Exu, Última Aula de 2021

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Exu, o Mistério indispensável – para o primeiro dia do ano, a bênção de quem vem antes

(um resumo da última aula, dia 12 de dezembro de 2021)

Como primeiro Orixá manifesto, Exu guarda uma primazia e importância às quais
sempre voltamos. Sendo Mistério, é inesgotável, e por isso é preciso mesmo voltar e voltar,
olhar para ele de todas as maneiras possíveis.

Exu guarda semelhança com outras denominações de mistérios: Thoth, Hermes,


Mercúrio, Mahakala (o guardião tibetano dos portais), Paynal (o ligador de mundos asteca);
como todos eles, guarda, movimenta e comunica. Exu é auxiliar dos Orixás, e por isso não é
percebido, na Umbanda, como os demais Orixás, seu espaço é único e a sua base é o vazio, por
onde e onde tudo se esgota e anula. Seu trono denomina-se Mehor-Yê, e o de Pombagira,
Mahor-Yê. São os tronos à Esquerda, formam sua base da atuação, polar à atuação da Direita,
onde se assentam os tronos dos Orixás que conhecemos.

Exu recolhe, nesse vazio que é seu espaço, o que desagrada a Olorum ou aos Orixás,
assim como retém nesse lugar de polaridade negativa quem e o que precisa se esvair e diluir,
pela intensa negatividade acumulada.

É Exu quem mantém a harmonia, o equilíbrio e a estabilidade do Todo, e por isso é


indispensável.

Quando a Lei Maior ativa o Mistério Exu, faz com que esse Mistério ative e desative a
Esquerda dos Orixás (da aula passada). A Lei Maior é a interface divina. Na interface natural
(lembrem do triângulo divino, espiritual, natural), as sete linhagens de Exus vitalizam os
elementos, e assim temos exus das águas, exus do fogo etc. As sete linhagens são: Cristais,
Minerais, Vegetais, Fogo, Ar, Terra e Água. O mesmo acontece com o Mistério Pombagira.
Vitalizar é um dos melhores verbos para referir a atuação deste Mistério.

Todo médium de Umbanda, a princípio, tem um Exu Guardião, ligado ao Orixá Ancestral;
um Exu Natural individual, ligado ao Orixá de Frente; e um Exu de Trabalho ou de Lei, ligado ao
Orixá Ajuntó. Apenas este último incorpora, os demais atuam por seu intermédio, sem exposição
ou revelação direta.

Os Exus Guardiões dos Domínios dos Orixás sempre foram e serão Guardiões desses
Domínios. Atuam quando se quebra o equilíbrio do nosso Ori. São os Exus Guardiões que
recolhem quem se desequilibrou, e esvaziam as causas desse desequilíbrio. O ser recolhido é
imantado, após a neutralização do desequilíbrio, pelo Guardião que o recolheu, e vai
manifestando aos poucos o mistério desse que o recolheu. Kiumbas e eguns podem estar em
processo de exunização, e surgem nas giras por vezes como caminho dessa exunização, pagando
ou acertando contas em nome do Guardião por eles responsável. Nem todos, obviamente,
porque nem toda atuação está ligada aos fatores da Luz.

Os Exus de Trabalho entram com facilidade no carma do consulente. A polaridade de


Exu é neutra, por isso tanto pode ser no polo negativo quanto positivo. Consequentemente,
permite suborno, porque entra no carma, mas não se liga a ele. A função de Exu é servir àquele
que o chama ou consulta. Assim ele fará.

Os espíritos que se apresentam como Exus tanto podem ter encarnado como não.
“Espíritos exunizados” podem ter evoluído em domínios isolados, não abertos à experiência
humana, ou podem ter encarnado, caído, sido recolhidos, terem se exunizado e voltar à crosta
em benefício dos encarnados. Seus nomes, quando simbólicos, remetem à ancestralidade
divina. Exu dos Caminhos, ligado a Ogum das Porteiras; Exu das Matas, ligado a Oxóssi, e assim
por diante. Nomes não simbólicos (Veludo, Caveira, Meia Noite etc.) costumam remeter a seres
humanos que caíram e se exunizaram.

A Direita (os Orixás) e a Esquerda (Exu, Pombagira, Mirins) são polos que há que
harmonizar. São complementares (e não antagônicos), e funcionam um pouco como Quixote e
Sancho Pança, como a sagração de um cavaleiro medieval, com a investida da espada em seus
dois ombros. São opostos e trabalham juntos. Estão no inconsciente coletivo em todos os
lugares (vejam se não usamos faca, de Ogum, e garfo, de Exu, para comer todos os dias).

Quem permanece na dualidade, sem integrar sombra e luz, é passível de manipulação.


Explorar o inconsciente equivale a se aproximar dos territórios desconhecidos (portanto, a
presença de Exu). Quem não faz esse movimento, não se torna senhor de si.

Exu está presente sempre. Mesmo onde é negado. Há um profundo simbolismo e poder
nos elementos simbólicos associados ao mal, ao demônio, às trevas. Libertar-se do pavor ou
receio que esses elementos inspiram é escutar esse Mistério que chamamos de Exu,
compreendendo-o em toda a sua extensão, sem demonizar.

Alguns motivos a investigar, ou a meditar sobre, podem ser:

- A cruz invertida (chamada Cruz de São Pedro, em alusão à forma


como Pedro pediu para ser crucificado, e que está inscrita atrás do
trono papal, portanto atuando como firmeza de esquerda, em nossa
nomenclatura)
- a estátua de São Cristovão à esquerda da entrada de Notre Dame
- o pentagrama invertido, o gato preto, o bode, todos associados a
Baphomet, o Exu templário
- a árvore da vida da Cabala, invertida

É indispensável, para compreendê-lo, dissociar Exu das imagens grosseiras que foram
fabricadas ao longo do tempo, num processo de captura da nossa liberdade e da nossa
autonomia. As aberrações que vemos ou das quais ouvimos falar são projeções da mente
humana, não Exus. A dualidade nos aprisiona, e a chave da libertação está no estudo de Exu. O
mesmo se aplica ao Mistério Pombagira, por demais deturpado, eliminando o caráter culto, de
extenso conhecimento, elegante e aristocrático da maioria das Pombagiras de Lei.

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