E consegue ter consciência... do espaço... que envolve todo


o corpo... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá do corpo... no


espaço?
E agora... consegue ter consciência... do espaço entre o
corpo e as paredes da sala... no espaço?

E sente... o volume do espaço... que toda a sala ocupa... no


espaço?

E agora... consegue ter consciência... do espaço... que todo o


espaço ocupa... no espaço?

E sente... o espaço... que lodo o espaço assume... no


espaço?

E agora... está na altura... de se tornar corpo nenhum...


pessoa nenhuma... coisa nenhuma... em lado nenhum... em
tempo nenhum... para se tomar... pura consciência... para
ser uma consciência no campo infinito dos potenciais... e
direcionar a energia para o desconhecido... E quanto mais
tempo permanecer no desconhecido... mais atrai para si
uma nova vida... Torne-se um simples pensamento na
penumbra do infinito... e direcione a atenção — a coisa
nenhuma... corpo nenhum... tempo nenhum...

E se... como observador quântico... der pela mente a


regressar ao conhecido...

ao familiar... às pessoas... às coisas... ou aos locais da sua


realidade familiar...

ao seu corpo... aos seus hábitos, á sua identidade c às suas


emoções... ao tempo... ao passado... ou ao futuro previsível..
. reconheça simplesmente que está a observar o conhecido...
e devolva a consciência ao vazio das possibilidades... e
torne-se pessoa nenhuma... corpo nenhum... coisa
nenhuma...

em lado nenhum... em tempo nenhum... Abra-se ao domínio


imaterial dos potenciais quânticos... Quanto mais se
reconhecer na possibilidade... mais possibilidade e
oportunidade cria na sua vida... Mantenha-se presente...

(Permaneça neste estado entre cinco a 20 minutos,


consoante o tempo que tiver disponível para meditar.]

Agora... qual era a primeira crença... ou percepção... que


queria mudar em si e na sua vida?

Quer manter essa crença e essa percepção?

Se não quer... tome uma decisão... com uma intenção tão


firme... que a amplitude dessa decisão... tenha uma energia
superior aos programas integrados no cérebro... e aos vícios
emocionais do corpo... e permita que o corpo responda a
uma nova mente...

E permita que a escolha se torne uma experiência


inesquecível... e deixe que a experiência... produza uma
emoção com uma energia... capaz de reescrever os
programas... e de mudar a biologia.... Deixe o estado de
repouso e mude a energia... para que a sua própria energia
possa alterar a sua biologia...

Está na altura de devolver o passado à possibilidade... e de


permitir que o domínio infinito das possibilidades o resolva
da melhor forma para si... Abdique dele.

Agora... que crença e percepção deseja ter sobre si e a sua


vida... e como passaria a sentirse?

Vamos... está na altura de passar para um novo estado de


ser... e de permitir que o corpo responda a uma nova
mente... mude a energia, combinando uma intenção clara
com uma emoção elevada, para que a matéria se eleve a
uma nova mente...
E deixe a escolha... ter uma amplitude energética... superior
a qualquer experiência do passado... e permita que a
consciência e a sua própria energia alterem o seu corpo... e
passe para um novo estado de ser... e faça-se definir por
este momento... e deixe esse pensamento intencional
tornar-se uma intensa experiência interior... com uma
energia emocional elevada que se torna uma memória
inesquecível... substituindo a memória passada por uma now
memória no cérebro e no corpo.... Vamos! Ganhe poder....
Inspire-se.... Faça da escolha uma decisão que jamais possa
esquecer...

Agora... dê ao corpo um sabor do futuro, mostrando-lhe o


que sentirá com essa crença... e deixe o corpo respondera
uma nova mente…

E como viverá nesse estado de ser?... Que escolhas fará?...


Como se comportará?... Que experiências terá no futuro?...
Como viverá?... Como se sentirá?... Corno amará?... e
permita que ondas infinitas de possibilidade se transformem
numa experiência de vida...

E pode ensinar emocionalmente ao corpo como é estar


nesse novo futuro?...

Vamos... abra o coração... e acredite na possibilidade...


Eleve-se... apaixone-se pelo momento... e vivencie esse
futuro agora...

E. agora, entregue a sua criação a uma mente superior...


porque o que pensa e vivência neste domínio da
possibilidade... se for realmente sentido... manifesta-se num
qualquer tempo futuro... de ondas de possibilidades para
partículas na realidade... do imaterial para o material... do
pensamento na energia para a matéria...
Agora... entregue-se á nova crença num campo de
consciência que já sabe organizar o resultado perfeito paru
si... plante uma semente na possibilidade.

Agora... qual era a segunda crença ou percepção que queria


mudar em si e na sua vida?... E vale a pena manter essa
crença ou percepção... dessa forma?

Sc não vale a pena, está na altura de tomar uma decisão


com uma intenção

firme... cuja amplitude... tenha uma energia capaz de levar o


corpo responder a uma nova mente... e que a escolha que
faça seja final... e que a decisão se torne uma experiência
inesquecível... Saia do familiar estado de repouso e mude a
energia para elevar a matéria a uma nova mente... Vamos!
Ganhe poder...

Deixe-se levar pela sua própria energia...

E deixe que a energia da escolha... reescreva


neurologicamente os programas subconscientes no
cérebro... e emocionalmente e geneticamente no corpo... e
escolha superar o passado... e deixe que a sua energia mude
a sua biologia...

Inspire-se...

E agora... entregue essa crença a uma inteligência superior...


abdique simplesmente dela... c liberte-a... no campo das
possibilidades... devolvendo-a à energia...

Agora... que crença e percepção sobre si e a sua vida


deseja?... E como se sentiria?

Vamos, passe para um novo estado de ser... e permita que o


corpo se eleve a uma nova mente... e deixe a energia dessa
escolha... reescrever os circuitos cerebrais... e os genes do
corpo... e liberte o corpo num novo futuro... Tem de sentir
uma nova energia... para se tornar superior ao corpo, ao
ambiente e ao tempo... para poder dominar o corpo, o
ambiente e o tempo... Tome-se um pensamento que afeta a
matéria...

E pode ensinar emocionalmente o corpo... como se sentiria


se tivesse essa crença... ter o poder... para se deixar levar
pela sua grandeza... ter coragem...

ser invencível... estar apaixonado pela vida... sentirse


limitado... viver como se as suas preces já tivessem sido
atendidas?^. Vamos, dê ao corpo, como mente inconsciente,
um sabor do futuro... sinalizando novos genes de diferentes
formas... A sua energia é o epifenômeno da matéria... mude
a sua energia para mudar o seu corpo... Vamos, tome a sua
mente matéria...

E como viverá nesse estado de ser?... E que escolhas fará


com essa crença?...

Que comportamentos assumirá?... E que experiências


observa nesse estado de ser?... E como se sentirá com elas...
estar curada, ser livre, acreditar em si próprio e na
possibilidade?... Liberte-se...

Abençoe esse futuro com a sua própria energia... Isso


significará... que se uniu a um novo destino... porque
direciona a energia para onde direcionar a atenção...

Invista no futuro.... E defina-se pelo futuro e não pelo


passado... Abra o coração

e permita que o corpo se deixe levar pela sua própria


experiência interior... e lembre-se de que o que quer que
realmente vivencie no desconhecido... e assimile
emocionalmente.... acabará por abrandar de frequência em
energia

...em três dimensões como matéria...

E agora liberte-se e abdique dele... e permita que uma


inteligência superior o realize da melhor forma para si...

E agora... pouse a mão esquerda sobre o coração... e


abençoe o corpo... que ele se eleve a uma nova mente... e
abençoe a sua vida... que seja uma extensão da sua mente...
para abençoar o seu futuro... que nunca seja o seu
passado... para abençoar o seu passado... que se torne
sabedoria... pura abençoar a adversidade na sua vida... que
o inicie na grandeza... e que lhe permita vislumbrar o
significado oculto em todas as coisas... paro abençoar a sua
alma... que o desperte deste sonho... e que abençoe o divino
em si... que o permeie... que o atravesse... eque o envolva...
que lhe traga um propósito na vida...

E por fim... dê graças por uma nova vida antes de ela se


manifestar... para que o corpo, como mente inconsciente,
comece a vivenciará esse futuro... Porque a assinatura
emocional da gratidão significa que o acontecimento já
ocorreu...

Porque a gratidão é... o supremo estado do recebimento...

E memorize simplesmente essa sensação... Traga a


consciência... para um novo corpo... para um novo
ambiente... e para um tempo totalmente novo... e quando
estiver pronto, abra os olhos.

2. 45 minutos de meditação (mudar uma crença ou


percepção) Agora... consegue repousar a consciência... no
espaço... entre os olhos... no espaço?
E sente... a energia do espaço... entre os olhos... no espaço?

E agora... consegue ter consciência... do espaço... entre as


têmporas... no espaço?

E sente... o volume do espaço... entre as têmporas... no


espaço?

E agora...consegue ter consciência... do espaço... que as


narinas... ocupam no espaço?

E sente... o volume do espaço... que o interior do nariz


ocupa... no espaço?

E agora... consegue ter consciência do espaço... entre a


língua e a parte de trás da garganta... no espaço?

E sente... o volume do espaço... que a parte de trás da


garganta ocupa... no espaço?

E agora... sente... a energia do espaço... que envolve as


orelhas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá das orelhas... no


espaço?

E consegue ter consciência... do espaço... abaixo do queixo...


no espaço?

E sente... o volume do espaço... que envolve o pescoço... no


espaço?

E agora... sente... o espaço... para lá do peito... no espaço?

Se sente... a energia do espaço... que envolve o peito... no


espaço?
E agora... consegue ter consciência... do volume do espaço...
para lá dos ombros... no espaço?

E sente... a energia do espaço... que envolve os ombros... no


espaço?

E agora... consegue ler consciência... do espaço... atrás das


costas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá da coluna... no


espaço?

E agora...consegue repousar... a consciência... no espaço...


entre as coxas... no espaço?

E sente... a energia do espaço... a ligar-se aos joelhos,.. no


espaço?

E agora... sente o volume do espaço... que envolve os pés...


no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá dos pés... no


espaço?

E consegue ter consciência... do espaço... que envolve todo


o corpo... no espaço?

E sente... a energia do espaço... para lá do corpo... no


espaço?

E agora... consegue ler consciência... do espaço entre o


corpo e as paredes da sala... no espaço?

E sente... o volume do espaço... que toda a sala ocupa... no


espaço?

E agora... consegue ter consciência... do espaço... que todo o


espaço ocupa... no espaço?
E sente... o espaço... que todo o espaço assume... no
espaço?

E agora... está na altura... de se tomar corpo nenhum...


pessoa nenhuma... coisa nenhuma... em lado nenhum... em
tempo nenhum... para se tornar... pura consciência... para
ser uma consciência no campo infinito dos potenciais... e
direcionar a energia para o desconhecido... E quanto mais
tempo permanecer no desconhecido... mais atrai para si
uma nova vida... Torne-se um simples pensamento na
penumbra do infinito... e direcione a atenção — a coisa
nenhuma... corpo nenhum... tempo nenhum... Quanto mais
se centrar no desconhecido... mais atrai para si uma rtovu
vida. Permita que a sua consciência passe de partícula para
onda... de matéria para consciência... de material para
imaterial... do espaço e do tempo para espaço nenhum em
tempo nenhum... de um mundo dos sentidos... para um
mundo para lá dos sentidos... do conhecido para o
desconhecido...

E se... como observador quântico... der pda mente a


regressarão conhecido... ao familiar... ás pessoas... às
coisas... ou aos locais da sua realidade familiar... ao seu
corpo... aos seus hábitos, à sua identidade e ás suas
emoções... ao tempo...

ao passado... ou ao futuro previsível... reconheça


simplesmente que está a observar o conhecido... e devolva a
consciência ao vazio das possibilidades... e torne-se pessoa
nenhuma... corpo nenhum... coisa nenhuma... em lado
nenhum...

em tempo nenhum... Abra-se ao domínio imaterial dos


potenciais quânticos... à penumbra da eternidade... E quanto
mais se reconhecer na possibilidade... nuns possibilidade e
oportunidade cria na sua vida... Mantenha-se presente...
[Permaneça neste estado entre cinco a 10 minutos,
consoante o tempo que tiver disponível para meditar.]

Agora... qual era a primeira crença... ou percepção... que


quena mudar em si e na sua vida?... Quer manter essa
crença e essa percepção? Se não quer... tome uma decisão...
com uma intenção tão firme... que a amplitude dessa
decisão...

tenha uma energia superior aos programas integrados no


cérebro... e aos vícios

emocionais do corpo... e permita que o corpo responda a


uma nova mente... e deixe que a escolha se torne uma
experiência inesquecível... e deixe que a experiência interior
produza uma emoção com uma energia... capaz de
reescrever os programas e de mudar a sua biologia.... Deixe
o estado de repouso e mude a energia para que a sua
energia possa alterar a sua biologia...

Vamos! Inspire-se c escolha ser superior ao seu passado.


Inspire-se e ganhe poder! Deixe-se mover pela sua própria
energia... e agora entregue essa crença a uma inteligência
superior... a uma mente superior... abdique dela e deixe-a no
campo das possibilidades, devolvendo-a energia...

Agora... que crença e percepção deseja ter sobre si e a sua


vida... e como passaria a sentirse? Vamos... está na altura de
passar para um novo estado de ser... e de permitir que o
corpo responda a uma nova mente... e deixe a energia dessa
escolha reescrever os circuitos do cérebro e mudar os genes
do corpo... e permita que o corpo se liberte do passado para
entrar num novo futuro... Mude a energia, combinando uma
intenção clara com uma emoção elevada, para que a
matéria se eleve a uma novamente... e deixe a escolha ter
uma amplitude energética superior a qualquer experiência
passada... e permita que a sua consciência e a sua própria
energia alterem o seu corpo... e passe para um novo estado
de ser... e faça-se definir por este momento... e deixe este
processo interior, esta experiência, ter uma energia
emocionai tão elevada que a torne uma memória
inesquecível...

E pode ensinar emocionalmente ao corpo como se sentiria


ao ter essa crença...

ter poder... ser movido pela sua própria grandeza... ser


invencível... ter coragem... estar apaixonado pela vida...
sentirse ilimitado... viver como se as suas preces já tivessem
sido atendidas?— Dê ao corpo um sabor do futuro, emitindo
sinais diferentes a novas genes. É a sua energia que afeta a
matéria e, ao mudá-la, muda o corpo... Vamos, torne a
mente matéria... e nesse novo estado de ser, como viverá...
que escolhas fará... que comportamentos assumirá e que
experiências observará... e como será para st acreditar na
possibilidade...

acreditarem si próprio... curar-se... libertar-se... ser movido


pelo espírito?...

Vamos, ame a sua futura vida... É uma criação sua;


apaixone-se por ela. Neste estado de ser, cuide dela com a
sua atenção... porque direciona a energia para onde
direcionar a atenção... Invista no seu futuro, observando-o...
e defina-se por um novo futuro, em vez de se definir pelo
passado familiar... Abra o coração e permita que o corpo seja
movido pela sua experiência interior... porque o que
vivenciar verdadeiramente na possibilidade e assimilar
emocionalmente...

acabará por ir ao seu encontro num tempo futuro... Do


pensamento... para
energia... para matéria... e agora liberte-o e entregue-o... a
uma inteligência superior... e permita que seja realizado da
melhor forma para si.

E pouse na mão esquerda sobre o coração.. . e abençoe o


seu corpo... para que ele se deve a uma nova mente... a
uma nova energia... E abençoe a sua vida....

Que ela seja uma extensão da sua mente... que o seu estado
de ser... se reflita no seu mundo... E abençoe o seu futuro...
Que ele nunca seja o seu passado... E

abençoe o seu passado... que de se tome sabedoria... E


abençoe os desafios da sua vida.... que lhe tragam
grandeza... E abençoe a sua alma... que da o desperte deste
sonho e o oriente... E abençoe o desconhecido em si... que a
energia o percorra... que o agite... que o atravesse... e o
envolva... que a sua mente seja a sua... que a sua
natureza... seja a sua... que a sua vontade... seja a sua... e
que o seu amor pela vida... seja o seu... e que lhe mostre um
propósito, dando-lhe, de alguma forma, um sinal na sua
vida... para que saiba que é real...

E agora o pensamento envia o sinal... e o sentimento traz-


lhe o acontecimento de volta... Quero que passe para um
estado de gratidão... e que de graças... por uma nova vida
antes dela se manifestar... Porque a assinatura emocional da
gratidão significa... que o acontecimento já ocorreu... e
quanto mais permanecer na gratidão... mais atrai para si
uma nova vida... porque a gratidão ê o estado máximo do
recebimento... E agora traga a consciência de volta para um
corpo novo... para uma vida nova... e para um futuro
totalmente novo... e quando estiver pronto... pode abrir os
olhos.

16. Agradecimentos
Quando acabei o meu segundo livro, tinha a certeza de que
já não escreveria mais nenhum. O enorme esforço que é
necessário para conciliar a escrita e a investigação com uma
clínica de saúde integrada muito concorrida e viagens quase
semanais — para não falar na família, nas reuniões e, até,
em dormir ou comer mal me permite fazer uma simples
pausa para olhar descontraidamente pela janela, para
contemplar a natureza e refletir sobre o próximo
pensamento que estou prestes a escrever.

Percebi que trazer uma ideia imaterial para a realidade


material requer persistência, determinação, enfoque,
resistência, energia, tempo, criatividade e

— acima de tudo — apoio. Pessoalmente, só o consegui fazer


com o amor incondicional, o encorajamento, a ajuda e a
cooperação das minhas relações profissionais, do meu
pessoal, dos meus amigos e da minha família. Estou-lhes
eternamente grato.

Gostaria de expressar a minha gratidão para com a equipa


da Hay House, por acreditarem outra vez em mim. É uma
honra e uma bênção fazer parte de uma família assim.
Obrigado, Reid Tracy. Stacey Smith, Shannon Littrell, Alex
Freemon, Christy Salinas e restantes membros da equipa.
Espero, de alguma forma, ter-vos beneficiado.

Ocasionalmente, somos abençoados por um anjo. Esses


anjos são geralmente humildes, altruístas, poderosos e
muito dedicados. Tive a sorte de conhecer um verdadeiro
anjo, quando escrevia este livro. A minha querida editora, e
agora amiga, Katy Koontz, é a própria encarnação da
excelência, da magia, da graça e da humildade. Katy, sinto-
me muito honrado por ter trabalhado contigo neste projeto.
Agradeço-te por teres sido tão incansável, sensata e sincera
— por me teres dado tanto.
Sally Carr, valorizo muito a tua ajuda com o meu manuscrito.
Abençoaste-me com o tempo que me cedeste para me
ajudar, quando precisei e em cima da hora. Foste muito
generosa.

Quero também agradecer a Paula Meyer, a minha assistente


executiva e gestora, que se tornou uma verdadeira líder e a
voz da razão na minha vida.

Obrigado pelo teu empenho nesta causa. Tens uma luz


fulgurante. Fiquei impressionado com a pessoa em que te
tornaste.

Dana Reichel é a gerente administrativa da nossa clínica e a


minha assistente pessoal. Dana, aprecio muito o teu esforço
para gerir o pessoal e garantir amor e cuidados a todos. não
há palavras que descrevam a tua enorme inteligência
emocional, a tua sabedoria simples, a tua coragem e a
alegria que proporcionas a tantas pessoas — incluindo a
mim. não pares, por favor.

Agradeço a Trina Greenbury. Nunca conheci uma pessoa tão


organizada,

profissional, honesta e nobre. Obrigado por continuares a


acompanhar-me nesta viagem. És incrível.

A minha cunhada, Katina Dispenza, foi fundamental, com a


sua criatividade. Katina, tenho imensa sorte por te
preocupares tanto e trabalhares para mim. A forma tão
especial como me representas no mundo não me passa
despercebida. És uma estrela.

Agradeço também a Rhadell Hovda, Adam Boyce, Katie


Horning, Elaina Clauson, Tobi Perkins, Bruce Armstrong, Amy
Schefer, Kathy Lund, Keren Retter, Dr. Mark Bingel e Dr.
Marvin Kunikiyo. Dou graças pelos vossos contributos
maravilhosos.

John Dispenza, meu irmão e melhor amigo, a tua mente


criativa nunca deixa de me comover. Obrigado pelo design
da capa e pelos gráficos, mas, acima de tudo, obrigado pelo
amor e pela orientação que sempre me deste.

Jeffrey Fannin é o nosso neurocientista quàntico, que tanto


me ajudou a medir a mudança. Jeffrey, é por tua causa que
fazemos história. Tenho um respeito ilimitado por tudo o que
fizeste por mim.

O Doutor Dawson Church é um gênio e um nobre amigo tão


apaixonado pela ciência e pelo misticismo como eu. Dawson,
sinto-me honrado com as tuas palavras no preâmbulo deste
livro. Espero trabalhar mais contigo no futuro.

Beth Wolfson é a responsável pelos meus formadores e uma


dedicada líder empresarial. Obrigado, Beth, por criares o
modelo de negócio comigo e pela paixão que demonstras
por esta mensagem.

Sinto-me inspirado pelo empenho dos restantes formadores


da minha equipa espalhados pelo mundo, que trabalham
com tanta diligência para se tornarem exemplos vivos de
mudança e liderança.

Agradeço igualmente a John Collinsworth e Jonathan Swartz,


que tanto me orientaram nas engrenagens dos negócios.

Aos meus filhos, Jace, Gianna e Shen, que se estão a tornar


jovens adultos de respeito. Obrigado por me deixarem ser
tão cromo.

E à minha querida Roberta Brittingham: és o meu placebo.


Notas

[←1]

1 Sigla de immediate early genes. (N. da T)

[←2]

2 Sigla de self-directed neuroplasticity. (N. da T.)

[←3]

O termo original em inglês é prime e significa, neste caso,


preparar no sentido de predispor, O autor explica o conceito
mais adiante. (N. da T)

[←4]

Lei da Liberdade de Informarão. (N da T)

[←5]

Órgão do governo dos EUA que controla todos os produtos


alimentares e fármacos. (N. da T)

[←6]

Exame nacional do ensino secundário dos EUA considerado


um dos critérios para o acesso ao ensino superior. (N. da T.)

Table of Contents

PREFÁCIO

Despertar

Uma decisão radical

A investigação começa a sério


Da informação à transformação

INTRODUÇÃO

O que este livro não é

O que contém este livro

PARTE 1

CAPÍTULO 1

É possível ter uma overdose de placebo?

Desaparecimento mágico da depressão crônica

Uma cura “milagrosa”: Agora vê, agora não vê

A cirurgia ao joelho que nunca aconteceu

A cirurgia ao coração que não aconteceu

A atitude é tudo

Enjoo antes da agulha

Desaparecimento dos problemas digestivos

Parkinson versus placebo

Das serpentes mortíferas e da estricnina

Vitória sobre o vudu

CAPITULO 2

Do magnetismo à hipnose

Explorar o efeito nocebo


As primeiras grandes conquistas

Os placebos superam os antidepressivos

A neurobiologia do placebo

O domínio da mente sobre a matéria

Será que podemos ser os nossos próprios placebos?

CAPÍTULO 3

O placebo: anatomia de um pensamento

Um breve olhar sobre o funcionamento do cérebro

A neuroplasticidade

A travessia do rio da mudança

Superar o ambiente

Pensar e sentir, e sentir e pensar

O que precisa de fazer para ser o seu próprio placebo

CAPÍTULO 4

Desmistificar o ADN

O gênio dos genes

A biologia da expressão do gene

Epigenética: como nós, meros mortais, podemos armar-nos


em Deus

O stress faz-nos viver em modo de sobrevivência


O legado das emoções negativas

CAPÍTULO 5

Algumas histórias de ensaios mentais bem-sucedidos

Emitir sinais a novos genes do corpo com uma nova mente

Células estaminais: o nosso potente reservatório de


potenciais

De volta ao mosteiro

CAPÍTULO 6

Programar o subconsciente

Aceitação, crença e entrega

Juntar a emoção

As duas facetas da mente analítica

O funcionamento interno da mente

Abrir a porta para a mente subconsciente

A meditação desmistificada

Porque pode a meditação ser um desafio

Porque pode a meditação ser um desafio

Anatomia de um “assassinato”

CAPÍTULO 7

A origem das nossas crenças


Mudar as crenças

O efeito da percepção

O poder do ambiente

Mudar a energia

CAPÍTULO 8

A energia a nível quântico

Receber o tipo certo de sinal energético

Do lado de lá da porta quântica

CAPÍTULO 9

A história de Laurie

Medo do pai

Uma identidade cimentada na doença

Laurie descobre o que é possível

Êxitos e reveses

Mente nova, corpo novo

A história de Candace

Candace paga o preço

Candace arregaça as mangas

Êxito, doce êxito

A história de Joann
Levar a cura para o nível seguinte

Mais milagres

CAPÍTULO 10

Do conhecimento à experiência

Medir a mudança

Tenho uma tempestade cerebral

Breve panorâmica dos aparelhos de imagiologia cerebral


utilizados

Coerência versus incoerência

Curar a doença de Parkinson sem placebos ou


medicamentos

Alterar a lesão cerebral e espinal só com o poder do


pensamento

Curar quistos fibrosos mudando a energia

Sentir êxtase

Beatitude: fazer a mente sair do corpo

Chegou a sua vez

CAPÍTULO 11

Quando meditar

Onde meditar

Conforto
Quanto tempo

Dominar a vontade

Passar para um estado alterado

O seu lugar no momento presente

Ver sem os olhos

CAPÍTULO 12

Indução: criar coerência cerebral e ondas cerebrais mais


lentas através

do enfoque aberto

Tornar-se possibilidade: encontrar o momento presente e


permanecer

no vazio

Mudar crenças e percepções sobre si e a sua vida

POSFÁCIO

APÊNDICE

45 minutos de meditação (mudar uma crença ou percepção)

Agradecimentos
Document Outline
PREFÁCIO
Despertar
Uma decisão radical
A investigação começa a sério
Da informação à transformação
INTRODUÇÃO
O que este livro não é
O que contém este livro
PARTE 1
CAPÍTULO 1
É possível ter uma overdose de placebo?
Desaparecimento mágico da depressão crônica
Uma cura “milagrosa”: Agora vê, agora não vê
A cirurgia ao joelho que nunca aconteceu
A cirurgia ao coração que não aconteceu
A atitude é tudo
Enjoo antes da agulha
Desaparecimento dos problemas digestivos
Parkinson versus placebo
Das serpentes mortíferas e da estricnina
Vitória sobre o vudu
CAPITULO 2
Do magnetismo à hipnose
Explorar o efeito nocebo
As primeiras grandes conquistas
Os placebos superam os antidepressivos
A neurobiologia do placebo
O domínio da mente sobre a matéria
Será que podemos ser os nossos próprios placebos?
CAPÍTULO 3
O placebo: anatomia de um pensamento
Um breve olhar sobre o funcionamento do cérebro
A neuroplasticidade
A travessia do rio da mudança
Superar o ambiente
Pensar e sentir, e sentir e pensar
O que precisa de fazer para ser o seu próprio
placebo
CAPÍTULO 4
Desmistificar o ADN
O gênio dos genes
A biologia da expressão do gene
Epigenética: como nós, meros mortais, podemos
armar-nos em Deus
O stress faz-nos viver em modo de sobrevivência
O legado das emoções negativas
CAPÍTULO 5
Algumas histórias de ensaios mentais bem-
sucedidos
Emitir sinais a novos genes do corpo com uma nova
mente
Células estaminais: o nosso potente reservatório de
potenciais
De volta ao mosteiro
CAPÍTULO 6
Programar o subconsciente
Aceitação, crença e entrega
Juntar a emoção
As duas facetas da mente analítica
O funcionamento interno da mente
Abrir a porta para a mente subconsciente
A meditação desmistificada
Porque pode a meditação ser um desafio
Porque pode a meditação ser um desafio
Anatomia de um “assassinato”
CAPÍTULO 7
A origem das nossas crenças
Mudar as crenças
O efeito da percepção
O poder do ambiente
Mudar a energia
CAPÍTULO 8
A energia a nível quântico
Receber o tipo certo de sinal energético
Do lado de lá da porta quântica
CAPÍTULO 9
A história de Laurie
Medo do pai
Uma identidade cimentada na doença
Laurie descobre o que é possível
Êxitos e reveses
Mente nova, corpo novo
A história de Candace
Candace paga o preço
Candace arregaça as mangas
Êxito, doce êxito
A história de Joann
Levar a cura para o nível seguinte
Mais milagres
CAPÍTULO 10
Do conhecimento à experiência
Medir a mudança
Tenho uma tempestade cerebral
Breve panorâmica dos aparelhos de imagiologia
cerebral utilizados
Coerência versus incoerência
Curar a doença de Parkinson sem placebos ou
medicamentos
Alterar a lesão cerebral e espinal só com o poder do
pensamento
Curar quistos fibrosos mudando a energia
Sentir êxtase
Beatitude: fazer a mente sair do corpo
Chegou a sua vez
CAPÍTULO 11
Quando meditar
Onde meditar
Conforto
Quanto tempo
Dominar a vontade
Passar para um estado alterado
O seu lugar no momento presente
Ver sem os olhos
CAPÍTULO 12
Indução: criar coerência cerebral e ondas cerebrais
mais lentas através do enfoque aberto
Tornar-se possibilidade: encontrar o momento
presente e permanecer no vazio
Mudar crenças e percepções sobre si e a sua vida
POSFÁCIO
APÊNDICE
45 minutos de meditação (mudar uma crença ou
percepção)
Agradecimentos

Você também pode gostar