20soluções para Olimpiadas de Matemática

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JUAN LÓPEZ LINARES

Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de Olimpíadas

Internacionais de Matemática. v. 3.

DOI: 10.11606/9786587023144

Pirassununga - SP
FACULDADE DE ZOOTECNIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS (FZEA)
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)
2021
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitor: Prof. Dr. Vahan Agopyan
Vice-Reitor: Prof. Dr. Antonio Carlos Hernandes

FACULDADE DE ZOOTECNIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS


Avenida Duque de Caxias Norte, 225 - Pirassununga, SP
CEP 13.635-900
http://www.fzea.usp.br
Diretora: Profa. Dra. Elisabete Maria Macedo Viegas
Vice-Diretor: Prof. Dr. Carlos Eduardo Ambrósio

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Serviço de Biblioteca e Informação da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da


Universidade de São Paulo

López Linares, Juan


L864g Geometria: soluções detalhadas para 20 problemas de
Olimpíadas Internacionais de Matemática. v. 3 / Juan
López Linares. –- Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo,
2021.
82 p.

ISBN 978-65-87023-14-4 (e-book)


DOI: 10.11606/9786587023144

1. Olimpíadas Internacionais de Matemática. 2. Ensino


Médio. 3. Ensino universitário. 4. Geometria Plana
Euclidiana. 5. Problemas resolvidos. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada por Girlei Aparecido de Lima, CRB-8/7113

Esta obra é de acesso aberto. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte
e a autoria e respeitando a Licença Creative Commons indicada.
Dedico este livro a minha família.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos Professores-Estudantes do curso de Geometria, com o uso do software

gratuito Geogebra, na solução de problemas de Olimpíadas e Vestibulares que me motivaram

a escrever este livro eletrônico.

Agradeço aos Professores Doutores Alessandro Firmiano de Jesus e João Paulo Martins

dos Santos, da Academia da Força Aérea de Pirassununga, pela revisão e comentários em vários

problemas.

Agradeço a minha família pelo incentivo e compreensão.


AUTOR

Dr. JUAN LÓPEZ LINARES.

Professor Doutor 2 do Departamento de Ciências Básicas (ZAB) da Faculdade de Zoo-

tecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente

ministra as disciplinas de Cálculo II e IV para estudantes de engenharias e os cursos de Trei-

namento Olímpico em Matemática para estudantes do Ensino Fundamental e Médio e Ge-

ometria, com o uso do software gratuito Geogebra, na solução de problemas de Olimpíadas e

Vestibulares para professores. Desenvolve projetos de pesquisa nas áreas de ensino e resolução

de problemas de Olimpíadas.

Graduação e Mestrado em Física na Universidade da Havana, Cuba, em 1994 e 1996,

respetivamente. Curso de Diploma da Matéria Condensada no Centro Internacional de Física

Teórica Abdus Salam, em Trieste, na Itália em 1997-1998. Estágio no Instituto de Espectros-

copia Molecular (CNR), Bolonha, Itália em 1998-1999. Doutor em Física pela Universidade

Federal de São Carlos (UFSCar) em 1999-2001. Pós-doutorado de 4 anos (2002-2005) na Uni-

versidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre Prossional em Matemática em Rede

Nacional (PROFMAT) pela UFSCar em 2019. Segue link para uma lista de publicações do

autor.
Título Curto

Vinte Desaos de Geometria Plana Euclidiana III


Título Longo

Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de Olimpíadas


Internacionais de Matemática. v. 3.

Resumo

Este é o quarto livro eletrônico do autor dedicado a resolução de problemas de


olimpíadas internacionais de Matemática. Nos três anteriores foram discutidos
desaos de Álgebra e Planimetria. Nesta oportunidade são apresentados outras
vinte questões de Geometria plana. O texto conta com 54 guras que facilitam
acompanhar as soluções. Muitos dos exercícios tem como complemento grácos
interativos no site do Geogebra e vídeos no YouTube. São discutidos assuntos
como: quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis, potência de um ponto relativo
a uma circunferência, eixo e centro radical, teoremas de Pitot e Napoleão, retas
de Euler e Simson-Wallace, relação de Stewart, máximos e mínimos usando as
desigualdades de Cauchy-Schwarz, triangular e das médias, incírculos e
exincírculos, homotetia, trigonometria, pontos e quadriláteros notáveis, base
média, semelhança e congruência de triângulos. Tipicamente cada questão usa
conhecimentos ligados a mais de uma ramo do conhecimento. A exposição
procura que o material possa de fato ser lido e estudado por estudantes de
língua portuguesa (e talvez espanhola) que se preparam para as fases nais das
olimpíadas nacionais ou internacionais e vestibulares. Se espera também que a
presente abordagem sirva de apoio aos professores do Ensino Médio que se
aventuram em tópicos mais avançados. Em comparação com outras soluções
disponíveis, as apresentadas neste texto usam argumentos menos rebuscados e
um número menor de transições a serem preenchidas pelo leitor.

Palavras-chave: Olimpíadas Internacionais de Matemática, Ensino Médio,


Ensino Universitário, Geometria Plana Euclidiana, Problemas Resolvidos
Short Title
Twenty Euclidean Plane Geometry Challenges III
Long Title

Geometry: Detailed solutions to 20 problems in International Mathematical


Olympiads. v. 3.

Abstract

This is the author's fourth e-book dedicated to solving problems of international


math olympics. In the three previous ones, challenges of Algebra and
Planimetry were discussed. In this opportunity, another twenty questions of
plane geometry are presented. The text has 54 gures that make it easy to
follow the solutions. Many of the exercises are complemented by interactive
graphics on the Geogebra website and videos on YouTube. There are examined
topics such as: inscribed and circumscribed quadrilaterals, power of a point
relative to a circumference, axis and radical center, theorems of Pitot and
Napoleon, Euler and Simson-Wallace lines, Stewart's relation, maxima and
minima using Cauchy-Schwarz, triangular and averaging inequalities, incircles
and exincircles, homothety, trigonometry, notable points, mean base, similarity
and congruence of triangles. Typically each question uses knowledge linked to
more than one branch of knowledge. The exhibition seeks to ensure that the
material can actually be read and studied by students who are preparing for the
nal stages of the national or international Olympics and entrance exams. It is
also hoped that this approach will support secondary school teachers who
venture into more advanced topics. In comparison with other available solutions,
the ones presented in this text use less elaborate arguments and a smaller
number of transitions to be completed by the reader.

Keywords: International Mathematical Olympiads, High School Education,


University Teaching, Euclidean Plane Geometry, Problems Solved
Sumário

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

1 Introdução 10
1.1 Enunciados dos vinte problemas de olimpíadas internacionais . . . . . . . . . . . 10

2 Quadriláteros Inscritíveis e Circunscritíveis 14


2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.2 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.3 Quadriláteros cíclicos, triângulo circunscrito e desigualdades. P4 IMO 1967. . . 19

2.3.1 Resolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.4 Eixo e centro radical, quadriláteros cíclicos, ângulos. P5 IMO 1985. . . . . . . . 21

2.4.1 Resolução do Problema 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.5 Potência de ponto relativo a circunferência, base média, semelhança. P2 IMO

2009. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.5.1 Resolução do Problema 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.6 Quadrilátero circunscritível, Teorema de Pitot, incentro e ortocentro. P23 SL

IMO 2009. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.6.1 Resolução do Problema 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.7 Quadriláteros cíclicos, ângulos na circunferência e triângulo isósceles. P1 NA

IGO 2015. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2.7.1 Resolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3 Baricentro 30
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.2 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3.3 Baricentro, homotetia, quadriláteros cíclicos. P36-LL-IMO-1966. . . . . . . . . . 34

3.3.1 Resolução do Problema 6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.4 Baricentro, áreas, desigualdade. P9-SL-IMO-1968. . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.4.1 Resolução do Problema 7. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.5 Baricentro, lugar geométrico, circunferências. P27-LL-IMO-1974. . . . . . . . . . 39


SUMÁRIO

3.5.1 Ilustração da solução do Problema 8. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3.6 Baricentro, lugar geométrico, teorema de Napoleão. SL-P12-IMO-1987. . . . . . 41

3.6.1 Considerações iniciais sobre o Problema 9. . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

3.6.2 Resolução do Problema 9. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3.7 Baricentro, Simson-Wallace, homotetia. P5 SL IMO 1998. . . . . . . . . . . . . 45

3.7.1 Considerações iniciais para o Problema 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

3.7.2 Resolução do Problema 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

4 Incírculos e exincírculos 48
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

4.2 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.3 Exincírculos, incentro, relação de Stewart. P1 IMO 1970. . . . . . . . . . . . . . 54

4.3.1 Considerações iniciais para o Problema 11. . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.3.2 Resolução do Problema 11. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

4.4 Exincírculo, incírculo, semelhança de triângulos. P4 IMO 1992. . . . . . . . . . . 57

4.4.1 Resolução do Problema 12. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

4.5 Incírculo, exincírculo, potência de um ponto relativo a uma circunferência. P5

IMO 1999. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.5.1 Resolução do Problema 13. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.6 Bissetrizes, paralelogramo, semelhanças de triângulos. P16 SL IMO 2005. . . . . 62

4.6.1 Resolução do Problema 14. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

4.7 Exincírculo, potência de um ponto relativo a uma circunferência, ângulos. P18

SL IMO 2006. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

4.7.1 Resolução do Problema 15. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

5 Extremos com desigualdades 66


5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

5.2 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

5.3 Desigualdade triangular, desigualdade das médias, áreas. P1 IMO 1976. . . . . . 70

5.3.1 Resolução do Problema 16. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

5.4 Desigualdade de Cauchy-Schwarz, incentro, áreas. P1 IMO 1981. . . . . . . . . . 72

5.4.1 Resolução do Problema 17. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

5.5 Desigualdade de Cauchy-Schwarz, incírculo, tangentes. P6 IMO 1983. . . . . . . 74

5.5.1 Resolução do Problema 18. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

5.6 Desigualdade triangular, bases médias e paralelogramo. P7 SL IMO 1999. . . . . 75

5.6.1 Resolução do Problema 19. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

5.7 Desigualdade triangular, lei dos senos e trigonometria. P1 IMO 2001. . . . . . . 77

5.7.1 Resolução do Problema 20. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

LÓPEZ LINARES, J. Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
6 Referências Bibliográcas 80
10

Capítulo 1
Introdução

Em dois e-books anteriores [1] e [2] apresentamos quarenta problemas de planimetria.

Nesta oportunidade são discutidos outros vinte desaos de Geometria Plana Euclidiana. O

texto conta com 54 guras que facilitam acompanhar a resolução. A maior parte tem como

complemento links para os grácos interativos no site do Geogebra e, vários, a resolução em

vídeo na playlist Geometria com Geogebra no YouTube.

Este livro faz parte de um projeto de longo prazo de resolução de problemas de Olimpíadas

Internacionais de Matemáticas. Outras publicações anteriores são [3], [4], [5], [6], [7], [8] e [9].

A Geometria é muito ampla. Escolhemos discutir alguns assuntos, mas sem a pretensão de

esgotar o tema. Os problemas aparecem organizados em quatro capítulos. Porém, tipicamente

cada desao usa conhecimentos ligados a mais de uma área da Matemática.

As soluções apresentadas complementam algumas poucas disponíveis nos fóruns em língua

inglesa e nas publicações das competições. Usando argumentos menos rebuscados, focamos na

apresentação mais detalhada das transições, possibilitando que alunos e professores consigam

acompanhar o desenvolvimento do problema.

Parte deste material didático também é usado durante algumas das aulas do curso Ge-

ometria com Geogebra para professores de Matemática do Ensino Fundamental e Médio de

todo o Brasil. O mesmo acontece na modalidade EaD pela plataforma de Cultura e Extensão

da USP.

1.1 Enunciados dos vinte problemas de olimpíadas inter-

nacionais

Primeiro tentar resolver sem consultar a solução. Para conferir, ou caso no conseguir

avançar, clicar no link indicado pelo número do problema. Para outros conceitos básicos estudar

o inicio do capítulo correspondente.


CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 11

Problema 1 São dados dois triângulos acutângulos: A0 B0 C0 e A0 B 0 C 0 . Descrever como


construir um 4ABC , semelhante ao 4A0 B 0 C 0 e circunscrito ao 4A0 B0 C0 . De tal forma que
A, B e C correspondam a A0 , B 0 e C 0 e AB passe por C0 , BC por A0 e CA por B0 . Entre os
4ABC possíveis, descrever e provar qual é o de área maior.

Problema 2 Um círculo de centro O C de um triângulo ABC


passa pelos vértices A e

e intersecta os segmentos AB e BC novamente em pontos distintos K e N, respectivamente.

Os círculos circunscritos aos triângulos ABC e KBN se intersectam em exatamente 2 pontos



distintos B e M. Provar que ∠OM B = 90 .

Problema 3 Seja ABC um triângulo com circuncentro O. Sejam P e Q pontos no interior


dos lados CA e AB, respectivamente. Sejam K, L e M os pontos médios dos segmentos BP,

CQ e P Q, respectivamente, e seja Γ o círculo que passa por K, L e M. Se P Q é tangente a Γ,


provar que OP = OQ.

Problema 4 Seja ABCD um quadrilátero circunscritível. Seja g uma reta que passa
por A e encontra as retas BC e CD em M e N, respectivamente. Denotar por I1 , I2 , e I3

os incentros dos 4ABM, 4M N C e 4N DA, respectivamente. Mostrar que o ortocentro do

4I1 I2 I3 está sobre g.


Problema 5 Dois círculos w1 e w2 (com centros O1 e O2 , respectivamente) se intersectam
◦ 0
em A e B. O ponto X ∈ w2 . Seja Y ∈ w1 tal que ∠XBY = 90 . Seja X o segundo ponto de
0
interseção da reta O1 X e w2 e K o segundo ponto de interseção de X Y e w2 . Provar que X é

o ponto médio do arco AK .

Problema 6 Seja ABCD um quadrilátero cíclico. Mostrar que os baricentros dos triân-
gulos ABC, BCD, CDA e DAB pertencem a um mesma circunferência.

Problema 7 Seja ABC um triângulo arbitrário e M um ponto no interior deste. Se-


jam da , db , e dc as distâncias de M aos lados BC, CA, e AB; e a, b, c a medida dos lados,

respectivamente. Seja S a área do 4ABC. Provar que

4S 2
abda db + bcdb dc + cadc da ≤ .
3

Provar que a igualdade acontece quando M é o baricentro.

Problema 8 a) Sejam C1 e C2 circunferências no mesmo plano, P1 e P2 pontos arbitrários


sobre C1 e C2 , respectivamente, e M12 o ponto médio do segmento P1 P2 . Encontrar o lugar
geométrico dos pontos M12 quando P1 e P2 passam por todas as posições possíveis. b) Sejam

C1 , C 2 e C3 três circunferências no mesmo plano. Encontrar o lugar geométrico dos baricentros

dos triângulos P1 P2 P 3 quando P1 ∈ C1 , P2 ∈ C2 e P3 ∈ C 3 passam por todas as posições

possíveis.

Problema 9 Dado um triângulo não equilátero ABC, com os vértices listados em sentido
anti-horário, encontrar o lugar geométrico dos centroides dos triângulos equiláteros A0 B 0 C 0

LÓPEZ LINARES, J. Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 12

(vértices listados em sentido anti-horário) para os quais as triplas de pontos A0 , C, B 0 ; B 0 , A, C 0


e C 0 , B, A0 são colineares.

Problema 10 Seja ABC um triângulo, H seu ortocentro, O seu circuncentro, e R seu

circunraio. Seja D a reexão de A


BC, E de B em CA, e F de C em AB. Provar que D,
em

E e F são colineares se, e somente se, OH = 2R.


Problema 11 Dado um ponto M no lado AB do triangulo ABC, sejam r1 e r2 raios das
círculos inscritos nos triângulos ACM e BCM, respectivamente e sejam ρ1 e ρ2 os raios dos

exincírculos dos triângulos ACM e BCM nos lados AM e BM, respectivamente. Sejam r e ρ

os raios do círculo inscrito e do exincírculo no lado AB do 4ABC, respectivamente. Provar

que
r1 r2 r
· = .
ρ1 ρ2 ρ
Problema 12 No plano, sejam dadas uma circunferência c, uma reta l tangente a c, e um
ponto M sobre l. Encontrar o lugar geométrico dos pontos P que têm a seguinte propriedade:

Existem dois pontos Q e R sobre l tais que M QR e c é o incírculo de P QR.


é o ponto médio de

Problema 13 Sejam duas circunferências k1 e k2 que se intersectam nos pontos X e Y e são


tangentes internamente a circunferência k nos pontos M e N, respectivamente. Adicionalmente,

o centro de k2 está sobre k1 . Sejam A e B os pontos de interseção da reta XY com k. As retas

M A e M B intersectam k1 em C e D, respectivamente. Provar que k2 é tangente a CD.


Problema 14 Seja ABCD um paralelogramo. Uma linha variável l passa pelo ponto A
e intersecta as retas BC e DC nos pontos X e Y, respectivamente. Sejam K e L os centros

dos exincírculos dos triângulos ABX e ADY, que tocam os lados BX e DY, respectivamente.

Provar que a medida do ângulo KCL não depende da escolha da linha l.

Problema 15 Num triangulo ABC, seja J o centro do exincírculo tangente ao lado BC


em A1 e as extensões dos lados AC e AB em B1 e C1 , respectivamente. Supor que a reta A1 B1

e AB são perpendiculares e se intersectam em D. Seja E o pé da perpendicular de C1 até o

segmento DJ. Determinar os ângulos BEA1 e AEB1 .

Problema 16 Num quadrângulo convexo com área 32 cm2 , a soma dos comprimentos
de dois lados não adjacentes e uma diagonal é igual a 16 cm. a) Qual é o comprimento da

outra diagonal? b) Quais são os comprimentos dos lados do quadrângulo se o perímetro é um

mínimo? c) Será possível escolher os lados para que o perímetro seja um máximo?

Problema 17 Encontrar o ponto P no interior de um 4ABC para o qual a soma

BC CA AB
+ +
PD PE PF

é mínima, onde P D, P E e PF são as perpendiculares de P a BC, CA e AB, respectivamente.

LÓPEZ LINARES, J. Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 13

Problema 18 Se a, b e c são lados de um triângulo, provar que

a2 b(a − b) + b2 c(b − c) + c2 a(c − a) ≥ 0.

Determinar quando vale a igualdade.

Problema 19 Seja ABC um triângulo e M um ponto em seu interior. Provar que

min{M A, M B, M C} + M A + M B + M C < AB + BC + CA.

Problema 20 Num triângulo acutângulo ABC com circuncentro O e altura AP, ∠C ≥



∠B + 30 . Provar que

∠A + ∠COP < 90◦ .

LÓPEZ LINARES, J. Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
14

Capítulo 2
Quadriláteros Inscritíveis e
Circunscritíveis

2.1 Introdução

No Problema 1, P4 da IMO 1967, são dados dois triângulos acutângulos e se pede descrever

a construção de um terceiro semelhante ao segundo e circunscrito no primeiro. Ainda se solicita

indicar e justicar qual desses triângulos possíveis é o de maior área. O uso do conceito de arco

capaz, quadriláteros inscritíveis e projeções soluciona o desao.

O Problema 2, P5 da IMO 1985, inicia com a construção de três circunferências e requer

determinar um ângulo. São usadas as denições de eixo e centro radical e quadriláteros cíclicos.

No Problema 3, P2 da IMO 2009, um conjunto de construções são feitas em um triângulo

e se pede provar que a tangência a uma circunferência implica na igualdade de dois segmentos.

São usados na resolução a potência de ponto, o teorema da base média e semelhança.

O Problema 4, P23 da lista curta da IMO 2009, parte de um quadrilátero circunscritível

e os incentros de três triângulos. Se solicita provar uma propriedade do ortocentro do triângulo

formado pelos incentros. Para a solução deve-se usar o Teorema de Pitot.

No Problema 5, P1 do nível avançado da IGO 2015, uma construção geométricas com

duas circunferências é dada e se pede provar que determinado ponto divide um arco a metade.

São usadas as propriedades de quadriláteros cíclicos, ângulos na circunferência e triângulos

isósceles.

Iniciamos com uma introdução dos conceitos básicos sobre quadriláteros inscritíveis e

circunscritíveis.
CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 15

2.2 Conceitos básicos

Denição 1. Um quadrilátero é chamado inscritível ou cíclico quando todos seus vértices per-
tencem a uma mesma circunferência.

Proposição 1. Um quadrilátero ABCD é inscritível se, e somente se, a soma dos ângulos
opostos é 180◦ :
∠ABC + ∠ADC = 180◦ ,

∠BAD + ∠BCD = 180◦ .

Demonstração. A Figura 2.2.1 permite acompanhar a prova da primeira parte. Suponhamos

que o quadrilátero ABCD seja inscritível na circunferência de centro O. Consideramos o arco


>
ADC de medida 2α. Um ângulo inscrito correspondente ao mesmo é ∠ABC = α. Por outro
>
lado, seja o arco ABC de medida 2β. Um ângulo inscrito correspondente será ∠ADC = β.

Logo, uma volta completa em torno de O permite calcular

2α + 2β = 360◦ ,

α + β = 180◦ .

Isto é, ∠ABC + ∠ADC = 180◦ . Analogamente se mostra que ∠BAD + ∠BCD = 180◦ .

Figura 2.2.1: Guia para a demonstração da Proposição 1. Prova da primeira parte. Versão
interativa aqui.

Fonte: O autor.

A Figura 2.2.2 permite acompanhar a prova da segunda parte. Por hipótese temos que a

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Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 16

soma dos ângulos opostos no quadrilátero convexo ABCD é 180◦ . Por exemplo,

∠DAB + ∠DCB = 180◦ .

Supomos, por absurdo, que ABCD não seja inscritível. Isto é, o ponto C não pertence
a circunferência c circunscrita ao 4ABD . Traçamos a reta CB e marcamos o ponto E na

interseção de CB com c. Por construção, ABED é inscritível e segue, pela primeira parte da

demonstração, que

∠DAB + ∠DEB = 180◦ .

Logo, ∠DEB = ∠DCB = α. Contradição, pois o ângulo externo em E, do 4DCE, pode


ser escrito como

∠DEB = ∠DCB + ∠EDC.

Figura 2.2.2: Guia para a demonstração da Proposição 1. Prova da segunda parte. Versão
interativa aqui.

Fonte: O autor.

Proposição 2. Um quadrilátero é inscritível se, e somente se, o ângulo entre um lado e uma
diagonal é igual ao ângulo entre o lado oposto e a outra diagonal.

A Figura 2.2.3 ilustra as igualdades de pares de ângulos devidos a Proposição 2.

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 17

Figura 2.2.3: Ilustração da Proposição 2. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Proposição 3 (Igualdade de segmentos tangentes) . Se os segmentos AB e AC são tangentes


à circunferência c, de centro O, então vale que AB = AC.

Demonstração. A Figura 2.2.4 ilustra a prova. AC e AB com c temos


Pela tangência de

∠ACO = ∠ABO = 90 . Adicionalmente, BO = CO são raios de c e AO é um lado comum.
Pelo critério de congruência cateto hipotenusa temos 4ACO ≡ 4ABO. Segue que AB =

AC.

Figura 2.2.4: Guia para a demonstração da Proposição 3. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 18

Denição 2. Um quadrilátero ABCD é chamado circunscritível quando todos seus lados (ou
as extensões dos lados) são tangentes externamente a uma circunferência c. Isto é, c é dita
inscrita no quadrilátero e ABCD circunscrito à c.

Teorema 4 (Teorema de Pitot) . Um quadrilátero ABCD é circunscritível se, e somente se,


vale que
AB + CD = AD + BC.

Alternativamente, sejam J = AB∩CD e I = BC∩AD. Um quadrilátero AJCI é circunscritível


se, e somente se,
AJ + CI = AI + JC.

Demonstração. A Figura 2.2.5 permite acompanhar a prova da ida. Por hipótese temos um

quadrilátero ABCD circunscrito a uma circunferência c. Sejam G, F, E e H os pontos de

tangência de c com os lados AB, BC, CD e DA, respectivamente. Temos:

AB + CD = (AG + GB) + (CE + ED).

Da Proposição 3, usando a igualdade dos segmentos tangentes AG = AH, GB = BF, F C = CE


e ED = DH, encontramos

AB + CD = (HA + BF ) + (F C + DH)

AB + CD = (BF + F C) + (DH + HA),

AB + CD = BC + AD.

Analogamente,

AJ + CI = (AG + GJ) + (IF − F C).

Da Proposição 3 também temos JG = JE e IF = IH. Logo

AJ + CI = (AH + JE) + (HI − EC),

AJ + CI = (AH + HI) + (JE − EC),

AJ + CI = AI + JC.

A recíproca é provada usando a redução ao absurdo.

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 19

Figura 2.2.5: Guia para a demonstração do Teorema 4. Prova da ida. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

2.3 Quadriláteros cíclicos, triângulo circunscrito e desigual-

dades. P4 IMO 1967.

Problema 1. São dados dois triângulos acutângulos: A0 B0 C0 e A0 B 0 C 0 . Descrever como cons-


truir um 4ABC , semelhante ao 4A0 B 0 C 0 e circunscrito ao 4A0 B0 C0 . De tal forma que A, B
e C correspondam a A0 , B 0 e C 0 e AB passe por C0 , BC por A0 e CA por B0 . Entre os 4ABC
possíveis, descrever e provar qual é o de área maior.
A IMO 1967 foi realizada na cidade de Cetinje, Montenegro (Antiga Iugoslávia) [10].

Problema 29 da lista longa e escolhido como P4 da competição, proposto pela delegação da

Itália [11].

2.3.1 Resolução

Construir o arco capaz la do ∠A0 = α no lado de B0 C0 oposto com A0 . Seja Sa o centro


da circunferência ka , do qual o arco la faz parte. Isto é, la ⊂ ka . Analogamente, construir os
0 0
arcos capazes lb e lc dos ∠B = β e ∠C = γ no lado de C0 A0 oposto com B0 e no lado de A0 B0

oposto com C0 . Sejam Sb e Sc os centros das circunferências kb e kc , dos quais os arcos lb e lc

fazem parte. Ou seja, lb ⊂ kb e lc ⊂ kc .

Posicionar A ∈ la , construir as semirretas AC0 e AB0 e marcar os pontos B = AC0 ∩ lb e

C = AB0 ∩ lc . Por ângulo-ângulo 4ABC ∼ 4A0 B 0 C 0 e C0 ∈ AB, A0 ∈ BC e B0 ∈ CA.


Seja o ponto S = ka ∩ kb 6= C0 . Temos ∠B0 AC0 = α, ∠C0 BA0 = β e ∠A0 CB0 = γ. Dos

quadriláteros B0 AC0 S e C0 BA0 S serem inscritíveis encontramos que ∠B0 SC0 = 180 − α e

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∠C0 SA0 = 180◦ − β. Logo, ∠A0 SB0 = α + β. Como α + β + γ = 180◦ segue que o quadrilátero
A0 CB0 S é cíclico e S ∈ kc . A Figura 2.3.1 mostra uma construção geométrica inicial.

Figura 2.3.1: Uma construção geométrica inicial para o Problema 1. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Construir os pontos simétricos de S respeito aSa , Sb e Sc e chama-los de A1 , B1 e C1 ,


respectivamente. Iremos provar que entre os 4ABC o 4A1 B1 C1 é o de maior área.

Mostraremos primeiro que BC ≤ B1 C1 . Como SB1 e SC1 são diâmetros de kb e kc segue



que ∠SA0 B1 = ∠SA0 C1 = 90 e A0 ∈ B1 C1 . Analogamente, B0 ∈ C1 A1 e C0 ∈ A1 B1 . Sejam

Sb0 e Sc0 as projeções de Sb e Sc sobre BC. Os triângulos Sb BA0 , Sc CA0 , Sb B1 A0 e Sc C1 A0


0 0 0 0
são isósceles. Logo, BC = 2Sb Sc e B1 C1 = 2Sb Sc . No trapézio retângulo Sb Sb Sc Sc temos

Sb0 Sc0 ≤ Sb Sc e consequentemente BC ≤ B1 C1 . De forma semelhante se mostra que CA ≤ C1 A1


e AB ≤ A1 B1 . Isso demonstra que o 4A1 B1 C1 é o de maior área.

A Figura 2.3.2 mostra uma construção geométrica com o problema resolvido.

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Figura 2.3.2: Construção geométrica da resolução do Problema 1. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

2.4 Eixo e centro radical, quadriláteros cíclicos, ângulos.

P5 IMO 1985.

Problema 2. Um círculo de centro O passa pelos vértices A e C de um triângulo ABC e


intersecta os segmentos AB e BC novamente em pontos distintos K e N, respectivamente.
Os círculos circunscritos aos triângulos ABC e KBN se intersectam em exatamente 2 pontos
distintos B e M. Provar que ∠OM B = 90◦ .

A IMO 1985 foi realizada na cidade de Joutsa, Finlândia [10]. Problema 22 da lista curta
e escolhido como P5 da competição, proposto pela delegação da Rússia [11].

2.4.1 Resolução do Problema 2.

A Figura 2.4.1 mostra uma construção geométrica inicial.

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 22

Figura 2.4.1: Construção geométrica inicial para o Problema 2. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Sejam c, d e f as circunferências de centro O, a circunscrita ao 4ABC e ao 4KBN,


respectivamente. As retas AC, KN, e M B são eixos radicais das circunferências c, e d, c e f
ed e f, respectivamente. Seja P o centro radical das três circunferências anteriores. Isto é,

P = AC ∩ KN ∩ M B.
Como os quadriláteros BN KM e N CAK são cíclicos temos:

180◦ = ∠P M K + ∠BM K = ∠BN K + ∠CN K = ∠CAK + ∠P AK.

Logo, o quadrilátero P M KA é cíclico.

Seja E a segunda interseção da linha MA com a circunferência c. Como o quadrilátero

KN EA é cíclico:

∠M EN = ∠AEN = ∠AKP = ∠AM P.

Segue que BP k M P k N E e bastará mostrar que OM ⊥ EN.


Mas também temos

∠M N E = ∠BM N = ∠BKN = ∠M EN.

Os triângulos M EN e OEN são isósceles com a mesma base EN, segue que M E = M N e
OE = ON. Os pontos O e M pertencem a mediatriz do segmento EN, disto concluímos que
OM ⊥ EN. A Figura 2.4.2 mostra uma construção geométrica.

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 23

Figura 2.4.2: Construção geométrica para o Problema 2. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

2.5 Potência de ponto relativo a circunferência, base mé-

dia, semelhança. P2 IMO 2009.

Problema 3. Seja ABC um triângulo com circuncentro O. Sejam P e Q pontos no interior


dos lados CA e AB, respectivamente. Sejam K, L e M os pontos médios dos segmentos BP,
CQ e P Q, respectivamente, e seja Γ o círculo que passa por K, L e M. Se P Q é tangente a Γ,
provar que OP = OQ.

A IMO 2009 foi realizada na cidade de Brémen, Alemanha [10]. Problema 17 da lista

curta e escolhido como P2 da competição, proposto pela delegação da Rússia [11].

2.5.1 Resolução do Problema 3.

A Figura 2.5.1 mostra uma construção geométrica inicial.

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Figura 2.5.1: Construção geométrica inicial para o Problema 3. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Seja c 4ABC e O0 o centro de Γ. No 4P QB temos que


a circunferência circunscrita ao

M e K são pontos médios. Logo, M K k QB k AB e M QB


K
= 12 . Analogamente, no 4P QC temos
ML
que M e L são pontos médios. Segue que M L k P C k AC e
PC
= 12 .
Por serem ângulos formados de segmentos mutuamente paralelos se encontra que ∠KM L =

∠BAC. Adicionalmente, vale que


ML PC
= . (2.5.1)
MK QB
∠AQP = ∠KM Q. Como P Q é tangente a Γ, referente a corda
Por alterno entre paralelas

KM, temos a igualdade de um ângulo de segmento com um inscrito ∠KM Q = ∠M LK.


Segue que 4AQP ∼ 4M LK,

AQ AP QP
= = . (2.5.2)
ML MK LK
AQ ML PC
De (2.5.1) e (2.5.2) temos
AP
= MK
= QB
. Logo,

AQ · QB = AP · P C. (2.5.3)

A equação (2.5.3) indica que a potência de QeP em relação a circunferência c é a mesma:

P otc (Q) = OA2 − OQ2 = OA2 − OP 2 = P otc (P ).

Isto é, OQ = OP. A Figura 2.5.2 mostra uma construção geométrica.

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 25

Figura 2.5.2: Construção geométrica para o Problema 3. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

2.6 Quadrilátero circunscritível, Teorema de Pitot, incen-

tro e ortocentro. P23 SL IMO 2009.

Problema 4. Seja ABCD um quadrilátero circunscritível. Seja g uma reta que passa por A e
encontra as retas BC e CD em M e N, respectivamente. Denotar por I1 , I2 , e I3 os incentros
dos 4ABM, 4M N C e 4N DA, respectivamente. Mostrar que o ortocentro do 4I1 I2 I3 está
sobre g.

A IMO 2009 foi realizada na cidade de Brémen, Alemanha [10]. Problema 23 da lista

corta, proposto pela delegação da Bulgária [11].

2.6.1 Resolução do Problema 4.

A Figura 2.6.1 mostra uma construção geométrica inicial. A circunferência c ilustra que

o quadrilátero ABCD é circunscritível. Pelo Teorema de Pitot 4 vale que

AB + CD = AD + BC.

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Figura 2.6.1: Construção geométrica inicial para o Problema 4. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Sejam k1 , k2 e k3 os incírculos dos triângulos ABM, M N C, e N DA, respectivamente.


Construímos a reta tangente h de C a k1 , diferente de CB. Mostraremos que h também é
tangente a k3 .
Seja X o ponto de interseção de g e h. Notamos que os lados (ou suas extensões) do

quadrilátero ABCX, são tangente a k1 . Por serem quadriláteros circunscritíveis, usando o

Teorema de Pitot 4, tanto em ABCX, como em ABCD, segue que

CD − CX = (AB + CD) − (AB + CX) =

= (BC + AD) − (BC + AX) = AD − AX.

Isto é,

CD + AX = AD + CX.

Pela recíproca do Teorema de Pitot 4, o quadrilátero ADCX também é circunscritível, assim

como h é tangente à k3 .
Adicionalmente, como I3 C, I2 C, I1 C, I3 N e I1 I2 são bissetrizes, encontramos que

∠I3 CI1 = ∠I3 CX + ∠XCI1 =

1 1
= (∠DCX + ∠XCB) = ∠DCB =
2 2
1
= (180◦ − ∠M CN ) = 180◦ − ∠M I2 N = ∠I3 I2 I1 .
2
O anterior permite concluir que os pontos C, I1 , I2 e I3 pertencem a uma mesma circunferência

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 27

d.
Sejam L1 e L3 C em relação as retas I2 I3 e I1 I2 , respectivamente.
as reexões do ponto

Como I2 I3 é bissetriz do ∠CN M e I1 I2 do ∠CM N segue que L1 ∈ g e L3 ∈ g.

Seja H o ortocentro do 4I1 I2 I3 . Temos

∠I2 L3 I1 = ∠I1 CI2 = ∠I1 I3 I2 = 180◦ − ∠I1 HI2 .

Isto signica que o quadrilátero I2 HI1 L3 é cíclico. Analogamente, I3 HL1 I2 é inscritível.

Na conguração da Figura 2.6.2 temos

∠L3 HI2 = ∠L3 I1 I2 = ∠I2 I1 C =

= ∠I2 I3 C = ∠L1 I3 I2 = ∠L1 HI2 .

Portanto, L1 , L3 e H são colineares. Como L1 6= L3 , o problema ca demonstrado.

Figura 2.6.2: Construção geométrica para o Problema 4. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

2.7 Quadriláteros cíclicos, ângulos na circunferência e tri-

ângulo isósceles. P1 NA IGO 2015.

Problema 5. Dois círculos w1 e w2 (com centros O1 e O2 , respectivamente) se intersectam


em A e B. O ponto X ∈ w2 . Seja Y ∈ w1 tal que ∠XBY = 90◦ . Seja X 0 o segundo ponto de
interseção da reta O1 X e w2 e K o segundo ponto de interseção de X 0 Y e w2 . Provar que X é
o ponto médio do arco AK .

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Problema 1 (Nível Avançado) da 2 Olimpíada Iraniana de Geometria (IGO, Iranian Geo-

metry Olympiad) de 2015, proposto por Davood Vakili [12].

A Figura 2.7.1 mostra uma construção geométrica inicial para o problema.

Figura 2.7.1: Uma construção geométrica inicial para o Problema 5.

Fonte: O autor.

2.7.1 Resolução

Seja Z o ponto de interseção deBX e w1 . Como ∠Y BZ = 90◦ , então os pontos Y, O1 e


Z são colineares. Como o quadrilátero Y ZBA é cíclico, então ∠O1 Y A = ∠ZY A = ∠ABX.
0
Temos ∠AX X = ∠ABX, pois enxergam o mesmo arco AX de w2 . Logo, o quadrilátero

Y O1 X 0 A também é cíclico, circunferência w3 .


0
Como O1 Y = O1 A segue que ∠O1 AY = ∠O1 Y A. Temos ∠Y AO1 = ∠Y X O1 , pois

enxergam o mesmo arco Y O1 dew3 .


0 0 0 0
Por opostos pelo vértice ∠Y X O1 = ∠KX X. Como ∠AX X = ∠KX X os arcos menores

AX e XK de w2 tem a mesma medida. Isto é, X é o ponto médio do arco AXK.


A Figura 2.7.2 mostra uma construção geométrica com o problema resolvido.

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CAPÍTULO 2. QUADRILÁTEROS INSCRITÍVEIS E CIRCUNSCRITÍVEIS 29

Figura 2.7.2: Construção geométrica da resolução do Problema 5. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

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30

Capítulo 3
Baricentro

3.1 Introdução

No Problema 6 é dado um quadrilátero cíclico ABCD e é pedido mostrar que os baricen-

tros dos triângulos ABC, BCD, CDA e DAB pertencem a um mesma circunferência. Primeiro

se prova que o centroide do quadrilátero coincide com o centroide dos baricentros dos triângulos

citados. A seguir, uma homotetia com centro no centroide comum resolve o problema.

O Problema 7 apresenta um triângulo arbitrário ABC e um ponto M no interior deste.

É pedido provar a validez de certa desigualdade e mostrar quando acontece a igualdade. O

desao é interpretado como uma soma de áreas. Várias transformações de equivalência levam

a desigualdade dada a uma soma de quadrados.

O Problema 8 é dividido em duas partes. Na primeira, dois pontos P1 e P2 são colocados

arbitrariamente sobre duas circunferências (um em cada uma). É pedido encontrar o lugar

geométrico dos pontos médios de P1 e P2 , quando estes passam por todas as posições possíveis.

Na segunda, é adicionada mais uma circunferência e um ponto P3 e deve-se determinar o lugar

geométrico dos baricentros dos triângulos P 1 P2 P 3 . Uma construção geométrica dinâmica no

Geogebra sugere a resposta e uma justicativa algébrica é dada.

No Problema 9 se explora a geometria do triângulo Napoleônico interno de um 4ABC


arbitrário. Se solicita determinar o lugar geométrico dos centroides dos triângulos equiláteros

A0 B 0 C 0 para os quais as triplas de pontos A0 , C, B 0 ; B 0 , A, C 0 e C 0 , B, A0 são colineares.

O Problema 10 combina transformações de reexão e homotetia e as propriedades do

ortocentro, circuncentro e baricentro. Se usa o teorema de Simson-Wallace para demonstrar

uma condição necessária e suciente para três pontos serem colineares.

Iniciamos com uma introdução dos conceitos básicos sobre o baricentro.


CAPÍTULO 3. BARICENTRO 31

3.2 Conceitos básicos

A Figura 3.2.1 mostra um triângulo ABC. Sejam D, E e F pontos médios dos lados
BC, CA e AB, respetivamente. As medianas AD, BE e CF concorrem no ponto G, chamado

baricentro ou centroide [13].

Proposição 5. A distância de um vértice ao baricentro é duas vezes a distância do baricentro


ao pé da mediana correspondente.

Demonstração. EF é base média do 4ABC logo EF k BC e EF = BC


2
. Sejam H e I pontos

médios dos lados BG e CG, respetivamente. Temos que o segmento HI é base média do
4GBC . Segue que HI k BC e HI = BC 2
.
Como EF k HI e EF = HI o quadrilátero EF HI é um paralelogramo e suas diagonais

HE e F I se encontram nos seus pontos médios: HG = GE e F G = GI. Concluímos que


BG = 2GE e CG = 2GF. Analogamente se demonstra que AG = 2GD. ED é base média do
4CAB logo ED k AB e ED = AB 2
. Seja J o ponto médio de AG. Temos que o segmento JH
AB
é base média do 4GAB . Segue que ED k JH e JH = .
2
Como ED k JH e ED = JH o quadrilátero EDHJ é um paralelogramo e suas diagonais

HE e JD se encontram nos seus pontos médios: HG = GE e DG = GJ. Concluímos que


AG = 2GD.

Figura 3.2.1: A distância de um vértice ao baricentro é duas vezes a distância do baricentro ao


pé da mediana correspondente. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

LÓPEZ LINARES, J. Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 3. BARICENTRO 32

Usaremos a notação S(P ) para referirmos a área do polígono P. A Figura 3.2.2 permite

acompanhar a Proposição 6.

Proposição 6. O baricentro G do 4ABC determina com os vértices e pontos médios MAB ,


MBC e MCA dos lados AB, BC e CA, respectivamente, seis triângulos de igual área. Isto é,

S(AGMAB ) = S(BGMAB ) = S(BGMBC ) =

S(ABC)
= S(CGMBC ) = S(CGMCA ) = S(AGMCA ) = .
6
Os triângulos AGB, BGC e CGA têm a mesma área. Isto é,

S(ABC)
S(AGB) = S(BGC) = S(CGA) = .
3

Os triângulos ACMAB , BCMAB , BAMBC , CAMBC , CBMCA e ABMCA têm a mesma área.
Isto é,
S(ACMAB ) = S(BCMAB ) = S(BAMBC ) =
S(ABC)
= S(CAMBC ) = S(CBMCA ) = S(ABMCA ) = .
2

Demonstração. Sejam GC , GA e GB os pés das alturas do ponto G sobre os lados AB, BC


eCA, respectivamente. Como GGC é altura comum aos triângulos AGMAB e BGMAB e
AMAB = MAB B temos:
S(AGMAB ) = S(BGMAB ).

Adicionalmente, os triângulos ACMAB e BCMAB têm a mesma altura e base de igual medida.

Logo,

S(ACMAB ) = S(BCMAB ).

Os dois resultados anteriores permitem armar que

S(ACG) = S(BCG).

O resto das igualdades é provada do mesmo modo.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 33

Figura 3.2.2: Igualdade de áreas envolvendo o baricentro. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Do ponto de vista algébrico, para um conjunto de pontos com coordenadas cartesianas

Ai = (Aix , Aiy ), com 1≤i≤n e i, n ∈ N, pode ser provado [14] que o baricentro G se calcula

como: !
n n
1 X X
G= Aix , Aiy .
n i=1 i=1

Isto é, as coordenadas cartesianas de G são a média aritmética das coordenadas dos Ai .

Proposição 7 (Reta de Euler). Para todo triângulo ABC o circuncentro O, o baricentro G e o


ortocentro H são colineares e HG = 2GO. Adicionalmente, sendo D o pé da mediana relativa
ao vértice A vale que AH = 2OD.

A demonstração a seguir foi inspirada no artigo [15] e no livro [13].

Demonstração. A Figura 3.2.3 ilustra um triângulo ABC . Sejam D e E pontos médios dos

lados BC e CA, respectivamente. Sejam Ha e Hb os pés das alturas relativas aos vértices A
e B. Construímos o circuncentro O e o ortocentro H do triângulo ABC. Denotamos por G0 a

interseção das retas AD e HO.


Iremos mostrar que o ponto G0 = G H, G e O são colineares.
é o baricentro. Isto é,
AB
Temos que DE é base média relativa ao lado AB . Logo DE k AB e = 2. Como
DE
AHa k OD e BHb k OE segue que ∠BAH = ∠EDO e ∠ABH = ∠DEO.
BH
Por ângulo-ângulo temos 4ABH ∼ 4DEO. Portanto
EO
= AH
DO
AB
= DE = 2.
0 0
Adicionalmente, por alternos entre paralelas, ∠HAG = ∠ODG e por opostos pelo vértice

∠AG0 H = ∠DG0 O. Consequentemente, por ângulo-ângulo temos 4AHG0 ∼ 4DOG0 . Portanto


AH 0 AG0
DO
= HG
OG0
= DG 0 = 2.

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Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 34

Como AG0 = 2DG0 e AG = 2DG concluímos que G0 = G e os pontos H, G e O são

colineares (pertencem a reta de Euler).

Figura 3.2.3: Guia para a demonstração. Os pontos H, G e O são colineares. Versão interativa
aqui.

Fonte: O autor.

3.3 Baricentro, homotetia, quadriláteros cíclicos. P36-LL-

IMO-1966.

Problema 6. Seja ABCD um quadrilátero cíclico. Mostrar que os baricentros dos triângulos
ABC, BCD, CDA e DAB pertencem a um mesma circunferência.

A IMO 1966 foi realizada na cidade de Sóa, Bulgária [10]. Problema 36 da lista longa,

proposto pela delegação da Polônia [11].

3.3.1 Resolução do Problema 6.

A Figura 3.3.1 mostra uma construção geométrica inicial.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 35

Figura 3.3.1: Construção geométrica inicial para o Problema 6. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Consideramos que c é a circunferência circunscrita ao quadrilátero ABCD. Sejam D0 , A0 ,


B0 e C0 os baricentros dos triângulos ABC, BCD, CDA e DAB, respectivamente.

Proposição 8. O ponto G, baricentro do quadrilátero ABCD, coincide com o ponto G0 , bari-


centro do quadrilátero D0 A0 B 0 C 0 . Isto é, G = G0 .

Demonstração. Temos:

1
D0 = · (Ax + Bx + Cx , Ay + By + Cy ) ,
3
1
A0 = · (Bx + Cx + Dx , By + Cy + Dy ) ,
3
1
B 0 = · (Cx + Dx + Ax , Cy + Dy + Ay ) ,
3
1
C 0 = · (Dx + Ax + Bx , Dy + Ay + By ) ,
3
onde J = (Jx , Jy ), com J = A, B, C e D.
Somando, por coordenadas, as quatro equações anteriores segue:

1
G0 = · Dx0 + A0x + Bx0 + Cx0 , Dy0 + A0y + By0 + Cy0 =

4
1
= · (3Ax + 3Bx + 3Cx + 3Dx , 3Ay + 3By + 3Cy + 3Dy ) =
12
1
= · (Ax + Bx + Cx + Dx , Ay + By + Cy + Dy ) = G
4

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 36

Proposição 9. Com referência a Figura 3.3.2 vale que:


AG BG CG DG
= = = = 3.
GA0 GB 0 GC 0 GD0

Demonstração. Temos:
1
· (Bx + Cx + Dx − 3Ax ) ,
Gx − Ax =
4
1
Gy − Ay = · (By + Cy + Dy − 3Ay ) ,
4
1
q
AG = · (Bx + Cx + Dx − 3Ax )2 + (By + Cy + Dy − 3Ay )2 .
4
Também temos:

1 1
A0x − Gx = · (Bx + Cx + Dx ) − · (Ax + Bx + Cx + Dx ) =
3 4
1
=· (Bx + Cx + Dx − 3Ax ) ,
12
1 1
A0y − Gy = · (By + Cy + Dy ) − · (Ay + By + Cy + Dy ) =
3 4
1
= · (By + Cy + Dy − 3Ay ) ,
12
1
q
0
GA = · (Bx + Cx + Dx − 3Ax )2 + (By + Cy + Dy − 3Ay )2 .
12
Com isto provamos que
AG
= 3.
GA0
O resto da demonstração é feita analogamente.

As duas proposições anteriores permitem armar que uma homotetia, com centro no ponto

G, e fator de proporcionalidade − 13 transforma A, B, C, D e c em A0 , B 0 , C 0 , D0 e c0 , respectiva-


0 0 0 0 0
mente. Sendo c a circunferência circunscrita ao quadrilátero A B C D . A Figura 3.3.2 mostra

uma construção geométrica.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 37

Figura 3.3.2: Construção geométrica para o Problema 6. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

3.4 Baricentro, áreas, desigualdade. P9-SL-IMO-1968.

Problema 7. Seja ABC um triângulo arbitrário e M um ponto no interior deste. Sejam da , db ,


e dc as distâncias de M aos lados BC, CA, e AB; e a, b, c a medida dos lados, respectivamente.
Seja S a área do 4ABC. Provar que

4S 2
abda db + bcdb dc + cadc da ≤ . (3.4.1)
3

Provar que a igualdade acontece quando M é o baricentro.

A IMO 1968 foi realizada na cidade de Moscou, Rússia [10]. Problema 9 da lista curta,

proposto pela delegação da Romênia [11].

3.4.1 Resolução do Problema 7.

A Figura 3.4.1 mostra uma construção geométrica.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 38

Figura 3.4.1: Construção geométrica para o Problema 7. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Iniciamos notando que a desigualdade (3.4.1) é equivalente a:

ada bdb bdb cdc cdc ada S2


· + · + · ≤ .
2 2 2 2 2 2 3
ada bdb cdc
Sejam Sa = S(BCM ) = 2
, Sb = S(CAM ) = 2
e Sc = S(ABM ) = 2
. Segue que

S2
Sa · Sb + Sb · Sc + Sc · Sa ≤ .
3

Como S = Sa + Sb + Sc , a desigualdade anterior equivale a

3 (Sa · Sb + Sb · Sc + Sc · Sa ) ≤ (Sa + Sb + Sc )2 .

Desenvolvendo o quadrado e simplicando se encontra

Sa · Sb + Sb · Sc + Sc · Sa ≤ Sa2 + Sb2 + Sc2 .

Multiplicamos toda a desigualdade por 2 e colocamos os termos do lado esquerdo no

direito

0 ≤ 2 Sa2 + Sb2 + Sc2 − 2 (Sa · Sb + Sb · Sc + Sc · Sa ) .




A linha anterior pode ser reescrita como

0 ≤ (Sa − Sb )2 + (Sb − Sc )2 + (Sc − Sa )2 .

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 39

Como o quadrado de um número é sempre maior o igual a zero a última desigualdade é

verdadeira. Todas as transformações usadas foram de equivalência, logo ca provado (3.4.1).

A igualdade acontece quando Sa = Sb = Sc . Pela Proposição 6, o anterior signica que M = G.

3.5 Baricentro, lugar geométrico, circunferências. P27-LL-

IMO-1974.

Problema 8. a) Sejam C1 e C2 circunferências no mesmo plano, P1 e P2 pontos arbitrários


sobre C1 e C2 , respectivamente, e M12 o ponto médio do segmento P1 P2 . Encontrar o lugar
geométrico dos pontos M12 quando P1 e P2 passam por todas as posições possíveis. b) Sejam C1 ,
C2 e C3 três circunferências no mesmo plano. Encontrar o lugar geométrico dos baricentros dos
triângulos P1 P2 P3 quando P1 ∈ C1 , P2 ∈ C2 e P3 ∈ C3 passam por todas as posições possíveis.

A IMO 1974 foi realizada na cidade de Erforte, Alemanha [10]. Problema 27 da lista

longa, proposto pela delegação da Romênia [11].

3.5.1 Ilustração da solução do Problema 8.

A Figura 3.5.1 mostra uma construção geométrica para o item a.

Figura 3.5.1: Construção geométrica da primeira parte do Problema 8. A circunferência em


preto é desenhada animando os pontos P1 e P2 e deixando o rasto do ponto M12 . Versão
interativa aqui.

Fonte: O autor.

Vamos colocar a origem de um sistema cartesiano coincidindo com o centro da circunfe-

rência C1 e o centro de C2 sobre o eixo x. Isto é, C1 tem centro em (0, 0) e raio R1 e C2 centro

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 40

em (a, 0) e raio R2 .
As coordenadas dos pontos P1 e P2 podem ser escritas como:

P1 = (R1 · cos(θ), R1 · sen(θ)) ,

P2 = (a + R2 · cos(θ + δ), R2 · sen(θ + δ)) .

Onde θ é um ângulo que serve de parâmetro para percorrer todos os pontos das circunferência

e δ é um valor xo que descreve a defasagem inicial entre C1 e C2 .


As coordenadas do ponto médio entre P1 e P2 serão:

1
M12 = · (a + R1 · cos(θ) + R2 · cos(θ + δ), R1 · sen(θ) + R2 · sen(θ + δ)) .
2

Após o uso de identidades trigonométrica podemos reescrever as coordenadas do ponto

médio M12 entre P1 e P2 como:

M12 = (b + R12 · cos(θ + γ), R12 · sen(θ + γ)) .

Onde b = 12 a e
1
q
R12 = R12 + R22 + 2R1 R2 cos(δ),
2
R2 · sen(δ)
tan(γ) = .
R1 + R2 · cos(δ)
Isto é, M12 descreve uma circunferência com centro em (b, 0), desfasagem γ e raio R12 .
A Figura 3.5.2 mostra uma construção geométrica para o item b.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 41

Figura 3.5.2: Construção geométrica da segunda parte do Problema 8. As circunferências em


preto e verde são desenhadas animando os pontos P1 , P2 e P3 e deixando o rasto dos pontos
M12 , M23 , M31 e G. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Analogamente ao item a, os pontos M13 e M23 descrevem circunferências com centro

nos pontos médios dos centros das circunferência respectivas. Da mesma forma que os pontos

médios são calculados usando a média aritmética, o baricentro também é. Em outras palavras:

1
G= · (P1x + P2x + P3x , P1y + P2y + P3y ) ,
3

onde Pi = (Pix , Piy ), com 1 ≤ i ≤ 3. Pode ser provado que G também descreve uma cir-

cunferência, com centro no baricentro dos centros das circunferências geradas por M12 , M23 e

M31 .

3.6 Baricentro, lugar geométrico, teorema de Napoleão.

SL-P12-IMO-1987.

Problema 9. Dado um triângulo não equilátero ABC, com os vértices listados em sentido
anti-horário, encontrar o lugar geométrico dos centroides dos triângulos equiláteros A0 B 0 C 0
(vértices listados em sentido anti-horário) para os quais as triplas de pontos A0 , C, B 0 ; B 0 , A, C 0
e C 0 , B, A0 são colineares.

A IMO 1987 foi realizada na cidade de Havana, Cuba [10]. Problema 12 da lista curta,

proposto pela delegação da Polônia [11].

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 42

3.6.1 Considerações iniciais sobre o Problema 9.

Para poder resolver o problema vamos precisar estudar primeiro uma versão do Teorema

de Napoleão e um Lema deste último.

Lema 10 (Para o Teorema de Napoleão) . Se sobre os lados de um triângulo qualquer ABC


forem construídos triângulos equiláteros ABC 0 , BCA0 e CAB 0 , então AA0 = BB 0 = CC 0 .

Demonstração. A Figura 3.6.1 mostra uma construção geométrica no caso dos triângulos equi-

láteros serem construídos na direção interna do 4ABC . O caso contrário pode ser encontrado

em [16].

Figura 3.6.1: Construção geométrica no caso dos triângulos equiláteros serem construídos na
direção interna do 4ABC . Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Por construção temos AC = AB 0


AC 0 = AB. De ∠CAB 0 = ∠C 0 AB = 60◦ , segue que
e

∠CAC 0 = ∠B 0 AB. Por LAL, encontramos 4ACC 0 ≡ 4AB 0 B. Logo, CC 0 = B 0 B.


0 0 0 0 ◦
Analogamente, temos A B = CB e AB = C B. De ∠A BC = ∠ABC = 60 , segue que

∠A0 BA = ∠CBC 0 . Por LAL, encontramos 4A0 BA ≡ 4CBC 0 . Logo, A0 A = CC 0 . Concluímos


0 0 0
que AA = BB = CC .

Teorema 11 (Teorema de Napoleão). Se sobre os lados de um triângulo qualquer ABC forem


construídos triângulos equiláteros, os ortocentros desses triângulos equiláteros formam igual-
mente um triângulo equilátero.

Demonstração. A Figura 3.6.2 mostra uma construção geométrica no caso dos triângulos equi-

láteros serem construídos na direção interna do 4ABC . O caso contrário pode ser encontrado

em [16].

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Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 3. BARICENTRO 43

Figura 3.6.2: Construção geométrica no caso dos triângulos equiláteros serem construídos na
direção interna do 4ABC . Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Girando o 4OB COA em 30◦ em sentido horário em torno do vértice C se mostra que é
0
semelhante com o 4ACA .
◦ 0
De fato, como ∠ACOB = ∠BCOA = 30 e ∠ACOA = ∠BCOB , então ∠ACA =

∠OB COA .
1 0
Em triângulos equiláteros o ortocentro e o baricentro coincidem, logo F OB = F B . Segue
√ 3
◦ 1 0 ◦ 0
que COB · sen(30 ) = CB · sen(60 ) e CA = CB = 3 · COB .
3 √ 0 COA
0
Analogamente, CA = CB = 3 · COA . Com isto, CACA
= CO . Pelo caso de semelhança
0 0
√ B

LAL temos 4ACA ∼ 4OB COA . Segue que AA = 3 · OB OA .


0
√ √
Similarmente, se mostra que BB = 3 · OC OB e CC 0 = 3 · OA OC . Como, provado no
0 0 0
Lema 10, vale AA = BB = CC , então o 4OA OB OC é equilátero.

3.6.2 Resolução do Problema 9.

A Figura 3.6.3 mostra uma construção geométrica.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 44

Figura 3.6.3: Construção geométrica do Problema 9. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Construir o ponto OA no interior do 4ABC de tal forma que ∠OA BC = ∠OA CB = 30◦ .

Teremos que ∠BOA C = 120 . A seguir construir a circunferência circunscrita c ao 4BOA C.
0 0 0
Posicionar o ponto A sobre c. Construir as retas A B e A C. Podemos ter os quadriláteros
0 0 0 0 ◦
cíclicos BA COA , BCA OA e BCOA A . No primeiro caso ∠BA C = 60 e nos dois últimos

∠BA0 C = 120◦ .
Analogamente, construir o ponto OB no interior do 4ABC de tal forma que ∠OB CA =

∠OB AC = 30◦ . Teremos que ∠COB A = 120◦ . A seguir construir a circunferência circunscrita
d ao 4COB A. Marcar B 0 6= C como a interseção de A0 C e d.
Similarmente, construir o ponto OC no interior do 4ABC de tal forma que ∠OC AB =

∠OC BA = 30◦ . Teremos que ∠AOC B = 120◦ . A seguir construir a circunferência circunscrita
f ao 4AOC B. Marcar C 0 6= B como a interseção de A0 B e f.
0 0 0
Construir as medianas do 4A B C e marcar o ponto em que concorrem: G. Em todo

triângulo equilátero o baricentro coincide com o ortocentro, o circuncentro e o incentro. Segue

que ∠A0 GB 0 = ∠B 0 GC 0 = ∠C 0 GA0 = 120◦ . Adicionalmente os pontos OA , OB e OC perten-


0 0 0
cem as bissetrizes dos ângulos em A , B e C , respectivamente. O 4OA OB OC é o triângulo

napoleônico interno do 4ABC. Isto é, o 4OA OB OC é equilátero e ∠OA OB OC = 60 . Com isto

temos ∠OA OB OC + ∠OA GOC = 180 . Ou seja, o quadrilátero OA GOC OB é cíclico.

Construir a circunferência g circunscrita ao 4OA OB OC . O lugar geométrico dos centroides


0 0 0
dos triângulos equiláteros A B C é g. Marcar o ponto P, de Fermat ou Torricelli, na interseção
0 0 0 0
de c, d e f. Quando A = P o 4A B C é reduzido a um ponto.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 45

3.7 Baricentro, Simson-Wallace, homotetia. P5 SL IMO

1998.

Problema 10. Seja ABC um triângulo, H seu ortocentro, O seu circuncentro, e R seu cir-
cunraio. Seja D a reexão de A em BC, E de B em CA, e F de C em AB. Provar que D, E
e F são colineares se, e somente se, OH = 2R.

A IMO 1998 foi realizada na cidade de Taipé, Taiwan [10]. Problema 5 da lista curta,

proposto pela delegação da França [11].

3.7.1 Considerações iniciais para o Problema 10.

Denição 3 (Triângulo pedal) . Sejam P um ponto do plano, ABC um triângulo e D, E e F


as projeções de P sobre os lados BC, CA e AB, respectivamente. Então DEF é chamado de
triângulo pedal de P em relação ao 4ABC.

Teorema 12 (Teorema de Simson-Wallace) . Dado um 4ABC , c sua circunferência circuns-


crita e um ponto P no mesmo plano de ABC, o triângulo pedal de P em relação a ABC é
degenerado (D, E e F são colineares) se, e somente se, P ∈ c.

A Figura 3.7.1 mostra uma construção geométrica.

Figura 3.7.1: Construção geométrica para a prova do Teorema 12. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Demonstração. Como∠P F A = ∠P EA = 90◦ , então P F AE é um quadrilátero cíclico. Segue



que ∠F P A = ∠F EA. De ∠P EC = ∠P DC = 90 temos que P EDC é um quadrilátero cíclico.

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 46

Logo, ∠DP C = ∠DEC. Adicionalmente, ∠P DB = ∠P F B = 90◦ implica que P DBF é um

quadrilátero cíclico. Consequentemente ∠DP F = 180◦ − ∠ABC.


Notamos que

∠AP C − ∠DP F = ∠DP C − ∠F P A = ∠DEC − ∠F EA.

∠AP C = ∠DP F ⇔ ∠DEC = ∠F EA ⇔ D, E e F são


Ou seja, colineares. Mas neste

caso, ∠AP C = ∠DP F ⇔ ∠AP C + ∠ABC = 180◦ ⇔ ABCP é cíclico.

3.7.2 Resolução do Problema 10.

A Figura 3.7.2 mostra uma construção geométrica inicial.

Figura 3.7.2: Construção geométrica inicial para o Problema 10. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

G o baricentro do 4ABC e H
Seja uma homotetia com centro em G e razão − 12 . Sejam

A0 = H(A), B 0 = H(B) e C 0 = H(C).


Pela Proposição 5 sabemos que a distância de um vértice ao baricentro é duas vezes a

distância do baricentro ao pé da mediana correspondente. Logo A0 , B 0 e C 0 são os pontos


médios de BC, CA e AB, respectivamente. Adicionalmente, de HG = 2GO (Proposição 7)
temos O = H(H).
4A2 B2 C2 tal que A, B e C sejam os pontos médios de B2 C2 , C2 A2 e A2 B2 ,
Construímos o

respectivamente. Isto é, AB k B2 A2 , BC k C2 B2 e CA k A2 C2 e B2 A2 = 2AB, C2 B2 = 2BC,

e A2 C2 = 2CA. Com isto, A = H(A2 ), B = H(B2 ) e C = H(C2 ).

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CAPÍTULO 3. BARICENTRO 47

Como D é a reexão de A em BC, então D0 = H(D) é a reexão de A0 em B 0 C 0 . Segue


0 0 0
que D ∈ B2 C2 e A D ⊥ B2 C2 . Por outro lado, da denição de circuncentro e BC k C2 B2
0
temos que OA e B2 C2 são ortogonais. Os dois resultados anteriores permitem armar que O,

D0 e A0 são colineares e D0 é a projeção de O em B2 C2 . Analogamente, E 0 = H(E) e F 0 = H(F )


são as projeções de O em C2 A2 e A2 B2 .
0 0 0
Pelo Teorema de Simson-Wallace 12, D , E e F são colineares (o qual equivale por H a

D, E e F serem colineares) se, e somente se, o ponto O está sobre a circunferência d circunscrita
ao 4A2 B2 C2 . Como c = H(d) e O = H(H), d tem centro em H e raio 2R. Esta última condição

é equivalente a HO = 2R. A Figura 3.7.3 mostra uma construção geométrica.

Figura 3.7.3: Construção geométrica para o Problema 10. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

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48

Capítulo 4
Incírculos e exincírculos

4.1 Introdução

No Problema 11, P1 IMO 1970, são construídos três in-círculos e três ex-círculos. Se

solicita demonstrar determinada igualdade com os seis raios. Pelo uso das relações métricas,

associadas aos segmentes formados entre os vértices e os pés das bissetrizes, e a relação de

Stewart se resolve o desao.

No Problema 12, P4 IMO 1992, se requer encontrar o lugar geométrico dos pontos P
partindo de uma circunferência c, uma reta l tangente a c, e um ponto M sobre l. P deve

satisfazer determinada propriedade. A solução está ligada a construção das circunferências

inscrita e ex-inscrita de um triângulo.

O Problema 13, P5 IMO 1999, apresenta duas circunferência tangentes internamente a

uma terceira. Se solicita mostrar que determinada reta é tangente a uma das circunferências.

Usando os conceitos de potência de um ponto e as propriedades dos círculos inscritos e ex-

inscritos se resolve o desao.

O Problema 14, P16 SL IMO 2005, explora as propriedades de um paralelogramo ABCD


e das bissetrizes usadas na construção de dois ex-círculos. Uma linha variável l passa pelo ponto
A. Se pede provar que a medida de determinado ângulo não depende da escolha de l .

O Problema 15, P18 SL IMO 2006, pede construir o centro do ex-círculo tangente ao lado

BC num triangulo ABC. Após algumas outras construções se deseja determinar dois ângulos.

Se resolve o desao mediante o esboço de três circunferências com um ponto em comum, centro

radical das mesmas.

Iniciamos com uma introdução dos conceitos básicos sobre incírculos e exincírculos.
CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 49

4.2 Conceitos básicos

Proposição 13. A Figura 4.2.1 mostra um triângulo ABC. Sejam AB = c, BC = a e CA = b.


Sejam D, E e F os pontos de interseção da circunferência inscrita c com os lados AB, BC e
CA, respetivamente. E seja o semiperímetro p = a+b+c
2
. Então vale que AD = AF = p − a,
BD = BE = p − b e CF = CE = p − c.

Figura 4.2.1: Guia para a demonstração da Proposição 13. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Demonstração. Como os lados do 4ABC são tangentes à circunferência c vale que AF =


AD = x, BD = BE = y e CF = CE = z. Isto permite escrever o sistema de equações

x + y = c,

y + z = a,

z + a = b,

p = x + y + z.

Colocando em evidência x, y e z se encontram as soluções citadas.

Proposição 14. A Figura 4.2.2 mostra um triângulo ABC. Sejam AB = c, BC = a e CA = b.


Sejam J, L e E os pontos de interseção da circunferência ex-inscrita c com os prolongamentos
dos lados AB e BC e com o lado CA, respetivamente. E seja o semiperímetro p = a+b+c2
. Então
vale que BL = BJ = p, CL = CE = p − a e AJ = AE = p − c.

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 50

Figura 4.2.2: Guia para a demonstração da Proposição 14. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Demonstração. Como os lados do 4ABC são tangentes à circunferência c vale que BL = BJ,
CL = CE = l e AJ = AE = j. Consideramos a soma

BL + BJ = a + l + j + c = a + b + c = 2p.

Do resultado anterior segue queBL = BJ = p. Como AB = c e BC = a temos AJ = AE =


j =p−c e CL = CE = l = p − a.

Corolário 15. A Figura 4.2.3 mostra um triângulo ABC. Sejam AB = c, BC = a e CA = b.


Sejam D, E e F os pontos de interseção da circunferência inscrita c com os lados AB, BC
e CA, respetivamente. Sejam J, L e Nb os pontos de interseção da circunferência ex-inscrita
c0 com os prolongamentos dos lados AB e BC e com o lado CA, respetivamente. E seja o
semiperímetro p = a+b+c
2
. Então vale que o ponto M, médio de A e C, também é ponto médio
de F e Nb . Adicionalmente,
a−c
F M = M Nb = .
2

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 51

Figura 4.2.3: Guia para a demonstração do Corolário 15. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Demonstração. Isto é consequência de AF = CNb = p−a, resultados provados nas Proposições


13 e 14.

Proposição 16. A Figura 4.2.4 mostra um triângulo ABC. Seja I seu incentro e Ia o centro
da ex-circunferência correspondente ao lado BC. Seja E o ponto de interseção de AI com a
circunferência circunscrita ao 4ABC. Então

EB = EC = EI = EIa .

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 52

Figura 4.2.4: Guia para a demonstração da Proposição 16. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Demonstração. Pela bissetriz em A ACEB temos ∠BAE = ∠CAE =


e o quadrilátero cíclico

∠CBE = ∠BCE = α. Portanto, o 4EBC é isósceles de base BC e EB = EC.


Além disso, da bissetriz em B, sejam ∠IBA = ∠IBC = β. Pela propriedade do ângulo

externo, ∠BIE = α + β. Segue que, ∠BIE = ∠IBE, o 4EBI é isósceles de base BI e

EB = EI.

Pela bissetriz externa em B, sejam ∠JBIa = ∠CBIa = γ. Como o ∠JBA = 180 temos

que γ = 90 − β. Do 4BJIa retângulo em J temos ∠JIa B = β. Pela soma dos ângulos internos

no 4AJIa e o ângulo raso em B encontramos ∠EBIa = ∠EIa B = 90 −α−β. Isto é, o 4EBIa

é isósceles, de base BIa , e EB = EIa . Concluímos que EB = EC = EI = EIa .

Proposição 17 (Fórmula de Euler) . A Figura 4.2.5 mostra um triângulo ABC. Seja I seu
incentro, d sua circunferência inscrita de raio r. Adicionalmente, seja c a circunferência cir-
cunscrita ao 4ABC, de centro O e raio R. Então

OI 2 = R(R − 2r).

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 53

Figura 4.2.5: Guia para a demonstração da Proposição 17. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Demonstração. Seja E o ponto de interseção da bissetriz AI com c. Pela potência do ponto I


em relação a c temos

R2 − OI 2 = AI · EI. (4.2.1)

Sejam X e Y os pés das perpendiculares de O e I até BE e AC, respectivamente. Como o

4OBE é isósceles de base BE, e devido a relação entre ângulo central e inscrito, relativo a

corda BE, segue que ∠AIY = ∠OBX.

Logo, pelo caso de semelhança AA, temos 4AIY ∼ 4OBX. Portanto,

BX OB
=
IY AI

ou
OB · IY 2Rr
AI = = .
BX EB
Vimos na Proposição 16 que EB = EI, segue que

2Rr
AI = . (4.2.2)
EI

Substituindo (4.2.2) em (4.2.1) encontramos R2 − OI 2 = 2Rr. Logo,

OI 2 = R2 − 2Rr.

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 54

4.3 Exincírculos, incentro, relação de Stewart. P1 IMO

1970.

Problema 11. Dado um ponto M no lado AB do triangulo ABC, sejam r1 e r2 raios das
círculos inscritos nos triângulos ACM e BCM, respectivamente e sejam ρ1 e ρ2 os raios dos
exincírculos dos triângulos ACM e BCM nos lados AM e BM, respectivamente. Sejam r e ρ
os raios do círculo inscrito e do exincírculo no lado AB do 4ABC, respectivamente. Provar
que
r1 r2 r
· = .
ρ1 ρ2 ρ
A IMO 1970 foi realizada na cidade de Keszthely, Hungria [10]. Problema 8 da lista corta,
proposto pela delegação da Polônia e escolhido como primeiro da competição [11].

4.3.1 Considerações iniciais para o Problema 11.

Teorema 18 (Relação de Stewart). Seja D um ponto no lado BC do 4ABC . Sejam BC = a,


CA = b, AB = c, BD = x, AC = y e AD = z. Vale que:

b2 c 2
 
1 1
+ = a + z2 + .
y x x y

Ou equivalentemente
b2 c2
z2 = x + y − xy.
a a
O resultado não ca escrito como função dos ângulos em D.

A Figura 4.3.1 permite acompanhar a prova.

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 55

Figura 4.3.1: Guia para a demonstração do Teorema 18. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Demonstração. Sejam ∠ADC = α e ∠ADB = 180◦ − α. Pela Lei dos Cossenos aplicada no

4ABD temos

c2 = x2 + z 2 − 2xz cos(180◦ − α).

Mas cos(180◦ − α) = − cos(α). Logo

c2 = x2 + z 2 + 2xz cos(α),

c2 z2
=x+ + 2z cos(α). (4.3.1)
x x
Pela Lei dos Cossenos aplicada no 4ACD temos

b2 = y 2 + z 2 − 2yz cos(α),

b2 z2
=y+ − 2z cos(α). (4.3.2)
y y
Somando (4.3.1) e (4.3.2) segue

b2 c 2
 
1 1 a
+ = x + y + z2 + = a + z2 ,
y x x y xy

b2 x + c 2 y z2
=1+ ,
axy xy
b2 x + c 2 y
z2 = − xy.
a

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 56

a
No caso em que D é o ponto médio de BC temos x=y= 2
e z = ma . E vale

b 2 + c 2 a2
m2a = − .
2 4

4.3.2 Resolução do Problema 11.

A Figura 4.3.2 mostra uma construção geométrica.

Figura 4.3.2: Construção geométrica para o Problema 11. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Sejam BC = a, CA = b, AM = x, M B = y e CM = l. Denotamos com I1 o incentro e com


S1 o ex-centro do exincírculo do 4AM C. Supor que P1 e Q1 sejam os pés das perpendiculares
r CP1
de I1 e S1 , respectivamente, a linha AC. Então 4I1 CP1 ∼ 4S1 CQ1 e 1 = . Seja p1 o
ρ1 CQ1
b+l−x
semiperímetro do 4ACM. Sabemos das Proposições 13 e 14 que CP1 = p1 − x = e
2
b+l+x
CQ1 = p1 = 2 . Logo,
r1 b+l−x
= . (4.3.3)
ρ1 b+l+x
Analogamente, denotamos com I2 o incentro e com S2 o ex-centro do exincírculo do

4BM C. Supor que P2 e Q2 sejam os pés das perpendiculares de I2 e S2 , respectivamente, a


r CP2
linha BC. Então 4I2 CP2 ∼ 4S2 CQ2 e 2 = . Seja p2 o semiperímetro do 4BCM. Sabemos
ρ2 CQ2
a+l−y a+l+y
das Proposições 13 e 14 que CP2 = p2 − y = e CQ2 = p2 = . Logo,
2 2

r2 a+l−y
= . (4.3.4)
ρ2 a+l+y

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 57

Do mesmo modo, denotamos com I S o centro do exincírculo do 4ABC.


o incentro e com

Supor que P e Q sejam os pés das perpendiculares de I e S, respectivamente, a linha BC. Então

4ICP ∼ 4SCQ e ρr = CQ CP
. Seja p o semiperímetro do 4ABC. Sabemos das Proposições 13 e
a+b−c a+b+c
14 que CP = p − c = e CQ = p = . Logo,
2 2

r a+b−c
= . (4.3.5)
ρ a+b+c

Do enunciado do Problema 11 e as equações (4.3.3), (4.3.4) e (4.3.5) resta provar que

   
b+l−x a+l−y a+b−c
· = .
b+l+x a+l+y a+b+c

Após multiplicar pelos denominadores na equação anterior, lembrando que c = x+y e


várias simplicações, encontramos a relação de Stewart 18 para a ceviana CM = l do 4ABC :

b 2 a2
 
1 1
+ = c + l2 + .
x y x y

4.4 Exincírculo, incírculo, semelhança de triângulos. P4

IMO 1992.

Problema 12. No plano, sejam dadas uma circunferência c, uma reta l tangente a c, e um
ponto M sobre l. Encontrar o lugar geométrico dos pontos P que têm a seguinte propriedade:
Existem dois pontos Q e R sobre l tais que M é o ponto médio de QR e c é o incírculo de
P QR.

A IMO 1992 foi realizada na cidade de Moscou, Rússia [10]. Problema 20 da lista corta,

proposto pela delegação da França e escolhido como o P4 da competição [11].

4.4.1 Resolução do Problema 12.

A Figura 4.4.1 mostra uma construção geométrica inicial.

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 58

Figura 4.4.1: Construção geométrica inicial para o Problema 12. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Denotamos por U c, de centro S, e a reta l. Sejam


o ponto de tangencia da circunferência

X e U os pontos simétricos de U com relação a S e M, respectivamente. X e U 0 não dependem


0

da escolha de P.

Colocamos um ponto variável Q ∈ l. A posição do ponto R ∈ l ca determinada pela

equação QM = M R. Construímos as retas tangentes a c, diferentes de l , partindo de Q e R.


0
Marcamos P na interseção destas tangentes. Adicionalmente, seja c o exincírculo do 4P QR,

S 0 o centro de c0 , e W e W 0 os pontos de tangencia de c e c0 com a reta P Q, respectivamente.


0
A reta P S é a bissetriz do ∠QP R.
0 0 0 0 0 0
Como W S k W S e ∠W P S = ∠W P S temos que 4W SP ∼ 4W S P. Logo,

WS SP WP
0 0
= 0 = 0 .
WS SP WP

Mas W S = SX e W 0S 0 = S 0U 0. Segue que

SX SP WP
0 0
= 0 = 0 .
SU SP WP

Adicionalmente, de SX k S 0 U 0 , ∠P SX = ∠P S 0 U 0 . Pelo critério de semelhança


então

LAL temos que 4P SX ∼ 4P S 0 U 0 e 0


o ponto X é colinear com P e U . Isto é, P é o ponto
0
de homotetia externo das circunferências c e c . Dada a conguração inicial do problema basta
0 0
construir os pontos X e U para localizar o ponto P na semirreta U X, além de X.

A Figura 4.4.2 mostra uma construção geométrica. No link interativo indicado é possível

deslocar o ponto Q para observar o rastro deixado pelo ponto P.


0
Por outro lado, dado um ponto P na semirreta U X, além de X, é possível construir as

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 59

tangentes a c partindo de P e marcar suas interseções com l. Isto é, encontrar os pontos Q e R.

Figura 4.4.2: Construção geométrica para o Problema 12. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

4.5 Incírculo, exincírculo, potência de um ponto relativo a

uma circunferência. P5 IMO 1999.

Problema 13. Sejam duas circunferências k1 e k2 que se intersectam nos pontos X e Y e são
tangentes internamente a circunferência k nos pontos M e N, respectivamente. Adicionalmente,
o centro de k2 está sobre k1 . Sejam A e B os pontos de interseção da reta XY com k. As retas
M A e M B intersectam k1 em C e D, respectivamente. Provar que k2 é tangente a CD.

A IMO 1999 foi realizada na cidade de Bucareste, Romênia [10]. Problema 12 da lista

corta, e escolhido como P5 da competição, proposto pela delegação da Rússia [11].

4.5.1 Resolução do Problema 13.

A Figura 4.5.1 mostra uma construção geométrica inicial. Esboçamos primeiro a circun-

ferência k, de centro O, M ∈ k. Segundo, o centro O1 , da circunferência


e colocamos o ponto

k1 , deve ser posicionado sobre o segmento OM, para garantir a tangência interna, em M, de k e
k1 . Terceiro, colocamos o centro O2 ∈ k1 , e encontramos N = OO2 ∩ k, assegurando a tangência
interna de k e k2 .

LÓPEZ LINARES, J. Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 60

Figura 4.5.1: Construção geométrica inicial para o Problema 13. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Lema 19. Sejam duas circunferências k1 e k2 que se intersectam nos pontos X e Y e são
tangentes internamente a circunferência k nos pontos M e N, respectivamente. Seja A um dos
pontos de interseção da reta XY com k. As retas AM e AN intersectam k1 e k2 em C e E,
respectivamente. Então CE é uma tangente comum de k1 e k2 .

Para a construção da Figura 4.5.2 primeiro esboçamos a circunferência k, de centro O.


Segundo, colocamos os pontos M ∈ k e N ∈ k e traçamos os segmentos OM e ON. Os centros
das circunferências k1 e k2 são O1 ∈ OM e O2 ∈ ON. Para o Lema 19 N é um ponto semi-livre.

Figura 4.5.2: Guia para a demonstração do Lema 19. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

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Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 61

Demonstração. O ponto A está no eixo radical das circunferências k1 e k2 . Logo, AC · AM =


AX · AY = AE · AN. A equação anterior signica que o quadrilátero M N EC é inscritível.
0
Seja Z a segunda interseção de M N com k1 . E seja M um ponto na tangente comum

a k e k1 em M. Então, pela igualdade entre ângulo inscrito e de segmento, temos ∠M CZ =

∠M 0 M Z = ∠M 0 M N = ∠M AN (como ângulos orientados). Isto signica que CZ k AN.


Por correspondentes entre paralelas ∠AN M = ∠CZM. Como M N EC é cíclico também

temos que ∠ACE = ∠AN M. Como ∠M O1 C = 2∠CZM, e o 4CO1 M é isósceles, a igualdade

∠CZM = ∠ACE signica que CE é tangente a k1 . Analogamente se prova que k2 é tangente


a CD.

Retomando o problema principal, a Figura 4.5.3 mostra uma construção geométrica. Se-

jam E e F, N A e N B com k2 . Aplicando o Lema 19 CE e


respectivamente, as interseções de

DF são as tangentes externas comuns a k1 e k2 .


Quando k1 e k2 têm o mesmo raio a reta CD passa pelo ponto O1 , ponto de tangência

com k2 , o quadrilátero DF EC é um retângulo e o resultado procurado ca provado. Para os

outros casos, seja G = CE ∩ DF.

Os centros O1 e O2 estão sobre a bissetriz do ∠CGD, devido a k1 e k2 serem tangentes a

GC e GD. Como O1 D = O1 C e ∠O1 DG = ∠O1 CG = 90◦ , segue que O1 é o ponto médio do


menor arco CD da circunferência circunscrita do 4CDG.

Pela Proposição 16 encontramos que O2 é o ex-centro do 4CDG oposto a G ou o incentro.

Isto é, k2 é um exincírculo ou o incírculo do 4CDG. Nos dois casos concluímos que CD é

tangente a k2 .

Figura 4.5.3: Construção geométrica para o Problema 13. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 62

4.6 Bissetrizes, paralelogramo, semelhanças de triângulos.

P16 SL IMO 2005.

Problema 14. Seja ABCD um paralelogramo. Uma linha variável l passa pelo ponto A e
intersecta as retas BC e DC nos pontos X e Y, respectivamente. Sejam K e L os centros
dos exincírculos dos triângulos ABX e ADY, que tocam os lados BX e DY, respectivamente.
Provar que a medida do ângulo KCL não depende da escolha da linha l.
A IMO 2005 foi realizada na cidade de Mérida, México [10]. Problema 16 da lista corta,

proposto pela delegação da Ucrânia [11].

4.6.1 Resolução do Problema 14.

A Figura 4.6.1 mostra uma construção geométrica inicial.

Figura 4.6.1: Construção geométrica inicial para o Problema 14. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Primeiro notamos que porABCD ser um paralelogramo temos AB = CD, BC = DA,


∠ABC = ∠CDA e ∠Y DA = ∠DAB = ∠BCD = ∠ABX. Adicionalmente, como DL, BK,
AL e AK são bissetrizes vale que ∠Y DL = ∠LDJ, ∠XBK = ∠KBM, ∠Y AL = ∠LAD e
∠BAK = ∠KAX.
Como
1
∠ADL = ∠KBA = 180◦ − ∠CDA
2
e ∠ALD = 12 ∠AY D = ∠KAB, por AA, temos 4ABK ∼ 4LDA. Logo,

BK BK AB DC
= = = .
BC AD DL DL
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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 63

A primeira e última fração do resultado anterior, unido a ∠LDC = ∠CBK, pelo caso de
semelhança LAL, leva a que 4LDC ∼ 4CBK. Logo, ∠DCL = ∠BKC e ∠CLD = ∠KCB.
Portanto,

∠KCL = 360◦ − ∠BCD − (∠DCL + ∠KCB) =

= 360◦ − ∠BCD − (∠BKC + ∠KCB) =

= 360◦ − ∠BCD − (180◦ − ∠CBK) =

= 180◦ − ∠BCD + ∠CBK = ∠CBA + ∠CBK,

que é constante. Isto é, o ∠KCL somente depende da construção do paralelogramo ABCD e

não da escolha de l. A Figura 4.6.2 mostra uma construção geométrica.

Figura 4.6.2: Construção geométrica para o Problema 14. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

4.7 Exincírculo, potência de um ponto relativo a uma cir-

cunferência, ângulos. P18 SL IMO 2006.

Problema 15. Num triangulo ABC, seja J o centro do exincírculo tangente ao lado BC em
A1 e as extensões dos lados AC e AB em B1 e C1 , respectivamente. Supor que a reta A1 B1
e AB são perpendiculares e se intersectam em D. Seja E o pé da perpendicular de C1 até o
segmento DJ. Determinar os ângulos BEA1 e AEB1 .

A IMO 2006 foi realizada na cidade de Liubliana, Eslovênia [10]. Problema 18 da lista

corta, proposto pela delegação da Grécia [11].

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 64

4.7.1 Resolução do Problema 15.

A Figura 4.7.1 mostra uma construção geométrica inicial.

Figura 4.7.1: Construção geométrica inicial para o Problema 15. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

ω1 , ω2 e ω3 de diâmetros C1 D, A1 B e AB1 , respectiva-


Consideramos as circunferências

mente. Por construção, os segmentos JC1 , JA1 e JB1 são tangentes a ω1 , ω2 e ω3 , respectiva-

mente. Devido ao ângulo reto em D, ω2 e ω3 passam por D.



Como ∠C1 ED = 90 temos E ∈ ω1 . Pela potência do ponto J em relação a ω1 [9] podemos

escrever

JC12 = JD · JE.

Adicionalmente, de JA1 = JB1 = JC1 , raios do exincírculo c, também vale que

JA21 = JD · JE,

JB12 = JD · JE.

Mas pela inversa do teorema das cordas [9] as igualdades anteriores signicam que E ∈ ω2
e E ∈ ω3 e ∠BEA1 = ∠AEB1 = 90◦ . O ponto E é centro radical de ω1 , ω2 e ω3 . A Figura 4.7.2
mostra uma construção geométrica.

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CAPÍTULO 4. INCÍRCULOS E EXINCÍRCULOS 65

Figura 4.7.2: Construção geométrica para o Problema 15. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

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66

Capítulo 5
Extremos com desigualdades

5.1 Introdução

Nos Problema 16, 19 e 20 se explora a desigualdade triangular e das médias. Os Proble-

mas 17 e 18 usam fundamentalmente a desigualdade de Cauchy-Schwarz.

Iniciamos com uma apresentação de algumas desigualdades usadas para encontrar máxi-

mos e mínimos.

5.2 Conceitos básicos

Proposição 20. Se dois lados de um triângulo não são congruentes, então os ângulos opostos
a estes lados não são congruentes, e o maior ângulo e oposto ao maior lado.

Demonstração. A Figura 5.2.1 mostra um triângulo ABC. Iremos supor que BC > AC. Mar-
camos sobre BC o ponto D tal que AC = CD. Logo, o 4CAD é isósceles de base AD e

∠CAD = ∠CDA = θ.
Sejam ∠CBA = β e ∠BAD = γ. Pelo teorema do ângulo externo temos θ = β + γ.
Portanto, θ > β. Além disso, como ∠BAC = α = θ + γ, então α > β. Isto é, oposto ao maior

lado corresponde o maior ângulo.


CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 67

Figura 5.2.1: Guia para a demonstração da Proposição 20. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Por redução ao absurdo e a Proposição anterior se prova a recíproca. Isto é, o maior lado

é oposto ao maior ângulo.

Proposição 21 (Desigualdade triangular). A soma dos comprimentos de dois lados quaisquer


de um triângulo é maior que o comprimento do terceiro lado.

Demonstração. Basta mostrar que o maior lado é menor que a soma dos outros dois. A Fi-

ABC. Iremos supor, sem perda de generalidade, BC > CA >


gura 5.2.2 mostra um triângulo

AB. Estendemos a semirreta CA e marcamos o ponto D ∈ CA de tal forma que AD = AB.


Como o 4ABD é isósceles de base BD temos ∠ABD = ∠ADB = θ. Adicionalmente, de

∠DBC = γ = θ + β > θ = ∠BDA

e a Proposição 20, segue que

CD = CA + AD = CA + AB > BC.

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 68

Figura 5.2.2: Guia para a demonstração da Proposição 21. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Proposição 22 (Desigualdade de Cauchy-Schwarz) . Dadas duas sequências de números reais


(a1 , a2 , · · · , an ) e (b1 , b2 , · · ·, bn ) então

a21 + a22 + · · · + a2n b21 + b22 + ··· + b2n ≥ (a1 b1 + a2 b2 + · · · + an bn )2


 
(5.2.1)

e vale a igualdade quando bi = λai para todo 1 ≤ i ≤ n com λ real.

Demonstração. Consideremos a função real de variável real

n
X
f (x) = (ai x − bi )2 .
i=1

Desenvolvendo o quadrado e colocando x em evidência podemos escrever

n
! n
! n
!
X X X
f (x) = a2i x2 − 2 ai b i x+ b2i .
i=1 i=1 i=1

Isto é, f (x) é um polinômio de segundo grau em x. Como f (x) é uma soma de quadrados
teremos f (x) ≥ 0 e seu discriminante negativo ou igual a zero:

n
!2 n
! n
!
X X X
∆=4 ai b i −4 a2i b2i ≤ 0.
i=1 i=1 i=1

Dividindo por 4 obtemos a desigualdade de Cauchy-Schwarz reescrita com os símbolos de

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 69

somatórios: ! ! !2
n
X n
X n
X
a2i b2i ≥ ai b i .
i=1 i=1 i=1

A igualdade acontece quando o discriminante é zero. Nesse caso f (x) tem uma raiz dupla
x = λ. Mas isto corresponde a

n
X
f (x) = (ai x − bi )2 = 0.
i=1

Como as sequências (an ) e (bn ) são de números reais, os quadrados são não negativos. A
única possibilidade é que ai λ − bi = 0 para todo 1 ≤ i ≤ n. Isto é, acontece a igualdade na

desigualdade de Cauchy-Schwarz quando as sequências (an ) e (bn ) são proporcionais.

Uma vericação interativa da desigualdade de Cauchy-Schwarz, com sequências bidimen-

sionais, pode ser feita aqui.

Proposição 23 (Desigualdade das médias aritmética e geométrica). Seja {x1 , x2 , . . . , xn } uma


lista de números reais positivos com n ≥ 2, então
v
n u n
1 X uY
xi ≥ t
n
xi ,
n i=1 i=1

n n
onde xi = x1 + x2 + . . . + xn e xi = x1 · x2 · · · · · xn . A igualdade ocorre quando x1 =
X Y

i=1 i=1
x2 = · · · = xn .

Demonstração. Caso n = 2: Queremos provar que:

x1 + x2 √
≥ x1 · x2 .
2

Multiplicando os dois lados por 2 e elevando ao quadrado temos:

(x1 + x2 )2 ≥ 4x1 · x2 .

Desenvolvendo o quadrado e simplicando obtemos outras sentenças equivalentes:

x21 + 2x1 · x2 + x22 ≥ 4x1 · x2 ,

x21 − 2x1 · x2 + x22 ≥ 0,

(x1 − x2 )2 ≥ 0.

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 70

Mas o quadrado de um número real é sempre não negativo. A igualdade acontece quando

x1 = x2 .

A demonstração para n>2 pode ser encontrada, por exemplo, em [17]. Uma vericação

interativa da desigualdade das médias, usando dois segmentos, pode ser feita aqui.

5.3 Desigualdade triangular, desigualdade das médias, áreas.

P1 IMO 1976.

Problema 16. Num quadrângulo convexo com área 32 cm2 , a soma dos comprimentos de
dois lados não adjacentes e uma diagonal é igual a 16 cm. a) Qual é o comprimento da outra
diagonal? b) Quais são os comprimentos dos lados do quadrângulo se o perímetro é um mínimo?
c) Será possível escolher os lados para que o perímetro seja um máximo?

A IMO 1976 foi realizada na cidade de Lienz, Áustria [10]. Problema 3 da lista corta,

proposto pela delegação da antiga Checoslováquia e escolhido como P1 da competição [11].

5.3.1 Resolução do Problema 16.

A Figura 5.3.1 mostra uma construção geométrica inicial.

Figura 5.3.1: Construção geométrica inicial para o Problema 16. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Um quadrângulo é uma gura plana que consiste em quatro pontos, cada um unido a

outros dois por segmentos (que se intersectam ou não). Quando o quadrângulo é convexo,

equivale a um quadrilátero convexo.

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 71

Seja S = 32 cm2 e

16 cm = d = AB + CD + AC. (5.3.1)

a) A área do quadrângulo ABCD pode ser calculada pela soma das áreas dos 4ABC e

4ACD, onde AC é o lado comum. Adicionalmente, o valor máximo da área acontece quando

os dois triângulos são retângulos. Isto é,

1
S ≤ AC(AB + CD).
2

Usando (5.3.1) reescrevemos


1
S ≤ AC(d − AC). (5.3.2)
2
Por outro lado, considerando AC como variável e usando a desigualdade das médias

geométrica e aritmética (Proposição 23) no conjunto de números positivos {AC, d − AC} temos

p AC + (d − AC)
AC(d − AC) ≤ ,
2

d2
AC(d − AC) ≤ . (5.3.3)
4
A igualdade acontece quando AC = d − AC ou AC = d2 . Considerando (5.3.2) e (5.3.3)

encontramos
d2
S≤ .
8
Usando os números dados para d e S concluímos que somente é possível a igualdade. Isto é,
AC = AB + CD = 8 cm, AB ⊥ AC e CD ⊥ AC.
Construímos a reta AB e traçamos por D uma reta l paralela com AC. Marcamos o ponto

E = AB ∩ l. O triângulo BED, retângulo em E, permite calcular, pelo teorema de Pitágoras,


o comprimento
√ √ √
BD = 2 ED = 2 AC = 2 8.

ABCD basta minimizar


b) Para encontrar o valor mínimo do perímetro do quadrilátero

a soma BC + AD, pois AB + CD = 8. Para isso, posicionamos um ponto F de tal forma que

o quadrilátero ACF D seja um paralelogramo. Isto é, DF = 8 cm e AD = CF. Construímos

também o segmento BF.

Aplicando a desigualdade triangular no 4BCF temos:

BC + CF = BC + AD ≥ BF.

Isto é, o valor mínimo de BC + AD = BF e C ∈ BF. Usando o teorema de Pitágoras no



4BEF encontramos BF = 8 5.

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 72

Por outro lado, quando C ∈ BF, por AA, temos 4F DC ∼ 4F EB. Pela proporciona-

lidade dos lados segue que CF = AD = BF 2
e DC =
EB
2
= 4. Logo, AD = BC = 4 5 e
AB = CD = 4.
c) Vamos assumir, sem perda de generalidade, que CD < AB. Neste caso, o ponto C está

no interior do 4BDF e vale que

BC + AD = BC + CF ≤ BD + DF.

Isto é, o valor máximo da soma BC + AD é atingido quando os pontos C e D coincidem e o

quadrângulo ABCD é degenerado. A Figura 5.3.2 mostra uma construção geométrica.

Figura 5.3.2: Construção geométrica para o Problema 16. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

5.4 Desigualdade de Cauchy-Schwarz, incentro, áreas. P1

IMO 1981.

Problema 17. Encontrar o ponto P no interior de um 4ABC para o qual a soma


BC CA AB
+ + (5.4.1)
PD PE PF

é mínima, onde P D, P E e P F são as perpendiculares de P a BC, CA e AB, respectivamente.

A IMO 1981 foi realizada na cidade de Washington, EUA [10]. Problema 15 da lista corta,
proposto pela delegação do Reino Unido e escolhido como P1 da competição [11].

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 73

5.4.1 Resolução do Problema 17.

Notamos que para qualquer ponto P no interior do 4ABC a soma

BC · P D + CA · P E + AB · P F (5.4.2)

é duas vezes a área do mesmo. Isto é, o resultado é constante (não depende de P ).


Lembrando da desigualdade de Cauchy-Schwarz (Proposição 22) escrevemos

a21 + a22 + a23 b21 + b22 + b23 ≥ (a1 b1 + a2 b2 + a3 b3 )2 .


 

Identicando em (5.4.2) que a21 = BC · P D, a22 = CA · P E, a23 = AB · P F e em (5.4.1)


BC CA AB
que b21 = PD
, b22 = PE
e b23 = PF
temos

 
BC CA AB
(BC · P D + CA · P E + AB · P F ) + + ≥ (BC + CA + AB)2 .
PD PE PF

A igualdade na desigualdade anterior (valor mínimo de (5.4.1)) acontece quando as sequên-

cias (an ) e (bn ) são proporcionais. Isto é, quando existe um número λ tal que

(a1 , a2 , a3 ) = (λb1 , λb2 , λb3 ).

Logo, λ = P D = P E = P F. Portanto, o ponto P que minimiza (5.4.1) é o incentro do 4ABC.


A Figura 5.4.1 mostra uma construção geométrica.

Figura 5.4.1: Construção geométrica para o Problema 17. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 74

5.5 Desigualdade de Cauchy-Schwarz, incírculo, tangentes.

P6 IMO 1983.

Problema 18. Se a, b e c são lados de um triângulo, provar que

a2 b(a − b) + b2 c(b − c) + c2 a(c − a) ≥ 0. (5.5.1)

Determinar quando vale a igualdade.

A IMO 1983 foi realizada na cidade de Paris, França [10]. Problema 9 da lista corta,

proposto pela delegação dos Estados Unidos e escolhido como P6 da competição [11].

5.5.1 Resolução do Problema 18.

d no 4ABC e marcamos os pontos de interseção


Construímos a circunferência inscrita
0 0 0
A , B e C de d com os lados BC, CA e AB, respectivamente. Devido a tangência temos
AB 0 = AC 0 = x, BA0 = BC 0 = y e CA0 = CB 0 = z. Logo,

a = y + z,
b = z + x, (5.5.2)

c = x + y.

Substituindo (5.5.2) em (5.5.1) segue

(y + z)2 (z + x)(y − x) + (z + x)2 (x + y)(z − y) + (x + y)2 (y + z)(x − z) ≥ 0.

Expandindo e simplicando temos

xy 3 + yz 3 + zx3 ≥ xyz(y + z + x).

Multiplicando os dois lados pelo número positivo z +x+y encontramos uma desigualdade

de Cauchy-Schwarz (Proposição 22):


xy 3 + yz 3 + zx3 (z + x + y) ≥ [ xyz(y + z + x)]2 .


As duas sequências que dão origem a desigualdade anterior são:

√ √ √ 
y xy, z yz, x zx ,
√ √ √ 
z, x, y .

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Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 75

A igualdade acontece quando as sequências são proporcionais. Isto é,

xy 3 yz 3 zx3
= = .
z x y

Como x, y e z são números reais positivos existe uma única solução para a igualdade anterior:

x = y = z. Logo, a = b = c. A Figura 5.5.1 mostra uma construção geométrica.

Figura 5.5.1: Construção geométrica para o Problema 18. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

5.6 Desigualdade triangular, bases médias e paralelogramo.

P7 SL IMO 1999.

Problema 19. Seja ABC um triângulo e M um ponto em seu interior. Provar que

min{M A, M B, M C} + M A + M B + M C < AB + BC + CA.

A IMO 1999 foi realizada na cidade de Bucareste, Romênia [10]. Problema 7 da lista

corta, proposto pela delegação da Armênia [11].

5.6.1 Resolução do Problema 19.

Lema 24. Seja M um ponto no interior de uma quadrilátero convexo ABCD. Então vale que
AM + M B < BC + CD + DA.

Demonstração. A Figura 5.6.1 mostra uma construção geométrica.

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 76

Figura 5.6.1: Construção geométrica para o Lema 24. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

SejaN = AM ∩ BC. Será usada três vezes a desigualdade triangular. No 4M N B vale

que M B < M N + N B logo

AM + M B < AM + M N + N B = AN + N B.

No 4AN C temos AN < N C + CA. Com isto

AN + N B < N C + CA + N B = CA + BC.

E no 4CDA vale que CA < CD + DA. Portanto,

CA + BC < CD + DA + BC.

Sejam E, F e J os pontos médios de BC, AC e AB, respectivamente. Qualquer ponto M


no interior do 4ABC está no interior de, por lo menos, dois dos quadriláteros ABEF, BCF J

e CAJE. Iremos supor, sem perda de generalidade, que M B = min{M A + M B + M C}. Isto

é, M está no interior de ABEF e BCF J.

Aplicando o Lema 24 ao quadrilátero ABEF temos:

AM + M B < BE + EF + F A. (5.6.1)

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 77

E aplicando o Lema 24 ao quadrilátero BCF J segue:

BM + M C < CF + F J + JB. (5.6.2)

Somando (5.6.1) e (5.6.2) encontramos

M B + M A + M B + M C < BE + F J + CF + F A + EF + JB.

Adicionalmente, devido ao fato de FJ e EF serem bases médias temos F J = EC e EF = JB.


Consequentemente,

min{M A, M B, M C} + M A + M B + M C < BC + CA + AB.

A Figura 5.6.2 mostra uma construção geométrica.

Figura 5.6.2: Construção geométrica para o Problema 19. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

5.7 Desigualdade triangular, lei dos senos e trigonometria.

P1 IMO 2001.

Problema 20. Num triângulo acutângulo ABC com circuncentro O e altura AP, ∠C ≥ ∠B +
30◦ . Provar que
∠A + ∠COP < 90◦ .

A IMO 2001 foi realizada na cidade de Washington, Estados Unidos [10]. Problema 16 da
lista corta, proposto pela delegação da Coreia do Sul e escolhido como P1 da competição [11].

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CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 78

5.7.1 Resolução do Problema 20.

A Figura 5.7.1 mostra uma construção geométrica.

Figura 5.7.1: Construção geométrica para o Problema 20. Versão interativa aqui.

Fonte: O autor.

Sejam ∠A = α, ∠B = β, ∠C = γ, ∠OCP = δ e ∠COP = η. Temos γ ≥ β + 30◦ . Como


um ângulo central ∠BOC = 2α é duas vezes o inscrito ∠BAC = α e o 4OBC é isósceles,

segue que ∠OCB = δ = 90 − α.

Do enunciado do Problema 20 queremos provar que η < δ. Pela Proposição 5.2.1, aplicada

no 4COP , o anterior equivale a demonstrar que P C < OP. Por sua vez, para vericar que

P C < OP bastará mostrar que


2 · P C < OC = R. (5.7.1)

De fato, aplicando a desigualdade triangular no 4OCP e multiplicando por 2 podemos

escrever:

2R < 2 · OP + 2 · P C.

Usando (5.7.1) temos

2R < 2 · OP + R,

R < 2 · OP. (5.7.2)

Logo, de (5.7.1) e (5.7.2) segue

2 · P C < R < 2 · OP ⇒ P C < OP.

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Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
CAPÍTULO 5. EXTREMOS COM DESIGUALDADES 79

Devido ao ∠CP A = 90◦ segue

P C = AC cos(γ).

Mas pela lei dos senos no 4ABC temos

AC
2R = .
sen(β)

Logo,

P C = 2Rsen(β) cos(γ).

Usando a hipótese γ ≥ β + 30◦ e o fato da função cosseno ser decrescente no intervalo entre 0

e 90 encontramos

P C < 2Rsen(β) cos(β + 30◦ ).

Resta mostrar que


1
2sen(β) cos(β + 30◦ ) < .
2
De fato, usando as identidades do cosseno e seno da soma de dois ângulos temos:

2sen(β) cos(β + 30◦ ) = 2sen(β)[cos(β) cos(30◦ ) − sen(β)sen(30◦ )] =

= sen(2β) cos(30◦ ) − 2sen2 (β)sen(30◦ ).

Somando e restando sen(30◦ ) encontramos

2sen(β) cos(β + 30◦ ) = sen(2β) cos(30◦ ) + (1 − 2sen2 (β))sen(30◦ ) − sen(30◦ ) =

= sen(2β) cos(30◦ ) + cos(2β)sen(30◦ ) − sen(30◦ ) =


1
= sen(2β + 30◦ ) − sen(30◦ ) ≤ .
2

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Olimpíadas Internacionais de Matemática.v.3. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2021. 82 p. ISBN
978-65-87023-14-4 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023144.
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Capítulo 6
Referências Bibliográcas

[1] LÓPEZ LINARES, J.Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2020. 82 p. ISBN

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Acesso em: 14 jun. 2021. 1

[2] LÓPEZ LINARES, J.Geometria: Soluções detalhadas para 20 problemas de


Olimpíadas Internacionais de Matemática. v.2. Portal de Livros Abertos da USP,
Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, 2020. 82 p. ISBN

978-65-87023-11-3 (e-book). Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786587023113.

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3.3, 3.4, 3.5, 3.6, 3.7, 4.3, 4.4, 4.5, 4.6, 4.7, 5.3, 5.4, 5.5, 5.6, 5.7

[11] DJUKIC, D. et al. The IMO compendium: a collection of problems suggested for the

International Mathematical Olympiads: 19592004. New York: Springer, 2006. Disponível

em:

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[14] Delgado, J. et al. Geometria Analítica, Coleção ProfMat, SBM, Segunda Edição,
ISBN: 9788583371212, 2017. 3.2

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ISBN 978-65-87023-14-4 (e-book)

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