Pombal e o Rei Valimento Ou Governamentalização

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24/09/2021 12:56 Pombal e o Rei: valimento ou governamentalização?

Ler História
60 | 2011

Vária
Estudos
Prestígio, Rituais e institucionalização do Poder

Pombal e o Rei: valimento ou


governamentalização?
Pombal et le roi: favoritisme ou gouvernementalisation ?
Pombal and the King: favouring or governmentalism?

José Subtil
p. 53-69
https://doi.org/10.4000/lerhistoria.1472

Résumés
Português Français English
Partindo de uma síntese sobre o processo de decisão régia e o papel desempenhado pelos
escrivães da puridade – secretários régios ou «validos» – e pelos secretários de Estado, conclui-se
que o pombalismo corresponde a uma nova fase política caracterizada pela formação de um
governo activo e reformista, apoiado por uma estrutura administrativa inovadora que tendeu a
«autonomizar-se» da sociedade política tradicional e da sede do próprio poder régio. Assim,
Pombal exerceu, de facto, a função de um primeiro-ministro, diferente da figura de um valido que
tivesse procurado impor-se politicamente entre o monarca, as secretarias, os tribunais e os
conselhos.

A partir d’une synthèse sur le processus de décision royale et sur le rôle joué par les «escrivães da
puridade» – secrétaires royaux ou «favoris» – et par les secrétariats d’État, on conclut que le
«pombalisme» correspond à une nouvelle phase politique caractérisée par la formation d’un
gouvernement actif et réformiste, soutenu par une structure administrative innovante et en quête
d’ «autonomie» par rapport à la société politique traditionnelle et au siège du pouvoir royal.
Ainsi, Pompal a exercé de fait une fonction de premier-ministre. Différente de la figure d’un «
favori » qui aurait cherché à s’imposer politiquement entre le monarque, les secrétaires, les
tribunaux et les conseils.

Following a synthesis regarding the royal decision-making process and the role played by the
escrivães da puridade – royal secretaries or «validos» – and by the secretaries of State, it can be
concluded that the period of Pombal corresponds to a new political phase, characterized by the
development of an active and reformist government, supported by an innovative administrative
structure that tended to «autonomize» itself from the traditional political society and even from
the very seat of royal power. In these circumstances, Pombal exercised, in fact, the role of a
Prime-Minister, different from the role of a «valido» that would have seeked to impose himself
politically between the King, the secretariates, the courts and the councils.

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Entrées d’index
Mots-clés : Pombal, escrivão da puridade, favori, premier ministre
Keywords: escrivão da puridade, valido, prime-minister, Pombal
Palavras chaves: Pombal, escrivão da puridade, valido, primeiro-ministro

Texte intégral

Introdução
1 António Manuel Hespanha, há cerca de quase três décadas, chamou a atenção para a
importância dos estudos sobre os secretários régios, em particular dos secretários de
Estado1 e das secretarias de Estado, como tópicos para o debate sobre o modelo da
organização do poder2. Um pouco mais tarde, viria a fazer uma primeira síntese mais
alargada da evolução das secretarias de Estado durante o século XVII3.
2 No meu contributo para a História de Portugal dirigida por José Mattoso4 ensaiei
uma outra síntese sobre a evolução que ocorreu entre o exercício do ofício de secretário
do Conselho de Estado para o de ministro e secretário de Estado. Desenhava então uma
tipologia de secretários que cobria os secretários dos conselhos e tribunais, os
secretários particulares dos monarcas, os secretários de Estado, os secretários das
secretarias sem a categoria de Estado. Na linha, aliás, do trabalho exemplar de José
António Escudero que tinha aberto novos campos de estudo e, fundamentalmente,
fixava os elementos estruturantes para a caracterização formal, funcional e política dos
diversos tipos de ‘secretários’ e de ‘secretarias’5.
3 Entretanto, Pedro Cardim fazia o mesmo para a segunda metade do século XVII6. Já
mais recentemente, para comparar as secretarias de Estado de D. João V com as do
período pombalino, interessei-me sobre a fase de implantação das mesmas durante a
afirmação da dinastia brigantina (1640-1706)7 numa altura em que Nuno Gonçalo
Monteiro retomaria o tema da «revolução silenciosa» do reinado de D. João V e da
categorização de Pombal como um «valido» ilustrado do século XVIII8. Uma
categorização importante pelo que traduz de sintomático.
4 No ano passado, com o trabalho de André da Silva Costa passou a saber-se mais
sobre os secretários, de Estado ou não, atributos dos seus ofícios e o papel que
desempenharam nas lutas cortesãs da segunda metade do século XVII9.
5 O que, agora, nos motiva a voltar ao tema das secretarias de Estado tem por objectivo
recentrar o debate sobre os géneros de governo e de administração no Antigo Regime
para tentarmos compreender as funções dos ministros. Em especial entre uma
administração que consumiu as suas energias no processo de despacho régio, no
controlo dos circuitos de comunicação entre o monarca e os restantes órgãos do poder
central, resolvendo, na sua grande maioria, assuntos de graça e justiça. E uma outra
que prosseguiu desígnios reformistas nos mais diversos sectores sociais e iniciou, por
isso, um novo paradigma de organização e de decisão, potenciando a natureza
ministerial do governo das secretarias de Estado e das intendências.
6 Começaremos por recensear e comentar os títulos formais atribuídos aos principais
ministros régios e acentuar as discrepâncias funcionais dos cargos desde o século XVI
ao século XVIII. Numa segunda parte será realçada a câmara régia como espaço político
do processo decisório e os secretários como ofícios de privança régia para, numa
terceira parte, se proceder à comparação com o território ministerial e o governo dos
secretários de Estado durante o pombalismo, concluindo-se que a mudança do modelo
político teve lugar depois do terramoto de 1755.

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O primeiro dos ministros: os títulos


formais
7 Os títulos que alguns ministros primeiros usufruíram durante o Antigo Regime não
coincidiram com as funções que desempenharam. Só a análise estrutural e funcional
dos cargos nos pode revelar a inserção dos cargos na natureza dos regimes político-
administrativos: ou num sistema fundado numa administração passiva que encontra na
gestão das mercês e das graças, na esfera do particular, o fundamento do governo; ou
numa mais activa e reformista que prosseguiu a esfera pública, assente num governo de
tipo ministerial que iniciou a «autonomização» administrativa da decisão do círculo da
câmara régia.
8 Desde logo a designação de «ministro» régio. Quando ao longo de todo o Antigo
Regime se invoca a qualidade de um ofício ser «de ministro» são visados, de uma forma
geral, vários cargos subordinados ao monarca que requerem a guarda do segredo, o
recato nas práticas burocráticas e a amizade e lealdade ao monarca10. São, assim, por
exemplo, ministros do rei os chamados «ministros territoriais» como juízes de fora,
corregedores, provedores e ouvidores. São ministros os magistrados com jurisdição
sobre os bairros de Lisboa. São também ministros os membros dos tribunais, os
deputados dos conselhos régios, alguns secretários régios que assistem ao despacho, os
secretários de Estado, os membros das juntas da Casa das Rainhas, da Casa de
Bragança e do Infantado. Diz-se, assim, por exemplo, o «ministro e secretário de
Estado» o que até nos podia conduzir para a hipótese de que poderiam existir
secretários de Estado que não eram ministros. O que nunca aconteceu na monarquia
portuguesa ao contrário de outras como, por exemplo, na espanhola.
9 Depois, a designação de escrivão da puridade foi institucionalizada muito cedo na
corte portuguesa, constituindo uma tradição. O cargo surgiu para resolver problemas
relacionados com o despacho régio e o arquivo da câmara. Pela proximidade ao
monarca justificou, por vezes, as posturas mais interventivas de alguns titulares
determinados em controlar ou influenciar a vontade do príncipe. Mas desde D. João III
que a relação do Rei com o Reino foi mediada pelo Conselho de Estado, órgão colegial
dominado pela nobreza e onde se desenhavam os pareceres e conselhos a seguir pelo
monarca. O secretário do Conselho cumpria o papel de dar andamento aos processos,
assegurar a tramitação da documentação, manter os arquivos em ordem e preparar a
agenda tanto do monarca como do Conselho. Começou por ser um simples escrivão e
guarda-livros, sem direito a opinar ou a votar, foi ganhando protagonismo à medida
que o fluxo de matérias para a análise cresceu em quantidade e variedade e acabaria,
assim, por se transformar num secretário de Estado e redefinir o campo da luta política
pela gestão da «economia» dos poderes régios.
10 Se o escrivão da puridade tinha ampliado os seus poderes à custa da perda da
influência do chanceler-mor, agora seriam os secretários de Estado a reconverterem a
seu favor, a influência sobre a instância decisória tomada na câmara régia. Os seus
privilégios de privança com o monarca, aliados à mediação que garantiam com o
Conselho de Estado, foram as razões que estiveram na base desta nova configuração
política.
11 Diferente foi o caso dos validos. Os validos espanhóis (Lerma, Uceda, Olivares, Haro,
Nithard e Valenzuela) gozaram da privação régia, da amizade do soberano e de grande
liberdade no controlo dos papéis11. Mas foi na intervenção directa que tiveram nos
órgãos colegiais que justificaram o reforço dos seus domínios políticos, cumprindo uma
função de «intrusos» entre o rei e os organismos administrativos, provocando com isto,
também, um coro de protestos e ódios. O valido espanhol não foi só um favorito ou
privado do rei, ou um secretário para cumprir as funções de preparar as minutas do
despacho, apresentar as consultas para a assinatura régia, ou redigir escritos para
resolução. O valido tinha superioridade sobre os secretários e oficiais e foi
monopolizado pela Alta Nobreza que, através do cargo, procurou controlar o comando
político da monarquia. Se o valido começou por ser escolhido como amigo e alter-ego

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do rei, rapidamente saiu da esfera privada para intervir na esfera pública e na condução
do governo das secretarias de Estado, dos conselhos e dos tribunais.
12 Para grande parte da literatura política da época o valido passou a identificar um
cargo de usurpação do poder régio, a tirania de um só ministro sobre todos os demais.
Ouvindo e fazendo o que só um ministro dizia, o monarca perdia «vontade» e
desbaratava a oportunidade para construir uma decisão mais prudente e sábia se
ouvisse mais e melhores ministros.
13 Mas nem toda a literatura se referia nestes termos ao ofício régio do valido. Um
grupo de doutrinadores do valimento fundamentava a sua criação por ser justo e lícito
que o rei tenha necessidade de um verdadeiro amigo com quem partilhar o segredo12. E
outros admitiam o cargo desde que estivesse submetido e limitado à última vontade do
monarca.
14 Se o título de primeiro ministro não existe no Vocabulário Português e Latino de
Rafael Bluteau (1720) como no Diccionario da Língua Portuguesa de Antonio de
Moraes Silva (1813) ou no Esboço de Hum Diccionario Juridico de Joaquim José
Caetano Pereira e Sousa (1825), o certo é que foi usado por autores portugueses, antes,
durante e depois do governo de Pombal13. Mas se o uso do termo de primeiro-ministro
para o século XVIII é abusivo, muito menos para identificar eventuais ofícios parecidos
às funções do «valido» do século XVII, também deve ser dito que nunca foi usado
oficialmente durante todo o período da monarquia constitucional do século XIX, ao
contrário do título de «Presidente do Conselho de Ministros», muitas das vezes
desempenhado, em acumulação, pelo ministro do Reino. A bem ver, portanto, o termo
oficial é uma criação republicana.
15 Recentemente, António Feros14 fixaria uma nova interpretação para o cargo do valido
espanhol cimentada na investigação que desenvolveu com base em documentação de
arquivo inédita, sobretudo para o caso de Lerma. A análise de António Feros centrou-se
nas implicações políticas e institucionais da função do valido como «King’s chief
minister» para concluir que o poder do monarca saiu reforçado com a criação do cargo
que, aliás, foi concomitante com a institucionalização das juntas e intendências e
também com a promoção dos juristas políticos para imporem as ordens régias aos
tribunais e conselhos. Uma moldura política e institucional muito semelhante ao caso
português durante o consulado pombalino.
16 Mas, apesar de tudo, interessa-nos saber como poderemos caracterizar – em termos
funcionais e políticos – o cargo ocupado por Pombal durante o reinado de D. José. Uma
função ainda sem nome? Apenas mais um secretário de Estado? Um valido do século
XVII com lustre? Um escrivão da puridade desejado pelo monarca? Ou o primeiro dos
ministros de Estado, desempenhando funções de chefe de um governo?

A câmara régia: escrivães e secretários


17 O cargo de escrivão da puridade parece ter existido desde muito cedo na monarquia
portuguesa15 e o regime da «puridade» marcou o século XVI em Portugal (António
Carneiro, Pedro da Alcáçova Carneiro, Martim Gonçalves da Câmara e Miguel Moura
são alguns dos mais conhecidos).
18 Os providos disputaram o protagonismo nas relações de poder na Corte com o
chanceler-mor e outros secretários e viriam a ganhar vantagens na privação com o
monarca, especialmente fruto das competências adquiridas na produção documental e
na guarda do arquivo da câmara régia16. Em 26 de Janeiro de 1542, uma carta régia de
D. João III mandou desnaturalizar e privar de todos os bens e direitos D. Miguel da
Silva, bispo de Viseu, por ter sido seu escrivão da puridade e fugido para Roma «sem
entregar os papéis de segredo d’ estado que tinha em seu poder e guarda», passando o
cargo para Pedro da Alcáçova Carneiro17.
19 Com a criação do ofício de secretário de Estado a luta pelo domínio do espaço
cortesão ganhou novos contornos18. No Regimento do Conselho de Estado (8 de
Setembro de 1569)19 diz-se que o Conselho se reunirá no Paço, pelo menos, três vezes
por semana, assistindo à reunião «o meu Secretário a que pertencer assistir ao negócio

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daquelle dia» tomando nota e assento das resoluções com os principais fundamentos
numa «folha de papel» que deverá ser assinada pelos conselheiros que estiveram de
acordo e onde se registarão, igualmente, as presenças à reunião. Os assentos deveriam,
depois, ser levados pelo secretário à presença do monarca para os apreciar e,
eventualmente, aprovar e «terá o dito Secretario cuidado de se fazerem as provisões
que forem necessárias». O Regimento obrigava, ainda, a que «Cada hum dos meus
Secretários terá um livro, em que se lançarão as determinações que se tomarem nos
negócios da repartição em que cada hum delles me servem». Ou seja, o processo da
decisão régia passou a fazer-se, doravante, entre o escrivão da puridade e o secretário
do Conselho de Estado, muito embora a influência política pertencesse ao Conselho de
Estado sem vocação para a coordenação administrativa.
20 Com a monarquia da Casa de Áustria, tanto o ofício dos secretários do Conselho de
Portugal e de outras repartições (Reino, África, Índia, Brasil, com destaque para
Francisco de Lucena, Diogo de Soares e Miguel de Vasconcelos), como a adopção do
valimento ao longo de todo o século XVII esvaziaram as experiências ensaiadas em
Portugal20.
21 Quando D. João IV se refere ao «novo» Conselho de Estado (decreto de 31 de Março
de 1645), invoca os regimentos anteriores (o de D. Sebastião de 1569 e o filipino de
1624) para alterar os dias e as horas das reuniões mas, sobretudo, para deixar claro que
os debates se iniciarão com «os papéis e negócios que eu mandar ver, de que dará conta
o Secretário», e obrigar às declarações de votos dos conselheiros que não estivessem de
acordo com a decisão da maioria. Secretariar as reuniões do Conselho de Estado,
organizar os seus arquivos, preparar a agenda do monarca e as sessões de trabalho,
acabaram por dar ao secretário de Estado um lugar cada vez mais importante na gestão
política do quotidiano do monarca. Prova-o, aliás, o desempenho de Francisco de
Lucena que, à maneira dos validos de Espanha, assinava as cartas régias depois de as
iniciar com a fórmula votiva de «Manda El rey», provocando intrigas e semeando o
ódio, acabando por ser condenado à morte21.
22 Dois anos antes, o Alvará de 29 de Novembro de 164322 reconhecia que «Os negócios
do governo, assim da paz, como da guerra, correm todos pela Secretaria de Estado, sem
distincção de qualidade». Para o despacho passar a ter «mais fácil, e breve expedição»
dividiu-se, então, o expediente por duas secretarias: 1 – a secretaria de Estado; 2 – a
secretaria das Mercês e Expediente. A primeira ficou com as matérias que tocassem ao
Estado, correspondência e relações com o estrangeiro, assuntos do Ultramar, Exército,
criação de títulos e nomeações. Nos «actos públicos de Cortes, ou semelhantes, fará o
Secretário o que toca fazer ao Escrivão da Puridade, quando o havia». As matérias que
não fossem de Estado mas de «governo e direcção de cousas públicas ou provimentos
de postos, e offícios referidos» seriam, também, tratadas pela mesma secretaria de
Estado, embora separadas e identificadas como não sendo «matérias de Estado». A
segunda secretaria ficaria com as consultas, despachos, decretos e ordens que não
fossem referidos como pertencentes à primeira, isto é, o carácter funcional desta nova
secretaria ficava definido, essencialmente, por omissão, uma vez que lhe era atribuído
expediente não identificado com o da secretaria de Estado.
23 O secretário de Estado indigitado, Pedro Vieira da Silva, foi bem acolhido pela alta
nobreza, representada pelos duques de Aveiro e Cadaval. Era um conservador das
prerrogativas régias contra a intromissão de poderes «artificiais»23 e teve ascensão
sobre o conde de Castelo Melhor como se pode constatar através das ordens que lhe dá
(1660) sobre a forma como S. Majestade «queria ser servido no seu Quarto», fazendo o
mesmo a Francisco de Sousa Coutinho e determinando para ambos a agenda semanal
de acompanhamento ao príncipe24. Ou dos recados e «papelinhos» que envia ao conde
para serem lidos a S. Majestade (19 de Abril de 1662)25.
24 Mas o seu protagonismo foi, desde muito cedo, obscurecido pela actuação do
secretário das mercês e expediente, Gaspar de Faria Severim, que recolhia a simpatia e
a protecção da rainha D. Luísa de Gusmão. Em aliança com António Cavide, secretário
particular de D. João IV, procurou diminuir a influência de Vieira e avocar o despacho
de muitas matérias que lhe pertenciam, sobretudo depois da regência de D. Luísa de
Gusmão.

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25 Está por esclarecer a «desgraça» em que caiu Pedro Vieira da Silva obrigado a
entregar a «chave» da secretaria e a sair da Corte, a mando de um aviso de Gaspar
Severim, para uma distância de 50 léguas (4 de Agosto de 1662), donde viria a suplicar
licença à Rainha para «viver retirado na sua quinta» e lhe perdoar o degredo em Évora:
«um pobre velho que há tantos anos tem servido a V. Majestade […] a culpa que tive a
confesso […] e de que estou arrependido»26. O seu envolvimento na resistência à
nomeação do conde de Castelo Melhor para escrivão da puridade e à de novos
conselheiros para o Conselho de Estado poderão explicar, em grande parte, a sua
«queda política» que coincide, aliás, com o fim da regência de D. Luísa de Gusmão.
26 Mas o cargo de escrivão da puridade não tardaria a ser recuperado com a nomeação
do Conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa (21 de Julho de 1662), contra
a vontade, como se disse, de Pedro Vieira da Silva que se recusou a redigir a carta de
nomeação. No regimento do cargo (12 de Março de 1663), da responsabilidade do novo
secretário de Estado, António de Sousa Macedo, são apontadas as qualidades exigidas
ao cargo: «confiança», «fidalgo de limpo sangue», «sã consciência», «prudência»,
«com muita autoridade» temperada com «mansidão e afabilidade» e «sendo sobre tudo
verdadeiro, e secreto».
27 No exercício do cargo terá, entre outras, as seguintes competências: 1 – por sua
ordem e ofício se expedirá a correspondência diplomática, regimentos, ordens e cartas
para todos os ministros ultramarinos; 2 – «correrão por sua mão todos os
provimentos», criações de títulos, nomeações de bispados, prelazias, oficiais da Casa
Real, Santo Ofício, Universidade de Coimbra através dos quais se «administra o
governo público», ou seja, os que vierem dos presidentes dos tribunais, conselheiros,
secretários (das secretarias de Estado e Expediente), desembargadores e demais
ministros; 3 – dar visto a todas as consultas dos tribunais e conselhos bem como dos
despachos das secretarias e agendar as mesmas para despacho régio; 4 – dar
seguimento a todas as petições apresentadas em audiência pública do monarca, para os
tribunais ou para as secretarias; 5 – assistir ao rei na «assignatura de todos os papéis»;
6 – por o visto em todas as cartas e expediente das Secretarias de Estado e Secretaria do
Expediente, tanto para o Reino como para fora; 7 – E, de uma forma geral, se diz «tudo
o que pertencer ao Estado desta Coroa, se expedirá por sua ordem e ofício» a que se
«dará inteiro cumprimento […] por ser o Escrivão da Puridade uma voz nossa, e se
haver de guardar por isso como ordem minha». E terá como privilégio excepcional
poder chegar à presença do rei em qualquer «casa e logar em que estivermos, posto que
seja em nossa Câmara»27.
28 As críticas ao valimento em Espanha e as práticas seguidas pelo conde de Castelo
Melhor, ao extravasar as funções tradicionais do escrivão da puridade, acabaram no
confronto com os poderes dos tribunais e conselhos. Ou seja, o único escrivão da
puridade do século XVII apenas tinha conservado a tradição do nome.
29 Se a nova situação vinha colocar em desvantagem política o secretário de Estado,
António de Sousa Macedo, é um facto que, apesar de tudo, este manteria uma forte
ligação funcional com o monarca devido às suas competências técnicas e capacidade de
trabalho. E D. Afonso VI manteria «um secretário pessoal», escolhido na mesma altura,
o Doutor António de Sousa de Tavares, desembargador do Paço e secretário da Casa de
Bragança28. Nada indica, pelo menos assim parece, que o despacho régio tenha sido
exclusivamente dominado pelo escrivão da puridade. Ao contrário, terá sido partilhado
entre este e o secretário de Estado o que terá tornado ainda mais complexa a tramitação
política.
30 Mas com o afastamento do conde de Castelo Melhor e de António de Sousa Macedo,
entretanto também incompatibilizado com a rainha D. Maria Isabel de Sabóia, termina
a curta fase activa (governo político) do reinado de D. Afonso VI e iniciava-se a regência
de D. Pedro. O cargo de secretário de Estado recaiu em Francisco Correia de Lacerda,
ministro da Casa do Infantado (governada pelo infante D. Pedro), o que ganha todo o
sentido na preparação do «golpe de estado».
31 A partir da regência de D. Pedro, o cargo foi ocupado por altos dignitários da Igreja,
como o «Bispo Secretário de Estado», D. Manuel Pereira de Almeida (1680-1688), e,
posteriormente, por Mendo de Fóios Pereira (1688-1702), D. António Pereira da Silva
(1703-1705) e por D. Tomás de Almeida (1705-1707). Mas o duque do Cadaval,
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influente conselheiro de Estado e o «político» do príncipe, solicita amiudadamente


informações e relatórios à secretaria de Estado sobre os negócios dos tribunais29. E
como D. Pedro II não potenciou nenhum novo ministro «excepcional» ao despacho,
assistiu-se a uma luta cortesã intensa pelo domínio de lugares-chave na Corte, a par de
um clima de tensão permanente devido às presumíveis ameaças dos «amigos» de D.
Afonso VI. Esta tensão foi aproveitada pelos secretários Monteiro de Paim e Sanches de
Faria, apoiados pelo duque do Cadaval e o marquês de Gouveia, para semearam o medo
e, desta forma, retirarem partido da instabilidade30.
32 Com a entronização de D. Pedro a situação parece ter estabilizado e o secretário de
Estado terá reassumido algum papel de relevo (primeiro com Mendo de Fóios, depois
com D. António Pereira da Silva). No reinado de D. Pedro II temos três secretarias que
se encarregavam de preparar o despacho régio: uma com o título de «secretaria de
Estado» e as restantes, simplesmente, designadas por «secretarias».
33 Ao longo do século XVII, todos estes secretários foram recrutados na nobreza
secundária. De acordo com uma memória de finais do século (1699) dizia-se que «Até
ao presente ainda não se encontrou nenhum fidalgo que o queira exercer, pois que o
lugar que lhe compete no Conselho lhes parece abaixo do seu estatuto [...] e porque não
conduz à nomeação como Conselheiro de Estado»31.
34 A reforma das secretarias de Estado no reinado de D. João V (28 de Julho de 1736), já
sem Conselho de Estado activo, foi motivada fundamentalmente pela continuada
‘confusão dos papéis’: a) crescimento exponencial dos processos e da documentação; b)
desorganização do fluxo administrativo com implicações na assunção de
responsabilidades; c) e indistinção das matérias para despachos.
35 Logo no início do novo reinado, o Alvará de 24 de Julho de 1713 comprova a
«imensidão de papéis» que sobem a despacho régio. As orientações que foram, então,
dadas pretenderam separar as matérias de forma que o monarca apenas se
pronunciasse sobre as mais importantes, ou seja, as que se referiam ao provimento de
ofícios e atribuição de mercês e privilégios. O restante expediente foi descentralizado
para os respectivos órgãos da administração central que passaram a poder despachar,
através de provisões, autenticadas por dois ou três ministros, consoante as matérias. E
mesmo o despacho régio passou, em casos de manifesta semelhança processual, a ser
feito em listas e não individualmente, como era costume.
36 A eficácia destas medidas não terá sido muita, uma vez que, passadas duas décadas,
no alvará da reforma das secretarias de Estado (28 de Julho de 1736)32, se diz que se
«encontrarão na sua pratica alguns inconvenientes graves, e maior dilação e embaraço
no despacho das ditas secretarias» em que muitos dos negócios, depois de despachados
nas duas primeiras, voltavam à Secretaria da Assinatura para serem novamente
apreciadas, quando o que seria natural era cada uma ter o seu expediente próprio.
37 Mas a principal novidade desta reforma foi a atribuição do título de Secretaria de
Estado para as três secretarias criadas bem como o facto dos ministros nomeados
passarem a ser designados por secretários de Estado: Secretaria de Estado do Reino,
Secretaria de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos e Secretaria de Estado dos
Negócios Estrangeiros e da Guerra33. Estipulavam-se, depois, os negócios que cabiam a
cada uma de forma bastante detalhada. As funções exercidas pela Secretaria das Mercês
e Expediente não passaram para nenhuma destas secretarias e foram transferidas para
a repartição do Registo Geral das Mercês.
38 A propósito da reforma, D. Luís da Cunha (1662-1749) afirmava, em carta a Marco
António, que «ainda que meu grande e fiel amigo Diogo de Mendonça Corte Real [...]
com grande conhecimento deles [expedição dos negócios] dava a todos os que
pertenciam a estas três repartições o despacho que S. Majestade lhe permitia, é certo
que estando embaraçado com outras muitas dependências de que o dito Senhor o
encarregava, necessariamente devia confundir as espécies»34. Ou seja, foi o problema
burocrático que esteve na base da reforma.
39 O novo gabinete, mesmo assim formado com a falta de um secretário de Estado
(António Guedes Pereira só tomaria posse em meados de 1739), manter-se-ia pelo
restante reinado, embora novamente reduzido desde o ano de 1746 e com os titulares
bastante doentes, como de resto o estado de saúde do monarca. Esta reforma terá,
assim, falhado, por quatro motivos. Em primeiro lugar pelo facto de nenhum dos
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secretários de Estado se ter assumido como figura central e forte no plano político. Em
segundo lugar pela paralisia dos serviços onde os papéis se amontoavam e grassava a
confusão de competências. Depois pelo gabinete de secretários de Estado só funcionar
completo durante sete anos, entre 1739 e 1746. E, finalmente, por os ciclos políticos dos
secretários de Estado ter coincidido com os ciclos biológicos, não se operando, nestas
circunstâncias, qualquer remodelação política.
40 Na vizinha Espanha, no início do século XVIII existia apenas um Secretario de Estado
y del Despacho universal, o chefe da Covachuela (burocracia e despacho). Em 1705,
com a influência francesa dos Bourbons, esta secretaria desdobra-se em duas, uma para
a Guerra y Hacienda e uma outra para o restante despacho. Em 30 de Novembro de
1714 são criadas quatro novas secretarias: Estado y Asuntos Extranjeros, Asuntos
Eclesiásticos y Justicia, Guerra, Marina e Indias que formariam o núcleo fundamental
de governo em detrimento dos Conselhos. A consolidação do sistema ministerial
ocorreu por volta de 1755 quando os ministérios foram reorganizados e fixados em
cinco: Estado y Asuntos Extranjeros, Gracia y Justicia, Marina e Indias, Guerra y
Hacienda35.

O ministério: secretarias de estado e


intendências
41 Diferente foi o governo pombalino depois do terramoto (1755), cuja estratégia de
mudança se fundou na linha do cameralismo (Cameralwissenschaft, Kameralien) e na
«ciência de polícia» (Polizeiwissenschaft, Polizei): afirmação da vontade do rei no
sentido da boa razão, como razão de Estado, entre as outras razões. Novas ideias sobre
os mais diversos campos sociais como as finanças, a economia, a segurança, as prisões,
a saúde pública, a educação, isto é, em diferentes áreas da actividade jurídica, política,
social e cultural. Ideias que preconizavam e apelavam à acção, refutando o imobilismo
da administração passiva que consumia os poderes públicos em lugar de os modelar
para a «felicidade dos povos».
42 Este novo pensamento sobre o conjunto das actividades governativas teve
consequências profundas na relação entre o poder, a sociedade e o indivíduo. O poder
passava a estar interessado em agir nas relações entre os indivíduos e menos na acção
directa sobre cada um, como era timbre nas relações entre soberano e súbdito. Neste
novo paradigma político e administrativo, o objectivo da acção passou a incidir sobre
entidades abstractas, como a «população» e o «território», o que obrigou ao recurso de
novas disciplinas científicas como a demografia, a geografia, a estatística, a saúde
pública, a educação pública e a gestão dos recursos financeiros.
43 O governo da graça, da justiça e dos «papéis» dava lugar ao governo da economia,
das finanças, da saúde, da educação, da segurança, das obras públicas. O pólo da
decisão administrativa descentrava-se da câmara régia para o ministério das secretarias
de Estado e das intendências.
44 No período pombalino ocorreram cinco remodelações políticas depois de Sebastião
José de Carvalho e Melo passar a ocupar o lugar principal no governo (Secretário de
Estado dos Negócios do Reino). No ano seguinte ao terramoto, aconteceram duas
mudanças no governo, tendo a segunda cimentado o núcleo de confiança de Pombal
com a demissão compulsiva de Diogo de Mendonça Corte Real. Na terceira
remodelação (1760), o governo passou a contar com Francisco Xavier Mendonça
Furtado, irmão de Pombal; e, na quarta (1770), será constituído o governo mais
numeroso, com cinco secretários de Estado, dos quais um era adjunto de Pombal (José
de Seabra da Silva) e um outro continuou a desempenhar as funções de «chefe do
gabinete» (Ayres de Sá e Melo)36.
45 O reforço de assessoria ao ministro do Reino e ao governo, bem como a promoção de
secretários de Estado com fortes convicções reformistas evidenciam a determinação nos
projectos de mudança. Mas as secretarias de Estado pombalinas assumiram outras
funções políticas de que realçamos a direcção da nova administração intendencial e de
juntas administrativas, como adiante se verá, isto é, órgãos cujo modelo de decisão
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24/09/2021 12:56 Pombal e o Rei: valimento ou governamentalização?

deixou de obedecer aos critérios jurisdicionalistas para ser fundada na vontade


unipessoal dos secretários de Estado.
46 E, agora, o controlo da administração sinodal deixou de se fazer através das
intromissões pessoais e informais – típicas da actuação dos «validos» – para se passar a
fazer com recurso a novas tecnologias disciplinares, a começar pela instrumentalização
política dos tribunais e conselhos, colocando-os ao serviço do governo. As modalidades
foram várias.
47 A primeira foi a alteração do sentido de voto dos membros das mesas através da
nomeação de novos vogais afectos ao pombalismo. A segunda consistiu no trânsito de
deputados reformistas, ou seja, pombalinos, pelas mesas e tribunais, com os mesmos
ou mais direitos que os de assento ordinário, sempre que houvesse necessidade de
aprovar consultas. Esta rede de ‘conselheiros’ passava a constituir um grupo de pressão
política que ou intimidava as votações ou as desequilibrava se fosse necessário,
diminuindo, portanto, a autonomia jurisdicional destes órgãos37.
48 Mas a instrumentalização também se fez através da revalorização dos pareceres dos
procuradores da Coroa obrigados a defender o «interesse público». A evidência das
suas influências está patente nas resistências e queixumes dos membros das mesas
colegiais que se acharam ultrajados pela presença de tais ‘olheiros’ e ‘intrusos’ que, para
além de confundirem as suas práticas, validavam comportamentos «monstruosos».
49 Esta governamentalização do aparelho administrativo tradicional foi completada com
a exautoração de competências e funções transferidas para novos organismos
dependentes dos secretários de Estado. Os exemplos mais emblemáticos são o Erário
Régio (22 de Dezembro de 1761) e a Intendência Geral da Política (25 de Junho de
1760).
50 A nova instituição financeira passou a centralizar as operações de tesouraria da
fazenda real e inaugurou uma nova contabilidade ao arrepio das regras da gestão
financeira do Conselho da Fazenda38.
51 A Intendência Geral da Política passou a interferir na esfera de actuação dos
corregedores, provedores e juízes de fora, bem como no Senado da Câmara de Lisboa e
com o Desembargo do Paço, em assuntos de «polícia» como o combate à criminalidade,
incremento do fomento social e económico, elaboração de censos de nascimentos,
casamentos e óbitos para promover a demografia, o controlo da saúde pública e do
estado sanitário, a vigilância e a segurança do movimento de pessoas e bens, o
recolhimento de mendigos, o combate à prostituição, isto é, em matérias ligadas ao
bem-estar e à segurança das populações.
52 O terceiro pólo da nova estruturação governativa foi a Junta do Comércio (30 de
Setembro de 1755), para cuidar do «Bem Commum, do Commércio» e propor medidas
para o seu incremento «assim a mercancia em grosso, como as vendas pelo miúdo, e
ainda as Artes Fabris, que constituem os Elementos da felicidade do Reino, e as mãos, e
braços do Corpo Político». Dependente da junta ficaria a administração da Fábrica da
Seda, cujos estatutos foram confirmados por Alvará de 6 de Agosto de 1757. Coerente,
ainda, com este projecto económico foi a criação de companhias monopolistas para o
«florescimento» do comércio e da agricultura, a Companhia Geral de Agricultura das
Vinhas do Alto Douro (1756), Companhia Geral do Comércio de Pernambuco, e Paraíba
(1759), Companhia Geral do Pará, e Maranhão (1755), Companhia do Comércio
Oriental (1753) e Companhia de Comércio de Moçambique (1753).
53 A extensão da administração de tipo intendencial foi, porém, a maior novidade do
período e constitui um caso paradigmático da modernização da administração régia nas
áreas do comércio, agricultura, obras públicas, fábricas, navegação, hospitais,
provimento das tropas, contrabando, foros e rendas. De referir, entre os mais
importantes, para além do Intendente Geral da Polícia, os Superintendentes Gerais das
Alfândegas (1766) um para o Norte e outro para o Sul (1766), Superintendente do Sal do
Algarve (1765), Inspector Geral para as Fábricas do Reino (1777), Superintendentes dos
Lanifícios (1769) e Superintendente Geral da Décima39.
54 A auto-organização e a fonte dos rendimentos dos oficiais régios perderam direitos e
privilégios que reconverteram a natureza das suas autonomias. Vingava uma nova
interpretação sobre a adopção do carácter amovível e transitório do desempenho dos
ofícios. A reforma começou com a definição dos estatutos remuneratórios, contra a
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24/09/2021 12:56 Pombal e o Rei: valimento ou governamentalização?

ideia do ofício como fonte de rendimento (patrimonialismo), na linha de um novo


modelo de obediência, disciplina e avaliação do desempenho, isto é, disponível à
vontade do príncipe e decorrente do mérito e do alinhamento político.
55 E tudo isto coincidiu com a destruição inesperada, provocada pelo terramoto de 1755,
da grande maioria dos recursos humanos do aparelho administrativo e da exigência de
práticas baseadas na racionalidade e na eficácia.
56 O carácter excepcional do terramoto proporcionou também o ambiente para uma
intervenção no domínio do direito da propriedade vinculada para «obrigar» o interesse
dos particulares a adequar-se ao interesse público40. Este ciclo de desvinculação está
ligado, entre outros, ao diploma de 12 de Maio de 1758, que admitia o rateio de terrenos
e prédios, independentemente da natureza jurídica, e permitia o expediente das
adjudicações e anexações, antecipando a desamortização dos vínculos insignificantes
(morgados, capelas e legados pios), a expropriação e proibição da posse de bens de raiz
por parte da Igreja e dos corpos de mão morta e a concentração alodial (adjudicação e
anexação de bens).
57 E não foi tudo. Do mesmo modo se reformou a regulação dos testamentos, heranças e
doações, tanto para a sociedade civil como para a Igreja e corpos de mão morta; a
décima e a sisa, numa série impressionante de iniciativas legislativas, radicalmente
inovadoras e marcadamente singulares (Leis de 25 de Junho de 1766, 23 de Julho de
1766, 14 de Outubro de 1766, 4 de Julho de 1768, 12 de Maio de 1769, 9 de Setembro de
1769, 23 de Novembro de 1770, 9 de Julho de 1773, 14 de Outubro de 1773, 1 de Agosto
de 1774 e 25 de Janeiro de 1775).

Conclusão
58 Se a decisão política no contexto de uma administração jurisdicional criou actores
«particulares» que se enredaram em conflitos pela disputa de lugares de influência
sobre o monarca e procuraram obliterar os poderes dos órgãos sinodais, o que passou a
caracterizar a nova administração pombalina foi a mudança para um novo modelo
processual de decisão e de governo.
59 Algumas destas distinções são estruturantes: 1 – a deslocação dos territórios
burocráticos do palácio e da câmara régia para as oficinas das secretarias de Estado; 2 –
as redes clientelares formadas em torno de interesses passaram a redes de actores
políticos motivados por projectos e objectivos reformistas; no cálculo político das
«criaturas» de Pombal passou também a contar o desempenho profissional, um novo
capital que fez toda a diferença; 3- os «técnicos» da escrita, os guardiões dos «cofres» e
os «arrumadores» de papéis dão lugar a oficiais dirigidos por procedimentos de
«impessoalização» e «descerebração»; no cunho das novas práticas surgem novos
dispositivos processuais (formulários, técnicas de arquivo inovadores como a indexação
e os ficheiros auxiliares, manuais de instrução, questionários impressos, etc.); 4- as
novas tecnologias disciplinares de governo já não se fundam no simples acto de mandar
ou conseguir ser obedecido, mas em técnicas de governo como a gestão orçamental das
contas e a sua auditoria, a previsibilidade dos gastos e das receitas41; o acto da decisão
governativa «autonomiza-se» como acto burocrático, a vontade do rei fica mais longe
dos circuitos administrativos e submergida pelas regras e normas dos ministérios.
60 Também um novo ethos profissional abre caminho à responsabilidade do
«funcionário público» (regras de admissão e concursos, remuneração salarial, carácter
amovível e comissarial dos ofícios). Dos cerca de 500 funcionários da administração
central em meados do século XVII, de 600 em meados do século XVIII, chegamos a
perto de 1500 nos finais do reinado de D. José.
61 Um governo novo, um novo regime (proto-estadualista) com um chefe indiscutível,
por sinal o secretário de Estado dos Negócios do Reino42. Se Pombal tivesse sido o
«valido» deste governo não teríamos assistido, durante o período mariano-joanino, à
confirmação desta governamentalização43.

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Notes
1 O termo Estado tem diversas acepções na linguagem da época (ver, a propósito, o verbete
‘Estado’ no Esboço de hum Diccionario Jurídico, Theoretico, e Practico, de Joaquim José
Caetano Pereira e Sousa, Lisboa, Typographia Rollandiana, 1825). Quando usado no texto com
referência às secretarias de Estado e aos secretários de Estado tem uma conotação política e
designa a forma de governo da sociedade e o modo como o monarca intervém no mesmo. Mas
quando se discute a existência ou não de um «Estado Moderno», a palavra carrega «uma
semântica pesadíssima, marcada por pensadores muito influentes na história do pensamento
político contemporâneo». No essencial está ligada a três ideias: 1 – à da promoção da
concentração de poderes num só pólo eliminando o pluralismo político típico do Antigo Regime;
2 – à entidade que criou um modelo racional de governo; 3 – e à instância que separou o público
do privado (ver, a este respeito, António Manuel Hespanha, «O Debate acerca do Estado
Moderno», A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo, coordenação de Maria
Helena da Cruz Coelho e Armando Luís de Carvalho Homem, Lisboa, UAL, 1999, pp. 53-63.
2 História das Instituições, Épocas medieval e moderna, Coimbra, Almedina, 1982. Poucos eram
os trabalhos sobre o tema, repetidamente citados, como, por exemplo, os de Francisco Trigozo
Morato, «Memória sobre os Secretários dos reis e regentes de Portugal desde os antigos tempos
da Monarquia até à aclamação de el-Rei D. João IV», História e Memórias da Academia Real
das Sciencias de Lisboa, II série, tomo I, parte I, 1843.
3 Vísperas del Leviatán, Instituciones y poder político (Portugal, siglo XVII), Madrid, Taurus
Humanidades, 1989, pp. 188-192.
4 V. «A administração Central da Coroa», História de Portugal, Lisboa, Círculo de
Leitores/Estampa, 1993, vol. III, pp. 78-90 e «Governo e Administração», História de Portugal,
Lisboa, Círculo de Leitores/Estampa, 1993, vol. IV, pp. 157-193 e 256-259.
5 Los Secretarios de Estado y del Despacho (1474-1724), Madrid, IEA, 1976 (1.ª edição 1969), 4
vols. Já aqui era abordada a questão do valido mas veio a retomar o tema comparando com os
cargos de primeiros-ministros (ver «Introducción. Privados, Validos y Primeros Ministros», Los
Validos, Madrid, Dykinson, 2004, p 15 e ss.). Sobre a evolução do sistema administrativo
espanhol é absolutamente fundamental a obra de Maria Victoria López-Cordón. Ver desta autora:
«Secretarios y secretarías en la Edad Moderna: de las manos del Príncipe a relojeros de la
Monarquia», Studia Historica, 15, 1996, pp. 106-131; «Cambio social y poder administrativo en la
España del siglo XVIII: las secretarías de Estado y del Despacho», Sociedad, Administración y
Poder en la España del Antiguo Régimen. Hacia una nueva historia institucional, Castellano, J.
(ed), Granada, Universidade de Granada, 1996, pp. 110-130; «Oficiales y caballeros: la carrera
administrativa en la España del siglo XVIII», El Mundo Hispánico en el siglo de las Luces,
Madrid, Complutense, 1996, pp. 842-854 (II vol.).
6 Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais de governo no Portugal da segunda metade de
Seiscentos», Tempo, volume VII, n.º 13, 2002, pp. 13-57.
7 Ver «Evolução e Reforma das Secretarias de Estado», O Terramoto Político (1755-1759),
Lisboa, Ediual, 2007, pp. 28-44. Para um desenvolvimento desta questão ver e-Journal for
Portuguese History, Volume 5, n.º 2, Winter 2007.
8 Nuno Gonçalo Monteiro, D. José. Na Sombra de Pombal, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006,
pp. 236-240.
9 André da Silva Costa, Os Secretários e o Estado do Rei: Luta de Corte e Poder Político, séculos
XVI e XVII, Lisboa, dissertação de mestrado, FCSH da UNL, 2008, policopiada (orientada por
Pedro Cardim).
10 José António Escudero refere como virtudes dos secretários: cultura, humanismo, segredo,
capacidade de trabalho, honestidade, religiosidade, ética e bom trato (Los Secretarios de Estado
y del Despacho (1474-1724)…, vol. II, pp. 388-417).
11 Sobre o valimento em Espanha ver, em especial, Francisco Tomás y Valiente, Los Validos en la
monarquia española del siglo XVII, Madrid, Siglo XXI de España Editores, 1990 (2.ª edição
revista, Instituto de Estúdios Políticos, 1963); José António Escudero, «Introducción. Privados,
Validos y Primeros Ministros»…
12 Para o caso português ver, por exemplo, Fr. Francisco do Sanctissimo Sacramento (1610-1689)
Epitome único da dignidade de grande e maior Ministro da puridade, e da sua muita
antiguidade e excellencia, Lisboa, 1666 e D. José Barbosa, Vasconcellos e Sousa, conde de
Castello-melhor, escrivão da puridade d’el-rei D. Affonso VI, e conselheiro d’estado d’el rei D.
João V nosso senhor, Lisboa, oficina Mathias Pereira da Silva & João Antunes Pedroso, 1720.
13 Ver, por exemplo, João Peres de Macedo de Sousa, Primeiro ministro, exemplar de ministros,
o illustrissimo e excellentissimo senhor conde de Oeyras…1764; Luís Innocencio de Pontes
Ataíde e Azevedo, A administração de Sebastião José de Carvalho e Mello, Marquez de Pombal,
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primeiro ministro de S.M.F. o senhor D. José I, rei de Portugal, 1.ª edição de 1786 [sublinhados
nossos]). Outras ilustrações com base na correspondência diplomática em Nuno Gonçalo
Monteiro, D. José…, pp. 236-246.
14 António Feros, Kingship and Favoritism in the Spain of Philip III, 1598-1621, Cambridge,
Cambridge University Press, 2000, com edição revista e aumentada em língua espanhola com o
título El Duque de Lerma. Realeza y favoritismo en la España de Filipe III, Madrid, Marcial
Pons, 2002.
15 Segundo o conde de Tovar, o cargo terá existido por volta de 1250 (ver «O Escrivão da
Puridade», Estudos Históricos, Tomo II, vol. 6, Lisboa, 1961). E também: António Joaquim de
Gouvêa Pinto, Memoria Histórica, ou Catalogo chronologico dos escrivães da Puridade…etc,
Lisboa, Academia Real das Ciências, 1833; e Francisco Trigozo Morato, «Memória sobre os
Escrivães da Puridade dos Reis de Portugal e do que a este officio pertence», Memorias da
Academia Real das Sciencias, tomo XII, parte I, 1837.
16 Para o período medieval ver os trabalhos de Armando Luís de Carvalho Homem, Conselho
Real ou Conselheiros do Rei? A propósito dos «privados» de D. João I, Revista da Faculdade de
Letras do Porto, II Série, vol. IV, 1987, pp. 9-68; L’Etat Portugais et ses serviteurs, Journal des
Savants, Julho-Dezembro de 1987, pp. 181-203. E em colaboração com Maria Helena da Cruz
Coelho, Origines et Évolution du Registre de la Chancellerie Royal Portugaise (XIIIe-XVe
siècles), Porto, 1995.
17 ANTT, Manuscritos da Livraria, n.os 167 a 171, Miscellanea histórico-política, em particular
n.º 170, p. 109.
18 Sobre as reformas administrativas do reinado de D. João III ver José Subtil «Modernidades e
Arcaísmos do Estado de Quinhento», A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo
(séculos XIII-XV)…, pp. 317-371.
19 Systema, ou Collecção dos Regimentos Reaes, Lisboa, 1791, tomo VI, pp. 471-473.
20 Para um conhecimento global sobre a movimentação dos actores políticos deste período, tanto
em Portugal como em Espanha, ver Rafael Valladares, A Independência de Portugal, guerra e
restauração 1640-1680, Lisboa, Esfera dos Livros, 2006, especialmente os capítulos sobre «O
Novo Regime (1640-1667)» pp. 271-311 e sobre o «Velho Regime (1667-1680)» pp. 313-343.
21 André da Silva Costa, Os Secretários e o Estado do Rei: Luta de Corte e Poder Político, séculos
XVI e XVII…, pp. 147-150.
22 José Justino de Andrade e Silva, Collecção Chronologica da Legislação Portugueza, Lisboa,
1855-1856 (vol. de 1634-1647), pp. 226-227.
23 As suas instruções sobre a entrada do embaixador extraordinário da França contrastam com
os privilégios de privança dos validos (ANTT, Miscelâneas Manuscritas, n.º 167, pp. 16-19). Ver,
também, «Parte de hum Papel que se achou da letra de Pedro Vieira da Silva conducente à
deposição del Rei D. Affonso 6», Manuscritos da Livraria, n.º 171, p. 69 e ss. Pedro Cardim
chamou a atenção para a importância desempenhada por Pedro Vieira da Silva na configuração
dos poderes simbólicos (ver Cortes e Cultura Política no Portugal do Antigo Regime, Lisboa,
Cosmos, 1998, pp. 62 e ss).
24 ANTT, Miscelâneas Manuscritas, n.º 168, pp. 244-245.
25 Veja-se, por exemplo, ANTT, Miscelâneas Manuscritas, n.º 167, p. 31.
26 ANTT, Miscelâneas Manuscritas, n.º 168, pp. 144-146.
27 José Justino de Andrade e Silva, Collecção Chronologica da Legislação Portugueza, Lisboa,
1856 (vol. 1657-1674), pp. 83-85.
28 António Sousa Tavares foi desembargador da Relação do Porto, agravista da Casa da
Suplicação, procurador da Coroa, juiz dos feitos da Coroa, conselheiro e deputado. Foi secretário
da embaixada de Tristão de Mendonça aos Estados da Holanda (1641) e secretário do Infante D.
Pedro na Casa do Infantado. Faleceu a 17 de Janeiro de 1667 (José Subtil, Dicionário dos
Desembargadores Portugueses (1640-1834), Lisboa, Ediual, 2010.
29 ANTT, Manuscritos da Livraria, n.os 167 e 168. Entre várias ver, por exemplo, a sua carta
pedindo «da parte do Principe Regente D. Pedro, huma clareza de todos os negócios dos
Tribunaes pertencentes à Secretaria de Estado», n.º 168, p. 160.
30 Sobre pormenores desta tensão ver André da Silva Costa, Os Secretários e o Estado do Rei:
Luta de Corte e Poder Político, séculos XVI e XVII…. pp. 175-191. E sobre alguns dos excepcionais
privilégios do Duque de Cadaval ver o aviso a remeter-lhe uma chave «para ter entrada livre no
Quarto de S. M», ANTT, Manuscritos da Livraria, n.º 167, p. 158.
31 Citada por Nuno Gonçalo Monteiro, «A Consolidação da Dinastia de Bragança e o Apogeu do
Portugal Barroco», História de Portugal…, pp. 272-273.
32 Collecção da Legislação Antiga e Moderna do Reino de Portugal, Leis Extravagantes, Tomo
II, Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1819, pp. 458-463.
33 Segundo Eduardo Brazão, terá sido o cardeal da Mota quem propôs a D. João V a reforma das
secretarias e o modelo a que devia obedecer, bem como o nome dos indigitados para os cargos
(ver «A Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, criação de D. João V», Revista
Portuguesa de História, vol. XVI, Coimbra, 1976, pp. 51-62).
https://journals.openedition.org/lerhistoria/1472 12/14
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34 Abílio Diniz Silva, D. Luís da Cunha, Instruções Políticas, Lisboa, CNCDP, 2001, pp. 181-185.
35 Ver Maria Victoria López-Cordón, «Instauración dinástica y reformismo administrativo: la
implantación del sistema ministerial», Manuscrits 18, 2000, pp. 93-111 e síntese do período em
AAVV, Historia de España, Los Borbones en el Siglo XVIII (1700-1808), Madrid, Gredos, 1991.
36 Ver, de 19 de Julho de 1759, o Decreto nomeando hum Secretario de Estado adjunto ao dos
Negócios do Reino: «Sou servido, sem exemplo, e por esta vez sómente, […] nomear a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado […] Secretario de Estado adjunto ao mesmo Conde de Oeiras»,
Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza, de António Delgado da Silva, 1860 (vol.
1750-1762), p. 666. Para detalhes das remodelações do governo pombalino ver José Subtil, O
Terramoto Político(1755-1759)…, pp. 89-105.
37 Supplemento à Collecção de Legislação Portuguesa, António Delgado da Silva, 1860, (vol.
1750-1762), pp. 625--631 e algumas das reacções políticas em José Subtil, O Desembargo do Paço
(1750-1833), Lisboa, UAL, 1996, pp. 202-206.
38 António Hespanha, «A Fazenda», História de Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores/Editorial
Estampa, 1997, vol. 4, pp. 181-213.
39 Sobre esta reforma, v. José Subtil «Inspecteurs, Intendants et Surintendants», Les figures de
l’Administrateur, Paris, École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1997, pp.135-149.
40 José Subtil, em O Terramoto de 1755, Impactos Históricos, (organização de Ana Cristina
Araújo e outros), Lisboa, Livros Horizonte, 2007, pp. 209-224.
41 Num trabalho recente sobre a Casa das Rainhas a evidência desta governamentalização é
exemplar (ver de José Subtil, «O Estado e a Casa da Rainha de Portugal. Entre as Vésperas do
Terramoto e o pombalismo», Las Relaciones Discretas entre las Monarquías Hispana y
Portuguesa: Las Casas de las Reinas (siglos XV-XIX), coordenação de José Martínez Millán e
Maria Paula Marçal Lourenço, Madrid, Ediciones Polifemo, 2008, volume II, pp. 725-767.
42 Opinião partilhada por José Vicente Serrão num ensaio, já com alguns anos, em que
desenvolve argumentos semelhantes aos que aqui são apresentados. Ver «Sistema político e
funcionamento institucional no Pombalismo», Do Antigo Regime ao Liberalismo (1750-1850),
organização de Fernando Marques da Costa e outros, Lisboa, Veja, 1989, pp. 11-21, seguindo a
linha de pensamento de José da Silva Dias em «Pombalismo e teoria política», Cultura –
História e Filosofia, I, 1982, pp. 45-114.
43 Contra a ideia da «viradeira» ver, entre outros textos de José Subtil, «Portugal y la Guerra
Peninsular. El maldito año 1808», Cuadernos de Historia Moderna, VII, 2007, pp. 101-143.

Pour citer cet article


Référence papier
José Subtil, « Pombal e o Rei: valimento ou governamentalização? », Ler História, 60 | 2011, 53-
69.

Référence électronique
José Subtil, « Pombal e o Rei: valimento ou governamentalização? », Ler História [En ligne],
60 | 2011, mis en ligne le 03 février 2016, consulté le 24 septembre 2021. URL :
http://journals.openedition.org/lerhistoria/1472 ; DOI : https://doi.org/10.4000/lerhistoria.1472

Auteur
José Subtil
Universidade Autónoma de Lisboa

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João Fragoso e Nuno Gonçalo Monteiro (org), Um reino e suas repúblicas no Atlântico.
Comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XVI e XVII. Rio de
Janeiro : Civilização Brasileira, 2017, 476 pp. ISBN 9788520012697 [Texte intégral]
Paru dans Ler História, 75 | 2019
Pedro Tavares de Almeida e Paulo Silveira e Sousa (coord.), Do Reino à Administração
Interna, História de um Ministério (1736-2012). [Texte intégral]
Paru dans Ler História, 70 | 2017

Droits d’auteur

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24/09/2021 12:56 Pombal e o Rei: valimento ou governamentalização?

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