Diálise Peritoneal

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DIÁLISE PERITONEAL:

UM PASSO PARA A
AUTONOMIA DA PESSOA
FICHA TÉCNICA

Título
Guia Orientador de Boas Práticas: Diálise peritoneal – um passo para a autonomia da pessoa

Promotores
Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem Médico-Cirúrgica

Redactores Enfermeiros
Aies Ademar Gonçalves Moutinho
Carlos Manuel Lopes Torgal
Fernando Luís Freire Vilares
Marco Aurélio Carvalho Medeiros
Maria Arminda da Silva Tavares (Coordenadora)
(O grupo de Enfermeiros foi nomeado por NI BAST 2017/19 de 11.07.2017)

Revisão Científica
• Mesa do Colégio de Enfermagem Médico-Cirúrgica
Catarina Alexandra Rodrigues Faria Lobão (Presidente)
Sílvia Manuela Pação Alminhas (Secretário)
Nuno Cristóvão Alves Ferreira (Secretário)
• Peritos
Nuno Miguel de Almeida Loureiro
Carlos Alberto Oliveira Gonçalves

Edição: Ordem dos Enfermeiros


Grafismo e Paginação: Onda Grafe
ISBN:

Esta obra foi redigida ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

2 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


ABREVIATURAS E SIGLAS

aDPA Diálise Peritoneal Automática Assistida


aDPCA Diálise Peritoneal Continua Ambulatória Assistida
aPD Diálise Peritoneal Assistida
Associação Portuguesa de Enfermeiros de Diálise e
APEDT
Transplantação
DGS Direcção-Geral da Saúde
DP Diálise Peritoneal
DPA Diálise Peritoneal Automática
DPCA Diálise Peritoneal Contínua Ambulatória
DPCC Diálise Peritoneal Contínua Cíclica
DPCCT Diálise Peritoneal Contínua Cíclica Tidal
DPI Diálise Peritoneal Intermitente
DPNI Diálise Peritoneal Nocturna Intermitente
DRC Doença Renal Crónica
DRCT Doença Renal Crónica Terminal
EDTNA/ European Dialysis and Transplantation Nurses Association/
ERCA European Renal Care Association
EEEMC Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica
EPS Encapsulating Peritoneal Sclerosis
GOBP Guia Orientador de Boas Práticas
HD Hemodiálise
ICN International Council of Nurses
IMC Índice de Massa Corporal
IPP Pressão Intra-Peritoneal
ISPD International Society for Peritoneal Dialysis
OE Ordem dos Enfermeiros
OM Ordem dos Médicos
TEP Teste de Equilíbrio Peritoneal
WHO World Health Organization

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 3


SUMÁRIO

1 O PROCESSO DE VIVÊNCIA DA DOENÇA CRÓNICA EM PORTUGAL 10


1.1 A Pessoa em Diálise Peritoneal 11
1.1.1 Unidades de Diálise Peritoneal 12
1.1.2 Em Contexto Domiciliário 13
1.1.3 Visita Domiciliária de Enfermagem em Diálise Peritoneal 14
2 CUIDADOS À PESSOA EM DIÁLISE PERITONEAL 16
2.1 Acolhimento da Pessoa, Família e/ou Cuidador 16
2.2 Consulta de Enfermagem 17
2.3 Procedimentos em Diálise Peritoneal 18
2.3.1 Membrana Peritoneal 18
2.3.2 Acesso Peritoneal 19
2.3.3 Soluções de Diálise Peritoneal 20
2.4 Modalidades de Diálise Peritoneal 20
2.5 Complicações Associadas à Diálise Peritoneal 22
2.5.1 Complicações Mecânicas 22
2.5.2 Outras Complicações Associadas à Diálise Peritoneal 23
2.5.3 Complicações Infecciosas 25
2.6 Falência da Técnica de DP 27
2.7 Gestão de Sinais e Sintomas 27
3 EDUCAÇÃO DA PESSOA E FAMÍLIA/CUIDADOR EM DIÁLISE PERITONEAL 30
3.1 Sobre a Importância do Ensino da Pessoa e Família/Cuidador em Diálise 30
Peritoneal
3.2 A Educação da Pessoa e Família/Cuidador em Diálise Peritoneal no Contexto 31
dos Cuidados de Enfermagem
3.3 Avaliação Inicial: Ponto de Partida Para o Ensino Efectivo 32
3.3.1 Destinatários do Ensino 32
3.3.2 Estilos de Aprendizagem 33
3.3.3 Quando Iniciar o Ensino? 34
3.3.4 Identificação e Controlo das Barreiras à Aprendizagem 34
3.4 Formulação dos Diagnósticos de Enfermagem: 35
Determinação das Áreas de Intervenção

4 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


3.5 Planeamento dos Cuidados 36
3.5.1 Definição de Objectivos 36
3.5.2 Conteúdos do Ensino 37
3.5.3 Programas de Intervenção 39
3.6 Intervenção: Implementação do Plano 41
3.6.1 Individualização do Ensino 41
3.6.2 Optimização do Espaço 41
3.6.3 Duração do Programa 42
3.7 A Avaliação Final: O Reinício do Processo 43
3.7.1 Estratégias de Avaliação 43
3.7.2 O Reensino e a Consolidação dos Processos de Aprendizagem 43
4 DOTAÇÕES SEGURAS DE ENFERMAGEM NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS 46
ESPECIALIZADOS
4.1 Formação dos Enfermeiros Para a Prestação de Cuidados à Pessoa com 46
Doença Renal Crónica em Diálise Peritoneal
4.2 Competências Diferenciadas na Prestação de Cuidados à Pessoa/Família e 47
Cuidadores em Diálise Peritoneal
4.3 Plano de Formação de Enfermeiros em Diálise Peritoneal 49
4.4 Dotações de Enfermeiros nas Unidades de Diálise Peritoneal 49
5 INDICADORES DE QUALIDADE SENSÍVEIS AOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 59
APÊNDICE A – PLANO DE FORMAÇÃO ENFERMEIROS EM DIÁLISE PERITONEAL 68

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 5


MENSAGEM DA DIGNISSIMA BASTÓNARIA E DA
PRESIDENTE DO CONSELHO DE ENFERMAGEM DA ORDEM
DOS ENFERMEIROS

O Guia Orientador de Boa Prática “Diálise Peritoneal - Um passo para a autonomia


da pessoa” é um trabalho que agrega as experiências e o saber de vários colegas
especialistas numa área que constitui um desafio permanente para os Enfermeiros,
sobretudo quando falamos de uma terapêutica domiciliária em que, uma vez mais,
é o enfermeiro que está ao lado do doente.

Este desafio é ainda maior face ao ritmo do avanço técnico-científico e à evidência


dos benefícios dos cuidados especializados. É por isso que este Guia surge apenas
três anos depois da publicação do Guia Orientador de Boa Prática “Cuidados à
Pessoa com Doença Renal Crónica Terminal em Hemodiálise”.

A doença é sempre limitativa; a doença crónica é um veredicto para a vida, no


decurso da qual, o doente e o enfermeiro estabelecem também, mais do que
em qualquer outra situação, uma ligação para a vida. Todos os contributos são
imprescindíveis neste caminho, onde o doente e a sua família aprendem com o
enfermeiro de modo a tornarem-se mais autónomos.

É essencial continuar a valorizar o trabalho que tem sido feito ao longo dos anos,
compartilhando-o com os restantes enfermeiros.

Agradecemos todo o empenho, dedicação e profissionalismo que os colegas


dedicaram a este projecto. Valorizamos este contributo, acreditando que terá um
papel motivador para a melhoria dos cuidados de saúde, unindo os enfermeiros no
seu principal objectivo: não deixar ninguém sozinho. É este o verdadeiro sentido de
um Guia Orientador de Boa Prática.

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MENSAGEM DE PRESIDENTE DO COLÉGIO DA
ESPECIALIDADE DE ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA

Em 2018, a Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem Médico-Cirúrgica,


regulamentou o perfil de competências específicas do Enfermeiro Especialista
em Enfermagem Médico-Cirúrgica de acordo com o alvo e contexto de actuação,
surgindo a área de Enfermagem à Pessoa em Situação Crónica.

O aumento da esperança de vida encontra-se associada ao aumento da incidência


de doenças crónicas e incapacitantes. Embora cada doença seja única e tenha
um impacto diferente em cada pessoa, há um núcleo comum de problemas e
complicações associados. Assim, a doença crónica é definida com a “doença
de curso prolongado, com evolução gradual dos sintomas e com aspectos
multidimensionais, potencialmente incapacitante, que afecta, de forma prolongada,
as funções psicológica, fisiológica ou anatómica, com limitações acentuadas nas
possibilidades de resposta a tratamento curativo, mas com eventual potencial de
correção ou compensação e que se repercute de forma acentuadamente negativa
no contexto social da pessoa por ela afectada” (Decreto -Lei n.º 101/2006 de 6 de
junho, p.3857).

Os cuidados de enfermagem especializados na pessoa em situação crónica são


cuidados contínuos que podem ser oferecidos em ambiente hospitalar, domiciliar e
comunitário, e que incidem sobre a prevenção da doença, a promoção de estilos de
vida, a promoção de processos de adaptação e de adesão ao regime terapêutico,
de modo a capacitar a pessoa, família e cuidador para a vivência da doença crónica
e redefinição de um projeto de saúde, de acordo com as implicações da doença na
pessoa e qualidade de vida que a mesma acarreta.

O avanço no conhecimento técnico e científico requer que o Enfermeiro Especialista


desenvolva uma prática baseada nas mais recentes evidências, promovendo
intervenções especializadas, junto da pessoa, família/cuidador, tendo como
objectivo a facilitação do processo de transição saúde/doença decorrente da
doença crónica.

Este Guia Orientador de Boa Prática evidencia o cuidado à pessoa, família/cuidador


a vivenciar processos complexos de doença crónica, nomeadamente na pessoa
com insuficiência renal (Estadio IV) submetida a terapêutica de substituição renal,
na modalidade de diálise peritoneal.

Este Manual foi desenvolvido por peritos na área a quem esta Mesa do Colégio
gostaria de deixar o seu mais sincero agradecimento.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 7


INTRODUÇÃO

A elaboração do Guia Orientador de Boa Prática (GOBP) Diálise Peritoneal –


Um Passo para a Autonomia da Pessoa, vem no seguimento da publicação em
2016 do Guia Orientador de Boa Prática Cuidados à Pessoa com Doença Renal
Crónica Terminal em Hemodiálise. A complexidade da doença renal crónica e a
necessidade de realização de terapêuticas substitutivas de órgãos vitais são um
constante desafio para os enfermeiros. A Diálise Peritoneal (DP) é uma terapêutica
domiciliária, na qual a pessoa aprende com o enfermeiro todas as fases importantes
para a realizar de forma autónoma.

O grupo de trabalho nomeado procurou enquadrar os aspectos mais relevantes


na construção da autonomia da pessoa em DP, bem como, dar resposta a uma
necessidade de congregar num só documento a informação necessária para
as intervenções autónomas dos enfermeiros. Pretende-se que o guia seja um
instrumento de qualidade para todos os enfermeiros, não só da área da nefrologia,
para que conheçam a técnica de DP e baseiem a sua actuação profissional numa
prática baseada na evidência científica e assente na qualidade. As recomendações
descritas no documento, são as que consideramos essenciais para obter os
melhores resultados na prestação de cuidados à pessoa em DP.

O GOBP é composto por cinco capítulos, o primeiro caracteriza a complexidade


da doença renal e o processo de vivência da doença crónica pela pessoa e família
identificando os modelos teóricos de enfermagem que apoiam o enfermeiro no
processo de tomada de decisão. O segundo capítulo enumera e descreve os
recursos necessários para a realização da técnica de DP em contexto hospitalar
e domiciliário. No terceiro capítulo são abordados os cuidados à pessoa em DP
com foco para as intervenções autónomas de enfermagem baseadas em evidência
científica. A educação e o ensino são evidenciados no quarto capítulo, no qual são
enquadrados a educação da pessoa e família/cuidador em DP e as recomendações
para a prática. As dotações seguras para a prática de cuidados são expressas no
quinto capítulo. O sexto capítulo versa sobre a construção de indicadores sensíveis
aos cuidados de enfermagem fundamentais para a avaliação da sua efectividade.

O primeiro passo está dado.

8 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


01
O PROCESSO DE VIVÊNCIA
DA DOENÇA CRÓNICA
EM PORTUGAL

GUIA ORIENTADOR
DE BOAS PRÁTICAS (GOBP)
1. O PROCESSO DE VIVÊNCIA DA
DOENÇA CRÓNICA EM PORTUGAL
O conceito de pessoa é definido como um ser social, agente intencional de
comportamentos baseados nos valores, nas crenças e nos desejos da natureza
individual, tornando cada indivíduo como um ser único, com dignidade própria e
direito a autodeterminar-se, (Ordem dos Enfermeiros, 2001).

As doenças crónicas são transtornos orgânicos e funcionais, que obrigam a uma


modificação no estilo de vida da pessoa, apresentando uma ou mais das seguintes
caraterísticas: são permanentes, produzem incapacidade/deficiências residuais,
são causadas por alterações patológicas irreversíveis, exigem uma formação
especial da pessoa para a reabilitação ou podem exigir longos períodos de
supervisão, observação ou cuidados, (WHO, 2003).

O impacto da doença crónica constitui para a pessoa, família e cuidador, um


acontecimento que induz elevados níveis de stress. A transição de um processo
saudável para a situação de doença acompanha-se sempre de novas exigências,
conduzindo à necessidade de prestação de cuidados realizados por profissionais
com novos conhecimentos e competências.

A evolução da profissão de enfermagem modificou a forma da prestação de


cuidados, isto porque, passou a abranger os conceitos de cuidados globais e
integrados que conferem aos enfermeiros a responsabilidade do conjunto de
Cuidados de Enfermagem necessários para a pessoa, família e/ou cuidador.

A palavra “cuidados” tem sido amplamente utilizada, graças à sua multiplicidade


de concepções, representando, sempre, uma atenção particular, uma abordagem
personalizada que não pode ser dissociada do cuidar. Assim, os cuidados
designam as acções através das quais se cuida, revelando a atenção particular
que se tem com cada pessoa.

Os cuidados de enfermagem tomam por foco de atenção a promoção dos projectos


de saúde que cada pessoa vive. No decurso da vida, pretende-se prevenir a
doença e promover os processos de readaptação, procura-se a satisfação das
necessidades humanas fundamentais e a máxima independência na realização
das actividades da vida, bem como a adaptação e a reabilitação funcional,
(Ordem dos Enfermeiros, 2001).

No âmbito das suas competências técnicas, científicas, relacionais, pedagógicas


e de gestão/liderança os enfermeiros especialistas promovem a educação, o
autocuidado e apoiam no processo de vivência da doença crónica, (Bernardini,

10 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


Price e Figueiredo, 2006; Tavares, 2012; Figueiredo et al, 2016). Estas competências
estão alicerçadas nas competências comuns do enfermeiro especialista em
Enfermagem Médico-Cirúrgica e nas competências específicas do enfermeiro
especialista na área de enfermagem à pessoa em situação crónica, publicadas no
Regulamento nº429/2018, Diário da República n.º 135/2018, Série II de 2018-07-
16. No artigo nº 6 do regulamento pode ler-se que as competências são: Cuida da
pessoa e família/cuidadores a vivenciar a doença crónica e optimiza o ambiente
terapêutico em articulação com a pessoa e família/cuidadores a vivenciar a doença
crónica. O mesmo documento descreve em anexo, as unidades de competência e
os critérios de avaliação.

Na resposta ao desafio lançado pelo International Council of Nurses (2018), os


enfermeiros devem assumir a sua liderança no apoio e na gestão da doença crónica
através da adopção de comportamentos que visem intervir na prevenção primária e
secundária da doença crónica e proactivos no desenvolvimento de competências e
inovação que melhorem a qualidade de vida das pessoas.

Na concepção de cuidados de enfermagem segundo um pensamento organizado,


os enfermeiros devem dotar-se de referenciais teóricos que lhes permitam serem
autónomos nas suas decisões. A tomada de decisão clínica em enfermagem é a
ferramenta utilizada para assumir a dimensão autónoma da profissão.

Os referenciais teóricos que constituem um quadro de referência para a concepção


de cuidados em DP, são na nossa perspectiva a Teoria das Transições de Afaf
Meleis e a Teoria do Autocuidado de Dorothea Orem.

1.1 A PESSOA EM DIÁLISE PERITONEAL

A DP integra as terapêuticas de tratamento da Doença Renal Crónica Terminal


(DRCT). A sua expressão em Portugal tem vindo a aumentar e segundo dados do
gabinete de registo da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, em 2017 encontravam-
se em tratamento 756 pessoas. Portugal dispõe de 25 Unidades de DP, distribuídas
pelo Continente e Ilhas. As Unidades de DP têm na sua maioria, 11 a 50 pessoas
em programa. A modalidade de DP mais realizada é a Diálise Peritoneal Contínua
Ambulatória (DPCA), com uma média de idades de 54,8 anos, (Macário et al, 2018).

Em 2017, de acordo com autores supracitados, iniciaram DP em Portugal 228


pessoas. Em todo o mundo o aumento da Doença Renal Crónica (DRC) é uma
realidade largamente documentada. Em Portugal, estima-se que 10% da população
sofra desta patologia e 20 mil pessoas estejam a necessitar de uma terapêutica de
substituição da função renal. A principal etiologia da DRC é a diabetes e na DP,
a glomerulonefrite crónica aparece como a segunda etiologia mais frequente. De

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 11


entre as terapêuticas, o número de pessoas em DP é menor quando comparado
com as outras formas de tratamento, como seja a hemodiálise (HD) e o transplante
renal.

Com o avanço tecnológico, os tratamentos de substituição da função renal tendem


a garantir um aumento significativo da qualidade e da esperança de vida dos
doentes renais. Para o desenvolvimento e implementação de um programa de
DP em Unidades específicas, são necessárias condições e requisitos estruturais,
materiais e humanos para garantir o êxito do mesmo. As Unidades de DP devem
garantir à pessoa, família e/ou cuidador e ainda aos diferentes profissionais ligados
à DP um programa bem estruturado que permita o ensino, a instrução e o treino da
pessoa, garantindo a qualidade e segurança dos cuidados.

1.1.1 UNIDADES DE DIÁLISE PERITONEAL

As unidades de DP devem cumprir os requisitos legais previstos no que respeita


ao seu funcionamento e licenciamento, (Portaria nº347/2013). É importante que as
unidades de DP disponibilizem meios técnicos e não técnicos para, profissionais,
pessoa e seus familiares/cuidador que permitam garantir cuidados personalizados
e com qualidade. Destaca-se neste capítulo alguns dos requisitos importantes para
o tratamento da pessoa em DP.

a. Informação que deve estar visível nas Unidades de Diálise


• Horário de funcionamento;
• Nome dos responsáveis da Unidade: Director Clínico e Enfermeiro-Chefe
• Procedimentos em situações de emergência;
• Direitos e deveres dos utentes.

b. Estrutura e equipamentos de apoio à Consulta de Diálise Peritoneal


É muito importante que as Unidades de DP tenham apoio estrutural adequado
para proporcionar um ambiente calmo e seguro para pessoas e profissionais.
Devem ter em atenção as condições de segurança, climatização, iluminação e
garantir condições físicas para pessoas com mobilidade reduzida. Sem esquecer
todas as exigências legais, é importante realçar os seguintes requisitos que
devem ser garantidos para a implementação de um Programa de DP com êxito:

• Área de recepção e apoio de secretariado;


• Zona para arquivo;
• Zona de armazenagem de dispositivos médicos e terapêuticos com acesso
reservado e climatização legalmente recomendada;
• Sala de espera;
• Ajudas técnicas: maca e cadeira de rodas;

12 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


• Vestiário com cacifos para pessoas e profissionais;
• Zona de despejos;
• Zona de armazenamento e acondicionamento de resíduos, nos termos da
legislação em vigor;
• Instalações sanitárias públicas para pessoas e profissionais, em
conformidade com os requisitos legais.

c. Área Assistencial
As zonas habitualmente destinadas para atendimento, ensino e treino da
pessoa submetida a tratamento por DP são uma sala para realizar a consulta
de enfermagem e ensino, uma sala para treino e execução da técnica. Devem
ser garantidos todos os requisitos previstos na legislação em vigor para o
funcionamento e licenciamento das Unidades de Diálise Peritoneal e tendo
em consideração as recomendações dos manuais de boas práticas, (OM,
2017; Portaria nº 347/2013; APEDT, 2011; OE, 2001). Os Gabinetes para
consulta, ensino, treino e tratamento devem garantir adequadas condições de
privacidade, iluminação e climatização.

1.1.2 EM CONTEXTO DOMICILIÁRIO

O local onde a pessoa executa a técnica deve atender ao referido no Despacho nº


14 391/2001 e da própria portaria nº 347/2013, como por exemplo:

• Ser amplo, com adequadas condições de iluminação, higiene e arejamento;


• Ter material recomendado para o cumprimento das normas de higienização
e desinfecção, nomeadamente sistemas de lavagem e secagem das mãos,
preferencialmente por toalhetes descartáveis e sistemas dispensadores de
solução antisséptica de base alcoólica (SABA);
• Ter o material necessário para a realização da técnica de Diálise Peritoneal
Continua Ambulatória (DPCA) ou Diálise Peritoneal Automática (DPA) em
segurança;
• Sistema de telecomunicação que assegure as ligações telefónicas com a
Unidade de referência e outros serviços de apoio;

Além destes requisitos deve também existir um espaço:

• Para armazenamento dos consumíveis clínicos necessários à realização


da técnica, que garanta a sua conservação em condições para utilização e
segurança;
• Para acondicionamento e adequado para um sistema de destino final de
resíduos, nos termos da legislação em vigor.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 13


1.1.3 VISITA DOMICILIÁRIA DE ENFERMAGEM EM DIÁLISE PERITONEAL

Respeitando os requisitos previstos nos enunciados descritivos do Padrão de


Qualidade dos Cuidados de Enfermagem e as recomendações inseridas no
Manual de Boas Práticas para a Diálise Crónica, a visita domiciliária deverá ser
implementada pelos serviços de nefrologia nos quais existam programas de DP
e as mesmas deverão ser realizadas por enfermeiros com experiência em DP,
(Ordem dos Médicos, 2017; Ordem dos Enfermeiros, 2001). Recomenda-se que
sejam realizadas pelos enfermeiros que iniciam e implementam o processo de
enfermagem à pessoa/família e/ou cuidador.

Apesar da frequência das visitas domiciliárias serem variáveis (conforme os


protocolos das diferentes Unidades de DP), devem, de acordo com Coronel et
al (2005) e Associação Portuguesa de Enfermeiros de Diálise e Transplantação
(APDT) (2011), ocorrer:

• Antes de iniciar o tratamento, para avaliação das condições estruturais e apoio


familiar do candidato ao Programa de DP.
• Após a alta do ensino e treino na técnica, para ajudar na transição do hospital
para o domicílio.
• De acompanhamento e avaliação de necessidades, como reciclagem no ensino
relacionada com a técnica e prevenção de complicações. É entendimento do
grupo a realização no mínimo de 3 visitas anuais;

Todas as visitas devem ter um relatório das observações e intervenções realizadas.

14 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


02
CUIDADOS À PESSOA EM
DIÁLISE PERITONEAL

GUIA ORIENTADOR
DE BOAS PRÁTICAS (GOBP)
2. CUIDADOS À PESSOA EM
DIÁLISE PERITONEAL

A DP é por excelência um campo de actividade da enfermagem, desde a fase de


pré-diálise, ao início do tratamento e ao posterior acompanhamento no domicílio.
As intervenções de enfermagem centram-se no objectivo de facilitar os processos
de mudança e transição das pessoas, ensinando-as, instruindo-as e treinando-as
de forma a adquirirem os conhecimentos e habilidades necessárias à realização da
sua terapêutica de diálise de forma autónoma e segura.

A investigação em Portugal em cuidados de enfermagem em DP é escassa. A prática


dos cuidados é baseada em estudos e orientações internacionais e na experiência
de cada Unidade na obtenção dos melhores resultados. Compreendemos a
variedade de experiências e as particularidades de cada Unidade e não é nossa
intenção determinar o que deve ou não deve ser feito, mas sim proporcionar um
Guia de Boas Práticas baseado na experiência do dia-a-dia de peritos da área e em
evidência científica, procurando aumentar a qualidade e segurança na prestação
de cuidados.

2.1 ACOLHIMENTO DA PESSOA, FAMÍLIA E/OU CUIDADOR


A Direcção-Geral de Saúde através norma nº 017/2011 define as orientações para
os serviços de nefrologia sobre o esclarecimento das diferentes modalidades de
tratamento da DRCT, recomendando que a mesma deve ser realizada quando as
pessoas se encontram no estádio IV da doença. Recomendam a existência de
uma consulta de esclarecimento, com os seguintes requisitos:

a) ter o objectivo de contribuir para o esclarecimento da pessoa, família e/ou


cuidador acerca das diferentes modalidades de tratamento e respectivas
técnicas;
b) ser funcionalmente individualizada e dispor de registo próprio;
c) integrar uma equipa multidisciplinar constituída, por nefrologista assistente,
enfermeiro, técnico do serviço social e nutricionista;

Face ao descrito na presente norma, os objectivos inserem-se no domínio das


competências dos enfermeiros. Defendemos que a consulta de esclarecimento deve
constar de uma consulta de enfermagem individualizada, realizada por Enfermeiro
Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica na área de Enfermagem à Pessoa

16 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


em Situação Crónica, um padrão de cuidados de enfermagem definido para uma
intervenção especializada promovendo a qualidade e a segurança dos cuidados
prestados. Na opção de tratamento por DP, a pessoa, família e/ou cuidador deve
ser referenciado precocemente para a equipa multidisciplinar da DP que fará o
acolhimento e iniciará todo o processo de preparação até ao início do tratamento.

2.2 CONSULTA DE ENFERMAGEM

O início de DP é considerado um momento crítico por todas as implicações que


impõe na vida da pessoa com DRC. A Consulta de Enfermagem é fundamental
para a pessoa/família e/ou cuidador para promover/facilitar a aprendizagem da
técnica como também para permitir a manutenção desta. Este processo formativo
tem que ser dinâmico e contínuo. A pessoa deve ficar capacitada para a realização
da técnica em segurança, permitindo alcançar os melhores resultados, (Figueiredo
et al, 2016).

As alíneas d) e e) do artigo 3º, do anexo I da portaria 207/2017 referem que


«Consulta» é “o ato em saúde no qual um profissional de saúde avalia a situação
clínica de uma pessoa e procede ao planeamento da prestação de cuidados de
saúde e «Consulta de Enfermagem», é a “consulta realizada por enfermeiro”. Ou
seja, legalmente estão reunidas todas as condições para que as unidades de DP
disponham de consultas de enfermagem autónomas, individualizadas e com padrão
de cuidados de enfermagem próprio que permitam ao enfermeiro a concepção,
implementação e avaliação do processo de enfermagem.

A par das políticas de promoção da saúde aposta-se também no esforço de


informar mais e melhor a população, permitindo que o esclarecimento leve a uma
utilização racional dos serviços de saúde. Informar a pessoa, família e/ou cuidador
do seu projecto de cuidados, atribuindo-lhes o poder e a capacidade de decisão,
permite-lhes decidir em consciência, adquirindo um papel activo no processo de
gestão da doença.

No âmbito da intervenção especializada o enfermeiro na consulta de enfermagem,


elabora o plano de cuidados para a pessoa, família e /ou cuidador em DP. Formula
os diagnósticos em necessidades de cuidados de enfermagem e planeia a sua
intervenção de modo a capacita-lo para o autocuidado, facilitando-o na vivência do
processo de transição saúde/doença, promovendo a qualidade de vida.

O Conselho de Enfermagem da Ordem dos Enfermeiros (Ordem dos Enfermeiros,


2001) definiu o enquadramento conceptual e os enunciados descritivos que
estabelecem a base padronizada da qualidade dos cuidados que todos os
enfermeiros devem respeitar no exercício da sua profissão. Este documento

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 17


constitui-se como um referencial à luz do qual os enfermeiros se envolvem num
processo de reflexão, tomada de decisão e desenvolvimento do seu exercício
profissional, conducente à melhoria contínua dos cuidados prestados à população.

A DP é pelas suas características uma diálise domiciliária, não se podendo


dissociar a pessoa do seu ambiente, e é mesmo necessário compreender todos
os fenómenos de enfermagem que envolvem a pessoa, de forma a identificar os
focos de atenção para a prática de enfermagem, diagnósticos e as intervenções.
Os focos de atenção para a prática de enfermagem na pessoa em DP centram-se
na pessoa, na família e na comunidade. Podemos ainda destacar a aceitação do
estado de saúde; tomada de decisão; medo; ansiedade; risco de infecção; cansaço;
obstipação; imagem corporal; adaptação; adesão e gestão do regime terapêutico;
aprendizagem; autocuidado; estilos de vida; processo familiar; processo social.

2.3 PROCEDIMENTOS EM DIÁLISE PERITONEAL

A motivação e a capacidade para o autocuidado da pessoa, família e/ou cuidador


são critérios determinantes na adesão ao regime terapêutico na pessoa em
DP. Esta é também indicada no tratamento da DRC estádio V, na criança e na
ausência de acessos vasculares para HD. No entanto, não é uma técnica isenta
de complicações. É importante conhecer que existem contra-indicações relativas à
realização da técnica, tais como fugas peritoneais, doença inflamatória/isquémica;
intolerância a volumes intra-peritoneais; infecções da parede abdominal;
desnutrição; diverticulites e obesidade mórbida, (Ronco, C. et al, 2019).

A DP é uma técnica de depuração extra-renal que utiliza o peritoneu como


membrana semipermeável, baseada em três elementos: a estrutura da membrana
peritoneal, o acesso peritoneal e as características físico-químicas das
soluções de diálise, (Heras, 2006). Durante a diálise, a cavidade peritoneal serve
de reservatório à solução de diálise, e a membrana peritoneal funciona como um
filtro de transporte, (Blake & Daugirdas, 2008; Watske & Struijik, 2009).

2.3.1 MEMBRANA PERITONEAL

A membrana peritoneal reveste a superfície das vísceras abdominais (peritoneu


visceral) e a superfície interna da parede abdominal (peritoneu parietal). É constituída
por três camadas (mesotélio, tecido intersticial e endotélio capilar), através das
quais ocorrem as trocas entre o sangue e o dialisante, (Heras, 2006; Marques,
2011). O transporte de solutos e água está mais dependente da área de superfície
capilar do que da área total do peritoneu e ocorre através dos mecanismos de
difusão, ultrafiltração e absorção, (Blake & Daugirdas, 2008).

18 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


2.3.2 ACESSO PERITONEAL

O acesso à cavidade peritoneal é realizado através do catéter de DP. Há referência


na bibliografia a várias técnicas de implantação, não havendo consenso de qual
recomendar, referindo que é importante a equipa multidisciplinar utilizar a técnica
com a qual está mais familiarizada, (Briggs et al, 2017). As orientações da International
Society for Peritoneal Dialysis, (Figueiredo et al, 2010) e as da European Best
Practice Guidelines for Peritoneal Dialysis, (2005), descrevem as várias técnicas de
implantação e as complicações pós inserção do catéter peritoneal, havendo falta
de evidência na recomendação da técnica de inserção com melhores resultados
para a pessoa em DP. Mais recentemente, um grupo de investigadores está a
rever novamente as orientações face às diferentes técnicas de inserção do catéter
peritoneal por forma a obter evidência científica, analisando as diferentes técnicas
de inserção para a obtenção dos melhores resultados. Em análise consideraram
os seguintes indicadores: funcionalidade do catéter peritoneal; falência da técnica;
complicações pós-inserção; entre outros, (Briggs et al, 2017).

No final da inserção do catéter peritoneal, podemos verificar uma das seguintes


situações: catéter peritoneal exteriorizado ou catéter peritoneal interiorizado
(subcutâneo), (Ash & Daugirdas, 2003).

Dos diferentes tipos de catéteres peritoneais disponíveis no mercado para


implantação deve ser utilizado o mais biocompatível, que não propicie nenhuma
reacção inflamatória ou imunológica, que seja resistente às bactérias, de fácil
implantação, com fluxo adequado, que dificulte a migração e que esteticamente
seja bem tolerado pela pessoa. Os mais utilizados actualmente têm dois cuff para
uma melhor fixação, o primeiro fixa internamente no músculo da parede abdominal
e o segundo cuff fixa no tecido subcutâneo, (Ash & Daugirdas, 2003).

Não há fortes evidências de que qualquer intervenção relacionada ao cateter,


incluindo o uso de diferentes tipos de cateter ou diferentes técnicas de inserção,
reduz os riscos de peritonite por DP ou outras infecções relacionadas à DP, falha
técnica ou morte (todas as causas). No entanto, os números e tamanhos dos estudos
foram geralmente pequenos e a qualidade metodológica dos estudos disponíveis foi
abaixo do ideal, de modo que a possibilidade de que uma determinada intervenção
relacionada ao cateter possa ter um efeito benéfico não pode ser completamente
descartada com confiança (Htay H, et al, 2019).

A existência de uma equipa dedicada e com experiência em DP composta por


Nefrologista, Enfermeiro com competência em DP, preferencialmente Enfermeiro
Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica na área de Enfermagem da Pessoa
em Situação Crónica e Cirurgião para a definição do orifício de saída do catéter
peritoneal, é recomendado pelas orientações internacionais, (Figueiredo et al, 2010;

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 19


OM, 2017) e está relacionado com maiores níveis de satisfação da pessoa, bem
como, influencia o número de complicações associadas à sua colocação. Payton
(2016), recomenda que haja uma monitorização da funcionalidade do catéter,
propondo uma taxa de sobrevivência do catéter peritoneal funcionante superior a
80% ao fim de 1 ano.

2.3.3 SOLUÇÕES DE DIÁLISE PERITONEAL

As soluções de DP são compostos eletrolíticos (água e eletrólitos) que devem


possibilitar funções dialisantes por processos de transporte de água e solutos
entre a membrana peritoneal e a solução de diálise. Estas contêm sódio, cálcio,
magnésio, cloro, lactato ou bicarbonato e variam na concentração de glicose,
devendo preservar a função fisiológica da membrana peritoneal e proporcionar
funcionalidade dialítica eficaz. O agente osmótico presente nas soluções de diálise
é a glicose. No entanto, existem no mercado soluções que não contêm glicose,
como seja a icodextrina e as soluções com aminoácidos, (Banasco et al, 2006).

As soluções de diálise devem permitir uma elevada clearance das toxinas, uma
eliminação suficiente da água corporal, homeostasia, serem biocompatíveis e de
fácil manuseamento, (Banasco et al 2006).

2.4 MODALIDADES DE DIÁLISE PERITONEAL

A DP é actualmente classificada em duas grandes modalidades: a diálise peritoneal


manual e a diálise peritoneal automática, (Páez & Palma, 2006; Díaz et al 2006). Na
diálise peritoneal manual consideramos a DPCA e a DPCA com período seco. Na
dialise peritoneal automática, consideramos os diferentes regimes terapêuticos, de
acordo com as necessidades da pessoa. Mais recentemente a diálise peritoneal
assistida (aPD) teve a sua implantação em países como Bélgica, França e permite
que a pessoa realize o seu tratamento domiciliário com assistência do profissional
de saúde, (Peterson & Lennerling, 2017).

Diálise Peritoneal Manual


Esta modalidade é caracterizada por se efectuarem os ciclos de forma manual,
entre 3 a 4 vezes por dia.

Diálise Peritoneal Contínua Ambulatória


É a modalidade de diálise mais frequente, em que os ciclos são realizados
manualmente, 3 a 4 vezes por dia e a pessoa permanece com líquido no peritoneu
durante as 24 horas do dia.

20 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


Diálise Peritoneal Contínua Ambulatória com período seco
Os ciclos são realizados de forma manual, de 3 a 4 vezes por dia. No período
nocturno, é drenado o líquido e o peritoneu permanece vazio. Esta modalidade é
indicada para pessoas que absorvem líquido de diálise.

Diálise Peritoneal Automática (DPA)


Na DPA os ciclos são realizados através de um mecanismo automático, denominado
cicladora. De acordo com as necessidades terapêuticas da pessoa, podem
adaptar-se vários regimes terapêuticos.

Diálise Peritoneal Automática adaptada


Nesta modalidade terapêutica são adaptados os volumes de infusão intra-
peritoneais e os tempos de permanência, de acordo com o tipo de membrana
peritoneal para aumentar a clearance de solutos e/ou a ultrafiltração.

Diálise Peritoneal Contínua Cíclica (DPCC)


A cicladora efectua as trocas de solução dialisante, geralmente durante a noite,
mantendo a pessoa a solução dialisante na cavidade peritoneal durante o restante
tempo.

Diálise Peritoneal Contínua Cíclica plus


Semelhante à DPCC, em que a cicladora realiza trocas contínuas de solução
dialisante, geralmente durante a noite, mantendo a pessoa a solução dialisante
no peritoneu no resto do tempo, mas efectua uma ou mais trocas suplementares
durante o dia.

Diálise Peritoneal Contínua Cíclica Tidal (DPCCT) e Tidal plus


Neste regime terapêutico, apenas uma percentagem de solução de diálise é
substituída em cada ciclo. É indicada para pessoas que apresentam dor no final
da drenagem, ficando um volume residual de efluente constantemente em contacto
com a membrana peritoneal.

Diálise Peritoneal Nocturna Intermitente (DPNI)


A cicladora efetua várias mudanças contínuas de solução dialisante, geralmente
durante a noite, mantendo-se o doente sem solução dialisante na cavidade
peritoneal durante o período diurno.

Diálise Peritoneal Intermitente (DPI)


Nesta modalidade a pessoa efectua sessões de diálise periódicas (não diariamente,
concentradas em um ou mais dias da semana) em que o número e a duração dos
ciclos são superiores aos habituais em DPCC ou DPIN.

Diálise Híbrida
É uma técnica dialítica em que são aplicadas sucessivamente, quer com periodicidade
programada quer não, uma das modalidades de DP e uma das modalidades de HD.

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Diálise Peritoneal Assistida (aPD)
A aPD tem ganho terreno em alguns países europeus nas várias modalidades
(aDPCA ou aDPA). Na realização da aDPCA o enfermeiro visita o domicílio da
pessoa 4 vezes por dia. Na aDPA recebe 1 a 3 visitas por dia para a preparação da
cicladora para o tratamento durante a noite, (Giuliani et al 2017).

França, Suécia e Bélgica são actualmente os países europeus com maior


experiência nos programas de diálise assistida. Peterson & Lennerling (2017),
num estudo qualitativo de abordagem fenomenológica estudaram as vivências
das pessoas em diálise peritoneal assistida. Da análise dos dados obtidos, os
autores referem que os participantes experienciaram uma boa qualidade de vida,
apesar da idade avançada, de estarem fisicamente frágeis e com necessidade
de uma terapêutica vital. Os autores referem que aPD deve estar disponível em
todos os países que oferecem a DP como opção de tratamento da substituição
da função renal por conduzir a bastantes benefícios para a qualidade de vida das
pessoas com necessidade de realizar tratamentos substitutivos da função renal. É
nossa convicção que em Portugal a disponibilidade da aPD conduziria a bastantes
benefícios para a qualidade de vida das pessoas com necessidade de realizar
tratamentos substitutivos da função renal sem a necessidade de deslocação do seu
domicílio para um centro de diálise.

2.5 COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS À DIÁLISE PERITONEAL


As complicações relacionadas com a técnica de DP podem colocar em causa
a viabilidade do tratamento e são a principal razão de transição de técnicas de
substituição da função renal, sendo que a maior parte das pessoas em DP transita
para HD, (Macário et al, 2018)

As principais complicações da DP descritas na bibliografia são as complicações


mecânicas e as infecciosas, (Campos, 2006; De la Torre, 2006).

2.5.1 COMPLICAÇÕES MECÂNICAS

As complicações mecânicas estão relacionadas com a disfunção do catéter e/


ou alterações decorrentes da realização da técnica DP. As mais frequentes
caracterizam-se pela alteração no volume de fluxo do líquido peritoneal, falência de
ultrafiltração da membrana peritoneal e fuga de líquido peritoneal.

Alteração de volume de fluxo de líquido peritoneal


As alterações de volume de fluxo podem ser caracterizadas por diminuição ou

22 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


ausência de fluxo de drenagem do efluente e pela impossibilidade de infusão do
dialisante. As causas de ausência de fluxo podem ser extra-luminais ou luminais.
É importante manter um trânsito intestinal regular para evitar a obstipação,
realizar radiografia do abdómen para identificar a posição do catéter, verificar a
permeabilidade do catéter. O mesmo pode estar dobrado e ou estar obstruído por
fibrina. As intervenções de enfermagem visam identificar a causa da alteração do
volume de fluxo e direccionar as acções para a sua resolução.

Falência de ultrafiltração
A falência de ultrafiltração é caracterizada pela diminuição ou ausência de
ultrafiltração da membrana peritoneal. Como causas transitórias identificam-se
problemas mecânicos relacionados com o catéter, fugas de líquido peritoneal,
presença de hérnias e/ou a situação clínica da pessoa. As causas permanentes
de falência de ultrafiltração estão relacionadas com alterações estruturais da
membrana peritoneal.

Fuga de Líquido Peritoneal


A fuga de líquido peritoneal é caracterizada pela presença de líquido de diálise fora
da cavidade peritoneal. Pode ocorrer de forma precoce ou tardia, é caracterizada
pela presença de líquido peritoneal em redor do orifício de saída ou quando
existe infiltração da parede abdominal. A fuga de líquido pode suceder quando
há necessidade de iniciar DP de forma precoce. Há correlação entre a presença
de volume intra-peritoneal e o aumento da pessão intra-peritoneal (IPP). Valores
de IPP considerados normais com um volume intra-peritoneal de 1000ml/m2 são
10 ± 2cmH2O em crianças e 12 ± 2cm H2O em adultos com 2L de volume intra-
peritoneal. Pessoas com IPP acima de 20cm H2O têm maior ocorrência de hérnias
e fugas de líquido, (Castellanos et al, 2017). As acções a desenvolver incluem:
pesquisa de líquido no orifício de saída, monitorização dos volumes de infusão e
da ultrafiltração, pesquisa de infiltração na parede abdominal e pesquisa de edema
na zona genital.

2.5.2 OUTRAS COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS À DIÁLISE PERITONEAL

No decorrer da técnica podem ocorrer outras complicações mecânicas, tais como:

Exteriorização do cuff externo


A exteriorização do cuff externo poderá estar relacionada com a elasticidade do
catéter, tracções, aumento da pressão intra-abdominal, presença do cuff próximo
do orifício de saída e/ou infecção.

Perfuração intestinal
Esta complicação mecânica pode ocorrer na colocação do catéter peritoneal, numa
fase precoce. Pode ocorrer numa fase tardia, devido à erosão intestinal.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 23


Comunicação pleuro-peritoneal
É uma complicação mecânica caracterizada pela saída de líquido de diálise para
a cavidade pleural. É importante ensinar a pessoa para comunicar alterações do
padrão respiratório (dor torácica, tosse persistente e/ou dispneia).

Hérnias
As hérnias surgem entre 12 a 37%, (Balda, S., Power, A., Papalois, V., & Brown,
E., 2013), das pessoas em DP e estão relacionadas com o aumento da IPP. A
sua localização poderá ser na linha média, inguinal, umbilical, epigástrica e peri-
catéter. As acções de enfermagem visam ensinar a pessoa a optimizar o trânsito
intestinal regular e cuidados inerentes à correçção cirúrgica, caso seja necessário.

Hemoperitoneu
O hemoperitoneu é caracterizado pela presença de sangue no efluente peritoneal.
É importante despistar causas como o ciclo menstrual nas senhoras, ruptura de
quisto e/ou peritonite. Recomenda-se o uso de meios auxiliares de diagnóstico em
situações de hemoperitoneu grave.

Dor
A dor na diálise peritoneal poderá está relacionada com a infusão de líquido frio,
posição do catéter e infusão de ar por não preenchimento das linhas. Na drenagem
a dor pode ocorrer devido à posição do catéter peritoneal. Nestas situações de dor
na drenagem, recomendam-se os regimes terapêuticos Tidal (apenas disponível
em Dialise Peritoneal Automatizada).

Dor Lombar
A dor lombar está caracterizada pela presença do volume de líquido intraperitoneal
na cavidade peritoneal. É importante que seja monitorizada a pressão intra-
abdominal e que os regimes terapêuticos sejam adaptados à situação clínica da
pessoa.

Corte acidental ou ruptura do catéter peritoneal


É uma complicação mecânica que é caracterizada pela perfuração do catéter de
diálise peritoneal: pode ocorrer na colocação do mesmo no bloco operatório; na
exteriorização do catéter ou na realização do penso, quando se utilizam objectos
cortantes junto do catéter peritoneal. As ações a desenvolver passam por dar
resposta ao problema identificado. No caso da ruptura ocorrer no domicílio, a
pessoa deve ser instruída a clampar de imediato o catéter a montante e contactar
imediatamente a unidade de DP.

Recomenda-se que as equipas multidisciplinares das unidades de DP desenvolvam


um manual próprio de procedimentos onde estejam descritas as acções e os meios
auxiliares de diagnóstico a desenvolver em cada complicação mecânica.

24 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


2.5.3 COMPLICAÇÕES INFECCIOSAS

As complicações infecciosas são as mais frequentes na técnica DP e as que


implicam o principal motivo de saída da técnica. Segundo dados do gabinete
de registo da Sociedade Portuguesa de Nefrologia 35,3% das pessoas em DP,
interromperam a técnica em 2017 devido a complicações infecciosas. Toda a
estratégia de ensino para o auto-cuidado da pessoa em DP tem como objectivo
adquirir as capacidades necessárias para que seja capacitada para a prevenção,
detecção e gestão dos sinais e sintomas relacionados com a infecção. As
complicações infecciosas incluem as infecções do orifício de saída (OS) do catéter
peritoneal, do túnel subcutâneo e as peritonites.

As orientações internacionais, (Li et al, 2016) recomendam que todos os programas


de diálise peritoneal monitorizarem a incidência de infecções relacionadas com o
catéter peritoneal. Recomendam que a apresentação seja em número de episódios/
doente/ano. A monitorização também deve englobar as infecções de orifício de
saída, túnel subcutâneo e a monitorização das infecções causadas por organismos
tais como Staphilococcus aureus e Pseudomonas species.

Infecção do orifício de saída (OS) do catéter peritoneal


Li et al, (2016) definem a infecção do OS pela presença de exsudado purulento,
com ou sem eritema da pele na junção do catéter e a epiderme. A definição de
infecção de túnel é caracterizada pela presença de sinais inflamatórios no trajecto
do túnel do catéter peritoneal, (Yap e Yip, 2016). Estas duas infecções podem
ocorrer individualmente ou em simultâneo. Com o objectivo de prevenir a infecção,
as orientações internacionais recomendam que os programas de DP, devem
implementar projectos de melhoria contínua da qualidade, de forma a analisar os
dados obtidos das acções implementadas para a prevenção da infecção, (Szeto
et al, 2017).

As medidas de cuidados gerais ao OS e a higienização das mãos de forma efectiva


são fundamentais para a prevenção da infecção. O OS deve ser limpo pelo menos 2
vezes por semana e sempre que a pessoa tome banho de chuveiro. O catéter deve
estar imobilizado e a utilização de penso permeável é recomendado. No caso de
infecção do orifício de saída recomendam a limpeza diária, com uso de antibiótico
tópico, de acordo com o microrganismo identificado, (Li et al, (2016).

Vários agentes de limpeza têm sido testados e os resultados foram inconclusivos na


identificação do melhor agente de limpeza para a prevenção da infecção do OS. O
uso de clorexidina na desinfecção do orifício mostrou-se superior ao uso da limpeza
com soro fisiológico na colonização por staphilococus aureus. Wang et al, (2017)
efectuaram um estudo prospectivo randomizado e controlado em 89 doentes, o
1º grupo realizou a desinfecção do OS com clorexidina e o 2º grupo (grupo de
controlo) a limpeza do OS com soro fisiológico. Dos dados analisados, concluíram

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 25


que a clorexidina como agente de cuidado do orifício de saída poderá ser uma
boa estratégia na prevenção da colonização do orifício por staphilococus aureus
e MRSA. No entanto, a eficácia do mesmo agente na descolonização de bactérias
gram negativas não foi clara.

Na prevenção da infecção do OS é recomendado o uso de antibiótico creme. A


aplicação diária de mupirocina creme no OS pode prevenir o aparecimento de
infecção do OS por staphilococus aureus. A resistência ao uso de mupirocina está
mais associado ao uso intermitente, do que ao uso diário, (Mushahar et al, 2017).

Na colocação do catéter peritoneal é sugerido que seja realizada a pesquisa de


portador nasal de Staphilococus aureus. Caso se confirme ser portador, sugere-se
o tratamento com mupirocina nasal, (Szeto et al, 2017).

Todavia, um estudo randomizado controlado, realizado por Wong e colaboradores,


foi comparada a utilização alternada de mupirocina/gentamicina e gentamicina
tópica isolada, concluindo que ambas as alternativas não se mostraram eficazes
na redução das infecções relacionadas com o catéter devido ao aparecimento de
microrganismos oportunistas e uma maior incidência do uso de antibióticos para
o tratamento de peritonite fúngica. A gentamicina tópica mostrou-se eficaz nas
infecções de orifício de saída por pseudomonas aeroginosa, (Wong et al, 2016).

Peritonites
A peritonite é uma complicação infecciosa da técnica de DP. É uma complicação
comum, está relacionada com a maior causa de falência de técnica de DP e
transição para HD. Recentemente a ISPD realizou uma revisão das orientações para
a prevenção da peritonite, (Li et al, 2016). Os autores referem que é fundamental que
cada unidade de DP analise o seu próprio padrão de infecção, os microrganismos
e as suas sensibilidades e que adaptem os protocolos às causas identificadas.
Relacionado com a taxa de peritonite, recomendam que todos os programas de DP
devem monitorizar a incidência de peritonite no ano corrente.

As peritonites são classificadas como (Li et al., 2016):

• Recorrente: Episódio que ocorre em menos de 4 semanas após terminar a


antibioterapia do último episódio, mas com um organismo diferente;
• Recidivante: Episódio que ocorre em menos de 4 semanas após terminar
antibioterapia do último episódio, com o mesmo organismo ou episódio com
cultura estéril;
• Reinfecção: Episódio que ocorre depois de 4 semanas após terminar
antibioterapia do último episódio com o mesmo organismo;
• Refratária: Manutenção do líquido turvo após 5 dias de antibioterapia;
• Peritonite relacionada com o catéter: Peritonite que ocorre após infecção do
OS/túnel, com o mesmo organismo ou com cultura estéril do OS.

26 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


O tratamento da peritonite realiza-se com o recurso a antibióticos e no tratamento
prolongado de infecções é recomendado realizar-se profilaxia antifúngica. O
início do tratamento da peritonite deve ocorrer assim que houver uma suspeita
(efluente turvo e/ou dor abdominal) através de antibioterapia empírica que cubra
microorganismos gram-positivos e gram-negativos, por via intra-peritoneal. Após
os resultados das culturas do líquido peritoneal, a antibioterapia deve ser ajustada
ao microorganismo identificado. No caso de peritonite refractária, recidivante e
peritonite fúngica, recomenda-se a remoção do catéter de DP, (Li et al, 2016).

A peritonite esclerosante encapsulante (EPS) é uma complicação rara da DP,


associada a um alto risco de morbilidade e mortalidade. Está relacionada com o
tempo de permanência em DP. A incidência de EPS é muito variável entre países
e unidades de DP. Apesar de ser uma complicação rara, devido à sua elevada
mortalidade existem aspectos que devem ser avaliados em cada pessoa do
programa DP por forma a avaliar o potencial risco de diagnóstico de EPS. Factores
como a idade e prognóstico da pessoa; tempo de permanência em DP; qualidade
da diálise; acesso ao transplante; potencial risco em HD e qualidade de vida,
devem ser equacionados, (Brown et al, 2017).

2.6 FALÊNCIA DA TÉCNICA DE DP

A falência da técnica de DP está documentada como: qualquer complicação que


leva a que a pessoa não consiga realizar mais DP. A ISPD e o grupo de trabalho
internacional do Peritoneal Dialysis Outcomes and Practice Patterns Study (PDOPPS)
elaboraram um documento onde identificam sete causas para apoiar no diagnóstico
de falência da técnica, (Perl et al, 2016). Identificaram como causas as relacionadas
com a infecção; problemas de funcionamento do catéter; redução da clearance
de solutos e/ou ultrafiltração; fuga de líquido; hérnias; problemas psicológicos e/
ou situação clínica da pessoa; risco e/ou diagnóstico de EPS. Consideram outras
causas para a falência da técnica, o hemoperitoneu e/ou patologia intra-abdominal.

2.7 GESTÃO DE SINAIS E SINTOMAS

As estratégias e intervenções passam necessariamente pela prevenção e controlo


da infecção na DP, no entanto, devemos também estar atentos a outros sinais e
sintomas essenciais ao sucesso do tratamento, por exemplo: sinais/sintomas de
sobrecarga hídrica; sinais/sintomas de não adesão às recomendações alimentares
e sinais/sintomas de burnout da pessoa, família e/ou cuidador.

Recomendamos que a pessoa, família e/ou cuidador, conheçam e apliquem as


medidas gerais de higienização das mãos de acordo com as orientações da

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 27


Circular Normativa nº13, (DGS, DQS/DSD; 2010), a limpeza e higienização do local
de realização da técnica e o cumprimento dos planos de vacinação.

Campbell et al (2016) analisaram num estudo qualitativo a perspectiva das pessoas


na prevenção e tratamento da peritonite, concluindo que as mesmas estão altamente
motivadas para realizar o seu tratamento de DP, mas as exigências na assepsia
e os procedimentos inerentes à realização da técnica provocam extrema fadiga,
levando ao erro. Algumas pessoas não percebem os sintomas de peritonite e outros
não conseguem identificar as causas que estão inerentes ao seu aparecimento.
Estes dados são importantes indicadores que possibilitam direccionar a intervenção
do enfermeiro na prestação de cuidados.

Na DP é necessário saber se a pessoa para além de estar autónoma a realizar a


sua técnica, avaliar também se a mesma é eficaz para o tratamento da DRCT. A
adequação da DP refere-se à qualidade da prescrição de diálise individualizada. Esta
vai depender da modalidade de DP, da depuração (clearance), da ultrafiltração, da
função renal residual, do tipo de membrana e da situação nutricional. Recomenda-
se que as unidades de DP avaliem a adequação e eficácia de diálise, recorrendo
à realização do Teste de Equilíbrio Peritoneal (TEP), à cinética de ureia, às análises
laboratoriais de uma forma regular para permitir um controlo efectivo da eficácia de
diálise e do bem-estar da pessoa em DP. Os programas de DP devem estabelecer
os protocolos necessários à monitorização da adequação e eficácia de diálise,
(Perl et al, 2016).

A avaliação da Pressão Intra-Peritoneal (PIP) é um método simples, que deve ser


avaliada para ajudar na prescrição do tratamento de DP, especialmente em pessoas
com Índice de Massa Corporal (IMC) elevado. A PIP pode ser avaliada na mesma
altura que a realização do 1º TEP, permitindo uma adaptação da prescrição de DP,
ajustando o volume intra-peritoneal para a prevenção de fugas de líquido, hérnias,
complicações abdominais e falência de ultrafiltração, (Castellanos et al, 2017).

Recomenda-se que as unidades de DP desenvolvam um manual próprio de


procedimentos onde estejam inseridas as acções a desenvolver para cada
complicação infecciosa e para a avaliação da adequação e eficácia da DP.

28 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


03
EDUCAÇÃO DA PESSOA
E FAMÍLIA/CUIDADOR EM
DIÁLISE PERITONEAL

GUIA ORIENTADOR
DE BOAS PRÁTICAS (GOBP)
3. EDUCAÇÃO DA PESSOA E
FAMÍLIA/CUIDADOR EM DIÁLISE
PERITONEAL
A DP é uma técnica dialítica com características próprias, como sejam o local de
realização do tratamento e o nível de responsabilidade exigido à pessoa e família/
cuidador. Desta forma, enquanto a HD é uma técnica habitualmente efectuada em
clínicas ou hospitais, a DP é realizada, em cerca de 90% dos casos, pelas próprias
pessoas com DRC em suas casas, (Hall et al, 2004).

3.1 SOBRE A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA PESSOA E


FAMÍLIA/CUIDADOR EM DIÁLISE PERITONEAL

A DP é uma técnica de autocuidado, pelo que se afigura como necessário um período


preparatório, habitualmente designado por treino ou ensino, preferencialmente
realizado por Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica na área de
Enfermagem da Pessoa em Situação Crónica. É através do ensino, que a pessoa
e família/cuidador se torna autónoma na gestão dos aspectos relacionados com a
execução do tratamento.

De acordo com a European Dialysis and Transplant Nurses Association/European


Renal Care Association, (EDTNA/ERCA, 2016), antes de se iniciar a DP em casa, é
essencial que tenha lugar um processo de educação efectiva, estando o sucesso
dependente da abordagem adoptada, (Riemann & Casal, 2009).

Importa salientar que os resultados obtidos num programa de DP não se limitam


aos processos de ensino, antes são influenciados por vários factores, que incluem:
a experiência de enfermeiros e nefrologistas, os aspectos relacionados com a
técnica de colocação do catéter e algumas barreiras ambientais, (Figueiredo, A.
et al, 2016).

Ainda assim, é cada vez mais reconhecida a associação entre a educação


efectiva da pessoa e família/cuidador em DP e a obtenção de bons resultados,
( Hall et al., 2004; Bernardini, Price, & Figueiredo, 2006; Thomas, 2014; Schaepe
& Bergjan, 2015; Zhang, Hawley, & Johnson, 2015). De acordo com a ISPD, o
ensino, quando realizado de forma deficitária, poderá resultar na ocorrência de
peritonites e infecções do local do catéter, na necessidade de internamentos, na
saída da técnica e até em óbitos, (Bernardini et al., 2006). Trata-se, portanto, de
uma temática da maior importância. Quer a ISPD quer a EDTNA/ERCA emitiram já
algumas recomendações sobre o ensino em DP e existe investigação produzida

30 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


nesta área, apesar de ser reconhecidamente insuficiente, (Schaepe & Bergjan,
2015).

3.2 A EDUCAÇÃO DA PESSOA E FAMÍLIA/CUIDADOR EM


DIÁLISE PERITONEAL NO CONTEXTO DOS CUIDADOS DE
ENFERMAGEM

A educação para a saúde é, nas diferentes áreas de prestação de cuidados e ao


longo do ciclo da vida, uma das dimensões mais presentes no exercício profissional
dos enfermeiros.

É entendimento da EDTNA/ERCA (2016) que, nos cuidados à pessoa com DRC e


sua família/cuidador, o compromisso do Enfermeiro deverá ser o de proporcionar
a melhor assistência, com especial ênfase no apoio, na educação, na prevenção
de complicações e na reabilitação, estimulando a independência e o autocuidado,
(EDTNA/ERCA, 1999).

Um dos enunciados descritivos dos padrões de qualidade dos cuidados de


enfermagem é a readaptação funcional. Considera-se que, na procura permanente
da excelência no exercício profissional, o enfermeiro, conjuntamente com a pessoa
e família/cuidador, desenvolve processos eficazes de adaptação aos problemas de
saúde, (Ordem dos Enfermeiros, 2012).

Entre os elementos importantes a considerar face à readaptação funcional


encontram-se o ensino, a instrução e o treino. É frequentemente através de
processos de aprendizagem que se procura a máxima independência da pessoa e
a sua adaptação funcional, (Ordem dos Enfermeiros, 2012).

Na prática de cuidados, os enfermeiros desenvolvem dois tipos de intervenções:


as interdependentes (iniciadas por outros técnicos da equipa multidisciplinar) e as
autónomas (prescritas pelo enfermeiro, sob sua única e exclusiva responsabilidade).
As intervenções de enfermagem incluem diversas funções, nomeadamente,
a realização do ensino sobre a administração e utilização de medicamentos ou
tratamentos, (Ordem dos Enfermeiros, 2015).

Considerando o Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE),


verifica-se que os cuidados de enfermagem são caracterizados por utilizarem
metodologia científica que inclui (Ordem dos Enfermeiros, 2015):

a) a identificação dos problemas de saúde em geral e de enfermagem em


particular, no indivíduo, família, grupos e comunidade;
b) a recolha e apreciação de dados sobre cada situação que se apresenta;

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 31


c) a formulação do diagnóstico de enfermagem;
d) a elaboração e realização de planos para a prestação de cuidados de
enfermagem;
e) a execução correcta e adequada dos cuidados de enfermagem necessários;
f) a avaliação dos cuidados de enfermagem prestados e a reformulação das
intervenções.

A educação para a saúde, em sentido mais abrangente, ou o ensino da pessoa e


família/cuidador em DP, se quisermos especificar, constituem áreas de excelência
para o exercício das intervenções autónomas de enfermagem. Na prática
de cuidados em DP, o enfermeiro avalia as necessidades de ensino, planeia e
concretiza as intervenções necessárias e analisa os resultados obtidos. No processo
de tomada de decisão, o enfermeiro incorpora os resultados da investigação na sua
prática, (Ordem dos Enfermeiros, 2012).

O processo de enfermagem constitui um método ordenado e sistemático de


identificar e resolver os problemas da prática clínica. É constituído por cinco etapas:
avaliação inicial, formulação dos diagnósticos de enfermagem, planeamento,
intervenção e avaliação final, (Dillon, 2007).

3.3 AVALIAÇÃO INICIAL: PONTO DE PARTIDA PARA O


ENSINO EFECTIVO

A avaliação inicial inclui a recolha, validação e organização dos dados. Trata-se de


um momento de especial importância, dado que uma avaliação menos conseguida
condicionará as restantes etapas do processo, (Dillon, 2007).

3.3.1 DESTINATÁRIOS DO ENSINO

Considerando que a DP é uma técnica de autocuidado, é portanto frequentemente


a própria pessoa com DRC aquela que aprende os conhecimentos e procedimentos
necessários. No entanto, seja por necessidade ou vontade, surgem situações em
que se incluem no ensino familiares e pessoas significativas ou cuidadores.

De acordo com o estabelecido pela ISPD, o ensino pode ser dirigido à pessoa com
DRC, a um cuidador ou a ambos, devendo o enfermeiro avaliar, sem prejuízo das
preferências da pessoa com DRC, quem está mais bem capacitado para o efeito,
(Bernardini et al., 2006).

Do ponto de vista dos resultados, têm sido reportadas taxas de peritonite idênticas
nas situações em que o ensino é feito à pessoa com DRC ou a um cuidador (familiar
ou não) ( Li et al., 2007; Verger et al., 2007; Yang, Xu, Zhuo, & Dong, 2012).

32 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


3.3.2 ESTILOS DE APRENDIZAGEM

Um dos aspectos referidos na literatura sobre a educação da pessoa em DP


prende-se com a necessidade de avaliar o estilo de aprendizagem. Poder-se-á
dizer que não existe uma única forma de aprender. Sejam conceitos teóricos ou
competências técnicas, todas as pessoas aprendem de forma potencialmente
diferente. Neste sentido, torna-se fundamental avaliar as especificidades de quem
aprende e, com isso, optimizar os processos de aprendizagem. A preocupação
será a de recorrer a métodos ou estratégias de ensino que facilitem a comunicação.
Deste modo, será possível orientar o ensino em função das características da
pessoa e família/cuidador, em vez de, por uma questão de conforto ou hábito do
enfermeiro, se insistir numa forma invariável de ensinar, (Jenkins & Mahon, 2008;
Riemann & Casal, 2009).

Foram identificados vários estilos de aprendizagem, aos quais se associam


estratégias de ensino próprias. Apesar de não existir consenso, sintetiza-se aqui o
método VARK1, referido nas recomendações da ISPD para a educação da pessoa
em DP, (Figueiredo, A. et al 2016). De acordo com este método, é inicialmente
aplicado um questionário, (Fleming & Baume, 2006) que vai permitir evidenciar
os estilos de aprendizagem predominantes ou, de forma mais precisa, quais as
tendências preferenciais de comunicação. Poderão ser quatro:
- Estilo visual: neste caso, a aprendizagem é facilitada pelo uso de imagens,
símbolos, esquemas ou gráficos;
- Estilo auditivo: incluem-se aqui estratégias como a descrição de um
procedimento passo a passo, a interpelação da pessoa e família/cuidador ou
a repetição de explicações. Deverá valorizar-se a aprendizagem através da
discussão;
- Estilo leitura-escrita: privilegiam-se as informações apresentadas através de
palavras ou na forma de texto. Poderá ser oportuno disponibilizar manuais ou
pedir à pessoa e família/cuidador para escrever o que aprendeu;
- Estilo cinestésico: valorizam-se as actividades em que prevalece o fazer,
a manipulação. A aprendizagem poderá ser facilitada com o recurso a
manequins ou a material de simulação.

Independentemente dos estilos de aprendizagem, existem abordagens que


deverão sempre ser evitadas. São disso exemplo: longas palestras, realização
de procedimentos sem supervisão ou ausência de períodos de descanso entre
sessões, (Figueiredo, A. et al 2016). Além disso, o facto da pessoa e família/cuidador
preferir aprender através da leitura, não torna dispensável o treino supervisionado
nos diferentes procedimentos que se pretendem ensinar. Significa isto, que a
avaliação dos estilos de aprendizagem não pode ser feita de forma isolada. Deve
ser considerada a mensagem que se pretende transmitir, orientando as estratégias
de ensino também em função dos conteúdos que se pretendem trabalhar.
1
VARK: Acrónimo para Visual, Aural (Auditory), Read-Write e Kinesthetic (Motor).
GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 33
A avaliação das formas de aprendizagem é, de acordo com os autores do
método VARK, um ponto de partida e não pretende ser um processo redutor de
categorização. Pretende promover o conhecimento de quem se quer ensinar e
tornar o ensino mais individualizado, (Fleming & Baume, 2006), aspectos muito
importantes quando se pretende preparar alguém para ser autónomo na gestão da
sua doença e respectivo tratamento.

3.3.3 QUANDO INICIAR O ENSINO?

A promoção do autocuidado da pessoa e família/cuidador e os processos de


ensino não são exclusivos das equipas de DP. Existem vários momentos que
poderão influenciar, não só o entendimento que a pessoa e família/cuidador faz da
técnica, como a gestão futura do seu tratamento. Um desses momentos formais é a
Consulta de Esclarecimento.

Mas existem outros momentos menos formais. Ao equacionar a realização de DP,


é habitual que a pessoa e família/cuidador questione outros profissionais de saúde
e procure informações. Todos estes conhecimentos que foram sendo adquiridos
deverão ser ponderados e validados.

Desta forma, poder-se-á dizer que a aprendizagem principia mesmo antes do início
do programa formal de ensino. Este terá como finalidade capacitar a pessoa e
família/cuidador no sentido de conseguir gerir todos os aspectos relacionados com
o seu tratamento.

Importa, então, questionar qual o melhor momento para iniciar o referido programa
formal de ensino.

De acordo com a ISPD, o ensino poderá iniciar-se antes ou após a colocação do


catéter peritoneal, (Figueiredo, A. et al, 2016).

Foram associadas taxas de peritonite mais elevadas quando o programa de ensino


decorreu nos primeiros 10 dias após a colocação do catéter peritoneal, (Figueiredo
et al., 2015). Por conseguinte, sugere-se que este período não inclua sessões de
ensino e seja reservado para a completa recuperação da cirurgia.

3.3.4 IDENTIFICAÇÃO E CONTROLO DAS BARREIRAS À


APRENDIZAGEM

É reconhecido o esforço de adaptação que a DRC pode implicar. A evolução natural


da doença implicará alterações na vida laboral, social e familiar, na alimentação e
na vivência da sexualidade, (Ballerini & Paris, 2006).

34 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


A este dado poderão ser acrescentadas diferentes barreiras com potencial para
tornar o contexto de aprendizagem ainda mais adverso. Importa identificá-las e
minimizá-las tanto quanto possível, (Thomas, 2014).

Estão descritas algumas barreiras físicas ou orgânicas. Ao iniciar o ensino ou


o próprio tratamento, muitas pessoas com DRC referem sintomas relacionados
com a síndrome urémica (náuseas, vómitos, perturbações do sono e confusão). A
ocorrência de anemia poderá desencadear cansaço. É também necessário avaliar
a existência de dor, por exemplo, associada à realização das primeiras infusões
ou drenagens. Todos estes aspectos provocarão mal-estar e condicionarão
a predisposição para aprender. Poderá ser oportuno administrar terapêutica
apropriada ou identificar um período do dia mais favorável ao ensino. Além destes
aspectos, deverão ser consideradas outras barreiras, mais frequentes na idade
avançada, como a redução da acuidade visual e auditiva ou a dificuldade em
memorizar, (Riemann & Casal, 2009).

Existem também as barreiras psicossociais. A realização do ensino a pessoas


provenientes de países estrangeiros poderá ser dificultada por barreiras
relacionadas com a linguagem, entre outros aspectos culturais. Toda a informação
deve ser dada de forma clara, inequívoca e de fácil compreensão. Em alguns casos,
poderão existir outros problemas mais difíceis de ultrapassar ou que deverão ser
discutidos com a equipa multidisciplinar. São exemplo as dificuldades psicológicas
de adaptação, por vezes manifestadas pela negação da doença. Outros factores
poderão condicionar a motivação para aprender, como o desemprego ou problemas
económicos, mas a família poderá constituir uma rede de suporte, (Jenkins &
Mahon, 2008; Riemann & Casal, 2009).

Há ainda a ter em conta as barreiras ambientais. Para que a aprendizagem


ocorra do melhor modo, torna-se fundamental proporcionar um ambiente seguro. É
importante assegurar privacidade e uma temperatura agradável na sala, (Riemann &
Casal, 2009). A realização do ensino no domicílio permitirá efectuar a aprendizagem
no exacto contexto onde a pessoa e família/cuidador vai realizar tratamento, com
ganhos daí decorrentes e que serão discutidos mais à frente.

3.4 FORMULAÇÃO DOS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM:


DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE INTERVENÇÃO

Nesta fase do Processo de Enfermagem, partindo da avaliação efectuada,


identificam-se os problemas reais ou potenciais e estabelecem-se prioridades,
(Dillon, 2007).

A educação da pessoa e família/cuidador em DP é bastante abrangente no que


respeita aos diferentes conceitos e procedimentos que lhe são inerentes. Partindo

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 35


de cada situação particular, torna-se necessário estabelecer uma hierarquia de
prioridades relativamente às temáticas que se pretendem ensinar.

Numa determinada situação, a urgência em iniciar DP pode direccionar o ensino


para a aprendizagem da técnica manual. Noutras situações, poderá ser preferencial
autonomizar a pessoa e família/cuidador nos cuidados com o orifício do catéter e só
posteriormente iniciar a aprendizagem da técnica dialítica propriamente dita.

No que respeita ao estabelecimento de prioridades, estão descritos três níveis


diferentes no ensino da pessoa e família/cuidador em DP, (Riemann & Casal, 2009;
Figueiredo, A. et al 2016):

1) Em primeiro lugar, deve ser considerado aquilo que a pessoa e família/


cuidador necessita realmente de saber. Incluem-se aqui todas as informações
com caráter mandatório, imprescindíveis em termos de autonomia e segurança;
2) De seguida, ter-se-á em conta o que a pessoa e família/cuidador deve saber.
Trata-se de aprendizagens importantes para o sucesso do tratamento, mas
que não são imprescindíveis;
3) No final desta hierarquia de prioridades encontra-se o que a pessoa e família/
cuidador pode saber. Incluem-se aqui as informações de carácter geral, que
complementam as aprendizagens anteriores.

Partindo desta ponderação, será possível diagnosticar as áreas específicas em que


o ensino é premente e outras que serão trabalhadas posteriormente.

3.5 PLANEAMENTO DOS CUIDADOS

O planeamento dos cuidados envolve definir objetivos e perspectivar resultados,


bem como equacionar possíveis intervenções a concretizar, (Dillon, 2007).

3.5.1 DEFINIÇÃO DE OBJECTIVOS

No sentido de garantir a realização do tratamento de forma autónoma, confortável


e segura, estão identificados objectivos mínimos que deverão ser integralmente
atingidos (Figueiredo et al., 2016). Assim, é esperado que, através do programa de
ensino, a pessoa e família/cuidador se torne completamente apta a:
- Realizar os procedimentos necessários em segurança, respeitando a assépsia
das conexões;
- Reconhecer possíveis contaminações, verbalizando as medidas necessárias
a adoptar;
- Identificar alterações no equilíbrio hídrico e sua relação com a tensão arterial;

36 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


- Detectar, reportar e gerir potenciais complicações dialíticas, usando os
recursos disponíveis;
- Compreender quando e como deverá comunicar com a sua unidade de diálise.

3.5.2 CONTEÚDOS DO ENSINO

Para a realização da técnica de forma autónoma e segura, é essencial que o


ensino contemple todas as matérias consideradas necessárias, (Thomas, 2014).
Este período preparatório inclui a aprendizagem de determinados conceitos, bem
como o treino de competências motoras específicas, (Bernardini et al., 2006).
Têm sido descritos vários tópicos ou conteúdos que deverão ser introduzidos no
programa formal de ensino. Indicam-se, em seguida, de forma adaptada, os que
foram descritos pela ISPD, (Bernardini et al., 2006; Thomas 2014; Figueiredo, A. et
al, 2016).

- Introdução ao programa de ensino. Ao iniciar-se o treino, procurar-se-á


estabelecer uma relação de confiança necessária à prossecução dos cuidados.
Serão clarificados os objectivos do programa de ensino, tal como os conhecimentos
e procedimentos que irão ser trabalhados. Deverá ser acordada a frequência das
sessões e perspectivado o início do tratamento ou o momento em que a DP já será
realizada de forma independente.

- Noções gerais de DP. Ao iniciar a aprendizagem de uma técnica substitutiva, será


importante identificar essa necessidade no contexto da DRCT e das manifestações
da própria doença. Incluem-se aqui, de forma simplificada, os mecanismos pelos
quais se conseguem remover do organismo as toxinas e os fluídos em excesso,
com os benefícios daí decorrentes, bem como as noções de infusão, permanência
e drenagem. Poderá ser adequado explicar a diferença entre as várias soluções de
diálise prescritas.

- Manutenção da assepsia e prevenção da infecção. Existem alguns conceitos


essenciais à aprendizagem das técnicas de DP. Desta forma, é fundamental
que a pessoa e família/cuidador identifique a diferença entre limpo, sujo, estéril,
contaminado e infectado. Incluem-se também aqui os ensinos relacionados com as
técnicas de higienização das mãos e com os cuidados de higiene em geral (higiene
corporal e do espaço onde o tratamento vai ser realizado).

- Procedimentos de DP manual. Deverão ser ensinados e treinados todos os


passos necessários. Partindo do tópico anterior, ao ser familiarizada com o material
necessário, a pessoa e família/cuidador já conseguirá compreender, por exemplo,
quais as superfícies que não podem ser tocadas e as áreas que, após a correcta
higienização das mãos, podem ser manipuladas.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 37


- Procedimentos de DP automática. Além do referido no tópico anterior, aplicam-
se aspectos específicos. Por exemplo, deverá ser treinada a desconexão de
emergência da máquina de diálise e facultado o respectivo material necessário.
Deverão também ser abordados os procedimentos a adoptar perante a ocorrência
dos principais alarmes, de falha de energia ou de avaria da cicladora. É aconselhável
que a pessoa e família/cuidador em DP automática esteja preparada para realizar
DP manual e disponha de material para este efeito.

- Cuidados com o orifício do catéter peritoneal. Após a cicatrização do orifício e


sendo possível o recurso a técnica limpa, poderá ser oportuno autonomizar a pessoa
e família/cuidador neste procedimento. Deverá ser enfatizada a correcta avaliação
do orifício, o que possibilitará identificar precocemente potenciais problemas, como
infecções ou traumatismos.

- Identificação de complicações. Durante a aprendizagem das técnicas de DP ou


em momentos específicos para o efeito, será necessário ensinar a pessoa e família/
cuidador a reconhecer as complicações mais frequentes. Estas poderão ser:
a) Complicações infecciosas, como a peritonite e a infecção do orifício do
catéter peritoneal. Incluem-se aqui outras complicações potencialmente
infecciosas, como a contaminação acidental ou a fractura do catéter, o
traumatismo do local de inserção do catéter e a ruptura das bolsas de diálise
ou dos tubos de circulação dos fluídos. A pessoa e família/cuidador deverá
também reconhecer a necessidade de realizar medidas profilácticas antes
de determinados procedimentos de diagnóstico ou terapêutica, como a
colonoscopia ou extrações dentárias.
b) Complicações mecânicas ou não infecciosas, como o pneumoperitoneu,
o hemoperitoneu, o aparecimento de fibrina, a disfunção do catéter e as
alterações da morfologia abdominal (por eventual hérnia ou fuga de efluente).

Em qualquer dos casos, pretende-se que a pessoa e família/cuidador, além de


prevenir possíveis complicações, esteja apta a identificá-las e a intervir de forma
adequada em cada uma delas.

- Realização de medições e registos. Além de efectuar DP em casa, é esperado


que a pessoa e família/cuidador registe alguns dados que permitem avaliar a
evolução da respectiva condição de saúde. São exemplo a medição da tensão
arterial, da frequência cardíaca, do peso e do volume removido em cada tratamento.
Por este motivo, a pessoa e família/cuidador deverá ser instruída a proceder às
respectivas avaliações e registos, da forma que se entender mais adequada para
cada situação específica.

- Agendamento de entregas de material de DP e logística associada. Para a


prossecução do tratamento, a pessoa e família/cuidador deve estar familiarizada
com as formalidades necessárias à manutenção das entregas de consumíveis.

38 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


Incluem-se aqui os procedimentos necessários para o agendamento de entregas
em férias. Todos os resíduos resultantes da realização do tratamento deverão ser
tratados de acordo com a legislação em vigor.

- Tratamento medicamentoso da DRC. Além dos aspectos relacionados com


a realização de DP, será necessário assegurar a correcta utilização de toda a
medicação prescrita e que poderá incluir: estimuladores da eritropoiese, quelantes
de fósforo, suplementos de cálcio e anti-hipertensores. Poderá também ser
necessário treinar a pessoa e família/cuidador para a administração de terapêutica
intraperitoneal.

- Alimentação e equilíbrio hídrico. A pessoa e família/cuidador deverá reconhecer


a importância do equilíbrio hídrico e identificar as consequências do consumo
excessivo de líquidos, agindo em conformidade. Deverão ser discutidas as práticas
alimentares mais adequadas para cada situação específica.

- Exercício físico e desporto. Deverá ser incentivada a prática moderada de


exercício físico. Em geral, é bastante saudável caminhar trinta minutos por dia.
No entanto, cada situação deverá ser analisada em particular. Alguns desportos
estão contra-indicados, como os que envolvem contacto físico (dado o risco
de traumatismo do orifício do catéter) ou os desportos aquáticos realizados em
piscinas (risco de infecção).

- Sexualidade. Durante o período de ensino, ou posteriormente, poderá ser necessário


discutir questões relacionadas com a alteração da imagem corporal ou com a
vivência da sexualidade. A utilização de métodos contraceptivos ou o tratamento da
disfunção eréctil são preocupações frequentes que não devem ser negligenciadas.
Outros aspectos poderão ser considerados.

A ordem pela qual o enfermeiro aborda cada tópico poderá variar de acordo com
as necessidades individuais de cada pessoa e família/cuidador. No entanto, o
princípio de transitar do mais simples para o mais complexo, bem como do de
menor para o de maior responsabilidade, deverá ser aplicado, (Figueiredo, et al
2016).

3.5.3 PROGRAMAS DE INTERVENÇÃO

Um programa formal e estruturado é o melhor método de preparar a pessoa e


família/cuidador para o autocuidado de uma doença crónica. O processo de
aprendizagem não deve consistir na mera transmissão de ideias para memorização,
estando recomendada a elaboração de um plano de ensino, (Bernardini et al., 2006).
Desta forma, são expectáveis ganhos em termos de abrangência, sistematização
e uniformização.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 39


Foi já documentado que a formalização de um programa de ensino em DP está
associada à melhoria de resultados que poderão incluir: redução de complicações
infecciosas, melhor equilíbrio hídrico, melhor adesão terapêutica e melhor eficácia
dialítica, (Hall et al., 2004; Nasso, 2006; Gadola et al., 2013).

Apesar disso, importa considerar que o conteúdo específico de uma intervenção


individualizada não pode ser determinado antes da interacção enfermeiro-pessoa
e família/cuidador, mas desenvolve-se em consequência dessa interacção,
(Suhonen, Välimäki, & Leino-Kilpi, 2008). Desta forma, torna-se necessário proceder
à avaliação contínua das estratégias usadas e proceder aos ajustes necessários.

Na elaboração do plano, quatro aspectos deverão ser contemplados: o que se


pretende ensinar, como se pretende fazê-lo, qual o resultado esperado e quando
se prevê ter esta aprendizagem realizada, (Riemann & Casal, 2009).

Partindo de um inquérito internacional e da literatura já publicada, foi proposto pela


ISPD um programa formal de ensino, que deverá ser considerado na elaboração
dos planos de cada unidade, (Figueiredo, A. et al, 2016). Ressalva-se que cada
local poderá proceder às adaptações decorrentes da sua realidade específica.

Os mesmos autores enfatizam a necessidade de, na educação da pessoa e família/


cuidador em DP, se considerarem os seis princípios da educação de adultos de
Knowles:
1. A motivação. A vontade que a pessoa e família/cuidador tem para aprender
deve ser incentivada;
2. A experiência de vida. O conhecimento que a pessoa e família/cuidador
mobiliza nas sessões de ensino deve ser tido em conta;
3. Os objectivos. A finalidade que orienta a aprendizagem deve ser claramente
definida;
4. A relevância. A importância do que se aprende deve ser reconhecida pela
pessoa e família/cuidador;
5. A prática. A aplicabilidade das aprendizagens deve ser conseguida com um
ensino tão simples e directo quanto possível;
6. O respeito. Uma relação de confiança e respeito mútuo deve ser estabelecida
durante o processo de aprendizagem.

No decorrer do processo de ensino, o enfermeiro poderá começar por introduzir


alguns conceitos e procedimentos, alternando demonstrações com o esclarecimento
de dúvidas. A supervisão de procedimentos e o feedback imediato é fundamental.

Na escolha das estratégias de ensino, deverão ser considerados os estilos de


aprendizagem preferenciais. Os recursos pedagógicos poderão incluir materiais
de fácil leitura, imagens, ilustrações, quadros, vídeos e equipamento para

40 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


manuseamento (catéteres, manequins, entre outros). A prática é muito importante. O
treino simulado permitirá ganhar confiança antes da pessoa e família/cuidador usar
o próprio catéter para efectuar tratamento. A criatividade do enfermeiro possibilitará
identificar outras estratégias, especialmente adaptadas a cada situação particular,
(Bernardini et al., 2006).

3.6 INTERVENÇÃO: IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO

Ao implementar o plano previamente estabelecido, avaliam-se os resultados


que são atingidos, (Dillon, 2007). Abordam-se de seguida alguns aspectos que
contribuem para o sucesso das intervenções.

3.6.1 INDIVIDUALIZAÇÃO DO ENSINO

Apesar da intervenção em grupo poder ser uma estratégia a considerar, está


recomendada a realização do ensino de forma individual, ou seja, uma pessoa e
família/cuidador por cada enfermeiro, (Bernardini et al., 2006).

Deverá ainda ser assegurada a continuidade do mesmo enfermeiro ao longo das


várias sessões de ensino. Pretende-se, assim, maior consistência nos processos
de comunicação essenciais à aprendizagem. Em cada sessão, a atenção do
enfermeiro deverá estar plenamente centrada nos aspectos do treino, (Figueiredo,
A. et al 2016).

3.6.2 OPTIMIZAÇÃO DO ESPAÇO

A educação da pessoa e família/cuidador em DP poderá ser realizada em contexto


hospitalar ou no próprio domicílio, (Figueiredo, A. et al 2016).

Em todo o caso, é indispensável assegurar uma correcta iluminação do espaço


e a existência de superfícies de trabalho apropriadas e lavatório. Todo o material
necessário, incluindo cadeiras, deverá estar facilmente acessível. Durante as
sessões, será prejudicial ocorrerem outras actividades simultaneamente, (Bernardini
et al., 2006). Deverão ainda ser minimizadas as demais barreiras ambientais à
aprendizagem, já discutidas.

Todas as medidas que garantam a máxima focalização de enfermeiro, pessoa e


família/cuidador nos processos de aprendizagem são importantes. Como exemplo,
deverão ser evitadas as interrupções causadas por chamadas telefónicas ou
movimentos de terceiros na sala.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 41


O domicílio será o local de eleição para a aprendizagem do tratamento, mas
também para a verificação e consolidação de conhecimentos e procedimentos.

De facto, tem sido descrita a importância da visita domiciliária. Idealmente realizada


pelo enfermeiro responsável pelo programa de ensino, possibilitará identificar e
minimizar factores de risco, adaptar o espaço à realização do tratamento, observar
os procedimentos aprendidos no hospital e avaliar a adesão terapêutica, (Farina,
2001).

Para a realização dos procedimentos de DP, o espaço deverá estar limpo e fechado.
Eventuais aparelhos de ar condicionado ou ventoinhas deverão estar desligados e
a presença de animais de estimação deverá ser impedida, (Piraino et al., 2011).

O domicílio como local privilegiado para a realização do treino está já documentado,


estando associado à redução das taxas de peritonite, seja nas situações em que
é realizado na íntegra no domicílio, (Castro et al., 2002), seja nos casos em que
é efectuado como complemento do trabalho decorrido em contexto hospitalar,
(Nasso, 2006; Nayak et al., 2007). Uma revisão narrativa da literatura reforçou esta
evidência, (Schaepe & Bergjan, 2015).

De acordo com a ISPD, a visita domiciliária deve fazer parte dos cuidados à pessoa
e família/cuidador em DP, apesar de não estar definida a sua periodicidade,
(Bernardini et al., 2006).

3.6.3 DURAÇÃO DO PROGRAMA

A duração do ensino está dependente do cumprimento dos objectivos estabelecidos,


(Bernardini et al., 2006).

Têm sido reportados programas de ensino com a duração de 8 a 40 horas. Alguns


estudos sugerem que idosos, pessoas com comorbilidade ou com baixo nível
educacional parecem ser mais vulneráveis, necessitando de mais tempo para
adquirir capacidades de autocuidado e estando mais susceptíveis de desenvolver
infecções relacionadas com a DP, (Schaepe & Bergjan, 2015). O enfermeiro
responsável pelo programa de ensino deverá considerar estes aspectos, no sentido
de antecipar potenciais problemas e assegurar as intervenções necessárias.

Está recomendada a realização do treino em dias consecutivos, devendo ser


evitadas interrupções superiores a 48 horas. Em cada dia de ensino, deverão ser
realizados intervalos entre as sessões, respeitando o ritmo de aprendizagem. Cada
sessão deverá ter uma duração razoável, não superior a 30 minutos, (Figueiredo,
A. et. al, 2016).

42 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


3.7 A AVALIAÇÃO FINAL: O REINÍCIO DO PROCESSO

Para a obtenção dos melhores resultados, torna-se necessário questionar


continuamente a efectividade das intervenções realizadas. A avaliação pode ser o
ponto de partida para o reinício do processo de enfermagem, (Dillon, 2007).

3.7.1 ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO

O início autónomo da DP deve ser antecedido por um processo de avaliação que


deve validar o cumprimento dos objectivos estabelecidos. Não estão preconizadas
estratégias específicas de avaliação.

No decurso do programa de ensino e através da interpelação da pessoa e família/


cuidador, será possível avaliar a sua compreensão de conceitos, a capacidade
para identificar problemas, bem como a aptidão necessária para adoptar medidas
adequadas perante complicações. Todos os procedimentos treinados deverão
ser observados até serem realizados de forma adequada. De acordo com as
recomendações mais recentes da ISPD, a elaboração e aplicação de um teste (oral
ou escrito) não é obrigatória, (Figueiredo, et.al, 2016).

3.7.2 O REENSINO E A CONSOLIDAÇÃO DOS PROCESSOS DE


APRENDIZAGEM

Após o início da DP, importa garantir que todos os procedimentos são continuamente
realizados conforme foram ensinados e que a pessoa e família/cuidador permanece
apta a gerir os aspectos relacionados com o tratamento.

É fundamental assegurar que os objectivos que validaram o início do tratamento


continuam a ser respeitados. Para isso, será determinante identificar eventuais
problemas de adesão terapêutica e proceder aos reensinos necessários.

A este nível, um estudo concluiu que, após 33 meses em tratamento, 47% das
pessoas em DP necessitavam de reensino. Essa necessidade foi identificada
através de um questionário e pela observação de incorrecções na realização de
procedimentos, (Russo et al., 2006). Outro estudo concluiu que 6 meses após
o início do tratamento, cerca de metade das pessoas em DP ou não lavavam
as mãos, ou não verificavam a data de validade das bolsas de diálise, ou não
inspeccionavam a existência de fugas no equipamento. Cerca de 10% não usavam
máscara, (Dong & Chen, 2010).

O reensino é uma oportunidade para prevenir complicações. Deve contemplar


a realização de procedimentos, o reconhecimento de situações de quebra da

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 43


assépsia e respectivas medidas a adoptar, bem como a identificação de sinais
e sintomas de peritonite. Durante o reensino, é também possível identificar o
aparecimento de limitações na capacidade funcional (física, cognitiva ou sensorial),
porventura inexistentes à data do treino inicial, (Piraino et al., 2011).

De acordo com a ISPD, o reensino deve ser realizado:


a) de forma periódica, 3 meses após o treino inicial e posteriormente, pelo
menos uma vez por ano, (Piraino et al., 2011);
b) após as seguintes complicações ou intercorrências: peritonite, infecção do
orifício do catéter peritoneal, hospitalização prolongada, interrupção temporária
da DP, mudança de equipamento (por exemplo para outro fornecedor),
alterações da visão, destreza ou cognição, (Li et al., 2016).

Desta forma, promove-se a consolidação dos processos de aprendizagem, mesmo


após um treino bem-sucedido ou na ausência de complicações.

44 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


04
DOTAÇÕES SEGURAS
DE ENFERMAGEM NA
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS
ESPECIALIZADOS

GUIA ORIENTADOR
DE BOAS PRÁTICAS (GOBP)
4. DOTAÇÕES SEGURAS DE
ENFERMAGEM NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS ESPECIALIZADOS
A noção de competência caracteriza-se por ser um conceito amplo, sendo por
vezes utilizado para designar conhecimentos, aptidões, capacidades, atitudes,
tarefas ou saber-fazer. Aparece assim, na maioria das vezes, associada a verbos
como agir, mobilizar, aprender, comunicar, comprometer, responsabilizar, educar
e apresentar visão estratégica. Assenta no modelo dos saberes: saber-fazer, saber-
ser e saber-saber, (Dutra, Fleury & Ruas, 2008).

4.1 FORMAÇÃO DOS ENFERMEIROS PARA A PRESTAÇÃO


DE CUIDADOS À PESSOA COM DOENÇA RENAL CRÓNICA
EM DIÁLISE PERITONEAL
As intervenções de enfermagem à pessoa com DRC em programa de DP são
realizadas por titulares da licenciatura em enfermagem ou equivalente legal, com o
título profissional de enfermeiro atribuído pela OE, (Ordem dos Enfermeiros, 2015).

Recomenda-se que os serviços/unidades caminhem no sentido de que,


tendencialmente, os enfermeiros possuam competências específicas do Enfermeiro
Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica (EEEMC) no geral e em particular
na área de Enfermagem à Pessoa em Situação Crónica, 35% dos elementos da
equipa.

Em face do contexto específico da intervenção do enfermeiro em Técnicas de


Substituição da Função Renal (TSFR), nomeadamente a elevada complexidade, a
exigência e os riscos associados ao tratamento dialítico, os cuidados de enfermagem
especializados devem ser contínuos, que podem ser oferecidos quer em ambiente
hospitalar, domiciliar e comunitário. Incidem sobre a prevenção da doença, a
promoção do estilo de vida, a promoção de processos de adaptação e de adesão
ao regime terapêutico, de modo a capacitar a pessoa, família e cuidador para a
vivência da doença crónica e redefinição de um projecto de saúde, de acordo com
as implicações da doença na pessoa e qualidade de vida, nomeadamente:
• Cuida da pessoa e família/cuidadores a vivenciar a doença crónica:
• Identifica as necessidades da pessoa, família e cuidadores assegurando
a prevenção, a detecção precoce, a estabilização, a manutenção e
adaptação à doença crónica;
• Promove intervenções especializadas, junto da pessoa, família/cuidador,

46 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


tendo como objectivo a facilitação do processo de transição saúde/
doença decorrente da doença crónica;
• Lidera o desenvolvimento de procedimentos de prevenção, intervenção e
controlo de infecção associados aos cuidados de saúde e de resistência
a antimicrobianos;
• Avalia os resultados com base nas respostas da pessoa, família e
cuidadores a vivenciar doença crónica.
• Maximiza o ambiente terapêutico em articulação com a pessoa e família/
cuidadores a vivenciar a doença crónica.
• Gere os processos terapêuticos em resposta à transição situacional e
adaptação à doença crónica;
• Gere as circunstâncias ambientais que potenciam a ocorrência de
eventos adversos associados à administração de processos terapêuticos
nos diversos contextos de actuação;
• Promove estratégias inovadoras de prevenção do risco clínico e não
clínico, visando a cultura de segurança, nos vários contextos de actuação.

Dada a especificidade do contexto de intervenção do enfermeiro, na área específica


da nefrologia e particularmente, na execução das técnicas dialíticas, enquanto
modalidades de tratamento substitutivo da função renal, propomos ainda em
complementaridade as competências adoptadas pela EDTNA/ERCA, (Chamney,
2007):
• Apoiar a pessoa submetida a DP;
• Preparar e iniciar a DP;
• Prestar cuidados específicos à pessoa em DP;
• Promover ensino/educação à pessoa em DP;
• Administrar medicamentos em contexto de cuidados à pessoa em DP;
• Apoiar a pessoa na sua transferência da DP para a HD;
• Demonstrar capacidade de liderança nos cuidados de enfermagem no
contexto da DP.

4.2 COMPETÊNCIAS DIFERENCIADAS NA PRESTAÇÃO DE


CUIDADOS À PESSOA/FAMÍLIA E CUIDADORES EM DIÁLISE
PERITONEAL

A formação inicial específica na técnica da DP deve estar de acordo com as


normas em vigor e dando resposta à legislação que define os requisitos para o
funcionamento das unidades de diálise nomeadamente o Decreto-Lei Nº 279/2009.

Recomendamos que a formação do enfermeiro numa unidade de DP deva ser de


pelo menos 12 semanas de instrução incluindo um período de 6 a 8 semanas,
com supervisão e observação de um enfermeiro especialista com competências

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 47


técnico-científicas e pedagógicas em DP. A orientação deve ser realizada por
um enfermeiro reconhecido pela organização, como possuindo competências
científicas e pedagógicas para o efeito e a sua duração deve ser no mínimo de 420
horas, (Portaria nº347/2013).

Este programa de formação deve incluir duas componentes: uma teórica e outra
prática, conforme conteúdos incluídos no Apêndice A.

A formação inicial específica na técnica DP deve ser progressivamente


assegurada e certificada por uma entidade acreditada para a formação na área de
enfermagem. A formação contínua constitui-se como um elemento relevante para
o desenvolvimento profissional do enfermeiro. O serviço/unidade deverá ter um
papel determinante na persecução deste desiderato, assegurando um processo
formativo contínuo através de um departamento de formação e/ou por uma equipa
responsável pela formação em serviço. A formação em serviço deverá estar de
acordo com os seguintes requisitos:
• A unidade/serviço deve nomear um enfermeiro especialista em enfermagem
médico-cirúrgica preferencialmente na área de enfermagem da pessoa em
situação crónica, responsável pela formação em serviço;
• A formação deve ser assegurada por profissionais qualificados e com
competências científicas e pedagógicas;
• A oferta formativa deve decorrer do diagnóstico das necessidades individuais
de formação dos enfermeiros;
• A carga horária de formação por enfermeiro deve ser, no mínimo, de 20 horas
por ano.

Na prática clínica diária no contexto da unidade de DP, o enfermeiro cuida do


indivíduo numa perspectiva holística mantendo a sua atenção centrada nos
diferentes domínios da prática profissional, ética e legal, na prestação e gestão
de cuidados e no desenvolvimento profissional, individual e colectivo, devendo
estar preparado em conhecimentos, competências e habilidades que lhe permitam
gerir os problemas de saúde resultantes da DRC, tanto para as próprias pessoas,
como para os seus significativos, incluindo as necessidades da comunidade,
proporcionando a aprendizagem, reflexão e desenvolvimento de práticas
profissionais avançadas, conducentes à melhoria continua dos cuidados de
enfermagem prestados à pessoa, com alteração da função renal, incluindo a sua
família/cuidador e comunidade. A prática clínica diária no contexto da unidade de
DP tem como principais objectivos:
• Informar, preparar, treinar e prestar cuidados assistenciais em contexto de
ambulatório e internamento à pessoa em tratamento de DP nas suas diferentes
modalidades;
• Promover a educação/sensibilização da pessoa, prevenindo complicações e
optimizando o tratamento;

48 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


• Organizar, desenvolver e colaborar em investigações como contributo para o
desenvolvimento da enfermagem;
• Efectuar de forma sistemática, a colheita de dados e a formulação do plano
de cuidados; definir e estabelecer prioridades; identificar os resultados
esperados e o intervalo de tempo para serem atingidos; documentar o plano
de cuidados; implementar e documentar a implementação das intervenções
de enfermagem; avaliar e documentar a evolução; utilizar os dados da
avaliação para alterar o plano de cuidados; comunicar informações relevantes
garantindo a continuidade dos cuidados de enfermagem.

4.3 PLANO DE FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS EM DIÁLISE


PERITONEAL

A EDTNA/ERCA (2016) definiu linhas orientadoras, a ter em conta na aquisição de


competências dos enfermeiros que trabalham nesta área específica:
• Deter conhecimentos específicos relacionados com a técnica de DP, como por
exemplo, diferentes modalidades, procedimentos associados, adequação de
diálise;
• Informar, incentivar e treinar a pessoa e/ou família na autogestão na CAPD e na
DPA;
• Preparar a pessoa para realizar diálise domiciliária com segurança e conforto.

Tudo isto requer que o formador desenvolva novas habilidades e entenda as


complexidades da aprendizagem de pessoas urémicas adultas consignando-se
como uma componente central de um programa de DP bem-sucedido.

A formação da pessoa em DP deve ser feita de acordo com as diferentes áreas de


competência clínica. O enfermeiro assume um papel fundamental neste processo,
devendo ter boa capacidade de comunicação, ser inovador e consistente e
acreditar firmemente no autocuidado da pessoa.

4.4 DOTAÇÕES DE ENFERMEIROS NAS UNIDADES DE


DIÁLISE PERITONEAL

O cálculo das dotações seguras em pessoal de Enfermagem deve obedecer à


«Norma para o cálculo de dotações seguras dos cuidados de Enfermagem»,
aprovada pela Ordem dos Enfermeiros. De acordo com a mesma norma, «o número
de enfermeiros por unidade de diálise deve ser ajustado à realidade de cada
organização, de acordo com as actividades de Enfermagem realizadas, registadas
e contabilizadas». Deve ser ponderado o cálculo do «número de enfermeiros para

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 49


tratamento de doentes com necessidades especiais, nomeadamente portadores
de doenças infectocontagiosas, de acordo com a legislação em vigor».
• Cada unidade deverá ter no mínimo um enfermeiro especialista na área da
médico-cirúrgica, preferencialmente na área de enfermagem à pessoa em
situação crónica.
• Devem existir políticas orientadoras claras sobre a definição do número de
enfermeiros face à necessidade de cuidados de enfermagem, recorrendo
preferencialmente a indicadores sensíveis à carga de trabalho do enfermeiro,
e resultados associados aos cuidados de enfermagem ajustados a este
contexto clínico.
• Não existindo evidência documentada, recomenda-se o acréscimo de um
enfermeiro por cada 25 doentes adicionais do programa da unidade, sendo
que o número mínimo de enfermeiros do programa não pode ser inferior a dois.

50 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


05
INDICADORES DE
QUALIDADE SENSÍVEIS AOS
CUIDADOS DE ENFERMAGEM

GUIA ORIENTADOR
DE BOAS PRÁTICAS (GOBP)
5. INDICADORES DE QUALIDADE
SENSÍVEIS AOS CUIDADOS DE
ENFERMAGEM
A excelência do exercício profissional dos enfermeiros é considerada como um
dos factores que contribui para a qualidade em saúde. A informação resultante dos
cuidados de enfermagem e a sua correcta gestão permitem avaliar os ganhos em
saúde para a população, (Ferreira e Amendoeira, 2015).

No Sistema de Saúde tem surgido a preocupação em compreender a contribuição


dos enfermeiros no processo de trabalho que é esperado para melhorar o
desempenho, reduzir os custos e optimizar os resultados do atendimento à pessoa
em situação de doença crónica.

Na diálise peritoneal, existem indicadores que são reconhecidos nacionalmente


e internacionalmente e maioritariamente estão relacionados com indicadores
clínicos, como a eficácia dialítica e as infecções relacionadas com o acesso
peritoneal, (Ordem dos Médicos, 2017). O grande desafio para o grupo de trabalho
foi definir os indicadores de qualidade para o contexto da prática de cuidados
de enfermagem à pessoa em DP, de modo a evidenciá-los e compreender a sua
influência na saúde das populações.

Os indicadores de qualidade de enfermagem reflectem a forma como os enfermeiros


contribuem para a saúde da população e como planeiam, actuam e avaliam a sua
acção profissional e processo de decisão autónoma. A avaliação da qualidade
dos cuidados de enfermagem tem de conseguir responder à complexidade,
especificidade, diversidade, intensidade e muitas vezes, intangibilidade, dos
cuidados, além de superar a sua dependência contextual e influência interactiva
da estrutura, do processo e dos resultados de todo o projecto de cuidados, (Ordem
dos Enfermeiros, 2004).

No geral, existem três formas principais que os indicadores podem ser usados para
avaliar os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem:

• Os indicadores podem ser usados para fins de melhoria da qualidade em


configurações aplicadas para monitorizar o desempenho e o progresso e para
apoiar a tomada de decisões baseada em evidências.
• Os indicadores podem ser usados para apoiar uma análise política
informada relacionada aos requisitos regulatórios ou de credenciamento, ao
desenvolvimento da força de trabalho e ao reembolso.

52 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


• Os indicadores podem ser usados para pesquisar o papel do cuidado de
enfermagem na determinação dos resultados de segurança da pessoa
examinando as relações estrutura-resultado, processo-resultado e estrutura-
processo-resultado.

Por outra forma, os indicadores devem contemplar a estrutura (medir aspectos


relativos aos recursos materiais disponíveis para a assistência, os recursos
humanos e as características organizacionais), o processo (referente à prestação
de cuidados) e os resultados (ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de
enfermagem), (OE, 2007a; Pereira, 2009).

O enfermeiro especialista é o profissional mais capacitado para o acompanhamento


deste tipo de informação produzida, pela acção dinamizadora no desenvolvimento
e suporte das iniciativas estratégicas e também porque deve envolver-se em
projectos institucionais na área da avaliação da qualidade dos cuidados em
enfermagem. Cuidados de enfermagem de excelência traduzem-se em ganhos de
saúde para as populações.

I – Estrutura
Sem prejuízo da produção de outros, definimos os tipos de indicadores nesta
componente da forma de seguida descrita.

E1 – Presença de instrumento de avaliação da satisfação da pessoa / família


Definição: Adoptar a definição da escala a utilizar.

E2 – Total de horas de cuidados de enfermagem, por dia, por pessoa em DP


Definição: Consiste no número de horas de cuidados de enfermagem que
efectivamente foram prestados em cada dia a cada pessoa em programa de DP.
Excluem-se os tempos regulamentares legalmente estipulados dos profissionais.

E3 – Taxa de combinação de pessoal de enfermagem


Definição: Consiste na determinação da adequada combinação de recursos
humanos (enfermeiros com diferentes níveis de competências e de necessidades
de supervisão) nas equipas em cada turno.

E4 – Satisfação da pessoa em DP com as informações de enfermagem recebidas


Definição: Adoptar a definição da escala a utilizar.

II – Processo
Os indicadores ora apresentados não pretendem ser tão pouco exclusivos, pelo
que podem e devem ser produzidos outros de forma a completar o conhecimento.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 53


P1 – Gestão dos recursos materiais a utilizar na pessoa em DP
Definição: Consiste na relação entre o número total de casos documentado de
alteração no fluxo de actividade de reposição de materiais e o universo do fluxo
de actividade de reposição de materiais, em ambos os casos em pessoas em DP.

P2 – Taxa de efectividade diagnóstica do risco em pessoas em DP


Definição: Consiste na relação entre o número total de casos que desenvolveram
determinado problema ou complicação, com risco previamente documentado e o
universo de casos que desenvolveram esta mesma ocorrência, no mesmo período
de tempo, em ambos os casos em pessoas em DP.

III – Resultados
Consideram-se os seguintes indicadores de resultado, sensíveis aos cuidados de
enfermagem.

R1 – Taxa de efectividade de higiene pessoal


Definição: Consiste na relação entre o número total de casos que apresentam
alteração no padrão higiene pessoal previamente documentado e o universo de
pessoas em programa de DP, que quando multiplicado por 100 devolva um valor
em percentage no mesmo período temporal.

R2 – Taxa de incidência da exteriorização de catéter peritoneal


Definição: Consiste na relação entre o número total de pessoas com exteriorização
do catéter peritoneal e o universo de pessoas com catéter peritoneal que em ambas
as situações estejam integrados num programa de DP, que quando multiplicado
por 100 devolva um valor em percentagem, no mesmo período temporal.

R3 – Taxa de Infecção do Orifício de Saída do catéter (IOS)


Definição: Consiste na relação entre o número total episódios de IOS documentados
em pessoas com catéter peritoneal inseridas num programa de DP e o universo
de pessoas com catéter peritoneal inseridas num programa de DP, que quando
multiplicado por 100 devolva um valor em percentagem, no mesmo período
temporal.

R4 – Taxa de Peritonites
Definição: Consiste na relação entre o número total de peritonites documentadas
em pessoas com catéter peritoneal inseridas num programa de DP e o universo
de pessoas com catéter peritoneal inseridas num programa de DP, que quando
multiplicado por 100 devolva um valor em percentagem, no mesmo período
temporal.

R5 – Índice de satisfação das pessoas em programa de DP


Definição: Consiste na avaliação por instrumento de recolha de informação com

54 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


uma estrutura que tem por base um modelo de satisfação da pessoa compatível
com o ACSI – American Consumer Satisfaction Index.

R6 – Taxa de prevalência de complicações da pessoa em DP


Definição: consiste na relação entre o número total de casos de ocorrência de
determinado foco/complicação durante um determinado período ou momento de
tempo e o universo de pessoas nesse período em ambos os casos em programa de
DP, que quando multiplicado por 100 devolva um valor em percentagem.

R7 – Taxa de efectividade na prevenção de complicações da pessoa em DP


Definição: consiste na relação entre o número total de casos com risco
documentado de um determinado problema ou complicação – que acabaram
por não desenvolver a complicação e tiveram, pelo menos, uma intervenção de
enfermagem implementada e o universo dos casos que tiveram previamente
documentado o risco deste mesmo problema ou complicação, no mesmo período
de tempo, que quando multiplicado por 100 devolva um valor em percentagem, em
ambos os casos na população de pessoas em DP.

R8 – Modificações positivas no estado dos diagnósticos de enfermagem (reais)


da pessoa em DP
Definição: Consiste na relação entre o número total de casos que resolveram
um determinado fenómeno/diagnóstico de enfermagem, com intervenções de
enfermagem implementadas e o universo dos que apresentaram este fenómeno/
diagnóstico, no mesmo período temporal, em ambos os casos na população de
pessoas em DP.

R9 – Taxa de consultas de enfermagem agendadas e não realizadas por falta


da pessoa em DP
Definição: Consiste na relação entre o número de consultas de enfermagem
agendadas e não realizadas por falta da pessoa em DP e o número de consultas
de enfermagem agendadas, no mesmo período temporal, que quando multiplicado
por 100 devolve um valor em percentagem. A consulta de enfermagem deve conter
pelo menos um novo [diagnóstico de enfermagem] e o registo de pelo menos
uma [intervenção de enfermagem]. Em alternativa devem conter pelo menos um
[diagnóstico de enfermagem] activo e pelo menos um novo registo de [intervenção
de enfermagem].

R10 – Taxa de adesão à técnica de DP


Definição: Consiste na relação entre o número total de casos de não execução
de sessões da técnica dialítica e o número total previsto de sessões de técnica
dialítica previstas, para o mesmo indivíduo em programa de DP, no mesmo período
temporal, que quando multiplicado por 100 devolva um valor em percentagem.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 55


Os enfermeiros desempenham um papel central no atendimento direto à pessoa
e na vigilância de segurança da prestação de cuidados. Esse papel sugere a
necessidade de consenso sobre um conjunto básico de medidas que podem ser
usadas para monitorizar as práticas seguras e orientar as decisões de alocação de
recursos que afetam os resultados das pessoas em nosso sistema de saúde.

Consideramos que os indicadores apresentados são os mínimos necessários para


obter uma compreensão por um lado da monitorização da prática de enfermagem
quando são feitas mudanças no processo de cuidado e por outro na monitorização
dos relacionamentos entre os resultados de estrutura, resultado de processo e os
ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem.

56 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


CONSIDERAÇÕES FINAIS

GUIA ORIENTADOR
DE BOAS PRÁTICAS (GOBP)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Guia Orientador de Boas Práticas pretende registar as linhas fundamentais
do exercício prático da enfermagem no âmbito da diálise peritoneal. Por si só será
sempre um produto inacabado embora seja fruto do que existe publicado até ao
momento da sua publicação, é pela sua condição temporal um documento sujeito
a actualizações.

A diálise peritoneal (DP) é uma terapia de substituição renal válida, incorporada


num programa global de tratamento integrado para pessoas com doença renal
em estágio terminal. Apesar disso, a DP ainda não foi estabelecida como uma
modalidade de diálise de longo prazo.

Este manual prático oferece uma atualização de conteúdos técnicos, bem


como informações detalhadas sobre praticamente todos os aspectos clínicos e
patofisiológicos da DP num formato de fácil acesso e explica as complexidades da
DP de forma clara, mas ainda assim científica e abrangente.

O nível de assistência necessário para apoiar adequadamente as pessoas em DP


e suas famílias é altamente variável. As pessoas sempre exigem o número máximo
de visitas e o apoio pode ser temporário. Foi aqui esboçado várias considerações
logísticas importantes ao iniciar um programa de DP. Programas bem-sucedidos
precisam desenvolver um processo rigoroso para identificar os candidatos
apropriados, treinar e monitorizar uma massa crítica de enfermeiros e acompanhar
os resultados das pessoas tratadas com essa forma de terapia.

Relativamente aos indicadores de qualidade sensíveis aos cuidados de


enfermagem, o que se pretende é que sejam entendidos como medidas usadas
para ajudar a diagnosticar uma situação existente, avaliar mudanças ou tendências
ao longo de um período de tempo e avaliar qualitativamente e quantitativamente as
ações de saúde. Pretende-se que a gestão da informação assistencial seja uma
parte importante dos processos de gestão da qualidade do cuidado, pois depende
e impacta em todas as atividades desenvolvidas nas instituições de saúde.

Este Guia Orientador de Boas Práticas acolheu os contributos dos enfermeiros


peritos nomeados a par das orientações técnicas normativas emitidas pelas
entidades competentes para o efeito. Só o contributo de todos os peritos da área na
actualização e revisão deste Guia permitirá o desenvolvimento de uma ferramenta
completa para o desenvolvimento de uma área de enfermagem assente no cuidado
humano baseado na evidência científica, contribuindo para os ganhos em saúde
das nossas populações.

58 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


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GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 67


APÊNDICE A – PLANO DE
FORMAÇÃO ENFERMEIROS
EM DIÁLISE PERITONEAL

GUIA ORIENTADOR
DE BOAS PRÁTICAS (GOBP)
PROGRAMA DE FORMAÇÃO PARA ENFERMEIROS DE NEFROLOGIA SOBRE A
TÉCNICA DE DIÁLISE PERITONEAL (DP).

Tipologia Conteúdos/Áreas temáticas


Componente teórica • Avaliação de pessoas para diálise peritoneal crónica e
selecção de modalidade
• Manifestações clínicas e diagnóstico de peritonite em
diálise peritoneal
• Peritonite fúngica na diálise peritoneal
• Indicações para o início da diálise na doença renal
crónica
• Microbiologia e terapia de peritonite em diálise peritoneal
• Modalidades para o diagnóstico de defeitos abdominais
e da cavidade torácica em pacientes em diálise
peritoneal
• Complicações não infecciosas de diálise peritoneal
contínua
• Complicações não infecciosas de catéteres de diálise
peritoneal
• Factores de risco e prevenção de peritonite na diálise
peritoneal
• Colocação e manutenção do catéter de diálise peritoneal
• Solutos na diálise peritoneal
• Infecções do túnel e do local de saída do catéter
peritoneal na diálise peritoneal
• Hérnias abdominais em diálise peritoneal contínua
• Gestão de regime terapêutico
• Programas de educação da pessoa / cuidador com DRC
Componente prática • Preparação dos diferentes equipamentos para a
realização da DP
• Cuidados antes de iniciar a sessão de DP
• Ligar/conectar a pessoa ao equipamento e iniciar a
sessão de DP
• Monitorizar o curso de uma sessão de DP
• Resolução de incidentes durante o tratamento
• Desligar/concluir a sessão de DP
• Administração de terapêutica Intraperitoneal;
• Avaliação de parâmetros fisiológicos e da situação da
pessoa
• Colheita de produtos para análise em DP
• Registos relativos ao tratamento e aos incidentes
durante o tratamento
• Comunicação e educação da pessoa com DRC durante
a sessão de DP.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 69


COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO DE NEFROLOGIA EM DIÁLISE PERITONEAL

1. COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO DE NEFROLOGIA EM DIÁLISE


PERITONEAL

Descrição da Critérios de avaliação


competência
Esta competência a) Identifica todo o material para DP e os componentes da
revela a forma máquina de DP;
como se trabalha b) Testa o funcionamento da máquina de DP para garantir
com a pessoa com a segurança do tratamento;
DRC em programa c) Monta o equipamento necessário para uma sessão de
de DP. Inclui as DP, de acordo com as orientações do fabricante;
diferentes etapas de d) Conhece as diferentes soluções para DP;
uma sessão típica e) Compreende os princípios de DP;
de DP: f) Compreende o conceito de peso seco;
g) Consulta os registos da pessoa e o plano de DP;
h) Utiliza a solução de DP correcta;
i) Avalia o peso e os sinais vitais antes de iniciar
o tratamento, comunicando ao clínico da equipa
multidisciplinar os dados anormais;
j) Demonstra conhecimento e capacidades no cuidado
à pessoa antes e após a inserção do catéter de
Tenchkoff;
k) Demonstra conhecimento e capacidades de avaliação e
de realização do penso da ferida;
l) Comunica abertamente com a pessoa para ouvir
quaisquer preocupações ou preferências em relação à
DP;
m) Avalia com precisão o volume e características do
ultrafiltrado;
n) É capaz de discutir e implementar diferentes técnicas
com base na avaliação da pessoa;
o) Identifica contra-indicações para o tratamento e sugere
medidas para as resolver; Elabora registos precisos,
com informação e conselhos dados e as intervenções
tomadas

70 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


2. PREPARAR E INICIAR A DP

Descrição da Critérios de avaliação


competência
Esta competência a) Mantém a dignidade da pessoa;
refere-se à b) Identifica o tipo de catéter peritoneal;
preparação, c) Prepara o material para o tratamento;
ao início e à d) Inicia o tratamento, utilizando técnica asséptica
monitorização da conforme protocolo da unidade;
diálise peritoneal. e) Reconhece os sinais e sintomas de infecção e toma as
Inclui a DPCA e a medidas adequadas;
DPA em todas as f) Adopta as medidas de prevenção e controlo de
suas formas. infecção prescritas (assepsia; equipamento de
protecção indivídual);
g) Demonstra conhecimento sobre a peritonite e suas
causas;
h) Demonstra habilidade para recolha de amostras
para exames complementares de diagnóstico,
nomeadamente o TEP;
i) Informa a pessoa das actividades que estão a ser
realizadas, satisfazendo a sua necessidade de
informação e preocupações.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 71


3. PRESTAR CUIDADOS ESPECÍFICOS À PESSOA EM DP;

Descrição da Critérios de avaliação


competência
Esta competência a) Demonstra conhecimento sobre a educação à pessoa
refere-se aspectos acerca dos cuidados com o catéter peritoneal;
adicionais que b) Envolve a pessoa no tratamento, respeitando os seus
a pessoa possa desejos;
necessitar no seu c) Demonstra conhecimento dos parâmetros da máquina
cuidado. de DP e toma as medidas apropriadas;
a) Reconhece as complicações da DP (hipotensão,
cãibras, dor, circuito obstruído, desconforto, entre
outros) e actua adequadamente;
b) Interpreta correctamente os alarmes da máquina de DP
e toma as medidas adequadas;
c) Actua se o fluxo de e para a cavidade peritoneal não
está dentro dos limites de orientação e reporta ao
responsável da equipa multidisciplinar;
d) Regista incidentes e informações que surgem durante
o processo;
a) Desliga a pessoa do circuito de DP em conformidade
com as normas da unidade;
b) Mantém a assepsia ao desconectar o catéter
peritoneal;
c) Remove todo o circuito externo de DP com segurança
para minimizar o desconforto da pessoa e preservar o
catéter peritoneal;
d) Avalia o estado fisiológico da pessoa após a DP;
e) Assegura o encerramento do catéter peritoneal com
segurança;
f) Regista os parâmetros vitais, o peso do final da sessão
e os resultados anormais;
g) Identifica qualquer sinal ou comportamento que sugira
uma reacção adversa e toma as medidas adequadas;
h) Elimina os resíduos de acordo com as normas do
controlo de infecção e da unidade;
i) Supervisiona a limpeza do equipamento;
j) Regista as informações relevantes.

72 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


4. PROMOVER ENSINO/EDUCAÇÃO À PESSOA E FAMÍLIA/CUIDADOR EM DP

Descrição da Critérios de avaliação


competência
Esta competência a) Demonstra conhecimento e compreensão dos
refere-se ao princípios de ensino e de aprendizagem;
envolvimento no b) Demonstra conhecimento na avaliação da pessoa
ensino e treino da antes do ensino;
pessoa em diálise c) Sabe planear e implementar o ensino à pessoa em DP;
peritoneal. d) Avalia o ensino feito à pessoa de acordo com a sua
eficácia e seguimento;
e) Demonstra bons conhecimentos e compreensão dos
obstáculos à aprendizagem;
f) Sabe treinar a pessoa ou cuidador na realização de
DPCA ou DPA e na realização do penso do orifício de
saída do catéter.

5. ADMINISTRAR MEDICAMENTOS EM CONTEXTO DE CUIDADOS À PESSOA


EM DP

Descrição da Critérios de avaliação


competência
Esta competência a) Administra a medicação prescrita de acordo com as
refere-se à normas da unidade;
importância b) Conhece os efeitos colaterais da medicação que
de aspectos administra e as acções adequadas a tomar;
relacionados com c) Regista a medicação que administra e notifica
a medicação, que possíveis reacções adversas.
a pessoa possa
necessitar no seu
cuidado.

GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 73


6. APOIAR A PESSOA NA SUA TRANSFERÊNCIA DA DP PARA A HD

Descrição da Critérios de avaliação


competência
Esta competência a) Está preparado para ajudar na transição para a
refere-se à hemodiálise;
transferência da b) Obtém informação sobre os interesses da pessoa
DP para a HD. e as circunstâncias em que vive (por exemplo, área
A transferência de residência, condições do domicílio, pessoas
pode ser feita de dependentes, emprego ou mobilidade);
forma planeada c) Identifica, discute e avalia as vantagens e as
com a pessoa/ desvantagens da transferência para outra técnica de
cuidador como tratamento;
participante activo d) Facilita a visita da pessoa à nova unidade de HD e
ou como resultado avalia a impressão da pessoa e da unidade receptora;
de uma situação de e) Organiza o processo de avaliação e o plano de
emergência. transferência, com a equipa multidisciplinar;
f) Promove a transferência segundo o acordo
estabelecido, comunicando o plano e tratamento à
unidade de HD receptora;
g) Assegura as condições para a transferência (data,
hora, quem irá receber a pessoa).

7. DEMONSTRAR CAPACIDADE DE LIDERANÇA NOS CUIDADOS DE


ENFERMAGEM NO CONTEXTO DA DP

Descrição da Critérios de avaliação


competência
Esta competência a) Demonstra óptimas capacidades de gestão do tempo,
refere-se ao dando prioridade ao cuidado;
contexto da prática b) Demonstra ser um líder eficiente e age como um
de trabalho de um modelo para os elementos mais novos;
enfermeiro. c) Mostra ser eficiente no ensino e demonstra
capacidades para agir como um supervisor e um
orientador;
d) Estabelece relações interpessoais eficientes com o
pessoal, pessoas, família e outros profissionais;
e) Demonstra conhecimento e capacidade em lidar
com situação violenta ou agressiva e responde
adequadamente;
f) Participa nas decisões como um membro da equipa e
está disponível para trabalhar em equipa;
g) Faz os registos correctos, com rigor e qualidade.

74 | GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS


Ordem dos Enfermeiros
GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS | 75

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