Lei de Investimento
Lei de Investimento
Lei de Investimento
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Artigo 1
(Definições)
1. Para efeitos da presente Lei, considera-se:
a) Actividade económica – a produção e comercialização de bens ou
prestação de serviços de qualquer que seja a sua natureza, levada a
cabo em qualquer sector da economia nacional.
b) Capital estrangeiro – a contribuição susceptível de avaliação
pecuniária disponibilizada sob as formas de investimento previstas
no artigo 9 e de conformidade com as disposições regulamentares
desta Lei a aprovar pelo Conselho de Ministros, provenientes do
estrangeiro e destinados à realização de projecto de investimento
em território moçambicano.
c) Capital investido – o capital efectivamente realizado e aplicado
num projecto de investimento directo, nacional ou estrangeiro, nos
termos do definido nas alíneas m) e n) deste artigo.
d) Capital nacional – o somatório da contribuição avaliável em
termos pecuniários e correspondente às diferentes formas de
participação no investimento através de capitais próprios,
suprimentos, bens móveis e imóveis e direitos incorporados ou a
incorporar num projecto de investimento, de conformidade com as
disposições regulamentares da presente Lei.
e) Capital próprio – a parte ou componente do investimento directo
realizado através de disponibilidades financeiras ou de bens e
direitos, devidamente avaliados e certificados por uma entidade
idónea, pertencentes ao investidor, nacional ou estrangeiro, e
empregues para a realização da respectiva participação no capital
social da empresa constituida ou a constituir para, através dela, se
levar a cabo a implementação e exploração de um projecto de
investimento.
f) Capital investido reexportável – bens e direitos que compreendem
o investimento directo estrangeiro, nos termos definidos na alínea
m) deste artigo, de conformidade com os valores resultantes da
liquidação, em caso de extinção do empreeendimento, ou do
produto da alienação ou de indemnização, total ou parcial, relativo
aos referidos bens ou direitos, depois de pagos os impostos e
empréstimos devidos e cumpridas as demais obrigações
eventualmente existentes ou previstas, nos termos da autorização
concedida para a realização do respectivo projecto de investimento.
g) Empreendimento – actividade de natureza económica em que se
tenha investido capital estrangeiro e/ou nacional e para cuja
realização e exploração haja sido concedida a necessaria
autorização.
h) Empresa – entidade que exerce uma actividade económica, de
forma organizada e continuada, responsável pela implementação de
projecto de investimento e pela subsequente exploração da
respectiva actividade ou actividades.
i) “Franchising” (ou franquia) – modalidade de contrato comercial
através da qual o detentor (“franchisor” ou licenciador) de um dado
“Know-how”, marca, sigla ou símbolo comercial os cede, no todo ou
em parte, a outrem e em regime de exclusividade, com ou sem a
garantia da respectiva assistência técnica e serviços de
comercialização, obrigando-se o “franchisee” (ou licenciado) à
realização dos investimentos necessários, ao pagamento de
remuneração periódica e à aceitação do controlo do “franchisor”
sobre a sua actividade comercial.
j) Investidor estrangeiro – pessoa singular ou colectiva que haja
trazido do exterior, para Moçambique, capitais e recursos próprios
ou sob sua conta e risco, com vista à realização de algum
investimento directo estrangeiro, nos termos da alínea m) do
presente artigo, em projecto previamente autorizado pela entidade
competente nos termos desta Lei.
l) Investidor nacional – pessoa singular ou colectiva que tenha
disponibilizado capitais e recursos próprios ou sob sua conta e risco,
destinados à realização de algum investimento directo nacional, nos
termos previstos na alínea n) deste artigo, num projecto
previamente autorizado pela entidade competente, de conformidade
com a presente Lei.
m) Investimento directo estrangeiro – qualquer das formas de
contribuição de capital estrangeiro susceptível de avaliação
pecuniária, que constitua capital ou recursos próprios ou sob conta e
risco do investidor estrangeiro, provenientes do exterior e
destinados à sua incorporação no investimento para a realização de
um projecto de actividade económica, através de uma empresa
registada em Moçambique e a operar a partir do território
moçambicano.
n) Investimento directo nacional – qualquer das formas de
contribuição de capital nacional susceptível de avaliação pecuniária,
que constitua capital ou recursos próprios ou sob conta e risco do
investidor nacional, destinados à realização de projecto de
investimento autorizado, tendo em vista a exploração da respectiva
actividade económica através de uma empresa registada em
Moçambique e a operar tendo a sua base em território
moçambicano.
o) Investimento indirecto – qualquer modalidade de investimento
cuja remuneração e/ou reembolso não consista, exclusivamente, na
participação directa dos seus contribuintes na distribuição dos lucros
finais resultantes da exploração de actividades dos projectos em que
formas específicas de realização do investimento, previstas no artigo
10, tiverem sido aplicadas.
p) Lucros exportáveis – a parte dos lucros ou dividendos, líquidos de
todas as despesas de exploração, resultantes da actividade de um
projecto que envolva investimento directo estrangeiro elegível à
exportação de lucros nos termos do Regulamento desta Lei a
aprovar pelo Conselho de Ministros, cuja remessa para o exterior o
investidor pode efectuar sob sua livre iniciativa, assim que
providenciados o pagamento dos impostos e outras obrigações
devidas ao Estado e as deduções legais relativas à constituição ou
reposição de fundos de reservas bem como de reembolso de
empréstimos e respectivos juros e demais obrigações eventualmente
existentes para com terceiros.
q) Pessoa estrangeira – qualquer pessoa singular cuja nacionalidade
não seja moçambicana, ou, tratando-se de pessoa colectiva, toda a
entidade societária constituída originariamente nos termos da
legislação diferente da legislação moçambicana, ou que, tendo sido
constituida na República de Moçambique, nos termos da legislação
moçambicana, o respectivo capital social seja detido em mais de
50% (cinquenta por cento) por pessoas estrangeiras, nos termos do
número 2 deste artigo.
r) Pessoa moçambicana – qualquer cidadão de nacionalidade
moçambicana ou qualquer sociedade ou instituição constituida e
registada nos termos da legislação moçambicana, com sede na
República de Moçambique, e na qual o respectivo capital social
pertença em, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) a cidadãos
nacionais ou sociedades ou instituições, privadas ou públicas,
moçambicanas.
s) Projecto – empreendimento de actividade económica em que se
pretenda investir ou se tenha investido capital estrangeiro ou
nacional ou ainda a combinação de capital estrangeiro e nacional,
em relação ao qual haja sido concedida a necessária autorização
pela entidade competente.
t) Reinvestimento directo estrangeiro – aplicação, total ou parcial, dos
lucros exportáveis resultantes da exploração das actividades de
algum projecto de investimento directo estrangeiro, quer no próprio
empreendimento que os produziu quer em outros empreendimentos
realizados no País.
u) Reinvestimento directo nacional – aplicação, total ou parcial dos
lucros não exportáveis resultantes da exploração de actividades de
algum projecto de investimento, quer essa aplicação se verifique no
próprio empreendimento que os produziu quer se efectue em outros
empreendimentos realizados no País.
v) Rendimentos – quaisquer quantias geradas num determinado
período de exercício e exploração da actividade de um projecto de
investimento, tais como lucros, dividendos, “royalities” e outras
eventuais formas de remuneração associada à cedência de direitos
de acesso e utilização de tecnologias e marcas registadas, bem
como de juros e outras formas de retribuição de investimentos
directos e indirectos com base nos resultados de exploração da
actividade do respectivo projecto.
x) Zona franca industrial – área ou unidade ou série de unidades de
actividade industrial, geograficamente delimitada e regulada por um
regime aduaneiro específico na base do qual as mercadorias que aí
se encontrem ou circulem, destinadas exclusivamente à produção de
artigos de exportação, bem como os próprios artigos de exportação
daí resultantes, estão isentos de todas as imposições aduaneiras,
fiscais e para-fiscais correlacionadas, beneficiando,
complementarmente, de regimes cambial, fiscal e laboral
especialmente instituídos e apropriados à natureza e eficiente
funcionamento dos empreendimentos que aí operem,
particularmente no seu relacionamento e cumprimento das suas
obrigações comerciais e financeiras para com o exterior,
assegurando-se, em contrapartida, o fomento do desenvolvimento
regional e a geração de benefícios económicos em geral e, em
especial, de incremento da capacidade produtiva, comercial,
tributária e de geração de postos de trabalho e de moeda externa
para o País;
z) Zona económica especial – área de actividade económica em
geral, geograficamente delimitada e regida por um regime aduaneiro
especial com base no qual todas as mercadorias que aí entrem, se
encontrem, circulem, se transformem industrialmente ou saiam para
fora do território nacional estão totalmente isentas de quaisquer
imposições aduaneiras, fiscais e para-fiscais correlacionadas,
gozando, adicionalmente, de um regime cambial livre e de
operações “off-shore” e de regimes fiscal, laboral e de migração
especificamente instituídos e adequados à entrada rápida e eficiente
funcionamento dos empreendimentos e investidores que aí
pretendam ou se encontrem já a operar ou a residir, particularmente
no seu relacionamento e cumprimento das suas obrigações
comerciais e financeiras para com o exterior, assegurando-se, em
contrapartida, a promoção do desenvolvimento regional e geração
de benefícios económicos em geral e, em especial, de incremento
da capacidade produtiva, comercial, tributária e de geração de
postos de trabalho e de divisas para a República de Moçambique.
2. Para o cômputo da percentagem da participação no capital social,
para efeitos da determinação da nacionalidade do investidor, em
conformidade com as alíneas q) e r) do número anterior, ter-se-á em
consideração a origem dos capitais somando-se, respectivamente, as
participações das pessoas estrangeiras e das pessoas moçambicanas.
Artigo 2
(Objecto da Lei)
1. A presente Lei tem por objecto definir o quadro legal básico e
uniforme do processo de realização, na República de Moçambique, de
investimentos nacionais e estrangeiros elegíveis ao gozo das garantias
e incentivos nela previstos.
2. Os empreendimentos cujos investimentos sejam ou tenham sido
realizados sem a observância das disposições desta Lei e respectiva
regulamentação não beneficiarão das garantias e incentivos nela
preconizados.
Artigo 3
(Âmbito de aplicação)
1. A presente Lei aplica-se a investimentos de natureza económica
que se realizem em território moçambicano e pretendam beneficiar
das garantias e incentivos nela consagrados bem como aos
investimentos levados a cabo nas zonas francas industriais e zonas
económicas especiais, cujos processos obedeçam às disposições dos
diplomas regulamentares previstos nos termos do artigo 29,
independentemente da nacionalidade e natureza dos respectivos
investidores.
2. Esta Lei não se aplica aos investimentos realizados ou a realizar
nas áreas de prospecção, pesquisa e produção de petróleo, gás e
indústria extractiva de recursos minerais.
3. Não são abrangidos por esta Lei os investimentos públicos
financiados por fundos do Orçamento Geral do Estado bem como os
investimentos de carácter exclusivamente social.
Artigo 4
(Igualdade de tratamento)
1. No exercício das suas actividades, os investidores, empregadores
e trabalhadores estrangeiros gozarão, tal como os nacionais, dos
mesmos direitos e sujeitar-se-ão aos mesmos deveres e obrigações
consagrados na legislação em vigor na República de Moçambique.
2. Exceptuam-se do disposto no número anterior os casos de
projectos ou actividades de nacionais que pela sua natureza como
pela dimensão dos respectivos investimentos e empreendimentos,
possam merecer do Estado um apoio e tratamento especiais.
Artigo 5
(Assunção de acordos internacionais)
As disposições da presente Lei não restringem as eventuais garantias,
vantagens e obrigações especialmente contempladas em acordos ou
tratados internacionais de que a República de Moçambique seja
signatária.
Artigo 6
(Princípio básico e orientador dos investimentos)
Os investimentos abrangidos por esta Lei, independentemente da forma
de que se revistam, deverão contribuir para o desenvolvimento
económico e social sustentável do País, subordinar-se aos princípios e
objectivos da política económica nacional e às disposições desta Lei e
sua regulamentação e da demais legislação aplicável em vigor no País.
Artigo 7
(Objectivos dos investimentos)
A realização de investimentos abrangidos pela presente Lei deverá visar,
nomeadamente, os seguintes objectivos:
a) a implantação, reabilitação, expansão ou modernização de
infraestruturas económicas destinadas à exploração de actividade
produtiva ou à prestação de serviços indispensáveis para o apoio à
actividade económica produtiva e de fomento do desenvolvimento
do País;
b) a expansão e melhoria da capacidade produtiva nacional ou de
prestação de serviços de apoio à actividade produtiva;
c) a contribuição para a formação, multiplicação e desenvolvimento
de empresariado e parceiros empresariais moçambicanos;
Artigo 8
(Formas de investimento directo nacional)
O investimento directo nacional pode, isolada ou cumulativamente,
assumir qualquer das formas seguintes, desde que susceptíveis de
avaliação pecuniária:
a) numerário;
b) infraestruturas, equipamentos e respectivos acessórios, materiais
e outros bens;
c) cedência de exploração de direitos sobre concessões, licenças e
outros direitos de natureza económica, comercial ou tecnológica;
d) cedência, em casos específicos e nos termos acordados e
sancionados pelas entidades competentes, dos direitos de utilização
de terra, tecnologias patenteadas e de marcas registadas, cuja
remuneração se limita à participação na distribuição dos lucros da
empresa, resultantes das actividades em que tais tecnologias ou
marcas tiverem sido ou forem aplicadas.
Artigo 9
(Formas de investimento directo estrangeiro)
O investimento directo estrangeiro pode revestir, isolada ou
cumulativamente, qualquer das formas seguintes, desde que
susceptíveis de avaliação pecuniária:
a) moeda externa livremente convertível;
b) equipamentos e respectivos acessórios, materiais e outros bens
importados;
c) cedência, em casos específicos e nos termos acordados e
sancionados pelas entidades competentes dos direitos de utilização
de tecnologias patenteadas e de marcas registadas e cuja
remuneração se limitar à participação na distribuição dos lucros da
empresa resultantes das actividades em que tais tecnologias ou
marcas tiverem sido ou forem aplicadas.
Artigo 10
(Formas de investimento indirecto)
Com ressalva do disposto nas alíneas b) e c), respectivamente, dos
artigos 8 e 9, e no número 2 do artigo 17, o investimento indirecto,
nacional ou estrangeiro, compreende, isolada ou cumulativamente, as
formas de empréstimos, suprimentos, prestações suplementares de
capital, tecnologia patenteada, processos técnicos, segredos e modelos
industriais, “franchising”, marcas registadas, assistência técnica e outras
formas de acesso à utilização ou de transferência de tecnologia e
marcas registadas cujo acesso à sua utilização seja em regime de
exclusividade ou de licenciamento restrito por zonas geográficas ou
domínios de actividade industrial e/ou comercial.
Artigo 11
(Áreas para investimentos de livre iniciativa privada)
Constituem áreas abertas à livre iniciativa de investimentos privados
todas as actividades económicas que não estejam expressamente
reservadas à propriedade ou exploração exclusivas do Estado ou à
iniciativa de investimento do sector público.
Artigo 12
(Áreas reservadas à iniciativa do sector público)
O Conselho de Ministros definirá as áreas de actividade económica
reservadas à iniciativa do sector público para a realização de
investimentos, com ou sem envolvimento da participação do sector
privado, definindo ainda as percentagens de participação de
investimento privado, nacional e estrangeiro.
CAPÍTULO II
Garantias e Incentivos Fiscais
Artigo 13
(Protecção dos direitos de propriedade)
1. O Estado garante a segurança e protecção jurídica da propriedade
sobre os bens e direitos, incluindo os direitos de propriedade
industrial, compreendidos no âmbito dos investimentos autorizados e
realizados de conformidade com esta Lei e respectiva regulamentação.
2. Com fundamento em ponderadas razões de interesse nacional,
saúde e ordem públicas, a nacionalização ou expropriação de bens e
direitos que constituam investimento autorizado e realizado nos
termos desta Lei será objecto de indemnização justa e equitativa.
3. Decorridos mais de noventa dias sem que as eventuais
reclamações submetidas pelos respectivos investidores, nos termos a
regulamentar pelo Conselho de Ministros, tenham sido solucionados e
quando desse facto tenham resultado prejuízos de ordem financeira
decorrentes da imobilização dos capitais investidos, os referidos
investidores terão direito a uma remuneração justa e equitativa pelos
prejuízos incorridos por explícita responsabilidade de instituições do
Estado.
4. A avaliação de bens ou direitos nacionalizados ou expropriados
bem como de prejuízos de ordem financeira sofridos por investidores
por explícita responsabilidade de instituições do Estado, para efeitos
de determinação do valor de indemnização ou remuneração previstas
nos números 1 e 2 deste artigo, será efectuada no prazo de noventa
dias por uma comissão especialmente constituida para esse efeito ou
por uma empresa de auditoria de idoneidade e competência
reconhecidas.
5. O pagamento da indemnização ou remuneração referidas nos
números anteriores terá lugar no prazo de noventa dias contados a
partir da data da aceitação pelo órgão do Estado competente da
avaliação efectuada nos termos do número anterior. O tempo de
apreciação para efeitos de tomada de decisão sobre a avaliação
efectuada e apresentada ao órgão competente do Estado não deverá
exceder quarenta e cinco dias contados a partir da data da entrega e
recepção do dossier de avaliação.
Artigo 14
(Transferência de fundos para o exterior)
1. O Estado garante, de acordo com as condições fixadas na
respectiva autorização ou outros instrumentos jurídicos pertinentes ao
investimento, a transferência para o exterior de:
a) lucros exportáveis resultantes de investimentos elegíveis à
exportação de lucros nos termos da regulamentação desta Lei;
b) “royalities” ou outros rendimentos de remuneração de
investimentos indirectos associados à cedência ou transferência de
tecnologia;
c) amortizações e juros de empréstimos contraidos no mercado
financeiro internacional e aplicados em projectos de investimentos
realizados no País;
d) produto de indemnização nos termos do número 2 do artigo
anterior.
e) capital estrangeiro investido e reexportável, independentemente
da elegibilidade ou não do respectivo projecto de investimento à
exportação de lucros, nos termos da regulamentação da presente
Lei.
2. A efectivação das transferências referidas no número anterior
observará as formalidades fixadas no artigo seguinte.
Artigo 15
(Formalidades para transferências para o exterior)
1. Em harmonia com a definição contida na alínea p) do número 1 do
artigo 1, satisfeitas as obrigações fiscais aplicáveis, os investidores
estrangeiros, que tiverem realizado investimentos autorizados nos
termos desta Lei e respectiva regulamentação, poderão, mediante a
observância das formalidades cambiais aplicáveis, transferir para o
exterior até à totalidade dos lucros que lhes couberem em cada
exercício económico.
2. O documento de quitação comprovativo da realização do
investimento e do cumprimento das obrigações fiscais, para efeitos de
transferência de lucros, será passado pelo Ministério do Plano e
Finanças no prazo de trinta dias contados a partir da data da
apresentação do respectivo pedido.
3. As transferências do capital reexportável ou do produto de
indemnização ou remuneração previstas nos termos do artigo
precedente serão efectuadas em prestações escalonadas num período
não superior a cinco anos e por forma a evitarem-se perturbações na
balança de pagamentos.
4. As transferências de lucros exportáveis bem como do capital
investido reexportável, processar-se-ão na moeda convertível da
opção do investidor, em conformidade com o disposto nesta Lei e
respectiva regulamentação, e no documento de autorização de cada
projecto específico.
5. Com observância do disposto no número seguinte, as
transferências previstas nos termos do estatuído na presente Lei e sua
regulamentação efectivar-se-ão assim que tenha sido efectuada:
a) a constituição ou reposição do fundo de reserva legal;
b) a liquidação dos impostos devidos;
c) a tomada de providências necessárias ao pagamento corrente das
prestações de capital e juros relativos a empréstimos contraídos
para a realização do empreendimento; e
d) a provisão adequada para se garantir o cumprimento das
prestações de capital e juros a vencer antes da ocorrência de novos
fundos suficientes para cobertura de tais responsabilidades.
6. A transferência de lucros exportáveis, em cada exercício
económico, será prontamente assegurada sempre que o saldo positivo
em divisas produzido pelo empreendimento ou pelo conjunto de
empreendimentos levados a cabo pelo mesmo investidor ou grupo de
investidores estrangeiros associados permitir a necessária cobertura.
7. Verificando-se a insuficiência de fundo cambial para a cobertura
dos lucros a exportar em um dado exercício económico por projecto
que não produza saldo positivo em moeda externa, o remanescente
transitará, para efeitos da sua transferência, para o exercício ou
exercícios económicos seguintes.
8. A transferência de lucros exportáveis gerados por um
investimento estrangeiro que demonstrar a substituição e redução
efectivas de importações ou comprovar o aforro de divisas ao País e
não apresentar fundos em moeda externa que assegurem a cobertura
dessa transferência, será autorizada e efectuada em condições a
acordar com o respectivo investidor estrangeiro.
9. A transferência do capital reexportável processar-se-á nos termos
dos números 3 e 4 deste artigo e proporcionalmente à participação do
investimento directo estrangeiro nos capitais próprios do respectivo
empreendimento, com base no valor do produto da liquidação,
alienação ou indemnização, totais ou parciais, desse empreendimento
ou, ainda, se findo o prazo da autorização do investimento directo
estrangeiro sem que se verifique a sua renovação.
Artigo 16
(Incentivos)
1. Em complemento das garantias de propriedade e de
transferências de fundos para o exterior consagrados nos artigos 13 a
15 precedentes, o Estado garante a concessão dos incentivos fiscais e
aduaneiros a serem definidos no Código dos Benefícios Fiscais para
Investimentos em Moçambique, realizados em conformidade com a
presente Lei e sua regulamentacão.
2. O direito ao gozo dos incentivos concedidos nos termos do
número anterior é irrevogável durante a vigência do respectivo prazo
que for previsto no Código dos Benefícios Fiscais para Investimentos
em Moçambique, desde que não se alterem os condicionalismos que
tiverem fundamentado a sua concessão.
3. Compete ao Conselho de Ministros aprovar, por Decreto, o Código
dos Benefícios Fiscais a que se referem os números anteriores.
CAPÍTULO III
Financiamento e Operações Cambiais
Artigo 17
(Financiamento do investimento directo)
1. O investimento directo em projectos a realizar no País ao abrigo
da presente Lei e sua regulamentação será financiado por capitais
próprios disponibilizados pelos respectivos investidores.
2. Consideram-se parte do investimento directo os valores
financiados com recurso aos suprimentos e/ou prestações
suplementares de capital disponibilizados pelos investidores e cuja
remuneração não assuma a forma de cobrança de juros sobre o
empreendimento em que forem aplicados.
Artigo 18
(Acesso ao crédito interno)
As empresas constituidas com a participação de investimento directo
estrangeiro poderão beneficiar de acesso ao crédito interno, nos
mesmos termos e condições aplicáveis às empresas moçambicanas, e
de conformidade com a legislação vigente no País.
Artigo 19
(Alocação de moeda externa)
1. Para os empreendimentos de actividades geradoras de divisas, o
Banco de Moçambique poderá, mediante a apresentação pelas
respectivas empresas de planos anuais das suas necessidades
cambiais, autorizar a retenção, em conta de moeda externa, de uma
parte das receitas que forem sendo pelos mesmos geradas.
2. Para os casos não abrangidos pelo número anterior adoptar-se-ão
mecanismos apropriados para cada caso tendo em conta o interesse
económico e importância social de cada empreendimento.
Artigo 20
(Operações cambiais)
As operações cambiais e a conversão da moeda externa para a moeda
local e vice-versa processar-se-ão em conformidade com a legislação e
normas vigentes no País sobre a matéria.
CAPÍTULO IV
Autorização e Registo
Artigo 21
(Tomada de decisão sobre projectos de investimentos)
1. A realização, no País, de projectos de investimentos elegíveis ao
gozo das garantias e incentivos previstos nos termos desta Lei carece
de autorização de entidades governamentais competentes.
2. O Governo estabelecerá, em regulamento, os níveis de
competência para tomada de decisão sobre projectos de investimentos
por entidades governamentais.
3. O Conselho de Ministros regulamentará os prazos a observar para
tomada de decisão sobre as propostas de investimentos, bem como os
procedimentos a seguir quando determinada proposta não for
decidida pela entidade competente dentro do prazo estipulado.
4. Competirá ainda ao Conselho de Ministros regulamentar as
situações em que poderão ocorrer alterações ou a revogação de
autorizações concedidas para a realização de projectos de
investimentos em território nacional.
Artigo 22
(Registo do investimento directo estrangeiro)
1. O investidor estrangeiro deverá, no prazo de 120 dias contados a
partir da notificação da decisão, proceder ao registo do seu
empreendimento envolvendo investimento directo estrangeiro junto
da entidade licenciadora de importação de capitais, bem como ao
registo de cada operação efectiva de importação de capitais que
realizar.
2. A não efectuação dos registos estipulados neste artigo poderá
determinar o não reconhecimento do direito á exportação de lucros e
à reexportação do capital investido.
3. Os registos preconizados neste artigo far-se-ão sem prejuízo da
verificação e confirmação, nos termos previstos na regulamentação
desta Lei, dos valores declarados para efeitos do respectivo registo.
Artigo 23
(Cedência de posição ou direitos de investidor)
1. O investidor poderá ceder, no todo ou em parte, a sua posição ou
direitos sobre um investimento ou a sua participação no respectivo
capital, mediante pedido expresso devidamente fundamentado dirigido
ao Ministro do Plano e Finanças que deverá dar entrada no Centro de
Promoção de Investimentos, ou do seu delegado provincial.
2. O cedente deverá indicar, no seu pedido, além da identificação do
cessionário, as eventuais condições acordadas em conexão com a
cedência da posição ou direitos em causa.
3. Sendo o cedente, de todo ou de parte da sua posição no
investimento ou capital social, um investidor estrangeiro, o mesmo
poderá solicitar a transferência para o exterior do produto dessa
alienação, assim que satisfeitas as eventuais obrigações fiscais
incidentes sobre as mais-valias que, porventura, tiverem lugar na
operação da alienação, acima do montante do capital efectivamente
investido.
4. O cessionário só poderá gozar das garantias e incentivos previstos
nesta Lei se a cessão tiver sido autorizada, efectuada e registada nos
termos do artigo 22, e durante a vigência da autorização do respectivo
empreendimento.
Artigo 24
(Sancionamento e registo de investimentos indirectos)
1. A realização de qualquer investimento indirecto estrangeiro,
contemplado nos termos da presente Lei e sua regulamentação,
carece de sancionamento prévio pela entidade competente.
2. Para efeitos do disposto no número anterior, é entidade
competente:
a) O Banco de Moçambique, para os investimentos que assumirem a
forma de empréstimos associados a investimento directo, com ou
sem envolvimento de investimento directo estrangeiro;
b) A entidade responsável, nos termos da lei, pelo registo de cada
uma das demais formas de investimento indirecto estrangeiro,
desde que proveniente do exterior ou de outra proveniência
equiparável.
3. É condição necessária para a eligibilidade de qualquer das
modalidades previstas no artigo 10, para a sua consideração como
investimento indirecto, aplicado em projecto autorizado em
conformidade com esta Lei e sua regulamentação, que a respectiva
forma de investimento tenha, subsequentemente, sido objecto de
sancionamento e registo junto da entidade moçambicana competente,
nos termos do artigo anterior.
CAPÍTULO V
Disposições Diversas
Artigo 25
(Resolução de diferendos)
1. Os eventuais diferendos relativos à interpretação e aplicação da
presente Lei e sua regulamentação, que não possam ser solucionados
por via amigável ou negocial, serão submetidos, para resolução, às
entidades judiciais competentes, em conformidade com a legislação
moçambicana.
2. Os diferendos entre o Estado e investidores estrangeiros
concernentes a investimentos autorizados e realizados no País, que
não puderem ser solucionados nos termos previstos no número
anterior, serão, salvo acordo em contrário, resolvidos por arbitragem,
com possível recurso, mediante a prévia concordância expressa de
ambas as partes, a:
a) regras da Convenção de Washington, de 15 de Março de 1965,
sobre a Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos entre
Estados e Nacionais de outros Estados, bem como do respectivo
Centro Internacional de Resolução de Diferendos Relativos a
Investimentos entre Estados e Nacionais de outros Estados;
b) regras fixadas no Regulamento do Mecanismo Suplementar,
aprovado a 27 de Setembro de 1978 pelo Conselho de
Administração do Centro Internacional para a Resolução de
Diferendos Relativos a Investimentos, se a entidade estrangeira não
preencher as condições de nacionalidade previstas no artigo 25 da
Convenção;
c) regras de arbitragem da Câmara de Comércio Internacional, com
sede em Paris.
Artigo 26
(Protecção do meio ambiente)
1. Os investidores, e subsenquentemente as respectivas empresas,
deverão, no processo da elaboração, implementação e exploração dos
respectivos projectos, providenciar o estudo e avaliação do impacto
ambiental e dos problemas de poluição e sanidade susceptíveis de
resultar das actividades, desperdícios e/ou resíduos dos seus
empreendimentos, incluindo os efeitos potenciais e outras eventuais
implicações sobre os recursos florestais, geológicos e hídricos, tanto
nas suas áreas de concessão como na periferia das áreas de
implementação e exploração desses empreendimentos.
2. Caberá às mesmas empresas e investidores a tomada de medidas
apropriadas para a prevenção e minimização dos problemas
ambientais, em especial dos que tiverem já sido identificados no
estudo de avaliação do impacto ambiental referido no número
precedente, e em conformidade com as normas e instruções
emanadas das entidades competentes neste domínio, de alguma
disposição legal ou nos termos especificados na autorização concedida
para a realização do projecto ou na licença emitida para o exercício da
actividade.
3. As actividades com níveis de poluição e contaminação susceptíveis
de alterar e afectar negativamente o meio ambiente ou a saúde
pública sujeitar-se-ão às limitações impostas pela legislação e
determinações emanadas das entidades competentes, assim como às
normas e eventuais acordos internacionais sobre a matéria,
relativamente aos quais Moçambique seja signatário.
Artigo 27
( Projectos de investimentos anteriores )
1. A presente Lei e sua regulamentação não se aplicam aos
investimentos autorizados antes da sua entrada em vigor, os quais
continuam, até ao respectivo termo, a ser regidos pelas disposições da
legislação e dos termos ou contratos específicos através dos quais a
autorização de realização de cada projecto, no País, tiver sido
concedida.
2. Os projectos de investimentos submetidos para análise e
aprovação até à entrada em vigor desta Lei, serão analisados e
decididos nos termos da Lei n° 4/84, de 18 de Agosto, ou da Lei n°
5/87, de 19 de Janeiro, consoante o caso, salvo se os proponentes
optarem e solicitarem, expressamente, a aplicação da presente Lei.
Artigo 28
(Regularização de investimentos estrangeiros não registados)
1. Os investidores com projectos que envolvam investimento directo
estrangeiro autorizado nos termos da Lei n° 4/84, de 18 de Agosto, e
respectivo Regulamento, que se encontrem em processo de
implementação ou dentro do prazo estabelecido na respectiva
autorização para o início da sua implementação, mas que não tiveram
ainda sido objecto de registo nos termos do disposto no artigo 22,
deverão efectuar o seu registo junto do Ministério do Plano e Finanças,
no prazo de cento e oitenta (180) dias contados a partir da data da
entrada em vigor da presente Lei.
2. A não observância do disposto no número anterior poderá
determinar a revogação da autorização concedida, cessando, por
consequência, o reconhecimento e os compromissos assumidos pelo
Governo em relação aos referidos investimentos ao abrigo da lei n°
4/84, de 18 de Agosto e respectivo Regulamento.
Artigo 29
(Regulamentação)
O Conselho de Ministros aprovará os diplomas regulamentares da
presente Lei.
Artigo 30
(Disposição final)
Ficam revogadas as disposições da Lei n° 4/84, de 18 de Agosto, e da
Lei n° 5/87, de 19 de Janeiro, no que contrariem o disposto na presente
Lei.
Aprovada pela Assembleia da República.
O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA
Marcelino dos Santos
Promulgada aos 24 de Junho de 1993.
Publique-se.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Joaquim Alberto Chissano