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ESTRUTURA ECOLÓGICA E CORREDORES VERDES.


ESTRATÉGIAS TERRITORIAIS PARA
UM FUTURO URBANO SUSTENTÁVEL

José Carlos Ferreira

RESUMO

A definição da Estrutura Ecológica da paisagem de um determinado território reconhece os


sistemas ecológicos fundamentais e orientadores de uma implementação sustentável da
estrutura edificada de forma a promover a biodiversidade em ambiente urbano. A definição
de uma Rede de Corredores Verdes com base na Estrutura Ecológica proporciona um
instrumento eficaz de requalificação ambiental de territórios desestruturados, com especial
ênfase nas áreas urbanas, constituindo igualmente uma excelente base para a definição de
uma Estrutura Ecológica Urbana. Este trabalho apresenta e discute o contributo das
Estruturas Ecológicas e das Rede de Corredores Verdes como estratégias de requalificação
e regeneração de áreas urbanas degradadas e como estratégia para a definição de um
modelo de ocupação urbana sustentável em áreas sob pressão urbana.

1 INTRODUÇÃO

O processo de planeamento, ordenamento e gestão do território tem por base a proteção e


integração dos elementos biofísicos, culturais, recreativos e paisagísticos. Todo o processo
de planeamento ambiental deverá orientar as intervenções antrópicas no sentido de
reconhecer, conservar e promover elementos naturais e culturais que, por terem
características únicas, deverão ser sujeitos a um ordenamento e planeamento
ambientalmente sustentáveis, contribuindo desta forma para a qualidade de vida dos
habitantes.

A definição da Estrutura Ecológica de um determinado território reconhece os sistemas


ecológicos fundamentais com vista à implementação sustentável da estrutura edificada. A
definição de uma rede de Corredores Verdes com base na Estrutura Ecológica é um
instrumento eficaz de requalificação ambiental de territórios desestruturados e
ecologicamente sensíveis. Estas estruturas têm dado um contributo significativo na
compatibilização das áreas ecologicamente sensíveis com o desenvolvimento e
reestruturação do tecido urbano. Nesse sentido a proposta pretende requalificar a malha
urbana existente e promover um suporte para a regeneração ecológica (incluindo a
recuperação do potencial de biodiversidade no espaço urbano). A Estrutura Ecológica (EE)
deverá constituir um instrumento de planeamento ambiental e de ordenamento do território
que oriente a ocupação e transformação antrópica do território.
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“O conceito estrutura ecológica prende-se com a protecção e integração dos elementos


biofísicos, culturais, recreativos e paisagísticos do território convergindo para a idéia de
sustentabilidade. Deverá orientar as intervenções antrópicas no sentido de reconhecer,
conservar e promover elementos naturais e culturais que, por terem características únicas,
deverão ser sujeitos a um ordenamento e planeamento ambientalmente sustentável,
contribuindo desta forma para a qualidade de vida dos munícipes” (Ferreira et al, 2010 e
Machado et al, 2004). A Estrutura Ecológica pretende estabelecer o “Continuum Naturale”
ou seja um sistema natural, contínuo, que permita o funcionamento e desenvolvimento dos
ecossistemas promovendo assim a biodiversidade. Considerando o exposto, a Rede
Ecológica Municipal/Urbana a adoptar, tem por função essencial contribuir para a
estabilidade física e sustentabilidade ecológica do município, constituída por sistemas
espaciais com diferentes funções, recreio, produção e protecção. Ou seja, em territórios sob
forte pressão antrópica, a Estrutura Ecológica deverá ser entendida como mais uma “infra-
estrutura” essencial ao equilíbrio do território, a par das redes de estradas, de
abastecimento de água e de energia eléctrica entre outros. (Ferreira et al, 2004).

Esta “infra-estrutura verde” deverá ser o suporte das paisagens e dos ecossistemas
autóctones, deverá ter funções de corredor ecológico ao providenciar habitats para fauna e
flora, constituir um filtro de ar e água, funções sociais e culturais ao promover um
equilíbrio estético e paisagístico, propiciando à população espaços livres de recreio, lazer e
educação ambiental. Por último, para manter e potenciar esta “infra-estrutura verde” ou
“natural” temos que introduzir outro conceito, o de “condicionamento à edificabilidade” ou
“aptidão para a edificação”, que clarificará os critérios de aptidão dos solos a funções
urbanas e não urbanas. A Estrutura Ecológica deve incluir as áreas “non aedificandi” e as
áreas com condicionantes à edificação, isto é, áreas do território sobre as quais assenta o
funcionamento de determinados ecossistemas assim como outro tipo de áreas,
nomeadamente, os espaços verdes, existentes e propostos, e os espaços associados à
estrutura cultural e histórica do concelho.

A Rede de Corredores Verdes a propor deve ser desenhada com base na EE, abrangendo
áreas com elevado valor ecológico cultural e paisagístico. A rede de CV pretende não só
proteger os recursos existentes, como também compatibilizá-los com a actividade humana,
contribuindo para uma melhor qualidade da paisagem e de vida da população.

Segundo Machado et al (2004) “Redes de Corredores Verdes são espaços livres lineares
que ligam grandes áreas não lineares ou grandes manchas de espaços naturais. Estes
conjuntos constituem sistemas de espaços, planeados, projectados e geridos para fins
múltiplos, incluindo objectivos ecológicos, recreativos, culturais, estéticos e produtivos,
compatíveis com o conceito de sustentabilidade”. Tendo por base esta definição, a rede de
Corredores Verdes em ambiente urbano) teve por base os seguintes fundamentos:

- Constituir uma alternativa às actuais tendências de ordenamento;


- Compatibilizar os efeitos espaciais negativos da evolução económica e a necessidade
da salvaguarda da qualidade ambiental;
- Fomentar a interligação das questões do planeamento ambiental e paisagístico
nas intervenções em matéria de ordenamento do território e de ambiente.
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Ou seja, tendo por base a Estrutura Ecológica a rede de Corredores Verdes tem como
objectivos fundamentais:

- A delimitação de áreas com elevado valor ecológico cultural e paisagístico;


- A definição de uma rede de corredores verdes com ramificações no tecido urbano;
- A protecção dos recursos e a sua compatibilização com a actividade humana;
- Contribuir para uma melhor qualidade da paisagem e de vida da população.

Trata-se de uma filosofia de múltiplos objectivos: protecção de recursos, recreio e lazer,


estabilidade ecológica, requalificação do remanescente da paisagem cultural e agrícola e
protecção do património natural e construído.

Assim, de acordo com Ferreira et al (2004, c) o “Corredor Verde constitui um sistema


contínuo, estabelecendo ligações entre áreas de elevada concentração de recursos
ecológicos, paisagísticos e culturais, promovendo a sua protecção e compatibilização com
a actividade humana”. O conceito de corredor verde introduz na Estrutura Ecológica a
noção de “polivalência” dos espaços, ou seja a compatibilização entre espaços de
protecção, produção e recreio. Para Machado et al (2004) e Ferreira et al (2010) as redes
de corredores verdes apresentam duas funções prioritárias, a ecológica e a social, a que se
veio juntar recentemente a função económica. O conceito sugere uma enorme variedade de
tipos e uma grande multiplicidade de usos, tornando-se difícil estabelecer uma definição
única e consensual. Contudo, o “espaço aberto linear” representa a base comum de
qualquer corredor verde, podendo este apresentar-se vocacionado para o recreio ou a
conservação.

Em resumo, no âmbito dos processos de Planeamento Ambiental em meio urbano


poderemos de uma forma “simples” entender a Estrutura Ecológica como um Instrumento
de Ordenamento do Território essencial para a realização dos Planos de urbanização,
enquanto a rede de Corredores Verdes, deve ser entendida como uma “infra-estrutura
verde”, que integra o modelo de ordenamento.

1.1. Funções principais de uma “infra-estrutura verde”

As Redes de Corredores Verdes (RCV) em ambiente urbano deverão permitir a integração


de áreas de maior valor ecológico numa estrutura desenhada e organizada, criando novas
componentes e potenciando ligações através dos subsistemas territoriais fundamentais que
funcionam como infra-estruturas:

- Infra-estrutura azul (circulação da água);


- Infra-estrutura verde (produção de biomassa);
- Infra-estrutura cultural (paisagem e elementos culturais);
- Infra-estrutura de mobilidade sustentável (não motorizada).

A RCV deverá ser desenhada de forma a desempenhar as seguintes funções territoriais:

- Funções ecológicas:

a) Manutenção da biodiversidade: protecção de áreas naturais, constituindo habitats.


b) Estabelecimento de ligações entre áreas de habitats e, consequentemente, o movimento
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de espécies, materiais e energia


c) Filtro natural à poluição das águas e poluição atmosférica. Purificação do ar através da
libertação de oxigénio e “sumidouro” de CO2.
d) A fixação de poeiras, a protecção dos ventos e a regularização de brisas;
e) A regularização de amplitudes térmicas e da luminosidade atmosférica. Em ambiente
urbano é particularmente eficaz em baixar a temperatura da água e do ar devido ao efeito
sombra, devido à elevada evapotranspiração, e interfere positivamente nos processos
hidrológicos, reduzindo os riscos de erosão.
f) A circulação da água pluvial a céu aberto e infiltração, promovendo a utilização da água
local e torrencial.

- Funções sociais:

a) Fornecem espaços para recreio activo e lazer;


b) A contribuição para o abastecimento alimentar em produtos frescos (hortas urbanas);
c) Melhoria da qualidade do ar;
d) Melhoria do conforto térmico;
e) Permitem a preservação do património histórico e cultural;
f) Ajudam a manter e valorizar a qualidade estética da paisagem;
g) Controle de factores de risco.

2 PROCESSO METODOLÓGICO PARA A DELIMITAÇÃO DE UMA


ESTRUTURA ECOLÓGICA TERRITORIAL E CONCEPÇÃO DE UMA REDE DE
CORREDORES VERDES

A delimitação de Corredores Verdes e de Estruturas Ecológicas de âmbito local como


instrumentos de ordenamento e planeamento territorial constituem um processo inovador
no quadro português (apesar da delimitação da estrutura ecológica ser obrigatória a partir
de 1999). Neste artigo resume-se a metodologia utilizada em vários trabalhos em que o
Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente (FCT/UNL) esteve envolvido com
destaque para o Plano Municipal de Ambiente do Município do Barreiro, Estrutura
Ecológica do Município de Alcobaça e Estrutura Ecológica e Rede de Corredores Verdes
para o Município de Setúbal (em curso).

A Estrutura Ecológica (EE) deve constituir-se como um modelo de ocupação do território.


A definição da EE deve ter por base o reconhecimento dos sistemas ecológicos
fundamentais (rede hidrográfica, zona ribeirinha, áreas com risco de erosão, solos de
elevado valor ecológico, vegetação espontânea, área de elevada concentração patrimonial),
criando um sistema ecológico territorial onde a estrutura edificada (infra-estruturas viárias,
habitação, equipamentos, indústria) seja implementada de forma racional, obedecendo a
regras de localização que tenham em conta os valores ecológicos, de forma a promover a
biodiversidade e o uso sustentável do território. Só uma efectiva articulação entre as
ocorrências naturais e os elementos construídos, em que as estruturas permanentes da
paisagem são consideradas sistemas fundamentais de suporte às comunidades humanas,
podem contribuir para uma melhor gestão das pressões e interesses, por vezes antagónicos,
sobre o território, contribuindo para a sustentabilidade local (Figura 1).
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Fig. 1 Grandes vectores considerados na Estrutura Ecológica e principais productos.

Assim, uma possível abordagem metodológica consiste em dividir a estrutura ecológica em


duas: Estrutura Ecológica Principal (EEP) a uma escala local/municipal e Estrutura
Ecológica Secundária (EES) à escala do plano de urbanização ou plano de pormenor.

A Estrutura Ecológica Principal (EEP) ou Fundamental integra as áreas que constituem o


suporte dos sistemas ecológicos fundamentais e cuja protecção é indispensável ao
funcionamento sustentável do território. Ou seja, são áreas localizadas nas situações
ecológicas mais favoráveis à implantação da EEP. Engloba áreas de habitats prioritárias e
ou importantes a nível local, ou seja, com maior interesse ecológico, imperativas no
funcionamento dos sistemas naturais. Este tipo de estrutura pretende assegurar a ligação da
paisagem envolvente ao centro das principais zonas urbanas enquadrando as redes de
circulação viária e pedonal e integrando os espaços que constituem os equipamentos
colectivos “verdes” de maior dimensão e de concepção mais naturalista (Machado et al.,
2004). Dever-se-á nesta estrutura privilegiar os sistemas contínuos de produção, protecção
e recreio, incluindo, nomeadamente, a estrutura mais restritiva relativamente aos usos
edificados, onde prevalece o carácter non aedificandi.

A Estrutura Ecológica Secundária (EES), é aqui entendida como uma estrutura ecológica
urbana que visa fomentar e intensificar os processos ecológicos em áreas edificadas.
Constitui assim uma estrutura de protecção, de regulação climática e de suporte da
produção vegetal integrada no tecido edificado, integrando vazios urbanos, espaços
públicos adjacentes às áreas mais urbanizadas, nomeadamente zonas residenciais, de
serviços, de equipamentos de actividades económicas, áreas livres de protecção às infra-
estruturas, logradouros, hortas urbanas, ente outros. A utilização de um Sistema de
Informação Geográfica é fundamental coma finalidade de poder lidar com uma base de
dados complexa (figura 2).
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Fig. 2 Exemplo de um processo metodológico

3 A DEFINIÇÃO DA ESTRUTURA ECOLÓGICA E REDE DE CORREDORES


VERDES PARA O MUNICIPIO DE SETÚBAL COMO CASO DE ESTUDO.
A definição de uma Estrutura Ecológica Municipal de Setúbal (EEMS) tem como objectivo
a promoção do desenvolvimento sustentável do território de Setúbal através da
compatibilização dos usos urbanos e rurais, com a integração e valorização do património
natural, cultural e paisagístico. Pretende ainda, requalificar e ou regenerar os espaços de
elevado valor ambiental em articulação com os instrumentos de execução urbanística.

Pretende-se, para tal salvaguardar:


a) As áreas ambientalmente vulneráveis e de risco associadas a fenómenos de origem
natural e/ou antrópica, através de mecanismos de avaliação que tenham em conta a
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dinâmica dos processos naturais (ex: cheias/inundações, deslizamentos, erosão, derrame de


poluentes, poluição atmosférica, entre outros);
b) A paisagem tradicional através da protecção do sistema de quintas, recorrendo a
mecanismos de regulamentação do uso e ocupação do solo, de modo a assegurar a sua
recuperação e valorização para outros fins para além do residencial e agrícola,
nomeadamente para alojamento temporário e actividades de lazer potenciadoras da sua
localização natural, como equipamentos para idosos, crianças, ecoturismo, spa, etc;
c) O restante património cultural como complemento à estrutura ecológica propriamente
dita;
d) A zona costeira (oceânica e estuarina) através de acções de compatibilização de
actividades de lazer, recreio, pesca, portuárias e industriais com a defesa dos recursos e
valores naturais;
e) As linhas de água principais, promovendo a sua requalificação e regeneração, em
especial nas áreas urbanas por forma a constituir um elemento valorizador do espaço
urbano;
f) O sobreiro (Quercus suber e Quercus faginea) preservando a cintura verde que
envolvente o perímetro urbano de Setúbal, fortalecendo o seu papel na estrutura ecológica,
nomeadamente reforçando a componente produção, lazer e recreio, por exemplo com a
criação de um parque urbano.
g) As zonas pedonais (zonas livres de automóveis), cicláveis, ruas multifuncionais e todas
áreas com potencial para descarbonização do transporte, implementando meios de
transporte não poluentes reforçando a componente não motorizada e não produtora de CO2.

A Estrutura Ecológica Municipal proposta no modelo de organização espacial do território


permitirá a implementação da perspectiva de desenvolvimento sustentável subjacente nos
eixos de desenvolvimento estratégico. Para além salvaguardar os sistemas ecológicos
existentes, permite criar novas unidades ecológicas que dêem continuidade à estrutura,
quer através dos grandes corredores ecológicos intermunicipais, quer a um nível mais
local, com a criação de áreas verdes de protecção e enquadramento, como é o caso das
cinturas verdes juntos às áreas industriais.

A Estrutura Ecológica Municipal de Setúbal (EEMS), encontra-se organizada em Estrutura


Ecológica Fundamental, correspondendo às componentes naturais e com “conectividade
fundamental” e em Estrutura Ecológica Complementar, correspondendo a componentes
“artificiais”, decorrentes da acção do homem e com uma “conectividade complementar”,
distinguindo-se assim, de acordo com uma maior ou menor dependência da acção humana.
A EEMS, enquanto instrumento de salvaguarda do sistema ecológico, pode-se decompor
em subsistemas que refletem a sua correlação funcional. Estes subsistemas agregam
diversas componentes, passiveis de representação por áreas, pontos ou corredores, de
acordo com a sua maior ou menor conectividade. As áreas correspondem à unidades
identificados em cada um dos subsistemas (ex. Solos, manchas de vegetação, entre outras),
os pontos aos elementos patrimoniais classificados e os corredores asseguram a sua
conectividade. Em solo urbano, a identificação dos corredores assume maior relevância
pelas pressões e descontinuidades provocadas pelo processo urbanístico. Assim, na lógica
das funções principais, o sistema ecológico é assegurado através de quatro subsistemas
com correspondentes funções, em que os dois primeiros têm funções essencialmente
ecológicas e os dois últimos, funções ecológicas derivadas da acção humana (figura3).
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Fig. 3 Subsistemas da Estrutura Ecológica do Município de Setúbal (OA/CMS, 2009)


A Estrutura Ecológica Fundamental (Figura 3 e Figura 4), dentro do subsistema azul
integra as linhas de água, áreas adjacentes e cabeceiras, áreas de permeabilidade máxima,
estuário e oceano incluindo áreas adjacentes, sapais e praias e dentro do subsistema verde
integra as áreas de sobreiros, as áreas de pinheiros, a vegetação autóctone, os solos de
elevada capacidade de produção de biomassa, as escarpas, vertentes e risco de erosão e os
topos.

A Estrutura Ecológica Complementar dentro do subsistema azul integra os corpos de água


artificiais e as salinas. O subsistema verde integra os verdes de protecção e enquadramento,
os montados, as áreas de produção de pinheiro, as áreas verdes em solo urbano e os
planaltos. Dentro do subsistema cultural integra o sistema de quintas classificadas e
paisagem associada, os núcleos históricos e património classificado e património
arqueológico. O subsistema mobilidade integra áreas cicláveis e ciclovias e ruas
multifuncionais. A relação entre os vários subsistemas e a articulação das estruturas
(fundamental e complementar) estabelece-se através de um sistema de corredores que
implementa e concretiza esta estrutura, aproveitando as componentes existentes, criando
novas componentes e potenciando ligações sobretudo através dos subsistemas culturais e
de mobilidade, por exemplo, respectivamente, através das quintas e da rede de mobilidade
suave.

A estrutura ecológica, enquanto instrumento tem um carácter regulador, visando a


protecção dos sistemas, um carácter propositivo, visando a reposição de sistemas, e ainda,
um carácter escalar, integrando-se nos diferentes âmbitos dos Instrumentos de Gestão
Territorial

Com base da EE desenvolvida desenhou-se uma rede municipal de corredores verdes


considerando três sistemas básicos da matriz constituinte da paisagem:
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- Sistema de Linhas (constituído pelos elementos lineares da paisagem como linhas de


água; linhas de festo; entre outros.);

- Sistema de Pontos (constituído pelos elementos pontuais da paisagem. Elementos


marcantes do ponto de vista paisagístico e cultural, como por exemplo o património
construído; o ponto cénico único; árvores notáveis; entre outros.);

- Sistema de Áreas (constituído por elementos mancha que delimitam áreas de importância
ecológica ou concentração / manchas de elementos urbanos e culturais, como por exemplo
matas; sobreirais; montados; pinhais; núcleos históricos; sapais; entre outros.).

As áreas consideradas definem uma rede de corredores exequível que proporcionam um


uso e ocupação sustentável do uso do solo. Assim, para além das funções estritamente
ecológicas a rede de Corredores Verdes de Setúbal (CVS) é essencialmente constituída por
corredores vocacionados para proporcionar às populações áreas de recreio e lazer, áreas
livres, áreas de acesso a espaços “naturais” e “culturais” (Figura 5)

Fig. 4 Estrutura Ecológica Fundamental do Município de Setúbal (OA/CMS, 2009)


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Fig. 5 Base para a delimitação da Rede de Corredores Verdes (OA/CMS, 2009)

No âmbito da “mobilidade” no interior do corredor verde, as “áreas cicláveis” de Setúbal


(plano de intenções a nível de estudo prévio) surgem como estradas “verdes” que permitem
o usufruto do corredor verde. Tomando como exemplo um “corredor recreativo”, a
concretização da rota poderá ser efectuada com recurso a ciclovias, caminhos pedonais
entre outras formas de mobilidade não motorizada. Nesta rede incluíram-se igualmente
todos os espaços verdes urbanos existentes e programados. A Rede de Corredores Verdes
Municipal, organiza-se em 3 tipos de corredores: Corredor Ecológico, Corredor Produção e
o Corredor Lazer, Recreio e Património.

4 CONCLUSÃO

Com o objectivo de garantir a protecção das funções essenciais da Estrutura Ecológica


Municipal, a conectividade da Infra-estrutura Verde Municipal desenhada, torna-se
essencial garantir a existência de uma Estrutura Ecológica Urbana (EEU) a ser
desenvolvida nos Planos de Pormenor e Planos de Urbanização. A Estrutura Ecológica
Urbana, tem como principal objectivo proporcionar, defender e promover os recursos
ecológicos vitais para a sustentabilidade do espaço urbano. Deve viabilizar a coexistência
de áreas de elevada concentração de valores ecológicos com o espaço urbano, viabilizar a
defesa do capital natural do espaço urbano (água, ar, componente biótica) e humanizar e
“embelezar” o espaço urbano, ou seja, viabilizar o capital humano e social.

Neste contexto, propomos uma Estrutura Ecológica Urbana integrada nos Planos de
Pormenor e Planos de Urbanização, uma autentica Infra-estrutura Verde Municipal, que
promova e concretize em espaço urbano os corredores e áreas, necessários para a
manutenção das funções ecológicas do território.
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A Estrutura Ecológica Urbana (EEU) proposta, para além de assegurar um conjunto de


funções ecológicas em meio urbano, assegura igualmente funções de recreio e lazer. A
EEU de Setúbal constituída por:

a) Áreas com um uso predominantemente público (zonas verdes, parques e jardins urbanos
públicos, verdes de protecção visual, poeiras e sonora; praças e alamedas de elevada
concentração de património e acuidade visual; zonas desportivas, especialmente aquelas
onde predomine o coberto vegetal; hortas urbanas /agricultura urbana parcelas agricultadas
de pequena dimensão para usufruto da população urbana);

b) Áreas privadas e de acesso restrito: logradouros privados; jardins privados classificados


/ matas, casas senhoriais/palacetes; áreas de moradias com lotes profundos (agricultura e
ou matas) abrangidos; por perímetro urbano; quintas e todo o sistema de paisagem
associado, abrangidas por perímetro urbano.

A titulo de exemplo, apresenta-se de uma forma sumária (e não exaustiva) os usos e acções
compatíveis com a EE de Setúbal com incidência directa nos usos do solo. A tabela 1
apresenta um excerto das indicações fundamentais para os Planos de Pormenor e os Planos
de Urbanização no sentido de promover o contínuo ecológico reduzindo os riscos de perda
de conectividade da estrutura. Através das acções propostas pretende-se garantir um uso do
solo coerente com a Estrutura Ecológica Urbana a ser desenvolvida nos Planos de
Pormenor e Urbanização. Ou seja, os referidos planos devem garantir a conectividade da
Rede Municipal.

Tabela 1 Usos e Acções Compatíveis com a Função Ecológica: Leitos e Margens dos
Cursos de Água, Permeabilidade Máxima e Falhas Geológicas e Solos de Elevado
Valor Ecológico

Usos e Acções Compatíveis com a Função Ecológica dos


Leitos e Margens dos Cursos de Água, Permeabilidade Máxima e Falhas Geológicas e Solos de Elevado Valor Ecológico
Componentes
Função Ecológica Principal Usos e Acções Compatíveis com
Principais da
do município de Setúbal Incidência Directa no Uso do Solo
EE Fundamental

Ciclo hidrológico: - galeria ripícola


Leitos e
- regulação do ciclo da água - prados naturais
margens dos - agricultura de regadio
cursos de Biodiversidade: - espaços verdes de recreio e lazer (compatíveis com a
água - conservação de habitats (flora e fauna) sensibilidade ambiental dos habitats presentes)
- refúgio de espécies - não edificáveis
- regulação do ciclo de nutrientes

Prevenção de riscos naturais / socioeconómicos:


- redução da erosão fluvial através da galeria ripícola
- redução e prevenção dos riscos de cheia
- elevado valor cénico (vegetação ripicola e planos de água)

Permeabilidad Biodiversidade: - matas e floresta


- conservação dos ecossistemas aquáticos - prados naturais
e máxima e - espaços verdes de recreio e lazer (que promovam a
falhas Ciclo hidrológico: recarga aquífera. permeabilidade e que não constituam um risco à
geológicas contaminação aquífera)
Prevenção de riscos naturais / socioeconómicos: - não edificáveis
- protecção da qualidade da água
- redução das áreas de risco de cheia e de inundação
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- redução do risco de intrusão salina

- agricultura (preferencialmente de sequeiro) exemplo:


Biodiversidade: vinhas, pomares, olivais.
Solos de
-promoção da sustentação de comunidades vegetais de elevada - em áreas rurais com forte disseminação de espaços
elevado valor biomassa ou de comunidades vegetais específicas urbanos poderão constituir excelentes espaços abertos
ecológico para a prática de desporto e lazer (baixa infra-
Ciclo hidrológico: estruturação compatível com a sensibilidade do recurso).
- promoção da infiltração - zonas não edificáveis (exceptuando os apoios
agrícolas)
Prevenção de riscos naturais /aspectos socioeconómicos:
- redução dos riscos de cheia / inundação
- áreas compatíveis com uma agricultura ecológica/biológica
- áreas preferenciais para a produção dos produtos
autóctones/tradicionais (vinho, azeite, maçãs entre outros)

Agradecimentos: os resultados apresentados neste artigo só foram possíveis devido a um


conjunto de colegas que ao longo dos anos tenho tido o prazer de trabalhar quer
isoladamente quer integrando equipas de investigação e de prestação de serviço. Assim
aqui fica o meu especial agradecimento ao Nuno Raposo e Vanda Lopes da Espaço &
Desenvolvimento / Oficina de Arquitectura, João Reis Machado, João Farinha, Carmen
Quaresma, Teresa Calvão, Eveline Moura da Universidade Nova de Lisboa e Jorge Rocha
da Universidade de Lisboa

5 REFERÊNCIAS

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Técnico Preliminar, Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da FCT/UNL,
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OA/CMS. (2009) Estrutura Ecológica Municipal e Rede de Corredores Verdes. Oficina de


Arquitectura / Câmara Municipal de Setúbal. Lisboa.

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